Boletim BioPESB 2014 - Edição 12.pdf
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<strong>Boletim</strong> Biopesb<br />
Ciência, meio ambiente e cidadania em suas mãos ISSN - 2316-6649 - Ano 4 - Nº 12 - <strong>2014</strong><br />
Série Turismo na Serra do Brigadeiro inicia sua viagem pela<br />
Sede Administrativa do PESB no município de Araponga<br />
O <strong>Boletim</strong> <strong>BioPESB</strong> inicia<br />
o ano de <strong>2014</strong> com uma<br />
seção especial sobre o turismo<br />
no Parque Estadual<br />
da Serra do Brigadeiro e<br />
em seu entorno, com o objetivo<br />
de apresentar, divulgar<br />
e incentivar o turismo<br />
ecológico na região. Em<br />
cada edição, o <strong>Boletim</strong><br />
<strong>BioPESB</strong> buscará retratar<br />
locais, cultura e moradores<br />
que fazem do território<br />
Serra do Brigadeiro uma<br />
grande atração para o<br />
lazer, contato com a natureza<br />
e para o aprendizado<br />
ambiental. Nesta<br />
primeira edição, apresentaremos<br />
a sede do Parque,<br />
localizada no município de<br />
Araponga.<br />
Pág 8<br />
Bioinvasão de espécies exóticas no território brasileiro<br />
podem causar prejuízos ambientais e econômicos<br />
Regina Waddington<br />
Elas podem apresentar<br />
uma beleza única e são a<br />
primeiro olhar, inofensivas.<br />
Algumas são tão comuns que<br />
parecem naturais de certas<br />
regiões. O que nem todo<br />
mundo sabe é que espécies<br />
exóticas podem se tornar<br />
espécies invasoras e com<br />
isso gerar problemas para a<br />
saúde, agricultura e meio ambiente.<br />
A invasão biológica<br />
ocorre quando uma espécie<br />
exótica animal ou<br />
vegetal, introduzida em<br />
determinado ambiente,<br />
consegue se adaptar e se<br />
estabelecer, passando a<br />
se propagar e a dominar<br />
espécies nativas, expulsando-as<br />
e gerando perda<br />
de biodiversidade e alterações<br />
nos ciclos ecológicos<br />
naturais.<br />
As espécies invasoras<br />
são apontadas hoje<br />
como sendo a segunda<br />
maior ameaça mundial a<br />
biodiversidade, superada<br />
apenas pela destruição<br />
provocada pelo homem.<br />
De acordo com o secretariado<br />
da Convenção sobre<br />
Diversidade Biológica,<br />
durante a Eco-92, espécies<br />
invasoras contribuiram<br />
para a extinção de 39%<br />
dos animais que desapareceram<br />
por causas conhecidas<br />
desde o século<br />
XVII.<br />
Pág 2<br />
Ciência<br />
Entrevista<br />
Serra do Brigadeiro<br />
Pesquisas na área de engenharia<br />
genética buscam<br />
criar alternativas para o<br />
combate a pragas.<br />
Página 8<br />
Irene Cardoso, professora<br />
do Departamento de<br />
Solos da UFV, discute os<br />
benefícios dos Sistemas<br />
Agroflorestais.<br />
Página 6<br />
Saiba mais sobre a biodiversidade<br />
e a proteção<br />
da fauna de flora<br />
presentes no PESB.<br />
Página 7
MeioAmbiente Ano 4, n°12 - Pág 2<br />
Ações do governo brasileiro tentam evitar prejuízos<br />
ambientais e econômicos com a Bioinvasão<br />
Toda espécie que se estabelece<br />
em um território<br />
diferente de seu meio ambiente<br />
de origem é chamada<br />
de “espécie exótica”. Essas<br />
espécies são translocadas<br />
pelo ser humano por meio<br />
de suas atividades econômicas<br />
e culturais. Quando essas<br />
espécies não se adaptam ao<br />
novo local ou não resistem à<br />
competição com as espécies<br />
nativas, elas podem logo desaparecer.<br />
Entretanto, quando<br />
essas espécies encontram<br />
um ambiente adequado<br />
para se desenvolver, pela<br />
ausência de inimigos naturais,<br />
por exemplo, elas podem<br />
se tornar pragas naturais<br />
e causar danos para as<br />
espécies nativas. Assim, elas<br />
se tornam “espécies exóticas<br />
invasoras”. Por esse motivo,<br />
é muito importante que haja<br />
estratégias de detecção e<br />
controle.<br />
As ações de prevenção<br />
dependem de vários ministérios,<br />
