Revista SÍNTESE, v 6, n. 1 e 2, jan/dez de 2011. - ECG / TCE-RJ
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De fato, a saú<strong>de</strong>, como<br />
política pública, tem<br />
sido apresentada como<br />
ação <strong>de</strong> governo<br />
gerida pelo Executivo,<br />
ainda que gran<strong>de</strong> parte<br />
das medidas tomadas,<br />
inclusive após a<br />
Constituição <strong>de</strong> 1988,<br />
tenha sido objeto <strong>de</strong><br />
alguma manifestação<br />
do Legislativo<br />
cia em subtrair recursos da saú<strong>de</strong> tem sido uma<br />
prática governamental reiterada. A insistência<br />
em consi<strong>de</strong>rar como recursos da saú<strong>de</strong> juros,<br />
<strong>de</strong>spesas com inativos, programa <strong>de</strong> combate à<br />
pobreza, entre outros, não se concretizou, até o<br />
momento, por força da mobilização da Frente<br />
Parlamentar da Saú<strong>de</strong>, instituições e entida<strong>de</strong>s<br />
comprometidas com a saú<strong>de</strong> pública.<br />
Por outro lado, em <strong><strong>de</strong>z</strong>embro <strong>de</strong> 2011, o Senado<br />
negou um projeto anteriormente aprovado<br />
por unanimida<strong>de</strong> e votou contra a ampliação<br />
dos recursos financeiros para a saú<strong>de</strong>. O que<br />
se pretendia era alterar a regra vigente para o<br />
aporte <strong>de</strong> recursos financeiros para a saú<strong>de</strong>,<br />
segundo a Emenda Constitucional nº 29, <strong>de</strong><br />
setembro <strong>de</strong> 2000, que <strong>de</strong>termina que as três<br />
esferas <strong>de</strong> governo <strong>de</strong>vem contribuir com os<br />
seguintes valores mínimos: União – a cada ano<br />
um recurso equivalente ao total empenhado<br />
no ano anterior, aplicada a variação nominal<br />
do PIB; estados – 12% <strong>de</strong> seus impostos; e<br />
municípios – 15% <strong>de</strong> seus impostos. Para tanto,<br />
a proposta era alterar a fórmula <strong>de</strong> cálculo<br />
dos recursos da União para a saú<strong>de</strong>, fixando<br />
em 10% <strong>de</strong> sua Receita Corrente Bruta para<br />
se equiparar à forma <strong>de</strong> cálculo <strong>de</strong> estados e<br />
municípios. A rejeição pelo Senado da principal<br />
ban<strong>de</strong>ira que aglutinou os movimentos sociais<br />
em <strong>de</strong>fesa do SUS com o Parlamento durante<br />
nove anos representa um enorme <strong>de</strong>safio para<br />
o sistema <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> brasileiro.<br />
Com base nessas constatações é fácil verificar<br />
certo <strong>de</strong>scompasso entre o foco das atenções<br />
das vertentes técnicas e acadêmicas do Movimento<br />
Sanitário e os processos mais gerais<br />
<strong>de</strong> produção das políticas e <strong>de</strong>terminação das<br />
condições <strong>de</strong> vida e saú<strong>de</strong> da população. Temas<br />
emanados do Po<strong>de</strong>r Executivo e em especial <strong>de</strong><br />
certos órgãos do Ministério da Saú<strong>de</strong>, como as<br />
normas sobre repasses <strong>de</strong> recursos, nomeações<br />
e <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> investimentos, exercem certo<br />
monopólio no <strong>de</strong>bate corrente sobre as políticas<br />
<strong>de</strong> saú<strong>de</strong> e na produção científica da área.<br />
É importante assinalar que o padrão analítico<br />
centrado quase que exclusivamente no Executivo,<br />
enquanto instância <strong>de</strong>cisória que dita os<br />
rumos das políticas públicas, não é uma prerrogativa<br />
da área da saú<strong>de</strong>. Cientistas políticos<br />
como Boschi e Lima (2003) pon<strong>de</strong>ram que o<br />
protagonismo do Po<strong>de</strong>r Executivo na engenharia<br />
institucional republicana, especialmente a<br />
partir dos anos 1930, foi sempre tão notório<br />
que fica a impressão <strong>de</strong> que suas instituições<br />
encarnam o Estado. Subjacente à noção <strong>de</strong><br />
Estado, estaria a figura do Po<strong>de</strong>r Executivo, do<br />
qual originam-se todas as relações, inclusive<br />
aquelas que se estabelecem com os <strong>de</strong>mais<br />
po<strong>de</strong>res e com a socieda<strong>de</strong>. Não é por menos<br />
que os argumentos baseados na <strong>de</strong>bilida<strong>de</strong> e<br />
instabilida<strong>de</strong> das instituições da <strong>de</strong>mocracia representativa<br />
e da socieda<strong>de</strong> civil encontram tanta<br />
ressonância nos fóruns <strong>de</strong> <strong>de</strong>bate e difusão<br />
<strong>de</strong> análises sobre a formação social brasileira. Os<br />
argumentos sobre a inocuida<strong>de</strong> e a inoperância<br />
<strong>Revista</strong> <strong>TCE</strong>-<strong>RJ</strong>, v. 6, n. 1 e 2, p. 18-31, Rio <strong>de</strong> Janeiro, <strong>jan</strong>./<strong><strong>de</strong>z</strong>. 2011<br />
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ESTUDOS<br />
PRODUÇÃO LEGISLATIVA SOBRE SAÚDE<br />
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