terragente - Centro de Documentação e Pesquisa Vergueiro
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10 mil trabalhadoras rurais no encontro<br />
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RESOLUÇÕES 00 III ENCONTRO DOS TRAUALHADORES RURAIS<br />
DE TUCUNDUVA - RS 25/JUL/85<br />
Nós, agricultures do Município <strong>de</strong> Tucun<br />
duva, reunidos no 111 Encontro Municipal <strong>de</strong> Traba-<br />
lhadores Rurais, reassumimos o compromisso <strong>de</strong> nos<br />
unir e <strong>de</strong> nos organizarmos e não aceitannos mais<br />
as imposições que nos são colocadas, nem promessas<br />
<strong>de</strong> políticos em vésperas <strong>de</strong> eleições.<br />
São sérios e preocupantes os problemas<br />
que nos atingem. Precisamos <strong>de</strong> soluções imediatas<br />
e^ queremos nossa participação nas soluções dos \_<br />
números problemas existentes, soluções concretas e<br />
não só no papel e engavetadas nos gabinetes <strong>de</strong> nos^<br />
sos representantes políticos. Por isso <strong>de</strong>cidimos:<br />
REFORMA AGRARIA - Exigir a concretização da Refor-<br />
ma Agrária; "TERRA PARA QUEM TRABALHA A TERRA", com<br />
uma completa assistência para que o agricultor te<br />
nha condições <strong>de</strong> sobrevivência.<br />
PREVIDÊNCIA SOCIAL z Exigir fiscalização nos reco-<br />
lhi uieníõrUãTrevTdênci a. Lutar por uma Previdência<br />
Social justa, pois há muito tempo reivindicamos,<br />
mas infelizmente ainda não a conquistamos por omi£<br />
são dos responsáveis <strong>de</strong>ste setor. Agora é a hora!<br />
MULHER AGRICULTORA - Que a mulher agricultora seja<br />
reconhecida como trabalhadora rural, com os mesmos<br />
direitos do homem. A mulher que é uma pessoa com<br />
idéias e opiniões próprias, <strong>de</strong>ve ir ã luta junto<br />
com o homem.<br />
POLÍTICA AGRÍCOLA - Fazer protestos e greves, exi-<br />
gindo que as auTõrida<strong>de</strong>s competentes atendam os<br />
nossos pedidos, que são apenas necessários para<br />
uma vida digna <strong>de</strong> trabalhadores rurais. Fazer pro<br />
testos antes da colheita, por melhores preços,pois<br />
<strong>de</strong>pois que a caça fugiu não adianta ficar dando U<br />
ros atras. Diversificar as culturas. Fazer nossos<br />
orçamentos, procurando o máximo <strong>de</strong> in<strong>de</strong>pendência<br />
dos Bancos e que os financiamentos agrícolas se<br />
jem com juros justos, pois atualmente são insupor-<br />
táveis, provocando a <strong>de</strong>scapitalização dos pequenos<br />
produtores e, o crescimento espantoso das entida-<br />
<strong>de</strong>s financeiras.<br />
DENUNCIAMOS - A violência no campo e a impunida<strong>de</strong><br />
aos assassinos. Construção <strong>de</strong> barragens sobre o<br />
Rio Uruguai. Não queremos morrer afogados,queremos<br />
terra para produzir alimentos e nao para enchê-las<br />
<strong>de</strong> água.<br />
Alô, gente animada do TERRAGENTE 1<br />
Cruzeiro, 30 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1985.<br />
Desculpem o atraso, Obrigada pela car<br />
tinha. Continuem animados na luta. A opressão tam<br />
bêm tem limites. Não será ela que nos vencerá. Nõs<br />
venceremos, porque organizados temos conosco a foj^<br />
ça do Espírito revolucionário <strong>de</strong> Cristo,<br />
Reforma Agrária e Constituinte são as<br />
duas ban<strong>de</strong>iras <strong>de</strong> luta. Sabem que também para os<br />
<strong>de</strong>sempregados a Reforma Agrária po<strong>de</strong>rá ser a solu-<br />
ção... Se na cida<strong>de</strong> não ha mais empregos não resol^<br />
ve ficar a espera para gue outros se <strong>de</strong>sempreguem,<br />
Se os empregados, isto e, os <strong>de</strong>sempregados voltarem<br />
