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saberes disciplinares e experiencias articulados em aulas de biologia

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UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DE PERNAMBUCO-UFRPE<br />

PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO-PRPPG<br />

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENSINO DE CIÊNCIAS<br />

DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO<br />

Maria da Conceição Moreno <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong><br />

SABERES DISCIPLINARES E EXPERIENCIAS ARTICULADOS EM<br />

AULAS DE BIOLOGIA<br />

RECIFE<br />

2007


Maria da Conceição Moreno <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong><br />

SABERES DISCIPLINARES E EXPERIENCIAS ARTICULADOS EM<br />

AULAS DE BIOLOGIA<br />

Dissertação apresentada ao Programa <strong>de</strong> Pós-Graduação <strong>em</strong><br />

Ensino das Ciências-PPGEC, da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral Rural<br />

<strong>de</strong> Pernambuco como parte dos requisitos para a obtenção do<br />

título <strong>de</strong> Mestre <strong>em</strong> Ensino das Ciências.<br />

Orientadora: Profa. Dra. Rosane Maria Alencar da Silva<br />

RECIFE<br />

2007


UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DE PERNAMBUCO-UFRPE<br />

PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO-PRPPG<br />

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENSINO DE CIÊNCIAS<br />

DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO<br />

Maria da Conceição Moreno <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong><br />

SABERES DISCIPLINARES E EXPERIENCIAS ARTICULADOS EM<br />

AULAS DE BIOLOGIA<br />

Dissertação <strong>de</strong>fendida e aprovada pela Banca Examinadora composta pelas professoras:<br />

_________________________________________________________________<br />

Profa. Dra. Rosane Maria Alencar da Silva<br />

Orientadora – UFRPE<br />

Profa. Dra. Alice Happ Botler<br />

1ªExaminadora Externa -UFPE<br />

_______________________________________________________________<br />

Profa Dra.E<strong>de</strong>nia Maria Ribeiro do Amaral<br />

2ª Examinadora Interna- UFRPE<br />

Profa Dra Suely Alves da Silva,<br />

3ª Examinadora Interna- UFRPE<br />

Dissertação aprovada no dia ____ <strong>de</strong> _____<strong>de</strong> 2007 no Departamento <strong>de</strong> Educação da<br />

Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral Rural <strong>de</strong> Pernambuco (UFRPE)


LISTA DE FIGURAS<br />

Figura 1 – Esqu<strong>em</strong>a da Formação do NADPH........................................................................47<br />

Figura 2 – Esqu<strong>em</strong>a <strong>de</strong> Redução do Fotossist<strong>em</strong>a I ................................................................48<br />

Figura 3 – Esqu<strong>em</strong>a da Oxidação da água (H2O).....................................................................48<br />

Figura 4 – Esqu<strong>em</strong>a da Etapa Fotoquímica da Fotossíntese ...................................................49<br />

Figura 5 – Estrutura do Cloroplasto .........................................................................................50<br />

Figura 6 – Esqu<strong>em</strong>a da Fotofosforilação Acíclica ....................................................................51<br />

Figura 7 – Síntese do ATP ........................................................................................................52<br />

Figura 8 – Comprimento <strong>de</strong> Onda <strong>em</strong> Nanômetros .................................................................53


Dedico<br />

Ao meu pai (in m<strong>em</strong>orian) e a minha mãe por me amar<strong>em</strong> e me educar<strong>em</strong> com<br />

simplicida<strong>de</strong> e com <strong>de</strong>cência.<br />

Aos revolucionários conhecidos e anônimos por esbravejar<strong>em</strong> contra toda<br />

forma <strong>de</strong> injustiça, zelando pela boniteza do mundo.


AGRADECIMENTOS<br />

A Jeová Deus, que pela fé sinto sua Existência e Po<strong>de</strong>r me tornando capaz <strong>de</strong> terminar o curso.<br />

A meu filho Humberto razão da minha existência, por me dar força <strong>em</strong> todas as horas e<br />

monitorar meu estudo.<br />

A meu companheiro Miguel por me proporcionar momentos <strong>de</strong> paz e alegria me fortalecendo<br />

com sua companhia e compreensão.<br />

A minha mãe por ser meu amparo e me fazer olhar s<strong>em</strong>pre pra frente.<br />

As minhas irmãs, Nira, Mércia, Jane e Cida por me ajudar<strong>em</strong> na busca do sonho, estando<br />

s<strong>em</strong>pre presente.<br />

Ao meu cunhado Everaldo por disponibilizar atenção e recursos financeiros.<br />

Aos meus sobrinhos Braynner e Ryta por me dar<strong>em</strong> alegria e compreen<strong>de</strong>r<strong>em</strong> minhas<br />

ausências, e a Maria Júlia por ter chegado durante o curso aumentando ainda mais minha<br />

alegria.<br />

A madrinha Ceça e madrinha Cilene por ter<strong>em</strong> me acolhido <strong>em</strong> sua casa no primeiro<br />

momento do curso.<br />

A minha prima Carla por assumir a minha casa possibilitando minha <strong>de</strong>dicação na construção<br />

do trabalho.<br />

As secretarias <strong>de</strong> Educação <strong>de</strong> Vicência e Recife, pelo incentivo.<br />

Aos professores do Mestrado <strong>de</strong> Educação da UFRPE pela competência nos encaminhando<br />

ao saber e pela forma respeitosa e humana como nos trataram durante o curso.


Aos colegas <strong>de</strong> turma pelo companheirismo solidário que nos uniu.<br />

Aos professores e escola pesquisada pela participação e disponibilida<strong>de</strong>.<br />

A todos os amigos que torceram pela minha vitória.<br />

Ao professor Gerson, pela <strong>de</strong>terminação e ajuda para o ingresso no curso.<br />

As professoras Zélia Jófili e Lilia Willadino pelas contribuições dadas no início do trabalho.<br />

A professora Rosane Alencar, agra<strong>de</strong>ço, agra<strong>de</strong>ço, agra<strong>de</strong>ço por acreditar <strong>em</strong> mim quando<br />

<strong>de</strong>veria <strong>de</strong>sacreditar, me resgatando. E pela orientação competente, <strong>de</strong>dicada e comprometida<br />

que me <strong>de</strong>dicou.


RESUMO<br />

Este estudo teve por objetivo geral analisar como se expressam os <strong>saberes</strong> docentes aplicados<br />

e <strong>articulados</strong> por professores <strong>de</strong> <strong>biologia</strong> no ensino médio na abordag<strong>em</strong> dos conteúdos<br />

relacionados ao ensino da fotossíntese, consi<strong>de</strong>rando os seus diferentes t<strong>em</strong>pos <strong>de</strong> atuação no<br />

magistério. Por objetivos específicos tiv<strong>em</strong>os (a) analisar como os <strong>saberes</strong> docentes<br />

<strong>disciplinares</strong> e experienciais interfer<strong>em</strong> na abordag<strong>em</strong> dos conteúdos relacionados ao ensino<br />

da fotossíntese no ensino médio e (b) i<strong>de</strong>ntificar os <strong>saberes</strong> docentes <strong>articulados</strong> pelo professor<br />

experiente e pelo professor noviço na apresentação dos conteúdos relacionados ao ensino da<br />

fotossíntese. O quadro teórico se insere nas perspectivas teóricas relativas aos <strong>saberes</strong><br />

docentes. A metodologia utilizada se insere na perspectiva dos estudos qualitativos <strong>em</strong><br />

educação. Participaram da pesquisa 02 professores <strong>de</strong> Biologia, selecionados <strong>de</strong> forma<br />

aleatória. Utilizamos por instrumentos a vi<strong>de</strong>ografia e observação não participante <strong>de</strong> <strong>aulas</strong> <strong>de</strong><br />

Biologia. Os resultados suger<strong>em</strong> que no caso dos professores analisados, o P1 e o P2, os dois<br />

apresentam a formação <strong>em</strong> <strong>biologia</strong> e seus <strong>saberes</strong> <strong>disciplinares</strong> estão presentes, entretanto, se<br />

expressaram <strong>de</strong> forma diferentes diante dos respectivos contextos. Inferimos também que os<br />

<strong>saberes</strong> experienciais do P1 contribuíram para uma melhor expressivida<strong>de</strong> dos <strong>saberes</strong><br />

<strong>disciplinares</strong>, tendo também influenciado nas dificulda<strong>de</strong>s da P2 quanto à expressão <strong>de</strong> seus<br />

<strong>saberes</strong>.<br />

Palavras-chave: Saberes Docentes, sala <strong>de</strong> aula, conceito <strong>de</strong> fotossíntese.


ABSTRACT<br />

The general objective of the present study was to analyze teaching know-how administered and<br />

articulated by high school biology teachers when addressing content related to photosynthesis,<br />

taking into consi<strong>de</strong>ration the number of years of teaching experience. The following were the<br />

specific objectives: (a) analyze how teaching skills and experience affect the teaching of<br />

photosynthesis in a high school setting; and (b) i<strong>de</strong>ntify the knowledge articulated by an<br />

experienced and a novice educator in the presentation of content related to photosynthesis. The<br />

theoretical basis is supported by theoretical perspectives related to teaching know-how.<br />

Qualitative studies on education formed the basis for the methodology <strong>em</strong>ployed. Two<br />

randomly selected biology teachers participated in the study. Vi<strong>de</strong>ography and nonparticipating<br />

observation were <strong>em</strong>ployed in the biology classroom. The results suggest that, in<br />

the case of the teachers analyzed (T1 and T2), both had a background in biology and knowhow<br />

in the field, but expressed th<strong>em</strong>selves differently with regard to the respective contexts.<br />

We may infer that the know-how and experience of T1 contributed toward greater expressivity<br />

with regard to the subject, whereas the lack of experience influenced the difficulties P2<br />

exhibited with regard to the expression of knowledge.<br />

Key words: teaching know-how, classroom, concept of photosynthesis.


LISTA DE QUADROS<br />

Quadro 1 – Os Saberes dos Professores..................................................................................25<br />

Quadro 2 – Perfil dos Professores...........................................................................................66<br />

Quadro 3 – Registro escrito do P2...........................................................................................94<br />

Quadro 4 – Recorte <strong>de</strong> diálogo do P2......................................................................................97


SUMÁRIO<br />

DEDICATÓRIA.......................................................................................................<br />

AGRADECIMENTO............................................................................................. ii<br />

RESUMO................................................................................................................. iii<br />

ABSTRACT............................................................................................................. iv<br />

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS............................................................ v<br />

LISTA DE QUADROS...........................................................................................<br />

INTRODUCAO ................................................................................................. 12<br />

1 MULTIPLICIDADE DOS SABERES DOCENTES: COMPLEXIDADE<br />

NO ATO DE ENSINAR........................................................................................<br />

1.1 Ensino................................................................................................................ 22<br />

1.2 Necessida<strong>de</strong> da formação específica para a prática: a dimensão do saber<br />

prático................................................................................................................... .<br />

1.3 Saberes experienciais e conceituais dos professores..................................... 26<br />

1.3.1 Saberes da experiência.................................................................................. 30<br />

1.3.2 Saberes <strong>disciplinares</strong> ................................................................................ 32<br />

2 CONCEITO DE FOTOSSÍNTESE ..................................................................... 34<br />

2.1 A evolução epist<strong>em</strong>ológica do conceito <strong>de</strong> fotossíntese ................................ 34<br />

2.2 Implicações do Conceito <strong>de</strong> Fotossíntese para o ensino ............................... 45<br />

3 METODOLOGIA............................................................................................... 49<br />

3.1 Campo Empírico e Sujeitos Participantes .................................................... 51<br />

3.2 Procedimentos e instrumentos <strong>de</strong> Pesquisa .................................................. 53<br />

4 ANÁLISE DOS DADOS ................................................................................<br />

4.1 O fazer pedagógico do Professor 1 (P1) ......................................................... 56<br />

4.2 O fazer pedagógico do Professor 2 (P2) ......................................................... 75<br />

5 DISCUSSÕES E CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................... 90<br />

REFERÊNCIAS....................................................................................................... 98<br />

i<br />

vi<br />

18<br />

25<br />

55


INTRODUÇÃO<br />

A escola é o lugar privilegiado da ação pedagógica e a sala <strong>de</strong> aula o espaço reservado<br />

ao <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> uma pratica social que t<strong>em</strong> por finalida<strong>de</strong> a construção <strong>de</strong><br />

conhecimentos a partir do encontro <strong>de</strong> professores e alunos. Os professores, agentes<br />

dominantes <strong>de</strong>ste espaço, atuam neste contexto com os conhecimentos repassados a eles<br />

durante seus estudos secundários no magistério, na universida<strong>de</strong> e na sua formação contínua ou<br />

formação <strong>em</strong> exercício. Os conceitos por eles aprendidos sofr<strong>em</strong> modificações na sua<br />

formulação científica até se tornar<strong>em</strong> um saber atual e um saber a ensinar. Essas mudanças ou<br />

criações didáticas, estão atreladas a diversas coisas como: o meio social e profissional, a<br />

concepção do professor, a sua prática e a própria complexida<strong>de</strong> do conceito. Quanto a essas<br />

mudanças e distorções, Pais (2002, p. 20) coloca que:<br />

A princípio, tais criações t<strong>em</strong> uma finalida<strong>de</strong> <strong>em</strong>inent<strong>em</strong>ente didática, entretanto, o<br />

probl<strong>em</strong>a surge quando sua utilização acontece <strong>de</strong> forma <strong>de</strong>svinculada <strong>de</strong> sua<br />

finalida<strong>de</strong> principal. Para estar atento a essas distorções, se faz necessário cultivar<br />

um permanente espírito <strong>de</strong> vigilância que <strong>de</strong>ve prevalecer ao longo <strong>de</strong> toda a análise<br />

da transposição didática, pois é o conjunto das criações didáticas que evi<strong>de</strong>ncia a<br />

diferença entre o saber científico e o saber ensinado.<br />

Os conceitos aprendidos pelos professores submet<strong>em</strong>-se a um novo tratamento, ou seja,<br />

são transformados <strong>em</strong> conhecimento escolar, para que possam ser ensinados na sala <strong>de</strong> aula,<br />

pois, estes conceitos aprendidos com o rigor científico se constitu<strong>em</strong> com muitos el<strong>em</strong>entos<br />

inter<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes, e, portanto, n<strong>em</strong> s<strong>em</strong>pre compreendidos pelos atores <strong>de</strong> um nível mais<br />

el<strong>em</strong>entar <strong>de</strong> ensino, já que se caracterizam pela rígida linguag<strong>em</strong> científica, como cita<br />

Carvalho et. al. (2004, p. 60): “A linguag<strong>em</strong> científica sofre transformações para a<strong>de</strong>quar-se ao<br />

mo<strong>de</strong>lo da sala <strong>de</strong> aula e, nesse processo algumas características da cultura científica são<br />

mantidas e outras não”, visto que a escola está assentada num lugar <strong>de</strong> cultura própria, além da<br />

interveniente cultura do professor.<br />

Compreend<strong>em</strong>os que no contexto da sala <strong>de</strong> aula seja necessário que o professor, além<br />

do conceito científico a ser ensinado, ele necessita <strong>de</strong> <strong>saberes</strong> oriundos <strong>de</strong> múltiplas fontes<br />

como a cultura escolar, a própria experiência profissional, os conhecimentos oriundos das<br />

disciplinas pedagógicas estudadas.<br />

Além <strong>de</strong> uma formação acadêmica <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> relacionada ao conhecimento<br />

específico, o professor <strong>de</strong>ve ter um conhecimento imprescindível, o seu saber pedagógico que<br />

se revela na sua prática. Esse saber é <strong>de</strong> utilida<strong>de</strong> constante na sala <strong>de</strong> aula, para que a


aprendizag<strong>em</strong> se constitua, pois esses direcionamentos oportunizam a busca, a curiosida<strong>de</strong> e o<br />

diálogo instrutivo, como afirma Garcia (1979): “A prática pedagógica, por abrigar todas as<br />

contradições e dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> uma situação real, reflete no seu curso cotidiano, as realida<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong> um processo vivo, dinâmico e <strong>em</strong> permanente busca.” (p. 128).<br />

O cotidiano escolar dos professores é constituído <strong>de</strong> inquietações que direcionam as<br />

práticas futuras, <strong>em</strong> que o professor é um sujeito pensador <strong>de</strong>sta situação real diária,<br />

planejando <strong>em</strong> busca <strong>de</strong> resultados positivos. As inquietações tend<strong>em</strong> a respon<strong>de</strong>r uma<br />

realida<strong>de</strong> multifacetada contendo histórias <strong>de</strong> vida, localizadas num <strong>de</strong>terminado contexto.<br />

Para lidar com essa realida<strong>de</strong>, os professores colocam <strong>em</strong> prática suas habilida<strong>de</strong>s, planejando<br />

e organizando <strong>de</strong> forma peculiar o contexto da aula pautado <strong>em</strong> objetivos, incentivando a<br />

participação do aluno, verificando o conteúdo a ser ensinado, diversificando os estímulos e o<br />

uso da linguag<strong>em</strong>, (CUNHA, 2002).<br />

Nesse espaço <strong>de</strong> ensino os professores revelam seus <strong>de</strong>sejos, suas intenções e suas<br />

expectativas para que aconteça a socialização e a compreensão do conhecimento que está<br />

sendo abordado. Sendo assim conceb<strong>em</strong>os que o professor realiza o seu fazer pedagógico<br />

coerente com a sua formação, sua leitura <strong>de</strong> mundo, sua realida<strong>de</strong> social e profissional,<br />

<strong>de</strong>finindo assim sua abordag<strong>em</strong> metodológica. Portanto, cada sala <strong>de</strong> aula está condicionada<br />

aos segredos da metodologia do professor que a rege, cuja metodologia ten<strong>de</strong> a respon<strong>de</strong>r<br />

positivamente a diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cultura presente naquele meio, ou seja, a cultura do aluno e a<br />

cultura do professor, como afirmado por Cunha:<br />

Ao <strong>de</strong>screver o que acontece no seu cotidiano pedagógico, os professores também<br />

explicitam a sua metodologia, aquilo <strong>em</strong> que acreditam, que praticam e que<br />

observam. A diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> situações dificulta a generalização, mas enriquece os<br />

relatos. ( 2002, p. 117)<br />

A diversida<strong>de</strong> da qual falamos <strong>em</strong> relação ao trabalho do professor correspon<strong>de</strong> as suas<br />

ações perante seus diferentes alunos na sala <strong>de</strong> aula, pois sab<strong>em</strong>os que essa relação é muito<br />

própria <strong>de</strong> cada professor, do seu contexto profissional, da sua formação e da sua experiência.<br />

Sab<strong>em</strong>os também que o diálogo <strong>em</strong> sala é o caminho que professores e alunos transitam para<br />

estabelecer a interação, a participação, <strong>de</strong> forma que contribua para a compreensão do<br />

conteúdo estudado. Essa ênfase na fala po<strong>de</strong> ser usada para apontar questões fundamentais <strong>em</strong><br />

relação ao t<strong>em</strong>a que está <strong>em</strong> discussão, a significados e a <strong>de</strong>scoberta dos processos que geram<br />

os fenômenos.<br />

Em todas as sucessões sist<strong>em</strong>áticas realizadas pelo professor <strong>em</strong> sala <strong>de</strong> aula, estão<br />

sendo expostas as suas habilida<strong>de</strong>s e procedimentos s<strong>em</strong>pre envolvendo a tría<strong>de</strong> professor –<br />

aluno – conteúdo numa situação real, <strong>em</strong> que pod<strong>em</strong> ocorrer novas práticas. Essas práticas


faz<strong>em</strong> aparecer os diversos <strong>saberes</strong> docentes, como os <strong>saberes</strong> <strong>disciplinares</strong> e os <strong>saberes</strong> da<br />

experiência do professor. Perceb<strong>em</strong>os esses <strong>saberes</strong> <strong>em</strong> situação <strong>de</strong> ação <strong>de</strong>finida pela sua<br />

postura <strong>em</strong> sala <strong>de</strong> aula, na maneira como se relaciona com o seu aluno, na maneira como<br />

aborda o conteúdo, revelando a metodologia usada e a qualida<strong>de</strong> do conhecimento que está<br />

sendo socializado, e também na maneira como gerencia os probl<strong>em</strong>as surgidos na ocasião, <strong>em</strong><br />

relação ao comportamento dos alunos na sala <strong>de</strong> aula.<br />

Vendo a prática docente como um objeto dinâmico, s<strong>em</strong>pre <strong>em</strong> exercício <strong>de</strong> mudança,<br />

que se concretiza, no seu acontecer cotidiano , que se refaz a partir da reflexão da sua própria<br />

prática, concordamos com Freire (2000) quando afirma que “é pensando criticamente a prática<br />

<strong>de</strong> hoje ou <strong>de</strong> ont<strong>em</strong> que se po<strong>de</strong> melhorar a próxima prática” (p. 43). Convergindo com o<br />

pensamento do autor se constata que o fazer diário do professor lhe beneficia com uma<br />

formação contínua <strong>em</strong> que ele apren<strong>de</strong> com a situação da sala <strong>de</strong> aula, com seus colegas <strong>de</strong><br />

trabalho, com os alunos e com o seu mergulho intelectual no conteúdo a ser ensinado. Esse<br />

meio amparado pelo t<strong>em</strong>po gera no professor um saber da experiência, que é <strong>de</strong> alguma forma<br />

expresso a partir <strong>de</strong> seus procedimentos <strong>em</strong> sala <strong>de</strong> aula.<br />

Essa experiência conquistada ao longo do exercício profissional po<strong>de</strong> modificar ou<br />

aprimorar esse ensino realizado pelo professor, que é um aprendiz ininterrupto e um inovador<br />

do seu fazer. No contraponto <strong>de</strong>sse contexto encontra-se o professor que está iniciando sua<br />

profissão e t<strong>em</strong> o mesmo objetivo, o mesmo cenário, e as mesmas condições que os<br />

profissionais veteranos da sua categoria. Tendo <strong>em</strong> vista estas s<strong>em</strong>elhanças entre os dois tipos<br />

<strong>de</strong> profissionais, nos incita saber quais as características existentes na metodologia do professor<br />

noviço e do professor experiente na apresentação do conceito <strong>de</strong> fotossíntese no ensino médio?<br />

Valorizamos aqui a experiência porque entend<strong>em</strong>os que ela po<strong>de</strong> mudar a ação do professor,<br />

por oportunizar uma relação direta e contínua com esse espaço.<br />

Portanto, essa relação direta com o ambiente <strong>de</strong> trabalho, com o conteúdo, o currículo, a gestão<br />

escolar, po<strong>de</strong> propiciar a reflexão, a criativida<strong>de</strong> e a segurança necessárias para que o professor<br />

aja com coerência diante da sua sala <strong>de</strong> aula, direcionando este saber para a utilização integral<br />

no seu trabalho, <strong>em</strong> função dos seus objetivos, (TARDIF, 2003).<br />

Assim, o uso <strong>de</strong> procedimentos a<strong>de</strong>quados utilizados pelo professor, <strong>em</strong> relação ao<br />

conteúdo e a seus alunos, vão se edificando durante o seu t<strong>em</strong>po <strong>de</strong> trabalho real, mo<strong>de</strong>lando o<br />

seu ensino que <strong>de</strong>ve tornar – se cada vez mais produtivo, com a exploração da experiência dos<br />

alunos, estabelecimento <strong>de</strong> diálogo, consulta a diversas fontes bibliográficas, como postula<br />

Penteado (2002, p.119): “ A construção ativa do conceito (conceitualização) por meio <strong>de</strong><br />

operações como: observação, comparação, or<strong>de</strong>nação, conclusão, relação <strong>de</strong> causa/efeito, <strong>de</strong>


implicação, <strong>de</strong> incompatibilida<strong>de</strong>, e elaboração <strong>de</strong> hipóteses. Todo este processo <strong>de</strong> construção<br />

metodológica t<strong>em</strong> como eixo norteador ou objetivo principal, a construção do conceito<br />

científico a ser trabalhado com seus alunos, <strong>em</strong> busca da compreensão verda<strong>de</strong>ira.<br />

Devido à construção <strong>de</strong> nossos estudos, compreend<strong>em</strong>os que um conceito não se<br />

constrói apenas com um mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> ação, mas se utiliza diversos procedimentos <strong>em</strong> busca<br />

<strong>de</strong>ssa compreensão. Assim, para a compreensão do conceito <strong>de</strong> fotossíntese <strong>de</strong>v<strong>em</strong>os mostrar a<br />

sua história para sabermos <strong>de</strong> que maneira esse conceito (fotossíntese) foi formado. Cujo<br />

processo não se <strong>de</strong>teve apenas ao mundo vegetal mas também incluiu os animais. A partir das<br />

suas pesquisas, Antoine Lavoisier percebeu, que esse processo não era apenas uma troca <strong>de</strong><br />

gases mas uma transformação química e, a partir das suas observações, os mistérios da<br />

fotossíntese passaram a ter um olhar racional, mas s<strong>em</strong>pre suscetível a mais <strong>de</strong>scobertas,<br />

(ALMEIDA, 2005).<br />

Como foi colocado, o conceito <strong>de</strong> fotossíntese não se realiza com uma simples troca <strong>de</strong><br />

gases mas com a formação <strong>de</strong> compostos, como carboidratos, com a liberação do oxigênio<br />

(O2), <strong>em</strong> plantas ver<strong>de</strong>s a partir <strong>de</strong> sais minerais, água e radiação luminosa. Portanto, vê-se que<br />

este processo reúne conceitos físicos, químicos e biológicos, se fazendo presente a<br />

complexida<strong>de</strong> dos movimentos reativos.<br />

Os conceitos científicos não ating<strong>em</strong> a verda<strong>de</strong> ou a maturida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma só vez, pois,<br />

passam por vários testes e <strong>de</strong>scobertas para que se chegue a uma verda<strong>de</strong> mesmo que seja<br />

provisória. O conceito <strong>de</strong> fotossíntese não fugiu à regra, os estudos realizados sobre a<br />

fotossíntese não atingiram seu nível <strong>de</strong> clarificação entre os cientistas <strong>de</strong> uma só vez, foram<br />

anos <strong>de</strong> estudos e <strong>de</strong>scobertas, buscando enten<strong>de</strong>r a sua complexida<strong>de</strong>, como ressalta<br />

Bachelard (1996, p. 19-20): “n<strong>em</strong> todos os conceitos atingiram o mesmo nível <strong>de</strong> maturida<strong>de</strong>”.<br />

Sabendo que o processo <strong>de</strong> fotossíntese não se constitui apenas <strong>de</strong> uma simples troca <strong>de</strong><br />

gases, e tendo como produto final <strong>de</strong>sse processo uma fonte <strong>de</strong> energia para os seres vivos,<br />

surge a pergunta: como os vários el<strong>em</strong>entos envolvidos no processo se transformam <strong>em</strong> fonte<br />

<strong>de</strong> calor para os seres vivos?<br />

Para a compreensão do conceito e para <strong>de</strong>finir seu comportamento na natureza, é<br />

imprescindível a contextualização do que estudamos, no caso aqui a fotossíntese, que <strong>de</strong>ve se<br />

iniciar pela observação dos el<strong>em</strong>entos envolvidos, e, <strong>de</strong> que forma se estabelece como<br />

componente importante no processo vital, buscando <strong>de</strong>ssa forma visualizar a sua significação e<br />

a sua precisão.<br />

Assim, indicando que seu ensino se justifica pela conveniência na dinâmica da vida e<br />

por sua necessida<strong>de</strong> na natureza. A contextualização ou localização do objeto <strong>de</strong> estudo vai se


construindo, reconstruindo, se explicitando, se revelando e <strong>de</strong>ssa forma vai se alçando sua<br />

compreensão e relevância, como foi posto por Penteado (2002):<br />

Dizendo <strong>de</strong> outro modo, é preciso historicizar o objeto <strong>de</strong> conhecimento que<br />

nos ocupa, <strong>de</strong> tal forma que ele possa ser apreendido enquanto fruto <strong>de</strong><br />

construção humana, possa ser captado o seu sentido e o significado <strong>de</strong> tomá-lo<br />

como objeto <strong>de</strong> conhecimento, <strong>de</strong> modo que possamos compreen<strong>de</strong>r a razão<br />

<strong>de</strong> estudá-lo (p. 118).<br />

Para que a situação <strong>de</strong> ensino <strong>em</strong> ciências biológicas seja propícia ao entendimento do<br />

conteúdo, evi<strong>de</strong>nciando seus referenciais científicos, e seus significados, os procedimentos<br />

didáticos <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser bastante variados, utilizando s<strong>em</strong>pre a observação, a experimentação, a<br />

comparação, a elaboração <strong>de</strong> hipóteses, suposições, as relações entre os fatos e a organização<br />

das informações através <strong>de</strong> gráficos, textos, tabelas, esqu<strong>em</strong>as e confrontos. (BRASIL, 1998).<br />

Todo esse contexto criado na sala <strong>de</strong> aula para o entendimento organizado do<br />

conhecimento, requer do professor: formação específica; formação pedagógica; inserção no<br />

cotidiano dos indivíduos com qu<strong>em</strong> trabalha; prática pedagógica inovadora; reflexões sobre<br />

suas próprias práticas; valorização das representações dos alunos; todas essas habilida<strong>de</strong>s<br />

faz<strong>em</strong> parte do trabalho do professor <strong>em</strong> sala <strong>de</strong> aula, pois, constitu<strong>em</strong> um ensino que se<br />

expressa pela organização, pela participação e pela sabedoria com que revela a matéria <strong>de</strong><br />

ensino, (CUNHA, 2002).<br />

Portanto, o fazer docente do professor é complexo requerendo a cada situação uma<br />

atitu<strong>de</strong> coerente e diferente para cada uma <strong>de</strong>ssas situações, tendo como maior feito conseguir<br />

o entendimento do conteúdo, que apresenta para seus alunos, mostrando-lhe a relação que t<strong>em</strong><br />

com o seu dia-a-dia. Sabendo que é através da sua prática que o professor consegue os<br />

objetivos do seu ensino e que esse fazer é também intuitivo e, portanto, diversificado,<br />

<strong>de</strong>finimos como probl<strong>em</strong>a nuclear da nossa pesquisa, a seguinte questão: Há diferença na<br />

aplicação e articulação dos <strong>saberes</strong> docentes adotados por professores noviços e experientes,<br />

<strong>em</strong> <strong>aulas</strong> <strong>de</strong> <strong>biologia</strong> do ensino médio?<br />

Assim, situamos o estudo <strong>em</strong> alguns pontos inerentes a nossa pesquisa e a uma<br />

metodologia qualificada pautados na reflexão da prática pedagógica, na formação conceitual<br />

para o <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penho da prática do professor, na influência do t<strong>em</strong>po <strong>de</strong> atuação docente, na aula<br />

<strong>de</strong> <strong>biologia</strong> no ensino médio, no conceito <strong>de</strong> fotossíntese, apresentado na aula.<br />

Sabendo da opulência da constituição do processo <strong>de</strong> fotossíntese e como já foi citada<br />

sua complexida<strong>de</strong> partimos da hipótese que há uma relação entre o t<strong>em</strong>po <strong>de</strong> atuação do<br />

professor e a forma como o conteúdo a ser ensinado é apresentado.


Portanto, acreditando que ter<strong>em</strong>os o test<strong>em</strong>unho <strong>de</strong>sses el<strong>em</strong>entos no contato com esse<br />

espaço <strong>de</strong> ensino, nosso olhar esteve voltado para os procedimentos adotados por esses<br />

professores no que se refere ao ensino dos conteúdos <strong>de</strong> <strong>biologia</strong> no Ensino Médio e para a<br />

interação exercitada na sala <strong>de</strong> aula durante a apresentação dos mesmos, consi<strong>de</strong>rando os<br />

<strong>saberes</strong> docentes <strong>articulados</strong>. Assim sendo apresentamos como objetivo geral do presente<br />

estudo: analisar como se expressam os <strong>saberes</strong> docentes aplicados e <strong>articulados</strong> por<br />

professores <strong>de</strong> <strong>biologia</strong> no ensino médio na abordag<strong>em</strong> dos conteúdos relacionados ao ensino<br />

da fotossíntese, consi<strong>de</strong>rando os seus diferentes t<strong>em</strong>pos <strong>de</strong> atuação no magistério. Para<br />

alcançar o objetivo geral, apresentamos como específicos: investigar como os <strong>saberes</strong> docentes<br />

<strong>disciplinares</strong> e experienciais interfer<strong>em</strong> na abordag<strong>em</strong> dos conteúdos relacionados ao ensino<br />

da fotossíntese no ensino médio e i<strong>de</strong>ntificar os <strong>saberes</strong> docentes <strong>articulados</strong> pelo professor<br />

experiente e pelo professor noviço na apresentação dos conteúdos relacionados ao ensino da<br />

fotossíntese.<br />

Assim, conforme o que nos propomos, a saber, o presente texto está organizado <strong>em</strong> seis<br />

seções. A primeira seção consta da introdução; a segunda seção discute a multiplicida<strong>de</strong> dos<br />

<strong>saberes</strong> docentes discutindo o ensino e a necessida<strong>de</strong> da formação específica para a prática,<br />

enfatizando a dimensão do saber prático e os <strong>saberes</strong> experienciais e conceituais dos<br />

professores; na terceira seção o conceito <strong>de</strong> fotossíntese, com a epist<strong>em</strong>ológica do conceito <strong>de</strong><br />

fotossíntese e as implicações do conceito <strong>de</strong> fotossíntese para o ensino; a quarta a <strong>de</strong>scrição da<br />

metodologia da pesquisa campo <strong>em</strong>pírico e sujeitos participantes e procedimentos e<br />

instrumentos <strong>de</strong> pesquisa; na quinta a análise discutindo o fazer pedagógico dos professores e<br />

finalmente a discussão e as consi<strong>de</strong>rações finais.


1 MULTIPLICIDADE DOS SABERES DOCENTES: COMPLEXIDADE NO ATO DE<br />

ENSINAR<br />

É inerente a toda profissão a familiarização com os <strong>saberes</strong> que sua realização<br />

necessita. Portanto, uma vez imerso na sala <strong>de</strong> aula o professor <strong>de</strong>ve se amparar <strong>de</strong> diversos<br />

conhecimentos específicos para ensinar. Sab<strong>em</strong>os que essa teia <strong>de</strong> <strong>saberes</strong> exigida no ato <strong>de</strong><br />

ensinar é b<strong>em</strong> distinta, porém, inter<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes, pois, não se ensina ciências naturais s<strong>em</strong><br />

saber do conteúdo ou s<strong>em</strong> saber como vai proce<strong>de</strong>r na sala <strong>de</strong> aula para tornar compreensível<br />

os conceitos. Para tomar parte <strong>de</strong>sse ofício e fazê-lo realida<strong>de</strong> o professor, seja <strong>em</strong> sua<br />

formação inicial ou continuada, necessita organizar os <strong>saberes</strong> já construídos durante a sua<br />

vida social e escolar e articular com os novos conhecimentos que estão sendo incorporados<br />

durante a sua formação profissional.<br />

Portanto, para ensinar o professor precisa <strong>de</strong> diferentes <strong>saberes</strong> que se combin<strong>em</strong><br />

entre si possibilitando um <strong>de</strong>sfecho coerente, organizado, significativo e claro. Assim,<br />

segundo Tardif (2003), esse repertório <strong>de</strong> <strong>saberes</strong> <strong>de</strong>ve incluir os <strong>saberes</strong> da socieda<strong>de</strong><br />

(<strong>saberes</strong> sociais), os <strong>saberes</strong> da escola ou da faculda<strong>de</strong> (<strong>saberes</strong> profissionais), os <strong>saberes</strong> que<br />

incorporam a técnica, a reflexão racional e a i<strong>de</strong>ologia educativa (<strong>saberes</strong> pedagógicos), os<br />

<strong>saberes</strong> específicos da mat<strong>em</strong>ática, da física, da <strong>biologia</strong>, absorvidos ou construídos nos<br />

cursos universitários (<strong>saberes</strong> <strong>disciplinares</strong>), os <strong>saberes</strong> que constitu<strong>em</strong> o programa e o<br />

funcionamento diário da escola, como seus objetivos, conteúdos e métodos (<strong>saberes</strong><br />

curriculares), os <strong>saberes</strong> relacionados ao saber ser, se comportar ou agir diante <strong>de</strong> um<br />

contexto, aqui a sala <strong>de</strong> aula e a escola com as diversas culturas que ali estão (<strong>saberes</strong><br />

experienciais), os <strong>saberes</strong> adquiridos pelos professores relacionados ao t<strong>em</strong>po <strong>de</strong> exercício<br />

docente, ou seja, o saber que se constrói diariamente (<strong>saberes</strong> da experiência), os <strong>saberes</strong> <strong>em</strong><br />

que estão envolvidos a adaptação ao clima da classe através planejamento (<strong>saberes</strong><br />

procedimentais), os <strong>saberes</strong> <strong>em</strong> que interag<strong>em</strong> o cognitivo e o afetivo, se constituindo <strong>de</strong> um<br />

perfil específico para um ambiente específico (<strong>saberes</strong> estratégicos).<br />

Como está colocado aqui, <strong>em</strong> relação aos <strong>saberes</strong> docentes necessários, Tardif (2003,<br />

p. 63), apresenta um quadro <strong>em</strong> que localiza os <strong>saberes</strong> dos professores, as fontes sociais <strong>de</strong><br />

aquisição e como estão integrados no trabalho.<br />

Saberes dos professores<br />

Saberes sociais<br />

Saberes<br />

Fontes sociais <strong>de</strong><br />

aquisição<br />

A família, o<br />

ambiente <strong>de</strong> vida, a<br />

Modos <strong>de</strong> integração no<br />

trabalho docente<br />

Pela história <strong>de</strong> vida e pela<br />

socialização primária.


