A luta contra o farisaísmo hipócrita - Assembleia de Deus do Cruzeiro
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QD 07 - Área Especial 01 <strong>Cruzeiro</strong> Velho<br />
(61) 3964-8624 / 3233-2527<br />
www.adcruz.org/ebd<br />
Presi<strong>de</strong>nte: Pastor João Adair Ferreira<br />
Dirigente e Consultor Doutrinário: Pastor Argileu Martins da Silva<br />
Superinten<strong>de</strong>nte: Presbítero Jorge Luiz Rodrigues Barbosa<br />
Lição 10<br />
5 <strong>de</strong> Junho <strong>de</strong> 2011<br />
Texto Áureo<br />
A <strong>luta</strong> <strong>contra</strong> o <strong>farisaísmo</strong> <strong>hipócrita</strong><br />
"Guias cegos, que coais o mosquito e engolis o camelo!". Mt 23.24<br />
Verda<strong>de</strong> Aplicada<br />
Guardamos coisas insignificantes por tradição e não temos o mesmo cuida<strong>do</strong> com relação a<br />
outras mais sérias que acontecem no nosso meio.<br />
Objetivos da Lição<br />
► Mostrar que não adianta guardar tradições, usos e costumes, se a vida não estiver <strong>de</strong><br />
acor<strong>do</strong> com o Evangelho <strong>de</strong> Jesus Cristo.<br />
► Explicar que muitos estão iludin<strong>do</strong> as pessoas com uma roupagem externa como se<br />
ela fosse suficiente para a salvação.<br />
► Conscientizar o cristão <strong>de</strong> que precisamos manter a justiça, a misericórdia e a fé.<br />
Textos <strong>de</strong> Referência<br />
Mt 23.4 Atam far<strong>do</strong>s pesa<strong>do</strong>s e difíceis <strong>de</strong> carregar, e os põem sobre os ombros <strong>do</strong>s<br />
homens; entretanto, eles mesmos nem com o <strong>de</strong><strong>do</strong> querem movê-los.<br />
Mt 23.5 Praticam, porém, todas as suas obras com o fim <strong>de</strong> serem vistos <strong>do</strong>s homens;<br />
pois alargam os seus filactérios e alongam as suas franjas.<br />
Mt 23.24 Guias cegos, que coais o mosquito e engolis o camelo!<br />
Mt 23.27 Ai <strong>de</strong> vós, escribas e fariseus, <strong>hipócrita</strong>s, porque sois semelhantes aos<br />
sepulcros caia<strong>do</strong>s, que, por fora, se mostram belos, mas por <strong>de</strong>ntro estão cheios <strong>de</strong> ossos<br />
<strong>de</strong> mortos, e <strong>de</strong> toda imundícia!
O Peca<strong>do</strong> da Hipocrisia At 4.32-5.11<br />
Os crentes, movi<strong>do</strong>s por amor cristão, vendiam seus imóveis espontaneamente. Faziam isto<br />
para distribuírem a importância apurada conforme a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cada um.<br />
Provavelmente, o dinheiro era trazi<strong>do</strong> aos apóstolos num culto especial como ato <strong>de</strong><br />
consagração. Barnabé, que era <strong>de</strong>certo um homem <strong>de</strong> bens e <strong>de</strong> influência, ven<strong>de</strong>u um<br />
campo e publicamente <strong>de</strong>positou seu valor em dinheiro aos pés <strong>do</strong>s apóstolos. Este ato <strong>de</strong><br />
consagração <strong>de</strong>spertou a admiração <strong>do</strong>s crentes. Talvez tenha havi<strong>do</strong> durante aquele culto<br />
um <strong>de</strong>rramamento po<strong>de</strong>roso <strong>do</strong> Espírito Santo. No meio daquele entusiasmo, Ananias e<br />
Safira ven<strong>de</strong>ram uma proprieda<strong>de</strong>. Ananias entrou em acor<strong>do</strong> com sua mulher e reteve<br />
parte <strong>do</strong> preço, <strong>de</strong>positan<strong>do</strong> o restante aos pés <strong>do</strong>s apóstolos.<br />
Até ali, tu<strong>do</strong> havia si<strong>do</strong> glorioso na vida da igreja. Suas características típicas eram o amor<br />
fraternal, a bonda<strong>de</strong> altruísta, a coragem heroica e a real <strong>de</strong>voção a Cristo. Não era, no<br />
entanto, nenhum Milênio espiritual. Satanás, longe <strong>de</strong> estar amarra<strong>do</strong>, trabalhava com<br />
vigor! Não conseguiu <strong>de</strong>struir a Igreja através das perseguições vindas <strong>de</strong> fora. Procurou,<br />
então, estragá-la por <strong>de</strong>ntro, seduzin<strong>do</strong> alguns <strong>do</strong>s seus membros. Não conseguin<strong>do</strong><br />
<strong>de</strong>struir o trigo, semeou seu joio (Mt 13.24-30). Suas primeiras vítimas, aliás<br />
in<strong>de</strong>sculpáveis, foram Ananias e Safira. Daquele tempo para cá, a hipocrisia sempre tem<br />
segui<strong>do</strong> a realida<strong>de</strong> da religião como uma sombra negra.<br />
I - Manifestada a Hipocrisia<br />
Provavelmente os elementos principais <strong>do</strong> peca<strong>do</strong> <strong>de</strong> Ananias e Safira eram:<br />
1. Cobiça. Como no caso <strong>de</strong> Judas, o amor ao dinheiro foi a raiz <strong>do</strong> seu peca<strong>do</strong>, "porque o<br />
amor <strong>do</strong> dinheiro é a raiz <strong>de</strong> toda a espécie <strong>de</strong> males" (1 Tm 6.10). Cobiçavam honra e<br />
glória na igreja e ao mesmo tempo o dinheiro. Planejavam um meio termo: dariam parte <strong>do</strong><br />
dinheiro para obter a glória <strong>de</strong> terem da<strong>do</strong> tu<strong>do</strong>, e ao mesmo tempo, guardariam parte para<br />
<strong>de</strong>sfrutar <strong>de</strong>la em particular.<br />
2. Falta <strong>de</strong> fé. A falta <strong>de</strong> fé está por <strong>de</strong>trás <strong>de</strong> quase to<strong>do</strong>s os peca<strong>do</strong>s <strong>do</strong> crente. Ananias<br />
pensava, <strong>de</strong>certo, que valia a pena fazer uma boa contribuição para o glorioso reavivamento<br />
espiritual, uma obra contínua e sólida. Mas, o que aconteceria se o movimento chegasse ao<br />
fim? Já não haveria "fun<strong>do</strong> <strong>de</strong> garantia". Precisava evitar o fanatismo e garantir o dia <strong>de</strong><br />
amanhã.<br />
3. Desejo <strong>de</strong> honra. O casal admirava o caráter generoso <strong>de</strong> Barnabé. Mas passaram a<br />
cobiçar o alto conceito e louvor recebi<strong>do</strong>s por ele, <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> seu ato <strong>de</strong> abnegação. Os <strong>do</strong>is<br />
queriam receber o louvor que se dá aos heróis da fé, porém, sem esforços nem sacrifícios.<br />
4. A hipocrisia. O <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> parecer virtuoso sem pagar o preço <strong>de</strong> ser - esta é a essência<br />
da hipocrisia. Literalmente, a palavra "<strong>hipócrita</strong>" originalmente queria dizer "ator". O<br />
<strong>hipócrita</strong> está sempre representan<strong>do</strong> um papel que nada tem a ver com sua verda<strong>de</strong>ira<br />
personalida<strong>de</strong>. Quan<strong>do</strong> Ananias trouxe o dinheiro, estava encenan<strong>do</strong> uma mentira. Fingia<br />
estar contribuin<strong>do</strong> com a renda total da sua venda.<br />
II - Detectada a Hipocrisia<br />
1. Desmascara<strong>do</strong> o peca<strong>do</strong>. O Espírito Santo, habitan<strong>do</strong> no meio da Igreja, <strong>de</strong>tecta to<strong>do</strong> o<br />
peca<strong>do</strong>. Ananias escolheu um lugar muito perigoso e uma época <strong>de</strong>sfavorável à pratica da<br />
hipocrisia. O divino Espírito <strong>de</strong> pureza, sincerida<strong>de</strong> e verda<strong>de</strong> tinha si<strong>do</strong> <strong>de</strong>rrama<strong>do</strong> em<br />
abundância. Portanto, era imediatamente reconheci<strong>do</strong> o espírito da falsida<strong>de</strong> e hipocrisia<br />
que, em tais circunstâncias, era ainda mais imper<strong>do</strong>ável. Num ambiente <strong>de</strong> tanta
espiritualida<strong>de</strong>, havia pessoas dispostas à hipocrisia. O que aconteceria, então, em tempos<br />
mais difíceis se não con<strong>de</strong>nassem este peca<strong>do</strong>? Pedro, mediante o <strong>do</strong>m <strong>do</strong> discernimento <strong>de</strong><br />
espíritos, viu o que havia em Ananias. Ele não pertencia àquele ambiente espiritual. Pela<br />
inspiração divina, Pedro disse: "Ananias, por que encheu Satanás o teu coração, para que<br />
mentisses ao Espírito Santo, e retivesses parte <strong>do</strong> preço da herda<strong>de</strong>? Guardan<strong>do</strong>-a não<br />
ficava para ti? E, vendida, não estava em teu po<strong>de</strong>r? Por que formaste este <strong>de</strong>sígnio em teu<br />
coração? Não mentiste aos homens, mas a <strong>Deus</strong>". Notamos aqui o seguinte:<br />
2. A origem <strong>do</strong> peca<strong>do</strong>. "Por que encheu Satanás o teu coração?" Como na situação <strong>do</strong><br />
cobiçoso Judas, Satanás <strong>de</strong>rramava suas pecaminosas sugestões no coração <strong>de</strong> Ananias<br />
(cf. Jo 13.2). O diabo, no entanto, não po<strong>de</strong> entrar em nossa vida a não ser mediante<br />
permissão nossa. Por isso Pedro indagou: "Por quê?" - "Resisti ao diabo, e ele fugirá <strong>de</strong> vós"<br />
(Tg 4.7). Por isso, a responsabilida<strong>de</strong> <strong>do</strong> homem permanece: "Por que formaste este<br />
<strong>de</strong>sígnio em teu coração?"<br />
3. A falta <strong>de</strong> <strong>de</strong>sculpas para o peca<strong>do</strong>. Não havia a obrigação <strong>de</strong> os crentes ven<strong>de</strong>rem<br />
suas proprieda<strong>de</strong>s e trazerem aos apóstolos os montantes apura<strong>do</strong>s. Não fora aboli<strong>do</strong> o<br />
direito da posse individual <strong>de</strong> bens. Ananias não teria viola<strong>do</strong> nenhum preceito se tivesse<br />
conserva<strong>do</strong> sua proprieda<strong>de</strong>. O ato <strong>de</strong> ven<strong>de</strong>r era da exclusiva responsabilida<strong>de</strong> <strong>do</strong> <strong>do</strong>no,<br />
bem como o ato <strong>de</strong> entregar aos apóstolos o dinheiro recebi<strong>do</strong>. Os apóstolos não possuíam<br />
autorida<strong>de</strong> sobre o dinheiro, a não ser quan<strong>do</strong> o recebiam para o fun<strong>do</strong> <strong>de</strong> assistência.<br />
"Guardan<strong>do</strong>-a não ficava para ti? E, vendida, não estava em teu po<strong>de</strong>r? Por que formaste<br />
este <strong>de</strong>sígnio em teu coração?" Ananias não podia alegar a existência <strong>de</strong> alguma<br />
necessida<strong>de</strong> urgente, forçan<strong>do</strong>-o a enganar, reten<strong>do</strong> parte da soma <strong>de</strong>dicada à igreja.<br />
4. A natureza <strong>do</strong> peca<strong>do</strong>. "Não mentiste aos homens, mas a <strong>Deus</strong>." Provavelmente,<br />
imaginava que estivesse logran<strong>do</strong> a Pedro, lí<strong>de</strong>r da igreja. Não entendia que o verda<strong>de</strong>iro<br />
lí<strong>de</strong>r da igreja é o Espírito Santo, onisciente, que a tu<strong>do</strong> perscruta. A Igreja Primitiva se<br />
constituía <strong>de</strong> um grupo sob a li<strong>de</strong>rança <strong>do</strong> Espírito Santo (cf. At 8.29,39; 10.19; 13.2;<br />
16.6,7).<br />
III - Castigada a Hipocrisia<br />
"E Ananias, ouvin<strong>do</strong> estas palavras, caiu e expirou, e um gran<strong>de</strong> temor veio sobre to<strong>do</strong>s os<br />
que isto ouviram".<br />
1. O autor <strong>do</strong> julgamento. Pedro, como porta-voz <strong>do</strong> Espírito Santo, <strong>de</strong>nunciou o peca<strong>do</strong><br />
que lhe fora revela<strong>do</strong> <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> sobrenatural. O Espírito Santo, <strong>do</strong>a<strong>do</strong>r da vida, confirman<strong>do</strong><br />
as palavras <strong>de</strong> Pedro, retirou seu apoio <strong>do</strong> corpo <strong>de</strong> Ananias, que expirou.<br />
2. A natureza <strong>do</strong> julgamento. Pela narrativa, o castigo parece ter si<strong>do</strong> apenas a morte<br />
física. O que se po<strong>de</strong> dizer, no entanto, <strong>do</strong> <strong>de</strong>stino eterno <strong>de</strong> Ananias e Safira? A Palavra<br />
não o <strong>de</strong>clara aqui, mas, outros trechos po<strong>de</strong>m lançar luz sobre o assunto: 1 Co 11.30-32;<br />
5.4,5; 3.15; 1 Jo 5.16,17.<br />
3. A severida<strong>de</strong> <strong>do</strong> julgamento. Era severo. No entanto, <strong>de</strong>vemos consi<strong>de</strong>rar que o peca<strong>do</strong><br />
foi cometi<strong>do</strong> no meio <strong>de</strong> uma gran<strong>de</strong> luz espiritual. Os <strong>do</strong>is tinham entra<strong>do</strong> em contato com<br />
as mais extraordinárias manifestações <strong>do</strong> Espírito Santo. Estavam conscientes da presença<br />
<strong>de</strong> um gran<strong>de</strong> po<strong>de</strong>r sobrenatural no seu meio. Embora <strong>Deus</strong> nem sempre castigue este<br />
peca<strong>do</strong> <strong>de</strong> uma forma tão imediata, severa e pública, fez <strong>de</strong>ste casal um exemplo.<br />
Demonstrava que não seria tolerável a repetição da hipocrisia <strong>do</strong>s fariseus no meio <strong>do</strong>s<br />
cristãos. O registro <strong>de</strong>ste inci<strong>de</strong>nte <strong>de</strong>veria ser suficiente para to<strong>do</strong>s os séculos da história<br />
da Igreja.
4. O propósito <strong>do</strong> julgamento. "E houve um gran<strong>de</strong> temor em toda a igreja e em to<strong>do</strong>s os<br />
que ouviram estas Coisas". Na tenra infância <strong>do</strong> Cristianismo, era necessário que toda a<br />
corrupção fosse afastada <strong>do</strong> seu meio. O terrível castigo sobre Ananias e Safira ensinou a<br />
to<strong>do</strong>s ser a Igreja uma instituição sagrada. Não seria tolerada a <strong>de</strong>sonestida<strong>de</strong> em seu<br />
meio. Muitos <strong>do</strong>s que souberam <strong>do</strong> acontecimento tinham admiração pelo Cristianismo<br />
sem ousar se filiar a ele (v. 13). Ninguém, a não ser mediante conversão e transformação,<br />
iria se ajuntar a uma organização em que os <strong>hipócrita</strong>s caíam mortos.<br />
IV - Ensinamentos Práticos<br />
1. Mentiras encenadas. "Por que é que entre vós vos Concertastes...?" (v. 9) sugere que o<br />
peca<strong>do</strong> não era fruto <strong>de</strong> algum súbito impulso. Fora premedita<strong>do</strong>. Pior ainda, o peca<strong>do</strong> fora<br />
"encena<strong>do</strong> em palco", como uma peça teatral. Fizeram <strong>de</strong> conta que estavam dan<strong>do</strong> tu<strong>do</strong>,<br />
quan<strong>do</strong>, na realida<strong>de</strong>, entregavam apenas uma parte. Planejar e <strong>de</strong>liberadamente dar uma<br />
falsa impressão, por atos ou gestos, representa um mal maior <strong>do</strong> que a mentira falada.<br />
2. Evite que o peca<strong>do</strong> germine. Tomás Kempis escreveu: "Em primeiro lugar, chega à<br />
mente um simples pensamento sobre o mal, então chega à mente uma forte impressão <strong>do</strong><br />
mesmo, e, <strong>de</strong>pois, o <strong>de</strong>leite no mal com o impulso <strong>de</strong> praticá-lo, e finalmente, o<br />
consentimento". Estas palavras <strong>de</strong>screvem o caráter gradual <strong>do</strong> peca<strong>do</strong>. Talvez um impulso<br />
generoso tenha leva<strong>do</strong> Ananias e Safira a ven<strong>de</strong>r a proprieda<strong>de</strong>. Ao verem o dinheiro em<br />
mãos, porém, é que o tenta<strong>do</strong>r conseguiu fazer seus corações encherem-se <strong>de</strong> ganância.<br />
Fazen<strong>do</strong>-a <strong>de</strong>pois <strong>do</strong>minar seus pensamentos e atos. Ananias e Safira se <strong>de</strong>ixaram<br />
encantar por Satanás. Deixaram seu amor a <strong>Deus</strong> ce<strong>de</strong>r lugar à concupiscência pelo ouro.<br />
Houve, no entanto, um tempo em que tinham a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> resistir à tentação. E a<br />
lição que tiramos é: evite que o peca<strong>do</strong> germine. O peca<strong>do</strong> começa com um pensamento. É<br />
nesta altura que se trava a batalha <strong>de</strong>cisiva <strong>contra</strong> o peca<strong>do</strong>. Devemos nos apegar<br />
firmemente à <strong>do</strong>utrina bíblica <strong>de</strong> que o diabo po<strong>de</strong> ser resisti<strong>do</strong> (Tg 4.7).<br />
3. "Filho da exortação" (ou "da consolação" - a palavra grega tem estes <strong>do</strong>is senti<strong>do</strong>s<br />
também no nome <strong>do</strong> Consola<strong>do</strong>r). Em alto mar empregam-se <strong>do</strong>is tipos <strong>de</strong> faróis: um para<br />
advertir <strong>do</strong>s perigos e outro para mostrar o caminho certo. Ananias é farol <strong>de</strong> advertência;<br />
Barnabé, farol <strong>de</strong> orientação. Contrastam-se os <strong>do</strong>is tipos <strong>de</strong> "plenitu<strong>de</strong>" em Atos 5.3 e<br />
11.24.<br />
Barnabé, após sua conversão, recebeu o nome <strong>de</strong> "filho da consolação". Seu novo nome<br />
evi<strong>de</strong>nciava seu apoio generoso aos que estavam em dificulda<strong>de</strong>s. Como ficou ilustra<strong>do</strong> nos<br />
casos <strong>de</strong> Saulo (At 9.26, 27) e <strong>de</strong> Marcos (At 15.39). Ao entregar seu dinheiro aos apóstolos,<br />
dava mais uma prova da sua disposição em dar seu tempo e talentos para ajudar aos<br />
irmãos. Utilizan<strong>do</strong> seu <strong>do</strong>m <strong>de</strong> pregação, soube expressar em palavras a generosida<strong>de</strong> <strong>do</strong><br />
seu coração para exortar e consolar os crentes. Chegan<strong>do</strong> em Antioquia, após o início <strong>do</strong><br />
<strong>de</strong>spertamento ali, "exortou a to<strong>do</strong>s a que permanecessem no Senhor com propósito <strong>do</strong><br />
coração. Porque era homem <strong>de</strong> bem, e cheio <strong>do</strong> Espírito Santo e <strong>de</strong> fé" (At 11.23,24).<br />
Barnabé <strong>de</strong>ve servir <strong>de</strong> exemplo para to<strong>do</strong>s nós. Muitas coisas acontecem para levar os<br />
outros à <strong>de</strong>rrota e ao <strong>de</strong>sânimo. Precisamos agir e falar em tais circunstâncias para sermos<br />
uma consolação e exortação ao nosso próximo.<br />
4. Trigo e palha. Sempre sobra alguma palha no meio <strong>do</strong> trigo. Mesmo após a <strong>de</strong>bulha<br />
mais severa. Mesmo nas melhores igrejas ainda haverá crentes <strong>hipócrita</strong>s e sem<br />
consagração. No Esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> Oklahoma, EUA, criaram uma socieda<strong>de</strong> secreta a fim <strong>de</strong><br />
combater os ladrões <strong>de</strong> cavalos. Queriam proteger os cavalos e levar os ladrões à justiça
mediante um esforço conjunto. Fracassou. Em pouco tempo to<strong>do</strong> ladrão <strong>de</strong> cavalos daquela<br />
região se filiou à socieda<strong>de</strong>!<br />
Não se justifica a <strong>de</strong>sculpa <strong>do</strong>s que não querem ir à igreja dizen<strong>do</strong>: "Há muitos <strong>hipócrita</strong>s<br />
na igreja". A fé cristã con<strong>de</strong>na a hipocrisia. Todavia, a presença <strong>de</strong> crentes espúrios não é<br />
motivo para se rejeitar a fé cristã. Como a existência <strong>de</strong> uma nota falsificada não é motivo<br />
para alguém jogar no lixo to<strong>do</strong> o dinheiro que recebe.<br />
5. A vida cristã tem suas próprias riquezas. Ananias e Safira eram seres humanos<br />
comuns, como to<strong>do</strong>s nós. E eram crentes em Jesus Cristo. Enten<strong>de</strong>mos seu peca<strong>do</strong> pois,<br />
num perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> fervor espiritual, é possível alguém comover-se profundamente<br />
sem, contu<strong>do</strong>, progredir no caminho <strong>de</strong> verda<strong>de</strong>, retidão, justiça e pureza. Po<strong>de</strong> ter certeza<br />
quanto àquilo que crê, <strong>de</strong>monstrar zelo em propagar a fé e ainda fracassar quanto à<br />
distinção entre o certo e o erra<strong>do</strong> (cf. Hb 5.11-14; 1 Co 3.1-3). Esta falha, nesse tipo <strong>de</strong><br />
