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Evolução das características físico-químicas e da maturação

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<strong>Evolução</strong> <strong><strong>da</strong>s</strong> <strong>características</strong> <strong>físico</strong>-<strong>químicas</strong> e <strong>da</strong><br />

<strong>maturação</strong> em Queijo Amarelo e Queijo Picante <strong>da</strong> Beira<br />

Baixa DOP: - Composição, fracções azota<strong><strong>da</strong>s</strong> e ácidos<br />

gordos livres.<br />

Paula Alexandra Cardoso Gomes<br />

Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em<br />

Engenharia Alimentar<br />

Orientador: Professor Doutor António Louro Martins<br />

Co-orientador: Doutora Ana Maria Carvalho Partidário<br />

Júri:<br />

Presidente: Doutora Margari<strong>da</strong> Gomes Moldão Martins, Professora Auxiliar do Instituto<br />

Superior de Agronomia <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de Técnica de Lisboa.<br />

Vogais: Doutora Maria Isabel Nunes Januário, Professora Auxiliar do Instituto Superior<br />

de Agronomia <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de Técnica de Lisboa;<br />

Doutor António Pedro Louro Martins, Professor Auxiliar Convi<strong>da</strong>do do Instituto Superior<br />

de Agronomia <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de Técnica de Lisboa;<br />

Doutora Ana Maria Carreira Pereira Carvalho Partidário, Investigadora Auxiliar do<br />

Instituto Nacional de Recursos Biológicos, I.P.<br />

Lisboa, 2011


AGRADECIMENTOS<br />

No culminar desta etapa quero expressar os meus sinceros agradecimentos a todos aqueles que<br />

de alguma forma contribuíram e tornaram possível a realização deste trabalho. Pelo apoio<br />

particularmente relevante justifica-se uma referência especial:<br />

Ao Professor António Martins, na quali<strong>da</strong>de de orientador, pelo empenho demonstrando desde o<br />

primeiro dia ao nível <strong>da</strong> escolha do tema, bem como pela transmissão de conhecimentos, pelo<br />

grande rigor científico, pela exigência, pela constante cedência de documentação bibliográfica,<br />

pela leitura crítica, orientação e correcção do texto escrito.<br />

À Doutora Ana Partidário, pelo precioso incentivo e pelo apoio científico na realização <strong><strong>da</strong>s</strong><br />

análises efectua<strong><strong>da</strong>s</strong>, pela cedência de documentação bibliográfica e leitura crítica do texto<br />

escrito. Não esquecendo o Dr. Rui Miran<strong>da</strong>, Eng.ª Margari<strong>da</strong> Duthoit, Eng.ª Cristina Serrano,<br />

Dona Gracin<strong>da</strong> Manuel, Dona Luísa Oliveira, Eng.ª Cristina Sal<strong>da</strong>nha, Senhor Nelson Rodrigues<br />

pelo apoio constante e aju<strong>da</strong> durante as análises.<br />

A todos os colaboradores <strong>da</strong> DAMAR pela amabili<strong>da</strong>de, em especial à Dona Adriana e à<br />

Engenheira Ana pelo apoio, documentação forneci<strong>da</strong> e disponibili<strong>da</strong>de, pelo fornecimento <strong><strong>da</strong>s</strong><br />

amostras que fizeram parte integrante deste estudo.<br />

A todos os meus amigos, Tânia Matos, Maria Carreira, Romeu Santos, Sara Silva, Samuel<br />

Tomás, em especial ao João Reis, pelo apoio e incentivo ao longo do trabalho.<br />

A to<strong>da</strong> à minha família, em especial aos meus pais e avós a quem tudo devo e que sempre se<br />

sacrificaram para me <strong>da</strong>r o melhor, pelo encorajamento e amor permanentes.<br />

A todos, MUITO OBRIGADA.<br />

I


RESUMO<br />

Neste trabalho foi efectua<strong>da</strong> a monitorização <strong>da</strong> evolução <strong><strong>da</strong>s</strong> <strong>características</strong> <strong>físico</strong>-<strong>químicas</strong> de<br />

queijo representando duas <strong><strong>da</strong>s</strong> Denominações de Origem Protegi<strong>da</strong> de queijo <strong>da</strong> Beira Baixa,<br />

Queijo Amarelo e Queijo Picante, produzido numa uni<strong>da</strong>de de produção reconheci<strong>da</strong> para o<br />

efeito, complementa<strong>da</strong> pelo estudo <strong>da</strong> evolução de alguns índices caracterizadores <strong>da</strong><br />

<strong>maturação</strong>.<br />

Neste contexto uma <strong><strong>da</strong>s</strong> priori<strong>da</strong>des foi o estudo e comparação de duas técnicas analíticas para<br />

determinação de ácidos gordos livres. Esta selecção baseou-se fun<strong>da</strong>mentalmente nas<br />

percentagens de recuperação obti<strong><strong>da</strong>s</strong> para diferentes ácidos gordos livres pelos dois métodos<br />

em estudo.<br />

As amostras de Queijo Amarelo foram recolhi<strong><strong>da</strong>s</strong> aos 5, 30 e 45 dias, e para o Queijo Picante<br />

foram recolhi<strong><strong>da</strong>s</strong> aos 45, 90 e 120 dias.<br />

Com base nos resultados obtidos para a evolução <strong><strong>da</strong>s</strong> <strong>características</strong> <strong>físico</strong>-<strong>químicas</strong>, fracções<br />

azota<strong><strong>da</strong>s</strong> e ácidos gordos livres do queijo, pode acompanhar-se a evolução dos conjuntos de<br />

reacções mais importantes na <strong>maturação</strong> do queijo, glicólise, proteólise e lipólise, tendo sido<br />

obtidos resultados que demonstram diferenças entre o Queijo Amarelo e Queijo Picante. Os<br />

resultados obtidos tendem a evidenciar diferenças acentua<strong><strong>da</strong>s</strong> para os resultados disponíveis na<br />

bibliografia, mostrando um possível efeito na composição de queijo <strong>da</strong> evolução verifica<strong>da</strong> no<br />

fabrico relativamente à época dos estudos referidos.<br />

Palavra-chave: Queijo Picante, Queijo Amarelo, Maturação, Proteólise, Ácidos gordos livres.<br />

II


ABSTRACT<br />

This work was carried out to monitor the evolution of the physicochemical characteristics of<br />

cheese represent two of the Protected Designation of Origin (PDO) from “Beira Baixa” cheese,<br />

the Amarelo cheese and Picante cheese, produced in a plant recognized its production. This<br />

assessment was complemented by studying the evolution of some parameters characterizing the<br />

maturation.<br />

In addition to the assessment of physical and chemical characteristics of the cheese used in the<br />

definition contained in the regulations of the PDO, based on levels of fat and moisture,<br />

parameters such as acidity, pH, nitrogen fractions were considered as well as some relationships<br />

between them, as features of characterization of the cheese repening. Some parameters were<br />

also used to characterize the ripening-related metabolism of fat and lactate (acidity of the fat and<br />

free fatty acids), important aspects with regard to sensory characteristics of cheese, which are<br />

much less used in the characterization of these products, often because the complexity involved<br />

in their analytic determination.<br />

This study describes two analytical techniques (the method of salts and the method of resin)<br />

applied to the determination of free fatty acids in the “Beira Baixa” PDO (protected designation of<br />

origin) cheeses, Amarelo cheese and Picante from cheese in order to choose the best suited to<br />

achieving the best analytical results. This selection was based primarily on the recovery rates<br />

obtained for the different acids studied by two methods.<br />

The assessment of physical and chemical characteristics was also made along the ripening<br />

period in Picante Cheese and Amarelo Cheese.<br />

The samples were collected at 5, 30 and 45 <strong>da</strong>ys for Amarelo Cheese and at 45, 90 and 120<br />

<strong>da</strong>ys for Picante cheese.<br />

Based on the results obtained during the evolution of the physicochemical characteristics and<br />

free fatty acids, the evolution of glycolysis, proteolysis and lipolysis monitored. The results<br />

showed the differences between the Amarelo cheese and Picante cheese. Considering previous<br />

<strong>da</strong>te, the results suggest that the recent production technologies could generate differences on<br />

cheese properties.<br />

Keyword: Picante Cheese, Amarelo Cheese, Cheese ripening, Proteolysis, Free fatty acids.<br />

III


ÍNDICE GERAL<br />

AGRADECIMENTOS ...................................................................................................................I<br />

RESUMO .................................................................................................................................... II<br />

ABSTRACT ................................................................................................................................ III<br />

ÍNDICE DE QUADROS .............................................................................................................. V<br />

ÍNDICE DE FIGURAS................................................................................................................. V<br />

ENQUADRAMENTO E OBJECTIVOS DO TRABALHO ............................................................... 1<br />

PARTE I – REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ....................................................................................... 3<br />

CAPÍTULO 1 – Matéria-prima – o leite ......................................................................................... 3<br />

CAPÍTULO 2 - Transformação de leite em queijo ......................................................................... 8<br />

2.1. – Coagulação ................................................................................................................... 8<br />

2.2. – Maturação.................................................................................................................... 10<br />

2.2.1– Glicólise .................................................................................................................. 11<br />

2.2.2 - Proteólise................................................................................................................. 12<br />

2.2.3 – Lipólise .................................................................................................................. 13<br />

CAPÍTULO 3 – Ácidos gordos ................................................................................................... 15<br />

3.1 – Ácidos gordos saturados ............................................................................................... 15<br />

3.2 – Ácidos gordos insaturados ............................................................................................ 16<br />

3.2.1 – Ácidos gordos monoinsaturados ............................................................................. 17<br />

3.2.2 – Ácidos gordos polinsaturados ................................................................................. 18<br />

3.2.3 – Ácidos gordos de cadeia ramifica<strong>da</strong> ....................................................................... 18<br />

CAPÍTULO 4 – Queijos <strong>da</strong> Beira Baixa - DOP ........................................................................... 19<br />

4.1 – Queijo Amarelo <strong>da</strong> Beira Baixa – DOP .......................................................................... 19<br />

4.1.1 - Caracterização ........................................................................................................ 19<br />

4.1.2 – Tecnologia de fabrico ............................................................................................. 19<br />

4.2 – Queijo Picante <strong>da</strong> Beira Baixa – DOP ........................................................................... 22<br />

4.2.1 – Caracterização ....................................................................................................... 22<br />

4.2.2 - Tecnologia de fabrico .............................................................................................. 22<br />

PARTE II- PARTE EXPERIMENTAL.......................................................................................... 24<br />

CAPÍTULO 5 – METODOLOGIAS ANALÍTICAS ........................................................................ 24<br />

5.1 - Amostras de queijos ...................................................................................................... 24<br />

5.2 – Metodologias usa<strong><strong>da</strong>s</strong> na caracterização <strong>físico</strong>-química <strong><strong>da</strong>s</strong> amostras............................ 26<br />

5.3. – Determinação dos ácidos gordos livres ........................................................................ 27<br />

5.3.1 – Métodos de extracção e preparação <strong><strong>da</strong>s</strong> amostras para determinação dos AGL .... 27<br />

5.3.2 – Métodos de Determinação ..................................................................................... 30<br />

5.3.3 – Vali<strong>da</strong>ção do método de extracção dos ácidos gordos livres................................... 31<br />

CAPÍTULO 6 - Resultados e discussão ..................................................................................... 33<br />

6.1. – Monitorização <strong>da</strong> evolução do Queijo Amarelo <strong>da</strong> Beira Baixa DOP ............................. 34<br />

6.2. – Monitorização <strong>da</strong> evolução do Queijo Picante <strong>da</strong> Beira Baixa DOP .............................. 44<br />

CAPÍTULO 7 - Conclusões ........................................................................................................ 54<br />

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................................... 56<br />

IV


ÍNDICE DE QUADROS<br />

Quadro I - Composição média do leite de duas espécies animais. .............................................. 5<br />

Quadro II - Fracções caseínicas em percentagem <strong>da</strong> caseína total. ............................................ 7<br />

Quadro III - Significado dos códigos atribuídos às amostras de Queijo Amarelo. ....................... 25<br />

Quadro IV - Significado dos códigos atribuídos às amostras de Queijo Picante. ........................ 25<br />

Quadro V - Taxa de recuperação (%) dos métodos utilizados. .................................................. 30<br />

Quadro VI - Composição média do Queijo Amarelo. ................................................................. 34<br />

Quadro VII - Resultados médios obtidos para os índices de <strong>maturação</strong> do Queijo Amarelo. ...... 35<br />

Quadro VIII - Valores dos ácidos gordos livres voláteis em mg AGL/kg amostra. ....................... 38<br />

Quadro IX - Valores dos ácidos gordos livres saturados em mg AGL/kg amostra. ..................... 40<br />

Quadro X - Valores dos ácidos gordos livres insaturados em mg AGL/kg amostra. ................... 42<br />

Quadro XI - Composição média do Queijo Picante. ................................................................... 44<br />

Quadro XII - Resultados médios obtidos para os índices de <strong>maturação</strong> do Queijo Picante. ....... 45<br />

Quadro XIII - Valores dos ácidos gordos livres voláteis em mg AGL/kg amostra. ....................... 48<br />

Quadro XIV - Valores dos ácidos gordos livres saturados em mg AGL/kg amostra. ................... 50<br />

Quadro XV - Valores dos ácidos gordos livres insaturados em mg AGL/kg amostra. ................. 52<br />

ÍNDICE DE FIGURAS<br />

Figura 1 - Estrutura <strong>da</strong> micela de caseína a<strong>da</strong>ptado de Alvarenga, 2008. ................................... 6<br />

Figura 2 - Modelo em corte <strong>da</strong> micela de caseína a<strong>da</strong>ptado de Alvarenga (2008). ...................... 9<br />

Figura 3 - Fases de produção do Queijo Amarelo <strong>da</strong> Beira Baixa – DOP................................... 21<br />

Figura 4 - Fases de produção do queijo Picante <strong>da</strong> Beira Baixa – DOP. .................................... 23<br />

Figura 5 - Esquema eluci<strong>da</strong>tivo dos ensaios efectuados e recolha de amostras. ....................... 24<br />

Figura 6 - <strong>Evolução</strong> <strong>da</strong> composição média do Queijo Amarelo. ................................................. 35<br />

Figura 7 - <strong>Evolução</strong> do pH e <strong>da</strong> Acidez ao longo <strong>da</strong> <strong>maturação</strong> do Queijo Amarelo. .................. 36<br />

Figura 8 - <strong>Evolução</strong> do coeficiente de <strong>maturação</strong> (CM), no Queijo Amarelo. .............................. 37<br />

Figura 9 - <strong>Evolução</strong> dos índices de <strong>maturação</strong> médios no Queijo Amarelo. ............................... 37<br />

Figura 10 - <strong>Evolução</strong> dos ácidos gordos voláteis (mg AGL/kg) no Queijo Amarelo ao longo <strong>da</strong><br />

<strong>maturação</strong>. ................................................................................................................................ 39<br />

Figura 11 - <strong>Evolução</strong> dos ácidos gordos saturados (mg AGL/kg) no Queijo Amarelo ao longo <strong>da</strong><br />

<strong>maturação</strong>. ................................................................................................................................ 41<br />

Figura 12 - <strong>Evolução</strong> dos ácidos gordos insaturados (mg AGL/kg) no Queijo Amarelo ao longo<br />

<strong>da</strong> <strong>maturação</strong>. ........................................................................................................................... 43<br />

Figura 13 - <strong>Evolução</strong> <strong>da</strong> composição média no Queijo Picante.................................................. 45<br />

Figura 14 - <strong>Evolução</strong> do pH e <strong>da</strong> Acidez ao longo <strong>da</strong> <strong>maturação</strong> do Queijo Picante................... 46<br />

Figura 15 - <strong>Evolução</strong> do coeficiente de <strong>maturação</strong> (CM), no Queijo Picante. ............................. 47<br />

Figura 16 - <strong>Evolução</strong> dos índices de <strong>maturação</strong> médios no Queijo Picante. .............................. 47<br />

Figura 17 - <strong>Evolução</strong> dos ácidos gordos voláteis (mg AGL/kg) no Queijo Picante ao longo <strong>da</strong><br />

<strong>maturação</strong>. ................................................................................................................................ 49<br />

Figura 18 - <strong>Evolução</strong> dos ácidos gordos saturados (mg AGL/kg) no Queijo Picante ao longo <strong>da</strong><br />

<strong>maturação</strong>. ................................................................................................................................ 51<br />

Figura 19 - <strong>Evolução</strong> dos ácidos gordos insaturados (mg AGL/kg) no Queijo Picante ao longo <strong>da</strong><br />

<strong>maturação</strong>. ................................................................................................................................ 53<br />

V


Enquadramento e objectivos do trabalho<br />

ENQUADRAMENTO E OBJECTIVOS DO TRABALHO<br />

No nosso País, a designação de alguns produtos alimentares conduz-nos a uma região, às suas<br />

gentes e frequentemente a um modo característico de produção. Tem-se registado nos últimos<br />

anos um interesse crescente em termos científicos e tecnológicos por produtos alimentares<br />

tradicionais manufacturados artesanalmente. Tal interesse deve-se por um lado à sua história e<br />

às <strong>características</strong> organolépticas únicas de tais produtos e por outro, a uma grande dificul<strong>da</strong>de<br />

em imitá-los ao nível <strong>da</strong> produção em grande escala, <strong>da</strong><strong><strong>da</strong>s</strong> as particulari<strong>da</strong>des do fabrico<br />

designa<strong>da</strong>mente a utilização de leite cru. Tal é o caso de diversos queijos feitos com leite cru de<br />

pequenos ruminantes, e em particular dos provenientes <strong>da</strong> Beira Interior (Reis et al., SD).<br />

O queijo Amarelo <strong>da</strong> Beira Baixa e o queijo Picante <strong>da</strong> Beira Baixa são queijos <strong>da</strong> Beira Interior<br />

que beneficiam de uma Denominação de Origem Protegi<strong>da</strong> (DOP), acreditando-se que, devido<br />

ao modo como são produzidos possuem <strong>características</strong> organolépticas únicas. No entanto, tal<br />

como em outras DOPs no nosso País são produtos cujo modo de produção se tem vindo a<br />

a<strong>da</strong>ptar à evolução dos tempos, nomea<strong>da</strong>mente por questões relaciona<strong><strong>da</strong>s</strong> com a rentabili<strong>da</strong>de<br />

do modo de produção, em muitas situações com um impacto pouco positivo nos produtos<br />

nomea<strong>da</strong>mente nas suas <strong>características</strong> típicas (Martins et al., 2000; Martins e Vasconcelos<br />

2003/2004). Como se pode deduzir de muitas <strong><strong>da</strong>s</strong> descrições do modo de produção dos queijos<br />

tradicionais, por exemplo no caso dos queijos <strong>da</strong> Beira Baixa (Carneiro, 1999) as diferenças para<br />

hoje são, por vezes, substanciais e podem ter real impacto nas <strong>características</strong> dos produtos<br />

finais. Na ver<strong>da</strong>de as modificações introduzi<strong><strong>da</strong>s</strong> nem sempre se revelam eficazes por não<br />

acautelarem a manutenção dos factores geradores dessa mesma tipici<strong>da</strong>de (Bertozzi e Pannari,<br />

1993; Bertozzi, 1995; Martins et al., 2000; Martins e Vasconcelos, 2003/2004).<br />

A queijaria tradicional mantém como suporte quer proposita<strong>da</strong>mente quer por limitações<br />

estruturais, diversos factores de variabili<strong>da</strong>de. Mantém-se a utilização do leite cru<br />

predominantemente proveniente de pequenos ruminantes, em lotes relativamente reduzidos,<br />

produção muito marca<strong>da</strong> pelos sistemas tradicionais <strong>da</strong> produção animal. Esta opção tem hoje<br />

como base, a ideia de que to<strong>da</strong> a riqueza <strong>físico</strong>-química e biológica é um factor de<br />

quali<strong>da</strong>de/tipici<strong>da</strong>de do produto final, sendo considera<strong>da</strong> como elo fun<strong>da</strong>mental de ligação do<br />

produto às regiões, garantindo que muitos dos aspectos <strong>físico</strong>-químicos e microbiológicos que<br />

podem ser determinados pelas condições específicas de ca<strong>da</strong> região se possam exprimir no<br />

produto final. Incluímos aqui factores como a espécie produtora e eventualmente a raça, bem<br />

como os sistemas de produção, factores que alguns estudos apontam como relevantes a nível<br />

do produto, estando ain<strong>da</strong> por esclarecer a sua influência a nível dos nossos queijos (Martins e<br />

Vasconcelos, 2003/2004).<br />

É sabido que, as <strong>características</strong> do queijo dependem de inúmeros factores associados quer à<br />

matéria-prima, às suas <strong>características</strong> de composição e microbiológicas, quer aos métodos e<br />

práticas de fabrico (Martins e Vasconcelos, 1993; Bertozzi, 1995; Martins e Vasconcelos, 2001).<br />

No queijo curado, a <strong>maturação</strong> desempenha um papel fun<strong>da</strong>mental na evolução e definição <strong><strong>da</strong>s</strong><br />

proprie<strong>da</strong>des finais dos produtos. A proteólise, pela sua importância tem sido um dos conjuntos<br />

P Gomes (2011). Instituto Superior de Agronomia.<br />

1


Enquadramento e objectivos do trabalho<br />

de reacções mais estu<strong>da</strong><strong><strong>da</strong>s</strong>, mesmo a nível dos queijos nacionais. O mesmo não acontece com<br />

as reacções metabólicas relaciona<strong><strong>da</strong>s</strong> com o metabolismo do lactato e com os fenómenos de<br />

lipólise.<br />

Neste trabalho procurámos estu<strong>da</strong>r a evolução dos ácidos gordos livres nos dois queijos DOP <strong>da</strong><br />

região <strong>da</strong> Beira Baixa referidos, partindo de um trabalho prévio sobre a determinação de ácidos<br />

gordos livres em queijo, para cuja determinação em queijo existem poucas metodologias<br />

estabeleci<strong><strong>da</strong>s</strong>, tornando difícil o seu estudo e quantificação (Chairman, 1991).<br />