para a roça, também os empregados po<strong>de</strong>rão pedir me<br />
Ihores^salãrios, não acham? Não havendo mão-<strong>de</strong>-obra<br />
disponível o empregador ouvirá melhor o empregado.<br />
Bem, uma abraço a vocês. Tudo <strong>de</strong> bom<br />
Unidos sempre na mesma luta<br />
Zélia Marvani<br />
<strong>terragente</strong> 2<br />
opinião do gea<br />
NADA COMO UM DIA<br />
APÓS O OUTRO<br />
No dia 15 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1985, o<br />
Brasil viu, em ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> radio e televi-<br />
são a posse do primeiro governo civil <strong>de</strong>s<br />
<strong>de</strong> 19*64. Era o início da chamada "Nova<br />
Republica".<br />
Nos primeiros tempos, todos os<br />
políticos govemistas diziam que não da<br />
va para exigir <strong>de</strong>mais do novo governo<br />
porque ele estava mal começando,havia o<br />
falecimento do presi<strong>de</strong>nte Tancredo Neves,<br />
a "herança" assumida era muito pesada,<br />
etc.<br />
Papo-furado i parte, o que in-<br />
teressava e interessa e a prática. É no<br />
dia-a-dia que os trabalhadores e a popu-<br />
lação em geral po<strong>de</strong> comparar os^discursos<br />
com a pratica da dita "Nova Republica".<br />
Passados mais <strong>de</strong> 200 dias <strong>de</strong>s<br />
<strong>de</strong> que assumiu, o governo Samey não <strong>de</strong><br />
monstrou para que veio e nem o que real-<br />
mente "mudou". Alias o velho slogam "Mu-<br />
da Brasil" hoje so e usado por empresas<br />
<strong>de</strong> transporte e não pelo "novo" governo.<br />
Mas vamos pegar três exemplos<br />
práticos e <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> importância para ver<br />
mos o <strong>de</strong>sempenho da "Nova República". 0<br />
primeiro <strong>de</strong>les são os empregados da Em<br />
presa Brasileira <strong>de</strong> Correios e Telégrafos<br />
que, pela segunda no mesmo ano, reivindi<br />
cam melhores salários do seu patrão - o<br />
governo. O mínimo que se po<strong>de</strong>ria esperar<br />
era uma <strong>de</strong>magogia do tipo: "Não temos d^<br />
nheiro", "todos precisam dar sua parcela<br />
<strong>de</strong> sacrifício" ou outras <strong>de</strong>sculpas do gê<br />
nero. Mas o que faz a "Nova República"?<br />
Ao mesmo tempo em que aumenta as tarifas<br />
e selos, <strong>de</strong>spe<strong>de</strong> todos os lí<strong>de</strong>res dos mo<br />
vimentos reivindicatorios e contrata no<br />
vos funcionários para os seus lugares.<br />
0 segundo exemplo e o PNRA (ve<br />
ja matéria neste^ TERRAGENTE). Certamen-<br />
te a Reforma Agrária seria uma das saí-<br />
das mais baratas para o problema alimen-<br />
tar brasileiro e uma solução para a ver-<br />
da<strong>de</strong>ira guerra civil que existe hoje no<br />
campo brasileiro. 0 que faz a "Nova Repú<br />
blica"? Lança uma "proposta" <strong>de</strong> Plano <strong>de</strong><br />
Reforma Agrária que nem ela mesma assume<br />
e acaba por assinar um Plano <strong>de</strong>finitivo,<br />
que além <strong>de</strong> <strong>de</strong>magógico so foi apoiado pe<br />
los militares e pelos latifundiários Mais<br />
uma vez os agricu,tores que dicidirem es<br />
perar pela Reforma Agrária do governo po<br />
<strong>de</strong>m ir sentando e esperar com calma,se e<br />
que alguém ainda está esperando pela Re-<br />
forma Agrária do governo.<br />
0 terceiro gran<strong>de</strong> exemplo é a<br />
Constituinte. 0 que se esperava é que ela<br />
fosse livre, soberana, <strong>de</strong>mocrática e ex<br />
clusiva. A "Nova República" não garantiu<br />
nem sequer que ela fosse exclusiva,(veja<br />