crente, torna-se uma pedra <strong>de</strong> tropeço para os <strong>de</strong> fora. A tentação que surge em muitos<br />
converti<strong>do</strong>s é permitir que as bênçãos transcen<strong>de</strong>ntes e gloriosas sejam procuradas mais<br />
<strong>do</strong> que o viver à altura da Palavra <strong>de</strong> <strong>Deus</strong>. Desta maneira sentir-se bem fica sen<strong>do</strong><br />
sinônimo <strong>de</strong> praticar o bem.<br />
Um membro contava ao seu pastor sobre a viagem marcada para a Terra Santa. Dizia<br />
entusiasticamente que, chegan<strong>do</strong> ali, leria os Dez Mandamentos em voz alta, em pé no<br />
monte Sinai. "Não, irmão", disse o prega<strong>do</strong>r com sincerida<strong>de</strong>. "Aceite meu conselho. Não<br />
precisa lê-los em voz alta. Fique em casa e guar<strong>de</strong>-os". O prega<strong>do</strong>r tinha razão. O<br />
sentimentalismo não é substituto da justiça. A vida abençoada e santificada formam uma<br />
só vida cristã, com gran<strong>de</strong>s riquezas espirituais, "porque esta é a carida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> que<br />
guar<strong>de</strong>mos os seus mandamentos..." (1 Jo 5.3).<br />
6. O peca<strong>do</strong> estraga os melhores sistemas. Na Igreja Primitiva, havia uma esplêndida<br />
vida em conjunto. A comunhão <strong>de</strong> bens era a expressão <strong>de</strong> corações inflama<strong>do</strong>s pela<br />
comunhão com <strong>Deus</strong>. Era a <strong>de</strong>monstração <strong>do</strong> amor divino que nutriam uns pelos outros.<br />
Hoje, o "comunismo", nome da<strong>do</strong> à falsificação feita pelo diabo, finge ter algo a ver com esta<br />
vida em comum. Mas é inspira<strong>do</strong> pelo ódio e não pelo amor. E este ódio é expressa<strong>do</strong> em<br />
toda a sua fúria <strong>contra</strong> tu<strong>do</strong> quanto é <strong>de</strong> <strong>Deus</strong>.<br />
A gran<strong>de</strong> necessida<strong>de</strong> é a transformação <strong>do</strong>s corações humanos. Porque é <strong>do</strong> coração que<br />
proce<strong>de</strong>m as coisas que arruínam qualquer sistema <strong>de</strong> economia. A história bíblica mostra<br />
que Israel, pela dureza <strong>de</strong> coração, não conseguia fazer as leis <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> atingirem seu alvo.<br />
7. A honestida<strong>de</strong> é a melhor política. O peca<strong>do</strong> <strong>de</strong> Ananias e Safira não é rarida<strong>de</strong>. Dr.<br />
W. B. Riley escreveu: "Ouço mais mentiras com respeito às contribuições que as pessoas<br />
dão à igreja <strong>do</strong> que com respeito a qualquer outro assunto <strong>de</strong> conversação cristã. Cometese<br />
mais frau<strong>de</strong> com respeito à proporção da renda que está sen<strong>do</strong> colocada no altar <strong>do</strong><br />
Senhor <strong>do</strong> que em qualquer outro assunto na vida da igreja". Pessoas que vivem com<br />
duplicida<strong>de</strong> e falsida<strong>de</strong> por fim chegam a uma situação impossível. Seria muito mais fácil<br />
serem sinceras. Se empreen<strong>de</strong>ssem tanto esforço na fi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong> a <strong>Deus</strong> quanto <strong>de</strong>dicam a<br />
tramar falsida<strong>de</strong>s, seriam exemplos <strong>de</strong> santida<strong>de</strong>! A honestida<strong>de</strong> é a melhor política em<br />
to<strong>do</strong> o nosso relacionamento com <strong>Deus</strong> e com os homens.<br />
Bibliografia M. Pearlman
A religião <strong>do</strong> cristão: não <strong>hipócrita</strong>, mas real Mt 6:1-6; 16-18<br />
Jesus começou a falar no monte, <strong>de</strong>screven<strong>do</strong> nas bem-aventuranças os elementos<br />
essenciais <strong>do</strong> caráter cristão, e prosseguiu indican<strong>do</strong>, através das metáforas <strong>do</strong> sal e da luz,<br />
a influência para o bem que os cristãos exercerão na comunida<strong>de</strong>, se possuírem esse<br />
caráter. Descreveu, então, a justiça <strong>do</strong> cristão, que <strong>de</strong>ve exce<strong>de</strong>r à justiça <strong>do</strong>s escribas e<br />
fariseus na aceitação <strong>de</strong> todas as implicações da lei <strong>de</strong> <strong>Deus</strong>, sem esquivar-se <strong>de</strong> coisa<br />
alguma e sem criar limites artificiais. A justiça <strong>do</strong> cristão é uma justiça sem limites. Deve<br />
ter liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> penetrar além <strong>do</strong>s nossos atos e palavras, até o nosso coração,<br />
pensamentos e motivações, e <strong>de</strong>ve nos dirigir até mesmo nessas partes escondidas e<br />
secretas.<br />
Depois, Jesus continua a ensinar sobre a "justiça". O capítulo 6 começa (literalmente) com<br />
"Guardai-vos <strong>de</strong> exercer a vossa justiça diante <strong>do</strong>s homens". A palavra usada nos melhores<br />
manuscritos é dikaiosuné, a mesma <strong>de</strong> 5:6 e 20. Mas muito embora a palavra seja a<br />
mesma, a ênfase mu<strong>do</strong>u <strong>de</strong> lugar. Antes, a "justiça" estava relacionada com a bonda<strong>de</strong>, a<br />
pureza, a honestida<strong>de</strong> e o amor; agora, relaciona-se com práticas tais como esmolas,<br />
oração e jejum. Assim, Jesus passa da justiça moral <strong>do</strong> cristão para a sua justiça<br />
"religiosa". A maior parte das versões reconhece esta mudança <strong>de</strong> assunto. A ERAB diz:<br />
"Guardai-vos <strong>de</strong> exercer a vossa justiça diante <strong>do</strong>s homens", e a BLH: "Cuida<strong>do</strong>! Não<br />
pratiquem seus <strong>de</strong>veres religiosos em público a fim <strong>de</strong> serem vistos pelos outros."<br />
É importante reconhecer que, <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com Jesus Cristo, a "justiça" tem estas duas<br />
dimensões, a moral e a religiosa. Algumas pessoas falam em comportamento como se<br />
achassem que sua maior obrigação na vida cristã estivesse na esfera da ativida<strong>de</strong> religiosa,<br />
quer em público (frequência à igreja) ou em particular (exercícios <strong>de</strong>vocionais). Outros<br />
reagiram tão fortemente <strong>contra</strong> essa superenfatização da pieda<strong>de</strong>, que falam <strong>de</strong> Cristianismo<br />
"sem religião". Para eles, a igreja é a cida<strong>de</strong> secular, e a oração um encontro cheio <strong>de</strong><br />
amor com os seus vizinhos. Mas não há necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se escolher entre a pieda<strong>de</strong> e a<br />
moralida<strong>de</strong>, entre a <strong>de</strong>voção religiosa na igreja e o serviço ativo no mun<strong>do</strong>, entre o amor a<br />
<strong>Deus</strong> e o amor ao nosso próximo, já que Jesus ensinou que a "justiça" cristã autêntica<br />
inclui as duas coisas.<br />
Mais ainda, nas duas esferas da justiça, Jesus profere seu chama<strong>do</strong> insistente a seus<br />
discípulos para que sejam diferentes. Em Mateus 5, ele ensina que a nossa justiça <strong>de</strong>ve ser<br />
maior <strong>do</strong> que a <strong>do</strong>s fariseus (porque eles obe<strong>de</strong>ciam à letra da lei, enquanto a nossa<br />
obediência <strong>de</strong>ve incluir o nosso coração) e maior também (na forma <strong>do</strong> amor) <strong>do</strong> que a <strong>do</strong>s<br />
pagãos (porque eles se amam uns aos outros, enquanto o nosso amor <strong>de</strong>ve incluir nossos<br />
inimigos também). Mas em Mateus 6, no que se refere à justiça "religiosa", ele traça os<br />
mesmos <strong>do</strong>is <strong>contra</strong>stes. Ele fala primeiro da ostentação religiosa e diz: Não sereis como os<br />
<strong>hipócrita</strong>s (v. 5). Depois prossegue referin<strong>do</strong>-se ao formalismo mecânico <strong>do</strong>s pagãos e diz:<br />
Não vos assemelheis, pois, a eles (v. 8). Assim, novamente, os cristãos têm <strong>de</strong> ser<br />
diferentes, tanto <strong>do</strong>s fariseus quanto <strong>do</strong>s pagãos, <strong>do</strong>s religiosos e <strong>do</strong>s irreligiosos, da igreja<br />
e <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>. Que os cristãos não <strong>de</strong>vem se conformar com o mun<strong>do</strong> é um conceito familiar<br />
no Novo Testamento. O que muitas vezes passa <strong>de</strong>sapercebi<strong>do</strong> é que Jesus também viu (e<br />
previu) o mundanismo da própria igreja, e exortou os seus discípulos a não se<br />
conformarem tampouco com a igreja formal, constituin<strong>do</strong>, pelo contrário, uma comunida<strong>de</strong><br />
cristã distinta em sua vida e prática, separada da religião organizada, uma ecclësiola<br />
(igrejinha) na ecclesia. A diferença essencial na religião como na moralida<strong>de</strong> é que a justiça<br />
cristã autêntica não é uma simples manifestação, mas uma coisa escondida no coração.<br />
6:1 Guardai-vos <strong>de</strong> exercer a vossa justiça diante <strong>do</strong>s homens, com o fim <strong>de</strong> ser<strong>de</strong>s vistos por<br />
eles; <strong>do</strong>utra sorte não tereis galardão junto <strong>de</strong> vosso Pai celeste.
A advertência fundamental <strong>de</strong> Jesus é <strong>contra</strong> o praticar a vossa justiça diante <strong>do</strong>s homens,<br />
com o fim <strong>de</strong> ser<strong>de</strong>s vistos por eles. A primeira vista, estas palavras parecem <strong>contra</strong>dizer o<br />
seu mandamento anterior: "Assim brilhe também a vossa luz diante <strong>do</strong>s homens, para que<br />
vejam . . ." Nos <strong>do</strong>is versículos, ele fala <strong>de</strong> praticar boas obras "diante <strong>do</strong>s homens" e, em<br />
ambos, o objetivo fica <strong>de</strong>clara<strong>do</strong>, isto é, ser "vistos" por eles. Mas, no primeiro caso, ele<br />
or<strong>de</strong>na que o façam, enquanto que, no outro, ele o proíbe. Como resolver esta<br />
discrepância? A <strong>contra</strong>dição é apenas verbal, não substancial. A pista está no fato <strong>de</strong> Jesus<br />
falar sobre diferentes peca<strong>do</strong>s. Foi nossa covardia humana que o levou a dizer: "Assim<br />
brilhe também a vossa luz diante <strong>do</strong>s homens", e a nossa vaida<strong>de</strong> humana que o fez dizer<br />
que tomássemos o cuida<strong>do</strong> <strong>de</strong> não praticar nossa pieda<strong>de</strong> diante <strong>do</strong>s homens. A. B. Bruce<br />
resume a questão muito bem, escreven<strong>do</strong> que <strong>de</strong>vemos "mostrar quan<strong>do</strong> tenta<strong>do</strong>s a<br />
escon<strong>de</strong>r" e "escon<strong>de</strong>r quan<strong>do</strong> tenta<strong>do</strong>s a mostrar". Nossas boas obras <strong>de</strong>vem ser públicas<br />
para que a nossa luz brilhe; nossa <strong>de</strong>voção religiosa <strong>de</strong>ve ser secreta para não nos<br />
vangloriarmos <strong>de</strong>la. Além disso, a finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ambas as instruções <strong>de</strong> Jesus é a mesma,<br />
isto é, a glória <strong>de</strong> <strong>Deus</strong>. Por que <strong>de</strong>vemos manter secreta a nossa pieda<strong>de</strong>? É para que essa<br />
glória seja dada a <strong>Deus</strong> e não aos homens. Por que <strong>de</strong>vemos fazer a nossa luz brilhar e<br />
praticar abertamente as boas obras? Para que os homens possam glorificar ao nosso Pai<br />
celestial.<br />
Os três exemplos <strong>de</strong> justiça "religiosa" apresenta<strong>do</strong>s por Jesus — as esmolas, a oração e o<br />
jejum — aparecem <strong>de</strong> alguma forma em todas as religiões. Destacam-se, por exemplo, no<br />
Alcorão. Certamente esperava-se <strong>de</strong> to<strong>do</strong>s os ju<strong>de</strong>us que <strong>de</strong>ssem esmolas aos pobres, que<br />
orassem e jejuassem; e to<strong>do</strong>s os ju<strong>de</strong>us <strong>de</strong>votos O faziam. Evi<strong>de</strong>ntemente, Jesus esperava<br />
que os seus discípulos fizessem o mesmo, já que ele não começou cada parágrafo dizen<strong>do</strong>:<br />
"Se vocês <strong>de</strong>rem esmolas, se orarem, se jejuarem, então façam assim . . .", mas "Quan<strong>do</strong>"<br />
vocês o fizerem . . . (vs. 2, 5, 16). Ele tomou como certo que assim os seus discípulos<br />
agiriam.<br />
Mais ainda, este trio <strong>de</strong> obrigações religiosas expressa, num certo grau, nossa obrigação<br />
para com <strong>Deus</strong>, para com os outros e para com nós mesmos, pois dar esmolas é procurar<br />
servir ao nosso próximo, especialmente ao necessita<strong>do</strong>. Orar é buscar a face <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> e<br />
reconhecer a nossa <strong>de</strong>pendência <strong>de</strong>le. E jejuar (isto é, abster-se <strong>de</strong> alimentos por razões<br />
espirituais) é, pelo menos em parte, um mo<strong>do</strong> <strong>de</strong> autonegação e autodisciplina. Jesus não<br />
levantou a questão se os seus discípulos iam se ocupar <strong>de</strong>stas coisas mas, presumin<strong>do</strong> que<br />
o fariam, ensina-lhes por quê e como fazê-lo.<br />
Os três parágrafos seguem um padrão idêntico. Em imagens pitorescas e <strong>de</strong>liberadamente<br />
humorísticas, Jesus pinta um quadro <strong>do</strong> <strong>hipócrita</strong> religioso. É o quadro da ostentação.<br />
Esse tal recebe a recompensa que <strong>de</strong>seja, o aplauso <strong>do</strong>s homens. Com este, ele <strong>contra</strong>sta o<br />
cristão, que age em segre<strong>do</strong>, e que <strong>de</strong>seja, em recompensa, tão somente a bênção <strong>de</strong> <strong>Deus</strong>,<br />
que é o seu Pai celeste e que vê em segre<strong>do</strong>.<br />
1. A esmola cristã (vs. 2-4)<br />
Quan<strong>do</strong>, pois, <strong>de</strong>res esmola, não toques trombeta diante <strong>de</strong> ti, como fazem os <strong>hipócrita</strong>s, nas<br />
sinagogas e nas ruas, para serem glorifica<strong>do</strong>s pelos homens. Em verda<strong>de</strong> vos digo que eles<br />
já receberam a recompensa. 3 Tu, porém, ao dares a esmola, ignore a tua esquerda o que faz<br />
a tua direita; 4para que a tua esmola fique em secreto; e teu Pai que vê em secreto, te<br />
recompensará.
O Velho Testamento ensina muito sobre a compaixão para com os pobres. A palavra grega<br />
para esmola no versículo 2 (eleèmosuné) significa um ato <strong>de</strong> misericórdia ou pieda<strong>de</strong>.<br />
Consi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong> que o nosso <strong>Deus</strong> é um <strong>Deus</strong> misericordioso, como Jesus acabou <strong>de</strong><br />
enfatizar, "benigno até para com os ingratos e maus” (Lc 6:35, 36. cf. 5:45,48.), o seu povo<br />
<strong>de</strong>ve também ser bom e misericordioso. Jesus obviamente esperava que os seus discípulos<br />
fossem <strong>do</strong>a<strong>do</strong>res generosos. Suas palavras con<strong>de</strong>nam "a egoísta sovinice <strong>de</strong> muitos", como<br />
diz Ryle.<br />
Mas só generosida<strong>de</strong> não basta. Nosso Senhor está preocupa<strong>do</strong> <strong>do</strong> começo ao fim <strong>de</strong>ste<br />
Sermão com as motivações, com os pensamentos escondi<strong>do</strong>s no coração. Em sua exposição<br />
<strong>do</strong> sexto e <strong>do</strong> sétimo mandamentos, ele mostra que ambos, o homicídio e o adultério,<br />
po<strong>de</strong>m ser cometi<strong>do</strong>s no coração, sen<strong>do</strong> que a ira injustificada é uma espécie <strong>de</strong> homicídio<br />
<strong>do</strong> coração e os olhares concupiscentes uma espécie <strong>de</strong> adultério <strong>do</strong> coração. Na questão<br />
das esmolas, ele tem a mesma preocupação sobre os pensamentos secretos. A questão não<br />
é tanto sobre o que a mão está fazen<strong>do</strong> (passan<strong>do</strong> algum dinheiro ou um cheque), mas o<br />
que o coração está pensan<strong>do</strong> enquanto a mão age. Há três possibilida<strong>de</strong>s: ou estamos<br />
queren<strong>do</strong> o louvor <strong>do</strong>s homens, ou preservamos o nosso anonimato mas silenciosamente<br />
congratulamo-nos pelo que fizemos, ou estamos apenas <strong>de</strong>sejosos da aprovação <strong>de</strong> nosso<br />
Pai divino.<br />
Uma fome voraz pelo louvor <strong>do</strong>s homens era o peca<strong>do</strong> habitual <strong>do</strong>s fariseus. "Vós . . .<br />
aceitais glória uns <strong>do</strong>s outros", Jesus lhes disse, "e contu<strong>do</strong>, não procurais a glória que<br />
vem <strong>do</strong> <strong>Deus</strong> único" (Jo5:44.). Semelhantemente João, o evangelista, comentou: "Amaram<br />
mais a glória <strong>do</strong>s homens, <strong>do</strong> que a glória <strong>de</strong> <strong>Deus</strong>." (Jo 12:43.) Tão insaciável era o apetite<br />
<strong>de</strong>les pelos elogios humanos que prejudicava totalmente suas esmolas. Jesus ridicularizou<br />
o mo<strong>do</strong> como eles as transformavam num acontecimento público. Ele <strong>de</strong>screve um fariseu<br />
pomposo a caminho <strong>do</strong> templo ou da sinagoga, on<strong>de</strong> vai <strong>de</strong>positar o seu dinheiro numa<br />
caixa especial, ou in<strong>do</strong> levar uma esmola aos pobres. Na sua frente, marcham os toca<strong>do</strong>res<br />
<strong>de</strong> trombeta, rapidamente atrain<strong>do</strong> a multidão com suas clarinadas. "Eles davam a<br />
enten<strong>de</strong>r, sem dúvida", comenta Calvino, "que era para chamar a atenção <strong>do</strong>s pobres, pois<br />
<strong>de</strong>sculpas nunca faltam; mas era perfeitamente óbvio que buscavam os aplausos e os<br />
elogios". Realmente não importa se os fariseus às vezes agiam assim literalmente, ou se<br />
Jesus estava pintan<strong>do</strong> uma caricatura engraçada. De qualquer forma, ele estava<br />
con<strong>de</strong>na<strong>do</strong> a nossa ansieda<strong>de</strong> infantil por ser gran<strong>de</strong>mente estima<strong>do</strong>s pelos homens. Como<br />
Spurgeon disse: "Ficar com um centavo em uma das mãos e uma trombeta na outra é<br />
atitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>hipócrita</strong>."<br />
E "hipocrisia" é a palavra que Jesus usou para caracterizar essa exibição. No grego<br />
clássico, hupokrités era, primeiro, um ora<strong>do</strong>r e, então, um ator. Assim, figuradamente, a<br />
palavra passou a ser aplicada a qualquer pessoa que trata o mun<strong>do</strong> como se fosse um<br />
palco on<strong>de</strong> ela executa um papel. Deixa <strong>de</strong> la<strong>do</strong> a sua verda<strong>de</strong>ira i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> e assume uma<br />
i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> falsa. Já não é mais ela mesma, mas disfarça-se, personalizan<strong>do</strong> alguma outra<br />
pessoa. Usa uma máscara. No teatro, não há mal algum ou mentira da parte <strong>do</strong>s atores<br />
que executam os seus papéis. É uma situação convencional. O auditório sabe que veio<br />
assistir a uma peça; não é iludi<strong>do</strong>. O problema com o <strong>hipócrita</strong> religioso, por outro la<strong>do</strong>, é<br />
que <strong>de</strong>liberadamente preten<strong>de</strong> enganar as pessoas. E como um ator na sua representação<br />
(<strong>de</strong> mo<strong>do</strong> que o que vemos não é a pessoa real, mas um papel, uma máscara, um disfarce),<br />
mas é totalmente diferente <strong>do</strong> ator neste senti<strong>do</strong>: participa <strong>de</strong> alguma prática religiosa, que<br />
é uma ativida<strong>de</strong> real, e a transforma em algo diferente daquilo que é na realida<strong>de</strong>, isto é,<br />
numa peça faz-<strong>de</strong>-conta, numa exibição teatral diante <strong>de</strong> um auditório. E tu<strong>do</strong> é feito para<br />
receber aplausos.
