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O escafandro e a borboleta: um olharsob o enfoque daACP__<br />

capacidade de se comunicar. Isso vem a ser<br />

confirmado nas atitudes de Sandrine e<br />

Claude, que não eram psicoterapeutas, mas<br />

que estabeleceram com Bauby uma relação<br />

terapêutica, favorecendo o desenvolvimento<br />

de suas potencialidades em direção à<br />

maturidade, autonomia e responsabilidade<br />

enquanto pessoa.<br />

Por outro lado, havia no hospital<br />

profissionais que não consideravam em Bauby<br />

"a pessoa", vendo-o como um simples corpo,<br />

tornando o seu isolamento mais real e,<br />

portanto, mais doloroso. Isso pode ser<br />

identificado quando Bauby relata, por<br />

exemplo, a atitude do médico que lhe<br />

costurou o olho direito sem lhe explicar o<br />

porquê, assim como o padioleiro que com<br />

ironia lhe desejava bom apetite, mesmo<br />

sabendo que ele se alimentava por meio de<br />

uma sonda, além das horas a fio que ele<br />

passava sozinho aos domingos, sem que<br />

nenhum profissional fosse ao menos lhe dar<br />

um banho ou mudar o canal da televisão. Foi<br />

possível perceber em suas palavras como isso<br />

lhe afetava negativamente, prejudicando o<br />

seu processo de crescimento interior, por não<br />

estar recebendo, nesses momentos, as<br />

condições favoráveis ao seu desenvolvimento.<br />

Contudo, compreende-se os<br />

comportamentos apresentados por esses<br />

profissionais ao se relacionarem com Bauby,<br />

pois a partir de um contato mais próximo com<br />

a teoria da ACP, tomou-se conhecimento de<br />

que não é fácil para as pessoas oferecerem as<br />

três atitudes propostas por Rogers, no sentido<br />

de que em seus próprios processos de<br />

formação como pessoas, na maioria das<br />

vezes, tais atitudes não lhes foram oferecidas.<br />

Este sim, talvez seja o maior desafio, pois<br />

exige primeiramente uma mudança de visão a<br />

respeito de si mesmas enquanto pessoas,<br />

para depois verem o outro da mesma forma.<br />

Observou-se, assim, que também podem<br />

ocorrer limitações com a referida abordagem,<br />

contudo, são riscos que podem acontecer em<br />

qualquer tipo de relação ou orientação<br />

teórica.<br />

Analisando detalhadamente O<br />

Escafandro e a Borboleta, confirmou-se que<br />

se os princípios da ACP estiverem presentes,<br />

qualquer pessoa envolvida no processo de<br />

hospitalização do paciente pode<br />

proporcionar-lhe um ambiente terapêutico,<br />

amenizando o sofrimento provocado por tais<br />

limitações, possibilitando até mesmo um<br />

crescimento enquanto pessoa.<br />

Pretendia-se também pesquisar os<br />

recursos que são utilizados aqui no Brasil,<br />

junto a pacientes com limitações para se<br />

comunicar. Contudo, não foi possível<br />

abranger tais elementos devido ao tempo<br />

exíguo, ficando assim a sugestão para que<br />

estudos posteriores possam dar continuidade<br />

às investigações que aqui foram<br />

desenvolvidas.<br />

Enfim, a realização do presente estudo<br />

almeja contribuir, de alguma forma, com<br />

aqueles que venham a se relacionar com<br />

pessoas que apresentem limitações para se<br />

comunicar semelhantes às de Bauby, além de<br />

tornar evidente a proporção dos avanços que<br />

podem ser alcançados ao longo dessa relação,<br />

como foi para ele escrever sua história, O<br />

Escafandro e a Borboleta, devido à presença<br />

das condições propostas pela ACP.<br />

Referências<br />

Bauby, Jean-Dominique. (2008). O escafandro<br />

e a borboleta. 2. ed. São Paulo: Martins<br />

Fontes.<br />

Brassens, Jérôme Parisse. Falar com os olhos:<br />

a síndrome do encarceramento (LIS): viver<br />

com uma doença rara. 2009. Disponível<br />

em:<br />

Acesso em: 01 abr.<br />

2010.<br />

Rogers, Carl R. (1992). The Necessary and<br />

Sufficient Conditions of Therapeutic<br />

Personality Change. Journal of Consulting and<br />

Clinical Psychology, 60(6), 827-832.<br />

Rogers, Carl R. (2009). Tornar-se pessoa.<br />

(M.J.C. Ferreira e A. Lamparelli, Trad). São<br />

Paulo: Martins Fontes. (Original publicado em<br />

Rev. NUFEN [online]. v.4, n.1, janeiro-junho, 115-126, 2012. 125

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