de uma legislação<br />
adequada, de fiscalização<br />
e integração entre<br />
órgãos de vigilância. O<br />
que já está sendo feito<br />
atualmente é controlar a<br />
introdução de novas espécies<br />
no Brasil. O trabalho<br />
tem sido conduzido pelo<br />
IBAMA, que faz uma análise<br />
de risco antes de permitir<br />
que sejam importados animais<br />
ou plantas de outras<br />
regiões do planeta.<br />
- Em 2003, o Ministério<br />
do Meio Ambiente (MMA)<br />
elaborou o “Primeiro Informe<br />
Nacional sobre Espécies<br />
Exóticas Invasoras”, que é o<br />
primeiro diagnóstico nacional<br />
relacionado à distribuição<br />
destas espécies e capacidade<br />
instalada no país para<br />
tratar o problema.<br />
- Em 2005, o MMA e o<br />
IBAMA, em parceria com a<br />
Fiocruz, Embrapa, Universidade<br />
Federal de Viçosa,<br />
Instituto Oceanográfico da<br />
USP (IOUSP), a TNC e o<br />
Instituto Hórus, decidiram realizar<br />
o “I Simpósio Brasileiro<br />
sobre Espécies Exóticas Invasoras”,<br />
em Brasília, para<br />
discutir a questão de bioinvasão<br />
no Brasil.<br />
- Ainda em 2005, foi<br />
elaborada a “Estratégia<br />
<strong>Boletim</strong> Biopesb<br />
Redação: Alunos do PET- Bioquímica da UFV<br />
(Bárbara Dias, Bruno Paes, Fernanda Araújo, Flávia<br />
Bagno, Joana Marchiori, Lethícia Ribeiro, Luciana<br />
Fernandes, Paulo Alves, Raquel Santos, Thaís Martins,<br />
Valdeir Moreira).<br />
Projeto Gráfico : Thamara Pereira<br />
Diagramação: Ana Paula Lopes<br />
Revisão: Lethícia Ribeiro<br />
www.biopesb.ufv.br<br />
Nacional sobre Espécies<br />
Exóticas Invasoras”, aprovada<br />
pela CONABIO, por<br />
meio da Resolução nº 5, que<br />
inclui elementos de prevenção,<br />
controle, políticas e instrumentos<br />
legais, conscientização<br />
pública, capacitação<br />
técnica, pesquisa e financiamento.<br />
- Em setembro de 2013,<br />
aprovou-se a Resolução<br />
CONABIO no, que dispõe<br />
sobre as Metas Nacionais de<br />
Biodiversidade para 2020.<br />
De acordo com essa resolução:<br />
“Até 2020, a Estratégia<br />
Nacional sobre Espécies<br />
Exóticas Invasoras deverá estar<br />
totalmente implementada,<br />
com participação e comprometimento<br />
dos estados e com<br />
a formulação de uma Política<br />
Nacional, garantindo o<br />
diagnóstico continuado e<br />
atua-lizado das espécies e<br />
a efetividade dos Planos de<br />
Ação de Prevenção, Contenção<br />
e Controle”.<br />
Joana Marchiori<br />
Bárbara Dias<br />
Editor-Chefe: João Paulo Viana Leite<br />
Telefone: (31) 3899-3044<br />
E-mail: biopesbufv@gmail.com<br />
Endereço: Departamento de Bioquímica e Biologia<br />
Molecular - UFV<br />
CEP 36570-000, Viçosa - MG - Brasil<br />
Tiragem: 1.000 exemplares<br />
Apoio: Pró-Reitoria de Extensão e Cultura (PIBEX)-UFV<br />
Apoio: Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em<br />
Interações Planta-Praga<br />
Editorial<br />
O <strong>Boletim</strong> <strong>BioPESB</strong> inaugura<br />
com esta edição seu<br />
quarto ano como veículo<br />
de comunicação entre pesquisadores<br />
e comunidade,<br />
tendo entre seus principais<br />
objetivos a difusão e a<br />
popularização da ciência,<br />
com matérias de interesse<br />
para todos que vivem<br />
ou visitam o território rural<br />
Serra do Brigadeiro.<br />
Nesta caminhada temos<br />
sempre aprendido com a<br />
sabedoria do povo local.<br />
Reforçamos também nossa<br />
certeza sobre a importância<br />
da preservação desse<br />
maravilhoso fragmento<br />
de Mata Atlântica. Darwin<br />
em sua caminhada<br />
científica dizia “quase<br />
impossível dar uma ideia<br />
adequada” de suas<br />
emoções. Mas usando os<br />
versos de Geraldo Azevedo<br />
podemos traduzir esta<br />
nossa trajetória no PESB:<br />
“Na força dessa beleza<br />
é que eu sinto firmeza e<br />
paz. Por isso nunca desapareça;<br />
nunca me esqueça,<br />
não te esqueço jamais”.<br />