Saberes<br />

experienciais<br />

Saberes<br />

profissionais<br />

Saberes<br />

curriculares<br />

Saberes da<br />

experiência<br />

pessoais dos<br />

professores<br />

Saberes<br />

provenientes da<br />

formação<br />

escolar<br />

Saberes<br />

provenientes da<br />

formação<br />

profissional<br />

para o<br />

magistério.<br />

Saberes<br />

provenientes<br />

dos programas e<br />

livros didáticos<br />

usados no<br />

trabalho<br />

Saberes<br />

provenientes <strong>de</strong><br />

sua própria<br />

experiência na<br />

profissão, na<br />

sala <strong>de</strong> aula na<br />

escola.<br />

Quadro 1 – Os <strong>saberes</strong> dos professores<br />

Fonte: Retirado <strong>de</strong> Tardif, 2003<br />

educação no<br />

sentido lato, etc.<br />

A escola primária e<br />

secundária, os<br />

estudos póssecundários<br />

não<br />

especializados, etc.<br />

Os<br />

estabelecimentos<br />

<strong>de</strong> formação <strong>de</strong><br />

professores, os<br />

estágios, os cursos<br />

<strong>de</strong> reciclag<strong>em</strong>, etc.<br />

A utilização das<br />

“ferramentas” dos<br />

professores,<br />

programas, livros<br />

didáticos, ca<strong>de</strong>rnos<br />

<strong>de</strong> exercícios,<br />

fichas, etc.<br />

A prática do ofício<br />

na escola e na sala<br />

<strong>de</strong> aula, a<br />

experiência dos<br />

pares, etc.<br />

Pela formação e pela<br />

socialização pré-profissionais.<br />

Pela formação e pela<br />

socialização profissionais nas<br />

instituições <strong>de</strong> formação <strong>de</strong><br />

professores.<br />

Pela utilização das<br />

“ferramentas” <strong>de</strong> trabalho, sua<br />

adaptação às tarefas<br />

Pela prática do trabalho e pela<br />

socialização profissional<br />

Como está colocado acima, observa-se que para ensinar o professor <strong>de</strong>ve manter-se<br />

consciente <strong>de</strong> que, sua profissão não se <strong>de</strong>senvolve com um saber mas com um conjunto<br />

<strong>de</strong>les, como foi colocado por Tardif (2003) e reforçado por Gauthier et al. (1998), que para<br />

ensinar não basta apenas conhecer o conteúdo, pois, ensinar não é transmitir conhecimento<br />

mas fazer o outro enten<strong>de</strong>r o que está posto ali, ou seja, criar uma comunicação capaz <strong>de</strong><br />

fazer o outro interpretar e revelar o que foi apresentado e aprendido, ativida<strong>de</strong> nomeada por<br />

Vergnaud (1990) como sendo um teor<strong>em</strong>a <strong>em</strong> ação.<br />

A idéia acima apresentada soma-se a outra questão colocada por Gauthier (1998), é a<br />

aptidão ou o talento, essa pré–disposição é indispensável a qualquer profissão, no entanto<br />

<strong>de</strong>ve ser amparada <strong>de</strong> técnica, estudo e reflexão, pois <strong>de</strong>v<strong>em</strong>os concordar que só a aptidão ou<br />

o talento não respon<strong>de</strong> ao conjunto <strong>de</strong> necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> que o ensino necessita.


A competência para o ensino, como sab<strong>em</strong>os se faz através da aquisição <strong>de</strong> <strong>saberes</strong>,<br />

pois o ensino como qualquer outra profissão requer técnica e reflexão. Discordando <strong>de</strong>ssa<br />

afirmativa pod<strong>em</strong>os encontrar discursos <strong>em</strong> que se coloca como necessário ao oficio <strong>de</strong><br />

ensinar a dimensão da intuição ou da arte. Esse pensamento nega o próprio fundamento do<br />

ensino, que <strong>de</strong>ve está s<strong>em</strong>pre atrelado a razão, <strong>em</strong> busca da verda<strong>de</strong>, proporcionando o<br />

conhecimento das minúcias <strong>de</strong> que se compõe esse fazer e, <strong>de</strong>ssa forma não abandonar o<br />

processo verda<strong>de</strong>iro do conhecimento.<br />

A partir do que expomos acima, já compreend<strong>em</strong>os que o ensino se faz <strong>de</strong> forma<br />

segura e competente à medida que se incorpora a ele <strong>saberes</strong> das mais diversas origens.<br />

Ainda assim, investe-se na idéia, <strong>de</strong> que as incumbências para ensinar se resume <strong>em</strong> <strong>de</strong>ter<br />

apenas um saber, dito aqui, o saber da experiência, e <strong>de</strong> acordo com o pensamento e<br />

<strong>de</strong>clarações <strong>de</strong> muitos professores o conhecimento necessário para ensinar v<strong>em</strong> do exercício<br />

diário que se faz na sala <strong>de</strong> aula. Não se po<strong>de</strong> negar que o contato com o objeto lhe faz mais<br />

capaz <strong>de</strong> manuseá-lo e entendê-lo para agir <strong>de</strong> acordo com a sua necessida<strong>de</strong>, falo aqui da<br />

sala <strong>de</strong> aula e do ensino que <strong>de</strong>ve se processar naquele ambiente, no entanto, para essa<br />

experiência somar-se à competência e compreensão do profissional sobre o que faz outros<br />

<strong>saberes</strong> <strong>de</strong>v<strong>em</strong> já estar presentes como, por ex<strong>em</strong>plo, os <strong>saberes</strong> da literatura ou da <strong>biologia</strong>,<br />

afim <strong>de</strong> dar<strong>em</strong> significado a esse saber prático, <strong>em</strong> vista disso, é possível afirmar que s<strong>em</strong> a<br />

articulação dos outros <strong>saberes</strong>, ficando o professor apenas ancorado nos <strong>saberes</strong> da<br />

experiência a ativida<strong>de</strong> não se constitui. “Ele <strong>de</strong>ve possuir também um corpus <strong>de</strong><br />

conhecimentos que o ajudarão a “ler” a realida<strong>de</strong> e a enfrentá-la”, (GAUTHIER et al, 1998,<br />

p. 24).<br />

Conseqüent<strong>em</strong>ente, a aptidão do professor ao ensino não abriga apenas um ou dois<br />

<strong>saberes</strong>, mas um conjunto <strong>de</strong>les e a construção <strong>de</strong>sses mesmos <strong>saberes</strong> presencia-se na<br />

universida<strong>de</strong>, na vida social e no momento real da atuação do professor neste contexto.<br />

Assim a sala <strong>de</strong> aula não po<strong>de</strong> estar <strong>de</strong>sconectada da construção <strong>de</strong>sses <strong>saberes</strong>, como se toda<br />

essa instrução viesse <strong>de</strong> fora s<strong>em</strong> precisar observar a atuação do professor nesse espaço, mas<br />

<strong>de</strong>ve olhar para o ensino buscando a profissionalização (TARDIF, 2003).<br />

Como já apresentamos acima, o saber da experiência é o saber que o profissional<br />

constrói durante o t<strong>em</strong>po <strong>de</strong>dicado a realização daquele ofício, no caso aqui o professor. Este<br />

saber não se faz sozinho, mas com um suporte <strong>de</strong> conhecimentos que já foi adquirido pelo<br />

professor durante sua vida social, escolar e acadêmica. É durante esse fazer pedagógico que o<br />

professor vai apren<strong>de</strong>ndo como agir diante <strong>de</strong> uma realida<strong>de</strong>, elaborando estratégias eficazes<br />

para atuar naquele meio específico.


Esse conhecimento construído durante o fazer pedagógico do professor t<strong>em</strong> um<br />

período significante relacionado a sua construção que é, <strong>de</strong> três a cinco anos <strong>de</strong> profissão,<br />

(TARDIF, 2003). Essa fase é marcada pela incidência <strong>de</strong> situações novas que o professor<br />

<strong>de</strong>ve apren<strong>de</strong>r a controlar ou a resolver, fase do <strong>de</strong>sencanto, <strong>em</strong> que se forma um dil<strong>em</strong>a<br />

entre o i<strong>de</strong>al e o real. O dia-a-dia na escola proporciona ao professor o contato com<br />

el<strong>em</strong>entos burocráticos, como horários e produção <strong>de</strong> relatórios, reuniões e por fim a<br />

convivência com os alunos <strong>de</strong> forma correta a<strong>de</strong>quando-os ao ambiente da escola.<br />

Outro fato importante que os novos professores lidam é o <strong>de</strong> ser aceitado pelo grupo<br />

<strong>de</strong> professores, alunos e pais. É um período marcado por <strong>de</strong>cisões positivas como a certeza<br />

<strong>de</strong> ter escolhido a profissão certa, ou negativas, como o abandono da profissão, pois<br />

compreend<strong>em</strong> que as exigências, maneira e meios <strong>de</strong> atuar que a profissão oferece vão além<br />

dos seus limites, ou seja, do que pod<strong>em</strong> realizar com responsabilida<strong>de</strong>. Enfim, vencido esse<br />

período <strong>de</strong> impactos, agora o professor passa uma segunda fase <strong>de</strong> aprendizag<strong>em</strong>, já<br />

apresentando confiança <strong>em</strong> si e estabilização profissional, pois, os programas, os<br />

planejamentos, o controle da turma, não é mais algo novo, a familiarização junto a esse<br />

contexto já se faz presente. A aquisição inicial <strong>de</strong>ssas habilida<strong>de</strong>s, correspon<strong>de</strong> a um período<br />

<strong>de</strong> t<strong>em</strong>po entre cinco e sete anos, mas não é só o t<strong>em</strong>po que ampara o professor na<br />

construção do saber da experiência, mas, todo um cenário <strong>em</strong> que os papeis se <strong>de</strong>finam<br />

através do aparato da direção da escola, turmas menores e menos trabalhosas e recursos que<br />

facilite a execução do planejamento do professor.<br />

Os <strong>saberes</strong> construídos com a vivência do professor na escola vão se configurando e<br />

aos poucos este profissional passa a ser mais autônomo. Com o t<strong>em</strong>po o programa já não é<br />

mais o el<strong>em</strong>ento central das preocupações do professor, mas, a inserção do aluno no mundo<br />

científico dos conteúdos e seu sucesso <strong>em</strong> contato com eles. O que se percebe também que<br />

vencido esse t<strong>em</strong>po o professor se preocupa mais com a li<strong>de</strong>rança e o gerenciamento da sua<br />

turma <strong>de</strong>ixando para trás novamente o conteúdo, se preocupando mais com a li<strong>de</strong>rança da<br />

turma (TARDIF, 2003).<br />

Estando apreendida tais competências o professor ten<strong>de</strong> agora a se sentir b<strong>em</strong> <strong>em</strong><br />

relação a sua profissão e ao papel que exerce. Assim, a interação com os alunos, a gestão <strong>de</strong><br />

classe e da matéria, são realizadas com mais proprieda<strong>de</strong>, mesmo <strong>de</strong>vendo estar consciente<br />

<strong>de</strong> que seu aprendizado não <strong>de</strong>ve cessar, mas que, nessa profissão o recomeço é constante<br />

<strong>em</strong> relação a todos os el<strong>em</strong>entos que engloba e ao meio <strong>em</strong> que se configura. Assim vimos<br />

que a experiência é um el<strong>em</strong>ento central para a realização do ensino significativo, pois esse<br />

saber construído com o t<strong>em</strong>po <strong>de</strong> atuação realiza mudanças no professor fazendo ele se


apropriar <strong>de</strong> uma linguag<strong>em</strong> e posturas específicas para atuar com sucesso e assim<br />

constituísse um profissional que aporta entre outros <strong>saberes</strong> o da experiência(TARDIF,<br />

2003).<br />

1.1 O Ensino<br />

A gran<strong>de</strong> missão do ensino é preparar os alunos para po<strong>de</strong>r<strong>em</strong> gozar <strong>de</strong> seus direitos<br />

<strong>de</strong> cidadãos cumprindo seus <strong>de</strong>veres, compreen<strong>de</strong>ndo o mundo <strong>em</strong> que viv<strong>em</strong> constatando<br />

situações no seu cotidiano para que intervenham perante elas com inteligência e<br />

competência. Esse comportamento é o resultado <strong>de</strong> um ensino ativo e <strong>em</strong> harmonia com a<br />

dinâmica do ambiente <strong>em</strong> que vive o educando. Portanto, o ensino do qual estamos falando<br />

t<strong>em</strong> <strong>em</strong> si um el<strong>em</strong>ento abstrato, visível e essencial que chamamos <strong>de</strong> metodologia ou prática<br />

docente, e, para que esse ensino resulte ou gere no educando o comportamento ora citado,<br />

uma das perspectivas que visualizamos, é que o ato docente <strong>de</strong>ve se caracterizar <strong>de</strong> resolução<br />

e diligência, como transcreve Marques (1977, p. 32): “Só métodos dinâmicos <strong>de</strong> ensino, que<br />

supõ<strong>em</strong> participação e envolvimento da personalida<strong>de</strong> do aluno, pod<strong>em</strong> tornar realida<strong>de</strong> a<br />

aquisição <strong>de</strong>stas qualida<strong>de</strong>s que se incorporam ao patrimônio pessoal e revert<strong>em</strong> <strong>em</strong><br />

benefício dos grupos humanos dos quais esse pessoal vier a participar”.<br />

No entanto, para que esta aprendizag<strong>em</strong> aconteça, a prática docente <strong>de</strong>ve ser<br />

composta <strong>de</strong> vários el<strong>em</strong>entos que auxilie o trabalho do professor e assim d<strong>em</strong>onstre sua<br />

competência na relação ensinar-apren<strong>de</strong>r. Portanto, o que <strong>de</strong>v<strong>em</strong>os enxergar como auxílio é a<br />

avaliação das próprias ativida<strong>de</strong>s, <strong>em</strong> que se conquista um espaço <strong>de</strong> <strong>saberes</strong> docentes,<br />

através do diálogo entre professor e aluno, <strong>em</strong> que se po<strong>de</strong> reformular a atitu<strong>de</strong> passada.<br />

Outra forma <strong>de</strong> auxiliar esta prática complexa é dinamizar as ativida<strong>de</strong>s <strong>em</strong> que os educandos<br />

tenham participação, <strong>de</strong> forma que possam verbalizar e construir sua própria aprendizag<strong>em</strong>,<br />

utilizando todo material possível nessa construção para que o experimento aconteça e eles<br />

possam nos dar respostas a partir da sua observação e da sua percepção, situação <strong>em</strong> que o<br />

professor, através da sua avaliação constate a aprendizag<strong>em</strong> almejada, como cita Moreira,<br />

(1999, p. 120): " O aluno <strong>de</strong>ve, <strong>de</strong> alguma maneira, "<strong>de</strong>volver" ao professor o significado que<br />

captou. O professor, nesse processo, é responsável por verificar se o significado que o aluno<br />

captou é aceito, compartilhado socialmente".<br />

Uma outra forma <strong>de</strong> realizar o ensino eficaz é conhecer o educando na sua totalida<strong>de</strong><br />

sabendo suas origens e seu processo <strong>de</strong> vida. Ficando ciente <strong>de</strong> como trabalhar com o aluno<br />

os conteúdos <strong>de</strong> maneira pertinente, ou seja que correspondam aos seus <strong>de</strong>sejos e as suas


necessida<strong>de</strong>s, criando uma relação <strong>de</strong> confiança através da compreensão exigente <strong>em</strong> que se<br />

estimula a aprendizag<strong>em</strong> or<strong>de</strong>nada do aluno a partir do seu ambiente. Essa atitu<strong>de</strong> do<br />

professor é aliada ao trabalho <strong>de</strong> equipe que muda a estrutura da sala <strong>de</strong> aula fazendo com<br />

que os trabalhos <strong>em</strong> grupo tom<strong>em</strong> maior proporção e o ambiente da mesma seja propício a<br />

mudanças, para que o professor possa experimentar, controlar e verificar essa construção,<br />

constatando bons resultados. O professor que assim age dá oportunida<strong>de</strong> aos alunos <strong>de</strong><br />

experimentar<strong>em</strong> coisas novas e <strong>de</strong> valorizar os el<strong>em</strong>entos da sua cultura <strong>de</strong> forma sist<strong>em</strong>ática,<br />

eliminando a clivag<strong>em</strong> do ensino, construindo pontos <strong>de</strong> convergências e suprimindo os<br />

caminhos paralelos e infrutíferos do fazer docente, como propaga Meirieu (1998, p. 91):<br />

S<strong>em</strong> o ensino sist<strong>em</strong>ático, a liberda<strong>de</strong> do sujeito é uma liberda<strong>de</strong> do nada;<br />

não po<strong>de</strong> escolher entre ouvir Mozart ou ler Giraudoux não se po<strong>de</strong><br />

apaixonar pela física ou se interessar pela história, se não teve a<br />

oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> conhecer tudo isso um dia e se não experimentou o prazer<br />

disso. O obrigatório aqui é a garantia do exercício da liberda<strong>de</strong>, o ensino<br />

sist<strong>em</strong>ático, a condição <strong>de</strong> escolhas racionais.<br />

Aqui o autor pronuncia, que os procedimentos didáticos não <strong>de</strong>v<strong>em</strong> se restringir ao<br />

conteúdo, apenas para a assimilação cognitiva, repetição livresca, ou feitio disciplinar mas<br />

que através <strong>de</strong>le oportunize o aluno a assumir seu papel, com liberda<strong>de</strong> para escolher o que<br />

seja importante para sua aprendizag<strong>em</strong> e realização, ou seja, “ser” criativo e ativo inserido<br />

<strong>em</strong> um contexto natural, social e histórico. Portanto, o fazer docente <strong>de</strong>ve unir o meio dos<br />

alunos ao conteúdo disciplinar e assim o faz o professor com postura crítica e interligada com<br />

o mundo cont<strong>em</strong>porâneo. O professor que assim se comporta dá test<strong>em</strong>unho da sua<br />

competência pedagógica e do seu entendimento quanto à missão da escola, tendo que<br />

provocar nos alunos a reflexão a fim <strong>de</strong> reconstruir a cada ação um conceito com mais<br />

el<strong>em</strong>entos e mais evidência científica test<strong>em</strong>unhada pelos próprios alunos.<br />

Contudo, essa situação ou ambiente criado pelo professor revela a sua interação com<br />

o conteúdo, que se torna um instrumento valioso para a compreensão do mundo. Logo,<br />

percebe-se que o conceito atribuído a este professor é positivo, pois transforma o conteúdo a<br />

ser estudado <strong>em</strong> um <strong>de</strong>safio <strong>em</strong> que todos terão seu momento <strong>de</strong> resolver o probl<strong>em</strong>a através<br />

das próprias ações e <strong>de</strong>scobertas, ou seja constatando seus erros e acertos e po<strong>de</strong>ndo tomar<br />

<strong>de</strong>cisões. Apresenta-se aqui um professor com competências <strong>de</strong>senvolvidas e maturida<strong>de</strong><br />

adquirida. Um professor que age realizando coisas na sua prática que viabilizam a qualida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> vida dos educandos, viabilizando também o futuro <strong>de</strong>les, caracterizando aqui uma<br />

educação on<strong>de</strong> é possível a critica, a escolha e a criação. Realizando uma educação que


proporcione essas atitu<strong>de</strong>s, Freire fala sobre algumas ações imperativas ao educador (2001,<br />

p.204):<br />

Superar a compreensão e a prática do ato <strong>de</strong> ensinar como sendo um procedimento<br />

<strong>de</strong> transferência mecânica <strong>de</strong> um saber <strong>em</strong>pacotado pelo ato <strong>de</strong> ensinar como que<br />

fazer <strong>em</strong> que o educador convida o educando a se apropriar do conteúdo<br />

ensinando-se, através da apreensão crítica do mesmo; Respeitar a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong><br />

cultural <strong>de</strong> classe, dos educando; Respeitar, para superar, o saber <strong>de</strong> experiência<br />

feito com que o educando chega a escola; Viver experiências com a classe <strong>em</strong> que<br />

experimente s<strong>em</strong> receios o direito <strong>de</strong> opinar, <strong>de</strong> criticar, <strong>de</strong> escolher, <strong>de</strong> ajuizar e<br />

<strong>de</strong> optar.<br />

Essa prática efetiva da qual estamos falando só po<strong>de</strong> ser uma prática diversificada, <strong>em</strong><br />

que o professor dispõe a seus alunos oportunida<strong>de</strong>s diferentes preenchidas <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s que<br />

proporcione a aquisição <strong>de</strong> conhecimentos e habilida<strong>de</strong>s na perspectiva <strong>de</strong> uma<br />

aprendizag<strong>em</strong> também efetiva. Esse ensino efetivo t<strong>em</strong> como ponto <strong>de</strong> partida a escuta das<br />

idéias dos alunos, contestando as mesmas com os contra-ex<strong>em</strong>plos, provocando através da<br />

contestação a inquietação do educando dando oportunida<strong>de</strong> à introdução <strong>de</strong> novas idéias <strong>em</strong><br />

diferentes contextos, sendo este ensino um fio condutor para a pesquisa e o esclarecimento<br />

do conceito. Este ensino se faz a partir da proposta do professor perante sua sala <strong>de</strong> aula que<br />

busca a construção do conhecimento <strong>em</strong> que o próprio aluno possa dar o seu formato ao<br />

trabalho que está sendo construído. Um ensino <strong>de</strong>sse perfil opta pela pesquisa como<br />

caminho para a proposição <strong>de</strong> hipóteses e a resolução do probl<strong>em</strong>a <strong>em</strong>bargando no fim do<br />

processo a compreensão do conteúdo e a construção do conhecimento (CARVALHO &<br />

PÉREZ, 2001).<br />

O papel do professor não po<strong>de</strong> ser n<strong>em</strong> <strong>de</strong> um “expositor”, n<strong>em</strong> <strong>de</strong> um<br />

“facilitador”, mas sim <strong>de</strong> um probl<strong>em</strong>atizador. Isto significa que o professor está<br />

ali para organizar as interações do aluno com o meio e probl<strong>em</strong>atizar as situações<br />

<strong>de</strong> modo a fazer o aluno, ele próprio, construir o conhecimento sobre o t<strong>em</strong>a que<br />

está sendo abordado, ( FRANCO, 1998, p. 56).<br />

O processo acima do qual fala o autor, é complexa, pois a reinvenção é el<strong>em</strong>ento<br />

constituinte da atuação metodológica do professor que escolhe a construção e não a<br />

transmissão. È inerente a este professor que ensina, apren<strong>de</strong>r, ficando ele atualizado com os<br />

fatos do século vigente, e põe – se aberto a progressão e a aquisição <strong>de</strong> novos conhecimentos<br />

que gera na sua prática novas atitu<strong>de</strong>s diante dos alunos, que vendo um fato, precisa conhecer<br />

e compreen<strong>de</strong>r para po<strong>de</strong>r afirmá–lo como sendo “verda<strong>de</strong>” e na sala <strong>de</strong> aula este evento se<br />

concretiza com uma prática docente efetiva.


1.2 Necessida<strong>de</strong> da formação específica para a prática: a dimensão do saber prático<br />

Em principio a formação direcionada a prática é complexa, pois, é construída fora do<br />

espaço on<strong>de</strong> o professor <strong>de</strong>ve atuar como profissional. Essa formação é direcionada ao saber<br />

prático, ou seja, inclui toda situação que faz parte do seu cenário <strong>de</strong> atuação, a sala <strong>de</strong> aula, e<br />

<strong>de</strong>ve condicionar todo conhecimento do professor para esse o meio, Portanto, esse saber, que<br />

já <strong>de</strong>ve estar construído, oriundos da sua formação acadêmica e escolar <strong>em</strong>erge nas relações<br />

com a sala <strong>de</strong> aula. Assim, o professor, a partir <strong>de</strong> uma formação competente e direcionada<br />

será capaz <strong>de</strong> realizar sua ativida<strong>de</strong> profissional, com a<strong>de</strong>quações as suas funções<br />

respaldadas num saber direcionadas a sua prática (TARDIF, 2003).<br />

Portanto, a formação teórica <strong>de</strong>sse professor ou professora <strong>de</strong>ve estar intrinsecamente<br />

ligada ao seu fazer posterior, ou seja, ao ensino. Este ensino que, como já foi dito se<br />

concretizará posteriormente e trará consigo os reflexos <strong>de</strong>ssa mesma formação, cuja<br />

constituição complexa, se compõe da conexão <strong>de</strong> diversos el<strong>em</strong>entos, na qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong>,<br />

pessoas, <strong>de</strong> ambiente, <strong>de</strong> formação, <strong>de</strong> cultura, <strong>de</strong> afetivida<strong>de</strong>, <strong>de</strong> pensamento próprio e <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>cisão. Assim, um el<strong>em</strong>ento essencial <strong>de</strong>ssa formação é perceber o aluno e, fazer com que<br />

ele se aproprie dos propósitos do ensino colocados na sala, como exprime Coll, et al. (2003,<br />

p. 49):<br />

Talvez essa trama <strong>de</strong> relações complexas explique que o autoconceito seja ao<br />

mesmo t<strong>em</strong>po causa e efeito do rendimento escolar; obviamente qu<strong>em</strong> apren<strong>de</strong> é<br />

uma pessoa, globalmente consi<strong>de</strong>rada <strong>de</strong> modo que o caminho que segue os<br />

resultados que obtém não influenciam apenas <strong>de</strong>terminadas capacida<strong>de</strong>s (<strong>de</strong> tipo<br />

cognitivo, por ex<strong>em</strong>plo), mas a elaboração <strong>de</strong> uma imag<strong>em</strong> pessoal que, convém<br />

recordar, nunca é neutra.<br />

Em vista disso, é coerente dizer que o futuro professor <strong>de</strong>ve ter a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>senvolver a competência <strong>de</strong> se relacionar com seus alunos, criando situações que<br />

oportuniz<strong>em</strong> e facilit<strong>em</strong> a comunicação, a apropriação do conhecimento, o estilo <strong>de</strong><br />

aprendizag<strong>em</strong> <strong>de</strong> cada um, a personalização das ativida<strong>de</strong>s, uma avaliação saudável e o<br />

envolvimento real dos alunos nestas situações (PAQUAY, 2001).<br />

Dessa forma, cabe rel<strong>em</strong>brar aqui a competência para o ensino, pois cada uma das<br />

situações colocadas acima requer um conjunto <strong>de</strong> estratégias para a realização <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s<br />

que resulte na aprendizag<strong>em</strong> do aluno e também do professor, pois esses <strong>saberes</strong> pod<strong>em</strong> se<br />

configurar com uma comunicação multilateral. Essa formação para a prática não po<strong>de</strong> ser<br />

realizada distante do seu meio, mas inserido nele (a escola), é também neste envolvimento<br />

com o meio específico que a competência para a prática vai se constituindo e fazendo parte


da pessoa do professor modificando suas ações que, a cada dia t<strong>em</strong> a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

resolver qualquer questão através do entendimento resultante da reflexão, ora subsidiado pela<br />

prática ora pela sua formação acadêmica, para uma produção significativa e útil, como<br />

apresenta Paquay (2001, p. 68):<br />

Depois <strong>de</strong> um certo t<strong>em</strong>po <strong>de</strong> prática, o saber acadêmico torna-se o segundo,<br />

enquanto a prática profissional torna-se o primeiro na conduta <strong>em</strong>preendida pelo<br />

profissional para continuar a construir sua competência. Além disso, nessa<br />

perspectiva, o saber acadêmico privilegiado na formação é aquele resultante da<br />

reflexão sobre a ação da qual são obtidos leis e princípios, ou seja, um saber<br />

estreitamente associado à intervenção.<br />

Assim, vimos que a formação prática <strong>de</strong>ve ser parte dominante na construção <strong>de</strong>sse<br />

profissional, para que a elevação do seu saber prático, ou seja, o como ensinar aconteça.<br />

Essa formação <strong>de</strong>ve oportunizar aos professores diversas experiências que sejam inerentes ao<br />

seu trabalho específico. Portanto <strong>de</strong>v<strong>em</strong> estar presentes os <strong>de</strong>senvolvimentos ou estímulos <strong>de</strong><br />

habilida<strong>de</strong>s que torn<strong>em</strong> o professor apto a observar, analisar, teorizar, sintetizar e aplicar,<br />

cada uma <strong>de</strong>ssas capacida<strong>de</strong>s, que são caracterizadas por ações b<strong>em</strong> <strong>de</strong>finidas e diferentes,<br />

todas elas indispensáveis para a formação prática do professor.<br />

Assim, diante do que vimos no seu fazer diário o professor <strong>de</strong>ve se amparar <strong>de</strong> todas<br />

essas competências buscando várias fontes e modos <strong>de</strong> formação, incluindo a sua reflexão-<br />

ação, ou seja, apoiar sua prática numa teoria, para que se torne capaz <strong>de</strong> respon<strong>de</strong>r a<br />

complexida<strong>de</strong> da sua profissão.<br />

1.3 Saberes experienciais e conceituais dos professores<br />

A escola é um ambiente <strong>em</strong> que vários el<strong>em</strong>entos diferentes faz<strong>em</strong> parte <strong>de</strong> um<br />

mesmo contexto se completando e produzindo o conhecimento prático e teórico. O professor<br />

<strong>de</strong> ciências faz parte <strong>de</strong>sse ambiente adquirindo no dia-a-dia uma autonomia, resultando<br />

numa atuação inclusiva, cuja compreensão do contexto e dos envolvidos configura um todo<br />

<strong>em</strong> funcionamento gerido por um profissional que busca <strong>de</strong>senvolver uma competência<br />

pedagógica que supra as necessida<strong>de</strong>s da sala <strong>de</strong> aula e atue com coerência indo além do<br />

verbalismo e do experimentalismo acrítico e repetidor, (OLIVEIRA, 2001, p. 95),ou seja, um<br />

saber construído através da reflexão da prática.<br />

O fazer docente se constrói a cada dia, quando se pensa no exercício da profissão,<br />

essa competência não se constrói <strong>de</strong> forma instantânea mas perene e compassada, como<br />

pronuncia Tardif (2003, p. 107): “A dimensão t<strong>em</strong>poral do trabalho, isto é, a experiência da<br />

prática da profissão numa carreira, é crucial na aquisição do sentimento <strong>de</strong> competência e na


implantação das rotinas <strong>de</strong> trabalho, noutras palavras, na estruturação <strong>de</strong> sua prática”. A<br />

complexida<strong>de</strong> <strong>de</strong> esse fazer se atribui a sua existência coletiva, ou seja, seu envolvimento<br />

com seres, <strong>saberes</strong>, instituições e ambiente.<br />

Entend<strong>em</strong>os a partir daí que o exercício docente é complexo envolvendo o meio<br />

social dos alunos, o professor, seus <strong>saberes</strong>, seus pares e a administração, diante <strong>de</strong>ste<br />

quadro, (COSTA, 2001. p: 32), diz que: “Para isso, é imprescindível que tenhamos a<br />

consciência límpida e madura do papel que <strong>de</strong>v<strong>em</strong>os ter diante dos educandos, <strong>de</strong> suas<br />

famílias e <strong>de</strong> toda a comunida<strong>de</strong> on<strong>de</strong> a escola está inscrita”. Nessas diferentes situações o<br />

professor recorre a um leque teórico tornando-o prático, fazendo s<strong>em</strong>pre uso da reflexão<br />

buscando seus <strong>saberes</strong> já construídos, para que sua prática não imponha mudanças , mas<br />

construa mudanças (TARDIF, 2003; p. 65,66), tendo como ponto <strong>de</strong> partida os conceitos<br />

ensinados na escola.<br />

Segundo Tardif (2003, p. 79) os <strong>saberes</strong> construídos pelos professores está também<br />

relacionados com sua vida pessoal, sendo mo<strong>de</strong>lado a partir do período <strong>em</strong> que estiveram na<br />

escola, mas também resultante da influência familiar <strong>em</strong> que mãe e tia estiveram presentes.<br />

Essa atuação que <strong>de</strong>veria ser vista como profissional muitas vezes foi encarada como sendo<br />

um dom ou uma arte. Dessa forma tornavam - se profissionais antes <strong>de</strong> realizar<strong>em</strong> o<br />

magistério. Essa informação revela que uma das etapas <strong>de</strong>ssa formação é mo<strong>de</strong>lag<strong>em</strong> social,<br />

ou seja, resultado do que o indivíduo vive no seu cotidiano, como resume Tardif (2003, p.<br />

81): "A carreira é portanto fruto das transações contínuas entre as interações dos indivíduos e<br />

as ocupações; essas transações são recorrentes, ou seja, elas modificam a trajetória dos<br />

indivíduos b<strong>em</strong> como as ocupações que eles assum<strong>em</strong>”.<br />

É na escola convivendo com os seus pares que o professor continua a sua formação,<br />

no dia-a-dia ele cria hábitos que colabora para a sua eficiência como docente. O ensino<br />

acontece num meio social <strong>em</strong> que estão presentes: a organização da escola com rotinas; o<br />

currículo; o planejamento; a avaliação; os alunos, com suas características e os pais com suas<br />

percepções e exigências. É neste meio que o professor atua <strong>de</strong>vendo mostrar-se competente.<br />

Portanto <strong>em</strong> contato com esta realida<strong>de</strong> ele reflete para agir com coerência, <strong>de</strong>vendo interagir<br />

com seus pares e com seus alunos, se adaptando aos recursos disponíveis para que sua<br />

atuação diante da escola e dos educandos seja produtiva.<br />

A escola também oportuniza uma parcela da formação do professor, pois, é on<strong>de</strong> ele<br />

reformula e exterioriza a teoria, oriundas do curso <strong>de</strong> magistério e da universida<strong>de</strong>,<br />

transformando esse saber <strong>em</strong> aprendizag<strong>em</strong>. Esse saber nascido da experiência também é<br />

provisório, porém a convivência diária do professor com alunos, pais, ativida<strong>de</strong>s, direção e


egimentos, são el<strong>em</strong>entos que contribu<strong>em</strong> para que o professor adquira uma autonomia no<br />

trabalho <strong>em</strong> sala <strong>de</strong> aula, s<strong>em</strong> <strong>de</strong>scartar a reflexão e o planejamento.<br />

Sendo assim v<strong>em</strong>os a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma atuação pedagógica <strong>em</strong> que o professor<br />

oportunize uma interação recíproca, ultrapassando dialeticamente as construções ou práticas<br />

comuns já existentes na sala <strong>de</strong> aula na perspectiva <strong>de</strong> preencher as lacunas ou necessida<strong>de</strong>s<br />

existentes. Sab<strong>em</strong>os que o ensino não se faz apenas com o sujeito que estar a par dos <strong>saberes</strong><br />

a ensinar, mas do <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> vários el<strong>em</strong>entos que constitui esse processo, como a<br />

organização curricular; os objetivos e valores da escola; a situação sócio-cultural dos alunos;<br />

os recursos disponíveis; a prática do professor da qual <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> a interação dos alunos com o<br />

conteúdo ensinado. Para que o ensino se realize é necessário que o conhecimento teórico<br />

construído pelo professor, junte-se ao saber experiencial ou prático possibilitando que o<br />

aluno ative seus conhecimentos realizando a compreensão dos fenômenos reais.<br />

[...] trata-se <strong>de</strong> buscar uma aproximação do conhecimento com o nível do<br />

saber, ou seja, o <strong>de</strong>safio didático consiste <strong>em</strong> partir do conteúdo no plano<br />

intelectual do sujeito e trabalhar para que essa dimensão particular alcance a<br />

generalida<strong>de</strong> prevista pelos programas da área (PAIS, 2001, p. 37).<br />

A efetivação <strong>de</strong>ssa aprendizag<strong>em</strong> pelo aluno, t<strong>em</strong> uma conexão com o tratamento<br />

didático que o professor dar ao conteúdo a ser ensinado, ou seja, a maneira como ele configura<br />

sua prática. Portanto, o que lhe exige uma reflexão permanente, na pronuncia <strong>de</strong> Freire (2000,<br />

p. 24): “reflexão crítica sobre a prática se torna uma exigência da relação Teoria/Prática s<strong>em</strong> a<br />

qual a teoria po<strong>de</strong> ir virando blábláblá e a prática, ativismo ”. Assim, <strong>de</strong>ve o professor ser<br />

reflexivo e crítico na sua atuação docente, adquirindo o hábito da reflexão sobre a sua prática e<br />

as teorias por si corporificadas, para que elas não se torn<strong>em</strong> cristalizadas pelo t<strong>em</strong>po,<br />

impedindo a instalação <strong>de</strong> novas concepções e com isto criando um obstáculo epist<strong>em</strong>ológico e<br />

conseqüent<strong>em</strong>ente didático. Assim, crermos que o que estamos vendo compreend<strong>em</strong>os com<br />

clareza, impedindo que se constitua <strong>de</strong> fato o que <strong>de</strong>veríamos saber, (BARCHELARD,1996,<br />

p.18)<br />

Ter essa postura diante do mundo impe<strong>de</strong> a ampliação do conhecimento e a constatação<br />

<strong>de</strong> novas teorias, portanto para conhecer <strong>de</strong> fato o objeto, e po<strong>de</strong>r transformar esse<br />

conhecimento <strong>em</strong> saber, o professor <strong>de</strong>ve estar atento a sua própria aprendizag<strong>em</strong>. “Quanto<br />

mais criticamente se exerça a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r tanto mais se constrói e se <strong>de</strong>senvolve o<br />

que venho chamando <strong>de</strong> curiosida<strong>de</strong> epist<strong>em</strong>ológica, s<strong>em</strong> a qual não alcançamos o<br />

conhecimento cabal do objeto” (FREIRE, 2000, p. 27).