TERRAGENTE n9s 33, 34 e este n9) pois a<br />
Comissão Mista <strong>de</strong> Parlamentares que estu<br />
da as emendas e propostas <strong>de</strong> convocação<br />
da Assembléia Constituinte propôs para<br />
março <strong>de</strong> 86 um plebiscito. Neste plebis-<br />
cito a população iria <strong>de</strong>cidir se teríanos<br />
uma Assembléia Constituinte ou um Congres<br />
so com po<strong>de</strong>res constituintes. 0 que fez<br />
a "Nova República"? Destituiu o relator<br />
da Comissão Parlamentar, <strong>de</strong>putado Flávio<br />
Bierrembach do próprio PMDB e nomeou um<br />
outro relator, <strong>de</strong>sta vez do PDS. Assim,pa<br />
ra fazer a lei das leis do país nos vamos<br />
ter uma farsa <strong>de</strong> Constituinte aplicada pr<br />
esta farsa que é a tal "Nova República".<br />
E como diz um velho ditado popu<br />
lar "Nada como um dia após o outro". Esta<br />
aí a "Nova República" para provar, não é<br />
mesmo?<br />
<strong>terragente</strong> 3
0 DIA DA CAÇA - I<br />
Há um velho ditado po<br />
pular que diz: "Um dia i da<br />
caça, outro do caçador". E pa<br />
rece que no dia 17 <strong>de</strong> outubro<br />
no gran<strong>de</strong> Encontro Estadual<br />
das Mulheres Trabalhadoras Ru<br />
rais o dia era da caça, pois<br />
os caçadores, ou melhor, caça<br />
dores <strong>de</strong> votos não se dão mu^<br />
to bem.<br />
0 primeiro "inci<strong>de</strong>nte'<br />
da tar<strong>de</strong> se <strong>de</strong>u quando a <strong>de</strong>pu<br />
tada Ecléa Fernan<strong>de</strong>s^ chegou<br />
ao Beira-Rio, foi até a mesa<br />
coor<strong>de</strong>nadora dos trabalhos,<br />
cumprimentou todos os convida<br />
dos e se sentou na mesa.Mas a<br />
sua alegria não durou muito.<br />
As trabalhadoras rurais cansji<br />
das <strong>de</strong> oportunismo político<br />
"convidaram" não muito gentil<br />
mente que a <strong>de</strong>putada da "AlT<br />
anca Democrática" se retiras-'<br />
se da mesa jã que ninguim a<br />
tinha convidado. Ai, com a ca<br />
ra ã prova <strong>de</strong> "cupim que Deus<br />
lhe <strong>de</strong>u" a <strong>de</strong>putada saiu, <strong>de</strong><br />
mansinho e tentando disfarçar.<br />
^ pinga-fogo<br />
0 DIA DA CAÇA - II<br />
Mas as mulheres não<br />
estavam para brinca<strong>de</strong>ira. No<br />
meio da tar<strong>de</strong> uma das orado-<br />
ras que falava ao microfone<br />
estranhou que, no meio <strong>de</strong> seu<br />
discurso, sem amis nem menos,<br />
as mulheres começaram uma e£<br />
trondosa vaia. Assustada a o<br />
radora parou para ver o que<br />
ocorria. A "ocorrência" era a<br />
saTda do estádio do Superinten<br />
<strong>de</strong>nte do INAMPS-RS, Rui Ne<strong>de</strong>F<br />
Alias^ diga-se <strong>de</strong> passagem,<br />
ninguém sabia o que o homem<br />
fazia por lã, mas todas as mu<br />
lheres mostraram que conheci-<br />
am o tal senhor. E quando ele<br />
se retirou o tchauzinho foi<br />
uma sonora vaia. Pois é, a po<br />
pularida<strong>de</strong> <strong>de</strong>le também não an<br />
da muito boa no meio rural e<br />
ele sentiu isto <strong>de</strong> perto.<br />
0 DIA DA CAÇA - III<br />
Não contentescom as<br />
duas primeiras "ocorrências".<br />
as mulheres acabaram o dia 17<br />
<strong>de</strong> outubro com chave <strong>de</strong> ouro.<br />
Ao seencaminharem em passea-<br />
ta até o centro da cida<strong>de</strong> as<br />
trabalhadoras rurais passaram<br />
pela frente do Palácio do P2<br />
ratini. Alguns dias antes a<br />
Comissão Organizadora do En<br />
contro Estadual havia procura<br />
o governador para que este a<br />
judasse o Encontro localizan~<br />
do algum local para o evento.<br />
0 governador não <strong>de</strong>u bala. No<br />