É fácil ridicularizar aqueles ju<strong>de</strong>us fariseus <strong>do</strong> primeiro século. Nosso <strong>farisaísmo</strong> cristão<br />
não é tão engraça<strong>do</strong>. Nós não <strong>contra</strong>tamos uma fanfarra para tocar toda vez que<br />
contribuímos para uma igreja ou uma obra <strong>de</strong> carida<strong>de</strong>. Mas, usan<strong>do</strong> a metáfora familiar,<br />
gostamos <strong>de</strong> "tocar a nossa própria trombeta". Faz bem ao nosso ego ver o nosso nome nas<br />
listas <strong>de</strong> contribuintes <strong>de</strong> obras <strong>de</strong> carida<strong>de</strong> e <strong>de</strong> mantene<strong>do</strong>res <strong>de</strong> boas causas. Caímos<br />
exatamente na mesma tentação: chamamos a atenção para a nossa esmola para sermos<br />
"glorifica<strong>do</strong>s pelos homens".<br />
Dessas pessoas que buscam a glória <strong>do</strong>s homens, Jesus disse com ênfase: já receberam a<br />
recompensa. O verbo traduzi<strong>do</strong> por "receberam" (apechö) era, naquele tempo, um termo técnico<br />
usa<strong>do</strong> nas transações comerciais; significava "receber uma quantia total e dar um<br />
recibo por ela". Era frequentemente usa<strong>do</strong> nos papiros. Portanto, os <strong>hipócrita</strong>s que<br />
procuram aplausos não hão <strong>de</strong> recebê-los, mas "já terão recebi<strong>do</strong> toda a recompensa".<br />
Nada mais têm a receber, nada mais que o juízo no último dia.<br />
Ten<strong>do</strong> proibi<strong>do</strong> a seus discípulos <strong>de</strong> contribuírem para os necessita<strong>do</strong>s na maneira<br />
ostentosa <strong>do</strong>s fariseus, Jesus lhes diz, agora, qual a forma cristã, que é uma maneira<br />
secreta. Ele a expressa através <strong>de</strong> outra negativa: Tu, porém, ao dares esmola, ignore a tua<br />
esquerda o que faz a tua direita; para que a tua esmola fique em secreto. A mão direita é<br />
normalmente a mão da ativida<strong>de</strong>. Assim, Jesus presume que vamos usá-la ao dar a nossa<br />
esmola. Então, ele acrescenta que a nossa mão esquerda não <strong>de</strong>ve ficar olhan<strong>do</strong>. Não é<br />
difícil captar o significa<strong>do</strong>. Não só não <strong>de</strong>vemos contar a outras pessoas sobre a nossa<br />
contribuição cristã mas, num certo senti<strong>do</strong>, não <strong>de</strong>vemos sequer contar a nós mesmos. Não<br />
<strong>de</strong>vemos ser autoconscientes da nossa esmola, pois essa atitu<strong>de</strong> rapidamente <strong>de</strong>teriora-se<br />
em justiça própria. Tão sutil é a injustiça <strong>do</strong> coração que é possível tomarmos passos<br />
<strong>de</strong>libera<strong>do</strong>s para manter nossa esmola em segre<strong>do</strong>, e simultaneamente ficarmos pensan<strong>do</strong><br />
nisso com um espírito <strong>de</strong> autogratificação.<br />
Seria difícil exagerar a perversida<strong>de</strong> disso, pois a esmola é uma ativida<strong>de</strong> real que envolve<br />
gente real com necessida<strong>de</strong>s reais. Seu propósito é aliviar o <strong>de</strong>sespero <strong>do</strong>s necessita<strong>do</strong>s. A<br />
palavra grega para o ato <strong>de</strong> dar esmolas, como já vimos, indica que é uma obra <strong>de</strong><br />
misericórdia. Pois é possível transformar um ato <strong>de</strong> misericórdia em um ato <strong>de</strong> vaida<strong>de</strong>, <strong>de</strong><br />
mo<strong>do</strong> que a nossa motivação principal não seja o benefício da pessoa que recebe a oferta,<br />
mas o nosso próprio. O altruísmo foi <strong>de</strong>saloja<strong>do</strong> por um egoísmo <strong>de</strong>forma<strong>do</strong>.<br />
Portanto, a fim <strong>de</strong> "mortificar" ou con<strong>de</strong>nar à morte nossa vaida<strong>de</strong> iníqua, Jesus insiste<br />
conosco para que mantenhamos a nossa esmola em segre<strong>do</strong>, tanto <strong>do</strong>s outros como<br />
também <strong>de</strong> nós mesmos. "Com a frase 'ignore a tua esquerda o que faz a tua direita' ",<br />
escreve Bonhoeffer, "proclama-se a morte <strong>do</strong> velho homem", pois o egocentrismo pertence à<br />
vida <strong>do</strong> velho homem; a nova vida em Cristo é <strong>de</strong> incalculável generosida<strong>de</strong>. Naturalmente,<br />
não é possível obe<strong>de</strong>cer a esta or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> Jesus com precisão literal. Se mantemos uma<br />
contabilida<strong>de</strong> e planejamos nossas contribuições, como <strong>de</strong>vem fazer to<strong>do</strong>s os cristãos<br />
conscientes, temos <strong>de</strong> saber quanto estamos ofertan<strong>do</strong>. Não po<strong>de</strong>mos fechar os olhos ao<br />
assinarmos os nossos cheques! Não obstante, logo <strong>de</strong>pois que a oferta for <strong>de</strong>cidida e feita,<br />
<strong>de</strong>veremos esquecê-la imediatamente para estarmos em harmonia com o ensinamento <strong>de</strong><br />
Jesus. Não <strong>de</strong>veremos ficar pensan<strong>do</strong> nela a fim <strong>de</strong> nos <strong>de</strong>leitarmos, nem nos orgulharmos<br />
sobre a generosida<strong>de</strong>, a disciplina ou o zelo por retidão da nossa oferta. A dádiva cristã<br />
<strong>de</strong>ve ser marcada pelo auto sacrifício e pela abnegação, não pela autogratificação.
O que <strong>de</strong>veríamos procurar, quan<strong>do</strong> damos aos necessita<strong>do</strong>s, não ê o louvor <strong>do</strong>s homens,<br />
nem um alicerce para a nossa auto aprovação mas, antes, a aprovação <strong>de</strong> <strong>Deus</strong>. Isto<br />
implica na referência que nosso Senhor fez das mãos direita e esquerda. "Com esta<br />
expressão", escreveu Calvino, "ele quis dizer que <strong>de</strong>vemos ficar satisfeitos por termos a<br />
<strong>Deus</strong> como única testemunha". Embora possamos manter a oferta em segre<strong>do</strong> diante <strong>do</strong>s<br />
outros e, até certo ponto, <strong>de</strong> nós mesmos, não po<strong>de</strong>mos escondê-la <strong>de</strong> <strong>Deus</strong>. Nenhum<br />
segre<strong>do</strong> fica encoberto diante <strong>de</strong>le. Teu Pai que vê em segre<strong>do</strong>, te recompensará.<br />
Algumas pessoas rebelam-se <strong>contra</strong> este ensinamento <strong>de</strong> Jesus. Elas dizem que não<br />
esperam recompensa, seja qual for, <strong>de</strong> pessoa alguma. Mais <strong>do</strong> que isto, acham que a<br />
promessa que nosso Senhor fez <strong>de</strong> recompensar é incoerente. Como po<strong>de</strong> ele proibir o<br />
<strong>de</strong>sejo <strong>do</strong> louvor <strong>do</strong>s outros ou <strong>de</strong> nós mesmos para, <strong>de</strong>pois, incentivar-nos a procurar o <strong>de</strong><br />
<strong>Deus</strong>? Naturalmente, dizem, isto só muda a forma da vaida<strong>de</strong>. Será que não po<strong>de</strong>ríamos<br />
dar simplesmente pela necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> dar? Buscar o louvor <strong>de</strong> quem quer que seja — <strong>do</strong>s<br />
homens, <strong>do</strong> ego ou <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> — é prejudicar o ato, acham.<br />
A primeira razão por que tais argumentos estão erra<strong>do</strong>s relaciona-se com a natureza das<br />
recompensas. Quan<strong>do</strong> as pessoas dizem que a i<strong>de</strong>ia da recompensa lhes é <strong>de</strong>sagradável,<br />
sempre suspeito <strong>de</strong> que o quadro que têm em mente é a concessão <strong>de</strong> prêmios numa<br />
escola, com os troféus <strong>de</strong> prata cintilan<strong>do</strong> na mesa sobre o estra<strong>do</strong> e to<strong>do</strong> o mun<strong>do</strong> baten<strong>do</strong><br />
palmas! O <strong>contra</strong>ste não foi estabeleci<strong>do</strong> entre a esmola secreta e a recompensa pública,<br />
mas entre os homens, que não veem nem recompensam a esmola, e <strong>Deus</strong>, que faz as duas<br />
coisas.<br />
C. S. Lewis escreveu sabiamente em um ensaio intitula<strong>do</strong> "O Esplen<strong>do</strong>r da Glória" (The<br />
Weight of Glory) o seguinte: "Não <strong>de</strong>vemos ficar perturba<strong>do</strong>s com os incrédulos que dizem<br />
que esta promessa <strong>de</strong> recompensa torna a vida cristã um negócio mercenário. Há diferentes<br />
tipos <strong>de</strong> recompensa. Existe a recompensa que não tem conexão natural com as coisas que<br />
se faz para recebê-la, e é totalmente estranha aos <strong>de</strong>sejos que <strong>de</strong>veriam acompanhar<br />
aquelas coisas. O dinheiro não é a recompensa natural <strong>do</strong> amor; é por isso que dizemos<br />
que um homem é mercenário quan<strong>do</strong> se casa com uma mulher por causa <strong>do</strong> dinheiro <strong>de</strong>la.<br />
Mas o casamento é a recompensa apropriada para quem realmente ama, e este não é<br />
mercenário quan<strong>do</strong> o <strong>de</strong>seja." Do mesmo mo<strong>do</strong>, po<strong>de</strong>ríamos dizer que uma taça <strong>de</strong> prata<br />
não é uma recompensa muito apropriada para um escolar que estu<strong>do</strong>u muito, mas uma<br />
bolsa para a universida<strong>de</strong> seria o i<strong>de</strong>al. C. S. Lewis assim conclui este argumento: "As<br />
<strong>de</strong>vidas recompensas não são simplesmente adicionadas à ativida<strong>de</strong> pela qual foram<br />
concedidas, mas são a própria ativida<strong>de</strong> em consumação."<br />
Qual é, então, a "recompensa" que o Pai celeste dá àquele que faz a sua dádiva em secreto?<br />
Não é pública nem, necessariamente, futura. Provavelmente a única recompensa que o verda<strong>de</strong>iro<br />
amor <strong>de</strong>seja quan<strong>do</strong> dá ao necessita<strong>do</strong> é ver o alívio <strong>de</strong>ste. Quan<strong>do</strong>, por meio <strong>de</strong><br />
suas dádivas, o faminto é alimenta<strong>do</strong>, o nu é vesti<strong>do</strong>, o <strong>do</strong>ente é cura<strong>do</strong>, o oprimi<strong>do</strong> é<br />
liberta<strong>do</strong> e o perdi<strong>do</strong> é salvo, o amor que provocou a dádiva fica satisfeito. Esse amor (que é<br />
o próprio amor <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> expresso através <strong>do</strong> homem) traz consigo as suas próprias alegrias<br />
secretas e não espera outra recompensa.<br />
Resumin<strong>do</strong>, nossas dádivas cristãs não <strong>de</strong>vem ser feitas nem diante <strong>do</strong>s homens (na<br />
esperança <strong>de</strong> que comecem a bater palmas), nem diante <strong>de</strong> nós mesmos (com a nossa mão<br />
esquerda aplaudin<strong>do</strong> a generosida<strong>de</strong> da nossa mão direita), mas "diante <strong>de</strong> <strong>Deus</strong>", que vê o<br />
íntimo <strong>de</strong> nosso coração e nos recompensa com a <strong>de</strong>scoberta <strong>de</strong> que, usan<strong>do</strong> as palavras<br />
<strong>de</strong> Jesus, "Mais bem-aventura<strong>do</strong> é dar que receber.( At 20:35.)"<br />
2. A oração <strong>do</strong> cristão (vs. 5 e 6)
E, quan<strong>do</strong> orar<strong>de</strong>s, não sereis como os <strong>hipócrita</strong>s; porque gostam <strong>de</strong> orar em pé nas<br />
sinagogas e nos cantos das praças, para serem vistos <strong>do</strong>s homens. Em verda<strong>de</strong> vos digo que<br />
eles já receberam a recompensa. 6Tu, porém, quan<strong>do</strong> orares, entra no teu quarto, e, fechada<br />
a porta, orarás a teu Pai que está em secreto; e teu Pai que vê em secreto, te recompensará.<br />
Neste segun<strong>do</strong> exemplo <strong>de</strong> justiça "religiosa", Jesus <strong>de</strong>screve <strong>do</strong>is homens oran<strong>do</strong>.<br />
Novamente, a diferença básica é entre a hipocrisia e a realida<strong>de</strong>. Ele põe em <strong>contra</strong>ste o<br />
motivo das orações e as suas recompensas.<br />
O que ele diz sobre os <strong>hipócrita</strong>s parece ótimo à primeira vista: "gostam <strong>de</strong> orar". Mas<br />
infelizmente não é da oração que eles gostam, nem <strong>do</strong> <strong>Deus</strong> a quem supostamente estão<br />
oran<strong>do</strong>. Não, eles gostam <strong>de</strong> si mesmos e da oportunida<strong>de</strong> que a oração pública lhes dá <strong>de</strong><br />
se exibirem.<br />
Naturalmente, a disciplina da oração regular é uma coisa boa; to<strong>do</strong>s os ju<strong>de</strong>us <strong>de</strong>votos<br />
oravam três vezes por dia, como Daniel (Dn 6:10.). E não havia nada <strong>de</strong> erra<strong>do</strong> em ficar <strong>de</strong><br />
pé para orar, pois era a posição costumeira <strong>do</strong>s ju<strong>de</strong>us para isto. Nem estavam<br />
necessariamente erra<strong>do</strong>s quan<strong>do</strong> oravam nos cantos das praças ou nas sinagogas, se sua<br />
motivação fosse acabar com a segregação da religião e expressar que reconheciam <strong>Deus</strong><br />
estar presente mesmo fora <strong>do</strong>s lugares santos, isto é, na vida secular cotidiana. Mas Jesus<br />
<strong>de</strong>smascarou as suas verda<strong>de</strong>iras motivações, quan<strong>do</strong> ficavam <strong>de</strong> pé na sinagoga ou nas<br />
ruas com as mãos erguidas para os céus, a fim <strong>de</strong> serem vistos <strong>do</strong>s homens. Por trás da<br />
sua pieda<strong>de</strong>, espreitava o seu orgulho. O que realmente <strong>de</strong>sejavam era o aplauso. E o<br />
conseguiam. "Já receberam a recompensa."<br />
O <strong>farisaísmo</strong> religioso não está morto. A acusação <strong>de</strong> hipocrisia tem si<strong>do</strong> jogada inúmeras<br />
vezes sobre nós, os frequenta<strong>do</strong>res <strong>de</strong> igrejas. É possível ir à igreja pelos mesmos motivos<br />
erra<strong>do</strong>s que levavam o fariseu à sinagoga: não para a<strong>do</strong>rar a <strong>Deus</strong>, mas para obter uma<br />
reputação <strong>de</strong> pieda<strong>de</strong>. É possível vangloriar-nos <strong>de</strong> nossas <strong>de</strong>voções particulares pelo<br />
mesmo motivo. O que se <strong>de</strong>staca é a perversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> toda prática <strong>hipócrita</strong>. Dar louvor a<br />
<strong>Deus</strong>, tal como dar esmolas aos homens, é um ato autêntico por si só. Um outro motivo<br />
qualquer <strong>de</strong>strói os <strong>do</strong>is. Degrada o serviço presta<strong>do</strong> a <strong>Deus</strong> e aos homens a uma espécie<br />
<strong>de</strong>sprezível <strong>de</strong> autosserviço. A religião e a carida<strong>de</strong> transformam-se em uma exibição. Como<br />
po<strong>de</strong>mos fingir que estamos louvan<strong>do</strong> a <strong>Deus</strong>, quan<strong>do</strong>, na realida<strong>de</strong>, estamos preocupa<strong>do</strong>s<br />
com o louvor <strong>do</strong>s homens?<br />
Como, então, os cristãos <strong>de</strong>vem orar? Entra no teu quarto, e, fechada a porta, orarás, disse<br />
Jesus. Devemos fechar a porta para não sermos perturba<strong>do</strong>s e distraí<strong>do</strong>s, mas também<br />
para fugir aos olhos <strong>do</strong>s homens e para ficarmos a sós com <strong>Deus</strong>. Só então po<strong>de</strong>mos<br />
obe<strong>de</strong>cer à or<strong>de</strong>m seguinte <strong>do</strong> Senhor: Orarás a teu Pai que está em secreto, ou, como a<br />
Bíblia <strong>de</strong> Jerusalém esclarece: "que está naquele lugar secreto". Nosso Pai está lá, à nossa<br />
espera. Nada <strong>de</strong>strói mais uma oração <strong>do</strong> que olhares furtivos para os especta<strong>do</strong>res<br />
humanos, como também nada a enriquece mais <strong>do</strong> que o senso da presença <strong>de</strong> <strong>Deus</strong>. Pois<br />
ele não vê a nossa aparência externa, apenas o coração; não a pessoa que está oran<strong>do</strong>,<br />
apenas o motivo por que o faz. A essência da oração cristã é buscar a <strong>Deus</strong>. Por trás <strong>de</strong><br />
toda oração verda<strong>de</strong>ira está a conversa com <strong>Deus</strong>, que se inicia assim:<br />
"Ao meu coração me ocorre: Buscai a minha presença; Buscarei,<br />
pois, Senhor, A tua presença." Sl 27:8<br />
Nós o buscamos para reconhecê-lo tal como ele é, <strong>Deus</strong>, o Cria<strong>do</strong>r; <strong>Deus</strong>, o Senhor; <strong>Deus</strong>, o<br />
Juiz; <strong>Deus</strong>, nosso Pai celestial através <strong>de</strong> Jesus Cristo, nosso Salva<strong>do</strong>r. Desejamos<br />
encontrá-lo no lugar secreto a fim <strong>de</strong> nos ajoelharmos diante <strong>de</strong>le em humil<strong>de</strong> a<strong>do</strong>ração,<br />
amor e confiança. Então, Jesus prossegue, "teu Pai que vê em secreto, te recompensará." R.<br />
V. G. Tasker <strong>de</strong>staca que a palavra grega para "quarto" no qual <strong>de</strong>vemos nos retirar para
orar (tameion) "era empregada para <strong>de</strong>signar a sala-<strong>de</strong>pósito on<strong>de</strong> podiam guardar-se os<br />
tesouros". A implicação po<strong>de</strong> ser, então, que "já existem tesouros à sua espera" quan<strong>do</strong> for<br />
orar. Naturalmente, as recompensas secretas da oração são tantas, que não se po<strong>de</strong>riam<br />
enumerar. Nas palavras <strong>do</strong> apóstolo Paulo, quan<strong>do</strong> clamamos "Aba, Pai", o Espírito Santo<br />
dá testemunho ao nosso espírito <strong>de</strong> que realmente somos filhos <strong>de</strong> <strong>Deus</strong>, e recebemos forte<br />
certeza <strong>de</strong> sua paternida<strong>de</strong> e amor (Rm 5:5; 8:16.). Ele nos ilumina com a luz <strong>do</strong> seu rosto e<br />
nos dá a paz (Nm 6:26). Ele refrigera a nossa alma, satisfaz a nossa fome, mitiga a nossa<br />
se<strong>de</strong>. Sabemos que não somos mais órfãos, porque o Pai nos a<strong>do</strong>tou; não somos mais filhos<br />
pródigos, porque fomos per<strong>do</strong>a<strong>do</strong>s; não estamos mais perdi<strong>do</strong>s, porque voltamos para casa.<br />
A ênfase <strong>de</strong> nosso Senhor sobre a necessida<strong>de</strong> <strong>do</strong> segre<strong>do</strong> não <strong>de</strong>ve ser levada a extremos.<br />
Interpretá-lo com literalismo rígi<strong>do</strong> seria incorrer no próprio <strong>farisaísmo</strong> <strong>contra</strong> o qual ele<br />
está nos advertin<strong>do</strong>. Se todas as nossas orações fossem mantidas em segre<strong>do</strong>, teríamos <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>sistir <strong>de</strong> ir à igreja, <strong>de</strong> orar em família e nas reuniões <strong>de</strong> oração. Sua referência aqui é à<br />
oração particular. As palavras gregas estão no singular, como indica a ERAB: "Tu, porém,<br />
quan<strong>do</strong> orares, entra no teu quarto, e, fechada a porta, orarás a teu Pai." Jesus ainda não<br />
falara sobre a oração pública. Quan<strong>do</strong> o faz, diz-nos para orarmos no plural, "Nosso Pai", e<br />
ninguém po<strong>de</strong> fazer esta oração sozinho, em segre<strong>do</strong>.<br />
Em lugar <strong>de</strong> ficarmos preocupa<strong>do</strong>s com a técnica <strong>do</strong> sigilo, precisamos lembrar-nos <strong>de</strong> que<br />
o propósito da ênfase <strong>de</strong> Jesus sobre o "segre<strong>do</strong>" na oração é purificar nossas motivações.<br />
Assim como <strong>de</strong>vemos dar nossas ofertas com amor genuíno pelas pessoas, também<br />
<strong>de</strong>vemos orar com genuíno amor a <strong>Deus</strong>. Jamais <strong>de</strong>veríamos usar tais exercícios como um<br />
pie<strong>do</strong>so disfarce para o narcisismo.<br />
3. O jejum <strong>do</strong> cristão (vs. 16-18)<br />
Quan<strong>do</strong> jejuar<strong>de</strong>s, não vos mostreis contrista<strong>do</strong>s como os <strong>hipócrita</strong>s; porque <strong>de</strong>sfiguram o<br />
rosto com o fim <strong>de</strong> parecer aos homens que jejuam. Em verda<strong>de</strong> vos digo que eles já<br />
receberam a recompensa, 17 Tu porém, quan<strong>do</strong> jejuares, unge a cabeça e lava o rosto; 18 com o<br />
fim <strong>de</strong> não parecer aos homens que jejuas, e, sim, ao teu Pai em secreto; e teu Pai, que vê em<br />
secreto, te recompensará.<br />
Os fariseus jejuavam "duas vezes por semana” (Lc 18:12.), às segundas e às quintas-feiras.<br />
João Batista e seus discípulos também jejuavam regularmente, até mesmo "com<br />
frequência", mas os discípulos <strong>de</strong> Jesus não jejuavam (Mt 9:14; Lc 5:33.). Por que então,<br />
