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1 LINS – SP 2009 - Unisalesiano

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CIBERE<strong>SP</strong>AÇO: EDUCAÇÃO EM UM NOVO PLANO DE REALIDADE<br />

IDEYLSON DA SILVA VIEIRA DOS ANJOS<br />

<strong>LINS</strong> <strong>–</strong> <strong>SP</strong><br />

<strong>2009</strong><br />

1


CIBERE<strong>SP</strong>AÇO: EDUCAÇÃO EM UM NOVO PLANO DE REALIDADE<br />

RESUMO<br />

O impacto das novas formas de produção, circulação e consumo de informação tem<br />

sido tão grande a ponto de reconfigurar a vida e o pensamento como tais?<br />

Educação, identidade, cultura, toda construção dos espaços antropológicos se vêem<br />

afetadas por essa interrogação que nasce do confronto do humano com a internet. A<br />

proposta do presente artigo é examinar criticamente a resposta de Pierre Levy, um<br />

dos primeiros intelectuais a responder a essa complexa interrogação, confrontandose<br />

em poucas páginas a sua posição e a de outros críticos teóricos, definindo o<br />

espaço da produção do virtual como um novo plano de realidade a partir do qual se<br />

devem discutir os parâmetros de um novo fenômeno societário e educativo.<br />

Palavras-Chave: Ciberespaço, Cibercultura, Educação.<br />

2


INTRODUÇÃO: QUEBRANDO PRECONCEITOS<br />

Cibervida? Essa é uma interrogação que sem muito esforço percebe-se<br />

pertinente na interferência das tecnologias virtuais com a vida humana nesse início<br />

do século XXI. De acordo com Pierre Lévy 1 (2001, DVD), é inconcebível negar que,<br />

desde as últimas décadas do século XX, o mundo está consumido pelas tecnologias<br />

da comunicação. Basta olhar a maneira como ele se relaciona, como move sua<br />

economia, sua política, sua arte, sua sabedoria e sua espiritualidade, para ver que,<br />

em tudo, os processos técnicos de comunicação estão se adentrando. Não obstante,<br />

essa tecnologia é indispensável na maioria das atuais áreas de trabalho, pois a<br />

técnica já se constitui como um elemento essencial na construção de conhecimentos<br />

e relacionamentos que vêm mudando completamente a maneira de as pessoas<br />

pensarem, de se comunicarem, de conviverem umas com as outras e com o mundo.<br />

No movimento acelerado dessas tecnologias é interessante observar os<br />

aparelhos telefônicos, os celulares, os computadores, e notar que elas estão, em<br />

alta velocidade, cada vez mais sofisticadas e que possuem variadas funções que<br />

visam primordialmente facilitar a vida das pessoas. 2 Para Pierre Lévy (2000), essas<br />

tecnologias estão causando uma transformação no mundo humano e, por isso, a<br />

técnica e sua relação com o ser humano merecem uma atenção especial nos<br />

trabalhos e estudos científicos.<br />

Percebe-se que, o que se passa hoje, é a vivência de uma verdadeira<br />

revolução antropológica 3 , a qual, pela técnica, atinge com velocidade todas as<br />

dimensões do mundo humano (social, política, econômica, intelectual, espiritual…).<br />

Pelo sistema técnico de universalização, chamado Internet 4 , se constrói uma rede<br />

1 Pierre Lévy, filósofo contemporâneo, trabalha na área das novas tecnologias e suas implicações na<br />

vida humana sob uma visão otimista, principalmente no que se diz respeito à nova construção do<br />

conhecimento pelas novas tecnologias. É conhecido por várias denominações como webfiolósofo, o<br />

filósofo da Internet, o filósofo do futuro.<br />

2 Lévy não discute os valores econômicos dos aparelhos ou quantas pessoas têm condições<br />

econômicas de adquiri-los, mas analisa a influência e a repercussão da força desses aparelhos na<br />

vida humana. Cf. Lévy (2000, p.12).<br />

3 Revolução antropológica porque o movimento do ciberespaço já é novo espaço antropológico de<br />

encontro de vida e cultura do ser humano. Cf. Lévy (1999, p. 125).<br />

4 Internet vem de Internetworking (ligação entre redes). Embora seja pensada como sendo uma rede,<br />

a Internet, é na verdade, o conjunto de todas as redes. É o conjunto de meios físicos (linhas digitais<br />

de alta capacidade, computadores, roteadores etc.) e programas (protocolo TCP/IP) usados para o<br />

transporte da informação. A Web (www) é apenas um dos diversos serviços disponíveis através da<br />

Internet. Em analogia, a Internet seria o equivalente à rede telefônica, com seus cabos seus sistemas<br />

de discagem e encaminhamento de chamadas, enquanto a Web seria similar a usar um telefone para<br />

3


mundial, na qual todos estão interligados num mesmo espaço, o ciberespaço, 5 e<br />

num mesmo tempo presente, onde há contatos de um para com cada um, de um<br />

para com todos, e de todos para com todos que estão conectados. Com isso,<br />

segundo Levy (1993), a noção de espaço e tempo, que até então só fora mudada no<br />

nascimento da escrita, se vê, hoje, totalmente transformada devido ao surgimento<br />

desse novo sistema que unifica o mundo em tempo presente e indeterminado.<br />

Movimentar-se já não é mais deslocar-se de um ponto a outro na superfície terrestre,<br />

mas sim, atravessar universos de problemas, mundos vividos, diferentes sentidos<br />

que exploram o espaço interior da intersubjetividade. Eis a atual revolução!<br />