Assim, uma educação que se pauta nesse tipo <strong>de</strong> compreensão não po<strong>de</strong> ser feita <strong>de</strong> forma<br />

generalizada e acrítica, pois po<strong>de</strong> construir um obstáculo epist<strong>em</strong>ológico e resultar <strong>em</strong> um<br />

obstáculo para a aprendizag<strong>em</strong> das ciências. Deste modo, quando ensinamos ao transpor o<br />

saber escolar corr<strong>em</strong>os o risco <strong>de</strong> tornar comum esse saber, valorizando mais as percepções<br />

cotidianas, esquecendo o rigor e o processo que constitui o saber científico, tendo a<br />

aprendizag<strong>em</strong> um conhecimento vago e parcial, s<strong>em</strong> a rigorosida<strong>de</strong> metódica, como costuma<br />

dizer Bachelard apud Pais (2002, p.49):<br />

O conhecimento geral serve como um obstáculo ao conhecimento científico... um<br />

conhecimento que é carente <strong>de</strong> precisão, que não é dado com suas condições <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>terminação precisa, não é um conhecimento científico. Um conhecimento geral é<br />

quase fatalmente vago.<br />

Quando <strong>de</strong>sejamos a visão do todo <strong>em</strong> relação a um fato ou conceito ligado às ciências<br />

naturais, como por ex<strong>em</strong>plo, a transformação da energia luminosa <strong>em</strong> elétrica e energia<br />

química, que acontece durante o processo da fotossíntese, <strong>de</strong>scrito <strong>de</strong> forma geral, não<br />

apresenta a seqüência dos fatos e daí começa a se gerar um obstáculo na aprendizag<strong>em</strong> on<strong>de</strong><br />

estar presente a imprecisão ou um conhecimento inverídico. Esta imprecisão <strong>de</strong>ve ser resolvida<br />

na escola ou pelo menos na caminhada por ela, para que esta lacuna intelectual não faça parte<br />

da vida social do aluno, pois, a escola <strong>de</strong>ve produzir junto ao aluno um saber ativo (FREIRE,<br />

2000).<br />

Vimos que o ensino e a aprendizag<strong>em</strong> <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong>pend<strong>em</strong> <strong>de</strong> um rigor<br />

metodológico, <strong>de</strong>nunciando que não é suficiente nos informarmos <strong>em</strong> relação a um conteúdo<br />

ou utilizar um procedimento pedagógico aleatório. Sentimos que diante da necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

compreen<strong>de</strong>rmos os fenômenos e até transformá-los a partir do conhecimento que produzimos<br />

e construímos <strong>de</strong>ntro da escola, a análise, a seleção e a busca <strong>de</strong> informações <strong>de</strong>v<strong>em</strong> fazer parte<br />

da rotina do professor para que ele seja capaz <strong>de</strong> solucionar situações-probl<strong>em</strong>a <strong>de</strong> forma<br />

criativa, d<strong>em</strong>ocrática e equilibrada, buscando s<strong>em</strong>pre a coerência entre o conhecimento<br />

científico e o cotidiano coletivo<br />

É nessa situação que os professores validam seus <strong>saberes</strong> <strong>em</strong> frente a probl<strong>em</strong>as do dia-<br />

a-dia na sala <strong>de</strong> aula. Esses <strong>saberes</strong> são diferentes dos outros adquiridos nos cursos secundários<br />

e universitários, pois, na sala <strong>de</strong> aula a docência é exercida não sobre um objeto mas, frente a<br />

pessoas ativas que interag<strong>em</strong> e neste contexto o professor não po<strong>de</strong> usar receita pronta, por<br />

causa da sua insuficiência mas, el<strong>em</strong>entos particulares referente a profissão e <strong>de</strong> uso individual,<br />

ou seja, postura competente diante <strong>de</strong> uma situação que requer solução. Cuja ação é <strong>de</strong>scrita<br />

por Tardif (2003, p. 50), assim:


Ela é realizada concretamente numa re<strong>de</strong> <strong>de</strong> interações com outras pessoas, num<br />

contexto on<strong>de</strong> o el<strong>em</strong>ento humano é <strong>de</strong>terminante e dominante e on<strong>de</strong> estão<br />

presentes os símbolos, valores, sentimentos, atitu<strong>de</strong>s que são passíveis <strong>de</strong><br />

interpretação e <strong>de</strong>cisão que possu<strong>em</strong>, um caráter <strong>de</strong> urgência.<br />

Essa capacida<strong>de</strong> exigida do professor <strong>em</strong> seu contexto <strong>de</strong> trabalho é referente ao ensino<br />

<strong>de</strong> conteúdos que <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser assimilados pelos alunos <strong>de</strong> forma clara e útil, <strong>de</strong>vendo o<br />

professor estar consciente <strong>de</strong> que seus alunos possu<strong>em</strong> uma cultura adquirida, oriunda das suas<br />

vivências, que revelam razões imediatas do senso comum. Portanto, para Bachelard a razão do<br />

estudante <strong>de</strong>ve ser seduzida, (OLIVEIRA, 2001), e os professores <strong>de</strong> ciências <strong>de</strong>v<strong>em</strong> vencer os<br />

impedimentos do ensino para que haja a efetivação da aprendizag<strong>em</strong>:<br />

Por se julgar<strong>em</strong> porta-vozes autorizados do conhecimento científico, professores <strong>de</strong><br />

ciências ignoram um dos principais entraves da arte <strong>de</strong> ensinar,o obstáculo<br />

pedagógico, que traz impedimentos à compreensão das razões pelas quais suas<br />

classes não compreend<strong>em</strong> a matéria lecionada, (OLIVEIRA, 2001: p. 94).<br />

Na escola o professor <strong>de</strong> ciências ainda reforça um ensino pautado na informação on<strong>de</strong><br />

o <strong>de</strong>ver cumprido se pauta na repetição do conteúdo ponto a ponto, ação que não se certifica <strong>de</strong><br />

que a cultura científica foi <strong>de</strong> fato retida, pois tendo o aluno a sua cultura ele precisa mudar<br />

essa cultura promovida pela situação <strong>de</strong> ensino. “Para tanto, é preciso seduzir a razão <strong>de</strong> qu<strong>em</strong><br />

se acha na condição <strong>de</strong> aprendiz com razões mais fortes que o test<strong>em</strong>unho da experiência<br />

comum”, (OLIVEIRA, 2001: p. 95). Esse trecho nos r<strong>em</strong>ete ao ensino comum do conteúdo<br />

fotossíntese no ensino médio po<strong>de</strong>ndo resultar num saber estéril e dogmático, configurando<br />

uma ciência imobilizada, satisfazendo apenas aos programas formulados pelas instituições.<br />

1.3.1 Saberes da experiência<br />

A construção do saber docente não se encerra quando se conclui o curso <strong>de</strong> Pedagogia,<br />

n<strong>em</strong> tão pouco se limita à formação continuada, pois no seu dia a dia quando chega a sua sala e<br />

<strong>de</strong>ve gerenciá-la para que o aluno aprenda, o professor se <strong>de</strong>para com situações diferentes, que<br />

<strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong>le os encaminhamentos, e para isso não possui livro <strong>de</strong> receita a seguir. Para que<br />

tudo se resolva <strong>de</strong> maneira que, n<strong>em</strong> o professor , n<strong>em</strong> o aluno, apresente seqüelas posteriores,<br />

ele, o professor precisa agir instantaneamente <strong>de</strong> maneira a<strong>de</strong>quada <strong>em</strong> buscando resolver a<br />

situação que <strong>em</strong>erge. Assim, ele, diante <strong>de</strong> cada situação nova, busca soluções <strong>em</strong> que ele<br />

próprio reflete e age, objetivando sair <strong>de</strong> cada situação com sucesso. Nesses eventos


acontecidos na sala <strong>de</strong> aula o professor vai construindo o seu saber–fazer e, se tornando<br />

experiente <strong>em</strong> gerenciar sua sala <strong>de</strong> aula, gerenciar a matéria que ensina e <strong>em</strong> interagir com o<br />

seu aluno. Então é no seu exercício diário que o professor se alimenta <strong>de</strong> instrução referente a<br />

esses três campos presentes no seu ofício e <strong>de</strong>ssa forma vai adquirindo seu saber da experiência<br />

para agir.<br />

Esse saber é construído <strong>de</strong> forma ativa no calor da ação e pod<strong>em</strong>os dizer que é um saber<br />

socialmente construído, pois para que aja uma elaboração ou reelaboração do professor para<br />

cada situação vivida participam diretamente e indiretamente aluno, direção coor<strong>de</strong>nação, o<br />

colega professor, a orientação pedagógica que a escola adota e a legislação que ampara os atos<br />

do professor.<br />

A formação teórica que ora o professor dispõe para realizar sua profissão, s<strong>em</strong> que<br />

conviva com algumas falhas ou que se sinta totalmente preparado, essa, respon<strong>de</strong> <strong>de</strong> maneira<br />

insuficiente, pois mesmo tendo a sua importância e o seu lugar cativo, não completa a<br />

aprendizag<strong>em</strong> do professor , que também, t<strong>em</strong> que apren<strong>de</strong>r fazendo, pois o início do exercício<br />

docente quase s<strong>em</strong>pre é marcado por angústias, muitas vezes pela incapacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> lidar com<br />

situações nunca vistas, como coloca Tardif (2003, p. 86):<br />

Ao estrear<strong>em</strong> <strong>em</strong> sua profissão, muitos professores se l<strong>em</strong>bram <strong>de</strong> que estavam<br />

mal preparados, sobretudo para enfrentar situações <strong>de</strong> trabalho difíceis,<br />

notadamente no que se refere a el<strong>em</strong>entos como o interesse pelas funções, a<br />

turma <strong>de</strong> alunos, a carga <strong>de</strong> trabalho, etc. Foi, então, através da prática e da<br />

experiência que eles se <strong>de</strong>senvolveram <strong>em</strong> termos profissionais.<br />

Esse momento crítico na vida do professor marca o seu início <strong>de</strong> carreira, mas, esse<br />

sintoma não se origina apenas na formação acadêmica, pois os <strong>saberes</strong> lá construídos foram<br />

direcionados para a sala <strong>de</strong> aula e por isso não se per<strong>de</strong>rão, no entanto, para utilizar esse saber<br />

o professor precisa examinar seu campo <strong>de</strong> atuação e compreendê-lo, agora sim, po<strong>de</strong>rá utilizar<br />

o saber teórico que foi aprendido na acad<strong>em</strong>ia a<strong>de</strong>quando ao seu meio <strong>de</strong> trabalho e a cada<br />

situação que lhe ocorra. Com a marca do t<strong>em</strong>po na sua profissão o professor vai se<br />

i<strong>de</strong>ntificando com o seu meio <strong>de</strong> trabalho, <strong>de</strong>limitando suas responsabilida<strong>de</strong>s, se distanciando<br />

um pouco do mo<strong>de</strong>lo formal e criando sua própria i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> para agir, <strong>de</strong>limitando o que é<br />

necessário, o que é importante o que faz parte e o que não faz parte dos seus <strong>de</strong>veres como<br />

professor. Essa <strong>de</strong>finição mais precisa do que <strong>de</strong>ve e do que não <strong>de</strong>ve fazer, se constrói com o<br />

t<strong>em</strong>po, o que po<strong>de</strong> transformar o professor <strong>em</strong> um profissional competente, portador <strong>de</strong> ações<br />

b<strong>em</strong> <strong>de</strong>finidas e necessárias que responda com eficiência a sua realida<strong>de</strong> na sala <strong>de</strong> aula.<br />

Portanto esse domínio maior do seu trabalho <strong>em</strong> que torna mais compreensível sua relação com


o aluno e com suas funções é adquirido na evolução da sua carreira, ou seja, do seu t<strong>em</strong>po <strong>em</strong><br />

exercício, (TARDIF, 2003).<br />

Dev<strong>em</strong>os, portanto esclarecer que essa fase crítica do professor perfaz um espaço <strong>de</strong><br />

t<strong>em</strong>po que está entre o primeiro e o sétimo ano <strong>de</strong> trabalho quando o seu perfil profissional vai<br />

se construindo e minimizando o choque com a realida<strong>de</strong> <strong>de</strong> que agora <strong>de</strong>ve fazer parte, não<br />

mais como estudante, mas agora como professor. Portanto, esses primeiros anos são divididos<br />

por Tardif apud Eddy (1971), <strong>em</strong> três fases: a primeira, fase <strong>de</strong> transição cabendo a ela a saída<br />

do i<strong>de</strong>al para o real, <strong>em</strong> que chegando na escola o professor novato <strong>de</strong>scobre que será mãe dos<br />

alunos mal comportados que lá estão, adotando ainda uma posição <strong>de</strong> obediência a<br />

administração que lá se encontra; A segunda fase é marcada pela lei informal que impera na<br />

escola exigindo do professor novato um comportamento <strong>de</strong> novato, ou seja, <strong>de</strong> um observador<br />

e seguidor da ord<strong>em</strong> vigente <strong>de</strong>ntro da escola, on<strong>de</strong> o professor veterano ou experiente,<br />

informa sobre a dinâmica diária da escola s<strong>em</strong> per<strong>de</strong>r sua elevada hierarquia. Finalmente<br />

chegamos a terceira fase, essa marcada pela saída do professor da administração e da sala dos<br />

professores e sua chegada na sala <strong>de</strong> aula, o seu contato primeiro com os alunos, na maioria das<br />

vezes <strong>de</strong>cepcionante, pois a imag<strong>em</strong> do aluno construída pelo professor <strong>de</strong>smorona, ao invés <strong>de</strong><br />

motivados e aptos a apren<strong>de</strong>r<strong>em</strong>, alunos <strong>de</strong>sobedientes, <strong>de</strong>sinteressados e barulhentos. Esse<br />

período segundo Tardif (2003) é consi<strong>de</strong>rado por outros autores como um período <strong>de</strong> <strong>em</strong>oções<br />

fortes, po<strong>de</strong>ndo <strong>de</strong>finir seu perfil profissional e <strong>em</strong> conseqüência sua relação com o trabalho.<br />

Como vimos essa etapa inicial da carreira docente é bastante ativa e é nesta etapa que o<br />

professor realiza sua fase <strong>de</strong> exploração (<strong>de</strong> um a três anos <strong>de</strong> profissão), <strong>em</strong> que conhecendo<br />

esse meio pensa, sente e faz suas escolhas, que po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong> permanência na profissão ou não. A<br />

segunda fase (<strong>de</strong> três a sete anos), é constituída da estabilização do professor <strong>em</strong> que se <strong>de</strong>dica<br />

a seu trabalho e a seus alunos <strong>em</strong> busca <strong>de</strong> mostrar sua capacida<strong>de</strong> e ser aceito pelo grupo<br />

como um profissional competente que correspon<strong>de</strong> aos <strong>de</strong>sejos e necessida<strong>de</strong>s da profissão.<br />

Enfim o professor vai construindo sua competência através da sua história docente.<br />

1.3.2 Saberes <strong>disciplinares</strong><br />

O saber disciplinar aprendido pelo professor t<strong>em</strong> como finalida<strong>de</strong> instruí-lo e<br />

posteriormente ser socializado com seus alunos, quando na situação <strong>de</strong> ensino, cabendo a este<br />

professor ter construído os <strong>saberes</strong> que são inerentes a sua disciplina para que realize um<br />

ensino claro e significativo.


O saber disciplinar que estamos a falar é o saber da <strong>biologia</strong>, recortando como<br />

prioritário o conhecimento do professor, relacionado ao conteúdo fotossíntese, pois como<br />

citamos acima várias são suas implicações <strong>de</strong>vido as reações e os componentes que ele agrega,<br />

exigindo do professor um investimento maior <strong>em</strong> seu conhecimento biológico, químico e<br />

físico.<br />

Assim, para investir <strong>de</strong> forma segura no ensino e na aprendizag<strong>em</strong> da sua disciplina o<br />

professor <strong>de</strong>ve consi<strong>de</strong>rar o nível cognitivo dos alunos, seu meio e qual o nível <strong>de</strong> importância<br />

ele atribui ao ensino e a aprendizag<strong>em</strong> das ciências para que o ensino seja significativo,<br />

(BRASIL, 1998). Essa observação do professor <strong>em</strong> relação ao <strong>de</strong>senvolvimento disciplinar é<br />

bastante significante, pois é a partir <strong>de</strong>la que o professor elabora como vai comunicar o<br />

conteúdo a seu aluno, buscando a compreensão e a clareza do mesmo, realizando um ensino<br />

<strong>em</strong> que seja possível refletir, compreen<strong>de</strong>r e apren<strong>de</strong>r.<br />

Essa compreensão adquirida pelo aluno <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> também da clareza e domínio que o<br />

professor t<strong>em</strong> do conteúdo a ser ensinado, visto que é difícil para o estudante se apropriar da<br />

linguag<strong>em</strong> e dos processos científicos s<strong>em</strong> intervenção do professor.<br />

Um aspecto relevante no ensino da <strong>biologia</strong> hoje, é que o professor <strong>de</strong>ve estar bastante<br />

atento é a contextualização da sua disciplina, não bastando apenas estar <strong>em</strong> dia com os <strong>saberes</strong><br />

da sua disciplina, mas as interações com os fenômenos e com o contexto cultural atual e<br />

passado, pois esses conhecimentos não <strong>de</strong>v<strong>em</strong> estar ausentes do repertório intelectual do<br />

professor, para que não se torne um probl<strong>em</strong>a <strong>de</strong> aprendizag<strong>em</strong> e para que o aluno não tenha<br />

uma postura fragmentada diante do mundo. É importante que o professor tenha claro que o<br />

ensino <strong>de</strong> Biologia ou das Ciências Naturais não se resume na apresentação <strong>de</strong> <strong>de</strong>finições<br />

científicas, mas um estudo para a compreensão do meio, (BRASIL, 1998).


2 CONCEITO DE FOTOSSíNTESE<br />

2.1 A evolução epist<strong>em</strong>ológica do conceito <strong>de</strong> fotossíntese<br />

A história do conceito <strong>de</strong> fotossíntese, segundo os naturalistas do século XVII,<br />

propunha que as plantas se alimentavam da igualmente os animais retirando seu alimento do<br />

ambiente externo. Diante <strong>de</strong>sta confissão pensamos que o hom<strong>em</strong> nesta época não imaginava<br />

que a massa das plantas fosse constituída <strong>de</strong> algo gasoso, ou seja, do ar. Mas nessa mesma<br />

época o médico belga Jan Baptista Van Helmont (1644), a partir <strong>de</strong> experiências feitas com um<br />

salgueiro <strong>em</strong> um pote, on<strong>de</strong> ele adicionou apenas água, durante cinco anos, mostrou que a<br />

planta chegou a pesar 82 quilos e, da argila do pote só foram consumidas 3 gramas. Com base<br />

nesse experimento Helmont concluiu que a matéria da planta se originava da água e não do<br />

solo, (ALMEIDA, 2005, p. 3-4).<br />

No século XVIII, um outro cientista mostrou que a matéria das plantas provinha <strong>de</strong><br />

outra fonte, que foi a queima <strong>de</strong> gases. O achado que se relacionou com o processo<br />

fotossintético foi <strong>de</strong>scoberto aci<strong>de</strong>ntalmente pelo químico inglês Joseph Priestley, realizou um<br />

experimento com uma folha <strong>de</strong> hortelã, exposta aos gases liberados por uma vela <strong>em</strong> chamas,<br />

observaram após <strong>de</strong>z dias que o ar estava novamente pronto para receber outra vela <strong>em</strong><br />

chamas. Para verificação da restauração do ar puro Priestley expôs um camundongo a esse<br />

mesmo meio, que não foi prejudicial ao mesmo. Daí certificou-se que o vegetal é necessário<br />

para a perenida<strong>de</strong> da vida por possuir a proprieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> renovação do ar, <strong>em</strong> ar puro<br />

(ALMEIDA, 2005).<br />

A fotossíntese continuou a ser objeto <strong>de</strong> estudo dos cientistas. Entre 1730 e 1799 o<br />

médico holandês Jan Ingenhousz realizou <strong>de</strong>scobertas relevantes <strong>em</strong> relação a esse processo,<br />

<strong>de</strong>scobrira que, a luz é o el<strong>em</strong>ento que proporciona a purificação do ar, cuja purificação não se<br />

realizava no escuro, pois no escuro as plantas exalavam um ar prejudicial aos animais.<br />

Descobrira também que a purificação do ar é uma proprieda<strong>de</strong> inerente às partes ver<strong>de</strong>s das<br />

plantas e que a luz do sol não possui a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> realizar essa purificação sozinha. V<strong>em</strong>os<br />

que a partir <strong>de</strong>sta <strong>de</strong>scoberta a compreensão <strong>de</strong>ste processo se clarificou caminhando para uma<br />

evolução mais completa (ALMEIDA, 2005). Entretanto <strong>de</strong>v<strong>em</strong>os levar <strong>em</strong> consi<strong>de</strong>ração o que<br />

diz Bachelard (1998. p. 17) <strong>em</strong> relação aos processos <strong>de</strong> <strong>de</strong>scoberta e verda<strong>de</strong>s dos fatos:<br />

O conhecimento do real é a luz que s<strong>em</strong>pre projeta algumas sombras.<br />

Nunca é imediato e pleno. As revelações do real são recorrentes. O<br />

real nunca é o que se po<strong>de</strong>ria achar, mas é s<strong>em</strong>pre o que se <strong>de</strong>veria ser


pensado. O pensamento <strong>em</strong>pírico torna-se claro <strong>de</strong>pois, quando o<br />

conjunto <strong>de</strong> argumentos fica estabelecido.<br />

Lavoisier e o mat<strong>em</strong>ático Laplace provaram que a combustão <strong>de</strong> compostos <strong>de</strong> carbono<br />

com oxigênio, a dióxido <strong>de</strong> carbono e água, era a fonte autêntica do calor realizada através da<br />

respiração. O médico holandês Jan Ingenhousz valorizando as idéias <strong>de</strong> Lavoisier, diz que as<br />

plantas não faz<strong>em</strong> uma troca simples <strong>de</strong> gases, mas que, quando expostas a luz absorve o<br />

carbono do dióxido <strong>de</strong> carbono se <strong>de</strong>sfazendo do oxigênio e retendo o carbono como fonte <strong>de</strong><br />

energia, processo confirmado também por Saussure (1767-1845), como mostra Almeida (2005,<br />

p. 05):<br />

Nicholas Theodore <strong>de</strong> Saussure (1767-1845), aplicando os<br />

princípios <strong>de</strong> medidas quantitativas <strong>de</strong> Lavoisier, mostrou<br />

que os volumes <strong>de</strong> CO2 e <strong>de</strong> O2 são trocados durante a<br />

fotossíntese, corroborando a hipótese <strong>de</strong> que a planta retém<br />

carbono.<br />

Saussure (1767-1845), mostrou também que o carbono retido no processo <strong>de</strong><br />

fotossíntese não correspon<strong>de</strong> ao ganho <strong>de</strong> peso da planta, daí uma outra constatação <strong>de</strong> que a<br />

matéria das plantas provém também <strong>de</strong> outros el<strong>em</strong>entos provenientes da água (H2 O),<br />

<strong>de</strong>scoberta que oportunizou a equação da fotossíntese: CO2 + H2O Luz→ (CH2O) + O2<br />

(ALMEIDA, 2005).<br />

Notificou-se que por mais <strong>de</strong> c<strong>em</strong> anos afirmava-se que a molécula <strong>de</strong> oxigênio<br />

produzida na fotossíntese provinha do dióxido do carbono. Parece-nos que o uso <strong>de</strong> uma<br />

mesma verda<strong>de</strong> por muitos anos a absolutisa, nos parecendo clara, como ressalta Bachelard<br />

(1998, p. 19): “Nosso espírito t<strong>em</strong> a tendência irresistível <strong>de</strong> consi<strong>de</strong>rar como mais clara a idéia<br />

que costuma utilizar com freqüência”.<br />

Outras investigações se suce<strong>de</strong>ram <strong>em</strong> relação à fotossíntese. O cientista Van Niel <strong>em</strong><br />

1931, investigou a fotossíntese a partir <strong>de</strong> bactérias fotossintetizantes e constatou que a bactéria<br />

sulfurosa t<strong>em</strong> sua produção <strong>de</strong> carboidratos a partir do dióxido <strong>de</strong> carbono e produz<strong>em</strong><br />

glóbulos <strong>de</strong> enxofre, representados na equação: CO2 + 2H2S →luz→ (CH2O) + H2O + 2S.<br />

Almeida (2005, p. 06):<br />

Van Niel prosseguiu com suas pesquisas constatando que, nas algas fotossintetizantes e<br />

plantas ver<strong>de</strong>s altas, o oxigênio liberado provinha da água e não do dióxido <strong>de</strong> carbono,<br />

formulando a seguinte equação, <strong>em</strong> que o H2A, se refere a uma substância oxidável qualquer.<br />

CO2 + 2H2A →Luz→ (CH2O) + H2O + 2A. O el<strong>em</strong>ento H2A nas algas fotossintetizantes e<br />

plantas ver<strong>de</strong>s correspond<strong>em</strong> à água.


A produção <strong>de</strong> oxigênio na ausência do gás carbônico, foi observada por Robin Hill <strong>em</strong><br />

1937, a partir <strong>de</strong> experimentos com cloroplastos. Experiências com o isótopo mais pesados do<br />

oxigênio ( 18 O2) <strong>em</strong> 1941, afirmaram os testes <strong>de</strong> Van Niel. O experimento se <strong>de</strong>u com dois<br />

grupos <strong>de</strong> plantas da seguinte forma: um grupo foi abastecida com água contendo o isótopo do<br />

oxigênio pesado e com o dióxido do carbono contendo apenas o isótopo do oxigênio comum<br />

(H2 18 O2 CO2). O outro grupo <strong>de</strong> planta foi abastecida com dióxido <strong>de</strong> carbono contendo o<br />

isótopo do oxigênio pesado e com água contendo somente o isótopo <strong>de</strong> oxigênio comum (H2<br />

C 18 O2). Ao fim do experimento constatou-se que apenas o primeiro grupo liberou o oxigênio<br />

com isótopo do oxigênio pesado ( 18 O2). Portanto, configurou-se que o oxigênio produzido na<br />

fotossíntese provém da água.<br />

Essa <strong>de</strong>scoberta resultou na seguinte equação:<br />

Energia luminosa (luz)<br />

6CO2 + 12H2O C6H12O6 + 6H2O + 6O2.<br />

Clorofila e enzima<br />

Des<strong>de</strong> meados do século XX, o conceito geral da fotossíntese não sofre mais alteração.<br />

Pesquisas e <strong>de</strong>scobertas continuaram a ter evolução, na incansável busca da multiplicida<strong>de</strong>,<br />

“não procura a variação, mas sim a varieda<strong>de</strong>” (BACHELAR, 1998, p. 38). Busca captar a<br />

estrutura interna e compreen<strong>de</strong>r como acontece as várias reações químicas <strong>de</strong>ste fenômeno, que<br />

se veste <strong>de</strong> um processo com muito el<strong>em</strong>entos e partes. Ele é altamente complexo, com muitas<br />

sutilezas e variações <strong>de</strong>licadas (ALMEIDA, 2005, p. 07).<br />

2.1.1 Explicando o processo <strong>de</strong> fotossíntese<br />

A fotossíntese é um processo que acontece no sist<strong>em</strong>a ecológico, on<strong>de</strong> as plantas,<br />

alguns protistas, algas, bactérias ver<strong>de</strong>s, bactérias púpuras e cianobactérias se utilizam da luz<br />

do sol, da água e do óxido <strong>de</strong> carbono para produzir<strong>em</strong> carboidratos e oxigênio. Este processo<br />

ocorre <strong>em</strong> duas etapas <strong>de</strong>nominadas fase clara e fase escura, e envolve mais ou menos oito<br />

compostos: a clorofila; o complexo b6f; o fotossist<strong>em</strong>a I (PSI); o fotossist<strong>em</strong>a II (PSll);<br />

ferredoxina (fd); NADPH; NADPH + ; plastocianina; quinonas (complexo Q Rubisco); e t<strong>em</strong><br />

como função principal a produção <strong>de</strong> energia. A energia produzida é utilizada pela célula sob a<br />

forma <strong>de</strong> ATP(a<strong>de</strong>nosina trifosfato). Na fase clara se realiza a síntese <strong>de</strong> ATP e formação do


NADPH, na m<strong>em</strong>brana tilacói<strong>de</strong> do cloroplasto. Na fase escura os compostos sintetizados na<br />

fase clara, são utilizados na fixação do oxigênio CO2, ocorrida no estroma do cloroplasto.<br />

A realização do processo <strong>de</strong> fotossíntese <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> da luz, a qual é capitada do ambiente<br />

por pigmentos-antena, que são: as clorofilas e os carotenos que transfer<strong>em</strong> a energia captada<br />

excitando diretamente um outro pigmento.<br />

As moléculas <strong>de</strong> clorofila são centros <strong>de</strong> reação que transfer<strong>em</strong> a energia captada<br />

<strong>em</strong>itindo um elétron. O processo <strong>de</strong> <strong>em</strong>issão e transferência <strong>de</strong> elétron é novamente ativado<br />

quando as moléculas oxidadas (doação <strong>de</strong> elétrons) for<strong>em</strong> novamente reduzidas (recebimento<br />

elétrons). A oxidação e redução das moléculas acontece a partir da absorção da luz, ou seja da<br />

radiação eletromagnética que <strong>em</strong>ite um fluxo <strong>de</strong> partículas ou raios <strong>em</strong> alta velocida<strong>de</strong>,<br />

<strong>de</strong>nominados fótons. A luz absorvida pela clorofila e os carotenos excita a molécula que sai do<br />

seu estado fundamental para o estado excitado, estado que é instável. A molécula volta a seu<br />

estado fundamental eliminando a energia pelo processo <strong>de</strong> energia <strong>de</strong> excitação, passando a<br />

energia a moléculas posteriores até o centro <strong>de</strong> reação. Após esse processo as moléculas<br />

específicas do fotossist<strong>em</strong>a I se excitam diminuindo seu potencial <strong>de</strong> redução. Estas moléculas<br />

eliminam um elétron, que é transferido para o NADPH + ou para o fotossist<strong>em</strong>a I (FSI). Nesta<br />

etapa o FSI, excitado pela luz, transfere elétrons para o NADP + . O produto da transferência é o<br />

NADPH. O PSI fica s<strong>em</strong> elétrons para uma nova transferência. Após esse processo é<br />

necessário mais uma carga <strong>de</strong> elétrons para que o PSI fique no seu estado inicial. O PSI<br />

receberá um novo elétron do fotossist<strong>em</strong>a II (PSII), como mostra o esqu<strong>em</strong>a abaixo.<br />

Esqu<strong>em</strong>a da<br />

formação do NADPH<br />

Figura 1 – Esqu<strong>em</strong>a da formação do NADPH<br />

NADPH NADPH<br />

Redutase<br />

Figura 2 - Esqu<strong>em</strong>a <strong>de</strong> redução do fotossist<strong>em</strong>a I<br />

é<br />

Fd<br />

NADP + NADP +<br />

H + H +<br />

Estroma<br />

Tilacói<strong>de</strong>


PSII<br />

Complexo<br />

Q<br />

Como vimos, o PSII é o doador <strong>de</strong> elétrons ao PSI, e, como conseqüência fica oxidado,<br />

s<strong>em</strong> possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> <strong>em</strong>itir novamente um outro elétron. Esse estado do PSII só é modificado<br />

quando recebe elétrons originários da água, tornando-o reduzido e <strong>de</strong> novo funcional. Os<br />

elétrons doados da água se originam da quebra das suas moléculas que resultam <strong>em</strong> íons H + ,<br />

elétrons e oxigênio. A molécula <strong>de</strong> NADP, captura os íons hidrogênio e os elétrons da<br />

fosforilação acíclica formando o NADPH2. A clorofila P680 do PSII recebe os elétrons livres e<br />

torna-se novamente funcional. O gás oxigênio é liberado para o ambiente como subproduto da<br />

fotossíntese. (internet 29-05).<br />

H2O H2O<br />

Figura 3 - Esqu<strong>em</strong>a da oxidação da H2O<br />

PSII<br />

Complexo<br />

<strong>de</strong><br />

citocromo<br />

Pc<br />

é<br />

H + H + H +<br />

H +<br />

O transporte <strong>de</strong> elétrons acontece através <strong>de</strong> uma seqüência <strong>de</strong> aceptores presentes no<br />

fotossist<strong>em</strong>a I e II, e é esse suprimento que torna possível a conclusão do processo <strong>de</strong><br />

fotossíntese. No fotossist<strong>em</strong>a I, se realiza a fotofosforilação cíclica <strong>em</strong> que o NADPH é<br />

receptor final da molécula <strong>de</strong> água. No fotossist<strong>em</strong>a II, realiza-se a fosforilação acíclica on<strong>de</strong><br />

O 2<br />

PSI<br />

Estroma<br />

Tilacói<strong>de</strong><br />

Estroma<br />

Tilacói<strong>de</strong>


os elétrons liberados durante a fotólise da água, são capturados pelos receptores do<br />

fotossist<strong>em</strong>a II e não retornam a água, mas chegam até o NADP. Como mostra o esqu<strong>em</strong>a<br />

(FONSECA, 2005: p. 75):<br />

Luz<br />

Figura 4 - Esqu<strong>em</strong>a da etapa fotoquímica da fotossíntese<br />

Ferredoxina<br />

Fotossist<strong>em</strong>a I<br />

Clorofila a > clorofila b<br />

Assim, <strong>de</strong> acordo com o esqu<strong>em</strong>a vimos que, a energia luminosa é absorvida pelas<br />

clorofilas a e b, transformando-se <strong>em</strong> energia química através da transferência <strong>de</strong> elétrons aos<br />

compostos aceptores. Assim a clorofila se oxida e o composto aceptor <strong>de</strong> elétrons se reduz. Os<br />

fotossist<strong>em</strong>as I e II são interligados pelas proteínas, plastoquinonas, citocromos, plastocianina,<br />

ferredoxina e NADP. A água fotooxidada libera 2e¯ para a clorofila completando sua<br />

configuração eletrônica. O fotossist<strong>em</strong>a I realiza a redução do NADP <strong>em</strong> NADPH2. O<br />

fotossist<strong>em</strong>a II é responsável pela liberação do oxigênio (O2). A<br />

incidência da luz no fotossist<strong>em</strong>a II, libera elétrons da clorofila b, que através dos aceptores<br />

(plastoquinonas, citocromos f, plastocianina), chegam ao fotossist<strong>em</strong>a I. Chegando nesse<br />

fotossist<strong>em</strong>a passam pela ferredoxina até o NADP. O NADP recebe cátions oriundos da<br />

fotólise da água dando orig<strong>em</strong> ao NADPH2. Os elétrons perdidos no fotossist<strong>em</strong>a II, são<br />

repostos pela fotólise da água.<br />

NADP<br />

2e¯<br />

Fotofosforilação<br />

ADP + Pi<br />

2e¯<br />

Plastocianina<br />

Plastoquinona<br />

Citocromo b e f<br />

Fotólise<br />

NADPH2<br />

H2O ½ O2 + 2e– + 2H +<br />

Fotossist<strong>em</strong>a II<br />

Clorofila a <<br />

clorofila b<br />

Portanto, a etapa fotoquímica da fotossíntese realiza três importantes ações: sítese <strong>de</strong><br />

ATP, síntese <strong>de</strong> NADPH2 e a liberação do O2, pela fotólise da água. Esse processo po<strong>de</strong> ser<br />

2e¯<br />

2e¯<br />

2H<br />

Luz


observado no esqu<strong>em</strong>a Z, que t<strong>em</strong> a proprieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> posicionar os componentes participantes <strong>de</strong><br />

acordo com o valor do potencial <strong>de</strong> redução. A síntese <strong>de</strong> energia realizada através da luz solar<br />

é bastante <strong>de</strong>talhada, se constituindo <strong>de</strong> um conjunto <strong>de</strong> el<strong>em</strong>entos e circunstâncias, todos inter-<br />

relacionados. A sua ocorrência se faz pela captura da luz solar através dos cloroplastos, por<br />

pigmentos <strong>de</strong> clorofilas que absorve os pacotes <strong>de</strong> luz ou fótons. Quando os pigmentos<br />

receb<strong>em</strong> luz os elétrons se excitam e os orbitais são <strong>de</strong>slocados para outros mais distantes do<br />

núcleo do átomo. A molécula <strong>de</strong> clorofila ativada per<strong>de</strong> elétrons, que são capturados pelos<br />

receptores e transferidos a outros receptores até per<strong>de</strong>r<strong>em</strong> toda carga elétrica e voltar<strong>em</strong> para a<br />

clorofila.<br />

Figura 5 – Estrutura do cloroplasto<br />

Fonte: www.botanica.cnba.uba.ar/.../image004.jpg<br />

Figura 6 – Esqu<strong>em</strong>a da Fotofosforilação acíclica (o caminho dos elétrons)


Fonte: www.ualr.edu/botany/thylakoidm<strong>em</strong>brane.gif<br />

O esqu<strong>em</strong>a acima nos apresenta a transferência <strong>de</strong> elétron <strong>de</strong> um composto a outro.<br />

Para que essa transferência se realize <strong>de</strong> um composto A para um composto B, ambos <strong>de</strong>v<strong>em</strong><br />

apresentar potenciais <strong>de</strong> redução na seguinte situação: Eº' A < Eº' B, ou seja os potenciais <strong>de</strong> A<br />

<strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser menores que os potenciais <strong>de</strong> B. Os compostos envolvidos na transferência <strong>de</strong><br />

elétrons t<strong>em</strong> seus potenciais <strong>de</strong> redução s<strong>em</strong>pre crescentes. O P700 apresenta uma<br />

particularida<strong>de</strong>, o seu potencial <strong>de</strong> redução no escuro é maior do que o NADPH + ,<br />

impossibilitando a transferência <strong>de</strong> elétrons para o NADPH + . Entre todos os compostos<br />

envolvidos nas transferências o <strong>de</strong> menor afinida<strong>de</strong> para a ativida<strong>de</strong> é a água (H2O). Como já<br />

verificamos todo esse processo é <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ado pela incidência da luz, e essa incidência resulta<br />

na diminuição do potencial <strong>de</strong> redução e <strong>em</strong> uma maior grau <strong>de</strong> potência dos redutores. O<br />

estímulo luminoso é um fato que envolve o P700 e o P680, quando o estímulo recai sobre o<br />

P700, oxida o P680 e doa elétrons para o NADPH + , que fica reduzido ao NADPH. Ainda com<br />

a incidência da luz, ocorre a fotólise da água que é oxidada pelo P680, havendo assim, a<br />

liberação do O2 e <strong>de</strong> elétrons que são utilizados na síntese <strong>de</strong> NADPH2.