nestes versículos <strong>do</strong> Sermão <strong>do</strong> Monte, Jesus não só esperava que seus segui<strong>do</strong>res<br />
jejuassem, mas também <strong>de</strong>u instruções sobre como fazê-lo? Eis aqui uma passagem<br />
comumente ignorada. Suspeito que alguns <strong>de</strong> nós vivemos nossa vida cristã como se estes<br />
versículos tivessem si<strong>do</strong> arranca<strong>do</strong>s <strong>de</strong> nossas Bíblias. A maioria <strong>do</strong>s cristãos <strong>de</strong>staca a<br />
necessida<strong>de</strong> da oração diária e da contribuição sacrificial, mas poucos insistem no jejum. O<br />
Cristianismo evangélico, em particular, cuja ênfase característica está na religião interior,<br />
<strong>do</strong> coração e <strong>do</strong> espírito, tem dificulda<strong>de</strong> em ren<strong>de</strong>r-se a uma prática física exterior como o<br />
jejum. Não é um hábito <strong>do</strong> Velho Testamento, perguntamos, or<strong>de</strong>na<strong>do</strong> por Moisés para o<br />
Dia da Expiação, e exigi<strong>do</strong> após o retorno <strong>do</strong> exílio da Babilônia em outros dias <strong>do</strong> ano,<br />
mas agora revoga<strong>do</strong> por Cristo? Não vieram perguntar a Jesus: "Por que os discípulos <strong>de</strong><br />
João e os discípulos <strong>do</strong>s fariseus jejuam, mas os teus discípulos não jejuam?" E o jejum<br />
não é uma prática católico-romana, a ponto <strong>de</strong> a igreja medieval elaborar um calendário<br />
sofistica<strong>do</strong> <strong>de</strong> "dias <strong>de</strong> festa" e "dias <strong>de</strong> jejum"? Não está também associa<strong>do</strong> a um ponto <strong>de</strong><br />
vista supersticioso da missa e da "comunhão em jejum"?<br />
Po<strong>de</strong>mos dizer "sim" a todas estas perguntas. Mas é fácil sermos seletivos em nosso<br />
conhecimento e uso das Escrituras e da história da Igreja. Eis alguns outros fatos que<br />
<strong>de</strong>vemos consi<strong>de</strong>rar: o próprio Jesus, nosso Senhor e Mestre, jejuou por quarenta dias e
quarenta noites, no <strong>de</strong>serto; em resposta à pergunta que o povo lhe fez, disse: "Dias virão<br />
... em que lhes será tira<strong>do</strong> o noivo, e nesses dias eles (os meus discípulos) hão <strong>de</strong> jejuar. (Mt<br />
9:15)" No Sermão <strong>do</strong> Monte ele nos disse como jejuar, pressupon<strong>do</strong> que o faríamos. E em<br />
Atos e nas cartas <strong>do</strong> Novo Testamento, temos diversas referências aos apóstolos jejuan<strong>do</strong>.<br />
Portanto, não po<strong>de</strong>mos ignorar o jejum como se fosse uma prática <strong>do</strong> Velho Testamento<br />
revogada no Novo, ou como uma prática católica rejeitada pelos protestantes.<br />
Primeiro, então, o que é o jejum? Falan<strong>do</strong> estritamente, é uma total abstenção <strong>de</strong> alimento.<br />
Mas po<strong>de</strong> ser legitimamente amplia<strong>do</strong> para uma abstenção parcial ou total, durante<br />
perío<strong>do</strong>s <strong>de</strong> tempo mais curtos ou mais longos. Daí, naturalmente, vem o nome da primeira<br />
refeição <strong>do</strong> dia, "<strong>de</strong>sjejum", uma vez que "quebramos o jejum" <strong>do</strong> perío<strong>do</strong> da noite, quan<strong>do</strong><br />
não comemos nada.<br />
Não temos dúvidas <strong>de</strong> que, nas Escrituras, o jejum se relacionava <strong>de</strong> diversos mo<strong>do</strong>s com a<br />
renúncia e a autodisciplina. Em primeiro lugar e principalmente, "jejuar" e "humilhar-se<br />
diante <strong>de</strong> <strong>Deus</strong>" são termos virtualmente equivalentes (por exemplo, Sl 35:13; Is 58:3, 5).<br />
Às vezes era uma expressão <strong>de</strong> penitência por peca<strong>do</strong>s passa<strong>do</strong>s. Quan<strong>do</strong> as pessoas<br />
estavam profundamente amarguradas por seu peca<strong>do</strong> e culpa, choravam e jejuavam. Por<br />
exemplo, Neemias reuniu o povo "com jejum e pano <strong>de</strong> saco" e "fizeram confissão <strong>do</strong>s seus<br />
peca<strong>do</strong>s"; os habitantes <strong>de</strong> Nínive arrepen<strong>de</strong>ram-se quan<strong>do</strong> Jonas pregou, proclamaram<br />
um jejum e vestiram-se <strong>de</strong> pano <strong>de</strong> saco; Daniel buscou a <strong>Deus</strong> "com oração e súplicas,<br />
com jejum, pano <strong>de</strong> saco e cinza", orou ao Senhor seu <strong>Deus</strong> e fez confissão <strong>do</strong>s peca<strong>do</strong>s <strong>do</strong><br />
seu povo; e Saulo <strong>de</strong> Tarso, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> sua conversão, foi leva<strong>do</strong> a penitenciar-se <strong>de</strong> sua<br />
perseguição a Cristo, pois durante três dias não comeu nem bebeu. (Ne 9:1, 2; Jn 3:5; Dn<br />
9:2ss; 10:2ss; At 9:9.)<br />
Às vezes, mesmo hoje em dia, quan<strong>do</strong> o povo <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> está convenci<strong>do</strong> <strong>do</strong> peca<strong>do</strong> e é leva<strong>do</strong><br />
ao arrependimento, não é coisa fora <strong>de</strong> propósito que, em sinal <strong>de</strong> penitência e tristeza,<br />
chore e jejue. A homília anglicana intitulada "Das Boas Obras, e <strong>do</strong> Jejum" dá a enten<strong>de</strong>r<br />
que esse é o mo<strong>do</strong> <strong>de</strong> aplicarmos a nós mesmos a palavra <strong>de</strong> Jesus: "Dias virão em que<br />
lhes será tira<strong>do</strong> o noivo, e nesses dias hão <strong>de</strong> jejuar." Refere-se a Cristo, o noivo, que, po<strong>de</strong>se<br />
dizer, está "conosco" na festa <strong>do</strong> casamento, quan<strong>do</strong> nos regozijamos nele e na sua<br />
salvação. Mas o noivo po<strong>de</strong> ser "tira<strong>do</strong>" e a festa interrompida quan<strong>do</strong> somos oprimi<strong>do</strong>s<br />
pela <strong>de</strong>rrota, pela aflição e pela adversida<strong>de</strong>. "Então é a hora a<strong>de</strong>quada", diz a homília,<br />
"para o homem humilhar-se diante <strong>do</strong> <strong>Deus</strong> To<strong>do</strong>-Po<strong>de</strong>roso, jejuan<strong>do</strong>, choran<strong>do</strong> e gemen<strong>do</strong><br />
pelos seus peca<strong>do</strong>s, com um coração contrito."<br />
Não <strong>de</strong>vemos, entretanto, nos humilhar diante <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> apenas em arrependimento por<br />
peca<strong>do</strong>s passa<strong>do</strong>s, mas também na <strong>de</strong>pendência <strong>de</strong>le para a misericórdia futura. E aqui,<br />
novamente, o jejum po<strong>de</strong> expressar a nossa humilda<strong>de</strong> diante <strong>de</strong> <strong>Deus</strong>. Pois se "o<br />
arrependimento e o jejum" andam juntos nas Escrituras, "a oração e o jejum" são ainda<br />
mais frequentemente reuni<strong>do</strong>s. Não constitui uma prática regular, pois nem sempre<br />
jejuamos quan<strong>do</strong> oramos, mas algo ocasional e especial, quan<strong>do</strong> precisamos buscar a <strong>Deus</strong><br />
para orientação ou bênção especial e, então, nos abstemos <strong>do</strong> alimento e <strong>de</strong> outras<br />
distrações para fazê-lo. Assim, Moisés jejuou no monte Sinai imediatamente <strong>de</strong>pois que foi<br />
renovada a aliança pela qual <strong>Deus</strong> aceitou a Israel como seu povo; Josafá, ven<strong>do</strong> que os<br />
exércitos <strong>de</strong> Moabe e Amom avançavam sobre ele, "se pôs a buscar ao Senhor; e apregoou<br />
jejum em to<strong>do</strong> o Judá"; a rainha Ester, antes <strong>de</strong> arriscar a sua vida apresentan<strong>do</strong>-se diante<br />
<strong>do</strong> rei, insistiu com Mor<strong>de</strong>cai que reunisse os ju<strong>de</strong>us e que jejuassem por ela, enquanto ela<br />
e suas criadas faziam o mesmo; Esdras proclamou um jejum antes <strong>de</strong> conduzir os exila<strong>do</strong>s<br />
<strong>de</strong> volta a Jerusalém, "para lhe pedirmos jornada feliz para nós, para nossos filhos e para<br />
tu<strong>do</strong> o que era nosso"; e, como já mencionamos, nosso Senhor Jesus jejuou exatamente<br />
antes <strong>de</strong> começar o seu ministério público; e a igreja primitiva seguiu lhe o exemplo; a<br />
igreja <strong>de</strong> Antioquia jejuou antes <strong>de</strong> Paulo e Barnabé serem envia<strong>do</strong>s em sua primeira
viagem missionária; e eles próprios, antes <strong>de</strong> <strong>de</strong>signar anciãos em cada nova igreja que iam<br />
organizan<strong>do</strong> (Êx 24:18; 2Cr 20:lss; Et 4:16; Ed 8:21ss; Mt 4:l,2; At l3:l-3; 14:23.). São<br />
evidências claras <strong>de</strong> que empreendimentos especiais exigem orações especiais, e que<br />
orações especiais envolvem o jejum.<br />
Ainda há outro motivo bíblico para o jejum. A fome é um <strong>do</strong>s apetites básicos <strong>do</strong> homem, e<br />
a gula um peca<strong>do</strong> capital. Portanto, "o <strong>do</strong>mínio próprio" não tem significa<strong>do</strong> se não incluir o<br />
controle <strong>de</strong> nossos corpos, e é impossível sem a autodisciplina. Paulo usa o atleta como<br />
exemplo. Para participar <strong>do</strong>s jogos este tem <strong>de</strong> estar fisicamente apto, e por isso treina. Seu<br />
treinamento inclui a disciplina <strong>de</strong> um regime alimentar a<strong>de</strong>qua<strong>do</strong>, sono e exercícios: "To<strong>do</strong><br />
atleta em tu<strong>do</strong> se <strong>do</strong>mina". E os cristãos participantes da competição cristã <strong>de</strong>vem fazer o<br />
mesmo. Paulo escreve sobre "esmurrar" o seu corpo (<strong>de</strong>ixan<strong>do</strong>-o to<strong>do</strong> roxo) e sobre<br />
subjugá-lo (conduzin<strong>do</strong>-o como um escravo) (1CO 9:24-27). Isto não se refere ao<br />
masoquismo (sentir prazer na <strong>do</strong>r), nem ao falso ascetismo (tal como usar uma camisa<br />
áspera ou <strong>do</strong>rmir sobre uma cama <strong>de</strong> pregos), nem a uma tentativa <strong>de</strong> ganhar mérito como<br />
os fariseus no templo (Lc 18:12.). Paulo rejeitaria todas essas i<strong>de</strong>ias, e nós também. Não<br />
temos motivos para "punir" nossos corpos, pois são criação <strong>de</strong> <strong>Deus</strong>; mas <strong>de</strong>vemos<br />
discipliná-los para que nos obe<strong>de</strong>çam. E o jejum, sen<strong>do</strong> uma abstinência voluntária <strong>de</strong><br />
alimento, é uma forma <strong>de</strong> aumentar o nosso autocontrole.<br />
Uma outra razão para o jejum po<strong>de</strong>ria ainda ser mencionada, isto é, <strong>de</strong>liberadamente<br />
<strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> participar <strong>do</strong> que po<strong>de</strong>ríamos comer para partilhá-lo (ou o seu preço) com os<br />
subnutri<strong>do</strong>s. Temos apoio bíblico para esta prática. Jó podia dizer que não comeu "o que os<br />
pobres <strong>de</strong>sejavam", pois o partilhou com órfãos e viúvas (31:16ss). Em <strong>contra</strong>ste, quan<strong>do</strong>,<br />
através <strong>de</strong> Isaías, <strong>Deus</strong> con<strong>de</strong>nou o jejum <strong>hipócrita</strong> <strong>do</strong>s habitantes <strong>de</strong> Jerusalém, disse que<br />
eles procuravam satisfazer o seu próprio prazer, oprimin<strong>do</strong> seus emprega<strong>do</strong>s no dia em que<br />
jejuais. Isto significava, em parte, que não havia correlação entre suas mentes e suas<br />
ações, entre o alimento a que renunciavam e a necessida<strong>de</strong> material <strong>do</strong>s seus emprega<strong>do</strong>s.<br />
A religião <strong>de</strong>les era sem justiça ou carida<strong>de</strong>. Por isso <strong>Deus</strong> disse: "Não é este o jejum que<br />
escolhi, que soltes as ligaduras da impieda<strong>de</strong> . . . <strong>de</strong>ixes livres os oprimi<strong>do</strong>s . . .? . . . Não é<br />
também que repartas o teu pão com o faminto, e recolhas em casa os pobres <strong>de</strong>sabriga<strong>do</strong>s .<br />
. .?" (58:lss.) Jesus <strong>de</strong>u a enten<strong>de</strong>r alguma coisa parecida quan<strong>do</strong> falou <strong>do</strong> rico fazen<strong>do</strong><br />
festas suntuosas to<strong>do</strong>s os dias, enquanto o mendigo jazia à sua porta, <strong>de</strong>sejan<strong>do</strong> ser<br />
alimenta<strong>do</strong> com as migalhas que caíam <strong>de</strong> sua mesa (Lc 16:19-31.).<br />
Não é difícil en<strong>contra</strong>r outras aplicações mais atualizadas. No século <strong>de</strong>zesseis, a Inglaterra<br />
abstinha-se <strong>de</strong> carne em dias <strong>de</strong>termina<strong>do</strong>s e comia peixe em seu lugar, não por prescrição<br />
da Igreja mas <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>, a fim <strong>de</strong> ajudar a manter "as cida<strong>de</strong>s pesqueiras que bor<strong>de</strong>javam<br />
o mar" e, assim, reduzir "o preço <strong>do</strong>s gêneros alimentícios e assim ajudar na manutenção<br />
<strong>do</strong>s pobres". Nos nossos dias, o <strong>de</strong>sespero <strong>de</strong> milhares <strong>de</strong> famintos nos países em<br />
<strong>de</strong>senvolvimento é trazi<strong>do</strong> diariamente para as telas <strong>de</strong> nossos aparelhos <strong>de</strong> TV. Passar<br />
ocasionalmente (ou, melhor, regularmente) com uma refeição mais frugal, ou <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong><br />
tomar uma refeição uma ou duas vezes por semana, e sobretu<strong>do</strong> evitar o excesso <strong>de</strong> peso e<br />
o comer <strong>de</strong>mais são formas <strong>de</strong> jejum que agradam a <strong>Deus</strong> porque expressam um<br />
sentimento <strong>de</strong> solidarieda<strong>de</strong> com os pobres.<br />
Portanto, por arrependimento ou por oração, por autodisciplina ou por amor solidário,<br />
temos boas razões bíblicas para o jejum. Sejam quais forem as nossas razões, Jesus<br />
assumiu que o jejum teria lugar na vida cristã. Ele se preocupou com a nossa contribuição,<br />
com a nossa oração e com o nosso jejum para que nós não façamos como os <strong>hipócrita</strong>s,<br />
que chamavam a atenção para si mesmos. Eles costumavam <strong>de</strong>sfigurar o rosto e se mostravam<br />
contrista<strong>do</strong>s. A palavra traduzida por "<strong>de</strong>sfigurar" (aphanizo) significa literalmente<br />
"fazer <strong>de</strong>saparecer" e portanto "tornar invisível ou irreconhecível". Eles provavelmente negligenciavam<br />
a higiene pessoal, ou cobriam a cabeça com panos <strong>de</strong> saco, ou talvez passavam
cinza no rosto para ficarem mais páli<strong>do</strong>s, mais abati<strong>do</strong>s, mais tristes e, em consequência,<br />
visivelmente "santos". Tu<strong>do</strong> isso para que o seu jejum fosse visto e conheci<strong>do</strong> <strong>de</strong> to<strong>do</strong>s. A<br />
admiração <strong>do</strong>s que passavam por eles seria a única recompensa obtida. "Mas quanto a<br />
vocês, meus discípulos", Jesus prosseguiu, quan<strong>do</strong> jejuarem, unjam a cabeça e lavem o<br />
rosto, isto é, "penteiem o cabelo e lavem o rosto". Jesus não estava recomendan<strong>do</strong> nada fora<br />
<strong>do</strong> comum, como se agora eles tivessem <strong>de</strong> assumir uma expressão <strong>de</strong> alegria especial.<br />
Pois, como Calvino comentou acertadamente, "Cristo não nos afasta <strong>de</strong> um tipo <strong>de</strong><br />
hipocrisia para nos levar a outro". Ele presumiu que eles se lavavam e se penteavam to<strong>do</strong>s<br />
os dias e, nos dias <strong>de</strong> jejum, fariam como <strong>de</strong> costume para que ninguém suspeitasse que<br />
estavam jejuan<strong>do</strong>. Então, novamente, teu Pai, que vê em segre<strong>do</strong>, te recompensará. O<br />
propósito <strong>do</strong> jejum não é fazer propaganda <strong>de</strong> nós mesmos, mas disciplinar-nos; não obter<br />
uma reputação, mas expressar a nossa humilda<strong>de</strong> diante <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> e a nossa preocupação<br />
com os outros que estão passan<strong>do</strong> necessida<strong>de</strong>. Se esses propósitos forem cumpri<strong>do</strong>s, seremos<br />
bem recompensa<strong>do</strong>s.<br />
Examinan<strong>do</strong> estes versículos, fica evi<strong>de</strong>nte que Jesus esteve fazen<strong>do</strong> o <strong>contra</strong>ste entre duas<br />
alternativas <strong>de</strong> pieda<strong>de</strong>, a <strong>do</strong>s fariseus e a cristã. A pieda<strong>de</strong> <strong>do</strong>s fariseus é ostentosa,<br />
motivada pela vaida<strong>de</strong> e recompensada pelos homens. A pieda<strong>de</strong> cristã é secreta, motivada<br />
pela humilda<strong>de</strong> e recompensada por <strong>Deus</strong>.<br />
Para assimilarmos a alternativa ainda mais claramente, seria útil examinar a causa e o<br />
efeito <strong>de</strong> ambas as formas. Primeiro, o efeito. A religião <strong>hipócrita</strong> é perversa porque é<br />
<strong>de</strong>strutiva. Vimos que a oração, a contribuição e o jejum são todas ativida<strong>de</strong>s autênticas<br />
por si mesmas. Orar é buscar a <strong>Deus</strong>, dar é servir aos outros, jejuar é disciplinar-se. Mas o<br />
efeito da hipocrisia é <strong>de</strong>struir a integrida<strong>de</strong> <strong>de</strong>stas práticas, transforman<strong>do</strong> cada uma <strong>de</strong>las<br />
em oportunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> auto exibição.<br />
Qual é, então, a causa? Se pu<strong>de</strong>rmos isolar isto, po<strong>de</strong>remos também en<strong>contra</strong>r o remédio.<br />
Embora um <strong>do</strong>s refrãos <strong>de</strong>sta passagem seja "diante <strong>do</strong>s homens, com o fim <strong>de</strong> ser<strong>de</strong>s<br />
vistos por eles", não é com os homens que o <strong>hipócrita</strong> fica obceca<strong>do</strong>, mas consigo mesmo.<br />
"Em última análise", escreve o Dr. Lloyd-Jones, "nosso único motivo para agradar aos<br />
homens que nos ro<strong>de</strong>iam é agradar a nós mesmos". O remédio, portanto, é óbvio.<br />
Precisamos ter tal consciência <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> que <strong>de</strong>ixemos <strong>de</strong> ser autoconscientes. E é nisto que<br />
Jesus se concentra.<br />
Talvez eu possa explicar isso dizen<strong>do</strong> que o absoluto é algo impossível para qualquer um <strong>de</strong><br />
nós. É impossível fazer, dizer ou pensar alguma coisa sem a presença <strong>de</strong> especta<strong>do</strong>res,<br />
pois, mesmo quan<strong>do</strong> nenhum ser humano está presente, <strong>Deus</strong> está nos ven<strong>do</strong>; não como<br />
uma espécie <strong>de</strong> policial celeste "bisbilhotan<strong>do</strong>" a fim <strong>de</strong> nos pegar, mas como o nosso<br />
amoroso Pai celeste, que sempre está procuran<strong>do</strong> oportunida<strong>de</strong>s para nos abençoar.<br />
Portanto, a pergunta é: que especta<strong>do</strong>res nos são mais importantes, os terrestres ou o<br />
celeste, os homens ou <strong>Deus</strong>? O <strong>hipócrita</strong> realiza seus rituais "com o fim <strong>de</strong> ser visto pelos<br />
homens". O verbo grego é theathènai. Isto é, estão em um teatro, representan<strong>do</strong>. Sua<br />
religião é um espetáculo público. O verda<strong>de</strong>iro cristão também está consciente <strong>de</strong> que está<br />
sen<strong>do</strong> observa<strong>do</strong>, mas, para ele, o auditório é <strong>Deus</strong>.<br />
Mas por que, alguém po<strong>de</strong> perguntar, auditórios diferentes provocam representações<br />
diferentes? A resposta é certamente a seguinte: po<strong>de</strong>mos blefar diante <strong>de</strong> um auditório<br />
humano; ele po<strong>de</strong> ser iludi<strong>do</strong> pela nossa representação. Po<strong>de</strong>mos enganá-lo, dan<strong>do</strong> a<br />
impressão <strong>de</strong> que somos genuínos em nossas dádivas, nossas orações, nosso jejum,<br />
quan<strong>do</strong> na realida<strong>de</strong> estamos apenas representan<strong>do</strong>. Mas <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> não se zomba; não<br />
po<strong>de</strong>mos enganar a <strong>Deus</strong>. Ele olha para o coração. Por isso, qualquer coisa que façamos<br />
para sermos vistos pelos homens somente <strong>de</strong>grada o nosso ato, enquanto que fazê-lo para<br />
ser visto por <strong>Deus</strong> enobrece-o.