Um dos objectivos deste trabalho foi assim, a vali<strong>da</strong>ção de dois métodos (“método dos sais” e o<br />

“método <strong><strong>da</strong>s</strong> resinas”) de extracção e a determinação dos ácidos gordos livres em queijo, na<br />

perspectiva de obtenção de maior percentagem de recuperação.<br />

A partir do método vali<strong>da</strong>do, o objectivo centrou-se no estudo <strong>da</strong> evolução dos ácidos gordos<br />

livres ao longo do processo <strong>da</strong> <strong>maturação</strong> do Queijo Amarelo e Queijo Picante <strong>da</strong> Beira Baixa.<br />

Em complemento destes objectivos foi efectua<strong>da</strong> a avaliação <strong>da</strong> evolução <strong><strong>da</strong>s</strong> proprie<strong>da</strong>des<br />

<strong>físico</strong>-<strong>químicas</strong>, destes produtos, bem como a caracterização do Queijo Amarelo e Queijo do<br />

Picante produzidos na empresa.<br />

P Gomes (2011). Instituto Superior de Agronomia.<br />

2


Capítulo 1 – Matéria-prima – o leite<br />

PARTE I – REVISÃO BIBLIOGRÁFICA<br />

As regiões mediterrâneas, em particular Portugal, são caracteriza<strong><strong>da</strong>s</strong> pela existência de vários<br />

queijos artesanais fabricados a partir de leite de ovelha e cabra. Os queijos artesanais<br />

representavam, em 2007, 22% do total <strong><strong>da</strong>s</strong> ven<strong><strong>da</strong>s</strong> de queijo em Portugal, dos quais apenas 6%<br />

beneficiavam de uma denominação de origem protegi<strong>da</strong> (DOP) (Reis e Malcata, 2007). Segundo<br />

o regulamento (CE) Nº 510/2006 de 20 de Março, uma denominação de origem é defini<strong>da</strong> como<br />

o nome de uma região, de um local determinado ou, em casos excepcionais, de um país que<br />

serve para designar um produto agrícola ou um género alimentício.<br />

Presentemente para além do queijo Amarelo <strong>da</strong> Beira Baixa e do queijo Picante <strong>da</strong> Beira Baixa,<br />

é atribuí<strong>da</strong> Denominação de Origem Protegi<strong>da</strong> aos seguintes queijos portugueses: Queijo de<br />

Cabra Transmontano, Queijo Serra <strong>da</strong> Estrela, Queijo de Castelo Branco, Queijo Rabaçal, Queijo<br />

do Pico, Queijo Terrincho, Queijo de Nisa, Queijo São Jorge, Queijo de Azeitão, Queijo de Serpa,<br />

Queijo de Évora. Estão ain<strong>da</strong> protegi<strong><strong>da</strong>s</strong> pelo mesmo mecanismo o Requeijão Beira Baixa, e o<br />

Requeijão <strong>da</strong> Serra <strong>da</strong> Estrela (Gomes, 2009).<br />

As <strong>características</strong> dos queijos são muito influencia<strong><strong>da</strong>s</strong> pelas proprie<strong>da</strong>des do leite utilizado na<br />

sua produção, dependendo estas de factores como a raça do animal e sua alimentação, ou<br />

ain<strong>da</strong> do clima, ou <strong>da</strong> época do ano e muito importante <strong>da</strong> tecnologia de produção (Cana<strong>da</strong>,<br />

1998).<br />

CAPÍTULO 1 – Matéria-prima – o leite<br />

A matéria-prima utiliza<strong>da</strong> no fabrico dos mais afamados queijos tradicionais é o leite de<br />

pequenos ruminantes, estreme ou em misturas, sem ter sofrido qualquer tratamento térmico, isto<br />

é, leite cru. Este é porventura, o facto de maior relevância para este tipo de produtos, quer como<br />

factor <strong>da</strong> quali<strong>da</strong>de, quer como principal fonte de problemas para a tecnologia e para o produto<br />

(Martins e Vasconcelos, 2003/2004).<br />

Devido à sua complexi<strong>da</strong>de e heterogenei<strong>da</strong>de, o leite nem sempre apresenta a mesma aptidão<br />

para a transformação em queijo. Sendo a principal matéria-prima para o fabrico de queijo, é bem<br />

evidente que a sua composição quantitativa e qualitativa, nomea<strong>da</strong>mente no que se refere à<br />

riqueza em componentes úteis para o fabrico (fracção lipídica e fracção proteica-caseínas,<br />

presença de um bom equilibro mineral relativamente à proteína-cálcio, fósforo, fun<strong>da</strong>mentais no<br />

processo de coagulação enzimática), bem como a sua quali<strong>da</strong>de microbiológica, irão condicionar<br />

fortemente todo o processo tecnológico, nomea<strong>da</strong>mente no que diz respeito ao rendimento e à<br />

quali<strong>da</strong>de do produto final obtido (Baião, 2007).<br />

A acidez e o pH encontram-se normalmente associados à quali<strong>da</strong>de higiénica do leite e ao grau<br />

de frescura do mesmo, fornecendo indirectamente algumas indicações sobre as condições<br />

inerentes à produção e conservação do leite, bem como ao estado sanitário dos animais. Estes<br />

parâmetros condicionam em certa medi<strong>da</strong> o decurso do processo tecnológico de fabrico, as<br />

<strong>características</strong> reológicas do gel, a estrutura e a textura do produto final. O pH é considerado um<br />

P Gomes (2011). Instituto Superior de Agronomia.<br />

3


Capítulo 1 – Matéria-prima – o leite<br />

dos factores mais importantes na coagulação enzimática dos leites de vaca, cabra e ovelha,<br />

sendo a sua influência senti<strong>da</strong> sobretudo a nível do tempo de coagulação e <strong>da</strong> consistência do<br />

gel. Entende-se por tempo de coagulação o período decorrido entre a adição do agente<br />

coagulante e o início de floculação do leite (Vieira Dias et al., 2008).<br />

A preparação do leite para o fabrico de queijo deve ser orienta<strong>da</strong> em função dos objectivos que<br />

se pretendem atingir. O grande desafio estará em conseguir um produto acabado de<br />

<strong>características</strong> <strong>físico</strong>-<strong>químicas</strong>, microbiológicas e organolépticas sempre constantes, com o<br />

menor custo possível, partindo de uma matéria-prima base extremamente variável ao longo do<br />

tempo (Miran<strong>da</strong>, 1998). Como já foi referido há diferenças na produção dos queijos tradicionais,<br />

uma delas é a refrigeração do leite antes do fabrico. É sabido que a utilização <strong>da</strong> refrigeração em<br />

condições deficientes pode tornar-se uma fonte potencial de problemas para o fabrico do queijo,<br />

pois é susceptível de alterar completamente o equilíbrio <strong>da</strong> flora microbiana do leite, favorecendo<br />

o desenvolvimento dos psicrotróficos, agentes de graves problemas na evolução e na quali<strong>da</strong>de<br />

do queijo, os quais apenas têm sido evidentes nos últimos anos, sendo inesperados e até<br />

desconhecidos para a grande maioria dos agentes transformadores. Também a refrigeração<br />

prolonga<strong>da</strong> é problemática sob o ponto de vista <strong>físico</strong>-químico e tecnológico (Martins e<br />

Vasconcelos, 2003/2004).<br />

Através de uma simples observação, é possível verificar que o leite de ovelha apresenta uma cor<br />

branca nacara<strong>da</strong>, ou de porcelana, e que as suas opaci<strong>da</strong>des e viscosi<strong>da</strong>de são maiores que o<br />

leite de cabra, factos estes que são intimamente ligados ao facto de ser um leite mais rico e<br />

concentrado. A riqueza do leite de ovelha é também reconheci<strong>da</strong> quando este se destina ao<br />

fabrico de queijo pois, como se sabe, é particularmente rico em componentes queijeiros<br />

(Carneiro, 1999).<br />

Segundo Mens (1985), o leite de cabra apresenta uma cor branco-mate, tem um sabor<br />

adocicado, por vezes algo salgado, agradável, característico. Quando ordenhado de fresco<br />

possui um sabor mais neutro mas, em contraparti<strong>da</strong>, depois de armazenado no frio, adquire um<br />

sabor característico.<br />

A composição <strong>físico</strong>-química não só difere de espécie para espécie mas também varia dentro de<br />

ca<strong>da</strong> espécie devido a: diferentes raças, fisiologia individual, alimentação em quanti<strong>da</strong>de e em<br />

quali<strong>da</strong>de, estado de lactação, quanti<strong>da</strong>de de leite produzido, estação do ano, i<strong>da</strong>de e o estado<br />

de saúde (Rebelo, 1994).<br />

No Quadro I, é apresenta<strong>da</strong> a composição média de duas espécies utiliza<strong><strong>da</strong>s</strong> na produção de<br />

queijo.<br />

P Gomes (2011). Instituto Superior de Agronomia.<br />

4


Capítulo 1 – Matéria-prima – o leite<br />

Quadro I - Composição média do leite de duas espécies animais.<br />

Designações Ovelha Cabra<br />

Água 86 90<br />

Gordura 7,5 4,5<br />

Proteína 5,6 3,3<br />

Lactose 4,4 4,6<br />

Sais minerais 0,93 0,85<br />

P Gomes (2011). Instituto Superior de Agronomia.<br />

Fonte: A<strong>da</strong>ptado de Rebelo, 1994<br />

Tão ou mais importante do que a proporção dos diferentes componentes, é a composição dos<br />

mesmos, designa<strong>da</strong>mente <strong>da</strong> gordura e <strong>da</strong> proteína, dois dos componentes maiores e de maior<br />

complexi<strong>da</strong>de.<br />

De todos os componentes do leite, a fracção que mais varia é a matéria gor<strong>da</strong>, oscilando a sua<br />

concentração entre 3,2% e 6%. Como já foi referido anteriormente existem factores que<br />

influenciam as concentrações lipídicas do leite. Apesar destas variações podem extrair-se<br />

algumas conclusões gerais; assim, os lípidos apolares constituem aproxima<strong>da</strong>mente 98,5% do<br />

total, e os polares restantes 1,5% (Ramos e Juaréz, 1986).<br />

A importância <strong>da</strong> gordura na quali<strong>da</strong>de do queijo pode considerar-se a partir de três pontos de<br />

vista: como suporte nutricional, pela sua influência nas <strong>características</strong> estruturais e reológicas do<br />

queijo, e pela sua participação na formação do aroma (Nájera et al., 1993).<br />

Os triacilgliceróis são os componentes maioritários <strong>da</strong> gordura do leite de to<strong><strong>da</strong>s</strong> as espécies,<br />

constituindo mais de 95% do total de lípidos. São sempre acompanhados por pequenas<br />

quanti<strong>da</strong>des de di– e monoglicéridos, colesterol livre e seus ésteres, ácidos gordos livres e<br />

fosfolípidos, assim como glicolípidos e outros componentes minoritários como vitaminas<br />

lipossolúveis.<br />

O leite de ovelha, tal como no caso dos restantes ruminantes, possui uma eleva<strong>da</strong> proporção de<br />

ácidos gordos com 4 a 12 átomos de carbono mas tal como no caso do leite de cabra, contém<br />

maior quanti<strong>da</strong>de relativa de ácidos, capróico (C6), caprílico (C8), cáprico (C10), e láurico (C12)<br />

(Ramos e Juaréz, 1986).<br />

A composição dos ácidos gordos é muito influencia<strong>da</strong> por diferentes factores, principalmente<br />

pela alimentação, devido a este factor, os ácidos gordos livres embora alguns tenham pequenas<br />

variações (Anifantakis, 1986), há outros, como os de 4 a 12 átomos de carbono, que podem<br />

atingir variações eleva<strong><strong>da</strong>s</strong> <strong>da</strong> ordem de 128% (Assenat, 1985). As proporções relativas dos<br />

ácidos saturados de C4 (butírico) a C16 (palmítico) evoluem paralelamente, situando-se o<br />

máximo no inicio <strong>da</strong> lactação e o mínimo no final. Os ácidos esteárico (C18) e oleico (C18:1)<br />

seguem uma evolução inversa (Routaboul, 1981). Segundo Noble (1970), imediatamente a<br />

seguir ao parto o leite de ovelha contém concentrações muito eleva<strong><strong>da</strong>s</strong> de ácido oleico que, no<br />

final <strong>da</strong> lactação são menores, aumentando a proporção em ácidos de cadeia mais curta (C6 a<br />

5


Capítulo 1 – Matéria-prima – o leite<br />

C14). A proporção de ácido linoleico (C18:2) vai aumentando ao longo <strong>da</strong> lactação.<br />

Quanto à fracção proteica do leite utilizado no fabrico de queijo é um dos factores com maior<br />

influência no processo de coagulação, condicionando as <strong>características</strong> <strong>da</strong> coalha<strong>da</strong> e do<br />

produto final obtido. A concentração e a dimensão <strong><strong>da</strong>s</strong> micelas de caseína bem como a sua<br />

proporção relativa e ain<strong>da</strong> o teor de cálcio coloi<strong>da</strong>l solúvel, são algumas <strong><strong>da</strong>s</strong> principais<br />

<strong>características</strong> <strong>físico</strong>-<strong>químicas</strong> inerentes ao leite que variam entre espécies e dentro <strong>da</strong> mesma<br />

espécie, dependentes <strong>da</strong> raça, sendo responsáveis pelas proprie<strong>da</strong>des particulares aos queijos<br />

de vaca, de cabra e de ovelha. São também determinantes para o comportamento do leite<br />

durante a coagulação e para as <strong>características</strong> do gel, as quais podem condicionar o tipo de<br />

trabalho que a coalha<strong>da</strong> pode sofrer (Vieira Dias et al., 2008).<br />

Para entender a dinâmica de coagulação, bem como os processos ocorridos durante a cura, foi<br />

fun<strong>da</strong>mental definir um modelo aceitável para o comportamento <strong><strong>da</strong>s</strong> moléculas de proteína bem<br />

como para as alterações que se vão verificando ao longo dos processos mais importantes<br />

durante a obtenção do queijo: a coagulação, a sinérese e a cura.<br />

As moléculas de proteína encontram-se associa<strong><strong>da</strong>s</strong> em partículas que são conheci<strong><strong>da</strong>s</strong> como<br />

micelas de caseína e contêm cerca de 80% <strong>da</strong> proteína do leite. A sua estrutura é coloi<strong>da</strong>l, a<br />

forma pode ser considera<strong>da</strong> esférica e são compostas por várias moléculas agrupa<strong><strong>da</strong>s</strong> em<br />

diferentes tipos αs1-, αs2-, e caseínas k (Dalglish, 1999).<br />

Em todos os modelos de organização estrutural conhecidos, a caseína k aparece na superfície<br />

<strong>da</strong> micela e desempenha um papel fun<strong>da</strong>mental na estabili<strong>da</strong>de do coloide (Dalglish, 1999).<br />

Destes, o mais difundido é o de Schmidt proposto em 1982 e pode observar-se na Figura 1.<br />

Moléculas de caseína k<br />

Centro hidrofóbico<br />

º Ligação Ca9 (PO4)6<br />

A B<br />

A: Subuni<strong>da</strong>de micelar<br />

B: Micela<br />

Figura 1 - Estrutura <strong>da</strong> micela de caseína a<strong>da</strong>ptado de Alvarenga, 2008.<br />

P Gomes (2011). Instituto Superior de Agronomia.<br />

6


Capítulo 1 – Matéria-prima – o leite<br />

Estas subuni<strong>da</strong>des agregam-se entre si por meio do cálcio e do fosfato mineral Ca9 (PO4)6,<br />

formando assim a micela. A agregação é favoreci<strong>da</strong> pela presença dos resíduos fosfoseril<br />

situa<strong><strong>da</strong>s</strong> no exterior <strong><strong>da</strong>s</strong> submicelas, com efeito, estas apresentam uma grande afini<strong>da</strong>de<br />

relativamente ao cálcio e ao fosfato de cálcio.<br />

As proporções relativas <strong><strong>da</strong>s</strong> caseínas nomea<strong>da</strong>mente <strong>da</strong> caseína k, variam consoante as<br />

submicelas. A área superficial ocupa<strong>da</strong> pela componente polar <strong>da</strong> caseína k e, em segui<strong>da</strong><br />

priva<strong>da</strong> de locais de fixação dos elementos k, ou dela priva<strong><strong>da</strong>s</strong>, localizam-se no interior <strong>da</strong><br />

micela, as ricas em caseína k encontram-se no exterior. Assim, o crescimento micelar está<br />

limitado naturalmente, parando quando a superfície <strong>da</strong> micela é forma<strong>da</strong> sobretudo por caseína k<br />

(figura 1B) e a sua componente polar poderá ser projecta<strong>da</strong> para o seio <strong>da</strong> parte aquosa (Brule e<br />

Lenoir, 1987).<br />

No Quadro II são apresentados os teores <strong><strong>da</strong>s</strong> diferentes fracções <strong>da</strong> caseína nos leites de<br />

ovelha e cabra, e permite identificar diferenças quantitativas e qualitativas importantes, as quais<br />

segundo vários autores (Ramos e Juaréz, 1986) têm sido utiliza<strong><strong>da</strong>s</strong> na detecção de misturas de<br />

leites de diferentes espécies.<br />

Quadro II - Fracções caseínicas em percentagem <strong>da</strong> caseína total.<br />

Fracções<br />

Caseínicas<br />

αs1<br />

αs2<br />

β1<br />

β2<br />

Leite de<br />

cabra<br />

12,6<br />

35,9<br />

39,4<br />

k 8,1<br />

ϒ 3,9<br />

75,3<br />

P Gomes (2011). Instituto Superior de Agronomia.<br />

Leite de<br />

ovelha<br />

15,5<br />

14,7<br />

18,9<br />

28,2<br />

7,3<br />

15,4<br />

30,2<br />

47,1<br />

Fonte: A<strong>da</strong>ptado de Martins (1989)<br />

Da leitura deste quadro pode observar-se que, em média, a percentagem de caseínas αs é<br />

niti<strong>da</strong>mente mais eleva<strong>da</strong> no leite de ovelha. O teor em caseínas β é proporcionalmente maior no<br />

leite de cabra. Estas diferenças na distribuição <strong><strong>da</strong>s</strong> várias fracções <strong>da</strong> caseína são bastante<br />

importantes, já que podem ser relaciona<strong><strong>da</strong>s</strong> com a grande varie<strong>da</strong>de de aspectos e de<br />

comportamentos observados nas micelas <strong><strong>da</strong>s</strong> diferentes espécies (Richardson, 1974). Por outro<br />

lado, segundo Assenat (1985), o baixo teor em caseínas αs nos leites de ovelha e cabra<br />

contribuem para a menor frequência ou mesmo ausência de sabores amargos no queijo.<br />

Anifantakis (1986) acrescenta que as diferentes proporções <strong><strong>da</strong>s</strong> caseínas influenciam quer o<br />

7


Capítulo 2 – Transformação de leite em queijo<br />

tempo de coagulação por acção de enzimas quer a firmeza <strong>da</strong> coalha<strong>da</strong>, sendo a coagulação<br />

mais rápi<strong>da</strong> e com uma coalha<strong>da</strong> muito mais firme no que toca ao leite de ovelha.<br />

CAPÍTULO 2 - Transformação de leite em queijo<br />

O fabrico de queijo pode envolver diversas fases, que vão desde a preparação <strong>da</strong> matéria-prima<br />

até ao acabamento final do queijo, sendo a coagulação o fenómeno central tal como o<br />

dessoramento resultante <strong>da</strong> sinérese, sendo por isso trata<strong><strong>da</strong>s</strong> em pormenor a seguir.<br />

Nem to<strong><strong>da</strong>s</strong> as fases se usam ou se promovem <strong>da</strong> mesma maneira ou com a mesma intensi<strong>da</strong>de<br />

em todos os queijos e, por isso, a diversi<strong>da</strong>de é grande. Uma <strong><strong>da</strong>s</strong> fases que pode existir é a<br />

cura, muito complexa mas muito importante na determinação <strong><strong>da</strong>s</strong> <strong>características</strong> finais do queijo,<br />

pelo que é também trata<strong>da</strong> com pormenor a seguir.<br />

2.1. – Coagulação<br />

A coagulação do leite que se traduz pela formação de um gel, resulta <strong><strong>da</strong>s</strong> modificações <strong>físico</strong>-<br />

<strong>químicas</strong> que intervêm ao nível <strong><strong>da</strong>s</strong> micelas de caseínas; os mecanismos propostos na formação<br />

do coágulo diferem totalmente, conforme estas modificações sejam introduzi<strong><strong>da</strong>s</strong> por acidificação<br />

ou pela acção <strong><strong>da</strong>s</strong> enzimas coagulantes (Brule e Lenoir, 1987).<br />

A coagulação enzimática <strong>da</strong> proteína do leite ocorre em duas fases e pode ser efectua<strong>da</strong> por<br />

meio de enzimas de origem animal, vegetal e microbiana predominantemente proteases áci<strong><strong>da</strong>s</strong><br />

ou aspárticas (Alvarenga, 2008).<br />

A coagulação do leite pela acção de enzimas coagulantes tem lugar em duas fases, a fase<br />

primária que se designa por enzimática, durante a qual o coagulante ataca o componente<br />

estabilizador <strong>da</strong> micela e a fase secundária, fase de coagulação, que corresponde à formação do<br />

gel, por associação <strong><strong>da</strong>s</strong> micelas modifica<strong><strong>da</strong>s</strong> pela acção <strong><strong>da</strong>s</strong> enzimas (Brule e Lenoir, 1987).<br />

Na primeira fase o coagulante promove um corte na ligação peptídica existente entre a posição<br />