A síntese ou formação do NADPH e do O2, acontece juntamente com o transporte <strong>de</strong><br />

elétron que usam como caminho os componentes da ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> compostos presentes na<br />

m<strong>em</strong>brana. Os prótons são bombeados do estroma para o lúmen do tilacói<strong>de</strong>. Esse processo<br />

t<strong>em</strong> como resultado a formação <strong>de</strong> um gradiente <strong>de</strong> prótons. As relações <strong>de</strong> calor e <strong>de</strong><br />

movimento da m<strong>em</strong>brana possibilita o equilíbrio da concentração <strong>de</strong> H + dos seus dois lados. O<br />

H + não flui para o lado exterior da m<strong>em</strong>brana do tilacói<strong>de</strong>, porque se apresenta impermeável ao<br />

mesmo. Esses prótons só flu<strong>em</strong> fora do interior do tilacói<strong>de</strong> para o estroma <strong>em</strong> regiões<br />

específicas, on<strong>de</strong> estão preenchidas com o complexo ATP sintase, enzima que estimula a<br />

síntese do ATP.<br />

Figura 7 – Síntese do ATP<br />

H2O H2O<br />

Para tanto, já se colocou que a fotossíntese se divi<strong>de</strong> <strong>em</strong> duas fases <strong>de</strong> acontecimentos,<br />

que se dispõe <strong>em</strong> fase clara e fase escura. A fase escura t<strong>em</strong> como função fixar o CO2<br />

atmosférico <strong>em</strong> compostos orgânicos, essa fixação só se configura com os produtos da fase<br />

clara, o NADP e o ATP, percebe-se então que as duas fases são <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> uma<br />

comunicação <strong>de</strong> suas moléculas para que se complete o processo ou se constitua o composto<br />

necessário ou específico do processo.<br />

NADP + NADP +<br />

A fase escura ou fase química da fotossíntese é puramente enzimática, caracterizada<br />

pelas reações do ciclo <strong>de</strong> Calvin ou reação <strong>de</strong> Blackman. Toda esta ativida<strong>de</strong> catalisadora<br />

acontece no estroma. O estroma é i<strong>de</strong>ntificado como uma massa amorfa e envolv<strong>em</strong> os<br />

tilacói<strong>de</strong>s, organelas que t<strong>em</strong> formato discói<strong>de</strong>. A incorporação do CO2 se dar por um<br />

composto <strong>de</strong> cinco carbonos (pentose-ribulose-difosfato (RuDP)), a reação origina um


composto instável com seis carbonos, que não t<strong>em</strong> permanência e <strong>de</strong>vido a esta característica,<br />

dar orig<strong>em</strong> imediata a duas moléculas <strong>de</strong> fosfoglicerato ou ácido fosfoglicérico(PGA),<br />

constituídas por três carbonos cada molécula. O ATP e o NADPH provenientes da fase<br />

luminosa, reag<strong>em</strong> com as duas moléculas, reação <strong>em</strong> que o ATP fosforiliza as duas moléculas e<br />

após são reduzidas pelo NADPH. A utilização da molécula <strong>de</strong> PGAL se dar na seguinte ord<strong>em</strong><br />

: <strong>de</strong>z moléculas para regenerar a ribulose( após a fosforilização <strong>de</strong> seis ATPs, o ciclo volta ao<br />

início), e duas moléculas para sintetizar compostos orgânicos como a glicose, a sacarose e o<br />

amido. Nesta fase o fenômeno mais importante é a t<strong>em</strong>peratura e não mais a luz. Esta etapa<br />

<strong>de</strong>pen<strong>de</strong> da fase luminosa, mesmo não <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo diretamente da incidência da luz, pois<br />

necessita do hidrogênio e da energia contida no ATP. A energia do ATP é <strong>em</strong>pregada na<br />

redução do CO2 pelo NADPH2. Utiliza-se ainda o gás carbônico proveniente do ambiente.<br />

Dessa redução origina-se o açúcar (FONSECA, 2005):<br />

NADPH2<br />

CO2 C6H12O6<br />

ATP<br />

A formação <strong>de</strong>sses compostos v<strong>em</strong> justificar ou provar as trocas metabólicas realizadas<br />

pela fotossíntese. Para que se forme uma <strong>de</strong>ssas moléculas como por ex<strong>em</strong>plo, a glicose é<br />

necessário que este ciclo se repita por seis vezes, pois para cada molécula <strong>de</strong> glicose fabricada<br />

há um défice <strong>de</strong> seis molécula <strong>de</strong> CO2 ( uma por cada ciclo), <strong>de</strong>zoito <strong>de</strong> ATP(três por cada<br />

ciclo) e doze <strong>de</strong> NADPH(duas por cada ciclo).<br />

Os pigmentos fotossintetizantes nas plantas não são apenas a clorofila (ver<strong>de</strong>), mais a<br />

xantofila (amarela) e o caroteno (avermelhado). Os foto <strong>de</strong> luz recebidos pelas plantas, sob as<br />

cores violeta, azul e vermelho, vão <strong>de</strong> 400 a 700 nm (namômetro), refletindo a cor ver<strong>de</strong>, fato<br />

que justifica a cor ver<strong>de</strong> das folhas.<br />

Figura 8 – Comprimentos <strong>de</strong> onda <strong>em</strong> namômetros


Fonte: www.efn.uncor.edu/.../intrbiol/espectro.gif<br />

A importância do estudo <strong>de</strong>sse processo se dá quando <strong>de</strong>le <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> o <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penho das<br />

funções dos sist<strong>em</strong>as biológicos pela produção <strong>de</strong> energia através da luz solar, contida na<br />

molécula <strong>de</strong> ATP, fonte primária <strong>de</strong> energia necessária a todos os organismos. O estudo da<br />

fotossíntese, nos mostra os diferentes caminhos bioquímicos seguidos por diferentes espécies<br />

<strong>de</strong> plantas. Portanto o ensino <strong>de</strong>ste conceito não po<strong>de</strong> ser simplificado como se fosse um<br />

mo<strong>de</strong>lo único <strong>de</strong> reações químicas realizado por todos os vegetais existentes. É um processo<br />

que t<strong>em</strong> o papel singular <strong>de</strong> perpetuar o ciclo <strong>de</strong> vida na terra através o fluxo contínuo <strong>de</strong><br />

energia oriunda do sol, mas que não se realiza <strong>de</strong> forma simples, <strong>de</strong>vendo ser levado <strong>em</strong> conta<br />

o meio e os tipos <strong>de</strong> vegetais que o realiza, para que aconteça <strong>de</strong> fato uma compreensão<br />

coerente do conceito. É se apegando a verda<strong>de</strong> do conceito científico como base, que o<br />

professor <strong>em</strong> sala <strong>de</strong> aula <strong>de</strong>ve abrir um espaço <strong>de</strong> argumentação, buscando atualizar suas<br />

práticas pedagógicas facilitando <strong>de</strong>ssa forma a veiculação <strong>de</strong>sse conceito, (OLIVEIRA, 2001,<br />

p.19).


2.2 Implicações do Conceito <strong>de</strong> Fotossíntese para o ensino<br />

Começamos aqui por <strong>de</strong>finir o ensino como uma ativida<strong>de</strong> complexa, requerendo do<br />

professor várias ativida<strong>de</strong>s entrelaçadas <strong>de</strong>vendo ser competente para realizá-las <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um<br />

t<strong>em</strong>po e espaço específico, na presença dos seus alunos e do conteúdo a ser ensinado. Cujo<br />

ensino <strong>de</strong>ve ser realizado através <strong>de</strong> tarefas ou técnicas com o uso <strong>de</strong> recursos que garantam a<br />

aprendizag<strong>em</strong> <strong>de</strong>sses alunos através <strong>de</strong> uma apresentação <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> <strong>em</strong> que a recepção do<br />

conteúdo pelos alunos possa ser clara, objetiva e completa.<br />

Como já foi anunciado acima estamos falando do ensino das ciências naturais,<br />

priorizando o conteúdo <strong>de</strong> fotossíntese para olhar como esse conceito é ensinado e quais as<br />

dificulda<strong>de</strong>s atreladas ao ensino do mesmo, oralizado por pesquisadores e professores da área<br />

da Biologia. Pois a fotossíntese se concretiza através <strong>de</strong> processo biológico, que acontece<br />

<strong>de</strong>ntro da célula, estando presentes também os processos físicos, como os comprimentos <strong>de</strong><br />

onda, e químicos como a transformação <strong>de</strong> substâncias inorgânicas <strong>em</strong> orgânicas.<br />

Em vista disso, pod<strong>em</strong>os apresentar algumas relutâncias que se processam durante o<br />

ensino do conceito mencionado acima. Esse conceito científico como outros, sofre a imposição<br />

da receita do ensino escolar, <strong>em</strong> que professores são orientados a usar uma linguag<strong>em</strong><br />

diferente, não adotando a linguag<strong>em</strong> científica que é feita através <strong>de</strong> códigos e requer um nível<br />

elevado <strong>de</strong> compreensão. Assim, o professor <strong>de</strong>ve usar uma linguag<strong>em</strong> que “facilite” a<br />

compreensão do aluno. O <strong>de</strong>sapego ou o distanciamento <strong>de</strong>ssa linguag<strong>em</strong> po<strong>de</strong> resultar <strong>em</strong> um<br />

processo contrário dificultando o processo <strong>de</strong> ensino, já que o professor <strong>de</strong>verá dispor <strong>de</strong> mais<br />

esforços para rever o conceito junto a turma. Dessa forma, o docente <strong>de</strong>ve elaborar uma<br />

interpretação a<strong>de</strong>quada do conteúdo para que essa conseqüência citada antes não aconteça, o<br />

que <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma formação profissional e científica <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> como fala Pais (2002, p.<br />

23):<br />

Assim, é preciso s<strong>em</strong>pre estar atento à eficiência <strong>de</strong> uma interpretação pedagógica, o<br />

que <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> fort<strong>em</strong>ente da consciência <strong>de</strong> qu<strong>em</strong> analisa o fenômeno. Em suma é<br />

necessário o exercício <strong>de</strong> uma vigilância didática. Esta é uma das atribuições do<br />

trabalho docente, que <strong>de</strong>ve estar ancorado tanto nos <strong>saberes</strong> científicos como <strong>em</strong> uma<br />

concepção educacional.<br />

A prepon<strong>de</strong>rância nos aspectos representacionais do conceito <strong>de</strong> fotossíntese, como os<br />

termos “troca <strong>de</strong> gases”, a troca do CO2 pelo O2 , ou ainda, o processo realizado pelas plantas,<br />

se perpetua, instalando uma resistência ao conceito que <strong>de</strong>verá ser apresentado pelo professor,<br />

constituído <strong>de</strong> “novos el<strong>em</strong>entos”, ou seja, os el<strong>em</strong>entos que ainda não foram conhecidos pelos<br />

alunos, mas já reconhecido cientificamente. Portanto, é visto pela oralização <strong>de</strong>sses termos


gerais acima, ditos pelos alunos, como se foss<strong>em</strong> palavras suficientes para explicar o conceito<br />

com o seu conjunto <strong>de</strong> <strong>de</strong>talhes. Essa simplificação que t<strong>em</strong> orig<strong>em</strong> <strong>em</strong> um estudo mais<br />

preliminar vividos pelos discentes se transforma <strong>em</strong> um impedimento ao novo formato do<br />

conceito apresentado, que <strong>de</strong>ve ser aprendido pelos alunos, dando assim permissão para que o<br />

conceito geral e vago, compreendido por eles na aprendizag<strong>em</strong> anterior, permaneça imóvel,<br />

como afirma Bachelard (1996, p. 71):<br />

Entretanto, essa forma geral b<strong>em</strong> constituída po<strong>de</strong> entravar o pensamento. De fato,<br />

no ensino el<strong>em</strong>entar, essa lei é o estágio no qual estancam os espíritos <strong>de</strong> pouco<br />

fôlego. A lei é tão clara, tão completa, tão fechada, que não se sente necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

estudar mais <strong>de</strong> perto o fenômeno.<br />

Outra implicação referente ao ensino da <strong>biologia</strong>, o que inclui o conteúdo fotossíntese é<br />

o tipo <strong>de</strong> aula dada com maior freqüência nas escolas. Pois, caracterizam-se <strong>em</strong> sua maioria<br />

pela aula expositiva, <strong>em</strong> que o professor discursa e o aluno escuta, s<strong>em</strong> ter oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

questionar e colocar algo que não ficou compreendido. Assim, há uma imposição da fala do<br />

professor como recurso prioritário na aula, sendo possível apenas receber a informação <strong>de</strong><br />

maneira oral, s<strong>em</strong> enxergar n<strong>em</strong> manusear os el<strong>em</strong>entos, afim, <strong>de</strong> conhecer o processo através<br />

das observações, das d<strong>em</strong>onstrações, das <strong>aulas</strong> práticas ou das simulações. Esse tipo <strong>de</strong> aula<br />

realizado por muitos professores po<strong>de</strong> omitir el<strong>em</strong>entos e reações que faz<strong>em</strong> parte <strong>de</strong>sse<br />

conceito contribuindo para a imprecisão do mesmo, pois o conteúdo biológico que se processa<br />

caracteriza-se por muitas organelas celulares, reações químicas originando e liberando<br />

substâncias, da qual <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> a vida no planeta, daí provém um dos seus significados para<br />

ser<strong>em</strong> aprendidos. Como os conteúdos biológicos s<strong>em</strong>pre apresentam uma certa complexida<strong>de</strong><br />

conceitual é pertinente que o professor realize seu ensino com a inclusão da observação, s<strong>em</strong><br />

economia do seu discurso e da discussão <strong>em</strong> sala, como propõe Cachapuz, et al. (2005, p. 83):<br />

A complexida<strong>de</strong> conceptual dos el<strong>em</strong>entos observacionais <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> dos próprios<br />

níveis <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento dos alunos, pois o quadro teórico a mobilizar é <strong>de</strong> grau <strong>de</strong><br />

complexida<strong>de</strong> variável. Importa, porém, chamar a atenção dos professores para que<br />

não se po<strong>de</strong> fazer rejeição da observação, ou mesmo a sua economia, quando se<br />

tratam assuntos <strong>de</strong> alguma complexida<strong>de</strong>, já que é a partir <strong>de</strong>sta que se está <strong>em</strong><br />

condições <strong>de</strong> lutar contra muitas das idéias que os alunos já possu<strong>em</strong>. O que é mau é<br />

ficar nela!<br />

As implicações no ensino da fotossíntese não cessam na questão acima mencionada.<br />

Pod<strong>em</strong>os então adicionar a implicação relativa ao tipo <strong>de</strong> linguag<strong>em</strong> com que é mencionado o<br />

conceito e as suas reações constituintes. A linguag<strong>em</strong> que ora venha a ser usada pelo professor<br />

<strong>de</strong>ve colocar <strong>em</strong> evidência uma comunicação clara e analítica do t<strong>em</strong>a a ser estudado, pois, a


exposição realizada pelo professor <strong>de</strong>ve ser rigorosa no uso dos termos científicos, sabendo<br />

que é a partir da sua exposição oral que o aluno começa a enten<strong>de</strong>r e a m<strong>em</strong>orizar o conteúdo.<br />

É a partir <strong>de</strong>sse contato que o professor po<strong>de</strong> usar o seu ensino para ajudar o aluno a construir<br />

um novo saber e fará isto através da palavra que mencionar e <strong>de</strong>ssa forma oportunizará a<br />

abstração estará presente e para se certificar da convergência do raciocínio do aluno com o seu<br />

ele po<strong>de</strong>rá introduzir uma imag<strong>em</strong> que reforçará a palavra dita, não <strong>de</strong>vendo ter se distanciado<br />

com conhecimento científico, pois a linguag<strong>em</strong> usada <strong>de</strong>verá apresentar rigor, portanto na<br />

apresentação do conceito científico o professor não <strong>de</strong>ve proferir palavras que ger<strong>em</strong> um<br />

sentido errôneo, mas falar s<strong>em</strong> metáfora, pois no dizer <strong>de</strong> Bachelard (1996), elas seduz<strong>em</strong> a<br />

razão.<br />

S<strong>em</strong>elhante a outros conceitos da <strong>biologia</strong> o processo <strong>de</strong> fotossíntese quando<br />

apresentado pelo professor sofre alterações <strong>de</strong> acordo com o pensamento e <strong>de</strong>senvolvimento<br />

intelectual po<strong>de</strong>ndo estas representação ser<strong>em</strong> aceitas ou não <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo da sua aproximação<br />

do conceito. Em vista disso o que po<strong>de</strong> tornar legítima essas representações são as ilustrações<br />

que fará a aproximação do conceito, abstraído pelo aluno. Essa forma <strong>de</strong> apresentar o conceito<br />

torna-se muitas vezes para o professor um probl<strong>em</strong>a, pois não dispõe <strong>de</strong> recursos.<br />

Para fazer uso <strong>de</strong>ssas ilustrações na aula <strong>de</strong> ciências o professor <strong>de</strong>ve estar atento as<br />

<strong>de</strong>formações <strong>de</strong>ssa imag<strong>em</strong>, para não cometer o erro <strong>de</strong> ser individualista, <strong>de</strong>scontextualizada,<br />

exclusivamente analítica e acumulativa. Essas ilustrações do conteúdo ou <strong>de</strong> um experimento<br />

científico <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser colocadas pelo professor <strong>de</strong> modo a <strong>de</strong>spertar curiosida<strong>de</strong> no aluno pela<br />

cultura científica, como chama a atenção, Cachapuz, et al. (2005, p. 53):<br />

As numerosas investigações recolhidas na literatura confirmam a extensão <strong>de</strong>sta<br />

imag<strong>em</strong> distorcida e <strong>em</strong>pobrecida da ciência e da tecnologia, assim como a<br />

necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> superá-la para fazer possível uma educação científica susceptível <strong>de</strong><br />

interessar aos estudantes e facilitar a sua imersão numa cultura científica.<br />

Nas escolas o que ainda v<strong>em</strong>os é um ensino que reforça a postura curricular <strong>de</strong> décadas<br />

atrás, reforçando um pensamento <strong>de</strong> uma ciência totalmente <strong>de</strong>svinculadas dos acontecimentos<br />

diário, como se o dia-a-dia que viv<strong>em</strong>os e enxergamos fosse estruturado do mundo <strong>de</strong><br />

fantasias, s<strong>em</strong> a explicação <strong>de</strong> conceitos científicos. O estudante vai a escola pra compreen<strong>de</strong>r<br />

o que lhe circunda no meio e, não é só a Língua Portuguesa ou Inglesa que vai lhe explicar<br />

esses fenômenos diários, mas também a ciência com o seu conjunto <strong>de</strong> ramos específicos, <strong>em</strong><br />

que as partes formam o todo. Portanto é necessário incluir nesta perspectiva os conteúdos da<br />

Biologia e aqui com exclusivida<strong>de</strong> o conteúdo <strong>de</strong> fotossíntese, começando por apresentar uma<br />

necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se apren<strong>de</strong>r este conteúdo, i<strong>de</strong>ntificando quais probl<strong>em</strong>as diários seria possível


esolver com a apropriação <strong>de</strong>sse conhecimento, afim <strong>de</strong> que melhor sirvam a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

elevar a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida, vinculando o ensino à realida<strong>de</strong> <strong>em</strong> que vive o aluno,<br />

(KRASILCHIK, 1996).<br />

Dessa forma o que se há <strong>de</strong> fazer no ensino da fotossíntese é superar a visão<br />

compartimentada e conectar o conteúdo ensinado com a vida cotidiana do aluno, o que é<br />

pertinente fazer com o conteúdo fotossíntese, pois pod<strong>em</strong>os começar com a colocação <strong>de</strong> que é<br />

<strong>de</strong>sse processo que <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> a permanência da vida na terra. Em vista disso, o professor t<strong>em</strong><br />

um <strong>de</strong>safio constante para assumir junto a sua sala <strong>de</strong> aula, investindo s<strong>em</strong>pre na<br />

contextualização do saber que está sendo apresentando, <strong>de</strong>scartando assim, a sua<br />

compartimentalização. Enfim, o <strong>de</strong>safio didático consiste <strong>em</strong> fazer essa contextualização, s<strong>em</strong><br />

reduzir o significado da idéia que <strong>de</strong>ram orig<strong>em</strong> ao saber ensinado, possibilitando a<br />

compreensão e i<strong>de</strong>ntificação do mesmo no contexto. (PAIS, 2002).<br />

Outra questão <strong>de</strong> que <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> o ensino da fotossíntese é a formação alcançada pelo<br />

professor. Exige-se que esse profissional apresente um nível <strong>de</strong> formação pertinente ao nível<br />

que vai ensinar. Em muitos espaços <strong>de</strong> ensino essa situação i<strong>de</strong>al não acontece, pois o quadro<br />

<strong>de</strong> professores ou pelo menos o professor <strong>de</strong> <strong>biologia</strong> não <strong>de</strong>tém essa formação necessária,<br />

po<strong>de</strong>ndo apresentar erros e confusões na apresentação do conceito. Esse é um fato que <strong>de</strong>veria<br />

estar longe das <strong>aulas</strong> <strong>de</strong> <strong>biologia</strong>, pois além <strong>de</strong> conhecer o conteúdo científico, sua formação<br />

<strong>de</strong>ve dar conta <strong>de</strong> ajudar o aluno a interpretar esses dados, relacioná-los e contextualizá-los,<br />

(MORAN, 2000).<br />

O professor que é capaz <strong>de</strong> realizar tais atitu<strong>de</strong>s já compreen<strong>de</strong>u que sua formação é<br />

um el<strong>em</strong>ento <strong>de</strong> perene <strong>de</strong>senvolvimento. O professor <strong>de</strong>ve ser um pesquisador <strong>em</strong> serviço, o<br />

que proporciona sua atualização, enquanto ensina e pesquisa vai apren<strong>de</strong>ndo para ensinar<br />

melhor (MORAN, 2000).


3 METODOLOGIA<br />

Toda pesquisa científica busca resposta ao probl<strong>em</strong>a que está posto, portanto a pesquisa<br />

científica t<strong>em</strong> como fim respon<strong>de</strong>r as necessida<strong>de</strong>s humanas, suas insatisfações ou sua<br />

incompletu<strong>de</strong>. Essa incompletu<strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolve no hom<strong>em</strong> vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> obter algo que represente<br />

pra ele aprimoramento e realização, respon<strong>de</strong>ndo assim, a uma privação humana. A nossa<br />

ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> pensar nos torna capaz <strong>de</strong> questionar revelando a racionalida<strong>de</strong>. A mesma nos leva<br />

além do que é visto, e do habitual, evoluindo para o que é sentido e, no presente ainda não se<br />

t<strong>em</strong> resposta. Estamos então teorizando e formulando probl<strong>em</strong>as, que requer<strong>em</strong> uma<br />

informação construída através da razão.<br />

A pesquisa científica não constitui uma ativida<strong>de</strong> aci<strong>de</strong>ntal do procedimento<br />

humano, mas uma forma <strong>de</strong> ação que lhe é natural, porque realiza uma<br />

experiência da sua essência, a <strong>de</strong> se aperfeiçoar a <strong>de</strong> progredir no<br />

<strong>de</strong>senvolvimento da sua humanização unindo as forças cegas da natureza aos<br />

seus <strong>de</strong>sígnios conscientes (PINTO, 1979, p. 425).<br />

Em vista disso, concordando que os métodos e as técnicas do conhecimento científico<br />

são apropriados e <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser adotados para que se possa <strong>de</strong>screver e explicar o fenômeno com<br />

maior completu<strong>de</strong>, compreensão e imparcialida<strong>de</strong>, como afirma Cervo & Bervian (1983, p.<br />

19): “É imparcial. Não torce os fatos. Respeita escrupulosamente a verda<strong>de</strong>”. Dessa forma nos<br />

faz adotar esta perspectiva, <strong>em</strong> busca <strong>de</strong> uma leitura verda<strong>de</strong>ira dos fatos e <strong>de</strong> uma maior<br />

compreensão.<br />

A pesquisa que estamos realizando enquadra-se na abordag<strong>em</strong> qualitativa, pois<br />

buscamos registrar, analisar e <strong>de</strong>screver <strong>em</strong> profundida<strong>de</strong> as informações obtidas através das<br />

nossas anotações <strong>de</strong> campo e da nossa captação <strong>em</strong> ví<strong>de</strong>o, retratando as situações reais vividas<br />

pelo professor <strong>em</strong> salas <strong>de</strong> <strong>aulas</strong> do Ensino Médio, nas quais se abordaram o conteúdo<br />

fotossíntese. Segundo Oliveira (1999) as abordagens qualitativas facilitam <strong>de</strong>screver a<br />

complexida<strong>de</strong> <strong>de</strong> probl<strong>em</strong>as e hipóteses, assim como compreen<strong>de</strong>r e classificar <strong>de</strong>terminados<br />

processos sociais, oferecer contribuições no processo das mudanças, criação ou formação <strong>de</strong><br />

opiniões <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminados grupos e interpretação das particularida<strong>de</strong>s dos comportamentos ou<br />

atitu<strong>de</strong> dos sujeitos.<br />

Assim, amparado nos modos da pesquisa qualitativa observar<strong>em</strong>os e <strong>de</strong>screver<strong>em</strong>os a<br />

abordag<strong>em</strong> dos conteúdos relacionados ao conceito <strong>de</strong> fotossíntese, pois <strong>de</strong> acordo com as<br />

implicações relacionadas ao seu ensino, é coerente que façamos a <strong>de</strong>scrição dos fatos<br />

significativos e relevantes acontecidos durante essa abordag<strong>em</strong>, pois compõ<strong>em</strong> os itens do


objeto pesquisado, ou seja, os <strong>saberes</strong> docentes <strong>articulados</strong>, na perspectiva <strong>de</strong> respon<strong>de</strong>r ao<br />

probl<strong>em</strong>a proposto.<br />

A pesquisa se fez possível com a observação e registro <strong>em</strong> ví<strong>de</strong>o e anotações <strong>em</strong><br />

campo, <strong>em</strong> uma realida<strong>de</strong> <strong>em</strong> que estavam postos dois professores <strong>de</strong> <strong>biologia</strong> do Ensino<br />

Médio, possuindo perfis diferentes, um tendo <strong>de</strong>zessete anos e o outro apenas um ano e seis<br />

meses <strong>de</strong> profissão,divergindo primeiramente nos seus t<strong>em</strong>pos <strong>de</strong> atuação. Escolh<strong>em</strong>os para o<br />

estudo o conteúdo <strong>de</strong> fotossíntese <strong>de</strong>vido à complexida<strong>de</strong> dos fenômenos envolvidos, exigindo<br />

a utilização <strong>de</strong> recursos, conhecimento profundo do mesmo e uma prática coerente, como posto<br />

na nossa fundamentação para que o ensino se torne efetivo.<br />

Nos nossos primeiros contatos não tiv<strong>em</strong>os sucesso, pois, diversos professores <strong>de</strong><br />

outras escolas e <strong>de</strong> municípios diferentes justificaram <strong>de</strong> várias formas a sua impossibilida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> colaborar com a pesquisa. Nessa busca fiz<strong>em</strong>os contato com oito professores <strong>em</strong> média s<strong>em</strong><br />

incluir os que participaram da pesquisa.<br />

Para iniciarmos a pesquisa fiz<strong>em</strong>os um contato prévio com a direção da escola e logo<br />

<strong>em</strong> seguida fiz<strong>em</strong>os contato com os professores, que se dispuseram no primeiro instante a<br />

colaborar com a pesquisa, <strong>de</strong> modo a ser<strong>em</strong> vi<strong>de</strong>ografados durante a apresentação do conteúdo<br />

fotossíntese expondo <strong>de</strong>ssa forma o conjunto <strong>de</strong> <strong>saberes</strong> <strong>articulados</strong> na prática. Antes <strong>de</strong><br />

realizarmos as gravações <strong>em</strong> ví<strong>de</strong>o, realizamos com os professores uma entrevista informal,<br />

afim <strong>de</strong>, nos inteirarmos dos seus anos <strong>de</strong> experiência na sala <strong>de</strong> aula, sua formação e as séries<br />

que lecionavam. No primeiro contato, também fiz<strong>em</strong>os o cronograma das visitas para a<br />

captação <strong>de</strong> imag<strong>em</strong>, que foi obe<strong>de</strong>cido rigorosamente. Vale l<strong>em</strong>brar que durante as nossas<br />

gravações não interferimos nas <strong>aulas</strong> dos professores, apenas estávamos presentes. As imagens<br />

foram feitas com professores que estavam atuando no ensino médio. Cujo processo se <strong>de</strong>u com<br />

a autorização dos pais ou responsáveis, uma vez que existiam alunos na menorida<strong>de</strong>. Dessa<br />

forma, vi<strong>de</strong>ografamos as <strong>aulas</strong> <strong>de</strong>sses professores com o objetivo <strong>de</strong> observar e analisar os<br />

<strong>saberes</strong> docentes mobilizados nas práticas docentes realizadas por eles.<br />

As gravações das <strong>aulas</strong> tiveram os seguintes números, <strong>de</strong> um dos professores gravamos<br />

sete <strong>aulas</strong>, o professor mais experiente, o P1, pois o seu planejamento tratava <strong>de</strong> um t<strong>em</strong>a geral<br />

e a parte que nos interessava, foi apresentada nas três últimas <strong>aulas</strong>, mesmo com esta realida<strong>de</strong><br />

<strong>em</strong> que as <strong>aulas</strong> referentes ao conteúdo <strong>de</strong> fotossíntese estavam programadas para o final do<br />

período, ou seja as três ultimas <strong>aulas</strong>, todo o processo foi vi<strong>de</strong>ografado, pois estávamos cientes<br />

<strong>de</strong> que nossa pesquisa era mais ampla, tendo como um dos objetivos conhecer o trabalho<br />

pedagógico dos professores no seu fazer diário focalizando os <strong>saberes</strong> docentes <strong>articulados</strong> por<br />

eles. O segundo professor (o noviço), P2, trabalhou diretamente o conteúdo que nos


interessava, fotossíntese, somando ao final do processo três <strong>aulas</strong>, pois a organização do seu<br />

planejamento se <strong>de</strong>u <strong>de</strong> forma mais concisa. Portanto, após a etapa <strong>de</strong> organização e<br />

planejamento foram realizadas a gravação e observação das <strong>aulas</strong>, que <strong>de</strong>u consistência a nossa<br />

pesquisa, pois, o segundo professor realizou encaminhamentos diferentes do primeiro,<br />

oportunizando <strong>de</strong>ssa forma uma observação diferente proporcionando uma maior riqueza <strong>de</strong><br />

dados, sendo possível examinar as minúcias que ocorre durante o ensino.<br />

Portanto, a análise da sala <strong>de</strong> aula será realizada colocando <strong>em</strong> evidência os <strong>saberes</strong><br />

docentes relacionados a experiência e a disciplina. O primeiro saber aqui citado direciona<br />

nosso exame para o fazer pedagógico do professor <strong>em</strong> que ele revela suas estratégias,<br />

constituídas <strong>de</strong> el<strong>em</strong>entos como, a gestão da classe, a gestão da matéria e a interação professor<br />

- aluno, Portanto, <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>ste círculo <strong>de</strong> <strong>saberes</strong>, pod<strong>em</strong>os observar <strong>de</strong>terminadas ações<br />

inerentes a eles, como, a atenção direcionada ao aluno, o diálogo que o professor estimula na<br />

sala <strong>de</strong> aula, o modo como fala quando expõe o conteúdo, po<strong>de</strong>ndo utilizar o discurso<br />

unilateral ou bilateral, a maneira como expressa os gestos e também como dar seqüência ao<br />

conteúdo trabalhado, envolvendo aqui os recursos, os testes e o momento <strong>de</strong> abertura para que<br />

o aluno possa se colocar, com o seu entendimento ou a sua dúvida. O segundo el<strong>em</strong>ento<br />

verifica o nível <strong>de</strong> conhecimento apresentado pelo professor <strong>em</strong> relação ao conhecimento<br />

abordado, ou seja, a coerência do conteúdo <strong>em</strong> relação ao nível da turma, os processos que<br />

constitui o próprio conteúdo, apresentando ou não informações importantes para uma melhor<br />

compreensão do fenômeno estudado, os ex<strong>em</strong>plos apresentados e as analogias feitas, buscando<br />

s<strong>em</strong>pre uma melhor aprendizag<strong>em</strong> do conceito.<br />

Aqui estar<strong>em</strong>os observando as atitu<strong>de</strong>s <strong>em</strong> relação à recepção da turma após a<br />

apresentação do conteúdo pelo professor, quando po<strong>de</strong> requerer uma ação rápida para suprir o<br />

probl<strong>em</strong>a <strong>em</strong>ergente no momento, <strong>em</strong> que ele t<strong>em</strong> que tomar uma <strong>de</strong>cisão, resultando numa<br />

solução ou controle da situação vigente. Esse tipo <strong>de</strong> ação requer do professor o domínio do<br />

conhecimento da matéria específica, para que possa torná-la cada vez mais compreensível<br />

pelos discentes.<br />

3.1 Campo Empírico e Sujeitos Participantes<br />

O <strong>de</strong>senvolvimento da pesquisa se <strong>de</strong>u <strong>em</strong> uma escola pública, <strong>de</strong>vido ao perfil dos<br />

professores envolvidos, pois o perfil <strong>de</strong> professor noviço e experiente permitiu que foss<strong>em</strong><br />

feitas as análises dos fatos <strong>em</strong> relação ao probl<strong>em</strong>a colocado.