Acreditamos que a<br />
ciência pode ser um forte<br />
aliado a conservação do<br />
ambiente, disponibilizando<br />
conhecimento para a<br />
geração de tecnologias<br />
limpas e sustentáveis, trazendo<br />
benefícios para<br />
a comunidade local e<br />
prestando os valiosos<br />
serviços ambientais. Assim,<br />
renovamos nossos<br />
ideais seguindo a canção:<br />
“quero saciar minha sede<br />
milhões de vezes, milhões<br />
de vezes...”<br />
João Paulo Viana Leite<br />
Editor Chefe
MeioAmbiente Ano 4, n°12 - Pág 3<br />
Espécies exóticas invasoras no Brasil<br />
Coral-sol Mexilhão-dourado Peixe-leão<br />
Um invasor marinho que está ameaçando<br />
a biodiversidade da zona costeira<br />
brasileira. Introduzido no país no final<br />
da década de 80, através de plataformas<br />
de petróleo/gás o coral-sol<br />
afeta hoje, diretamente, seis municípios<br />
fluminenses, sendo que toda a costa<br />
brasileira está ameaçada devido ao<br />
potencial de expansão do coral invasor.<br />
Além de expulsar as espécies nativas -<br />
como o coral-cérebro, uma espécie que<br />
só existe no Brasil-, ele não abriga algas<br />
simbióticas que produzem oxigênio,<br />
reduzindo drasticamente a produção<br />
primária do ambiente.<br />
Esse molusco de água doce é capaz de<br />
se fixar em diversos substratos e possui<br />
grande capacidade adaptativa.<br />
Enquanto espécie invasora, o mexilhão<br />
representa uma ameaça à fauna e à<br />
flora aquáticas, além de bloquear tubulações<br />
de hidrelétricas onerando a<br />
produção de energia. Introduzido no<br />
Brasil no final da década de 90 através<br />
de navios mercantes, o molusco se instalou<br />
em rios e lagoas do Rio Grande<br />
do Sul, subiu pelos rios Paraná e Uruguai<br />
e já foi detectado nos rios do Pantanal,<br />
nos estados do Mato Grosso e<br />
Mato Grosso do Sul.<br />
Dentre os deslumbrantes animais<br />
marinhos, o peixe-leão vermelho chama<br />
muita atenção entre aquaristas de todo<br />
o mundo com suas nadadeiras listradas<br />
e coloridas. Nativos da região Indo-<br />
Pacífica a espécie invadiu o litoral leste<br />
dos Estados Unidos, desceu pela América<br />
Central, chegou à América do Sul e<br />
se aproxima do Brasil. Os peixes-leões<br />
são predadores vorazes. Além de comer<br />
muitos peixes, a espécie se reproduz<br />
facilmente e ainda pode liberar uma<br />
substância tóxica oferecendo um risco<br />
para a saúde pública, já que banhistas<br />
e pescadores podem ser atingidos.<br />
Espécies que invadiram a Mata Atlântica<br />
Lírio-do-brejo Caramujo-africano Tojo<br />
Nativo do sul da Ásia e introduzido no Brasil<br />
como planta ornamental, o lírio-do-brejo<br />
foi rapidamente difundido pelo país,<br />
especialmente nas regiões Sul e Sudeste.<br />
Sua beleza agrada a muitos e suas flores<br />
brancas e vistosas, são sempre perfumadas.<br />
O lírio-do-brejo, porém expulsa qualquer<br />
planta nativa de seu habitat e por possuir<br />
grande capacidade de resistência,<br />
adapta-se facilmente às margens de rios,<br />
podendo invadir canais e entupir até mesmo<br />
tubulações de hidrelétricas. O lírio-dobrejo<br />
apresenta crescimento muito rápido<br />
e aprecia solos brejosos e ricos em matéria<br />
orgânica. Sua flor é perfumada com cheiro<br />
parecido com espécies de jasmim.<br />
Introduzido no Brasil nos anos 80 como<br />
alternativa ao escargot, o caramujo africano<br />
não deu o retorno esperado. Os criadores,<br />
então, libertaram os animais que mantinham<br />
em cativeiro. O problema se tornou nacional,<br />
pois o caramujo-africano ataca plantações<br />
e restringe a oferta de alimento para<br />
várias espécies animais nativas. Além disso,<br />
sua proliferação descontrolada representa<br />
um sério risco à saúde pública, pois ele é<br />
vetor de doenças graves como a meningite.<br />
Você provavelmente já deve ter visto um, o<br />
caramujo - que na verdade é um caracol -<br />