Por isso, <strong>de</strong>vemos escolher nosso auditório com cuida<strong>do</strong>. Se preferimos especta<strong>do</strong>res<br />
humanos, per<strong>de</strong>remos nossa integrida<strong>de</strong> cristã. O mesmo acontecerá se nós mesmos nos<br />
tornarmos o nosso auditório. Parafrasean<strong>do</strong> Bonhoeffer: "É ainda mais pernicioso se eu<br />
mesmo me transformar no especta<strong>do</strong>r <strong>de</strong> minha representação na oração ... Eu posso<br />
apresentar um show muito bonito para mim mesmo, na intimida<strong>de</strong> <strong>do</strong> meu próprio quarto."<br />
Devemos preferir que <strong>Deus</strong> seja o nosso auditório. Como Jesus observava as pessoas<br />
que colocavam suas ofertas no tesouro <strong>do</strong> templo (Mc l2:41ss.), assim <strong>Deus</strong> nos observa<br />
quan<strong>do</strong> ofertamos; quan<strong>do</strong> oramos e jejuamos em secreto, ele está ali, no lugar secreto.<br />
<strong>Deus</strong> o<strong>de</strong>ia a hipocrisia, mas ama a realida<strong>de</strong>. É por isso que, apenas quan<strong>do</strong> estamos<br />
conscientes <strong>de</strong> sua presença, a nossa dádiva, a nossa oração e o nosso jejum são reais.<br />
Bibliografia J. R. W. Stott<br />
Esboço:<br />
FARISEUS<br />
I. O Nome e Descrições<br />
II. História e Caracterização Geral<br />
III. Doutrinas Distintivas<br />
IV. Denúncias da Parte <strong>de</strong> Jesus e Pontos Positivos<br />
I. O Nome e Descrições<br />
Os Fariseus: essa palavra se <strong>de</strong>riva <strong>do</strong> vocábulo hebraico que significa «separa<strong>do</strong>s», embora<br />
alguns estudiosos consi<strong>de</strong>rem o termo como <strong>de</strong> significação incerta. Apareceram, pela<br />
primeira vez, como um grupo distinto, pouco <strong>de</strong>pois da revolta encabeçada pelos Macabeus<br />
(que libertou os ju<strong>de</strong>us <strong>do</strong> governo sírio opressivo), em cerca <strong>de</strong> 140 A.C. Os fariseus<br />
usualmente vinham <strong>de</strong>ntre a massa <strong>de</strong> povo comum, e nisso faziam <strong>contra</strong>ste com os<br />
saduceus, que geralmente eram provenientes da aristocracia. O movimento <strong>de</strong>sse nome, no<br />
princípio, envolvia uma espécie <strong>de</strong> grupo reforma<strong>do</strong>r, que tencionava purificar e <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r a<br />
crença orto<strong>do</strong>xa. Eram os porta-vozes das opiniões da maioria das massas populares. Após<br />
alguns anos se intrometeu nas fileiras <strong>do</strong> <strong>farisaísmo</strong> uma gran<strong>de</strong> quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> atitu<strong>de</strong>s<br />
legalistas e ritualistas, e isso serviu apenas para obscurecer os propósitos originais <strong>do</strong><br />
grupo. Embora continuassem orto<strong>do</strong>xos em suas palavras, gradualmente foram per<strong>de</strong>n<strong>do</strong> a<br />
presença e a aprovação <strong>de</strong> <strong>Deus</strong>, e se tornaram representantes ina<strong>de</strong>qua<strong>do</strong>s da porção<br />
melhor <strong>do</strong> judaísmo.<br />
Sob a orientação <strong>de</strong> João Hircano (134-104 A.C.) exerceram gran<strong>de</strong> influência e gozaram <strong>do</strong><br />
apoio geral da população judaica. (Ver Josefo, Antiq. XIII. 10.5-7). Porém, quan<strong>do</strong><br />
romperam com ele, João Hircano se voltou para os saduceus. Em face disso, os <strong>do</strong>is grupos<br />
se tornaram adversários daí por diante, especialmente no tocante às questões <strong>do</strong> po<strong>de</strong>r<br />
político, mas também no que diz respeito às questões religiosas. Os fariseus fizeram<br />
oposição a Alexandre Janeu (103-78 A.C), e chegaram ao extremo <strong>de</strong> apelar para a ajuda<br />
<strong>do</strong> rei selêucida, Demétrio III. Por causa disso é que, quan<strong>do</strong> Janeu triunfou, vingou-se<br />
<strong>de</strong>les, crucifican<strong>do</strong> cerca <strong>de</strong> oitocentos <strong>do</strong>s lí<strong>de</strong>res <strong>do</strong>s fariseus. (Ver Josefo, Antiq. XIII.<br />
14.2). No leito <strong>de</strong> morte, entretanto, aconselhou à sua esposa que permitisse a<br />
reinstaurarão <strong>do</strong> grupo no po<strong>de</strong>r político; e então, a partir <strong>de</strong>ssa data começaram a<br />
<strong>do</strong>minar o sinédrio, o principal tribunal religioso e civil da época, entre os ju<strong>de</strong>us, o que<br />
continuou até à <strong>de</strong>struição <strong>de</strong> Jerusalém, no ano 70 D.C.<br />
Apesar <strong>de</strong> exercerem notável autorida<strong>de</strong>, na realida<strong>de</strong> os fariseus eram um grupo <strong>de</strong><br />
minoria.
II. História e Caracterização Geral<br />
Os fariseus, pelo menos em certo senti<strong>do</strong>, representavam a continuação <strong>do</strong>s i<strong>de</strong>ais <strong>de</strong><br />
Esdras, visto que eles eram mestres (com frequência, escribas) que tentavam levar avante o<br />
ministério <strong>de</strong> ensino, fazen<strong>do</strong>-o com gran<strong>de</strong> meticulosida<strong>de</strong>. No começo <strong>do</strong> século II A.C,<br />
eles eram chama<strong>do</strong>s hasidim, «santos <strong>de</strong> <strong>Deus</strong>». O termo hebraico perushim (fariseus) é <strong>de</strong><br />
origem incerta, embora seja claro que um grupo com essa <strong>de</strong>nominação surgiu após a<br />
revolta dirigida pelos Macabeus. Esse nome ocorre pela primeira vez nos textos que tratam<br />
sobre os reis sacer<strong>do</strong>tes hasmoneanos. Gran<strong>de</strong> parte da história <strong>do</strong> <strong>farisaísmo</strong> trata a<br />
respeito da oposição que eles exerciam <strong>contra</strong> aquilo que consi<strong>de</strong>ravam forças transigentes,<br />
e <strong>de</strong>strutivas <strong>do</strong> judaísmo, o parti<strong>do</strong> <strong>do</strong>s saduceus. Os saduceus representavam a abastada<br />
classe sacer<strong>do</strong>tal, ao passo que os fariseus eram os conserva<strong>do</strong>res bíblicos, até mesmo<br />
fanáticos. Em certo senti<strong>do</strong>, o <strong>farisaísmo</strong> foi uma força <strong>de</strong>mocratizante <strong>de</strong>ntro <strong>do</strong> judaísmo,<br />
que tentava salvar o sistema <strong>do</strong> controle rígi<strong>do</strong> da classe sacer<strong>do</strong>tal <strong>do</strong>s saduceus. Os<br />
fariseus eram os porta-vozes das massas oprimidas, visto que, essencialmente, pertenciam<br />
a essa classe. Portanto, entre eles apareceram figuras radicais, que se opunham ao governo<br />
estrangeiro, ao passo que os saduceus, felizes e satisfeitos com o po<strong>de</strong>r e a prosperida<strong>de</strong><br />
material <strong>de</strong> que dispunham, preferiam conservar o status quo.<br />
Como um to<strong>do</strong>, o <strong>farisaísmo</strong> po<strong>de</strong> ser recomenda<strong>do</strong> por seu senso <strong>de</strong> justiça e <strong>de</strong> eleva<strong>do</strong>s<br />
valores éticos. O Novo Testamento, contu<strong>do</strong>, alu<strong>de</strong> a eles como <strong>hipócrita</strong>s e <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes<br />
<strong>de</strong> víboras, embora <strong>de</strong>vamos relembrar que isso era aplica<strong>do</strong> a alguns poucos lí<strong>de</strong>res<br />
moralmente perverti<strong>do</strong>s entre eles.<br />
Muitos <strong>do</strong>s primeiros lí<strong>de</strong>res da Igreja se converteram <strong>de</strong>ntre os fariseus (Atos 15:5). O<br />
nobre Gamaliel, que fora um <strong>do</strong>s mestres <strong>de</strong> Paulo, era fariseu. Naturalmente, o próprio<br />
Paulo pertencia a esse grupo e, em Atos 23:6, em sua <strong>de</strong>fesa, ele <strong>de</strong>clarou: «Eu sou fariseu,<br />
filho <strong>de</strong> fariseus...»<br />
Os fariseus sempre foram um grupo minoritário. Nos dias <strong>de</strong> Hero<strong>de</strong>s eles eram um pouco<br />
mais <strong>de</strong> seis mil indivíduos (Josefo, Anti. 17:2,4). O grupo não era totalmente homogêneo.<br />
Shammai foi uma figura severa que interpretava tu<strong>do</strong> <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com o rigor da letra. Era<br />
<strong>de</strong> uma família rica e aristocrática. Hilel, em <strong>contra</strong>ste, era homem <strong>do</strong> povo, e interpretava<br />
as questões com brandura, favorecen<strong>do</strong> as <strong>de</strong>bilida<strong>de</strong>s <strong>do</strong> povo. A maioria <strong>do</strong>s escribas<br />
pertencia ao parti<strong>do</strong> <strong>do</strong>s fariseus, e <strong>de</strong>les foram surgin<strong>do</strong> aqueles ensinos exagera<strong>do</strong>s que<br />
circundavam a lei e as observâncias legalistas. Eles <strong>de</strong>terminaram que a lei contém<br />
seiscentos e treze mandamentos, <strong>do</strong>s quais duzentos e quarenta e oito positivos e trezentos<br />
e sessenta e cinco negativos. Além disso, cercaram essas leis com um complexo e, com<br />
frequência, exagera<strong>do</strong> sistema <strong>de</strong> interpretação, que fazia pesar consi<strong>de</strong>ravelmente sobre os<br />
homens as suas responsabilida<strong>de</strong>s morais e religiosas. Para exemplificar, eles <strong>de</strong>terminaram<br />
trinta e nove tipos <strong>de</strong> ação que, supostamente, eram proibi<strong>do</strong>s para o dia <strong>do</strong> sába<strong>do</strong>.<br />
Além <strong>de</strong>ssas elaborações, eles também aumentavam a importância da lei, crian<strong>do</strong><br />
analogias, <strong>de</strong> tal mo<strong>do</strong> que coisas que muitas pessoas sérias nem levariam em conta, eles<br />
transformavam em questões importantes. Em sua ignorância, após tantos acréscimos<br />
feitos por eles, ainda afirmavam que sua <strong>do</strong>utrina era antiga, proce<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> Moisés, como<br />
preceitos da<strong>do</strong>s no monte Sinai. Ver Marcos 7:3. O Novo Testamento serve <strong>de</strong> testemunho<br />
sobre alguns <strong>de</strong>sses exageros <strong>do</strong>s fariseus, mas a história também nos revela que havia<br />
pontos bons entre eles. A nossa avaliação sobre qualquer grupo jamais <strong>de</strong>veria <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong><br />
ver os <strong>do</strong>is la<strong>do</strong>s, sempre que possível.<br />
III. Doutrinas Distintivas
As diferenças quanto às crenças <strong>do</strong>utrinárias, entre os fariseus e os saduceus, conforme é<br />
frisa<strong>do</strong> pelo historia<strong>do</strong>r Josefo, eram as seguintes (ver Guerras <strong>do</strong>s Ju<strong>de</strong>us, II.8.14): Os<br />
fariseus criam na imortalida<strong>de</strong> da alma, que haveria <strong>de</strong> reencarnar-se. Isso po<strong>de</strong>ria<br />
envolver uma série <strong>de</strong> reencarnações (<strong>do</strong>utrina essa muito comum naquela época, que<br />
evi<strong>de</strong>ntemente também era <strong>de</strong>fendida pelos essênios, mas também incluía a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> que a<br />
alma haveria <strong>de</strong> animar o corpo ressurreto. Criam fortemente na sorte ou <strong>de</strong>terminismo, no<br />
universo, bem como na existência <strong>do</strong>s espíritos. Os fariseus aceitavam como canônico o<br />
conjunto completo <strong>do</strong> V.T., ao passo que, com frequência, os saduceus aceitavam como<br />
canônicos apenas os primeiros cinco livros ou Pentateuco, ainda que, provavelmente,<br />
houvessem divergências pessoais, entre os saduceus, acerca <strong>de</strong>sse particular. Os saduceus<br />
enfatizavam a a<strong>do</strong>ração no templo, o que os fariseus também faziam. Mas estes últimos<br />
punham mais ênfase no <strong>de</strong>senvolvimento individual e ético <strong>do</strong> que o faziam os saduceus.<br />
Os fariseus criam que os exílios haviam si<strong>do</strong> causa<strong>do</strong>s pela <strong>de</strong>sobediência às leis <strong>de</strong> <strong>Deus</strong>,<br />
e eles se puseram a interpretar essa lei, <strong>de</strong>senvolven<strong>do</strong> assim os comentários que foram<br />
incorpora<strong>do</strong>s no Talmu<strong>de</strong>. Esse zelo pelo ensino e pela interpretação chegou aos exageros<br />
tão familiares a qualquer leitor <strong>do</strong> N.T. E a se<strong>de</strong> <strong>do</strong>s fariseus pelo po<strong>de</strong>r político, além <strong>de</strong><br />
sua resistência natural a qualquer coisa que ameaçasse interromper o seu <strong>do</strong>mínio<br />
religioso e a sua influência sobre o povo comum, fizeram <strong>de</strong>les inimigos naturais <strong>de</strong> Jesus.<br />
Juntamente com os saduceus, os fariseus constituíam o sinédrio, o mais eleva<strong>do</strong> tribunal<br />
civil e religioso da nação judaica.<br />
Embora Josefo não nos diga tal coisa, sabemos que os fariseus aceitavam a comum e<br />
complexa angelologia <strong>do</strong> judaísmo helenista. Isso reflete-se, por exemplo, em Atos 23:8.<br />
Sem dúvida, isso incluía uma elaborada <strong>de</strong>monologia, visto que ambas as i<strong>de</strong>ias são<br />
comuns na literatura apocalíptica e pseu<strong>do</strong>epígrafa, <strong>do</strong> perío<strong>do</strong> que fica entre o Antigo e o<br />
Novo Testamentos. Eles eram <strong>de</strong>mocratas que <strong>de</strong>fendiam os direitos <strong>do</strong> povo. Opunham-se<br />
aos aristocratas <strong>de</strong>ntre os saduceus; e alguns historia<strong>do</strong>res acreditam que isso nos leva a<br />
enten<strong>de</strong>r a essência mesma <strong>do</strong> <strong>farisaísmo</strong>.<br />
IV. Denuncias da Parte <strong>de</strong> Jesus e Pontos Positivos<br />
As <strong>de</strong>núncias <strong>de</strong> Jesus <strong>contra</strong> os exageros <strong>do</strong>s fariseus en<strong>contra</strong>m-se em Mateus 23:13-30<br />
e Marcos 7:9 (comparar com Mt 15:3). O próprio Talmu<strong>de</strong> também <strong>de</strong>nunciava a hipocrisia<br />
<strong>de</strong>les (Sotah, 22b), on<strong>de</strong> a similarida<strong>de</strong> com as <strong>de</strong>núncias feitas por Jesus é evi<strong>de</strong>nte.<br />
Naturalmente, o Novo Testamento também elogia a vários fariseus, como Nico<strong>de</strong>mos (Jo 3:1<br />
ss), que falou com retidão em <strong>de</strong>fesa <strong>de</strong> Jesus (Jo 7:50), mesmo <strong>de</strong>pois que os próprios<br />
discípulos <strong>de</strong> Jesus haviam fugi<strong>do</strong> (Jo 19:50). José <strong>de</strong> Arimatéia também fora fariseu (Mt<br />
15:43), sen<strong>do</strong> altamente elogia<strong>do</strong> no Novo Testamento. Gamaliel era homem nobre, que<br />
argumentou em prol da tolerância para com os cristãos primitivos (At 5:34 ss). Outros<br />
avisaram ao Senhor Jesus <strong>de</strong> que queriam tirar-lhe a vida (Lc 13:31), e alguns fariseus<br />
mostraram-se hospitaleiros para com ele (Lc 7:36 e ss; 11:37; 14:1). — Paulo havia si<strong>do</strong><br />
fariseu, antes <strong>de</strong> sua conversão (Fp 3:5), não se ten<strong>do</strong> envergonha<strong>do</strong> <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r repetir: «Eu<br />
sou fariseu, filho <strong>de</strong> fariseus...» (At 23:6).<br />
Bibliografia J. M. Bentes<br />
Semean<strong>do</strong> e colhen<strong>do</strong> Gl 6.6-10<br />
Mas aquele que está sen<strong>do</strong> instruí<strong>do</strong> na palavra faça participante <strong>de</strong> todas as cousas boas aquele que o instrui.<br />
7 Não vos enganeis: <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> não se zomba; pois aquilo que o homem semear, isso também ceifará. 8 Porque o que<br />
semeia para a sua própria carne, da carne colherá corrupção; mas o que semeia para o Espírito, <strong>do</strong> Espírito<br />
colherá vida eterna. 9 E não nos cansemos <strong>de</strong> fazer o bem, porque a seu tempo ceifaremos, se não<br />
<strong>de</strong>sfalecermos. 10 Por isso, enquanto tivermos oportunida<strong>de</strong>, façamos o bem a to<strong>do</strong>s, mas principalmente aos da<br />
família da fé.
O apóstolo Paulo está chegan<strong>do</strong> ao final <strong>de</strong> sua carta. Seus temas principais já foram<br />
apresenta<strong>do</strong>s. Tu<strong>do</strong> o que resta são algumas advertências finais. À primeira vista, essas<br />
instruções e exortações parecem estar muito frouxamente ligadas entre si, quase<br />
totalmente <strong>de</strong>sconexas. Um exame mais <strong>de</strong>talha<strong>do</strong>, no entanto, revelará o elo <strong>de</strong> ligação. É<br />
o gran<strong>de</strong> princípio da semeadura e da colheita, apresenta<strong>do</strong> <strong>de</strong> forma epigramática no<br />
versículo 7: Aquilo que o homem semear, isso também ceifará. Este é um princípio <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m<br />
e coerência que se acha inscrito em toda vida, material e moral.<br />
A agricultura, por exemplo. Depois <strong>do</strong> dilúvio, <strong>Deus</strong> prometeu a Noé que, enquanto<br />
houvesse terra, haveria "sementeira e ceifa", isto é, a semeadura e a colheita não teriam fim<br />
(Gn 8:22). Se um lavra<strong>do</strong>r <strong>de</strong>seja ter colheita, <strong>de</strong>ve semear a semente no seu campo; caso<br />
contrário, não haverá colheita. Além disso, o tipo <strong>de</strong> colheita que ele vai obter é<br />
<strong>de</strong>termina<strong>do</strong> <strong>de</strong> antemão pelo tipo <strong>de</strong> semente que ele semeia. Isso acontece com a<br />
natureza, a qualida<strong>de</strong> e a quantida<strong>de</strong>. Se ele semear cevada, vai colher cevada; se semear<br />
trigo, colherá trigo. Semelhantemente, uma boa semente produz uma boa colheita, e uma<br />
semente ruim produz uma colheita ruim. Além disso, se ele semeia com abundância, po<strong>de</strong><br />
esperar uma colheita abundante; mas se semeia parcamente, também vai colher<br />
parcamente (cf. 2 Co 9:6). Reunin<strong>do</strong> tu<strong>do</strong>, po<strong>de</strong>mos dizer que se um lavra<strong>do</strong>r <strong>de</strong>seja uma<br />
safra abundante <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>terminada semente, então, além <strong>de</strong> semear a semente<br />
a<strong>de</strong>quada, esta <strong>de</strong>ve ser boa e tem <strong>de</strong> ser semeada com abundância. Só assim ele po<strong>de</strong><br />
esperar uma boa colheita.<br />
Exatamente o mesmo princípio opera na esfera moral e na espiritual. Aquilo que o homem<br />
semear, isso também ceifará. Quem <strong>de</strong>ci<strong>de</strong> como será a colheita, não são os que colhem,<br />
mas os semea<strong>do</strong>res. Se um homem é fiel e consciencioso em sua semeadura, então po<strong>de</strong><br />
confiantemente aguardar uma boa colheita. Se ele "semeia ventos", como costumamos<br />
dizer, só po<strong>de</strong> "colher tempesta<strong>de</strong>s"! Por outro la<strong>do</strong>, "os que lavram a iniquida<strong>de</strong> e semeiam<br />
o mal, isso mesmo eles segam" (Jó 4:8). Ou, como Oséias advertiu os seus contemporâneos<br />
(8:7), "porque semeiam ventos, segarão tormentas" (referin<strong>do</strong>-se ao juízo divino).<br />
Este princípio é uma lei divina imutável. A fim <strong>de</strong> enfatizá-lo, o apóstolo o prefacia com<br />
uma or<strong>de</strong>m ("Não vos enganeis") e uma <strong>de</strong>claração ("<strong>de</strong> <strong>Deus</strong> não se zomba").<br />
A possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se enganar é mencionada diversas vezes no Novo Testamento. Jesus<br />
disse que o diabo é um mentiroso e o pai da mentira, e advertiu os seus discípulos <strong>contra</strong> a<br />
possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> serem engana<strong>do</strong>s. João nos adverte, na sua segunda epístola, que "muitos<br />
engana<strong>do</strong>res têm saí<strong>do</strong> pelo mun<strong>do</strong> fora". Paulo nos roga, em sua carta aos Efésios:<br />
"Ninguém vos engane com palavras vãs." Já em Gálatas ele pergunta aos seus leitores:<br />
"Quem vos fascinou?" (3:1) e fala da pessoa que "a si mesma se engana" (6:3).<br />
Muitos se enganam acerca <strong>de</strong>sta inexorável lei da semeadura e da colheita. Semeiam<br />
impensadamente, indiferentemente, cegos ao fato <strong>de</strong> que as sementes que estão lançan<strong>do</strong><br />
inevitavelmente produzirão uma colheita correspon<strong>de</strong>nte. Ou, então, semeiam semente <strong>de</strong><br />
um tipo e aguardam uma colheita <strong>de</strong> outro tipo. Imaginam que <strong>de</strong> alguma forma vão se<br />
safar. Mas isso é impossível. Então Paulo acrescenta: <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> não se zomba. A palavra<br />
grega aqui (muktērizō) é chocante. Deriva <strong>de</strong> uma palavra que significa nariz e quer<br />
literalmente dizer "torcer o nariz para" alguém e, portanto, "zombar" ou "tratar com<br />
<strong>de</strong>sprezo". A partir daí po<strong>de</strong> significar "brincar" ou "passar a perna" (Arndt-Gingrich). O que<br />
o apóstolo diz aqui é que os homens po<strong>de</strong>m enganar a si mesmos, mas não po<strong>de</strong>m enganar<br />
a <strong>Deus</strong>. Embora pensem que po<strong>de</strong>m escapar <strong>de</strong>sta lei da semeadura e colheita, eles não<br />
po<strong>de</strong>m. Po<strong>de</strong>m até continuar semean<strong>do</strong> suas sementes e fechan<strong>do</strong> os olhos às<br />
consequências, mas um dia o próprio <strong>Deus</strong> vai fazer a colheita.