Essa revolução já não é mais obscura. Porém, segundo Lévy (1999), está<br />

passando despercebida a grandeza de sua realidade, e isso faz desconhecer<br />

totalmente os benefícios que essa revolução pode vir a nos oferecer, principalmente<br />

no campo da cultura. Afirma o autor que a Internet, por exemplo, é utilizada pela<br />

maior parte das pessoas somente como um instrumento de transmissão e não como<br />

uma metodologia de construção de conhecimento e uma cultura de vida.<br />

Devido ao não conhecimento do momento em que se vive, diante das velozes<br />

mudanças e inúmeras interrogações, Lévy (1993) afirma que muitas pessoas<br />

preferem abraçar as críticas sobre a técnica, nascidas do medo e da ignorância, do<br />

que investir em estudos para conhecer o que se passa.<br />

O cúmulo da cegueira é atingido quando as antigas técnicas são<br />

declaradas culturais e impregnadas de valores, enquanto que as<br />

novas são denunciadas como bárbaras e contrárias à vida. Alguém<br />

que condena a informática não pensaria nunca em criticar a<br />

impressão e menos ainda a escrita. Isso, porque a impressão e a<br />

escrita (que são técnicas!) o constituem em demasia para que ele<br />

pense em apontá-las como estrangeiras. Não percebe que sua<br />

maneira de pensar, de comunicar-se com seus semelhantes, e<br />

mesmo de acreditar em Deus são condicionadas por processos<br />

materiais (LÉVY, 1993, p. 15).<br />

a comunicação de voz, embora o mesmo sistema possa ser usado para transmissão de fax ou de<br />

dados. Cf. Lévy (1999 B, p. 225).<br />

5 Ciberespaço é o espaço gerado pela Internet, onde se armazenam dados e constroem-se textos. É<br />

o espaço de interligação entre pessoas, de todos para com todos e de todos para com cada um,<br />

considerando a individualidade pessoal e assim, construindo uma rede de intersubjetividade. É nesse<br />

espaço que Pierre Lévy desenvolve seus projetos, suas pesquisas. Cf. Lévy (1999).<br />

4


Por isso, diante desse contexto de revolução e indeterminação, de novidade e<br />

de incerteza, de mudança e de medo, é de suma importância elaborar estudos que<br />

visam o entendimento e o esclarecimento do momento atual, para, a partir daí, nele<br />

se posicionar e até propor um rumo para a humanidade caminhar. “Devemos aceitá-<br />

lo como nova condição. Temos que ensinar nossos filhos a nadar, a flutuar, talvez a<br />

navegar” nessa nova onda de vida (Lévy, 2000, p. 15). Acreditando que por meio da<br />

informática, há a possibilidade de uma nova maneira de construir o desenvolvimento<br />

das pessoas e da sociedade (Lévy, 2000). Esse ciberespaço produzido pela<br />

coletividade humana não é somente uma rede de conversas on-line, mas é, na<br />

verdade, um reconhecimento das competências pessoais de cada indivíduo, isto é, a<br />

possibilidade de um novo sistema de validação de competências pessoais. Enfim, é<br />

a construção de um novo humanismo 6 .<br />

A proposta de cibercultura apresentada por Pierre Lévy (2000) atinge<br />

fortemente vários campos da atuação humana (político, social, econômico, artístico,<br />

espiritual e outros) e nos convida a estudar o mundo em que vivemos para criticá-lo<br />

e interrogá-lo na busca de uma resposta falível que visa primordialmente uma vida<br />

melhor para a humanidade. Para isso, é necessário quebrar os preconceitos de que<br />

o mundo virtual veio para destruir o mundo real, que a máquina vai substituir o<br />

homem ou que a técnica vai destruir a o ser humano.<br />

PIERRE LÉVY: PONTO DE PARTIDA<br />

Pierre Lévy é um dos mais influentes filósofos da atualidade que trabalha com<br />

a cibercultura e o ciberespaço (LÉVY, 2006, DVD). Um dos principais defensores<br />

das novas tecnologias de comunicação, dos computadores e, em particular, da<br />

Internet, vista como instrumento de ampliação do conhecimento humano e criação<br />

de um novo espaço antropológico, o ciberespaço onde reside e desenvolve a<br />

cibercultura (PRADO, 2006) 7 . Lévy se intitula “engenheiro do conhecimento”, aquele<br />

que vê na técnica de comunicação a possibilidade da construção revolucionária de<br />

6 O novo humanismo que Pierre Lévy propõe é o humanismo que surge pela liberdade humana, pela<br />

liberdade da inteligência humana, que vive no ciberespaço (pela Internet) e constrói a inteligência<br />

coletiva. Cf. Lévy (1996).<br />

7 Disponível em http://novaescola.abril.com.br/index.htm?ed/164_ago03/html/falamestre, acessado<br />

em 22 de outubro de 2006 às 14h.45min.<br />

5


um novo pensamento, de uma nova inteligência, em uma nova cultura (PELLANDA,<br />

2006) 8 . Porém, o que não se pode perder de foco, é que a centralidade do<br />

pensamento de Pierre Lévy é o ser humano, e a técnica vem com a intenção de<br />

ajudá-lo no seu desenvolvimento.<br />

O pensamento e a visão de mundo de Lévy são motivados pela concepção<br />

filosófica do jesuíta e paleontólogo francês Pierre Teilhard de Chardin, filósofo e<br />

teólogo defende a tese de que a humanidade caminha no sentido de uma evolução<br />

universal, num caminho de ascensão, vencendo obstáculos e superando barreiras<br />

