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os gestos expressivos de isadora duncan no contexto

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Universida<strong>de</strong> Estadual Paulista “Júlio <strong>de</strong> Mesquita Filho”Campus <strong>de</strong> BauruFaculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> CiênciasDepartamento <strong>de</strong> Educação FísicaOs gest<strong>os</strong> <strong>de</strong> Isadora Duncan <strong>no</strong> <strong>contexto</strong> daEducação Física.Taís Bue<strong>no</strong> VidottoBauru2008


Universida<strong>de</strong> Estadual Paulista “Júlio <strong>de</strong> Mesquita Filho”Campus <strong>de</strong> BauruFaculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> CiênciasDepartamento <strong>de</strong> Educação FísicaOs gest<strong>os</strong> expressiv<strong>os</strong> <strong>de</strong> Isadora Duncan <strong>no</strong> <strong>contexto</strong>da Educação Física.Taís Bue<strong>no</strong> VidottoOrientadora: Prof Dra. Ana Flora Zaniratto ZontaMo<strong>no</strong>grafia apresentada àUniversida<strong>de</strong> Estadual Paulista“Julio <strong>de</strong> Mesquita Filho”(UNESP) - Campus <strong>de</strong> Bauru,como requisito parcial paraobtenção do título <strong>de</strong> Licenciadoem Educação Física.Bauru2008


DedicatóriaDedico esta mo<strong>no</strong>grafia a IsadoraE todas as mulheres <strong>de</strong> espírito emancipadoQue buscam a liberda<strong>de</strong>


Quando estava em M<strong>os</strong>cou, eu vi criancinhas dormindoapertadas umas contra as outras diante <strong>de</strong> portas esobre montes <strong>de</strong> lixo. Se houvesse amor <strong>no</strong> mundo,isso seria p<strong>os</strong>sível? [...] Isso era amor? [...] Se existe<strong>no</strong> mundo essa coisa chamada amor, as pessoaspermitiriam uma coisa <strong>de</strong>ssas? Elas po<strong>de</strong>riam ir parasua casa confortável sabendo que há criançassofrendo assim? Se, se permite que as criançassofram, é porque não há amor verda<strong>de</strong>iro <strong>no</strong> mundo.Isadora Duncan


Agra<strong>de</strong>ciment<strong>os</strong>Este trabalho só foi realizado graças às pessoas que, <strong>de</strong> diversasmaneiras e em diferentes moment<strong>os</strong>, colaboraram para que f<strong>os</strong>se p<strong>os</strong>sível,meu sincero agra<strong>de</strong>cimento.Agra<strong>de</strong>ço as pessoas que me auxiliaram e me auxiliam na minhagraduação. A tod<strong>os</strong> que passaram pela minha vida, com <strong>os</strong> quais eu aprendi eevolui.A Ana Flora, por todo o cuidado, atenção e boa vonta<strong>de</strong>. Por ter sidouma amiga e mãe como orientadora, e que não sabe, mas graças ao seu jeito<strong>de</strong> ser e se <strong>de</strong>dicar a mim e ao n<strong>os</strong>so trabalho, comecei a ver muitas coisas <strong>de</strong>outra perspectiva, <strong>de</strong> forma mais p<strong>os</strong>itiva, o que foi, é e será importante e<strong>de</strong>cisivo pelo resto da minha vida. Fez-me confirmar admiração pela pensadoracrítica, mulher forte e <strong>de</strong>dicada que é.Agra<strong>de</strong>ço minha parecerista Marli por orientação e incentivo.A professora Lílian por sua sensibilida<strong>de</strong> e inteligência como educadorae que me ajudou com indicações para text<strong>os</strong> e livr<strong>os</strong>.Agra<strong>de</strong>ço minha mãemãe e meu pai, por me manterem estudando seorgulharem disso e por serem minha mãe e meu papi querid<strong>os</strong> do meucoração. A minha prima Tiça, que me levou na escola para tirar as fot<strong>os</strong> dascrianças. Te adoro prima, muit<strong>os</strong> moment<strong>os</strong> felizes da minha infância, que eununca vou esquecer, foi graças a você. Agra<strong>de</strong>ço minha tia Teresinha que mefez um cafezinho em uma tar<strong>de</strong>, o que n<strong>os</strong> tor<strong>no</strong>u mais próximas <strong>de</strong> <strong>no</strong>vo, e aoanjo. Você é muito especial pra mim tia.A tod<strong>os</strong> amig<strong>os</strong> que m<strong>os</strong>traram compaixão, n<strong>os</strong> moment<strong>os</strong> difíceis queeu achava que não ia dar tempo, e que tudo era tão difícil.A Dudi, Luana, Priscila, ao meu irmão Tiago, a Aline, a Bia (que semsaber), a Diana, a Marilda e a tod<strong>os</strong> que me emprestaram o <strong>no</strong>tebook ou<strong>de</strong>ixaram eu usar o computador <strong>de</strong> suas casas, sem isso esse trabalho nãotinha ficado pronto a tempo.Agra<strong>de</strong>ço a acupuntura, por ser mágica, me tranqüilizar, aniquilarminhas preocupações e me fazer uma pessoa mais feliz.


Ao Belli que me salvou, convertendo meus arquiv<strong>os</strong> salv<strong>os</strong> <strong>no</strong> Word2007, para a versão anterior e me ensi<strong>no</strong>u salvar para que <strong>os</strong> arquiv<strong>os</strong> sejamabert<strong>os</strong> em qualquer Word.Agra<strong>de</strong>ço a<strong>os</strong> vizinh<strong>os</strong> maluc<strong>os</strong> do Pig, que faziam barulho e achavamque cantavam bem, não me <strong>de</strong>ixando dormir, então eu lia muito.A Pri por fazer o almoço várias vezes e me emprestar a carteirinha dabiblioteca por mais <strong>de</strong> um a<strong>no</strong>.A mocinha da biblioteca por corrigir calmamente meu projeto. Aomocinho bonitinho da biblioteca por ter conseguido bravamente resgatar o livroque eu estava usando para a mo<strong>no</strong>grafia, uma vez que ele quase foimandando para enca<strong>de</strong>rnamento.Agra<strong>de</strong>ço as pessoas com quem vivi bel<strong>os</strong> moment<strong>os</strong>, que aliviei <strong>os</strong>tress e fui aproveitar minha vida, <strong>de</strong>ixando a vida da Isadora com ela (emmuitas situações me sentindo um pouco na vida <strong>de</strong>la).As voltinhas <strong>de</strong> moto, sentindo o vento divi<strong>no</strong> da madrugada. Nessas<strong>no</strong>ites tudo parecia estar bem <strong>no</strong> mundo todo.As minhas amigas e as “Antarcticas” que tomam<strong>os</strong> em meio a risadasem Itapira - Rock City ou em Bauru. Agra<strong>de</strong>ço também a Paula e a Diana quevinham me resgatar (“quebrava minhas pernas”), quando eu estava cheia <strong>de</strong>livr<strong>os</strong> para estudar, e mesmo assim eu ia!Ao Leo, por ser um amigo lindo e incomparável, agra<strong>de</strong>ço as n<strong>os</strong>sasconversas intermináveis madrugada à fora <strong>no</strong> msn, até o sol nascer, e a troca<strong>de</strong> energia única neste dia.Agra<strong>de</strong>ço pela aquisição do N64, e as fitas emprestadas pelo meuirmão, Du, Dan e Gui. Ao árduo trabalho do meu irmão em convencer seuamigo emprestar o Xbox360 e a<strong>os</strong> menin<strong>os</strong> <strong>de</strong> casa por “halo nights” (mesm<strong>os</strong>ó servindo pr<strong>os</strong> menin<strong>os</strong> marcarem pont<strong>os</strong>, eu me divertia), e <strong>de</strong>pois por“vegas nights”.A cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Itapira por ter se mantido <strong>de</strong>sinteressante com essamodinha <strong>de</strong> sertanejo universitário horrível, fazendo com que não houvesseânimo para diversão em muit<strong>os</strong> finais <strong>de</strong> semana <strong>de</strong> leituras.Ao Luiz por não ter muito que fazer e me ajudar com as fot<strong>os</strong> e mesmoquando ocupado me ajudando com o resumo. Ao meu irmãozinho que eu tantoamo por me ajudar com o resumo também. Ao Andrey pelo mesmo motivo.


A Marina por encontrar as ultimas palavras que me <strong>de</strong>ixou satisfeita.Agra<strong>de</strong>ço ao Igor por magicamente transformar <strong>os</strong> arquiv<strong>os</strong> do Wor<strong>de</strong>m pdf, sem bagunça <strong>os</strong> númer<strong>os</strong> <strong>de</strong> paginas.Ao café por me manter acordada por <strong>no</strong>ites e mais <strong>no</strong>ites.A minha capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> abstrair, em muit<strong>os</strong> moment<strong>os</strong> que o chocolatetinha acabado e o nerv<strong>os</strong>o não.Um agra<strong>de</strong>cimento todo especial por algo ou alguém que eu não melembro <strong>no</strong> momento, quem me conhece sabe, que eu vivo <strong>no</strong> meu mundinhoazul.A mim mesma, pela iniciativa e <strong>de</strong>dicação. Luz e Energia a tod<strong>os</strong>.


ResumoIsadora Duncan foi uma dançarina, coreógrafa, educadora e revolucionária.Re<strong>no</strong>vou o modo <strong>de</strong> dançar com estilo próprio, expressando-se por meio <strong>de</strong>seu corpo e moviment<strong>os</strong> naturais, inspirada nas Artes da Grécia clássica, namitologia, na musica erudita, nas poesias, na fil<strong>os</strong>ofia e na Natureza.Sua dança era uma reverência ao belo, à liberda<strong>de</strong> e ao divi<strong>no</strong>; vestida comtúnicas fluídicas, pés <strong>de</strong>scalç<strong>os</strong> e cabel<strong>os</strong> solt<strong>os</strong>, restaurou a Dança dando-lheuma <strong>no</strong>va vitalida<strong>de</strong>. Através da sua Arte buscava levar a liberda<strong>de</strong> para tod<strong>os</strong>.Não era a<strong>de</strong>pta à Dança Acadêmica, tecia críticas sobre o ballet clássico,dizendo ser um gênero falso e absurdo. Este estudo objetivou analisar ofenôme<strong>no</strong> Isadora Duncan, com o olhar focado n<strong>os</strong> motiv<strong>os</strong> que a levaramnegar o ballet clássico e a ginástica, criando a sua “dança livre”, e, relacionar asua gestualida<strong>de</strong> com a Educação Física. A Metodologia seguiu <strong>os</strong> pass<strong>os</strong> daPesquisa Qualitativa com uma abordagem fe<strong>no</strong>me<strong>no</strong>lógica-hermenêutica. Asleituras focaram Biografias, Text<strong>os</strong> midiátic<strong>os</strong> e Literaturas Acadêmicas.A relação gestual <strong>de</strong> Isadora Duncan e a Educação Física estão apresentadasem forma <strong>de</strong> imagens, promovendo um diálogo entre Isadora Duncan einstantes capturad<strong>os</strong> <strong>de</strong> alguns escolares nas aulas <strong>de</strong> Educação Física.


AbstractIsadora Duncan was a dancer, choreographer, educator and revolutionary.Renewed the way to dance with her own style, expressing through her bodyand natural movements, inspired in the arts of classical Greece, in mythology,the music scholar, in poetry, in phil<strong>os</strong>ophy and in nature.Her dance was a homage to the beauty, freedom and the divine; worn withtunics fluidic, bare feet and lo<strong>os</strong>e hair, restored the Dance giving it a newvitality.Through its Art she was bring freedom to all. She was <strong>no</strong>t fan the Aca<strong>de</strong>micDance, wrote criticis about classical ballet, claiming to be a genre false andabsurd.This study aimed to analyze the phe<strong>no</strong>me<strong>no</strong>n Isadora Duncan, with eyesfocused on the reasons that lead her to <strong>de</strong>ny the classical ballet andgymnastics, creating her "free dance", and linking its hand with the Fitness. Themethodology followed in the steps of the Qualitative Research with aphe<strong>no</strong>me<strong>no</strong>logical approach-hermeneutics. The readings focused biographies,media and aca<strong>de</strong>mic literature texts.The hand of Isadora Duncan and physical education are presented in the formof images, promoting a dialogue between Isadora Duncan and instantscaptured of few stu<strong>de</strong>nts in the classes of Physical Education.


SumárioI – Introdução ....................................................................................... 005II. Desenvolvimento .......................................................................... 0081. Isadora Duncan: pass<strong>os</strong> <strong>de</strong> uma Vida .................................................... 0082. Os gest<strong>os</strong> expressiv<strong>os</strong> <strong>de</strong> Isadora Duncan e a Educação Física ........ 104Dança Livre ............................................................................................... 104Isadora e Nietzsche .................................................................................. 1123. Educação Física <strong>no</strong> Século das Luzes ................................................... 1184. Filantropismo ............................................................................................ 1195. Educação Física na Europa <strong>no</strong> Século XIX ............................................ 1206. Educação Física <strong>no</strong> Século XX ............................................................... 1287. O Movimento Natural ............................................................................... 1318. Psicomotricida<strong>de</strong> ..................................................................................... 1339. A Educação Física do Século XXI ........................................................... 13410. Educação Física <strong>no</strong> Brasil ..................................................................... 134III. CONCLUSÃO ................................................................................. 137V. REFERÊNCIAS ............................................................................... 147


5I. IntroduçãoO movimento é a expressão lírica e emocional.Isadora Duncan.Através da dança não se diz, mas se é... e adança é a mais alta expressão do ser (...) Aqueleque conhece o po<strong>de</strong>r da dança conhece o po<strong>de</strong>r<strong>de</strong> Deus. Ted Shawn.Um simples gesto <strong>de</strong> <strong>de</strong>ixar pen<strong>de</strong>r a cabeça paratrás, feito com paixão, diz ela, faz o n<strong>os</strong>so corp<strong>os</strong>er percorrido por um tremor báquico <strong>de</strong> alegria,<strong>de</strong> heroísmo ou <strong>de</strong> <strong>de</strong>sejo. Isadora Duncan.Isadora Duncan, dançarina, coreógrafa, educadora e revolucionária,<strong>de</strong>fensora ar<strong>de</strong>nte e radical do espírito poético e da liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> expressão, as suasidéias eram exp<strong>os</strong>tas com garra e <strong>de</strong>terminação.Pensadora, poetisa, dona <strong>de</strong> um espírito magnificamente sensível, foireconhecida como a "fil<strong>os</strong>ofa da dança".Crítica da Socieda<strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rna, da cultura, da educação e uma dasconquistadoras e <strong>de</strong>fensoras da luta pel<strong>os</strong> direit<strong>os</strong> da mulher. Foi uma revolucionáriasocial, e foi agraciada com o privilégio da poesia diariamente em sua vida.A gran<strong>de</strong>za <strong>de</strong> suas realizações teve a mesma dimensão das tragédias <strong>de</strong>sua vida. Os seus pensament<strong>os</strong> eram profund<strong>os</strong> e ousad<strong>os</strong> para a época, e, <strong>de</strong>s<strong>de</strong>criança <strong>os</strong> seus <strong>de</strong>sej<strong>os</strong> prevaleciam e eram concretizad<strong>os</strong>, lutou com <strong>de</strong>terminaçãopor tudo o que quis, e por tudo que acreditava ser bom e certo à sua existência.Em sua jornada elevou a dança ao mais alto patamar das Artes, rompendocom a rigi<strong>de</strong>z do aca<strong>de</strong>micismo, ressuscitando, assim, o Sagrado na Arte <strong>de</strong> dançar.Re<strong>no</strong>vou o modo <strong>de</strong> dançar com estilo próprio, expressando-se por meio <strong>de</strong>seu corpo. Utilizava-se <strong>de</strong> comp<strong>os</strong>ições d<strong>os</strong> gran<strong>de</strong>s mestres da música como:Chopin, Brahms, Beethoven e Bach que, na época eram executadas apenas em


6Concert<strong>os</strong>. Não era a<strong>de</strong>pta à Dança Acadêmica, tecia críticas sobre o ballet clássico,dizia ela: “sou inimiga do balé, (...) consi<strong>de</strong>ro um gênero falso e absurdo.”Consi<strong>de</strong>rada a musa <strong>de</strong> uma <strong>no</strong>va dança, influenciou gran<strong>de</strong>s coreógraf<strong>os</strong>como: Fokine, Diaghilv, NIjinski, NIjinska, Massine, Balanchine, Ashton, Tudor,Graham, Wigman, Börlin entre outr<strong>os</strong>. Estes, absorveram a sua fil<strong>os</strong>ofia culminandonum fator <strong>de</strong>cisivo na mo<strong>de</strong>rnização d<strong>os</strong> princípi<strong>os</strong> que cercavam o ballet, na época.Isadora <strong>de</strong>senvolveu a idéia do movimento livre e natural inspirando-se nasArtes da Grécia clássica, na mitologia, na musica erudita, nas poesias, na fil<strong>os</strong>ofia ena Natureza. Sua dança era uma reverência ao belo, à liberda<strong>de</strong> e ao divi<strong>no</strong>; vestidacom túnicas fluídicas, pés <strong>de</strong>scalç<strong>os</strong> e cabel<strong>os</strong> solt<strong>os</strong>, restaurou a dança dando-lheuma <strong>no</strong>va vitalida<strong>de</strong>.Foi uma dançarina, livre, carismática, extravagante e revolucionária. Negoutodas as técnicas corporais que tinham como princípio: o aprisionamento d<strong>os</strong>moviment<strong>os</strong> e gest<strong>os</strong> (ótica da dançarina); e, pregava por tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> continentes quetransitou, a liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> expressão por meio <strong>de</strong> sua metodologia, a dança livre.Isadora ganhou mérit<strong>os</strong> com a invenção do que, mais tar<strong>de</strong>, veio a serconhecida como Dança Mo<strong>de</strong>rna.O objetivo <strong>de</strong>ste estudo é apresentar o fenôme<strong>no</strong> Isadora Duncan, com oolhar focado n<strong>os</strong> motiv<strong>os</strong> que a levaram negar o ballet clássico e a ginástica, criandouma <strong>no</strong>va dança <strong>de</strong><strong>no</strong>minada por ela <strong>de</strong> “dança livre”; bem como <strong>os</strong> fatores que alevaram criar essa <strong>no</strong>va maneira <strong>de</strong> dançar que, ainda hoje, observam<strong>os</strong>semelhanças n<strong>os</strong> gest<strong>os</strong> e moviment<strong>os</strong> <strong>de</strong> pessoas e escolares que se movimentame gesticulam espontaneamente.Os moviment<strong>os</strong> expressiv<strong>os</strong> <strong>de</strong> Isadora, acrescido da observação <strong>de</strong>semelhanças gestuais do cotidia<strong>no</strong> <strong>de</strong> n<strong>os</strong>sas crianças brasileiras, n<strong>os</strong>


7impulsionaram a promover um tímido diálogo entre Isadora Duncan (Dançarina nascidaem São Francisco-EUA, 27-05-1877; Nice-França, 14-09-1927; sécul<strong>os</strong> XIX-XX), com umpeque<strong>no</strong> grupo <strong>de</strong> crianças (Escolares do Interior do Estado <strong>de</strong> São Paulo-Brasil; A<strong>no</strong> <strong>de</strong> 2008- séculoXXI.).Para isso, n<strong>os</strong> apoiam<strong>os</strong> n<strong>os</strong> procediment<strong>os</strong> metodológic<strong>os</strong> <strong>de</strong> umaPesquisa Qualitativa, pois oferece recurs<strong>os</strong> e instrument<strong>os</strong> <strong>de</strong> coleta e análise d<strong>os</strong>dad<strong>os</strong> que sustentam estud<strong>os</strong> <strong>de</strong> cunho, psicológico, histórico, artístico, cultural,educacional e social.Escolhem<strong>os</strong> a abordagem fe<strong>no</strong>me<strong>no</strong>lógica-hermenêutica, pois elap<strong>os</strong>sibilita “ver como o fenôme<strong>no</strong> (...) se m<strong>os</strong>tra, <strong>de</strong>svendá-lo além da aparência (...)revelar <strong>os</strong> sentid<strong>os</strong> men<strong>os</strong> aparentes, m<strong>os</strong>trar o que existe em seu alicerce”(ZONTA, 2004, p. 22).Diante disso, buscam<strong>os</strong> apoio na afirmação <strong>de</strong> Elcie F. Salza<strong>no</strong> Masini,impressa <strong>no</strong> Livro <strong>de</strong> “Metodologia da Pesquisa Educacional”, organizado por IvaniFazenda. Afirma a autora que “este enfoque <strong>de</strong> Pesquisa caracteriza-se pela ênfaseao ‘mundo da vida cotidiana’, pelo retor<strong>no</strong> àquilo que ficou esquecido, encobertopela familiarida<strong>de</strong> (pel<strong>os</strong> us<strong>os</strong>, hábit<strong>os</strong> e linguagem do senso comum)”. (MASINI.E.F.S. apud FAZENDA, 1994, p.60).Os moviment<strong>os</strong> e gest<strong>os</strong> corporais que eram manifestad<strong>os</strong> <strong>no</strong> cenário daDança e da Educação Física (ginástica) na época em que Isadora Duncan viveu, sãoinvestigad<strong>os</strong> por meio <strong>de</strong> um histórico sobre a Educação Física (ginástica) do séculoXIX, XX e XXI, relacionando-o com <strong>os</strong> moviment<strong>os</strong> e idéias <strong>de</strong> Isadora.Traçam<strong>os</strong> um paralelo entre a prop<strong>os</strong>ta <strong>de</strong> Isadora Duncan, commoviment<strong>os</strong> expressad<strong>os</strong> por escolares nas aulas <strong>de</strong> Educação Física <strong>de</strong> umaCida<strong>de</strong> do Interior do Estado <strong>de</strong> São Paulo-Brasil.


8II. Desenvolvimento1. Isadora Duncan: pass<strong>os</strong> <strong>de</strong> uma Vida:J<strong>os</strong>eph Charles Duncan, era um homem <strong>de</strong> pensamento jovial e muitoambici<strong>os</strong>o <strong>de</strong> espírito atirado, um escocês graduate <strong>de</strong> Oxford, graças a uma bolsaconcedida pela socieda<strong>de</strong> vitoriana.Em Oxford ele se sentia prisioneiro, queria ir para o Gran<strong>de</strong> Oeste, isso log<strong>os</strong>e tor<strong>no</strong>u uma idéia fixa, até que ele não se conteve, pediu emprestado o dinheiropara a viajem e embarcou para o Arizona - São Francisco, sem se <strong>de</strong>spedir.Queria fazer fortuna e escrever vers<strong>os</strong>. Buscava a Bolsa <strong>de</strong> valores e ouro.Adaptou-se facilmente em São Francisco. Um graduate <strong>de</strong> Oxford<strong>de</strong>sgarrado <strong>no</strong> mundo das finanças, um fenôme<strong>no</strong> único.Um dia, o vasto pórtico abria para uma galeria que contornava a mansão, e<strong>de</strong> on<strong>de</strong> se dominava a baía Belmont.Na galeria, Charles escuta distante alguém <strong>de</strong>dilhando, <strong>no</strong> pia<strong>no</strong>, a Fantasia<strong>de</strong> Robert Schumann. Estranhou estar ouvindo aquela música, consi<strong>de</strong>rando o locale as pessoas que ali estavam, perguntara para si mesmo se apenas ele escutaraaquela música. Caminha em direção ao som e, seu amigo Ralston lhe apresenta aresponsável pelo seu estranhamento, era Miss Gray, Mary Dora Gray, a professora<strong>de</strong> pia<strong>no</strong>.Ela se surpreen<strong>de</strong> e se encanta por alguém em são Francisco reconhecer aFantasia <strong>de</strong> Schumann. Ele acredita que ela é uma pessoa que sabe o que quer.Charles a acompanhou até sua casa. Descobriram que tinham g<strong>os</strong>t<strong>os</strong> em


10contra o puritanismo. De tão unid<strong>os</strong>, a família se tor<strong>no</strong>u um clã, Mary era a alma doclã.Era <strong>de</strong>sprovida <strong>de</strong> espírito prático, como tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> seus filh<strong>os</strong> também foram.Criava <strong>os</strong> filh<strong>os</strong> num espírito <strong>de</strong> <strong>de</strong>sorganização ingênua, não havia nenhumhorário fixo e nem disciplina. Mary tinha um ardor anti-teológico, era ateia e negava aexistência <strong>de</strong> Deus à seus filh<strong>os</strong>, dizia à eles que “Deus não existe”, para ela, aúnica coisa que se fazia existir era a alma <strong>de</strong>les para ajudá-l<strong>os</strong>.Muito cedo conta para seus filh<strong>os</strong> algumas verda<strong>de</strong>s, revela a não existência<strong>de</strong> Papai Noel, pois é contrária à criação que cultiva a ingenuida<strong>de</strong>. Isadora eramuito pequena quando sua mãe revelou que Papai Noel não existia. (DUNCAN, p.17 e 23).Seus filh<strong>os</strong> foram educad<strong>os</strong> com o respeito ao livre-pensamento ehedonismo agressiv<strong>os</strong>. (KURTH, 2004, p. 31).Ensinava-<strong>os</strong> o exercício do <strong>de</strong>sapego pelas coisas materiais, tinha mania <strong>de</strong><strong>de</strong>sor<strong>de</strong>m, d<strong>os</strong>es exageradas <strong>de</strong> i<strong>de</strong>alismo, g<strong>os</strong>to pela aventura e, acima <strong>de</strong> tudo oculto da Arte, do Belo e da Grécia.Havia <strong>os</strong> serões à <strong>no</strong>ite, o clã (Mary e seus filh<strong>os</strong>) se reunia em tor<strong>no</strong> dopia<strong>no</strong>, era uma festa; para Isadora nenhuma festa foi mais suntu<strong>os</strong>a do que essas.Mary tocava gran<strong>de</strong>s clássic<strong>os</strong>, lia gran<strong>de</strong>s escritores, <strong>os</strong> filh<strong>os</strong> <strong>de</strong>clamavampoesias, Isadora dançava. Eram moment<strong>os</strong> mágic<strong>os</strong>: as magias da música, dapoesia e da dança, encantavam a família. O tempo, para eles, parava e o local setornava mágico. Tudo o que acontecera durante o dia, não tinha importância. Averda<strong>de</strong>ira vida estava ali. (DUNCAN, p. 17, 23).“Os Duncan eram por natureza imprevi<strong>de</strong>ntes: Ou havia fartura ou elesestavam a zero”. (KURTH, 2004, p.30-31).


11Uma amiga se lembra da Sra. Duncan como ‘uma mulher muitocritica e franca’, com uma aversão por ‘adult<strong>os</strong>’. Ela preferia a companhiadas crianças a qualquer outra e era incapaz <strong>de</strong> administrar o dinheiro queganhava. (KURTH, 2004, p.30-31).A mãe <strong>de</strong> Isadora ficou muito abatida moralmente e em uma situação difícil,antes <strong>de</strong> Isadora nascer. Ela alimentava-se apenas com <strong>os</strong>tras e champanhe.Isadora menciona que começou a dançar <strong>no</strong> ventre mater<strong>no</strong>, por causa doalimento <strong>de</strong> Afrodite, e acreditava que toda criança tem o caráter formado <strong>de</strong>s<strong>de</strong> <strong>os</strong>eio mater<strong>no</strong>.Vale aqui um recorte e discorrer sobre algumas tradições orientais quefundamentam a crença <strong>de</strong> Isadora.Os orientais acreditam <strong>no</strong> Jing. A essência Jing Ancestral, é a energia querecebem<strong>os</strong> <strong>de</strong> n<strong>os</strong>s<strong>os</strong> pais, a energia da concepção relacionada com a energia yang<strong>no</strong> homem e yin na mulher.Quando utilizam<strong>os</strong> essa energia, ela se esgota e não po<strong>de</strong> ser rep<strong>os</strong>ta pormei<strong>os</strong> comuns.Se na fase <strong>de</strong> gestação a Energia Ancestral d<strong>os</strong> Pais for <strong>de</strong>ficiente, po<strong>de</strong>ráresultar na <strong>de</strong>ficiência <strong>de</strong>sta Energia na criança, da mesma forma ocorre um igualprocesso quando <strong>os</strong> pais são <strong>de</strong> mais ida<strong>de</strong>, fatigad<strong>os</strong> ou doentes antes daconcepção ou quando a criança é prematura.A Essência Jing <strong>de</strong>cresce naturalmente com a ida<strong>de</strong>, mas este processopo<strong>de</strong> ser agravado por doença, excesso <strong>de</strong> trabalho, exercício físico muito rígido,hábit<strong>os</strong> não saudáveis e stress.O ato sexual quando realizado em estado <strong>de</strong> fadiga, ou com emoçõesreprimidas, além <strong>de</strong> constituir um fator <strong>de</strong> doença, dispersa, também a EssênciaJing.A <strong>de</strong>ficiência da Essência Jing, em virtu<strong>de</strong> do excesso sexual, é


13Ela levantou-se e protestou dizendo que Papai Noel não existia, que suamãe achava que isso era bom para as mães ricas, pois estas, po<strong>de</strong>m fingir que sãoPapai Noel e distribuírem presentes.Ela foi provada <strong>de</strong> receber <strong>os</strong> doces e balas por dizer a verda<strong>de</strong> e nuncapo<strong>de</strong> engolir essa injustiça. Quando ela conta para sua mãe o ocorrido, sua mãe lhediz que ela estava certa, que não existia Papel Noel e nem Deus, o que existia era aprópria alma para ajudar. (DUNCAN, p. 15-17).Muito cedo, tomou consciência que ela era diferente da socieda<strong>de</strong> puritanaque vivia, quando entrou na escola, se sentia diferente das outras meninas, ficavaisolada, não tinha assunto com o grupo, não tinha com quem compartilhar <strong>os</strong> seussegred<strong>os</strong> e sonh<strong>os</strong>. Para ela, o sistema escolar era consi<strong>de</strong>rado <strong>de</strong>suma<strong>no</strong>.(LEVER, 1988, p. 15).Na visão <strong>de</strong> Isadora, a educação que uma criança recebia na escola erainútil, evi<strong>de</strong>nciava uma brutal incompreensão da criança.Sua verda<strong>de</strong>ira educação se fazia à <strong>no</strong>ite, quando sua mãe tocava <strong>no</strong> pia<strong>no</strong>Beethoven, Schumann, Schubert, Mozart, Chopin, ou lia Shakespeare, Shelley,Keats ou Burns. A Arte e o Belo, sempre estiveram presente em sua vida. Cresceuouvindo Bob Ingersoll, que sua mãe g<strong>os</strong>tava <strong>de</strong> ler para <strong>os</strong> filh<strong>os</strong> <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> terrompido com o catolicismoDizia Isadora: “Minha arte já estava em mim quando eu era pequena, e foi graças aoespírito heróico e aventureiro <strong>de</strong> minha mãe que ela não sofreu nenhumconstrangimento.” (DUNCAN, p. 17-18-25).Por volta d<strong>os</strong> seis an<strong>os</strong>, a mãe <strong>de</strong> Isadora se surpreen<strong>de</strong> ao ver que amenina havia reunido as crianças mais <strong>no</strong>vas da vizinhança em sua casa, para darlhesaulas <strong>de</strong> dança, mas achou graça na situação e começou a tocar pia<strong>no</strong> para


14elas. As crianças da redon<strong>de</strong>za também quiseram entrar na escolinha, e Isadoracomeçou a ganhar algum dinheiro.Por volta d<strong>os</strong> <strong>de</strong>z an<strong>os</strong>, sua irmã Elizabeth passa auxiliar Isadora nas lições,sua Escola <strong>de</strong> Dança começa a pr<strong>os</strong>perar e ela abandona a escola convencional(para <strong>de</strong> estudar), pois sua família precisava <strong>de</strong> dinheiro, e ela não g<strong>os</strong>tava daescola, dizia que lá não aprendia nada, e sua educação <strong>de</strong> verda<strong>de</strong> se fazia à <strong>no</strong>itecom sua família, n<strong>os</strong> serões.Sua mãe a acompanhava <strong>no</strong> pia<strong>no</strong>, enquanto ela começa a compor a suadança.Com oito an<strong>os</strong>, Isadora já era <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> ajuda (financeira) para a família,sempre conseguia dar um jeito para que tod<strong>os</strong> ficassem bem, ven<strong>de</strong>ndo <strong>os</strong> tricôs damãe por um preço mais elevado, quando não tinham nenhum dinheiro, ouconseguindo um credito suplementar com o prodigi<strong>os</strong>o açougueiro, para nãopassarem fome. (DUNCAN, p. 17-18-19-24-25).Para ela tudo era uma aventura, como o pai, ela também g<strong>os</strong>tava <strong>de</strong> jogar,ap<strong>os</strong>tar, arriscar. (LEVER, 1988, p. 12.)“A melhor herança que se po<strong>de</strong> <strong>de</strong>ixar a um filho é permitir que ele mesmo<strong>de</strong>sbrave o seu caminho”. (DUNCAN, p. 25).Na ocasião da separação <strong>de</strong> seus pais, Isadora ainda era criança <strong>de</strong> colo,portanto não conhecia o seu pai. Quando ela perguntava por ele, sua tia respondiaque ele era um <strong>de</strong>mônio e que havia arruinado a vida <strong>de</strong> sua mãe. Assim a pequenaIsadora fazendo exercíci<strong>os</strong> <strong>de</strong> imaginação, imaginava o seu pai com chifres e rabo.Certo dia, quando Isadora tinha uns sete an<strong>os</strong>, seu pai aparece para visitar afamília, e é Isadora quem abre a porta, ele pergunta pela senhora Duncan, Isadorarepon<strong>de</strong> que era sua mãe. Ele a pega n<strong>os</strong> braç<strong>os</strong> e abraça cobrindo-a <strong>de</strong> lágrimas e


15beij<strong>os</strong> dizendo que ela era a sua princesinha Pug. Espantada, quer saber quem éele. Ele diz ser seu pai. Ela fica encantada e corre para avisar a família e diz: “Temaí um homem dizendo que é meu pai”. Sua mãe fica pálida, e agitada, foge para oquarto, tranca-se, <strong>os</strong> irmã<strong>os</strong>, também, ficam assustad<strong>os</strong> e cada um se escon<strong>de</strong> emum canto, e tod<strong>os</strong> diziam para ele ir embora.doentes.Isadora volta para o hall, on<strong>de</strong> estava seu pai, e avisa-o que tod<strong>os</strong> estavamIsadora e seu pai saem a passeio. Ela ficou feliz <strong>de</strong> ver que ele era umhomem belo e nada tinha do <strong>de</strong>mônio que ela imaginava. Eles foram até umaconfeitaria, e ele a encheu <strong>de</strong> doces e sorvetes. O encontro foi breve e ficou um bomtempo sem vê-lo <strong>no</strong>vamente.Pela quarta vez, seu pai, fizera fortuna e presenteou a família com uma casamuito gran<strong>de</strong>, nela havia uma ampla sala <strong>de</strong> dança e até quadra <strong>de</strong> tênis. Com<strong>os</strong>empre, não tardou para per<strong>de</strong>r a sua fortuna, inclusive essa casa que haviapresenteado a família.Foi durante esse tempo que Isadora teve a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> conhecer mais <strong>os</strong>eu pai, <strong>de</strong>scobriu que ele era um gran<strong>de</strong> poeta e po<strong>de</strong> apreciá-lo. Um d<strong>os</strong> poemasescrito por ele, parecia ser uma verda<strong>de</strong>ira profecia a respeito <strong>de</strong> toda a carreira <strong>de</strong>Isadora.Essas primeiras impressões da infância marcaram profundamente a suavida, comenta Isadora em seu livro:Toda a minha meninice parecia dominada pela espessa sombra <strong>de</strong>sse paimisteri<strong>os</strong>o, a respeito <strong>de</strong> quem não se ousava dizer nada, e a terrívelpalavra “divorcio” dir-se-ia in<strong>de</strong>levelmente gravada <strong>no</strong> meu cérebro.(DUNCAN, p. 21).Como não podia perguntar nada a ninguém, ela teve que pensar por elamesma, e procurou saber das Leis do casamento, e observar se as mulheres


16casadas eram felizes.Por um lado, Isadora tinha a cabeça cheia <strong>de</strong> romances sentimentais, poroutro lado, ela tinha bem vivo diante d<strong>os</strong> olh<strong>os</strong> o que era a união pelo casamento.Quando conheceu as Leis relativas ao casamento, se indig<strong>no</strong>u com o estado<strong>de</strong> servilismo que elas conferiam as mulheres. Observou as amigas <strong>de</strong> sua mãecasadas, e percebia que todas eram tristes, enxergava a escravidão e não via afelicida<strong>de</strong>.Em um d<strong>os</strong> livr<strong>os</strong> que lera, a mocinha não se casa, tem um filho semesperar, e a terrível <strong>de</strong>sonra cai sobre a pobre moça. Ela se sentia profundamenteabalada pela injustiça que esse tipo <strong>de</strong> situação fazia pesar sobre as mulheres.Ligando a leitura, com a realida<strong>de</strong> <strong>de</strong> seu pai e <strong>de</strong> sua mãe, <strong>de</strong>cidiu que se<strong>de</strong>dicaria a lutar contra o casamento e a favor d<strong>os</strong> direit<strong>os</strong> e da libertação dasmulheres, pelo direito <strong>de</strong> terem filh<strong>os</strong> quando quiserem, sem serem julgadas porisso. Esse comportamento se <strong>de</strong>u por volta d<strong>os</strong> seus 12 an<strong>os</strong> <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, as situações<strong>de</strong> sua vida a obrigaram a ser precoce nas atitu<strong>de</strong>s e <strong>de</strong>cisões. Jurou jamais aceitaruma situação tão <strong>de</strong>gradante, mesmo que isso custasse a incompreensão domundo.Com 14 an<strong>os</strong> <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, se vê loucamente apaixonada, por um alu<strong>no</strong> maisvelho, Ver<strong>no</strong>n. Consi<strong>de</strong>rado um amor platônico, foi o seu primeiro amor, e daí pordiante, ela nunca mais <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> amar sem estar loucamente e intensamenteapaixonada.Depois que Isadora <strong>de</strong>ixou a escola, começou a ler na biblioteca pública dacida<strong>de</strong>, Dickens, Thackeray, Shakespeare, romances, literatura, trabalh<strong>os</strong>gr<strong>os</strong>seir<strong>os</strong>, e, mesmo a biblioteca sendo muito longe <strong>de</strong> sua casa, não se cansava.Lia tudo que passava por suas mã<strong>os</strong>.


17O puritanismo era visto como um círculo <strong>de</strong> ferro, e Isadora diz mais tar<strong>de</strong>que ela acredita que foi <strong>de</strong>vido ao sangue irlandês <strong>de</strong> sua família, que quandocrianças sempre viveram revoltadas contra esse estado <strong>de</strong> espírito <strong>de</strong> verda<strong>de</strong>iratirania. (DUNCAN, p. 19-21-23-26-27).Augustin dizia que Isadora era uma criança encantadora, doce e boazinha.(KURTH, 2004, p.30).Uma amiga da família vê Isadora dançar, e sugere a sua mãe que a man<strong>de</strong>para o balé. Ingressou em uma Escola <strong>de</strong> ballet e verificou que tudo, para ela, eraum “horror”, até o pia<strong>no</strong> era <strong>de</strong>safinado. Achou tudo <strong>de</strong>suma<strong>no</strong>, torturante e estúpidocom seu corpo, odiou ter que ficar na ponta d<strong>os</strong> pés, dizia ser contra a natureza.Uma heresia, um terrível sacrilégio. Uma mecânica sem alma, argumentava que avestimenta <strong>de</strong>forma o corpo e bloqueia <strong>os</strong> impuls<strong>os</strong>. Uma ginástica rígida e vulgarque perturbava o seu i<strong>de</strong>al <strong>de</strong> dança. Ela ainda não sabia muito bem o que queria,mas sentia próximo, o mundo <strong>no</strong> qual queria penetrar. (DUNCAN, p. 25).A Arte e o Belo são argument<strong>os</strong> que Isadora e sua família nuncapermaneceram insensíveis, assim Mary <strong>de</strong>ci<strong>de</strong> tirar a filha do ballet. Para ela a suaescola era a natureza. (LEVER, 1988, p. 18).Uma <strong>no</strong>ta dominante <strong>de</strong> sua infância foi um permanente espírito <strong>de</strong> revoltacontra o acanhamento da socieda<strong>de</strong> em que viviam, contra o estreitamento da vida,e um <strong>de</strong>sejo impetu<strong>os</strong>o <strong>de</strong> ir para o Leste, para um mundo imaginado mais amplo.Sob as influências <strong>de</strong> suas leituras, Isadora tem a idéia <strong>de</strong> partir <strong>de</strong> SãoFrancisco e conhecer outras terras levando sua dança e liberda<strong>de</strong>. (DUNCAN, p.28).Tenta partir com uma companhia teatral, mas não conseguiu, então elaconvence a sua família.Quantas vezes não discuti com minha família e <strong>os</strong> amig<strong>os</strong>, paraacabar dizendo: “Vam<strong>os</strong> abandonar isto. Aqui nunca farem<strong>os</strong> nada”.(DUNCAN, p. 24).


18Por mudarem muito <strong>de</strong> casa, Isadora tinha uma capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> adaptaçãomaior, e ela não achava ruim se mudar tanto, não g<strong>os</strong>tava <strong>de</strong> rotina. (LEVER, 1988,p.13).Partiram para Califórnia e foram parar em uma pensão <strong>de</strong> fundo <strong>de</strong> quintal.Geralmente chegavam nas cida<strong>de</strong>s com as malas nas mã<strong>os</strong>, percorriam acida<strong>de</strong> até encontrar uma pensão barata. Às vezes, locais mal afamad<strong>os</strong>,barulhent<strong>os</strong> ou perig<strong>os</strong><strong>os</strong>. As dificulda<strong>de</strong>s eram tantas que chegaram passar fome.Certa vez, alugaram o próprio ateliê, e enquanto permanecia alugado a família saiapassear pela cida<strong>de</strong>, não importava se fazia frio ou calor.É na Califórnia que, cinco an<strong>os</strong> <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> se apaixonar por Ver<strong>no</strong>n, elaconhece Ivan Mir<strong>os</strong>ki, Isadora sentia-se reviver, estava muito feliz.Seu irmão <strong>de</strong>scobriu que ele era casado há três an<strong>os</strong>, sua mulher moravanuma casa em Londres, com muitas crianças adotadas, Stella House.Depois <strong>de</strong> muitas tentativas e recusas Isadora consegue um contrato com ofam<strong>os</strong>o Augustin Daly, principal produtor da época.Partem para Nova Iorque. Primeiro passou pela pantomina, expressãoartística, que ela odiava. Essa turnê durou dois meses, <strong>de</strong>pois veio a sua atuaçãoem “Sonho <strong>de</strong> uma <strong>no</strong>ite <strong>de</strong> verão”, finalmente conseguira dançar, o público adoroupara <strong>de</strong>scontentamento <strong>de</strong> Daly, pois teve que manter a sua namoradinha comoestrela principal d<strong>os</strong> Espetácul<strong>os</strong>.Para se sentir melhor, se isolava, tinha o hábito <strong>de</strong> ter um livro aberto,mesmo sem lê-lo, se sentia melhor, era como um talismã contra aquelas pessoasque não tinham nada em comum com ela. Desenvolvia Teorias sobre vestuário,moral e alimentação, visualizando um mundo melhor e livre.


19Isadora ganhava muito pouco, estava sempre esgotada, passava fome etodo tipo <strong>de</strong> necessida<strong>de</strong>, mesmo assim, agüentou essa vida por um a<strong>no</strong>.Depois veio a peça teatral Gueixa, Isadora só fingia cantar. Achou tudo umaestupi<strong>de</strong>z, ela já estava aflita, queria m<strong>os</strong>trar ao mundo sua dança, levandoliberda<strong>de</strong> a tod<strong>os</strong>.Um dia Isadora chorando, extremamente cansada <strong>de</strong> toda aquela besteira,diz a Daly que não vai mais representar essas asneiras e que foi feita para a dança,<strong>no</strong> dia seguinte ela pe<strong>de</strong> <strong>de</strong>missão. (DUNCAN, p. 28-31-32-34-40- 41).A Dança para Isadora, não é nem exercíci<strong>os</strong> nem mecânica, não acreditavaser natural andar nas pontas d<strong>os</strong> pés, ou levantar <strong>os</strong> pés mais alto que a cabeça, senão era natural, e pensava: para que exigir isso <strong>de</strong> uma dançarina? Se dançarinasnão são marionetes articuladas. (LEVER, 1988, p. 33).Era ensinado para as crianças <strong>no</strong> balé que a mola central <strong>de</strong> qualquer gestoe movimento era situada <strong>no</strong> centro do dorso, na base da coluna vertebral. Desseeixo que provem <strong>os</strong> moviment<strong>os</strong> livres d<strong>os</strong> braç<strong>os</strong>, das pernas e tronco, dando aoconjunto uma impressão <strong>de</strong> um boneco articulado. (DUNCAN, p. 69).Livre do teatro começa a trabalhar a sua dança. Isadora, seguindo suasinspirações e pensament<strong>os</strong>, ousou abandonar <strong>os</strong> tutu e sapatilhas, para dançar comuma simples túnica, <strong>os</strong> pés nus e <strong>os</strong> cabel<strong>os</strong> solt<strong>os</strong> sobre <strong>os</strong> ombr<strong>os</strong>. Uma aluna daEscola <strong>de</strong> dança, que Isadora conquistou mais tar<strong>de</strong>, Irma, <strong>de</strong>screveu:No instante em que ela avançou para me cumprimentar, <strong>os</strong> pés<strong>de</strong>scalç<strong>os</strong> e com uma túnica branca ate <strong>os</strong> tor<strong>no</strong>zel<strong>os</strong>, só tive olh<strong>os</strong> paraela. Com um prazer pueril [...] Eu nunca havia visto alguém tão encantadore <strong>de</strong> aspecto tão angelical nem alguém vestido daquela maneira. Ao ladodo vestido <strong>de</strong> minha mãe – longo, preto, vitoria<strong>no</strong> -, a roupa simples <strong>de</strong>Isadora lhe dava a aparência <strong>de</strong> uma criatura <strong>de</strong> outro planeta. Fiqueitotalmente enfeitiçada por seu doce sorriso quando ela se incli<strong>no</strong>u parapegar minha mão enquanto eu fazia uma mesura. (KURTH, 2004, p. 188-189).