105 e 106, constituí<strong>da</strong> pelos aminoácidos fenilananina e metionina <strong>da</strong> caseína k (Phe105 –Met106).<br />

A enzima que apresenta maior especifici<strong>da</strong>de para quebra desta ligação, a quimosina, é de<br />

origem animal. Esta acção divide a caseína k em duas fracções: o glicomacropéptido (GMP),<br />

solúvel, hidrofílico, constituído pelos aminoácidos 106-169, o qual fica no soro, e a fracção para-<br />

caseína k, insolúvel, hidrofóbica, constituí<strong>da</strong> pelos aminoácidos 1-105, a qual permanece liga<strong>da</strong><br />

às caseínas αS1 e β e por ser altamente hidrofóbico e alcalino, conduz à destabilização <strong><strong>da</strong>s</strong><br />

micelas (Dalglish, 1999). É uma fase puramente enzimática ao longo <strong>da</strong> qual não se notam<br />

modificações macroscópicas no leite, até que seja atingi<strong>da</strong> uma proporção significativa <strong>da</strong><br />

caseína k (85-90%), implicando uma desestabilização micelar tal que permite que as restantes<br />

caseínas, sensíveis ao cálcio, iniciem um processo de agregação micelar captando o cálcio<br />

iónico disponível na solução, indispensável, portanto, para que se verifique a coagulação<br />

(Martins e Vasconcelos, 2003/2004).<br />

P Gomes (2011). Instituto Superior de Agronomia.<br />

8


Capítulo 2 – Transformação de leite em queijo<br />

A fase secundária é facilmente observável num leite coalhado mantido à temperatura<br />

conveniente. Pode observar-se que a libertação do GMP e a sua passagem para o soro, conduz<br />

a uma importante diminuição <strong>da</strong> carga <strong><strong>da</strong>s</strong> micelas e provavelmente também o seu grau de<br />

hidratação. Por este motivo os dois factores de estabili<strong>da</strong>de encontram-se alcançados, portanto,<br />

podem estabelecer-se as ligações intramicelares que conduzem um aumento de viscosi<strong>da</strong>de<br />

gradual devido á formação de uma estrutura de gel (Brule e Lenoir, 1987). Esta fase designa-se<br />

também por agregação micelar, é uma fase não enzimática, na qual intervêm processos <strong>físico</strong>s,<br />

constituí<strong>da</strong> por uma malha de caseína ca<strong>da</strong> vez mais resistente, a qual aprisiona os<br />

componentes do leite, quer solúveis, quer insolúveis, como a matéria gor<strong>da</strong>. Em simultâneo, o<br />

complexo enzimático vai actuando sobre as caseínas, mais ou menos intensamente em função<br />

<strong><strong>da</strong>s</strong> <strong>características</strong> <strong><strong>da</strong>s</strong> proteases presentes e <strong><strong>da</strong>s</strong> próprias caseínas (Martins e Vasconcelos,<br />

2003/2004).<br />

O modelo <strong>da</strong> micela de caseína que se apresenta na Figura 2, destaca a importância <strong>da</strong> fracção<br />

GMP e promove a sua disposição à superfície <strong>da</strong> micela conferindo-lhe um aspecto filamentoso<br />

(Alvarenga, 2008).<br />

Figura 2 - Modelo em corte <strong>da</strong> micela de caseína a<strong>da</strong>ptado de Alvarenga (2008).<br />

Na segun<strong>da</strong> fase <strong>da</strong> coagulação as micelas modifica<strong><strong>da</strong>s</strong> tendem a agregar-se e a formar uma<br />

rede, inicialmente débil, que vai aprisionando os glóbulos de gordura, a água e os materiais<br />

solúveis em água. A agregação corresponde à formação do gel pela associação de resíduos de<br />

micela modificados e é altamente dependente do pH, <strong>da</strong> temperatura, dos teores em cálcio e em<br />

caseína. Uma subi<strong>da</strong> nestes três últimos factores provoca uma diminuição no tempo de<br />

coagulação e um aumento na firmeza do gel (Lopez et al., 1998).<br />

P Gomes (2011). Instituto Superior de Agronomia.<br />

Submicela<br />

Glicomacropéptido<br />

Ligação fosfato de cálcio<br />

No estado nativo cerca de 80% <strong><strong>da</strong>s</strong> caseínas no leite estão associa<strong><strong>da</strong>s</strong> entre si e com fosfato de<br />

cálcio para formar formas coloi<strong>da</strong>is dispersas de micelas de caseína (Tziboula, 1999), e a<br />

9


Capítulo 2 – Transformação de leite em queijo<br />

maioria dos autores é unânime relativamente à importância decisiva <strong><strong>da</strong>s</strong> ligações fosfato de<br />

cálcio na agregação <strong><strong>da</strong>s</strong> micelas. O número destas ligações aumenta com a concentração de<br />

Ca 2+ no meio mas por outro lado diminui com o decréscimo do pH, pois o nível de fosfato de<br />

cálcio coloi<strong>da</strong>l decresce e este começa a solubilizar a pH inferior a 5,8 (Karlsson et al., 2007).<br />

A agregação de micelas de caseína forma uma estrutura constituí<strong>da</strong> por cordões com cerca de<br />

três uni<strong>da</strong>des micelares de largura e dez de comprimento, alternados por alguns nódulos de<br />

uni<strong>da</strong>des micelares. Estes cordões começam a crescer e a ocupar o volume do recipiente e o gel<br />

começa a formar-se (Green, 1999). A rede entretanto forma<strong>da</strong> é irregular e tem bastantes poros<br />

de vários micrómetros de largura. Posteriormente, as partículas começam a agregar-se em<br />

cadeias ca<strong>da</strong> vez maiores que começam a ramificar e, por fim, formam a estrutura de gel<br />

assumi<strong>da</strong> pela rede proteica conheci<strong>da</strong> como coalha<strong>da</strong> (Alvarenga, 2008).<br />

Devido à natureza dos poros e a dinâmica de formação <strong><strong>da</strong>s</strong> cadeias, a coalha<strong>da</strong> tem tendência a<br />

contrair provocando a exsu<strong>da</strong>ção do líquido. Este fenómeno é conhecido por sinérese (Alais,<br />

1985), corresponde à expulsão espontânea de soro acompanhando o aumento de rigidez do gel,<br />

o qual, a partir de certo momento tem condições para sofrer intervenções físicas externas, como<br />

o corte, de modo a acelerar a saí<strong>da</strong> do soro, completando-se posteriormente o ciclo de fabrico<br />

(Martins e Vasconcelos, 2003/2004). A sinérese depende de vários factores como o tratamento<br />

térmico, a homogeneização do leite, a quanti<strong>da</strong>de de sais como cloreto de cálcio e cloreto de<br />

sódio, a quanti<strong>da</strong>de de agente coagulante, a temperatura de coagulação, o pH e o uso de<br />

práticas como corte e lavagem <strong>da</strong> coalha<strong>da</strong> (Walstra, 1999). O controlo <strong>da</strong> sinérese permite aos<br />

produtores de queijo controlar a humi<strong>da</strong>de final e a activi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> água (aW) <strong>da</strong> coalha<strong>da</strong> fresca e,<br />

assim, exercer influência determinante na dinâmica do processo de <strong>maturação</strong>. Durante a fase<br />

inicial <strong>da</strong> cura observa-se um abaixamento do pH que fomenta o aumento <strong>da</strong> sinérese, devido a<br />

reajustes nas ligações proteína-proteína no gel de caseína (Walstra, 1999).<br />

2.2. – Maturação<br />

O processo de <strong>maturação</strong> (ou cura) corresponde a uma fase de digestão enzimática <strong>da</strong><br />

coalha<strong>da</strong>. Com a coagulação e o dessoramento, assegura-se a presença de um substrato<br />

essencialmente constituído por caseínas, matéria gor<strong>da</strong> e uma fracção dos componentes<br />

solúveis do leite. Este substrato encontra-se povoado por microrganismos e durante a cura os<br />

seus constituintes são transformados, devido à acção de enzimas originalmente presentes na<br />

coalha<strong>da</strong> ou elaborados durante a cura por sínteses microbianas (Choisy et al., 1987). A cura é o<br />

culminar de todo o processo e deverá decorrer em condições que permitam as complexas<br />

reacções que aju<strong>da</strong>m a definir as <strong>características</strong> finais do queijo, numa extensão correcta e<br />

adequa<strong>da</strong>, dificultando em simultâneo a actuação dos agentes perniciosos (Martins e<br />

Vasconcelos, 2003/2004).<br />

A composição básica e a estrutura <strong>da</strong> rede proteica são condiciona<strong><strong>da</strong>s</strong> pelas operações de<br />

P Gomes (2011). Instituto Superior de Agronomia.<br />

10


Capítulo 2 – Transformação de leite em queijo<br />

obtenção <strong>da</strong> coalha<strong>da</strong>. Contudo a <strong>maturação</strong> tem um papel fun<strong>da</strong>mental no desenvolvimento <strong><strong>da</strong>s</strong><br />

<strong>características</strong> individuais de ca<strong>da</strong> queijo. Apesar de haver algumas varie<strong>da</strong>des de queijos que<br />

são consumi<strong><strong>da</strong>s</strong> em fresco, a maioria são consumi<strong><strong>da</strong>s</strong> após um período de <strong>maturação</strong> que pode<br />

ir dos trinta dias até mais de dois anos. Durante este período ocorrem três eventos bioquímicos<br />

primários: o metabolismo <strong>da</strong> lactose, o metabolismo <strong><strong>da</strong>s</strong> proteínas e o metabolismo dos lípidos,<br />

conhecidos por glicólise, proteólise e lipólise, respectivamente. Estas reacções primárias são as<br />

responsáveis pelas alterações ocorri<strong><strong>da</strong>s</strong> durante a cura que mais determinam a textura e o<br />

desenvolvimento do flavour básico dos queijos. No entanto, numerosas modificações<br />

secundárias ocorrem paralelamente e não só são responsáveis pelo desenvolvimento dos<br />

aspectos finos do flavour, como também contribuem para modificar a textura. Estes fenómenos<br />

complexos afectam todos os compostos solúveis e insolúveis <strong>da</strong> matriz e são devidos à acção<br />

<strong><strong>da</strong>s</strong> enzimas do agente coagulante, dos microrganismos e, com menor importância, <strong><strong>da</strong>s</strong> enzimas<br />

nativas do leite (Fox et al., 1999).<br />

Os agentes de cura têm diversas origens, o leite, o coalho, os microrganismos que se encontram<br />

na pasta, estes últimos podem provir do leite, <strong><strong>da</strong>s</strong> leveduras, <strong>da</strong> atmosfera nos locais de fabrico,<br />

do material de queijaria, pertencendo a espécies e a grupos muito diferentes (Choisy et al.,<br />

1987).<br />

O tipo de leite usado é um dos factores mais importantes na <strong>maturação</strong> de queijo devido à<br />

presença de microrganismos de diferentes géneros. Em queijos obtidos a partir de leite cru os<br />

microrganismos dominantes, durante a cura, são bactérias lácticas dos géneros Lactobacillus,<br />

Lactococcus e Enterococcus. Pensa-se que estas bactérias sejam as principais responsáveis<br />

pelo desenvolvimento dos aromas ao longo <strong>da</strong> cura e, enquanto estas crescem, as leveduras,<br />

enterobactérias e estafilococos diminuem drasticamente para valores residuais. No final <strong>da</strong> cura,<br />

estas bactérias lácticas prevalecem e controlam a proliferação de microrganismos indesejáveis<br />

(Dahl et al., 2000).<br />

A diversi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> microflora contribui para a complexi<strong>da</strong>de do processo, pois com as espécies<br />

em associação são frequentes os efeitos de sinergia ou de oposição. Por outro lado, esta<br />

microflora evolui, algumas espécies desenvolvem-se e outras tendem a desaparecer, não existe<br />

um equilíbrio microbiano estável, mas antes uma sucessão de floras com sequências de<br />

aparecimento e desaparecimento coman<strong>da</strong><strong><strong>da</strong>s</strong> pela própria evolução do substrato (Choisy et al.,<br />

1987).<br />

2.2.1– Glicólise<br />

Grande parte <strong>da</strong> lactose é extraí<strong>da</strong> com o soro durante a produção de queijo, apesar de<br />

permanecer sempre uma quanti<strong>da</strong>de de lactose residual dissolvi<strong>da</strong> no soro existente nos poros<br />

<strong>da</strong> matriz <strong>da</strong> coalha<strong>da</strong>. Esta é rapi<strong>da</strong>mente converti<strong>da</strong> em ácido láctico pela acção <strong><strong>da</strong>s</strong> bactérias<br />

lácticas. A acidificação do meio tem um efeito importante na estrutura <strong>da</strong> matriz proteica, por via<br />

P Gomes (2011). Instituto Superior de Agronomia.<br />

11


Capítulo 2 – Transformação de leite em queijo<br />

<strong>da</strong> desmineralização <strong><strong>da</strong>s</strong> micelas de caseína (Lawrence et al., 1987). O metabolismo de lactose<br />

residual completo e extenso é essencial para a produção de queijos de boa quali<strong>da</strong>de e a sua<br />

rapidez depende entre outros factores, <strong>da</strong> quanti<strong>da</strong>de de sal existente na coalha<strong>da</strong>, uma vez que<br />

as bactérias lácticas de arranque são mais sensíveis ao sal do que as bactérias lácticas que não<br />

pertencem a esse grupo (Fox et al., 1999).<br />

Para além <strong><strong>da</strong>s</strong> bactérias lácticas, existem outros microrganismos capazes de fermentar os<br />

monossacáridos <strong>da</strong> lactose e transformá-los em diversos produtos, que podem ser indesejáveis<br />

e produzem defeitos no queijo. Por exemplo, os coliformes transformam a lactose em ácido<br />

láctico, ácido acético e em ácido fórmico, enquanto as leveduras transformam-na não só em<br />

ácidos orgânicos, mas também em álcool, acetaldeído e em dióxido de carbono (Dumais et al.,<br />

1991).<br />

O ácido láctico resultante <strong>da</strong> fermentação <strong>da</strong> lactose também sofre modificações. Por exemplo,<br />

pode combinar-se com o cálcio do soro para formar lactato de cálcio e, dependendo do tipo de<br />

queijo, o lactato e o ácido láctico podem ser fermentados em ácido propiónico (C3), ácido acético<br />

(C2) e dióxido de carbono (CO2) (Dumais et al., 1991).<br />

A evolução do lactato é variável consoante o tipo <strong><strong>da</strong>s</strong> pastas. Nas pastas moles os bolores<br />

degra<strong>da</strong>m-no rapi<strong>da</strong>mente. A sua evolução é especialmente importante entre o quarto e o sétimo<br />

dia. A fermentação <strong>da</strong> lactose e do lactato durante a <strong>maturação</strong> intervém certamente nas<br />

quali<strong>da</strong>des organolépticas dos queijos (Choisy et al., 1987).<br />

2.2.2 - Proteólise<br />

A matriz proteica sofre mu<strong>da</strong>nças estruturais durante a cura. Em queijos recentemente<br />

coagulados, os agregados de caseína perdem a sua forma esférica devido aos fenómenos<br />

ocorridos durante a coagulação, passando a apresentar uma estrutura fibrosa conheci<strong>da</strong> como<br />

rede proteica. À medi<strong>da</strong> que a cura avança, ocorrem processos de dissociação nas proteínas<br />

fibrosas, levando à formação de cama<strong><strong>da</strong>s</strong> com estrutura mais homogénea. O fenómeno<br />

responsável por esta alteração é a proteólise, que é o evento primário mais complexo que ocorre<br />

durante a <strong>maturação</strong> e o mais importante no desenvolvimento do perfil de textura e também de<br />

flavour, muitos autores pensam que a proteólise é mesmo a mais importante transformação que<br />

decorre durante a <strong>maturação</strong> dos mais variados tipos de queijo. A proteólise contribui para as<br />

alterações neste perfil de quatro formas diferentes: libertação de aminoácidos e péptidos, que<br />

podem estar directamente associados ao sabor amargo e, indirectamente através <strong>da</strong> via do<br />

catabolismo dos aminoácidos, pela formação de compostos que contribuem para o flavour como<br />

aminas, ácidos, tióis, tioésteres, entre outros (Alvarenga, 2008). Os ácidos provenientes do<br />

catabolismo dos aminoácidos são o ácido isobutírico (isoC4), ácido isovalérico (isoC5) e ácido<br />

valérico (C5) (Partidário, 1998).<br />

As enzimas responsáveis pela proteólise podem agrupar-se em dois grupos principais: as<br />

P Gomes (2011). Instituto Superior de Agronomia.<br />

12


Capítulo 2 – Transformação de leite em queijo<br />

endoproteinases e as exopepti<strong><strong>da</strong>s</strong>es. As endoproteinases cortam as cadeias polipeptídicas em<br />

ligações peptídicas específicas no interior <strong>da</strong> cadeia, semelhante à especifici<strong>da</strong>de <strong>da</strong> quimosina<br />

para a ligação Phe105-Met106 <strong>da</strong> caseína k. As exopepti<strong><strong>da</strong>s</strong>es hidrolisam um (ou alguns)<br />

aminoácido(s) de ca<strong>da</strong> vez, em ambas as extremi<strong>da</strong>des (N-terminal - aminopepti<strong><strong>da</strong>s</strong>es e C-<br />

terminal -carboxipepti<strong><strong>da</strong>s</strong>es) dos polipéptidos (Alvarenga, 2008). A proteólise é um fenómeno<br />

muito complexo, devido à diversi<strong>da</strong>de <strong><strong>da</strong>s</strong> proteínas do leite e <strong>da</strong> flora microbiana existente e à<br />

varie<strong>da</strong>de <strong><strong>da</strong>s</strong> enzimas proteolíticas que nela participam. Os principais contribuintes para o<br />

processo de proteólise são: o agente coagulante, as proteases e as pepti<strong><strong>da</strong>s</strong>es do fermento<br />

láctico e/ou <strong>da</strong> flora secundária, bem como as enzimas naturais do leite (Grappin, 1985). A<br />

contribuição <strong><strong>da</strong>s</strong> enzimas não naturais do leite para a quali<strong>da</strong>de do queijo é controversa, pois as<br />

que provêem de Lactobacillus, Pedicoccus e Micrococcus trazem efeitos negativos na quali<strong>da</strong>de<br />

do queijo, enquanto que, a maioria <strong><strong>da</strong>s</strong> enzimas contribui para a intensi<strong>da</strong>de do flavour do queijo<br />

(Fox, 1989).<br />

É comum subdividir a proteólise em dois tipos sequenciais: a proteólise primária ou extensão <strong>da</strong><br />

proteólise, que indica até que ponto as caseínas estão hidrolisa<strong><strong>da</strong>s</strong> em péptidos solúveis em<br />

água, sendo medi<strong>da</strong> a partir do quociente entre o azoto solúvel em água e azoto total (o<br />

coeficiente de <strong>maturação</strong>). A fracção solúvel em água é importante no desenvolvimento do<br />

flauvor do queijo é geralmente relaciona<strong>da</strong> com os aromas de fundo característicos do queijo<br />

(Rank, 1985). A proteólise secundária ou o grau de profundi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> proteólise, que mede até<br />

que ponto esses péptidos foram degra<strong>da</strong>dos em péptidos de pequenas dimensões, ou<br />

aminoácidos, podendo ser determina<strong>da</strong> a partir <strong><strong>da</strong>s</strong> relações entre o azoto não proteico ou o<br />

azoto aminoacídico e azoto total (Alvarenga, 2008). A extensão <strong>da</strong> proteólise em queijos obtidos<br />

a partir de agentes coagulantes vegetais é superior à de queijos obtidos a partir de coalho<br />

animal. Pelo contrário, o grau de profundi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> proteólise é semelhante em ambos os tipos de<br />

queijos. Assim, enquanto a extensão <strong>da</strong> proteólise depende <strong><strong>da</strong>s</strong> enzimas do agente coagulante,<br />

o grau de profundi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> proteólise depende <strong><strong>da</strong>s</strong> enzimas microbianas <strong><strong>da</strong>s</strong> bactérias lácticas<br />

(Fox, 1989).<br />

2.2.3 – Lipólise<br />

Uma <strong><strong>da</strong>s</strong> principais reacções bio<strong>químicas</strong> que tem lugar durante a <strong>maturação</strong> do queijo,<br />

essencial para o desenvolvimento de aromas, é a lipólise (Ordónez, 1987).<br />

A lipólise é a hidrólise dos lípidos que ocorre por acção de lipases naturais do leite e de lipases<br />

de origem microbiana. A maior parte dos queijos têm uma activi<strong>da</strong>de lipolítica muito ligeira<br />

durante a cura e muitos consumidores associam um elevado grau de ácidos gordos livres nos<br />

queijos ao sabor a ranço (Fox et al., 1993). As enzimas lipolíticas podem ser classifica<strong><strong>da</strong>s</strong> como<br />

esterases ou lipases, que são diferencia<strong><strong>da</strong>s</strong> de acordo com três <strong>características</strong> principais:<br />

comprimento <strong>da</strong> cadeia éster hidrolisado, natureza <strong>físico</strong>-química do substrato e <strong>da</strong> cinética<br />

enzimática (Chich et al., 1997).<br />

P Gomes (2011). Instituto Superior de Agronomia.<br />

13


Capítulo 2 – Transformação de leite em queijo<br />

No queijo as lipases podem provir <strong><strong>da</strong>s</strong> seguintes fontes: do leite, do coagulante, <strong><strong>da</strong>s</strong> bactérias<br />

iniciais e de preparações de lipases exógenas (Deeth e Fitz-Gerald, 1995; Fox e Wallace, 1997;<br />

McSweenny e Sousa, 2000). Todos os microrganismos são susceptíveis de produzirem lipases<br />

em quanti<strong>da</strong>des que variam consoante as espécies ou as linhagens. Os microrganismos mais<br />

lipolíticos são os bolores (Choisy et al., 1987). O P. camemberti pode produzir grandes<br />

quanti<strong>da</strong>des de lipase exocelular, sendo o principal agente <strong>da</strong> lipólise do queijo Camembert.<br />