(PINTO, 2006) 9 . Lévy acredita e faz vivo o pensamento que Chardin sonhava:<br />

Ninguém pode negar que uma rede […] de filiações econômicas e<br />

psíquicas está sendo tecida numa velocidade que aumenta sempre,<br />

que abraça e constantemente penetra cada vez mais fundo em nós.<br />

A cada dia que passa, torna-se um pouco mais impossível para nós<br />

agir ou pensar de forma que não seja coletiva […] Nós chegaremos<br />

ao princípio de uma nova era. A Terra ganha uma nova pele. Melhor<br />

ainda, encontra sua alma (CHARDIN, 1947, apud: ZWARG, 2005, p.<br />

12).<br />

Lévy tem bem claro o seu conceito de otimismo como sendo uma atitude de<br />

responsabilidade (LÉVY, 2001) 10 . Segundo Zwarg 11 (2005), devido a esse otimismo,<br />

Lévy se torna um alvo fácil para as críticas. Sobre isso, Pellanda (2000, p. 09),<br />

afirma que Lévy “para os conservadores, é um fantasma indesejado e temido”. Para<br />

Rüdiger 12 , teórico e crítico da cibercultura, Pierre Lévy não passa de “um ingênuo<br />

otimista por assumir as pretensas benesses do progresso tecnológico como suporte<br />

para uma fé cega nos destinos prósperos dos seres humanos” (RÜDIGER, apud<br />

8 Disponível em http://www.compsociedade.hpg.ig.com.br/pierrelevy/mutacao.html, acessado em 22<br />

de outubro de 2006 às 14h.55min.<br />

9 Disponível em http://www.novae.inf.br/exclusivas/pierrelevy.htm, acessado em 22 de outubro de<br />

2006 às 15h.08 min.<br />

10 Disponível em<br />

http://www.saplei.eesc.usp.br/sap5865/leitura_semanal/PIERRE%20LEVY_tecnologia.htm, acessado<br />

em 22 de outubro de 2006 às 15h.59 min.<br />

11 Cláudia Durant Zwarg é especialista no pensamento de Pierre Lévy com mestrado sobre O Virtual e<br />

o Humano no Pensamento de Pierre Lévy.<br />

12 Franscisco Rüdiger é professor na PUCRS. Doutor em ciências Socias pela Universidade de São<br />

Paulo. É autor de vários livros como Elementos para a crítica da cibercultura (2002) e Introdução às<br />

teorias da cibercultura (2003). Cf. ZWARG, Cláudia. O virtual e o humano no pensamento de Pierre<br />

Lévy. Dissertação, 2005.<br />

6


ZWARG, 2005, p. 18). Para Paul Virilio 13 , considerado um dos maiores críticos de<br />

Pierre Lévy, Lévy é o “guru da Internet”, que favoreceu “arrastar para o terreno do<br />

delírio, um delírio de interpretação nefasto a respeito da cibernética e temas<br />

adjacentes” (VIRÍLIO, apud ZWARG, 2005, p. 12).<br />

Diante das críticas, Lévy se anima cada vez mais, pelo fato de ter a<br />

possibilidade de exercer sua responsabilidade e assumir o compromisso de cooperar<br />

com a humanidade na vivência e no entendimento do atual processo de<br />

desenvolvimento humano. Diante da dinâmica dos novos desenvolvimentos<br />

humanos, considerada também como evolução da técnica de virtualização, Lévy<br />

(1996, p. 12) recomenda a toda a humanidade e, em especial aos seus críticos, que:<br />

“antes de temê-la, condená-la ou lançar-se às cegas a elas, proponho que se faça o<br />

esforço de apreender, de pensar, de compreender em toda a sua amplitude”.<br />

Segundo ele, isto é o que falta aos seus críticos.<br />

Lévy (2000) 14 afirma que a maioria desses intelectuais que tanto o criticam,<br />

são uma casta de homens cultos que detinham o monopólio do saber e do<br />

conhecimento, mas que ainda não se deram conta de que estão perdendo os seus<br />

poderes para a coletividade presente na Internet e, por isso, o criticam tanto, isto é,<br />

eles estão perdendo o privilégio da transmissão do conhecimento, por nada<br />

conhecerem do mundo virtual. Segundo Lévy (2000) 15 , “Virilio nunca viu um correio<br />

eletrônico na vida! Suas críticas são críticas de quem está apavorado com a nova<br />

realidade. É essa liberdade que intelectuais como Virilio identificam com a barbárie e<br />

não podem tolerar”.<br />

A ousadia é uma das características principais de Pierre Lévy que, diante do<br />

contexto de medo, omissão e crítica às tecnologias, levanta a voz ao mundo e<br />

afirma:<br />

Sim eu sou otimista […] Ser otimista é dar-se conta de que temos a<br />

possibilidade de escolher e que, portanto somos responsáveis. É dar-<br />

se conta de que não devemos colocar a responsabilidade sobre o<br />

que nos é externo, sobre bodes-expiatórios, em pessoas que<br />

queremos acusar. Ser otimista é dar-se conta que nós contribuímos<br />

13<br />

Paul Virilio é filósofo francês, arquiteto, urbanista, ex-diretor da Escola de Arquitetura de Paris. Cf.<br />

Ibid.<br />

14<br />

Disponível em http://www.urisan.tche.br/~dfrancis/levy.htm, acessado em 21 de outubro de 2006 às<br />