pois se trata de um molusco terrestre<br />
pulmonado e não de água doce-, possui<br />
uma concha marrom e pode pesar até<br />
quinhentos gramas.<br />
Tojo é o nome dado a plantas de várias<br />
espécies arbustivas de flores amarelas e<br />
cobertas de espinhos pertencentes. São plantas<br />
típicas da flora atlântica localizada na<br />
península Ibérica. Essa espécie vegetal foi<br />
trazida ao Brasil pelos colonizadores portugueses<br />
para ser usada como cerca viva. Sua<br />
disseminação acabou saindo de controle uma<br />
vez que o tojo deixa o solo ácido, inibindo<br />
o crescimento das espécies nativas e inutiliza<br />
a área para agricultura e pastoreio. Por ser<br />
muito denso e seco, ele aumenta o risco de<br />
incêndios. Ironicamente, o fogo estimula a<br />
germinação de suas sementes. Muitos ateiam<br />
fogo no tojo tentando destruí-lo, o que só<br />
agrava o problema.<br />
Flávia Fonseca<br />
Lethícia Ribeiro
Ciência<br />
Ano 4, n°12 - Pág 4<br />
A pesquisa de engenharia genética no desafio de controle de<br />
pragas nas lavouras<br />
Lagarta-do-cartucho, uma das pragas que tem causado grandes perdas em lavouras de<br />
Minas Gerais e da região centro-oeste<br />
O controle de pragas<br />
em atividades agrícolas<br />
no Brasil e em outros países<br />
é feito por meio da<br />
utilização de inseticidas.<br />
Apesar do custo relativamente<br />
baixo e manutenção<br />
esporádica (no caso,<br />
reaplicação de tempos em<br />
tempos), o uso de produtos<br />
químicos tem afetado<br />
negativamente o meio<br />
ambiente e refletido no<br />
bem estar do ser humano<br />
que consome os produtos.<br />
Neste sentido, atualmente<br />
a ciência tem dado<br />
grande atenção para<br />
esta área com o objetivo<br />
de encontrar técnicas ou<br />
substâncias que sejam nocivas<br />
especificamente ao<br />
agente causador da doença<br />
no vegetal e que não<br />
cause danos excessivos ao<br />
meio ambiente e a saúde<br />
humana. Em destaque,<br />
encontra-se a engenharia<br />
genética, que promete ser<br />
uma alternativa aos inseticidas,<br />
aliando custo mais<br />
baixo, manejo tradicional<br />
das culturas e reduzido<br />
impacto ambiental.<br />
Mas o que seria engenharia<br />
genética? Podemos<br />
definir engenharia genética<br />
como a manipulação<br />
de genes dos organismos<br />
fora da célula, com o<br />
objetivo de induzir, em<br />
um vegetal, por exemplo,<br />
a expressão de produtos<br />
gênicos, como proteínas<br />
e enzimas, que melhorem<br />
sua adaptabilidade às<br />
condições de estresse,<br />
como pragas e seca. Mas<br />
a engenharia genética<br />
não se restringe somente<br />
a agricultura: a insulina,<br />
hormônio que controla os<br />
níveis de glicose no sangue,<br />
pode ser produzido por<br />
bactérias modificadas<br />
que expressam o gene do<br />
hormônio, mostrando que<br />
na saúde humana também<br />
há espaço para essa<br />
incrível ciência.<br />
Partindo deste princípio<br />
de modificação do<br />
organismo, é possível que<br />
uma determinada planta<br />
produza substâncias que<br />
tenham controle sobre<br />
insetos que utilizam desse<br />
vegetal como fonte de<br />
alimento. Também denominados<br />
como biopesticidas,<br />
estes compostos possuem<br />
como grande vantagem<br />
menor toxicidade, uma<br />
vez que são produzidos<br />
pela própria planta, e<br />
seletividade, já que só<br />
são produzidos por estímulos<br />
biológicos. Isso<br />
pode atenuar os efeitos<br />
colaterais causados pelos<br />
agroquímicos na fauna e<br />
flora ao redor da cultura.<br />
Somado a esses fatores,<br />
ainda há o fato de que<br />
esses compostos possuem<br />
rápida decomposição no<br />
metabolismo do vegetal.<br />
Bruno Melo<br />
Valdeir Moreira<br />
Thaís Martins<br />
A Engenharia Genética auxilia no desenvolvimento de espécies<br />
vegetais que expressam moléculas capazes de combater doenças.
