ViraVida, um projeto em defesa da juventude
ViraVida, um projeto em defesa da juventude
ViraVida, um projeto em defesa da juventude
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Terapia<br />
Inocência<br />
RJ Revista Entre Lagos • Edição 82 • DEZ-2012 36<br />
Rosângela Alvarenga<br />
há pouco t<strong>em</strong>po me encontrei no facebook<br />
com <strong>um</strong>a jóia de valor incalculável para mim.<br />
Uma rara entrevista com Freud, concedi<strong>da</strong> ao<br />
jornalista americano George Sylvester Viereck,<br />
<strong>em</strong> 1926. Sigmund tinha 70 anos e usava <strong>um</strong>a<br />
prótese no maxilar superior que necessitou ser<br />
operado por causa <strong>um</strong> t<strong>um</strong>or maligno.<br />
Entrevistando <strong>um</strong> hom<strong>em</strong> nessas condições, ou<br />
seja, já visl<strong>um</strong>brando a barca de Caronte, perguntou<br />
se Freud acreditava na persistência <strong>da</strong> personali<strong>da</strong>de<br />
após a morte, de alg<strong>um</strong>a forma que fosse. Ao que este<br />
respondeu: “Não penso nisso. Tudo o que vive perece.<br />
Por que deveria o hom<strong>em</strong> constituir <strong>um</strong>a exceção?”<br />
Seguindo com a entrevista:<br />
No começo, a psicanálise supôs que o Amor tinha<br />
to<strong>da</strong> a importância. Agora sab<strong>em</strong>os que a Morte é<br />
igualmente importante. Biologicamente, todo ser<br />
vivo, não importa quão intensamente a vi<strong>da</strong> queime<br />
dentro dele, anseia pelo Nirvana, pela cessação <strong>da</strong><br />
“febre chama<strong>da</strong> viver”, anseia pelo seio de Abraão. O<br />
desejo pode ser encoberto por digressões.<br />
Brinca: seria mais possível que pudéss<strong>em</strong>os<br />
vencer a Morte se não fosse por este desejo de parar<br />
de viver, aliado <strong>da</strong> Magra, dentro de nós.<br />
Estou pegando pesado, eu sei, mas já vou aliviar.<br />
Minha intenção não é falar sobre Morte, mas sobre<br />
os efeitos malignos <strong>da</strong> ignorância. É que por outra<br />
mídia encontrei e encarei a leitura do lançamento<br />
de <strong>um</strong> livro de <strong>um</strong> psicólogo americano chamado<br />
Michael Shermer: “Cérebro & crença” <strong>da</strong> (Editora<br />
JSN). Um debate sobre razão e religião.<br />
É claro que o cientista e defensor radical do<br />
pensamento científico, estu<strong>da</strong> há três déca<strong>da</strong>s os<br />
mecanismos neurológicos que faz<strong>em</strong> as pessoas<br />
acreditar<strong>em</strong> <strong>em</strong> coisas tão diferentes quanto Deus,<br />
milagres, fenômenos paranormais, ETs, astrologia,<br />
d<strong>em</strong>ônios ou anjos. A explicação é única: as crenças<br />
são adquiri<strong>da</strong>s desde muito cedo, e o cérebro aprende<br />
a usar suas capaci<strong>da</strong>des racionais para justificar tudo<br />
<strong>em</strong> que se crê.<br />
Ora, qualquer neurótico que se preze faz isso o<br />
t<strong>em</strong>po todo. Quer levantar cedo, mas... Ah! Hoje posso<br />
chegar mais tarde no trabalho. Quer <strong>em</strong>agrecer s<strong>em</strong><br />
parar de comer, ganhar dinheiro s<strong>em</strong> trabalhar, é só<br />
essa vez, juro, etc., tudo isso apoiado por justificativas<br />
e explicações aparent<strong>em</strong>ente superplausíveis e só o<br />
automentiroso sabe o quanto custa elaborá-las! E por<br />
que o coitado/ ou delinquente faz isso?<br />
Porque não é mais inocente. Tendo tomado, a<br />
contra gosto porque v<strong>em</strong> junto com responsabili<strong>da</strong>de,<br />
a consciência de <strong>um</strong> bocado de comportamentos<br />
seus que obviamente o levaram para o brejo, porém<br />
Astróloga e Psicanalista<br />
rosangela.alvarenga@globo.com<br />
ele queria muito ir lá, mentiu para si mesmo o<br />
famoso: “desta vez vai ser diferente!”<br />
Na aurora do século 20, Sigmund Freud já tinha<br />
estu<strong>da</strong>do tudo isso: o inconsciente e suas mil e <strong>um</strong>a<br />
manhas para convencer o sujeito e não mais indivíduo:<br />
ele está sujeito à Lei, mas é divisível e completamente<br />
automanipulável até cansar de quebrar a cara, e<br />
resolver ir aceitando, aos trancos e barrancos que não<br />
pode fazer tudo o que o seu desejo, seja de vi<strong>da</strong> ou de<br />
morte man<strong>da</strong>.<br />
Quando o entrevistador pergunta para ele se<br />
<strong>um</strong>a <strong>da</strong>s conclusões de “Cérebro & crença” é que o<br />
cérebro mente para as pessoas? Ele diz que sim!<br />
“Nosso cérebro age como <strong>um</strong> advogado n<strong>um</strong><br />
julgamento: montando evidências a favor de seu<br />
cliente, que nesse caso são nossas crenças, e<br />
ignorando ou recusando to<strong>da</strong>s as provas que não se<br />
encaixam ou derrubam essas crenças”.<br />
Justamente! Desde o hom<strong>em</strong> primitivo – ele<br />
mesmo nos conta como já fazia suas manipulações e<br />
se enganava a rodo.<br />
Só resta colocar o cientista n<strong>um</strong>a máquina do<br />
t<strong>em</strong>po feita nos moldes <strong>da</strong> mais moderna tecnologia<br />
e apresentá-lo ao mesmo velhinho doente que<br />
concedeu a entrevista cita<strong>da</strong> lá ano começo!