21ap<strong>os</strong>ento para a vida recomeçar.Era consi<strong>de</strong>rada a beleza mais completa da época e nunca lhe faltouiniciativa, <strong>de</strong>terminada dizia:O que nunca pu<strong>de</strong> compreen<strong>de</strong>r, então ou <strong>de</strong>pois, foi que alguémpu<strong>de</strong>sse ter vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> fazer alguma coisa e <strong>de</strong>ixasse <strong>de</strong> fazê-la. Quanto amim, tal nunca se <strong>de</strong>u. Sempre fiz o que quis. Não há duvida <strong>de</strong> que, porvezes, isso me conduziu à <strong>de</strong>sgraça e a miséria, mas, pelo men<strong>os</strong>, tive asatisfação <strong>de</strong> abrir o meu caminho. (DUNCAN, p. 53).Ela acreditava na ciência astrológica, que n<strong>os</strong>sa vida psíquica está sob ainfluência d<strong>os</strong> planetas, e pregava que, se <strong>os</strong> pais estudassem as estrelas gerariamfilh<strong>os</strong> mais form<strong>os</strong><strong>os</strong>.Isadora também acreditava que a vida da criança é <strong>de</strong> acordo com o localem que ela nasce, <strong>no</strong> mar ou montanhas. O mar sempre a atraiu, a montanha lhedava um in<strong>de</strong>finido mal-estar, ela tinha vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> fugir.Acreditava que o <strong>de</strong>sti<strong>no</strong> <strong>de</strong> cada um, já é parte integrante do Ser <strong>de</strong>s<strong>de</strong> amais tenra ida<strong>de</strong>, e o seu, era dançarina e revolucionária. (DUNCAN, p. 16-17).Isadora aspirava nada men<strong>os</strong> que impor ao mundo sua própria visão dahumanida<strong>de</strong>. Era segura <strong>de</strong> seu gênio e do que <strong>de</strong>veria fazer, acreditava <strong>no</strong> retor<strong>no</strong>do paraíso perdido, numa socieda<strong>de</strong> livre, sem qualquer forma <strong>de</strong> coação oudominação, tal como imaginava a Grécia antiga.Ela <strong>de</strong>senvolveu a idéia do movimento livre e natural inspirando-se nas Artesda Grécia clássica, na mitologia, na musica erudita, nas poesias, na fil<strong>os</strong>ofia e naNatureza. Sua dança era uma reverência ao belo, à liberda<strong>de</strong> e ao divi<strong>no</strong>; vestidacom túnicas fluídicas, pés <strong>de</strong>scalç<strong>os</strong> e cabel<strong>os</strong> solt<strong>os</strong>, restaurou a dança dando-lheuma <strong>no</strong>va vitalida<strong>de</strong>.Isadora não suportava a badalação efêmera e leviana, a tagarelice mundanaem tor<strong>no</strong> <strong>de</strong> sua pessoa, e muito men<strong>os</strong> a futilida<strong>de</strong> das riquíssimas proprietárias


22d<strong>os</strong> Salões, on<strong>de</strong> dançou. (LEVER, 1889, p. 35).Era dona <strong>de</strong> um comportamento esportivo, animado e bem humorado, o seuotimismo que não raro chegava à i<strong>no</strong>cência, sua <strong>de</strong>sarmante candura, tinha um jeitopróprio <strong>de</strong> varrer <strong>os</strong> conselh<strong>os</strong> da prudência com um: mais tar<strong>de</strong> a gente vê.(LEVER, 1988, p. 53).Era totalmente <strong>de</strong>sapegada a bens materiais, sua mãe sempre lhe ensin<strong>os</strong>er assim, e a exemplo <strong>de</strong>la, Isadora nunca usou jóia. (DUNCAN, p. 26)Em seu primeiro sucesso em Paris, Victorien Sardou lhe diz que a admiratanto quanto a lamenta, pois ela <strong>de</strong>safiará <strong>os</strong> <strong>de</strong>uses, a alertava para ter cuidadocom a vingança <strong>de</strong>les. Parecendo já estar prevendo como a vida <strong>de</strong> Isadora seriatrágica. “Os mais doces frut<strong>os</strong> da glória dissimulam em seu seio venen<strong>os</strong> amarg<strong>os</strong>”.(LEVER, 1988, p. 57).Ela tinha uma natureza aberta, sem segred<strong>os</strong>, profundamente transitiva. Eraum ser espontâneo.Para alguns sua ausência <strong>de</strong> segred<strong>os</strong> tornava-se o mais enigmático d<strong>os</strong>mistéri<strong>os</strong>, sua própria <strong>de</strong>senvoltura assumia um aspecto inquietante. Ela pareciainsólita <strong>de</strong> tanta transparência. (LEVER, 1988, p. 57).Isadora era consi<strong>de</strong>rada a beleza mais completa da época.É difícil julgá-la, sem duvida porque julgar é comparar e nela não seentra nenhum elemento que se tenha visto em alguma outra, nem mesmoem nenhum lugar, alhures. Mas todo o mistério <strong>de</strong> sua beleza esta <strong>no</strong>brilho, <strong>no</strong> enigma, sobretudo <strong>de</strong> seus olh<strong>os</strong>. Nunca vi mulher tão bela...MARCEL PROUST (LEVER, 1988, p. 61).Isadora não acreditava em um <strong>de</strong>us, ela dizia :...meus <strong>de</strong>uses são a beleza e o amor. Não existe outro. Como você po<strong>de</strong>saber que existe um <strong>de</strong>us? Os homens inventaram <strong>os</strong> <strong>de</strong>uses para teremmedo. Os antig<strong>os</strong> greg<strong>os</strong> já sabiam disso há milhares <strong>de</strong> an<strong>os</strong>. Nada existealem daquilo que sabem<strong>os</strong>, inventam<strong>os</strong> ou imaginam<strong>os</strong>. Tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> infern<strong>os</strong>estão neste mundo. E tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> paraís<strong>os</strong>! (LEVER, 1988, p. 293).


23Filha da Irlanda por seu i<strong>de</strong>alismo, filha do Re<strong>no</strong> por seu senso dafatalida<strong>de</strong>. Acredita <strong>no</strong> <strong>de</strong>sti<strong>no</strong> inelutável que, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a aurora d<strong>os</strong> temp<strong>os</strong>, pesasobre a humanida<strong>de</strong>. “Os <strong>de</strong>uses cobram caro suas Dádivas, para cada alegria háuma tristeza”. (KURTH, 2004, p. 19).Isadora sempre foi fiel a suas idéias, e dizia saber medir <strong>os</strong> risc<strong>os</strong> queassume. E dizia que pior para ela se algum dia tiver <strong>de</strong> sofrer por suas idéias.(LEVER, 1988, p. 171).Aquilo que ainda não vivenciam<strong>os</strong> torna-se-n<strong>os</strong> incompreensível atravésd<strong>os</strong> livr<strong>os</strong>. [...] ...é <strong>de</strong> todo inútil privar <strong>de</strong> certas leituras a mocida<strong>de</strong>.(DUNCAN, p. 71).Essa mulher foi convertida em símbol<strong>os</strong>: “Mãe dolor<strong>os</strong>a”; “Pacionária”.“Revolucionaria”; “Feminista”; “Mulher escandal<strong>os</strong>a”; “Rainha da extravagância”.(LEVER, 1988, p. 236).Isadora <strong>de</strong>sprezava o dinheiro, acreditava que o verda<strong>de</strong>iro escândalo nãoera esbanjá-lo como ela sempre fez, o gran<strong>de</strong> escalo era o dinheiro. Oesbanjamento era o único meio para o artista negar o dinheiro.Comentava: “Nunca fui econômica, nem em minha arte, nem em meusamores, nem em minha vida. Quer que o seja por dinheiro?” (LEVER, 1988, p. 348).“Mas como classificar <strong>os</strong> artistas? A única coisa que fazem é flutuar acimadas coisas”. (LEVER, 1988, p. 344).Certa vez o aluguel <strong>de</strong>veria ser pago <strong>no</strong> dia seguinte, e o “clã Duncan”, nãotinha dinheiro como <strong>de</strong> c<strong>os</strong>tume, as idéias do que fazer, não emergiam, pensavamque só por um milagre escapariam <strong>de</strong>ssa fase difícil, pensament<strong>os</strong> trágic<strong>os</strong>transitavam <strong>os</strong> seus cérebr<strong>os</strong> como: “se o hotel pegasse fogo”. Vinte e quatro horas<strong>de</strong>pois o Hotel Windsor é tomado pelas chamas. Isadora dizia à família que isso eraum sinal, e que precisavam ir para Londres.


24Isadora consegue o dinheiro para a viajem à Europa com as senhoras d<strong>os</strong>Salões que dançara, porém, não mais <strong>de</strong> 300 dólares.Seu irmão Raymond consegue embarcar a família num cargueiro que levava<strong>os</strong> animais para a Inglaterra por cem dólares. Viajaram tod<strong>os</strong> numa alegria indizível,porém, havia gado <strong>no</strong> cargueiro que recebia um tratamento tão cruel, o queconverteu Raymond ao vegetarianismo pelo resto da vida. Acreditava, também, <strong>no</strong>vegetarianismo como forma <strong>de</strong> liberda<strong>de</strong> e uma vida melhor, emancipada.(DUNCAN, p. 44-46-47).Em sua autobiografia ao refletir o que passou na Segunda Guerra Mundial,faz menção a Bernard Shaw: ”...enquanto <strong>os</strong> homens torturarem, matarem ecomerem <strong>os</strong> animais, a guerra perdurará”. Comentava Isadora “Enquanto servim<strong>os</strong><strong>de</strong> túmul<strong>os</strong> viv<strong>os</strong> a<strong>os</strong> animais assassinad<strong>os</strong>, como esperar o rei<strong>no</strong> <strong>de</strong> Paz sobre aterra?” (DUNCAN, p. 260-261).Depois <strong>de</strong> seis semanas, chegam em Londres, lá arrumam um alojamento e<strong>de</strong>dicam <strong>os</strong> seus primeir<strong>os</strong> dias para conhecer a cida<strong>de</strong>, sem a preocupação com odia <strong>de</strong> amanhã. Vivem como num sonho e, quinze dias mais tar<strong>de</strong> são forçad<strong>os</strong> avoltar para a realida<strong>de</strong>, não tinham como pagar o aluguel e foram p<strong>os</strong>t<strong>os</strong> na rua.Durante três dias ficaram nas ruas da cida<strong>de</strong>, até que por volta das cinco damanhã, Isadora <strong>de</strong>cidida leva o “clã Duncan” até um d<strong>os</strong> hotéis mais luxu<strong>os</strong><strong>os</strong> <strong>de</strong>Londres, pe<strong>de</strong> ao porteiro so<strong>no</strong>lento, um quarto e diz que suas bagagens logochegarão, mandando subir o café da manhã enquanto esperam. Descansad<strong>os</strong> esaciad<strong>os</strong>, <strong>no</strong> dia seguinte, <strong>de</strong> manhãzinha saem nas pontas d<strong>os</strong> pés para nãoacordar o porteiro.Fazia um a<strong>no</strong> que ela tinha conhecido Ivan Mir<strong>os</strong>ki, e por essa época soubeque ele morreu <strong>de</strong> tifói<strong>de</strong> na guerra contra a Espanha, Isadora encontrou seu <strong>no</strong>me


25em um jornal, assim também encontrou o en<strong>de</strong>reço <strong>de</strong> sua casa em Londres.Foi visitar a mulher <strong>de</strong> Mir<strong>os</strong>ki em Stella House, e se <strong>de</strong>parou com umamulher <strong>de</strong> cabel<strong>os</strong> branc<strong>os</strong>, que sempre esperou pelo momento que Mir<strong>os</strong>ki,mandasse-lhe dinheiro para ela se juntar a ele. O dinheiro nunca veio.Enquanto Isadora ia embora, ela sentia-se reconfortada por um sentimentoestranho, admiração por quem tem alguma vonta<strong>de</strong> e sabem realizá-la, e <strong>de</strong>sprezopel<strong>os</strong> que nada alcançam por sempre ficarem esperando.Através <strong>de</strong> um jornal Isadora <strong>de</strong>scobre que haverá uma recepção oferecidapor uma das senhoras que ela dançou n<strong>os</strong> Salões em Nova York, ela se oferecepara dançar nessa recepção, e logo ela se torna solicitada pelas damas <strong>de</strong> Londres,mas, continuava sem dinheiro.Certa vez, Mrs. Patrick Campbell viu Isadora e Raymond dançando <strong>no</strong>jardim, <strong>de</strong>clarou entusiasmada nunca ter visto algo semelhante, e lhe arranjou umasoirée <strong>no</strong> salão <strong>de</strong> Mrs George Wyndham, com tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> artistas <strong>de</strong> Londrespresentes, foi on<strong>de</strong> conheceu o amável diretor da New Gallery, Chales Hallé, logo aamiza<strong>de</strong> entre eles se torna muito profunda. Freqüentemente, <strong>no</strong> período da tar<strong>de</strong>,Isadora ia passear ou tomar chá na casa <strong>de</strong> Hallé. Nesses encontr<strong>os</strong> ele lhe falasobre Burne Jones, R<strong>os</strong>setti, William Morris, Whistler e Tennyson, é a ele queIsadora agra<strong>de</strong>ce a revelação da Arte d<strong>os</strong> velh<strong>os</strong> mestres.Hallé, num pátio plantado <strong>de</strong> velhas árvores, gramado minúsculo, tijol<strong>os</strong>r<strong>os</strong>ad<strong>os</strong> e com uma fonte <strong>de</strong> pedra, expondo <strong>os</strong> pintores mo<strong>de</strong>rn<strong>os</strong> maisimportantes, teve a idéia <strong>de</strong> fazer Isadora dançar nesse cenário.Feito isso, a imprensa teceu inúmer<strong>os</strong> elogi<strong>os</strong> e, durante alguns dias só sefalou em Isadora, a que ressuscitava a dança d<strong>os</strong> antig<strong>os</strong> greg<strong>os</strong>. Era disputada portod<strong>os</strong>.


26Um tempo <strong>de</strong>pois ela conhece um jovem poeta, Douglas Ainslie, todas astar<strong>de</strong>s ele a visitava e lia poemas <strong>de</strong> Swinbrune, Keats, Browning, R<strong>os</strong>setti e OscarWil<strong>de</strong>. (DUNCAN, p. 48-49-51-52-54-57-58).Isadora sonha em libertar o corpo, não o nega, afirma-o, exibe-o, ou pelomen<strong>os</strong> sugere sem pudor através da transparência <strong>de</strong> seus véus. Detestava o baléporque, este, preten<strong>de</strong> sujeitar o corpo. (LEVER, 1988, p. 48).Isadora viaja para Paris, Charles Noufflard foi apresentado a ela por CharlesHalle, e através <strong>de</strong> Charles Noufflard ela conhece André Baunier. (DUNCAN, p. 64).André fazia longas visitas para Isadora, e lia para ela <strong>os</strong> melhores livr<strong>os</strong> domomento, passeavam junt<strong>os</strong> e ele dizia que ela era sua única confi<strong>de</strong>nte. Essaamiza<strong>de</strong> apaixonada durou um a<strong>no</strong>. (DUNCAN, p. 66).Ela sonhava em conhecer o amor, toma iniciativa com André Baunier, masele não correspon<strong>de</strong> suas expectativas e ela se frustra e se angustia diante dofracasso da vida amor<strong>os</strong>a, começa a duvidar <strong>de</strong> si mesma: “alguma coisa estavaerrada!”Alguns dias <strong>de</strong>pois, com Jacques Beaugnies ela recupera a autoconfiança eapós um jantar, ele a leva a um hotel, ela estava muito feliz, porém, quando elepercebe que Isadora era virgem, implora perdão a ela como se estivesse à beira <strong>de</strong>cometer um crime. Isadora não compreen<strong>de</strong> e recorre à sua Arte <strong>de</strong> dançar: “Pedireià dança as alegrias que o amor me recusa”. (LEVER, 1988, p. 58-59).Nessa época, esse esforço patético que ela procurou, o amor terrestre, emsuas aventuras amor<strong>os</strong>as, resultou em uma influência marcante em sua naturezaemotiva. Graças a ela, Isadora que estava <strong>de</strong>siludida em relação ao amor, convergetoda a sua força para sua Arte, a força criadora. (DUNCAN, p. 70).Em Paris, tinha o hábito <strong>de</strong> ir ao Louvre para estudar <strong>os</strong> moviment<strong>os</strong> d<strong>os</strong>


27dançarin<strong>os</strong>, impress<strong>os</strong> n<strong>os</strong> vas<strong>os</strong> greg<strong>os</strong>. Buscava com isso, apren<strong>de</strong>r e re<strong>de</strong>scobrir<strong>os</strong> moviment<strong>os</strong> espontâne<strong>os</strong> manifestad<strong>os</strong> por eles (DUNCAN, 1989).Sobre isso, vale <strong>de</strong>stacar uma curi<strong>os</strong>ida<strong>de</strong> comenta Garaudy (1980, p. 61),que Raymond, irmão <strong>de</strong> Isadora, <strong>de</strong>senhava o relevo das figuras dançantes, e ela aovê-las, comentava: “Veja, lá está Dionísio! Vem ver Me<strong>de</strong>ia matando seus filh<strong>os</strong>! (...)Raymond, havia copiado tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> vas<strong>os</strong> greg<strong>os</strong> do Louvre... mas algumas silhuetas,(...), não haviam sido <strong>de</strong>senhadas a partir d<strong>os</strong> vas<strong>os</strong> greg<strong>os</strong>, mas <strong>de</strong> fotografias queRaymond havia tirado <strong>de</strong> mim dançando nua e que foram tomadas como vas<strong>os</strong>greg<strong>os</strong>”.Raymond e Isadora dançavam n<strong>os</strong> Jardins <strong>de</strong> Luxemburgo, passavam horas<strong>de</strong> encantamento <strong>no</strong> Louvre. Admiravam as estátuas <strong>no</strong> Jardim das Tulherias.Visitaram também o Museu Cluny, Carnavalet, a Notre-Dame, se <strong>de</strong>slumbraram comtoda Paris.Por intervenção <strong>de</strong> Beaugnies ela dança na casa <strong>de</strong> sua mãe para aaristocracia <strong>de</strong> Paris.André Messager que estava presente viu nela uma ruptura necessária com oBalé Acadêmico e uma re<strong>no</strong>vação capital da expressão corporal. (DUNCAN, p. 62-65).No fim <strong>de</strong> seu recital, as pessoas a ro<strong>de</strong>iam e se extasiam. Seu sotaquecalifornia<strong>no</strong> encanta, sua túnica grega diverte, suas maneiras <strong>de</strong> jovem livresurpreen<strong>de</strong>m. Suas perguntas ingênuas provocam sorris<strong>os</strong>. As suas resp<strong>os</strong>tasfrancas são certeiras. Tod<strong>os</strong> são unânimes em achá-la “<strong>de</strong>lici<strong>os</strong>a”, extremamenteoriginal, picante e pura como um fruto silvestre. Volta para casa coberta <strong>de</strong> flores ecumpriment<strong>os</strong>, escoltada por seus cavalheir<strong>os</strong>. (LEVER, 1988, p. 55).Isadora era admirada agora por artistas, intelectuais e personalida<strong>de</strong>s


28mundanas, só não havia conquistado ainda <strong>os</strong> empresári<strong>os</strong>, o que importava paraela era ser reconhecida pel<strong>os</strong> artistas que ela admirava, a mensagem <strong>de</strong>la eraelevada e abstrata <strong>de</strong>mais para o reconhecimento d<strong>os</strong> empresári<strong>os</strong>, e sem per<strong>de</strong>r aconfiança em si, continuava o seu trabalho com sua mãe. (DUNCAN, p. 59-60).Isadora, não foi uma gran<strong>de</strong> bailarina, nem uma re<strong>no</strong>mada coreógrafa; foiuma dançarina-mulher livre, em uma socieda<strong>de</strong> puritana e castradora.Foi a primeira oci<strong>de</strong>ntal a dançar com <strong>os</strong> pés nus e com túnicas gregastransparentes que marcavam o corpo e m<strong>os</strong>travam as pernas em seu estado natural;a sua rebeldia e i<strong>no</strong>vação causaram espanto na Belle Époque.Dança <strong>no</strong> palacete da con<strong>de</strong>ssa Elisabeth Greffulhe, que acolhe as cabeçascoroadas e <strong>os</strong> <strong>no</strong>mes da antiga <strong>no</strong>breza, ela era também especialista emrevelações, para sua ultima <strong>de</strong>scoberta, Isadora, transformou o cenário do Salão.Algumas pessoas, achavam que ela não tinha o direito e era um <strong>de</strong>srespeit<strong>os</strong>e vestir daquele modo; outr<strong>os</strong>, ficavam petrificad<strong>os</strong>, e, outr<strong>os</strong>, se comprimiam paravê-la o mais próximo p<strong>os</strong>sível do palco, era tratada como o <strong>no</strong>vo gênio da dança.Isadora não ficou satisfeita com o cenário cheio <strong>de</strong> r<strong>os</strong>as, estava <strong>de</strong>cidida <strong>de</strong> queeles não entendiam sua mensagem. (DUNCAN, p. 71-73).Quando estavam em Paris, <strong>os</strong> Duncans tinham fontes <strong>de</strong> alegria, o Louvre, aBiblioteca Nacional e a Biblioteca do Teatro Ópera <strong>de</strong> Paris. Leu livr<strong>os</strong> sobre Dança,Musica e Teatro Grego, ela leu sobre a Dança <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o antigo Egito até <strong>os</strong> seus diasatuais. Viu sobre <strong>os</strong> mestres Jean-Jacques Rousseaus, Walt Whitman e Nietzsche.(DUNCAN, p. 73). (DUNCAN, p. 11).A princesa <strong>de</strong> Polignac, um dia veio visitá-la dizendo que seu maridog<strong>os</strong>taria muito <strong>de</strong> conhecê-la. O príncipe a recebe com uma simplicida<strong>de</strong>encantadora, ela lhe revela tudo o que esperava <strong>de</strong> um renascimento da sua Arte.


29Ela dança em seu Salão, em vári<strong>os</strong> outr<strong>os</strong> e é vista entre outr<strong>os</strong> gêni<strong>os</strong> por EugeneCarriere. (DUNCAN, p. 73). Claemenceau comentou ao vê-la: “Essa americanazinhavai revolucionar o mundo”. (LEVER, 1988.)Eugene Carriere <strong>de</strong>staca:Isadora, <strong>no</strong> seu <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> exprimir <strong>os</strong> sentiment<strong>os</strong> human<strong>os</strong>, achouna arte grega <strong>os</strong> mais bel<strong>os</strong> mo<strong>de</strong>l<strong>os</strong>. Cheia <strong>de</strong> admiração pelasmagníficas figuras d<strong>os</strong> baix<strong>os</strong>-relev<strong>os</strong>, foi neles que se inspirou.Entretanto, dotada do instinto <strong>de</strong> <strong>de</strong>scobertas, ela voltou-se para anatureza, origem <strong>de</strong> tod<strong>os</strong> esses moviment<strong>os</strong>, e, convencida <strong>de</strong> que épreciso imitar e revivificar a dança grega, achou a sua própria expressão.Se pensa n<strong>os</strong> greg<strong>os</strong>, não obe<strong>de</strong>ce mais do que a si mesma. O que n<strong>os</strong> dáé a sua própria alegria, é sua própria tristeza. Esquecer o momento quepassa e procurar a felicida<strong>de</strong> – eis <strong>os</strong> seus únic<strong>os</strong> <strong>de</strong>sej<strong>os</strong>. Masexprimindo-<strong>os</strong> <strong>de</strong> uma maneira tão perfeita, ela também n<strong>os</strong> <strong>de</strong>spertaaspirações. Diante das obras gregas, que surgem redivivas a<strong>os</strong> n<strong>os</strong>soolh<strong>os</strong>, participam<strong>os</strong> da sua juventu<strong>de</strong>, e uma <strong>no</strong>va esperança triunfa emnós, e quando ela exprime a submissão ao inevitável, é também sua aresignação que n<strong>os</strong> vem.A dança <strong>de</strong> Isadora não é um divertimento, é uma manifestaçãopessoal, uma obra <strong>de</strong> arte viva que n<strong>os</strong> incita a trabalhar e fecunda <strong>de</strong>ntro<strong>de</strong> nós as obras a que o <strong>de</strong>sti<strong>no</strong> n<strong>os</strong> chamou e que ainda haverem<strong>os</strong> <strong>de</strong>realizar. (DUNCAN, p. 75).Auguste Rodin observa e comenta:Diria-se que Isadora Duncan chegou sem esforço à escultura, àemoção. Ela retira da natureza essa força que ninguém chama <strong>de</strong> talento,mas que é o gênio.Miss Duncan unificou, por assim dizer, a vida na dança. É natural emcena, on<strong>de</strong> tão pouc<strong>os</strong> c<strong>os</strong>tumam sê-lo. Torna a dança sensível á linha e ésimples como o antigo, que é sinônimo da Beleza, Agilida<strong>de</strong>, emoção, duasqualida<strong>de</strong>s que constituem a própria alma da dança: é a arte inteira esoberana. (LEVER, 1988, p. 70-71).Por essa época, um representante <strong>de</strong> um music-hall <strong>de</strong> Berlim tentacontratar Isadora, oferecendo uma soma gran<strong>de</strong>, ela enfurecida o manda embora,pois nada tinha em comum com sua Arte. (DUNCAN, p. 76-77).Nesse período, Isadora foi visitar o ateliê do artista Rodin, as Obras lhecausavam forte impressão. O artista construiu alguns croquis <strong>de</strong>la, embora ansi<strong>os</strong>apara <strong>de</strong>scobrir o amor, neste dia, ela teve a oportunida<strong>de</strong>, mas fugiu do ateliê e maistar<strong>de</strong> só lamentou.Loie Fuller vai até o estúdio <strong>de</strong> Isadora, e ela dança e expõe as suasTeorias. Loie, empresária <strong>de</strong> Sada Yacco, a atriz trágica japonesa que Isadora


30admirava, observa que Isadora tem algo a dizer com seu corpo e a contrata. Isadoraaceita, pois ira manifestar a sua Arte <strong>de</strong> dançar na Alemanha.Em uma semana, está em Berlim e se surpreen<strong>de</strong> por ser tão parecida comGrécia. Isadora não se adapta ao cotidia<strong>no</strong> daquela trupe, ainda mais que uma dasjovens meio amalucada tenta a estrangular, alegando ser mandada por Deus aassassiná-la. Sob o choque <strong>de</strong>ssa emoção, fez um retor<strong>no</strong> a si mesma, seus sonh<strong>os</strong>humilhad<strong>os</strong>, suas esperanças traídas, seus amores ridícul<strong>os</strong>, estava tão solitária,que sentia vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> gritar.No dia seguinte, pe<strong>de</strong> a sua mãe que venha encontrá-la em Viena, issoocorre e ela leva Isadora à casa <strong>de</strong> Alexan<strong>de</strong>r Gr<strong>os</strong>s, que a viu dançar e paragarantir o seu futuro, a contrata para dançar na Hungria-Budapeste. (DUNCAN, p.81-82-84-88).Em abril <strong>de</strong> 1902, fez apresentações <strong>no</strong> Teatro Urânia, pela primeira vezdançou para um verda<strong>de</strong>iro público, com o repertório <strong>de</strong> sua escolha. O Teatro nãoesvaziava durante um mês, foi um triunfo, a dança improvisada sobre o DanúbioAzul é o <strong>de</strong>lírio. (LEVER, 1988, p. 76).Três dias <strong>de</strong>pois Isadora dançou a fam<strong>os</strong>a Marcha <strong>de</strong> Rakovzy com umatúnica vermelha, símbolo da revolução húngara. (LEVER, 1988, p. 79). Relata RogerGaraudy:dançou vestida com uma túnica vermelha, <strong>de</strong>safiando a or<strong>de</strong>m repressorada monarquia austríaca, em homenagem a<strong>os</strong> revolucionári<strong>os</strong> húngar<strong>os</strong>.“No dia em que foi anunciada a revolução russa, tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> que amam aliberda<strong>de</strong> foram invadid<strong>os</strong> por uma gran<strong>de</strong> esperança... Com minha túnicavermelha, sempre dancei a revolução e a luta d<strong>os</strong> oprimid<strong>os</strong>”. (GARAUDY,1980, p. 59)Nesta época durante essas apresentações triunfantes com o empresárioGr<strong>os</strong>s, ela conheceu em seu camarim Oscar Beregi, que a convida para ir vê-lorepresentar a peça “Romeu e Julieta”, <strong>no</strong> Teatro Real. Ela aceita, e, ao findar a


31apresentação ele comenta que ela o inspirou. (LEVER, 1988, p. 76-77).Depois <strong>de</strong> <strong>no</strong>ites e <strong>no</strong>ites, apenas conversando sobre Arte e Fil<strong>os</strong>ofia, o seu“Romeu” a carrega até o canapé, Isadora sentia um misto <strong>de</strong> pânico e êxtase.Finalmente, <strong>de</strong>scobre o amor.Para Isadora e até mesmo a sua Arte nada valia diante <strong>de</strong> um instante <strong>de</strong>amor, este minuto, era para ela, uma glória suprema. Pelo amor, ela abdicava <strong>de</strong>tudo e aceitava a dissolução, a <strong>de</strong>struição e a morte. Sabia que quando ainteligência era <strong>de</strong>rrotada <strong>de</strong>sta forma, era um mergulho <strong>no</strong> abismo e por vezesarrastava o espírito a<strong>os</strong> maiores <strong>de</strong>sastres. (DUNCAN, p. 90-93).Comenta Isadora:Que me julguem aqueles que pu<strong>de</strong>rem, mas que antes acusem anatureza ou Deus <strong>de</strong> haverem feito <strong>de</strong>sse minuto supremo o bem mais<strong>de</strong>sejável do universo. Infelizmente o <strong>de</strong>spertar é tanto mais amargoquanto mais belo foi o sonho. (DUNCAN, p. 94).Ao final da temporada em Budapeste, Isadora partiu com seu “Romeu” pararepousar alguns dias <strong>no</strong> campo. Nunca conhecera semelhante abrasamento d<strong>os</strong>sentid<strong>os</strong>. A ponto <strong>de</strong> perguntar a si mesma se tudo o mais: a dança, o pensamento eaté essa distância critica que ela sempre interpôs entre suas paixões e seus at<strong>os</strong>não vão se apagar na glória suprema <strong>de</strong> seus corp<strong>os</strong> unid<strong>os</strong>. Já se sente disp<strong>os</strong>ta aabdicar <strong>de</strong> tudo por essa convulsão do instante, que sempre consi<strong>de</strong>rou como umnaufrágio se a inteligência não interce<strong>de</strong>sse. No exato momento que sua carreiraalça vôo, em que sua vida assume um sentimento, sim, ela renunciaria à dança, sim,aceitaria a dissolução, a <strong>de</strong>struição, a morte. (LEVER, 1988, p. 79-80).Apesar <strong>de</strong> todas as satisfações que o público dava a Isadora, quando elaestava sozinha, tinha muita sauda<strong>de</strong> <strong>de</strong> seu “Romeu”, e certamente trocaria tudo,todo seu triunfo e toda sua Arte, por um único momento em seus braç<strong>os</strong>. (DUNCAN,p. 94).


32Isadora sempre foi ansi<strong>os</strong>a por conhecer profundamente o amor, ele sempreteve uma imensa importância em sua vida, por vezes falava mais alto que suaprópria Arte e que sua própria vida.Quando volta à Budapeste, sua mãe e Elizabeth reprovam o seucomportamento, acabam por persuadi-la à aceitar uma turnê, ela conta <strong>os</strong> dias queficou separada <strong>de</strong> seu “Romeu”.Como invejo a natureza que po<strong>de</strong>m se entregar abertamente à volúpia domomento, sem temer aquele critico impied<strong>os</strong>o e senhor <strong>de</strong> si, que se sentea distancia e quer impor a<strong>os</strong> sentid<strong>os</strong>, rojad<strong>os</strong> a seus pés, uma opinião queestes não lhe pe<strong>de</strong>m. (DUNCAN, p. 93).Mais turnês surgiam.Em toda parte acolhem-na como uma jovem divinda<strong>de</strong> <strong>de</strong>sconhecida doOlímpo. Fazem-na <strong>de</strong>sfilar nas ruas, vestida com uma túnica branca, sobreuma vitória transbordante <strong>de</strong> lilases, puxada por caval<strong>os</strong> ajaezad<strong>os</strong> comfitas e insígnias com as cores da Hungria. (LEVER, 1988, p. 80).Em Munique, Gr<strong>os</strong>s, lhe organizava representações. (LEVER, 1988, p. 83).Os estudantes <strong>de</strong>satrelam-lhe <strong>os</strong> caval<strong>os</strong>, levando Isadora através das ruas,dançando e cantando em sua volta, chegando ao Hotel ficavam durante uma parteda <strong>no</strong>ite <strong>de</strong>baixo <strong>de</strong> sua janela, até que ela jogasse-lhes flores ou lenç<strong>os</strong> que eramcortado em mil pedaç<strong>os</strong> e afixado n<strong>os</strong> bonés d<strong>os</strong> estudantes.Uma vez, levam-na em triunfo até a celebre Cervejaria Hofbrauhaus, on<strong>de</strong>ela dançou para tod<strong>os</strong>, escandalizando a cida<strong>de</strong>, mas tudo não passava <strong>de</strong> umatroca <strong>de</strong> estudantes, <strong>de</strong>sta vez, seu xale foi reduzido a frangalh<strong>os</strong> para <strong>os</strong>estudantes enfeitarem <strong>os</strong> seus bonés. (DUNCAN, p. 98).Isadora estava maravilhada com Munique, era uma verda<strong>de</strong>ira colméia <strong>de</strong>ativida<strong>de</strong>s artísticas e intelectuais.Em Munique durante uma apresentação ela conhece o filho <strong>de</strong> RichardWagner, Siegfried Wagner, que se tor<strong>no</strong>u um amigo muito querido com quem


33Isadora conversava muito.O compromisso <strong>de</strong> Isadora em apresentar a sua maneira <strong>de</strong> dançar ao redordo mundo, e, o “seu empenho em <strong>de</strong>volver à dança seu po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> comunicação e <strong>de</strong>comunhão convergia com gran<strong>de</strong>s correntes da arte mo<strong>de</strong>rna: a do Einfühlung, naAlemanha, para a qual a missão da arte era fazer-n<strong>os</strong> penetrar na essência do ser,vibrara em união com ele e conclamar a esta participação”. (GARAUDY, 1980, p.60).Ela começava a ler Schopenhauer, assim conheceu o espírito extraordinário:Geist, que é este sentimento da Divinda<strong>de</strong> (divinda<strong>de</strong> do pensamento), e tinha aimpressão <strong>de</strong> ter penetrado num mundo <strong>de</strong> pensadores excels<strong>os</strong>, cuja inteligênciaera mais vasta e sagrada. (DUNCAN, p. 99).Em Berlim, Gr<strong>os</strong>s espalha cartazes por todas as ruas. Isadora conquistaBerlim <strong>de</strong> assalto. Da <strong>no</strong>ite pro dia o <strong>no</strong>me Isadora esta em todas as bocas, aimprensa só fala <strong>de</strong>la. Aplau<strong>de</strong>m-na por sua audácia, tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> crític<strong>os</strong> aclamam oadvento <strong>de</strong> uma <strong>no</strong>va dança. Isadora mergulha na música sinfônica, Bach,Beethoven e Wagner. (DUNCAN, p. 101-102). (LEVER, 1988, p. 88-89).Finalmente o reencontro com o seu “Romeu” estava próximo, chega o diatão esperado, ela percebe nele uma mudança, agora ele representava MarcoAntonio, e parece ter se impregnado do papel, Isadora tem sauda<strong>de</strong>s do Romeu, e o“Marco Antonio” lhe fala em casamento, oferecendo-lhe um camarote todas as <strong>no</strong>itese dizendo necessitar <strong>de</strong>la para ensaiar.À medida que <strong>os</strong> dias passam, sente uma angustia rondar-lhe a felicida<strong>de</strong>. Ocasamento! E ela? E a dança? Estava disp<strong>os</strong>ta a per<strong>de</strong>r-se por amor, não pela vidaconjugal. Com tantas incertezas, um dia <strong>de</strong>ci<strong>de</strong>m o melhor seria cada um pr<strong>os</strong>seguira carreira separadamente. (LEVER, 1988, p. 80-81).


34Em Viena, Isadora cai doente, foi acometida por abal<strong>os</strong> nerv<strong>os</strong><strong>os</strong> e foipreciso interná-la. “Romeu” veio visitá-la e ficava em uma cama do seu lado <strong>no</strong>h<strong>os</strong>pital.Seu empresário a levou para Franzensbad, para acelerar sua cura, e sóquando Isadora se viu sem dinheiro que ela teve forças para tirar sua túnica da mala,e nisso, vê sua túnica vermelha com a qual ela dançou a revolução, em mei<strong>os</strong> alágrimas e soluç<strong>os</strong> ela faz um juramento <strong>de</strong> jamais abandonar a Arte pelo amor.Novamente Isadora transforma todas suas tristezas, dores e <strong>de</strong>silusões em Arte.(DUNCAN, p. 95-96).Passou alguns dias repousando em Abbazia, em companhia <strong>de</strong> sua irmã,foram h<strong>os</strong>pedadas na casa do amigo Arquiduque Ferdinando que lhe <strong>de</strong>volve og<strong>os</strong>to <strong>de</strong> viver. (LEVER, 1988, p. 96).Nesta estada, ela provocou um verda<strong>de</strong>iro escândalo e inventou modaexibindo-se na praia <strong>de</strong>scalça, com um tecido fi<strong>no</strong> azul-celeste <strong>de</strong> crepe da China,<strong>de</strong> <strong>de</strong>cote largo e <strong>de</strong> comprimento acima do joelho. Ao sair da água as mulherescontiveram um grito, o tecido fi<strong>no</strong> estava todo colado em seu corpo. As damas daCorte reprovam as suas maneiras livres, o seu comportamento in<strong>de</strong>cente e as suasafirmações impru<strong>de</strong>ntes. O hábito da época: as mulheres entravam <strong>no</strong> mar vestidas<strong>de</strong> preto, com calças até o tor<strong>no</strong>zelo e usavam meias e sapat<strong>os</strong>.Ferdinando lhe havia confessado não se sentir atraído por mulheres,alegando ser a única para qual ele podia se confessar. (DUNCAN, p. 96-97).(LEVER, 1988, p. 84-85).Disse Ferdinando:Conheço sua inteligência, sua sensibilida<strong>de</strong>. Não po<strong>de</strong>ria haver entre nósessa amiza<strong>de</strong> <strong>de</strong> espírito a qual sempre aspirei? É p<strong>os</strong>sível? Eu a amocomo amo a arte, a musica, a beleza, porque você é bela e tem gênio.(LEVER, 1988, p. 85).


36Copam<strong>os</strong> que <strong>de</strong>ci<strong>de</strong>m construí-lo, a família tem uma dificulda<strong>de</strong> por parte d<strong>os</strong>ven<strong>de</strong>dores para adquirir as terras, porém, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> cop<strong>os</strong> <strong>de</strong> raki, o conhaque daterra, na presença <strong>de</strong> um advogado contratado pel<strong>os</strong> Duncans o documento davenda é finalmente assinado.Deci<strong>de</strong>m que será a replica do palácio <strong>de</strong> Agame<strong>no</strong>n, e que viverão àmaneira d<strong>os</strong> greg<strong>os</strong> antig<strong>os</strong>, seus c<strong>os</strong>tumes e dieta, renunciando à carne<strong>de</strong>finitivamente.Em meio às peregrinações, encontram na Igreja Grega, <strong>os</strong> cant<strong>os</strong>bizantin<strong>os</strong>, e tem a idéia <strong>de</strong> transformá-l<strong>os</strong> em um coro <strong>de</strong> uma tragédia grega, Assuplicantes <strong>de</strong> Ésquilo. Dez menin<strong>os</strong> <strong>de</strong> vozes puras e belas.Em uma apresentação <strong>no</strong> Teatro Municipal, organizada pel<strong>os</strong> estudantes,Isadora dança “As suplicantes”, com <strong>os</strong> menin<strong>os</strong> do coro vestid<strong>os</strong> com túnicasfluídicas e multicores.Fizeram a peregrinação espiritual por toda Atenas.Em Cópam<strong>os</strong> não havia água a men<strong>os</strong> <strong>de</strong> seis quilômetr<strong>os</strong>, por mais quecavassem, na tentativa <strong>de</strong> achar um poço, não achavam água. A conta bancaria <strong>de</strong>Isadora pequena <strong>de</strong> tal forma que foram obrigad<strong>os</strong> a renunciar Cópam<strong>os</strong>,abandonando as muralhas inacabadas. (DUNCAN, p. 102-117).Isadora telegrafa para Gr<strong>os</strong>s, este, apresenta uma serie <strong>de</strong> contrat<strong>os</strong> paraViena e Munique.Na <strong>no</strong>ite anterior sua partida da Grécia, sente que não se po<strong>de</strong>m ter omesmo sentimento d<strong>os</strong> greg<strong>os</strong> antigo, por mais que quisessem ou adorar seus<strong>de</strong>uses, para ter o privilegio <strong>de</strong> viver sua vida. A Héla<strong>de</strong> que ela pretendiaressuscitar estava con<strong>de</strong>nada a permanecer na sua imaginação. (LEVER, 1988, p.98).


37Quando voltam da sua viagem à Grécia, trouxe consigo 10 menin<strong>os</strong> greg<strong>os</strong><strong>de</strong> vozes encantadoras. Gr<strong>os</strong>s vem <strong>os</strong> receber com buquês <strong>de</strong> flores, sua chegadanão passa <strong>de</strong>spercebida, tod<strong>os</strong> com túnicas gregas, acompanhad<strong>os</strong> pel<strong>os</strong> 10garot<strong>os</strong> e um seminarista, vestindo cor violeta.Em uma apresentação em Viena, Isadora interpreta a emoção <strong>de</strong> 50 virgensao mesmo tempo, as filhas <strong>de</strong> Danao. Juntamente com seu coral, apresentando <strong>os</strong>cor<strong>os</strong> <strong>de</strong> Ésquilo, As Suplicantes. (DUNCAN, p. 118). (LEVER, 1988, p. 99).Isadora confessa a seu amigo Hermann Bahr, quando conversavam sobre aarte e a estética, <strong>no</strong> bar do hotel, que, certo dia ela estava num estado extremo <strong>de</strong>abatimento, por não compreen<strong>de</strong>rem e zombarem <strong>de</strong> Esquilo, <strong>de</strong> “As suplicantes”,d<strong>os</strong> cor<strong>os</strong> bizantin<strong>os</strong>, do seu coro <strong>de</strong> menin<strong>os</strong> trazid<strong>os</strong> da Grécia reclamava, porquesó sabiam pedir para ela dançar o Danúbio Azul, e ela estava farta <strong>de</strong>le, diziavomitá-lo. Tinha a impressão <strong>de</strong> estar se per<strong>de</strong>ndo, mas, insistia <strong>no</strong> resto doprograma, com o coro d<strong>os</strong> menin<strong>os</strong> da Grécia, pouco lhe importava que a audácia<strong>de</strong> suas pesquisas assustasse a maioria. (LEVER, 1988, p. 101).Hermann lhe diz:Toda vanguarda esta pronta a lutar por você, porque você representaa <strong>no</strong>va arte, porque você quer mudar o mundo que é n<strong>os</strong>so também,porque, como n<strong>os</strong>, você se rebelou contra a or<strong>de</strong>m tradicional econfortável, porque você questiona, á sua maneira, as <strong>no</strong>rmas absurdas do“belo estético”. Antes <strong>de</strong> tudo, é a esses que você se dirige, nunca seesqueça disso. Tenha confiança. (LEVER, 1988, p. 101).Até que em meio à chuva <strong>de</strong> contrat<strong>os</strong> <strong>no</strong> escritório <strong>de</strong> Gr<strong>os</strong>s, alguns meses<strong>de</strong>pois <strong>os</strong> menin<strong>os</strong> do coro, começam a causar problemas séri<strong>os</strong>, suas vozes tinhammudado, tinham crescido uns vinte centímetr<strong>os</strong>, começavam a freqüentar lugares <strong>de</strong>má fama e embriagar-se, Isadora <strong>os</strong> manda <strong>de</strong> volta pra Grécia.Gr<strong>os</strong>s se cansou do que chamava <strong>de</strong> “as loucuras” <strong>de</strong> Isadora, pois ela sófazia o que lhe dava na cabeça sem se importar com turnês ou


38apresentações. (LEVER, 1988, p. 102-103).Em Paris ela apresentou uma interpretação da Sétima sinfonia <strong>de</strong>Beethoven. Ela testou antes em Munique e Berlim, e até mesmo <strong>os</strong> estudantes queadoravam Isadora ficaram chocad<strong>os</strong> com sua audácia por tentar “interpretar”Beethoven. Mas em Paris ela teve sucesso, <strong>no</strong> programa incluía Sonata ao luar e daSonata Patética. (KURTH, 2004, p. 139).Gustave Charpentier comentou:Com todo o refinamento <strong>de</strong> seu ser, seus lábi<strong>os</strong>, seus langores, atremulação da nu<strong>de</strong>z sob seus véus, ela criou um <strong>no</strong>vo vocabulário, umconjunto <strong>de</strong> metáforas capaz <strong>de</strong> falar na linguagem mais imediata emusical. (KURTH, 2004, p. 139).C<strong>os</strong>ima Wagner convida Isadora para dançar e coreografar a “Bacanal”,numa <strong>no</strong>va produção <strong>de</strong> Tannhauser, <strong>no</strong> próximo festival <strong>de</strong> Bayreuth. (KURTH,2004, p. 140).C<strong>os</strong>ima diz que Isadora era a moça flor com quem seu marido RichardWagner, sempre sonhou. Isadora aceita o <strong>de</strong>safio.Para o horror <strong>de</strong> seu empresário, Isadora pe<strong>de</strong> pra anular <strong>os</strong> contrat<strong>os</strong> emcurso, ele <strong>de</strong>clara que este não é o momento, que Bayreuth não era pra ela, quesuas imitadoras passariam na sua frente, como fez uma garota que escrevia praIsadora pedindo para vê-la, dizendo que não tinha nenhum vintém, era Maud AllanCerta vez em uma entrevista Maud diz nunca ter ouvido falar em Isadora.Seu empresário publicou as cartas <strong>de</strong> Maud na imprensa.Mas Isadora não ligava, não mudava <strong>de</strong> opinião e não ouvia as instruções<strong>de</strong>le.Ele sabia que ela só fazia o que queria, sempre priorizava <strong>os</strong> seus impuls<strong>os</strong>,resta-lhe fazer <strong>de</strong> Bayreuth, a união <strong>de</strong> Isadora e Wagner, um acontecimento.(LEVER, 1988, p. 104-106).