Ciência Ano 4, n°12 - Pág 5<br />
Pesquisa em engenharia genética realizada no Brasil tem levado<br />
à obtenção de cultivares resistentes ao ataque de lagartas<br />
No Brasil, o cultivo<br />
de plantas modificadas<br />
geneticamente é bastante<br />
restrito. Algumas leguminosas<br />
como feijão, soja<br />
e milho e até mesmo<br />
algodão já são produzidos<br />
atualmente com o auxílio<br />
da engenharia genética.<br />
O milho é um exemplo<br />
bastante interessante:<br />
chamado de milho Bt,<br />
a modificação genética<br />
introduz nas sementes uma<br />
toxina isolada de uma<br />
bactéria, o Bacillus thuringiensis.<br />
Essa toxina ataca<br />
o sistema digestivo das<br />
“lagartas-do-cartucho”,<br />
matando-as. Entretanto,<br />
somente o uso do milho<br />
especial não é suficiente<br />
para manter a praga longe<br />
da cultura. Especialistas<br />
recomendam a construção<br />
de uma área de refúgio<br />
ao redor desses cultivares.<br />
Essa área plantada com<br />
milho não modificado<br />
alojaria as lagartas e<br />
evitaria que elas atacassem<br />
o milho transgênico. Pode<br />
parecer estranho, mas as<br />
lagartas, devido a não<br />
adoção do refúgio, estão<br />
tornando-se resistentes à<br />
toxina inseticida.<br />
Em 2013, Minas Gerais<br />
e Mato Grosso declararam<br />
emergência fitossanitária<br />
devido a grande incidência<br />
de lagartas-do-cartucho<br />
no cultivar de milho<br />
dos estados.<br />
O feijão, alimento que<br />
nunca falta no prato do<br />
brasileiro, também merece<br />
destaque: atualmente,<br />
alguns cultivares desenvolvidos<br />
com modificações<br />
genéticas no feijoeiro<br />
busca evitar que pragas<br />
como a mosca branca,<br />
que transmite um vírus que<br />
impede o desenvolvimento<br />
da planta, se propaguem.<br />
Segundo o pesquisador<br />
da Empresa Brasileira de<br />
Pesquisa Agropecuária<br />
(Embrapa Cenargem),<br />
Francisco de Lima Aragão,<br />
não existem diferenças<br />
nutricionais entre o feijão<br />
modificado geneticamente<br />
e os que estão disponíveis<br />
no mercado, além de não<br />
utilizar-se de agrotóxicos<br />
em excesso na cultura.<br />
Esses são exemplos de<br />
como a ciência pode auxiliar<br />
no combate às pragas de<br />
modo a reduzir impactos<br />
na saúde do consumidor,<br />
no meio ambiente e na<br />
economia, uma vez que<br />
os aspectos financeiros da<br />
produção agrícola são de<br />
extrema importância.<br />
Bruno Melo<br />
Thaís Martins<br />
Como o milho transgênico resiste à lagarta?<br />
toxinas<br />
A espécie bacteriana de solo Bacillus Thuringiensis (Bt) está amplamente espalhada pelos ecossistemas<br />
do planeta. O gênero Bacillus possui uma fase de esporulação – formação de estruturas resistentes<br />
às condições adversas - característica no seu desenvolvimento, na qual também há formação de cristais<br />
de proteínas. Tais cristais vêm sendo utilizados na formulação de sprays bioinseticidas comerciais, que forneceram<br />
níveis adequados e consistentes de controle biológico para diversas espécies de insetos-praga na<br />
agricultura.<br />
Mas de que forma age a toxina para que as lagartas morram? As lagartas possuem nas células de<br />
seus intestinos receptores que se ligam fortemente às proteínas tóxicas do bacilo; esses receptores se ligam<br />
de forma específica às toxinas, modificando-se e causando vazamento de íons e dano osmótico das células,<br />
o que conduz à desintegração do intestino e a posterior morte do inseto. Esse efeito tóxico não age sobre<br />
outros organismos que não tenham tais receptores compatíveis.