dia 17 <strong>de</strong> outubro, ao saber<br />
que uma passeata <strong>de</strong> mais <strong>de</strong><br />
um quilômetro estava passando<br />
pelo Palácio o governador a<br />
chou que seria "interessante""'<br />
receberas trabalhadoras ru<br />
rais. S5 .que o dia realmente<br />
nao estava para os caçadores<br />
<strong>de</strong> voto e as mulheres resolve<br />
ram que não iriam falar com<br />
o governador, afinal se elas<br />
tinham organizado o Encontro<br />
sozinhas, para que precisariam<br />
do governador? E ai o Jairzi-<br />
nho ficou vendo a "banda pas<br />
sar", mais uma vez.<br />
DOMITIL.A<br />
Neste ca<strong>de</strong>rno TERRAGENTE apresentamos tre<br />
chos do <strong>de</strong>poimento <strong>de</strong> DOMITILA BARRIOSDE CHUNGARff<br />
que foram publicados no "Ca<strong>de</strong>rno <strong>de</strong> Idéias do Povo<br />
Trabalhador" editado pelo CRO em 197-9 (esgotado). Es^<br />
tes <strong>de</strong>poimentos foram tirados do livro "Se me <strong>de</strong>i-<br />
xam falar" que foi organizado por Moema Viezzer.<br />
Em seu <strong>de</strong>poimento, Domitila fala da luta dos trabalhadores na Bolí-<br />
via e, principalmente, <strong>de</strong> experiência <strong>de</strong> organização das mulheres trabalhadoras bolivi<br />
anas:<br />
"...que este <strong>de</strong>poimento volte ã Classe Trabalhadora, para que juntos, operários, lavra<br />
dores, donas <strong>de</strong> casa, todos, inclusive a juventu<strong>de</strong> e os intelectuais que querem lutar'<br />
conosco, recolhamos a experiência, analisemos e verifiquemos os erros que cometemos no<br />
passado, para que, corrigindo estes erros nós possamos fazer melhores coisas no futu-<br />
ro... criar nós mesmos os instrumentos que nos fazem falta e melhorar a nossa luta."<br />
PEDIDOS E ENDERECD PARA CORRESPONDÊNCIA:<br />
GEA - Grupo <strong>de</strong> Estudos e Assessoria Agrária<br />
Rua Gaspar Martins, 470 - 29 andar - Caixa Postal - 10.507<br />
90.000 - Porto Alegre - RS - Fone: (0512) 25-07-87<br />
<strong>terragente</strong> 4-
sindicalismo<br />
Os meses passados foram bastante movimentados no meio sin<br />
dical. Em agosto tivemos o ENCLAT (Encontro Estadual das Classes Tra<br />
balhadoras) e em setembro o Congresso da CUT/RS. Em outrubro foi a<br />
vez da CONCLAT que promoveu uma reunião a nível nacional.<br />
Vamos espremer um pouco cada um <strong>de</strong>sses acontecimentos para<br />
ver o que sai.<br />
0 ENCLAT se realizou em Porto<br />
Alegre nos dias 16, 17 e 18 <strong>de</strong> agosto com<br />
a presença <strong>de</strong> 1.035 <strong>de</strong>legados.<br />
^pesar no número <strong>de</strong> participan<br />
tes ter sido maior do que das outras vê<br />
zes, a discussão travada, no geral,foi dê<br />
um nível muito baixo, refletindo pouca dis<br />
cussão anterior. —<br />
A maioria das assembléias que<br />
indicaram <strong>de</strong>legados, foram realizadas com<br />
baixa participação. Muitas vezes até nem<br />
foram convocadas, e os <strong>de</strong>legados em boa<br />
parte, sairam <strong>de</strong> conchavos <strong>de</strong> diretoria.<br />
A^ discussões, no Encontro, fo<br />
ram bastante acirradas, porém com pouca<br />
profundida<strong>de</strong>.<br />
0 setor da CUT foi para o EN<br />
CLAT quase sem nenhuma articulação prévia<br />
e por isso, embora tivesse em plenário os<br />
<strong>de</strong>legados mais representativos e combati-<br />
vos, não conseguiu barrar resoluções ex<br />
tremamente atrasadas como foram as em ;Fa~<br />
vor da manutenção do Imposto Sindical ' e<br />
1 • enclat<br />
(ENCONTRO ESTADUAL DA CLASSE TRABALHADORA)<br />
contra a Convenção 87 da OIT - Organização<br />
Internacional do Trabalho (ver TERRAGEN<br />
