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prefeito de Zé Doca; ou as arbitrariedades ocorridas<br />
depois dos acontecimentos de 1º de janeiro<br />
de 2009 em Santa Luzia do Tide, quando uma<br />
multidão estava acampada para protestar contra<br />
a diplomação do candidato derrotado e um incêndio<br />
mal explicado tomou os prédios da Prefeitura,<br />
Câmara e Fórum. A repercussão foi grande, nacional,<br />
mas nada soubemos sobre os desdobramentos<br />
posteriores, exemplo típico do que ainda continua<br />
sendo a lei no Maranhão, fonte de arbítrio,<br />
perseguição e vingança. Por outro lado, temos<br />
as cenas do dia 15 de abril em algumas cidades<br />
do interior, data limite para os gestores públicos<br />
disponibilizarem a prestação de contas para apreciação<br />
da sociedade. Os relatos sobre as mobilizações<br />
em Lago do Junco, Cantanhede, Codó, Santa<br />
Luzia do Tide e Miranda do Norte, com a população<br />
exigindo saber como foi gasto o dinheiro,<br />
apontam para algo realmente interessante, que, se<br />
estimulado, será uma fonte de pressão importante<br />
na luta contra a corrupção. Escândalos com o<br />
dinheiro público não faltam e o jornal lembra o<br />
velho sorvedouro do “Projeto da emsa”, com vistas<br />
à irrigação no Baixo Parnaíba, criado ainda no<br />
período de Sarney na presidência e que vem atravessando<br />
os governos como saco sem fundo, no<br />
conhecido estilo para e recomeça, estando agora<br />
previsto um investimento de mais de 180 milhões<br />
através do pac.<br />
A crueza e a qualidade que aparecem nas<br />
poucas páginas do Vias de Fato são evidentes e o<br />
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contraste com o tipo de jornalismo mais frequente<br />
por estas bandas, total. Perdido entre o noticiário<br />
distorcido que é a tônica do Sistema Mirante e a<br />
submissão do antigo Jornal Pequeno às conveniências<br />
dos grupos de oposição oligárquica, o que<br />
já era ruim parece ter ficado pior. Uma autêntica<br />
briga de comadres, movida a muito disse me disse,<br />
temperada por um colunismo medíocre, sem<br />
exceções, incapaz de ir além do chavão e da propaganda<br />
política. São jornais que se lê em poucos<br />
minutos e ainda fica a sensação de perda de tempo.<br />
Um jornalismo que se alimenta de si próprio,<br />
de suas futricas e vaidades, centrado em São Luís,<br />
ou melhor, em alguns poucos bairros da cidade<br />
(agora também em alguns blogs...), distanciado<br />
da sociedade e, no fundo, parecendo cumprir a<br />
função de esconder o Maranhão dos maranhenses.<br />
Ataques e acusações, mas quase nunca crítica<br />
política digna desse nome, aliada à exaltação repetitiva<br />
da natureza, da cultura popular e da mitificação<br />
histórica, eis a fórmula comum aos nossos<br />
jornais. Podem até falar uma coisa ou outra dos<br />
problemas da cidade, comportar alguma denúncia,<br />
reclamar da insegurança, mas séries de reportagens,<br />
exploração mais circunstanciada de temas,<br />
cruzando informação e reflexão, o link necessário<br />
entre pesquisa e jornalismo, capaz de motivar o<br />
debate público, nada disso existe. O resto são as<br />
doses diárias de uma violência exposta sem nenhuma<br />
discussão, carne pendurada em açougue<br />
para consumo de massa.