39Isadora tinha a idéia que podia dar uma virada em Bayreuth <strong>de</strong> 1904, queriaconhecer músic<strong>os</strong>, artistas e erudit<strong>os</strong>; progredir em seus estud<strong>os</strong>. Porém o convitefoi mais formal do que real, a produção não mudou em nada da versão <strong>de</strong> 1891.Apesar <strong>de</strong> Isadora ter dançado encantadoramente, ela dançou em meio àbailarinas, sua dança não estava na moldura certa.A nu<strong>de</strong>z <strong>de</strong> Isadora foi o principal tema das conversas em Bayreuth. Elasempre foi fiel a sua imagem e princípi<strong>os</strong>, e negou o pedido <strong>de</strong> C<strong>os</strong>ima, para que na<strong>no</strong>ite <strong>de</strong> estréia usasse por baixo <strong>de</strong> sua túnica uma camiseta branca. (KURTH,2004, p. 140-141-147).Por vári<strong>os</strong> an<strong>os</strong>, <strong>os</strong> sentid<strong>os</strong> <strong>de</strong> Isadora permaneceram adormecid<strong>os</strong>, semanteve longe do período <strong>de</strong> <strong>de</strong>sass<strong>os</strong>sego das paixões e po<strong>de</strong> se consagrarexclusivamente a sua Arte. (DUNCAN, p. 119).Em Bayreuth, ela constrói Philipís Ruhe, on<strong>de</strong> morava com sua amiga ecúmplice Mary Desti.Mary era uma jovem atriz, recém divorciada, com um bebe <strong>de</strong> um a<strong>no</strong> emeio. Mary admirava Isadora. (LEVER, 1988, p. 53).Certa vez Mary se <strong>de</strong>u conta <strong>de</strong> que toda <strong>no</strong>ite, <strong>de</strong>baixo <strong>de</strong> uma árvore<strong>de</strong>pois da meia <strong>no</strong>ite, um sujeito não tirava <strong>os</strong> olh<strong>os</strong> da janela <strong>de</strong> Isadora. Quando alua ilumi<strong>no</strong>u, elas reconheceram era, Heinrich Tho<strong>de</strong>. Isadora sai a seu encontro,toma-o pela mão e o faz subir suavemente <strong>os</strong> <strong>de</strong>graus para seu quarto. Por toda suaestada em Bayreuth ele veio vê-la.Isadora acreditava que esse amor não era terrestre, se sentia arremetida aocéu e que ele p<strong>os</strong>suía sua alma, foi uma paixão sobrenatural. (DUNCAN, p. 129-130).Ela escutava ele chamar seu <strong>no</strong>me à <strong>no</strong>ite, e, <strong>no</strong> dia seguinte recebia uma


40carta <strong>de</strong>le. (DUNCAN, p. 138).Isadora sempre teve ligações provocadoras, em Bayreuth sua amiza<strong>de</strong> como biólogo Ernst Haeckel que, atacava a cristanda<strong>de</strong> a moral burguesa e o conceito<strong>de</strong> imortalida<strong>de</strong>, provocava comentári<strong>os</strong>.Isadora falou que o balé <strong>de</strong> Berlim espalhou tachinhas <strong>no</strong> tapete, naintenção que ela cortasse <strong>os</strong> pés enquanto dançava.“Então lá estava eu, uma perfeita pagã para tod<strong>os</strong>, combatendo <strong>os</strong> filisteus”.(KURTH, 2004, p. 145-147).Alemanha.Isadora começa em final <strong>de</strong> 1904, começo <strong>de</strong> 1905, outra turnê pelaChega a São Petersburgo, e contempla uma cena que a faz estremecer:uma longa, interminável e tristonha procissão <strong>de</strong> trenós <strong>de</strong>slizando sobre a neve,carregando <strong>os</strong> cadáveres <strong>de</strong> seus mártires, sem um ruído. Cada qual trazendo umesquife, seguindo <strong>de</strong> homens e mulheres vestid<strong>os</strong> <strong>de</strong> preto.Eram <strong>os</strong> operári<strong>os</strong>, do Domingo Sangrento e d<strong>os</strong> mártires da revolução <strong>de</strong>1905, eles tinham sido acuad<strong>os</strong> e fuzilad<strong>os</strong>, pelo exercito do czar, por estarem emgreve. (DUNCAN, p. 140-141). (KURTH, 2004, p. 174).Isadora ficou o dia todo com essa cruel visão das mulheres, d<strong>os</strong> velh<strong>os</strong> ecrianças. Descreve:...diante daquela procissão que parecia infinita, daquela tragédia, prometi<strong>de</strong>dicar a minha pessoa e as minhas forças ao serviço do povo e d<strong>os</strong>oprimid<strong>os</strong>. Ah, como tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> meus <strong>de</strong>sej<strong>os</strong> <strong>de</strong> amor e tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> meussofriment<strong>os</strong> pessoais me pareciam agora vã<strong>os</strong> e miúd<strong>os</strong>! Como até mesmaa minha Arte era vã, a men<strong>os</strong> que eu pu<strong>de</strong>sse ajudar nisso. (KURTH, 2004,p. 174-175).mesma cena:Roger Garaudy apresenta também um comentário <strong>de</strong> Isadora ao observar aComo minha arte seria vã se nada pu<strong>de</strong>sse contra isso. (...) A dançaque eu criei não era outra coisa senão a expressão da liberda<strong>de</strong> (...) a


41dança como arte <strong>de</strong> libertação (...) toda minha vida fiz exatamente o quequeria fazer e isso muitas vezes levou-me a <strong>de</strong>sastres (...) eu era umadançarina e revolucionária. (GARAUDY, 1980, p. 58).Isadora já era fam<strong>os</strong>a como uma personalida<strong>de</strong>, além <strong>de</strong> dançarina. Antes<strong>de</strong> dançar em São Petersburgo ela era consi<strong>de</strong>rada uma reformista da saú<strong>de</strong> emissionária. (KURTH, 2004, p. 176-177).Ela dança a Polonaise <strong>de</strong> Chopin, na Sala d<strong>os</strong> Nobres, e tomada pelaemoção da visão da procissão, dança a revolta do povo humilhad<strong>os</strong>, com o r<strong>os</strong>tocheio <strong>de</strong> lágrimas. O império d<strong>os</strong> czares que ainda ontem mandaram fuzilar <strong>os</strong>operári<strong>os</strong>, a aplau<strong>de</strong>m e aclamam através <strong>de</strong>la o vasto marulho popular cujo símbolovivo ela acaba <strong>de</strong> encarnar. Isso parecia inconcebível para Isadora. (DUNCAN, p.141). (LEVER, 1988, p. 120).Em 1905 em sua estada em São Petersburgo ela se encontra com asmaiores estrelas do balé clássico russo, Kzechinska, Pavlova.Perguntava-se Isadora como que elas iriam acolhê-la.Kzechinskaia vem vê-la e diz admirar o que Isadora está fazendo, e aconvida para vê-la dançar na Ópera.Isadora nem acredita, enquanto as dançarinas do Balé <strong>de</strong> Bayreuthespalhavam tachinhas sobre o palco para ela se machucar, o templo da dançaAcadêmica lhe abre as portas.Uma luxu<strong>os</strong>a carruagem vem lhe buscá-la, em seu camarote, buquês <strong>de</strong>flores e três cavalheir<strong>os</strong> para acompanhá-la. Sua entrada causa sensação, é comouma ninfa em sandálias e túnica branca. (DUNCAN, p. 141).Alguns dias <strong>de</strong>pois Pavlova a convida para uma representação, em seguida,um jantar, Isadora se vê colocada entre <strong>os</strong> pintores Bakst e Be<strong>no</strong>is em frente Serge<strong>de</strong> Diaghilev.


42Durante o jantar Isadora elogia as bailarinas, diz que admira a virtu<strong>os</strong>ida<strong>de</strong>,a graça, a maravilh<strong>os</strong>a espontaneida<strong>de</strong>, e também a resistência física. Mas perguntaa eles on<strong>de</strong> está a dança, a alma da dança.Diz que Pavlova tem um corpo <strong>de</strong> aço, e pergunta para que lhe serve, se épara <strong>os</strong> exercíci<strong>os</strong> tirânic<strong>os</strong> a<strong>os</strong> quais ela se submete durante horas.Diaghilev lhe respon<strong>de</strong> que é para apren<strong>de</strong>r a técnica, reconhece ser árduo,porém indispensável.E Isadora lhe pergunta: Para que a técnica quando ela resulta em separar aalma e o corpo? E diz que o instinto só po<strong>de</strong> sofrer, ao ver-se tão afastado doesforço muscular.Isadora conta que quando foi a Escola Imperial <strong>de</strong> Bale, ao ver as meninas<strong>de</strong> cinco an<strong>os</strong> equilibrar-se na ponta d<strong>os</strong> pés durante horas, achou aquilo umabarbárie i<strong>no</strong>minável, parecia estar numa sala <strong>de</strong> tortura, e diz nunca ter visto nadamais contrario àquilo que ela pensa da dança.1988, p. 122).Diaghilev, diz que se interessa em saber o que Isadora pensa. (LEVER,Isadora pr<strong>os</strong>segue:Penso que o corpo <strong>de</strong>ve ser transparência, intuição, intermediárioperfeito entre a alma e o espírito. Penso que o dançari<strong>no</strong> é antes <strong>de</strong> tudoum corpo huma<strong>no</strong>, ou seja, uma realida<strong>de</strong> plástica <strong>de</strong> três dimensões, umelemento vivo, animado, móvel, e não uma fria mecânica. Penso que adança acreditou po<strong>de</strong>r viver sozinha e que chegou a esta heresia: o baléclássico. No tempo <strong>de</strong> Sófoles, a dança, a poesia, a dramaturgia, aarquitetura formavam um todo harmoni<strong>os</strong>o e manifestavam uma emoçãoúnica <strong>de</strong> mod<strong>os</strong> diferentes. Quando eu estava em Atenas, muitas vezesdancei ao amanhecer <strong>no</strong> teatro <strong>de</strong> Dionísio. Senti como tudo era or<strong>de</strong>nadopor uma mesma harmonia. O lugar que eu ocupava era <strong>no</strong> centro do circuloque formava o teatro e <strong>os</strong> gest<strong>os</strong> d<strong>os</strong> meus braç<strong>os</strong> <strong>de</strong>senhavam linhas queseguiam aquelas que traçavam diante <strong>de</strong> mim o horizonte dasarquibancadas. (LEVER, 1988, p. 122-123).Então lhe perguntam sobre a disciplina que esta Arte exige, e se ela não temmedo <strong>de</strong> se <strong>de</strong>ixar levar mais por seu instinto <strong>de</strong> mulher do que pelo <strong>de</strong> artista.


43Isadora respon<strong>de</strong>:Por que separar <strong>os</strong> dois? Tenho a impressão <strong>de</strong> que o que maischoca é o fato <strong>de</strong> uma mulher ser capaz <strong>de</strong> criar uma forma <strong>de</strong> arte, <strong>de</strong>i<strong>no</strong>var, <strong>de</strong> revolucionar.... Parece que vê nisso uma espécie <strong>de</strong> atentado asua supremacia. Deveríam<strong>os</strong> – não é mesmo? – curvar-n<strong>os</strong> docilmente,como a infeliz Pavlova, à tirania d<strong>os</strong> Srs. Petipas e outr<strong>os</strong> coreógraf<strong>os</strong>torturadores. Quando muito, vocês n<strong>os</strong> conce<strong>de</strong>m o papel <strong>de</strong> musa, <strong>de</strong>egéria, mas, se uma mulher faz obra <strong>de</strong> criação, não hesitam em jogar-lhena cara sua intuição. Leu <strong>os</strong> livr<strong>os</strong> do Dr. Freud, senhor Diaghilev?(LEVER, 1988, p. 123).Ele respon<strong>de</strong> que ainda não, e, Isadora complementa:É pena. Neles veria que a intuição, o inconsciente estão <strong>no</strong> âmago <strong>de</strong> todaativida<strong>de</strong> humana, <strong>no</strong>tadamente da criação artística. Daqui a alguns an<strong>os</strong>,essas teorias subverterão n<strong>os</strong>sas concepções <strong>de</strong> arte. Mesmo que opublico ainda não compreenda, sei on<strong>de</strong> me sinto, e isso é o que importa.Encontro-me exatamente na fonte da <strong>no</strong>va arte. (LEVER, 1988, p. 123).cala e diz:Diaghilev ironiza: “E da <strong>no</strong>va mulher, pelo que ouvi dizer”. Isadora não seNaturalmente. Também a reivindico, e como! Alias, nunca conseguiseparar a mulher da dançarina. Pretendo restituir-lhes seu corpo, a uma e àoutra. O senhor se dá conta do que o balé fez do corpo femini<strong>no</strong>? É umescândalo! Em vez <strong>de</strong> m<strong>os</strong>trar ombr<strong>os</strong> e pernas nuas, envolve-n<strong>os</strong> emmaiôs cor <strong>de</strong> carne! Conhece alguma coisa mais grotesca? E essesridícul<strong>os</strong> tutus! É um insulto à beleza das formas femininas! E essessapat<strong>os</strong> apertad<strong>os</strong> que esmagam <strong>os</strong> pés como um instrumento <strong>de</strong> tortura!Tudo se fez para <strong>de</strong>snaturar a mulher. Quero restituí-la a ela mesma. Queela não tenha mais vergonha <strong>de</strong> seu corpo. Quero que ela ouse m<strong>os</strong>trá-lo.Eis por que tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> puritan<strong>os</strong> têm medo <strong>de</strong> mim. (LEVER, 1988, p. 123).Diaghilev pergunta a Isadora por que ela se recusa a dançar a músicacomp<strong>os</strong>ta expressamente para a Dança.Respon<strong>de</strong> a dançarina:Porque não existe hoje gran<strong>de</strong> musica <strong>de</strong> balé. Se eu danço as Obras<strong>de</strong> Bach, Beethoven, Chopin, Schubert ou Wagner, é porque esses gêni<strong>os</strong>são <strong>os</strong> únic<strong>os</strong> que seguem o ritmo do corpo huma<strong>no</strong>. E Wagner é talvez oque melhor compreen<strong>de</strong> o que <strong>de</strong>via ser a musica <strong>de</strong> dança. Infelizmente,nele a musica absorve tudo. (LEVER, 1988, p. 124).“Chinchila” acha tudo muito interessante, e não esta longe <strong>de</strong> pensar comoela, mas, para ele, trata-se men<strong>os</strong> <strong>de</strong> inventar uma <strong>no</strong>va arte da dança que <strong>de</strong>reformar, radicalmente, o balé tradicional, <strong>de</strong> reunir a música, a poesia, a pintura e a


44dança para fazer <strong>de</strong> tod<strong>os</strong> esses prazeres um prazer único. (LEVER, 1988, p. 124).Ela achava o balé tira<strong>no</strong>, o raquitismo das bailarinas sempre a horrorizou.Pavlova tinha como refeição um copo <strong>de</strong> água, e exercíci<strong>os</strong> vigor<strong>os</strong><strong>os</strong>.(LEVER, 1988, p. 231).Quando ela vai visitar a bailarina Pavlova, do balé russo, a encontra seexercitando na barra, uma ginástica muito severa, por três horas, Isadora ficousentada assistindo <strong>os</strong> exercíci<strong>os</strong> <strong>de</strong> Pavlova, ela parecia ter um corpo <strong>de</strong> aço e não<strong>de</strong>scansou nem um minuto.Quando foram almoçar Pavlova parecia abatida e pálida, mal tocou nacomida.No dia seguinte, Isadora visita a Escola Imperial <strong>de</strong> Balé, on<strong>de</strong> vê variasmenininhas em fila; “executando <strong>os</strong> exercíci<strong>os</strong> mais cruéis. Ficavam, durante horas,sobre a ponta d<strong>os</strong> pés, como se f<strong>os</strong>sem vitimas <strong>de</strong> uma implacável e inútilinquisição...”. (DUNCAN, p. 143).Isadora acreditava que o balé não era para as Americanas, pois elas nem aomen<strong>os</strong> tinham o físico para tal. (DUNCAN, p. 287).Em 1905, surgiram <strong>os</strong> primeir<strong>os</strong> balés mo<strong>de</strong>rn<strong>os</strong>, isso graças a IsadoraDuncan, dizia Diaghilev. Acrescenta ainda que em 1926, ele e Fokine, haviamassistid<strong>os</strong>, junt<strong>os</strong>, Isadora dançando; Fokine ficou encantado pela maneira <strong>de</strong>dançar <strong>de</strong> Isadora e confessa que teve influência <strong>de</strong>la, em toda a sua carreira.(KURTH, 2004, p. 172-173).Enquanto Marius Petipa, acreditava na dança pela dança e <strong>no</strong> virtu<strong>os</strong>ismoelevado a Espetáculo, Isadora queria elevar a dança como Arte. Foi <strong>de</strong>pois <strong>de</strong>Isadora que o balé russo começou a coreografar musicas <strong>de</strong> Chopine Schumann,usar roupas gregas; algumas bailarinas tiraram as sapatilhas e as meias (KURTH,


452004, p. 176-180).Em M<strong>os</strong>cou, o público a acolhe <strong>de</strong> maneira mais reservada, alguns ficamindignad<strong>os</strong>, são <strong>os</strong> artistas e <strong>os</strong> intelectuais que a compreen<strong>de</strong> melhor.É por volta <strong>de</strong> 1905, em M<strong>os</strong>cou, que Isadora conheceu ConstantinStanislavski, ela se sente finalmente na presença <strong>de</strong> um verda<strong>de</strong>iro homem.Os dois se encontram <strong>de</strong> madrugada, após o espetáculo <strong>de</strong>le, falam sobre aArte do ator, e sobre Dança. Ele a observa em espetácul<strong>os</strong>, ensai<strong>os</strong> e exercíci<strong>os</strong>.Ela <strong>de</strong>ci<strong>de</strong> tomar a iniciativa com Stanislavski, e, uma <strong>no</strong>ite o beija, ele dizser loucura, pois o que fariam do filho que arriscariam a ter? Ele já era casado, e nã<strong>os</strong>uportaria ver um filho educado sem a sua direção. Isadora se sente acometida poruma crise <strong>de</strong> ris<strong>os</strong>, ele a olha com consternação e vai embora. Depois <strong>de</strong> rir muitasvezes durante a <strong>no</strong>ite, sente um amargo exasperado. Pensa que se f<strong>os</strong>se umhomem nesta mesma situação, iria aliviar-se num bor<strong>de</strong>l, mas não tinha nem esserecurso. (DUNCAN, p. 143-144-146-147).Em Berlim, ela <strong>de</strong>sabafa com sua amiga Mary, tinha 27 an<strong>os</strong> e só tinhaconhecido o amor uma vez, quando se apaixonava, por homens, eles fugiam.Mary dizia que Isadora provocava medo n<strong>os</strong> homens, que ela era uma<strong>de</strong>usa, uma mulher livre e <strong>de</strong> cultura, e <strong>os</strong> homens tinham a impressão que ela <strong>os</strong>rebaixavam. “Você é uma perig<strong>os</strong>a revolucionaria, como dançarina e como mulher.E, pior, você o é com a maior ingenuida<strong>de</strong> do mundo, o que a torna ainda maistemível.” (LEVER, 1988, p. 128-129).Em Berlim, falava-se muito <strong>de</strong> seus pés <strong>de</strong>scalç<strong>os</strong>. Na <strong>no</strong>ite <strong>de</strong> estréia,puseram tapetes <strong>de</strong> veludo <strong>no</strong> caminho entre seu camarim e o palco. (KURTH, 2004,p. 177).Em Kiev. Os estudantes seguiam o c<strong>os</strong>tume <strong>de</strong> <strong>de</strong>satrelar o carro para


46conduzi-la em triunfo.Haviam até brigas pela <strong>de</strong>fesa d<strong>os</strong> i<strong>de</strong>ais <strong>de</strong> Isadora.(LEVER, 1988, p.128).À partir <strong>de</strong>ssa época o ballét anexou Chopin, Schumann, indumentária gregae houve até bailarinas que abandonaram sapatilhas e meias. (DUNCAN, p. 148).Isadora era ao mesmo tempo dançarina e pedagoga, ao mesmo tempo emque re<strong>no</strong>vou a dança, <strong>de</strong>scobriu a vocação <strong>de</strong> ensiná-la a<strong>os</strong> outr<strong>os</strong>. (LEVER, 1988,p. 17). Des<strong>de</strong> muito <strong>no</strong>va ela já ensina a dança.Isadora sempre se sentiu investida <strong>de</strong> uma dupla missão, Instaurar umadança, que subvertera todas as idéias recebidas sobre essa arte antiga como omundo e anunciar uma <strong>no</strong>va era, criar pela dança relações diferentes entre <strong>os</strong> sereshuman<strong>os</strong>, relações mais gener<strong>os</strong>as, mais <strong>de</strong>sinteressadas, mais fraternais. (KURTH,2004, p.193-194).Nesse país, reinava o balé clássico, a dança naturalista e a dança ginástica,e foi em Berlim - Alemanha que Isadora escolheu para fundar a sua Escola <strong>de</strong>Dança. Montou-a como a vislumbrava em seus sonh<strong>os</strong>.Foi a turnê pela Rússia que permitiu Isadora realizar seu gran<strong>de</strong> sonho,fundar sua própria Escola <strong>de</strong> Dança. Com sua mãe e irmã, procuraram um local eencontram: Alemanha, Trauben Strasse, em Grunewald, uma mansão. Compraram“quarenta caminhas iguais, todas guarnecidas com cortinas <strong>de</strong> musselina branca efitas azuis. No hall central, (...) uma reprodução da figura heróica da Amazona (...);na sala <strong>de</strong> dança (...), o baixo-relevo <strong>de</strong> Lucca <strong>de</strong>lla Robbia e as CriançasDançando, <strong>de</strong> Donatello. N<strong>os</strong> quart<strong>os</strong>, outr<strong>os</strong> Della Robbia, tod<strong>os</strong> em branco e azul,como <strong>os</strong> Bambini e A Virgem e o Meni<strong>no</strong> Jesus, este enquadrado numa guirlanda <strong>de</strong>flores”. (DUNCAN, 1989, p.141-142)Para recrutar as alunas foi anunciado n<strong>os</strong> principais jornais, foram crianças


47filhas <strong>de</strong> operári<strong>os</strong> e <strong>de</strong> <strong>de</strong>sempregad<strong>os</strong>, foram selecionadas as meninas maisgraci<strong>os</strong>as. Na maioria foi <strong>de</strong>scoberto algum tipo <strong>de</strong> doença. O Dr. Hoffa cuidou dasaú<strong>de</strong> das meninas. (DUNCAN, p. 153).Seguiam a fil<strong>os</strong>ofia <strong>de</strong> vida <strong>de</strong> Isadora, e adotaram o regime vegetaria<strong>no</strong>.Isadora as alimentavam, as vestia, encarregava-se da educação e saú<strong>de</strong>.Para todas suas discípulas ela dizia:Escutem bem a musica, mas com a alma. Vocês não estão sentindoque há outra pessoa que <strong>de</strong>sperta <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> vocês, e que é essa mesmapessoa que faz vocês levantarem a cabeça, mexer <strong>os</strong> braç<strong>os</strong> e caminharpara frente, na direção da luz? (DUNCAN, p. 70).O ambiente para praticar a dança, para Isadora, <strong>de</strong>veria ser rico em<strong>de</strong>talhes, visando o acolhimento e estímulo a<strong>os</strong> freqüentadores <strong>de</strong> sua Escola. A suapretensão era <strong>de</strong> oferecer às crianças-alunas cenas que promovessem o bem estar,a observação, a apreciação e a criação artística.Acreditava que o ambiente era parceiro <strong>no</strong> processo pedagógico e <strong>de</strong>criação artística <strong>de</strong> sua <strong>no</strong>va dança, pois p<strong>os</strong>sibilitava com o exercício <strong>de</strong>imaginação (visualizado e vivido por ele), a ampliação do repertório <strong>de</strong> movimento egest<strong>os</strong>, bem como o cultural. Dizia ela:...por tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> lad<strong>os</strong>, espalhei as apresentações i<strong>de</strong>ais da infância: baix<strong>os</strong>relev<strong>os</strong> e esculturas, livr<strong>os</strong> e quadr<strong>os</strong> em que a criança aparecia tal como<strong>os</strong> artistas, <strong>de</strong> tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> temp<strong>os</strong>, a tinham figurado. Aproveitei também arondas infantis, que adornam o bojo d<strong>os</strong> vas<strong>os</strong> greg<strong>os</strong> (...) Todas essasfiguras estão ligadas por um certo ar <strong>de</strong> família, que se <strong>de</strong>spren<strong>de</strong> da graçaingênua das suas formas e moviment<strong>os</strong>, como se as crianças <strong>de</strong> todas asida<strong>de</strong>s se reunissem e se <strong>de</strong>ssem as mã<strong>os</strong> pel<strong>os</strong> sécul<strong>os</strong> em fora (sic). Asmeninas da minha escola, que <strong>de</strong>viam mover-se e dançar <strong>no</strong> meiodaquelas formas à medida que crescessem, iam certamente parecer-secom elas, havia <strong>de</strong> refletir, inconscientemente, n<strong>os</strong> seus gest<strong>os</strong> e n<strong>os</strong> seusr<strong>os</strong>t<strong>os</strong>, um pouco da alegria e da graça pueril que as cercava. Isso seria oprimeiro passo para par que se tornassem belas, o primeiro passo para a<strong>no</strong>va dança. (DUNCAN, 1989, p.141-142).Preocupada em ambientar a sua casa-Escola, n<strong>os</strong> mol<strong>de</strong>s d<strong>os</strong> seus sonh<strong>os</strong>e, acreditando que isso seria alimento essencial à sua metodologia, comprou,


48também, figuras e esculturas <strong>de</strong> raparigas Espartanas congeladas em moviment<strong>os</strong>divers<strong>os</strong>: dançando, correndo, saltando; <strong>de</strong> mã<strong>os</strong> dadas; com <strong>os</strong> pés nus; vestidascom véus e túnicas flutuantes, promovendo assim o ato imitativo.Para Isadora, essa atitu<strong>de</strong> <strong>de</strong>corativa tinha uma finalida<strong>de</strong>, dizia ela: “Essasrepresentavam o i<strong>de</strong>al futuro, e as discípulas da minha escola, apren<strong>de</strong>ndo aadmirar-lhes as formas, com amor profundo, e cada vez mais imbuídas do segredoda sua harmonia, acabariam por assemelhar-se às mesmas, pois eu acreditava comfé entusiástica que não se po<strong>de</strong> chegar à beleza sem ter o <strong>de</strong>sejo da beleza.”(DUNCAN, Isadora, 1989, p. 143)As alunas faziam exercíci<strong>os</strong> para melhorar equilíbrio, coor<strong>de</strong>nação eresistência. (KURTH, 2004, p. 194).A imprensa alemã saúda o acontecimento como uma gran<strong>de</strong> estréia.Para conseguir a harmonia d<strong>os</strong> moviment<strong>os</strong>, solicitava às alunas exercíci<strong>os</strong>diári<strong>os</strong> que partissem do abstrato emocional <strong>de</strong> cada uma, visando espontaneida<strong>de</strong>,alegria e disp<strong>os</strong>ição.Exercíci<strong>os</strong> visando a harmonia, a beleza e um bom físico. Os exercíci<strong>os</strong><strong>de</strong>viam coincidir com <strong>os</strong> seus g<strong>os</strong>t<strong>os</strong>, para que p<strong>os</strong>sam ser sempre realizad<strong>os</strong> comboa disp<strong>os</strong>ição e alegria. E cada um <strong>de</strong>les <strong>de</strong>veria ter em si uma finalida<strong>de</strong> própria:fazer <strong>de</strong> cada dia da existência uma obra completa e feliz.A ginástica <strong>de</strong>ve ser a base <strong>de</strong> qualquer educação física. É precisoinundar o corpo <strong>de</strong> ar e luz. È essencial dirigir-lhe o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>uma maneira metódica. Faz-se necessário captar todas as suas energiasvitais em proveito <strong>de</strong>sse mesmo <strong>de</strong>senvolvimento. Este é o <strong>de</strong>ver doprofessor <strong>de</strong> ginástica. Depois é que vem a Dança. No corpoharmonicamente <strong>de</strong>senvolvido e elevado ao ponto supremo <strong>de</strong> energia,penetra o espírito da dança. Para o ginasta, o movimento e a cultura docorpo se bastam a si mesm<strong>os</strong>; para o dançari<strong>no</strong>, são apenas recurs<strong>os</strong>. Paraeste, convirá até que o corpo seja esquecido. Quando muito, ele não serámais do que um instrumento vali<strong>os</strong>o e bem afinado, <strong>no</strong> qual – ao contráriodo que lhe pe<strong>de</strong> o ginasta, tão só a expressão d<strong>os</strong> moviment<strong>os</strong> do corpo –também se p<strong>os</strong>sam refletir <strong>os</strong> sentiment<strong>os</strong> e <strong>os</strong> pensament<strong>os</strong> da alma.(DUNCAN, p. 150).


49Era pretendido com esses exercíci<strong>os</strong> fazer do corpo, em cada estagio d<strong>os</strong>eu <strong>de</strong>senvolvimento, um instrumento tão perfeito quanto p<strong>os</strong>sível para a expressão<strong>de</strong>ssa harmonia se envolvendo e se transformando. (DUNCAN, p. 150).Com o propósito <strong>de</strong> reunir seguidoras <strong>de</strong> sua Arte, estabeleceu algunsprincípi<strong>os</strong> para o ensi<strong>no</strong> d<strong>os</strong> moviment<strong>os</strong> e gest<strong>os</strong> significativ<strong>os</strong>, <strong>de</strong> sua <strong>no</strong>va dança:Os exercíci<strong>os</strong> começam por uma simples ginástica preparatória d<strong>os</strong>múscul<strong>os</strong> que, <strong>os</strong> torna mais ágeis e vigor<strong>os</strong><strong>os</strong>. Só <strong>de</strong>pois disso, é que seiniciam <strong>os</strong> primeir<strong>os</strong> pass<strong>os</strong> da dança. Estes consistem em apren<strong>de</strong>r aandar <strong>de</strong> uma maneira simples, ca<strong>de</strong>nciada, avançando lentamente aocompasso <strong>de</strong> um ritmo elementar; <strong>de</strong>pois, a correr, lentamente; (...) <strong>de</strong>pois,a saltar (...) lentamente, e em cert<strong>os</strong> moment<strong>os</strong> <strong>de</strong>finid<strong>os</strong> do ritmo. É assimque se apren<strong>de</strong> a gama d<strong>os</strong> sons e que meus discípul<strong>os</strong> aprendiam agama d<strong>os</strong> moviment<strong>os</strong>. Essas escalas po<strong>de</strong>m servir (...), como element<strong>os</strong>nas harmonias (...) variadas e sutis. (...); esses exercíci<strong>os</strong> não eram maisdo que uma parte d<strong>os</strong> seus estud<strong>os</strong>. Tanto, n<strong>os</strong> seus jog<strong>os</strong> e folgued<strong>os</strong> <strong>no</strong>jardim, como durante <strong>os</strong> passei<strong>os</strong> <strong>no</strong> b<strong>os</strong>que, as crianças traziam semprevestid<strong>os</strong> leves e graci<strong>os</strong><strong>os</strong>, e corriam em plena liberda<strong>de</strong> até que soubesse,se exprimir tão bem pel<strong>os</strong> moviment<strong>os</strong> como as outras se exprimem pelapalavra ou pelo canto. (DUNCAN, 1989, p. 143-144).Primava em buscar na Natureza, inspiração e lições para ampliar <strong>os</strong>exercíci<strong>os</strong> inserid<strong>os</strong> em seu Método, estimulando as suas alunas a observarem: omovimento das nuvens, sopradas pelo vento; o sacudir d<strong>os</strong> galh<strong>os</strong> das árvores,agitando as folhas para tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> lad<strong>os</strong>; o cantar d<strong>os</strong> pássar<strong>os</strong>; o <strong>de</strong>slocamentogrã<strong>os</strong> <strong>de</strong> areia grupando-se e afastando-se; tudo dava sentido e era especial para oaprendizado particular <strong>de</strong> cada movimento.Pensava e dizia Isadora à suas alunas que “precisavam sentir na alma umaternura íntima, <strong>de</strong>sconhecida d<strong>os</strong> outr<strong>os</strong>, e capaz <strong>de</strong> iniciá-las <strong>no</strong> segredo dascoisas, pois qualquer parte d<strong>os</strong> seus corp<strong>os</strong> ágeis, treinada como se achava, <strong>de</strong>veriacorrespon<strong>de</strong>r à melodia da natureza e cantar em unísso<strong>no</strong> com ela.” (DUNCAN,1989, p. 144).Por isso era contrária à ginástica Sueca (modalida<strong>de</strong> ace<strong>de</strong>nte na Europa),por enten<strong>de</strong>r que essa modalida<strong>de</strong>, fazia com que o <strong>de</strong>senvolvimento do corpo e <strong>de</strong>alguns moviment<strong>os</strong> não expressava nenhum significado. (GARAUDY, 1980, p. 70).


50Não era a<strong>de</strong>pta à dança acadêmica, tecia críticas sobre o ballet clássico,dizia ela: “sou inimiga do balé, (...) consi<strong>de</strong>ro um gênero falso e absurdo, (...) objetiv<strong>os</strong>eparar completamente <strong>os</strong> moviment<strong>os</strong> do corpo d<strong>os</strong> do espírito...Este métodoproduz um movimento mecânico, artificial, indig<strong>no</strong> da alma. É justamente o contrário<strong>de</strong> todas as teorias nas quais baseei minha escola, para qual o corpo se tornatransparente e não é senão o intérprete da alma e do espírito (GARAUDY, 1980, p.66).Quando Isadora leva suas aluninhas para assistirem ao treinamento daspequenas dançarinas da Escola <strong>de</strong> Balé, elas tiveram a impressão que as bailarinaseram pássar<strong>os</strong> engaiolad<strong>os</strong>. Não tinham plena liberda<strong>de</strong> n<strong>os</strong> moviment<strong>os</strong>.(DUNCAN, p. 182).Quando, em seu camarim, ela conhece o poeta Gordon Craig, filho <strong>de</strong> EllenTerry, a atriz que Isadora tanto admirava, <strong>de</strong>scobriram que tinham idéias em comum,era o mesmo cenário, a mesma cortina azul. Segundo ele, criaram o mesmouniverso, o mesmo estilo, uma maneira idêntica <strong>de</strong> ver as coisas. (LEVER, 1988, p.134-136).Tão <strong>de</strong>pressa que <strong>os</strong> olh<strong>os</strong> <strong>de</strong> Isadora se encontraram com a beleza <strong>de</strong>Craig, ela logo se sentiu atraída, enlaçada, vencida. Acreditava que nele, haviaencontrado a si mesma, que eles eram duas meta<strong>de</strong>s <strong>de</strong> uma mesma alma.Jantaram junt<strong>os</strong>, e <strong>de</strong> madrugada estavam a sós, e ele diz que ela <strong>de</strong>veviver com ele, e que a ama, e vão junt<strong>os</strong> para Potsdam.Sua mãe e seu empresário ficaram preocupad<strong>os</strong> com o sumiço <strong>de</strong> Isadora,espetácul<strong>os</strong> tiveram que ser adiad<strong>os</strong>. E quando sua mãe encontra-se com eles, nã<strong>os</strong>e contem <strong>de</strong> ciúmes e manda Gordon sumir, o chamando <strong>de</strong> liberti<strong>no</strong>.Isadora fora avisada que Craig sofria <strong>de</strong> mudanças repentinas <strong>de</strong> humor, e


51<strong>de</strong> uma hora para outra começa falar constantemente <strong>de</strong> “sua obra” repetindo“minha obra, minha obra”. Um monstro fascinante e irresistível. Ela pensa que é fortee saberá se <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r se algo acontecer.E algo aconteceu, apesar <strong>de</strong>le apreciar a arte <strong>de</strong> Isadora como ninguém, elequeria que ela ficasse em casa apontando <strong>os</strong> lápis <strong>de</strong>le, ela pacientemente, ao longo<strong>de</strong> duas semanas tentou conciliar seu amor e sua carreira, mas Craig continuavasendo o homem mais imprevisível da Terra. Sob um ciúme doentio, uma admiraçãoapaixonada por Isadora.A ligação <strong>de</strong>les logo se tor<strong>no</strong>u conhecida em Berlim pela imprensa, <strong>os</strong>jornalistas <strong>os</strong> perseguiam.As damas da alta burguesia, que patrocinavam sua escola, disseram quenão iam sustentar uma fundadora que fazia tanto pouco caso da moral.Sua mãe também não aprovava a relação com Craig, e pelo pretexto <strong>de</strong> nãoestar se adaptando em Berlim, disse que voltaria para <strong>os</strong> EUA. Na verda<strong>de</strong> sua almairlan<strong>de</strong>sa se adaptava melhor à adversida<strong>de</strong> do que à abastança. (DUNCAN, p. 156-157-158-159-161).Isadora organizou uma conferência <strong>no</strong> Salão da Filarmônica <strong>de</strong> Berlin, sobrea dança consi<strong>de</strong>rada como uma arte <strong>de</strong> libertação, em favor da fundação <strong>de</strong> suaescola, <strong>de</strong>vido as damas da alta burguesia não patrocinar mais sua escola por seucaso com Gordon Craig.“A dança, arte <strong>de</strong> libertação”. Era o tema da conferência.Nessa conferência ela reivindicou para a mulher o direito <strong>de</strong> amar e ter filh<strong>os</strong>quando quisesse, então replicaram-lhe: e qual homem tomaria conta d<strong>os</strong> filh<strong>os</strong>?Isadora dizia que quem tem essa duvida, e acha que só o casamento fazresponsável à paternida<strong>de</strong>, então é porque já se casa sem muita confiança <strong>no</strong>


52marido, e acredita que se não houver casamento, em <strong>de</strong>terminadas condições ele serecusaria sustentar e amparar <strong>os</strong> filh<strong>os</strong>.vil.E sendo assim, é mais um motivo para dizer que o contrato do casamento éIsadora não fazia uma opinião tão triste d<strong>os</strong> homens e também nãoacreditava que a maioria <strong>de</strong>les seja tão <strong>de</strong>sprezível para agir <strong>de</strong> forma a recusar apaternida<strong>de</strong>. (DUNCAN, p. 21-22).Toda mulher sensata que lê sua certidão <strong>de</strong> casamento e mesmo assimconcorda em casar merece as conseqüências do seu gesto. Nunca ummovimento feminista po<strong>de</strong>rá chamar-se movimento <strong>de</strong> in<strong>de</strong>pendênciaenquanto seus membr<strong>os</strong> não tiverem prestado juramento <strong>no</strong> sentido <strong>de</strong>abolir o casamento. É, <strong>de</strong> todas as instituições humanas, a maishumilhante e a mais absurda. (LEVER, 1988, p. 142).Essa conferencia causou um e<strong>no</strong>rme escândalo, meta<strong>de</strong> da sala vaiavamIsadora e lhe atiravam tudo o que tinham a mão, mas enfim abandonaram a sala eestabeleceu-se uma discussão interessante sobre <strong>os</strong> direit<strong>os</strong> das mulheres. Foi tudomuito avançado em relação ao movimento feminista da época.Quando ela recusou se a casar, e se <strong>de</strong>u o direito <strong>de</strong> ter filh<strong>os</strong>, <strong>de</strong>spertou aindignação geral.Isadora fala em sua autobiografia que encontrava em Craig um prazer tãocompleto, que se tivesse conhecido ele um tempo antes, jamais teria sentido anecessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> fundar uma escola <strong>de</strong> dança.Em abril <strong>de</strong> 1905, ela conta a Craig que esta grávida, ele já tinha muit<strong>os</strong>filh<strong>os</strong> e disse: “Será que isso não acaba nunca?! Mais um!”. A mãe <strong>de</strong> Craig, EllenTerry <strong>de</strong>u para Isadora um vestido leve e esvoaçante, e a chamava Isadora, amor.Amor... (DUNCAN, p. 160-161-162).Isadora ficou <strong>de</strong>sconcertada e disse que não era mais um, mas sim um filhod<strong>os</strong> dois. Ele dizia que as mulheres são todas iguais, e repetia minha obra, minha


53obra. (LEVER, 1988, p. 143-144).Ele a acompanha em uma turnê pela Suécia e Dinamarca.A relação chega a um ponto que Isadora sabe que era inevitável aseparação. Ela acreditava que não podia viver sem ele. Mas jamais renunciaria àsua Arte.Viver com ele era o mesmo que renunciar à minha arte, à minhapersonalida<strong>de</strong>, talvez à minha vida, à minha razão. Viver sem ele era meconformar com um estado <strong>de</strong> <strong>de</strong>pressão continua, torturada por um ciúmesque, infelizmente, me parecia mis que justificado. (DUNCAN, p. 177).A men<strong>os</strong> que renunciasse a si mesma, á dança ao seu trabalho, a<strong>os</strong> seuspensament<strong>os</strong>, Isadora sabe que nunca o pren<strong>de</strong>rá.Como viver com Craig? Como viver sem ele? Insolúvel dilema. Amputar-seda dança? Contentar-se em apontar <strong>os</strong> lápis <strong>de</strong> Ted? Nunca. Seria vivercomo doente, arrastar atrás <strong>de</strong> si uma alma diminuída. (LEVER, 1988, p.151).Em 1907, em uma turnê através da Rússia, Pim a acompanha, ao contrariodo que ela já tinha vivenciado com outr<strong>os</strong> amores, ao lado <strong>de</strong> Pim ela <strong>de</strong>scobre quea vida po<strong>de</strong> ser uma coisa fácil e um pouco louca. Reencontra a alegria <strong>de</strong> serjovem, <strong>de</strong> rir <strong>de</strong> tudo, <strong>de</strong> aproveitar o momento presente. O prazer pelo prazer, amorsem magoas, sem amanha. (LEVER, 1988, p. 152). “Mais vale o prazer <strong>de</strong> vidaefêmera do que a dor que dura sempre”.De Pim, a dança <strong>de</strong> Isadora resultou mais leve e vapor<strong>os</strong>a do que nunca.Isadora parte em turnê, fica triste por ter que se separar <strong>de</strong> sua escola, suairmã, mãe, sua filhinha e Craig, mas já não havia recurs<strong>os</strong> financeir<strong>os</strong>. (DUNCAN, p.180-181-183).Berlim, Suécia e Dinamarca, são turnês necessárias para cobrir as <strong>de</strong>spesasda escola <strong>de</strong> dança que ela tinha finalmente fundado em Berlim, Grunerwald.Quando ela vai visitar a Escola <strong>de</strong> Ginástica em Copenhague, encontra umaginástica que parece ser feita para um corpo imóvel, estático, que não leva em


54consi<strong>de</strong>ração um organismo vivo e dinâmico. Os múscul<strong>os</strong> parecia bastarem a simesm<strong>os</strong>, ao invés <strong>de</strong> serem consi<strong>de</strong>rad<strong>os</strong> como um arcabouço mecânico, uma fonteinesgotável <strong>de</strong> vida.A ginástica sueca é um falso sistema <strong>de</strong> cultura física, porque <strong>de</strong>spreza aimaginação e faz do corpo um simples objeto, enquanto ele é um foco <strong>de</strong>energia vital, <strong>de</strong> energia cinética. (DUNCAN, p. 162-163).Durante suas turnês, Elizabeth se ocupa d<strong>os</strong> cuidad<strong>os</strong> <strong>de</strong> sua escola. Ficacada vez mais difícil cobrir as <strong>de</strong>spesas.Isadora fez uma série <strong>de</strong> preceit<strong>os</strong> relativ<strong>os</strong> ao ensi<strong>no</strong> da dança e preparouquinhent<strong>os</strong> exercíci<strong>os</strong> que iam d<strong>os</strong> moviment<strong>os</strong> mais simples a<strong>os</strong> mais complex<strong>os</strong>,formando um manual completo da sua arte. (DUNCAN, p. 162-164).Suas alunas cada dia ficavam mais fortes, mais ágeis e dançavam comimensa graça.Por essa época ela conhece J<strong>os</strong>eph Shurmann e Charles Frohman, gran<strong>de</strong>sempresári<strong>os</strong>, que se ocupam <strong>de</strong>la. (DUNCAN, p. 182-183).Em 1907, turnê pela Rússia. Volta para Berlim, ela e suas alunas seapresentam sobre sinfonias <strong>de</strong> Beethoven, tentando haver lucr<strong>os</strong> para manutenção<strong>de</strong> sua escola. (LEVER, 1988, p. 151-153).Ellen Terry, frequentemente ocupa-se das meninas, pelas quais temverda<strong>de</strong>ira adoração. (DUNCAN, p. 183).Quando fundou sua escola, pretendia revelar as garotas uma <strong>no</strong>va alegria<strong>de</strong> viver, permitir a<strong>os</strong> seus corp<strong>os</strong> <strong>de</strong>sabrochar harmoni<strong>os</strong>amente, e não prepará-l<strong>os</strong>para o cabonitismo. O único meio <strong>no</strong> momento <strong>de</strong> manter suas <strong>isadora</strong>veis, era elasse apresentando junto <strong>de</strong> Isadora.Isadora tem uma filha com Gordon Craig, Deirdre.Quando Isadora engravidou <strong>de</strong> Gordon Craig, resolveu passar sua gravi<strong>de</strong>z,


55perto do mar e em junho <strong>de</strong> 1905 vai para uma al<strong>de</strong>ola holan<strong>de</strong>sa <strong>de</strong> Nordwyck, amargem do mar do Norte e fica em uma casinha branca, nas dunas. Craig vinha vêla<strong>de</strong> vez em quando.É uma estranha vingança da natureza essa <strong>de</strong> exigir que tanto mais sesofra quanto mais <strong>de</strong>licad<strong>os</strong> são <strong>os</strong> nerv<strong>os</strong> e mais sensível é o cérebro.(DUNCAN, p. 164).Ela chega a ter receio do convívio huma<strong>no</strong>, pois tod<strong>os</strong> pareciam cultuar tãomal a santida<strong>de</strong> da mulher que será mãe. Ela achava isso muito vulgar.As vezes ela sentia medo do <strong>de</strong>sconhecido, que era a gravi<strong>de</strong>z, e as vezespensava com tristeza em sua dança, mas logo sorria e pensava: “No fim das contas,que é a arte senão uma pálida imagem da alegria e do milagre da vida”? (DUNCAN,p. 163-164-166).Isadora não se conformava com as dores do parto, e disse:E não me falem do movimento feminista ou das sufragistas, enquanto asmulheres não tiverem dado fim a esse sofrimento inútil, exigindo que oparto, como todas as outras operações, se faça sem dor. (DUNCAN, p.167).Sua filha nasce ela é tão bela quanto o amor. E nessa hora ela sente umamo que ultrapassa o amor do homem. Nem a arte não tinha importância, ela sejulgava um ser divi<strong>no</strong>, superior a qualquer artista. Ao olhar n<strong>os</strong> olh<strong>os</strong> <strong>de</strong> sua filhinhase sentia diante do sentido verda<strong>de</strong>iro da vida.Isadora pe<strong>de</strong> para Craig lhe dar um <strong>no</strong>me, Deirdre é o <strong>no</strong>me escolhido.(DUNCAN, p. 168-169).Descobria como era forte, egoísta e feroz o amor mater<strong>no</strong>. E pensava queseria mais admirável se pudéssem<strong>os</strong> amar assim todas as crianças. (DUNCAN, p.193).O moral <strong>de</strong> Isadora era questionada. Tentaram censurá-la, por ela dançar