Do princípio passamos para a aplicação. Há três esferas da experiência cristã nas quais<br />
Paulo vê o princípio operan<strong>do</strong>.<br />
1. Ministério Cristão (v. 6)<br />
Mas aquele que está sen<strong>do</strong> instruí<strong>do</strong> na palavra faça participante <strong>de</strong> todas as cousas boas<br />
aquele que o instrui. A palavra grega para "aquele que está sen<strong>do</strong> instruí<strong>do</strong> na palavra" é ho<br />
katēchoumenos, o catecúmeno, alguém que "está apren<strong>de</strong>n<strong>do</strong> o Evangelho" (BLH). É assim<br />
que Lucas <strong>de</strong>screve Teófilo no prefácio <strong>do</strong> seu Evangelho (1:4).<br />
Quer a instrução dada seja em particular, ou numa aula <strong>de</strong> catequese, na qual os<br />
converti<strong>do</strong>s são prepara<strong>do</strong>s para o batismo, ou a toda uma congregação pelo seu pastor, o<br />
princípio é o mesmo: aquele que está sen<strong>do</strong> instruí<strong>do</strong> na palavra <strong>de</strong>ve ajudar a sustentar o<br />
seu mestre. Assim um ministro po<strong>de</strong> esperar ser sustenta<strong>do</strong> pela congregação. Ele semeia<br />
a boa semente da Palavra <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> e colhe o sustento.<br />
Há pessoas que acham isso embaraçoso. Mas o princípio bíblico é enfatiza<strong>do</strong> muitas vezes.<br />
O Senhor Jesus disse aos setenta que enviou: "Digno é o trabalha<strong>do</strong>r <strong>do</strong> seu salário" (Lc<br />
10:7). E Paulo aplica explicitamente a metáfora da semeadura e da colheita para ensinar a<br />
mesma verda<strong>de</strong>: "Se nós vos semeamos as cousas espirituais, será muito recolhermos <strong>de</strong><br />
vós bens materiais?" (1 Co 9:11).<br />
Se o princípio for <strong>de</strong>vidamente aplica<strong>do</strong>, mantém-se por si só. Apesar disso, <strong>de</strong>vemos<br />
consi<strong>de</strong>rar seus <strong>do</strong>is possíveis abusos.<br />
a. Abuso por parte <strong>do</strong> ministro<br />
Lutero viu, no seu tempo, o perigo <strong>de</strong> obe<strong>de</strong>cer a esta injunção apostólica com excessiva<br />
facilida<strong>de</strong>, pois a Igreja Católica Romana era muito rica <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> ao dinheiro <strong>do</strong> povo, e "por<br />
causa <strong>de</strong>ssa excessiva liberalida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s homens, a avareza <strong>do</strong> clero aumentou".<br />
Semelhantemente, hoje, embora <strong>de</strong> poucos ministros se possa dizer que são<br />
excessivamente bem pagos, a imagem popular <strong>do</strong> ministro cristão (pelo menos no mun<strong>do</strong><br />
oci<strong>de</strong>ntal) parece ser que o seu emprego é confortável e seguro. Na linguagem mo<strong>de</strong>rna, ele<br />
fez "um bom negócio". E há uma certa verda<strong>de</strong> nisso. Alguns ministros cristãos são<br />
tenta<strong>do</strong>s pela preguiça, e alguns sucumbem à tentação. Na Inglaterra os ministros são<br />
classifica<strong>do</strong>s como "autônomos". Ninguém exatamente supervisiona o seu trabalho. Por<br />
isso acontece frequentemente eles se tornarem in<strong>do</strong>lentes. É compreensível, portanto, que<br />
Paulo, embora <strong>de</strong>clarasse a or<strong>de</strong>m <strong>do</strong> Senhor "aos que pregam o evangelho, que vivam <strong>do</strong><br />
evangelho" (1 Co 9:14), tenha renuncia<strong>do</strong> o seu próprio direito pregan<strong>do</strong> o evangelho <strong>de</strong><br />
graça e ganhan<strong>do</strong> o seu sustento como fabricante <strong>de</strong> tendas. Quem sabe maior número <strong>de</strong><br />
ministros <strong>de</strong>vesse tentar fazer o mesmo hoje, a fim <strong>de</strong> corrigir a impressão <strong>de</strong> que os<br />
ministros entram para o ministério "apenas pelo que po<strong>de</strong>m tirar <strong>de</strong>le". Mas o princípio bíblico<br />
é claro, que o ministro <strong>de</strong>ve ficar livre <strong>do</strong> trabalho secular para se <strong>de</strong>dicar ao estu<strong>do</strong> e<br />
ao ministério da Palavra e para cuidar <strong>do</strong> rebanho que lhe foi confia<strong>do</strong>. Como disse Lutero:<br />
"É impossível que um homem trabalhe dia e noite para ganhar o seu sustento e, ao mesmo<br />
tempo, se <strong>de</strong>dique ao estu<strong>do</strong> das sagradas letras, como exige o ofício <strong>do</strong> prega<strong>do</strong>r".<br />
Haverá algum jeito <strong>de</strong> proteger-se <strong>de</strong>sse abuso? Vejamos o que é dito em 1 Timóteo 5:17:<br />
"Devem ser consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong>s merece<strong>do</strong>res <strong>de</strong> <strong>do</strong>bra<strong>do</strong>s honorários os presbíteros que presi<strong>de</strong>m<br />
bem, com especialida<strong>de</strong> os que se afadigam na palavra e no ensino. Pois a Escritura<br />
<strong>de</strong>clara: Não amordaces o boi, quan<strong>do</strong> pisa o grão. E ainda: O trabalha<strong>do</strong>r é digno <strong>de</strong> seu<br />
salário." Não é uma coisa particularmente lisonjeira, talvez, comparar o prega<strong>do</strong>r a um boi<br />
que pisa o grão! Mas ele também é chama<strong>do</strong> <strong>de</strong> "trabalha<strong>do</strong>r", ou operário. A palavra grega<br />
é forte e indica aquele que "labuta" na Palavra com todas as suas forças e meios,
procuran<strong>do</strong> entendê-la e aplicá-la. Talvez a pregação esteja em <strong>de</strong>clínio na igreja <strong>de</strong> hoje<br />
porque nós fugimos <strong>do</strong> trabalho duro que ela envolve. Mas se o ministro se entrega ao<br />
ministério com a energia <strong>de</strong> um trabalha<strong>do</strong>r, semean<strong>do</strong> a boa semente nas mentes e nos<br />
corações da congregação, então ele po<strong>de</strong> esperar a sua subsistência material.<br />
b. Abuso por parte da congregação<br />
Se o princípio <strong>de</strong> a congregação pagar o ministro po<strong>de</strong> incentivá-lo a se tornar preguiçoso e<br />
negligente, da mesma forma a congregação po<strong>de</strong> se sentir tentada a controlar o ministro.<br />
Algumas congregações exercem uma positiva tirania sobre o seu pastor e quase o<br />
chantageiam a pregar o que querem ouvir. Ele é pago para isso, dizem; portanto <strong>de</strong>ve<br />
dançar <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com a música. E, se o ministro tem esposa e família para sustentar,<br />
sente-se tenta<strong>do</strong> a ce<strong>de</strong>r. Naturalmente ele não <strong>de</strong>ve ce<strong>de</strong>r a tais pressões, mas a<br />
congregação também não <strong>de</strong>ve colocá-lo em tal situação. Se o ministro semeia com<br />
fi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong> a boa semente da Palavra <strong>de</strong> <strong>Deus</strong>, por mais <strong>de</strong>sagradável que a congregação<br />
possa achá-lo, ele tem o direito <strong>de</strong> receber o seu sustento. A congregação não tem<br />
autorida<strong>de</strong> <strong>de</strong> reduzir o seu salário só porque ele se recusa a reduzir suas palavras.<br />
O relacionamento certo entre mestre e discípulo, ou entre ministro e congregação, é o <strong>de</strong><br />
koinōmia, "comunhão" ou "socieda<strong>de</strong>". Por isso Paulo <strong>de</strong>screve: "Mas aquele que está sen<strong>do</strong><br />
instruí<strong>do</strong> na palavra faça participante (koinōneitō) <strong>de</strong> todas as cousas boas aquele que o<br />
instrui." Ele partilha as coisas espirituais com seus discípulos, e estes partilham as coisas<br />
materiais com ele. O Bispo Stephen Neill comenta: "Isso não <strong>de</strong>ve ser consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong> um<br />
pagamento. A palavra 'partilhar' é uma excelente palavra cristã que é usada para a nossa<br />
comunhão no Espírito Santo".<br />
2. Santida<strong>de</strong> Cristã (v. 8)<br />
Porque o que semeia para a sua própria carne, da carne colherá corrupção; mas o que semeia<br />
para o Espírito, <strong>do</strong> Espírito colherá vida eterna. Esta é uma outra esfera na qual opera o<br />
princípio da "semeadura e colheita". Paulo passa <strong>do</strong> particular para o geral, <strong>do</strong>s ministros<br />
cristãos e o seu sustento para o povo cristão e o seu comportamento moral. Ele retorna ao<br />
tema da carne e <strong>do</strong> Espírito, o qual examinou em certa extensão em Gálatas 5:16-25. Ali,<br />
em Gálatas 5, a vida cristã é comparada a um campo <strong>de</strong> batalha, e a carne e o Espírito são<br />
<strong>do</strong>is combatentes em guerra um <strong>contra</strong> o outro. Mas aqui, em Gálatas 6, a vida cristã é<br />
comparada a uma proprieda<strong>de</strong> rural, e a carne e o Espírito são <strong>do</strong>is campos em que nós<br />
semeamos. Além disso, a nossa colheita <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong> on<strong>de</strong> e o quê nós semeamos.<br />
É um princípio <strong>de</strong> santida<strong>de</strong> vitalmente importante e muito negligencia<strong>do</strong>. Não somos<br />
vítimas in<strong>de</strong>fesas <strong>de</strong> nossa natureza, temperamento e ambiente. Pelo contrário, o que nos<br />
tornamos <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> principalmente <strong>de</strong> como nos comportamos; nosso caráter é forma<strong>do</strong> pela<br />
nossa conduta. De acor<strong>do</strong> com Gálatas 5, o <strong>de</strong>ver <strong>do</strong> cristão é "andar no Espírito"; <strong>de</strong><br />
acor<strong>do</strong> com Gálatas 6, é "semear para o Espírito". Assim o Espírito Santo é compara<strong>do</strong> ao<br />
caminho pelo qual andamos (Gl 5) e ao campo no qual semeamos (Gl 6). Como po<strong>de</strong>mos<br />
esperar colher o fruto <strong>do</strong> Espírito se não semeamos no campo <strong>do</strong> Espírito? O velho adágio é<br />
verda<strong>de</strong>iro: "Semeie um pensamento, colha um ato; semeie um ato, colha um hábito;<br />
semeie um hábito, colha um caráter; semeie um caráter, colha um <strong>de</strong>stino." Isso é bom e é<br />
bíblico.<br />
Vamos examinar os <strong>do</strong>is tipos <strong>de</strong> semeadura possíveis, isto é, "semear para a carne" e<br />
"semear para o Espírito".<br />
a. Semean<strong>do</strong> para a carne
Vimos que a nossa "carne" é a nossa natureza caída, "com as suas paixões e<br />
concupiscências" (5:24), a qual, se não for controlada, manifesta-se nas "obras da carne"<br />
(5:19-21). Essa natureza caída existe em cada um <strong>de</strong> nós e permanece em nós, mesmo<br />
<strong>de</strong>pois da conversão e <strong>do</strong> batismo. É um <strong>do</strong>s campos <strong>de</strong> nossa proprieda<strong>de</strong> rural humana<br />
em que po<strong>de</strong>mos semear.<br />
"Semear para a carne" é trabalhar para ela, acariciá-la, aconchegá-la e afagá-la, em vez <strong>de</strong><br />
crucificá-la. As sementes são principalmente pensamentos e atos. Toda vez que permitimos<br />
que a nossa mente abrigue um ressentimento, acalente uma queixa, entretenha uma<br />
fantasia impura ou chamafur<strong>de</strong> na auto pieda<strong>de</strong>, estamos semean<strong>do</strong> para a carne. Toda<br />
vez que permanecemos em má companhia a cuja influência insidiosa sabemos que não<br />
po<strong>de</strong>remos resistir, toda vez que permanecemos na cama quan<strong>do</strong> <strong>de</strong>veríamos nos levantar<br />
para orar, toda vez que lemos literatura pornográfica, toda vez que assumimos um risco<br />
que cria dificulda<strong>de</strong>s para o nosso autocontrole, estamos semean<strong>do</strong>, semean<strong>do</strong>, semean<strong>do</strong><br />
para a carne. Há cristãos que semeiam para a carne to<strong>do</strong>s os dias e ficam se perguntan<strong>do</strong><br />
porque não colhem santida<strong>de</strong>. A santida<strong>de</strong> é uma colheita; colher ou não colher <strong>de</strong>pen<strong>de</strong><br />
quase inteiramente <strong>do</strong> que e on<strong>de</strong> semeamos.<br />
b. Semean<strong>do</strong> para o Espírito<br />
"Semear para o Espírito" é o mesmo que "o pen<strong>do</strong>r <strong>do</strong> Espírito" (Rm 8:6) e "andar no<br />
Espírito" (Gl 5:16,25). Além disso, as sementes são nossos pensamentos e atos. Devemos<br />
"buscar" as coisas <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> e "pensar" nelas, "cousas lá <strong>do</strong> alto, não nas que são aqui da<br />
terra" (Cl 3:1,2; compare com Fp 3:19). Com os livros que lemos, a companhia que<br />
<strong>de</strong>sfrutamos e o lazer que buscamos, po<strong>de</strong>mos "semear para o Espírito". Devemos, então,<br />
incrementar hábitos disciplina<strong>do</strong>s <strong>de</strong> <strong>de</strong>voção na vida particular e pública, na oração e<br />
leitura diária da Bíblia, e no culto junto com o povo <strong>do</strong> Senhor no dia <strong>do</strong> Senhor. Tu<strong>do</strong> isso<br />
é "semear para o Espírito"; sem isso não po<strong>de</strong> haver colheita <strong>do</strong> Espírito, ou "fruto <strong>do</strong><br />
Espírito".<br />
Paulo traça uma diferença entre as duas colheitas, como também entre as duas<br />
semeaduras. Os resulta<strong>do</strong>s são apenas lógicos. Se semearmos para a carne, "da carne<br />
colheremos corrupção", isto é, vai haver um processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>caimento moral. Iremos <strong>de</strong> mal<br />
a pior e finalmente pereceremos. Se, por outro la<strong>do</strong>, semearmos para o Espírito, vamos "<strong>do</strong><br />
Espírito colher vida eterna": vai iniciar-se um processo <strong>de</strong> crescimento moral e espiritual. A<br />
comunhão com <strong>Deus</strong> (que é a vida eterna) vai se <strong>de</strong>senvolver agora até que se aperfeiçoe na<br />
eternida<strong>de</strong>.<br />
Portanto, se <strong>de</strong>sejamos colher santida<strong>de</strong>, nosso <strong>de</strong>ver é duplo. Primeiro, <strong>de</strong>vemos evitar<br />
semear para a carne, e, segun<strong>do</strong>, <strong>de</strong>vemos continuar semean<strong>do</strong> para o Espírito. Devemos<br />
eliminar sem pieda<strong>de</strong> a primeira, concentran<strong>do</strong> nosso tempo e energias no segun<strong>do</strong>. É uma<br />
outra forma <strong>de</strong> dizer (como em Gl 5) que <strong>de</strong>vemos "crucificar a carne" e "andar no Espírito".<br />
Não há outro meio <strong>de</strong> crescer em santida<strong>de</strong>.<br />
3. A Prática <strong>do</strong> Bem <strong>do</strong> Cristão (vs. 9, 10)<br />
E não nos cansemos <strong>de</strong> fazer o bem, porque a seu tempo ceifaremos, se não <strong>de</strong>sfalecermos.<br />
Por isso, enquanto tivermos oportunida<strong>de</strong>, façamos o bem a to<strong>do</strong>s, mas principalmente aos<br />
da família da fé. O assunto muda um pouco da santida<strong>de</strong> pessoal para a prática <strong>do</strong> bem, a<br />
ajuda aos outros, as ativida<strong>de</strong>s filantrópicas na igreja ou na comunida<strong>de</strong>. Mas o apóstolo<br />
trata disso também sob a metáfora da semeadura e colheita.<br />
Certamente é preciso algum incentivo para a prática <strong>do</strong> bem. Paulo reconhece isso, pois ele<br />
insiste com os seus leitores em que "não se cansem" nem <strong>de</strong>sanimem (cf. 2 Ts 3:13). O
serviço cristão ativo é um trabalho cansativo e exigente. Somos tenta<strong>do</strong>s a <strong>de</strong>sanimar, a<br />
relaxar e até mesmo a <strong>de</strong>sistir.<br />
Por isso o apóstolo nos dá este incentivo, ao dizer-nos que fazer o bem é como semear. Se<br />
perseverarmos semean<strong>do</strong>, então "a seu tempo ceifaremos, se não <strong>de</strong>sfalecermos". Se o<br />
lavra<strong>do</strong>r se cansar <strong>de</strong> semear, <strong>de</strong>ixan<strong>do</strong> meta<strong>de</strong> <strong>do</strong> seu campo sem sementeira, vai colher<br />
apenas a meta<strong>de</strong>. O mesmo acontece com as boas obras. Se <strong>de</strong>sejamos uma colheita, então<br />
temos <strong>de</strong> concluir a semeadura e temos <strong>de</strong> ser pacientes, como o lavra<strong>do</strong>r que "aguarda<br />
com paciência o precioso fruto da terra,.." (Tg 5:7). Como disse John Brown: "Os cristãos<br />
frequentemente agem como crianças com referência a essa colheita. Gostariam <strong>de</strong> semear e<br />
colher no mesmo dia."<br />
Se a semeadura é a prática das obras na comunida<strong>de</strong>, o que será a colheita? Paulo não nos<br />
diz; ele nos <strong>de</strong>ixa adivinhar. Mas a paciente prática <strong>do</strong> bem na igreja ou na comunida<strong>de</strong><br />
sempre produz bons resulta<strong>do</strong>s. Po<strong>de</strong> produzir consolo, alívio ou assistência a pessoas<br />
necessitadas. Po<strong>de</strong> levar um peca<strong>do</strong>r ao arrependimento e à salvação; o próprio Jesus falou<br />
<strong>de</strong>ssa obra, chaman<strong>do</strong>-a <strong>de</strong> semeadura e colheita (Mt 9:37; Jo 4:35-38). Po<strong>de</strong> ajudar a<br />
<strong>de</strong>ter a <strong>de</strong>terioração moral da socieda<strong>de</strong> (esta é a função <strong>do</strong> "sal da terra") e até mesmo<br />
torná-la um lugar mais <strong>do</strong>ce e mais saudável <strong>de</strong> se viver. Po<strong>de</strong> aumentar o respeito <strong>do</strong>s<br />
homens pelo que é bonito, bom e verda<strong>de</strong>iro, especialmente nos nossos dias, quan<strong>do</strong> os<br />
padrões estão baixan<strong>do</strong>. Trará igualmente o bem ao que o pratica: não a salvação (pois esta<br />
é um <strong>do</strong>m livre <strong>de</strong> <strong>Deus</strong>), mas alguma recompensa no céu pelo seu trabalho fiel, que<br />
provavelmente assumirá a forma <strong>de</strong> serviço <strong>de</strong> ainda maior responsabilida<strong>de</strong>.<br />
Por isso, prossegue Paulo (versículo 10), consi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong> que a semeadura da boa semente<br />
resulta em uma boa colheita, enquanto tivermos oportunida<strong>de</strong> (e a nossa vida na terra está<br />
cheia <strong>de</strong> tais oportunida<strong>de</strong>s), façamos o bem a to<strong>do</strong>s, mas principalmente aos da família da<br />
fé. Esta família consiste <strong>de</strong> nossos companheiros crentes, que compartilham conosco a "fé<br />
igualmente preciosa" (2 Pe 1:1) e que são nossos irmãos e irmãs na família <strong>de</strong> <strong>Deus</strong>. Como<br />
diz o velho dita<strong>do</strong>, "a carida<strong>de</strong> começa em casa", para com os que reivindicam nossa<br />
primeira atenção; também a carida<strong>de</strong> cristã nunca <strong>de</strong>ve parar aí. Devemos amar e servir os<br />
nossos inimigos, disse Jesus, não apenas os nossos amigos. Assim, "a perseverança em<br />
fazer o bem" é uma característica <strong>do</strong> verda<strong>de</strong>iro cristão, uma característica tão<br />
indispensável que será consi<strong>de</strong>rada como evidência <strong>de</strong> fé salva<strong>do</strong>ra no dia <strong>do</strong> juízo (veja Rm<br />
2:7).<br />
Conclusão<br />
Consi<strong>de</strong>ramos as três esferas da vida cristã às quais Paulo aplica o seu inexorável princípio<br />
<strong>de</strong> que "aquilo que o homem semear, isso também ceifará". Na primeira, a semente é a<br />
Palavra <strong>de</strong> <strong>Deus</strong>, semeada pelos mestres nas mentes e corações da congregação. Na<br />
segunda, a semente são nossos próprios pensamentos e atos, semea<strong>do</strong>s no campo da carne<br />
ou <strong>do</strong> Espírito. Na terceira, a semente são as boas obras, semeadas nas vidas <strong>de</strong> outras<br />
pessoas na comunida<strong>de</strong>.<br />
E, em cada caso, embora a semente e o solo sejam diferentes, a semeadura é seguida pela<br />
colheita. O mestre que semeia a Palavra <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> vai colher o seu sustento; é propósito <strong>de</strong><br />
<strong>Deus</strong> que seja assim. O peca<strong>do</strong>r que semeia para a carne vai colher corrupção. O crente<br />
que semeia para o Espírito vai colher vida eterna, uma comunhão cada vez mais profunda<br />
com <strong>Deus</strong>. O filantropo cristão que semeia boas obras na comunida<strong>de</strong> vai fazer uma boa<br />
colheita nas vidas daqueles a quem serve e terá uma recompensa para si mesmo na<br />
eternida<strong>de</strong>.