TE n? 33).<br />
Por outro lado, houve avanços<br />
na <strong>de</strong>finição da luta por uma Constituinte<br />
livre, <strong>de</strong>mocrátiva, soberana e exclusiva,<br />
com ampla participação popular e com crí-<br />
ticas a Comissão Sarney (a dos "Notaveis'5<br />
Uma resolução importante foi a<br />
respeito da composição da CCU - Comissão<br />
Coor<strong>de</strong>nadora Unitária - eleita no final<br />
do ENCLAT. Desta vez a CCU não foi só com<br />
posta por sindicalistas, mas por setore¥<br />
organizados do movimento sindical. A Co<br />
missão tem uma representação <strong>de</strong> sindica"<br />
listas da CUT, 8 da CONCLAT e 8 ditos in<br />
<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes,<br />
Esta resolução assume claramen<br />
te que o movimento sindical está polariza<br />
do em torno <strong>de</strong> duas propostas <strong>de</strong> Centrais<br />
Sindicais que são propostas radicalmente<br />
diferentes em termos <strong>de</strong> concepção e sobre<br />
tudo, da prática no movimento sindical.<br />
<strong>terragente</strong> 5:
sindicalismo<br />
A p^TlCIPAC» DOS TRAB^AW^W^J^ ,<br />
Este ENCLAT contou com a<br />
mais baixa participação <strong>de</strong> Sindicatos<br />
<strong>de</strong> Trabalhadores Rurais <strong>de</strong> que todos<br />
os outros.<br />
Talvez justamente por isso<br />
tenha acontecido que a FETAG tenha<br />
sido eleita para a CCU como uma das 8<br />
entida<strong>de</strong>s representantes da CONCLAT.<br />
0 fato realmente é muito<br />
estranho, uma vez que pelo que se sa<br />
be nunca foi aprovado em nenhuma reu~<br />
nião da Fe<strong>de</strong>ração a sua filiação a es<br />
ta central.<br />
Como então po<strong>de</strong> uma direção<br />
<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ração, ao sabor <strong>de</strong> suas pró<br />
rias posições vincular uma entida<strong>de</strong><br />
que representa um universo enorme <strong>de</strong><br />
ü II CONCUT reuniu nos dias<br />
28 e 29 <strong>de</strong> setembro, em Porto Alegre,738<br />
<strong>de</strong>legados <strong>de</strong> 99 categorias <strong>de</strong> trabalhado<br />
res, um número que representa quase o dcJ<br />
bro <strong>de</strong> participantes em relação ao 19<br />
Congresso no ano passado.<br />
Este aumento reflete o cresci<br />
mento no processo <strong>de</strong> organização da CUT<br />
no Estado aon<strong>de</strong> já existem várias CUTs<br />
Regionais organizadas e outras em pro-<br />
cesso acelerado <strong>de</strong> organização.<br />
CUT/RS reafirmou neste Con-<br />
gresso^os seus princípios básicos <strong>de</strong> in-<br />
<strong>de</strong>pendência em relação a classe dominan-<br />
te e concluiu que a "Nova República" é<br />
2-o Ilconcut<br />
[CONGRESSO DA CUT)<br />
trabalhadores rurais, sem isto ter pas<br />
sado por uma discussão e <strong>de</strong>liberação<br />
dos sindicatos, sem ào menos os diri<br />
gentes sindicais terem se posiciona-<br />
do.<br />
Isto, no fundo <strong>de</strong>monstra<br />
uma visão <strong>de</strong> entida<strong>de</strong> como "aparelho"<br />
da Diretoria e sobretudo, evi<strong>de</strong>ncia<br />
uma prática anti-<strong>de</strong>mocrática que <strong>de</strong>ve<br />
ser questionada a fundo pelos sindi-<br />
catos mais conseqüentes do movimento<br />
sindical rural.<br />
Uma entida<strong>de</strong> sindical <strong>de</strong>ve<br />
representar as convicções e posições<br />
<strong>de</strong> seus associados e não a posição <strong>de</strong><br />
uma direção que eventualmente está a<br />
sua testa<br />
mais um arranjo das elites. Ficou claro<br />
para todos os <strong>de</strong>legados que a situação<br />