As observações, anotações e registros <strong>em</strong> ví<strong>de</strong>o foram realizados <strong>em</strong> duas salas <strong>de</strong> <strong>aulas</strong><br />

do Ensino Médio, <strong>em</strong> uma escola pública da cida<strong>de</strong> do Recife.<br />

Participaram da nossa pesquisa dois professores <strong>de</strong> <strong>biologia</strong>. Um dos professores<br />

observados exercia sua docência a um ano e seis meses, sendo ele mesmo bacharel <strong>em</strong> <strong>biologia</strong><br />

e mestre <strong>em</strong> Saú<strong>de</strong> Pública. O nosso segundo educador <strong>de</strong>tém uma larga experiência com<br />

<strong>de</strong>zessete anos <strong>de</strong> exercício, licenciado <strong>em</strong> <strong>biologia</strong> e Pós-graduado <strong>em</strong> Ensino <strong>de</strong> Biologia. As<br />

observações e os registros aconteceram durante <strong>de</strong>z <strong>aulas</strong> <strong>de</strong> <strong>biologia</strong>, como já foi colocado,<br />

sete <strong>aulas</strong> do professor experiente e três <strong>aulas</strong> do professor noviço, <strong>em</strong> que esses docentes<br />

expuseram o conteúdo <strong>de</strong> fotossíntese, obe<strong>de</strong>cendo ao seu planejamento bimestral, pois<br />

nenhuma fase dos seus planejamentos <strong>de</strong> aula foram alterados <strong>em</strong> função da nossa pesquisa. O<br />

conteúdo aqui citado se fez necessário para que pudéss<strong>em</strong>os respon<strong>de</strong>r com coerência nossos<br />

questionamentos.<br />

3.1.1 Perfil dos professores<br />

No nosso contato com os professores <strong>de</strong> <strong>biologia</strong> constatamos profissionais<br />

comprometidos e conhecedores das suas disciplinas, também professores que tinham<br />

experiências <strong>de</strong> poucos anos e <strong>de</strong> muitos anos <strong>de</strong> docência. Essa diferença <strong>de</strong> experiência é um<br />

dos focos da nossa pesquisa, juntamente ao conhecimento disciplinar do professor.<br />

A nossa pesquisa se tornou possível pela disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> dois professores que<br />

aceitaram a presença dos pesquisadores <strong>em</strong> suas salas, para que pudéss<strong>em</strong>os validar o nosso<br />

probl<strong>em</strong>a na intenção <strong>de</strong> estudar mais <strong>de</strong> perto a dinâmica da sala <strong>de</strong> aula, <strong>de</strong>scartando a<br />

hipótese <strong>de</strong> apenas tecer comentários superficiais sobre este espaço.<br />

O quadro a seguir <strong>de</strong>screve o perfil dos professores participantes quanto à formação<br />

acadêmica e o t<strong>em</strong>po <strong>de</strong> atuação no magistério.<br />

Professores Formação T<strong>em</strong>po <strong>de</strong> Atuação Docente<br />

Professor 1<br />

(P1)<br />

Licenciado <strong>em</strong><br />

ciências biológicas;<br />

Especialista <strong>em</strong><br />

<strong>biologia</strong><br />

17 Anos <strong>de</strong> atuação no magistério <strong>em</strong> escolas<br />

públicas e privadas do Recife<br />

Em turmas do fundamental II e Ensino médio.<br />

Professor 2 1,6 anos <strong>de</strong> atuação no magistério, t<strong>em</strong>


(P2) Bacharel <strong>em</strong> <strong>biologia</strong>;<br />

Quadro 2 – Perfil dos professores<br />

Cursando ca<strong>de</strong>iras <strong>de</strong><br />

licenciatura <strong>em</strong><br />

<strong>biologia</strong>;<br />

Mestre <strong>em</strong> saú<strong>de</strong><br />

pública.<br />

experiência <strong>em</strong> escolas públicas estaduais com<br />

atuação no Ensino Médio.<br />

As informações postas acima nos reportam a observar primeiramente a formação<br />

específica <strong>de</strong> cada professor, sendo um especialista e um mestre. Aqui trabalhamos com<br />

professores que investiram e invest<strong>em</strong> na sua profissão seguindo o caminho do conhecimento<br />

científico como indica as suas formações no quadro acima. Vê-se por suas formações que os<br />

profissionais aqui envolvidos, necessitam <strong>de</strong> uma formação contínua e continuada (TARDIF,<br />

2003). A nossa segunda informação se <strong>de</strong>leita nos aportes existentes na sala <strong>de</strong> aula <strong>em</strong> relação<br />

a atuação profissional, que inclui o t<strong>em</strong>po <strong>de</strong> exercício e os <strong>saberes</strong> que são exigidos nesse<br />

fazer. O P1, atuante a <strong>de</strong>zessete anos chamamos <strong>de</strong> experiente e o P2, que atua a um ano e seis<br />

meses chamamos <strong>de</strong> noviço, <strong>de</strong> acordo com os anos <strong>de</strong> atuação constados logo acima. Portanto,<br />

aqui t<strong>em</strong>os um histórico <strong>em</strong> que a experiência está presente na vida profissional do P1 e do P2<br />

mesmo que <strong>em</strong> proporções diferentes, mas <strong>em</strong> harmonia com Tardif (2003), <strong>saberes</strong> foram<br />

construídos nesse t<strong>em</strong>po <strong>de</strong> exercício profissional, ou seja, o t<strong>em</strong>po disponibilizado ao trabalho<br />

na sala <strong>de</strong> aula, também se retrata <strong>em</strong> formação transformando o professor <strong>em</strong> um conhecedor<br />

do seu espaço <strong>de</strong> trabalho.<br />

Assim, evi<strong>de</strong>nciando a experiência <strong>de</strong> cada professor <strong>de</strong>screver<strong>em</strong>os como ministraram<br />

suas <strong>aulas</strong> <strong>em</strong> turmas do Ensino Médio, para que possamos falar dos <strong>saberes</strong> envolvidos<br />

quando apresentaram o conteúdo fotossíntese nessas turmas, <strong>de</strong> acordo com os el<strong>em</strong>entos da<br />

sala <strong>de</strong> aula acima citados.<br />

3.2 Procedimentos e instrumentos da pesquisa<br />

A coleta <strong>de</strong> dados teve início primeiramente com o contato junto aos dois professores<br />

para a constatação do perfil dos mesmos <strong>em</strong> relação aos requisitos solicitados, e para a<br />

programação dos encontros recorrentes. No segundo encontro já realizamos a observações e a


gravações <strong>em</strong> ví<strong>de</strong>o, com o objetivo <strong>de</strong> registrar através da vi<strong>de</strong>ografia a prática dos<br />

professores na abordag<strong>em</strong> do conteúdo fotossíntese.<br />

Vale salientar que, a utilização da vi<strong>de</strong>ografia se justifica <strong>em</strong> função dos<br />

nossos objetivos, uma vez que será possível recuperar o <strong>de</strong>senvolvimento seqüencial das <strong>aulas</strong><br />

b<strong>em</strong> como recuperar as falas entre professor e alunos, para assim ser possível atingir nossos<br />

objetivos.


4 ANÁLISE DOS DADOS<br />

A aula é espaço <strong>em</strong> que o professor estabelece uma relação direta com o seu fazer.<br />

Nesse sentido, <strong>de</strong> acordo com a literatura pertinente, o professor expõe os <strong>de</strong>terminados<br />

<strong>saberes</strong> que se revelam no seu ato como saber profissional, procedimental, disciplinar,<br />

curricular, pedagógico, da experiência e estratégico.<br />

Assim, olhando para o professor e seus <strong>saberes</strong> <strong>em</strong> situação presencial na sala <strong>de</strong> aula,<br />

circunstância <strong>em</strong> que <strong>de</strong>ve fazer acontecer o ensino, procuramos observar como o professor<br />

usa seus <strong>saberes</strong> <strong>em</strong> conexão.<br />

Dentro <strong>de</strong>sta junção <strong>de</strong> conhecimentos, nosso exame é direcionado neste momento<br />

aos <strong>saberes</strong> estratégicos, ou seja, aos conhecimentos do professor <strong>em</strong> atuação, procurando<br />

olhar como este profissional faz acontecer a sua aula usando as suas estratégias didáticas, e<br />

como ele vai <strong>de</strong>finindo suas atitu<strong>de</strong>s pedagógicas, fazendo se cumprir objetivos pertinentes à<br />

sala <strong>de</strong> aula, escolhendo uma ação que neste momento será suficiente para controlar as<br />

situações não pertinentes, envolvendo os alunos e resolvendo os probl<strong>em</strong>as <strong>em</strong>ergenciais,<br />

que ora acontece nesta conjuntura concreta, <strong>em</strong> que está tendo contato com as coisas <strong>em</strong> si,<br />

ou seja, com os alunos, com o conteúdo e com a sala <strong>de</strong> aula, (TARDIF, 2003).<br />

Portanto, estamos falando aqui do clima gerado na sala <strong>de</strong> aula resultante da<br />

estratégia do professor. Essas estratégias estão intrinsecamente ligadas a seus <strong>saberes</strong><br />

docentes, pois o uso <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminada estratégia visando o resultado almejado, só po<strong>de</strong>rá ter<br />

um resultado positivo se o professor dispuser <strong>de</strong> informações sobre a vida escolar e social<br />

dos alunos. Portanto o resultado esperado seria incluir esse público eclético <strong>em</strong> uma situação<br />

<strong>de</strong> interação com a sala <strong>de</strong> aula e suas funções, <strong>de</strong>sse modo, essa interação ou inclusão é uma<br />

promoção das estratégias usadas pelo professor. Estando inteirados disto, Villani &<br />

Freitas(1998) <strong>de</strong>fin<strong>em</strong> estratégia didática é um conjunto <strong>de</strong> ações implicitamente planejadas e<br />

conduzidas pelo professor para que ao final <strong>de</strong>las uma boa parte dos alunos se comprometam<br />

a realizar uma tarefa ou um trabalho didático da melhor maneira possível. Analogamente<br />

uma tática didática é uma reação do professor frente a <strong>de</strong>terminadas situações promovidas<br />

pelos alunos, visando sua exploração com a mesma perspectiva <strong>de</strong> envolvimento <strong>de</strong>les, ou<br />

seja, é aproveitar <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminados eventos não planejados para fortalecer o envolvimento dos<br />

alunos.


4.1 O fazer pedagógico do Professor 1 (P1)<br />

Por conseguinte, apresentar<strong>em</strong>os e discutir<strong>em</strong>os algumas estratégias usadas pelo<br />

professor <strong>de</strong> <strong>biologia</strong> que observamos, e que aqui ele será i<strong>de</strong>ntificado como P1.<br />

Recorte<br />

da<br />

aula nº 1<br />

Recortes das <strong>aulas</strong> do P1<br />

Classificação dos vegetais<br />

1. O professor inicia a aula <strong>de</strong>finindo Botânica;<br />

2. Em seguida diz aos alunos que estudarão a classificação dos vegetais;<br />

3. Põe no quadro a seguinte classificação: talófitas, criptógamas,<br />

fanerógamas e esclarece ao aluno que esta classificação está relacionada a<br />

forma <strong>de</strong> reprodução;<br />

4. Fala das talófitas e diz que são algas;<br />

5. Pergunta aos alunos: o que seriam algas?<br />

6. O aluno respon<strong>de</strong> “são matinhos do mar” ;<br />

7. Outro aluno fala – sargaço;<br />

8. Faz uma analogia do alface com a alga diz que o alface t<strong>em</strong> uma estrutura<br />

frágil;<br />

9. Completa o texto as algas parec<strong>em</strong> com o alface.<br />

10. Fala sobre os tipos <strong>de</strong> algas microscópicas e macroscópicas, <strong>de</strong> algas<br />

<strong>de</strong> água doce e <strong>de</strong> água salgada;<br />

11. Dirige-se a turma e pergunta qual é o papel das algas, qual é sua<br />

função?;<br />

12. Não espera a resposta do aluno;<br />

13. Segue falando que é um processo bioquímico e diz que libera um gás<br />

importante para que os seres vivos respir<strong>em</strong>;<br />

14. Pergunta que gás seria esse?<br />

15. Completa dizendo é um gás importante para a nossa respiração;<br />

16. Um aluno respon<strong>de</strong> que é o oxigênio;<br />

17. O professor rel<strong>em</strong>bra aos alunos o papel das algas, que são elas que<br />

liberam esse gás;<br />

18. Completa sua fala dizendo que é por um processo bioquímico;


19. Pergunta aos alunos, que processo é esse?<br />

20. Ele mesmo respon<strong>de</strong> que é a fotossíntese;<br />

21. Uma aluna pergunta: as plantas terrestres e aquáticas t<strong>em</strong> a mesma<br />

função?<br />

22. O professor respon<strong>de</strong>: fotossinteticamente vão liberar oxigênio<br />

A atenção dos alunos se faz necessário para que o trabalho pedagógico do professor<br />

se torne eficaz . Portanto o P1, vê a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> apresentar um conceito geral da <strong>biologia</strong><br />

(Botânica), para que essa atenção seja ativada nos alunos, Assim ele usa esse conceito como<br />

instrumento <strong>de</strong> convencimento frente aos alunos, com o intuito <strong>de</strong> fazê-los perceber que vão<br />

estudar um conteúdo importante para a compreensão do seu meio, e não pod<strong>em</strong> dispensar<br />

essa aprendizag<strong>em</strong>, Percebendo que os alunos ou a maioria <strong>de</strong>les já estão envolvidos na aula,<br />

o P1 situa os alunos dizendo o t<strong>em</strong>a que estudarão unida<strong>de</strong> à frente: “Classificação dos<br />

vegetais” Com a reação positiva da classe a favor da aula, o P1, vai ao quadro e anota a<br />

classificação das algas: “talófitas, criptógamas, fanerógamas, esclarecendo ao aluno que<br />

essa classificação está ligada a forma <strong>de</strong> reprodução”. Nesse primeiro momento <strong>de</strong><br />

observação as expressões gestuais do professor e a sua fala retrata um gran<strong>de</strong> investimento na<br />

gestão da sala <strong>de</strong> aula, ou seja a criação <strong>de</strong> um ambiente propício para a assimilação do<br />

conteúdo, e continua o trabalho, com tranqüilida<strong>de</strong>, pois a sua autorida<strong>de</strong> se estabelece,<br />

viabilizando a continuida<strong>de</strong> da exposição dos conceitos.<br />

Constatando a permanência do envolvimento <strong>de</strong>fine como momento apropriado para<br />

oralizar uma pequena informação sobre as talófitas. O controle da turma diminui, e nesse<br />

instante o P1 faz uma pergunta à turma (escrito acima no 5º momento): “o que seriam<br />

algas?”, provocando a atenção <strong>de</strong> todos, com a intenção que volte o envolvimento inicial,<br />

consegue com esta atitu<strong>de</strong> a resposta <strong>de</strong> um aluno, pondo <strong>em</strong> construção um diálogo bilateral,<br />

Nesse momento percebe-se o uso <strong>de</strong> uma estratégia do professor <strong>em</strong> função da gestão da<br />

classe, fazendo uso nesse momento do diálogo, resultando na interação. O P1 segue<br />

explicando o assunto usando tons <strong>de</strong> vozes, ora mais alto, ora mais baixo e gesticulando, para<br />

atingir a atenção, o envolvimento e a aprendizag<strong>em</strong> dos alunos. Aqui nessa ação do P1,<br />

revela uma articulação <strong>de</strong> <strong>saberes</strong>, que pod<strong>em</strong>os perceber <strong>de</strong> acordo com Tardif (2003) e<br />

Paquay (2001), são eles: os <strong>saberes</strong> estratégicos e os <strong>saberes</strong> da experiência e os <strong>saberes</strong><br />

<strong>disciplinares</strong>.


Assim, como <strong>em</strong> quase todo grupo <strong>de</strong> pessoas, se instaurou um pouco <strong>de</strong> barulho e o<br />

P1, usa novamente uma pergunta oral sobre o conteúdo para restabelecer o controle da classe.<br />

A aula vai sendo dada, o P1, aborda agora o papel das algas no ambiente s<strong>em</strong>pre realizando o<br />

ato <strong>de</strong> forma dinâmica, nesse momento (nº 11) com uma pergunta e o discurso unilateral, <strong>em</strong><br />

que ele faz o lançamento <strong>de</strong> perguntas a turma, e ele mesmo respon<strong>de</strong>, esperando com o uso<br />

<strong>de</strong>ssas estratégias que o ensino seja eficaz, ou seja, que chegue a haver aprendizag<strong>em</strong> por<br />

parte dos alunos, com a informação dada. Durante a aula, o P1, lança várias perguntas à<br />

turma para que eles se inteir<strong>em</strong> do assunto, usando nesse momento uma a interação, sua<br />

abordag<strong>em</strong> aqui, novamente afirma os <strong>saberes</strong> da experiência, quando estabelece com a sala<br />

<strong>de</strong> aula a essa relação mútua <strong>de</strong> pergunta e resposta.<br />

Depen<strong>de</strong>nte da reação positiva da turma para constatar uma certa aprendizag<strong>em</strong> da<br />

mesma, o professor usa sua estratégia para garantir a resposta <strong>de</strong>sejada voltando a um trecho<br />

do assunto anterior e rel<strong>em</strong>bra o papel das algas quanto à liberação dos gases, a estratégia do<br />

P1 usada nesse momento correspon<strong>de</strong> ao saber disciplinar. A partir da resposta recebida da<br />

turma, continua a aula partindo para um outro subt<strong>em</strong>a do conteúdo.<br />

As necessida<strong>de</strong>s da sala <strong>de</strong> aula sentidas ao ensinar, envolvendo o seu contexto, a<br />

estrutura da disciplina e os seus atores, é uma construção constante das estratégias<br />

pedagógicas, para que não haja, ou não se estabeleçam lacunas entre o planejado e o vivido.<br />

Isso está constatado quando frente à ação do professor, sua percepção ou intuição lhe manda<br />

fazer: a escrita no quadro, a comunicação através da fala, o silêncio que fala, a apontar para o<br />

quadro mostrando o termo ou o esqu<strong>em</strong>a <strong>em</strong> evidência, a respon<strong>de</strong>r ou ignorar a pergunta <strong>de</strong><br />

um aluno, a mostrar as razões significativas e práticas do apren<strong>de</strong>r, a abrir um diálogo sobre<br />

o assunto polêmico do momento, a pausar, a gesticular, a caminhar na sala, a se aproximar<br />

para verificar as ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> seus alunos, a discordar com uma expressão corporal ou com o<br />

olhar, a falar - “atenção gente” – que quer dizer fiqu<strong>em</strong> atentos é hora <strong>de</strong> capturar o conceito,<br />

todas essas posturas foram adotadas pelo P1 quando na situação <strong>de</strong> ensino.<br />

Recorte<br />

da<br />

aula nº 5<br />

P 1<br />

Anatomia vegetal<br />

1. O professor começa a aula apresentando o material concreto (folhas) e<br />

<strong>de</strong>senhando uma folha no quadro, ele usa o <strong>de</strong>senho para escrever as partes<br />

constituintes da mesma;<br />

2. Agora o professor fala sobre a cutícula (ele gesticula para ajudar na


compreensão) diz que é um tecido impermeabilizante e esclarece que a<br />

cutícula não <strong>de</strong>ixa que a planta perda tanta água;<br />

3. Diz que exist<strong>em</strong> plantas adaptadas a <strong>de</strong>terminadas regiões, e que estas plantas<br />

não pod<strong>em</strong> per<strong>de</strong>r água;<br />

4. Ele ex<strong>em</strong>plifica com os cactos lá da região do sertão, e esclarece: aqui da<br />

região da caatinga;<br />

5. Ele pergunta aos alunos: o que é que vocês acham que sejam aquelas plantas?<br />

Você já viu um cacto já? O que é que t<strong>em</strong> preso a um cacto?<br />

6. Um aluno respon<strong>de</strong> que é espinho.<br />

7. O professor pergunta novamente: mas aquilo é o que na realida<strong>de</strong>?<br />

8. O aluno respon<strong>de</strong> que é uma proteção;<br />

9. O professor explica que o espinho nada mais é do que uma folha modificada<br />

para aquele tipo <strong>de</strong> vegetal, que é característico <strong>de</strong> ambiente áridos, <strong>de</strong><br />

insolação e <strong>de</strong> pouca umida<strong>de</strong>;<br />

10. Continua afirmando que o espinho é uma folha modificada para aquele<br />

ambiente e diz que <strong>de</strong>vido ao espinho a planta per<strong>de</strong> pouca quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> água<br />

para aquele ambiente.<br />

Falamos aqui do esforço do professor que gerencia sua sala <strong>de</strong> aula <strong>em</strong> busca da<br />

socialização e construção <strong>de</strong> conhecimento que se faz numa relação entre pessoas, ambiente e<br />

conhecimento. É nesse espaço que o professor busca superar a transmissão <strong>de</strong><br />

conhecimentos, mas elabora a sua construção, como diz Freire (2000): “ensinar não é<br />

transferir conhecimento, mas criar as possibilida<strong>de</strong>s para a sua produção ou a sua<br />

construção”, <strong>de</strong>spertando <strong>em</strong> seus educandos o <strong>de</strong>sejo do saber, influenciados por suas<br />

estratégias e pelo estilo da sua docência conforme Villani & Freitas (1998). O recorte da<br />

quinta aula apresentado acima nos mostra claramente que o P 1, possui uma prática coerente<br />

com a afirmação <strong>de</strong> Freire (2000) e Villani & Freitas (1998) criando possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> melhor<br />

entendimento do conteúdo pelos alunos. No quinto momento da referida aula o P1, possa a<br />

estimular a participação do aluno na formação do conceito através das perguntas lançadas e<br />

dos ex<strong>em</strong>plos dados. Embora neste momento da aula o conteúdo oralizado tenha maior<br />

ênfase, <strong>de</strong> um ponto <strong>de</strong> vista mais geral, <strong>de</strong>v<strong>em</strong>os pontuar que toda a apresentação do<br />

conteúdo se fez <strong>de</strong> uma maneira sist<strong>em</strong>ática e conseqüent<strong>em</strong>ente seqüenciada, <strong>de</strong>vido a<br />

preocupação do professor com o comportamento coletivo que <strong>de</strong>ve se instaurar na sala <strong>de</strong><br />

aula, <strong>em</strong> função do aprendizado. O comportamento característico do P1, nesta aula, nos


<strong>em</strong>ete aos seus <strong>de</strong>zessete anos <strong>de</strong> docência, que lhe faz um profissional autônomo, tendo a<br />

sala <strong>de</strong> aula como um lugar <strong>de</strong> aprendizag<strong>em</strong> e construção <strong>de</strong> <strong>saberes</strong> imprescindíveis,<br />

(TARDIF, 2003).<br />

Nos reportando ao recorte da quinta aula, exatamente do quinto ao décimo momento,<br />

vimos que o professor estimula o resgate das informações já adquiridas pelos educandos,<br />

buscando o confronto do conhecimento já retido pelos alunos e o que ele tenta construir, ou<br />

seja, o novo. Sab<strong>em</strong>os que é através <strong>de</strong> suas estratégias que o professor consegue esse feito,<br />

para isso precisa acertar a estratégia, que na ocasião é necessário produzir.<br />

Portanto, o que perceb<strong>em</strong>os do P1, foi uma gran<strong>de</strong> quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> acertos, atribuído a<br />

sua familiarização com a turma, ou seja, o seu domínio na gestão da classe. Com as<br />

interações que constatamos na sala <strong>de</strong> aula, entre o P1 e seus alunos, vimos que um vínculo<br />

se estabeleceu na sala <strong>de</strong> aula, observado <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início do processo da observação. Uma<br />

estratégia didática, ou seja, as ações que o professor realiza na sala <strong>de</strong> aula para facilitar o<br />

processo <strong>de</strong> aprendizag<strong>em</strong>, que funcionou todo t<strong>em</strong>po, foram as perguntas que o professor<br />

lançava aos alunos sobre o conteúdo que vinha sendo trabalhado. Perceb<strong>em</strong>os novamente,<br />

que a captura da atenção, quando o comportamento mudava, era feita também, através da<br />

pergunta coletiva. Restabelecido o clima, o professor seguia a aula, s<strong>em</strong>pre preten<strong>de</strong>ndo o<br />

envolvimento e a aprendizag<strong>em</strong> dos alunos. Nesse contexto da sala <strong>de</strong> aula, o P1, oportuniza<br />

um lugar <strong>de</strong>finido para a gestão da classe, como constatamos, investindo s<strong>em</strong>pre na<br />

interação, resultando na organização social (LAPLANE, 2000).<br />

Vimos durante nossas observações que o exercício docente po<strong>de</strong> ser nomeado como<br />

uma ativida<strong>de</strong> complexa <strong>em</strong> que o professor <strong>de</strong>ve saber gerenciar os fatos, sab<strong>em</strong>os que essa<br />

ação só é possível com a junção <strong>de</strong> <strong>saberes</strong> do professor, que precisa usar sua visão ampla<br />

para agir com competência saindo da situação com o sucesso <strong>de</strong>sejado. Assim como afirma<br />

Paquay (2001, p.109): “É precisamente nesta que se aliam os conhecimentos apreendidos das<br />

ciências humanas e nossa capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> mobilizá-los <strong>em</strong> um gesto”.<br />

Agora, após nos <strong>de</strong>termos nas estratégias utilizadas pelo professor, <strong>em</strong> função da<br />

gestão da sala <strong>de</strong> aula, colocar<strong>em</strong>os <strong>em</strong> evidência as competências que os mesmos revelaram<br />

<strong>em</strong> contato com a sala <strong>de</strong> aula no momento do seu fazer pedagógico. Cujas competências, as<br />

quais observamos, são adquiridas por esses professores no espaço da sala <strong>de</strong> aula e no t<strong>em</strong>po<br />

<strong>de</strong>dicado ao exercício docente.<br />

Portanto para colocar essas competências ou <strong>saberes</strong> <strong>em</strong> pratica o professor não<br />

precisa apenas dar <strong>aulas</strong>, mas estar <strong>em</strong> contato cotidiano com a sua sala <strong>de</strong> aula, condição<br />

imprescindível para configurar<strong>em</strong> os seus <strong>saberes</strong>, (TARDIF, 2003). Assim o que vimos


durante o nosso primeiro olhar, observando as ações do P1, foi uma classe acostumada ou<br />

adaptada a dinâmica do professor, vimos um acordo entre professor e aluno <strong>em</strong> relação a<br />

manutenção da disciplina da classe, <strong>em</strong> função da aprendizag<strong>em</strong>. Os alunos se se mantinham<br />

calados, atenciosos e participantes, enquanto o professor explicava o conteúdo e copiava seus<br />

esqu<strong>em</strong>as no quadro, ação que os alunos repetia s<strong>em</strong>pre, seguindo as orientações do docente.<br />

O discurso e os gestos do professor também fizeram parte das suas estratégias a fim <strong>de</strong> <strong>de</strong>ixar<br />

os alunos atentos e participativos.<br />

Recorte da<br />

aula nº 5<br />

P 1<br />

13. Fala sobre as funções das folhas, e diz que são as seguintes:<br />

Respiração, Fotossíntese e Transpiração;<br />

14. O professor pergunta: a planta respira que gás? Qual é o gás que a<br />

planta respira? Um aluno respon<strong>de</strong>: gás carbônico;<br />

15. O professor volta a pergunta para a turma: vocês acham que a<br />

planta respira gás carbônico é?<br />

16. Pergunta novamente: a planta respira o quê? Um aluno respon<strong>de</strong><br />

gás carbônico e outro, oxigênio;<br />

17. O professor pergunta a um outro aluno: qual a função da<br />

respiração nos vegetais? Ela vai contribuir <strong>em</strong> quê?<br />

18. Agora faz a pergunta para a turma:Qual o gás que a planta utiliza,<br />

pessoal, para se manter viva?<br />

19. Um aluno respon<strong>de</strong>: oxigênio.<br />

20. Nesse momento o professor escreve no quadro: a planta absorve<br />

através das folhas, o gás oxigênio e libera o gás carbônico;<br />

21. O professor se dirigindo aos alunos, fala: aí eu pergunto a vocês:<br />

se a planta absorve oxigênio primeiro que o gás carbônico, a<br />

respiração só é <strong>de</strong> dia ou só é a noite? ( o professor está ajudando<br />

o aluno a construir sua resposta)<br />

22. Um aluno pergunta: mas é só à noite isso aí, não é professor?<br />

23. O professor se dirige ao aluno: aí você diz: se a planta respira à<br />

noite, só a noite, e <strong>de</strong> manhã e <strong>de</strong> tar<strong>de</strong>? O que é que acontece?<br />

24. O aluno pergunta novamente: é ao contrário né professor?


25. O professor volta a pergunta para o aluno: é ao contrário?<br />

26. O professor fala: por ex<strong>em</strong>plo, nós seres humanos, o que acontece,<br />

a gente absorve oxigênio e libera o gás carbônico,<br />

27. Para construir a resposta junto ao aluno o professor pergunta: aí eu<br />

pergunto a vocês: a gente faz este processo só à noite?<br />

28. Os alunos respond<strong>em</strong>: não.<br />

29. O professor Pergunta novamente: faz como? Faz só acordado?<br />

Dormindo pára?<br />

30. O aluno respon<strong>de</strong>: dormindo também.<br />

31. O professor pergunta novamente: A planta, ela respira só à noite?<br />

E agora?<br />

32. O aluno respon<strong>de</strong>: <strong>de</strong> dia ela respira gás carbônico e libera<br />

oxigênio.<br />

33. O professor valoriza a resposta do aluno: legal, segundo o aluno<br />

(para não citar o nome) <strong>de</strong> dia a planta libera gás carbônico e à<br />

noite ela libera oxigênio;<br />

A aula acima <strong>de</strong>scrita mostra que o discurso do P1 se manteve como recurso influente<br />

e prepon<strong>de</strong>rante na transmissão e aquisição das idéias apresentadas aos alunos. Esse recurso<br />

utilizado pelo professor mantinha os alunos sentados e concentrado na aula. Nessa<br />

organização que se mantém na sala <strong>de</strong> aula, vimos que o professor dispõe <strong>de</strong> <strong>saberes</strong> que<br />

estão ligados ao controle do grupo, ou seja, a boa gestão da classe está estabelecida,<br />

constatamos isso, quando ele chama a atenção dos alunos para o que está escrito no quadro, e<br />

é escutado por quase todos que estão na sala. A palavra proferida pelo professor se<br />

transforma <strong>em</strong> uma linguag<strong>em</strong> específica e entendida pelos alunos, ou seja, esse tipo <strong>de</strong><br />

discurso realizado pelo P1, criou um estilo próprio <strong>de</strong>ssa sala <strong>de</strong> aula e a interação se faz<br />

através da palavra que não dar limites a compreensão como diz Bakhtin (1985, p. 319): “A<br />

palavra s<strong>em</strong>pre quer ser ouvida, s<strong>em</strong>pre busca a compreensão como resposta e não se <strong>de</strong>tém<br />

numa compreensão mais próxima mas segue s<strong>em</strong>pre <strong>em</strong> frente <strong>de</strong> uma maneira ilimitada”.<br />

Portanto, para realizar essa ação com sucesso o professor precisa ter <strong>de</strong>senvolvido<br />

uma interação mútua. Vimos que conquistou a autorida<strong>de</strong> e o respeito dos educandos, dando<br />

test<strong>em</strong>unho <strong>de</strong> segurança e confiança, na sua relação com o outro, sendo leal ao que está<br />

expresso na sua fala, (FREIRE, 2 ed.). Os alunos respon<strong>de</strong>ram com atenção e obediência ao


seu chamado. Neste momento as preocupações do professor estariam relacionadas não<br />

apenas a gestão da sala, mas, ao processo cognitivo, a organização social da classe, a<br />

concentração na tarefa que estava realizando e por fim com o gerenciamento das explicações<br />

para atingir a compreensão e a aquisição do conceito abordado, atingindo, <strong>de</strong>ssa forma, o<br />

maior número <strong>de</strong> alunos, já que sab<strong>em</strong>os que a aprendizag<strong>em</strong> se realiza <strong>de</strong> maneira diferente<br />

para cada aluno, ou seja, eles possu<strong>em</strong> uma particularida<strong>de</strong>, (TARDIF, 2003). Assim, essa<br />

ord<strong>em</strong> mantida na sala <strong>de</strong> aula se refere aos estudos <strong>de</strong> Tardif, (2003, p. 221): “... Uma ord<strong>em</strong><br />

construída pela ação do professor <strong>em</strong> interação com seus alunos”. Nas ações acima realizadas<br />

pelo P1, estão presentes a gestão da classe, da matéria e do conteúdo, portanto o saber da<br />

experiência <strong>em</strong> ação.<br />

Portanto, vimos que a interação da sala <strong>de</strong> aula implica <strong>em</strong> saber comandar,<br />

organizar, incluir e conviver com a diversida<strong>de</strong> dos diversos atores da sala, negociar um<br />

impasse ocorrido, enfim administrar as situações complexas e fundamentais que surg<strong>em</strong><br />

nestas ocasiões específicas <strong>de</strong> ensino, ou seja, entre educandos e educadores, (FREIRE, 2<br />

ed.).<br />

Conseqüent<strong>em</strong>ente, na observação <strong>de</strong>sse processo, vimos também que a preocupação<br />

com a evolução do aluno se faz constante, pois a pergunta sobre o conteúdo direcionada ao<br />

aluno acontecia com muita freqüência, como vimos na <strong>de</strong>scrição acima. O t<strong>em</strong>a da unida<strong>de</strong><br />

trabalhado pelo P1, era “Classificação dos vegetais”, e sobre este t<strong>em</strong>a ele faz pergunta<br />

como: “ O que seria algas?(fala nº 5, aula 1); Qual o papel das algas? (fala nº 15, aula 1); O<br />

que quer dizer terminação ói<strong>de</strong>? (fala nº 38, aula 1). Assim, usando essa forma <strong>de</strong> interação o<br />

P1 faz <strong>em</strong> média <strong>de</strong>zoito perguntas <strong>em</strong> uma aula <strong>de</strong> 43 minutos e 28 segundos, as perguntas<br />

se alternavam, ora individualmente, ora coletivamente.<br />

Dessa relação criada pelo P1 através da comunicação oral, observamos um<br />

entusiasmo atrelado a um leque <strong>de</strong> ações atitu<strong>de</strong>s afetivas que vimos acontecer nas <strong>aulas</strong> que<br />

observamos, portanto aqui presente, os <strong>saberes</strong> estratégicos. Ao termino da primeira aula, o<br />

P1 agra<strong>de</strong>ce aos alunos por ter<strong>em</strong> colaborado com o andamento do processo reconhecendo o<br />

comportamento coerente que eles expressaram durante a aula e diz: “ Obrigado aí, gente”,<br />

nessa fala o professor reconhece a importância do outro no processo educativo confirmando<br />

a influência recíproca, estando, assim, ciente <strong>de</strong> que s<strong>em</strong> essa participação do aluno não seria<br />

viável o processo <strong>de</strong> ensino que <strong>de</strong>senvolve. Para afirmar nosso olhar e nossa idéia diante<br />

<strong>de</strong>sta situação colocamos aqui as palavras escritas por Goffman, apud Laplane (2000): “A<br />

interação é concebida como cena que envolve a presença <strong>de</strong> dois ou mais atores que exerc<strong>em</strong><br />

uma influência recíproca”.


