ViraVida, um projeto em defesa da juventude

Reconstrução
Revista Entre Lagos • Edição 82 • DEZ-2012 12 Ugo Braga
Dois anos adentro do mandato e
noves fora a ainda grande ansiedade
sobre vários outros temas, é justo
reinvidicar para o governador
Agnelo Queiroz o mérito intrínseco e
pessoal de haver restaurado o Estado
destruído a partir da Operação Caixa
de Pandora. Sim, foi o temperamento
ameno, paciente, devoto à composição,
aliado à paciência e a perspicácia,
que permitiram às forças políticas
da cidade se reacomodarem depois
do cataclisma de 2010 -- em que
um governante foi levado às grades
em pleno exercício do mandato,
arrastando para a crise quase todo
o Poder Legislativo e até mesmo a
cúpula do Ministério Público.
Não há analista que minimize
o estrago institucional causado pela
derrocada da gestão Arruda no início de
2010 e ao longo daquele ano fatídico.
Assim como, parodoxalmente, não há
como negar o engenho extraordinário de
reconstrução promovido desde 2011. Tal
verdade abrange desde a máquina estatal
propriamente dita, como o relacionamento
dos políticos entre sí e com os partidos e a
sociedade.
Hoje é comum arredondar-se para
baixo, mas não custa lembrar que, ao
assumir o governo, Agnelo encontrou todos
os serviços públicos paralizados por falta
de pagamento. Mais. Encontrou todos os
Jornalista
Ao vencedor, as batatas
órgãos do governo impedidos de contratar
com a União pela ausência generalizada
de prestação de contas. Mais ainda.
Encontrou a companhia de energia à beira
da falência. Mais, mais e mais. Encontrou
194 obras interrompidas, suspensas ou
canceladas a mando das justiças comum
e de contas pelo mais diversificado
cabedal de irregularidades jamais visto
na administração pública nacional. Como
desgraça pouca é bobagem, encontrou ainda
as contas do Tesouro Distrital a caminho
da mais irrestrita ilegalidade fiscal. Isso
tudo sob ataque especulativo de uma máfia
sedenta de poder.
Diferente da construção civil,
palpável, a obra política é mais dada ao
conhecimento da história. De forma que
é difícil descrever e mensurar, até mesmo
entre os aliados e auxiliares do governador,
como realmente transcorreu a engenharia
que pôs novamente de pé as instituições
do Distrito Federal.
De imediato, contam aqueles que
o acompanharam à época da posse, ele
resolveu romper com duas práticas de todos
os governadores até então: 1) Sancionou
os acordos fimados com o funcionalismo
pelos antecessores. 2) Fundou uma
nova base de aliança política, em que os
apoiadores ganhariam exclusivamente
o compartilhamento da gestão -- no DF,
e Pandora é a maior prova, isso foi e está
sendo uma verdadeira revolução política.
Paralelamente, concentrou o poder
da gestão nas mãos da Secretaria de
Governo. Recebeu muitas e incontidas
críticas, sobretudo dos aliados, por conta
disso. Mas, conscientemente ou não, abriu
espaço para que todo o resto do governo
se concentrasse naquilo que era óbvio:
a auditoria e a revisão dos contratos, a
regularização das contas e a recuperação
da máquina pública. No GDF, conta-se com
espanto que o último CNPJ “limpo” pela
nova gestão data de novembro de 2011,
quase um ano portanto, depois da posse.
Só então restabeleceu-se o relacionamento
com o governo federal, com os organismos
internacionais, com os bancos públicos.
Da retomada dos serviços públicos
essenciais ao desmascaramento da
trama para derrubá-lo, o governador
pôde desembaraçar 193 das 194 obras
paradas do governo Arruda -- só faltou
o VLT. Lançou um plano duro de ajuste
nas contas públicas, amargando diversas
greves por conta disso. Mas promoveu
uma série respeitável de melhorias na
rede de saúde pública (entre as quais se
orgulha especialmente pela criação do
Hospital da Criança) e vislumbra, a partir
da imensa exposição a ser conseguida com
as copas das Confederações e do Mundo,
iniciar a transformação do Distrito Federal
de centro administrativo em pólo global
exportador de serviços num prazo de 50
anos.
Talvez nem ele mesmo se dê conta de
que a reconstrução institucional do DF em
prazo tão curto e de forma tão transparente
seja uma obra tão admirável quanto aquele
imenso estádio que projetará Brasília para
o mundo a partir do próximo ano. Tenho cá
minhas dúvidas sobre onde estaríamos se,
em vez do paciente articulador, tivéssemos
* Ugo Braga é jornalista com especialização em
análise de conjuntura econômica. Venceu por
dua vezes o Prêmio Imprensa Embratel e, em
2006, recebeu da Transparência Internacional
e do Instituto Prensa e Sociedad o prêmio de
melhor investigação jornalística de um caso de
corrupção na América Latina e Caribe. Exerce
atualmente a função de porta voz do Governo
do Distrito Federal.