09h.37min.<br />

15 Idem.<br />

7


para construir o mundo em que vivemos. E o que iremos escolher? O<br />

pior? Não! Vamos escolher o melhor. Eis porque sou otimista (LÉVY,<br />

2001) 16 .<br />

Isso já é o suficiente para compreender que Pierre Lévy é um filósofo vivo,<br />

ousado e otimista do mais atual sistema de comunicação, o ciberespaço.<br />

O CIBERE<strong>SP</strong>AÇO: POR UMA NOVA ANTROPOLOGIA<br />

A proposta do ciberespaço, em Pierre Lévy, é nada mais que um manifesto<br />

humanista de uma nova cultura emergente. A história da humanidade está<br />

reconfigurada sob a perspectiva de quatro espaços antropológicos. O ciberespaço e<br />

suas implicações se desenvolvem em um desses espaços. Um espaço<br />

antropológico, segundo Lévy (1999, p. 125) nasce da “interação entre pessoas” e é<br />

um “sistema de proximidade próprio do mundo humano”, o qual depende de técnica,<br />

linguagem, cultura, significações, convenções, representações e emoções humanas<br />

(LÉVY, 1999, p. 22), Porém, segundo Lévy (1999, p. 126), “os seres humanos não<br />

habitam somente no espaço físico, ou geométrico”, não interagem somente em um<br />

espaço. As pessoas habitam, e por muito tempo, em vários outros espaços, sejam<br />

eles afetivos, estéticos, sociais ou históricos.<br />

As pessoas têm diante de si diferentes espaços antropológicos devido às<br />

várias possibilidades de habitação que lhes são propostas pela própria natureza.<br />

Dessa forma passamos nosso tempo a modificar e a administrar os<br />

espaços em que vivemos, a conectá-los, a separá-los, a articulá-los,<br />

a endurecê-los, a neles introduzir novos objetos, a deslocar as<br />

intensidades que os estruturam, a saltar de um espaço a outro<br />

(LÉVY, 1999, p. 126).<br />

Os espaços antropológicos são como superespaços. Sua constituição<br />

apresenta vários outros espaços interdependentes, em que cada espaço possui sua<br />

axiologia. O que é de grande valor em um espaço pode não ser em um outro. Daí a<br />

16 Disponível em<br />

http://www.saplei.eesc.usp.br/sap5865/leitura_semanal/PIERRE%20LEVY_tecnologia.htm, acessado<br />

em 22 de outubro de 2006 às 15h.59min.<br />

8


importância de reconhecer os valores dos espaços nos quais vivemos e daqueles<br />

nos quais somos levados a viver.<br />

Analisando a história da humanidade, Pierre Lévy reconhece a existência de<br />

quatro grandes espaços antropológicos: terra, território, mercadorias e saber. Esses<br />

espaços surgiram devido a acontecimentos de ordem intelectual, técnica, social ou<br />

histórica e também pela capacidade desses espaços reorganizarem as proximidades<br />

e a interação entre as pessoas, entre as distâncias. É justamente no espaço do<br />

saber que se desenvolve o ciberespaço e todas as suas implicações.<br />

Para Lévy (1999), é um grande erro considerar os espaços antropológicos<br />

como “recortes” cronológicos de uma realidade preexistente. Da mesma maneira, é<br />

um equívoco “tomar os espaços antropológicos por classes ou conjuntos nos quais<br />

se acomodariam os seres, os signos, as coisas, os lugares, cada entidade do mundo<br />

humano” (LÉVY, 1999, p.129).<br />

Os espaços vão surgindo de uma maneira complementar e processual.<br />

[…] imaginemos que um calendário de quatro páginas (cada<br />

uma correspondendo a um espaço antropológico) seja rasgado<br />

e amassado até formar uma bola. Suponhamos agora que uma<br />

agulha (que representa o fenômeno a ser cartograficamente<br />

representado segundo nosso sistema de projeção) seja<br />

espetada nessa bola de papel. A agulha atravessará em certa<br />

ordem, cada um dos espaços e poderá furar várias vezes o<br />

mesmo espaço. Cada nova agulha espetada estabelecerá<br />

relações diferentes com os quatro espaços, tanto sob o<br />

aspecto da sucessão como sob o do número de encontros<br />

(LÉVY, 1999, p. 130).<br />

Para Pierre Lévy, os espaços antropológicos, mesmo surgidos em tempos<br />

diferentes, não suprimem os anteriores. O que acontece é uma superação em<br />

velocidade e significações, tendo os mesmos como “plano de existência”, ou seja,<br />

como necessidade para existência dentro de um processo contínuo de<br />

transformação (LÉVY, 1999, p. 128). Pierre Lévy (1999, p. 189), deixa bem claro que<br />

um espaço antropológico, quando se desenvolve “de maneira consistente torna-se<br />

irreversível, ele não é eliminado pelo que vem depois dele”, ou seja, “os espaços<br />

antropológicos são eternos” (LÉVY, 1999, p. 190). O interessante é que os espaços<br />

9


vão sendo atualizados de acordo com o desenvolvimento dos pensamentos e<br />

relações humanas. Nesse sentido, “o tempo não passa realmente, os ambientes<br />

afetivos, as configurações existenciais são postos em reserva, em memória, não<br />

deixando jamais de agir, estão disponíveis para todos os retornos” (LÉVY, 1999, p.<br />