Essa ação recíproca entre o professor e seus alunos possibilitou-nos a constatação <strong>de</strong><br />

uma orientação para a construção do conhecimento do aluno. Cooperando assim, com o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento cognitivo e o <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penho escolar <strong>de</strong>sse aluno, cuja comunicação se efetiva<br />

numa sucessão <strong>de</strong> atitu<strong>de</strong>s que se <strong>de</strong>fine entre falas e gestos, entrando <strong>em</strong> harmonia com a<br />

<strong>em</strong>ergência do momento. Essa interação como se viu possibilita o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong><br />

capacida<strong>de</strong>s cognitivas e o <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penho escolar do aluno, ajudando assim a cumprir o<br />

propósito primeiro da escola, ou seja, a apren<strong>de</strong>r os conteúdos apresentados, (LAPLANE,<br />

2000).<br />

Na <strong>em</strong>ergência da situação na sala <strong>de</strong> aula, vimos que o professor vai além <strong>de</strong> usar<br />

estratégias e interagir com o aluno, sabe-se que este é um espaço complexo e d<strong>em</strong>anda <strong>de</strong><br />

várias ações relacionadas ao fazer docente. Para minimizar ou conviver b<strong>em</strong> com esta<br />

complexida<strong>de</strong> esse profissional necessita também gerenciar este espaço cabendo a ele, como<br />

foi visto, agir com autorida<strong>de</strong>, manter a disciplina dos alunos e a disciplina da tradição<br />

pedagógica (horários, rotinas, a chegada na sala, o registro da freqüência, a verificação do<br />

planejamento e das ativida<strong>de</strong>s pen<strong>de</strong>ntes, a retomada do conteúdo, et.), a organização física<br />

da sala e validar as normas <strong>de</strong> condutas já <strong>de</strong>terminadas pela escola, (TARDIF, 2003). Após<br />

pensar e falar um pouco dos acontecimentos ocorridos na sala <strong>de</strong> aula envolvendo sua gestão,<br />

voltar<strong>em</strong>os a examinar o nosso conjunto <strong>de</strong> material sobre este aspecto.<br />

Durante o t<strong>em</strong>po que permanec<strong>em</strong>os familiarizados com a rotina do P1, vimos que a<br />

sala <strong>de</strong> aula manteve um comportamento estável <strong>de</strong>s<strong>de</strong> nosso primeiro contato. A aula<br />

transcorria s<strong>em</strong>pre com tranqüilida<strong>de</strong>, permitindo o professor a cumprir com seus objetivos.<br />

Uma das <strong>aulas</strong> que observamos o professor realizou todos os procedimentos que tinha<br />

planejado, nesta aula ele abordava os tipos <strong>de</strong> raízes, (aula nº 3). Quando começou a falar<br />

sobre o conteúdo a sala se voltou para os seus movimentos e suas falas, não havendo <strong>em</strong><br />

nenhum momento a quebra <strong>de</strong> ritmo ou <strong>de</strong> seqüência da aula por falta <strong>de</strong> comportamento<br />

a<strong>de</strong>quado dos alunos. Quando se estabelecia uma pequena discussão entre os alunos o<br />

professor controlava o pequeno balbucio <strong>em</strong>anando um “Psiu”, após o seu gesto, voltava o<br />

silêncio como resposta a um comando do professor, nessa dinâmica estabelecida na sala, o<br />

saber docente se faz presente enquanto, gestão da classe e da matéria, portanto esse conjunto<br />

retrata o saber da experiência do professor, <strong>em</strong> que suas estratégias se faz<strong>em</strong> a<strong>de</strong>quadas.<br />

Os alunos pareciam adaptados aquela rotina que se instalava na sala <strong>de</strong> aula <strong>de</strong>ixando<br />

o espaço do professor b<strong>em</strong> <strong>de</strong>finido, sendo possível ele gerenciar a sala, durante a maioria do<br />

t<strong>em</strong>po, e <strong>em</strong> frente a 1ª fila <strong>de</strong> alunos, <strong>de</strong> on<strong>de</strong> fazia a exposição do conteúdo, voltando-se<br />

também ao quadro on<strong>de</strong> escrevia e explicava o conteúdo simultaneamente. Vimos um


professor que fazia a exposição do conteúdo com tranqüilida<strong>de</strong>, seguro do seu papel docente<br />

test<strong>em</strong>unhando um controle, ou como pod<strong>em</strong>os dizer uma boa condução pedagógica, on<strong>de</strong><br />

ele não era invadido ou atrapalhado por eventos ina<strong>de</strong>quados durante sua exposição.<br />

A sala <strong>de</strong> aula continuou <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início com a mesma estética as bancas enfileiradas,<br />

o birô no canto direito da sala e os alunos s<strong>em</strong>pre atentos ao discurso do professor. A<br />

autorida<strong>de</strong> do professor esteve presente do início ao fim do seu trabalho, sendo s<strong>em</strong>pre<br />

mantida. Como test<strong>em</strong>unho, houve um momento <strong>em</strong> que o professor parou o conteúdo e<br />

comunicou a turma que ia fazer a chamada e voltava para explicar o conceito <strong>de</strong> coifa, nesse<br />

instante, <strong>em</strong> que o professor realizava outra ativida<strong>de</strong> não houve nenhuma quebra <strong>de</strong><br />

organização da sala <strong>de</strong> aula.<br />

Nesse sentido nos pareceu ter o professor uma autorida<strong>de</strong> instituída, que já era parte<br />

daquele contexto <strong>em</strong> que abrigava professor e aluno com papéis <strong>de</strong>finidos e necessários entre<br />

si. Vimos claramente que a ord<strong>em</strong> instituída na sala <strong>de</strong> aula é imposta pela ação do professor<br />

<strong>em</strong> ação, ou seja, pelo uso da sua capacida<strong>de</strong> e pelo uso <strong>de</strong> sua pluralida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>saberes</strong>,<br />

(TARDIF, 2003). Portanto a ord<strong>em</strong> na sala <strong>de</strong> aula resulta <strong>de</strong> uma imposição / negociação do<br />

professor diante <strong>de</strong> seus alunos, (TARDIF, 2003).<br />

A gestão da classe que é uma coisa complexa para muitos professores não parece ser<br />

para o P1, pois vimos <strong>em</strong> uma das <strong>aulas</strong> que capturamos um momento curioso: é início da<br />

aula quando a maioria dos alunos não está no interior da sala, o professor entra, espera <strong>em</strong><br />

silêncio a organização dos alunos e <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> poucos segundos o que t<strong>em</strong>os é uma sala <strong>de</strong><br />

aula organizada para apren<strong>de</strong>r, s<strong>em</strong> que o professor mencione qualquer comando, os alunos<br />

começam a anotar o que o professor põe no quadro e a ord<strong>em</strong> se mat<strong>em</strong>.<br />

A autorida<strong>de</strong> é um el<strong>em</strong>ento intrínseco na aula do P1, é como se ele comunicasse<br />

antes como os alunos <strong>de</strong>v<strong>em</strong> se comportar. Aqui capturamos outras imagens e novamente se<br />

constata a autorida<strong>de</strong> e a imposição <strong>de</strong> ord<strong>em</strong> do professor, pois nessa aula o professor se<br />

<strong>de</strong>spren<strong>de</strong> do quadro, usa o material concreto que é examinado pelos alunos, percorre toda a<br />

sala conversando e explicando os <strong>de</strong>talhes do material aos alunos, mas a ord<strong>em</strong> e a atenção se<br />

mat<strong>em</strong>, ele continua a aula copiando no quadro e o clima na sala <strong>de</strong> aula continua o mesmo.<br />

Dessa forma o comportamento visto por nós revela a autorida<strong>de</strong> e controle do professor,<br />

supostamente, pelo que vimos uma autorida<strong>de</strong> conseguida a partir do respeito afetivo e<br />

carismático para com o seu público, (TARDIF, 2003).<br />

Um outro saber incorporado a prática docente são os <strong>saberes</strong> dos professores<br />

relacionados a disciplina e principalmente a disciplina que ensina. Esse saber transmitido<br />

aos seus alunos são produtos incorporados a sua prática e não produzido por ele. Sab<strong>em</strong>os


que a sala <strong>de</strong> aula t<strong>em</strong> na sua essência a socialização <strong>de</strong>sses <strong>saberes</strong> e é nessa socialização<br />

que agora centrar<strong>em</strong>os nossa atenção relatando como o professor realizou tal feito.<br />

Ver<strong>em</strong>os agora como o P1 realizou a transmissão <strong>de</strong> conhecimentos a seus alunos<br />

abordando os conteúdos relacionados ao processo <strong>de</strong> fotossíntese no ensino médio nível <strong>em</strong><br />

que se <strong>de</strong>ve trabalhar o conteúdo enfatizando os micros processos que resulta na produção <strong>de</strong><br />

energia e liberação <strong>de</strong> oxigênio. Portanto mostrar<strong>em</strong>os como o P1, realizou sua aula para<br />

abordar o conteúdo fotossíntese.<br />

Na primeira aula que acompanhamos do P1, vimos que <strong>de</strong>u início conceituando<br />

botânica, na intenção <strong>de</strong> situar o aluno e <strong>de</strong> resgatar a sua atenção estimulando o mesmo a se<br />

inserir na sua aula,. Estávamos acompanhando o P1, a quatro <strong>aulas</strong> anteriores, mas o nosso<br />

interesse maior foi na sua apresentação dos conteúdos relacionados ao processo <strong>de</strong><br />

fotossíntese, pois como está posto o nosso probl<strong>em</strong>a, se fez necessário que direcion<strong>em</strong>os para<br />

este momento nossas mais atenciosas observações, por este motivo apresentamos a vocês a<br />

análise <strong>de</strong> um trecho da aula nº 5 <strong>em</strong> que olhamos o saber disciplinar do P1.<br />

Recorte da<br />

aula nº 5<br />

P1<br />

12. Fala sobre as funções das folhas, e diz que são as seguintes:<br />

Respiração, Fotossíntese e Transpiração;<br />

13. O professor pergunta: a planta respira que gás? Qual é o gás que a<br />

planta respira? Um aluno respon<strong>de</strong>: gás carbônico;<br />

14. O professor volta a pergunta para a turma: vocês acham que a planta<br />

respira gás carbônico é?<br />

15. Pergunta novamente: a planta respira o quê? Um aluno respon<strong>de</strong> gás<br />

carbônico e outro, oxigênio;<br />

16. O professor pergunta a um outro aluno: qual a função da respiração<br />

nos vegetais? Ela vai contribuir <strong>em</strong> quê?<br />

17. Agora faz a pergunta para a turma:Qual o gás que a planta utiliza,<br />

pessoal, para se manter viva?<br />

18. Um aluno respon<strong>de</strong>: oxigênio.<br />

19. Nesse momento o professor escreve no quadro: a planta absorve<br />

através das folhas, o gás oxigênio e libera o gás carbônico;


20. O professor se dirigindo aos alunos, fala: aí eu pergunto a vocês: se a<br />

planta absorve oxigênio primeiro que o gás carbônico, a respiração só<br />

é <strong>de</strong> dia ou só é a noite?<br />

( o professor está ajudando o aluno a construir sua resposta)<br />

21. Um aluno pergunta: mas é só à noite isso aí, não é professor?<br />

22. O professor se dirige ao aluno: aí você diz: se a planta respira à noite,<br />

só a noite, e <strong>de</strong> manhã e <strong>de</strong> tar<strong>de</strong>? O que é que acontece?<br />

23. O aluno pergunta novamente: é ao contrário né professor?<br />

24. O professor volta a pergunta para o aluno: é ao contrário?<br />

25. O professor fala: por ex<strong>em</strong>plo, nós seres humanos, o que acontece, a<br />

gente absorve oxigênio e libera o gás carbônico,<br />

26. Para construir a resposta junto ao aluno o professor pergunta: aí eu<br />

pergunto a vocês: a gente faz este processo só à noite?<br />

27. Os alunos respond<strong>em</strong>: não.<br />

28. O professor Pergunta novamente: faz como? Faz só acordado?<br />

Dormindo pára?<br />

29. O aluno respon<strong>de</strong>: dormindo também.<br />

30. O professor pergunta novamente: A planta, ela respira só à noite? E<br />

agora?<br />

31. O aluno respon<strong>de</strong>: <strong>de</strong> dia ela respira gás carbônico e libera oxigênio.<br />

32. O professor valoriza a resposta do aluno: legal, segundo o aluno (para<br />

não citar o nome) <strong>de</strong> dia a planta libera gás carbônico e à noite ela<br />

libera oxigênio.<br />

Uma aluna diz que a planta escolhe o gás que vai respirar. Um outro aluno<br />

diz que a planta é que n<strong>em</strong> um poste que à noite ele acen<strong>de</strong> e seis horas da<br />

manhã ele apaga. Uma aluna pergunta: e a fotossíntese?<br />

Iniciando a falar <strong>de</strong>ssa exposição do P1, vimos que ele começa apresentando as<br />

funções da folha <strong>de</strong>ixando claro para seus alunos que se <strong>de</strong>terá nos três processos realizados<br />

por estes órgãos do vegetal. Para inserir o aluno na aula e a<strong>de</strong>quar o conhecimento <strong>de</strong>le ao<br />

conhecimento cientifico o P1, pergunta: “a planta respira que gás? Qual é o gás que a planta<br />

respira?”, <strong>de</strong> imediato t<strong>em</strong> a resposta do aluno: “ gás carbônico”. O professor não consi<strong>de</strong>ra<br />

essa primeira resposta e segue questionando com a turma, realizando mais uma série <strong>de</strong>


questionamentos: como está <strong>de</strong>scrito acima. O P1 investe nos questionamentos para fazer<br />

com que os alunos pens<strong>em</strong> e reflitam, sobre o conceito que estão a construir não só a partir<br />

<strong>de</strong>sta resposta, mas, o que vai acontecendo <strong>em</strong> todo processo <strong>de</strong> ensino aprendizag<strong>em</strong><br />

realizada por ambos.<br />

Portanto, antes <strong>de</strong> confirmar a resposta do aluno ou dos alunos, o P1, faz nove<br />

perguntas, antes <strong>de</strong> confirmar a resposta dos alunos. Com esta postura vai edificando nos<br />

alunos a certeza do conceito que estão apren<strong>de</strong>ndo. Neste recorte que estamos colocando <strong>em</strong><br />

análise ver-se que o P1, expõe e relaciona seu saber disciplinar com a gestão da sua classe, a<br />

sua insistência <strong>em</strong> d<strong>em</strong>orar a escutar a resposta dos alunos nos mostra que seu ensino é<br />

voltado também para o conhecimento coerente ou científico, e sua postura insistente estimula<br />

a participação e reflexão, e não só para um ou uma aluna que respon<strong>de</strong>, mas procura incluir o<br />

máximo <strong>de</strong> alunos que ali se encontra, na aprendizag<strong>em</strong> do conteúdo que apresentou, pois<br />

compreen<strong>de</strong> que esse saber sendo adquirido pelos alunos mudará sua qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida como<br />

cidadão e também como profissional, pois po<strong>de</strong>rá se posicionar com segurança diante das<br />

situações que lhe será comum, Portanto, quando o professor se preocupa com o ensino da<br />

disciplina ele preten<strong>de</strong> gerar no outro um efeito que chamamos <strong>de</strong> aprendizag<strong>em</strong> e po<strong>de</strong>- se<br />

dizer que o efeito será no outro coletivo, (TARDIF, 2003).<br />

Na seqüência da aula o P1 escreve uma afirmação no quadro para confrontar o<br />

raciocínio dos alunos e qu<strong>em</strong> sabe até os conceitos que eles já construíram. O P1 coloca no<br />

quadro a seguinte afirmação: ”a planta absorve através das folhas, o gás oxigênio e libera o<br />

gás carbônico” os alunos não concordam e se instala uma insatisfação sobre a afirmação,<br />

gerando várias discussões sobre o processo <strong>de</strong> respiração, referente ao horário <strong>em</strong> que o gás é<br />

liberado, qual dos gases é inalado e expelido, pelos seres humanos e pelas plantas.<br />

Enfim, após uma movimentada discussão, um aluno afirma, ele parece chegar ao<br />

raciocínio correto e com ênfase faz uma pergunta que parece ele mesmo respon<strong>de</strong>r: “é ao<br />

contrário, né professor?”. Outro aluno se fortalece com a colocação do colega e afirma: “<strong>de</strong><br />

dia ela respira gás carbônico e libera oxigênio”. Após essa afirmação do aluno, o P1 se<br />

satisfez, constatando que os outros alunos escutaram a colocação do colega e não<br />

discordaram, n<strong>em</strong> surgiram mais perguntas.<br />

Assim o P1, valoriza a resposta do aluno e confirma dizendo: “legal, <strong>de</strong> dia a planta<br />

libera gás carbônico e à noite ela libera oxigênio”, após convergir aqui com os ditos dos<br />

alunos e confirmar o processo o P1 segue a aula introduzindo outras etapas do conteúdo.


Vimos que se instalaram diversas discussões sobre o conceito ensinado e vários<br />

<strong>saberes</strong> foram construídos, no entanto, no final da aula, momento 32, vimos uma falha do<br />

professor <strong>em</strong> seguir a frente no conteúdo e não respon<strong>de</strong>r a pergunta <strong>de</strong> uma aluna, que não<br />

se contentou com as afirmações e reflexões dos colegas sobre o processo <strong>de</strong> fotossíntese, pois<br />

achou a discussão insuficiente e perguntou: - e a fotossíntese? O conceito que po<strong>de</strong>ria está<br />

sendo aprendido pela aluna, fica aqui s<strong>em</strong> conclusão, pois pelo que foi discutido com o<br />

professor ela percebeu que a fotossíntese não é uma troca <strong>de</strong> gases, mas várias reações<br />

químicas que t<strong>em</strong> como produto a glicose e o oxigênio, fundamentais para os seres vivos do<br />

nosso planeta.<br />

O P1, ciente <strong>de</strong> que seus alunos sab<strong>em</strong> que estão falando e apren<strong>de</strong>ndo sobre o<br />

processo <strong>de</strong> fotossíntese, pergunta: “para que serve a fotossíntese nos vegetais?” Vimos na<br />

prática do P1, que continuou a realizar com os alunos o mesmo processo <strong>de</strong> construção <strong>de</strong><br />

conceito que fez antes <strong>de</strong> escutar vários alunos, valorizando o exercício do diálogo e da<br />

participação <strong>de</strong> seus educandos, revelando <strong>de</strong>ssa forma um saber docente voltado para a<br />

gestão da sala <strong>de</strong> aula com foco na aprendizag<strong>em</strong>, situações <strong>em</strong> que converg<strong>em</strong> para o<br />

sucesso do ensino. A participação dos alunos se dá através da fala que contribu<strong>em</strong> para<br />

chegar à resposta correta, ou a qual <strong>de</strong>seja o professor, e diz<strong>em</strong>: “– fazer um ciclo. Outro<br />

aluno diz: – professor, eu estava <strong>de</strong>batendo com meus amigos, e veja só: – <strong>de</strong> dia t<strong>em</strong> a luz<br />

do sol, e à noite t<strong>em</strong> umida<strong>de</strong>”. Mais um aluno fala: –respiração; O outro diz:<br />

– oxigênio. Os alunos tentam respon<strong>de</strong>r, mas não chegam a um pensamento próximo,<br />

coerente com o aceito pela ciência.<br />

Portanto, estando os alunos distantes da resposta <strong>de</strong>sejada, o P1 retoma a discussão e<br />

fala: “– aí v<strong>em</strong> aquele processo metabólico, o sujeito vai as, células, produção <strong>de</strong> energia. O<br />

P1 inicia uma resposta <strong>de</strong> forma incoerente, quando na sua fala ele diz : aquele processo<br />

metabólico, dando a idéia <strong>de</strong> um processo distante da realida<strong>de</strong> dos alunos, estimulando um<br />

pensamento abstrato sobre o processo. Ele usa uma entonação <strong>de</strong> voz, acentuada, como se a<br />

assimilação do aluno se <strong>de</strong>sse a partir da sua fala, pois sab<strong>em</strong>os que o som <strong>em</strong>itido não<br />

representa a ocorrência exata das etapas do processo. Seguindo a aula, ele agora usa um<br />

termo ina<strong>de</strong>quado “o sujeito” , como se estivesse falando <strong>de</strong> uma pessoa, quando se refere a<br />

um gás. Enfim, ele respon<strong>de</strong> parte da pergunta que fez: “– produção <strong>de</strong> energia”,<br />

respon<strong>de</strong>ndo qual a função da fotossíntese. Para tanto nossa oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> observação nos<br />

mostrou que aqui a apresentação do P1 sobre a o conceito <strong>de</strong> fotossíntese, apresenta segundo<br />

seu ensino várias lacunas <strong>em</strong> relação ao seu saber disciplinar, pois as reações do processo<br />

metabólico não foram falados, <strong>de</strong>ixando <strong>de</strong>sta forma uma incógnita na aprendizag<strong>em</strong> do


aluno, pois o seu contato com o processo foi insuficiente, para tal aprendizag<strong>em</strong>. “O tipo <strong>de</strong><br />

conhecimento que o professor possui a respeito da matéria influi no seu ensino e na<br />

aprendizag<strong>em</strong> dos alunos”, (GAUTHIER et al. 1998, apud GROSSMAN, 1990).<br />

A aula do professor t<strong>em</strong> continuida<strong>de</strong> , agora ele apresenta <strong>de</strong> fato o conceito <strong>de</strong><br />

fotossíntese para seus alunos, mostrando seu saber científico o qual também vai nos<br />

oportunizar o exame do seu domínio disciplinar e da classe que ora trabalha. Chegando junto<br />

ao conceito <strong>de</strong> fotossíntese o P1 comenta: “esse é um processo que é todo intricado,<br />

biológico, você libera o Co2, absorve o oxigênio, é aquele processo todo. A planta, ela utiliza<br />

isso (aponta para o nome respiração que se encontra escrito no quadro entre as funções das<br />

plantas) para se manter viva ela, ela utiliza isso para jogar o oxigênio nas suas células“. Nesta<br />

situação que ora viv<strong>em</strong>os <strong>em</strong> relação ao ensino, é importante l<strong>em</strong>brar que não pod<strong>em</strong>os<br />

<strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> reparar os <strong>de</strong>talhes <strong>de</strong> um processo complexo ou <strong>de</strong> qualquer outro, que <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong><br />

ser citado, explicado ou apresentado até <strong>de</strong> forma pictórica, e aqui o P1, não oraliza, não<br />

esqu<strong>em</strong>atiza, não ex<strong>em</strong>plifica, não mostra o processo, não cita as proteínas envolvidas,<br />

portanto o docente aqui não trabalha, ou pod<strong>em</strong>os dizer, não ensina o conceito ou o processo<br />

da fotossíntese como ele se constitui <strong>em</strong> si. Partindo <strong>de</strong>stes dados, constatamos a sua lacuna,<br />

disciplinar ou até epist<strong>em</strong>ológica. Sab<strong>em</strong>os que o conhecimento disciplinar não dá conta da<br />

teia <strong>de</strong> necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> uma sala <strong>de</strong> aula, mas não pod<strong>em</strong>os <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> constatar que esse tipo<br />

<strong>de</strong> conhecimento é fundamental, para que o ensino cui<strong>de</strong> da sua essência. Assim, para ensinar<br />

o professor precisa conhecer o conteúdo a ser ensinado (GAUTHIER et. al 1998).<br />

Na seqüência da aula o professor continua fazendo perguntas para o início da<br />

discussão sobre processo <strong>de</strong> fotossíntese, o P1 fala do processo cortando sua seqüência e opta<br />

pelas informações mais gerais. Em uma <strong>de</strong> suas falas o P1 diz “ que a questão da planta<br />

dormir seria a razão do seu metabolismo que po<strong>de</strong> <strong>de</strong>sacelerar, <strong>em</strong> função da hora, e <strong>de</strong><br />

outros fatores, como a luminosida<strong>de</strong>, pois a noite a luz solar, também responsável pelo<br />

processo, não aparece.,Quanto a produção do CO2, po<strong>de</strong> existir uma queda, mas não existe<br />

uma planta dormindo como nós”. Comentando a fala do P1, sab<strong>em</strong>os que <strong>de</strong> acordo com o<br />

conhecimento geral ou científico não se compreen<strong>de</strong> as minúcias ou as reações que existe <strong>em</strong><br />

um conceito. Em relação ao processo <strong>de</strong> fotossíntese essa questão <strong>de</strong>ve ser valorizada, pois<br />

só é possível a explicação do processo a partir da familiarização com uma reunião <strong>de</strong><br />

conteúdos. Quando é apresentado <strong>de</strong> forma global a compreensão po<strong>de</strong> não se aproximar da<br />

verda<strong>de</strong> dos fatos.


Assim, constatamos aqui uma dificulda<strong>de</strong> do professor <strong>em</strong> expor seu saber científico<br />

na ação, situação que po<strong>de</strong> está retratando falha na sua formação (PAQUAY, 2001. apud<br />

SHÖN), e <strong>em</strong> conseqüência no seu saber docente <strong>em</strong> ação, pois também está incluída na<br />

situação a gestão da sala enquanto nível <strong>de</strong> aprendizag<strong>em</strong>, já que o ano <strong>de</strong> estudo dos alunos<br />

permite um mergulho mais profundo no conteúdo estudado, como pod<strong>em</strong>os constatar na aula<br />

realizada pelo P1, trabalhando o conceito alimentado <strong>de</strong> algumas particularida<strong>de</strong>s que o<br />

constitui.<br />

Recorte<br />

da aula nº<br />

5<br />

P1<br />

33. O professor: primeiro eu pergunto, para que serve a fotossíntese<br />

nos vegetais?<br />

34. Um aluno respon<strong>de</strong>: fazer um ciclo.<br />

35. Outro aluno, professor, eu estava <strong>de</strong>batendo com meus amigos, e<br />

veja só: <strong>de</strong> dia t<strong>em</strong> a luz do sol, e à noite t<strong>em</strong> umida<strong>de</strong>.<br />

36. Um aluno pergunta: a fotossíntese po<strong>de</strong> parar à noite?<br />

37. O professor respon<strong>de</strong> com a mesma pergunta: a fotossíntese, ela<br />

po<strong>de</strong> parar à noite?<br />

38. Em seguida, olha para outra aluna que fala da relação da altitu<strong>de</strong><br />

com nossa respiração e diz: qual é a função da gente aqui?<br />

39. O professor nesse momento aponta para o quadro on<strong>de</strong> estão<br />

escritas as funções das folhas.<br />

40. Os alunos respond<strong>em</strong>: respiração;<br />

41. O professor continua: o que é que a gente faz quando a gente<br />

respira? A gente utiliza o quê?


42. Os alunos respond<strong>em</strong>: oxigênio;<br />

43. O professor: aí v<strong>em</strong> aquele processo metabólico, o sujeito vai as,<br />

células, produção <strong>de</strong> energia, etc.<br />

44. O professor pergunta para a turma: a gente libera o quê?<br />

45. Os alunos respond<strong>em</strong>: gás carbônico;<br />

46. O professor comenta: esse é um processo que é todo intricado,<br />

biológico, você libera o Co2, absorve o oxigênio, é aquele processo<br />

todo. A planta, ela utiliza isso (aponta para o nome respiração que se<br />

encontra escrito no quadro entre as funções das plantas) para se manter<br />

viva ela, ela utiliza isso para jogar o oxigênio nas suas células.<br />

A aula t<strong>em</strong> seqüência e após o discurso acima, o P1 pronuncia várias perguntas,<br />

tentando explicar e or<strong>de</strong>nar os fenômenos que ocorr<strong>em</strong> no processo <strong>de</strong> fotossíntese, e realiza<br />

as perguntas, como ilustrado acima: “e a fotossíntese? A fotossíntese serve pra que? “O P1<br />

faz mais intervenções sobre o conceito: “O professor esclarece: – serve para o ciclo da vida<br />

da planta, verda<strong>de</strong>, e continua, a planta s<strong>em</strong> fotossíntese ela chega a ponto <strong>de</strong> que?” O<br />

professor respon<strong>de</strong>: “ela morre, continua perguntando e ela faz a fotossíntese para se manter<br />

viva por que precisa <strong>de</strong> quê?” Um aluno respon<strong>de</strong>: “alimentação, oxigênio”. Um outro aluno<br />

respon<strong>de</strong> perguntando: “síntese da luz?”.<br />

Assim, neste caso as intervenções realizadas pelo professor ainda não foram suficientes para<br />

construir junto ao aluno o conceito <strong>de</strong> fotossíntese, <strong>em</strong> vista das respostas que foram dadas e<br />

as que não foram, como acabamos <strong>de</strong> relatar. Os <strong>saberes</strong> necessários a uma ação docente,<br />

como sab<strong>em</strong>os são vários, mas, a i<strong>de</strong>ntificação e validação <strong>de</strong> um repertório <strong>de</strong><br />

conhecimentos específicos ao ensino contribu<strong>em</strong> para o status do professor e a confirmação<br />

<strong>de</strong> um resultado positivo <strong>de</strong> seu ensino (GAUTHIER et al., 1998).


O conceito <strong>de</strong> fotossíntese t<strong>em</strong> novamente ênfase na fala do P1, agora escrito no<br />

quadro, assim: “é um processo bioquímico on<strong>de</strong> a planta, transforma substâncias inorgânicas<br />

<strong>em</strong> substâncias orgânicas com participação da luz solar”. Reforçando a importância do<br />

conceito <strong>de</strong> fotossíntese o P1, pergunta: Qual seria o gás utilizado na fotossíntese? e qual é o<br />

gás liberado nesse processo?, e obtém a resposta dos alunos: resposta 1: carbônico; Resposta<br />

2: oxigênio”. Aqui nos seus escritos o professor escreve um breve conceito <strong>de</strong> fotossíntese,<br />

que condiz com a sua fala introdutória e obtém resposta dos alunos, uma resposta errada e<br />

outra certa. Esse fato acontecido na sala <strong>de</strong> aula <strong>em</strong> relação ao conceito enseja um<br />

<strong>de</strong>sm<strong>em</strong>bramento do conceito, pois se faz necessário para a compreensão dos alunos e para<br />

minimizar a sua complexida<strong>de</strong> justificando sua utilida<strong>de</strong> como um instrumento <strong>de</strong><br />

compreensão da realida<strong>de</strong>.<br />

Portanto, <strong>de</strong> acordo com a organização do seu plano <strong>de</strong> aula o P1, agora escreve no<br />

quadro a equação da fotossíntese:<br />

Energia luminosa (luz)<br />

6CO2 + 12H2O C6H12O6 + 6H2O + 6O2.<br />

Clorofila e enzima<br />

Posteriormente o P1 fala sobre os reagentes e produtos da equação e exprime: “as 6<br />

moléculas <strong>de</strong> gás carbônico mais 12 <strong>de</strong> água com a presença da luz solar vai ter a substância<br />

produzida, isto é, a substância orgânica, o alimento da planta, que nada mais é do que a,,,”. O<br />

P1 completa: “a glicose, o açúcar, esse é o objetivo, a água e o oxigênio são liberados.<br />

Ll<strong>em</strong>bra que esse processo bioquímico só acontece nas folhas. A glicose fica na planta e o<br />

oxigênio é <strong>de</strong>sprendido, que vai servir para nós e para própria planta”. Com esta fala o<br />

professor conclui sua exposição sobre o conteúdo fotossíntese.<br />

Assim, classificamos essa apresentação do professor para sua turma <strong>de</strong> alunos , como<br />

sendo, uma exposição coerente mais resumida. Como se viu foi percebida a ausência das<br />

etapas <strong>de</strong>sse conceito, como uma exposição sobre a fotólise da água, as reações ocorridas nos<br />

cloroplatos, etc., que s<strong>em</strong> elas o estudo torna-se parcial, logo incompleto. Na insuficiência ou<br />

ausências <strong>de</strong>ssas informações pod<strong>em</strong> permanecer conhecimentos sedimentados com o<br />

cotidiano e assim, po<strong>de</strong> também continuar a permanecer o obstáculo epist<strong>em</strong>ológico sobre<br />

esses <strong>saberes</strong> já edificados, <strong>de</strong>sse modo torna-se indispensável estudar mais <strong>de</strong> perto o<br />

fenômeno (BACHELARD, 1996).


Constituindo sua i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>, tornando públicos seus <strong>saberes</strong>, que se relacionam<br />

quando tece o ensino, cuja ação mobiliza, aqui, seus conhecimentos pedagógicos,<br />

experienciais, contextuais e científicos, para resultar num ensino <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> intensida<strong>de</strong>.<br />

Sab<strong>em</strong>os que o professor vive a <strong>em</strong>ergência da sala <strong>de</strong> aula, que não se limita a um ou dois<br />

<strong>saberes</strong>, mas que é capaz <strong>de</strong> perceber a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> agir diferente ativando o saber<br />

necessário juntamente com os recursos disponíveis para que o ensino <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> e sua<br />

i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> profissional se constituam perante seu meio e aciona através do seu conhecimento<br />

estratégias para confirmar e intensificar seu ensino e aprendizag<strong>em</strong> dos alunos. Portanto,<br />

vale <strong>de</strong>stacar que encerrando os trabalhos na sala <strong>de</strong> aula, o P1, oportuniza os alunos a ter<strong>em</strong><br />

contato com o espaço oportuno e a<strong>de</strong>quado do laboratório, a fim <strong>de</strong> constatar<strong>em</strong> e<br />

conhecer<strong>em</strong> a sucessão sist<strong>em</strong>ática do conhecimento científico na prática, como mostra o<br />

recorte da aula a seguir:<br />

Recorte da<br />

aula nº 6<br />

(Laboratório)<br />

P1<br />

1. O professor coloca uma lâmina <strong>em</strong> um microscópio óptico e pe<strong>de</strong><br />

para que os alunos observ<strong>em</strong>;<br />

2. Diz que na lâmina eles vão observar umas estruturas parecidas<br />

com pequenas bocas que são os estômatos.<br />

3. O professor continua falando: diz que estes estômatos irão<br />

apresentar vários pontos brancos, e que é exatamente por esses<br />

espaços no estômato por on<strong>de</strong> entra o oxigênio, sai o gás carbônico e<br />

também vapor <strong>de</strong> água. Enquanto os alunos observam o microscópio,<br />

o professor <strong>de</strong>senha um estômato no quadro e <strong>de</strong>screve sua estrutura.<br />

Como está relatado o P1 prossegue com o trabalho no laboratório, on<strong>de</strong> os alunos<br />

tiveram oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> observar<strong>em</strong> lâminas contendo estômatos, através do microscópio<br />

ótico. O P1 faz a introdução da aula falando da forma como vão se apresentar os estômatos<br />

nas lâminas e diz: “que na lâmina eles vão observar umas estruturas parecidas com pequenas<br />

bocas que são os estômatos. O professor continua falando que estes estômatos irão apresentar<br />

vários pontos brancos, e que é exatamente por esses espaços no estômato por on<strong>de</strong> entra o<br />

oxigênio, sai o gás carbônico e também vapor <strong>de</strong> água. Enquanto os alunos observam o


microscópio, o professor <strong>de</strong>senha um estômato no quadro e <strong>de</strong>screve sua estrutura”. Nesta<br />

aula quando ajuda os alunos com a previsão do que vão observar na lâmina, o P1 usa o termo<br />

boca ao invés <strong>de</strong> cavida<strong>de</strong>, para ajudar os alunos a se familiarizar<strong>em</strong> com os <strong>de</strong>talhes<br />

constituintes da organela O uso <strong>de</strong>ssa linguag<strong>em</strong> mais comum passa nos a idéia <strong>de</strong> que o<br />

professor e o aluno entram <strong>em</strong> um acordo verbal, ou seja, entendi o que foi falado, <strong>em</strong>bora<br />

não explicado n<strong>em</strong> vivido (BACHELARD, 1996). Essa forma geral e até <strong>em</strong>pírica que o<br />

professor fala a seus alunos se <strong>de</strong>spren<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma coerência, pois po<strong>de</strong> com a confirmação<br />

corriqueira do mestre limitar e se distanciar <strong>de</strong> uma verda<strong>de</strong> que <strong>de</strong>veria ter aprendido <strong>de</strong><br />

forma clara. Nestes discursos dos professores, vimos que o conhecimento disciplinar <strong>de</strong>ve<br />

ocorrer com a apresentação <strong>de</strong> um conjunto suficiente <strong>de</strong> <strong>de</strong>talhes para que sua compreensão<br />

não se simplifique e não se submeta ao equívoco.<br />

Encerrando a análise com o P1, apresentar<strong>em</strong>os nossas consi<strong>de</strong>rações <strong>em</strong> relação ao<br />

P2, que fazendo parte do nosso universo <strong>de</strong> pesquisa colaborou com a ampliação e<br />

qualificação do nosso estudo, pois continuar<strong>em</strong>os a verificar, também, os <strong>saberes</strong> por ele<br />

usados.<br />

4.2 O Fazer pedagógico do Professor 2 (P2)<br />

Na primeira aula que observamos <strong>de</strong>ste professor, o P2, não perceb<strong>em</strong>os o uso <strong>de</strong><br />

uma estratégia pedagógica dinâmica e inovadora, pois iniciou a aula, mostrando-se muito<br />

obediente aos procedimentos <strong>de</strong>terminado pelo seu planejamento. Para constatar essa<br />

obediência, é coerente dizer aqui que, começou a aula com a cópia do conteúdo no quadro,<br />

ativida<strong>de</strong> seguida pelos alunos, s<strong>em</strong> realização <strong>de</strong> uma conversa introdutória. A sala<br />

obe<strong>de</strong>ceu ao comando copiando do quadro o conteúdo, <strong>em</strong> seguida solicita aos alunos que<br />

par<strong>em</strong> a cópia do assunto para prestar<strong>em</strong> atenção à explicação sobre as anotações que se<br />

encontram no quadro, retratada na <strong>de</strong>scrição da aula abaixo.<br />