dos trabalhadores não melhorou em nada<br />
e <strong>de</strong> que é preciso continuar com luta e<br />
organização.<br />
Neste Congresso, ficou evi<strong>de</strong>ji<br />
te o amadurecimento da CUT tanto que foi<br />
possível levar para aprovação do plenário<br />
uma chapa <strong>de</strong> consenso, fruto <strong>de</strong> uma dis-<br />
cussão e <strong>de</strong> uma composição conseqüente<br />
entre as correntes <strong>de</strong> pensamento que es-<br />
tão constituindo a CUT em todo o Estado.<br />
Para a presidincia da CUT/RS<br />
foi reconduzido o comoanheiro José Fortu<br />
natti e os outros cargos da Executiva fo<br />
ram preenchidos da seguinte forma.<br />
VICE-PRESIDENTE- Paulo Farina- pres. STR Erexim<br />
SEC. GERAL- Si<strong>de</strong>rley - STI Alimentação PoA<br />
19 TESOUREIRO- Gersom - secretário Sind. Telecomunicações<br />
2? TESOUREIRO- José Vieira - pres. Sind. Metal. São Leopoldo<br />
SEC. ORGANIZAÇÃO- GregSrio Mendonça - vice-pres. Sind. Rodoviários<br />
SEC. FORMAÇÃO- Julieta Balestro - professora <strong>de</strong> PoA<br />
SEC. RURAL- Nadir Savoldi - STR <strong>de</strong> Ro<strong>de</strong>io Bonito<br />
<strong>terragente</strong> 6
Embora 17 <strong>de</strong>legações rurais<br />
tenham participado do CONCUT. muito<br />
mais portanto do que no ENCLAT, este<br />
numero ainda não reflete a real irrplan<br />
taçao da CUT no meio dos trabalhadcres<br />
rurais pois ela é bem mais expressiva.<br />
Inexplicavelmente muitos<br />
sindicalistas e sindicatos <strong>de</strong> trabalha<br />
dores rurais <strong>de</strong>ixaram <strong>de</strong> compareceF<br />
ao Congresso revelando talvez uma fal<br />
ta <strong>de</strong> clareza política no significado"<br />
<strong>de</strong> neste momento histórico, termos a<br />
CUT forte, representativa e enraizada<br />
na base.<br />
Ao todo, ficaram na Dire-<br />
ção Estadual 9 companheiros do campo,<br />
sendo que <strong>de</strong>sta vez as mulheres traba<br />
- sindicalismo<br />
lhadoras rurais batalharam e abriram<br />
espaço para que a companheira Marlise<br />
Fernan<strong>de</strong>s (STR <strong>de</strong> Três <strong>de</strong> Maio) fosse<br />
indicada para compor a Direção.<br />
Na executiva ficaram dois<br />
companheiros do campo, nos cargos <strong>de</strong><br />
vice-presi<strong>de</strong>nte e secretário rural.<br />
Os <strong>de</strong>mais trabalhadores ru<br />
rais que ficaram na Direção Estadual<br />
foram os seguintes: José Siqueira <strong>de</strong><br />
Palmeira das Missões, Roque Barbieri<br />
do STR <strong>de</strong> Farroupilha, A<strong>de</strong>lir Gatto<br />
<strong>de</strong> Tapera, Armando Fagun<strong>de</strong>s do STR<br />
<strong>de</strong> Passo Fundo, Ivan Pavan do STR <strong>de</strong><br />
Aratiba e Val<strong>de</strong>mar Pandolfo <strong>de</strong> Três<br />
<strong>de</strong> Maio.<br />
wfcà AâAâAâAâÀ 'ItXitkitk'<br />
AS RESOLUÇÕES DO CONCUT<br />
0 U CONCUT <strong>de</strong>finiu também<br />
a posição da Central em relação a quatro<br />
temas <strong>de</strong> interesse fundamental nâo só<br />
para os trabalhadores, mas para a socieda-<br />
<strong>de</strong> brasileira em geral: divida externa,<br />
reforma agrária, constituinte e estrutura<br />
sindical.<br />
A divida externa é, no enten<strong>de</strong>r<br />
da CUT uma questão polftica. É a principal<br />
responsável pela recessão imposta pelo<br />
FMI. que preten<strong>de</strong> apertar o máximo o<br />
cinto do povo para que o governo econo-<br />
mize e pagueaos banqueiros internacionais<br />
os empréstimos que fez para custear<br />
as obras faraônicas, a corrupção e as<br />
mordomias. Nesse contexto a posição<br />
assumida pela CUT é <strong>de</strong> ROMPIMENTO<br />