Também a lipólise é muito mais intensa na parte superficial, onde pode atingir 30%, do que no<br />

centro do queijo. O Geotrichum candidum, que se desenvolve no início <strong>da</strong> cura, também pode<br />

contribuir para a hidrólise dos triglicéridos, assegurando sobretudo a libertação de ácido oleico<br />

(Choisy et al., 1987).<br />

Nos “queijos azuis” a lipólise resulta essencialmente <strong>da</strong> acção do P. roqueforti. A presença de<br />

duas lipases com especifici<strong>da</strong>des diferentes contribui para diversificar o perfil dos ácidos gordos<br />

livres, <strong>da</strong><strong>da</strong> a diferença <strong><strong>da</strong>s</strong> condições favoráveis à síntese e à acção destas enzimas, uma<br />

sendo favoreci<strong>da</strong> pelos valores de pH ácidos, a outra pelos neutros.<br />

As bactérias lácticas são pouco lipolíticas; os lactobacilos e o Streptococcus thermophilus têm<br />

fraca activi<strong>da</strong>de, mas os estreptococos mesofilos e os Leuconostoc são, em geral, um pouco<br />

mais activos. No entanto, estes microrganismos são responsáveis pela lipólise dos queijos com<br />

flora essencialmente láctica, feitos com leite pasteurizado, e reforçam a acção <strong>da</strong> lipase natural<br />

do leite nos queijos de leite cru, pela sua aptidão na hidrólise dos di- ou os monoglicéridos<br />

(Choisy et al., 1987).<br />

No leite existem uma série de lipases naturais sensíveis à temperatura, sendo necessário um<br />

tratamento de 78 ºC/10 s para a sua inactivação completa. Assim, queijos obtidos a partir de leite<br />

cru ou apenas submetido a tratamentos térmicos muito ligeiros estão sujeitos à acção destas<br />

lipases, que são específicas para a posição 3 do triglicérido, onde na gordura do leite o ácido<br />

butírico (C4) se encontra preferencialmente esterificado o que explica a concentração eleva<strong>da</strong><br />

deste ácido nalguns tipos de queijo (Fox et al., 1999). Também lipases presentes no coalho<br />

animal contribuem para a hidrólise dos triacilgliceróis. Estas lipases apresentam uma activi<strong>da</strong>de<br />

preferencial sobre as ligações éster com ácidos gordos de cadeia curta, sendo responsável pela<br />

libertação do ácido capróico (C6) (Partidário, 1998).<br />

Um queijo com um reduzido teor de gordura não tem sabor típico e contém menos concentração<br />

de ácidos gordos livres do que um queijo com elevado teor de gordura, apoiando a teoria que os<br />

ácidos gordos livres são importantes para o flavour do queijo (Fo<strong>da</strong> et al., 1974; Oslon e<br />

Johnson, 1990; Dimos et al., 1996; Wijesundera et al., 1998).<br />

Os ácidos gordos livres de cadeia longa (> 12 átomos de carbono) são considerados como tendo<br />

um desempenho menor no flavour do queijo, devido ao seu elevado limiar de percepção. Por sua<br />

vez os ácidos gordos livres de cadeia curta e intermédia (C4 – C12) têm limiares de percepção<br />

consideravelmente menores e ca<strong>da</strong> um transmite uma nota de flavour característica. O ácido<br />

butírico (C4) conduz ao flavour a ranço quando em teores muito elevados e em alguns queijos é<br />

P Gomes (2011). Instituto Superior de Agronomia.<br />

14


Capítulo 3 – Ácidos gordos<br />

considerado um flavour característico. O ácido capróico (C6) confere um flavour picante ao<br />

“queijo azul”, enquanto o ácido caprílico (C8) tem sido associado a flavours como sabão, cabra,<br />

ranço e frutado (Molimard e Spinnler, 1996).<br />

CAPÍTULO 3 – Ácidos gordos<br />

A importância dos ácidos gordos no contexto deste trabalho justifica a inclusão de um capítulo<br />

específico, onde se revêem alguns aspectos importantes <strong>da</strong> química e bioquímica dos mesmos<br />

embora já tenham sido feitas algumas referências anteriormente.<br />

Ácido gordo designa qualquer ácido monocarboxílico alifático que possa libertar-se por hidrólise<br />

a partir de óleos ou gorduras naturais.<br />

Os mais importantes e frequentes são os monocarboxílicos, de cadeia linear não ramifica<strong>da</strong>, com<br />

número par de átomos de carbono (entre 4 e 30). Podem ser saturados, insaturados e, por<br />

vezes, hidroxilados (Campos, 2008).<br />

Os ácidos gordos são, em geral, designados por um nome trivial (por exemplo: cáprico, láurico,<br />

palmítico, oleico). O nome sistemático dá informação acerca do comprimento <strong>da</strong> cadeia<br />

carbona<strong>da</strong> pela utilização de um prefixo grego, por exemplo, hexa-, para 6 átomos de carbono,<br />

dodeca -, para 12 átomos de carbono, etc. Os ácidos gordos saturados contêm todos o sufixo -<br />

anóico; os ácidos gordos insaturados contém todos o sufixo -enóico, para uma ligação dupla, o<br />

sufixo -dienóico para duas ligações duplas e o sufixo –trienóico para três ligações duplas<br />

(Partidário, 1998).<br />

Os ácidos gordos constituintes dos trigliceróis <strong>da</strong> gordura de leite de ruminantes podem ser<br />

agrupados em: saturados de cadeia curta (C4 e C6), saturados de cadeia média (C8,C10 e C12),<br />

saturados de cadeia longa (C14, C15, C16 e C18) e insaturados de cadeia longa (C14:1, C16:1,<br />

C18:1 e C18:2). Estes ácidos estão normalmente presentes em teores acima de 1% e<br />

constituem cerca de 95% do total de ácidos gordos. No caso específico do leite de ovelha,<br />

observam-se maiores teores de ácidos saturados de cadeia curta e média (C6 a C12),<br />

comparativamente com o leite de vaca (Partidário, 1998).<br />

3.1 – Ácidos gordos saturados<br />

Os ácidos gordos saturados mais comuns são os de cadeia linear, com número par de átomos<br />

de carbono e contendo 14 a 20 átomos de carbono na molécula. Aparecem contudo na natureza<br />

ácidos carboxilicos com 2 a 30 átomos na sua estrutura e com número ímpar de átomos de<br />

carbono (Partidário, 1998).<br />

O ácido acético (C2) não é frequentemente encontrado sob a forma esterifica<strong>da</strong>, em associação<br />

com ácidos de maior massa molecular. Aparece na forma éster de glicerol, normalmente em<br />

hidroxiglicéridos, em sementes de algumas oleaginosas e leite de ruminantes (Christie, 1987).<br />

Os ácidos de C4 a C12, encontram-se principalmente em gorduras de leites, se bem que os<br />

P Gomes (2011). Instituto Superior de Agronomia.<br />

15


Capítulo 3 – Ácidos gordos<br />

ácidos C8 (caprílico), C10 (cáprico) e C12 (láurico) também apareçam, em quanti<strong>da</strong>des<br />

razoáveis, em alguns óleos de semente (Partidário, 1998).<br />

O ácido mirístico (C14) é um componente pouco importante na maioria dos lípidos animais, com<br />

excepção para os ruminantes onde constitui cerca de 3-4% <strong>da</strong> composição em ácidos gordos do<br />

sebo, atingindo valores mais elevados na gordura dos referidos leites (8-12%). Este ácido gordo<br />

aparece também nos óleos de coco e palmiste (Markley, 1960).<br />

O ácido palmítico (C16) é o ácido gordo saturado mais comum, aparecendo praticamente em<br />

to<strong><strong>da</strong>s</strong> as gorduras vegetais e animais. O ácido esteárico (C18) é também bastante comum e é<br />

geralmente abun<strong>da</strong>nte em lípidos complexos (Christie, 1987). O ácido araquídico (C20)<br />

encontra-se largamente distribuído na natureza, mas é geralmente um componente menor na<br />

maioria <strong><strong>da</strong>s</strong> gorduras.<br />

Os ácidos gordos com número ímpar de átomos de carbono aparecem em muito pouco<br />

quanti<strong>da</strong>de na natureza.<br />

O ácido propiónico (C3) aparece em leite e produtos lácteos, normalmente sob a forma não<br />

esterifica<strong>da</strong> e como resultado de fermentações microbianas.<br />

Os ácidos, valérico (C5) e heptanóico (C7) para além de poderem estar presentes na gordura de<br />

leite e produtos lácteos, podem também encontrar-se na forma de ésteres em alguns óleos<br />

essenciais e essências de frutos.<br />

O ácido pelargónico (C9) para além de presente em gordura de leite e na gordura de cabelo<br />

humano, aparece também no reino vegetal em óleos essenciais, derivando o seu nome <strong>da</strong> sua<br />

presença em óleo de Pelargonium roseum (Christie, 1987).<br />

Os ácidos undecanóico (C11) e tridecanóico (C13), estão presentes em leite e produtos lácteos<br />

em quanti<strong>da</strong>des reduzi<strong><strong>da</strong>s</strong>. O ácido undecanóico aparece, no entanto, em quanti<strong>da</strong>des um pouco<br />

superiores em leite de ovelha. Estes ácidos encontram-se também em gordura de cabelo<br />

humano e em óleo de íris (Christie, 1987).<br />

Os ácidos pentadecnóico (C15) e margárico (C17) aparecem em leites de diferentes espécies,<br />

em óleo de fígado de tubarão, em sebos de algumas espécies.<br />

O ácido nonadecanóico (C19) aparece na gordura do leite de diferentes espécies (Kurtz, 1980).<br />

3.2 – Ácidos gordos insaturados<br />

Quando na cadeia carbona<strong>da</strong> de um ácido gordo aparecem uma ou mais ligações duplas, este é<br />

designado ácido gordo insaturado.<br />

A presença de ligações duplas leva à possibili<strong>da</strong>de de ocorrência de dois tipos de isomerismo:<br />

isomerias geométricas e de posição.<br />

Os isómeros geométricos, estão relacionados com a composição relativa dos átomos de<br />

P Gomes (2011). Instituto Superior de Agronomia.<br />

16


Capítulo 3 – Ácidos gordos<br />

hidrogénio ligados ao carbono <strong>da</strong> dupla ligação. Quando estes se encontram do mesmo lado <strong>da</strong><br />

cadeia carbona<strong>da</strong>, trata-se de uma forma cis. A grande maioria dos ácidos gordos insaturados<br />

presentes na natureza encontra-se na forma cis. Quando os átomos de hidrogénio se encontram<br />

de lados contrários <strong>da</strong> cadeia carbona<strong>da</strong> ocorre uma forma trans.<br />

As moléculas de ácidos gordos na forma trans apresentam-se menos dobra<strong><strong>da</strong>s</strong> em comparação<br />

às dos ácidos gordos na forma cis, o que se traduz num ponto de fusão mais elevado. Esta<br />

característica mantém-se mesmo que a dupla ligação esteja próxima de uma <strong><strong>da</strong>s</strong> extremi<strong>da</strong>des<br />

<strong>da</strong> cadeia (Partidário, 1998).<br />

3.2.1 – Ácidos gordos monoinsaturados<br />

A posição <strong>da</strong> dupla ligação pode ser indica<strong>da</strong> por (n - x), onde, n é o comprimento <strong>da</strong> cadeia dos<br />

ácidos gordos e x é o número de carbonos <strong>da</strong> dupla ligação na região terminal <strong>da</strong> molécula<br />

(Christie, 1987).<br />

O ácido decenóico (C10:1) é o que apresenta a mais baixa massa molecular em gorduras<br />

naturais. Este ácido aparece em todos os leites de ruminantes, sendo normalmente um ácido<br />

menor (Partidário, 1998).<br />

O ácido dodecenóico (C12:1) tem dez isómeros possíveis, sendo o ácido lauroleico o mais<br />

comum, C12:1 (9), e que aparece na gordura de leite, nas formas cis e trans (Partidário, 1998).<br />

O ácido tetradecenóico (C14:1) tem vários isómeros com ocorrência natural em gorduras animais<br />

particularmente em leite de ruminantes e óleos de peixe (Partidário, 1998).<br />

O ácido pentadecenóico (C15:1) tem treze isómeros e apenas um aparece de forma natural,<br />

C15:1 (6) e aparece em óleo de baleia e em leite de ruminantes.<br />

O ácido hexadecenóico (C16:1) tem como o isómero com maior distribuição o ácido palmitoleico,<br />

C16:1 (9). Este ácido pode aparecer também na sua forma trans. Em leites aparece em teores<br />

de 2 – 6%.<br />

O ácido heptadecenóico (C17:1) apresenta vários isómeros, aparece naturalmente em leites. O<br />

que aparece em mair quanti<strong>da</strong>de e o mais comum é o ácido margárico, C17:1 (9). Em leite de<br />

ruminantes, para além <strong>da</strong> ocorrência de outros isómeros cis, aparece pelo menos uma forma<br />

trans.<br />

O ácido octadecenóico (C18:1) tem pelo menos cinco isómeros que podem ocorrer<br />

naturalmente. O mais comum e mais espalhado na natureza é o ácido oleico C18:1 (9). Em leite<br />

este é o ácido gordo insaturado mais importante em termos quantitativos, chegando a valores <strong>da</strong><br />

ordem dos 20 – 25% do total de ácidos gordos constituintes. O ácido elaídico C18:1 (9 trans)<br />

aparece principalmente nas gorduras de ruminantes.<br />

O ácido eicosenóico (C20:1) aparece nas gorduras naturais (Christie, 1987).<br />

P Gomes (2011). Instituto Superior de Agronomia.<br />

17


Capítulo 3 – Ácidos gordos<br />

3.2.2 – Ácidos gordos polinsaturados<br />

Os ácidos polinsaturados têm duas ou mais duplas ligações, as quais se encontram na forma cis<br />

na grande maioria <strong><strong>da</strong>s</strong> gorduras animais. Estes ácidos podem ter até seis insaturações<br />

apresentando pontos de fusão muito baixos.<br />

O ácido linoleico, C18:2 (9,12) encontra-se largamente distribuído no reino vegetal, é também<br />

componente de gorduras animais, sobretudo de leite de diferentes espécies.<br />

O ácido cis – 9, trans – 11 – octadecadienóico, vulgarmente conhecido por CLA ou ácido<br />

linoleico conjugado é reconhecido pelas suas proprie<strong>da</strong>des anticarcinogénicas, e é um<br />

antioxi<strong>da</strong>nte de acção semelhante à vitamina E, que aparecendo naturalmente no leite deverá<br />

ser tido em consideração nos estudos sobre fenómenos oxi<strong>da</strong>tivos em produtos lácteos<br />

(Partidário, 1998).<br />

3.2.3 – Ácidos gordos de cadeia ramifica<strong>da</strong><br />

Os ácidos gordos de cadeia ramifica<strong>da</strong> ocorrem naturalmente na natureza, mas tendem a estar<br />

presentes em pequenas proporções, excepto nas bactérias onde são componentes comuns<br />

(Christie, 1987).<br />

A maioria destes ácidos apresentam uma ramificação simples, normalmente um grupo metilo, na<br />

penúltima posição conta<strong>da</strong> a partir do grupo carboxilo ou na antepenúltima posição.<br />

O ácido isobutírico (iC4) é o ácido gordo de mais baixa massa molecular que contem<br />

ramificações na cadeia carbona<strong>da</strong>. A sua ocorrência em produtos lácteos como por exemplo no<br />

queijo é resultante <strong>da</strong> activi<strong>da</strong>de proteolítica bacteriana, particularmente do metabolismo <strong>da</strong><br />

valina.<br />

Os ácidos isovalérico (iC5) e isocapróico (iC6), estão presentes em produtos lácteos<br />

fermentados, como produto <strong>da</strong> desaminação oxi<strong>da</strong>tiva <strong>da</strong> leucina.<br />

A partir do C9, os ácidos gordos ramificados aparecem como constituintes normais em sebos e<br />

em gordura de leite de ruminantes. Encontram-se normalmente presentes em valores inferiores a<br />

1% (Partidário, 1998).<br />

P Gomes (2011). Instituto Superior de Agronomia.<br />

18


Capítulo 4 – Queijos <strong>da</strong> Beira Baixa – DOP<br />

CAPÍTULO 4 – Queijos <strong>da</strong> Beira Baixa - DOP<br />

4.1 – Queijo Amarelo <strong>da</strong> Beira Baixa – DOP<br />

4.1.1 - Caracterização<br />

O queijo Amarelo <strong>da</strong> Beira Baixa é definido no anexo II do Despacho nº 10518/2007 como sendo<br />

um queijo curado, de pasta semi-dura ou semi-mole, ligeiramente amarela<strong>da</strong>, com alguns olhos<br />

irregulares, obtido pelo esgotamento <strong>da</strong> coalha<strong>da</strong> após coagulação do leite de ovelha cru,<br />

estreme ou mistura de leite de ovelha e cabra, por acção de coalho animal e produzido na área<br />

geográfica delimita<strong>da</strong> de produção. Tem um teor de humi<strong>da</strong>de de 54 a 69%, referido ao queijo<br />

isento de matéria gor<strong>da</strong>, e apresenta um teor de gordura de 45 a 60%, referido ao resíduo seco.<br />

Exibe uma forma de cilindro baixo (prato), regular, com abaulamento lateral e ligeiro na face<br />

superior, sem bordos definidos. Crosta de consistência semi-dura, de aspecto bem forma<strong>da</strong>, fina<br />

e inteira e de cor amarelo ou amarelo-torrado.<br />

A sua pasta é de textura fecha<strong>da</strong>, medianamente amanteiga<strong>da</strong> de aspecto untuoso, com alguns<br />

olhos irregulares, de cor ligeiramente amarela<strong>da</strong>, uniforme. Quanto ao aroma e sabor apresenta<br />

um aroma intenso mas agradável e o sabor limpo e ligeiramente acidulado.<br />

As dimensões e pesos estabelecidos variam para o diâmetro, entre os 12 e os 16 cm, para a<br />

altura de 3 a 5 cm. O peso varia entre 600 e 1000 g. A <strong>maturação</strong> tem um tempo mínimo de 40<br />

dias e decorre em condições que variam entre os 10 e os 18ºC para a temperatura, e entre os 50<br />

e os 70% para a humi<strong>da</strong>de relativa. Ao contrário de outras DOPs nacionais, não está referi<strong>da</strong> na<br />

regulamentação qualquer indicação sobre medi<strong><strong>da</strong>s</strong> de <strong>maturação</strong> do queijo.<br />

4.1.2 – Tecnologia de fabrico<br />

A tecnologia de fabrico conduz a um produto que é antes de mais um alimento, com formas de<br />

apresentação diversifica<strong><strong>da</strong>s</strong>, representando uma enorme variabili<strong>da</strong>de de atributos que vão<br />

desde um produto de <strong>características</strong> muito pouco específicas, mas também muito homogéneo e<br />

reprodutível, sempre igual e apresentado sempre <strong>da</strong> mesma maneira, adequado a um consumo<br />

em massa e também à produção industrial, até um produto quase único, tornado de excelência,<br />

com uma tipici<strong>da</strong>de reconheci<strong>da</strong> mas dificilmente traduzível em definições, mesmo complexas,<br />

tornando-o objecto de procura por parte de apreciadores ou conhecedores (Martins e<br />

Vasconcelos, 2003/2004).<br />

Na empresa onde a componente tecnológica do trabalho foi realiza<strong>da</strong> o leite após o<br />

armazenamento é transferido para o permutador de placas, que o aquece à temperatura de<br />

30ºC. O queijo é fabricado com leite cru.<br />

Findo este processo, o leite de ovelha e cabra, é transferido através de tubagens para a cuba de<br />

coagulação e é misturado nas mais diversas proporções.<br />

Na coagulação usa-se coalho animal comercial, com composição média de 96% de quimosina e<br />

P Gomes (2011). Instituto Superior de Agronomia.<br />

19


Capítulo 4 – Queijos <strong>da</strong> Beira Baixa – DOP<br />

4% de pepsina bovina, produto natural extraído de abomasos (quarto estômago) de vitelos<br />

lactentes. A quanti<strong>da</strong>de utiliza<strong>da</strong> é de 2g. 100 L -1 . O leite estará a uma temperatura de 30ºC<br />

demorando esta operação no máximo 45 minutos (caderno de especificações). A coagulação é<br />

<strong>da</strong><strong>da</strong> por termina<strong>da</strong> quando se obtém um corte vítreo.<br />

Uma vez forma<strong>da</strong> a coalha<strong>da</strong> procede-se ao seu corte que é feito utilizando liras horizontais e<br />

verticais, começando lentamente e aumentando gradualmente a veloci<strong>da</strong>de até o grão ficar<br />

pequeno.<br />

Distribui-se a coalha<strong>da</strong> de uma forma gradual através de uma enchedora automática pelas<br />

formas microperfura<strong><strong>da</strong>s</strong>. Estas são direcciona<strong><strong>da</strong>s</strong> para a prensa horizontal onde os queijos são<br />

submetidos a prensagem durante mais ou menos 2 h 30 min, começando com uma pressão de<br />

