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Patativa do Assaré<br />
Que homem extraordinário! Leia esse poeminha e você virará um poeta: “Pra gente<br />
aqui ser poeta/ Não precisa professor./ Basta vê no mês de maio/ Um poema em<br />
cada gaio/ Um verso em cada fulô”.<br />
O sucesso<br />
A moda é o sucesso. Um famoso conferencista anuncia com letras enormes: “O seu<br />
lugar é o pódio”. Imaginemos que assim seja. Jogos Olímpicos. Corrida de 100<br />
metros rasos. Aí ele diz para todos: “O seu lugar é o pódio!”. Os corredores<br />
disparam. Só um deles arrebenta a fita. Nas Olimpíadas, são pouquíssimos os que<br />
vão para o pódio. Isso vale para a vida inteira. Então, alguma coisa está errada. O<br />
mais provável é que o dito conferencista esteja mentindo para manter-se no pódio<br />
à custa da credulidade das pessoas. Quem acredita que o seu lugar é o pódio está<br />
sempre estressado, competindo, tentando passar na frente. Quem não tem<br />
pretensões ao pódio vive uma vida mais alegre. Não é preciso chegar na frente.<br />
Mas há uma seita que anuncia como palavra de Deus: “Você está destinado ao<br />
sucesso!”. Não sei onde descobriram isto. Pelo menos o Deus cristão não promete<br />
sucesso para ninguém.<br />
O pianista<br />
O filme O pianista provocou em mim sentimentos contraditórios. Primeiro foi a sua<br />
beleza trágica: a história de um homem que, em meio ao maior sofrimento,<br />
sobrevive alimentando-se com a beleza da música. É comovedor o momento em<br />
que ele se encontra com o oficial alemão e ele lhe pede que toque alguma coisa.<br />
Confesso que fiquei com medo que suas mãos, de tanto sofrer, tivessem se<br />
esquecido. Mas parece que a beleza é eterna. E ele toca a Balada no 1 em sol<br />
menor, de Chopin. Naquele momento, a diferença que os separava, ele, um judeu<br />
perseguido, e o oficial alemão, um nazista perseguidor, deixa de existir. Os dois<br />
eram um na beleza. O segundo sentimento foi uma mistura de raiva e tristeza.<br />
Pois, ao final, o último momento, quando o suspense havia sido resolvido e ele toca<br />
a Grande Polonaise – como se estivesse dizendo: “Esta é a razão da minha vida!”<br />
–, os espectadores começaram a deixar o cinema, como se a música não<br />
importasse. Prova de que não haviam entendido absolutamente nada. Pensaram<br />
que o filme havia terminado com a conclusão da ação. Não entenderam que a<br />
conclusão da ação levava precisamente àquele momento, o momento supremo: a<br />
razão da vida do pianista: a beleza. Aí me lembrei de um ditado triste de Jesus: