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Ostra Feliz Nao Faz Perola - Rubem Alves

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Velhos do mundo! Uni-vos!<br />

Sinto uma grande ternura pelos velhinhos. Dentro daqueles corpos que os anos<br />

desgastaram – enrugados, flácidos, fracos – moram crianças que desejam brincar.<br />

Eles não brincam porque não fica bem. Seria um embaraço para os filhos... E<br />

moram também jovens que querem amar. Querem amar e ser amados. Abraçar.<br />

Beijar. Bom seria que os velhos se sentissem livres para fazer o que quisessem sem<br />

ter de prestar contas aos filhos. Há o Manifesto comunista que convida os<br />

operários, classe oprimida, à revolução. Mas os velhos não serão também uma<br />

classe oprimida? São. Então, que se escreva um Manifesto dos velhos que termine<br />

com um grito: “Velhos do mundo! Uni-vos!”.<br />

Aposentadoria<br />

Não é curioso isso, que a velhice sendo o destino de todos nós, não haja nada, nas<br />

escolas, que nos prepare para essa experiência? Acho que é porque as escolas, e<br />

especialmente as universidades, estão comprometidas em preparar seus alunos<br />

para o mercado de trabalho. Acontece que os velhos estão fora do mercado de<br />

trabalho. A nossa sociedade define a nossa identidade por aquilo que fazemos, da<br />

mesma forma que os objetos são definidos por aquilo que podem fazer.<br />

Esferográficas: escrever. Lâmpadas: iluminar. Lâminas de barbear: barbear.<br />

Quando esses objetos ficam velhos e não mais podem executar a sua função, são<br />

jogados no lixo. Quem deixou de ter função econômica deixou de ter identidade.<br />

Vai para um lixo social chamado exclusão.

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