56<strong>de</strong>scalço, por suas alunas dançar como ela apenas com uma túnica, por dançarcomp<strong>os</strong>itores como Beethoven, por suas idéia a respeito do casamento, a julgarampor suas ligações, especialmente com Gordon Craig e por sua gravi<strong>de</strong>z sem ter secasado. Isadora achava que isso tudo não passava <strong>de</strong> hipocrisia. (KURTH, 2004, p.217-220).Sua vida se dividia entre as turnês, a escola, sua filhinha Deirdre e Gordon.(KURTH, 2004, p. 236).Isadora muda para Paris, e entre outr<strong>os</strong> lugares passa por Holanda, on<strong>de</strong>Isadora faz d<strong>os</strong> holan<strong>de</strong>ses amantes da dança, e Amsterdã. (KURTH, 2004, p 213).Charles Frohman, lhe propõe uma oferta excepcional, uma turnê <strong>de</strong> seismeses pel<strong>os</strong> EUA. (KURTH, 2004, p. 263).Chega em ple<strong>no</strong> verão, tod<strong>os</strong> foram para as praias, <strong>os</strong> Teatr<strong>os</strong> estão<strong>de</strong>sert<strong>os</strong>. Frohman tem que conter as <strong>de</strong>spesas, dizendo que cometeu um erro queera melhor que ela rescindisse o contrato e voltasse para a Europa, diz que ele estase arruinando por causa <strong>de</strong>la, ela rasga o contrato, com o orgulho ferido, mas comum <strong>de</strong>sprezo pela falta <strong>de</strong> lealda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Frohman e diz que ele não tem maisresponsabilida<strong>de</strong> nenhuma. (LEVER, 1988, p. 154); (KURTH, 2004, p. 267).Para compensar conhece o escultor George Gray Barnard. Isadora p<strong>os</strong>apara ele, que preten<strong>de</strong> fazer uma escultura, que chamara “A América dançante”.E é bem acolhida com entusiasmo pel<strong>os</strong> poetas e artistas. (DUNCAN, p.184).A conselho <strong>de</strong> Barnard, ela fica e começa a criar <strong>no</strong>vas danças, e da <strong>no</strong>itepara o dia seu <strong>no</strong>me eclipsa as estrelas mais badaladas da Broadway. A imprensadifun<strong>de</strong> sua imagem, <strong>os</strong> fotógraf<strong>os</strong> disputam a honra <strong>de</strong> fotografá-la.E a consagração suprema, Walter Dansr<strong>os</strong>ch, o diretor celebre Orquestra


57Sinfônica <strong>de</strong> Nova Iorque, fecha um contrato com ela para uma vesperalextraordinária <strong>no</strong> Metropolitan com a sétima sinfonia <strong>de</strong> Beethoven. (LEVER, 1988,p. 155-156).Não sobra camarote ao Frohman. (DUNCAN, p. 189).Com o sucesso crescendo dia a dia, organizam uma turnê.Washington <strong>os</strong> pastores protestantes protestavam vigor<strong>os</strong>amente contra oimpudor <strong>de</strong> sua túnica. (LEVER, 1988, p. 156).O presi<strong>de</strong>nte Theodor Ro<strong>os</strong>evelt quando assistiu a seu espetáculo <strong>de</strong>u <strong>os</strong>inal para aplaus<strong>os</strong>. E diz não compreen<strong>de</strong>r o que o clero po<strong>de</strong> reprovar nela.Qual é o mal que esses pastores encontram nas danças <strong>de</strong> Isadora? Elaparece-me tão i<strong>no</strong>cente como uma criança que dançasse num jardim, a<strong>os</strong>ol da manhã, procurando colher as mais belas flores da sua fantasia.(DUNCAN, p. 191).Essas palavras puseram silêncio n<strong>os</strong> pastores puritan<strong>os</strong> e colaboraram parao êxito <strong>de</strong> Isadora. (DUNCAN, p. 191).Em maio <strong>de</strong> 1909, em sua rentrée parisiense, ela se atrasa meia hora, porcuidar <strong>de</strong> sua filhinha Deirdre. Nessa <strong>no</strong>ite ela conhece o maior sucesso <strong>de</strong> suacarreira. Os jornais <strong>de</strong> Paris: “...ela acaba <strong>de</strong> dar ao velho mundo estagnado uma<strong>no</strong>va esperança <strong>de</strong> juventu<strong>de</strong> e fé”. (LEVER, 1988, p. 159).Em Paris Isadora estava com suas reservas <strong>no</strong> banco arruinadas, ela pensaque para conseguir manter <strong>os</strong> gast<strong>os</strong> com a escola, precisaria <strong>de</strong> um milionário. Poisque men<strong>os</strong> <strong>de</strong> uma semana um cavalheiro a espera na antecâmara <strong>de</strong> seu camarim,era Paris Singer, seu milionário havia chegado, seu Lohengrin. Isadora pensa quetalvez ele tenha chegado a ela por eflúvi<strong>os</strong> mentais <strong>de</strong> telepatia. Ele chega dizendo:“Agora, daqui em diante, vai <strong>de</strong>scansar em mim”.Ele já a aplaudia, e a admirava muito, há algum tempo, e vem lhe proporajuda. Dizendo ter uma casa em Riviera, on<strong>de</strong> Isadora po<strong>de</strong>ria instalar sua escola e


58tudo ficaria por conta <strong>de</strong>le. Ela aceita encantada. (DUNCAN, p. 195).Assim que Isadora chega em Nice, Singer lhe toma pelas mã<strong>os</strong>, e a leva atéo terraço, m<strong>os</strong>tra seu iate e diz que se ela quiser eles po<strong>de</strong>m fazer um cruzeirojunt<strong>os</strong>.Ele a convida sempre para jantar a sós. Ele sente que com ela, ele tem queser sincero, e tem até medo <strong>de</strong> parecer falso, mesmo não sendo. Ele fala <strong>de</strong> si, sesurpreen<strong>de</strong> com o que fala, nunca havia dito tais coisas a ninguém. Ao se <strong>de</strong>spedir aconvida para um baile a fantasia. Ela aceita.No meio da festa Singer recebe o telefonema <strong>de</strong> Elizabeth e diz para Isadoraque uma <strong>de</strong> suas alunas caiu gravemente doente, e a acompanha. É a mais<strong>no</strong>vinha, quando chegam o medico já esta lá, eles ficam inquiet<strong>os</strong> <strong>de</strong> preocupação,velam a criança a <strong>no</strong>ite inteira. Horas mais tar<strong>de</strong>, quando o dia já começa clarear, omédico avisa que a criança esta salva. Isadora chorando <strong>de</strong> alegria se joga n<strong>os</strong>braç<strong>os</strong> <strong>de</strong> Singer, que a abraça e diz que a ama. Ela diz que também estacomeçando a amá-lo. E se beijam.Isadora preten<strong>de</strong> se dar a Singer com toda plenitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> seu ser.Por ele não ser um artista consegue ver nela uma mulher para amar, Isadorase sente imensamente feliz por isso. Por outro lado, muitas vezes ele nãocompreen<strong>de</strong> seu gênio, não é um artista e não é um intelectual como Isadora, oucomo <strong>os</strong> outr<strong>os</strong> amantes <strong>de</strong>la. E Isadora sempre admirou homem <strong>de</strong> gênio.Uma semana mais tar<strong>de</strong> partem num cruzeiro. Deirdre vai com eles.Ela tem a empatia <strong>de</strong> pensar n<strong>os</strong> padioleir<strong>os</strong> a braç<strong>os</strong> com a cal<strong>de</strong>ira e n<strong>os</strong>cinqüenta maruj<strong>os</strong> da equipagem penando sob um sol <strong>de</strong> fogo, e não apenas emseu prazer.Têm vagas lembranças <strong>de</strong> sua infância miserável, imagens contraditórias ao


59luxo que vivia agora, sente um misto <strong>de</strong> n<strong>os</strong>talgia, revolta, sentimento <strong>de</strong> culpa. Epor outro lado não consegue furtar-se <strong>de</strong> aproveitar esse luxo que a ro<strong>de</strong>ia. (LEVER,1988, p. 163-168).Por volta <strong>de</strong> 1912/1913 Singer compra para ela o hotel Bellevue, <strong>de</strong> Meudon,para que ela instale ali sua escola <strong>de</strong> dança e p<strong>os</strong>sa acolher mil crianças sequisesse. a escola é transferida, o milionário Paris Singer se encarregaria <strong>de</strong> tod<strong>os</strong><strong>os</strong> gast<strong>os</strong>.No dia seguinte ele a leva para conhecer Bellevue, na semana seguinte umaequipe é contratada para a transformação.Em um concurso são admitidas cinqüenta (50) alunas. Isadora entrega-seimpetu<strong>os</strong>amente ao ensi<strong>no</strong>.Durante <strong>os</strong> últim<strong>os</strong> meses que sua escola fica em Beulieu, Hener Skene écontratado como ensaiador, Isadora passa dias e <strong>no</strong>ites acompanhada por Skene <strong>no</strong>pia<strong>no</strong>. E Paul Poiret também é contratado, se torna intimo da casa, <strong>de</strong>senha asroupas <strong>de</strong> Isadora, <strong>de</strong>cora o ateliê, e as festas. (DUNCAN, p. 252-253).As mulheres copiaram seu penteado e vestid<strong>os</strong> feit<strong>os</strong> por Poiret. No entant<strong>os</strong>ua personalida<strong>de</strong> não <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> chocar essa América ainda entrevada <strong>de</strong>puritanismo. (LEVER, 1988, p. 177).Em junho <strong>de</strong> 1913 Isadora <strong>de</strong>u um espetáculo com suas alunas numa récita<strong>de</strong> gala <strong>no</strong> Trocadéro.Tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> dias eram uma expl<strong>os</strong>ão <strong>de</strong> alegria, com crianças correndo pel<strong>os</strong>corredores, e <strong>de</strong>sejando bom dia para Isadora. Isso a encorajava viver.A escola se revelava como uma fonte <strong>de</strong> inspiração. (DUNCAN, p. 254).Quando voltam a Beaulieu, Singer não quer que ela parta em turnê, quer elado lado <strong>de</strong>le, diz pagar a rescisão do contrato, e quer se casar com ela.


60Ela lhe explica o quanto a dança é importante em sua vida, e sua visã<strong>os</strong>obre o casamento. Mesmo ele achando que eram idéias <strong>de</strong> criança, ela diz que játinha 33 an<strong>os</strong>, é fiel as suas idéias e que se um dia tiver que sofrer por elas, piorpara ela. (LEVER, 1988, p. 170-171).Depois do cruzeiro com Paris Singer, que ela conheceu em Paris, ela voltapara suas turnês. Parte para Paris e <strong>no</strong> dia seguinte, para Rússia. Sua turnê foitriunfal. (DUNCAN, p. 199).Quando voltava das turnês que Deirdre não ia, quando chegava “sufocava”sua filhinha <strong>de</strong> beij<strong>os</strong>, lhe pergunta se tinha feito <strong>os</strong> exercíci<strong>os</strong> <strong>de</strong> dança, dizia queela estava linda, sempre que podia ela levava sua filhinha em suas viagens, semprecuido muito bem <strong>de</strong>la. (LEVER, p. 176).Ela engravida <strong>de</strong> Lohengrin, que fica orgulh<strong>os</strong>o, eles vão para a América emturnê. E quando falavam para Isadora não dançar grávida. Ela respondia que erajustamente isso que a dança <strong>de</strong>la queria exprimir, o Amor, a Mulher, a Formação, aTerra fecunda, tudo prometendo uma <strong>no</strong>va vida. (DUNCAN, p. 204).Depois <strong>de</strong> passar um tempo com Singer, começa uma <strong>no</strong>va turnê e diz quea Arte <strong>de</strong>ve ser <strong>de</strong> tod<strong>os</strong>, fazendo apresentações gratuitas.Daí beleza, liberda<strong>de</strong> e força às crianças. Daí arte ao povo, que <strong>de</strong>laprecisa. A gran<strong>de</strong> musica não <strong>de</strong>ve ficar por mais tempo reservada àalegria <strong>de</strong> uma elite privilegiada; <strong>de</strong>ve ser dada igualmente às massas. Elalhes é tão necessária como o ar e o pão, pois é o vinho espiritual dahumanida<strong>de</strong>! (DUNCAN, p. 214).Em M<strong>os</strong>cou, Gordon vem vê-la, parecia que a separação não havia <strong>de</strong>ixadocicatriz alguma nele, ela reencontrou o mesmo fascínio e encanto.Em seu ultimo serão em M<strong>os</strong>cou ofereceu um jantar, e Craig suplicou paraque ela ficasse com ele, ela não aceitou. (DUNCAN, p. 199-200).Ela engravida <strong>de</strong> Lohengrin, que fica orgulh<strong>os</strong>o, ele parte em turnê com ela


61para a América.Depois Isadora aten<strong>de</strong> as suplicas <strong>de</strong> Singer para ela não dançar maisgrávida, e sobem o Nilo.Seu filho, Patrick, nasce um mês <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> seu regresso para França,Deirdre diz que era um bebezinho lindo, e que agora ela iria cuida e ninar ele.Singer fala <strong>no</strong>vamente em casamento, e faz uma prop<strong>os</strong>ta pra Isadora <strong>de</strong>passar três meses junt<strong>os</strong> em seu castelo do Devonshire para experimentar com<strong>os</strong>eria sua vida se ela aceitasse o pedido. Isadora consentiu. (DUNCAN, p. 207-208-209).Depois <strong>de</strong> quinze dias Isadora teve que confessar que ela estava ficandolouca <strong>de</strong> tédio, que não podia dançar nesse cenário, e que não tinha um pianista.Singer manda buscar seu cenário e um pianista. André Caplet foi o pianista,mas Isadora sentia uma repulsa e antipatia e<strong>no</strong>rme por ele, mesmo ele sendo loucopor ela, a adorando.Dias <strong>de</strong>pois Singer tem uma congestão pulmonar, e o médico recomendaque ninguém po<strong>de</strong> perturbá-lo. Ele passava dias inteir<strong>os</strong> na cama. Isadora se sentiasozinha.A con<strong>de</strong>ssa <strong>de</strong> Edas veio passar uns dias <strong>no</strong> castelo, e censurou Isadora portratar daquela forma uma das mais reluzentes esperanças da música francesa.E assim ela propôs um passeio <strong>de</strong> carro pelo campo, ela, Isadora e André.Isadora acaba aceitando. Chovia muito e <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> meia hora Isadora estava quasetendo um ataque nerv<strong>os</strong>o e or<strong>de</strong><strong>no</strong>u ao chofer que voltasse, ele faz uma conversãobrusca e Isadora cai n<strong>os</strong> braç<strong>os</strong> <strong>de</strong> André, que a abraça. Ela fixando-o sentiu umachama violenta subindo. Notara nele uma beleza perfeita, ele era um gênio.Chegando ao castelo ele a conduziu até a sala <strong>de</strong> baile. Tornaram se amantes. Esse


62romance durou até o verão.Ela sabe que a vida doméstica realmente não era ela. Pela centésima vezpromete que sua vida seria inteiramente consagrada à arte, que é cem vezes maisgrata que <strong>os</strong> seres human<strong>os</strong>. (DUNCAN, p. 212-213).Ela começa a compreen<strong>de</strong>r que, para ela, amor e <strong>de</strong>sejo serão sempre amesma coisa.No fim do verão, Isadora volta a Paris com Singer restabelecido, e invadidomais do que nunca por uma idéia <strong>de</strong> morte. (LEVER, 1988, p. 184).Depois <strong>de</strong> Isadora ter <strong>de</strong>scoberto que o amor po<strong>de</strong> ser tanto passatempocomo tragédia, ela se entrega a ele com uma i<strong>no</strong>cência pagã. Ela estava tão bonita,e pensava: “Por que não aproveitar esse encanto?”. Começa achar muito naturalbeber champanhe enquanto escuta algum homem a elogiando. Essas <strong>de</strong>licias lhepareciam i<strong>no</strong>centes e <strong>de</strong>lici<strong>os</strong>as, ela não entendia por que havia pessoas que seescandaliza-se com isso. Ela pensava se o corpo as vezes po<strong>de</strong> oferecer muitasdores e doenças, por que quando se tem a oportunida<strong>de</strong> não tirar <strong>de</strong>sse mesmocorpo o máximo <strong>de</strong> prazer, e mais há tant<strong>os</strong> problemas <strong>no</strong> mundo, por que rejeitar<strong>os</strong> braç<strong>os</strong> esplendid<strong>os</strong> que oferecem consolo, horas <strong>de</strong> beleza e esquecimento d<strong>os</strong>problemas? Ela esperava que a tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> homens que ela havia dado isso,guardassem recordações tão agradáveis quanto as <strong>de</strong>la.Contanto mesmo ela não cessando <strong>de</strong> dizer “Sim, <strong>de</strong>ixa-me ser pagã!”, elanão era mais do que uma puritana do paganismo, ou uma pagã do puritanismo.(DUNCAN, p. 215).Em Novembro <strong>de</strong> 1912, Paul Poiret faz surgir o palácio das mil e uma <strong>no</strong>ites,para uma das festas que Isadora c<strong>os</strong>tumava dar.Nesta festa estavam muit<strong>os</strong> amig<strong>os</strong> pessoais <strong>de</strong> Isadora, o violinista Henry


63Bataille, vem cumprimentá-la pela festa suntu<strong>os</strong>a, e beija-lhe a mão. Ela respon<strong>de</strong> aele que ainda não viu nada, e subiu <strong>de</strong> mã<strong>os</strong> dadas com ele para m<strong>os</strong>trar a loggia,eles sentam em um d<strong>os</strong> fof<strong>os</strong> divans que oferecem alguma perig<strong>os</strong>a liturgia.Sucumbindo a lânguida atm<strong>os</strong>fera do lugar, Henri falava a agia com Isadora<strong>de</strong> uma maneira diferente, Singer que a procurava por quase uma hora, surge nessemomento, quando vê Isadora, <strong>de</strong>sce como um furacão, ela vai atrás <strong>de</strong>le, elecomeça a gritar com <strong>os</strong> convidad<strong>os</strong> dizendo que nunca mais colocaria <strong>os</strong> pésnaquele lugar.Isadora que durante a cena permanecera imóvel pe<strong>de</strong> a Skene o pianistapara tocar a Morte <strong>de</strong> Isolda e veste uma túnica branca e começa a dançar para <strong>os</strong>convidad<strong>os</strong> até o amanhecer.Dois dias <strong>de</strong>pois ela foi informada que Singer partiu para o Egito com aenfermeira que cuidou <strong>de</strong>le durante a congestão.Continuava suas apresentações. Com Hener Skene <strong>no</strong> pia<strong>no</strong> ela dança aMarcha fúnebre entre outras danças, após um silencio religi<strong>os</strong>o, o público tomado <strong>de</strong>verda<strong>de</strong>ira emoção, aplaudiram-na frenéticamente, algumas mulheres choravam eoutras acreditavam que estavam iminente a uma crise nerv<strong>os</strong>a. (DUNCAN, p. 221-224).Se ela amara Craig por sua impaciência <strong>de</strong> criador ávido em dar forma a<strong>os</strong>seus sonh<strong>os</strong>, amava Singer por essa força animal que emanava <strong>de</strong>le sob o impériodo prazer. Amava sua virilida<strong>de</strong> segura <strong>de</strong> si, intransigente, imaginativa, guiada porum senso infalível do outro. Fazer amor com ele era para Isadora experimentarvibrações <strong>de</strong>sconhecidas, <strong>de</strong>scobrir em si mesma um corpo <strong>no</strong>vo, sensaçõesinéditas, espasm<strong>os</strong> ig<strong>no</strong>rad<strong>os</strong>.Sob a iniciação <strong>de</strong>sse amor sentia-se transportada para alem d<strong>os</strong> limites


64comuns do gozo. Conhecia agora suas variações infinitas. Então, seus sentid<strong>os</strong>afinad<strong>os</strong>, enlouquecid<strong>os</strong>, liberad<strong>os</strong>, tinham encontrado junto <strong>de</strong> outr<strong>os</strong> homens<strong>no</strong>v<strong>os</strong> territóri<strong>os</strong> a explorar, uma infinida<strong>de</strong> <strong>de</strong> audácias inacabadas. Entregava-se assuas <strong>de</strong>licias com a i<strong>no</strong>cência <strong>de</strong> uma alma ingenuamente pagã, que ig<strong>no</strong>rava ahipocrisia e a mentira. Fazia amor da mesma forma que dançava, com a mesmapaixão, a mesma fé, a mesma doação <strong>de</strong> si. Pelo sexo, recriava a ida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ouro dainfância, as auroras puras iluminadas <strong>de</strong> esquecimento e <strong>de</strong> beleza. (LEVER, 1988,p. 191-192).Por volta <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1913, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> um espetáculo em um serão <strong>de</strong> gala,Isadora encontra Singer em seu camarim, e adora a surpresa. Combinam <strong>de</strong>almoçar com o irmão <strong>de</strong> Isadora <strong>no</strong> dia seguinte, mas Singer não aparece, Isadorafica <strong>de</strong>sapontada. Um tempo <strong>de</strong>pois ele liga pra Isadora, então combinaram umalmoço <strong>no</strong> dia seguinte, ele diz que g<strong>os</strong>taria muito e ver as crianças. (DUNCAN, p.228-230).Isadora pensa <strong>no</strong> regresso <strong>de</strong> seu Lohengrin, sabia que ele voltaria um dia,sua união <strong>de</strong>veria estar acima do ciúme. Não podia obrigar-se a amar apenas umhomem, da mesma forma que ele não po<strong>de</strong>ria obrigar-se a ter apenas uma amante.Ela pensava em porque não continuarem amando um ao outro, respeitandointegralmente a liberda<strong>de</strong> um do outro? “Se ele voltou, é porque ainda me ama.Conhece-me o bastante para saber que nunca me p<strong>os</strong>suirá com exclusivida<strong>de</strong>”.(LEVER, 1988, p. 193).Durante a turnê que Isadora fez com Hener Skene pela Rússia, ela temvisões.Certa vez quando tomavam um trenó para chegarem ate o hotel, Isadorameio so<strong>no</strong>lenta vê duas filas <strong>de</strong> caixões pequen<strong>os</strong>, e segura firme <strong>no</strong> braço <strong>de</strong>


65Skene dizendo que todas as crianças estavam mortas, e aponta para <strong>os</strong>caixõeszinh<strong>os</strong>. Ele tenta acalmá-la, mas diz não ver nada.Depois <strong>de</strong>ssa visão, outras mais assustadoras aconteceram, Isadora sentiasemuito <strong>de</strong>primida, o monstro da neurastenia volta a atacá-la. Pressentia que uma<strong>de</strong>sgraça não tardava a chegar.Isadora via que seus filh<strong>os</strong> se tornariam artistas que revolucionariam.(DUNCAN, p. 222-225).Certamente eles encheram a vida <strong>de</strong> Isadora <strong>de</strong> alegria, muito mais que suaprópria arte e seus amantes. (DUNCAN, p. 229).Em um jantar alguns an<strong>os</strong> antes, o pintor Bakst, lê sua mão e diz queIsadora terá uma gran<strong>de</strong> glória, mas per<strong>de</strong>rá as criaturas que são o seu maior amorsobre a terra. (DUNCAN, p. 142-143).No dia do almoço Isadora brinca com as crianças <strong>no</strong> jardim e pensa que dalia pouco se encontrara com Lohengrin.A baba pergunta a Isadora se seria pru<strong>de</strong>nte levar as crianças à Paris, poisia chover e Patrick estava com começo <strong>de</strong> resfriado, seria melhor se não saíssemnaquele dia. Mas as crianças protestam e Isadora <strong>de</strong>ci<strong>de</strong> levá-l<strong>os</strong>. Ela seamaldiçoou, várias vezes, por não ter compreendido. Mas, pensava que o encontrocom Lohengrin seria tão mais simples se as crianças estivessem presentes.À uma hora, eles se encontram, Singer <strong>os</strong> aguardava, as crianças abraçam<strong>no</strong>e ele beija Isadora ternamente.Conversam do passado e como será o futuro, junt<strong>os</strong>, Singer emocionado dizque será como Isadora quiser.Isadora fica em Paris, pois tem ensaio, o chover vem buscar as crianças e ababa e vão para Versalhes. Ela se <strong>de</strong>spe<strong>de</strong> e diz que estaria em casa para o jantar.


66Isadora <strong>de</strong>cidiu <strong>de</strong>scansar um pouco antes do ensaio, estava feliz,acreditava que era a mulher mais feliz do mundo!De repente as portas do quarto se abrem violentamente. Ela vê Singer a<strong>os</strong>seus pés, dizendo: “As crianças... as crianças morreram”.Aquelas palavras não fazem sentido para ela, Singer chorava, Isadora foidominada por uma calma inexplicável, sentindo a garganta queimar, nãocompreendia nada, tentava acalmar Singer dizendo que aquilo não podia serverda<strong>de</strong>. Um médico diz que ira salvar as crianças, ela acredita, mas, tod<strong>os</strong> estavamagitad<strong>os</strong>, sabiam que tudo estava perdido. Enquanto tod<strong>os</strong> choravam, <strong>os</strong> olh<strong>os</strong> <strong>de</strong>Isadora permaneciam enxut<strong>os</strong>. Isadora não consegue interpretar esse estado <strong>de</strong>espírito. (DUNCAN, p. 230-233).Singer relata o aci<strong>de</strong>nte: a limusine estava virando a esquina da ruaChauveau para chegar ao cais quando, <strong>no</strong> cruzamento do bulevar Bourdon, cruzoucom um táxi que vinha com excesso <strong>de</strong> velocida<strong>de</strong>. Para evitar a colisão, o motoristafreou bruscamente, o que fez parar o motor. Desceu para acionar a manivela, masesqueceu o veiculo <strong>de</strong>sengatado. Antes que tivesse tempo <strong>de</strong> entrar <strong>no</strong> carro, este,começou a <strong>de</strong>scer em direção ao rio Sena, local sem nenhum parapeito. Tentousegurá-lo, mas, as rodas mergulharam na água.Quando chegou ao rio, uma <strong>de</strong>zena <strong>de</strong> metr<strong>os</strong> mais abaixo, as águascinzentas já se fechavam sobre o teto brilhante da limusine. Em vez <strong>de</strong> pedirsocorro, o homem se jogou na calçada, batendo as mã<strong>os</strong> na cabeça. Algunspassantes pediram ajuda. Como a rapi<strong>de</strong>z da correnteza arrastava o veiculo paralonge do local on<strong>de</strong> ele caíra, foi necessário nada men<strong>os</strong> que uma hora e meia pararetirá-lo e reconduzir as vitimas a superfície. As crianças e a baba foramtransportadas ao H<strong>os</strong>pital America<strong>no</strong>, on<strong>de</strong>, inutilmente, o plantonista tentou


67reanimá-la. À <strong>no</strong>ite, levaram <strong>os</strong> corp<strong>os</strong> para a rua Chauveau. (LEVER, 1988, p. 197-198).Isadora tinha <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a infância uma gran<strong>de</strong> antipatia por coisas que serelacionavam a Igreja, ela tinha horror à idéia d<strong>os</strong> funerais cristã<strong>os</strong>, para ela eram <strong>de</strong>uma fealda<strong>de</strong> bárbara. Acreditava que um dia a inteligência do mundo se revoltarácontra <strong>os</strong> medonh<strong>os</strong> rit<strong>os</strong> da Igreja. Já tinha recusado o casamento, o batizado d<strong>os</strong>filh<strong>os</strong> e naquele instante recusava o funeral cristão. Queria que o horrível aci<strong>de</strong>ntef<strong>os</strong>se transformado em beleza. Ela consi<strong>de</strong>rava o luto absurdo e inútil. O que eramais aceitável na civilização era a cremação.“Quanto tempo haverem<strong>os</strong> <strong>de</strong> esperar para que reine entre nós a inteligênciana Vida, <strong>no</strong> Amor e na Morte?” (DUNCAN, p. 233-234).Isadora sempre teve idéias pacifistas, incansavelmente, apelava pelafraternida<strong>de</strong> e pela união d<strong>os</strong> homens, tinha uma concepção espiritual da dança. Foia artista mensageira do amor e a mãe aureolada <strong>de</strong> dor. (LEVER, 1988, p. 212).Expõe Isadora: “Apenas duas vezes na vida se ouve esse grito das mães,esse grito que parece provir <strong>de</strong> outrem – <strong>no</strong> instante do nascimento e da morte d<strong>os</strong>filh<strong>os</strong>” (DUNCAN, p 233).Um padre tenta persuadi-la e ela lhe respon<strong>de</strong>:Lamento, senhor padre. Sou pagã, fui mãe fora do casamento,recusei batizar meus filh<strong>os</strong>, recuso igualmente <strong>os</strong> funerais cristã<strong>os</strong>. Não é<strong>no</strong> seu céu que eu reencontrarei meus querid<strong>os</strong> filh<strong>os</strong>. Será em tod<strong>os</strong> <strong>os</strong>bel<strong>os</strong> espetácul<strong>os</strong> da natureza, em tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> bel<strong>os</strong> gest<strong>os</strong> do homem, emtodas as gran<strong>de</strong>s obras. As almas <strong>de</strong> meus filh<strong>os</strong> vivem por toda aeternida<strong>de</strong> numa nuvem <strong>de</strong> luz. (LEVER, 1988, p. 198-199).Decidiu que eles seriam cremad<strong>os</strong>. (LEVER, 1988, p. 198-199).Diante das idéias <strong>de</strong> Isadora, a civilização apenas lhe permite escolher acremação. Isadora tinha a impressão <strong>de</strong> que <strong>os</strong> mort<strong>os</strong> não se afastavam:De on<strong>de</strong> provém a criança? Da mãe, sem duvida. Pois talvez, por isso,quando ela morre, volte a se refugiar <strong>no</strong> seio mater<strong>no</strong>, e só <strong>de</strong> temp<strong>os</strong> em


68temp<strong>os</strong> manifeste a sua presença. (DUNCAN, p. 235).A morte <strong>de</strong> seus filh<strong>os</strong> foi a tragédia que matou nela, para sempre, qualqueresperança <strong>de</strong> felicida<strong>de</strong> sobre a terra.Deste dia em diante, Isadora apenas tinha o <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> fugir, e sua vida apartir <strong>de</strong>ste dia, não foi mais do que uma sucessão <strong>de</strong> fugas <strong>de</strong>satinadas.(DUNCAN, p. 225-226).Quando a <strong>no</strong>ticia sai na imprensa, chegam <strong>de</strong>zenas <strong>de</strong> mensagens <strong>de</strong>simpatia, muit<strong>os</strong> vieram expressar-lhe sua tristeza, outr<strong>os</strong> se inclinavam diante <strong>de</strong>la.Os estudantes encheram o jardim e até as árvores <strong>de</strong> Isadora com todas as r<strong>os</strong>asbrancas que pu<strong>de</strong>ram encontrar. (LEVER, 1988, p. 198).Isadora voltou para seu estúdio em Neuilly, sem saber como po<strong>de</strong>ria viversem seus filh<strong>os</strong>, as meninazinhas <strong>de</strong> sua escola pediam para Isadora viver por elas.(DUNCAN, p. 235).Raymond a seguia como uma sombra, com medo que ela pu<strong>de</strong>sse por fima<strong>os</strong> seus dias. (LEVER, 1988, p. 199).Quando voltava para casa, ficava horas inteiras numa poltrona imóvel, oolhar perdido, sem dizer uma palavra. “Quando se é ferido por uma gran<strong>de</strong> dor, <strong>os</strong>gest<strong>os</strong> e as palavras não tem mais razão <strong>de</strong> ser”. (DUNCAN, p. 236).Singer teve que ser h<strong>os</strong>pitalizado, pois adoecera <strong>no</strong> dia seguinte da tragédia.Craig contentou-se em mandar-lhe um telegrama: “Não perca a coragem.Serão felizes por toda a eternida<strong>de</strong>. Tenha certeza”. (LEVER, 1988, p. 199).Raymond convida Isadora para partirem para Albânia a fim <strong>de</strong> ajudar <strong>os</strong>refugiad<strong>os</strong> greg<strong>os</strong>, após a guerra d<strong>os</strong> Bálcãs. Isadora aceitou. Acabou por esquecer<strong>de</strong> si mesma <strong>no</strong> sofrimento alheio.Pouco a pouco, Isadora reapren<strong>de</strong> estas coisas simples da vida, que


69esquecera havia tanto tempo.Depois <strong>de</strong> um mês, não suportava mais tanto sofrimento, e quis ir atéConstanti<strong>no</strong>pla, queria escapar do horror cotidia<strong>no</strong> da fome e da morte. Reencontrarum pouco <strong>de</strong> sua vida <strong>de</strong> antes, a arte, a dança, o amor... Libertar-se. (DUNCAN, p.238-239). (LEVER, 1988, p. 200-202).Rregressa para Paris, em seu estúdio em Neuilly, que permanecia <strong>de</strong>sertoem sua ausência. Foi ali que chorou a morte <strong>de</strong> seus filh<strong>os</strong>, as lembranças tinhamimpregnado aquelas pare<strong>de</strong>s e expulsavam Isadora <strong>de</strong> lá.Isadora parte para Itália, passa por Veneza e Florença, teve vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong>chamar por Craig, mas ele estava casado, ela po<strong>de</strong>ria causar aborreciment<strong>os</strong>.Eleo<strong>no</strong>ra Duse <strong>de</strong>scobre que Isadora esta na Itália e lhe envia umtelegrama: “Venha a minha casa, farei o p<strong>os</strong>sível para consolá-la”. Eleo<strong>no</strong>ra era aúnica pessoa que Isadora g<strong>os</strong>taria <strong>de</strong> ver, ela amparou Isadora da forma como elaprecisava. Isadora alugou uma casa gran<strong>de</strong> <strong>de</strong> tijol<strong>os</strong> escondida numa floresta <strong>de</strong>pinheir<strong>os</strong>. (DUNCAN, p. 245-247-248).Certo dia em que elas passeavam pela praia Duse disse para Isadora:Não procure felicida<strong>de</strong>. Você tem na fronte a marca daspre<strong>de</strong>stinadas à <strong>de</strong>sgraça. O que lhe chegou foi apenas o começo. Nãoconfie na sorte. (DUNCAN, 8-24).Isadora aluga um pia<strong>no</strong> e chama o seu amigo Skene, era a primeira vez queela dançava <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 19 <strong>de</strong> abril.Isadora tinha o coração pesado, seus filh<strong>os</strong> tinham morrido tragicamente.Por um tempo Isadora ficou sem forças para subir <strong>no</strong> palco, ela recebe o apoio d<strong>os</strong>amig<strong>os</strong> e amor <strong>de</strong> suas aluninhas.O lado visionário <strong>de</strong> Duse fascinava Isadora. “Volte para a arte”, dizia Dulse,“É sua única salvação”. “Fuja da tristeza e do tédio! Fuja”!Isadora dizia não ter mais coragem. Dulse insistia: “É do público que você


70<strong>de</strong>ve esperar a vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> viver... Aceite <strong>os</strong> contrat<strong>os</strong>”.Em uma tar<strong>de</strong> cinzenta <strong>de</strong> outo<strong>no</strong>, em seu passeio diário e solitário, pelasareias úmidas, Isadora vê Deirdre e Patrick. Corre para eles <strong>de</strong> braç<strong>os</strong> estendid<strong>os</strong>,mas eles <strong>de</strong>saparecem, ela é incapaz <strong>de</strong> conter <strong>os</strong> grit<strong>os</strong> e cai <strong>no</strong> chão contra aareia, <strong>os</strong> grit<strong>os</strong> ofegantes que lhe escapam do peito.Diante <strong>de</strong>la, um homem jovem, vindo do mar, falando em italia<strong>no</strong>, sepreocupa com ela e lhe oferece ajuda. Ela respon<strong>de</strong>: “Sim, salve-me. Salve minhavida. Salve minha razão. Dê-me um filho”.Foi como se ela renascesse para a luz para amar <strong>no</strong>vamente, após longatemporada <strong>no</strong> seio das trevas.Ela conta tudo a Eleo<strong>no</strong>ra que não se surpreen<strong>de</strong>, vão juntar visitar o ateliêdo jovem escultor. Isadora acreditou que esse amor po<strong>de</strong>ria acabar com seuspesares. Mas ele pertencia a uma família severa e era <strong>no</strong>ivo <strong>de</strong> uma italiana.Novembro se aproximava, Duse voltou para Florença e Isadora partiu paraRoma com seu amigo Skene, sabia que encontraria lá a apaziguadora harmonia <strong>de</strong>que tanto precisava. (DUNCAN, p. 249-250-251).Hener Skene tentava convencê-la a voltar para a dança:Pense em sua arte, em tudo o que você po<strong>de</strong> dar ao mundo. Não seesqueça <strong>de</strong> sua mensagem <strong>de</strong> amor e paz. Nunca se teve tantanecessida<strong>de</strong> <strong>de</strong>la. Em Paris, você será mais útil que aqui, retomara adança, o ensi<strong>no</strong>. (LEVER, 1988, p. 209).Entre 1913, 1914, Singer manda um telegrama pra Isadora suplicando paraela se encontrar com ele em Paris, alegando um projeto magnífico para ela.Ela não sabia e contava ou não para ele sobre o ocorrido na praia <strong>de</strong>Viareggio, como explicar para Singer essa atitu<strong>de</strong> insensata? Como contar que elaespera um filho <strong>de</strong> outro? (LEVER, 1988, p. 208-209).Quando chega <strong>no</strong> hotel reservado por Singer em Paris, Isadora se <strong>de</strong>para


71com enfeites <strong>de</strong> buquês <strong>de</strong> flores, e um recado avisando que ele viria buscá-la paraalmoçar.Quando se encontram, ele diz que junto com ela ele quer espalhar a belezapor essa terra tão triste.Então ele diz que o gran<strong>de</strong> sonho <strong>de</strong> Isadora iria se realizar, ele haviacomprado para ela o hotel Bellevue, <strong>de</strong> Meudon, para que ela instale ali sua escola<strong>de</strong> dança e p<strong>os</strong>sa acolher mil crianças se quisesse. (DUNCAN, p. 252).E diz que essa é a maneira que dispunha para fazê-la esquecer umpouquinho <strong>de</strong> sua dor, e que a amava.Isadora diz que ele é mesmo seu cavalheiro da lenda, mas que não podiaaceitar. Então ela conta tudo sobre Viareggio.Singer surpreen<strong>de</strong>ntemente sugere que eles bebam junt<strong>os</strong> ao futuro, acriança que <strong>de</strong>ve nascer, à escola <strong>de</strong> Isadora. (LEVER, 1988, p. 210-211).No domingo dois <strong>de</strong> ag<strong>os</strong>to em meio a todas potências armadas, <strong>de</strong>vido aguerra, Isadora começa a sentir as primeiras dores antes do parto.O médico fez o parto, Isadora já nem se importava com a guerra lá fora, poisela tinha em seus braç<strong>os</strong> seu filho. O quarto logo encheu <strong>de</strong> gente para visitá-la.De repente seu bebezinho começa a respirar com dificulda<strong>de</strong>, Isadorachama a enfermeira, que rapidamente leva o bebe para o quarto ao lado, pedindooxigênio e água quente.Depois <strong>de</strong> uma hora <strong>de</strong> angustia, Augustin aparece dizendo que opequeni<strong>no</strong> havia morrido.Isadora chega ao auge da dor humana, parecia ter perdido seus outr<strong>os</strong> filh<strong>os</strong><strong>de</strong> <strong>no</strong>vo.Foram horas sombrias, men<strong>os</strong> trágicas que as que se seguiram à morte <strong>de</strong>


72Deirdre e Patrick, embora mais <strong>de</strong>sesperadas.Depois da morte <strong>de</strong> seus filh<strong>os</strong>, ela <strong>de</strong>scuidou-se um pouco, engordou e suaarte não era mais a mesma.Mesmo antes <strong>de</strong> conseguir voltar para <strong>os</strong> palc<strong>os</strong>, em meio à guerra, elaengravida e per<strong>de</strong> o filho assim que ele nasce. (DUNCAN, p. 258-259).Por vezes se lembrava do que Duse lhe falou: “não procure felicida<strong>de</strong>...nunca mais <strong>de</strong>safie o <strong>de</strong>sti<strong>no</strong>”.Isadora pensava que era mais fácil aceitar ainexorável fatalida<strong>de</strong> que o arbítrio do absurdo. Pelo men<strong>os</strong>, o “<strong>de</strong>sti<strong>no</strong>” servia <strong>de</strong>explicação, senão <strong>de</strong> justificação.Tudo isso em meio à guerra, filh<strong>os</strong>, marid<strong>os</strong> morrendo o tempo todo, todo opovo sofrendo, então ela se pergunta:Tem<strong>os</strong> o direito <strong>de</strong> gemer quando milhões <strong>de</strong> pessoas sãodiariamente ameaçadas em sua existência e em sua i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>? Eprecisava se conter para não gritar: Que me importa a guerra <strong>de</strong> vocês!Não fui eu que a quis! Pelo contrário, passei a vida a dançar a paz, o amor.Portanto, <strong>de</strong>ixem-me chorar o meu filho. (LEVER, 1988, p. 217).Durante a guerra Singer cuidou da segurança das alunas <strong>de</strong> Isadora,transferindo a escola, e as meninas para locais segur<strong>os</strong>.Por volta <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 1914, Isadora foi acometida por um estado <strong>de</strong>langui<strong>de</strong>z, tão contrario a sua natureza, que a <strong>de</strong>ixou inquieta. Mary e Isadorapartem para Deauville.Isadora pe<strong>de</strong> a sua amiga Mary para avisar André, médico-chefe do h<strong>os</strong>pital,mas ele recusou <strong>de</strong>slocar-se até Isadora. Passaram alguns dias Isadora não sesentia melhor, então <strong>de</strong>ci<strong>de</strong> ir até o h<strong>os</strong>pital para se consultar com o tal médico.Vendo-a <strong>de</strong> longe, ele tenta evitá-la. Mas ela se dirige até ele, e lhe pergunta o queestava havendo, se ele estava fugindo <strong>de</strong>la, ele balbucia <strong>de</strong>sculpas, e diz que estarána casa <strong>de</strong>la na manhã seguinte.


73Na manhã seguinte, ele começou a cuidar <strong>de</strong>la, estava cansada e com umpouco <strong>de</strong> neurastenia. Ela contava tudo ao tal médico, até <strong>os</strong> <strong>de</strong>talhes mais íntim<strong>os</strong>do seu ser, confiou–lhe <strong>os</strong> seus sentiment<strong>os</strong>. Ele diz que ela não tinha nada, que eraalma <strong>de</strong>la que estava doente e que tudo que ela precisava era amor. Ela se entregae <strong>de</strong>ixa-se envolver pelo misteri<strong>os</strong>o médico. Esse amor <strong>de</strong>u forças a Isadora.Certo dia em que ele estava abalado mais do que <strong>no</strong>rmalmente pela guerrae suas conseqüências, emocionado ele põe fim ao mistério que lhe rondava, mesmocom medo que Isadora o abandonasse e <strong>de</strong>ixasse <strong>de</strong> amá-lo, ele confessa que <strong>no</strong>dia 19 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1913 foi ele quem cuidou d<strong>os</strong> filh<strong>os</strong> <strong>de</strong>la. No caso <strong>de</strong> Patrick eratar<strong>de</strong> <strong>de</strong> mais. Quanto a Deirdre, houve um momento <strong>de</strong> esperança, ele tentou <strong>de</strong>tudo, mas ela morreu em seus braç<strong>os</strong>. Agora Isadora entendia o porquê ele fez tantopara evitá-la. Isadora chorou <strong>de</strong> dor pelo resto da <strong>no</strong>ite.Por mais que eles se amassem e cuidassem um do outro, ela percebe queessa relação acabaria por levar <strong>os</strong> dois à loucura.Singer e Elizabeth enviavam um telegrama atrás do outro para Isadora,pedindo para ela vir para Nova Iorque, ficar junto <strong>de</strong> suas alunas. André ainda aacompanha ate Liverpool. Isadora tinha uma aparência realmente doentia.(DUNCAN, p. 262-266).Isadora sempre se julgou fiel a<strong>os</strong> homens que ela amou, jamais teria<strong>de</strong>ixado qualquer <strong>de</strong>les se ela pu<strong>de</strong>sse contar com a lealda<strong>de</strong> <strong>de</strong>les.Os que amei, amo-<strong>os</strong> ainda e <strong>os</strong> amarei sempre. Se, muitas vezes,<strong>de</strong> uns passei a outr<strong>os</strong>, não p<strong>os</strong>so acusar senão a levianda<strong>de</strong> d<strong>os</strong> homense a cruelda<strong>de</strong> do <strong>de</strong>sti<strong>no</strong>. (DUNCAN, p. 276).Seu Lohengrin vai buscá-la e com presteza a faz passa pela alfân<strong>de</strong>ga.Organiza apresentação para Isadora, ajuda em seus ensai<strong>os</strong>, a leva para Cuba.(DUNCAN, p. 276-277).


74Em 1915 quando ela chega na América, se espanta com a aparenteindiferença americana em relação à guerra, encontra Nova Iorque muito mudada,pergunta-se com certa preocupação se ainda haveria lugar para sua arte n<strong>os</strong>Estad<strong>os</strong> Unid<strong>os</strong>. Será que eles compreen<strong>de</strong>rão Édipo que ela e Augustin estavammontando <strong>no</strong> Century Theatre? Isadora mudou a disp<strong>os</strong>ição da sala toda. Semseguir as advertências d<strong>os</strong> amig<strong>os</strong> e sem se preocupar com a e<strong>no</strong>rmida<strong>de</strong> d<strong>os</strong>risc<strong>os</strong>, ela fez um projeto gigantesco.Os American<strong>os</strong> eram apaixonad<strong>os</strong> pelo drama, mas incapazes <strong>de</strong> suportaruma tragédia, recusam-na obstinadamente <strong>no</strong> universo trágico d<strong>os</strong> greg<strong>os</strong>.Isadora salva o espetáculo improvisando uma Marseillaise inspirada naescultura <strong>de</strong> Ru<strong>de</strong>. O que lhe vale uma ovação extraordinária.Sua escola estava instalada numa mansão recém construída em NovaIorque. Suas alunas a acolhem com grit<strong>os</strong> <strong>de</strong> alegria. Ela aluga um gran<strong>de</strong> estúdio eretoma o trabalho.Édipo sai <strong>de</strong> cartaz <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> oito dias, foi um fracasso artístico e financeiro.Um mês <strong>de</strong>pois com dinheiro emprestado, ela, Mary Desti e 28 alunasembarcam para Nápoles. (DUNCAN, p. 266-268-269).Isadora pensa que <strong>de</strong>cididamente que esse Novo Mundo, nunca acompreen<strong>de</strong>rá. Sempre se sentiu muito mais em casa na velha Europa.Quando Isadora chega em Nápoles, a Itália entra na fileira d<strong>os</strong> Aliad<strong>os</strong>,então elas <strong>de</strong>ci<strong>de</strong>m ir para a Suíça.Suíça era a encruzilhada d<strong>os</strong> moviment<strong>os</strong> intelectuais, o ponto <strong>de</strong> encontro<strong>de</strong> tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> adversári<strong>os</strong> da guerra, pacifistas e anti-militares, nessa terraencontravam asilo e liberda<strong>de</strong>. Num clima <strong>de</strong> fraternida<strong>de</strong> e estima recíproca.(LEVER, 1988, p. 227-229).