Recorte da<br />

aula nº 1<br />

P2<br />

1. A professora começa aula escrevendo todo conteúdo no quadro;<br />

2. Em seguida pe<strong>de</strong> para os alunos parar<strong>em</strong> um pouco <strong>de</strong> copiar e<br />

prestar atenção à explicação.<br />

3. Ela começa l<strong>em</strong>brando que na aula anterior ela e os alunos<br />

tinham visto o metabolismo energético da célula e que tinham


visto o processo <strong>de</strong> respiração aeróbica e respiração anaeróbica.<br />

Portanto, percebe-se que nesta ação o P2, apresentou envolvimento insuficiente com a<br />

turma não havendo uma interação, mas apenas, obediência da parte dos alunos. Dessa forma<br />

vimos que a estratégia usada para que pu<strong>de</strong>sse expor o conteúdo , foi a ord<strong>em</strong> direcionada a<br />

classe para chamar a atenção dos alunos e permanecer<strong>em</strong> obedientes, assim, a organização da<br />

sala torna-se visível. E o P2, segue com a sua exposição.<br />

No segundo momento da aula, o que observamos, foi o uso da voz baixa para<br />

capturar atenção, dos alunos, pois o P2 estava explicando o conteúdo. O P2 usou esta<br />

estratégia com a finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> concentração requerendo que o aluno se concentre e preste<br />

atenção no que está fazendo.<br />

Adotando as posturas acima citadas, o P2, nos revela uma imaturida<strong>de</strong> <strong>em</strong> relação ao<br />

conhecimento construído no que se refere ao ofício <strong>de</strong> professor e a gestão da sala <strong>de</strong> aula<br />

impossibilitando a abertura à participação no processo <strong>de</strong> aprendizag<strong>em</strong>. Uma estratégia que<br />

o P2, usou foi o resgate do conteúdo anteriormente vivenciado através <strong>de</strong> uma pergunta,<br />

com o objetivo <strong>de</strong> rel<strong>em</strong>brar e fixar o conteúdo anterior e seguir a partir do ponto <strong>de</strong> parada,<br />

pois a pergunta realizada serviu <strong>de</strong> elo para dar seqüência ao assunto.<br />

Observamos algumas estratégias utilizadas pelo professor, pois, além da voz baixa,<br />

outra estratégia usada pelo P2, que ora se projetou, foi a posição estratégica s<strong>em</strong>pre à<br />

esquerda do quadro, para obter o controle da classe, posição que lhe permitia visualizar todo<br />

espaço.<br />

Com o <strong>de</strong>senvolvimento da aula o <strong>de</strong>sinteresse começa a fazer parte do ambiente e<br />

agora o professor precisa restabelecer esse controle para que possa cumprir com o seu<br />

objetivo. O P2 precisa dispor <strong>de</strong> uma estratégia a<strong>de</strong>quada para que os alunos façam silêncio,<br />

e ele retome a explicação e a aula volte a correspon<strong>de</strong>r com os seus objetivos. O P2, nesta<br />

situação pedagógica precisa ativar aqui seus <strong>saberes</strong> curriculares, fazendo-se cumprir os<br />

objetivos <strong>de</strong>terminados pelo planejamento, e seus <strong>saberes</strong> da experiência que <strong>de</strong>ve fazer parte<br />

do seu conjunto <strong>de</strong> conhecimentos para gerenciar a sala <strong>de</strong> aula, (TARDIF, 2003).<br />

Assim, com esse intento o que ficou perceptível da atuação do professor na sala <strong>de</strong><br />

aula, foi a ausência da interação, pois o diálogo e o discurso bilateral não estavam presentes<br />

só existindo um monólogo o que estimulou o aluno a não participar e a não falar, provocando<br />

o não envolvimento. Cuja reação atribuímos a falta <strong>de</strong> interação, fruto <strong>de</strong> um comportamento


que não enxerga o outro no espaço da sala <strong>de</strong> aula para o exercício da troca e da construção<br />

das idéias <strong>em</strong> relação ao conteúdo que está sendo estudado.<br />

Em função da ausência <strong>de</strong>ssa estratégia o que vimos foi o diálogo do professor com<br />

ele mesmo, ou seja, um diálogo unilateral, pois já observamos que a interação não faz parte<br />

da sua aula, ou seja, nesta situação seu saber <strong>de</strong> gestão da classe, o saber da experiência não<br />

foi utilizado, o que nos parece t<strong>em</strong>er uma certa falta <strong>de</strong> controle da situação. Portanto,<br />

supomos que <strong>em</strong> função da sua pouca vivência, o espaço da fala do aluno é negada, pois ele<br />

não t<strong>em</strong> o t<strong>em</strong>po liberado para a sua resposta ou reflexão. Destacamos aqui essa ação do<br />

professor, motivados pela freqüência com que ocorre a mesma, se repetindo durante quase<br />

todo processo <strong>em</strong> que estiv<strong>em</strong>os capturando as imagens das suas <strong>aulas</strong>, vale ressaltar que as<br />

perguntas feitas a turma evoluíram <strong>de</strong> uma, para uma série <strong>de</strong> três ou quatro, aumentando ao<br />

nosso ver as chances <strong>de</strong> resposta dos alunos e também por conseqüência sua aprendizag<strong>em</strong> e<br />

fixação.<br />

Em meio a sua fala o professor faz uma pergunta referente a aula passada que nos<br />

parece ter dois motivos, o primeiro verificar o nível <strong>de</strong> fixação dos alunos relacionados ao<br />

conteúdo que está sendo estudado, o segundo avaliar a atenção dos alunos e o engajamento<br />

na sua fala, ou seja, o nível <strong>de</strong> atenção que está se processando entre eles. Nos parece que<br />

esta estratégia atinge tanto o resgate dos alunos a aula quanto o nível <strong>de</strong> informação<br />

apreendida por eles. É uma estratégia que foi usada pelo professor para verificar se pelo<br />

menos os conceitos centrais referentes ao conteúdo estudado foi apreendido.<br />

Sab<strong>em</strong>os que a sala <strong>de</strong> aula é um ambiente como qualquer outro no que diz respeito<br />

aos el<strong>em</strong>entos constituintes, recursos materiais, pessoas e comportamento. No entanto,<br />

encontramos uma diversida<strong>de</strong> que precisa ser administrada pelo professor. Nos referindo ao<br />

aspecto do comportamento do professor há novamente uma necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uso das<br />

estratégias didáticas <strong>de</strong>le e vimos que as suas ações da sala <strong>de</strong> aula e com os olhos<br />

direcionado a todo espaço. Com esta estratégia manteve um comportamento homogêneo na<br />

sala, alunos sentados calados e com a atenção voltada a fala do docente. Quanto a esse<br />

el<strong>em</strong>ento <strong>de</strong> convivência <strong>em</strong> sala <strong>de</strong> aula Scarpato et al. (2006, p. 105):<br />

A compreensão do que acontece nos grupos precisa do suporte da experiência, da<br />

<strong>em</strong>ergência dos <strong>saberes</strong> <strong>articulados</strong> com o vivido objetivamente no dia-a-dia.<br />

Necessita também da compreensão dos probl<strong>em</strong>as <strong>de</strong> relacionamento e <strong>de</strong><br />

aprendizag<strong>em</strong> que ali ocorr<strong>em</strong>.


Falando <strong>de</strong>ssa dinâmica do dia-a-dia, exist<strong>em</strong> acontecimentos que terminam se<br />

tornando comuns como algumas expressões que são ditas <strong>de</strong>ntro da sala <strong>de</strong> aula pelo<br />

professor para que atinja sua intecionalida<strong>de</strong>. Uma das expressões que pod<strong>em</strong>os citar é<br />

“gente vamos parar um pouquinho”, aqui se vê incluso o um exercício <strong>de</strong> carinho <strong>em</strong> que a<br />

professora tenta garantir o seu fazer pedagógico com o silêncio e a calmaria da sala. Essa<br />

expressão soou como uma linguag<strong>em</strong> própria daquela sala <strong>de</strong> aula revelando uma força <strong>de</strong><br />

mando, ao ser dita, gerando uma reação <strong>de</strong> obediência no grupo, ou seja, estávamos vendo a<br />

presença do acordo feito entre professor e aluno e, que tendo necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uso, torna-se<br />

visível mais uma estratégia contida nos aportes <strong>de</strong> conhecimentos do professor.<br />

Sendo um contexto <strong>de</strong> infinida<strong>de</strong> <strong>de</strong> expressões e falas, a sala <strong>de</strong> aula, agora nos<br />

convida a falar <strong>de</strong>ssas expressões que direciona o comportamento vigente na sala, pois, uma<br />

nova expressão relacionada a confirmação <strong>de</strong> el<strong>em</strong>entos do conceito são proferidas, “OK”<br />

“ta”, pois os alunos expressam uma concordância com a professora mesmo s<strong>em</strong> oralizar<br />

nenhuma palavra ou qualquer outra manifestação.<br />

A expressão “OK! Tá e certo”, como mostra o recorte da aula, é usada pelo professor<br />

no momento <strong>em</strong> que necessita da afirmação <strong>de</strong> compreensão <strong>em</strong> relação a observação que foi<br />

feita sobre o conteúdo, se expressa nessa ora um acordo ou uma convergência <strong>de</strong><br />

pensamentos <strong>em</strong> que o professor atingiu a perspectiva dos alunos, ou seja, o que foi dito pelo<br />

professor, ficou compreendido pelo aluno. Essa linguag<strong>em</strong> estabelecida pelo professor e<br />

obe<strong>de</strong>cida ou concordada pelos alunos, vai se processando como adaptação da conduta dos<br />

alunos <strong>em</strong> contato com a estratégia do professor, confirmamos essa questão com Bor<strong>de</strong>nave<br />

& Pereira (27 ed. p. 98): “ Se a educação é concebida como um processo <strong>de</strong> moldag<strong>em</strong> da<br />

conduta, então não só é possível mas apropriado consi<strong>de</strong>rar os professores como engenheiros<br />

do comportamento”.<br />

Recorte<br />

P2<br />

13. A professora explica o processo <strong>de</strong> captação <strong>de</strong> água: as raízes<br />

captam a água do solo, leva até as folhas, nas folhas encontra com o gás<br />

carbônico e outros sais minerais e aí realiza a fotossíntese, ta?<br />

14. A professora pergunta sobre outro el<strong>em</strong>ento que <strong>de</strong>ve participar do<br />

processo: então é preciso o quê?


da aula do<br />

professor<br />

2<br />

15. A professora respon<strong>de</strong> falando dos el<strong>em</strong>entos necessários para a<br />

realização da fotossíntese: para que aconteça a fotossíntese, é preciso <strong>de</strong><br />

gás carbônico e água, e outras duas coisas importantes, OK! Estar na<br />

presença da luz, né? A luz solar, no caso, que é a mais usada e<br />

apresenta pigmentos específicos, é o pigmento chamado clorofila, é o<br />

pigmento da cor ver<strong>de</strong>. Então a gente vai ver <strong>de</strong>talhadamente como são<br />

esses pigmentos, como ele ocorre como ele funciona.<br />

16. A professora pergunta: então como é essa fotossíntese? Síntese que<br />

significa o quê? Produção, tá? Produção <strong>de</strong> quê?<br />

17. A professora respon<strong>de</strong>: Carboidrato, realmente, utiliza a glicose<br />

como ex<strong>em</strong>plo, mas não é apenas a glicose que é produzida na<br />

fotossíntese t<strong>em</strong> também o amido, utilizado na produção, na<br />

fotossíntese que é uma fonte nutritiva pras plantas. Mas utiliza a glicose<br />

como ex<strong>em</strong>plo, e a fórmula da glicose, tá? É dito a fórmula geral da<br />

fotossíntese.<br />

Portanto, prosseguimos falando <strong>de</strong> outros termos usados pelo professor , que <strong>em</strong><br />

situação <strong>de</strong> sala <strong>de</strong> aula é usado como estratégia, tendo nesta situação a intenção <strong>de</strong> garantir o<br />

entendimento e os escritos corretos feitos pelos educandos, alusivos aos processos <strong>de</strong><br />

respiração e <strong>de</strong> fotossíntese. Então a professora diz: “Vocês coloca aí b<strong>em</strong> direitinho”!<br />

Proferindo este termo a professora se veste da certeza <strong>de</strong> que os conceitos serão fixados s<strong>em</strong><br />

erros pela classe. Esse recurso abstrato faz parte do cotidiano da sala <strong>de</strong> aula presente na<br />

relação do professor com a sua turma. Portanto no que diz respeito a sala <strong>de</strong> aula <strong>em</strong> relação<br />

ao saber-fazer do professor, há momentos <strong>em</strong> que não po<strong>de</strong> contar com o seu saber específico<br />

sobre o ensino, mas conta com a sua criativida<strong>de</strong> frente a situação vivida. “A maioria das<br />

vezes, os professores precisam tomar <strong>de</strong>cisões e <strong>de</strong>senvolver estratégias <strong>de</strong> ação <strong>em</strong> plena<br />

ativida<strong>de</strong>, s<strong>em</strong> po<strong>de</strong>r<strong>em</strong> se apoiar num “saber-fazer” técnico-científico que lhes permita<br />

controlar a situação com toda certeza (TARDIF, 2003, p. 137).<br />

Todavia, no exercício docente essas estratégias que entram <strong>em</strong> cena na <strong>em</strong>ergência da<br />

situação são envolvidas por uma convicção <strong>em</strong> <strong>de</strong>trimento dos objetivos da escola e por<br />

conseqüência do professor, pois ele po<strong>de</strong> contar com o apoio do ambiente específico para<br />

agir <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminada forma. Na medida que o professor pe<strong>de</strong> a participação do aluno como


ocorreu na aula observada, ele está suscetível a qualquer resposta ou reação do aluno, mas a<br />

certeza da resposta que terá v<strong>em</strong> da relação que mantém com a turma e um simples por favor<br />

ou um pedido <strong>de</strong> silêncio resgata a turma novamente para a aula e assim mostrando uma<br />

revelação <strong>de</strong> relação <strong>de</strong> confiança e respeito. S<strong>em</strong> dúvida vimos aqui uma relação complexa<br />

do professor com o seu objeto <strong>de</strong> trabalho. Eis por que esse trabalho exige, constant<strong>em</strong>ente,<br />

um investimento profundo, tanto do ponto <strong>de</strong> vista afetivo como cognitivo, nas relações<br />

humanas com os alunos (TARDIF, 2003, p. 141).<br />

Assim, vimos que a ação do professor <strong>em</strong> sala <strong>de</strong> aula é marcada por diversas atitu<strong>de</strong>s<br />

ou <strong>de</strong>cisões <strong>em</strong> relação a situação que ora está acontecendo nesse ambiente. Então, para que<br />

a sala <strong>de</strong> aula tenha uma harmonia física e ele, o professor, possa prosseguir com o ensino<br />

<strong>de</strong>ve manter esse controle, utilizando s<strong>em</strong>pre suas estratégias, seja através da motivação, da<br />

persuasão, da sua autorida<strong>de</strong>, ou ainda não se limitando apenas a essas. Deste modo, “A<br />

ord<strong>em</strong> na sala <strong>de</strong> aula se manifesta <strong>em</strong> comportamentos físicos, mas é antes <strong>de</strong> tudo<br />

simbólica: refere-se a significados partilhados <strong>em</strong> comum, que serv<strong>em</strong> <strong>de</strong> mundo, <strong>de</strong><br />

referência para os parceiros na interação escolar” , Tardif (2003, p. 140).<br />

O P2, continua a sua aula explicando o conteúdo, agora, o P2 faz uma afirmação<br />

sobre a necessida<strong>de</strong> dos seres vivos precisar<strong>em</strong> <strong>de</strong> energia para realizar<strong>em</strong> suas funções.<br />

Após essa fala o P2 faz uma série <strong>de</strong> perguntas: “Qu<strong>em</strong> são os seres que produz<strong>em</strong> energia?<br />

Os seres que produz<strong>em</strong> energia são consi<strong>de</strong>rados o que? essa energia po<strong>de</strong> ser liberada? E<br />

através do que?” Após fazer as perguntas o P2 mesmo respon<strong>de</strong> s<strong>em</strong> esperar que os alunos<br />

ajud<strong>em</strong> nas respostas. O P2 continua a aula dando seqüência ao conteúdo, s<strong>em</strong>pre utilizando<br />

um discurso unilateral, voltado para o quadro on<strong>de</strong> está todos os escrito do conteúdo que<br />

<strong>de</strong>ve comentar. Essa atitu<strong>de</strong> frente a sala <strong>de</strong> aula t<strong>em</strong> como resposta a polarida<strong>de</strong> da sala, <strong>de</strong><br />

um lado o professor que escreve e fala, do outro o aluno que copia e escuta, mas não há uma<br />

relação, <strong>em</strong> que professor e aluno não interag<strong>em</strong> entre si.<br />

Portanto, com o registro das referidas <strong>aulas</strong> o que se viu foi a ausência <strong>de</strong> estratégias<br />

relacionadas ao el<strong>em</strong>ento afetivo e ao controle <strong>de</strong> situações do contexto que o professor<br />

estava inserido, pois, o P2, teve uma postura <strong>de</strong> distância <strong>em</strong> relação a sala <strong>de</strong> aula, estamos<br />

aqui nos referindo a presença do discente, aqui se vê uma lacuna referente ao saber da<br />

experiência do P2, ação que constatou nossas perspectivas pois, esse contexto só passou a<br />

fazer parte da sua vida a pouco mais <strong>de</strong> um ano.<br />

O movimento realizado pelo P2 para ensinar, parecia se encerrar no quadro e a um<br />

metro a frente do mesmo, não se envolvia com os alunos e apenas se lia o conteúdo da forma<br />

que estava no quadro, usando s<strong>em</strong>pre a linguag<strong>em</strong> acadêmica, reproduzindo da mesma


maneira o que estava no seu material <strong>de</strong> apoio, distanciando-se da linguag<strong>em</strong> do aluno, e, do<br />

próprio aluno.<br />

Com a captura <strong>de</strong>sta aula perceb<strong>em</strong>os que a preparação da aula do P2, estava<br />

direcionada apenas ao conteúdo cognitivo, <strong>de</strong> maneira que sua preocupação era fazer uma<br />

cópia no quadro ler e explicar, mais s<strong>em</strong> a intervenção do aluno, como aconteceu. A intenção<br />

do P2, <strong>em</strong> tornar acessível o conteúdo ao aluno por meio da sua aula não foi visto, pois a<br />

forma como apresentou o conteúdo tornou-se incompatível com o que já relatamos. O P2 não<br />

se dirigia ao estudante para incluí-lo na aula <strong>de</strong> aula, situação <strong>em</strong> que não se percebeu<br />

nenhuma atitu<strong>de</strong> instintiva ou assist<strong>em</strong>ática para se reverter a apatia que se instalou no<br />

ambiente, <strong>de</strong>ixando transcorrer a aula na mesma condição. Vale dizer que na aula o<br />

professor t<strong>em</strong> como missão ou como objetivo realizar o ensino e é coerente dizer que ele só<br />

acontecerá com a presença participante do aluno e essa presença só acontecerá com mais<br />

certeza se o professor utilizar uma estratégia a<strong>de</strong>quada para esse momento específico que<br />

<strong>de</strong>ve realizar a instrução. Durante o período <strong>de</strong> transmissão <strong>de</strong> conhecimentos o P2, não<br />

a<strong>de</strong>quou suas estratégias a necessida<strong>de</strong> do contexto.<br />

Assim, cabe aqui ressaltar outro ato do P2 <strong>em</strong> contato com a sala <strong>de</strong> aula, que mostra<br />

a ausência <strong>de</strong> atitu<strong>de</strong>s que pod<strong>em</strong> confirmar uma boa relação com o discente. Na abordag<strong>em</strong><br />

do conteúdo o P2, faz pergunta aos alunos, mas é ele mesmo qu<strong>em</strong> respon<strong>de</strong>. Essa <strong>de</strong>cisão do<br />

professor <strong>de</strong> respon<strong>de</strong>r a própria pergunta <strong>de</strong>ixa uma lacuna na sua comunicação com a<br />

classe e <strong>em</strong> conseqüência com a negação do espaço <strong>de</strong> comunicação e, portanto, o ensino não<br />

se configura, revelando uma prática <strong>de</strong>sprovida <strong>de</strong> <strong>saberes</strong>.<br />

As estratégias que ora são usadas na sala <strong>de</strong> aula não são vista nesta sala, pois como o<br />

comportamento do professor influencia o comportamento do aluno, a situação que <strong>em</strong>erge na<br />

sala <strong>de</strong> aula com a distância do professor <strong>em</strong> relação aos alunos não exige <strong>de</strong>le, que aja<br />

rapidamente para o controle <strong>de</strong> alguma situação, pois o seu pouco envolvimento r<strong>em</strong>ete no<br />

meio uma separação dos atores <strong>em</strong> que o professor não interage com aluno.<br />

O estudo que realizamos com o processo <strong>de</strong> trabalho assumido pelo professor mostra<br />

diversas faces da sala <strong>de</strong>senhadas a partir das ações do professor. Assim, para falar <strong>de</strong>sse<br />

processo focalizar<strong>em</strong>os nossos comentários agora na gestão da classe realizada pelo P2, ou<br />

seja, olhar<strong>em</strong>os como esse professor organiza sua sala <strong>de</strong> aula para que o ensino aconteça.<br />

O P2, que observamos <strong>em</strong> atuação na sala <strong>de</strong> aula, oportunizou-nos a presenciar, que<br />

um el<strong>em</strong>ento inter<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte na sala <strong>de</strong> aula tornou-se in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte,”o aluno“ durante o<br />

t<strong>em</strong>po <strong>em</strong> que esteve na aula <strong>de</strong> <strong>biologia</strong> ele foi mero espectador não assumindo seu<br />

protagonismo, para uma aprendizag<strong>em</strong> significativa. Este protagonismo convergente com a


situação do aluno <strong>em</strong> aula é oportunizado pelo professor quando no seu jeito <strong>de</strong> ensinar<br />

cont<strong>em</strong>pla a participação do aluno, o que não foi visto n<strong>em</strong> oportunizado pelo P2, que<br />

ocupou todo espaço da aula com a sua fala, negando a externalização das percepções e<br />

conclusões dos alunos. Assim vimos uma ação que não se concretiza com a conectivida<strong>de</strong> do<br />

professor <strong>em</strong> relação ao conteúdo e ao aluno.<br />

Agora falando da maneira como o professor apresenta o conteúdo, <strong>de</strong>ixa se<br />

caracterizar pela linguag<strong>em</strong> cristalizada dos livros s<strong>em</strong> <strong>em</strong>ergir dos <strong>saberes</strong> dos alunos que<br />

ali estão para realizar uma junção <strong>de</strong> <strong>saberes</strong>, os que já sab<strong>em</strong> e os que vão apren<strong>de</strong>r. Assim a<br />

aula teve um conteúdo transposto dos livros para o quadro, do quadro para o ca<strong>de</strong>rno dos<br />

alunos e reapresentado pela fala do P2, que na maioria das vezes, leu o que estava escrito no<br />

quadro.<br />

Desse modo, ao chegar na sala o P2, pega o material e faz a cópia no quadro, <strong>em</strong><br />

seguida orienta os alunos para que copi<strong>em</strong> o que está anotado. O P2, continua copiando e os<br />

alunos seguindo seus gestos e copiando também. Pelo que vimos o P2, não precisa mais<br />

orientar as ações básicas dos alunos para que a aula aconteça, como pedir silêncio,<br />

acomodação nas bancas, atenção. Após terminar a anotação o P2, passa para a explicação, a<br />

participação do aluno não é estimulada, como já diss<strong>em</strong>os. O P2 não se aproxima da turma,<br />

se contém apenas a falar próximo ao quadro. A voz é s<strong>em</strong>pre baixa, a leitura é constante,<br />

numa alternância <strong>de</strong> leitura, explicação b<strong>em</strong> resumida, ou seja, s<strong>em</strong> argumento e<br />

esclarecimento suficiente, mas, apesar do pouco contato com o aluno que se estabilizou com<br />

a conversa unilateral, não aconteceu nenhum feito que exigisse do P2 uma atitu<strong>de</strong> diferente<br />

ou criativa para a solução <strong>de</strong> algum probl<strong>em</strong>a surgido. Após a apresentação do conteúdo o<br />

professor faz a chamada do aluno, na intenção <strong>de</strong> controlar a freqüência <strong>de</strong> qu<strong>em</strong> está na sala<br />

<strong>de</strong> aula e também cumprir com as normas da instituição, que t<strong>em</strong> como regra verificar quais<br />

alunos estiveram na sala naquele dia. Durante toda a aula a sala orientada pelo P2, se mantém<br />

<strong>em</strong> ord<strong>em</strong> condição básica para o ensino, essa ord<strong>em</strong> já instituída pelo professor ou pela<br />

recepção dos alunos nos mostrou que aumenta o estado <strong>de</strong> distância entre professor e aluno.<br />

Assim, a distância do professor <strong>em</strong> relação aos alunos, percebida enquanto fazia a<br />

regência da matéria comprometeu, a interação professor-aluno, pois a forma <strong>de</strong> expressão <strong>em</strong><br />

que se apoiou não mostrava intenção <strong>de</strong> nivelar a inclusão e a participação dos alunos <strong>em</strong><br />

relação aos ensinamentos do professor e ao conteúdo trabalhado. A aula foi se passando e<br />

não houve quase nenhuma manifestação dos alunos <strong>em</strong> relação ao que estava acontecendo na<br />

própria sala <strong>de</strong> aula. O P2 continuava informando sobre o conteúdo, mas o <strong>de</strong>bate e as<br />

perguntas vindas dos alunos quase não existiram, pois não perceb<strong>em</strong>os nenhuma ação do


professor que originasse uma discussão, uma probl<strong>em</strong>atização que fizesse o aluno gerir sua<br />

própria aprendizag<strong>em</strong>, raciocinando, discutindo e testando a elaboração <strong>de</strong> pensamento para<br />

uma constatação ou negação do seu raciocínio.<br />

Para tanto, sab<strong>em</strong>os que a interação acontece com uma ação recíproca entre duas ou<br />

mais pessoas e o que observamos não configura uma situação coerente com o que<br />

escrev<strong>em</strong>os antes, pois não houve momento <strong>em</strong> que perceb<strong>em</strong>os ações inter<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes.<br />

Assim, ao entrar na sala <strong>de</strong> aula a habilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> comunicação do professor do professor se<br />

vestiu <strong>de</strong> um dispositivo organizado com um diálogo unilateral, não havendo convergência<br />

com a reciprocida<strong>de</strong> do outro, mas o objetivo do professor, como ficou claro na nossa<br />

investigação era correspon<strong>de</strong>r ao currículo passado a informação para o aluno, apresentando<br />

o conteúdo do começo ao fim como estava no programa, ou até pensando conteúdo dado,<br />

conteúdo aprendido. A interação não percebida na sala <strong>de</strong> aula,é um comportamento<br />

provocado pelo professor, pois, é ele qu<strong>em</strong> t<strong>em</strong> a liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> modificar o clima do<br />

ambiente, mesmo havendo <strong>de</strong>ntro da escola leis pré-<strong>de</strong>terminadas que <strong>de</strong>limit<strong>em</strong> suas<br />

ativida<strong>de</strong>s. Assim é necessário que na sala <strong>de</strong> aula o professor tome <strong>de</strong>cisões e aja a favor<br />

<strong>de</strong>ssa interação, mostre sua competência, a mesma constituída <strong>de</strong> <strong>saberes</strong><br />

Certamente, <strong>de</strong>pois da realida<strong>de</strong> que observamos nos <strong>em</strong>erge uma questão sobre o<br />

conteúdo que estava sendo abordado pelo professor, que como vimos foi abordado com uma<br />

certa apatia como se o conhecimento fosse para está distante do aluno. Uma mudança <strong>de</strong><br />

atitu<strong>de</strong> <strong>de</strong>ve ser adotada <strong>em</strong> situações como essa ou s<strong>em</strong>elhante, pois a abordag<strong>em</strong> <strong>de</strong><br />

qualquer conteúdo <strong>de</strong>ve primar por uma ação estimulante para que a sala <strong>de</strong> aula fique<br />

tomada <strong>de</strong> interesse e motivação. O professor precisa estar preparado, dispondo <strong>de</strong> um<br />

conhecimento que lhe possibilite a realizar uma prática com eficácia, <strong>em</strong> que a resposta dos<br />

alunos a suas estratégias sejam vivas, sua ativida<strong>de</strong> não é potencial, mas sim atual,<br />

(VÁSQUEZ, 1968, p. 186). O P2, apresentou o conteúdo <strong>de</strong> forma objetiva e direta,<br />

s<strong>em</strong>elhante aos escritos do livro didático que se compõ<strong>em</strong> <strong>de</strong> nomes difíceis, e incomuns ao<br />

nosso contexto. Referente a aula que observamos o P2, apresentava o conteúdo fotossíntese<br />

apontando para os nomes complexos escritos no quadro e falando do que estava escrito no<br />

quadro. Essa maneira <strong>de</strong> apresentar o conteúdo fotossíntese po<strong>de</strong> não funcionar <strong>de</strong> maneira<br />

eficaz para fixação e compreensão dos alunos, pois os seus processos micro, e o que o<br />

processo é <strong>em</strong> si, pois a captação <strong>de</strong> luz e a sua transformação <strong>em</strong> energia se torna quase que<br />

incompreensível s<strong>em</strong> o uso <strong>de</strong> esqu<strong>em</strong>as e imagens.


A apresentação do conteúdo citado foi feita <strong>de</strong> forma <strong>de</strong>scritiva e s<strong>em</strong> entusiasmo<br />

pelo professor, que minimizou o uso <strong>de</strong> recurso neste trabalho, se programando apenas com a<br />

sua fala e a anotação no quadro, esperando construir um entendimento <strong>de</strong> todos os processo<br />

ali inseridos. Perceb<strong>em</strong>os aqui que todo resultado da aula está relacionado a ação do P2, que<br />

<strong>de</strong>ve <strong>de</strong>svelar na sua prática uma articulação das estratégias, recursos e procedimentos, afim<br />

<strong>de</strong> possibilitar um ensino dinâmico e eficaz, <strong>em</strong> que os conhecimentos eruditos sejam<br />

apresentados com a valorização do meio, provocando na sala <strong>de</strong> aula a reflexão, a interação e<br />

a construção <strong>de</strong> um conhecimento coerente com o já existente, tudo isso <strong>de</strong>va ser resultado<br />

das suas estratégias e <strong>saberes</strong> <strong>articulados</strong> para realizar sua aula.<br />

O saber estratégico que citamos, o saber da experiência ou pedagógico, são el<strong>em</strong>entos<br />

constituintes e indissociáveis da prática pedagógica. Esses <strong>saberes</strong> são compl<strong>em</strong>entados com<br />

os <strong>saberes</strong> <strong>disciplinares</strong>, ou seja, com os <strong>saberes</strong> adquiridos pelo professor na instituição<br />

escolar, mas que agora utilizará concretamente junto a seus alunos, a fim <strong>de</strong> conseguir uma<br />

aprendizag<strong>em</strong> significativa. É a partir <strong>de</strong>sse <strong>saberes</strong> que vamos i<strong>de</strong>ntificar os el<strong>em</strong>entos<br />

fundamentais para um ensino efetivo realizado pelo P2.<br />

Portanto, a centralida<strong>de</strong> dos nossos escritos, está no que e no como o P2 ensina o que<br />

ele sabe sobre fotossíntese, tornando esse conteúdo prático, significativo e compreendido,<br />

após o tipo <strong>de</strong> comunicação que realizou na sala <strong>de</strong> aula, cuja ação chamamos <strong>de</strong> ensino. O<br />

conteúdo que aqui estamos a falar, é o conteúdo científico ensinado pelo P2, segundo seus<br />

critérios <strong>de</strong> transferibilida<strong>de</strong>, como já diss<strong>em</strong>os, on<strong>de</strong> <strong>de</strong>v<strong>em</strong> está <strong>em</strong> ação seus <strong>saberes</strong>. Na<br />

intenção <strong>de</strong> assegurar os conceitos corretos do assunto que está trabalhando, o P2, fez as<br />

anotações no quadro, como está d<strong>em</strong>onstrado abaixo:<br />

Conteúdo: Metabolismo energético da célula:<br />

Noções gerais<br />

1. Os seres vivos retiram dos alimentos a energia que necessitam para realizar suas<br />

funções.<br />

2. Seres autotróficos: aqueles capazes <strong>de</strong> produzir<strong>em</strong>, a partir <strong>de</strong> substâncias inorgânicas<br />

os alimentos <strong>de</strong> que necessitam, através dos processos <strong>de</strong> fotossíntese e quimiossíntese.<br />

3. Organelas envolvidas: cloroplastos →fotossíntese; mitocôndrias → respiração.<br />

4. Fotossíntese: síntese <strong>de</strong> matéria orgânica a partir <strong>de</strong> compostos orgânicos simples,<br />

na presença <strong>de</strong> luz e clorofila.


5. Seres fotossintetizantes: plantas, cianobactérias, alguns protistas, bactérias<br />

fotossintetizantes.<br />

6. Na fotossíntese o gás carbônico (CO2), e a água (H2O), são usados na síntese <strong>de</strong><br />

carboidratos, como a glicose liberando o O2 para o meio ambiente.<br />

Fórmula geral da fotossíntese:<br />

Energia luminosa (luz)<br />

6CO2 + 12H2O C6H12O6 + 6H2O + 6O2.<br />

Clorofila e enzima<br />

7. A fotossíntese acontece <strong>de</strong>vido a presença <strong>de</strong> pigmentos que consegu<strong>em</strong> captar e<br />

refletir a luz.<br />

8. Os pigmentos consegu<strong>em</strong> captar alguns comprimentos <strong>de</strong> ondas e refletir outros.<br />

9. A cor do pigmento é <strong>de</strong>signada através do comprimento <strong>de</strong> onda que é refletida.<br />

Clorofila: capta → vermelha e azul;<br />

reflete → ver<strong>de</strong>.<br />

Nos organismos eucariontes os pigmentos estão presentes <strong>em</strong> estruturas citoplasmática,<br />

<strong>de</strong>nominadas <strong>de</strong> cloroplastos.<br />

10. Plastos e cloroplastos<br />

11. Plastos:<br />

Estruturas encontradas <strong>em</strong> células vegetais e <strong>em</strong> alguns protistas classificados <strong>em</strong>: →<br />

cloroplastos: pigmento carotenói<strong>de</strong>;<br />

→ leucoplastos: não possui pigmentos;<br />

→ cloroplastos: pigmentos carotenói<strong>de</strong>s e clorofila.<br />

12. Cloroplastos: estruturas citoplasmáticas encontradas <strong>em</strong> protistas e nos vegetais,<br />

principalmente nas folhas.<br />

Quadro 3 – Registro escrito do P2<br />

Na seqüência da aula o P2, passa a comentar o que está escrito no quadro na intenção<br />

do entendimento do aluno. Pelo que vimos da explanação do conteúdo o P2 se limitou aos<br />

escritos feitos no quadro s<strong>em</strong> nenhum acréscimo <strong>de</strong> palavras ou outro material que pu<strong>de</strong>sse<br />

utilizar para o esclarecimento do conteúdo.


