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o. Esse cumprimento, terno e meigo, serviu como despedida. Nós dois<br />

estávamos abafados; precisava sair, andar. Ali, tudo era insuportável.<br />

Sentia que podia, caso não saísse, desmaiar. Tive vontade de chorar, de<br />

ser amparado por alguém, de me ajuntar com os que, como eu, sofriam<br />

amargamente naquele local difícil de perceber a vida.<br />

Minha mulher, indiferente a tudo, estava alcançando o que ela mais desejava,<br />

a paz, a ausência de sofrimento, o nirvana, uma vida diferente da<br />

experimentada por ela. Possivelmente, nesse momento da agonia final,<br />

ela estivesse sonhando com o outro mundo, um mundo que ela sempre<br />

desejou. Ele existe? Não sei. Sinto-me confuso. Como é difícil enfrentar<br />

tudo isso; tão próximo da morte. Sinto-me atordoado, às vezes atraído<br />

por aquele descanso. Como gostaria de sumir. Virava meu rosto para<br />

outro lado, olhava para cima, para os lados, para o crucifixo, principalmente<br />

em direção a janela, para a vida que lá fora continuava, corria,<br />

sem ligar para meus sofrimentos. Naquele salão, ao contrário do mundo<br />

externo, o fim rondava e impregnava todos os cantos, a morte estava em<br />

todos os corpos. A vida no CTI era percebida com mais lucidez, pois ela,<br />

todos sabiam, podia terminar a qualquer momento.<br />

Caminhei para o pequeno vestiário, colocado ao lado da entrada. Antes,<br />

dei um adeus a Yeda, com um olhar desesperado; pressentia que era essa<br />

a última vez que a veria viva, fitei-a, mais uma vez, despedindo-me dela;<br />

não tive resposta.<br />

Arranquei, lentamente, as botas brancas colocadas por cima dos sapatos;<br />

o largo e imenso avental foi retirado com a ajuda da moça séria da<br />

portaria. Despedi-me de todos, caminhei até à sala de espera, ao lado do<br />

CTI, onde decidira passar o resto da noite. Não havia intenção de retornar<br />

à minha casa. Para quê? No meu apartamento vazio a solidão seria<br />

mais penosa ainda; lá estaria só, diante da morte, diante de mim; aqui,<br />

ao lado da enfermaria, tinha companheiros, padecendo do mesmo mal<br />

que eu sofria. Todos, naquele instante, eram capazes de compreender a<br />

minha dor, como eu compreendia a deles. Na minha casa, aprisionado<br />

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