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Guerrilhas

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ém o Renascença (um manguezal aterrado que<br />

insistia em transpirar pelo asfalto) e toda a periferia<br />

tinham um cheiro de esgoto perturbador. Era<br />

uma ilha em putrefação”. Pontos turísticos mais<br />

recentes, como a Lagoa da Jansen, são ainda mais<br />

fedorentos, pois é um “enorme poço de merda entre<br />

os bairros da Ponta da Areia e do Renascença,<br />

em volta do qual se fez um parque para assaltantes”.<br />

O Monstro (ou a Criatura, como é muitas vezes<br />

designado pelos autores) se deu bem em meio<br />

a essa sujeira, passava quase despercebido e, com<br />

toda putaria à volta, “virou o loverbói da elite,<br />

atendendo em motéis chiques pagos pelo erário<br />

público”. Fez o maior sucesso no jogo pesado da<br />

praça, onde vez por outra aparecia uma novidade<br />

e a sua era o sexo feito “com os prazeres da carne,<br />

do molho, da couve, da maionese e das calcinhas<br />

arrancadas com força”. “Descobriu-se um cachorroquente<br />

machista e sexista”, que emitia apenas<br />

um grunhido característico quando estava trepando:<br />

Clovs! Clovs! Clovs!<br />

O mercado ficou agitado. “Vai ser normal<br />

ou trezentos e sessenta? / Que diabo é trezentos e<br />

sessenta? / Relaxa... na hora tu vai saber. É o que<br />

tem saído mais. Nem é daqui do Maranhão”. É<br />

melhor recorrer ao glossário: “Trezentos e sessenta:<br />

cento e vinte duplo mortal carpado”. “Cento e<br />

vinte (120): técnica sexual que consiste em um 69 +<br />

uma garrafa de 51 (levemente cheia e entreaberta)<br />

enfiada no cu”. “É o mesmo preço? / Não, trezentos<br />

e sessenta é mais caro. É só ele que faz”.<br />

O certo é que o Monstro, a Criatura cujo aspecto<br />

“não passava de um pão gigantesco empalado<br />

por uma salsicha” vai comer meio mundo,<br />

literalmente, vivendo pelos cortiços, se esgueirando<br />

pelas ruelas e esgotos, “dividia o tempo entre<br />

o sexo, o sangue e o ópio”. Não recusava clientes,<br />

mas gostava mesmo de grunhir era pra Gertrudes,<br />

que também fazia ponto e “era uma figura<br />

bisonha: altíssima, tinha os peitos grandes, caídos;<br />

bunda murcha, boca de bruxa velha recheada de<br />

dentes entremelados e a cara tão chula quanto<br />

este texto”. Com ela fumou muita merla, cheirou<br />

pó, “também viagra, ácidos, psicotrópicos e todo<br />

tipo de barato foi, no mínimo, experimentado”.<br />

Desde que chegou à cidade, Gertrudes só conheceu<br />

o mundo do sexo. “Sabia o mais e o menos,<br />

mas nunca entendeu o vezes e o novisfóra. Trepar<br />

era mais simples. Uma trepada = comida por<br />

dois dias; dez trepadas = quartinho que ocupava<br />

no motel. Quantas trepadas seria o tique do férribôt?<br />

E o ingresso do espaço aberto?” A trepada<br />

funcionava como mediação universal, mercadoria<br />

principal. Quem sacou tudo foi Ribamarx (nota:<br />

para maiores informações sobre este autor fundamental<br />

não deixe de conferir a imperdível Revista<br />

Pitomba, lançada recentemente, número indefinido,<br />

ano 2011. Quadro “Intelectuais Maranhenses”<br />

– por Bruno Azevedo).<br />

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