190, SIC). Tudo está sempre presente.<br />

E<strong>SP</strong>AÇO DO SABER: RUMO À CIBERCULTURA<br />

É importante lembrar que o espaço do saber ainda não existe, é uma utopia 17 ,<br />

porém, não existe como ato, é virtual 18 . Isso quer dizer que, virtualmente, já está<br />

presente, em potência, na expectativa de um vir-a-ser ato, fato. O mundo virtual<br />

começa a se implantar e se construir no mundo real, interferindo em sua maneira de<br />

ser, e será pelas relações humanas, pelos laços sociais de pessoas distintas que<br />

esse espaço antropológico se solidifica. Eis o surgimento do ciberespaço, eis a casa<br />

da cibercultura 19 .<br />

Lévy defende que o “ser humano não pensa sozinho” (LÉVY, 1996, p. 95). A<br />

linguagem, os sistemas de signos, as formas de comunicação, as maneiras de ver o<br />

mundo, as maneiras de viver, tudo isso perpassa os tempos por uma tradição<br />

histórica, chegando até o presente e, conseqüentemente, constituirá o futuro. O<br />

pensamento é histórico, isto é, há toda uma sociedade cosmopolita 20 pensando<br />

dentro de nós. Para Lévy, está mais do que claro que tudo o que aprendemos e<br />

sabemos é fruto de uma construção histórica desde a origem, desde a terra. Sendo<br />

17 Utopia, no pensamento de Lévy, é apresentada em seu significado etimológico, isto é, u-topia, que<br />

quer dizer não-lugar, sem lugar. Cf. LÉVY, 1999, p. 120.<br />

18 Pierre Lévy apresenta sua concepção de virtual, fundamentada na etimologia latina medieval,<br />

virtualis, que por sua vez deriva de virtus, que quer dizer força, potência. Isso é o virtual para Lévy. O<br />

virtual tende a atualizar o ato, ou seja, o que já é, sem ter passado, no entanto, à concretização<br />

efetiva ou formal do mesmo. Com isso, Lévy fundamenta filosoficamente que virtual não é, como<br />

tratam grande parte dos estudiosos, a oposição ao real, mas sim a oposição ao atual. Agora, o virtual<br />

não é estático, mas o virtual é chamado complexo problemático. Cf. LÉVY, 1996, p. 15-16.<br />

19 Cibercultura, especifica aqui o conjunto de técnicas (materiais e intelectuais), de práticas, de<br />

atitudes, de modos de pensamento e de valores que se desenvolvem juntamente com o crescimento<br />

do ciberespaço. Cf. LÉVY, 2000, p. 17.<br />

20 A palavra cosmopolita vem do grego cosmo - polités, que significa: cidadão do mundo (do cosmo).<br />

Foi cunhada pelos filósofos cínicos e retomada pelos estóicos. Longe de considerar apenas o fatos<br />

de pertencer à comunidade política ateniense ou romana, o sábio estóico se sabia e se desejava<br />

cidadão de uma cidade da dimensão do universo, não excluindo nada nem ninguém, nem o escravo,<br />

nem o bárbaro, nem o astro, nem a flor. E, no pensamento de Pierre Lévy, preconiza-se o conceito de<br />

um retorno à grande tradição antiga do cosmopolitismo não somente por razões de simples<br />

humanidade, mas também em vista de uma plena integração das dimensões técnicas e ecológicas na<br />

reflexão e ação política. Cf. LÉVY, 1998, p. 11.<br />

10


assim, pode-se dizer que a coletividade pensa em nós, porém, somos todos<br />

diferentes.<br />

É importante ter presente que, no pensamento de Lévy (1995), cada ser<br />

humano é um mundo diferente, são conhecimentos diferentes, porque cada pessoa<br />

é diferente, cada pessoa é um universo a ser descoberto. Esse conhecimento, não<br />

se trata somente do conhecimento científico, esse limitado uso da razão, mas do<br />

conhecimento que qualifica a espécie homo sapiens. No espaço do Saber o<br />

conhecimento é entendido como um savoir-vivre ou um vivre-savoir 21 que, segundo<br />

Lévy (1999, p. 121), é “co-extensivo à vida”, porque engloba em si a completude<br />

humana, na sua história e naquilo tudo que ela pode oferecer. Este saber é a nossa<br />

inteligência; é a inteligência humana, o saber viver.<br />

É a partir dessa compreensão de mundo que nasce a cibercultura com a<br />

interconexão planetária formando uma comunidade virtual e uma universal e livre<br />

inteligência coletiva a qual, a primeiro momento, pretende reunir as diferentes forças<br />

de cada ser humano, naquilo que lhe cabe doar, para pensar em conjunto,<br />

aumentando as competências cognitivas, sociais e políticas de cada um e de todos<br />

ao mesmo tempo (LÉVY, 2002) 22 .<br />

Essa mega interligação de saber só é possível dentro de um novo espaço<br />

antropológico, o espaço do saber. O ciberespaço, segundo Lévy (1999), habita no<br />

espaço do saber e lá inventa sua própria língua, constrói seu próprio universo e cria<br />

formas diferentes de se comunicar, de trabalhar, de viver. Neste contexto, como será<br />

possível interligar o mundo todo, em seus pensamentos, laços sociais e políticos?<br />

Para Pierre Lévy, isso acontece graças à informática 23 , a internet, que é a<br />

interconexão mundial (LÉVY, 1993, p. 256). Na verdade, segundo ele, isso não é<br />

problema, pois o mundo já está interligado e o fato de que, numa visão global, ainda<br />

são poucas as pessoas no mundo que têm acesso à Internet, não intimida o novo<br />

espaço. 24 Portanto, não podemos ser impacientes e nos escandalizarmos com o fato<br />