1,5 bar, aumentando gradualmente até chegar aos 6 bar.<br />

Termina<strong>da</strong> a prensagem os queijos são desenformados utilizando uma desmol<strong>da</strong>dora, e<br />

mergulhados numa solução antibolor, efectuando-se segui<strong>da</strong>mente a salga dos queijos, sendo o<br />

método utilizado a salga a seco. Neste tipo de salga o sal é aplicado aos queijos imediatamente<br />

após fabrico, de forma empírica.<br />

Segue-se a fase de cura em que as condições de ambiente a manter são de 10 a 18ºC de<br />

temperatura e de 50 a 70% de humi<strong>da</strong>de relativa. Serão efectua<strong><strong>da</strong>s</strong> to<strong><strong>da</strong>s</strong> as operações<br />

necessárias ao óptimo estado de cura, nomea<strong>da</strong>mente viragens e lavagens de forma a manter a<br />

casca limpa e lisa. O período mínimo de cura para o queijo Amarelo <strong>da</strong> Beira Baixa DOP é de 40<br />

dias (caderno de especificações).<br />

Termina<strong>da</strong> a fase de cura ou <strong>maturação</strong>, os queijos são retirados <strong>da</strong> câmara, lavados e enviados<br />

para a expedição onde posteriormente são embalados e acondicionados para a ven<strong>da</strong>. Neste<br />

tipo de queijo é colocado a marca de certificação <strong>da</strong> DOP sobre o rótulo.<br />

As fases de fabrico deste tipo de queijo estão representa<strong><strong>da</strong>s</strong> na Figura 3.<br />

P Gomes (2011). Instituto Superior de Agronomia.<br />

20


Capítulo 4 – Queijos <strong>da</strong> Beira Baixa – DOP<br />

Leite de ovelha<br />

Leite de cabra<br />

Material de rotulagem e<br />

embalagem<br />

Recepção do leite<br />

Armazenamento<br />

Aquecimento<br />

Coagulação<br />

Corte<br />

Enchimento<br />

Prensagem<br />

Salga a seco<br />

Cura<br />

Embalamento<br />

Expedição<br />

Figura 3 - Fases de produção do Queijo Amarelo <strong>da</strong> Beira Baixa – DOP.<br />

P Gomes (2011). Instituto Superior de Agronomia.<br />

Soro<br />

21


Capítulo 4 – Queijos <strong>da</strong> Beira Baixa – DOP<br />

4.2 – Queijo Picante <strong>da</strong> Beira Baixa – DOP<br />

4.2.1 – Caracterização<br />

O queijo Picante <strong>da</strong> Beira Baixa é definido no anexo III do Despacho nº 10518/2007 como sendo<br />

um queijo curado, de pasta dura ou semi-dura, cor ligeiramente acinzenta<strong>da</strong>, textura muito<br />

fecha<strong>da</strong> e quebradiça, sem crosta, obtido por esgotamento <strong>da</strong> coalha<strong>da</strong> após coagulação do leite<br />

de ovelha cru, estreme ou mistura de leite de ovelha e cabra, por acção do coalho animal e<br />

produzido na área geográfica delimita<strong>da</strong> de produção. Tem um teor de humi<strong>da</strong>de de 45 a 63%,<br />

referido ao queijo isento de matéria gor<strong>da</strong> e com um teor de gordura de 35 a 60%, referido ao<br />

resíduo seco.<br />

Apresenta uma forma de cilindro baixo (prato), com faces direitas, lisas e bordos definidos e é<br />

isento de crosta. A sua pasta é de textura fecha<strong>da</strong>, sem olhos ou com pequenos olhos<br />

irregulares apresentando uma cor branca-suja a branca – acinzenta<strong>da</strong>. O seu aroma é activo e<br />

característico, e o sabor forte e acentua<strong>da</strong>mente picante.<br />

Quanto às dimensões é admitido um diâmetro entre 10 a 15 cm, uma altura de 3 a 5 cm e um<br />

peso de 400 a 1000 g.<br />

A <strong>maturação</strong> tem um tempo mínimo de 120 a 150 dias, decorre em condições que variam entre<br />

10 a 18ºC para a temperatura e entre os 70 e os 80% para a humi<strong>da</strong>de relativa. Ao contrário de<br />

outras DOPs nacionais, também neste caso não há qualquer referência regulamentar a medi<strong><strong>da</strong>s</strong><br />

de <strong>maturação</strong> do queijo.<br />

4.2.2 - Tecnologia de fabrico<br />

O Queijo Picante <strong>da</strong> Beira Baixa tem uma forma de produção análoga à do Queijo Amarelo <strong>da</strong><br />

Beira Baixa. Assim, a tecnologia de fabrico deste tipo de queijo utiliza<strong>da</strong> na empresa onde foi<br />

efectua<strong>da</strong> parte do trabalho é exactamente a mesma que a utiliza<strong>da</strong> no fabrico do Queijo<br />

Amarelo anteriormente descrita. Em fresco os dois queijos são rigorosamente similares,<br />

podendo, inclusive, proceder do mesmo lote de produção, sendo apenas pelo processo de cura<br />

que estes dois tipos de queijo se distinguem.<br />

O aspecto mais interessante <strong>da</strong> cura é sem dúvi<strong>da</strong> a forma empírica como o queijo é tratado. O<br />

queijo é virado e raspado constantemente, é adicionado sal em to<strong><strong>da</strong>s</strong> as faces do queijo<br />

consoante a necessi<strong>da</strong>de, que é verifica<strong>da</strong> devido à consistência do queijo.<br />

Passado o tempo de cura os queijos são retirados <strong>da</strong> câmara, lavados e enviados para a<br />

expedição onde posteriormente são embalados, rotulados e acondicionados para a ven<strong>da</strong>.<br />

Este tipo de queijo tem também a particulari<strong>da</strong>de de ser apresentado ao consumidor embrulhado<br />

numa folha de alumínio, devi<strong>da</strong>mente rotulado e apresentado sobre o rótulo a marca de<br />

certificação <strong>da</strong> DOP. As fases de fabrico deste tipo de queijo estão representa<strong><strong>da</strong>s</strong> na Figura 4.<br />

P Gomes (2011). Instituto Superior de Agronomia.<br />

22


Capítulo 4 – Queijos <strong>da</strong> Beira Baixa – DOP<br />

Leite de ovelha<br />

Leite de cabra<br />

Material de rotulagem e<br />

embalagem<br />

Recepção do leite<br />

Armazenamento<br />

Aquecimento<br />

Coagulação<br />

Corte<br />

Enchimento<br />

Prensagem<br />

Salga a seco<br />

Cura<br />

Embalamento<br />

Expedição<br />

Figura 4 - Fases de produção do queijo Picante <strong>da</strong> Beira Baixa – DOP.<br />

P Gomes (2011). Instituto Superior de Agronomia.<br />

Soro<br />

23


Capítulo 5 – Metodologias analíticas<br />

PARTE II- PARTE EXPERIMENTAL<br />

CAPÍTULO 5 – METODOLOGIAS ANALÍTICAS<br />

O trabalho experimental foi realizado em dois locais: (1) na queijaria DAMAR – onde foi fabricado<br />

o queijo e efectuado o acompanhamento <strong>da</strong> <strong>maturação</strong> do queijo e (2) na Uni<strong>da</strong>de de<br />

Investigação e Tecnologias Alimentares do, L-INIA, INRB – onde foi efectua<strong>da</strong> a avaliação <strong>da</strong><br />

evolução <strong><strong>da</strong>s</strong> proprie<strong>da</strong>des <strong>físico</strong>-<strong>químicas</strong> do queijo, bem como a evolução dos ácidos gordos<br />

livres ao longo do processo de <strong>maturação</strong>, após optimização <strong>da</strong> técnica analítica, um dos<br />

objectivos principais deste trabalho.<br />

5.1 - Amostras de queijos<br />

O estudo <strong>da</strong> evolução <strong><strong>da</strong>s</strong> <strong>características</strong> de dois tipos de queijo fabricados na empresa foi<br />

efectuado a partir de um lote de queijo para ca<strong>da</strong> tipo. Para ca<strong>da</strong> tempo de amostragem foram<br />

recolhidos ao acaso dez queijos (n=5 Picante e n=5 Amarelo) após o fabrico. Ca<strong>da</strong> amostra<br />

correspondeu a um quarto de queijo devi<strong>da</strong>mente identificado, o que proporcionou um total de 30<br />

amostras (15 Picante e 15 Amarelo).<br />

A colheita de amostras nas diferentes fases de cura dos queijos está exemplifica<strong>da</strong> na Figura 5<br />

Figura 5 - Esquema eluci<strong>da</strong>tivo dos ensaios efectuados e recolha de amostras.<br />

Foram, assim, recolhi<strong><strong>da</strong>s</strong> 30 amostras de queijo com diferentes dias de <strong>maturação</strong>, pertencendo<br />

ao mesmo lote de fabrico. Ambos os queijos foram obtidos pela coagulação do leite (30ºC/45<br />

min) a partir de coalho animal, mol<strong>da</strong>gem, prensagem e desmol<strong>da</strong>gem automática e uma cura de<br />

até 45 dias (Amarelo) e de até 120 dias (Picante).<br />

A codificação <strong><strong>da</strong>s</strong> amostras foi feita em função do tipo de queijo dos dias de <strong>maturação</strong> e do<br />

número representativo de ca<strong>da</strong> quarto de queijo, conforme os códigos que constam nos Quadros<br />

III e IV.<br />

15 Amostras<br />

de Amarelo<br />

5 Amostras 5 dias cura Análise 45 dias cura 5 Amostras<br />

5 Amostras 30 dias cura Análise<br />

5 Amostras 45 dias cura Análise<br />

P Gomes (2011). Instituto Superior de Agronomia.<br />

90 dias cura<br />

120 dias cura<br />

15 Amostras<br />

de Picante<br />

5 Amostras<br />

5 Amostras<br />

24


Capítulo 5 – Metodologias analíticas<br />

Quadro III - Significado dos códigos atribuídos às amostras de Queijo Amarelo.<br />

Código <strong>da</strong><br />

Amostra<br />

Número<br />

representativo<br />

P Gomes (2011). Instituto Superior de Agronomia.<br />

Tipo de queijo<br />

Tempo de cura<br />

(dias)<br />

1 A5 1 Amarelo 5<br />

2 A5 2 Amarelo 5<br />

3 A5 3 Amarelo 5<br />

4 A5 4 Amarelo 5<br />

5 A5 5 Amarelo 5<br />

1 A30 1 Amarelo 30<br />

2 A30 2 Amarelo 30<br />

3 A30 3 Amarelo 30<br />

4 A30 4 Amarelo 30<br />

5 A30 5 Amarelo 30<br />

1 A45 1 Amarelo 45<br />

2 A45 2 Amarelo 45<br />

3 A45 3 Amarelo 45<br />

4 A45 4 Amarelo 45<br />

5 A45 5 Amarelo 45<br />

Quadro IV - Significado dos códigos atribuídos às amostras de Queijo Picante.<br />

Código <strong>da</strong><br />

Amostra<br />

Número<br />

representativo<br />

Tipo de<br />

queijo<br />

Tempo de cura<br />

(dias)<br />

1 P45 1 Picante 45<br />

2 P45 2 Picante 45<br />

3 P45 3 Picante 45<br />

4 P45 4 Picante 45<br />

5 P45 5 Picante 45<br />

1 P90 1 Picante 90<br />

2 P90 2 Picante 90<br />

3 P90 3 Picante 90<br />

4 P90 4 Picante 90<br />

5 P90 5 Picante 90<br />

1 P120 1 Picante 120<br />

2 P120 2 Picante 120<br />

3 P120 3 Picante 120<br />

4 P120 4 Picante 120<br />

5 P120 5 Picante 120<br />

25


Capítulo 5 – Metodologias analíticas<br />

5.2 – Metodologias usa<strong><strong>da</strong>s</strong> na caracterização <strong>físico</strong>-química <strong><strong>da</strong>s</strong> amostras<br />

De uma forma sumária, a caracterização <strong><strong>da</strong>s</strong> amostras de queijo foi efectua<strong>da</strong> relativamente a<br />

parâmetros de composição e a índices de <strong>maturação</strong> com base nas fracções azota<strong><strong>da</strong>s</strong>, acidez,<br />

pH e acidez <strong>da</strong> gordura, utilizando os métodos seguintes.<br />

Resíduo seco<br />

Na determinação do resíduo seco usou-se o método gravimétrico (ISO 5534, 2004), sendo a<br />

diferença de massas <strong>da</strong> amostra determina<strong>da</strong> após secagem em estufa a 102ºC, até obtenção<br />

de massa constante. Os resultados foram expressos em percentagem (m/m).<br />

Matéria gor<strong>da</strong><br />

O teor em gordura foi determinado segundo o método Van Gulik (NP 2105, 1983), que consiste<br />

na separação <strong>da</strong> fase gor<strong>da</strong> <strong>da</strong> amostra por centrifugação (1000-1200 rpm), num butirómetro<br />

Van Gulik, após dissolução <strong><strong>da</strong>s</strong> proteínas do queijo pelo ácido sulfúrico e com a separação <strong>da</strong><br />

gordura facilita<strong>da</strong> pela adição de uma pequena quanti<strong>da</strong>de de álcool isoamílico. Os resultados<br />

foram expressos em percentagem (m/m).<br />

Proteína bruta<br />

A amostra é digeri<strong>da</strong> com uma mistura de ácido sulfúrico concentrado e sulfato de potássio. O<br />

sulfato de cobre (II) é utilizado como um catalisador para, assim, converter o nitrogénio orgânico<br />

presente para sulfato de amónio. O teor de azoto é calculado a partir <strong>da</strong> quanti<strong>da</strong>de de amónia<br />

produzi<strong>da</strong> e o teor de proteína bruta através do teor de nitrogénio obtido, com um factor de<br />

conversão de 6,38 (ISO 17837, 2008).<br />

Cloretos<br />

A amostra é suspensa em água. Esta suspensão é acidifica<strong>da</strong> com ácido nítrico, e em segui<strong>da</strong>,<br />

os iões cloretos são titulados potenciometricamente com uma solução de nitrato de prata<br />

padroniza<strong>da</strong> (ISO 5943, 2006).<br />

pH<br />

A determinação do pH foi efectua<strong>da</strong> por potenciometria à temperatura de 20ºC na dispersão do<br />

queijo em água destila<strong>da</strong>, com uma diluição de 1:5. Para isso utilizou-se um potenciómetro,<br />

munido de um eléctrodo combinado de vidro (Afnor – Itsv, 1986).<br />

Acidez<br />

A acidez foi determina<strong>da</strong> por titulação com solução alcalina de hidróxido de sódio 0,1 N, após<br />

extracção dos componentes solúveis em água destila<strong>da</strong> a 40ºC (AOAC – 1984). Os resultados<br />

foram expressos em g ácido láctico/100g queijo.<br />

P Gomes (2011). Instituto Superior de Agronomia.<br />

26


Capítulo 5 – Metodologias analíticas<br />

Acidez na gordura<br />

A acidez na gordura foi determina<strong>da</strong> por titulação com solução padrão de hidróxido de tetrabutil<br />

amónio, usando uma solução de azul de timol como indicador (ISO 1740:2004). Os resultados<br />

foram expressos em mmol/100g gordura.<br />

Fracções azota<strong><strong>da</strong>s</strong> e coeficiente de <strong>maturação</strong><br />

As determinações do teor em azoto solúvel em água, azoto solúvel em ácido tricloroacético<br />

(TCA) a 12% e em ácido fosfotúngstico (PTA) a 5%, no queijo foram efectua<strong><strong>da</strong>s</strong> segundo a<br />

a<strong>da</strong>ptação <strong>da</strong> metodologia proposta por Kuchroo e Fox (1982). O azoto solúvel em água foi<br />

doseado sobre 5 g do extracto límpido pelo método de Kjel<strong>da</strong>hl, parcialmente automatizado com<br />

sistema Kjeltec I.<br />

A um volume de extracto aquoso de queijo obtido para o azoto solúvel em água adicionou-se<br />

igual volume de TCA a 24% (m/v) e filtrou-se com papel de filtro Whatman nº40. O azoto do<br />

filtrado foi determinado pelo método de Kjel<strong>da</strong>hl parcialmente automatizado com sistema Kjeltec<br />

l.<br />

Ao extracto aquoso do queijo (5 mL) adicionou-se ácido sulfúrico 3,95 M e (3,5 mL) de ácido<br />

fosfotúngstico a 33,3% (1,5 mL) e filtrou-se com papel de filtro Whatman nº542. O azoto do<br />

filtrado foi determinado pelo método de Kjel<strong>da</strong>hl parcialmente automatizado com sistema Kjeltec<br />

l.<br />

5.3. – Determinação dos ácidos gordos livres<br />

5.3.1 – Métodos de extracção e preparação <strong><strong>da</strong>s</strong> amostras para determinação dos AGL<br />

Os métodos a seguir descritos foram os estu<strong>da</strong>dos para vali<strong>da</strong>r qual o melhor método a seguir,<br />

usando o queijo como amostra.<br />

A determinação quantitativa dos ácidos gordos individuais envolve normalmente três fases:<br />

extracção <strong>da</strong> gordura, separação dos ácidos gordos livres dos triacilgliceróis e quantificação dos<br />

ácidos gordos livres.<br />

Extracção <strong>da</strong> gordura e ácidos gordos livres, preparação <strong><strong>da</strong>s</strong> amostras de queijo (Método<br />

<strong><strong>da</strong>s</strong> resinas).<br />

Pesou-se 10 g de queijo para um almofariz, juntou-se 30 mL de ácido clorídrico (25%),<br />

30 mL de etanol e homogeneizou-se.<br />

Colocou-se a mistura em ampola de decantação e procedeu-se a 3 extracções com<br />

mistura de 25 mL de éter etílico e 25 mL de éter petróleo.<br />

Retirou-se a fase etérea e evaporou-se em evaporador rotativo.<br />

P Gomes (2011). Instituto Superior de Agronomia.<br />

27


Capítulo 5 – Metodologias analíticas<br />

A gordura assim extraí<strong>da</strong> secou-se na estufa durante 30 min a cerca de 60ºC.<br />

Pesou-se 250 mg de amostra de gordura para um balão de Erlenmeyer de 50 mL.<br />

Dissolveu-se a amostra em 30 mL <strong>da</strong> solução de acetona/metanol (2:1).<br />

Adicionou-se 500 mg de resina Amberlyst A-21 e 1 mL <strong>da</strong> solução de padrão interno C7<br />

(dissolvido em mistura acetona/metanol (2:1) numa concentração de 1:50).<br />

Colocou-se em agitação durante 1 hora com a aju<strong>da</strong> de um agitador magnético.<br />

Decantou-se a mistura dos solventes arrastou-se os trigliceridos ou impurezas,<br />

deixando-se as resinas no fundo do Erlenmeyer.<br />

Lavou-se as resinas sob agitação, em 30 mL de diclorometano durante 30 minutos,<br />

arrastando-se os resíduos de trigliceridos<br />

Filtrou-se por papel de filtro e funil de Buchner, fezendo 3 lavagens com 5 mL de<br />

diclorometano (3×5).<br />

Secou-se a resina ao ar em hotte durante cerca de 1 hora.<br />

Transferiu-se as resinas já secas para um frasco de metilação.<br />

Adicionou-se às resinas 5 mL de solução trifluoreto de boro em metanol a 14%.<br />

Aqueceu-se em banho de água a 80ºC durante 30 min.<br />

Retirou-se o frasco do banho e deixou-se arrefecer a temperatura ambiente.<br />

Juntaram-se 2 mL de solução de cloreto de sódio e 2 mL de isoctano, deixando separar<br />

as duas fases.<br />

Injectou-se 2 µL <strong>da</strong> fase superior orgânica no cromatógrafo (programa “FFA lácteos”).<br />

Extracção <strong>da</strong> gordura e ácidos gordos livres, preparação <strong><strong>da</strong>s</strong> amostras de queijo<br />

(Método dos sais).<br />

Adicionou-se a 15 g de amostra de queijo moí<strong>da</strong>, 20 mL de solução aquosa de ácido<br />

sulfúrico (10% p/v), em almofariz e procedeu-se à homogeneização <strong>da</strong> mistura.<br />

Em ampola de decantação adicionou-se 100 mL de mistura (1:1) de éter etílico e éter de<br />

petróleo, onde já se encontrava amostra homogeneiza<strong>da</strong>, adicionou-se 1 mL <strong>da</strong> solução<br />

P Gomes (2011). Instituto Superior de Agronomia.<br />

28


Capítulo 5 – Metodologias analíticas<br />

padrão interno C7 (20 µL de C7 em 25 mL de éter etílico).<br />

Após se ter verificado a limpidez retirou-se para um balão de Erlnemyer a fase superior<br />

com o auxílio de uma pipeta.<br />

Repetiu-se a extracção 3 vezes com 50 mL de mistura (1:1) de éter etílico e éter de<br />

petróleo.<br />

Adicionou-se algumas gotas de solução alcoólica de fenolftaleína às fases etéreas<br />

recolhi<strong><strong>da</strong>s</strong> e procedeu-se à neutralização com excesso de solução aquosa NaOH 0,1 M.<br />

Separou-se com água milli-Q em ampola de decantação os sais de ácidos gordos livres,<br />

fazendo 5 lavagens (10 mL) com 3 neutralizações com solução aquosa NaOH 0,1 M.<br />

Retirou-se a fase aquosa inferior para um balão de evaporação.<br />

Evaporou-se no evaporador rotativo e, depois de evapora<strong>da</strong> foi arrefeci<strong>da</strong> e adicionou-se<br />

3 mL de solução trifluoreto de boro em metanol a 14%.<br />

Transferiu-se esta mistura para um frasco de metilação, e aqueceu-se em banho de<br />

água a 80 ºC durante 30 min.<br />

Retirou-se o frasco do banho e deixou-se arrefecer à temperatura ambiente.<br />

Juntou-se 3 mL de solução de cloreto de sódio mais 2 mL de isoctano.<br />

Agitou-se e injectou-se 2 µL <strong>da</strong> fase superior <strong>da</strong> mistura no cromatógrafo (programa<br />

“FFA lácteos”).<br />

As taxas de recuperação obti<strong><strong>da</strong>s</strong> para os diferentes ácidos gordos nos dois métodos de<br />

extracção ensaiados estão representa<strong><strong>da</strong>s</strong> no Quadro V.<br />

