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O século do nada - Suma Teológica

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Trois Réjormateurs, Maritain de certo mo<strong>do</strong> se alija da carga de<br />

esquerdismo, que a devastação de to<strong>do</strong> um mun<strong>do</strong> aju<strong>do</strong>u a levar,<br />

e se reencontra.<br />

Charles Péguy, que fora um revolucionário proudhoniano, dizia que<br />

a revolução social haveria de ser moral, ou não haveria de ser. Agora<br />

houve a revolução; e não foi moral, (i 8 )<br />

E pouco adiante:<br />

O que os cristãos têm agora a fazer não é sonhar com uma revolução<br />

social cristã, é antes trabalhar para que os ideais cristãos prevaleçam<br />

nos graduais ajustamentos, através <strong>do</strong>s quais o mun<strong>do</strong> não-comunista<br />

(cuja estrutura social e estilo de vida, ao menos nos Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s,<br />

já ultrapassaram o capitalismo e o socialismo) realizará as mudanças<br />

exigidas pela justiça social que a revolução comunista, por sua ideologia<br />

bloqueou, chegan<strong>do</strong> até a proibir sua simples •menção. ( 19 )<br />

É difícil ser mais anticomunista. Maritain vê na revolução comunista<br />

não apenas o seu próprio fracasso, mas a abismal e apavorante<br />

desmoralização de um ideal autêntico e perene. E com estas<br />

seis ou sete linhas demonstra a impossibilidade, a ilegitimidade, a<br />

intrínseca imoralidade de uma colaboração com os comunistas. Em<br />

outras palavras, nesse momento, Maritain esquece-se <strong>do</strong> Pe. Chenu<br />

e "son cher dialogue", esquece-se de Mounier, de Vendredi, de<br />

Sept, e esquecen<strong>do</strong>-se de que se esquecera de Pio XI durante toda<br />

a Guerra Civil espanhola, volta à Divini Redemptoris que esqueceu<br />

de mencionar na alocução que fez pelo rádio na noite da morte de<br />

Pio XI. (20)<br />

Voltemos a Le Paysan. . . Maritain está em Paris e considera<br />

em torno de si o espetáculo da "completa temporalízação <strong>do</strong> cristianismo".<br />

Há na composição desse livro to<strong>do</strong> um drama. Quem o<br />

escreve é o filósofo tomista Jacques Maritain, o autor de Trois Réjormateurs<br />

e Dégrés du Savoir, é o homem de Deus, o afilha<strong>do</strong> em<br />

quem Bloy, em 1913, adivinhou um braço poderoso e uma grande<br />

voz de lamenta<strong>do</strong>r.<br />

O filósofo procura arrimar-se no ombro <strong>do</strong> camponês que nunca<br />

pôde ser, e cuja presença mal pôde entrever entre as várias instâncias<br />

psíquicas de sua grande e riquíssima personalidade. Teoricamente,<br />

e graças às memoráveis lições de Garrigou-Lagrange (que mais próximo<br />

esteve sempre <strong>do</strong> rústico camponês), Maritain sabe que sua<br />

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grande sagesse emenda na petite sagesse <strong>do</strong> senso comum; mas no<br />

perío<strong>do</strong> tormentoso de sua vida (naquele em que se separa de Garrigou-Lagrange<br />

para frequentar Mounier) esse convívio consigo<br />

mesmo esteve prejudica<strong>do</strong> pela intromissão de um terceiro personagem.<br />

Quem? Qual?<br />

O mesmo que agora, em Le Paysan, faz o filósofo e o camponês<br />

se desavirem, e fã-los ambos esquecerem o simples termo "comunismo"<br />

que atrás dele traz uma torrente de <strong>do</strong>lorosíssimas recordações.<br />

Esse personagem é o "intelectual" no senti<strong>do</strong> exato que lhe<br />

dá Jules Monnerot quan<strong>do</strong> conta "a história sucinta <strong>do</strong>s intelectuais"<br />

e diz; "Outro traço próprio <strong>do</strong>s intelectuais é o de nunca tirarem<br />

lição <strong>do</strong>s acontecimentos, porque eles os censuram". (21)<br />

Gostaria muito de transcrever to<strong>do</strong> o excelente e saboroso capítulo<br />

<strong>do</strong> autor de Sociologie du Communisme, mas detenho-me e<br />

deixo ao leitor a recomendação, porque se me esten<strong>do</strong> a transcrever<br />

os livros que já estão escritos certamente malograrei o intento de<br />

escrever o meu próprio, com que já tenho uma espécie de compromisso.<br />

NOTAS DO CAPÍTULO I, P. I<br />

(1) Alfre<strong>do</strong> Lage, Hora Presente, maio de 1970, n° 6.<br />

( 2 ) Jornal <strong>do</strong> Brasil.<br />

( 3 ) Louís Boyer, La Décomposition du Catholicisme, 1968.<br />

(*) Jacques Maritain, Le Paysan de la Garonne, Desclée de Brouwer, 1966,<br />

pág. 141.<br />

(5) Encíclica de Leão XIU, 4 de agosto de 1879, em que o Papa, dirigin<strong>do</strong>se<br />

aos bispos <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> inteiro, e em continuação da apologia deixada por<br />

seus predecessores, Inocêncio V, Clemente VI, Urbano V, Nicolau V,<br />

São Pio V, Bento XIII, Inocêncio XII, Clemente XII, Bento XIV, e<br />

outros, recomenda a <strong>do</strong>utrina <strong>do</strong> incomparável Doutor de to<strong>do</strong>s os Doutores<br />

da Igreja Santo Tomás de Aquino.<br />

(6) Itinéraires, abril de 1969, n.° 132.<br />

(7) Alfre<strong>do</strong> Lage, A Recusa de Ser, AGIR, 1971, pág. 284.<br />

( 8 ) Claude Tresmontant, Introduction à la Pensée de Teilhard de Chardin,<br />

ed. du Seuil, 1956.<br />

( 9 ) PhiHppe de la Trinité, Dialogue avec les Marxistes? Les Ed. du Cèdre,<br />

1966; Rome et Teilhard de Chardin, Arthême Fayard, 1964.<br />

( 10 ) Henry Bars, La Philosophie Politique selon Jacques Maritain, les ed.<br />

Ouvrières, Paris, 1961.<br />

(H) Henry Bars, Maritain et notre temps, Grasset, Paris, 1959, pág. 130.<br />

( 12 ) Jacques Maritain, op. cit., pág. 154.<br />

(13) Un marxiste s'aáresse au Cvncile.<br />

( 14 ) Gustavo Corção, Dois Amores, Duas Cidades, AGIR, 1967, volume II,<br />

pág. 362.<br />

( 15 ) Philippe de la Trinité, op. cit.<br />

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