21 Savoir-vivre ou vivre-savoir, no pensamento de Pierre Lévy, significa a sua própria tradução<br />

portuguesa do francês, que quer dizer: Saber-viver ou viver-saber. Isto é: todo conhecimento<br />

adquirido com a experiência da vida. Cf. LÉVY, 1999, p. 121.<br />

22 Disponível em www.laisignia.org/2002/noviembre/cyt_008.htm, acessado em 24 de outubro de<br />

2006 às 21h12min.<br />

23 Cf. Entrevistas de PESSIS-PASTEERNAK, Guitta. Do caos à inteligência artificial: quando os<br />

cientistas se interrogam, 1993.<br />

24 Esse fato deve ser tratado a partir de uma visão histórica, pois a Internet, como fenômeno social,<br />

existe há pouco mais de duas décadas e seu desenvolvimento mundial vem sendo altamente<br />

considerado, o que nos leva a projetar o avanço.<br />

11


de que a maioria da população não está conectada. O que é preciso observar é a<br />

velocidade com que a curva de conexões aumenta, e isso já é notável. 25 O que Lévy<br />

propõe é que, diante de toda a velocidade das transformações no campo da<br />

tecnologia da informação, o mundo precisa de cabeças pensantes, otimistas e<br />

compromissadas com a vida do ser humano.<br />

IDENTIDADE: POR UMA SEMIÓTICA DO CIBERE<strong>SP</strong>AÇO<br />

O espaço do saber cria consistência somente no fim do século XX com as<br />

redes digitais e os universos virtuais. Neste espaço, Pierre Lévy entende que a<br />

identidade do indivíduo é constituída por imagens dinâmicas, geradas por meio de<br />

navegação, transformação e exploração das realidades virtuais. Essas realidades<br />

virtuais, formadas pelos indivíduos virtuais, criam suas identidades, visto que eles<br />

estão em constante contato com novos saberes, e por isso, aprendem e se renovam<br />

o tempo todo.<br />

Conseqüentemente, esses indivíduos são criadores do seu próprio cosmo,<br />

cada uma é um universo virtual. Lévy tem bem claro que não é mais possível<br />

separar a exploração da construção do mundo virtual. Ao explorar, o indivíduo se<br />

constrói em significações e conhecimentos no espaço do saber. Como se sabe, ele<br />

habita no mundo virtual, mas, porém, se remete a um espaço real, que é o savoir-<br />

vivre. É no mundo virtual que esses indivíduos se constroem e se desenvolvem,<br />

constituindo o savoir-vivre, que é real. Nesse contexto, Barry Wellman 26 vem ao<br />

encontro do pensamento de Lévy por também reconhecer que o ciberespaço não se<br />

constitui fisicamente e nem segue os modelos de relações físicas, mas funciona em<br />

outro plano de realidade.<br />

De fato, a identidade no espaço do saber se exprime no mundo virtual. Por<br />

isso, quantos corpos virtuais o indivíduo possuir, tal será o seu número de<br />

identidades.<br />

Na Terra o homem é um micro cosmo; no Território, é uma micro<br />

polis; no espaço mercantil, eis que ele se torna um micro oikos, uma<br />

pequena casa; no espaço do Saber, o humano se restringe ainda<br />

25 Idem.<br />

26 O maior pesquisador empírico em sociologia da Internet. Cf. CASTELLS, 2008, p. 444.<br />

12


mais: não é mais do que um cérebro. Mesmo seu corpo se torna um<br />

sistema cognitivo (LÉVY, 1999, p. 135).<br />

Comumente, pela coletividade, os cérebros dos indivíduos pensantes entram<br />

em contato uns com os outros e, pelos sistemas de signos (linguagens ou<br />

representações), exploram e criam mundos diferentes, convertendo o indivíduo em<br />

um poli cosmo, em um poli mundo, em um poli vivre.<br />

É justamente este poli cosmo, com todos os seus sistemas de representações<br />

<strong>–</strong> signos, linguagem, brasões <strong>–</strong> que constitui a identidade no espaço do saber. A<br />

partir desta perspectiva, de acordo com Pierre Lévy (1999), o espaço do saber vem<br />

a ser uma volta a terra, mas não à primeira terra (microcosmo), mas a uma nova<br />

Terra, um novo universo, onde o indivíduo volta a ser nômade e a possuir diversas<br />

identidades por explorar diversos universos. No espaço do saber, o próprio indivíduo<br />

é heterogêneo, é múltiplo, é passivo e ativo ao mesmo tempo, ensina e aprende,<br />

conhece e se deixa conhecer.<br />

Nas mercadorias, já não existia o real; era tudo cópia, plágio, reconstrução da<br />

reconstrução dos signos. Aqui, no espaço do saber, as coisas voltam a existir,<br />

voltam a ter significados, porque é real tudo o que envolve as realidades práticas,<br />

intelectuais e imaginárias dos sujeitos vivos, não importam quais sejam. No espaço<br />

do saber, os signos não deixaram de se multiplicarem, de se transformarem. Pelo<br />

contrário, as transformações são mais velozes, mais freqüentes e é justamente<br />

dessa forma, que se constrói a semiótica do Saber. Todas as transformações,<br />

diferentemente do espaço mercantil, existem, são reais, e possuem uma super<br />

importância para o indivíduo, porque são por elas, são pelos signos (mesmo que<br />

muitos), que o indivíduo ganha sua existência.<br />

Cada indivíduo terá vários signos e todos com alta significatividade e<br />

referência; esse é o diferencial. Ao deparar com o universo do espaço do saber,<br />

estarão presentes vários e diversos signos que significam diversas pessoas com<br />

seus variados significados. É justamente aí, diante dessa diversidade de signos reais<br />

que os mundos de significações são partilhados e a cibercultura se firma.<br />

Para Pierre Lévy (1999, p. 145, SIC), “o Espaço do Saber é justamente essa<br />

realidade virtual, essa utopia já presente em manchas, em pontilhado, em potência<br />

em todo lugar onde os seres humanos sonham, pensam, agem juntos” por meio de<br />

seus diversos signos. E, diante de uma grande variedade de significações, signos,<br />

