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livro todo tomo II.qxd - Academia Brasileira de Letras

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554 DISCURSOS ACADÊMICOS<br />

Como o poeta <strong>de</strong> Téos, bem o sei, sois capaz <strong>de</strong> preferir a vossa alegre<br />

liberda<strong>de</strong> ao oiro dos Polícrates. Como ele, sois um poeta sutil e sem artifício,<br />

gracioso e discreto, cantando a divinda<strong>de</strong> das cigarras, o prazer, a vida, a natureza,<br />

e os encantos maravilhosos do amor. O outro, quando <strong>de</strong> Samos tornou<br />

a Atenas, por or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> Hípias foi buscá-lo uma galera <strong>de</strong> cinqüenta remadores.<br />

Infelizmente, nesta que vos leva ad immortalitatem, não somos nem<br />

po<strong>de</strong>mos ser mais do que quarenta...<br />

O CANTO DAS CIGARRAS<br />

Aquele a quem suce<strong>de</strong>is nesta Casa e que foi meu dileto amigo, Mário<br />

<strong>de</strong> Alencar, com a sua nítida visão das coisas <strong>de</strong>s<strong>de</strong> muito tempo já vos tinha<br />

perfeitamente compreendido. Em agosto <strong>de</strong> 1918, ele vos escrevia: “Agradam-me<br />

sempre os seus versos: não se parecem com os dos outros, e é já um<br />

motivo <strong>de</strong> gosto ouvir entre tantas vozes uma voz distinta.” Nessa mesma<br />

epístola, achava que o canto das vossas cigarras se antenuava sob a vibração<br />

luminosa do estio. Faltou-lhe acrescentar que esse estio claro e vibrante era a<br />

vossa luz interior, que dá aos vossos versos as cores da vossa alma. Eis por<br />

que, no mesmo ano, Bilac podia dizer da Água Corrente: “o murmúrio <strong>de</strong>sta<br />

água cantante, sangue da terra, embalou, encantou, consolou o meu espírito<br />

em dias e noites <strong>de</strong> enfermida<strong>de</strong> triste...”<br />

Mas ouçamos o canto das cigarras:<br />

CONSELHO AMIGO<br />

Cigarra! Levo a ouvir-te o dia inteiro,<br />

Gosto da tua frívola cantiga,<br />

Mas vou dar-te um conselho, rapariga:<br />

Trata <strong>de</strong> abastecer o teu celeiro.<br />

Trabalha, segue o exemplo da formiga,<br />

Aí vêm o inverno, as chuvas, o nevoeiro,<br />

E tu, não tendo um pouso hospitaleiro,<br />

Pedirás e é bem triste ser mendiga!<br />

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