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Rosária escutava, com pesar, a voz pastosa do Dr. Adamastor elogiando<br />

sua beleza. Lembrava do passado, comparava-se com a jovem que fora.<br />

Recordava, com grande sofrimento, que, agora, ela não tinha mais nada<br />

do que o marido dizia. Concordava que já teve tudo aquilo, que sua<br />

figura e simpatia fizeram muitos homens elegantes e bonitos se apaixonarem<br />

por ela. Se nunca tivesse sido bonita, o sofrimento seria menor. Incorporando<br />

a mocinha cobiçada, ela representava a fantasia do marido.<br />

Não era tão difícil assim, duraria apenas uns poucos minutos. Era mais<br />

penoso suportar os agarramentos, os beijos com mau hálito e os abraços,<br />

reais demais para serem encenados. Tolerava e se sentia envaidecida,<br />

com as declarações de amor repetidas quase diariamente. Impossibilitada,<br />

pelos anos, de viver um presente como o recitado na declaração<br />

de amor, esforçava-se, ao máximo, para se iludir. Por mais que se esforçasse,<br />

conscientemente, não mais conseguia viver a juventude plena da<br />

cena, o representado nos momentos da “folie a deux”: “eu sei que isso<br />

não mais existe, tenho consciência, mas como dói, sou uma mulher<br />

feia, sem atrativos, que só os mais humildes, velhos e feios, procuram,<br />

aceitam ou toleram. Estou sendo enganada, mas engano ele também. E<br />

daí? A vida é feita de enganos e ilusões, do nascimento à morte. Tudo<br />

é ilusão...Não é somente na velhice; antes, quando mocinha, era tão ou<br />

mais tapeada do que agora. Cada homem acredita naquilo que dá a ele<br />

felicidade, num certo momento. Mas, o que são nossas alegrias? Uma<br />

maneira falsa, quase sempre passageira, de enfrentar a realidade tola e<br />

chata. Os mais espertos depois percebem, quando não são muito burros,<br />

que tudo não passava de um erro, que o mundo era outro. Eu, também,<br />

como todo mundo, tenho o direito de fingir acreditar, por uns momentos,<br />

sem estar embriagada, de que sou uma mulher bonita, gostosa<br />

e desejada... Por que não? Quem nunca fez isso para agüentar a vida<br />

ruim que leva? Temos que mentir para nós mesmos... Precisamos dessas<br />

tapeações para continuarmos vivendo. Sem elas seria melhor morrer”.<br />

O físico do marido não mais a agradava: a grande barriga que, felizmente,<br />

quase o impedia de abraçá-la, o hálito e o bigode cheirando a<br />

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