Entrevista Ano 4, n°12 - Pág 6<br />
Sistemas agroflorestais: conheça os benefícios dessa prática<br />
Em sua primeira<br />
edição de <strong>2014</strong>, o <strong>Boletim</strong><br />
<strong>BioPESB</strong> entrevista<br />
a professora, pesquisadora<br />
e extensionista do<br />
Departamento de Solos<br />
da UFV, Dra. Irene Cardoso.<br />
Em 2011, a professora<br />
foi agraciada com a<br />
Medalha de Ouro “Peter<br />
H. Rolfs” no Mérito Extensão,<br />
conferida anualmente<br />
pela UFV àqueles professores<br />
que se destacam<br />
na extensão universitária.<br />
Nesta entrevista, a profa.<br />
Irene nos conta um pouco<br />
sobre Sistemas Agroflorestais<br />
(SAFs).<br />
O que é Sistema Agroflorestal?<br />
Irene Cardoso: Sistema<br />
Agroflorestal é toda vez<br />
que plantamos árvores<br />
junto com outra cultura.<br />
Vou dar exemplos, árvores<br />
com café, pastos, plantas<br />
medicinais, plantas<br />
frutíferas ou árvores com<br />
hortas, que é a maioria<br />
dos quintais. Um aspecto<br />
importante são os serviços<br />
ambientais oferecidos por<br />
um SAF, como no caso da<br />
espécie frutífera ingá e<br />
café, os pássaros atraídos<br />
para comerem os frutos do<br />
ingá podem comer lagartas<br />
da outra cultura, prestando<br />
um serviço ambiental.<br />
Os SAFs produzem<br />
matéria orgânica que é o<br />
alimento da vida do solo,<br />
em sistemas mais diversificados<br />
é diversificada<br />
também a alimentação do<br />
solo, fo-lhas e galhos que<br />
caem também protegem o<br />
solo, contra o sol e as gotas<br />
da chuva, que podem<br />
desagregar a estrutura do<br />
solo, isso proporciona uma<br />
melhor qualidade do solo,<br />
que gera uma planta de<br />
melhor qualidade, para<br />
a sua alimentação. A sua<br />
saúde depende da saúde<br />
das plantas, que depende<br />
da saúde do solo.<br />
Hoje, quantas comunidades<br />
no entorno do<br />
PESB praticam esse sistema?<br />
I.C.: Existem muitas<br />
comunidades e muitos<br />
agricultores que manejam<br />
as suas lavouras e propriedades<br />
com sistemas<br />
agroflorestais. Eu não<br />
saberia precisar quantas<br />
famílias estão praticando.<br />
Mas cada vez mais, a<br />
partir do trabalho do CTA<br />
junto com a UFV e organizações<br />
dos trabalhadores,<br />
como os sindicatos dos<br />
Traba-lhadores Rurais das<br />
cidades em torno do PESB,<br />
vemos mais agricultores<br />
começando a experimentar<br />
esse sistema. Embora ele<br />
seja muito antigo, por<br />
muito tempo em função do<br />
tipo de agricultura praticada<br />
agricultura no mundo, a<br />
partir da década de 70, a<br />
da monocultura e depende<br />
de agrotóxico e adubo,<br />
muitas pessoas deixaram<br />
de usar SAFs, mas mesmo<br />
assim muitos agricultores<br />
mantiveram em suas propriedades<br />
árvores em suas<br />
culturas e hoje por meio<br />
de projetos que o CTA desenvolve<br />
na região muitos<br />
agricultores começaram<br />
a copiar seus vizinhos. Os<br />
quintais de praticamente<br />
todos moradores em torno<br />
do PESB são sistemas<br />
agroflorestais.<br />
Quais os principais<br />
benefícios<br />
que a prática da<br />
agroecologia pode<br />
proporcionar aos<br />
agricultores e a<br />
aqueles que a utilizam?<br />
I.C.: Um dos<br />
princípios da agroecologia<br />
é a diversidade,<br />
ela é importante porque<br />
proporciona o que Leonardo<br />
Boff chama de, as<br />
bondades da natureza,<br />
que são pássaros que<br />
comem lagartas, abelhas<br />
que polinizam, tem estudos<br />
na UFV mostrando que em<br />
média 5% da produção<br />
de café é dependente<br />
das abelhas, não há polinização<br />
de maracujá<br />
sem polinizadores, e se a<br />
cultura não oferecer condições<br />
para esses bichos<br />
crescerem, as bondades<br />
são perdidas. Na agroecologia<br />
o conhecimento<br />
do agricultor é muito importante<br />
e valorizado, ele<br />
é um conhecimento muito<br />
valioso que foi passado<br />
de geração a geração, e<br />
é colocado em mesmo pé<br />
de igualdade em relação<br />
ao conhecimento cientifico.<br />
O trabalho de todos,<br />
homem, mulher, jovem e<br />
idoso, é valorizado. A mulher<br />
é mãe, assim como a<br />
terra é nossa mãe e ela<br />
sabe da importância do<br />
cuidado com a natureza<br />
e o jovem traz energia e<br />
possibilidade de continuidade.<br />
A agroecologia<br />
também cuida dos solos e<br />
