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a nos trazer amostras de um fenómeno que brevemente tomaria<br />
proporções diluvianas. Eis aqui um tópico da autoria de Fr.<br />
Car<strong>do</strong>nnel, registra<strong>do</strong> e comenta<strong>do</strong> em artigo nosso no Diário<br />
de Notícias de 31-07-60 com o título "Sinais <strong>do</strong>s tempos": "B<br />
preciso — dizia Fr. Car<strong>do</strong>nnel — que desconfiemos <strong>do</strong> que<br />
chamarei de fuga abstrativa. Por exemplo, falemos de homens,<br />
em sua situação concreta, e não da pessoa humana com sua<br />
eminente dignidade. O valor abstraio que possamos destacar<br />
<strong>do</strong>s homens reais é indiferente àquilo que eles são de fato. Em<br />
que consiste o direito da Família, pelo qual se pergunta frequentemente?<br />
A família ê uma abstração e ela não existe enquanto<br />
tal,..". E por aí a fora galopava Fr. Car<strong>do</strong>nnel no ano 60 para<br />
admiração <strong>do</strong>s jovens da UNE e <strong>do</strong> Metropolitano. Escrevi vários<br />
artigos, Os Dois Mun<strong>do</strong>s (11-09-60), Ainda os Dois<br />
Mun<strong>do</strong>s (18-09-60) e mais tarde (25-06-61), sobre um manifesto<br />
da PUC, escrevi O Anti-antí-comunismo. E em (28-08-60)<br />
em Carta Aberta a um estudante de Belo Horizonte, que aconselhava<br />
a aposenta<strong>do</strong>ria para os intelectuais, aconselhava eu<br />
exame vestibular aos colunistas.<br />
Começava a luta fastidiosa que dura até hoje. Avolumavase<br />
dia a dia a infiltração comunista no meio estudantil-católico,<br />
como se houvesse uma organização para ativar os agentes<br />
e outra para amolecer os pacientes. Frei Car<strong>do</strong>nnel foi um<br />
pombo-correio que se adiantou demais e chegou antes <strong>do</strong>s outros,<br />
porque nesse tempo ainda existiam bispos, e o episcopa<strong>do</strong> brasileiro<br />
não fora ainda meti<strong>do</strong> dentro <strong>do</strong> liquidifica<strong>do</strong>r das conferências,<br />
e por isso pude ainda ver, creio que pela última vez,<br />
funcionar a autoridade episcopal. O trêfego Car<strong>do</strong>nnel foi reexporta<strong>do</strong><br />
para a França, onde oito anos mais tarde, graças à<br />
maré montante de imbecilidade que invadiu a França, alcançaram<br />
enorme sucesso suas blasfémias e suas asneiras, mas quem<br />
foi suspenso de ordens foi o Abbé de Nantes.<br />
Começava o tempo da Paixão. Foi nessa época que procurei<br />
o Cardeal D. Jaime Câmara, pela primeira vez, para<br />
pedir, sugerir, suplicar, demonstrar a necessidade de fechar a<br />
JVC, com ideia de reabri-la mais tarde, depois de purgada. Dom<br />
Jaime fez-me uma série de ponderações onde as palavras "prudência",<br />
"caridade" e todas as outras <strong>do</strong> léxico cristão pareciam-me<br />
colocadas num painel de equívocos. E confiou-me D.<br />
Jaime que estava pensan<strong>do</strong> em designar um bispo para o especial<br />
cuida<strong>do</strong> da juventude. Dias depois saía no jornal a nomeação<br />
de Dom Cândi<strong>do</strong> Padim, que vinha preencher uma<br />
lacuna na coleção de equívocos eclesiásticos. Fiquei apavora<strong>do</strong>,<br />
sobretu<strong>do</strong> quan<strong>do</strong> vi na fotografia e na declaração publicada no<br />
jornal que D. Padim estava otimista!! Mais tarde soube que<br />
Gladstone Chaves de Melo tivera conversa semelhante e igualmente<br />
inútil com o Cardeal.<br />
Em novembro de 1963, Alceu Amoroso Lima, Presidente<br />
<strong>do</strong> Centro Dom Vital, de regresso de longa permanência no<br />
estrangeiro, escreve numa página inteira <strong>do</strong> Jornal <strong>do</strong> Brasil uma<br />
"encíclica" intitulada A Igreja, O Socialismo e o Comunismo,<br />
para demonstrar que a Igreja, de Gregório XVI a João XXIII,<br />
em relação ao socialismo e ao comunismo evoluíra da "rígida<br />
intolerância" para "o entendimento esclareci<strong>do</strong>" e finalmente<br />
para o "diálogo", e para a colaboração. Já mostrei em Dois<br />
Amores, Duas Cidades (páginas 376 e 381) que o suposto diálogo<br />
de João XXIII não tem nenhum fundamento, e que o<br />
"entendimento esclareci<strong>do</strong>" de Pio XI baseou-se num texto da<br />
Quadragésimo Anno em que o jornalista interpola nas palavras<br />
<strong>do</strong> Papa duas palavras de sua invenção, em negrito, com as<br />
quais a frase <strong>do</strong> Papa muda de senti<strong>do</strong>. Remeto o leitor à obra<br />
e página acima citadas, onde se vê que no tópico 43 (in fine),<br />
o Papa diz: "Maior condenação ainda..." e o jornalista acrescenta<br />
e frisa "<strong>do</strong> que o comunismo",- alteran<strong>do</strong> o senti<strong>do</strong> <strong>do</strong><br />
tópico.<br />
Resolvi desligar-me <strong>do</strong> Centro Dom Vital, onde durante<br />
15 anos militara. Escrevi ao Presidente <strong>do</strong> Centro uma carta<br />
queixan<strong>do</strong>-me da plástica que tão desembaraçadamente fazia<br />
nos textos pontifícios, e <strong>do</strong>s novos rumos que tomava sua pregação.<br />
Respondeu-me afavelmente, insistin<strong>do</strong> que permanecêssemos<br />
juntos, cada um com suas ideias. Procurei o Cardeal e<br />
participei-lhe minha decisão de deixar um Instituto onde cada<br />
um <strong>do</strong>s dirigentes ficaria e ensinaria segun<strong>do</strong> suas ideias, e assim<br />
a única lição comum que transmitiriam era a <strong>do</strong> desprezo pela<br />
verdade e pela exatidão da Sagrada Doutrina.<br />
Quan<strong>do</strong> terminei minha exposição, o Cardeal pôs a mão<br />
no meu braço e disse-me: — "Não. Quem deve sair é o outro".<br />
Respondi-lhe que isto estava fora de minha alçada. O que eu<br />
queria, e aceitaria no mesmo local, era uma sala onde pudesse<br />
continuar as aulas que até hoje ministro ao mesmo grupo acresci<strong>do</strong><br />
<strong>do</strong>s filhos que nasceram e cresceram. Pediu-me então o<br />
Cardeal que lhe indicasse três nomes de pessoas de confiança<br />
e boa <strong>do</strong>utrina. Dei-lhe os nomes: Fábio Alves Ribeiro, Oswal<strong>do</strong><br />
Tavares e Eduar<strong>do</strong> Borgerth. E o Cardeal acrescentou: —- E<br />
o senhor afaste-se para que ninguém possa dizer que está disputan<strong>do</strong><br />
a presidência <strong>do</strong> Centro.<br />
Despedi-me <strong>do</strong> Cardeal que me acompanhou até a porta,<br />
prometen<strong>do</strong> comunicar-me o que resolvesse. Passaram-se dias<br />
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