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O século do nada - Suma Teológica

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mun<strong>do</strong>! Essa conferência foí certamente ura grande exemplo de tomismo<br />

pratica<strong>do</strong>, mas o que mais nos transmitiu foi admiração por um homem<br />

que, ten<strong>do</strong> a estatura e o estofo de um chefe de Escola, tivera a magnânima<br />

humildade de sentar-se aos pés <strong>do</strong> Doutor Comum.<br />

E o Pe. V.-A. Berto continua:<br />

Por contraste, em que estranha luz aparece o enigma <strong>do</strong> que somos<br />

força<strong>do</strong>s a chamar a impiedade, objetivamente horrível, de P. Teillhard!<br />

Não entramos em sua consciência, dizemos objetivamente. Muitos<br />

filhos, desde que o mun<strong>do</strong> é mun<strong>do</strong>, já se ergueram contra sua mãe<br />

para odiá-la. Viu-se acaso algum desses para quem a mãe tenha si<strong>do</strong><br />

por ele mesmo tão reduzida ao <strong>nada</strong>? De tantas recomendações da Igreja,<br />

de tantos •elogios por Ela atribuí<strong>do</strong>s a Santo Tomás de Aquino, de<br />

tantas incitações e recomendações para que não nos afastemos dele,<br />

<strong>nada</strong>, <strong>nada</strong>, <strong>nada</strong>, nem vestígios, nem sombra de uma sombra de vestígio<br />

se encontra nos escritos de Teilhard de Chardin. Tu<strong>do</strong> isto, para ele,<br />

jamais existiu, ou só existiu para recair instantaneamente nas profundezas<br />

<strong>do</strong> nadir. E o mesmo se observa em relação à Companhia: nem<br />

um sinal de filiação, nem um gesto, uma palavra, um traço em que se<br />

reconheça o jesuíta, nem um aceno de gratidão por seus mestres ou<br />

indício de troca de ideias com seus irmãos, ou de espírito de colaboração<br />

e de camaradagem. Nada. Com ele só sabemos o que ele pensa, ele<br />

só, Não tem referências, dependências ou conexões. Como Melquisedeque,<br />

ele nos surge "síne patre, síne matre, sine genealogia".<br />

Já transformaram essa impiedade em seu louvor. Já se disse — creio<br />

que foi o Pe. Danielou — que ele olhava o mun<strong>do</strong> com um olhar novo<br />

de Pré-socrático, Não somente negamos a possibilidade de ser um présocrátíco<br />

no <strong>século</strong> XX, não somente negamos a vantagem de sê-lo, mas<br />

também, ainda que vantagem houvesse, negamos o direito à legitimidade<br />

de tal atitude num cristão, num padre, num religioso, num jesuíta. O<br />

Pe.. Teilhard trabalhou na mais total preterição das intenções da Igreja,<br />

e basta esta (horrível) impiedade para desacreditá-lo sem apelação.<br />

É tão isola<strong>do</strong> que seus admira<strong>do</strong>res só têm um único objeto de admiração:<br />

em torno dele, ninguém. Nem se diga que está num deserto. Não,<br />

ele flutua no vácuo. Para admirá-lo é preciso rejeitar até o A mandamento.<br />

(0)<br />

Grave bem o leitor estas linhas que condensam a reprovação da<br />

obra de Teilhard de Chardin como nenhum de seus críticos logrou<br />

fazer, com tanto acerto e vigor;<br />

60<br />

TEILHARD DE CHARDIN TRABALHOU NA MAIS<br />

TOTAL PRETERIÇÃO DAS INTENÇÕES DA IGREJA:<br />

BASTA ESTA HORRÍVEL IMPIEDADE PARA DESACRE­<br />

DITÁ-LO SEM APELAÇÃO.<br />

A gratidão e a mágoa <strong>do</strong> Pe. V.-A. Berto<br />

O artigo <strong>do</strong> Pe. V.-A. Berto, publica<strong>do</strong> em Itineraires, começa<br />

por uma declaração de gratidão e de mágoa que o autor condensa<br />

nesta epígrafe:<br />

"II tn'a fait trop de biett pour en dire du mal;;<br />

"II m'a fait irop de mal pour en dire du bien."<br />

Da gratidão já demos na longa transcrição anterior uma prova<br />

comovente e ao mesmo tempo instrutiva no que se refere ao teilhardismo.<br />

E a mágoa? No artigo em questão a mágoa principal <strong>do</strong> Pe.<br />

V.-A. Berto refere-se ao "integrismo", e ao jogo da falsa simetria<br />

"progressismo" — "integrismo" em que Maritain se deixou envolver,<br />

como há pouco observamos que Louis Boyer também se<br />

enre<strong>do</strong>u. Esse binómio deriva diretamente <strong>do</strong> jogo esquerda-direita,<br />

jogo falsea<strong>do</strong> como veremos no capítulo seguinte, jogo quase especificamente<br />

francês. Por quê? Talvez por causa <strong>do</strong> "esprit de géometrie"<br />

que será sempre o defeito da qualidade <strong>do</strong> povo mais inteligente<br />

<strong>do</strong> mun<strong>do</strong>. O próprio Pascal não escapou inteiramente a esse<br />

obsessivo cartesianismo que arma esquemas vetoriais nas mais lúcidas<br />

mentes inscritas no glorioso hexágono.<br />

Mais adiante voltaremos ao assunto e transcreveremos o que diz<br />

o Pe. V.-A. Berto das considerações tecidas por Maritain, em Le<br />

Paysan de la Garonne, sobre o "integrismo". Desde já recomendamos<br />

a leitura de Alfre<strong>do</strong> Lage (7), que foi o primeiro, em nosso meio,<br />

a sentir a impropriedade <strong>do</strong> conceito esquematiza<strong>do</strong> por Maritain,<br />

e a exprimir a mágoa que também nós sentimos a par da imensa<br />

gratidão.<br />

Creio que valha a pena antecipar algumas reflexões nossas sobre<br />

esse falso esquema que pretende contrapor duas coisas de espécies<br />

diferentes, como se se tratasse de <strong>do</strong>is sistemas de qualidades efetivamente<br />

simétricas. Mas a verdade é que de um la<strong>do</strong> temos um<br />

"neomodernismo" muito maior <strong>do</strong> que o que Pio X combateu, e portanto<br />

uma monstruosa "heresia" que Jean Madiran já chamou "a heresia<br />

<strong>do</strong> <strong>século</strong> XX"; e a <strong>do</strong> outro la<strong>do</strong>? Do outro la<strong>do</strong> temos pessoas<br />

que podem ser acusadas de defender mal a orto<strong>do</strong>xia, de testemunhar<br />

mal, por to<strong>do</strong>s os vários motivos que compõem o espectro das várias<br />

radiações da miséria humana, ideias e valores bons, mas isto, meu<br />

Deus!, é a própria condição <strong>do</strong> cristianismo em to<strong>do</strong>s os tempos, e<br />

somos to<strong>do</strong>s integristas, com exceção <strong>do</strong>s santos, que possuem e<br />

praticam as virtudes em grau heróico.<br />

61

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