75Ela voltou para a Europa, por que a América permanecia impermeável à suaarte. A escola é instalada em Zurique. (DUNCAN, p. 268-269).A guerra parecia não ter fim, Isadora faz turnês para manter sua escola naSuíça.Mas <strong>de</strong>vido a guerra, a sua remessa <strong>de</strong> fund<strong>os</strong> envido para a Suíça haviasido retirada. (DUNCAN, p. 272-274).Depois <strong>de</strong> uma aventura por Roma com um amigo hom<strong>os</strong>sexual, uma breveestada em Atenas, Isadora volta para Zurique, empresta 15 mil dólares e parte parauma turnê na América do Sul. (LEVER, 1988, p. 234).Em toda parte o <strong>no</strong>me Isadora atrai multidões tod<strong>os</strong> queriam vê-la.Chega à Bahia e tem a impressão <strong>de</strong> ver pela primeira vez a mistura <strong>de</strong>raças branca e negra aceita sem preconceit<strong>os</strong>. (DUNCAN, p. 273).Passam por Buen<strong>os</strong> Aires on<strong>de</strong> ela apren<strong>de</strong> o Tango e dança a <strong>no</strong>ite inteiran<strong>os</strong> braç<strong>os</strong> <strong>de</strong> um jovem argenti<strong>no</strong>, em um cabaré. Lá ela dançou o hi<strong>no</strong> nacionalem comemoração ao aniversario da libertação da Argentina. Por isso ela foiameaçada <strong>de</strong> boicote <strong>de</strong> suas apresentações, então ela aclamava a França,dançando a Marseillaise, com a ban<strong>de</strong>ira tricolor na mão. Como sempre seusadmiradores mais entusiastas são <strong>os</strong> estudantes, intelectuais e estetas. (LEVER,1988, p. 238).Passou pelo Rio <strong>de</strong> Janeiro, Isadora continuava sendo a artista maiscontestada do mundo e conhece o poeta João do Rio. (DUNCAN, p. 275).Em uma entrevista <strong>no</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro ela afirma que o pudor lhe parecehipocrisia. Isadora sentia nesse momento seu corpo <strong>de</strong>sabrochar para a vida, a<strong>os</strong> 40an<strong>os</strong>, sentia-se como nunca com 20 an<strong>os</strong>. (DUNCAN, p. 299).A<strong>os</strong> quarenta an<strong>os</strong> sente-se mais livre que n<strong>os</strong> vinte. Não tem nada a


76escon<strong>de</strong>r, nada a se reprovar. Ela <strong>de</strong>clara que sempre foi fiel a<strong>os</strong> homens que amou.E ela não teria <strong>de</strong>ixado nenhum <strong>de</strong>les se eles também lhe tivessem sido fieis.Aqueles que ela mais amou, ama-<strong>os</strong> ate hoje, e ira amá-l<strong>os</strong> para sempre. Se elamudou tantas vezes, só po<strong>de</strong> acusar a levianda<strong>de</strong> d<strong>os</strong> homens e a cruelda<strong>de</strong> do<strong>de</strong>sti<strong>no</strong>. (LEVER, 1988, p. 236).Ela <strong>de</strong>sembarca em Nova Iorque em 1917, por volta d abril e faz umaapresentação gratuita organizada por Singer. Ela nunca conheceu tamanho triunfo.E <strong>no</strong> fim do programa quando ela dançou a Marseillaise, como ela fez <strong>de</strong>s<strong>de</strong> ocomeço da guerra a ovação chega ao frenesi.Era apaixonada pela liberda<strong>de</strong>, ao dançar a Marseillaise, ela pensava emtod<strong>os</strong> <strong>os</strong> que sofrem, n<strong>os</strong> escrav<strong>os</strong> sob o chicote, n<strong>os</strong> que morreram pela causa dahumanida<strong>de</strong>. A revolta d<strong>os</strong> oprimid<strong>os</strong> sempre inspirou sua vida artística. (LEVER,1988, p. 240-242).Embora <strong>os</strong> artistas alemães durante a guerra tenham boicotado, Isadoranunca <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> dar concert<strong>os</strong> com música <strong>de</strong> Wagner.Durante sua carreira foram sempre <strong>os</strong> moviment<strong>os</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>sespero e revoltaque mais a atraiam.Quando Isadora e Singer estão em Nova Iorque, ele da uma festa emhomenagem a ela, neste dia excepcionalmente ela usaria uma jóia, um colar <strong>de</strong>diamantes dado por Singer.Em meio a festa, Isadora tem a idéia <strong>de</strong> dançar o tango que apren<strong>de</strong>u emBuen<strong>os</strong> Aires, com um belo rapaz que estava na festa. Singer p<strong>os</strong>suído por umaraiva louca, joga Isadora contra o chão a insultando. Ela ficou indignada diante aessa injustiça, se levanta e arremessa o colar <strong>no</strong> r<strong>os</strong>to <strong>de</strong> Singer.Como sempre Isadora esta sem recurs<strong>os</strong> financeir<strong>os</strong>, e aceita uma <strong>no</strong>va


77turnê pela Califórnia.Em são Francisco ela reencontra sua mãe, que não via há muito tempo, elacompara seu r<strong>os</strong>to triste e <strong>os</strong> olh<strong>os</strong> endurecid<strong>os</strong> <strong>de</strong> sua mãe, com aquelas suasalmas ar<strong>de</strong>ntes que há vinte an<strong>os</strong> antes tinham partido cheias <strong>de</strong> esperançar aprocura <strong>de</strong> glória. (DUNCAN, p. 280-283).Isadora se perguntava, por que não conseguim<strong>os</strong> ter um certo grau <strong>de</strong> autoconhecimentoque ao penetrarm<strong>os</strong> em nós mesm<strong>os</strong>, encontrem<strong>os</strong> pensament<strong>os</strong> quen<strong>os</strong> dêem resp<strong>os</strong>tas. Pois haviam dias que sua vida parecia perfeita e ela sentiauma felicida<strong>de</strong> indizível, mas também havia dias, que tudo em sua vida, suasconquistas pareciam coisas <strong>de</strong> um cérebro doente, e toda a Vida parecia um monte<strong>de</strong> imundices. Ela duvidava que até mesmo Deus ou o Diabo soubessem da verda<strong>de</strong>sobre a vida humana. (DUNCAN, p. 288-289).Durante a guerra Isadora passa um tempo em Londres, sozinha doente equase sem dinheiro nenhum. Depois parte para Paris e lá conhece o pianista WalterRummel. Chama-o <strong>de</strong> seu arcanjo.Eles começam a ensaiar junt<strong>os</strong>. Isadora compõe <strong>no</strong>vas danças, seu espíritohavia ressuscitado a vida. (DUNCAN, p. 291).Quando seu arcanjo toca, ela tinha a impressão <strong>de</strong> que suas almasabandonam seus corp<strong>os</strong> para se fundirem numa entida<strong>de</strong> espiritual, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte<strong>de</strong> seus seres. Transportad<strong>os</strong> ás fronteiras do invisível. Instantes mágic<strong>os</strong>. (LEVER,1988, p. 256).Cada vez que um <strong>no</strong>vo amor vinha para Isadora, ela acreditava que havia <strong>de</strong>ser a ressurreição <strong>de</strong>finitiva <strong>de</strong> sua vida.Mas, acaso, o amor não traz sempre consigo essa certeza? Cada uma dasminhas historias <strong>de</strong> amor daria um romance. Todas terminaram mal.Sempre esperei por aquela que terminassem bem, ou antes, que durassesempre, sempre... (DUNCAN, p. 292).


78Também acreditava que o amor <strong>de</strong> um homem comparado com o amor <strong>de</strong>outro homem po<strong>de</strong> ser completamente diferente. E dizia que uma mulher queconheceu apenas um homem era como alguém que só ouviu um gênero musical.Isadora acreditava-se feliz, seu arcanjo.O mar, tudo estava divi<strong>no</strong>. Isadora tem a idéia <strong>de</strong> fundar sua escola naGrécia e chama suas discípulas, sua felicida<strong>de</strong> seria completa se suas alunas, asIsadoráveis estivessem com ela. Ela percebe em seu arcanjo uma expressãodiferente, mais terrestre do que celeste. Então ela percebe uma troca <strong>de</strong> olharesentre seu arcanjo e uma <strong>de</strong> suas alunas. Ela acreditou que o amor <strong>de</strong> amb<strong>os</strong> f<strong>os</strong>seinvencível, que f<strong>os</strong>sem um casal místico, acima d<strong>os</strong> preconceit<strong>os</strong> e dasconveniências. (LEVER, 1988, p. 257-258-92-293-294-296).Isadora experimenta um furor que apavora ela mesma, um <strong>de</strong>sesperofrenético, uma imensa dor e tomada por um ciúmes torturante ela conta com o apoio<strong>de</strong> um peque<strong>no</strong> grupo <strong>de</strong> alunas e se amigo Edward Steichen.Mas a única solução que ela encontrou, foi voltar-se para sua escola,colocar-se atrás <strong>de</strong> uma mascara <strong>de</strong> alegria e afogar sua angustia n<strong>os</strong> vinh<strong>os</strong> daGrécia. (DUNCAN, p. 296-298).Em sua autobiografia Isadora diz que por mais <strong>de</strong>savergonhada que suashistorias tenham sido para algumas mulheres, e que as tragédias <strong>de</strong> sua vidap<strong>os</strong>sam parecer para elas o preço que ela pagou por seus pecad<strong>os</strong>, Isadora não sevê como uma pecadora. Ela apenas refletiu, reagiu diante das pessoas e das forças,apenas mudando <strong>de</strong> forma e <strong>de</strong> caráter <strong>de</strong> acordo com a vonta<strong>de</strong> d<strong>os</strong> <strong>de</strong>usesimortais. (DUNCAN, p. 272).A arte da unida<strong>de</strong> e harmonia aquilo que da vida é ca<strong>os</strong> e discórdia.Um romance se exalta ate a cena culminante, mas não tem reverso.O amor na arte acaba como em Isolda, numa <strong>no</strong>ta trágica e soberba.A vida está cheia <strong>de</strong> ações e reações, e um caso <strong>de</strong> amor, na vida real,acaba quase sempre por uma discórdia, como, <strong>no</strong> meio <strong>de</strong> uma frase


79musical uma dissonância infeliz.E também, por vezes, na vida, um caso <strong>de</strong> amor, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> chegarao seu ponto culminante, só se reanima para morrer <strong>de</strong> uma maneiramiserável, para findar <strong>no</strong> tumulo das reclamações financeiras e n<strong>os</strong>ho<strong>no</strong>rári<strong>os</strong> d<strong>os</strong> homens da lei. (DUNCAN, p. 274).Entre <strong>os</strong> artistas e a vanguarda russ<strong>os</strong> Isadora era uma revelação, dançarinae reformadora, “o símbolo da <strong>no</strong>va Rússia, da Rússia revolucionaria”. (KURTH,2004, p. 203).Por seis meses seu coração ficou vazio, tragédias e <strong>de</strong>silusões amor<strong>os</strong>as,ela ficou em Paris. Quando sem esperar em uma correspondência <strong>de</strong> AnatolLunatcharski re<strong>no</strong>va suas esperanças, era <strong>de</strong> M<strong>os</strong>cou datada em 13 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong>1921. “Só o gover<strong>no</strong> russo é capaz <strong>de</strong> compreen<strong>de</strong>r-v<strong>os</strong>. Vin<strong>de</strong> para cá. Farem<strong>os</strong>v<strong>os</strong>sa escola”.Isadora sempre esperanç<strong>os</strong>a e sonhadora aceita. “A<strong>de</strong>us, Velho Mundo! Erao Novo Mundo que eu queria saudar”. (DUNCAN, p. 300-301).E respon<strong>de</strong>: “Quero agora dançar para as massas, para <strong>os</strong> trabalhadores,meus camaradas...” (LEVER, 1988, p. 263).Em uma entrevista ela <strong>de</strong>clara que apenas o gover<strong>no</strong> d<strong>os</strong> soviétic<strong>os</strong> que seinteressam pelas artes. Dizia não temer as restrições alimentares da Rússia. NaRússia ela po<strong>de</strong>ria fundar a Escola d<strong>os</strong> seus sonh<strong>os</strong>, era a única esperança querestava, dizia ela.Sobre <strong>os</strong> estad<strong>os</strong> unid<strong>os</strong> ela disse:Um país totalmente <strong>de</strong>sprovido <strong>de</strong> imaginação. Não tem o me<strong>no</strong>rrespeito pel<strong>os</strong> criadores. Detesta <strong>os</strong> verda<strong>de</strong>ir<strong>os</strong> talent<strong>os</strong>. A arte, a beleza?São motiv<strong>os</strong> <strong>de</strong> riso. O que conta acima <strong>de</strong> tudo, para <strong>os</strong> american<strong>os</strong>, é odinheiro e apenas o dinheiro! (LEVER, 1988, p. 264).Antes <strong>de</strong> <strong>de</strong>ixar a França, Isadora <strong>de</strong>u um serão <strong>de</strong> a<strong>de</strong>us em seu estúdio, ehouve suplicas para que ela renunciasse seu projeto, diziam que na Rússiaacontecem coisas atrozes e a miséria era muita.


80Duas <strong>de</strong> suas monitoras não quiseram partir, apenas Irmã que Isadoraadotou como filha e a Jeanne, que ha quinze an<strong>os</strong> a acompanhava foram com ela.Em primeiro <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1921, Isadora começa sua viajem rumo a Rússia,com Mary Desty ao seu lado. Isadora estava radiante.No cais elas se <strong>de</strong>spe<strong>de</strong>m. No dia 19, Isadora, Irmã e Jeanne<strong>de</strong>sembarcaram em Reval e tomam um trem para M<strong>os</strong>cou. Depois <strong>de</strong> 3 dias e 3<strong>no</strong>ites, chegam mortas <strong>de</strong> canseira e fome, e ninguém as esperavam na plataforma.(LEVER, 1988, p. 265-267).Haviam sentinelas por toda parte, livr<strong>os</strong>, jornais e manuscrit<strong>os</strong> eraexaminad<strong>os</strong> e se necessári<strong>os</strong> enviad<strong>os</strong> a censura. O medo e a <strong>de</strong>sconfiançaestavam em toda parte e em tod<strong>os</strong>.Até que Isadora se <strong>de</strong>para com uma pequena senhora sem ida<strong>de</strong> e <strong>de</strong>aparência mirrada, ela era a encarregada <strong>de</strong> levar Isadora ate o hotel.Depois do convite <strong>de</strong> Lunatcharski a Isadora, a situação da Rússia estavaagravada <strong>de</strong> forma catastrófica. No congresso do partido, Lênin apresentou sua<strong>no</strong>va política econômica que configurava um retor<strong>no</strong> parcial a<strong>os</strong> métod<strong>os</strong>capitalistas. Populações inteiras fugiram d<strong>os</strong> territóri<strong>os</strong> do Volga e do Sul da Rússia,on<strong>de</strong> falta o grão para as próximas sementes. Os refugiad<strong>os</strong> afluem a M<strong>os</strong>cou.Milhões <strong>de</strong> crianças estão ameaçadas <strong>de</strong> morrer <strong>de</strong> fome, e as autorida<strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>ram mais urgente alimentá-las que ensiná-las a dançar. Alem disso,Lunatcharski cometeu a imprudência <strong>de</strong> acolher o ambici<strong>os</strong>o programa <strong>de</strong> Isadorasem consultar o Politburo.Quando chegam Isadora, irmã e Jeanne, acreditam que foram vitimas <strong>de</strong> ummal entendido, havia até rat<strong>os</strong> em seu quarto, mas estavam tão cansadas que<strong>de</strong>ixaram-se cair em suas camas.


81Isadora resolve agir, perambulou por muito tempo, ate que encontrouLunatcharski, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> vinte minut<strong>os</strong> ela foi atendida por ele.Ela lhe conta sua situação precária e o lembra <strong>de</strong> sua promessa <strong>de</strong> fundar aescola <strong>de</strong> dança.Ele então diz que será preciso reduzir o número <strong>de</strong> alunas para cinqüenta eque Isadora po<strong>de</strong> se encarregar do <strong>de</strong>senvolvimento físico e estético da escola. Eele propõe o palácio Balachova.Ela fica <strong>de</strong> acordo, ao men<strong>os</strong> para começar.Em ag<strong>os</strong>to Isadora, Jeanne e Irmã, tomam p<strong>os</strong>se do palácio <strong>de</strong> Balachova,durante o verão e uma parte do outo<strong>no</strong> elas transformam esse palácio.gratuitamente.<strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro.Em 7 <strong>de</strong> <strong>no</strong>vembro <strong>de</strong> 1921, o gover<strong>no</strong> convida Isadora para se apresentarSua escola, a Escola Nacional <strong>de</strong> Dança Isadora Duncan é inaugurada em 3E por enquanto são permitid<strong>os</strong> quarenta (40) alunas e esse palácio, e ela<strong>de</strong>veria arcar com as <strong>de</strong>spesas. Lunatcharski não podia fazer nada, a situação dopaís era dramática.Então foi preciso organizar turnês pela Rússia, tudo o que o gover<strong>no</strong> podialhe oferecer era funcionári<strong>os</strong>, cozinheir<strong>os</strong>, porteir<strong>os</strong>, camareiras e ascensoristas.(LEVER, 1988, p. 269-270-272-273).Para Isadora o ensi<strong>no</strong> da dança era tão necessário quanto a própria dançaIsadora disse a Mary quando estavam partindo para a Rússia:Veja, Mary, nem a Europa nem <strong>os</strong> Estad<strong>os</strong> Unid<strong>os</strong> compreen<strong>de</strong>ram oque eu queria fazer. Imaginaram que eu queria formar jovens dançarinaspara o palco. Ora, eu nunca quis isso, nunca. O que <strong>de</strong>sejo é ensiná-las ase movimentar, a andar, a correr; é formar corp<strong>os</strong> perfeit<strong>os</strong>, almasharmônicas, capazes <strong>de</strong> exprimir a beleza em tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> at<strong>os</strong> da vida e <strong>de</strong>formar por sua vez outras crianças, e assim por diante... A isso eu chamodança. Mas, na verda<strong>de</strong>, o que eu quero é ensiná-las a serem elasmesmas. Plenamente.


82G<strong>os</strong>taria que todas as crianças do universo se reunissem numa rodaimensa e que semeassem sob seus pass<strong>os</strong> a alegria e a fraternida<strong>de</strong>.(LEVER, 1988, p. 266).Isadora não sabe dizer quando encontro com Serguei AleksándrovitchIessiênin “o poeta da Revolução” pela primeira vez, mas sem que jamais se tivessevisto, reconheceram-se <strong>no</strong> primeiro olhar.Foi <strong>no</strong> outo<strong>no</strong> <strong>de</strong> 1921, eles se comunicavam apenas por gest<strong>os</strong> epouquíssimas palavras. (KURTH, 2004, 475).Isadora estava bebendo muito por essa época e Iessiênin também.Eles eram instintiv<strong>os</strong>, nôma<strong>de</strong>s, insubmiss<strong>os</strong> e se<strong>de</strong>nt<strong>os</strong> <strong>de</strong> absoluto.Iessiênin vivia uma espécie <strong>de</strong> boemia dourada, tinha um g<strong>os</strong>to inato pelavida <strong>de</strong>sregrada, tinha reputação <strong>de</strong> epilético, era alcoólatra <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a adolescência.(LEVER, 1988, p. 274-275).Na Rússia ele era uma figura lendária, um exibicionista perig<strong>os</strong>o, seusvers<strong>os</strong> era tristes e sentimentalizad<strong>os</strong>. Ele foi comparado <strong>no</strong> milênio como o JimMorrison da Rússia. (KURTH, 2004, p. 478).Sua arte como a <strong>de</strong> Isadora tinha uma linguagem própria.E quando não bebe é calor<strong>os</strong>o e amigo ter<strong>no</strong>, porém quando bebe se tornaextremamente bruto.Ele estava com 26, Iessiênin dizia que não havia amor, só existiam paixões.Certo dia Iessiênin se aproxima docemente <strong>de</strong> Isadora, e levou-a a enten<strong>de</strong>rque ele queria ficar com ela em seu palácio Balachova, e não mais <strong>de</strong>ixá-la.“viverm<strong>os</strong> eu e você, sempre” disse ele em Francês. (LEVER, 1988, p. 276-278).Isadora imagina que será esse o amor que vai dar <strong>no</strong>vo sentido na sua vida.A vertigem sempre a atraiu. Ama seu próprio medo, diante do abismo quese abre a<strong>os</strong> seus pés. E se agora ela se per<strong>de</strong>sse <strong>de</strong> vez? Sempre foi tãoforte, tão segura <strong>de</strong> si... e eis que começa a duvidar. Embora!”Viver, antes<strong>de</strong> tudo viver! Como sempre o fez. Sem cálcul<strong>os</strong>. Sem frei<strong>os</strong>. Sem meiamedida.Abandonar-se a<strong>os</strong> impuls<strong>os</strong>. Depois?... Depois verem<strong>os</strong>.


83(LEVER, 1988, p. 278).Depois que Serguei viu uma foto <strong>de</strong> Graig na mesinha do lado da cama <strong>de</strong>Isadora, ela não teve mais paz, <strong>de</strong>scobriu que além <strong>de</strong> ser um gran<strong>de</strong> gênio ele eralouco. Na Rússia culparam Isadora pela morte se Iessiênin, e <strong>no</strong> Oci<strong>de</strong>nte culparamIessiênin pela morte <strong>de</strong> Isadora. (KURTH, 2004, p. 479).Depois <strong>de</strong> três meses com Serguei, Isadora não sabia dizer o que ele sentepor ela realmente, às vezes ele era todo meigo e carinh<strong>os</strong>o e em outras a cobria <strong>de</strong>injurias.Às vezes parecia que ele amava ela com todas as forças, por outras eracruel e gr<strong>os</strong>seiro com ela.Em acess<strong>os</strong> <strong>de</strong> fúria, quando bebia, ele chegava à agressão física, que nã<strong>os</strong>uscitavam nela nenhum movimento <strong>de</strong> revolta, mas, sim aumentava sua ternura porele. E não era apenas com Isadora, era assim com quem estivesse por perto.Mary não compreendia, dizia que não era indig<strong>no</strong> da amiga aceitar talsituação.E Isadora lhe respondia, que este era seu ultimo amor, e que o amor que <strong>os</strong>unia era muito mais profundo do que se imagina, mas ninguém podia compreendêlo.(LEVER, 1988, p. 279).Irmã dizia que ele era uma criancinha rebel<strong>de</strong> e Isadora uma mãeapaixonada capaz <strong>de</strong> tolerar tudo. (KURTH, 2004, p. 480).No dia 12 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1922, a mãe <strong>de</strong> Isadora morreu em Paris. Isadora teve<strong>os</strong> pressági<strong>os</strong> <strong>de</strong> c<strong>os</strong>tume. Certa <strong>no</strong>ite, sentada com Irmã ela viu um lápis escrever“DORA”. Ela teve visões e reviveu todas as horas que ela tinha passado ao ladodaquele ser huma<strong>no</strong> maravilh<strong>os</strong>o. (KURTH, 2004, p. 486).Em maio <strong>de</strong> 1922, em M<strong>os</strong>cou, Isadora se casa legalmente com Serguei.


84Isadora dizia que sua união com Iessiênin não mudou em nada seusprincípi<strong>os</strong>, e que ela se casou unicamente para o poeta po<strong>de</strong>r sair da uniã<strong>os</strong>oviética. Ela tinha uma série <strong>de</strong> recitais na Europa e Estad<strong>os</strong> Unid<strong>os</strong>.Serguei nunca estava feliz, sempre sentia vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> ir embora, seu amigoAnatoli Mariengov dizia para ele: Decididamente, você nunca terá pieda<strong>de</strong> a não ser<strong>de</strong> você mesmo e d<strong>os</strong> cachorr<strong>os</strong> vagabund<strong>os</strong>.Uma semana <strong>de</strong>pois do casamento, eles partem para Alemanha, em Berlimse h<strong>os</strong>pedam em uns d<strong>os</strong> hotéis mais luxu<strong>os</strong><strong>os</strong> da cida<strong>de</strong>.A conta que Isadora tinha que pagar toda semana custava por dia o saláriomensal <strong>de</strong> um bancário. Os repórteres não se cansavam <strong>de</strong> entrevistar o casal.(LEVER, 1988, p. 281-285).A vida privada do casal não era diferente em Berlim do que era emM<strong>os</strong>cou. Violências. Ternura. Amor. Ódio. Abraç<strong>os</strong>. Lagrimas. Agressõesfísicas. Arrependiment<strong>os</strong>. Será que se reconhecem nisso? O álcool <strong>os</strong> fazexistir fora <strong>de</strong>les mesm<strong>os</strong>. Fora das regras e das <strong>no</strong>rmas. Fogem em dooutro, procuram-se, chocam-se um contra o outro como duas jangadas a<strong>de</strong>riva. Mas se Serguei sai sempre vencedor <strong>de</strong> seus jog<strong>os</strong> cruéis, éporque sabe que é amado ate <strong>os</strong> limites da razão e não teme nenhumavingança da vitima. Sabe por instinto que suas brutalida<strong>de</strong>s tem o preço <strong>de</strong>um ato <strong>de</strong> amor, que seu punho fechado sobre ela será pago com cariciase presentes. Como perito profanador, como poeta capaz <strong>de</strong> sondar oinvisível, ele conta com o gozo do humilhado. E não se engana.(LEVER,1988, p. 287).Todas as <strong>no</strong>ites que saiam, Isadora, Serguei, Gorki, Kusikov, Nabokov, acon<strong>de</strong>ssa Tolstoi, Serguei preferia <strong>os</strong> cabarés hom<strong>os</strong>sexuais.Muitas vezes Serguei se divertia se maquiando, Isadora já o pegou emfragrante, e brigou com ele, dizendo ser horrível. E as garrafas <strong>de</strong> champanhe iamse esfuziando, e <strong>no</strong> dia seguinte Isadora tentava dissimular o melhor p<strong>os</strong>sível asmarcas <strong>de</strong>ixadas em seu r<strong>os</strong>to na <strong>no</strong>ite anterior.Mary sempre <strong>de</strong>fendia Isadora, ela era um bom páreo para ele, já tinhaagüentado um caso <strong>de</strong> dois an<strong>os</strong> com Aleister Crowley. (KURTH, 2004, p. 497).


85Em junho <strong>de</strong> 1922 eles <strong>de</strong>ixam Berlim, Serguei já estava com sauda<strong>de</strong>s <strong>de</strong>sua terra, e o tédio começava a pesar-lhe.Iessiênin dizia que se ele não obe<strong>de</strong>cesse Isadora, ela ficava histérica.Isadora se preocupa com o estado em que Serguei estava, e o leva aomédico especialista, o médico diz que Serguei estava com uma <strong>de</strong>pressão nerv<strong>os</strong>a,e que ele tem nevrite etílica, que ele precisava parar <strong>de</strong> beber imediatamente, que ocaso <strong>de</strong>le era grave.Isadora conhece uma jovem polonesa, Lola Kinel que fala tanto russo quantoinglês, ela facilita as conversar entre Isadora e Serguei.Em julho, partem para Bruxelas, Serguei ainda queria voltar para Rússia,nunca estava feliz.Ao passar por Paris, a caminho da Itália. Isadora é obrigada a preencherlongas e fastidi<strong>os</strong>as formalida<strong>de</strong>s, ela se irrita, e não escon<strong>de</strong> <strong>de</strong> ninguém averda<strong>de</strong>ira finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ssas turnês, que era coletar fund<strong>os</strong> para sua escola emM<strong>os</strong>cou.Certa vez quando perguntaram a Serguei se ele havia encontrado <strong>de</strong> fato afelicida<strong>de</strong>, ele respon<strong>de</strong>u em russo:Felicida<strong>de</strong> é uma palavra encantadora n<strong>os</strong> sombri<strong>os</strong> escaninh<strong>os</strong> <strong>de</strong> n<strong>os</strong>s<strong>os</strong>sonh<strong>os</strong>... Quando consi<strong>de</strong>ro o mundo e sua barbárie, prefiro afogar <strong>os</strong>olh<strong>os</strong> <strong>no</strong> vinho para não encarar sua face mórbida. (LEVER, 1988, p. 290).De Paris eles partem para Veneza, quando Serguei diz querer dar umapasseio sozinho, Isadora inflexível não permite, Eles começa a discutir, ela temmedo que ele não volte mais e teme também as outras mulheres. Ele irritado diz quequer se sentir totalmente livre, mesmo se for pra ter outras mulheres, se isso oagradar, ele provoca Isadora falando que g<strong>os</strong>taria <strong>de</strong> conhecer as mulheresfrancesas, mas ao ver Isadora inflexível ele se joga na cama.


86Antes <strong>de</strong> <strong>de</strong>ixar a Itália, o casal terrível, com era conhecido Isadora eSerguei, <strong>de</strong>spediram-se <strong>de</strong> Lola Kinel. Serguei a consi<strong>de</strong>rava uma inimiga, pois eraela a tradutora das discussões entre Isadora e Serguei, e ela ficava do lado <strong>de</strong>Isadora. Ele volta a beber.Lola não sabia como iria se readaptar em seu mundo <strong>no</strong>rmal, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> terconvivido com pessoas como eles.Paris sempre ocupou um lugar privilegiado <strong>no</strong> coração <strong>de</strong> Isadora. Foi emParis que ela fez sua verda<strong>de</strong>ira estréia, em 1900. Foi em paris que conheceuSinger. Era ainda em paris que encontrava seus amig<strong>os</strong> mais sincer<strong>os</strong> e<strong>de</strong>sinteressad<strong>os</strong>. Em paris vivia a lembrança <strong>de</strong> seus filh<strong>os</strong>. Nunca <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong>proclamar que a França era "o único país realmente livre do mundo." (LEVER, 1988,p. 288-289-290-291-295).Em 01 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1922, quando o casal <strong>de</strong>sembarca em Nova Iorque, asautorida<strong>de</strong>s suspeitam que eles sejam agentes bolcheviques e <strong>os</strong> proíbem <strong>de</strong> entrar<strong>no</strong> território america<strong>no</strong>, <strong>os</strong> mantendo a bordo por toda a <strong>no</strong>ite. No dia seguinteconduzem Isadora a Ellis Island, para interrogá-la, ela é liberada <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> duashoras.Isadora recebe <strong>os</strong> jornalistas em seu luxu<strong>os</strong>o salão, <strong>no</strong> convés do Paris.Eles perguntam com ela conheceu seu marido.Bem... Sou uma mística... Certa <strong>no</strong>ite, enquanto dormia, minha alma <strong>de</strong>ixoumeu corpo e elevou-se até o mundo das almas. Foi la que encontrei a alma<strong>de</strong> Serguei. Apaixonamo-n<strong>os</strong> imediatamente. Como as almas po<strong>de</strong>m fazêlo.E, quando n<strong>os</strong>s<strong>os</strong> corp<strong>os</strong> se encontraram, amamo-n<strong>os</strong> <strong>no</strong>vamente e n<strong>os</strong>casam<strong>os</strong>. Não é apenas um casamento <strong>de</strong> amor. É também o casamentoda Rússia com <strong>os</strong> Estad<strong>os</strong> Unid<strong>os</strong>. (LEVER, 1988, p. 297).Na tar<strong>de</strong> <strong>de</strong> 07 <strong>de</strong> outubro, Isadora da seu primeiro recital. E <strong>no</strong> final elafazia discurs<strong>os</strong> a favor da Rússia, dizendo que a Rússia e <strong>os</strong> estad<strong>os</strong> unid<strong>os</strong> secompletam. “O dia em que essas duas gran<strong>de</strong>s nações conseguirem enten<strong>de</strong>r-se


87marcará a aurora <strong>de</strong> uma <strong>no</strong>va era”.Isadora dançava todas as <strong>no</strong>ites para salas lotadas e entusiastas. No finalela sempre pronunciava discurs<strong>os</strong> i<strong>de</strong>alistas da Rússia, evocando a amiza<strong>de</strong> entre<strong>os</strong> dois pov<strong>os</strong>.Seu empresário lhe advertia que isso era propaganda e que ia custar caro.Para Isadora, ela se colocava apenas <strong>no</strong> terre<strong>no</strong> artístico, mas <strong>os</strong> american<strong>os</strong>tinham terror e ódio da Rússia.No dia em que ela se apresentou em B<strong>os</strong>ton, a cida<strong>de</strong> mais puritana d<strong>os</strong>EUA, seu empresário lhe pediu prudência. Mas <strong>de</strong> que adiantava pedir prudência aIsadora Duncan?Em seu espetáculo, ela dançou com uma túnica vermelha transparente.Estimulada pela h<strong>os</strong>tilida<strong>de</strong> do público, ela insistia em seus discurs<strong>os</strong>.Muit<strong>os</strong> espectadores <strong>de</strong>ixavam a sala antes do final do show, chocad<strong>os</strong> porsua semi-nu<strong>de</strong>z. (LEVER, 1988, p. 299-300).De alguma forma, não há certeza <strong>de</strong> como ocorreu, mas dizem que em meioa apresentação seus sei<strong>os</strong> ficaram nus. Isadora diz que nunca <strong>de</strong>scuidou da roupa.Com estas palavras ela fez explodir o público:Isto que é a beleza! Essa túnica é vermelha! Eu também sou vermelha,pois é a cor da vida e do vigor. Os american<strong>os</strong> são selvagens, mas nuncame <strong>de</strong>ixarei domar por eles. A verda<strong>de</strong>ira vida não esta aqui. (LEVER,1988, p. 301).Alguns minut<strong>os</strong> <strong>de</strong>pois, a<strong>os</strong> repórteres que estavam em tor<strong>no</strong> <strong>de</strong>la <strong>no</strong> CopleyPlaza Hotel, Isadora <strong>de</strong>clara:Se minha Arte simboliza alguma coisa, é a libertação da mulher esua emancipação. A mulher <strong>de</strong>ve libertar-se das estreitas convenções queconstituem a trama do puritanismo da Nova Inglaterra... Preferiria dançarcompletamente nua a pavonear-me em roupas sugestivas, como fazemhoje tantas americanas. A nu<strong>de</strong>z é a verda<strong>de</strong>, é a beleza, é a arte. Eis porque nunca po<strong>de</strong>rá ser vulgar... Meu corpo é o templo <strong>de</strong> minha arte.Exponho-o como um relicário para o culto da beleza.Querem que lhes diga qual é o mal que corrói <strong>os</strong> puritan<strong>os</strong> <strong>de</strong>


88B<strong>os</strong>ton? É sua hipocrisia. (LEVER, 1988, p. 301).Isadora havia conseguido por uma cida<strong>de</strong> inteira contra ela, o prefeito a<strong>de</strong>clarava in<strong>de</strong>sejável na cida<strong>de</strong>. Seu empresário estava enfurecido.Nova etapa <strong>de</strong> sua turnê: Chicago. No final da apresentaçãomeu empresário me disse que se eu voltasse a fazer discurs<strong>os</strong> a turnêestaria cancelada. Pois bem, a turnê esta cancelada. Vou voltar a M<strong>os</strong>cou,on<strong>de</strong> existe vodca, música, poesia, dança... E a liberda<strong>de</strong>! (LEVER, 1988,p. 302).Para <strong>os</strong> dois últim<strong>os</strong> recitais <strong>de</strong> Isadora se esperava um escândalo, masforam <strong>os</strong> mais calm<strong>os</strong>.Isadora <strong>de</strong>clarou que ela não queria dizer “vermelha”, <strong>no</strong> sentido <strong>de</strong>bolchevique, mas sim <strong>no</strong> sentido <strong>de</strong> ser criativa. Gorki havia dividido o mundo emtrês cores, e vermelh<strong>os</strong> eram <strong>os</strong> criativ<strong>os</strong>.Iessiênin, se afundava cada vez mais na n<strong>os</strong>talgia e <strong>no</strong> álcool, e aindaacreditava que M<strong>os</strong>cou era a coisa mais bela que já tinha visto.Isadora e Serguei tomam o caminho para o OESTE. Indianápolis; o prefeitotoma a precaução <strong>de</strong> por policiais para impedi-la <strong>de</strong> se <strong>de</strong>spir.A turnê termina em Brooklin na <strong>no</strong>ite <strong>de</strong> natal, e Isadora quer aproveitar paradançar a marcha fúnebre em homenagem a Sahar Bernhardt. Falaram que seria um<strong>de</strong>sastre pois a atriz ainda estava viva.Sempre havia uma garrafa <strong>de</strong> champanhe ou uísque em seu camarim,<strong>de</strong>ssa vez ela tomou uma garrafa <strong>de</strong> contrabando, o que refletiu negativamente emsua apresentação. No meio da apresentação o pianista Max Rabi<strong>no</strong>vitch, sai <strong>de</strong>cena, já estava ofegante por ficar recuperando o compasso. Mas que não seja porisso, Isadora dança sem música. E <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> um tempo a direção achou maispru<strong>de</strong>nte baixar as cortinas. A turnê durou meses.


89Isadora nem sabia on<strong>de</strong> tinha ido parar a fortuna que ela ganhou nessaturnê, pra ela tanto fazia, mas ela dizia que Serguei sofreu muito, pois ele g<strong>os</strong>tavamuito <strong>de</strong> gastar.Em 3 <strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 1923, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong>ssa conturbada turnê, na qual foramexpuls<strong>os</strong> do hotel Waldorf Astoria, e <strong>de</strong> outr<strong>os</strong> <strong>de</strong>vido as crises <strong>de</strong> Serguei, quandoele bebia semeava a discórdia, quebrava tudo que via pela frente e agredia Isadorae quem estivesse por perto fisicamente, o casal vai para paris.Quando perguntavam a Isadora como que ela agüentava tal tratamento, elarespondia que ele não passava <strong>de</strong> um camponês, e ao mesmo tempo era um gênio.Quando ela estava embarcando <strong>no</strong> navio, <strong>os</strong> repórteres a seguiam, eperguntavam porque ela se recusava a falar. E ela respon<strong>de</strong>u:Vocês ainda querem que eu fale <strong>de</strong>pois do mal que me fizeram?Não cessaram <strong>de</strong> <strong>de</strong>formar minha imagem durante toda a minhapermanência nesse pais. Fizeram <strong>de</strong> mim uma perig<strong>os</strong>a comunista e umaalcoólatra... Prefiro viver <strong>de</strong> pão preto e vodca e sentir-me livre, gozar as<strong>de</strong>licias da vida americana sabendo-me prisioneira...Meu marido e eu som<strong>os</strong> revolucionári<strong>os</strong>! Enten<strong>de</strong>m? Não niilistasou Bolcheviques. (LEVER, 1988, p. 304-305).Isadora manda um telegrama para sua amiga Mary Desti, para que elavenha recebê-la em Cherbourg. Isadora <strong>de</strong>sce primeiro do trem e rapidamente avisaMary que Iessiênin era um tiquinho excêntrico.Assim que chega em Paris, a imprensa americana se ocupa <strong>no</strong>vamente<strong>de</strong>la. Eles alegaram manchas azuis pelo r<strong>os</strong>to <strong>de</strong>la, ela dizia que não era enquim<strong>os</strong>ee sim seu rímel. Quando lhe perguntam sobre sua temporada n<strong>os</strong> EUA, ela diz quefoi um martírio... "Os american<strong>os</strong> ven<strong>de</strong>riam o pai, a mãe e até a alma”.Para festejar seu regresso, Isadora encomenda um jantar <strong>no</strong> quarto doCrillon. Serguei estava com um ótimo humor, mas <strong>de</strong> (10) <strong>de</strong>z em (10) <strong>de</strong>z minut<strong>os</strong>ele <strong>de</strong>scia ao hall do hotel, ate que uma <strong>de</strong>ssas vezes ele não voltou mais, Isadora


90estava preocupadíssima, e foi ver o que estava acontecendo, perguntou a camareirase tinha visto Serguei, ela disse que muitas vezes ele foi pedir champanhe para ela,e achava que ele tinha saído.Ao perceber que já se passou algum tempo <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que Serguei sai, Isadoraconfessa a Mary, que é melhor elas se escon<strong>de</strong>rem on<strong>de</strong> ele não p<strong>os</strong>sa encontrálas,pois ele era um pouco esquisito, e quanto mais tempo ele passava fora <strong>de</strong> casa,se tornava mais esquisito, quando ele bebe, fica furi<strong>os</strong>amente louco e torna-seperig<strong>os</strong>o.E Mary lhe pergunta como que Isadora suporta isso, Isadora respon<strong>de</strong> quealgo terrivelmente a ligava nele, ela não sabe ao certo, talvez seja a imaginação<strong>de</strong>la.Isadora não quer sair antes <strong>de</strong> ouvir Seguei entrar, para saber em queestado ele esta.E ele chega <strong>de</strong>rramando pragas em russo que se misturam com asvociferações do porteiro. Mary toma Isadora pela mão e a empurra para <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>seu quarto e a fecha a chave. Serguei entra como um louco dando soc<strong>os</strong> na porta,Mary continua a empurrar Isadora fazendo com que ela <strong>de</strong>sce <strong>os</strong> 3 andares, <strong>no</strong>momento que vão saindo Isadora pe<strong>de</strong> ao zelador para cuidar <strong>de</strong> seu maridoenquanto ela chama um médico pois ele estava doente. Elas vão buscar o medico<strong>de</strong> serviço <strong>de</strong> um hotel próximo.Ela chama o médico e tenta explicar a situação do marido <strong>de</strong>la e ao chegar<strong>no</strong> hotel <strong>de</strong>pararam com tamanha <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>m, <strong>os</strong> h<strong>os</strong>pe<strong>de</strong>s estavam tod<strong>os</strong>apavorad<strong>os</strong>.Isadora tenta explicar que essa crise era por causa do choque nerv<strong>os</strong>o equanto a<strong>os</strong> estrag<strong>os</strong> tudo será acertado. A resp<strong>os</strong>ta foi para que Serguei não


91colocaria mais <strong>os</strong> pés naquele hotel.A policia entregou a elas uma chave, era da maleta <strong>de</strong> Serguei. De tantoMary insistir Isadora resolveu abrir a mala. Encontraram vári<strong>os</strong> maç<strong>os</strong> <strong>de</strong> dólarescom valores diferentes, misturad<strong>os</strong> com roupas e maquiagens que Isadoraacreditava ter perdido. Uma quantia <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> dois mil dólares. Pela manhã elaspagaram a in<strong>de</strong>nização <strong>no</strong> hotel, e o médico disse que seu marido precisava <strong>de</strong>cuidad<strong>os</strong> h<strong>os</strong>pitalares.Foi emitido contra Serguei um mandato <strong>de</strong> expulsão, ele tinha que sair daFrança, a policia se recusa em <strong>de</strong>ixá-lo em liberda<strong>de</strong>.Jeanne acompanha Serguei ate Berlim, Isadora diz que ira assim querecuperar suas forças.Em uma conversa com Mary, Isadora diz não acreditar <strong>no</strong> casamento,men<strong>os</strong> ainda <strong>no</strong> casamento entre artistas, Serguei ama o chão que ela pisa, masquando enlouquece po<strong>de</strong>ria ate matá-la. Ela havia perdido todas as esperanças emtentar curar sua loucura.No mesmo dia, Serguei respon<strong>de</strong> algumas perguntas <strong>de</strong> uns jornalistas, elediz que Isadora esta temporariamente brava, que logo ira procurá-lo na Rússia, eque o que ocorreu <strong>no</strong> hotel, foi um inci<strong>de</strong>nte, uma necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> expressão,quebrou as convenções, e quanto a<strong>os</strong> moveis, Isadora havia pago tudo. (LEVER,1988, p. 301-313).Isadora estava doente em Versalhes e preocupada, Serguei atacava Isadoracom brinca<strong>de</strong>irinhas provocadoras, mas não levou muito tempo para ele sentirsauda<strong>de</strong> <strong>de</strong>la, e lhe mandar cinco a seis telegramas por dia, Isadora estava convictaque ele se mataria sem ela.Para Isadora nada era imp<strong>os</strong>sível, e sem dinheiro foram <strong>de</strong> carro para


92Berlim. Mary dizia que Isadora era “como o sol; ela sorria e você podia morrertotalmente, sentindo que estava realizando alguma gran<strong>de</strong> façanha”. (KURTH, 2004,p. 527-528).Às <strong>de</strong>z horas da <strong>no</strong>ite,ei-las em Berlim, diante do hotel Adlon. Esseniné avisado imediatamente. Salta <strong>no</strong> hall como um louco, procura Isadoracom o olhar, avista-a, precipita-se em seus braç<strong>os</strong>, sufoca-a <strong>de</strong> beij<strong>os</strong>acompanhad<strong>os</strong> <strong>de</strong> exclamações apaixonadas. Os viajantes observavamcom o rabo do olho aquele casal <strong>de</strong> exaltad<strong>os</strong> enlaçad<strong>os</strong> <strong>no</strong> meio do hall,que parece ter esquecido tudo em tor<strong>no</strong> <strong>de</strong>les, como dois náufrag<strong>os</strong> que seencontraram numa ilha <strong>de</strong>serta. Suas efusões são interrompidas pelogerente do hotel. (LEVER, 1988, p. 318).O gerente do hotel sabendo das crises <strong>de</strong> Serguei, diz que não há maisquart<strong>os</strong>, e eles procuram por outro hotel o Palace hotel, lhe oferece a suíte real, euma recepção é organizada <strong>no</strong> salão para comemorar o reencontro. Fica <strong>de</strong>cididoque essa <strong>no</strong>ite será inteiramente russa, com caviar, vodca à vonta<strong>de</strong>, cant<strong>os</strong> ebalalaicas.Tudo correra bem na festa, <strong>de</strong> repente ninguém sabe o porquê elescomeçam brigar, prat<strong>os</strong> começam a voar pelo local, <strong>os</strong> amig<strong>os</strong> tentam acalmarSerguei, mas suas forças duplicavam quando ele tinha suas crises. (LEVER, 1988,p. 303).Isadora começa insultar Serguei em russo, com sotaque ianque, Serguei atoma n<strong>os</strong> braç<strong>os</strong> e beija-a, ajoelha e beija seus pés. Em seguida já lembra d<strong>os</strong>insult<strong>os</strong> e a joga <strong>no</strong> chão, ela fica histérica e com uma pilha <strong>de</strong> prat<strong>os</strong> na mão ela fazvoar tod<strong>os</strong> com toda a força Serguei manda chamar um médico, e lhe aplicam umainjeção <strong>de</strong> morfina.Isadora chama por Mary, e lhe confessa que não po<strong>de</strong>rá perdoar Serguei<strong>de</strong>ssa vez, pois ele havia passado d<strong>os</strong> limites, ele havia tocado na ferida <strong>de</strong>la, quesão seus filh<strong>os</strong>.Mary tenta fazê-la compreen<strong>de</strong>r que chegou ao ponto que a separação