13


existentes no espaço do saber em constante mutação, cria-se uma forte exigência<br />

de organização, pois os indivíduos virtuais agem, se constroem e se identificam<br />

nessa constante mutação.<br />

Essas mutações ocorrem com os signos, que representam os indivíduos, que<br />

por sinal, são cérebros pensantes em uma constante mutação e que, no espaço do<br />

saber, estão constantemente em contato com os outros. Devido ao fato, segundo<br />

Lévy, a imagem do signo torna-se um instrumento fortíssimo de conhecimento, vindo<br />

a ser mais poderoso que o texto. O mundo, no quarto espaço, só existe para o<br />

homem, nas representações significativas, chamadas por Lévy de “brasão”. 27<br />

CIBERVIDA: EDUCAR EM UM NOVO PLANO DE REALIDADE<br />

Reconhecendo a construção do ciberespaço e sua movimentação, pode-se<br />

dizer, sem nenhum receio, que a humanidade caminha para uma cibervida. A vida<br />

do ciberespaço, como já vimos, cria uma linguagem, uma semiótica, um universo<br />

próprio, diferente e muito além da ‘galáxia de comunicação’, de McLuhan. Como<br />

afirma Postman (CASTELLS, 2008, p. 414), “nós não vemos a realidade como ela é,<br />

mas como são nossas linguagens. E nossas linguagens são nossos meios de<br />

comunicação. Nossos meios de comunicação são nossas metáforas. Nossas<br />

metáforas criam o conteúdo de nossa cultura”. Isso não é diferente do que já dizia<br />

Heidegger na Carta sobre o humanismo que aborda a linguagem como sendo a<br />

morada do ser, a qual possibilitou Wittgenstein fundamentar nas Investigações<br />

filosóficas a linguagem como o mundo da vida, local onde se nomeia e se define a<br />

partir do comum acordo que se cria dentro do contexto social.<br />

O sociólogo Manuel Castells (2008, p. 414), reconhece que “esse novo<br />

sistema eletrônico de comunicação caracterizado pelo seu alcance global,<br />

integração de todos os meios de comunicação e interatividade potencial, está<br />

mudando e mudará para sempre nossa cultura”. Isto não é novidade para Wellman<br />

(CASTELLS, 2008, p. 445) que vê essa realidade como uma possibilidade “para a<br />

expansão dos vínculos sociais numa sociedade que parece estar passando por uma<br />

rápida individualização e uma ruptura cívica.”<br />

27 No pensamento de Pierre Lévy, Brasão significa toda representação simbólica de conhecimentos<br />

dos indivíduos coletivos em seu savoir-vivre e savoir-faire <strong>–</strong> saber fazer <strong>–</strong> Cf. AUTHIER, Michel e<br />

LÉVY, Pierre, 1995, p. 30.<br />

14


Para Lévy (2000, p. 131), esse projeto de interconexão planetária vem de<br />

longa data, foi programado nos anos 1960:<br />

Engelbart (o inventor do mouse e das janelas das interfaces<br />

atuais), Licklider (pioneiro das conferências eletrônicas), Nelson<br />

(inventor da palavra e do conceito de hipertexto). O ideal da<br />

inteligência coletiva é também defendido por alguns gurus<br />

atuais da cibercultura como Tim Berners Lee (inventor da World<br />

Wide Web), John Perry Barlow (ex-letrista do grupo musical<br />

Grateful Dead, um dos fundadores e porta-vozes da Eletronic<br />

Frontier Foundation) ou Marc Pesce (coordenador da norma<br />

VRML). A inteligência coletiva é desenvolvida por<br />

comentaristas ou filósofos da cibercultura tais como Kevin<br />

Kelly, Joel de Rosnay ou mesmo eu.<br />

No entanto, para Castells (2008, p. 443) “ainda não está bem claro, porém, o<br />

grau de sociabilidade que ocorre nessas redes eletrônicas, e quais são as<br />

conseqüências culturais dessa forma de sociabilidade, apesar do empenho de um<br />

grupo cada vez maior de pesquisadores.” Lévy (2000, p. 160) comunga dessa visão<br />

em dizer que não se sabe ao certo onde vai dar esse veloz movimento, pois, “a esse<br />

respeito, Roy Ascott fala, de forma metafórica, em um segundo dilúvio. O dilúvio de<br />

informações. Para melhor ou pior, esse dilúvio não será seguido por nenhuma<br />

vazante. Devemos, portanto, nos acostumar com essa profusão e desordem.”<br />

Para Lévy esse é o movimento do espaço do saber, é a dinâmica do<br />

ciberespaço, é a realidade da cibercultura e, conseqüentemente, da cibervida, é a<br />

realidade do caos: “nem a salvação nem a perdição residem na técnica. Sempre<br />

ambivalentes, as técnicas projetam no mundo material nossas emoções, intenções e<br />

projetos. Os instrumentos que construímos não nos dão poderes mas, coletivamente<br />

responsáveis, a escolha está em nossas mãos” (LÉVY, 2008, p. 16-17). A<br />

originalidade de Pierre Lévy é que ele pensa a partir desta perspectiva, todo o seu<br />

pensamento considera essa realidade caótica e parte daí seu fundamento ao<br />

otimismo.<br />

Diante do caos, Lévy (2000, p. 14-15) se pergunta: “Onde está Noé? O que<br />

colocar na arca? No meio do caos, Noé construiu um pequeno mundo bem<br />

15


organizado […] O segundo dilúvio não terá fim […] Devemos aceitá-lo como nova<br />

condição. Temos que ensinar nossos filhos a nadar, a flutuar, talvez a navegar.”<br />

