EDITORIAL
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Entretecendo diálogo entre homossexualidade e velhice_<br />
grandes metrópoles brasileiras a presença de<br />
homossexuais masculinos em idade madura<br />
nos espaços de sociabilidade gay ou<br />
homoerótica é bastante comum e visível. 10<br />
Simões (2011) diz que estes homens mais<br />
velhos com práticas homossexuais<br />
corporificam "(...) um tipo de personagem que<br />
remetem aos "entendidos" dos anos 1970" (p.<br />
09) e que, portanto, são homens que, no<br />
geral, valorizavam a aparência masculina e<br />
procuram desvincular "(...) suas vivências de<br />
homossexualidade das convenções de<br />
afetação, afeminação e papel exclusivamente<br />
"passivo" no ato sexual." (idem)<br />
Os "coroas", "tiozinhos" ou "tiozões"<br />
como são usualmente chamados encarnam<br />
"(...) uma série de disposições associadas a<br />
representações modernas de envelhecimento<br />
ativo." (SIMÕES. 2011:09) É claro que este<br />
segmento é apenas um estrato de um<br />
conjunto muito maior. Em sua pesquisa<br />
Simões (2011) entrevistou, profundamente,<br />
"(...) homens homossexuais de camadas<br />
médias em São Paulo, na maioria brancos,<br />
com idades variando entre 59 e 70 anos"<br />
(idem), o que demostra que, no cruzamento<br />
das categorias envelhecimento e<br />
homossexualidade, marcadores como<br />
"gênero", "idade", "raça/etnia" e "classe<br />
social" apresentam-se indispensáveis. (MOTA.<br />
2009:32) Ademais, como já mencionei<br />
anteriormente, não se deve perder de vista<br />
que a tessitura das representações do<br />
masculino/feminino estruturam-se a partir de<br />
uma lógica heterossexista que deve ser<br />
homens gays em São Paulo" In: A Terceira Idade -<br />
Estudos sobre Envelhecimento - Revista Eletrônica -<br />
Serviço Social do Comércio (SESC). São Paulo: Edubase<br />
(Faculdade de Educação/UNICAMP), Edição n. 50, v. 22,<br />
Jul. 2011, pp. 07-19.<br />
10 De acordo com Simões (2011): "[n]a cidade de São<br />
Paulo, um ponto especial de concentração de homens<br />
mais velhos está no Centro, na avenida Vieira de<br />
Carvalho, no quarteirão entre a Praça da República e a<br />
Rua Aurora, especialmente na calçada do lado<br />
esquerdo de quem segue na direção ao Largo do<br />
Arouche. Os mais velhos também estão em algumas<br />
boates da região, notadamente "ABC Bailão", que já<br />
teve os antigos apelidos de "desmanche", "festa baile"<br />
e "INPS"." (p. 08)<br />
contraposta à noção de sexualidade presente<br />
em Foucault, objetivando-se, destarte,<br />
compreender as experiências subjetivas do<br />
envelhecimento por homens maduros em<br />
idade avançada com práticas homoeróticas.<br />
O estudo de Simões (2011) demonstra<br />
que a visão que os "coroas" tem do<br />
envelhecimento é diametralmente oposta<br />
àquela imagem do homossexual velho,<br />
solitário, isolado, deprimido, emocionalmente<br />
perturbado, desde a meia-idade crescente até<br />
seu ocado. Nesta perspectiva, os<br />
entrevistados encarnam uma "(...) velhice<br />
não-vitimizada, sexualizada, orgulhosa, com<br />
disposição para a vida pública noturna e,<br />
ainda por cima, associada à<br />
homossexualidade" (p. 09), podendo-se dizer<br />
que são muito mais envelhecentes do que<br />
propriamente velhos. Essa imagem do<br />
envelhecimento é, para o autor, positivada,<br />
uma vez que tenta destacar os<br />
enriquecimentos e vantagens provenientes da<br />
maturidade, reinventando e reconstruindo o<br />
corpo (sexualidade) e a própria velhice. A<br />
reconfiguração das experiências da velhice na<br />
contemporaneidade é atravessada pela:<br />
"(...) capacidade de conservar o controle<br />
sobre movimentos e funções corporais,<br />
sobre as emoções e as faculdades<br />
cognitivas - atributos básicos que<br />
permitem que uma pessoa seja<br />
reconhecida, valorizada, levada em conta<br />
em qualquer relação social." (SIMÕES.<br />
2011:10)<br />
Simões (2011) afirma que o encontro da<br />
gerontologia com a sexologia vem<br />
possibilitando a desconstrução do "mito da<br />
velhice assexuada", entendida como um<br />
constructo sócio-cultural, porquanto "(...) o<br />
declínio da atividade sexual, relacionado à<br />
idade, tende a ser cada vez menos tolerado,<br />
sendo visto como uma alteração do bem-estar<br />
corporal passível de tratamento médico" (p.<br />
10), permitindo, assim, o "manejo do<br />
envelhecimento". Nos depoimentos<br />
apresentados pelo autor, é possível salientar<br />
tanto um reposicionamento da imagem que<br />
incide sobre a velhice, quanto uma recusa em<br />
Rev. NUFEN [online]. v.4, n.1, janeiro-junho, 34-43, 2012. 39