P Gomes (2011). Instituto Superior de Agronomia.<br />

29


Capítulo 5 – Metodologias analíticas<br />

Quadro V - Taxa de recuperação (%) dos métodos utilizados.<br />

% Recuperação<br />

(sais)<br />

P Gomes (2011). Instituto Superior de Agronomia.<br />

% Recuperação<br />

(resinas)<br />

isoC4 134 16<br />

C4 135 25<br />

isoC5 146 26<br />

C6 123 27<br />

C7 pi 129 41<br />

C8 120 27<br />

C10 106 23<br />

C12 99 19<br />

C14 71 16<br />

C16 65 16<br />

C18 54 10<br />

Como se pode observar o método dos sais apresenta valores de recuperação bastante<br />

superiores, tendo por isso sido este, o método utilizado para acompanhar a evolução de ácidos<br />

gordos livres no Queijo Amarelo e no Queijo Picante <strong>da</strong> Beira Baixa.<br />

5.3.2 – Métodos de Determinação<br />

A técnica mais utiliza<strong>da</strong> para quantificar os níveis de ácidos gordos livres individuais no queijo é<br />

a cromatografia gasosa, técnica dominante para a análise de rotina dos ácidos gordos livres<br />

(Chairman, 1991).<br />

A cromatografia gasosa é um método <strong>físico</strong> de separação onde há uma partição de compostos<br />

entre as duas fases, uma <strong><strong>da</strong>s</strong> quais estacionária e de grande área especifica e a outra móvel, um<br />

fluido gasoso que circula através <strong>da</strong> primeira (Silva, 2006). A separação é devi<strong>da</strong> às diferenças<br />

<strong><strong>da</strong>s</strong> constantes de partição de ca<strong>da</strong> um dos componentes <strong>da</strong> amostra entre a fase líqui<strong>da</strong> e a<br />

fase gasosa.<br />

Esta técnica analítica envolve três fases: volatilização dos componentes <strong>da</strong> amostra num<br />

injector, separação dos componentes <strong>da</strong> mistura gasosa na coluna cromatográfica e detecção de<br />

ca<strong>da</strong> um dos componentes á medi<strong>da</strong> que chega ao detector (Grob, 1985).<br />

As condições de análise no cromatógrafo utilizado (GC Trace 2000 <strong>da</strong> Thermo Quest) foram as<br />

seguintes:<br />

30


Capítulo 5 – Metodologias analíticas<br />

- pressão do gás vector (hélio) - de 70 kPa,<br />

- temperatura de análise - de 70ºC (3 min) com rampa de 5ºC/min até 195ºC (60 min),<br />

- coluna – DB23 com 60 m×0,25 mm×0,25 µm,<br />

- temperatura do injector - 220ºC,<br />

- temperatura do detector - FID a 280ºC,<br />

- split 1/48.<br />

Com estas condições de análise criou-se um programa no cromatógrafo designado por “FFA<br />

lácteos”.<br />

5.3.3 – Vali<strong>da</strong>ção do método de extracção dos ácidos gordos livres<br />

Para o cálculo <strong><strong>da</strong>s</strong> percentagens de recuperação utilizaram-se duas misturas de padrões de<br />

ácidos gordos livres em duas soluções (solução A e solução B). A solução A continha os ácidos<br />

C4 (96 mg), isoC4 (53,44 mg), isoC5 (51,80 mg), C6 (231,5 mg), C7 (4,59 mg), C8 (91 mg), C10<br />

(100 mg), C12 (100 mg), C14 (100 mg), C16 (100 mg) e C18 (100 mg), dissolvidos em 20 mL de<br />

mistura acetona/metanol (2:1). Esta solução foi usa<strong>da</strong> no método <strong><strong>da</strong>s</strong> resinas. A solução B<br />

continha os mesmos ácidos gordos, mas estes estavam dissolvidos em 20 mL de mistura (1:1)<br />

de éter etílico e éter de petróleo. Esta solução foi usa<strong>da</strong> no método dos sais.<br />

Para obter uma maior exactidão dos resultados utilizou-se uma solução de padrão interno que<br />

continha C7 (20 µL), dissolvido em 25 mL de éter etílico.<br />

A determinação dos ácidos gordos livres (AGL) foi organiza<strong>da</strong> em duas partes. A primeira<br />

consistiu na vali<strong>da</strong>ção do método analítico, e a segun<strong>da</strong> centrou-se na monitorização <strong>da</strong><br />

evolução dos teores destes constituintes ao longo <strong>da</strong> <strong>maturação</strong>. Para a primeira parte a amostra<br />

utiliza<strong>da</strong> foi banha comercial (n=5) de marca branca e padrões de ácidos gordos livres. Para a<br />

segun<strong>da</strong> recolheram-se as amostras na empresa DAMAR – produtora de queijos, LDA.<br />

(Concelho de Fundão).<br />

Diferentes métodos têm sido propostos para a determinação de ácidos gordos livres presentes<br />

nos produtos lácteos. As <strong>características</strong> dos ácidos gordos livres, como por exemplo os<br />

diferentes comprimentos de cadeia carbona<strong>da</strong> associa<strong>da</strong> a diferentes volatili<strong>da</strong>des dificultam a<br />

escolha de um método único (Partidário, 1998). Um dos objectivos deste trabalho como se<br />

referiu foi determinar qual o melhor método para a extracção dos ácidos gordos livres, sendo<br />

estu<strong>da</strong>dos dois métodos, o “método <strong><strong>da</strong>s</strong> resinas” e o “método dos sais”.<br />

Para a vali<strong>da</strong>ção do método usou-se banha comercial adiciona<strong>da</strong> de quanti<strong>da</strong>des conheci<strong><strong>da</strong>s</strong> de<br />

padrões de ácidos gordos livres, sendo assim o passo de extracção de gordura não foi<br />

efectuado, passando-se directamente para a extracção e quantificação dos ácidos gordos livres.<br />

Para a quantificação dos ácidos gordos livres <strong><strong>da</strong>s</strong> amostras procedeu-se ao cálculo <strong><strong>da</strong>s</strong> áreas<br />

P Gomes (2011). Instituto Superior de Agronomia.<br />

31


Capítulo 5 – Metodologias analíticas<br />

relativas, ou seja, a relação entre as áreas obti<strong><strong>da</strong>s</strong> para os diferentes picos e a área obti<strong>da</strong> para<br />

o padrão interno (C7), sendo ain<strong>da</strong> eliminados todos os picos correspondestes a contaminações<br />

que aparecem nos cromatogramas.<br />

A massa de ácidos gordos livres (AGL) expressa em mg por kg de amostra foi calcula<strong>da</strong><br />

utilizando a seguinte fórmula:<br />

O factor 0,734 corresponde à massa de C7 que foi introduzi<strong>da</strong>, por ca<strong>da</strong> mL adicionado de<br />

solução de padrão interno (20 µL de C7, com a densi<strong>da</strong>de de 0,918 g/mL; em 25 mL de éter).<br />

Fizeram-se cinco repetições de metilação directa de 1 mL de ca<strong>da</strong> uma <strong><strong>da</strong>s</strong> soluções padrão (A<br />

e B) segui<strong><strong>da</strong>s</strong> de injecção no cromatógrafo. Com as áreas obti<strong><strong>da</strong>s</strong> através <strong>da</strong> metilação directa e<br />

as obti<strong><strong>da</strong>s</strong> após proceder aos dois processos de extracção, calcularam-se as percentagens de<br />

recuperação, que constam no Quadro V atrás apresentado. Com base nestes valores foi<br />

seleccionado o método de extracção a utilizar para as amostras de queijo.<br />

No referente à análise cromatográfica, <strong>da</strong>do que a análise de ácidos gordos por cromatografia<br />

gasosa é uma técnica acredita<strong>da</strong> e usa<strong>da</strong> em rotina no laboratório, permitiu que se omitissem as<br />

fases de optimização do método cromatográfico.<br />

P Gomes (2011). Instituto Superior de Agronomia.<br />

32


Capítulo 6 – Resultados e discussão<br />

CAPÍTULO 6 - Resultados e discussão<br />

As determinações efectua<strong><strong>da</strong>s</strong> nos dois tipos de queijo visaram principalmente identificar a<br />

evolução <strong><strong>da</strong>s</strong> suas <strong>características</strong> ao longo <strong>da</strong> cura, quer sob o ponto de vista <strong>da</strong> composição<br />

quer sob o ponto de vista <strong>da</strong> <strong>maturação</strong>. Antes <strong>da</strong> análise de resultados é importante referir o<br />

significado e utili<strong>da</strong>de de alguns parâmetros.<br />

Em geral os teores dos principais constituintes são semelhantes para muitos dos diferentes tipos<br />

de queijo, dependendo fortemente do leite utilizado e <strong>da</strong> tecnologia de fabrico (Lawrence, 1988).<br />

Não dão assim quaisquer indicações acerca <strong>da</strong> quali<strong>da</strong>de do produto, mas alguns deles são no<br />

entanto, utilizados para a classificação e definição do mesmo. É o caso por exemplo, dos teores<br />

de humi<strong>da</strong>de, gordura e respectiva relação com o resíduo seco (Vasconcelos, 1990).<br />

À semelhança do que se passa internacionalmente, o queijo em Portugal é classificado quanto à<br />

cura e seus agentes específicos, quanto à consistência em função do teor de humi<strong>da</strong>de referido<br />

ao produto isento de matéria gor<strong>da</strong>, e quanto ao teor de gordura referido ao resíduo seco<br />

(Vasconcelos, 1990). Estes são critérios de classificação genéricos, que não esgotam o tema <strong>da</strong><br />

classificação do queijo, podendo esta, para maior informação ser complementa<strong>da</strong> por aspectos<br />

tecnológicos relevantes que forneçam indicações adicionais com utili<strong>da</strong>de para as diferentes<br />

situações, como seja, por exemplo o tipo de coagulação.<br />

O pH e a acidez são parâmetros importantes pois condicionam o crescimento e a actuação <strong>da</strong><br />

flora microbiana, tendo assim um papel relevante em todo o processo de evolução do queijo<br />

(Vasconcelos, 1990). O pH e a acidez conjuntamente com alguns parâmetros baseados na<br />

proporção de algumas fracções azota<strong><strong>da</strong>s</strong>, como o coeficiente de <strong>maturação</strong>, ou com níveis de<br />

acidez <strong>da</strong> gordura ou de alguns ácidos gordos livres, constituem alguns dos chamados índices<br />

de <strong>maturação</strong>. O efeito conjunto de todos os factores é muito complexo, condicionando as<br />

<strong>características</strong> finais do produto.<br />

Depois de uma breve referência a aspectos gerais ligados à composição, apresentam-se de<br />

segui<strong>da</strong> os resultados obtidos para o Queijo Amarelo e Queijo Picante.<br />

P Gomes (2011). Instituto Superior de Agronomia.<br />

33


5 dias<br />

de<br />

cura<br />

30<br />

dias<br />

de<br />

cura<br />

45<br />

dias<br />

de<br />

cura<br />

Capítulo 6 – Resultados e discussão<br />

6.1. – Monitorização <strong>da</strong> evolução do Queijo Amarelo <strong>da</strong> Beira Baixa DOP<br />

Os resultados obtidos na determinação <strong>da</strong> composição média do Queijo Amarelo, encontram-se<br />

no Quadro VI.<br />

RS<br />

(g/100g)<br />

Quadro VI - Composição média do Queijo Amarelo.<br />

MG<br />

(g/100g)<br />

Humi<strong>da</strong>de<br />

(g/100gQIMG)<br />

MG<br />

(g/100gRS)<br />

P Gomes (2011). Instituto Superior de Agronomia.<br />

PB<br />

(g/100g)<br />

PB<br />

(g/100gRS)<br />

Cloretos<br />

(gNaCl/100g)<br />

Cloretos<br />

(gNaCl/100gRS)<br />

Média 50,53 30,10 70,80 59,60 18,78 37,17 1,64 3,26<br />

DesvPad 1,22 1,47 2,44 3,41 0,62 1,15 0,18 0,38<br />

Média 54,32 29,30 64,61 53,94 20,10 37,01 2,25 4,15<br />

DesvPad 0,82 0,76 0,83 1,00 0,88 1,53 0,35 0,64<br />

Média 56,48 30,10 62,27 53,32 20,32 35,98 2,47 4,37<br />

DesvPad 0,93 0,42 1,65 1,52 0,49 0,71 0,35 0,58<br />

Como já foi referido anteriormente, o Despacho nº 10518/2007 estipula quais as <strong>características</strong> a<br />

que o Queijo Amarelo <strong>da</strong> Beira Baixa deve obedecer. Este Despacho indica que o teor de<br />

humi<strong>da</strong>de de queijo isento de matéria gor<strong>da</strong> possa variar de 54 a 69%, para uma pasta que deve<br />

ser medianamente amanteiga<strong>da</strong>, e que o teor de gordura referido ao resíduo seco possa variar<br />

de 45 a 60%.<br />

Assim <strong>da</strong> observação do Quadro VI, verifica-se que os valores médios obtidos para estes<br />

parâmetros se situam dentro do previsto. Segundo a norma NP-1598 (1983), corresponde a um<br />

queijo de pasta semi-mole e quanto ao teor em matéria gor<strong>da</strong> é classificado como queijo gordo.<br />

A pasta, no entanto, não se apresentou amanteiga<strong>da</strong> no final do tempo mínimo de cura (<strong>da</strong>dos<br />

não apresentados).<br />

Passando agora a uma análise mais pormenoriza<strong>da</strong>, em relação à humi<strong>da</strong>de, antes de mais,<br />

verificou-se que os resultados obtidos se assemelham aos obtidos por outros autores (Martins e<br />

Carreiro, 1996; Carneiro, 1999; Freitas et al., 2000). Podemos ain<strong>da</strong> observar que a humi<strong>da</strong>de<br />

diminui ao longo do tempo encontrando-se a maior diferença na primeira fase de cura (5-30 dias<br />

de cura), de 70,80% para 64,61%, com o resíduo seco a aumentar para o final <strong>da</strong> cura (Figura 6)<br />

fruto <strong>da</strong> concentração dos sólidos por redução do teor em humi<strong>da</strong>de.<br />

34


5 dias<br />

de<br />

cura<br />

30<br />

dias<br />

de<br />

cura<br />

45<br />

dias<br />

de<br />

cura<br />

Capítulo 6 – Resultados e discussão<br />

%<br />

60<br />

50<br />

40<br />

30<br />

20<br />

10<br />

0<br />

0 10 20 30 40 50<br />

Figura 6 - <strong>Evolução</strong> <strong>da</strong> composição média do Queijo Amarelo.<br />

Quanto ao teor em matéria gor<strong>da</strong> não se manifestaram grandes diferenças, o que não era o<br />

previsto, visto que devido à per<strong>da</strong> de água a gordura devia aumentar, tal como encontrado por<br />

outros autores (Carneiro, 1999; Alvarenga, 2008).<br />

Para o teor de cloretos na matéria seca, observa-se um aumento ao longo <strong>da</strong> <strong>maturação</strong>, com os<br />

valores finais a estarem de acordo com os referidos por Freitas et al., (2000). O teor médio em<br />

proteína bruta como se pode observar revela uma ligeira diminuição ao longo <strong>da</strong> <strong>maturação</strong> este<br />

valor encontra-se abaixo do obtido por Freitas et al., (2000).<br />

O Quadro VII resume os resultados médios obtidos para os índices de <strong>maturação</strong>.<br />

Dias<br />

Quadro VII - Resultados médios obtidos para os índices de <strong>maturação</strong> do Queijo Amarelo.<br />

pH<br />

Acidez(g<br />

Ác.Láctico<br />

/100g)<br />

Acidez na<br />

MG(mmol/<br />

100 g<br />

gordura)<br />

Az. total<br />

(g/100g)<br />

P Gomes (2011). Instituto Superior de Agronomia.<br />

Az. sol.<br />

Água<br />

(g/100g)<br />

CM<br />

Az. sol.<br />

TCA 12%<br />

(g/100g)<br />

RS<br />

MG MG/RS<br />

PB PB/RS<br />

Cloretos Cloretos/RS<br />

Az.<br />

sol.TCA<br />

12%(g/10<br />

0gNt)<br />

Az. sol.<br />

PTA 5%<br />

(g/100g)<br />

35<br />

Az. sol.<br />

PTA<br />

5%<br />

(g/100g<br />

Nt)<br />

Média 5,34 0,92 4,10 2,94 0,26 8,80 0,12 4,07 0,04 1,40<br />

DesvPad 0,52 0,11 0,22 0,10 0,01 0,36 0,07 2,38 0,02 0,74<br />

Média 5,24 2,02 5,01 3,15 0,56 17,69 0,28 8,77 0,06 1,97<br />

DesvPad 0,45 0,46 0,23 0,14 0,02 1,36 0,03 0,91 0,01 0,38<br />

Média 5,81 0,93 6,32 3,18 0,73 22,86 0,33 10,49 0,07 2,32<br />

DesvPad 0,23 0,07 1,44 0,08 0,02 0,59 0,04 1,39 0,01 0,28


Capítulo 6 – Resultados e discussão<br />

Os resultados obtidos para o pH estão de acordo com os obtidos noutros estudos sobre o Queijo<br />

Amarelo <strong>da</strong> Beira Baixa (Freitas et al., 2000), com a evolução que se pode observar na Figura 7.<br />

A acidez aumentou do 5º dia de cura para o 30º dia, segui<strong>da</strong> de um ligeiro decréscimo até ao<br />

final <strong>da</strong> cura. A subi<strong>da</strong> <strong>da</strong> acidez foi muito evidente, o que se pode explicar pelo desenvolvimento<br />

de bactérias acidificantes nesta fase e pela conversão <strong>da</strong> lactose residual em ácido láctico<br />

(Lawrence et al., 1987). No final <strong>da</strong> cura observou-se um decréscimo <strong>da</strong> acidez, que pode ser<br />

atribuí<strong>da</strong> à utilização do ácido láctico com formação de produtos neutros ou alcalinos<br />

(McSweeney e Fox, 1993; Watkinson et al., 2001).<br />

g ác.<br />

láct./10<br />

0g<br />

2,5<br />

Figura 7 - <strong>Evolução</strong> do pH e <strong>da</strong> Acidez ao longo <strong>da</strong> <strong>maturação</strong> do Queijo Amarelo.<br />

Como era de esperar os valores de pH evoluíram de forma oposta. O decréscimo inicial dos<br />

valores de pH, como já foi referido anteriormente, deve-se à fermentação <strong>da</strong> lactose do queijo,<br />

com formação de ácido láctico e pode ser importante para prevenir o crescimento de bactérias<br />

patogénicas ou indesejáveis.<br />

2<br />

1,5<br />

1<br />

0,5<br />

0<br />

0 20 40 60<br />

Dias<br />

O coeficiente de <strong>maturação</strong> (CM) regista um aumento acentuado nos primeiros dias de cura<br />

nomea<strong>da</strong>mente nos primeiros 30 dias (Figura 8). Logo no início deste período de tempo assiste-<br />

se à primeira manifestação <strong>da</strong> proteólise com o aparecimento <strong>da</strong> fracção solúvel (Jovita, 1991).<br />

Segundo o decreto nº 22/88 não existe um valor mínimo regulamentar para o coeficiente de<br />

<strong>maturação</strong> deste tipo de queijo, a única DOP de Queijo <strong>da</strong> Beira Baixa em que o valor mínimo de<br />

<strong>maturação</strong> está estipulado é o Queijo de Castelo Branco, cujo coeficiente de <strong>maturação</strong> mínimo<br />

deverá ser 38. O resultado obtido é bem inferior a esta norma e ao obtido em outros estudos já<br />

efectuados em Queijo de Castelo Branco (Carneiro, 1999), denotando em comparação fraca<br />

intervenção dos fenómenos de proteólise.<br />

Acidez<br />

P Gomes (2011). Instituto Superior de Agronomia.<br />

5,9<br />

5,8<br />

5,7<br />

5,6<br />

5,5<br />

5,4<br />

5,3<br />

5,2<br />

5,1<br />

0 20 40 60<br />

Dias<br />

pH<br />

36


Capítulo 6 – Resultados e discussão<br />

%<br />

%<br />

25<br />

20<br />

15<br />

10<br />

5<br />

0<br />

Figura 8 - <strong>Evolução</strong> do coeficiente de <strong>maturação</strong> (CM), no Queijo Amarelo.<br />

12<br />

10<br />

8<br />

6<br />

4<br />

2<br />

0<br />

0 10 20 30 40 50<br />

Dias<br />

0 10 20 30 40 50<br />

Dias<br />

Figura 9 - <strong>Evolução</strong> dos índices de <strong>maturação</strong> médios no Queijo Amarelo.<br />

Quanto às fracções azota<strong><strong>da</strong>s</strong> como se pode observar na Figura 9 verificou-se globalmente uma<br />

evolução pouco acentua<strong>da</strong>, sendo estes resultados muito inferiores em comparação com<br />

resultados referidos por outros autores (Carneiro, 1999; Freitas et al., 2000).<br />

O azoto solúvel em TCA 12% e o azoto solúvel em PTA 5% representam o grau de profundi<strong>da</strong>de<br />

<strong>da</strong> proteólise, isto é, até que ponto estão as proteínas e péptidos a ser degra<strong>da</strong>dos, sendo<br />

provável que as amostras estivessem pouco hidrolisa<strong><strong>da</strong>s</strong>. Como já foi referido existem<br />

P Gomes (2011). Instituto Superior de Agronomia.<br />

CM<br />

Az.sol.TCA 12%<br />

(g/100g queijo NT)<br />

Az.sol.PTA 5%<br />

(g/100g queijo NT)<br />

37


Capítulo 6 – Resultados e discussão<br />

diferenças em comparação com outros autores, as quais podem ser explica<strong><strong>da</strong>s</strong> pelo facto de<br />

como refere Tavaria et al., (2006) as dinâmicas de <strong>maturação</strong> dos queijos de ovelha, obtidos a<br />

partir de leite cru, dependerem <strong>da</strong> quali<strong>da</strong>de do leite, nomea<strong>da</strong>mente <strong>da</strong> quali<strong>da</strong>de e quanti<strong>da</strong>de<br />

de microrganismos e enzimas nativas. Tanto o Queijo de Castelo Branco DOP como o Queijo<br />

