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Vivemos num estado marcado pela carapaça<br />
mítica engendrada ainda no século XIX em<br />
torno de sua capital, cujo signo maior era o sempre<br />
repetido bordão da Atenas Brasileira, sem<br />
esquecer a fundação francesa de araque, inventada<br />
posteriormente e que agora ganhou novos<br />
contornos com o título a ela concedido de patrimônio<br />
da humanidade, aliado à imagem recente<br />
dos Lençóis como maravilha da natureza. Por trás<br />
disso, o Maranhão é na realidade uma espécie de<br />
eterno campeão de estatísticas negativas. Terra de<br />
violência e miséria, permeada por desmandos de<br />
uma estrutura de poder mantida há décadas, é a<br />
imagem acabada do atraso no mosaico brasileiro.<br />
Isto é, a imagem que os outros fazem de nós, porque<br />
a visão que continuamos a cultivar permanece<br />
embaralhada por um sentimento de grandeza, na<br />
verdade mais ludovicense do que propriamente<br />
maranhense, mas de qualquer forma largamente<br />
predominante, seja no jornalismo, na publicidade,<br />
nas academias ou universidades. É um sentimento<br />
de exaltação incutido pelas nossas elites, avesso<br />
a qualquer crítica.<br />
O Vias de Fato não aceitou esse jogo, colocando-se<br />
numa linha crítica visceral, sem a canga<br />
costumeira dos grupos políticos, vale dizer, das<br />
máfias, apostando numa articulação mais ampla e<br />
descentralizada, envolvendo movimentos sociais<br />
e criando um espaço de disseminação de informações,<br />
aberto a contribuições de viés acadêmico,<br />
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mas com teor combativo, como exige o momento<br />
e ficou bem explícito desde o primeiro editorial. O<br />
que apareceu foi um Maranhão diferente do que<br />
é vendido cotidianamente nas páginas dos jornais<br />
e nos noticiários. Coerente com as ideias professadas<br />
de um jornalismo comprometido com as<br />
causas populares, encampou decididamente a<br />
movimentação do Tribunal Popular do Judiciário,<br />
experiência única de denúncia de juízes e promotores<br />
a partir de depoimentos colhidos livremente,<br />
participa da Campanha Nacional pelo Limite<br />
da Propriedade da Terra e esteve na caravana que<br />
acompanhou o julgamento do último e principal<br />
acusado do crime da missionária Doroty Stang.<br />
Na recente campanha eleitoral, afirmou que não<br />
tomaria partido entre os candidatos da oposição,<br />
mantendo firme a posição de que a luta contra<br />
a dominação oligárquica passa necessariamente<br />
pela luta contra o sarneysismo. Claro e direto,<br />
sem deixar de ser plural. Homenagens também<br />
ocorreram, sempre em textos de qualidade, sobre<br />
João do Vale, Maria Aragão, Dona Lili, Escrete,<br />
e, no último número, Magno Cruz, uma pilastra<br />
fundamental das lutas sociais contra a discriminação<br />
racial e a defesa dos direitos humanos que<br />
ruiu numa dessas surpresas silenciosas da vida,<br />
evocado por Cesar Teixeira em página carregada<br />
de emoção.<br />
Recentemente o jornal passou a contar também<br />
com página na internet, contendo arquivos