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Guerrilhas

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foi lançado Arrebentação da Ilha, outra coletânea,<br />

cuja música de abertura, Quadrilha, é uma criação<br />

coletiva (Chico, Josias, Sérgio, Ronald e Godão).<br />

Aqui o processo toma uma feição mais definida,<br />

estão lá muitos dos antigos que participaram do<br />

projeto anterior com a presença de uma nova geração<br />

(Gerude, Tutuca, Jorge Thadeu e outros).<br />

No geral, a tônica dos antigos foi uma dificuldade<br />

para gravar e, quando o fizeram, muitas vezes o<br />

resultado ficou aquém da intensidade ouvida na<br />

década de 70. Os nomes que continuavam aparecendo<br />

(Cesar Nascimento, Carlinhos Veloz, Alê<br />

Muniz, Mano Borges etc.) não tiveram a mesma<br />

preocupação com a pesquisa, não eram também<br />

tão talentosos e logo buscaram se diferenciar da<br />

geração anterior no que diz respeito à utilização<br />

dos ritmos regionais, estabelecendo uma descontinuidade.<br />

Ou seja, a cena tinha se esvaziado, era<br />

outra coisa, rodava agora em torno do rádio e do<br />

disco e no meio artístico muitos ambicionavam o<br />

estrelato a todo custo, ainda que fosse apenas um<br />

pequeno estrelato local. Tentava-se uma entrada<br />

desastrada, porque submissa até a ingenuidade,<br />

no âmbito da indústria cultural, com gravações<br />

em condições inadequadas, o compadrio e outros<br />

interesses influindo decisivamente na oferta das<br />

poucas fontes de financiamento, passando muitas<br />

vezes pelos favores de Fernando Sarney, através<br />

da Cemar e da Mirante. Em suma, não chegou a<br />

se configurar propriamente um mercado, geran-<br />

do uma antítese mal sucedida da tônica radical da<br />

década anterior, que havia chegado quase à negação<br />

total do mercado e da mídia.<br />

Todos estes problemas, é bom frisar, não são<br />

posteriores e sim ocorrem de forma mais ou menos<br />

simultânea ao próprio aparecimento do termo em<br />

questão mpm. O eixo central não era mais aprofundar<br />

a pesquisa da diversidade cultural e revolver<br />

a identidade através da música, mas apresentar e<br />

vender o que aparecia como novidade. O desastre<br />

começou pela própria designação que, antes de<br />

especificar, parecia mesmo restringir o alcance da<br />

música, circunscrevendo seu mercado potencial,<br />

piorado pelo já mencionado fato de seus divulgadores<br />

locais estabelecerem uma nova restrição ao<br />

relacioná-la às festas juninas. Visto retrospectivamente<br />

era uma autêntica vitória de Pirro, quase<br />

no mesmo passo saímos de uma situação aparentemente<br />

promissora para um esvaziamento<br />

precoce, o que parece indicar os limites em que a<br />

experiência toda se gestava, mas para perceber o<br />

quadro é preciso recuar e ampliar o foco.<br />

As transformações ocorridas no Maranhão<br />

a partir do final dos anos 60, na esteira dos processos<br />

econômicos acelerados com o golpe militar,<br />

configuraram uma “modernização oligárquica”,<br />

como tem acentuado o historiador Wagner Cabral.<br />

A antiga São Luís da Praia Grande e do Desterro,<br />

da velha trilha do Caminho Grande, fechava<br />

o seu longo ciclo e daria lugar à rápida expansão<br />

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