Profa. Irene Maria Cardoso<br />
da água, por que sem eles<br />
não há vida saudável.<br />
No entorno do PESB,<br />
o que os agricultores têm<br />
produzido pelo sistema<br />
Agroflorestal e onde o consumidor<br />
pode adquirir esses<br />
produtos?<br />
I.C.: Banana, ingá,<br />
batata doce, abacate,<br />
mandioca, inhame e uma<br />
infinidade de espécies<br />
estão sendo produzidas<br />
junto com o café ou pastagens.<br />
Alguns produtos são<br />
alimentos para nós, outros<br />
não, porém estão criando<br />
qualidade de ar e da<br />
água, que não são comprados<br />
em mercados. Os<br />
produtos podem ser encontrados<br />
nos mercadinhos<br />
dos agricultores, como<br />
os de Araponga, Espera<br />
Feliz e Divino, no Raízes<br />
da Mata (casa 18 da Vila<br />
Gianetti), onde nas sextas-<br />
-feiras a tarde você pode<br />
conversar sobre como<br />
ter acesso aos produtos.<br />
Outra forma é ir à casa<br />
dos agricultores ou sindicatos<br />
para discutir o acesso<br />
a esses produtos.<br />
Raquel Santos
SerradoBrigadeiro Ano 4, n°12 - Pág 7<br />
Biodiversidade e proteção da flora e fauna presentes no Parque<br />
Estadual da Serra do Brigadeiro<br />
Sérgio Campestrini<br />
Flor da Mandevilla atroviolacea<br />
O PESB possui enorme<br />
riqueza em relação à<br />
fauna e flora, intensificando<br />
a importância de sua<br />
preservação. No Parque<br />
ocorrem inúmeras espécies<br />
endêmicas (existentes<br />
apenas naquela região)<br />
e espécies ameaçadas de<br />
extinção. Segundo o Sistema<br />
Nacional de Unidade<br />
de Conservação (SNUC),<br />
o PESB está classificado<br />
como área de Preservação<br />
Integral. Esta categoria<br />
engloba todas as áreas<br />
destinadas à proteção dos<br />
ecossistemas naturais de<br />
grande relevância ecológica<br />
e beleza cênica, onde<br />
podem ser realizadas<br />
atividades de<br />
recreação,<br />
educação e<br />
interpretação<br />
ambiental, e<br />
desenvolvidas<br />
pesquisas<br />
científicas.<br />
Uma das<br />
justificativas<br />
dos pesquisadores<br />
para a ocorrência<br />
de animais extintos em outras<br />
regiões e ainda presentes<br />
no PESB é a dificuldade<br />
de penetrabilidade<br />
humana e densidade de<br />
suas matas. Uma das espécies<br />
raras e ameaçadas de<br />
extinção presentes no PESB<br />
é o Muriqui - maior primata<br />
das Américas e símbolo<br />
da preservação da biodiversidade,<br />
juntamente com<br />
a onça-pintada. Ainda em<br />
relação à fauna, destacam-se<br />
a suçuarana, a jaguatirica,<br />
o veado mateiro,<br />
o cachorro do mato e o<br />
sapo-boi. Em relação às<br />
aves, diversas espécies podem<br />
ser observadas, como<br />
o papagaio-do-peitoroxo,<br />
tucano-do-peito-amarelo,<br />
o trinca-ferro, entre<br />
ou-tros. Além da fauna, a<br />
flora também é alvo de<br />
estudos e planejamento da<br />
preservação.<br />
Um dos principais fatores<br />
que contribuem para<br />
a diversidade é o clima<br />
úmido, presente durante<br />
boa parte do ano, no qual<br />
as condições são propícias<br />
para um ecossistema rico<br />
em samambaias, líquens,<br />
bromélias, gramíneas, arbustos<br />
e orquídeas, dentre<br />
outras espécies. O relevo<br />
formado por vales e montanhas,<br />
com grande variação<br />
de altitude, também é<br />
outro fator que contribui<br />
para a diversidade biológica<br />
local. Considerado<br />
um paraíso botânico,<br />
o PESB também possui<br />
peroba, ipê, cajarana,<br />
jequitibá, óleo-vermelho<br />
e palmito juçara. Importante<br />
ressaltar que o bioma<br />
Mata Atlântica é hoje<br />
um dos ambientes naturais<br />
mais ameaçados do planeta,<br />
tendo apenas cerca<br />
de 8% de sua área original.<br />
Isto faz com que os<br />
organismos internacionais<br />
a considere como região<br />
“hot spot” (área quente)<br />
com grande diversidade<br />
biológica e com espécies<br />
que apenas vivem neste<br />
ambiente.<br />
O estudo e entendimento<br />
do comportamento de<br />
espécies-chave tornam-se<br />
importantes para elaboração<br />
de estratégias de<br />
conservação, expansão<br />
da área de floresta protegida,<br />
lista florística e<br />
de animais presentes no<br />
Parque. Propostas e programas<br />
educacionais têm<br />
sido elaborados para<br />
maior controle das espécies<br />
que se encontram no<br />
PESB e conscientização dos<br />
impactos ambientais dessa<br />
