teologia trinitária da revelação na história proposta - FaJe
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Na trilha dos críticos pós-metafísicos, Vattimo alega possuir motivos suficientes para<br />
justificar o fim <strong>da</strong> metafísica. Muitos são os autores que convergem no intuito de <strong>na</strong>rrar a<br />
<strong>história</strong> do enfraquecimento do ser. Em 1979 Jean François Lyotard publica “A condição pósmoder<strong>na</strong>”,<br />
<strong>na</strong> qual apresenta o pós-moderno como “a increduli<strong>da</strong>de em relação aos<br />
metarrelatos” 25 . Vattimo considera a crise dos grandes relatos, condição de possibili<strong>da</strong>de <strong>da</strong><br />
morte de Deus. Para o autor: “A ideia de pós-moderno como socie<strong>da</strong>de fragmenta<strong>da</strong> se<br />
encontra em Jean François Lyotard, que para mim se tornou uma outra leitura<br />
importantíssima” 26 . Na literatura atual merece destaque a reflexão de Zygmunt Bauman e a<br />
metáfora <strong>da</strong> fluidez, toma<strong>da</strong> <strong>da</strong> química, para se referir ao esvair-se dos “sólidos” de outrora,<br />
a escoar por to<strong>da</strong> a socie<strong>da</strong>de. “Os poderes que liquefazem passaram do ‘sistema’ para a<br />
‘socie<strong>da</strong>de’, <strong>da</strong> ‘política’ para as ‘políticas <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>’ – ou desceram do nível ‘macro’ para o<br />
nível ‘micro’ do convívio social” 27 .<br />
A morte de Deus, momento culmi<strong>na</strong>nte e fi<strong>na</strong>l <strong>da</strong> metafísica, eclode inseparavelmente<br />
liga<strong>da</strong> à crise do humanismo. Entretanto, a constatação de tal óbito não possibilitou a<br />
emancipação do homem28 . A ausência do fun<strong>da</strong>mento desinstala o mar de seguranças do<br />
humano imerso agora no <strong>na</strong>ufrágio de incertezas, com o qual a filosofia e a <strong>teologia</strong> têm de se<br />
haver.<br />
Bruno Forte utiliza a imagem do <strong>na</strong>ufrágio, inspira<strong>da</strong> <strong>na</strong> reflexão de Hans<br />
Blumenberg29 , para ilustrar a situação do sujeito contemporâneo. O período clássico foi<br />
marcado pela experiência <strong>da</strong> posse do porto seguro, do contato com a terra firme, a partir <strong>da</strong><br />
qual se olhava à distância as intempéries do mar. A crise <strong>da</strong> moderni<strong>da</strong>de diminui<br />
gra<strong>da</strong>tivamente a distância entre a terra firme e o mar intempestivo. Inicia-se o processo de<br />
dissolução <strong>da</strong> segurança de outrora a ceder ca<strong>da</strong> vez mais espaço à incerteza. A morte de Deus<br />
(traduzi<strong>da</strong> nos escritos de Bruno Forte, segundo aqui se compreende, pela crise <strong>da</strong>s<br />
25<br />
LYOTARD, J. F. A condição pós-moder<strong>na</strong>. 8. ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 2002. p. XVI.<br />
26<br />
VATTIMO, G.; PATERLINI, P. Non essere Dio: un’autobiografia a quattro mani. Reggio Emilia: Aliberti,<br />
2006. p. 135.<br />
27<br />
BAUMAN, Z. Moderni<strong>da</strong>de líqui<strong>da</strong>. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001. p. 14.<br />
28<br />
Ao interpretar Vattimo, Mardones destaca não se tratar aqui de um ateísmo de reapropiação, em que se busca<br />
elimi<strong>na</strong>r Deus para se reafirmar o ser humano. O “[...] ateísmo postmoderno es un nihilismo positivo.<br />
Sue<strong>na</strong> paradójico, pero es lo que quiere decirse a través de la negaciones anteriores. [...] no hay que entender<br />
la apertura nihilista como ocasión para asentar nuevos valores absolutos. Esto significa recaer de nuevo en el<br />
teísmo, sustituir un absoluto por otro (MARDONES, J. M. Postmoderni<strong>da</strong>d y cristianismo: el desafío del<br />
fragmento. 3.ed. Bilbao: Editorial Sal Terrae, 1988, p. 84-85. Grifo do autor.).<br />
29<br />
Cf. FORTE, B. La Chiesa vuol salvare l’Occidente <strong>da</strong>l <strong>na</strong>ufragio. Il Sole 24 Ore, Martedì 29 Giugno 2010.<br />
Disponível em: . Acesso em: 06 ago. 2010. Neste artigo Bruno Forte cita a obra de<br />
Blumenberg: BLUMENBERG, H. Naufragio con spettatore: paradigma di u<strong>na</strong> metafora dell’esistenza.<br />
Bolog<strong>na</strong>: Il Mulino, 1985.<br />
26