10.04.2013 Views

livro todo tomo II.qxd - Academia Brasileira de Letras

livro todo tomo II.qxd - Academia Brasileira de Letras

livro todo tomo II.qxd - Academia Brasileira de Letras

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

DISCURSOS ACADÊMICOS 577<br />

Em 1882 matriculava-se na Escola Militar, a célebre Escola, na qual,<br />

mais do que a Praia Vermelha, on<strong>de</strong> era sita, dir-se-ia que vermelhava então,<br />

ao sopro <strong>de</strong> Benjamin Constant, a frágoa juvenil das idéias <strong>de</strong> liberda<strong>de</strong>.<br />

Assim foi que ali, aluno, alferes-aluno, engenheiro militar e bacharel em<br />

ciências físicas e matemáticas, <strong>de</strong>sabrocharam-se-lhe no cérebro os i<strong>de</strong>ais da<br />

Abolição e da República, floração bizarra da <strong>de</strong>mocracia em sua alma <strong>de</strong><br />

teuto-brasileiro.<br />

A alvorada republicana <strong>de</strong> 15 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 1889 veio encontrá-lo<br />

no seu posto, ao lado da histórica figura eqüestre do Marechal Deodoro,<br />

como jovem escu<strong>de</strong>iro medieval <strong>de</strong> olhos azuis e cabelos louros, na plena realização<br />

dos sonhos <strong>de</strong> uma nova cavalaria.<br />

A MUSA DA SUA VIDA<br />

Po<strong>de</strong>-se dizer que data daquele dia, a vida pública <strong>de</strong> Lauro Müler.<br />

Nela reconhecem <strong>todo</strong>s que a política foi a egéria do seu pensamento,<br />

o cerne da sua ativida<strong>de</strong>, o pano <strong>de</strong> fundo no proscênio <strong>de</strong> seus triunfos.<br />

Nem <strong>todo</strong>s, porém, acordam num juízo <strong>de</strong>finitivo acerca <strong>de</strong> seu sistema<br />

político.<br />

Para alguns foi ele a “raposa <strong>de</strong> espada à cinta”, tipo da astúcia envolvente<br />

e perigosa, mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> habilida<strong>de</strong> pouco escrupulosa no escolher processos<br />

para chegar ao fim, uma como encarnação republicana do herói <strong>de</strong><br />

Maquiavel, o príncipe aperfeiçoado à sombra das liberda<strong>de</strong>s do barrete frígio.<br />

Nada mais justo, ao contrário, pelo que li e aprendi <strong>de</strong> Lauro Müller,<br />

do que alongar da sua memória tão caluniosos conceitos. Bem sei que não é<br />

fácil manter uma consciência <strong>de</strong> vestal, em meio aos lenocínios da política. É<br />

possível, pois, tenha ele sabido dissimular para reinar, <strong>de</strong> acordo com a máxima<br />

célebre: qui nescit dissimulare, nescit regnare. Possível é que nem sempre<br />

tenha dito toda a verda<strong>de</strong>, e até mesmo, no uso <strong>de</strong> um estratagema político,<br />

preconizado já por Talleyrand, se tenha servido da palavra para encobrir o<br />

pensamento. Quase certo é também, tenha tido muitas vezes que fazer vista<br />

grossa aos erros dos amigos, multiplicando-lhes a<strong>de</strong>mais os favores, e fazendo<br />

pesar a justiça sobre os adversários. Destes e outros recursos, havidos por ino-<br />

577

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!