Evolução das características físico-químicas e da maturação
Evolução das características físico-químicas e da maturação
Evolução das características físico-químicas e da maturação
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
Capítulo 2 – Transformação de leite em queijo<br />
No queijo as lipases podem provir <strong><strong>da</strong>s</strong> seguintes fontes: do leite, do coagulante, <strong><strong>da</strong>s</strong> bactérias<br />
iniciais e de preparações de lipases exógenas (Deeth e Fitz-Gerald, 1995; Fox e Wallace, 1997;<br />
McSweenny e Sousa, 2000). Todos os microrganismos são susceptíveis de produzirem lipases<br />
em quanti<strong>da</strong>des que variam consoante as espécies ou as linhagens. Os microrganismos mais<br />
lipolíticos são os bolores (Choisy et al., 1987). O P. camemberti pode produzir grandes<br />
quanti<strong>da</strong>des de lipase exocelular, sendo o principal agente <strong>da</strong> lipólise do queijo Camembert.<br />
Também a lipólise é muito mais intensa na parte superficial, onde pode atingir 30%, do que no<br />
centro do queijo. O Geotrichum candidum, que se desenvolve no início <strong>da</strong> cura, também pode<br />
contribuir para a hidrólise dos triglicéridos, assegurando sobretudo a libertação de ácido oleico<br />
(Choisy et al., 1987).<br />
Nos “queijos azuis” a lipólise resulta essencialmente <strong>da</strong> acção do P. roqueforti. A presença de<br />
duas lipases com especifici<strong>da</strong>des diferentes contribui para diversificar o perfil dos ácidos gordos<br />
livres, <strong>da</strong><strong>da</strong> a diferença <strong><strong>da</strong>s</strong> condições favoráveis à síntese e à acção destas enzimas, uma<br />
sendo favoreci<strong>da</strong> pelos valores de pH ácidos, a outra pelos neutros.<br />
As bactérias lácticas são pouco lipolíticas; os lactobacilos e o Streptococcus thermophilus têm<br />
fraca activi<strong>da</strong>de, mas os estreptococos mesofilos e os Leuconostoc são, em geral, um pouco<br />
mais activos. No entanto, estes microrganismos são responsáveis pela lipólise dos queijos com<br />
flora essencialmente láctica, feitos com leite pasteurizado, e reforçam a acção <strong>da</strong> lipase natural<br />
do leite nos queijos de leite cru, pela sua aptidão na hidrólise dos di- ou os monoglicéridos<br />
(Choisy et al., 1987).<br />
No leite existem uma série de lipases naturais sensíveis à temperatura, sendo necessário um<br />
tratamento de 78 ºC/10 s para a sua inactivação completa. Assim, queijos obtidos a partir de leite<br />
cru ou apenas submetido a tratamentos térmicos muito ligeiros estão sujeitos à acção destas<br />
lipases, que são específicas para a posição 3 do triglicérido, onde na gordura do leite o ácido<br />
butírico (C4) se encontra preferencialmente esterificado o que explica a concentração eleva<strong>da</strong><br />
deste ácido nalguns tipos de queijo (Fox et al., 1999). Também lipases presentes no coalho<br />
animal contribuem para a hidrólise dos triacilgliceróis. Estas lipases apresentam uma activi<strong>da</strong>de<br />
preferencial sobre as ligações éster com ácidos gordos de cadeia curta, sendo responsável pela<br />
libertação do ácido capróico (C6) (Partidário, 1998).<br />
Um queijo com um reduzido teor de gordura não tem sabor típico e contém menos concentração<br />
de ácidos gordos livres do que um queijo com elevado teor de gordura, apoiando a teoria que os<br />
ácidos gordos livres são importantes para o flavour do queijo (Fo<strong>da</strong> et al., 1974; Oslon e<br />
Johnson, 1990; Dimos et al., 1996; Wijesundera et al., 1998).<br />
Os ácidos gordos livres de cadeia longa (> 12 átomos de carbono) são considerados como tendo<br />
um desempenho menor no flavour do queijo, devido ao seu elevado limiar de percepção. Por sua<br />
vez os ácidos gordos livres de cadeia curta e intermédia (C4 – C12) têm limiares de percepção<br />
consideravelmente menores e ca<strong>da</strong> um transmite uma nota de flavour característica. O ácido<br />
butírico (C4) conduz ao flavour a ranço quando em teores muito elevados e em alguns queijos é<br />
P Gomes (2011). Instituto Superior de Agronomia.<br />
14