área.<br />
Fernanda Araújo<br />
Paulo Alves<br />
Grupo PET-Bioquímica faz reunião de planejamento do<br />
<strong>Boletim</strong> <strong>BioPESB</strong> <strong>2014</strong> no PESB<br />
Nos dias 7 e 8 de<br />
dezembro de 2013, o<br />
grupo PET–Bioquímica da<br />
UFV realizou uma visita<br />
ao PESB. Com o objetivo<br />
de conhecer mais sobre a<br />
Unidade de Conservação<br />
(UC) e sobre a população<br />
do seu entorno, o grupo<br />
de 13 integrantes contou<br />
com a recepção da<br />
diretoria do Parque, que<br />
apresentou a história, a<br />
cultura local e o contexto<br />
atual da UC. Atividades<br />
culturais como o filme<br />
“Entre Montanhas e Muriquis”<br />
estiveram dentro<br />
da programaç de visitação<br />
ao PESB. A reunião<br />
de planejamento contou<br />
com a participação de<br />
funcionários do Parque, e<br />
foi de enorme importância<br />
para a elaboração<br />
das matérias do <strong>BioPESB</strong><br />
que chegarão ao leitor<br />
em <strong>2014</strong>. O grupo PET<br />
agradece imensamente a<br />
colaboração de todos os<br />
funcionários do PESB, que<br />
têm sido grande parceiros<br />
e incentivadores do<br />
<strong>Boletim</strong>.<br />
Luciana Fernandes
Turismo Ano 4, n°12 - Pág 8<br />
Ponto de partida para conhecer a Serra do Brigadeiro: Sede da<br />
Unidade de Conservação Parque Estadual Serra do Brigadeiro<br />
Paulo Roberto Alves<br />
O Parque Estadual da<br />
Serra do Brigadeiro foi<br />
aberto para visitação em<br />
março de 2005, contemplando<br />
a todos com seus<br />
14.984 hectares de dominância<br />
de Mata Atlântica,<br />
vários vales, chapadas e<br />
cursos d’água. Compreendendo<br />
territórios de várias<br />
cidades da Zona da<br />
Mata mineira, o PESB fica<br />
a aproximadamente 290<br />
km de Belo Horizonte. Seu<br />
principal acesso é feito<br />
pela cidade de Araponga<br />
pela Portaria Araponga<br />
– 11km de estrada de<br />
terra depois do município.<br />
Existe também outro acesso<br />
pela Portaria Pedra do<br />
Pato pelo município de<br />
Fervedouro, porém este<br />
caminho é de difícil acesso<br />
em épocas chuvosas.<br />
O PESB não possui área<br />
de camping e a visitação<br />
deve ser feita no período<br />
diurno (de 7 às 17<br />
horas). Segundo o<br />
diretor do PESB,<br />
José Humberto, é<br />
interessante antes<br />
de conhecer os<br />
outros pontos turísticos<br />
do Parque,<br />
como picos, cachoeiras<br />
e trilhas,<br />
desfrutar de tudo<br />
o que a sede pode<br />
oferecer. Lá o visitante<br />
encontra<br />
uma excelente infraestrutura<br />
composta<br />
pelo centro<br />
Casa de visitação na Sede Administrativa do PESB<br />
Cada do hóspede localizada na Sede da fazenda<br />
onde hoje se localiza o parque<br />
para recepção<br />
de visitantes, auditório,<br />
posto da polícia ambiental,<br />
alojamentos para<br />
pesquisadores e residências<br />
de funcionários.<br />
Além disso, o Parque<br />
conta com uma espaçosa<br />
e confortável casa de hóspedes,<br />
antiga construção<br />
colonial que foi reformada<br />
e acomoda cerca de<br />
14 turistas. A casa oferece<br />
uma bela vista da natureza,<br />
uma aconchegante<br />
lareira e um espaço para<br />
confraternização com<br />
área para churrasco.<br />
Com intuito de oferecer<br />
maiores informações<br />
aos turistas, há um centro<br />
de visitantes, onde<br />
também funciona<br />
a sede administrativa.<br />
Tal ambiente<br />
conta com uma<br />
maquete dinâmica<br />
que apresenta todos<br />
os pontos turísticos<br />
do parque<br />
e os conhecimentos<br />
geográficos acerca<br />
das dimensões,<br />
fauna e flora de<br />
cada ponto. Muito<br />
mais do que isso,<br />
a cultura local<br />
Paulo Roberto Alves<br />
também é apresentada<br />
aos visitantes através de<br />
artesanatos, fotos e vídeos<br />
de conscientização ambiental.<br />
Visitar o PESB é muito<br />
mais do que uma simples<br />
viagem. É uma oportunidade<br />
de estar em contato<br />
com a natureza, respirar<br />
novos ares, compartilhar a<br />
simplicidade e os valores<br />
de uma cultura rica.<br />
Para maiores informações<br />
sobre visitação,<br />
entre em contato com<br />
a administração do<br />
Parque pelo telefone:<br />
(32) 3721-7491 ou pelo<br />
e-mail: pebrigadeiro@<br />
meioambiente.mg.gov.br.<br />
Gabriel Rodrigues Galvão<br />
Helaindo Guimarães Júnior<br />
Mariana Medeiros Costa