Ao constatar os registros feitos pelo P2 e a sua lealda<strong>de</strong> a eles, um dos aspectos que<br />

nos ficou claro é a ausência <strong>de</strong> <strong>de</strong>talhe ou processos importantes que faz<strong>em</strong> parte <strong>de</strong>sse<br />

conceito e a complexida<strong>de</strong> do mesmo que <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ser socializado com os alunos. Este ponto<br />

que valorizamos se justifica porque, a sala <strong>de</strong> aula <strong>em</strong> que estava atuando este professor faz<br />

parte do Ensino Médio.<br />

Como já anunciamos, a apresentação do conteúdo fotossíntese realizada pelo P2, se<br />

<strong>de</strong>teve no que foi por ele escrito no quadro. Sabendo que o P2, fazia sua atuação no ensino<br />

médio é coerente dizer que o que foi apresentado enquanto conteúdo dado e supostamente<br />

aprendido, não correspond<strong>em</strong> ao nível <strong>de</strong> apreensão cognitiva que possivelmente <strong>de</strong>ve ter<br />

sido feita pelos seus espectadores. A opulência <strong>de</strong> informações <strong>de</strong> que se compõe o t<strong>em</strong>a foi<br />

negada ao aprendiz, pois este teve apenas acesso a introdução genérica <strong>de</strong>sse conceito,<br />

per<strong>de</strong>ndo <strong>de</strong>ssa forma a riqueza dos dados para que se possa compreen<strong>de</strong>r a razão <strong>de</strong> estudá-<br />

lo, (PENTEADO, 2002), e consequent<strong>em</strong>ente o teor significativo que t<strong>em</strong> o mesmo para a<br />

compreensão do ambiente no que diz respeito a produção <strong>de</strong> energia e a permanência dos<br />

seres vivos no planeta.<br />

Assim, o que foi visto e falado foi apresentado no quadro acima e nossa captura <strong>de</strong><br />

fala através do ví<strong>de</strong>o se constitui <strong>de</strong> forma s<strong>em</strong>elhante ao que ora está <strong>de</strong>codificado acima. A<br />

apresentação realizada pelo P2, nos trouxe a sensação <strong>de</strong> que estava apresentando um<br />

conceito simples e acabado, e que a introdução apresentada tinha representava a completu<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> todo processo realizado pela fotossíntese para a obtenção <strong>de</strong> energia necessária aos seres<br />

vivos.<br />

Dessa forma sentimos falta da apresentação <strong>de</strong> vários el<strong>em</strong>entos constituintes como,<br />

os tipos <strong>de</strong> clorofila envolvidos no processo, cujos tipos difer<strong>em</strong> <strong>de</strong> organismo para<br />

organismo. Aqui pod<strong>em</strong>os falar também da ausência <strong>de</strong> clarificação sobre a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

cloroplastos nas células, como é organizada a sua estrutura interna, quais os el<strong>em</strong>entos que<br />

constitui essa organela, como se dá a sua formação e a localização da clorofila <strong>de</strong>ntro da<br />

organela.<br />

Juntamente a essas informações pod<strong>em</strong>os adicionar aqui as importantes etapas<br />

realizadas durante o processo da fotossíntese que, também não foi citado pelo P2, etapas<br />

essas que v<strong>em</strong> justificar a equação final da fotossíntese a qual foi <strong>de</strong>scrita por ele, como<br />

consta no quadro acima. A reação <strong>de</strong> Hill ou fotólise da água, a fotofosforilação cíclica e<br />

acíclica, a etapa química da fotossíntese <strong>em</strong> que se compõe o ciclo <strong>de</strong> Calvin. Pod<strong>em</strong>os<br />

atribuir esse resumo feito e trabalhado pelo P2 ao seu pensamento <strong>de</strong> os alunos ter<strong>em</strong><br />

novamente oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> estudar<strong>em</strong> o mesmo conceito no ano seguinte do ensino médio,


quando profere a fala : “Isso aí não coloquei, porque vocês vão ver no estudo das plantas, no<br />

segundo ano, e vocês vão ver <strong>de</strong> novo <strong>de</strong>talhadamente fotossíntese, ta”.<br />

A fala do P2, revela uma consciência <strong>em</strong> relação a alguns aspectos do conceito <strong>de</strong><br />

fotossíntese que ele <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> trabalhar atribuindo a responsabilida<strong>de</strong> ao programa do ano<br />

seguinte que consta <strong>de</strong> mais <strong>de</strong>talhe <strong>em</strong> relação ao conceito <strong>de</strong> trabalhado, avisando aos<br />

alunos que verão no próximo ano o que não foi trabalhado por ele.<br />

Vimos na nossa apreensão que o P2, apresentou o conteúdo <strong>de</strong> forma correta sendo<br />

leal aos conceitos e processos que apresentou a seus alunos na sala <strong>de</strong> aula, pois os conceitos<br />

científicos por ele trabalhado mostram coerência com as fontes científicas a que t<strong>em</strong>os<br />

acesso, <strong>de</strong>ixando claro seus acertos, porém sua fala e suas anotações não <strong>de</strong>ram conta da<br />

complexida<strong>de</strong> do conceito que ora foi solicitado a trabalhar, pois nas mesmas fonte também<br />

constatamos as etapas que não foram postas diante da turma. Com esta ação que teve o P2,<br />

mostrou que as <strong>de</strong>cisões <strong>em</strong> relação a sua disciplina são <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>le e que está<br />

baseado no conhecimento que t<strong>em</strong> sobre sua disciplina e também das circunstâncias <strong>em</strong> que<br />

atuam, ou seja da sua escola real (PENTEADO, 2002).<br />

Ocorreu-nos dar atenção, quando estávamos <strong>em</strong> contato com o objeto <strong>de</strong> pesquisa,<br />

que não fora usado nenhum recurso tecnológico ou objeto concreto que elucidasse a<br />

compreensão do conceito, levando <strong>em</strong> conta que este mesmo envolvia el<strong>em</strong>entos<br />

microscópicos. Em vista disso, o recurso utilizado pelo professor para tornar o conhecimento<br />

científico revitalizado na mente do aluno, foram <strong>de</strong> cunho oral quando proferiu várias<br />

perguntas aos alunos sobre o conceito tentando realizar a comunicação para o entendimento e<br />

fixação do conteúdo, mesmo que estes <strong>em</strong> várias ocasiões não tenham tido oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

respon<strong>de</strong>r, mas que para o professor seria seu instrumento <strong>de</strong> proximida<strong>de</strong> ou até <strong>de</strong> eficácia<br />

para o entendimento do aluno naquela situação <strong>em</strong> que tentava construir o conhecimento<br />

junto ao discente, e o P2, segue no seu diálogo científico com o aluno, como está posto<br />

abaixo:<br />

13. Aqui a professora faz uma seqüência <strong>de</strong> perguntas: Então qu<strong>em</strong> são os seres<br />

14.<br />

capazes <strong>de</strong> produzir energia. Qu<strong>em</strong> produz energia? Os seres que produz<strong>em</strong><br />

energia são consi<strong>de</strong>rados o quê? Seres autotróficos, auto, produtor, auto suficiente,<br />

auto <strong>de</strong> si mesmo, né?<br />

15. Novamente após uma série <strong>de</strong> perguntas ela respon<strong>de</strong>: eles são auto, eles são


capazes <strong>de</strong> produzir seu próprio alimento;<br />

16. Ela repete: eles são capazes <strong>de</strong> produzir o seu próprio alimento tá?<br />

17. Ela repete: eles são capazes <strong>de</strong> produzir o seu próprio alimento tá?<br />

18. A professora novamente pergunta: São o que, aqueles organismos capazes <strong>de</strong><br />

produzir a partir <strong>de</strong> quê?<br />

19. Ela mesma respon<strong>de</strong>: Substâncias inorgânicas tá?<br />

20. Sais minerais e água os alimentos <strong>de</strong> que necessitam:<br />

21. A professora pergunta: através, repetindo os processos, <strong>de</strong> quê? Fotossíntese e<br />

quimiossíntese;<br />

22. Agora a professora pergunta sobre as organelas que são envolvidas;<br />

23. A professora respon<strong>de</strong>: as organelas, são as organelas da célula que produz energia<br />

e utiliza a produção ou as substâncias;<br />

24. A professora pergunta: é qu<strong>em</strong>?<br />

25. A professora respon<strong>de</strong>: A célula, né?<br />

26. A professora pergunta: Qu<strong>em</strong> são as organelas envolvidas?<br />

27. Nesse momento a professora l<strong>em</strong>bra aos alunos que está falando <strong>de</strong> fotossíntese:<br />

Da fotossíntese, os cloroplastos, tá?<br />

28. Faz uma pergunta aos alunos: gente, cloroplastos têm na célula animal? Um aluno<br />

respon<strong>de</strong>: têm.<br />

29. A professora faz duas pergunta seguidas: sabe dizer se t<strong>em</strong> cloroplasto na célula<br />

animal? Os seres que produz<strong>em</strong> seu próprio alimento são seres o quê?<br />

30. A professora respon<strong>de</strong>: são as plantas algumas bactérias fotossintetizantes,<br />

cianobactérias e alguns protistas;<br />

31. A professora pergunta alguns <strong>de</strong>sses seres que eu citei, é animal? É?<br />

32. Os alunos respond<strong>em</strong>: Não.<br />

33. A professora pergunta: Então exist<strong>em</strong> cloroplastos nas células animais.<br />

34. A professora respon<strong>de</strong>: não existe tá?<br />

Quadro 4 – Recorte <strong>de</strong> diálogo do P2<br />

Assim, o que nos foi posto enquanto aula <strong>de</strong> <strong>biologia</strong> ficou claro o conhecimento do<br />

professor enquanto se relacionava com a sua disciplina, pois se percebe que mesmo estando<br />

na sala <strong>de</strong> aula o P2, t<strong>em</strong> o conteúdo como el<strong>em</strong>ento central, não ficando <strong>de</strong>terminado para


ele que o processo <strong>de</strong> interação é qu<strong>em</strong> <strong>de</strong>termina os limites do professor, do conteúdo e do<br />

aluno, pois o conteúdo dito ou apresentado não prova que foi aprendido, como cita Penteado<br />

(2002, p. 32): “Como se saísse do pólo <strong>em</strong>issor e chegasse no pólo receptor, idêntico a si<br />

mesmo”. Assim, cabe ao professor está antenado com a mobilização <strong>de</strong> <strong>saberes</strong> exigidos no<br />

contexto da sala <strong>de</strong> aula, oportunizando a evolução <strong>de</strong> um ensino estático a dinâmico.


5 DISCUSSÕES E CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />

No capítulo anterior analisamos a prática docente <strong>de</strong> dois professores, um consi<strong>de</strong>rado<br />

professor experiente P1 e outro consi<strong>de</strong>rado professor noviço P2 <strong>em</strong> <strong>aulas</strong> <strong>de</strong> <strong>biologia</strong> do<br />

ensino médio, trabalhando com o conteúdo fotossíntese. Conforme explicitado no início <strong>de</strong>ste<br />

texto, o P1 é graduado <strong>em</strong> ciências biológicas e t<strong>em</strong> especialização <strong>em</strong> <strong>biologia</strong>, tendo 17 anos<br />

<strong>de</strong> atuação no magistério sendo consi<strong>de</strong>rado professor experiente <strong>de</strong> acordo com as categorias<br />

<strong>de</strong> <strong>saberes</strong> organizadas por Tardif (2002). Enquanto que o P2 é bacharel <strong>em</strong> <strong>biologia</strong>, t<strong>em</strong><br />

mestrado <strong>em</strong> Saú<strong>de</strong> Pública e cursava durante a realização da pesquisa ca<strong>de</strong>iras <strong>de</strong> licenciatura<br />

<strong>em</strong> Biologia.<br />

Para análise dos dados construídos levamos <strong>em</strong> consi<strong>de</strong>ração o t<strong>em</strong>po <strong>de</strong> serviço no<br />

magistério usando como uma categoria <strong>de</strong> análise os <strong>saberes</strong> experienciais e os <strong>disciplinares</strong> a<br />

outra por representar o conhecimento específico da matéria. Os cursos <strong>de</strong> pós-graduação não<br />

foram utilizados como parâmetros <strong>de</strong>vido à <strong>de</strong>limitação do foco da pesquisa que apresentou<br />

como objetivo geral: analisar como se expressam os <strong>saberes</strong> docentes aplicados e <strong>articulados</strong><br />

por professores <strong>de</strong> <strong>biologia</strong> no ensino médio na abordag<strong>em</strong> dos conteúdos relacionados ao<br />

ensino da fotossíntese, consi<strong>de</strong>rando os seus diferentes t<strong>em</strong>pos <strong>de</strong> atuação no magistério.<br />

Para alcançar o objetivo geral, apresentamos como específicos: investigar como os<br />

<strong>saberes</strong> docentes <strong>disciplinares</strong> e experienciais interfer<strong>em</strong> na abordag<strong>em</strong> dos conteúdos<br />

relacionados ao ensino da fotossíntese no ensino médio e i<strong>de</strong>ntificar os <strong>saberes</strong> docentes<br />

<strong>articulados</strong> pelo professor experiente e pelo professor noviço na apresentação dos conteúdos<br />

relacionados ao ensino da fotossíntese.<br />

Neste capítulo, portanto, nos propomos a apresentar os resultados propostos pelos<br />

objetivos e assim respon<strong>de</strong>r a questão instigadora da pesquisa que questiona se há diferença<br />

na aplicação e articulação dos <strong>saberes</strong> docentes na prática docente <strong>de</strong> professores noviços e<br />

professores experientes <strong>em</strong> <strong>aulas</strong> <strong>de</strong> <strong>biologia</strong> do ensino médio.<br />

Após analisar cada professor no seu fazer pedagógico, passar<strong>em</strong>os agora a escrever<br />

sobre os pontos <strong>de</strong> convergência e divergência <strong>de</strong>sses professores no momento específico do<br />

ensino, baseados nos nossos fundamentos teóricos (TARDIF, 2002 ; 2003) e (GAUTHIER,<br />

et al. 2006).<br />

Assim sendo a pesquisa teve como foco analisar <strong>aulas</strong> <strong>de</strong> professores noviços e<br />

experientes para observar se há diferença na articulação dos <strong>saberes</strong> docentes adotados por


eles, quando realizam <strong>aulas</strong> <strong>de</strong> <strong>biologia</strong> no ensino médio, apresentando o processo da<br />

fotossíntese. Assim, o que vimos <strong>de</strong>sses professores <strong>em</strong> relação as suas atuações foi<br />

suficient<strong>em</strong>ente diferente, levando-nos a inferir que apesar do seu objetivo único que é o<br />

ensino dos <strong>saberes</strong>, cada sala segundo seu professor vivencia realida<strong>de</strong>s distintas, como foi<br />

possível constatar.<br />

Mediante o observado compreend<strong>em</strong>os que, os <strong>saberes</strong> experienciais se expressava<br />

com a fala do professor, seus escritos no quadro, para compl<strong>em</strong>ento da sua fala, perguntas<br />

orais, para gerar no aluno um exercício <strong>de</strong> raciocínio mental e conseguir a sua participação na<br />

construção correta do conceito, e por fim constatamos o uso do material concreto, que a<br />

partir do manuseio e da observação dos mesmos os alunos partiam para alguns<br />

questionamentos, mesmo que a fala do professor fosse imperativa.<br />

O mesmo olhar cont<strong>em</strong>plou a prática do P2, mas o que constatamos nessa aula foi<br />

uma divergência <strong>de</strong> ação, pois na prática pedagógica do P2 os <strong>saberes</strong> <strong>disciplinares</strong> não se<br />

expressaram conforme aconteceu com o outro professor. Apontamos como hipótese a<br />

dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> gestão ao trabalhar com o grupo, consi<strong>de</strong>rando que os <strong>saberes</strong> experienciais<br />

po<strong>de</strong>riam contribuir para uma prática diferente nessa aula. O que verificamos foi um diálogo<br />

unilateral, do professor para o aluno. Portanto diferent<strong>em</strong>ente do P1 o P2, trabalhou com<br />

dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvendo o conteúdo fotossíntese, praticamente não ocorrendo intervenção<br />

dos alunos, e poucas indagações propostas. Portanto, nossas consi<strong>de</strong>rações frente a essa<br />

postura do P2, se volta para a afirmação <strong>de</strong> que sua prática pedagógica ainda na perspectiva<br />

do Ensino Por Transmissão (EPT), mantendo o discurso preso ao professor e o aluno <strong>em</strong> uma<br />

postura passiva <strong>de</strong> receptor <strong>de</strong> informações (CACHAPUZ et. al 2002)..<br />

Consoante com nossas inferências anteriores, outro comportamento do professor P2<br />

que dificultou a expressivida<strong>de</strong> dna promoção <strong>de</strong> uma interação favorável que viesse<br />

contribuir para o <strong>de</strong>senvolvimento do conteúdo explorado na aula compreen<strong>de</strong> as perguntas<br />

proferidas aos alunos, com respostas e comentários automáticos. Em algumas situações, o P2<br />

ele começava uma frase para que os alunos terminass<strong>em</strong>, como pod<strong>em</strong>os ex<strong>em</strong>plificar:<br />

“gente, cloroplastos têm na célula animal? Um aluno respon<strong>de</strong>: têm”. Com essa fala refletida<br />

do aluno, mas, s<strong>em</strong> reflexão, percebe-se a ausência <strong>de</strong> t<strong>em</strong>po para o envolvimento com o<br />

conteúdo, portanto a negação da construção do raciocínio, ou seja, <strong>de</strong>saparece aí o espaço<br />

para que ambos interajam entre si, o professor com o aluno e o aluno com o conteúdo e com<br />

o professor.<br />

Nessa direção, inferimos que o pouco t<strong>em</strong>po do P2 <strong>em</strong> sala <strong>de</strong> aula – 1 ano e 6 meses<br />

- possa ter contribuído para a dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> expressão <strong>de</strong> seus <strong>saberes</strong>, especificamente os


<strong>disciplinares</strong> e os experienciais. Assim sendo, TARDIF( 2003) essa estabilida<strong>de</strong> é construída<br />

pelo professor nos primeiros cinco anos <strong>de</strong> profissão o que ele chama <strong>de</strong> “experiência<br />

fundamental”, assim, vimos que a experiência é o el<strong>em</strong>ento ausente no conjunto <strong>de</strong> <strong>saberes</strong><br />

necessários ao ensino e a sua experiência “fundamental” <strong>de</strong>ve provar para ele e para os<br />

outros que é capaz <strong>de</strong> ensinar.<br />

Para evi<strong>de</strong>nciar mais um saber da experiência do P1, restringimos agora nossa fala a<br />

forma como ele administra a matéria que trabalha. O P1, faz a introdução <strong>de</strong> forma b<strong>em</strong><br />

universal, como se fosse falar <strong>de</strong> tudo que um ramo da Biologia aborda. Posteriormente dar<br />

seqüência com a aula abordando a classificação dos vegetais, seguindo com a sua fala sobre<br />

os órgãos vegetativos, as folhas e suas funções, e finalmente abordando a fotossíntese,<br />

conteúdo que nos interessa <strong>de</strong>vido a sua complexida<strong>de</strong> relacionado à quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> suas<br />

micro reações e produtos obtidos.<br />

A partir do conteúdo acima citado, o P1, comunicava a seus alunos a seqüência do<br />

conteúdo que seguiria, e anotava no quadro essa seqüência por etapa, ou seja, à medida que<br />

fosse trabalhando ou apresentando o conteúdo registrava os subt<strong>em</strong>as a ser<strong>em</strong> trabalhados.<br />

Durante essas apresentações o que predominou foi à fala do professor. Por fim chegando ao<br />

conteúdo <strong>de</strong> fotossíntese o P1 realizou a exposição do conteúdo e adicionou uma ativida<strong>de</strong><br />

diferente, porque até então não tinha sido realizada, que foi levar os alunos ao laboratório<br />

para observar<strong>em</strong> as estruturas responsáveis pela absorção <strong>de</strong> luz, ou seja os estômatos. Diante<br />

do trabalho pedagógico que presenciamos, <strong>de</strong>duzimos que a gestão da matéria se <strong>de</strong>u <strong>de</strong><br />

forma simples, entretanto, com expressivida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>saberes</strong> docentes, permitindo-nos<br />

i<strong>de</strong>ntificar os <strong>saberes</strong> <strong>disciplinares</strong> que se expressaram na utilização da terminologia<br />

específica do conteúdo fotossíntese e na or<strong>de</strong>nação das etapas que envolv<strong>em</strong> o processo da<br />

fotossíntese.<br />

Na apresentação do conteúdo acima citado (fotossíntese) o P1, começa perguntando<br />

aos alunos que gás a folha respira, qual é o gás absorvido e liberado pelas folhas fazendo sua<br />

relação com os horários <strong>de</strong> reações. Com este diálogo o P1 faz com que os alunos fiqu<strong>em</strong><br />

curiosos e na busca do acerto suscit<strong>em</strong> o processo <strong>de</strong> fotossíntese. Em seguida um aluno faz<br />

uma pergunta: “à noite ela se fecha não é professor? A planta respira todo momento, toda<br />

hora, todo o segundo, dia e noite?” A partir da pergunta do aluno o P1 começa sua<br />

abordag<strong>em</strong>, mas não <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> questionar junto aos alunos, fazendo com que a maioria da<br />

classe participe da construção do conceito. Vimos que durante esta abordag<strong>em</strong> o P1, realizou<br />

questionamentos s<strong>em</strong>pre <strong>de</strong> forma coletiva e observou-se que o P1, elaborava as perguntas <strong>de</strong><br />

acordo com as dúvidas dos alunos, o que mais uma vez nos possibilita constatar um exercício


<strong>de</strong> interação, no qual não se nota nenhum tipo <strong>de</strong> rejeição por parte dos alunos, aí<br />

perceb<strong>em</strong>os que entra <strong>em</strong> ação outro tipo <strong>de</strong> comportamento que ora observamos, a<br />

cooperação. Portanto a partir do que se viu constatamos que a prática pedagógica do P1, no<br />

seu todo <strong>de</strong>stina uma fração ao exercício da interação o que possibilita a construção ativa do<br />

conceito que está sendo ensinado, ou seja percebe-se uma ativida<strong>de</strong> relacionada a capacida<strong>de</strong><br />

do aluno, transformá-lo ou transformar seus atributos, ou seja, lhe possibilitar a aquisição <strong>de</strong><br />

um conhecimento diferente do que já t<strong>em</strong> (GAUTHIER, 1998, apud CHERRADI, 1990).<br />

Em última análise, o que pod<strong>em</strong>os observar do P2, sobre a gestão da matéria que ora<br />

trabalhou, é que teve um planejamento coerente chegando a abranger quase todos os<br />

processos referentes ao conceito <strong>de</strong> fotossíntese, pois nas nossas observações e análises<br />

vimos que poucos <strong>de</strong>talhes integrantes <strong>de</strong>sse conceito não foram colocados por ele, como<br />

fermentação ou quimiossíntese, e que as reações que liberam energia são exotérmicas ou<br />

exergônicas, outros poucos <strong>de</strong>talhes sobre o conceito não foram colocados, mais <strong>de</strong> olho no<br />

global vimos que o P2 realizou uma apresentação satisfatória.<br />

Ao trabalhar o conteúdo o P2 centralizou a sua atenção para o planejamento que<br />

estava no quadro e realizou as leituras <strong>de</strong> acordo com esses escritos, essa escolha do<br />

professor inflexibilizou a interação com a sala <strong>de</strong> aula. Seguindo o seu trabalho o professor<br />

foi bastante objetivo <strong>em</strong> relação à seqüência do conteúdo científico posto para ser aprendido<br />

pelos alunos. Assim o professor seguindo um planejamento sucinto concluiu sua<br />

apresentação que teve a mesma dinâmica do começo ao fim, ou seja, s<strong>em</strong>pre apresentada<br />

com o discurso oral e perguntas a classe que na maioria das vezes, como já foi falado, eram<br />

respondidas pelo próprio professor.<br />

Prosseguindo nossas discussões far<strong>em</strong>os agora nossas consi<strong>de</strong>rações <strong>em</strong> relação ao<br />

saber disciplinar exposto pelo professor, ou seja o que foi exposto do conteúdo fotossíntese.<br />

O que foi exposto pelo professor teve um bom nível <strong>de</strong> abordag<strong>em</strong>, entretanto, para o nível<br />

que estava trabalhando <strong>de</strong>ixou a <strong>de</strong>sejar, pois a abordag<strong>em</strong> acontece <strong>em</strong> uma turma <strong>de</strong> Ensino<br />

Médio e <strong>em</strong> consonância com esse nível o P1, <strong>de</strong>veria sist<strong>em</strong>atizar o conteúdo <strong>de</strong> forma que<br />

suas etapas não foss<strong>em</strong> omitidas como a fotofosforilação cíclica, acíclica, e a quimiossíntese.<br />

De acordo com a nossa observação o que pod<strong>em</strong>os dizer que apesar do conteúdo b<strong>em</strong><br />

apresentado alguns processos importantes como já foi citado não foram expostos, assim os<br />

<strong>saberes</strong> aqui mobilizados pelo P1, não foram suficientes para apresentar <strong>de</strong> maneira completa<br />

todo o conteúdo.<br />

Nosso conceito final sobre o P1, fornecida por nossas observações e análises nos traz<br />

a revelação <strong>de</strong> que é um profissional familiarizado com a sua sala <strong>de</strong> aula e que investe na


interação, quando está no momento do seu fazer pedagógico procurando s<strong>em</strong>pre articular a<br />

figura do professor e do aluno, ativando a relação dos dois com o conteúdo.<br />

Dessa forma, quanto à exposição do conteúdo para o qual voltamos nossa atenção o<br />

P1 apresentou expressivida<strong>de</strong> dos <strong>saberes</strong>. Através da análise das <strong>aulas</strong> salientamos que<br />

alguns processos pertencente a fotossíntese não foram colocados, comportamento que po<strong>de</strong>-<br />

se relacionar com o pouco t<strong>em</strong>po atuando na profissão docente e como se relaciona com o<br />

conteúdo, julgando esses itens pouco importante para ser<strong>em</strong> trabalhados, mas, vimos que<br />

todo esse trabalho revelado por ele se efetuou com muita segurança. Assim, ao término da<br />

nossa investigação conceb<strong>em</strong>os a idéia <strong>de</strong> que os <strong>saberes</strong> <strong>disciplinares</strong> e da experiência <strong>de</strong>sse<br />

professor que chamamos <strong>de</strong> experiente não se contradiz<strong>em</strong>, mas, se incorporam na sua<br />

prática (TARDIF, 2003).<br />

Sabe-se que cada sala <strong>de</strong> aula t<strong>em</strong> o seu perfil <strong>de</strong> acordo com os atores que lá se<br />

encontram. Assim sendo, <strong>de</strong>ter<strong>em</strong>os nossa atenção no que foi observado na aula do P2,<br />

referente ao seu saber disciplinar através da sua abordag<strong>em</strong> envolvendo o conteúdo<br />

fotossíntese. Na sua apresentação o P2, possibilita conferir que quando fala <strong>em</strong> reações<br />

exotérmicas e endotérmicas não se refere <strong>em</strong> nenhum momento a fermentação e a<br />

quimiossíntese e socializar também, com os alunos que esses processos <strong>de</strong> armazenamento e<br />

obtenção <strong>de</strong> energia exist<strong>em</strong>.<br />

Outra questão que é colocada no ensino e ficou visto por nós durante a análise do P2<br />

é a distância entre o que se ensina na escola e o que se vive no dia-a-dia. A escola t<strong>em</strong> a<br />

prática <strong>de</strong> distanciar o conhecimento do que se vive negando a compreensão do contexto e<br />

realizando um ensino s<strong>em</strong> sentido. Essa dissociação na verda<strong>de</strong> não existe e faz parte do<br />

princípio do conhecimento, que é explicar os fenômenos cotidianos. Portanto, já que estamos<br />

tratando da produção <strong>de</strong> energia cabia ao P2, situar o aluno no seu contexto e alguns<br />

questionamentos seria importante fazer como: “Que alimento é esse? Esse alimento po<strong>de</strong> ser<br />

visto? Qual a importância <strong>de</strong>sse alimento para o hom<strong>em</strong>?”. Esse último questionamento é,<br />

como pod<strong>em</strong>os dizer o carro chefe, pois a partir daí, o aluno <strong>de</strong>ve perceber que está<br />

entrelaçado na teia da vida na mesma condição da planta que é seu alimento, ou seja,<br />

<strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong>sse funcionamento do ambiente natural da mesma forma que a planta.<br />

Dando seqüência, outra colocação que seria pertinente acontecer na discussão seria<br />

nomear as organelas celulares responsáveis pelo processo do qual estamos falando e<br />

diferenciar suas funções. Então o P2, ao falar no cloroplasto, <strong>de</strong>veria ter falado nas<br />

mitocôndrias para clarear o papel <strong>de</strong> cada uma. Os cloroplastos que produz<strong>em</strong> a glicose e as


mitocôndrias quebram a glicose liberando a energia, esta ação <strong>de</strong> quebra é realizada por todo<br />

ser vivo, incluindo o Reino Monera (bactérias e algas cianofíceas) que não possu<strong>em</strong><br />

mitocôndrias.<br />

Posteriormente, ao exame <strong>de</strong>talhado das <strong>aulas</strong>, se constituiu o argumento <strong>de</strong> que o<br />

comportamento revelado pelo P2 durante seu fazer pedagógico mostrou uma <strong>de</strong>pendência <strong>em</strong><br />

relação ao que está escrito no quadro, pois seguiu fielmente esses escritos, o que dificultou<br />

relacionar-se com seus alunos, com o conteúdo <strong>de</strong> forma que a própria relação dos<br />

fenômenos e dos el<strong>em</strong>entos envolvidos <strong>de</strong>ntro do mesmo não foss<strong>em</strong> citadas.<br />

Assim, nossa observação seguida <strong>de</strong> uma interpretação aponta que a postura do P2,<br />

atribui-se ao pouco t<strong>em</strong>po <strong>de</strong> exercício docente, vivenciado por esse profissional que<br />

condicionado há esse t<strong>em</strong>po é caracterizado como noviço, ou seja, um professor que se<br />

mostrou ainda um aprendiz no seu trabalho docente, <strong>em</strong> espera da acumulação da sua<br />

experiência fundamental. Pois, sab<strong>em</strong>os que <strong>de</strong>terminadas competências são adquiridas<br />

quando se assegura uma prática perene na sala <strong>de</strong> aula (TARDIF, 2003).<br />

Deste modo, após examinarmos dois professores com perfis distintos, vimos que o<br />

P1, expressou <strong>saberes</strong> da experiência mais evi<strong>de</strong>ntes e, possivelmente <strong>de</strong>ve-se a esse fato a<br />

articulação dos diversos <strong>saberes</strong> docentes especificamente os <strong>disciplinares</strong>. O P2, mostrou-se<br />

diferente quando na observação da gestão da sala <strong>de</strong> aula se manteve distante s<strong>em</strong> interagir<br />

com os seus alunos. Também se viu uma diferença no que se refere ao conteúdo, pois<br />

algumas <strong>de</strong>clarações não foram completas e também não foi exposto a relação do conceito<br />

com o contexto. Assim, pod<strong>em</strong>os dizer que a prática docente é um espaço <strong>de</strong> aprendizag<strong>em</strong>,<br />

<strong>em</strong> que o professor vai se adaptando e selecionado o que lhe é útil no seu exercício para<br />

melhor atuar (TARDIF, 2003).<br />

Procurando respon<strong>de</strong>r a pergunta instigadora do presente estudo A análise do P1, que<br />

nos mostrou que é um professor familiarizado com a sala <strong>de</strong> aula e articula as estratégias, os<br />

<strong>saberes</strong> experiências e os <strong>saberes</strong> <strong>disciplinares</strong>. Pod<strong>em</strong>os colocar que no seu movimento<br />

enquanto esteve na sala <strong>de</strong> aula, apresentou uma interação ativa e dinâmica <strong>em</strong> relação a seus<br />

alunos, usando s<strong>em</strong>pre a interação <strong>em</strong> forma <strong>de</strong> pergunta para fazer o seu aluno se inteirar do<br />

conteúdo possibilitando a compreensão do conceito que estava posto.<br />

Nesse sentido, salientamos que a gestão da sala <strong>de</strong> aula segundo Gauthier et al.<br />

(2006) representa um dos dois compromissos dos professores na docência, que inclui a<br />

ord<strong>em</strong> e a organização da sala <strong>de</strong> aula, sendo o primeiro o trabalho com a matéria (o<br />

conteúdo). Neste it<strong>em</strong> pod<strong>em</strong>os dizer que os dois professores, foram s<strong>em</strong>elhantes na gestão,


visto que a sala <strong>de</strong> aula se compunha <strong>de</strong> jovens, o que perceb<strong>em</strong>os foi uma adaptação e um<br />

comportamento coerente dos alunos, durante o processo <strong>de</strong> transmissão dos conteúdos.<br />

Para concluirmos nossa fala sobre o saber da experiência <strong>em</strong> exercício, comentamos<br />

agora sobre a gestão da disciplina. A seqüência com que foi apresentada apresentou<br />

coerência, o que sentimos falta durante a apresentação dos dois professores foi da riqueza <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>talhe que traz o conteúdo fotossíntese, sendo por eles dois apresentados <strong>de</strong> maneira<br />

sucinta, po<strong>de</strong>ndo <strong>de</strong>ssa forma interromper o processo <strong>de</strong> compreensão do aluno, já que as<br />

reações presentes no processo não se compartimentam, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo uma das outras.<br />

Pod<strong>em</strong>os justificar essa simplificação ou resumo, <strong>de</strong>vido à falta <strong>de</strong> material para os alunos,<br />

pois não dispunham <strong>de</strong> livros n<strong>em</strong> <strong>de</strong> apostilas, e o que estava ao alcance dos professores foi<br />

um resumo, escrito no quadro pelo professor e copiado pelos alunos. Registramos aqui<br />

também a falta <strong>de</strong> material <strong>de</strong> apoio para o professor, pois o que vimos como recurso <strong>em</strong><br />

mãos dos professores foi apenas um livro didático.<br />

Completando nossa fala sobre os <strong>saberes</strong> da experiência, mencionamos nossas<br />

percepções sobre as estratégias utilizadas pelo P1 e P2, nas <strong>aulas</strong> acima citadas.<br />

Compreend<strong>em</strong>os que os as estratégias <strong>de</strong>fin<strong>em</strong> a atuação do professor quando o aluno<br />

<strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma atitu<strong>de</strong> específica, por ex<strong>em</strong>plo: o aluno está envolvido pelo conteúdo e falta<br />

pouco para que ele compreenda o conceito como um todo. Essa atitu<strong>de</strong> é realizada pelo<br />

professor quando <strong>em</strong> instantes faz a leitura das situações e age <strong>de</strong> forma coerente fazendo o<br />

aluno enten<strong>de</strong>r o que lhe faltava. São ações realizadas pelo professor <strong>em</strong> situação real, pois<br />

nesse instante se instala um diálogo entre aluno e professor e a explicação ou intervenção do<br />

professor é tão individualizada ou específica, que só é entendida por eles, dois ou três alunos<br />

que estão envolvidos, pois essa situação é marcada por uma necessida<strong>de</strong> específica.<br />

Esse tipo <strong>de</strong> atitu<strong>de</strong> permeou o t<strong>em</strong>po todo à aula do P1, que interagiu <strong>de</strong> forma<br />

permanente com a sala <strong>de</strong> aula. Aqui se po<strong>de</strong> perceber que um saber não se concretiza s<strong>em</strong> o<br />

outro (saber da experiência - saber estratégico), pois para que a estratégia do professor<br />

funcione, ele não po<strong>de</strong> dispensar a interação.<br />

As ações da P2, foram diferenciadas, não conseguindo interagir com os alunos que<br />

permaneceram passivos. Portanto, a exposição do conteúdo contou apenas com a sua fala que<br />

foi imperativa durante as <strong>aulas</strong> que captamos. Essa apresentação feita pelo P2, <strong>de</strong>ixou claro<br />

que o conteúdo é o el<strong>em</strong>ento mais significante da sala <strong>de</strong> aula, um comportamento, também<br />

característico da pouca experiência do professor.<br />

Na sala <strong>de</strong> aula não pod<strong>em</strong>os <strong>de</strong>finir um saber mais importante do que o outro, pois<br />

estando <strong>em</strong> contato com a situação, o professor <strong>de</strong>ve agir para solucioná-la, como ele não


prever que situação po<strong>de</strong>rá surgir. Assim sendo, <strong>de</strong>ve estar amparado dos <strong>saberes</strong> que lhe são<br />

pertinentes para o trabalho na sua sala <strong>de</strong> aula.<br />

Nessa teia <strong>de</strong> atitu<strong>de</strong>s instantâneas aparece o saber estratégico, que não foi<br />

d<strong>em</strong>onstrado pelo P2, observando-se que não existiu probl<strong>em</strong>atização na sua aula mas uma<br />

seqüência pronta <strong>de</strong> perguntas e respostas que ele próprio respondia. Quanto à gestão do<br />

conteúdo, apresentou uma seqüência bastante fechada, não sendo possível a ele fazer a<br />

contextualização do conteúdo, pois seguia a seqüência elaborada anteriormente s<strong>em</strong> se<br />

<strong>de</strong>sviar. Assim, o conteúdo foi apresentado como um saber que não pertencia à realida<strong>de</strong> dos<br />

alunos, apenas como um saber <strong>de</strong> um meio <strong>de</strong> conhecimento distante e acima do aluno.<br />

Enfim, nossas consi<strong>de</strong>rações se refer<strong>em</strong> aos <strong>saberes</strong> <strong>disciplinares</strong>, <strong>saberes</strong> que os<br />

professores já traz<strong>em</strong> quando chegam à escola, <strong>saberes</strong> específicos que fundamentam as<br />

disciplinas que lecionam. No caso do P1 e do P2, os dois apresentam a formação <strong>em</strong><br />

<strong>biologia</strong> e seus <strong>saberes</strong> <strong>disciplinares</strong> estão presentes, entretanto, se expressaram <strong>de</strong> forma<br />

diferentes diante dos respectivos contextos. Inferimos também que os <strong>saberes</strong> experienciais<br />

da P1 contribuíram para uma melhor expressivida<strong>de</strong> dos <strong>saberes</strong> <strong>disciplinares</strong>, tendo também<br />

influenciado nas dificulda<strong>de</strong>s da P2 quanto à expressão <strong>de</strong> seus <strong>saberes</strong>.


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