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livro todo tomo II.qxd - Academia Brasileira de Letras

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DISCURSOS ACADÊMICOS 73<br />

já tão próximo do infinito, <strong>de</strong>sabrocha uma flor, a Cruz, que ao mesmo<br />

tempo é patíbulo e epinício, supremo abatimento e martírio triunfal!<br />

Eis, Sr. Dom Silvério, o símbolo do que haveis feito. Po<strong>de</strong>m não amála,<br />

à vossa obra, os que <strong>de</strong>samam a religião: mas, sob pena <strong>de</strong> cancelo nos seus<br />

diplomas <strong>de</strong> estetas, lícito não lhes é menosprezarem a soli<strong>de</strong>z e os primores<br />

do lavor, nem a perfeita unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vossa construção.<br />

Ai <strong>de</strong> nós, quando a comparamos com as nossas! Quantos combates<br />

havemos ferido, somente propugnando ambições ou vaida<strong>de</strong>s! Quantos<br />

esforços <strong>de</strong>spremiados, ou <strong>de</strong>s<strong>de</strong>nhados pela ingratidão! Vós não, porque<br />

pelejastes o bom certame. Não há, porém, comparar o caleidoscópio, <strong>de</strong> instáveis<br />

ou coloridas figurações, com o telescópio, majestosamente assestado às<br />

profun<strong>de</strong>zas do cosmos. Nossa escusa única, a dos que talvez errada, mas<br />

penosamente labutamos, é que variados e complexos são os nossos i<strong>de</strong>ais,<br />

por serem humanos: o vosso é Divino, e por isto chegou para vos encher<br />

uma longa vida.<br />

Senhor Dom Silvério! Um jornalista malicioso – <strong>de</strong>feito da profissão, o<br />

qual, felizmente, não se me apegou, – tratando-se da festa em que ora vos<br />

recebemos, antecipou conceitos tão graciosos quão verda<strong>de</strong>iros. “Teremos,<br />

disse, um Arcebispo recebido por um con<strong>de</strong>, isto é, por um companheiro do<br />

Papa. Será <strong>de</strong>licioso! Vai ser um Te Deum!”<br />

E disse muito bem o jornalista engraçado. Um Te Deum! Mas um Te<br />

Deum é a mais solene e comovente ação <strong>de</strong> graças ao Deus onipotente e benfazejo.<br />

Para haver um Te Deum preciso é que nele colabore a poesia sacra<br />

medieva, tão pujante <strong>de</strong> inspiração quanto a arquitetura contemporânea sua; é<br />

preciso o gênio musical <strong>de</strong> um Palestrina, <strong>de</strong> um Lulli, <strong>de</strong> um nosso José<br />

Maurício; é preciso o perfumoso encanto dos altares, o fulgor das luzes, o<br />

povo em recolhido silêncio, o concerto dos instrumentos apoiando o mais<br />

perfeito <strong>de</strong> <strong>todo</strong>s, que é a voz humana... Um Te Deum! Mas um Te Deum é<br />

a expressão mais subida do amor e da gratidão: – do amor que é o nexo <strong>de</strong><br />

<strong>todo</strong>s os corações bem-nascidos; e da gratidão, que é a mais formosa das<br />

pérolas no oceano dos sentimentos!<br />

Seja como for, Sr. Dom Silvério, nosso Te Deum está feito... Po<strong>de</strong>m<br />

agora festivos repicar os sinos da publicida<strong>de</strong>!<br />

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