Em nenhuma <strong>de</strong>ssas esferas po<strong>de</strong>mos zombar <strong>de</strong> <strong>Deus</strong>. Em cada uma <strong>de</strong>las opera o<br />
mesmo princípio, invariavelmente. E, consi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong> que não po<strong>de</strong>mos enganar a <strong>Deus</strong>,<br />
somos tolos se tentarmos nos enganar a nós mesmos! Não <strong>de</strong>vemos ignorar nem resistir a<br />
esta lei, mas aceitá-la e cooperar com ela. Devemos ter o bom senso <strong>de</strong> permitir que ela<br />
governe as nossas vidas. "Aquilo que o homem semear, isso também ceifará." Devemos<br />
esperar colher o que semeamos. Portanto, se queremos ter uma boa colheita, <strong>de</strong>vemos<br />
semear e continuar semean<strong>do</strong> a boa semente. Então, no <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> tempo, a colheita virá.<br />
Bibliografia J. Stott<br />
Esboço:<br />
I. Definições<br />
II. Na Filosofia e na Ética<br />
III. Na Bíblia<br />
IV. A Justiça Divina<br />
V. A Justiça <strong>de</strong> <strong>Deus</strong><br />
I. Definições<br />
Justiça<br />
A palavra portuguesa «justiça» vem <strong>do</strong> latim, jus, «direito», «lei». A justiça consiste na<br />
preocupação exata e escrupulosa pelos direitos alheios e pelo relacionamento <strong>do</strong> indivíduo<br />
com o Juiz Supremo, <strong>Deus</strong>. A justiça requer atos <strong>de</strong> retidão, e não meras palavras ou<br />
aceitação <strong>de</strong> certos i<strong>de</strong>ais. O homem justo age corretamente, <strong>de</strong> forma altruísta. De acor<strong>do</strong><br />
com a teologia cristã, ninguém po<strong>de</strong> ser justo por si mesmo. A justiça é um <strong>do</strong>s atributos<br />
comunicáveis <strong>de</strong> <strong>Deus</strong>, sen<strong>do</strong> investida no homem através <strong>de</strong> Cristo, por meio da<br />
conversão, da santificação e <strong>do</strong> contínuo ministério <strong>do</strong> Espírito Santo. É assim que o<br />
homem vai absorven<strong>do</strong> a forma <strong>de</strong> justiça e da santida<strong>de</strong> divinas, não sen<strong>do</strong> mera<br />
produção humana, imitação daquela justiça e santida<strong>de</strong>. A justiça também consiste em<br />
conformida<strong>de</strong> com uma reta conduta. Mas a reta conduta é <strong>de</strong>finida, em última análise,<br />
segun<strong>do</strong> padrões divinos <strong>de</strong> conduta e <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ais. Envolve qualida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> caráter, como a<br />
retidão, a equida<strong>de</strong>, a santida<strong>de</strong>, a correção, a razoabilida<strong>de</strong>. A justiça é uma excelência<br />
moral, cujo mo<strong>de</strong>lo ou padrão é <strong>Deus</strong>, e cujo agente é o Logos, o Filho <strong>de</strong> <strong>Deus</strong>. Quanto aos<br />
vocábulos bíblicos envolvi<strong>do</strong>s, e seus respectivos significa<strong>do</strong>s, ver a seção III. 13.<br />
II. Na Filosofia e na Ética<br />
1. Os sofistas <strong>de</strong>finiam a justiça como mera convenção social. Mudan<strong>do</strong> os costumes<br />
sociais, muda também a justiça, porque esta seria <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte das condições prevalentes.<br />
Trasímaco, membro <strong>de</strong>ssa escola, pensava que «po<strong>de</strong>r é direito». Em outras palavras, quem<br />
tem autorida<strong>de</strong>, <strong>de</strong>termina as normas da socieda<strong>de</strong>. Isso seria uma forma <strong>de</strong> voluntarismo,<br />
mas no nível humano.<br />
2. Platão objetava à visão relativista e voluntarista <strong>do</strong>s sofistas, afirman<strong>do</strong> que há o<br />
universal da justiça. Em outras palavras, a justiça é uma realida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s mun<strong>do</strong>s imateriais,<br />
invisíveis; e a justiça que se vê em nosso mun<strong>do</strong> é apenas uma pobre imitação da<br />
verda<strong>de</strong>ira justiça, que é a divina. Em seu diálogo sobre as Leis, Platão singularizava os<br />
universais em <strong>Deus</strong>, pelo que, para ele, a justiça é um <strong>do</strong>s atributos <strong>de</strong> <strong>Deus</strong>. <strong>Deus</strong>, pois, é
o supremo padrão da conduta correta, e somente em <strong>Deus</strong> resi<strong>de</strong> a verda<strong>de</strong>ira justiça. Em<br />
senti<strong>do</strong> secundário, para Platão, a justiça é aquele esta<strong>do</strong> que ocorre quan<strong>do</strong> cada um<br />
ocupa a sua <strong>de</strong>vida função, fazen<strong>do</strong> assim a sua contribuição para o to<strong>do</strong>, da melhor<br />
maneira possível.<br />
3. Sócrates entendia as questões éticas em termos <strong>de</strong> conceitos da Mente Universal. Esse<br />
armazém mental e divino <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ias envolve o conceito da verda<strong>de</strong>ira justiça. Os homens<br />
imitam esse mo<strong>de</strong>lo, e aproximam-se <strong>do</strong> mesmo através da razão, mediante o uso <strong>de</strong><br />
diálogos. O homem teria, em si mesmo, os conceitos da Mente Universal, po<strong>de</strong>n<strong>do</strong><br />
<strong>de</strong>scobrir aquilo que já sabe, mediante a disciplina mental apropriada. A filosofia, por sua<br />
vez, seria a ciência que sonda a verda<strong>de</strong>ira teoria ética, procuran<strong>do</strong> conhecê-la e pô-la em<br />
prática.<br />
4. Aristóteles opinava que a justiça é o meio termo entre a injustiça que consiste em<br />
interferir com aquilo que pertence a outrem, e o sofrer a interferência alheia naquilo que<br />
nos pertence. Ele se referia a duas manifestações da justiça: para que se faça justiça, o<br />
indivíduo precisa compartilhar <strong>do</strong>s recursos da coletivida<strong>de</strong>, ou Esta<strong>do</strong>. Em outras<br />
palavras, <strong>de</strong>ve ser-lhe conferida uma partilha equitativa. Além disso, as ofensas precisam<br />
ser <strong>de</strong>vidamente punidas. Aos homens não <strong>de</strong>veria ser permiti<strong>do</strong> que fossem injustos e<br />
prejudiciais, sem pagarem à altura por causa disso.<br />
5. Tomás <strong>de</strong> Aquino e Locke concordavam que para po<strong>de</strong>r haver justiça, é necessário que<br />
haja uma or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> coisas natural e racional, e que a razão po<strong>de</strong> conduzir-nos a essa<br />
situação, <strong>de</strong> uma maneira a<strong>de</strong>quada. Naturalmente, Tomás <strong>de</strong> Aquino mostrava-se sensível<br />
para com a realida<strong>de</strong> da justiça divina, como o verda<strong>de</strong>iro padrão por <strong>de</strong>trás da or<strong>de</strong>m que<br />
os homens conseguem estabelecer em socieda<strong>de</strong>. Locke preferia apelar para a abordagem<br />
empírica. Para ele, <strong>de</strong>scobre-se a justiça mediante a experimentação, guiada pela razão.<br />
6. O pragmatismo assevera que aquilo que funciona bem é justo e bom, e que po<strong>de</strong>mos<br />
chegar a esse esta<strong>do</strong> mediante a experimentação. Visto que as socieda<strong>de</strong>s diferem umas<br />
das outras, por isso mesmo a justiça, como to<strong>do</strong>s os princípios éticos, é algo relativo. Para<br />
os pragmáticos, não existe tal coisa como valores éticos fixos, e nem verda<strong>de</strong> abso<strong>luta</strong>. A<br />
praticalida<strong>de</strong> ou função é a única prova <strong>de</strong> que algo é justo e bom, na opinião <strong>de</strong>les.<br />
7. O positivismo lógico supõe, juntamente com o pragmatismo, que não existem valores<br />
fixos; mas enfatiza mais o papel da ciência no estabelecimento <strong>de</strong> valores relativos e<br />
funcionais. Não se apela, ali, para qualquer coisa divina, pertencente ao mun<strong>do</strong> espiritual.<br />
Para os positivistas lógicos, a justiça é algo meramente humano, <strong>de</strong>termina<strong>do</strong> <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong><br />
um contexto humano.<br />
8. A ética situacional afirma que a justiça, ou seja, aquilo que é bom para ti e para mim,<br />
<strong>de</strong>pen<strong>de</strong> das vicissitu<strong>de</strong>s das circunstâncias e das exigências que essas circunstâncias nos<br />
impõem. Mudan<strong>do</strong> as circunstâncias, mudam os padrões. Outrossim, o que é bom para<br />
mim, neste momento, não é necessariamente bom para ti e o que é justo para uma<br />
socieda<strong>de</strong> (<strong>de</strong>ntro <strong>do</strong> contexto <strong>de</strong> suas experiências) não é necessariamente bom para outra<br />
socieda<strong>de</strong> (<strong>de</strong>ntro <strong>do</strong> contexto <strong>de</strong> experiências diferentes). E até mesmo aquilo que para<br />
mim é bom, neste momento, mais tar<strong>de</strong> po<strong>de</strong>rá não ser bom para mim. Tu<strong>do</strong> é relativo,<br />
<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>n<strong>do</strong> <strong>do</strong> fluxo permanente das coisas e das circunstâncias.<br />
9. A ética abso<strong>luta</strong> ou rigorosa supõe que existem padrões éticos absolutos. Os homens<br />
não <strong>de</strong>senvolveriam o que é certo por meio da experimentação. Antes, eles sempre<br />
<strong>de</strong>scobrem o que é direito. Uma forma <strong>de</strong> ética abso<strong>luta</strong> é o imperativo categórico <strong>de</strong> Kant:<br />
«Faça somente aquilo que gostaria que se tornasse uma lei universal». As religiões, <strong>de</strong> mo<strong>do</strong><br />
geral, visto que apelam para uma justiça e uma bonda<strong>de</strong> divinas, dão apoio à i<strong>de</strong>ia da
justiça absolutista, embora, usualmente, valham-se das revelações e livros sagra<strong>do</strong>s como<br />
padrões autoritários. O cristianismo orto<strong>do</strong>xo representa um sistema ético rigoroso e o<br />
Novo Testamento é sua autorida<strong>de</strong>.<br />
III. Na Bíblia<br />
1. A base <strong>do</strong> conceito da justiça vem através da revelação. A revelação foi preservada, em<br />
forma escrita, nas Sagradas Escrituras. Elas nos foram dadas para nossa instrução, para<br />
ensinar-nos quais <strong>de</strong>vem ser os padrões <strong>de</strong> nossa conduta, conforme se apren<strong>de</strong> em II Tm<br />
3:16,17: «Toda Escritura é inspirada por <strong>Deus</strong> e é útil para o ensino, para a repreensão,<br />
para a correção, para a educação na justiça, a fim <strong>de</strong> que o homem <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> seja perfeito e<br />
perfeitamente habilita<strong>do</strong> para toda boa obra». Isso permite que o homem espiritual seja<br />
equipa<strong>do</strong> para po<strong>de</strong>r pôr em prática todas as boas obras, com a mente esclarecida.<br />
2. O teísmo é um importante e constante conceito ensina<strong>do</strong> na Bíblia. Há um <strong>Deus</strong> que se<br />
faz conheci<strong>do</strong> <strong>do</strong>s homens, que <strong>de</strong>termina o que é certo e o torna conheci<strong>do</strong>, e que impõe a<br />
conduta própria, por meio da promessa <strong>de</strong> galardões ou da ameaça <strong>de</strong> julgamento.<br />
3. A justiça é um produto das operações <strong>do</strong> Espírito Santo, que cultiva em nós os vários<br />
aspectos <strong>de</strong> seu fruto (Gl 5:22,23). Dessa forma, os atributos da justiça, que pertencem a<br />
<strong>Deus</strong>, são reproduzi<strong>do</strong>s nos crentes. Ver a quinta seção <strong>do</strong> presente artigo, que aborda essa<br />
questão com <strong>de</strong>talhes.<br />
4. A justiça, bem como os <strong>de</strong>mais valores éticos, são entrava<strong>do</strong>s ou mesmo anula<strong>do</strong>s pela<br />
rebeldia e carnalida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s homens (Gl 5:19-21). Assim como o Espírito <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> transmite<br />
sua bonda<strong>de</strong> aos homens, assim também o espírito <strong>do</strong> mal, que se <strong>de</strong>riva <strong>de</strong> seres<br />
infernais, opera nos homens sem <strong>Deus</strong> (Ef 6:11 ss). Nenhum ser humano peca sozinho;<br />
nenhum ser humano é injusto sozinho. Ele age prestan<strong>do</strong> lealda<strong>de</strong> ao reino espiritual ao<br />
qual pertence e sob a influência <strong>do</strong> qual se en<strong>contra</strong>, seja o reino da luz, seja o reino das<br />
trevas. Ver Gl 1:12,13.<br />
5. Os crentes são <strong>de</strong>rrota<strong>do</strong>s espiritualmente pela carnalida<strong>de</strong>, po<strong>de</strong>n<strong>do</strong> tornar-se<br />
instrumentos ou agentes da injustiça (I Co 3:1 e Rm 8:5-8).<br />
6. Jesus Cristo é o agente da justiça, porquanto em sua imagem é que estamos sen<strong>do</strong><br />
gradativamente transforma<strong>do</strong>s (Rm 8:29; II Co 3:18), <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> a virmos compartilhar <strong>de</strong><br />
seus atributos morais e espirituais, porquanto nos estamos tornan<strong>do</strong> partícipes <strong>de</strong> sua<br />
natureza metafísica (Cl 2:9,10; II Pe 1:4). É segun<strong>do</strong> se lê em I Co 1:30: «...Cristo Jesus,<br />
que se nos tornou, da parte <strong>de</strong> <strong>Deus</strong>, sabe<strong>do</strong>ria, e justiça, e santificação, e re<strong>de</strong>nção».<br />
Outrossim, ele é o justifica<strong>do</strong>r <strong>do</strong>s crentes: «...para ele mesmo ser justo e o justifica<strong>do</strong>r<br />
daquele que tem fé em Jesus» (Rm 3:26).<br />
7. Atitu<strong>de</strong>s e Ações Especificas <strong>de</strong> Justiça:<br />
a. Devemos honrar, reverenciar e respeitar aos nossos superiores, governantes, etc. Essa<br />
conduta é justa. Ver Rm 13:1 ss; Ef 6:1,3; I Pe 2:17; I Tm 5:17.<br />
b. Mostrar bonda<strong>de</strong> para com o próximo é um ato <strong>de</strong> justiça (Pv 17:17).<br />
c. A prática da lei <strong>do</strong> amor é a base <strong>de</strong> toda a justiça humana (Gl 4:15; 5:22; I Jo 4:7 ss).<br />
d. No tocante às questões práticas, <strong>de</strong>veríamos pagar o que é direito ao próximo, tanto na<br />
questão <strong>do</strong> dinheiro (como os impostos), quanto na questão <strong>do</strong> respeito e da honra. O amor<br />
é a maior <strong>de</strong> todas as obrigações. Ver Rm 13:7,8. Ver também Dt 24:14.
e. Deveríamos ajudar ao próximo em momentos <strong>de</strong> necessida<strong>de</strong> (Tg cap. 2).<br />
f. Não basta sermos justos, no senti<strong>do</strong> <strong>de</strong> exatos, mas também <strong>de</strong>vemos ser bon<strong>do</strong>sos, isto<br />
é, generosos, em nosso trato com o próximo (Rm 5:7).<br />
g. Os caminhos <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> são verda<strong>de</strong>iros e justos, e os homens <strong>de</strong>vem imitá-Lo, como o<br />
maior e mais eleva<strong>do</strong> padrão <strong>de</strong> conduta (Ap 15:3. Ver também Jó 9:2; 37:23; Sf 3:5; Sl<br />
84:14; 36:6). Esses versículos <strong>de</strong>screvem atos <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> que estabelecem padrões para a<br />
conduta humana.<br />
h. O voluntarismo é um ensino refleti<strong>do</strong> no nono capítulo da epístola aos Romanos. Uma<br />
coisa é boa porque assim o <strong>de</strong>terminou a vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>Deus</strong>, sem importar o que pensemos a<br />
respeito. Porém, outros trechos bíblicos <strong>contra</strong>balançam esse ensino, afirman<strong>do</strong> que o Juiz<br />
<strong>de</strong> todas as coisas faz somente aquilo que é direito (como Gn 18:25). E po<strong>de</strong>mos pressupor<br />
que nossa intuição e nossa razão diz-nos o que realmente é direito, visto que ambas essas<br />
funções <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m da comunhão com a presença divina e são sensíveis a ela.<br />
8. A justiça <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> requer a retribuição. Mas o próprio juízo divino também tem um<br />
aspecto remedial. Os <strong>do</strong>is polos da justiça divina são <strong>de</strong>clara<strong>do</strong>s em Rm 1:32, em<br />
comparação com I Pe 4:6.<br />
9. Há atos <strong>de</strong> vindicação, que <strong>contra</strong>balançam a injustiça. Esses são atos <strong>de</strong> justiça (Jz<br />
5:11; II Sm 15:4; Sl 82:3; Is 58:2,3; Ec 7:15 e 8:14).<br />
10. A justiça, embora vindicativa e retributiva, também <strong>de</strong>ve manifestar-se temperada pela<br />
misericórdia. Não há tal coisa como justiça divina crua, ou seja, retribuição não<br />
condicionada pelo amor. O primeiro capítulo <strong>de</strong> Romanos mostra-nos que <strong>Deus</strong> não estaria<br />
erra<strong>do</strong> se aplicasse uma justiça nua, constituída somente por vingança e retribuição.<br />
Porém, a partir <strong>do</strong> terceiro capítulo <strong>de</strong> Romanos, Paulo mostra-nos que, <strong>de</strong> fato, a justiça<br />
divina não opera <strong>de</strong>ssa maneira inflexível. A intervenção <strong>do</strong> evangelho serve <strong>de</strong> prova <strong>de</strong>sse<br />
fato. Àqueles a quem <strong>Deus</strong> tem <strong>de</strong> julgar, também procurou salvar, através da elaborada<br />
missão <strong>de</strong> Cristo, uma missão com um aspecto terreno, outro no ha<strong>de</strong>s, e outro no céu (I<br />
Pe 3:18-4:6).<br />
11. <strong>Deus</strong> confere a justiça a quem nada merece; mas, então, espera que eles<br />
correspondam, buscan<strong>do</strong> a justiça e a bonda<strong>de</strong> (Is 1:17).<br />
12. O justo viverá pela fé (Hc 2:4; Rm 1:17; Gl 3:11). Essa fé, por sua vez, é produto da<br />
atuação <strong>do</strong> Espírito. Ao viverem pela fé, os homens são reputa<strong>do</strong>s justos, em to<strong>do</strong> o seu<br />
relacionamento uns com os outros. A fé produz a justificação; e a vida da fé<br />
obrigatoriamente envolve a santificação.<br />
13. Palavras Bíblicas para Indicar a Justiça:<br />
Os termos bíblicos, no hebraico, tse<strong>de</strong>q e tsadaqah, como também o vocábulo grego<br />
dikaiosune, são traduzi<strong>do</strong>s em português por «justiça» ou «retidão». Essas palavras são<br />
usadas no tocante a <strong>Deus</strong> e aos homens. A justiça aponta para uma conduta reta, um<br />
governo justo, o pagamento <strong>de</strong> dívidas a quem tem direito, a retribuição, a retidão nos atos,<br />
a regra da lei e o respeito à lei. <strong>Deus</strong> é justo quan<strong>do</strong> julga, porque a sua retidão moral não<br />
po<strong>de</strong> permitir que a injustiça permaneça sem a <strong>de</strong>vida resposta. Mas os atos <strong>de</strong> <strong>Deus</strong><br />
nunca consistem apenas em retribuição, visto que a i<strong>de</strong>ia inteira <strong>do</strong>s julgamentos divinos é<br />
a <strong>de</strong> restaurar aos ofensores (I Pe 4:6). Além <strong>de</strong>ssas palavras, temos o vocábulo hebraico<br />
yoser, que indica a probida<strong>de</strong> ou retidão moral (Dt 9:5). No contexto físico, essa palavra
significa «reto». Tsedaqah também po<strong>de</strong> envolver a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> «conformida<strong>de</strong>». A conduta <strong>do</strong><br />
homem precisa amoldar-se a retos padrões (Gn 30:33). A forma adjetivada <strong>do</strong> termo grego<br />
dikaioo é usada em Cl 4:1 (ou seja, dikaios), on<strong>de</strong> a referência é sobre como os<br />
proprietários <strong>de</strong> escravos <strong>de</strong>veriam tratar equanimemente os seus escravos. <strong>Deus</strong> é justo<br />
(no hebraico, tsadiq) e Salva<strong>do</strong>r (ver Is 45:21). Essas duas qualida<strong>de</strong>s divinas nunca se<br />
manifestam isoladas uma da outra, pois, <strong>do</strong> contrário, não haveria justiça, segun<strong>do</strong> o<br />
conceito escriturístico.<br />
O termo grego dikaiosune po<strong>de</strong> indicar a «probida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Caráter», conforme se esperaria, por<br />
exemplo, da parte <strong>de</strong> um juiz (ver I Clemente 13:1; Ap 19:11; Rm 9:28; Is 10:22; na LXX),<br />
ou, então, «retidão» da parte <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> ou <strong>do</strong>s homens (ver Mt 3:15; 5:6; At 10:35; Fp 1:11;<br />
Hb 12:11; Is. 56:1, na LXX; II Clemente 19:2). A retidão outorgada por <strong>Deus</strong> é um outro<br />
uso <strong>de</strong>ssa mesma palavra. Ver a quinta seção <strong>de</strong>ste artigo, on<strong>de</strong> há uma ampla <strong>de</strong>scrição a<br />
respeito; ver também Rm 5:17. Visto que essa palavra constitui uma virtu<strong>de</strong> específica <strong>do</strong>s<br />
regenera<strong>do</strong>s, torna-se um sinônimo virtual <strong>do</strong> cristianismo (Mt 5.10; I Pe 3.14).<br />
IV. A Justiça Divina<br />
Com «justiça divina» indicamos o fato <strong>de</strong> que a justiça <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> <strong>de</strong>ve julgar ao peca<strong>do</strong> e aos<br />
peca<strong>do</strong>res. Isso <strong>de</strong>ve ser <strong>contra</strong>sta<strong>do</strong> com a seção V, A Justiça <strong>de</strong> <strong>Deus</strong>, que fala sobre<br />
como a justiça <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> é conferida ao indivíduo regenera<strong>do</strong>. Em outras palavras, o atributo<br />
divino da justiça é transmiti<strong>do</strong> aos homens, a fim <strong>de</strong> que se tornem justos, na qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
«filhos <strong>de</strong> <strong>Deus</strong>», compartilhan<strong>do</strong> das qualida<strong>de</strong>s morais <strong>de</strong> <strong>Deus</strong>. Os remi<strong>do</strong>s chegam a<br />
compartilhar das qualida<strong>de</strong>s morais <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> porque também compartilham <strong>de</strong> sua<br />