Amarelo DOP são fabricados com leite cru e podemos estar em presença de uma fraca<br />

activi<strong>da</strong>de microbiana no queijo analisado, fruto quer <strong>da</strong> quali<strong>da</strong>de do leite quer <strong><strong>da</strong>s</strong> condições<br />

de fabrico específicas. Os resultados obtidos não são, de facto bons indicadores quanto à<br />

evolução do queijo ao longo <strong>da</strong> <strong>maturação</strong>, o que se pode traduzir em falta de <strong>características</strong><br />

quer de textura quer de aroma e sabor, ou corresponderem apenas a um tipo de queijo com<br />

<strong>características</strong> substancialmente diferentes <strong><strong>da</strong>s</strong> do Queijo de Castelo Branco. Não devemos aqui<br />

esquecer que o leite utilizado no fabrico é neste caso uma mistura de leites de ovelha e de<br />

cabra.<br />

Os resultados obtidos para a determinação dos ácidos gordos livres voláteis do Queijo Amarelo<br />

ao longo <strong>da</strong> <strong>maturação</strong>, encontram - se no Quadro VIII. Para melhor se visualizar a evolução ao<br />

longo do tempo dos diferentes ácidos apresentam-se os resultados na Figura 10.<br />

Quadro VIII - Valores dos ácidos gordos livres voláteis em mg AGL/kg amostra.<br />

P Gomes (2011). Instituto Superior de Agronomia.<br />

A5 A30 A45<br />

C2 n.d 37,36 43,53<br />

C3 n.d 1,82 10,05<br />

isoC4 0,85 35,44 37,25<br />

C4 20,45 60,77 99,63<br />

isoC5 2,26 73,62 94,67<br />

C5 n.d n.d 0,95<br />

C6 25,87 62,26 101,09<br />

C8 33,28 66,51 86,14<br />

C9 0,82 1,57 1,92<br />

C10 92,03 173,33 212,16<br />

n.d - não detectado<br />

38


Capítulo 6 – Resultados e discussão<br />

mg AGL/kg queijo<br />

300,00<br />

250,00<br />

200,00<br />

150,00<br />

100,00<br />

50,00<br />

0,00<br />

Figura 10 - <strong>Evolução</strong> dos ácidos gordos voláteis (mg AGL/kg) no Queijo Amarelo ao longo <strong>da</strong><br />

<strong>maturação</strong>.<br />

Como se pode observar os ácidos gordos livres que provêem <strong>da</strong> lipólise, assinalados com a cor<br />

laranja, aumentam ao longo do tempo com maior evidência para o C10.<br />

Os ácidos gordos livres voláteis provenientes <strong>da</strong> proteólise estão assinalados a verde. E estes<br />

estão presentes logo no 5º dia de <strong>maturação</strong> significando que já existem aminoácidos livres nos<br />

primeiros dias de <strong>maturação</strong>, o que permite, pela respectiva transformação por via microbiana a<br />

formação destes ácidos. Estes valores estão de acordo com o referido por outros autores<br />

(Partidário et al., 1998).<br />

0 10 20 30 40 50<br />

Os que estão assinalados a preto são os ácidos gordos livres voláteis resultantes de<br />

metabolização do lactato. Estes só têm valores com significado aos 30 dias o que pode<br />

expressar uma fraca activi<strong>da</strong>de microbiana na metabolização do lactato.<br />

No geral os ácidos gordos livres voláteis aumentam ao longo <strong>da</strong> cura, salientando que os que<br />

provêem <strong>da</strong> lipólise estão presentes desde o 5º dia, o que vem ao encontro <strong><strong>da</strong>s</strong> conclusões de<br />

outros autores (Freitas e Malcata, 1997).<br />

Dias<br />

P Gomes (2011). Instituto Superior de Agronomia.<br />

C2<br />

C3<br />

isoC4<br />

C4<br />

isoC5<br />

C5<br />

C6<br />

C8<br />

C9<br />

C10<br />

39


Capítulo 6 – Resultados e discussão<br />

Os resultados obtidos para a determinação dos ácidos gordos livres saturados do Queijo<br />

Amarelo ao longo <strong>da</strong> <strong>maturação</strong>, encontram-se no Quadro IX e a sua evolução está graficamente<br />

representa<strong>da</strong> na Figura 11.<br />

Quadro IX - Valores dos ácidos gordos livres saturados em mg AGL/kg amostra.<br />

P Gomes (2011). Instituto Superior de Agronomia.<br />

A5 A30 A45<br />

C11 0,76 1,61 2,09<br />

C12 31,99 65,89 76,57<br />

isoC13 0,83 1,59 2,26<br />

C13 0,46 0,99 1,18<br />

isoC14 0,49 1,06 1,10<br />

C14 45,12 116,15 115,92<br />

isoC15 1,33 5,22 n.d<br />

aisoC15 1,88 4,91 4,39<br />

C15 4,01 10,90 9,82<br />

isoC16 n.d 0,74 n.d<br />

C16 87,95 263,30 219,50<br />

isoC17 1,39 1,66 2,26<br />

aisoC17 n.d 4,25 3,74<br />

C17 2,17 7,12 5,50<br />

C18 38,35 135,68 96,58<br />

C20 0,43 3,83 2,85<br />

C21 n.d 1,25 1,09<br />

n.d - não detectado<br />

40


mg AGL/kg<br />

Capítulo 6 – Resultados e discussão<br />

300,00<br />

250,00<br />

200,00<br />

150,00<br />

100,00<br />

50,00<br />

0,00<br />

0 10 20 30 40 50<br />

Figura 11 - <strong>Evolução</strong> dos ácidos gordos saturados (mg AGL/kg) no Queijo Amarelo ao longo <strong>da</strong><br />

<strong>maturação</strong>.<br />

Ao observar o gráfico <strong>da</strong> Figura 11, nota-se que os constituintes minoritários de nº impar de<br />

átomos de carbono não apresentam valores significantes. Outros autores nem fazem referência<br />

a estes ácidos gordos livres saturados (Macedo e Malcata, 1996; Freitas e Malcata, 1996).<br />

Olhando para os constituintes maioritários de nº par de átomos de carbono, verifica-se que<br />

aumentam a sua proporção para o dobro ou mais que o dobro para os 30 dias. A partir dos 30<br />

dias estabilizam ou diminuem.<br />

Para os que estão presentes em maior quanti<strong>da</strong>de (C16, C18, C14 e C12), os valores estão de<br />

acordo com outros autores (Nájera et al., 1993).<br />

Os resultados obtidos para os ácidos gordos livres insaturados do Queijo Amarelo durante a<br />

<strong>maturação</strong>, encontram-se no Quadro X. Para melhor se visualizar a evolução ao longo do tempo<br />

dos diferentes ácidos apresentam-se os resultados na Figura 12.<br />

P Gomes (2011). Instituto Superior de Agronomia.<br />

Dias<br />

41<br />

C11<br />

C12<br />

isoC13<br />

C13<br />

isoC14<br />

C14<br />

isoC15<br />

aisoC15<br />

C15<br />

isoC16<br />

C16<br />

isoC17<br />

aisoC17<br />

C17<br />

C18<br />

C20<br />

C21


Capítulo 6 – Resultados e discussão<br />

Quadro X - Valores dos ácidos gordos livres insaturados em mg AGL/kg amostra.<br />

P Gomes (2011). Instituto Superior de Agronomia.<br />

A5 A30 A45<br />

C10:1 12,65 19,60 17,16<br />

C12:1 0,45 1,61 0,62<br />

C14:1 1,16 n.d 5,46<br />

C15:1 0,81 2,41 2,12<br />

C16:1t 1,22 2,19 2,91<br />

C16:1(7) 1,45 4,15 5,13<br />

C16:1(9) 2,93 7,37 8,31<br />

C16:1(11) 1,49 3,78 3,58<br />

C17:1 1,00 2,98 1,62<br />

C18:1t9 11,62 38,56 29,34<br />

C18:1(9) 71,37 248,62 206,64<br />

C18:1(11) 0,24 1,56 2,51<br />

C18:2(t,t,) 0,69 5,94 2,82<br />

C18:2(c,t) 1,35 6,18 4,11<br />

C18:2(t,c) 1,75 2,47 2,82<br />

C18:2 9,28 32,84 31,30<br />

gama-C18:3 n.d 1,53 1,85<br />

alfa-C18:3 3,26 10,30 10,56<br />

C18:2(c9,t11) n.d 2,42 1,34<br />

C20:1(9) 0,66 5,08 5,93<br />

C20:1(11) n.d 0,65 1,10<br />

C20:2 0,69 5,60 2,81<br />

C20:3 1,38 3,54 4,53<br />

n.d - não detectado<br />

42


Capítulo 6 – Resultados e discussão<br />

mg AGL/kg<br />

300,00<br />

250,00<br />

200,00<br />

150,00<br />

100,00<br />

50,00<br />

0,00<br />

0 10 20 30 40 50<br />

Figura 12 - <strong>Evolução</strong> dos ácidos gordos insaturados (mg AGL/kg) no Queijo Amarelo ao longo<br />

<strong>da</strong> <strong>maturação</strong>.<br />

Os ácidos gordos livres insaturados apresentam o mesmo comportamento que os ácidos gordos<br />

livres saturados, não alterando ou diminuindo a sua proporção a partir do 30º dia.<br />

O ácido oleico (C18:1) é o que está presente em maior quanti<strong>da</strong>de, e estes valores vão ao<br />

encontro de valores obtidos por outros autores (Macedo e Malcata, 1996).<br />

De uma forma geral olhando os gráficos, observa-se que os ácidos gordos livres voláteis que<br />

correspondem aos ácidos gordos de cadeia curta, aumentam durante o tempo de <strong>maturação</strong>. Já<br />

os ácidos gordos livres saturados e insaturados correspondentes aos ácidos gordos de cadeia<br />

média e longa de átomos de carbono, a partir dos 30 dias estabilizam ou diminuem. Estes<br />

resultados são consistentes com o facto <strong><strong>da</strong>s</strong> lipases (provenientes principalmente do leite e<br />

microrganismos) envolvi<strong><strong>da</strong>s</strong> na <strong>maturação</strong> do queijo, hidrolisarem preferencialmente ácidos<br />

gordos de cadeia curta uma vez que estes ácidos predominam na posição sn-3 no triglicérido<br />

(Macedo e Malcata, 1996).<br />

P Gomes (2011). Instituto Superior de Agronomia.<br />

Dias<br />

C10:1<br />

C12:1<br />

C14:1<br />

C15:1<br />

C16:1t<br />

C16:1(7)<br />

C16:1(9)<br />

C16:1(11)<br />

C17:1<br />

C18:1t9<br />

C18:1(9)<br />

C18:1(11)<br />

C18:2(t,t)<br />

C18:2(c,t)<br />

C18:2(t,c)<br />

C18:2<br />

gama-C18:3<br />

C18:3<br />

C18:2(c9,t11)<br />

C20:1(9)<br />

C20:1(11)<br />

C20:2<br />

C20:3<br />

43


Capítulo 6 – Resultados e discussão<br />

6.2. – Monitorização <strong>da</strong> evolução do Queijo Picante <strong>da</strong> Beira Baixa DOP<br />

Os resultados obtidos na determinação <strong>da</strong> composição média do Queijo Picante, encontram-se<br />

no Quadro XI.<br />

45 dias<br />

de<br />

cura<br />

90 dias<br />

de<br />

cura<br />

120<br />

dias de<br />

cura<br />

RS<br />

(g/100g)<br />

Quadro XI - Composição média do Queijo Picante.<br />

MG<br />

(g/100g)<br />

Humi<strong>da</strong>de<br />

(g/100gQI<br />

MG)<br />

P Gomes (2011). Instituto Superior de Agronomia.<br />

MG<br />

(g/100g<br />

RS)<br />

PB<br />

(g/100g)<br />

PB<br />

(g/100g<br />

RS)<br />

Cloretos<br />

(gNaCl/100g)<br />

Cloretos<br />

(gNaCl/100gRS)<br />

Média 59,95 26,30 54,36 43,95 20,86 34,81 6,09 10,17<br />

DesvPad 2,45 0,76 3,61 2,60 0,66 0,58 0,33 0,51<br />

Média 62,76 30,10 53,27 47,98 20,28 32,32 8,29 13,24<br />

DesvPad 2,07 1,08 2,77 1,83 0,43 0,47 0,88 1,75<br />

Média 60,94 30,70 56,33 50,35 21,78 35,71 8,04 13,23<br />

DesvPad 2,17 1,72 1,87 1,23 2,33 3,13 0,62 1,40<br />

O Despacho nº 10518/2007, estipula quais as <strong>características</strong> a que o Queijo Picante <strong>da</strong> Beira<br />

Baixa deve obedecer. Este Despacho indica que o teor de humi<strong>da</strong>de de queijo isento de matéria<br />

gor<strong>da</strong> possa variar de 45 a 63%, para uma pasta que deve ser fecha<strong>da</strong>, e o teor de gordura<br />

referido ao resíduo seco possa variar de 35 a 60%.<br />

Assim, <strong>da</strong> observação do Quadro XI, verifica-se que os valores médios obtidos para estes<br />

parâmetros se situam dentro do previsto. Segundo a norma NP-1598 (1983), corresponde a um<br />

queijo de pasta semi-dura e quanto ao teor em matéria gor<strong>da</strong> é classificado como queijo gordo.<br />

Passando a uma análise parâmetro a parâmetro, em relação à humi<strong>da</strong>de, verificou-se que os<br />

resultados obtidos não se assemelham aos obtidos por outros autores (Freitas et al., 2000).<br />

Diminuindo do 45º dia até ao 90º dia o que era de se esperar, havendo de segui<strong>da</strong> um aumento<br />

até ao 120º dia, provavelmente devido à lavagem periódica com água canaliza<strong>da</strong> ao longo do<br />

processo de <strong>maturação</strong> (Freitas e Malcata, 1998). As variações do resíduo seco em comparação<br />

com o Queijo Amarelo podem atribuí<strong><strong>da</strong>s</strong> à superfície, especialmente porque o Queijo Picante<br />

não apresenta uma casca real, bem como a difusão do sal para o interior do queijo ao longo <strong>da</strong><br />

<strong>maturação</strong> (Freitas et al., 1997).<br />

44


45<br />

dias<br />

de<br />

cura<br />

90<br />

dias<br />

de<br />

cura<br />

120<br />

dias<br />

de<br />

cura<br />

Capítulo 6 – Resultados e discussão<br />

Figura 13 - <strong>Evolução</strong> <strong>da</strong> composição média no Queijo Picante.<br />

Quanto à matéria gor<strong>da</strong> em qualquer dos modos de expressão há um ligeiro aumento ao longo<br />

<strong>da</strong> <strong>maturação</strong>. Relativamente à composição o facto mais notório é o teor em cloretos expressos<br />

em cloreto de sódio deste queijo, observando-se um aumento durante a <strong>maturação</strong>, com os<br />

valores finais de acordo com os referidos por Freitas e Malcata (1996). Este tipo de queijo<br />

apresenta valores mais elevados que o Queijo Amarelo, o que é de se esperar pois como já foi<br />

referido na tecnologia de fabrico do Queijo Picante é adicionado sal durante todo o tempo de<br />

cura. O teor médio em proteína bruta encontra-se abaixo do referido por Freitas e Malcata<br />

(1996).<br />

O Quadro XII resume os resultados médios obtidos para os índices de <strong>maturação</strong>.<br />

Quadro XII - Resultados médios obtidos para os índices de <strong>maturação</strong> do Queijo Picante.<br />

pH<br />

70<br />

% 60<br />

50<br />

40<br />

30<br />

20<br />

10<br />

0<br />

40 60 80 100 120<br />

Acidez (g Ác.<br />

Láctico/100g)<br />

Acidez na<br />

MG<br />

(mmol/100<br />

g gordura)<br />

Az. total<br />

(g/100g)<br />

Dias<br />

P Gomes (2011). Instituto Superior de Agronomia.<br />

Az. sol.<br />

Água<br />

(g/100g)<br />

CM<br />

Az. sol.<br />

TCA 12%<br />

(g/100g)<br />

Az. sol.<br />

TCA 12%<br />

(g/100gNt)<br />

Az. sol.<br />

PTA 5%<br />

(g/100g)<br />

Az. sol.<br />

PTA 5%<br />

(g/100gNt)<br />

Média 5,64 0,75 5,79 3,27 0,33 10,09 0,16 4,93 0,10 3,05<br />

DesvPad 0,12 0,11 0,41 0,10 0,06 1,90 0,05 1,72 0,02 0,81<br />

Média 5,96 0,69 7,73 3,18 0,43 13,53 0,18 5,82 0,07 2,33<br />

DesvPad 0,07 0,11 0,99 0,07 0,13 4,21 0,06 1,84 0,01 0,31<br />

Média 6,45 0,47 8,86 3,41 0,34 10,22 0,20 5,95 0,06 1,92<br />

DesvPad 0,17 0,09 1,68 0,36 0,11 4,05 0,02 1,08 0,01 0,52<br />

RS<br />

MG MG/RS<br />

PB PB/RS<br />

Cloretos Cloretos/RS<br />

45


Capítulo 6 – Resultados e discussão<br />

Os resultados obtidos para o pH estão de acordo com os obtidos noutros estudos sobre o Queijo<br />

Picante <strong>da</strong> Beira Baixa (Freitas e Malcata, 1996), com a evolução que se pode observar na<br />

Figura 14. A acidez diminui ligeiramente do 45º dia de cura para o 90º dia, segui<strong>da</strong> de uma<br />

diminuição mais acentua<strong>da</strong> até ao final <strong>da</strong> cura, pode ser atribuí<strong>da</strong> à utilização do ácido láctico<br />

com formação de produtos neutros ou alcalinos (McSweeney e Fox, 1993; Watkinson et al.,<br />

2001). No Queijo Amarelo, a subi<strong>da</strong> <strong>da</strong> acidez foi muito evidente, o que se pode explicar pelo<br />

desenvolvimento de bactérias acidificantes nesta fase e pela conversão <strong>da</strong> lactose residual em<br />

ácido láctico (Lawrence et al., 1987). Como já foi referido o Queijo Picante sofre uma diminuição<br />

<strong>da</strong> acidez o que se pode dever ao facto <strong>da</strong> concentração mais eleva<strong>da</strong> de cloreto de sódio<br />

(NaCl). Estes valores opostos, pode ser também devido ao facto que o fim do tempo proposto<br />

para as últimas análises no Queijo Amarelo (45º dia) é o início <strong><strong>da</strong>s</strong> análises para o Queijo<br />

Picante.<br />

g ác.láct.<br />

/100g<br />

0,8<br />

0,7<br />

0,6<br />

0,5<br />

0,4<br />

0,3<br />

0,2<br />

0,1<br />

0<br />

40 90<br />

Dias<br />

Acidez<br />

Figura 14 - <strong>Evolução</strong> do pH e <strong>da</strong> Acidez ao longo <strong>da</strong> <strong>maturação</strong> do Queijo Picante.<br />

Neste caso, os valores de pH evoluíram de forma diferente. No Queijo Picante o pH parece<br />

aumentar sempre mas é necessário ter em atenção que neste tipo de queijo o controlo analítico<br />

iniciou-se aos 45 dias de cura, podendo a parte inicial de diminuição de pH já ter ocorrido nessa<br />

fase. Regista-se no entanto o nível elevado de pH atingido.<br />

O coeficiente de <strong>maturação</strong> (CM) regista um aumento do 45º dia para o 90º dia (Figura 15). Logo<br />

no início deste período de tempo assiste-se à manifestação <strong>da</strong> proteólise com o aparecimento <strong>da</strong><br />

fracção solúvel (Jovita, 1991). Do 90º dia para o 120º dia o coeficiente diminui, devendo-se ao<br />

facto <strong>da</strong> diminuição de humi<strong>da</strong>de e pela escassez de substrato para as enzimas (Alvarenga,<br />

2008). Segundo o decreto nº 22/88, não existe um valor mínimo regulamentar para o coeficiente<br />

de <strong>maturação</strong> deste tipo de queijo, como já foi referido a única DOP em que o valor mínimo de<br />

<strong>maturação</strong> está estipulado é o Queijo de Castelo Branco, cujo coeficiente de <strong>maturação</strong> mínimo<br />

deverá ser 38. O resultado obtido é bem inferior a esta norma, denotando em comparação fraca<br />

intervenção dos fenómenos de proteólise. No Queijo Amarelo, nas primeiras análises os<br />

P Gomes (2011). Instituto Superior de Agronomia.<br />

6,6<br />

6,4<br />

6,2<br />

6<br />

5,8<br />

5,6<br />

5,4<br />

40 90<br />

Dias<br />

pH<br />

46


Capítulo 6 – Resultados e discussão<br />

resultados são idênticos, pode dever-se ao facto de ambos terem o mesmo processo de fabrico.<br />

Já na segun<strong>da</strong> fase com o Queijo Picante a ter mais tempo de <strong>maturação</strong> o coeficiente de<br />

<strong>maturação</strong> diminui.<br />

%<br />

Figura 15 - <strong>Evolução</strong> do coeficiente de <strong>maturação</strong> (CM), no Queijo Picante.<br />

%<br />

16<br />

14<br />

12<br />

10<br />

8<br />

6<br />

4<br />

2<br />

0<br />

40 60 80 100 120<br />

7<br />

6<br />

5<br />

4<br />

3<br />

2<br />

1<br />

0<br />

Dias<br />

40 60 80 100 120<br />

Dias<br />

Figura 16 - <strong>Evolução</strong> dos índices de <strong>maturação</strong> médios no Queijo Picante.<br />