93tor<strong>no</strong>u-se necessária.Isadora diz que seria o mesmo que abandonar uma criança doente, e queprimeiro voltara para a Rússia. (LEVER, 1988, p. 319-320).Isadora e Serguei foram expuls<strong>os</strong> <strong>de</strong> vári<strong>os</strong> hotéis, e ela teve que ven<strong>de</strong>r amobília da casa <strong>de</strong>la na Rue <strong>de</strong> la Pompe para comerem. (KURTH, 2004, p. 529).321).O suicídio assume em Serguei uma forma <strong>de</strong> obsessão. (LEVER, 1988, p.Ela não ousava mais ficar sozinha com ele, pois as cenas violentas eramcada vez mais fortes.Em outubro <strong>de</strong> 1924, Isadora estava em Berlim, à imprensa alemã sem<strong>os</strong>trava h<strong>os</strong>til com ela, era tratada como uma agente <strong>de</strong> propaganda estipendiadopelo gover<strong>no</strong> d<strong>os</strong> soviétic<strong>os</strong>.A Europa parecia um país inabitável, as pessoas com quem ela haviaassinado contrato sumiram com todas as receitas. Recusavam o visto em razão dasvinculações políticas <strong>de</strong> Isadora. “Quando era criança eu sonhava em quebrar omol<strong>de</strong> burguês e refazer o mundo”. (KURTH, 2004, p. 530-531).Não entendo nada <strong>de</strong> política. Só sei que <strong>de</strong>rramarei a ultima gota <strong>de</strong> meusangue para fazer avançar, por pouco que f<strong>os</strong>se, minha concepção dahumanida<strong>de</strong>. (LEVER, 1988, p. 344).Isadora tentava curar Serguei, mandou ele para uma clinica, ele voltou<strong>de</strong>sintoxicado, contratou dois enfermeir<strong>os</strong> para impedi-lo <strong>de</strong> beber, mas ele nãotardou a voltar a beber. (KURTH, 2004, p. 531- 533).Ela vai pra Rússia com ele, antes passam por Berlim, Mary volta para ficaem Paris. O público alemão que antes a adorava, agora lhe vira as c<strong>os</strong>tas achamando <strong>de</strong> bolchevista.A imprensa dizia:


94As danças <strong>de</strong> Isadora Duncan são como folhas <strong>de</strong> outo<strong>no</strong>: belas em seu<strong>de</strong>clínio e um suas cores fanadas, sublimes como o crepúsculo queprece<strong>de</strong> a <strong>no</strong>ite... Isadora é apenas uma lembrança da dançarina <strong>de</strong> outr<strong>os</strong>temp<strong>os</strong>. A soberba plástica corporal parece a mesma, mas ela já nãofascina por seu ímpeto. Sua força vital estilou-se. (LEVER, 1988, p. 335).apresentações.Naturalmente, Isadora não resistia a discursar para o público <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> suasE a imprensa: “Foi na União Soviética que <strong>de</strong>gradou sua arte, colocando-a aserviço da i<strong>de</strong>ologia comunista”.Rússia.Irmã convenceu Isadora a ir para uma estação <strong>de</strong> águas curativas Narzan naQuando Isadora estava na plataforma Serguei corre até ela, ela emocionadatenta persuadi-lo a ir com ela, ele diz que ira <strong>no</strong> final <strong>de</strong> semana. (KURTH, 2004, p.538-539).Depois <strong>de</strong> duas semanas <strong>de</strong>scansando, Isadora resolveu fazer uma turnêpelo Cáucaso. Seu primeiro recital foi quase cancelado pela policia Tcheca (a policiasecreta russa). Por soarem durante o ensaio da Marcha eslava feito ao ar livre, <strong>os</strong>acor<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Deus salve o czar.A policia lhe advertiu que ela não po<strong>de</strong>ria se apresentar, a men<strong>os</strong> que aMarcha eslava foi retirada do programa. Mas ela se apresentou e apelou ao público.Isadora começou: N<strong>os</strong> bastidores há membr<strong>os</strong> da Policia. O público semexeu nas poltronas, apreensivo. Eles vieram me pren<strong>de</strong>r! O público voltoua se acalmar e se preparou para se divertir. Eles vieram me pren<strong>de</strong>r casoeu tente dançar para vocês esta <strong>no</strong>ite a Marcha eslava <strong>de</strong> Tchaikovsky.Mas eu vou dançar esse número mesmo com o risco <strong>de</strong> eles mepren<strong>de</strong>rem <strong>de</strong>pois. Afinal <strong>de</strong> contas, a prisão não po<strong>de</strong> ser muito pior doque o meu quarto <strong>no</strong> Grand Hotel. Nesse ponto o público riuestrond<strong>os</strong>amente com a tirada da dançarina. A maioria d<strong>os</strong> que ali estavameram h<strong>os</strong>pe<strong>de</strong>s e sofredores daquele mastodonte infestado <strong>de</strong> rat<strong>os</strong> einset<strong>os</strong>. (KURTH, 2004, p. 540).Na <strong>no</strong>ite seguinte a policia foi ao Hotel para pren<strong>de</strong>r Isadora, mas Schnei<strong>de</strong>rcontornava a situação, enquanto Isadora gritava: “Svoloch!”, para a policia, era o pior


95xingamento em russo que ela conhecia. Depois <strong>de</strong> inflamar a policia Isadora achoumais seguro se afastarem daquele lugar.Em Tbilisi, ela conheceu as escolas e estúdi<strong>os</strong> “plástic<strong>os</strong>” que haviam semultiplicado na Rússia antes da Revolução. De Isadora tinham adotado apenas <strong>os</strong>pés <strong>de</strong>scalç<strong>os</strong>, as túnicas, a música, <strong>os</strong> tapetes e cortinas, mas tinham ig<strong>no</strong>rado oprincipal, a naturalida<strong>de</strong> do movimento, a simplicida<strong>de</strong> e a expressivida<strong>de</strong>.Ao ver uma apresentação Isadora foi até o palco dizendo que o que estavamfazendo era medonho, e atirando as r<strong>os</strong>as <strong>no</strong> palco disse: “Dep<strong>os</strong>ito essas flores <strong>no</strong>túmulo das minhas esperanças!”.Naquela <strong>no</strong>ite Isadora <strong>de</strong>sapareceu, Irmã a encontrou dias <strong>de</strong>pois em umapartamento com um jovem poeta, ela estava alegre e sorri<strong>de</strong>nte, foi eleita a musa<strong>de</strong>sse poeta e seus amig<strong>os</strong>. Era o tônico que precisava para superar a obsessão porSerguei. (KURTH, 2004, p. 540-542).Em sua Escola as crianças eram talent<strong>os</strong>as e estavam saudáveis eentusiasmadas; ela tentava sempre manter a escola, mas <strong>os</strong> alun<strong>os</strong> <strong>de</strong> M<strong>os</strong>couforam <strong>os</strong> últim<strong>os</strong> que Isadora teve, e <strong>os</strong> melhores na sua avaliação. Schnei<strong>de</strong>r dizia:A sua arte <strong>de</strong> dança, a bela naturalida<strong>de</strong> d<strong>os</strong> seus moviment<strong>os</strong>, que tinhamuma leveza e uma expressivida<strong>de</strong> inconcebíveis – Isadora sabia transmitirtudo a<strong>os</strong> alun<strong>os</strong> como se o seu sangue corresse nas veias <strong>de</strong>les. [...] Elavivia através d<strong>os</strong> moviment<strong>os</strong> d<strong>os</strong> seus alun<strong>os</strong>, n<strong>os</strong> gir<strong>os</strong> da cabeça <strong>de</strong>les,como eles projetavam <strong>os</strong> joelh<strong>os</strong> para criar uma única linha flexível daperna até o dorso e do antebraço até a mão. A todo o momento víam<strong>os</strong>diante <strong>de</strong> nós uma Isadora revivida. (KURTH, 2004, p. 537).A única coisa que Isadora sabia é que iria continuar a <strong>de</strong>dicar sua vida aensinar crianças. (KURTH, 2004, p. 557).Por essa época ela conta ao jornalista George Sel<strong>de</strong>s, que Serguei haviapartido para o Cáucaso, pois ele queria se tornar ladrão, para ter emoções esensações que <strong>de</strong>pois expressará em seus poemas. Quando ele pergunta se ela


96esta divorciada, ela respon<strong>de</strong> que não, porque o <strong>de</strong>partamento <strong>de</strong> divórci<strong>os</strong> <strong>de</strong>M<strong>os</strong>cou fechava ao meio-dia, e como eles bebiam a <strong>no</strong>ite, não conseguiam chegarlá até a hora certa, e se não f<strong>os</strong>se isso eles teriam se divorciado e casad<strong>os</strong> variasvezes.Isadora estava sem dinheiro, e precisa por sobrevivência. Era necessárioven<strong>de</strong>r sua casa <strong>de</strong> Paris. Então chegam boas <strong>no</strong>ticia, ela procura por sua irmãElizabeth que recentemente abrirá uma escola <strong>de</strong> dança em Potsdam, mas ela da <strong>de</strong>cara com o marido da irmã que bate aporta na sua cara, então Augustin que estavaem Nova Iorque lhe manda o dinheiro para a sua viajem até a França, que agora o“cartel das esquerdas” vencerá as ultimas eleições e a autorizou ela voltar paraFrança, Augustin também lhe promete uma ajuda mensal.Em Paris ela recebe a ajuda <strong>de</strong> amig<strong>os</strong>, po<strong>de</strong> se h<strong>os</strong>pedar em hotéis,gratuitamente, para seu <strong>no</strong>me continuar n<strong>os</strong> clientes celebres.É nessa época que esperando a venda <strong>de</strong> sua casa, que começa escreversuas memórias, com o único intuito <strong>de</strong> ganhar dinheiro, ela já havia pensado nissoantes, a vida <strong>de</strong>la foi mais interessante do que qualquer romance e mais rica emaventura que tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> filmes do mundo. (LEVER, 1988, p. 336-337).Quero que este livro seja algo que valha a pena <strong>de</strong>ixar. Só valerá a penafazê-lo se ele for um livro que ajudará as pessoas a viverem. Quero dizer averda<strong>de</strong> sobre <strong>os</strong> meus amores e a minha arte porque o mundo inteiro écriado com mentiras. N<strong>os</strong>so único alimento são as mentiras. A maioria d<strong>os</strong>seres human<strong>os</strong> per<strong>de</strong> atualmente 25 a trinta an<strong>os</strong> <strong>de</strong> sua vida antes <strong>de</strong>superar as mentiras reais e convencionais que <strong>os</strong> cercam. (KURTH, 2004,p. 561).Isadora dizia que a Arte era sagrada, era a coisa mais sagrada <strong>de</strong>pois dascrianças, seu único amor foi pelas crianças, <strong>os</strong> homens queriam p<strong>os</strong>suir seu corpo esua alma, e isso não era amor, era histeria.Quando estava em M<strong>os</strong>cou, eu vi criancinhas dormindo apertadasumas contra as outras diante <strong>de</strong> portas e sobre montes <strong>de</strong> lixo. Sehouvesse amor <strong>no</strong> mundo, isso seria p<strong>os</strong>sível? [...] Isso era amor? [...] Se


97existe <strong>no</strong> mundo essa coisa chamada amor, as pessoas permitiriam umacoisa <strong>de</strong>ssas? Elas po<strong>de</strong>riam ia para sua casa confortável sabendo que hácrianças sofrendo assim? Se, se permite que as crianças sofram, é porquenão há amor verda<strong>de</strong>iro <strong>no</strong> mundo. (KURTH, 2004, p. 562).Com <strong>os</strong> seus pensament<strong>os</strong> voltad<strong>os</strong> à <strong>de</strong>fesa da liberda<strong>de</strong>, amor, respeitohuma<strong>no</strong> e à Dança espontânea.No outo<strong>no</strong> <strong>de</strong> 1925, Isadora é solicitada pelo Partido Comunista afundar uma escola <strong>de</strong> dança <strong>de</strong>stinada às crianças oriundas d<strong>os</strong> mei<strong>os</strong>populares. Chamaria suas melhores alunas <strong>de</strong> M<strong>os</strong>cou para servi-lhe <strong>de</strong>monitora. Apesar do interesse suscitado pelo projeto nas instanciasdiretivas do Partido, as discussões não chegam a bom termo e ela acaba<strong>de</strong>sistindo. (LEVER, 1988, p. 337-338).No dia 28 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1925, Serguei suicidou-se em Leningrado. Nofinal alcoolismo, insônia, <strong>de</strong>líri<strong>os</strong> e paranóia tinham sido <strong>de</strong>mais para ele. Saindo <strong>de</strong>um tratamento numa clínica psiquiátrica, com 30 an<strong>os</strong>, ele se enforcou num ca<strong>no</strong> <strong>de</strong>aquecimento do Hotel d´Angleterre, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> cortar o pulso e <strong>de</strong>ixar um poemaescrito com seu sangue:A<strong>de</strong>us, minha amiga, a<strong>de</strong>us,Meu amor, você está <strong>no</strong> meu coração.Estava pre<strong>de</strong>stinado que iríam<strong>os</strong> n<strong>os</strong> separarE n<strong>os</strong> reunirm<strong>os</strong> <strong>de</strong>pois.A<strong>de</strong>us: sem ter <strong>de</strong> suportar um aperto <strong>de</strong> mão.Que não haja tristeza – cenh<strong>os</strong> franzid<strong>os</strong>.Não há nada <strong>de</strong> <strong>no</strong>vo em morrer agora,Mas viver não é nem um pouco mais <strong>no</strong>vo.(KURTH, 2004, p. 572-573).Nesse momento, <strong>os</strong> amig<strong>os</strong> envolvem Isadora com afeição e a encorajam aretornar o seu trabalho, ajudam em sua situação financeira que se tornava cada vezmais <strong>de</strong>sesperadora. Isadora parecia já não ter lagrima em seus olh<strong>os</strong> por tantochorar, tinha a impressão <strong>de</strong> ter exaurido a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sofrimento huma<strong>no</strong>, porvezes era tentada a seguir o exemplo <strong>de</strong> Serguei e se jogar <strong>no</strong> mar.Em 1926, o que restava para Isadora era um drinque e um rapaz. Dizia queseu coração não estava partido, havia apenas se vergado e que não há passadopara nenhuma mulher, a men<strong>os</strong> que ela escolha viver <strong>de</strong>le. (KURTH, 2004, p. 576).


98<strong>no</strong> <strong>no</strong>me.Isadora sentia que não tinha mais o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> dar beleza ao mundo.Victor Seroff, um pianista russo se torna seu próximo amante.Depois da Segunda Guerra Mundial a escola <strong>de</strong> Isadora sobreviveu apenasSeroff tinha uma rival, o <strong>no</strong>vo arcanjo <strong>de</strong> Isadora, Merce<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Ac<strong>os</strong>ta.Diziam que as pessoas tinham abandonado Isadora, por ela ter secomportado mal. Merce<strong>de</strong>s foi até ela <strong>no</strong> Hotel, on<strong>de</strong> ela estava passando fome.Isadora viu nela um ser celestial.Ela apoio Isadora, e não se saber dizer até em que ponto a amiza<strong>de</strong>s <strong>de</strong>laschegaram. (KURTH, 2004, p. 582-584).Merce<strong>de</strong>s dizia que talvez Isadora não teve um inimigo pior que ela própria.Na <strong>de</strong>spedida Isadora <strong>de</strong>ixou junto ao travesseiro <strong>de</strong> Merce<strong>de</strong>s duas r<strong>os</strong>as, umabranca e uma vermelha, com um cartão: “A branca que toca o céu é VOCÊ, querida;e a vermelha é a terra – EU. Eu a adoro - Isadora”. (KURTH, 2004, p. 604).Depois que Merce<strong>de</strong>s foi para Paris, Isadora e Ruth Mitchel foram para Nice,com um Renaut comprado por Ruth.Em Nice alugaram um estúdio <strong>de</strong> frente para o mar. Tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> dias Isadoraensaiava, acompanhada <strong>de</strong> Victor Seroff, que <strong>de</strong>dica a Isadora uma <strong>de</strong>voçãoapaixonada.O mar agia sobre Isadora com um elixir, ela se tornava uma pessoatotalmente diferente, muito suave e terna. E começou a querer dançar. (KURTH,2004, p. 586).Seroff lhe traz o dom suntu<strong>os</strong>o da esperança. Ele era um rapaz doce,incapaz <strong>de</strong> armar escândal<strong>os</strong>. (LEVER, 1988, p. 339).E a vida com efeito, parece recomeçar. Em seu estúdio <strong>de</strong> Nice, como emseu começo, ela da recitais para alguns convidad<strong>os</strong> <strong>de</strong> re<strong>no</strong>me... Alguns<strong>de</strong>les logo se tornaram habitues, e <strong>de</strong>pois amig<strong>os</strong>. Jean Cocteau


99comparece <strong>de</strong> quando em quando para ler seus poemas, muitas vezesacompanhado <strong>de</strong> Picasso ou do jovem ator Marcel Herrand. O serãotermina em <strong>no</strong>itadas n<strong>os</strong> botec<strong>os</strong> da Cote. (LEVER, 1988, p. 340).Seroff, era freqüentemente chamado a Paris, então Isadora chegava aohotel <strong>de</strong>pois das <strong>no</strong>itadas com o dia clareando, sempre acompanhada <strong>de</strong> algumjovem forte, operário ou estivador, conquistado <strong>no</strong> balcão após negociações, e elesnão cobravam nada, acreditava que aquele realmente a <strong>de</strong>sejava.A promiscuida<strong>de</strong> torna-se para ela uma ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong>voradora, irresistível,obsedante. Busca incansável, insaciável. Uma promiscuida<strong>de</strong> droga, tirana, emfrenesi. (LEVER, 1988, p. 340).Com suas esperanças sempre frustradas e seus <strong>de</strong>spertares comg<strong>os</strong>to <strong>de</strong> amor perdido, com sua ronda infernal <strong>de</strong> corp<strong>os</strong> e r<strong>os</strong>t<strong>os</strong>, tod<strong>os</strong>diferentes e tod<strong>os</strong> <strong>de</strong>sesperadamente <strong>os</strong> mesm<strong>os</strong>, com a amarga solidãointima como preço a pagar pelo turbilhão <strong>de</strong> um instante, com o perigoespreitando em casa esquina e, sobretudo, com a angustia implacável elancinante do tempo que foge. Busca imp<strong>os</strong>sível, ao termo da qual ela sereencontra face a face com a angustia. Nesses moment<strong>os</strong>, o álcool e apequena morte que se seguem evitam olhar a outra face, a verda<strong>de</strong>ira,aquela que põe fim a tudo e à qual ela aspira com toda a sua impotentefraqueza. Tão fácil e tão difícil... “Se eu tivesse a coragem <strong>de</strong> Serguei”,suspira ela as vezes. Mas, à forças <strong>de</strong> repelir, acaba-se por não maisacreditar. A coisa se converte <strong>no</strong> leitmotiv d<strong>os</strong> fins <strong>de</strong> <strong>no</strong>ite impregnad<strong>os</strong><strong>de</strong> vapores turv<strong>os</strong>. (LEVER, 1988, p. 240-241).Certa <strong>no</strong>ite, ela convida seus amig<strong>os</strong> para dançar para eles, sua condiçãofísica já não era a mesma, e em um momento que ela sai <strong>de</strong> palco para trocar <strong>de</strong>roupa, <strong>os</strong> convidad<strong>os</strong> ficam petrificad<strong>os</strong> em seus lugares, não ousam seentreolharem, em um silêncio constrangedor, vergonh<strong>os</strong>o, com sentimento <strong>de</strong> culpa.Jean Cocteau rompe o silêncio e <strong>de</strong>clara dizendo que Isadora havia lhes dado aresp<strong>os</strong>ta, que Isadora havia matado a feiúra e celebrado a verda<strong>de</strong> do corpo!(LEVER, 1988, p. 342).Jean fala a seu amigo Picasso:O importante, para ela, é viver em massa, para alem do belo e do feio,empunhar a vida e vivê-la nariz a nariz, olh<strong>os</strong> n<strong>os</strong> olh<strong>os</strong>. È a escola <strong>de</strong>Rodin, Meu velho. Isadora é um Rodin. Pouco se lhe da que o vestido


100<strong>de</strong>slize e <strong>de</strong>scubra formas informes, que as carnes tremam e o suorescorra. Tudo permanece aquém do impulso. (LEVER, 1988, p. 342).Quando eu era uma jovem encantadora, eu dançava como uma jovemencantadora; quando eu era mãe, eu dançava como mãe, e agora,suponho, danço como sabe-se lê o que. (KURTH, 2004, p. 587).Ruth havia voltado para Nova Iorque, não conseguiu fazer com que Isadora<strong>de</strong>sse um passo à frente se quer. (KURTH, 2004, p. 588).Mary foi a única amiga que Isadora teve por toda a vida. Mary teve um avisão com a mãe <strong>de</strong> Isadora lhe dizendo que Isadora precisava <strong>de</strong>la.Mary começa cuidar <strong>de</strong> Isadora, conhecendo bem a amiga, a leva emboradas festas <strong>no</strong> momento em que sabia que Isadora agiria <strong>de</strong> modo extravagante.(KURTH, 2004, p. 600).Ela contou a Mary que estava escrevendo suas memórias para ganhardinheiro, mas que estava <strong>de</strong> <strong>no</strong>vo sem dinheiro e atolada em dividas, vivendo o diaa-dia.(LEVER, 1988, p. 343).Ela não entendia porque todo mundo era tão prático, as pessoas que elaconheciam achavam que a vida era apenas segunda-feira, terça-feira, quarta-feira,quinta-feira, sexta-feira, sábado, domingo e enterro! (KURTH, 2004, p. 589).Seu manuscrito parece ter passado pelas mã<strong>os</strong> <strong>de</strong> outras pessoas, comoMerce<strong>de</strong>s e <strong>os</strong> editores, Isadora queria que seu livro f<strong>os</strong>se como Leaves of Grass <strong>de</strong>Whitman.Os amig<strong>os</strong> <strong>de</strong> Isadora escreviam sobre ela como se ela já estivesse morta,ela <strong>os</strong> mandava para o infer<strong>no</strong>. “As pessoas dizem que eu bebo, mas como é que eup<strong>os</strong>so encará-las sem beber?” (KURTH, 2004, p. 592-593-596).Mary era a única pessoa que ela conseguia ficar perto, as outras a irritava,não a compreendiam. (KURTH, 2004, p. 605).


101E falava pra Mary sobre a sauda<strong>de</strong> que tinha da Rússia, apesar <strong>de</strong> tudo oque ela havia sofrido lá, tinha sido lá que ela havia atingido a mais alta realização <strong>de</strong>seu ser. “Nada é imp<strong>os</strong>sível naquele país vasto e fascinante”.Mary tinha um presente para Isadora. “Dora. Foi pintado em sua intençãopor um jovem artista russo, Roma Chatov”.Era um pesado xale <strong>de</strong> crepe-da-china vermelho, que Isadora <strong>de</strong>sdobravalentamente, <strong>de</strong> dois metr<strong>os</strong> <strong>de</strong> comprimento por um metro e vinte <strong>de</strong> largura, <strong>no</strong>centro um pássaro imenso e fantástico pintado <strong>de</strong> amarelo e cujas asas se<strong>de</strong>sdobram <strong>de</strong> um lado ao outro do retângulo, em volta em preto inscrições chinesas.Isadora adora e diz a Mary que aquele xale mágico jamais a <strong>de</strong>ixará, quereaquecerá o seu coração.Mary era enfeitiçada, encantada por Isadora e queria fazê-la restituir-se asua arte, arrancá-la da miséria e fazer a <strong>de</strong>usa voltar ao palco.Orientando ela a fazer um regime, parar <strong>de</strong> beber, voltar ao trabalho,reencontrar seu empresário, preparar um programa. E Mary cuidaria do resto. Elaconseguiu um recital único <strong>no</strong> teatro Mogador na sexta 8 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1927. Salalotada Schubert e Wagner, finalmente ressurgia Isadora, na platéia aclamações elagrimas. Mary Desti conheceu a glória. (LEVER, 1988, p. 334-345).Isadora propõe a Mary vir morar com ela em Nice, pois lá Isadora po<strong>de</strong>riatrabalhar diante do mar, e era tão tranqüilo e calmo....minhas gran<strong>de</strong>s cortinas azuis nas pare<strong>de</strong>s, divãs <strong>de</strong> veludo, centenas <strong>de</strong>almofadas espalhadas aqui e ali, lâmpadas <strong>de</strong> alabastro envolvendo tudoisso numa luz suave... (LEVER, 1988, p. 346).Antes da partida para Nice, o pianista que estava com Isadora, Seroff, nãoagüenta mais ser sustentado por Isadora, e resolve seguir outro caminho.


102Em Nice Isadora da uma olhada <strong>no</strong> manuscrito <strong>de</strong> Minha Vida e lamenta,tinha feito aquilo apenas por dinheiro. (KURTH, 2004, p. 609).Isadora e Mary vão a um barzinho, on<strong>de</strong> Isadora conhece “Bugatti”, Be<strong>no</strong>itFalchetto, a principio Mary achou que ele f<strong>os</strong>se um chofer, Isadora dizia que ele eraum <strong>de</strong>us grego disfarçado. Depois <strong>de</strong>scobrem que ele era concessionário da marcaBugatti.Por essa época Isadora sentia sua alma extremamente leve. (LEVER, 1988,p. 348-350).Novamente ela se via sem dinheiro, e faz um pla<strong>no</strong> com Mary para elaspedirem dinheiro para Singer.Ele consente, e diz para Isadora que retornara <strong>no</strong> dia seguinte trazendo ocheque, às quatro horas.No dia seguinte batem timidamente na porta, era “Bugatti”.Isadora o convida para entrar, ele estava muito tímido por Isadora ser umagran<strong>de</strong> artista conhecida <strong>no</strong> mundo inteiro.Ela lhe oferece algo para beber, ele aceita e conversam um pouco sobre ocarro, e a compra, em meio a conversa ela se aproxima <strong>de</strong>le, passando-lhe a mã<strong>os</strong>obre <strong>os</strong> ombr<strong>os</strong> e a nuca, se aproximando <strong>de</strong>le.Nesse momento entra Singer. “Decididamente, você nunca vai mudar!” Dizele para Isadora.Isadora tenta contornar a situação, dizendo que aquele jovem estava aliporque Mary queria comprar um carro. Singer lembra que elas foram pedir dinheiro aele, e que se Mary tivesse dinheiro ela não o gastaria <strong>de</strong>ssa forma, Isadora com umsorriso <strong>de</strong>sarmante, diz que Mary era assim mesmo, e po<strong>de</strong>ria ser que ela só


103g<strong>os</strong>taria <strong>de</strong> experimentar. E vira-se para o mecânico dizendo que ele po<strong>de</strong> ir, masque volte às <strong>no</strong>ve horas e com o carro.Singer diz que não po<strong>de</strong> <strong>de</strong>morar, mas que voltara <strong>no</strong> dia seguinte e levaráela para jantar e entregar o cheque.Isadora acredita que tudo estava perdido.Após o jantar elas voltam ao estúdio, Isadora começa a dançar e cantar“Estou <strong>no</strong>vamente apaixonada”, abre a janela e vê “Bugatti”.Mary se sentiu subitamente intranqüila, tremula e pálida, suplicou paraIsadora não andar <strong>no</strong> carrinho <strong>de</strong> corrida aquela <strong>no</strong>ite, ela temia uma tragédia.Isadora disse dançando que se apressaria se soubesse que essa seria sua ultimajornada. Despe<strong>de</strong>-se <strong>de</strong> Mary...e, esta, diz: “Espere Dora. Ponha a minha capa pretan<strong>os</strong> ombr<strong>os</strong>, à <strong>no</strong>ite está fria.” Isadora não aceita com a justificativa <strong>de</strong> que já estavacom o seu xale vermelho. Dá um beijo na amiga e diz: “Adieu, meus amis, je vais àla gloire!”.Ao entrar <strong>no</strong> carro, ele lhe oferece um paletó, dizendo que com a velocida<strong>de</strong>ela sentira frio, mas, ela também nega. (LEVER, 1988, p. 354-346-357-358-359).O veiculo engrena na Promena<strong>de</strong> dês Anglais. À frente, o mar inflaseus larg<strong>os</strong> véus negr<strong>os</strong>. O xale <strong>de</strong> Isadora flutua, dançando, <strong>de</strong>pois tornaa cair ao ritmo das ondas, arrasta-se sobre a calcada.O xale, Isadora! O xale!O grito <strong>de</strong> Mary se per<strong>de</strong> <strong>no</strong> vento. Cem metr<strong>os</strong> adiante, as franjas sepren<strong>de</strong>m entre a borboleta e o cubo da roda. O carro se empina. Mary seprecipita. A cabeça <strong>de</strong> Isadora é lançada para trás. Contra a chapa <strong>de</strong>ferro. A nuca quebrada. Estrangulada pelo xale vermelho.Inexoravelmente. (LEVER, 1988, p. 359).Os revolucionári<strong>os</strong> têm vonta<strong>de</strong>, esperança e sonho <strong>de</strong> mudar e melhorar omundo, sua sensibilida<strong>de</strong> é mais aguçada perante as outras pessoas, por issoenxergam e sentem o que a humanida<strong>de</strong> necessita. Eles sempre <strong>de</strong>ixam algo paranós. Isadora sabia que uma das maiores necessida<strong>de</strong>s da humanida<strong>de</strong> era a


104liberda<strong>de</strong> e n<strong>os</strong> <strong>de</strong>ixou o espírito <strong>de</strong> sua dança, com moviment<strong>os</strong> livres, espontâne<strong>os</strong>e naturais.Os seus gest<strong>os</strong> livres e comunicativ<strong>os</strong> ecoam e permanecem impress<strong>os</strong> <strong>no</strong>cotidia<strong>no</strong> atual, principalmente, <strong>no</strong> repertório da Dança, da Educação Física e Áreasafins.As ações corporais que transitam o cenário da Educação Física, emprestam<strong>de</strong> Isadora a sua gestualida<strong>de</strong> “a Dança Livre”; seja <strong>no</strong> Esporte, na Ginástica ou naDança, <strong>os</strong> Educand<strong>os</strong> e Educadores emprestam e expressam <strong>os</strong> seus gest<strong>os</strong> n<strong>os</strong>palc<strong>os</strong>, páti<strong>os</strong> e quadras há muito tempo.Talvez, essa relação ainda esteja velada, esta Pesquisa preten<strong>de</strong> <strong>de</strong>svelar edar visibilida<strong>de</strong> à essa leitura: Os gest<strong>os</strong> <strong>de</strong> Isadora <strong>no</strong> <strong>contexto</strong> da Educação Física.2. Os gest<strong>os</strong> expressiv<strong>os</strong> <strong>de</strong> Isadora Duncan e a Educação FísicaDança Livre:Minha arte é precisamente um esforço para exprimir em gest<strong>os</strong> emoviment<strong>os</strong> a verda<strong>de</strong> <strong>de</strong> meu ser. E foram-me precis<strong>os</strong> long<strong>os</strong> an<strong>os</strong> paraencontrar o me<strong>no</strong>r gesto absolutamente verda<strong>de</strong>iro. As palavras têm umsentido diferente. Diante do publico, que acudia em massa as minhasrepresentações, eu jamais hesitei. Dava-lhes <strong>os</strong> impuls<strong>os</strong> mais secret<strong>os</strong> <strong>de</strong>minha alma. Des<strong>de</strong> o inicio, nada mais fiz do que dançar a minha vida.Criança, dançava a alegria espontânea d<strong>os</strong> seres em crescimento.Adolescente, dancei com uma alegria que se transforma em apreensãodiante das correntes obscuras e trágicas que começava a lobrigar <strong>no</strong> meucaminho. Apreensão da brutalida<strong>de</strong> implacável da vida e da sua marchaesmagadora.Descobri a dança. Descobri a arte que estava perdida há dois milan<strong>os</strong>. On<strong>de</strong> foi que a <strong>de</strong>scobri? À beira do Pacífico, junto às florestas <strong>de</strong>pinheir<strong>os</strong> da serra <strong>de</strong> Nevada?As outras Artes: a pintura, a escultura, a musica e a poesia,avançaram muito, <strong>de</strong>ixando a Dança para trás. De fato, a dança po<strong>de</strong> serconsi<strong>de</strong>rada uma arte perdida, e buscar harmonizá-la com uma arte tãoaperfeiçoada como a musica é coisa muito difícil, para não dizerimp<strong>os</strong>sível. É em prol da ressurreição <strong>de</strong>ssa arte perdida que é a dançaque eu trabalho e <strong>de</strong>dico a minha vida. (DUNCAN, p. 11-33-187).Muito se falou na sua época sobre a ponte que ela parecia estarerguendo entre o velho mundo <strong>de</strong>ca<strong>de</strong>nte e o <strong>no</strong>vo, dinâmico – o modocomo ela entrou em cena, em 1900, “como uma glori<strong>os</strong>a Minerva saltante”,nas palavras <strong>de</strong> Janet Flanner, “fundindo estad<strong>os</strong> <strong>de</strong> espírito <strong>de</strong> épocasdiversas” e produzindo “um choque elétrico” na cultura oci<strong>de</strong>ntal. (KURTH,2004, p. 10).


105Pela dança Isadora reinventa a aurora do mundo, ela dançava com <strong>os</strong> pés<strong>de</strong>scalç<strong>os</strong>, cabel<strong>os</strong> solt<strong>os</strong>, com uma túnica leve e esvoaçante, sob um cenárioapenas com umas cortinas azuis, um pia<strong>no</strong> e às vezes luzes em tons róse<strong>os</strong> evioleta. (KURTH, 2004, p. 178).Sua primeira idéia do movimento da dança veio do mar, do ritmo das águas.Procurava seguir o movimento das ondas do mar, dançar ao sabor do seu ritmo.Descobre <strong>no</strong> balanço <strong>de</strong> suas pernas e <strong>de</strong> seus braç<strong>os</strong>, na curva <strong>de</strong> seusquadris, na suave ondulação <strong>de</strong> seus rins, invisíveis harmonias com o movimentodas ondas.O gran<strong>de</strong> ritmo do universo regula ao mesmo tempo a po<strong>de</strong>r<strong>os</strong>a vida doocea<strong>no</strong> e sua dança. (LEVER, 1988, p. 16).Mesmo naquela época eu sentia que <strong>os</strong> sapat<strong>os</strong> e as roupas só meatrapalhavam. Os sapat<strong>os</strong> pesad<strong>os</strong> eram como correntes; as roupas eramminha prisão. Assim, eu tirava tudo. E sem nenhum olhar me observando,totalmente sozinha, dançava nua na praia. E parecia que o mar e todas asárvores estavam dançando comigo. (KURTH, 2004, p. 35).Dizia também que havia aprendido a dançar com sua avó, <strong>de</strong>vido a sua jingairlan<strong>de</strong>sa. (DUNCAN, p. 286).Procurar na natureza as formas mais belas e encontrar nelas o movimentoque expressa a alma - essa é a arte da dançarina. [...] Minha inspiração foitirada das árvores, nas ondas, nas nuvens, nas afinida<strong>de</strong>s existentes entrea paixão e a tempesta<strong>de</strong>.Quando ela falava em movimento natural, ela queria dizer que erammoviment<strong>os</strong> que um corpo <strong>no</strong>rmal po<strong>de</strong> executar <strong>de</strong> forma natural “meu <strong>de</strong>sejo élibertar a arte da dança <strong>de</strong> contorções inaturais [...] e levá-las <strong>de</strong> volta para <strong>os</strong>moviment<strong>os</strong> naturais”.A arte <strong>de</strong> Isadora era uma expressão da vida, da imaginação, do espírito,não do corpo. Quando seu corpo se movimentava era porque seu espírito se


106movimentava. (KURTH, 2004, p. 39-40-48).Para Isadora a dança tinha três gran<strong>de</strong>s precursores: Beethoven, que a criouem ritm<strong>os</strong> po<strong>de</strong>r<strong>os</strong><strong>os</strong>; Wagner, em formas esculturais e Nietzsche o filósofo dadança, criou-a em espírito. (DUNCAN, p. 286).Isadora não tinha nenhum método, quando criança ensinava suas aluninhasseguindo sua fantasia e improvisando ao sabor do momento, ensinando as figuras e<strong>os</strong> mais bel<strong>os</strong> gest<strong>os</strong> que lhe passavam pela cabeça. Recitava poesia e ensina ascrianças acompanharem o sentido d<strong>os</strong> vers<strong>os</strong> com gest<strong>os</strong> e atitu<strong>de</strong>s.Procurava harmonizar seus moviment<strong>os</strong> com as impressões que ela sentiana música ou da poesia.Uma <strong>de</strong> suas primeiras criações inspira-se <strong>no</strong> poema <strong>de</strong> Longfellow: “Lancei<strong>no</strong> céu uma flecha”. (DUNCAN, p. 25).Desejava expressar as gran<strong>de</strong>s emoções da humanida<strong>de</strong>.Ela sentia que sinais invisíveis a conduziam, guiavam, reconstruindo a cadapessoa harmonia <strong>de</strong> seu corpo. Bastava ela se oferecer sem resistência.Para Isadora arte era antes <strong>de</strong> tudo o ritmo da natureza, o movimento dasondas, d<strong>os</strong> vent<strong>os</strong>, das nuvens, das flores, <strong>de</strong> tudo o que vive á volta <strong>de</strong> n<strong>os</strong>, até asmais ínfimas parcelas <strong>de</strong> matéria. É ai que se <strong>de</strong>vem buscar as formas mais belas,para <strong>de</strong>pois encontrar aquilo que se traduza mais fielmente à alma <strong>de</strong>ssas formas.Para ela, o espírito da dança, é a relação entre a tormenta e a paixão, entrea brisa e a doçura, entre o corpo e o universo. O acordo perfeito, o <strong>de</strong>lírioinconsciente. Isadora acreditava que isso não se inventava, criava-se, <strong>de</strong>scobria-se,pela inspiração e energia do universo, Depois isso tudo seria trabalhado. (LEVER,1988, p. 33-34).A dança é Dionísio, é Apolo, é Pã, é Baco e Afrodite. Isadora <strong>de</strong>scobre as


107obras do comp<strong>os</strong>itor Ethelbert Nevin, e começa a trabalhar Narciso, Ofélia, Ninfasdas Águas. Segundo Nevin suas musicas não eram feitas para a dança, porém<strong>de</strong>pois <strong>de</strong> ver Isadora dançar, ele a abraça com <strong>os</strong> olh<strong>os</strong> chei<strong>os</strong> <strong>de</strong> lagrimas “Foimesmo tudo isso o que eu vi, quando estava compondo a música”. Dança sobrepoemas <strong>de</strong> Omar Khayyam. (DUNCAN, p. 42-43).A arte a fez experimentar o profundo acordo com o ritmo do universo.Isadora busca subliminar pela dança as formas da natureza, elevá-las a<strong>os</strong>eu mais alto grau <strong>de</strong> significação.Como o amor parece lhe recusar alegrias, Isadora converge todas as forçaspara a sua Arte, procurando obter tudo o que o amor não queria lhe dar.Por long<strong>os</strong> dias e <strong>no</strong>ites inteiras aprofunda sua teoria, em seu ateliêprocurando uma dança que f<strong>os</strong>se, <strong>os</strong> moviment<strong>os</strong> do corpo, a expressão divina doespírito huma<strong>no</strong>. Durante horas permanecia em pé, imóvel, as mã<strong>os</strong> cruzadas naaltura do plexo solar, procurando a mola central <strong>de</strong> todo movimento, e qualquergesto, o cento da força motriz, da energia motora, o espelho fantasmagórico <strong>no</strong> quallhe apareceu a dança recém-criada. Concentra sua meditação <strong>no</strong> centro do torso,para qual convergem em ondas as vibrações da musica. Nessa <strong>de</strong>scoberta origi<strong>no</strong>ua teoria que ela apoio a sua escola.Isadora procurava a fonte da expressão espiritual, <strong>de</strong> on<strong>de</strong> se irradia pel<strong>os</strong>canais do corpo, inundad<strong>os</strong> <strong>de</strong> luz vibrante, a força centrifuga e refletora da visão doespírito.Depois <strong>de</strong> meses, ela apren<strong>de</strong>u a concentrar toda sua atenção nesse centro,e ao ouvir qualquer musica, <strong>os</strong> rai<strong>os</strong> e vibrações <strong>de</strong>ssa mesma musica se dirigiamem ondas para aquela única fonte <strong>de</strong> luz que estava nela, e on<strong>de</strong> refletiam umanuma visão espiritual.


108Essa fonte era o espelho da alma, a visão que era refletida, Isadoraexpressava, sob a forma <strong>de</strong> dança, as expressões musicais.Isadora acreditava que tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> moviment<strong>os</strong>, inclusive a própria marcha,p<strong>os</strong>suem uma força espiritual que não existe n<strong>os</strong> moviment<strong>os</strong> nascid<strong>os</strong> do ser físico,ou criad<strong>os</strong> pelo cérebro.O ambiente <strong>de</strong> sua infância e adolescência permitiu que ela <strong>de</strong>senvolvesse omais alto grau <strong>de</strong>ssa mesma força. Em varias épocas <strong>de</strong> sua vida ela afastava todasas influencias exteriores e vivia exclusivamente <strong>de</strong>ssa energia intrínseca.Sonhava, então, achar também um movimento inicial, <strong>de</strong> que se originassetoda uma serie <strong>de</strong> outr<strong>os</strong> moviment<strong>os</strong>, verda<strong>de</strong>iramente espontâne<strong>os</strong>, semqualquer interferência da minha vonta<strong>de</strong>, e que f<strong>os</strong>sem mais do que areação inconsciente do movimento <strong>de</strong> partida. (DUNCAN, p. 70).Não é raro o sol da manhã surpreen<strong>de</strong>r Isadora e sua mãe que não secansava <strong>de</strong> tocar para Isadora dançar.Depois <strong>de</strong> muito estudo e observações, chega à conclusão que seusmestres da dança era Jean-Jacques Rousseau, Walt Whitman e Nietzsche.Por muitas <strong>no</strong>ites, Isadora ficou em pé, <strong>no</strong> escuro, sozinha em seu ateliê, aespera do instante da inspiração. Quando ela então se expandia em moviment<strong>os</strong>. Eassim seu espírito se elevava e ela apenas acompanhava a expressão <strong>de</strong> sua alma.(DUNCAN, p. 69-70-71-73-75-76).Isadora contemplava o movimento da natureza, o recebia <strong>no</strong> mais intimo d<strong>os</strong>eu ser, e então o projetava em manifestações <strong>de</strong> arte.Inspirada <strong>no</strong> quadro Primavera <strong>de</strong> Botticelli, criou uma dança na qual elaprocurava reproduzir <strong>os</strong> suaves e mágic<strong>os</strong> moviment<strong>os</strong> que <strong>de</strong>le se <strong>de</strong>sprendiam.Isadora permanecia horas sentada observando esse quadro e não se cansava.Tal era o curso <strong>de</strong> suas cogitações sobre esse quadro, que mais tar<strong>de</strong> elatentou transforma <strong>no</strong> ritmo <strong>de</strong> uma dança.


