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egente levantou os braços... e eles cantaram o hino nacional com gestos!<br />
Cantaram com as mãos, os braços, os olhos, o rosto, o corpo inteiro! A voz calada,<br />
o corpo cantando! Ouvimos a música que mora no silêncio. Terminado o hino,<br />
todas as crianças se abriram num enorme sorriso e correram a abraçar a regente.<br />
E, aí, cantaram para mim a “Serra da Boa Esperança”. Por vezes não é possível não<br />
chorar...<br />
Atividades desafinadoras<br />
Houve uma professora que, fazendo um relatório, referiu-se às “atividades<br />
desafinadoras para seus alunos...”. Ela não é culpada. Já se tornou praxe usar<br />
palavras que não se entende por serem palavras da moda. Quando uma palavra da<br />
moda é usada, ninguém se atreve a perguntar: “Mas o que essa palavra significa?”.<br />
<strong>Faz</strong>er tal pergunta é confessar ignorância. Nos tempos em que tentei ensinar na<br />
universidade, tempos de fervor religioso marxista, tudo se resolvia com a palavra<br />
“dialético”. Ai daquele que perguntasse: “Mas o que é dialético?”. Talvez o<br />
“desafinadoras” tenha um sentido. Os mestres zen se esforçavam sempre por<br />
introduzir desafinações nas afinações dos seus discípulos. Ouvidos que ouvem tudo<br />
afinado devem estar estragados. É preciso ouvir as desafinações do mundo!<br />
Como ensinar<br />
Se eu fosse ensinar a uma criança a arte da jardinagem, não começaria com as<br />
lições das pás, enxadas e tesouras de podar. Eu a levaria a passear por parques e<br />
jardins, mostraria flores e árvores, falaria sobre suas maravilhosas simetrias e<br />
perfumes; a levaria a uma livraria para que ela visse, nos livros de arte, jardins de<br />
outras partes do mundo. Aí, seduzida pela beleza dos jardins, ela me pediria para<br />
ensinar-lhe as lições das pás, enxadas e tesouras de podar. Se fosse ensinar a uma<br />
criança a beleza da música, não começaria com partituras, notas e pautas.<br />
Ouviríamos juntos as melodias mais gostosas e lhe falaria sobre os instrumentos<br />
que fazem a música. Aí, encantada com a beleza da música, ela mesma me pediria<br />
que lhe ensinasse o mistério daquelas bolinhas pretas escritas sobre cinco linhas.<br />
Porque as bolinhas pretas e as cinco linhas são apenas ferramentas para a<br />
produção da beleza musical. A experiência da beleza tem de vir antes. Se fosse<br />
ensinar a uma criança a arte da leitura, não começaria com as letras e as sílabas.<br />
Simplesmente leria as estórias mais fascinantes que a fariam entrar no mundo<br />
encantado da fantasia. Aí então, com inveja dos meus poderes mágicos, ela<br />
desejaria que eu lhe ensinasse o segredo que transforma letras e sílabas em<br />
estórias. É muito simples. O mundo de cada pessoa é muito pequeno. Os livros são