Porém, nem todos os cientistas pensam como Pierre Lévy. Basta considerar<br />

os críticos sociais, como Mark Slouka (SLOUKA in CASTELLS, 2008, p. 443), que<br />

defende a idéia de que os computadores trouxeram a “desumanização das relações<br />

sociais”, pois “a vida on-line parece ser a maneira mais fácil de fugir da vida”. E a<br />

socióloga francesa Dominique Wolton, que defende em suas pesquisas que “a<br />

Internet aumenta as chances de solidão, sensação de alienação ou mesmo de<br />

depressão” (WOLTON in CASTELLS, 2008, p. 443).<br />

Castells (2008, p. 433) em suas pesquisas sobre o uso da Internet no mundo<br />

(1998-2000), constatou que havia muitas desigualdades, como por exemplo,<br />

somente 2,4% da população mundial tem a acesso a Internet, e desses, 88% dos<br />

usuários são representados pelos países industrializados. Nos EUA quem tem renda<br />

de U$$ 75.000 ou mais, tinha 20 vezes mais chances de ter acesso à Internet que<br />

os de rendas mais baixas. 61% dos acessados têm diploma universitário, ao passo<br />

que os que têm educação fundamental marcam 6.6%. Os homens, numa diferença<br />

de 3% acessam mais que as mulheres. O acesso dos negros é de 6% a menos que<br />

os brancos. E a concentração dos conectados está nas capitais e grandes centros<br />

urbanos. Porém, no fim da sua pesquisa Castells (2008, p. 439) reconhece que as<br />

diferenças estão diminuindo cada vez mais e o número de acessos aumenta<br />

assustadoramente, e confirma que “a Internet tem tido o índice de penetração mais<br />

veloz que qualquer outro meio de comunicação na história: Nos EUA o rádio levou<br />

trinta anos para chegar a sessenta milhões de pessoas; a TV alcançou esse nível<br />

em 15 anos; a Internet o fez em apenas três anos.”<br />

Para Lévy o fenômeno da Internet não se iguala ao rádio, nem à TV, mas ao<br />

fenômeno da escrita. Ela é “a nova escrita”. É nesta perspectiva que Lévy<br />

fundamenta seu pensamento, seus argumentos e suas respostas a inúmeras<br />

interrogações. Para Lévy o ciberespaço é essa nova forma de escrita, a qual se<br />

apresentaria por meio de ícones e seria interativa na rede. Da mesma maneira que a<br />

escrita criou um seu espaço antropológico na história, eis que agora, no<br />

ciberespaço, surge a cibervida.<br />

A vida no ciberespaço vem complementar a vida humana e não substitui-la.<br />

Sejamos bem <strong>–</strong> vindos à cibervida!<br />

16


CIBER<strong>SP</strong>ACE: EDUCATION IN A NEW PLAN O REALITY<br />

ABSTRACT<br />

A inpacto of new forms of production, circulation and consumation of information<br />

have a greate impact to configurate style of life and ideias? Education, identity,<br />

culture, and construction of human being in these espaces are afected by a question<br />

that increasing from confrontation of human and internet. The sugestion of this<br />

article is to exam critically a response of Pierre Levy, one of the principals intectuals<br />

responsable for this complex questionary, i will try to confronte in many pages his<br />

posision and other chritical theories, defining a virtual space of production as a new<br />

plane of reality that will be discuss as a principe of paramenters to a new fenomeno<br />

of new movement of society and educative.<br />

Keywords: Ciberspace, Ciberculture, Education<br />

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS<br />

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Negri; Pierre Lévy; Francisco Varela. São Paulo: Editora Escuta, 1993.<br />

PELLANDA, N. M. C., PELLANDA, E. C. (Org). Ciberespaço: um hipertexto com<br />

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LÉVY, Pierre. A inteligência coletiva: por uma antropologia do ciberespaço. 2. ed.<br />

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18


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http://www.urisan.tche.br/~dfrancis/levy.htm, acessado em: 21 de outubro de 2006<br />

às 09h.37min.<br />

19


AUTOR:<br />

Ideylson da Silva Vieira dos Anjos <strong>–</strong> Graduado em Filosofia (UCDB); Graduando em<br />

Teologia (UNISAL-<strong>SP</strong>); Pós Graduando em Educação Sexual (UNISAL-<strong>SP</strong>).<br />

Ideylson@gmail.com <strong>–</strong> fone: (11) 7371-1375<br />

ORIENTADOR:<br />

Profº Dr. Josemar de campos Maciel <strong>–</strong> Doutor em Psicologia pela Pontifícia<br />

Universidade Católica de Campinas; Mestre em Teologia Sistemática pela Pontifícia<br />

Universidade Gregoriana de Roma.<br />

maciel50334@yahoo.com.br <strong>–</strong> fone (67) 9918-6259<br />

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