ViraVida, um projeto em defesa da juventude

RJ Revista Entre Lagos • Edição 82 • DEZ-2012 26
Daisy Nascimento
Cidade maravilhosa
Que o Rio é uma cidade bonita por
natureza ninguém duvida. O recorte
da Baía de Guanabara, o azul do mar
que se funde no horizonte com o
azul do céu, as montanhas, os vários
tons de verdes das matas e florestas;
imagens dignas dos pincéis do pintor
francês Claude Monet, um dos mais
importantes representantes do
impressionismo.
A cidade abençoada por Deus recebe
de braços abertos milhares de turistas que
se encantam com a paisagem, com a luz
que se reflete nas águas e com o jeito de
ser de quem vive aqui. E é esta vocação do
carioca de ser feliz, apesar dos pesares ou
com todos os pesares, a outra maravilha
desta cidade maravilhosa.
Longe dos holofotes e dos cartões
postais a cidade pulsa, com todos os dramas
e dificuldades de cidade grande. Mas para o
carioca a dor que muitas vezes enfraquece,
paralisa e desestimula, alimenta a força de
um povo que encontra nas adversidades
um atalho para dar a volta por cima.
Foi assim em fevereiro de 2011,
quando um grande incêndio destruiu
completamente o barracão de uma grande
escola de samba, a Grande Rio, de Duque
de Caxias, baixada fluminense, e atingiu os
de outras duas: União da Ilha e Portela. O
fogo queimou fantasias, adereços e carros
alegóricos, mas não cobriu de cinzas o
carnaval daquele ano. As lágrimas deram
Jornalista
O jeito de ser carioca
lugar ao suor de quem virou noites para
recuperar o que foi perdido, refazer o que o
incêndio consumiu. Sem passes de mágicas,
mas com muita garra e determinação as
escolas foram para a avenida e fizeram
mais um belíssimo desfile. Naquele ano,
a solidariedade foi o maior juiz; nenhuma
escola foi rebaixada. Dois carnavais depois,
o Rio de Janeiro volta a fervilhar. Ao som de
batuques, sambas e marchinhas a abertura
não oficial do carnaval de 2013 aconteceu no
dia 6 de janeiro, com a apresentação de mais
de 23 blocos de ruas que transformaram a
Praça XV, no centro da cidade, num grande
baile à céu aberto. Milhares de pessoas foram
às ruas, sorriso aberto, alegria estampada
no rosto, três dias depois da cidade sofrer
com a enchente que atingiu 200 mil pessoas
em todo o Estado. O distrito de Xerém, em
Duque de Caxias, a mesma do barracão
destruído há 2 anos, foi o mais devastado
pelo temporal. Quatrocentas pessoas
ficaram desabrigadas e duas morreram. No
momento da chuva, a cidade da Baixada
Fluminense, que enfrenta problemas com a
coleta há mais de seis meses tinha 50.000
toneladas de detritos abandonados nas
ruas, o que agravou a situação. O ex-prefeito
José Camilo Zito, mais conhecido como
Zito, que prometeu durante a campanha
cuidar da cidade e resolver os problemas de
infraestrutura, saúde, educação, moradia,
saneamento básico, deixou que a situação
chegasse ao nível de calamidade. Mas
embolsou feliz mais de R$ 27 mil líquidos,
em dezembro do ano passado, somando os
salários de prefeito e de guarda municipal
aposentado. Enquanto isso, de acordo com
o Sebrae-Serviço Brasileiro de Apoio à Micro
e Pequenas Empresas, 27,9% das famílias
que moram num dos 266.717 domicílios
de Duque de Caxias têm renda familiar em
torno de R$1.400,00.
A conta injusta expõe o descaso, o
abandono, o interesse político, as falsas
promessas. Mas não tira desse povo a
capacidade de ser feliz com pequenas
coisas; não tira a capacidade de se renovar,
recuperar e reacender as esperanças. E
essa é a magia de ser carioca. Às vésperas
do carnaval, a escola de samba Grande
Rio, de Duque de Caxias, já se prepara
para mais um desfile. Vai levar para a
avenida o enredo: “AMO O RIO E VOU
À LUTA: OURO NEGRO SEM DISPUTA”
… “CONTRA A INJUSTIÇA EM DEFESA
DO RIO”. O amor pela cidade foi a
grande inspiração e briga pelos royalties
do petróleo, a munição do protesto em
forma de samba. Enquanto o Congresso
Nacional adia a votação dos vetos parciais
da presidente Dilma Rousseff à nova lei
dos royalties, os sambistas apostam na
tecnologia e num show de luz para dizer
aos deputados e senadores que a cidade
que produz 83% de todo o petróleo do país
tem ficar com o bônus e não só com o ônus
do produção.
O ritmo das batucadas vai ser o
protesto de um povo que sabe cantar e
dançar até mesmo quando o assunto é