P Gomes (2011). Instituto Superior de Agronomia.<br />

CM<br />

Az.sol.TCA 12%<br />

(g/100g NT)<br />

Az.sol.PTA 5%<br />

(g/100g NT)<br />

47


Capítulo 6 – Resultados e discussão<br />

Quanto às fracções azota<strong><strong>da</strong>s</strong> como se pode observar na Figura 16 verificou-se uma evolução<br />

pouco acentua<strong>da</strong>, sendo estes resultados muito inferiores em comparação com resultados<br />

referidos por outros autores (Freitas e Malcata, 1996).<br />

Como já foi referido as fracções de azoto solúvel em TCA 12% e de azoto solúvel em PTA 5%<br />

representam o grau de profundi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> proteólise, isto é, até que ponto estão as proteínas e<br />

péptidos a ser degra<strong>da</strong>dos Embora os resultados apresentados demonstram uma proteólise<br />

global pouco desenvolvi<strong>da</strong>, é de notar que o Queijo Amarelo apresenta uns resultados<br />

superiores tendo assim uma proteólise mais profun<strong>da</strong>. Nos dois tipos de queijo verifica-se que o<br />

modo de condução <strong>da</strong> <strong>maturação</strong> no Queijo Picante, poderá ser inibidor <strong>da</strong> activi<strong>da</strong>de<br />

microbiana responsável pelas transformações que se traduzem nos índices de profundi<strong>da</strong>de <strong>da</strong><br />

proteólise.<br />

Os resultados obtidos para a determinação dos ácidos gordos livres voláteis do Queijo Picante<br />

ao longo <strong>da</strong> <strong>maturação</strong>, encontram - se no Quadro XIII. Para melhor se visualizar a evolução ao<br />

longo do tempo dos diferentes ácidos apresentam-se os resultados na Figura 17.<br />

Quadro XIII - Valores dos ácidos gordos livres voláteis em mg AGL/kg amostra.<br />

P Gomes (2011). Instituto Superior de Agronomia.<br />

P45 P90 P120<br />

C2 n.d 108,44 35,43<br />

C3 n.d 1,67 14,68<br />

isoC4 9,30 16,15 56,93<br />

C4 35,45 79,94 212,22<br />

aisoC5 7,17 n.d n.d<br />

isoC5 24,17 60,28 114,49<br />

C5 n.d 0,35 1,20<br />

C6 39,93 64,55 62,95<br />

C8 52,15 74,51 95,27<br />

C9 1,24 1,77 2,55<br />

C10 128,24 180,26 278,76<br />

n.d - não detectado<br />

48


Capítulo 6 – Resultados e discussão<br />

mg AGL/kg<br />

300,00<br />

250,00<br />

200,00<br />

150,00<br />

100,00<br />

50,00<br />

0,00<br />

40 60 80 100 120<br />

Figura 17 - <strong>Evolução</strong> dos ácidos gordos voláteis (mg AGL/kg) no Queijo Picante ao longo <strong>da</strong><br />

<strong>maturação</strong>.<br />

Como se pode observar no gráfico os ácidos gordos livres voláteis que provêem <strong>da</strong> lipólise<br />

assinalados com a cor laranja, aumentam ao longo do tempo com maior evidência para o C10. O<br />

que é normal e esperado, pois é o que se apresenta em maior quanti<strong>da</strong>de no leite. Em<br />

comparação com o Queijo Amarelo, o Queijo Picante apresenta uma lipólise mais evidente,<br />

estes valores pode ser devido ao facto de activi<strong>da</strong>de <strong><strong>da</strong>s</strong> lipases ser máxima com valores de pH<br />

entre 7,5 a 9. Como já se observou anteriormente, o pH do Queijo Picante encontra-se mais<br />

próximo destes valores do que o Queijo Amarelo. Segundo Freitas e Malcata (1997) as taxas de<br />

libertação de ácidos gordos livres de cadeia curta no Queijo Picante são duas vezes maiores do<br />

que em queijos fabricados com o mesmo tipo de leite, este facto pode ser reivindicado como<br />

uma característica do Queijo Picante.<br />

Os ácidos gordos livres voláteis provenientes <strong>da</strong> proteólise estão assinalados a verde. É normal<br />

a presença destes ácidos gordos, visto que a <strong>maturação</strong> já estava a decorrer aos 45 dias. A<br />

proporção destes ácidos gordos livres continua a aumentar tanto para o isoC4 como para o<br />

isoC5, pois a activi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> maior parte destas proteases microbianas é máxima para valores do<br />

pH entre 5-7,5 (Choisy, 1987) e como já foi referido o pH encontra-se neste intervalo. Estes<br />

valores estão de acordo com o referido por outros autores que estu<strong>da</strong>ram queijos produzidos<br />

com leite de ovelha (Partidário et al., 1998). No Queijo Amarelo as proporções dos ácidos isoC4<br />

e isoC5 não aumentaram com tanta evidência, o que pode ser devido ao facto de o pH neste tipo<br />

de queijo ser inferior. A duração do processo de <strong>maturação</strong> e o aumento dos níveis de humi<strong>da</strong>de<br />

no Queijo Picante são provavelmente promotores de proteólise (Freitas e Malcata, 1998), o que<br />

também contribui para as diferenças encontra<strong><strong>da</strong>s</strong>.<br />

P Gomes (2011). Instituto Superior de Agronomia.<br />

Dias<br />

C2<br />

C3<br />

isoC4<br />

C4<br />

aisoC5<br />

isoC5<br />

C5<br />

C6<br />

C8<br />

C9<br />

C10<br />

49


Capítulo 6 – Resultados e discussão<br />

Assinalados a preto estão os ácidos gordos livres voláteis resultantes de metabolização do<br />

lactato. Estes só têm valores com significado aos 90 dias. No entanto no Queijo Amarelo estes<br />

ácidos gordos livres já estavam presentes no 30º dia, o que pode significar que a quanti<strong>da</strong>de de<br />

NaCl condiciona o aparecimento destes ácidos gordos livres para mais tarde no Queijo Picante,<br />

provavelmente por inibição microbiana. O C2 no Queijo Picante diminui, o que pode significar<br />

que a activi<strong>da</strong>de microbiana transformou o C2 em CO2.<br />

No geral a proporção dos ácidos gordos livres voláteis aumenta ao longo <strong>da</strong> cura, salientando-se<br />

que os que provêem <strong>da</strong> lipólise estão presentes desde o 45º dia, o que vai ao encontro <strong><strong>da</strong>s</strong><br />

conclusões de outros autores (Freitas e Malcata, 1997). O proposto para o início <strong><strong>da</strong>s</strong> análises do<br />

tempo de cura do Queijo Picante (45 dias) é o fim <strong>da</strong> <strong>maturação</strong> do Queijo Amarelo sendo assim,<br />

podemos observar que a activi<strong>da</strong>de lipolítica continua a decorrer após os 45 dias.<br />

Os resultados obtidos para a determinação dos ácidos gordos livres saturados do Queijo Picante<br />

ao longo <strong>da</strong> <strong>maturação</strong>, encontram-se no Quadro XIV, e a sua evolução está graficamente<br />

representa<strong>da</strong> na Figura 18.<br />

Quadro XIV - Valores dos ácidos gordos livres saturados em mg AGL/kg amostra.<br />

P Gomes (2011). Instituto Superior de Agronomia.<br />

P45 P90 P120<br />

C11 1,31 1,62 2,66<br />

C12 47,53 63,03 113,66<br />

isoC13 1,29 1,78 3,01<br />

C13 0,72 1,02 2,16<br />

isoC14 0,59 1,11 1,84<br />

C14 52,29 91,51 166,98<br />

isoC15 1,33 n.d n.d<br />

aisoC15 2,15 4,20 7,14<br />

C15 4,28 8,09 14,37<br />

isoC16 0,15 n.d n.d<br />

C16 80,46 150,56 265,44<br />

isoC17 1,47 3,14 4,82<br />

aisoC17 n.d 1,30 1,27<br />

n.d - não detectado<br />

C17 2,08 3,96 6,78<br />

C18 37,84 65,17 109,14<br />

C20 n.d 1,06 1,72<br />

C21 0,52 n.d 4,81<br />

50


Capítulo 6 – Resultados e discussão<br />

mg AGL/kg<br />

Figura 18 - <strong>Evolução</strong> dos ácidos gordos saturados (mg AGL/kg) no Queijo Picante ao longo <strong>da</strong><br />

<strong>maturação</strong>.<br />

Ao observar o gráfico <strong>da</strong> Figura 18, nota-se novamente que os constituintes minoritários de nº<br />

impar de átomos de carbono não apresentam valores significativos. Olhando para os<br />

constituintes maioritários de nº par de átomos de carbono, verifica-se que aumenta a sua<br />

proporção para o dobro ou mais que o dobro para os 90 dias, continuando a evoluir até aos 120<br />

dias.<br />

Para os que estão presentes em maior quanti<strong>da</strong>de (C16, C18, C14 e C12), os valores estão de<br />

acordo com outros autores (Nájera et al., 1993). Apesar de C16 e C18 serem os mais<br />

abun<strong>da</strong>ntes durante todo o tempo de <strong>maturação</strong>, eles não contribuem intrinsecamente para o<br />

flavour do queijo, não tanto como os ácidos gordos livres de cadeia curta (Freitas e Malcata,<br />

1997).<br />

300,00<br />

250,00<br />

200,00<br />

150,00<br />

100,00<br />

50,00<br />

0,00<br />

40 60 80 100 120<br />

Os resultados obtidos para a determinação dos ácidos gordos livres insaturados do Queijo<br />

Picante durante a <strong>maturação</strong>, encontram - se no Quadro XV. Para melhor visualizar a evolução<br />

ao longo do tempo dos diferentes ácidos apresentam-se os resultados na Figura 19.<br />

P Gomes (2011). Instituto Superior de Agronomia.<br />

Dias<br />

C11<br />

C12<br />

isoC13<br />

C13<br />

isoC14<br />

C14<br />

isoC15<br />

aisoC15<br />

C15<br />

isoC16<br />

C16<br />

isoC17<br />

aisoC17<br />

C17<br />

C18<br />

C20<br />

C21<br />

51


Capítulo 6 – Resultados e discussão<br />

Quadro XV - Valores dos ácidos gordos livres insaturados em mg AGL/kg amostra.<br />

P Gomes (2011). Instituto Superior de Agronomia.<br />

P45 P90 P120<br />

C10:1 11,44 12,93 11,92<br />

C12:1 0,61 0,59 1,19<br />

C14:1 1,16 4,92 8,72<br />

C15:1 0,79 1,64 2,93<br />

C16:1t 1,45 2,37 4,21<br />

C16:1(7) 1,89 4,26 7,48<br />

C16:1(9) 3,60 7,41 13,25<br />

C16:1(11) 2,11 4,27 7,26<br />

C17:1 1,02 2,07 3,60<br />

C18:1t9 12,54 25,47 42,95<br />

C18:1(9) 70,99 159,32 270,12<br />

C18:1(11) 1,74 1,69 3,49<br />

C18:2(t,t,) 0,57 2,80 2,75<br />

C18:2(c,t) 1,86 4,53 5,97<br />

C18:2(t,c) 1,89 2,37 6,62<br />

C18:2 9,15 21,62 38,27<br />

gama-C18:3 n.d 1,06 2,05<br />

alfa-C18:3 4,27 9,73 18,70<br />

C18:2(c9,t11) n.d 1,76 1,32<br />

C20:1(9) 0,62 4,22 7,63<br />

C20:2 0,56 1,33 1,08<br />

C20:3 1,11 0,87 0,65<br />

n.d - não detectado<br />

52


Capítulo 6 – Resultados e discussão<br />

mg AGL/kg<br />

300,00<br />

250,00<br />

200,00<br />

150,00<br />

100,00<br />

50,00<br />

0,00<br />

40 60 80 100 120<br />

Figura 19 - <strong>Evolução</strong> dos ácidos gordos insaturados (mg AGL/kg) no Queijo Picante ao longo <strong>da</strong><br />

<strong>maturação</strong>.<br />

Os ácidos gordos livres insaturados apresentam o mesmo comportamento que os ácidos gordos<br />

livres saturados, na sua evolução ao logo <strong>da</strong> <strong>maturação</strong>.<br />

O ácido oleico é o que está presente em maior quanti<strong>da</strong>de, e os valores obtidos vão ao encontro<br />

de valores obtidos por outros autores (Macedo e Malcata, 1996).<br />

Nos dois tipos de queijos, verifica-se que no Queijo Amarelo a evolução dos ácidos gordos livres<br />

fica limita<strong>da</strong> do 30º dia para o 45º dia. Já no Queijo Picante os ácidos gordos livres continuam a<br />

evoluir até aos 120 dias. Esta situação pode dever-se ao elevado teor em NaCl. Kang et al.,<br />

(1998) referem que o cloreto de sódio aumenta a autólise de Lactobacillus, verificando-se uma<br />

maior libertação de lipase intracelular e consequentemente um aumento <strong>da</strong> lipólise. Sendo assim<br />

os ácidos gordos livres aumentaram mas não de uma forma constante, em ambos os queijos.<br />

P Gomes (2011). Instituto Superior de Agronomia.<br />

Dias<br />

C10:1<br />

C12:1<br />

C14:1<br />

C15:1<br />

C16:1t<br />

C16:1(7)<br />

C16:1(9)<br />

C16:1(11)<br />

C17:1<br />

C18:1t9<br />

C18:1(9)<br />

C18:1(11)<br />

C18:2(t,t)<br />

C18:2(c,t)<br />

C18:2(t,c)<br />

C18:2<br />

gama-C18:3<br />

C18:3<br />

C18:2(c9,t11)<br />

C20:1(9)<br />

C20:2<br />

C20:3<br />

53


Capítulo 7 - Conclusões<br />

CAPÍTULO 7 - Conclusões<br />

Os resultados obtidos na avaliação <strong>da</strong> evolução <strong><strong>da</strong>s</strong> <strong>características</strong> <strong>físico</strong>-<strong>químicas</strong>, tanto do<br />

Queijo Amarelo como do Queijo Picante seguem as <strong>características</strong> que estão<br />

regulamentarmente estipula<strong><strong>da</strong>s</strong>. Outros parâmetros como os índices médios de <strong>maturação</strong> em<br />

ambos os queijos revelam valores mais baixos em comparação com outros autores. As<br />

diferenças encontra<strong><strong>da</strong>s</strong> entre os dois tipos de queijo podem ser facilmente explica<strong><strong>da</strong>s</strong> pelos<br />

diferentes processos de <strong>maturação</strong> e pelo tempo de cura completamente diferente. Já os níveis<br />

de <strong>maturação</strong> avaliados com base na proteólise, diferentes dos encontrados em outros estudos,<br />

podem reflectir diferenças acentua<strong><strong>da</strong>s</strong> nas <strong>características</strong> do leite e <strong><strong>da</strong>s</strong> práticas tecnológicas<br />

adopta<strong><strong>da</strong>s</strong>, o que pode ter impacto importante nas <strong>características</strong> do produto final. Daqui se<br />

pode concluir, que muito do que se vai passar até ao fim <strong>da</strong> <strong>maturação</strong> depende fortemente de<br />

todo o historial do que se passou nas fases anteriores, desde a obtenção e processamento do<br />

leite até às <strong>características</strong> sensoriais do produto final. A este respeito não foi efectua<strong>da</strong> qualquer<br />

avaliação nas amostras <strong>da</strong>do que não se dispunham de meios de caracterização ou de avaliação<br />

sensorial <strong><strong>da</strong>s</strong> DOP em causa, ao contrário do que existe para outras DOP nacionais.<br />

Em conclusão, pode afirmar-se, repetindo um lugar comum mas que nunca é de mais relembrar,<br />

que a quali<strong>da</strong>de do leite, nos seus múltiplos aspectos, é o factor que mais pode influenciar as<br />

<strong>características</strong> e a quali<strong>da</strong>de do queijo de leite cru, quer directa, quer indirectamente. Os efeitos<br />

<strong>da</strong> componente <strong>físico</strong>-química são igualmente decisivos e podem ser devidos à composição<br />

natural do leite ou à acção dos microrganismos, devendo ser toma<strong><strong>da</strong>s</strong> em consideração<br />

aspectos importantes como, por exemplo, a influência de factores de produção animal, como a<br />

raça e a fase de lactação.<br />

Um dos objectivos deste trabalho foi ain<strong>da</strong> a escolha do melhor método analítico para a<br />

determinação de ácidos gordos livres no queijo. Neste sentido, foram comparados dois métodos<br />

(“método dos sais” e “método <strong><strong>da</strong>s</strong> resinas”), no que se refere aos valores de percentagem de<br />

recuperação. Concluiu-se que os melhores resultados foram obtidos a partir do “método dos<br />

sais” e, assim, foi esta a técnica aplica<strong>da</strong> à determinação dos ácidos gordos livres no Queijo<br />

Amarelo <strong>da</strong> Beira Baixa - DOP e no Queijo Picante <strong>da</strong> Beira Baixa - DOP<br />

A técnica selecciona<strong>da</strong> permitiu identificar e quantificar diversos grupos de ácidos gordos livres<br />

em ambos os queijos em estudo, verificando-se para todos os grupos maiores concentrações,<br />

em particular no caso dos ácidos gordos livres associados a fenómenos de lipólise. Ambos os<br />

queijos revelaram perfis de evolução idênticos com níveis finais mais acentuados no Queijo<br />

Picante. Pelo contrário, o tempo de cura superior deste queijo não implicou níveis muito<br />

acentuados de ácidos gordos livres associados quer à proteólise quer ao metabolismo do lactato,<br />

provavelmente como resultado <strong><strong>da</strong>s</strong> difíceis condições de desenvolvimento dos microrganismos.<br />

No Queijo Picante, a evolução é muito tardia para igual tempo de <strong>maturação</strong> (45 dias) estes<br />

grupos de ácidos gordos livres revelaram evoluções mais rápi<strong><strong>da</strong>s</strong> e níveis mais elevados de<br />

presença no caso do Queijo Amarelo.<br />

P Gomes (2011). Instituto Superior de Agronomia.<br />

54


Capítulo 7 - Conclusões<br />

Os ácidos gordos livres, no Queijo Amarelo e no Queijo Picante, evoluem ao longo do processo<br />

de <strong>maturação</strong> havendo a particulari<strong>da</strong>de no Queijo Picante de os ácidos gordos livres saturados<br />

e insaturados evoluírem sempre no sentido crescente ao longo do tempo de <strong>maturação</strong>, no<br />

Queijo Amarelo os ácidos gordos livres saturados e insaturados, não evoluem do mesmo modo<br />

ou há uma ligeira diminuição do 30º dia para o 45º dia.<br />

O ácido gordo livre presente em maior quanti<strong>da</strong>de na <strong>maturação</strong> do Queijo Picante e Queijo<br />

Amarelo foi o C16. No entanto, a libertação ampla e rápi<strong>da</strong> dos ácidos gordos livres de cadeia<br />

curta, em especial no Queijo Picante, são provavelmente os principais responsáveis pelo flavour<br />

picante do queijo, que é reforçado pela alta concentração em sal. O papel mais importante <strong>da</strong><br />

lipólise, mesmo em queijos onde esta tenha pouca intensi<strong>da</strong>de consiste na formação dos<br />

compostos de sabor e aroma, ácidos gordos e produtos derivados.<br />

No Queijo Picante a lipólise seguiu em geral um padrão similar à proteólise, ou seja, no total<br />

existem maiores teores de ácidos gordos livres o que significa que o tempo de <strong>maturação</strong> é<br />

muito importante mostrando efeitos sobre os ácidos gordos livres e em geral sobre a evolução do<br />

queijo.<br />

Como já foi referido, embora os valores dos indicadores <strong>da</strong> proteólise e metabolismo do lactato,<br />

de uma forma geral, sejam pouco acentuados, conclui-se que o Queijo Amarelo tem uma<br />

proteólise mais profun<strong>da</strong> que o Queijo Picante, já este apresenta uma lipólise geral mais<br />

evidente.<br />

Quanto aos ácidos gordos provenientes do metabolismo do lactato, o Queijo Picante detém os<br />

valores mais altos, mas o Queijo Amarelo apresenta um metabolismo do lactato que está<br />

presente logo nos primeiros dias de cura, acentuando-se até ao final.<br />

Finalmente, julga-se oportuno referir que trabalhos futuros deveriam considerar a análise<br />

sensorial, uma vez que a maioria dos resultados deste trabalho estão associados aos<br />

parâmetros analisados por esta via e que, no final, o conjunto <strong><strong>da</strong>s</strong> <strong>características</strong> físicas,<br />

<strong>químicas</strong> e bio<strong>químicas</strong> do queijo se conjugam nas suas proprie<strong>da</strong>des sensoriais que são<br />

aquelas que mais influenciam a avaliação e a escolha do produto por parte do consumidor.<br />

Visto que o maior problema <strong>da</strong> discrepância de resultados está associado às <strong>características</strong> do<br />

leite, seria importante também seguir os produtores de leite. Pois por vezes a falta de formação<br />

para a manipulação do leite, leva a que este se modifica rapi<strong>da</strong>mente alterando as suas<br />

<strong>características</strong> inicias. A observação mais cui<strong>da</strong><strong>da</strong> <strong>da</strong> influência <strong>da</strong> tecnologia de fabrico,<br />

associa<strong>da</strong> à problemática <strong><strong>da</strong>s</strong> <strong>características</strong> do leite poderia <strong>da</strong>r um contributo importante para<br />

a aproximação <strong><strong>da</strong>s</strong> <strong>características</strong> do produto final á tipici<strong>da</strong>de referi<strong>da</strong> em publicações mais<br />

antigas e que parecem estar, de certo modo, atenua<strong><strong>da</strong>s</strong> no queijo actual, como demonstram os<br />

valores obtidos para os diversos índices de <strong>maturação</strong>.<br />

P Gomes (2011). Instituto Superior de Agronomia.<br />

55


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