109Oh, doce vida pagã apenas percebida, em que a imagem <strong>de</strong> Afrodite seesfumava sob <strong>os</strong> contorn<strong>os</strong> <strong>de</strong> uma N<strong>os</strong>sa Senhora a um só tempo maisgraci<strong>os</strong>a e mais terna, em que Apolo lucilava na sombra <strong>de</strong> São Sebastião– em mim tu penetravas como um fluxo <strong>de</strong> alegria propiciatória, e o meumais ar<strong>de</strong>nte <strong>de</strong>sejo era te invocar numa dança que seria a dança dofuturo. (DUNCAN, p. 101).Isadora acreditava que a dança era a “Arte grandi<strong>os</strong>a”, que levaria as outrasartes ao verda<strong>de</strong>iro ressurgimento. (DUNCAN, p. 97-100-101).Concebe a dança como Wagner concebia a musica, uma liturgia. Quandodançava tinha o dom <strong>de</strong> multiplicar-se.Isadora diz que quem lhe ensi<strong>no</strong>u a dançar foi Terpsicore, e acredita quetod<strong>os</strong> <strong>os</strong> seres human<strong>os</strong> <strong>de</strong>vem dançar, que o mundo inteiro <strong>de</strong>ve dançar, quesempre foi assim, e sempre será, que é errado resistir, é uma lei da natureza.Isadora sempre partia d<strong>os</strong> gran<strong>de</strong>s sentiment<strong>os</strong> para falar <strong>de</strong> sua arte, nãofalava <strong>de</strong> sua arte com método, <strong>de</strong> maneira lógica e sistemática. Dizia ela: “Se eupu<strong>de</strong>sse falar o que quero expressar, não havia motivo para dançá-lo”.Antes <strong>de</strong> entrar em cena Isadora sentia que precisava ligar um motorzinho<strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> sua alma. Quando ele começava a girar, seus pés, suas mã<strong>os</strong>, seu corpointeiro se movia por si só. Mas, se não lhe davam tempo para “pôr-se a caminho”,sentia que não podia dançar. (DUNCAN, p. 145).Um d<strong>os</strong> <strong>de</strong>uses do teatro russo, Stanislavski, certa vez observa Isadoradurante horas, <strong>no</strong> espetáculo, n<strong>os</strong> ensai<strong>os</strong>, n<strong>os</strong> exercíci<strong>os</strong>, á espreita da inspiraçãonascente, do instante mágico <strong>de</strong> on<strong>de</strong> brota a faísca, em que a expressão <strong>de</strong> seur<strong>os</strong>to se transfigura, em que seus olh<strong>os</strong> reluzem com um brilho peculiar, em que seexterioriza aquilo que acaba <strong>de</strong> <strong>de</strong>sabrochar <strong>no</strong> seu intimo. Em domíni<strong>os</strong> diferentes,ele ator, ela dançarina, o que eles buscam é, <strong>no</strong> fundo, a mesma coisa.Isadora se sentia não apenas como dançarina, mas sim um pólo magnéticoque concentra e traduz as expressões emocionais da musica. Como se rai<strong>os</strong> <strong>de</strong> fogo


110brotassem <strong>de</strong> sua alma e se unissem a orquestra. É Atena saindo armada da cabeça<strong>de</strong> Zeus. Quando dança parece estar ligada por todas as fibras <strong>de</strong> seu corpo àorquestra e seu maestro. (LEVER, 1988, p. 156).Artigo publicado <strong>no</strong> Sunday Sun <strong>de</strong> 15 <strong>de</strong> <strong>no</strong>vembro <strong>de</strong> 1908:Quando Isadora dança, o espírito se projeta sécul<strong>os</strong> atrás, num passadoremonto; ele vai até a alvorada do mundo, ao tempo em que a gran<strong>de</strong>za daalma encontrava plena expressão na beleza do corpo, quando o ritmo domovimento correspondia ao do som, quando a cadência do corpo huma<strong>no</strong>não se distinguia da ca<strong>de</strong>ncia do vento e o mar, quando um gesto <strong>de</strong> braço<strong>de</strong> mulher era como uma pétala <strong>de</strong> uma r<strong>os</strong>a ao <strong>de</strong>sabrochar, quando apressão <strong>de</strong> seu pé sobre a relva não se dirigia mais do que uma folha quecai, acariciando a terra, quando todo o fervor da religião, do amor, dopatriotismo, quando o sacrifício ou a paixão se exprimiam ao ritmo dacítara, da harpa ou do tamboril, quando homens e mulheres, em êxtasessagrad<strong>os</strong>, dançavam diante <strong>de</strong> suas lareiras ou <strong>de</strong> seus <strong>de</strong>uses,ou aindanas florestas e à beira mar, dando expansão à alegria que lhes borbulhavao peito – é que todas as impulsões fortes, gran<strong>de</strong>s e boas da alma humanase transmitem do espírito ao corpo em perfeita harmonia com o ritmo douniverso. (DUNCAN, p. 189).A dança ocupava meta<strong>de</strong> <strong>de</strong> seu ser, vivia nela como um organism<strong>os</strong>eparado, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> sua vonta<strong>de</strong>. Se tentassem a arrancar, faria morrer nelaa sua mais bela parte, a mais pura a mais elevada. (LEVER, 1988, p. 171).Colette-Willy disse sobre Isadora:A linha do pescoço, o porte da cabeça lembram uma Sra. De Pougymais jovem e mais robusta. Toda a sua ingênua pessoa exprime umacompreensão muito anglo-saxônica da graça antiga, cumpre dize-lo... Mas,quando esta dançando, dança com todo o seu ser, d<strong>os</strong> cabel<strong>os</strong> solt<strong>os</strong> a<strong>os</strong>firmes calcanhares nus. O alegre e encantador movimento d<strong>os</strong> ombr<strong>os</strong>! Obonito joelho, preciso, lançado <strong>de</strong> repente para fora das musselinas,agressivo e obstinado como uma testa <strong>de</strong> carneiro! Em sua bacanal aomesmo tempo <strong>de</strong>senfreada e clássica, a dança das mã<strong>os</strong>, em que umachama e a outra indica, a dança das mã<strong>os</strong> completa, arremata a álacre<strong>de</strong>sor<strong>de</strong>m <strong>de</strong> todo corpo r<strong>os</strong>ado e muscul<strong>os</strong>o, visível sob gazes emturbilhão...Ela dança, nasceu para dançar. Po<strong>de</strong>ria dançar mascarada, pois seucorpo fala mais que seu r<strong>os</strong>to, seu r<strong>os</strong>to amável e supérfluo. Dança e nãomima. Quando, coberta <strong>de</strong> véus escur<strong>os</strong>, ela finge a dor, foge das sombrasameaçadoras, soluça, conjura um Deus refugiado lá <strong>no</strong> alto, nas dobrasdas pesadas cortinas, ficam<strong>os</strong> a esperar pacientemente, polidamente que oinstante seguinte a restitua lumin<strong>os</strong>a, coroada <strong>de</strong> folhas, semi nua etrazendo somente, sobre a pele rósea e sanguínea <strong>de</strong> americana bemnutrida, dois ou três metr<strong>os</strong> <strong>de</strong> pink chiffon ...E ela dança, infatigável. Frenéticamente, a platéia pe<strong>de</strong> bis; elaaquiesce com uma inclinação da cabeça e repete. Dançarina ate morrer,sobre seus pés <strong>de</strong>scalç<strong>os</strong>, maravilh<strong>os</strong>amente mud<strong>os</strong>; aqui, não temo oabominável “bum!” surdo que estraga, na opera, as acrobacias coreógrafas<strong>de</strong>ssas donzelas... Ela se disten<strong>de</strong> em salt<strong>os</strong> silenci<strong>os</strong><strong>os</strong> <strong>de</strong> animal <strong>de</strong>


111patas aveludadas e <strong>de</strong>ixa-se cair, <strong>no</strong> fim <strong>de</strong> um rodopio <strong>de</strong> bacante, semmais ruído que o <strong>de</strong> uma flor ceifada...Penso na singularida<strong>de</strong> feminina quando contemplo todas aquelasmulheres que aplau<strong>de</strong>m Isadora Duncan. Meio levantadas para melhorgritar seu entusiasmo, elas se inclinam como se estivessem amarradas, acabeça coberta, atracadas, irreconhecíveis, na direção da pequena criaturanua <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> seus véus, sobre seus pés intact<strong>os</strong> e leves, cuj<strong>os</strong> cabel<strong>os</strong>lis<strong>os</strong> se <strong>de</strong>satam...Não n<strong>os</strong> enganem<strong>os</strong>! Elas a aclamam, mas não a invejam. Saúdamna<strong>de</strong> longe e a contemplam, mas como uma <strong>de</strong>sgarrada, e não como umalibertadora. (LEVER, p. 159-160).“Uma dría<strong>de</strong> subitamente <strong>de</strong>scida do Olimpo” essa foi a impressão queIsadora causou em Karlbach. (DUNCAN, p. 98).Quando Isadora dança com seu filho na barriga, ela diz que sua dançaqueria exprimir o Amor, a Mulher, a Formação, a Terra fecunda, as Três Graçasfecundas, a Madona fecunda, a Primavera fecunda, tudo o que freme, tudo o quepromete uma vida. (DUNCAN, p. 204).A gran<strong>de</strong> música não <strong>de</strong>ve mais ser reservada a uns pouc<strong>os</strong> privilegiad<strong>os</strong>cult<strong>os</strong>. Deve ser dada gratuitamente as massas. Ela lhes é tão necessáriaquanto o ar e o pão, pois é o vinho espiritual da humanida<strong>de</strong>! (DUNCAN, p.214).Isadora acreditava que ela não tinha inventado a sua dança, ela estavaadormecida, existia antes <strong>de</strong> Isadora. Ela simplesmente a <strong>de</strong>scobriu e a <strong>de</strong>spertou.(KURTH, 2004, p. 37).De um modo estranhíssimo, a sua dança tem a virtu<strong>de</strong> <strong>de</strong> evocar”,disse o cenógrafo america<strong>no</strong> Robert Edmond Jones. “Parece n<strong>os</strong> lembrar<strong>de</strong> uma beleza que nós conhecem<strong>os</strong> <strong>de</strong>s<strong>de</strong> sempre. Fala-n<strong>os</strong> <strong>de</strong> umaor<strong>de</strong>m e <strong>de</strong> uma harmonia sublimes das quais participam<strong>os</strong>, bastando paratanto n<strong>os</strong> lembram<strong>os</strong> <strong>de</strong>las. [...] Isadora n<strong>os</strong> <strong>de</strong>volveu algo que já foi n<strong>os</strong>so.Mais do que isso, ela n<strong>os</strong> disse, nas exaltações quase extáticas da <strong>no</strong>ite:Você me contou isso. Lembra-se? Lembra-se?. (KURTH, 2004, p. 11).Depois da morte <strong>de</strong> seus três (03) filh<strong>os</strong>, sua arte mudou. E em meio àguerra ela se sentia dia a dia mais estranha <strong>no</strong> meio daquela população <strong>de</strong>voradapela angustia, dobrada sobre si mesma, indiferente a tudo o que não seja guerra.Isadora pensa que nada mais tem a fazer em Paris, preocupada exclusivamente


112com o que se passa <strong>no</strong> front.A dança? A Arte? O que significa isso hoje? O que é a arte quando <strong>os</strong>jovens fazem diariamente o sacrifício <strong>de</strong> sua vida? Um objeto tão irrisórioquanto o seu bebe morto ou sua própria dor. Tão miserável e vão quanto amusica, a poesia ou a literatura. Uma traição, numa palavra, visto que tudoo que não tem por objeto a sacr<strong>os</strong>santa pátria esta forç<strong>os</strong>amente dirigidocontra ela. E mais uma vez ela se contem para não gritar: “A arte é maisimportante que a pátria! Maior que a vida!” (LEVER, 1988, p. 218).Perguntava-se sobre o que significava a dança, a arte n<strong>os</strong> dias <strong>de</strong> guerraque se passavam.O que é a arte quando <strong>os</strong> jovens fazem diariamente o sacrifício <strong>de</strong> suavida? Um objeto tão irrisório quanto o seu bebe morto ou sua própria dor.Tão miserável e vão quanto a musica, a poesia ou a literatura. Uma traição,numa palavra, visto que tudo o que não tem por objeto a sacr<strong>os</strong>santa pátriaesta forç<strong>os</strong>amente dirigindo contra ela”. Se contendo para não gritar: “Aarte é mais importante do que a pátria! Maior que a vida! (LEVER, 1988, p.218).Por uns Isadora era elevada às nuvens vendo nela a gran<strong>de</strong> sacerdotisa da<strong>no</strong>va arte, por outr<strong>os</strong> era severamente <strong>de</strong>sprezada, estes consi<strong>de</strong>ravam sua dançacomo a “movimentação aleatória <strong>de</strong> uma americana cândida” uma “cromo litografiaalemã copiada <strong>de</strong> um friso antigo”, uma “moldura para papeis pintad<strong>os</strong> fabricad<strong>os</strong>em Munique <strong>de</strong> acordo com algum vaso grego”. (LEVER, 1988, p. 238). Na Rússia:Apesar <strong>de</strong> sua ida<strong>de</strong> e corpulência, Isadora surpreen<strong>de</strong> o públicobelga pela graça inimitável do gesto e a magia que emana <strong>de</strong> suas danças.Cada uma <strong>de</strong>las se assemelha a um breve poema, fechando em si mesmoe como que saturado <strong>de</strong> sentido e emoção. Nunca um movimento gratuito.Tod<strong>os</strong> eles se enca<strong>de</strong>iam por uma espécie <strong>de</strong> necessida<strong>de</strong> e parecem tãonaturais em seu <strong>de</strong>senvolvimento quanto o crescimento da folha num ramo<strong>de</strong> árvore. Nenhuma faceirice. Nenhum cabotinismo. O efeito máximo coma mais estrita eco<strong>no</strong>mia d<strong>os</strong> mei<strong>os</strong>. Nenhuma afetação. Cada linha docorpo é uma obra prima <strong>de</strong> simplicida<strong>de</strong>.Isadora parece ter chegado a uma <strong>de</strong>puração tão total <strong>de</strong> sua arte,que sua dança assumiu agora a <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> do sig<strong>no</strong>. Já não dança amúsica, mas o significado oculto da música. Exprime o que <strong>os</strong> própri<strong>os</strong>sons são incapazes <strong>de</strong> exprimir. Seu gesto <strong>de</strong> um traçado puro, semconcessão ao episódio, concentra as sugestões mais ricas e exuberantesnum simples <strong>de</strong>slocamento d<strong>os</strong> volumes. Sua dança é uma obra, n<strong>os</strong>entido amplo; nutre-se <strong>de</strong>sse gran<strong>de</strong> silêncio interior graças ao qual abeleza encontra sua plenitu<strong>de</strong>. Uma gran<strong>de</strong> dançarina po<strong>de</strong> dar as pessoasalgo que elas guardarão por toda a vida, que nunca conseguirão esquecer,que as transformará, mesmo a sua revelia. (LEVER, 1988, p. 289-291).


113Isadora e NietzscheIsadora tinha Nietzsche, uma gran<strong>de</strong> inspiração, acredita que ele era umprecursor e um mestre da dança. Para ela Nietzsche foi o fil<strong>os</strong>ofo da dança.No inicio do seu livro ela escreve a seguinte frase <strong>de</strong> Nietzsche:“Se a minha virtu<strong>de</strong> é uma virtu<strong>de</strong> <strong>de</strong> bailari<strong>no</strong>; se muitas vezes saltei <strong>de</strong>pés junt<strong>os</strong> em êxtase <strong>de</strong> ouro e esmeralda; e se meu alfa e Ômega é quetudo o que é pesado se torne leve, todo corpo vire bailari<strong>no</strong>, todo espíritovive pássaro: então, em verda<strong>de</strong>, é isto o meu Alfa e Ômega.”“A mulher é um espelho” disse Nietzsche, Isadora se senta como umespelho que reflete que reage às pessoas e às forças exteriores segundo o seuinstinto.Sou como as heroínas das Metamorf<strong>os</strong>es <strong>de</strong> Ovídio: só mudo <strong>de</strong>sentimento e <strong>de</strong> caráter segundo <strong>os</strong> <strong>de</strong>cret<strong>os</strong> d<strong>os</strong> <strong>de</strong>uses imortais.(LEVER, 1988, p. 237).“Um Deus dança em mim ":Eu po<strong>de</strong>ria crer somente num <strong>de</strong>us que dançasse. E quando vi o meu<strong>de</strong>mônio eu o encontrei sério, rigor<strong>os</strong>o, profundo e solene: era o espírito dagravida<strong>de</strong> – por ele todas as coisas afundam. Não se mata por meio doódio. Mata-se por meio do riso. Venham, vam<strong>os</strong> matar o espírito <strong>de</strong>gravida<strong>de</strong>! Agora estou leve! Agora eu vôo! Agora um <strong>de</strong>us dança atravésdo meu corpo. (FN II (II) p.307, Assim falou Zaratustra, “Sobre o ler e oescrever” ]*Isadora e Nietzsche:... na dança a força máxima é apenas potencial, traindo-se, porém, naflexibilida<strong>de</strong> e na exuberância do movimento”. (Nietzsche, O Nascimento daTragédia, p. 63).Isadora Duncan tinha em Nietzsche, sua leitura <strong>de</strong> cabeceira encontrou, <strong>no</strong>final do séc. XIX e início do séc. XX, em “Assim falou Zaratustra” e em “ONascimento da Tragédia” pont<strong>os</strong> inspiradores para o <strong>de</strong>senvolvimento da sua dança.O Nascimento da Tragédia:Diz Nietzsche em “O Nascimento da Tragédia” que... algo jamais experimentado empenha-se a se exteriorizar... um <strong>no</strong>vo


114mundo <strong>de</strong> símbol<strong>os</strong> se faz necessário, todo o simbolismo corporal, nãoapenas o simbolismo d<strong>os</strong> lábi<strong>os</strong>, d<strong>os</strong> semblantes, das palavras, mas oconjunto inteiro, tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> gest<strong>os</strong> bailantes d<strong>os</strong> membr<strong>os</strong> em moviment<strong>os</strong>rítmic<strong>os</strong>. Então crescem as outras forças simbólicas, as da música, emsúbita impetu<strong>os</strong>ida<strong>de</strong>, na rítmica, na dinâmica e na harmonia. Para captaresse <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>amento simultâneo <strong>de</strong> todas as forças simbólicas, ohomem já <strong>de</strong>ve ter arribado ao nível do <strong>de</strong>sprendimento <strong>de</strong> si próprio que<strong>de</strong>seja exprimir-se simbolicamente naquelas forças... (p.35).Nesta expressão artística, ha consciência da complementarida<strong>de</strong> d<strong>os</strong> doisinstint<strong>os</strong>. Tanto o apolíneo, quanto o dionisíaco.... ao grego apolíneo ... toda a sua existência, com toda beleza ecomedimento, repousava sobre um encoberto substrato <strong>de</strong> sofrimento econhecimento, que lhe era <strong>de</strong> <strong>no</strong>vo revelado através daquele elementodionisíaco. E ve<strong>de</strong>! Apolo não podia viver sem Dionísio! (O Nascimento daTragédia, p. 41).Ou seja, nem <strong>de</strong> um lado as puras formas, nem <strong>de</strong> outro as puras forças.Po<strong>de</strong>-se dizer que a dança <strong>de</strong> Isadora revela-se, <strong>no</strong> entanto, prioritariamentedionisíaca <strong>no</strong> sentido da abstração, <strong>de</strong> esvaziar o movimento <strong>de</strong> significadoexpressivo, construindo um pla<strong>no</strong> <strong>de</strong> imanência em que a dança é o própriomovimento do sentido. Dizia Isadora: "Se eu pu<strong>de</strong>sse dizer a você o que <strong>de</strong>sejotransmitir, não haveria necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> dançar." (LEMOS, 2005).Isadora dançava <strong>no</strong> “interior do seu corpo”, tornando-o um “meio” <strong>de</strong> on<strong>de</strong> seausentou toda a estranheza.Foram três as fontes <strong>de</strong> busca e também <strong>de</strong> inspiração <strong>de</strong> Isadora pelaorigem da dança: a Natureza, a Grécia Antiga e <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> si mesma. Acabouencontrando o plexo solar, fonte e origem <strong>de</strong> todo o movimento, algo muito diferentedo que ensinavam as Escolas <strong>de</strong> Ballet.Foi na Alemanha que Isadora conheceu a fil<strong>os</strong>ofia <strong>de</strong> Nietzsche, eincorporou esta fil<strong>os</strong>ofia à sua dança. Em 1903, em Berlim, ela fez um discurs<strong>os</strong>obre "A Dança do Futuro", on<strong>de</strong> argumentou que esta <strong>de</strong>veria ser parecida com adança da Grécia Antiga: livre e natural.


115Foi a primeira dançarina americana a utilizar <strong>os</strong> conceit<strong>os</strong> <strong>de</strong> "respiraçãonatural", que ela i<strong>de</strong>ntificava com as ondas do mar. E baseada neste movimentonatural do corpo huma<strong>no</strong>, comparou-a com outras artes, inclusive a fil<strong>os</strong>ofia.O Gesto, a dança:Há quase trinta an<strong>os</strong>, o antropólogo Gordon Hewes (1973)argumentou que o corpo não é mudo e que a linguagem está baseada naestrutura cognitiva inata ao gesto. O movimento é a n<strong>os</strong>sa língua natal en<strong>os</strong>so pensamento primordial (...) Os bebês, por exemplo, prestam atençãoao movimento e antecipam o que acontecerá, como <strong>no</strong> jogo <strong>de</strong> escon<strong>de</strong>escon<strong>de</strong>.(...) Com gest<strong>os</strong>, crianças cegas transmitem a adult<strong>os</strong> que po<strong>de</strong>menxergar informações concretas que não estavam contidas em nenhumponto <strong>de</strong> seu discurso. Além disso, n<strong>os</strong> cas<strong>os</strong> em que a fala e o gestotransmitem informações diferentes, <strong>os</strong> pesquisadores perceberam que ogesto tem o papel mais importante na mensagem recebida pel<strong>os</strong> ouvintes.Gest<strong>os</strong> que transmitem uma mensagem diferente diminuem a capacida<strong>de</strong>do ouvinte <strong>de</strong> enten<strong>de</strong>r a mensagem falada (a linguagem da dança-JudithLynne Hanna). (LEMOS, 2005).Segundo Maurice Merleau-Ponty em Fe<strong>no</strong>me<strong>no</strong>logia da percepção, essessão moment<strong>os</strong> em que “o corpo proporciona a comunicação com as coisas”. Masquando é e por que é que gest<strong>os</strong> comuns se transformam em gest<strong>os</strong> dançad<strong>os</strong>?Baseada <strong>no</strong> conceito <strong>de</strong> u<strong>no</strong>-primordial (<strong>de</strong>spertadas as emoçõesdionisíacas, o homem, em êxtase, sente que todas as barreiras entre ele e <strong>os</strong> outr<strong>os</strong>homens estão rompidas. O U<strong>no</strong> Primordial é on<strong>de</strong> só existe lugar para a intensida<strong>de</strong>.Nesse mundo das emoções inconscientes, que abole a subjetivida<strong>de</strong>, o homemper<strong>de</strong> a consciência <strong>de</strong> si e se vê ao mesmo tempo <strong>no</strong> mundo da harmonia e da<strong>de</strong>sarmonia, da consonância e da dissonância, do prazer e da dor, da construção eda <strong>de</strong>struição, da vida e da morte.) <strong>de</strong> Nietzsche, Isadora Duncan acredita que obailari<strong>no</strong> <strong>de</strong>ve dançar “naturalmente”, com moviment<strong>os</strong> livres que encontrem namúsica uma moldura para o que vem <strong>de</strong> “<strong>de</strong>ntro para fora”. O corpo e o espírito éque interagem e moldam a música e não há uma coreografia ritmada e préestabelecida.Diz Isadora Duncan que essa é à busca da força dionisíaca na dançaatravés da expansão do plexo solar. Com a expansão e contração do tronco, o corpo


116se expressa como um todo.Em O olho e o espírito, Maurice Merleau-Ponty fala do pintor e sua arte, mas<strong>os</strong> fundament<strong>os</strong> <strong>de</strong> sua teoria po<strong>de</strong>m muito bem ser aplicad<strong>os</strong> à dança <strong>de</strong> IsadoraDuncan – “o universo da experiência perceptiva é um campo aberto e o corpo umespelho <strong>no</strong> qual flutuam continuamente <strong>os</strong> aspect<strong>os</strong> das coisas... essatransformação das coisas em espetácul<strong>os</strong> e d<strong>os</strong> espetácul<strong>os</strong> em coisas; essaflutuabilida<strong>de</strong> e reflexibilida<strong>de</strong> do sensível formam uma operação inerente ao corpo”.Ainda em o olho e o espírito: “creio que o pintor <strong>de</strong>ve ser traspassado pelo universo,e não querer traspassá-lo. Aguardo ser interiormente submergido, sepultado. Pinto,talvez, para ressurgir”. No que se refere ao bailari<strong>no</strong>, é esta a prop<strong>os</strong>ta <strong>de</strong> Isadora.Disse ela em sua autobiografia:Digo por sorte, pensando em mim, porque certamente eu <strong>de</strong>vo a essavida sem limites, livre, da minha infância a inspiração da dança que criei,que nada mais foi senão a expressão da liberda<strong>de</strong>. Nunca me sujeitei a<strong>os</strong>contínu<strong>os</strong> ´nã<strong>os</strong>` que parecem fazer da vida das crianças, um tormento.(DUNCAN, p. 16).“E lá eu dançava” escreveu ela. “Mesmo naquela época eu senti que <strong>os</strong>sapat<strong>os</strong> e as roupas só me atrapalhavam. Os sapat<strong>os</strong> pesad<strong>os</strong> eram comocorrentes, as roupas eram minha prisão. Assim, eu tirava tudo. E sem nenhum olharme observando, totalmente sozinha, dançava nua na praia. E me parecia que o mare todas as árvores estavam dançando comigo”.Nietzsche, com a forte influência <strong>de</strong> Schopenhauer, diria que esta foi, paraIsadora Duncan, a força dionisíaca em ação. Dionísio, o <strong>no</strong>me grego para o êxtase,<strong>de</strong>us do ca<strong>os</strong>, da <strong>de</strong>smesura, da fúria sexual e do fluxo <strong>de</strong> vida; <strong>de</strong>us dafecundida<strong>de</strong> da terra e da <strong>no</strong>ite criadora do som: <strong>de</strong>us da música, arte universal,mãe <strong>de</strong> todas as artes.É o momento em que o artista se transforma na própria natureza. É o u<strong>no</strong>


117primordial <strong>de</strong> que ele tanto fala. O <strong>de</strong>sprendimento do próprio corpo para o encontrocom as forças dionisíacas da natureza que o transformam não em outra coisa se nãonela própria. O artista como força da própria natureza. Rompem-se, nesse momento,todas as barreiras entre o artista e <strong>os</strong> homens, entre o artista e todas as formas quevoltam a ser as unida<strong>de</strong>s mais originárias e fundamentais.Cantando e dançando, manifesta-se o homem como membro <strong>de</strong> umacomunida<strong>de</strong> superior: Ele <strong>de</strong>sapren<strong>de</strong>u a andar e a falar, e está à ponto <strong>de</strong>,dançando, sair voando pel<strong>os</strong> ares. De seus gest<strong>os</strong> fala o encantamento...... O homem não é mais artista, tor<strong>no</strong>u-se obra <strong>de</strong> arte: a força artística <strong>de</strong>toda a natureza, para a <strong>de</strong>lici<strong>os</strong>a satisfação do U<strong>no</strong>-primordial, revela-seaqui sob o frêmito da embriaguez. (Nascimento da Tragédia, p. 31).“Plexo Solar” - o momento do encontro:A dança <strong>de</strong> Isadora - com element<strong>os</strong> predominantemente impressionistas(impressionismo <strong>no</strong> sentido da inspiração da própria natureza. Da expressivida<strong>de</strong>que leva às mais diversificadas interpretações. No Impressionismo <strong>os</strong> artistas sepreocupam em comunicar pela arte a impressão subjetiva pura e simples recebidada natureza. A opinião individual que cada um faz <strong>de</strong> uma obra <strong>de</strong> arte, é feita peloestado emotivo provocado por esta obra. Os artistas abandonam <strong>os</strong> ateliês e pintamao ar livre, registrando as constantes modificações que a luz solar provoca nanatureza. Tem como característica a cor leve e transparente.) - consi<strong>de</strong>ra o troncocomo fonte <strong>de</strong> expressão <strong>de</strong> emoções mais elevadas, coisa que teve sua origem <strong>no</strong><strong>de</strong>lsartismo, e que permitiu à mulher a expressivida<strong>de</strong> corporal retirada <strong>no</strong> balletclássico. Além <strong>de</strong> uma revolução estética, Isadora p<strong>os</strong>suía a consciência danecessida<strong>de</strong> educacional do corpo através <strong>de</strong>ssa estética corporal influenciada porNietzsche. Para Nietzsche o corpo é um campo neutro entre o indivíduo, suasnecessida<strong>de</strong>s e o mundo exterior.


118Para Isadora a dança era uma expressão religi<strong>os</strong>a. Dizia a<strong>os</strong> seus discípul<strong>os</strong>que todo movimento p<strong>os</strong>sui uma força espiritual capaz <strong>de</strong> manter o público emsuspenso.Talvez um excesso <strong>de</strong> preocupação com a técnica acabe atéinconscientemente levando o bailari<strong>no</strong> a esquecer a emoção, parecendo assimmecânico ou frio em cena.Ao <strong>de</strong>scobrir e <strong>de</strong>sbloquear o “chakra” emocional, o plexo solar, técnica eemoção dançam juntas, pois esse centro <strong>de</strong> força e vibração n<strong>os</strong> eleva quandodançam<strong>os</strong>. Desta forma a experiência <strong>de</strong> quem assiste e <strong>de</strong> quem dança é única. É,portanto, o momento em que, finalmente, a técnica (apolínea) e a emoção(dionisíaca) se encontram. “Dançar é viver. O que <strong>de</strong>sejo é uma escola da vida”. –Isadora Duncan.Os contorn<strong>os</strong> são diluíd<strong>os</strong> pel<strong>os</strong> efeit<strong>os</strong> lumin<strong>os</strong><strong>os</strong>. (LEMOS, 2005).Há sempre um pouco <strong>de</strong> loucura <strong>no</strong> amor. Mas há sempre um pouco<strong>de</strong> razão na loucura. E, para mim também, para mim que estou <strong>de</strong>stinado àvida, às borboletas e às bolhas <strong>de</strong> sabão, e tudo o que a elas seassemelham entre <strong>os</strong> homens, parece-me ser quem melhor conhece afelicida<strong>de</strong>. Quando vê esvoaçar essas almas pequenas, leves e maleáveis,graci<strong>os</strong>as e brincalhonas, Zaratustra tem vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> chorar e <strong>de</strong> cantar.Eu só po<strong>de</strong>ria acreditar em um <strong>de</strong>us que soubesse dançar.Aprendi a andar; <strong>de</strong>s<strong>de</strong> então, <strong>de</strong>ixo-me correr. Aprendi a voar,<strong>de</strong>s<strong>de</strong> então não preciso mais que me empurrem para mudar <strong>de</strong> lugar.Agora sou leve, agora eu vôo... agora um <strong>de</strong>us dança em mim.Assim falava Zaratustra. Nietzsche. (LEMOS, 2005).3. Educação Física <strong>no</strong> Século das LuzesNo século XVIII nasce uma atm<strong>os</strong>fera cultural, uma fé comum nap<strong>os</strong>sibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> melhorar a condição humana e <strong>de</strong> pronunciar a verda<strong>de</strong> sobre ohomem e sobre o universo, através d<strong>os</strong> exercíci<strong>os</strong> intransigente da razão, oIluminismo.Um d<strong>os</strong> filósof<strong>os</strong> e pedagogo do Iluminismo foi Jean-Jaques Rousseau


119(1712-1778).Ele foi fundamental para re<strong>no</strong>var o processo educativo, tinha um i<strong>de</strong>al <strong>de</strong>educação natural, favorecer o espontâneo, o individuo <strong>de</strong>veria "ver com <strong>os</strong> própri<strong>os</strong>olh<strong>os</strong>, a sentir com o coração e a não ser governado por nenhuma autorida<strong>de</strong> quenão seja sua própria razão".Acreditava ser necessário respeitar, favorecer e <strong>de</strong>senvolver sentiment<strong>os</strong> einstint<strong>os</strong> evitando sufocar a criança com uma má educação.Era contra a educação d<strong>os</strong> seus temp<strong>os</strong>, a qual, segundo o autor, "ten<strong>de</strong> aformar prematuramente a inteligência e a instruir a criança n<strong>os</strong> <strong>de</strong>veres <strong>de</strong> homensmadur<strong>os</strong>".Ele queria protege do vicio, <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> do erro, prepara a criança para tomar aestrada que conduz à verda<strong>de</strong>, para quando estiver em condições <strong>de</strong> compreendêla.Visava o <strong>de</strong>senvolvimento do corpo, d<strong>os</strong> sentid<strong>os</strong>, do cérebro e do coração.A função da educação física para Rousseau:Em uma fil<strong>os</strong>ofia e em uma pedagogia da natureza, a educação física é umd<strong>os</strong> mei<strong>os</strong> mais segur<strong>os</strong> para estabelecer relações naturais entre o homeme as coisas. (GRIFI, 1989, p. 204).Ele revolucio<strong>no</strong>u completamente a pedagogia, iniciando o estudo sistemáticodo animo da criança e introduzido em toda a educação <strong>os</strong> princípi<strong>os</strong> do métodoexperimental.4. FilantropismoOs filantropistas eram benfeitores da humanida<strong>de</strong>, se propunham a educar


120<strong>os</strong> jovens para um i<strong>de</strong>al c<strong>os</strong>mopolita e <strong>de</strong> encontrar na felicida<strong>de</strong> o único objetivo davida.Um d<strong>os</strong> mais importantes filantropistas foi Johan Christoph Guts-Muths(1759-1839), era chamado "o re<strong>no</strong>vador da ginástica".Para ele a cultura <strong>de</strong>veria promover equilíbrio entre o intelectual e o físicopara a formação <strong>de</strong> uma personalida<strong>de</strong> forte e equilibrada, moral e intelectual.O objetivo era por o corpo em harmonia com as forças espirituais e morais,suscitar na criança qualida<strong>de</strong>s e capacida<strong>de</strong>s que lhe permitam superar obstácul<strong>os</strong><strong>de</strong> caráter físico.Tem fundament<strong>os</strong> científic<strong>os</strong> e pedagógic<strong>os</strong>, prefere se inspirar na naturezapara criar <strong>os</strong> exercíci<strong>os</strong>. Aconselhava exercíci<strong>os</strong> naturais, correr, caminhar, saltar,nadar, jogar.Classificava <strong>os</strong> exercíci<strong>os</strong> proce<strong>de</strong>ndo do mais simples para o maiscomplexo.Fundou a primeira escola <strong>de</strong> ginástica feminina, com exercíci<strong>os</strong> <strong>de</strong>intensida<strong>de</strong> apropriada.A educação física foi organizada e sistematizada segundo princípi<strong>os</strong>científic<strong>os</strong> e educativ<strong>os</strong> partindo da educação clássica grega. (GRIFI, 1989, p. 206-207).5. Educação Física na Europa <strong>no</strong> Século XIX:Neste século foram elaborad<strong>os</strong> conceit<strong>os</strong> básic<strong>os</strong> sobre o corpo e sobre suautilização enquanto força <strong>de</strong> trabalho.Na Europa se consolidava o Estado Burguês, e para manter sua hegemonia.Investiram <strong>no</strong> homem biológico e não o homem antropológico o centro da


121<strong>no</strong>va socieda<strong>de</strong>. Era predominado o pensamento naturalista do p<strong>os</strong>itivismo,baseando-se na física, mas, sobretudo na biologia e na historia natural é o mo<strong>de</strong>lomecanicista, não p<strong>os</strong>suía uma relação dinâmica. (SOARES, 1994, p. 12-13).As classes populares estavam impregnadas <strong>de</strong> víci<strong>os</strong>, <strong>de</strong> imoralida<strong>de</strong>, porviverem sem regras. O discurso que a classe que estava <strong>no</strong> po<strong>de</strong>r fazia era <strong>de</strong>garantir saú<strong>de</strong>, educação higiênica e a formação <strong>de</strong> hábit<strong>os</strong> morais à classe maispobre. Percebe na Educação física (ginástica), um instrumento capaz <strong>de</strong> promoveruma assepsia social, viabilizar uma educação higiênica e <strong>de</strong> moralizar hábit<strong>os</strong>.As revoltas e crises também <strong>de</strong>veriam ser curadas. A socieda<strong>de</strong> parafuncionar bem, dividida em hierarquia. (SOARES, 1994, p. 16-17-18).Eram as formas <strong>de</strong> controle sobre o povo, tomad<strong>os</strong> como objet<strong>os</strong>mensuráveis passiveis <strong>de</strong> classificação e generalizações impregnadas daneutralida<strong>de</strong> a visão p<strong>os</strong>itivista.O corpo foi tomado como unida<strong>de</strong> produtiva, maquina me<strong>no</strong>r, passa a seruma mercadoria. (SOARES, 1994, p. 27).A Educação Física é associada diretamente à saú<strong>de</strong> do "corpo biológico".Os médic<strong>os</strong> higienistas influenciaram <strong>de</strong> maneira <strong>de</strong>cisiva o referêncial <strong>de</strong>conhecimento para o <strong>de</strong>senvolvimento da Educação física, mecanismo <strong>de</strong>construção do sujeito capital. (SOARES, 1994, p. 42).A burguesia afirmava que a força física <strong>de</strong> uma nação interferia em suapr<strong>os</strong>perida<strong>de</strong>.Era preciso a<strong>de</strong>strar <strong>os</strong> corp<strong>os</strong> d<strong>os</strong> indivídu<strong>os</strong>, <strong>de</strong>senvolver o vigor físico ediscipliná-lo para fins <strong>de</strong> produção e reprodução <strong>de</strong> capital.Usava-se a educação física (ginástica) como mecanismo <strong>de</strong> controle social.(SOARES, 1994, p. 43-44).


122Ao longo <strong>de</strong> século surgem <strong>os</strong> filósof<strong>os</strong>, pensadores liberais clássico, paracontestar essa corrente como, por exemplo, Jean-Jaques Rousseau.A burguesia começa <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> ser a "classe revolucionaria".Do p<strong>os</strong>itivismo absorveu a concepção do homem como ser puramentebiológico e orgânico, <strong>de</strong>terminado por características genéticas e hereditárias, queprecisa ser "a<strong>de</strong>strado", "disciplinado", que era avaliado pelo que resiste. (SOARES,1994, p. 62).No século XIX, o caráter científico, utilitaristico ou pedagógico <strong>de</strong> cadaen<strong>de</strong>reço ginástico são premissa para a evolução da educação física.O crescimento da educação física em 1800 ficou ancorado às experiênciasdo Iluminismo. (GRIFI, 1989, p. 217).O caráter militar <strong>de</strong>sta época <strong>de</strong>ve-se primeiramente a Escola Alemã, queinfluenciou até o século XX, especialmente pelo que diz respeito à preparação prébelica.Essa ginástica visava potencializar n<strong>os</strong> jovens o espírito nacinalistico,sobretudo com fins militares. Os valores pedagógic<strong>os</strong> e científic<strong>os</strong> foram valorizad<strong>os</strong>e evi<strong>de</strong>nciad<strong>os</strong> nas <strong>de</strong>mais ginásticas européias, especialmente <strong>no</strong> método sueco.No método sueco, a ginástica tinha um en<strong>de</strong>reço racional e cientifico, <strong>de</strong>valor preventivo e curativo da saú<strong>de</strong>, com exercíci<strong>os</strong> específic<strong>os</strong> e corretiv<strong>os</strong>, erauma ginástica pedagógica e estética.O método francês, com estud<strong>os</strong> metodológic<strong>os</strong> primeiro e <strong>de</strong>poisfisiológic<strong>os</strong>.A Inglaterra caracteriza o retor<strong>no</strong> das ativida<strong>de</strong>s esportivas.Na França, a ginástica tinha aparelh<strong>os</strong> e métod<strong>os</strong> <strong>de</strong> endurecimento docorpo e da vonta<strong>de</strong>. Os métod<strong>os</strong> apresentam finalida<strong>de</strong>s semelhantes: regenerar araça, promover saú<strong>de</strong>, <strong>de</strong>senvolver a vonta<strong>de</strong>, a força, a coragem, a energia <strong>de</strong> viver


123servindo à pátria nas guerras e nas indústrias <strong>de</strong>senvolvendo a moral.A Educação física militarista visava à formação <strong>de</strong> um cidadão como umsoldado, para obe<strong>de</strong>cer cegamente e servir <strong>de</strong> exemplo <strong>de</strong> bravura e coragem parao restante da juventu<strong>de</strong>, visava impor na socieda<strong>de</strong> padrões este<strong>no</strong>tipad<strong>os</strong>. Oobjetivo era ter uma juventu<strong>de</strong> <strong>de</strong>fensora da pátria, capaz <strong>de</strong> suportar o combate, aluta e a guerra.Já havia uma preocupação com o corpo da mulher, pois ela que geraria <strong>os</strong>"filh<strong>os</strong> da pátria". (SOARES, 1994, p. 66).Das condições políticas do inicio do século XIX, que se <strong>de</strong>ve o nascimento e<strong>de</strong>senvolvimento do método ginástico-militar.Essas correntes foram motivo <strong>de</strong> discussão e violent<strong>os</strong> <strong>de</strong>bates, até porquenem sempre tinham fundamento metodológico e didático. No entanto trouxe muito àginástica e a evolução da educação física, pois surgiu a necessida<strong>de</strong> da pesquisa.Rousseau e <strong>os</strong> filantropistas tinham <strong>de</strong>finido o ensi<strong>no</strong> da educação física emsua pesquisa metodológica e se complementaram em Henrique Pestalozzi.A principal preocupação era:...mudar cert<strong>os</strong> métod<strong>os</strong> <strong>de</strong> ensi<strong>no</strong>: o movimento físico é ensinadoparalelamente àqueles intelectual por educadores competentes não sótecnicamente, mas sobretudo sob o aspecto pedagógico e psicológico,porque tanto <strong>os</strong> resultad<strong>os</strong> naturais como o ato ginástico <strong>de</strong>vem fazerconseguir a força, a resistência, a coragem, a persistência e o vigor. Tod<strong>os</strong><strong>os</strong> exercíci<strong>os</strong>, então, <strong>de</strong>vem ser classificad<strong>os</strong>, não somente segundo asdisponibilida<strong>de</strong>s motoras do sujeito, mas respeitando todas as regras danatureza à qual se <strong>de</strong>ve conformar moviment<strong>os</strong> livres, espontâne<strong>os</strong>,racionais e, sobretudo, naturais. (GRIFI, 1989, p. 219).Na Dinamarca, em Copenhague, Francisco Nachetegall (1777-1847), foifundador e professor da ginástica lá praticada, aproximava-se muito da ginásticaalemã, representou a ponte i<strong>de</strong>al e <strong>de</strong> conjunção entre o empirismo <strong>de</strong> Guts Muths ea ginástica cientifica <strong>de</strong> Ling da ginástica sueca.Fre<strong>de</strong>rico Ludovico Jahn (1778-1852) foi o pai da ginástica alemã, ele


124negligenciava exercíci<strong>os</strong> elementares e espontâne<strong>os</strong>, aceitando somentemoviment<strong>os</strong> voltad<strong>os</strong> a fins militares. Tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> exercíci<strong>os</strong> n<strong>os</strong> gran<strong>de</strong>s aparelh<strong>os</strong>requeriam coragem, constância, <strong>de</strong>sprezo à fadiga e à dor, corp<strong>os</strong> forte, robust<strong>os</strong>,saudáveis, qualida<strong>de</strong>s indispensáveis a um soldado.Jahn queria reforçar o vigor físico, mas, sobretudo mirava à educação morale o orgulho patriótico para edificar a comunida<strong>de</strong> alemã.O método era <strong>de</strong> a<strong>de</strong>stramento severo, <strong>de</strong>senvolvido ao ar livre, em regime<strong>de</strong> absoluta disciplina e <strong>de</strong> subordinação das or<strong>de</strong>ns.Rothstein Ugo (1810-1865) era particularmente contra <strong>os</strong> exercíci<strong>os</strong> na barrae nas paralelas, predominantes do método <strong>de</strong> Jahn.Adolfo Spiess (1810-1858) <strong>de</strong>u inicio a ginástica pedagógica tinha umaconcepção orientada em direção do individuo, que <strong>de</strong>veria ser educado conforme asua natureza. Para ele a ginástica <strong>de</strong>veria formar a alma e o corpo do individuo,mantinha a concepção <strong>de</strong> Pestalozzi e Guts Muths.Contatava na ginástica <strong>de</strong> Jahn como <strong>de</strong>masiadamente artificial ecomplicada especialmente para o uso <strong>de</strong> aparelh<strong>os</strong>, enquanto que negligenciava apratica <strong>de</strong> exercíci<strong>os</strong> mais simples e naturais.Ele fez uma profunda reforma na ginástica, diminuindo a intensida<strong>de</strong> e adificulda<strong>de</strong> d<strong>os</strong> própri<strong>os</strong> exercíci<strong>os</strong>.Reconduziu tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> seus moviment<strong>os</strong> a mais simples expressão <strong>de</strong>ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> "moviment<strong>os</strong> <strong>de</strong> extensão" mediante apoi<strong>os</strong>, suspensões e distensões.Seu método introduzia moviment<strong>os</strong> ritmad<strong>os</strong> mediante o acompanhamentomusical.Otone Henrique Jaeger (1828-1912) era admirador da ginástica grega pelabenéfica influencia que essa exercitava sobre o espírito e sobre a alma, ele reformou


125a ginástica alemã.Criticava <strong>os</strong> métod<strong>os</strong> ginástic<strong>os</strong> do seu tempo, consi<strong>de</strong>rava-<strong>os</strong> artificiais eformalístic<strong>os</strong>, julgava <strong>os</strong> exercíci<strong>os</strong> a corpo livre <strong>de</strong> Spiess, privad<strong>os</strong> <strong>de</strong> eficácia einúteis para a formação do caráter, con<strong>de</strong>nava ate mesmo o uso <strong>de</strong>masiado d<strong>os</strong>aparelh<strong>os</strong>, dan<strong>os</strong><strong>os</strong> consi<strong>de</strong>rado por ele para rapazes <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> inferior a<strong>os</strong> quatorzean<strong>os</strong>.No seu método aboliu muit<strong>os</strong> aparelh<strong>os</strong>, aconselhava exercíci<strong>os</strong> simples eprogressiv<strong>os</strong>, evitando aqueles unilaterais e espetaculares.Para ele a educação física <strong>de</strong>via <strong>de</strong>senvolver o corpo e a alma <strong>de</strong> formaharmônica e respon<strong>de</strong>r às praticas necessida<strong>de</strong>s da vida.Pehr Henrick Ling (1776-1839) propôs um método <strong>de</strong> ginástica baseado naciência, <strong>de</strong>duzindo <strong>de</strong> uma analise anatômica do corpo uma serie racional <strong>de</strong>moviment<strong>os</strong> <strong>de</strong> formação, preocupava-se com a execução correta e perfeita d<strong>os</strong>exercíci<strong>os</strong> e com a saú<strong>de</strong> física e moral d<strong>os</strong> indivídu<strong>os</strong> que seriam úteis à produçãoe à pátria. (SOARES, 1994, p. 71).Também dava fundamental importância à pedagogia. Acreditava que aginástica <strong>de</strong>veria ser praticada por tod<strong>os</strong>, pois esta <strong>de</strong>senvolve o corpo inteiro.Seu método não po<strong>de</strong> se fundar sobre o caráter instintivo da natureza, e simsobre a razão e a ciência. A espontaneida<strong>de</strong> e o movimento indiferenciado ficam <strong>de</strong>fora <strong>de</strong>sse método.Acreditava que a ginástica <strong>de</strong>veria se articular segundo uma or<strong>de</strong>m precisa<strong>de</strong> lógica motora. (GRIFI, 1989, p. 244-245).Os exercíci<strong>os</strong> n<strong>os</strong> aparelh<strong>os</strong> não têm as mesmas características tãoacrobáticas e espetaculares como a da ginástica alemã, mas são utilizad<strong>os</strong> paracorreção <strong>de</strong> situações anômalas a nível anátomo-fisiológic<strong>os</strong>, alem <strong>de</strong> permitir


126executar <strong>de</strong>terminad<strong>os</strong> moviment<strong>os</strong>.O sistema sueco baseia-se num trabalho analítico, bastante rígido, enérgicae viril, empregando eco<strong>no</strong>micamente as forças do indivíduo, pois tinha um papel naformação do caráter do individuo, com um <strong>de</strong>senvolvimento harmônico <strong>de</strong> todo ocorpo, adaptando o movimento ginástico do corpo huma<strong>no</strong> às suas necessida<strong>de</strong>s,exercíci<strong>os</strong> simétric<strong>os</strong> mo<strong>de</strong>rad<strong>os</strong> e <strong>de</strong> fácil compreensão, realizad<strong>os</strong> com umadificulda<strong>de</strong> progressiva, em pé e obe<strong>de</strong>cendo a uma voz, alguns exercíci<strong>os</strong> comaparelh<strong>os</strong> simples: cambalhotas, suspensões, equilíbri<strong>os</strong>, etc. Tudo isso se apoiava<strong>no</strong> estudo <strong>de</strong> base biológica das formas e efeit<strong>os</strong> d<strong>os</strong> exercíci<strong>os</strong>; trata-se <strong>de</strong> umaginástica "para tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> públic<strong>os</strong>".Hjalmar Ling (1820-1886) foi o seguidor e sistematizador das idéias do seupai e centrou-se <strong>no</strong> âmbito infantil. Seguindo critéri<strong>os</strong> fisiológic<strong>os</strong>, a aula <strong>de</strong> ginásticadividia-se em aquecimento, parte fundamental e relaxamento. Esta divisão éutilizada até <strong>os</strong> dias atuais, mas fala-se também em parte inicial, principal e final.A sistematização <strong>de</strong>sse método ocorreu <strong>no</strong> inicio do século XIX e tevegran<strong>de</strong> repercussão em todo o mundo até à segunda meta<strong>de</strong> do século XX.Por volta <strong>de</strong> 1989 a ginástica sueca com Thulin, Falk e Bjôrkesten se integrae ganha uma alma, fez-se sentimento e emoção estética mesmo <strong>no</strong> racionalismodas estruturas, surge como reação ao estatismo e rigi<strong>de</strong>z prop<strong>os</strong>to pela ginásticai<strong>de</strong>alizada por Ling. Esta <strong>no</strong>va modalida<strong>de</strong> conservava uma substancial fi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong>a<strong>os</strong> métod<strong>os</strong> <strong>de</strong> Ling e utilizava o ritmo na execução <strong>de</strong> divers<strong>os</strong> exercíci<strong>os</strong> que sepo<strong>de</strong>m ligar e incluem balanç<strong>os</strong> e acrobacias. P<strong>os</strong>teriormente acrescentou-setambém a expressivida<strong>de</strong> e elimi<strong>no</strong>u-se a vertente <strong>de</strong> formação militar.Nessa transfiguração única, o movimento não aparece mais um áridofenôme<strong>no</strong> <strong>de</strong> motricida<strong>de</strong> cientifica, mas origina do intimo da pessoa, com forma <strong>de</strong>


127inteligência e expressão, o movimento vive uma dinâmica que cria severa ealegremente o bem biológico e equilíbrio psíquico e <strong>os</strong> valores estétic<strong>os</strong>, oentusiasmo relaxante e a <strong>no</strong>breza d<strong>os</strong> sentiment<strong>os</strong>. (GRIFI, 1989, p. 247-248).Na França a ginástica também era direcionada para a <strong>de</strong>fesa da pátria,visava à <strong>de</strong>streza, força e resistência.Os principais autores foram Enrico Clias, um oficial suíço, acreditava que omovimento <strong>de</strong>via ser praticado a partir do terceiro mês <strong>de</strong> vida. Tinha um apego<strong>de</strong>sinteressado na escola e as administrava na França e Francisco Amorós, <strong>no</strong> qualprevalecia o lado militar sobre o educativo, <strong>de</strong>monstrou maior preferência pelométodo <strong>de</strong> Jahn. Porem o maior mérito <strong>de</strong>sse autor foi seu esforço em tornar aeducação física prazer<strong>os</strong>a. (GRIFI, 1989, p. 239-242).Felipe Tissié (1852-1935) trabalhou para substituir a ginástica por jog<strong>os</strong> eexercíci<strong>os</strong> ao ar livre, julgava a ginástica um conjunto <strong>de</strong> moviment<strong>os</strong> "racionalmentecontrolad<strong>os</strong>".Ele pensava que a educação física é: “... primeiramente, uma ciênciabiológica e não po<strong>de</strong>, portanto, ter miras somente exibicionistas”. (GRIFI, 1989, p.243).Na Itália <strong>no</strong> século XIX, a escola e a cultura sofrem gran<strong>de</strong>s modificações ere<strong>no</strong>vações. O Romantismo tinha mudado a visão <strong>de</strong> mundo e a concepção <strong>de</strong> vidado homem. (GRIFI, 1989, p. 257).No a<strong>no</strong> <strong>de</strong> 1878 duas eram as fil<strong>os</strong>ofias, uma visão pedagógico da ativida<strong>de</strong>motora e uma visão cientifica.Na era <strong>de</strong> 1900 a educação física ainda não conseguiu estabilizar-se; atrégua continua acrescida pela total ig<strong>no</strong>rância das autorida<strong>de</strong>s competentes queestão <strong>no</strong> po<strong>de</strong>r e que continuam consi<strong>de</strong>rando-a perda <strong>de</strong> tempo e <strong>de</strong> distração,


128dificultando seu <strong>de</strong>senvolvimento. (GRIFI, 1989, p. 259-260).6. Educação Física <strong>no</strong> Século XXNa Alemanha o en<strong>de</strong>reço era rítmico-estético. Os métod<strong>os</strong> surgid<strong>os</strong> <strong>no</strong> iniciodo século XX, põem em primeiro lugar o movimento pedagógico e, em parte oestético e era op<strong>os</strong>to às formas mais velhas <strong>de</strong> exercíci<strong>os</strong>.Os princípi<strong>os</strong> da ginástica rítmica estão conectad<strong>os</strong> ao surgimento <strong>de</strong> uma<strong>no</strong>va cultura física. Tinha a característica <strong>de</strong> aversão a<strong>os</strong> exercíci<strong>os</strong> rigidamenteprefixad<strong>os</strong> e executad<strong>os</strong> mecanicamente, com disciplina militar, com ou semaparelh<strong>os</strong>, era a favor <strong>de</strong> movimento natural e livre, da graça natural que não sebaseie na imitação, <strong>no</strong> a<strong>de</strong>stramento, na experiência e sobre a índole d<strong>os</strong> escolares.Os sistemas mais velh<strong>os</strong> influenciavam sobre a formação da vonta<strong>de</strong>, aginástica rítmica <strong>de</strong>stina-se ao sentimento, quase tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> sistemas utilizavammusica. O “ritmo” po<strong>de</strong> ser entendido musicalmente, fisicamente, espacialmente, etc.As primeiras origens <strong>de</strong>sse <strong>no</strong>vo en<strong>de</strong>reço, chamado também <strong>de</strong> “ginásticapura”, surge com Francisco Delsarte (1811-1871).Após ele ter observado as esculturas gregas e estudado divers<strong>os</strong> tip<strong>os</strong> <strong>de</strong>homens, cria um sistema <strong>de</strong> exercíci<strong>os</strong> basead<strong>os</strong> em uma serie <strong>de</strong> moviment<strong>os</strong>harmônic<strong>os</strong> d<strong>os</strong> membr<strong>os</strong> e consi<strong>de</strong>rava que não existia moviment<strong>os</strong> que nãoexprima sentimento.O <strong>no</strong>me e conceito <strong>de</strong> ginástica rítmica <strong>de</strong>rivam <strong>de</strong> Emile Jacques-Dacroze(1865-1950), seu método baseia-se sobre a <strong>no</strong>ção <strong>de</strong> que o ritmo é um fenôme<strong>no</strong>fisiológico. Medidas <strong>de</strong> tempo, <strong>no</strong>tas, pausas, forte e fraco, crescendo e<strong>de</strong>crescendo sendo representad<strong>os</strong> por moviment<strong>os</strong> d<strong>os</strong> braç<strong>os</strong> e variando duração eforça.