COM 0 FMI E NÃO PAGAMENTO DA<br />
DÍVIDA EXTERNA.<br />
REFORMA AGRARIA<br />
A luta pela reforma agrária<br />
é uma luta histórica dos trabalhadores<br />
brasileiros. A CUT exige imediata im-<br />
plantação do Plano» <strong>de</strong> Reforma Agrá-<br />
ria do governo, sem, no nentanto <strong>de</strong>ixar<br />
reconhecei que a proposta governamental,<br />
fruto direto das pressões dos trabalhadores,<br />
é insatisfatória. A CUT luta por uma<br />
reforma agrária ampla, massiva, radical e<br />
sob controle dos trabalhadores.<br />
CONSTITUINTE<br />
Em relação a Constituinte a CUT<br />
<strong>de</strong>fen<strong>de</strong> a sua convocação imediata e a sua<br />
instalação já no primeiro semestre <strong>de</strong> 86.<br />
Posiciona-se a favor <strong>de</strong> uma Constituinte<br />
que seja livre, soberana, <strong>de</strong>mocrática e<br />
exclusiva, que permita a participação <strong>de</strong><br />
candidatos avulsos ( sem filiação partidária)<br />
e garanta o voto aos maiores <strong>de</strong> 16 anos,<br />
bem como acesso igual e gratuito aos meios<br />
<strong>de</strong> comunicação e todos os segmentos con-<br />
correntes a Assembléia Nacional Consti-<br />
tuinte.<br />
ESTRUTURA SINDICAL<br />
0 fl CONCUT se manifestou<br />
ainda sobre a estrutura sindical brasi-<br />
leira, con<strong>de</strong>nando o mo<strong>de</strong>lo atualmente<br />
em vigor - que suprimiu a liberda<strong>de</strong> sin-<br />
dical impondo autorização prévia do<br />
Ministério do Trabalho para constitui-<br />
ção da entida<strong>de</strong> sindical - e posicionan-<br />
do-se a favor <strong>de</strong> uma nova estrutura sin-<br />
dical que garanta ás entida<strong>de</strong>s sindicais<br />
<strong>de</strong>mocracia, liberda<strong>de</strong> sindical, unida<strong>de</strong><br />
sindical e direito irrestrito <strong>de</strong> greve. Neste<br />
sentido a CUT-RS apoia a Convenção <strong>de</strong> 87<br />
da OIT, que assegura a autonomia política<br />
e administrativa dos sindicatos.<br />
PLANO DE LUTAS<br />
0 II Congresso da CUT aprovou<br />
também um plano <strong>de</strong> lutas que será imple-<br />
mentado por todos os sindicatos filiados<br />
à Central e coor<strong>de</strong>nado pela entida<strong>de</strong>. O<br />
plano contempla as principais reivíndica-<br />
ções dos trabalhadores tanto a nível<br />
econômico, como social e político.<br />
( 0 Bancário - 07/10/85) —<br />
terr agente 7;
sindicalismo<br />
Des<strong>de</strong> a sua fundação no Con-<br />
gresso <strong>de</strong> Praia Gran<strong>de</strong> em 1982 a CONCLAT<br />
nunca havia se assumido como uma Central<br />
sindical.<br />
Nesta época a CONCLAT manti -<br />
nha^o caráter <strong>de</strong> um "conselho". A expli-<br />
cação é simples, não se dispunha a assu-<br />
mir as responsabilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> uma central<br />
diante <strong>de</strong> um governo militar, não se ex<br />
punha a assumir o caráter <strong>de</strong> central pi"<br />
ra evitar os inevitáveis confrontos com<br />
a ditadura e suas oolíticas. Assim. se<br />
preservaram <strong>de</strong> assumir posições já que<br />
não era uma central, mas um conselho.<br />
Foi a CUT que ergueu as prin<br />
cipais ban<strong>de</strong>iras <strong>de</strong> luta da classe tra~<br />
balhadora, foi a CUT que organizou gre-<br />
\'es e que mobilizou os trabalhadores.<br />
Mas, eis que mudam os gover-<br />
nantes e a CONCLAT apressa-se ém assumir<br />
um caráter <strong>de</strong> central, apressa-se em se<br />
fazer representar nos gabinetes atopeta<br />
dos e com o condicionado da Nova Repú"<br />
blica.<br />
Qual a razão <strong>de</strong>sta mudança?<br />