natureza metafísica, posto que em um senti<strong>do</strong> secundário, apesar <strong>de</strong> perfeitamente real.<br />
Temos provi<strong>do</strong> um artigo separa<strong>do</strong>, intitula<strong>do</strong> Julgamento <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> <strong>do</strong>s Homens Perdi<strong>do</strong>s,<br />
que procura mostrar que os juízos <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> tanto são retributivos (pois corrigem as<br />
injustiças e causam sofrimentos on<strong>de</strong> esses são mereci<strong>do</strong>s) quanto são remediais. Os<br />
próprios sofrimentos têm por finalida<strong>de</strong> restaurar (ver I Pe 4:6). <strong>Deus</strong> não faria qualquer<br />
injustiça se meramente aplicasse a parte retributiva <strong>do</strong> juízo, sem qualquer misericórdia,<br />
<strong>de</strong> forma final e sem qualquer esperança. O primeiro capítulo <strong>de</strong> Romanos mostra-nos isso.<br />
Mas, a começar pelo terceiro capítulo <strong>de</strong> Romanos, o apóstolo mostra-nos que a justiça <strong>de</strong><br />
<strong>Deus</strong> nunca é aplicada cruamente, e, sim, sempre revestida <strong>de</strong> misericórdia e amor. O<br />
evangelho tempera o julgamento <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> com a sua misericórdia e o seu amor. De fato, o<br />
julgamento divino é apenas um <strong>de</strong><strong>do</strong> da sua mão amorosa. A justiça e o julgamento são<br />
la<strong>do</strong>s diferentes <strong>do</strong> mesmo amor. É que <strong>Deus</strong> po<strong>de</strong> fazer certas coisas melhor, através <strong>do</strong><br />
juízo, <strong>do</strong> que através <strong>de</strong> qualquer outro meio. A cruz <strong>do</strong> Calvário foi um julgamento, mas<br />
também foi uma medida restaura<strong>do</strong>ra.<br />
V. A Justiça <strong>de</strong> <strong>Deus</strong><br />
Rm 1:17: Porque no evangelho é revelada, <strong>de</strong> fé em fé, a justiça <strong>de</strong> <strong>Deus</strong>, como está escrito:<br />
Mas o justo viverá da fé.<br />
1. Essa justiça <strong>de</strong>signaria a natureza intrinsecamente santa <strong>de</strong> <strong>Deus</strong>, o seu próprio caráter<br />
justo (ver Rm 3:5).<br />
2. Talvez seja usada no senti<strong>do</strong> <strong>de</strong> que <strong>Deus</strong> vindica a sua justiça, ou seja, torna conhecida<br />
qual seja essa justiça.<br />
3. Todavia, essa justiça não é meramente a <strong>de</strong>scrição <strong>de</strong> um atributo divino, mas também<br />
subenten<strong>de</strong> uma espécie <strong>de</strong> natureza que ele injeta nos remi<strong>do</strong>s. Os homens, uma vez<br />
transforma<strong>do</strong>s segun<strong>do</strong> a imagem <strong>de</strong> Cristo, em senti<strong>do</strong> bem real e literal participam da<br />
santida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> (ver Mt 5:48). A passagem <strong>de</strong> Is 46:13 também contribui para esclarecer
esse aspecto, on<strong>de</strong> lemos: «Faço chegar a minha justiça, e não está longe; a minha salvação<br />
não tardará; mas estabelecerei em Sião o livramento e em Israel a minha glória». Isso indica<br />
a <strong>do</strong>ação das perfeições morais aos remi<strong>do</strong>s. E é a agência <strong>do</strong> evangelho que produz essa<br />
natureza moral nova nos homens.<br />
A santida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> se <strong>de</strong>senvolve nos homens por meio da atuação <strong>do</strong> Espírito Santo, e<br />
essa atuação tem prosseguimento até que os remi<strong>do</strong>s atinjam a perfeição abso<strong>luta</strong>, quan<strong>do</strong><br />
então os crentes serão santos como é santo o seu Pai celestial. Isso po<strong>de</strong> envolver a<br />
eternida<strong>de</strong> inteira, mas o processo tem inicio quan<strong>do</strong> <strong>do</strong> primeiro exercício da fé em Cristo<br />
e em seu evangelho, continuan<strong>do</strong> nas experiências da conversão, da santificação, da<br />
regeneração e da glorificação. Essa modificação moral produz a modificação metafísica.<br />
4. Essa justiça <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> se manifesta por intermédio da fé, porquanto tem início através <strong>do</strong><br />
princípio da fé, como também tem continuação e é sustentada pela fé, tu<strong>do</strong> o que é obra <strong>do</strong><br />
Espírito Santo, que leva a alma humana a <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>r <strong>de</strong> Cristo. Por conseguinte, a justiça <strong>de</strong><br />
<strong>Deus</strong> não se torna realida<strong>de</strong> por meio <strong>de</strong> alguma disciplina mental, e nem através <strong>de</strong><br />
qualquer resolução intelectual, e nem mesmo por qualquer cerimônia religiosa. Mas<br />
<strong>de</strong>pen<strong>de</strong> exclusivamente da operação <strong>do</strong> Espírito <strong>de</strong> <strong>Deus</strong>. E, quan<strong>do</strong> a alma <strong>de</strong> um<br />
indivíduo é sintonizada com essa operação, passa a exercer fé. Assim, pois, a fé consiste na<br />
sintonização da alma com <strong>Deus</strong> e seu Cristo, uma total entrega da personalida<strong>de</strong> inteira a<br />
Jesus Cristo, a fim <strong>de</strong> que possa ser operada na alma a elevada obra divina, <strong>de</strong>scrita no<br />
presente versículo.<br />
5. A justiça <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> no homem, pois, não é apenas uma <strong>de</strong>claração legal, que afirma que<br />
um homem está perfeito em Cristo; antes, é a produção real <strong>de</strong>ssa retidão no indivíduo,<br />
Pois estar perfeito em Cristo é a mesma coisa <strong>de</strong> ter si<strong>do</strong> transforma<strong>do</strong> por ele. É a esse<br />
aspecto <strong>de</strong> nossa salvação que <strong>de</strong>nominamos <strong>de</strong> «santificação».<br />
6. O adjetivo grego «dikaios» (reto, justo), vem da mesma raiz que <strong>de</strong>u a palavra «justiça»,<br />
que aparece no presente versículo; e isso ilustra o senti<strong>do</strong> <strong>de</strong>ssa palavra.<br />
a. Esse adjetivo é usa<strong>do</strong> com relação a <strong>Deus</strong> e a Jesus Cristo. Com relação a <strong>Deus</strong>: I Jo 1:9;<br />
Jo 17:25; Ap 16:5 e Rm 3:26. Com relação a Cristo: I Jo 2:1; 3:7; At 3:14; 7:52 e 22:14. No<br />
presente versículo esse vocábulo indica a norma eterna da santida<strong>de</strong> divina.<br />
b. Esse adjetivo, «justo», também é usa<strong>do</strong> com referência aos homens, não meramente para<br />
<strong>de</strong>notar um caráter reto, mas também dan<strong>do</strong> a enten<strong>de</strong>r alguma forma <strong>de</strong> atribuição ou<br />
participação na própria santida<strong>de</strong> essencial <strong>de</strong> <strong>Deus</strong>. O termo justiça é utiliza<strong>do</strong> como algo<br />
possível para a personalida<strong>de</strong> humana, na passagem <strong>de</strong> Rm 6:13,16,18,20. Nesse trecho, o<br />
contexto mostra-nos que essa justiça <strong>de</strong>corre <strong>de</strong> nossa união espiritual com Cristo, na<br />
forma <strong>de</strong> um batismo espiritual, que é a i<strong>de</strong>ntificação <strong>do</strong>s crentes com a morte e a<br />
ressurreição <strong>de</strong> Jesus Cristo, em condições místicas. Em outras palavras, os benefícios da<br />
morte <strong>de</strong> Cristo — morte para o peca<strong>do</strong>, <strong>de</strong>svencilhamento completo <strong>do</strong> po<strong>de</strong>r e efeito <strong>do</strong><br />
reino das trevas — e os benefícios <strong>de</strong> sua ressurreição, são produzi<strong>do</strong>s por uma forma <strong>de</strong><br />
contato real com o Espírito Santo.<br />
7. Portanto, por justiça <strong>de</strong>vemos compreen<strong>de</strong>r o que é feito tanto na justificação como na<br />
santificação, —os resulta<strong>do</strong>s <strong>de</strong>ssas medidas divinas, opera<strong>do</strong>s na alma <strong>do</strong> crente. A forma<br />
verbal <strong>de</strong> «justificar», no grego, é «dikaioo», o que, nas páginas <strong>do</strong> N.T., po<strong>de</strong> algumas vezes<br />
significar alguma forma <strong>de</strong> pronunciamento judicial acerca <strong>do</strong>s direitos que um homem<br />
tem <strong>de</strong> ficar diante <strong>de</strong> <strong>Deus</strong>, em Cristo Jesus. Todavia, per<strong>de</strong>remos inteiramente <strong>de</strong> vista a<br />
i<strong>de</strong>ia da justificação se ignorarmos o fato <strong>de</strong> que isso também significa fazer justo, não se<br />
resumin<strong>do</strong> a uma mera <strong>de</strong>claração sobre aquela retidão que <strong>de</strong>corre da posição correta <strong>do</strong><br />
crente, diante <strong>de</strong> <strong>Deus</strong>, em Cristo.
Por meio da justificação, o indivíduo recebe o «<strong>do</strong>m da justiça». E é a pessoa que recebe<br />
esse <strong>do</strong>m que reina em Cristo, conforme apren<strong>de</strong>mos em Rm 5:17. Assim sen<strong>do</strong>, a<br />
justificação não consiste em uma simples <strong>de</strong>claração estéril que reconhece a legitima<br />
posição <strong>de</strong> alguém em Cristo, mas antes, requer que ,tal indivíduo se torne<br />
verda<strong>de</strong>iramente justo. Essa verda<strong>de</strong> não tem si<strong>do</strong> vista com muita clareza pela igreja<br />
cristã mo<strong>de</strong>rna, ainda que, felizmente, aquilo que aqui é comenta<strong>do</strong> sobre a justificação, é<br />
transferi<strong>do</strong> para a <strong>do</strong>utrina da santificação, segun<strong>do</strong> a maioria <strong>do</strong>s sistemas teológicos.<br />
«A retidão abso<strong>luta</strong>, tal como a graça e a verda<strong>de</strong> abso<strong>luta</strong>s, revelou-se pela primeira vez no<br />
cristianismo. Trata-se daquela justiça que não somente instaura a lei da letra, e requer a<br />
retidão da parte <strong>do</strong>s homens e que, em seu caráter <strong>de</strong> juiz, profere a sentença e mata; mas<br />
é igualmente aquilo que finalmente se manifesta na união com o amor, ou seja, a graça<br />
divina em forma <strong>de</strong> retidão, produzin<strong>do</strong> essa retidão no homem... ou ainda, em suma:<br />
«A justiça <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> é a auto comunicação da retidão que proce<strong>de</strong> da parte <strong>de</strong> <strong>Deus</strong>, que se<br />
torna justiça na pessoa <strong>de</strong> Cristo, o qual, em seus sofrimentos, como nossa propiciação,<br />
satisfez a justiça da lei (em consonância com as exigências da consciência) e que, mediante<br />
o ato da justificação, aplica ao crente, para santificação <strong>de</strong> sua vida, os méritos da expiação<br />
<strong>de</strong> Cristo». (Lange em Rm 1:17).<br />
Bibliografia. B DAVI I IB ND NTI QS<br />
Esboço:<br />
I. A Palavra e Suas Definições<br />
II. Referências e I<strong>de</strong>ias Bíblicas<br />
III. Exemplos Bíblicos <strong>de</strong> Hipocrisia<br />
IV. Um Emprego Filosófico Útil<br />
V. To<strong>do</strong>s os Religiosos são Hipócritas<br />
I. A Palavra e Suas Definições<br />
HIPOCRISIA<br />
Essa palavra vem <strong>do</strong> verbo grego que significa «replicar». O substantivo era usa<strong>do</strong> para<br />
indicar «aquele que replica» e no uso e <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>sse vocábulo, veio a assumir o<br />
significa<strong>do</strong> <strong>de</strong> ator, partin<strong>do</strong> da i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> que os atores replicam uns aos outros. Finalmente,<br />
o termo passou a significar «ator» quanto a coisas sérias, até adquirir o senti<strong>do</strong> mo<strong>de</strong>rno <strong>de</strong><br />
«<strong>hipócrita</strong>». Essa palavra é usada por vinte vezes no Novo Testamento (sempre nos<br />
evangelhos sinópticos), sempre em mau senti<strong>do</strong>. Lucas usou a forma verbal por uma vez<br />
(Lc 20:20), com o senti<strong>do</strong> <strong>de</strong> «fingir». As autorida<strong>de</strong>s religiosas profanavam a prática<br />
religiosa, transmutan<strong>do</strong>-a em uma peça <strong>de</strong> teatro, chegan<strong>do</strong> ao cúmulo <strong>de</strong> atrair as<br />
multidões, que aplaudiam o espetáculo que davam. E a recompensa <strong>de</strong>las era o aplauso<br />
que recebiam.<br />
No Antigo Testamento en<strong>contra</strong>mos o termo hebraico hanep, que significa «poluí<strong>do</strong>»,<br />
«ímpio». A raiz <strong>de</strong>ssa palavra, hnp, indica aquilo que é antagônico ao que é sagra<strong>do</strong>. Em<br />
algumas ocorrências <strong>de</strong>ssa palavra, a Septuaginta traduz por <strong>hipócrita</strong> (como em Jó 34:20;<br />
36:13), mas essa é apenas uma das traduções possíveis, não sen<strong>do</strong> o seu uso básico. Em<br />
Isaías 32:6, segun<strong>do</strong> a nossa versão portuguesa, o vocábulo hebraico khoneph é traduzi<strong>do</strong><br />
por «usar <strong>de</strong> impieda<strong>de</strong>». A raiz hebraica, acima mencionada, aparece em trechos como Jó<br />
13:16; 15:34; 17:8; 20:5; 27:8; 34:30; 36:13; Pv 11:9 e Is 9:17. A i<strong>de</strong>ia básica é a <strong>de</strong> alguém
que usa <strong>de</strong> duplicida<strong>de</strong>, mostran<strong>do</strong>-se assim ímpio e insincero, culpa<strong>do</strong> <strong>de</strong> levar uma vida<br />
fingida, <strong>hipócrita</strong>.<br />
A hipocrisia consiste em fingir alguém ser aquilo que ele não é, como se estivesse<br />
representan<strong>do</strong> ser melhor <strong>do</strong> que, na realida<strong>de</strong>, é. Essa é a base <strong>do</strong> falso orgulho. Alguém<br />
gostaria <strong>de</strong> ser algo significativo. Não sen<strong>do</strong> isso, o indivíduo apresenta ao público uma<br />
fachada <strong>de</strong> bonda<strong>de</strong> que é falsa ou exagerada. Os sinônimos são a dissimulação, o<br />
<strong>farisaísmo</strong>, o fingimento e a falsa pretensão. O ludibrio sempre faz parte da vida ou <strong>do</strong>s<br />
atos <strong>hipócrita</strong>s.<br />
«A hipocrisia é o ato <strong>de</strong> simular qualida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> personalida<strong>de</strong>, <strong>de</strong> caráter moral e <strong>de</strong><br />
convicções religiosas ou outras crenças que, na verda<strong>de</strong>, não estão presentes no indivíduo,<br />
o qual assume uma aparência falsa. Se o termo hipocrisia é aplica<strong>do</strong>, no uso comum, à<br />
dissimulação <strong>de</strong>liberada ou à insincerida<strong>de</strong> intencional, não <strong>de</strong>veria ser limitada somente à<br />
i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> um ludibrio consciente. Pois esse termo po<strong>de</strong> também aludir <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> coerente,<br />
embora nem sempre bem aceito, às distorções inconscientes <strong>de</strong> algum i<strong>de</strong>al professa<strong>do</strong>, às<br />
discrepâncias ou incoerências não reconhecidas que prevalecem entre aquilo que os<br />
homens dizem <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r, na teoria, e a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> personalida<strong>de</strong> que eles <strong>de</strong>monstram na<br />
prática diária». (E)<br />
II. Referências e I<strong>de</strong>ias Bíblicas<br />
Oferecemos uma completa revisão sobre as referências veterotestamentárias e seu uso,<br />
na seção I. No Novo Testamento, o termo grego upókrisis, «hipocrisia», aparece somente por<br />
sete vezes: Mt 23:28; Mc 12:15; Lc 12:1; Gl 2:13; I Tm 4:2; Tg 5:12; I Pe 2:1. O adjetivo<br />
upokritês, «<strong>hipócrita</strong>», figura por vinte vezes: Mt 6:2,5,16; 7:5; 15:7; 16:3; 22:18; 23:13-<br />
15,23,25,27,29; 24:51; Mc 7:6; Lc 6:42; 11:44; 12:56; e 13:15. To<strong>do</strong>s esses usos ocorrem<br />
nos evangelhos sinópticos, envolven<strong>do</strong>, essencialmente, a <strong>de</strong>núncia <strong>de</strong> Jesus <strong>contra</strong> os<br />
lí<strong>de</strong>res religiosos cuja espiritualida<strong>de</strong> não correspondia à ostentação <strong>de</strong>les em público.<br />
I<strong>de</strong>ias Bíblicas:<br />
<strong>Deus</strong> reconhece e <strong>de</strong>tecta os <strong>hipócrita</strong>s (Is 29:15,16); Cristo reconhecia-os e <strong>de</strong>tectava-os<br />
(Mt 22:18); <strong>Deus</strong> não en<strong>contra</strong> prazer algum na hipocrisia (Is 9:17); um <strong>hipócrita</strong> não po<strong>de</strong><br />
apresentar-se diante <strong>de</strong> <strong>Deus</strong>, esperan<strong>do</strong> o seu favor (Jó 13:16); os <strong>hipócrita</strong>s são cegos por<br />
sua própria vonta<strong>de</strong> (Mt 23:17,19); os <strong>hipócrita</strong>s são justos aos seus próprios olhos (Lc<br />
18:11); e também apreciam a ostentação (Mt 6:2,5); e, além disso, são censura<strong>do</strong>res,<br />
con<strong>de</strong>nan<strong>do</strong> ao próximo (Mt 7:3-5; Lc 13:14,15); promoven<strong>do</strong> as tradições humanas, em<br />
vez da verda<strong>de</strong> divina (Mt 15:1-3); e requerem muitas práticas religiosas triviais, às quais<br />
emprestam um exagera<strong>do</strong> valor (Mt 23:23,24). Além disso, se exibem uma forma externa <strong>de</strong><br />
pieda<strong>de</strong>, não possuem a verda<strong>de</strong>ira espiritualida<strong>de</strong> (II Tm 3:5); professam a fé religiosa,<br />
mas não a praticam (Ez 33:31,32: Mt 23:3; Rm 2:17-23); falam sobre coisas grandiosas,<br />
mas seus atos não correspon<strong>de</strong>m àquilo que dizem (Is 29:13; Mt 15:8). "Gloriam-se nas<br />
meras aparências (II Co 5:12); insistem em ter privilégios especiais (Jr 7:4; Mt 3:9).<br />
Outrossim, oprimem aos incapazes (Mt 23:14); apreciam ocupar lugares proeminentes (Mt<br />
23:6,7); a a<strong>do</strong>ração <strong>de</strong>les não é aceita por <strong>Deus</strong> (Is 1:11-15); procuram <strong>de</strong>struir outras<br />
pessoas com as suas calúnias (Pv 11:9). A hipocrisia está ligada à apostasia (I Tm 4:2);<br />
impe<strong>de</strong> o crescimento na graça divina (I Pe 2:1). Há um «ai» pronuncia<strong>do</strong> <strong>contra</strong> os lí<strong>de</strong>res<br />
religiosos <strong>hipócrita</strong>s (Mt 23:12); o castigo divino aguarda por esses (Js 25:34; Is 10:6; Mt<br />
24:51).<br />
III. Exemplos Bíblicos <strong>de</strong> Hipocrisia
Caim (Gn 4:3); Absalão (II Sm 15:7,8): os ju<strong>de</strong>us, em tempos <strong>de</strong> <strong>de</strong>svio e apostasia (Jr<br />
3:10); os fariseus (Mt 16:3); Judas Iscariotes (Mt 26:49); os herodianos (Mc 12:13,15);<br />
Ananias (At 5:1-8); Simão (At 8:13-23); até mesmo Pedro e Barnabé caíram em peca<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />
hipocrisia, no tocante ao tratamento que <strong>de</strong>veria ser da<strong>do</strong> aos crentes gentílicos, no começo<br />
da dispensação <strong>do</strong> evangelho, conforme nos informa Paulo, em Gl 2:13.<br />
IV. Um Emprego Filosófico Útil<br />
Os filósofos existenciais fornecem-nos um certo discernimento sobre a questão da<br />
hipocrisia. Eles se referem à hipocrisia com o nome <strong>de</strong> existência não autêntica. Quan<strong>do</strong><br />
alguém se amolda à opinião e às expectações públicas, em vez <strong>de</strong> seguir os ditames <strong>de</strong> sua<br />
própria consciência, então está levan<strong>do</strong> uma existência não autêntica. A busca pela<br />
autenticida<strong>de</strong> é uma das principais preocupações <strong>do</strong> homem verda<strong>de</strong>iramente justo. A<br />
Bíblia insiste em que <strong>de</strong>vemos ser autênticos em nossas palavras e em nossas ações.<br />
V. To<strong>do</strong>s os Religiosos são Hipócritas<br />
É fácil chamarmos outras pessoas <strong>de</strong> <strong>hipócrita</strong>s; e é ainda mais fácil sermos tão arrogantes<br />
que nos consi<strong>de</strong>ramos autênticos, enquanto todas as outras pessoas seriam <strong>de</strong>stituídas <strong>de</strong><br />
autenticida<strong>de</strong>. A verda<strong>de</strong> é que todas as pessoas religiosas, incluin<strong>do</strong> até mesmo as<br />
sinceras, e até mesmo aqueles que buscam diligentemente pela autenticida<strong>de</strong>, em certo<br />
grau, são <strong>hipócrita</strong>s. Isso é verda<strong>de</strong> porque o i<strong>de</strong>al está sempre acima <strong>de</strong> nossa capacida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> realização. Além disso, a nossa tendência é tentar apresentar diante <strong>do</strong>s outros a i<strong>de</strong>ia<br />
<strong>de</strong> que temos atingi<strong>do</strong> melhor os i<strong>de</strong>ais <strong>de</strong> sincerida<strong>de</strong> e autenticida<strong>de</strong> <strong>do</strong> que na realida<strong>de</strong><br />
o fizemos. E não somente isso, mas também conseguimos enganar a nós mesmos,<br />
pensan<strong>do</strong> que somos melhores <strong>do</strong> que, na realida<strong>de</strong>, o somos. Portanto, não somente<br />
somos <strong>hipócrita</strong>s diante <strong>de</strong> nossos semelhantes, mas até mesmo diante <strong>de</strong> nós. Todavia,<br />
isso não anula qualquer genuína espiritualida<strong>de</strong>. Devemos continuar subin<strong>do</strong> na direção<br />
<strong>do</strong> i<strong>de</strong>al. A hipocrisia tem muitos níveis. Parte da inquirição espiritual consiste em ir<br />
eliminan<strong>do</strong> a hipocrisia, juntamente com muitos outros <strong>de</strong>feitos <strong>de</strong> caráter, <strong>de</strong>bilida<strong>de</strong>s e<br />
vícios. A humilda<strong>de</strong> é uma virtu<strong>de</strong>, e nos ajuda a anular a hipocrisia.<br />
Bibliografia J. M. Bentes<br />
Fonte: http://www.ebdareiabranca.com/2011/3trimestre/sumario.htm