129Dacroze qualifica seu método como uma preparação para a arte, com umcaráter genericamente educativo. (GRIFI, 1989, p. 261-262)Rudolf Bo<strong>de</strong> foi alu<strong>no</strong> <strong>de</strong> Dacroze, e achava o método do professor <strong>de</strong> ritmo<strong>no</strong> sentido <strong>de</strong> regra e <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m muito mecanicista.Na sua “ginástica expressiva”, reserva a musica uma função <strong>de</strong>acompanhamento e requer, <strong>de</strong> todo o movimento natural e exato: totalida<strong>de</strong>, inicio,partindo do centro <strong>de</strong> gravida<strong>de</strong>, rítmico revezamento <strong>de</strong> tensão e <strong>de</strong> distensão.Bo<strong>de</strong> rejeito e se opõe ao p<strong>os</strong>itivismo cientifico, e põe em <strong>de</strong>staque aqueleequilíbrio que regula a vida do universo e então aquela do homem vale dizer o“ritmo”. (GRIFI, 1989, p. 262-263).A própria vida, não somente esta sujeita ao ritmo, mas também todo fato davida é concatenado e ligado, mesmo se inter<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente a outrasmanifestações do universo, e tudo isso constitui, <strong>no</strong> seu conjunto, aTOTALIDADE do mundo. (GRIFI, 1989, p. 263).Ele afirma que a inteligência não é capaz <strong>de</strong> colher o movimento da suacontinuida<strong>de</strong>, é obrigada a reconstruí-la, partindo <strong>de</strong> pont<strong>os</strong> mais ou men<strong>os</strong><strong>de</strong>stacad<strong>os</strong>. Esse era o ponto que ele afirmava que a ginástica cientifica erainsuficiente, ginástica que era obra da inteligência, ig<strong>no</strong>rava as características domovimento natural e tornava-se uma ginástica estática e, portanto artificial eartifici<strong>os</strong>a.Em tal ginástica o movimento cientifico-tecnicista cessa <strong>de</strong> ser rítmico, <strong>de</strong>interessar todo o corpo e em primeiro lugar, a coluna vertebral. Omovimento voluntário, especializado, não exprime mais nada, per<strong>de</strong> toda equalquer beleza porque a beleza plástica esta sempre em função datotalida<strong>de</strong> orgânica do corpo. (GRIFI, 1989, p. 263).A ginástica <strong>de</strong> Bo<strong>de</strong> torna-se forma <strong>de</strong> vida, visava retornar a uma formaoriginaria e essencial <strong>de</strong> vida, um retor<strong>no</strong> à natureza. A ginástica <strong>de</strong>veria re<strong>no</strong>var anatureza humana restabelecendo-lhe as conexões essenciais com a vida, <strong>de</strong>veajudar o individuo a procurar aqueles moment<strong>os</strong> <strong>no</strong> qual ele p<strong>os</strong>sa comunicar-se


130<strong>no</strong>vamente com a natureza. Para isso Bo<strong>de</strong> acreditava ser necessário praticar orelaxamento.Ele auspicia moviment<strong>os</strong> naturais, espontâne<strong>os</strong>, não localizad<strong>os</strong>, sematitu<strong>de</strong>s fixas e com alternância <strong>de</strong> contrações e <strong>de</strong> relaxamento, moviment<strong>os</strong> inat<strong>os</strong>do homem. (GRIFI, 1989, p. 263-264).Até mesmo a dança assume, para Bo<strong>de</strong>, um valor essencial (como n<strong>os</strong>temp<strong>os</strong> clássic<strong>os</strong> <strong>de</strong> Atenas), porque com a ajuda da musica, com seusritm<strong>os</strong>, ressalta o ritmo da vida. (GRIFI, 1989, p. 264).Bo<strong>de</strong> dava importância a<strong>os</strong> exercíci<strong>os</strong> <strong>de</strong> impulso, moviment<strong>os</strong><strong>de</strong>senvolvid<strong>os</strong> como unida<strong>de</strong> rítmica. Ele m<strong>os</strong>trava uma forma mo<strong>de</strong>rna <strong>de</strong>humanização do ensinamento porque se preocupava também do modo pelo qual oprofessor <strong>de</strong>ve ministrar as lições, com o objetivo <strong>de</strong> fazer emanar a vida, aexpressão natural do movimento.A Escola <strong>de</strong> Isadora e Elizabeth teve contribuição à ginástica rítmica. Osvári<strong>os</strong> exercíci<strong>os</strong> <strong>de</strong> corrida, salt<strong>os</strong> e saltit<strong>os</strong>, executad<strong>os</strong> com acompanhamentomusical mirando a graça do movimento em primeiro lugar. Os exercíci<strong>os</strong> e gest<strong>os</strong>,das duas, congregam ao mesmo tempo ritmo e harmonia e perseguem, sobretudo,finalida<strong>de</strong>s estéticas. (GRIFI, 1989, p. 264).Com Carlo Diem (1882-1923), prevalece o en<strong>de</strong>reço educativo-formativo.Ele queria dar ao exercício um objetivo formativo.Diem afirmava:Educação física é um d<strong>os</strong> mod<strong>os</strong> <strong>de</strong> extrair o homem das angustiashabituais, e das armadilhas da existência, para dar-lhe acesso à liberda<strong>de</strong>,expressão da sua vonta<strong>de</strong> e da sua potencia e permitir-lhe, assim, <strong>de</strong>encontrar a via da sua personalida<strong>de</strong>. (GRIFI, 1989, p. 265).Ele partia do conceito da unida<strong>de</strong> corporal psicofísica, <strong>de</strong>finiu a educaçãofísica um meio essencial e indispensável ao inteiro complexo educativo.


131Trata-se <strong>de</strong> uma educação executada sobre o "corpo" e "partindo do corpo",mas que do próprio corpo retorna ao corpo, <strong>no</strong> seu conceito <strong>de</strong> unida<strong>de</strong>psicofísica. (GRIFI, 1989, p. 265).Para Diem, a educação física <strong>de</strong>ve fornecer ao homem o erlenis <strong>de</strong> simesmo, procurar a experiência vivida significa, para um ser, tentar alcançar oconhecimento <strong>de</strong> todas as forças agentes na sua pessoa. (GRIFI, 1989, p. 265-266).7. O Movimento NaturalNa França, após <strong>os</strong> métod<strong>os</strong> <strong>de</strong> Cilas e <strong>de</strong> Amorós, um movimentopedagógico cientifico se <strong>de</strong>senvolveu <strong>de</strong>stinada ao <strong>de</strong>senvolvimento docomplemento psicomotor do homem.Os naturalistas da educação, preconizam o retor<strong>no</strong> à vida da natureza, àvida selvática, à vida d<strong>os</strong> pov<strong>os</strong> que viveram a sua existência sem mesmo analisá-la,sem selecioná-la, sem mecanizá-la. É um retor<strong>no</strong> à Rousseau, a<strong>os</strong> filantropin<strong>os</strong>, aPestalozzi.Assim, nasceu o movimento natural, espontâneo, livre, on<strong>de</strong> o homem nasua complementação reencontra o seu corpo, o seu espírito, a sua alegria, a suador.Esse retor<strong>no</strong> é necessário para encontrar equilíbrio, muito vali<strong>os</strong>o para ohomem hoje encontrar sua essência a sua valida<strong>de</strong>.Através <strong>de</strong>sses exercíci<strong>os</strong> naturais <strong>de</strong> se movimentar, aqueles úteis a suaconservação e a sua proteção, o homem atinge o mais alto grau <strong>de</strong> perfeiçãopsicofísica.Restaurar o movimento natural significa levar o homem à integrida<strong>de</strong> eplenitu<strong>de</strong>, que são inatas.George Demeny (1850-1917), ligado ao naturalismo fundou na França a


132educação física mo<strong>de</strong>rna.A principio sustentou as experiências suecas, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> analisarcriticamente e baseado em seus conheciment<strong>os</strong> e experiências, percebeu naginástica <strong>de</strong> Ling sendo exclusivamente anatômica e estática. Para Demeny eranecessário dar bases cientificas à educação física e submetê-la ao controle dométodo experimental, único valido em biologia.Ling realizou o ato motor partindo da anatomia, para um fisiólogo, era umerro, porque a anatomia <strong>de</strong>compõe o corpo huma<strong>no</strong> em um conjunto <strong>de</strong> órgã<strong>os</strong>separad<strong>os</strong>, e o organismo <strong>de</strong>ve ser consi<strong>de</strong>rado como um todo.O método sueco podia <strong>de</strong>senvolver uma parte do corpo, modificar oesqueleto, o fisiologista po<strong>de</strong>-se alcançar o funcionamento harmônico do organismoe o equilíbrio funcional, que eram metas <strong>de</strong> Demeny.A ginástica sueca tinha um movimento analítico, segmentário e estático, eem contrap<strong>os</strong>ição a esse tipo <strong>de</strong> movimento Demeny coloca o movimento sintético,completo que, se <strong>de</strong>senvolvia em todas as direções e interessava todo o corpo,preocupava em ser o mais p<strong>os</strong>sível vital, conforme as exigências do organismo, ouseja, natural.Para ele a ginástica não servia apenas para dar uma força atlética, mas simdar ao homem mei<strong>os</strong> para tirar do seu trabalho, o máximo <strong>de</strong> utilida<strong>de</strong> com o mínimo<strong>de</strong> esforço.As teses <strong>de</strong> Demeny, em op<strong>os</strong>ição às suecas, baseava-se em moviment<strong>os</strong>complet<strong>os</strong>, contínu<strong>os</strong> e plástic<strong>os</strong>.Esse método natural <strong>de</strong> Demeny, o movimento entendido como racional ecientifico, contribuiu para a evolução da educação física e influenciou tod<strong>os</strong> <strong>os</strong>métod<strong>os</strong> <strong>de</strong> ginástica sucessiv<strong>os</strong>.


133George Hebert (1875-1957), continuou <strong>os</strong> pensament<strong>os</strong> <strong>de</strong> Demeny e cominfluencia <strong>de</strong> Amorós. Acreditava que a educação física <strong>de</strong>via <strong>de</strong>senvolver-se ao arlivre, ao contato com o sol, água e ar, <strong>de</strong> maneira continua e constante, adaptada àida<strong>de</strong>, ao grau <strong>de</strong> força e <strong>de</strong> preparação d<strong>os</strong> praticantes, às condições das estaçõese assim por diante. E que a educação física <strong>de</strong>veria favorecer o altruísmo e amoralida<strong>de</strong>, e não apenas a força pela força. (GRIFI, 1989, p. 266-270).8. Psicomotricida<strong>de</strong>:A psicomotricida<strong>de</strong> é a corrente que por volta <strong>de</strong> 1990 dava valida<strong>de</strong> efundamentação à educação física.O termo psicomotricida<strong>de</strong> é o resultado <strong>de</strong> uma feliz contrap<strong>os</strong>ição àconcepção fil<strong>os</strong>ófica dualística que bloqueou, por muito tempo, ainterdisciplinarida<strong>de</strong> das ciências humanas. (GRIFI, 1989, p. 271).psicanálise.Estudar o homem nas manifestações globais; a psicologia, a pedagogia, aA medicina psic<strong>os</strong>somática concretizou essa virada nas concepçõesfil<strong>os</strong>óficas das ciências humanas; o esforço <strong>de</strong> superar a contrap<strong>os</strong>içãocorpo-espirito, que sempre limitou a compreensão do ser huma<strong>no</strong> <strong>de</strong>veriapropor uma incessante comparação d<strong>os</strong> níveis <strong>de</strong> estruturação dapersonalida<strong>de</strong>, das etapas e d<strong>os</strong> tip<strong>os</strong> <strong>de</strong> comportamento entre <strong>os</strong> divers<strong>os</strong>mo<strong>de</strong>l<strong>os</strong> e linguagens culturais (fil<strong>os</strong>ófic<strong>os</strong>, psicológic<strong>os</strong>, psicanalític<strong>os</strong>,neurofisiológic<strong>os</strong>, psico-pedagogic<strong>os</strong>). (GRIFI, 1989, p. 271-272).Durante a ida<strong>de</strong> evolutiva o <strong>de</strong>senvolvimento neuromotor é à base do<strong>de</strong>senvolvimento afetivo e intelectivo. A motricida<strong>de</strong> e psiquismo se influenciamreciprocamente durante a segunda e terceira infância, adolescência e a ida<strong>de</strong> adulta.O conhecimento que se tem do mundo através da mobilização e daprogressiva capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> relação com o ambiente, é psicomotricida<strong>de</strong>, para ocorpo se expressar em uma situação <strong>de</strong> espaço-tempo e afetiva, toda a suaoriginaria significação cognitiva e <strong>de</strong> relação, anulada por sécul<strong>os</strong> <strong>de</strong> civilização


134verbal e industrial. (GRIFI, 1989, p. 272).9. A Educação Física do Século XXI:As Escolas, sistemas e moviment<strong>os</strong> evoluíram e avançaram para aeducação física do século XXI, que tem como principal característica a suaconsolidada inclusão <strong>no</strong> programa educativo <strong>de</strong> todo o mundo, enquanto elementofundamental <strong>de</strong> uma educação integral. Porque, tal como dizia o espanhol J<strong>os</strong>éMaria Cagigal, a educação física é, antes do mais, educação.Assim, a educação física do <strong>no</strong>vo milênio colabora na formação <strong>de</strong> umapessoa íntegra, procura o seu <strong>de</strong>senvolvimento psicomotor e fomenta a qualida<strong>de</strong><strong>de</strong> vida através do exercício físico e do <strong>de</strong>sporto; prepara o ser huma<strong>no</strong> para asexigências que a socieda<strong>de</strong> lhe apresenta e <strong>de</strong>senvolve a sua criativida<strong>de</strong> epersonalida<strong>de</strong>.Graças à educação física atual, <strong>de</strong>mocrática e integradora, as ativida<strong>de</strong>sfísico-<strong>de</strong>sportivas irão tornar-se numa forma <strong>de</strong> ser, em companheiras inseparáveis<strong>no</strong> <strong>de</strong>correr <strong>de</strong> toda a sua vida. (NEVES).10. Educação Física <strong>no</strong> BrasilNo inicio do século XIX militares e médic<strong>os</strong> contribuíram na estruturação eorganização da educação física <strong>no</strong> Brasil.Em 1896 uma concepção higienista foi trazida para o Brasil, para aregeneração da socieda<strong>de</strong> brasileira. Os militares continuaram até a década <strong>de</strong> trintado século XX.Em 1909 o método <strong>de</strong> ginástica francês substitui o alemão, com princípi<strong>os</strong>na fisiologia.


135Em 1930 fundamentou-se na ginástica um pensamento eugênico a partir dahipocrisia da moral burguesa, para melhorar e regenerar a raça branca.Em 1939 o Gover<strong>no</strong> Vargas estabelece as bases da organização <strong>de</strong>sportivabrasileira, <strong>os</strong> professores eram executores <strong>de</strong> vonta<strong>de</strong>s alheias. (MAGALHÃES,2005, p. 91-101).A década <strong>de</strong> 40 é um período <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s investiment<strong>os</strong> por parte doGover<strong>no</strong>, fica clara também a intenção do Gover<strong>no</strong> <strong>de</strong> ter uma juventu<strong>de</strong> patriótica enacionalista. (MOURA, 2007).O filósof<strong>os</strong> Theodor W. Ador<strong>no</strong>, era contra a competição exacerbada, semela <strong>os</strong> jogadores a vivencia permitiria um maior grau <strong>de</strong> liberda<strong>de</strong> por tod<strong>os</strong> <strong>os</strong>participantes. (MAGALHÃES, 2005, p. 91-101).Em 1969 durante o regime militar o esporte se torna hegemônico,acreditavam que <strong>os</strong> esportes <strong>de</strong>veriam ser competitiv<strong>os</strong>, pois as relações humanasnecessitavam da competitivida<strong>de</strong> por objetivo da sobrevivência.A partir da década <strong>de</strong> 1970, iniciou-se a <strong>de</strong>fesa do papel da Educação Físicana formação <strong>de</strong> um cidadão critico e criador.No esporte na escola tinha principio do rendimento <strong>de</strong>sportivo,regulamentação rígida, racionalização <strong>de</strong> mei<strong>os</strong> e técnicas. Em vez <strong>de</strong> um professortinha na escola um treinador.Em 1993 a escola <strong>de</strong>veria ensinar a multiplicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> element<strong>os</strong> da culturacorporal, que contribuíssem para a formação da personalida<strong>de</strong> do sujeito nesseespaço.A historia da socieda<strong>de</strong> e da educação contemporânea só po<strong>de</strong> serentendida se compreendida o movimento capital. (MAGALHÃES, 2005, p. 91-101).O Brasil traz consigo um nível gran<strong>de</strong> <strong>de</strong> alterações, na política, educação e


136cultura e, <strong>de</strong>vido a isso, a busca para compreen<strong>de</strong>r o homem brasileiro tor<strong>no</strong>u-seevi<strong>de</strong>nte. A Educação Física foi interpretada <strong>de</strong> várias formas como: “educaçãocorpórea”, “arte da conservação d<strong>os</strong> menin<strong>os</strong>”, “educação medicinal”, “educaçãonatural”, foi consagrada em 1761, na Aca<strong>de</strong>mia <strong>de</strong> Harlem.Atualmente, <strong>os</strong> acadêmic<strong>os</strong> são mais multipolarizad<strong>os</strong>, integrad<strong>os</strong>,diversificad<strong>os</strong> e politicamente mais organizad<strong>os</strong> e men<strong>os</strong> corporativ<strong>os</strong>.É muito importante a atual preocupação diante do profissional <strong>de</strong> EducaçãoFísica para o próximo século. Para que haja um avanço na área, o profissional <strong>de</strong>vebuscar aperfeiçoar seu conhecimento com mais profundida<strong>de</strong>.Procurar conhecer o corpo huma<strong>no</strong> <strong>de</strong>talhadamente, buscar uma linguagem<strong>de</strong> fácil aprendizagem, mergulhar na fil<strong>os</strong>ofia. Não <strong>de</strong>ve parar <strong>no</strong> tempo e sim,caminhar junto com a evolução. (MAGALHÃES, 2005, p. 91-101).


137III. CONCLUSÃO"Dancei <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o momento em que aprendi aficar <strong>de</strong> pé. Dancei toda a minha vida. Ohomem, a humanida<strong>de</strong>, o mundo inteiroprecisa dançar. Assim já foi, e assim há <strong>de</strong>ser sempre. É <strong>de</strong> todo inútil haver gente quea isso se queira contrapor sem compreen<strong>de</strong>rque a dança é uma necessida<strong>de</strong> natural quen<strong>os</strong> foi dada pela natureza... Et voilá tout"Isadora DuncanIniciam<strong>os</strong> com a menina Isadora, nascida <strong>de</strong> um casal com i<strong>de</strong>ais comunscujo amor fora regado à Poesia e à Música, especialmente, “Fantasia” <strong>de</strong>Schumann, <strong>de</strong>dilhada ao pia<strong>no</strong> por sua mãe, e, responsável pelo primeiro encontrodo casal em uma Galeria <strong>de</strong> São Francisco-USA.Destemida, <strong>de</strong>terminada, dançarina, criativa e membro <strong>de</strong> uma famíliaempobrecida, abre, ainda pequenina (seis an<strong>os</strong> <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>), uma Escola <strong>de</strong> Dança emsua própria residência. Sua mãe, ao pia<strong>no</strong>, acompanhava Isadora para que elaensinasse as crianças da vizinhança. As aulas eram cobradas com o intuito <strong>de</strong>ajudar a família financeiramente.Não estudou muito tempo em Escolas convencionais, iniciou com cinco an<strong>os</strong>e interrompeu a<strong>os</strong> <strong>de</strong>z an<strong>os</strong>, pois achava que <strong>os</strong> melhores ensinament<strong>os</strong> partiam docotidia<strong>no</strong> <strong>de</strong> sua família: a Música, a Poesia, o Teatro, a Literatura e a Dança.Foi a primeira dançarina Americana a utilizar <strong>os</strong> conceit<strong>os</strong> <strong>de</strong> "respiraçãonatural", i<strong>de</strong>ntificava-<strong>os</strong> como ondas do mar. Comentava Isadora: “Aprendi a andar;<strong>de</strong>s<strong>de</strong> então, <strong>de</strong>ixo-me correr, aprendi a voar, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> então não preciso mais que meempurrem para mudar <strong>de</strong> lugar. Agora sou leve, agora eu vôo... agora um Deusdança em mim”. (KURTH, 2004, 209).Isadora adolescente e já mulher, foi carismática, extravagante e


138revolucionária, negou todas as técnicas corporais que aprisionavam o Corpo, epregava a liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> expressão verbal e corporal. Com esse pensamento e ação,cria a sua metodologia própria: a “Dança Livre” e a divulga pel<strong>os</strong> continentes. Maistar<strong>de</strong>, foi reconhecida, com uma das precursoras da Dança Mo<strong>de</strong>rna.Praticava a dança imitativa, pois tinha o hábito <strong>de</strong> ir ao Louvre (Paris) paraestudar <strong>os</strong> moviment<strong>os</strong> d<strong>os</strong> dançarin<strong>os</strong>, impress<strong>os</strong> n<strong>os</strong> vas<strong>os</strong> greg<strong>os</strong>. Buscava comisso, apren<strong>de</strong>r e re<strong>de</strong>scobrir <strong>os</strong> moviment<strong>os</strong> espontâne<strong>os</strong> manifestad<strong>os</strong> por eles.Admirava, respeitava, mas, negava e espantava-se com a técnica do Balletclássico, e com a Ginástica rígida <strong>de</strong> exercíci<strong>os</strong> sufocantes <strong>de</strong> sua Época. Para elaas técnicas utilizadas para a performance corporal, separavam a alma do corpo.Ao ser convidada para conhecer a Escola Imperial <strong>de</strong> Ballet, viu meninas <strong>de</strong>cinco an<strong>os</strong> equilibrando-se nas pontas d<strong>os</strong> pés durante horas, comenta em suabiografia que parecia ter entrado em uma sala <strong>de</strong> tortura, contrário a tudo o quepensava sobre o que <strong>de</strong>ve ser a Dança.Isso leva-n<strong>os</strong> a uma reflexão sobre as ginásticas, danças, cópiascoreográficas e a Educação Física.Lendo Isadora, foi p<strong>os</strong>sível observar que, Corpo e Alma dançam um Solo,sem nenhuma p<strong>os</strong>sibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> distanciament<strong>os</strong> e separações. A Dança expressa eproduz sentid<strong>os</strong>.O Homem que Dança, dança integralmente: <strong>os</strong> múscul<strong>os</strong>, as articulações,enervações, <strong>os</strong>satura, cartilagens, órgã<strong>os</strong>, membr<strong>os</strong> inferiores e superiores, correntesanguínea e sentid<strong>os</strong>, movimentam-se dançando o dançar do pensamento-sentido.Sem esse dançar, a Dança per<strong>de</strong> o seu sentido e <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> produzirsentid<strong>os</strong>, conseqüentemente <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ser Arte e Comunicação, automatiza-se. Comisso, corre o risco <strong>de</strong> inibir o ato <strong>de</strong> criação, pois o hábito <strong>de</strong> repetir as incansáveis


139coreografias (Dança e/ou Ginásticas) sem expressar o que sentim<strong>os</strong>, pouco à poucovai n<strong>os</strong> “emburrecendo”, n<strong>os</strong> “enformando” (colocando-n<strong>os</strong> em uma forma) sem n<strong>os</strong>informar, culminando em um <strong>de</strong>sastre: a p<strong>os</strong>sibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> tornarm<strong>os</strong> marionetesdançantes sem nenhuma p<strong>os</strong>sibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> opinar e criar.Conscientes <strong>de</strong> que Isadora Duncan, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a sua infância, trabalhou, foiro<strong>de</strong>ada e dançou com crianças em vári<strong>os</strong> continentes; amparadas pela Literatura ena observação efetuada com alguns escolares da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Itapira e <strong>de</strong> Bauru doEstado <strong>de</strong> São Paulo-Brasil, cuja faixa etária variou entre seis (06) e doze (12) an<strong>os</strong>;promovem<strong>os</strong> um diálogo gestual entre Isadora Duncan e as referidas criançasatuando nas <strong>de</strong> Educação Física.A inspiração Natureza: mar, montanhas, vales, animais, pessoas, pinturas<strong>de</strong> vas<strong>os</strong> greg<strong>os</strong>, <strong>de</strong>ntre outras observações e sensações que Isadora Duncancapturava e utilizava para expressar e criar a sua “Dança livre”, chegaram à n<strong>os</strong>sascrianças <strong>de</strong> mansinho, talvez, há ainda, pessoas e/ou profissionais cujo objeto <strong>de</strong>estudo e trabalho é a Linguagem do Corpo, não se dão conta <strong>de</strong> como e quantoestão sendo manifestad<strong>os</strong> a “Dança livre” <strong>de</strong> Isadora Duncan, n<strong>os</strong> corredores,páti<strong>os</strong>, quadras, palc<strong>os</strong>, praças, <strong>de</strong>ntre outr<strong>os</strong>. Mudou apenas o Cenário e o Tempo.


140Diálogo Expressivo: dois mund<strong>os</strong> distantes ligad<strong>os</strong> pelasemelhança d<strong>os</strong> Gest<strong>os</strong>.As figuras representam o diálogo entre duas épocas distantes que estãoligadas pel<strong>os</strong> mesm<strong>os</strong> gest<strong>os</strong>, por moviment<strong>os</strong> livres, verda<strong>de</strong>ir<strong>os</strong>, sincer<strong>os</strong>,espontâne<strong>os</strong> e naturais.A hora <strong>de</strong> brincar para as crianças po<strong>de</strong> ser comparada com o momento emque Isadora dançava sua dança livre. Neste momento as crianças estão em ummundo só <strong>de</strong>las, on<strong>de</strong> elas são livres para expressarem da maneira que sentemvonta<strong>de</strong> todas e quaisquer emoções, internas ou do mundo ao redor, que lhes vêm àmente, verda<strong>de</strong>iras e sinceras, manifestadas através d<strong>os</strong> gest<strong>os</strong>.Expressando a alegria <strong>de</strong> movimentar-se apenas seguindo um impulsointer<strong>no</strong>, sem pensar em nada sem seguir nenhuma or<strong>de</strong>m ou sistematização, semmanipulação, sem apresentar nenhuma resistência, seus moviment<strong>os</strong> são guiadounicamente pela própria vonta<strong>de</strong> e por suas emoções.Este é um momento em que são elas mesmas, expressam suas intenções,alegrias e <strong>de</strong>scontentament<strong>os</strong> através d<strong>os</strong> gest<strong>os</strong>. Neste momento em que seencontram consigo, cada gesto é próprio das experiências da criança, próprio da suapersonalida<strong>de</strong>, da vida <strong>de</strong> cada uma <strong>de</strong>las.Seus corp<strong>os</strong> estão em equilíbrio e harmonia com a alma, que parecem um só.As emoções po<strong>de</strong>m ser expressadas <strong>de</strong> maneiras diferentes, <strong>de</strong> acordo coma sensibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cada um, através <strong>de</strong>sses gest<strong>os</strong> livres elas estão criando.Quando brincam sua imaginação se eleva a um ponto, que <strong>de</strong>ixam<strong>os</strong> <strong>de</strong>conhecer quando per<strong>de</strong>m<strong>os</strong> a essência e a pureza <strong>de</strong> uma criança. Seusmoviment<strong>os</strong> po<strong>de</strong>m ser entendid<strong>os</strong> como um reflexo <strong>de</strong>ssa imaginação.


141Nas brinca<strong>de</strong>iras elas também po<strong>de</strong>m ser o que, ou quem elas quiserem.Ao ver uma criança brincando ficam<strong>os</strong> admirad<strong>os</strong> com a energia, emoção esentimento que elas n<strong>os</strong> passam, <strong>de</strong> amor, <strong>de</strong> carinho, <strong>de</strong> ternura, <strong>de</strong> compaixão,pureza e i<strong>no</strong>cência, isso n<strong>os</strong> inspira e tod<strong>os</strong> n<strong>os</strong>s<strong>os</strong> problemas parecem tãopequen<strong>os</strong> e insignificantes quando olham<strong>os</strong> para um sorriso espontâneo <strong>de</strong> umacriança. Elas têm a pureza, a essência necessária para conseguir passar essasensação para n<strong>os</strong>. Da mesma forma que Isadora com sua dança.Nas figuras seis (06), sete (07) e oito (08) cria-se um dialogo entre <strong>os</strong> ritm<strong>os</strong>d<strong>os</strong> moviment<strong>os</strong>, com as camadas <strong>de</strong> tecido leve d<strong>os</strong> trajes <strong>de</strong> Isadora e o balançardo cabelo da criança.Em algumas figuras apenas o cenário é mudado a alegria <strong>de</strong> movimentarselivremente seguindo a própria inspiração e impulso é a mesma.


142Figura 1 Figura 2Figura 3 Figura 4 Figura 5


143Figura 6 Figura 7 Figura 8Figura 9 Figura 10


144Figura 11 Figura 12 Figura 13Figura 14 Figura 15


145Figura 16 Figura 17 Figura 18Figura 19 Figura 20


146Figura 21 Figura 22Figura 23 Figura 24 Figura 25


147IV. REFERÊNCIASACHCAR, D. Ballet, arte, técnica, interpretação. 2. ed. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Cia.Brasileira <strong>de</strong> Artes Gráficas, 1985.DUNCAN, I. Minha vida: memórias. São Paulo: Circulo do Livro, 1988.ELLMERICH, L. História da dança. 3. ed. São Paulo: Ricordi, 1964.FAZENDA, I. et.al. Metodologia da Pesquisa Educacional. 3.ed. São Paulo: Cortez,1994.FUX, M. Dança, experiência <strong>de</strong> vida. 3. ed. São Paulo: Summus, 1983.GARAUDY, R. Dançar a vida. 5. ed. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Nova Fronteira,1980.GEBARA. et al. Educação Física & Esportes: Perspectivas para o século XXI. 5.ed. Campinas-SP: Papirus, 1993.GRIFI, G. História da Educação Física e do Esporte. Porto Alegre: D.C. Luzzato,1989.KLAUS, V.; CARVALHO, M. A. A dança. São Paulo: Sicilia<strong>no</strong>, 1990.KURTH, P. Isadora: uma vida sensacional. São Paulo: Globo, 2004.LEMOS, A.P. O Apolíneo e o Dionisíaco na Dança Contemporânea: Quando asforças da natureza se encontram em Isadora Duncan. 2005. Disponível em:. Acesso em 14 <strong>de</strong>mar. 2008.LEVER, M. Isadora. São Paulo: Martins Fontes, 1988.MAGALHÃES. C.H.F. Breve histórico da educação física e suas tendênciasatuais a partir da i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong> algumas tendências <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ais e idéias <strong>de</strong>tendências. 2005. Revista da Educação Física/UEM. Vol. 16, n.1, janeiro/junho.


148MOURA, M. Educação Física No Brasil: Uma História Política. 2007. Disponívelem:.Acesso em 27 <strong>de</strong> ago. 2008.SOARES, C. Educação Física: Raízes Européias <strong>no</strong> Brasil. Campinas-SP:Autores Associad<strong>os</strong>, 1994.NEVES, R. História da Educação Física. Disponível em:. Acesso em 20 <strong>de</strong> set. 2008.ZONTA, A. F. Z. Do Ballet ao Cabaret: Degas e Toulouse Lautrec. Bauru-SP.2004.


149AnexoFrases <strong>de</strong> Isadora:"Dançar é a arte <strong>de</strong> sublimar a dor.""Se você já foi ousada, não <strong>de</strong>ixe que a amansem".“... na vida real ninguém é totalmente bom ou totalmente ruim. Po<strong>de</strong>m<strong>os</strong> não infringir <strong>os</strong> <strong>de</strong>zmandament<strong>os</strong>, mas tod<strong>os</strong> sabem<strong>os</strong> que som<strong>os</strong> capazes <strong>de</strong> fazê-lo”."Meu corpo é o templo da minha arte, e eu o exponho como altar para a adoração da beleza""Dançar é sentir, sentir e sofrer, sofrer e amar. Você ama, você sofre e você sente... então, vocêdança.""É em prol da ressurreição <strong>de</strong>ssa arte perdida que é a dança, que eu trabalho e <strong>de</strong>dico a minha vida""Na minha túnica vermelha sempre dancei a revolução. Sentia que meus sapat<strong>os</strong> e roupas apenasme atrapalhavam... por isso eu tirava tudo. O corpo da mulher foi, durante sécul<strong>os</strong>, símbolo da maisalta beleza. A mulher tem que viver essa beleza e seu corpo tem <strong>de</strong> se tornar o expoente vivo disso...Meu corpo é o templo da minha arte.""Talvez eu me torne uma bolchevista. Mas toda a vida eu quis ensinar crianças, ter escolas grátis eum teatro grátis. A América rejeitou esse projeto, mas eles ainda têm trabalho infantil, é só <strong>os</strong> ric<strong>os</strong>po<strong>de</strong>m assistir à ópera, e a beleza é comercializada pel<strong>os</strong> diretores <strong>de</strong> teatro e pel<strong>os</strong> magnatas docinema. Tudo o que <strong>de</strong>sejam é dinheiro, dinheiro, dinheiro"."Quero ajudar a <strong>de</strong>struição do velho mundo <strong>de</strong> injustiça <strong>de</strong> classes"."É da alma que tudo irradia "“Aprendi a andar; <strong>de</strong>s<strong>de</strong> então, <strong>de</strong>ixo-me correr, prendi a voar, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> então não preciso mais que meempurrem para mudar <strong>de</strong> lugar. Agora sou leve, agora eu vôo... agora um Deus dança em mim”."Eu acreditava com fé entusiástica que não se po<strong>de</strong> chegar à beleza sem ter o <strong>de</strong>sejo da beleza"Imagine então uma dançarina que, após longo estudo, oração e inspiração tenha atingido tal grau <strong>de</strong>entendimento que seu corpo seja simplesmente a lumin<strong>os</strong>a manifestação <strong>de</strong> sua alma, cujo corpodança <strong>de</strong> acordo com uma música ouvida internamente, em uma expressão <strong>de</strong> um outro mundo, maisprofundo. Essa é a dançarina verda<strong>de</strong>iramente criativa, natural mas não imitativa, falando emmovimento <strong>de</strong> <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> seu ser e <strong>de</strong> <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> algo maior do que tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> seres."The Phil<strong>os</strong>opher's Stone of Dancing, 1920"Eu passei long<strong>os</strong> dias e <strong>no</strong>ites <strong>no</strong> Studio, em busca daquela dança que po<strong>de</strong>ria ser a divinaexpressão do espírito huma<strong>no</strong> através do movimento do corpo. Por horas eu po<strong>de</strong>ria ficar totalmenteimóvel, minhas duas mã<strong>os</strong> cruzadas sobre o meu peito, cobrindo o plexo solar... Eu estava buscandoe finalmente encontrei a mola central <strong>de</strong> todo movimento, a unida<strong>de</strong> a partir da qual toda adiversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> moviment<strong>os</strong> é criada, o espelho da visão para a criação da dança."“Mesmo naquela época eu senti que <strong>os</strong> sapat<strong>os</strong> e as roupas só me atrapalhavam. Os sapat<strong>os</strong>pesad<strong>os</strong> eram como correntes, as roupas eram minha prisão. Assim, eu tirava tudo. E sem nenhumolhar me observando, totalmente sozinha, dançava nua na praia. E me parecia que o mar e todas asárvores estavam dançando comigo”


150"A dança é o movimento que expressa o pensamento"" A melhor herança que se p<strong>os</strong>sa <strong>de</strong>ixar a um filho, é permitir que ele mesmo <strong>de</strong>sbrave o seucaminho"."Nenhuma flor da arte jamais vicejou sem ter sido nutrida por lágrimas <strong>de</strong> angustias""Nenhuma p<strong>os</strong>e, nenhum movimento, nenhum gesto é belo em si. Todo movimento só é belo quandoé expresso com verda<strong>de</strong> e sincerida<strong>de</strong>. A frase "a beleza das linhas" é, por si, absurda. Uma linha sóé bela quando é dirigida para um belo fim."“Se eu pu<strong>de</strong>sse dizer a você o que <strong>de</strong>sejo transmitir, não haveria necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> dançar.""A beleza da arte da Dança não é feita <strong>de</strong> ornament<strong>os</strong>, mas daquilo que flui da alma humana, quandoinspirada do corpo que é o seu símbolo"."A dança é a expressão d<strong>os</strong> sentiment<strong>os</strong> mais <strong>no</strong>bres e mais profund<strong>os</strong> da alma humana""Dancei <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o momento em que aprendi a ficar <strong>de</strong> pé. Dancei toda a minha vida. O homem, ahumanida<strong>de</strong>, o mundo inteiro precisa dançar. Assim já foi, e assim há <strong>de</strong> ser sempre. É <strong>de</strong> todo inútilhaver gente que a isso se queira contrapor sem compreen<strong>de</strong>r que a dança é uma necessida<strong>de</strong>natural que n<strong>os</strong> foi dada pela natureza... Et voilá tout""Eu acreditava com fé entusiástica que não se po<strong>de</strong> chegar à beleza sem ter o <strong>de</strong>sejo da beleza""As recordações são men<strong>os</strong> tangíveis que <strong>os</strong> sonh<strong>os</strong>. Na verda<strong>de</strong>, tive inúmer<strong>os</strong> sonh<strong>os</strong> que mepareceram mais viv<strong>os</strong> do que <strong>os</strong> fat<strong>os</strong> reais. A vida é um sonho, e tanto melhor assim, pois quempo<strong>de</strong>ria sobreviver a algumas <strong>de</strong> suas provações""Por vezes já me interpelaram se eu colocava o amor mais alto do que a arte, e eu sempre respondique não podia separá-l<strong>os</strong>, pois só o artista po<strong>de</strong> ser o verda<strong>de</strong>iro amante. Só ele tem a pura visão daalma, para <strong>os</strong> que po<strong>de</strong>m contemplar a beleza imortal""Nasci junto do mar e já <strong>no</strong>tei que tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> gran<strong>de</strong>s aconteciment<strong>os</strong> da minha vida sempre ocorreramnas suas proximida<strong>de</strong>s. A minha primeira idéia do movimento da dança veio-me certamente do ritmodas águas. Minha vida e minha arte nasceram do mar""A vocação já vem do berço e tudo o que se fará mais tar<strong>de</strong> <strong>de</strong>ve ser iniciado muito cedo. Todavia,pouc<strong>os</strong> pais compreen<strong>de</strong>m assim, e a pretensa educação dada a<strong>os</strong> filh<strong>os</strong>, não lhes abre outrocaminho que o da vulgarida<strong>de</strong>, impedindo-<strong>os</strong> <strong>de</strong> fazer qualquer coisa <strong>de</strong> belo e original durante avida. Mas quem sabe lá, se não é isso que está certo? Do contrário, on<strong>de</strong> iríam<strong>os</strong> buscar <strong>os</strong> milhares<strong>de</strong> caixeir<strong>os</strong> e escriturári<strong>os</strong> que são indispensáveis à vida civilizada""Sonhava, então, achar também um movimento inicial, <strong>de</strong> que se originasse toda uma série <strong>de</strong> outr<strong>os</strong>moviment<strong>os</strong>, verda<strong>de</strong>iramente espontâne<strong>os</strong>, sem qualquer interferência da minha vonta<strong>de</strong>, e que nãof<strong>os</strong>se mais do que a reação inconsciente do movimento <strong>de</strong> partida. Este mesmo movimento, eu otinha <strong>de</strong>senvolvido em variações diversas sobre temas diferentes. Para exemplificar: o primeiromovimento <strong>de</strong> medo, seguido das reações naturais provindas da emoção inicial, o da tristeza do qualnascia uma dança <strong>de</strong> lamentações, o do amor, pronto a se abrir nas pétalas <strong>de</strong> uma corola, da qual adançarina se evolava com a graça <strong>de</strong> um perfume"“Criança, dançava a alegria espontânea d<strong>os</strong> seres em crescimento. Adolescente, dancei com umaalegria que se transformava em apreensão diante das correntes obscuras e trágicas que começava a


151lobrigar <strong>no</strong> meu caminho. Apreensão da brutalida<strong>de</strong> implacável da vida e da sua marchaesmagadora""Eu não p<strong>os</strong>so dançar <strong>de</strong>sse jeito. Antes que entre em cena preciso botar um motor na minha alma.Só <strong>de</strong>pois que este começa a trabalhar é que meus braç<strong>os</strong>, minhas pernas, enfim todo o meu corpo,se põe em movimento, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente da minha vonta<strong>de</strong>. Mas se não tenho tempo para botar omotor na minha alma, então não p<strong>os</strong>so dançar""Para mim, a dança é não apenas uma arte que permite à alma humana expressar-se em movimento,mas também a base <strong>de</strong> toda uma concepção da vida mais flexível, mais harmoni<strong>os</strong>a, mais natural. Adança não é, como se ten<strong>de</strong> a acreditar, um conjunto <strong>de</strong> pass<strong>os</strong> mais ou men<strong>os</strong> arbitrári<strong>os</strong> que são oresultado <strong>de</strong> combinações mecânicas e que, embora p<strong>os</strong>sam ser úteis como exercíci<strong>os</strong> técnic<strong>os</strong>, nãopo<strong>de</strong>riam ter a pretensão <strong>de</strong> constituírem uma arte: são mei<strong>os</strong> e não um fim"“Um Deus dança em mim”

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