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Guerrilhas

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po mítico e, através de um corte interpretativo de<br />

natureza historiográfica, sugerir a sua formação<br />

no bojo de uma situação de configuração dos traços<br />

da identidade regional.<br />

Em meio ao enfadonho ramerrão que anestesia<br />

a historiografia maranhense, um ensaio despretensioso,<br />

mas escrito com extrema contundência,<br />

apontou para algo que aos olhos mais abertos<br />

permitiu uma visão diferente de um ponto central<br />

da formação da mentalidade ludovicense. Bateu<br />

na questão do narcisismo acentuado que caracteriza<br />

as nossas imagens formadoras e sedimenta a<br />

exacerbada auto referenciação cultural.<br />

Aos zeladores de “tradições”, dos mais velhos<br />

aos mais novos, restou apenas insistirem na<br />

tecla da ação (ou da intenção) dos franceses, ou<br />

seja, ficaram perdidos no séc. XVII, totalmente<br />

alheios às implicações mais amplas da questão,<br />

sempre raciocinando de forma burocrática e reiterativa.<br />

Dão vivas ao mito encenando uma verdadeira<br />

dança de tontos, para a qual inclusive já há<br />

quem sugira convite aos holandeses.<br />

A polêmica tem sido rica igualmente em<br />

mostrar bem vivo o velho desvario que sempre<br />

caracterizou parte significativa da intelectualidade<br />

local. A ridícula gritaria em torno de escritores<br />

que aqui pouco viveram, como gosta de acentuar<br />

Arlete Nogueira da Cruz, chega, muitas vezes, em<br />

seus exemplos mais patéticos, a colocar o Maranhão<br />

na vanguarda das transformações estéticas<br />

vivenciadas no Brasil!<br />

24<br />

Trata-se de um passadismo alienante e bastante<br />

generalizado, cujos efeitos negativos sobre<br />

o pensamento ainda não foram avaliados. São<br />

percepções que, sobretudo, não têm muito a ver<br />

com a realidade maranhense, marcada pelo analfabetismo,<br />

a pobreza e a violência. Não dizem da<br />

barbárie que atravessa a nossa história, tecida no<br />

horror cotidiano da miséria radical que nos acompanha.<br />

O quadro pintado por uma historiografia<br />

preocupada com a invenção de mitos e símbolos,<br />

criou um espelho distorcido, a esconder o Maranhão<br />

dele próprio.<br />

Toda essa discussão, no entanto, ganha<br />

maior relevância no momento atual, quando vemos<br />

em curso um processo de encontro, dirigido<br />

a partir de cima, entre a “cultura ateniense” e a<br />

“cultura popular”. Sempre zelosas com a memória<br />

dos escritores ilustres, as elites políticas e intelectuais<br />

do Maranhão vão desenvolvendo uma<br />

redefinição da sua noção de cultura, prontas a<br />

aproveitar os ventos favoráveis à exploração mercadológica<br />

de antigas manifestações populares<br />

antes tratadas com distância, senão com desprezo,<br />

além de criarem novos caminhos de legitimação<br />

para antigas práticas de dominação. O processo<br />

se desenrola guardando uma característica básica<br />

das construções imagéticas anteriores: o acento<br />

narcísico, pronto a favorecer as distorções alucinatórias<br />

e inibir a crítica.<br />

Então, senhores, temos uma questão a ser<br />

debatida seriamente ou ficaremos no “eu acho, tu<br />

25

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