Também é simples. A CONCLAT,<br />
busca apresentar-se como a central, a<br />
representante confiável dos trabalhado-<br />
res com o único objetivo <strong>de</strong> conciliar<br />
com os interesses patronais.<br />
Se na ditadura a CONCLAT con<br />
ciliava (e sempre conciliou) mas não a¥<br />
3 • conclat<br />
TRAGETÚRIA DA CONCILIAÇÃO<br />
sumiu esta vocação <strong>de</strong> forma explícita,a<br />
gora ela enche o peito e passando por<br />
cima da situação concreta e real da cias<br />
se trabalhadora colabora e busca o pac<br />
to social.<br />
Pois foi para isso que se re<br />
uniu nos primeiros dias <strong>de</strong> outubro em<br />
Sao Paulo on<strong>de</strong> foi aprovada a indicação<br />
<strong>de</strong> uma comissão <strong>de</strong> sindicalistas (será<br />
que são mesmo?) com o objetivo <strong>de</strong> nego-<br />
ciar (a<strong>de</strong>rir) ao pacto social.<br />
Esta é a trajetória daqueles<br />
que, no movimento sindical representam<br />
os interesses <strong>de</strong> outra classe, a burgue<br />
sia. É o caminho <strong>de</strong> quem quer amarrar os<br />
trabalhadores ã <strong>de</strong>fesa do sistema capi-<br />
talista com acertos <strong>de</strong> cúpula e freando<br />
<strong>de</strong> <strong>de</strong>ntro do aparelho sindical, a ex-<br />
pressão e a mobilização dos trabalhado<br />
res. —<br />
Mas o que estes <strong>de</strong>fensores e<br />
promotores da conciliação não esperavam<br />
e que suas próprias categorias não iriam<br />
e nao vão aceitar o pacto e que, bem pe<br />
Io contrário, estão dispostos a varrer<br />
os conciliadores <strong>de</strong> <strong>de</strong>ntro dos sindica<br />
tos.<br />
Assim é que po<strong>de</strong>mos enten<strong>de</strong>r<br />
o dado que nos é fornecido pela CUT-Na<br />
cional <strong>de</strong> que em média a cada semanaT<br />
uma chapa com o apoio da CUT ganha uma<br />
eleição sindical no país.<br />
^irnMTm ESTADUAL DE JOVENS<br />
Estamos constatando no País mu<br />
danças na consciência <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> parte dos<br />
brasileiros. Os Sem Terra estão discutin<br />
do problemas, tomando posições firmes e<br />
conscientes em <strong>de</strong>fesa <strong>de</strong> seus direitos.<br />
As mulheres avançam cada vez mais para<br />
conquistarem o seu espaço e o tratamento<br />
como ser humano, e não mero instrumento<br />
<strong>de</strong> produção barata para o capitalismo Na<br />
cional e Internacional.<br />
<strong>terragente</strong> 8,<br />
Mas sem dúvida uma das maiores<br />
transformações está ocorrendo entre os<br />
jovens da roça. As causas <strong>de</strong>ssa transfor<br />
maçao, vai <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o trabalho <strong>de</strong> conscien-<br />
tização que e feito nos grupos <strong>de</strong> jovens^<br />
ate a sua própria situação <strong>de</strong> miséria e<br />
<strong>de</strong>sespero que vivem hoje. Pois não há tra<br />
balho, não há participação, não hã nem<br />
mesmo uma perspectiva <strong>de</strong> mudança, princi<br />
palmente enquanto vivermos nessa conjun-
tura falida e exploradora do trabalhador<br />
Talvez seja por isso que o jovem esta se<br />
organizando, pois certamente já percebeu<br />
que sem uma forte união e conscientização<br />
as coisas não mudarão. E uma gran<strong>de</strong> pro<br />
va <strong>de</strong>ssa disposição dos jovens foi dada<br />
no 1? Encontro Estadual <strong>de</strong> Jovens, reali<br />
zado no último dia 22 <strong>de</strong> setembro em Pas<br />
so Fundo. 0 Encontro teve início na par<br />
te da manhã e se esten<strong>de</strong>u por todo o dia,<br />
participaram um total <strong>de</strong> 40.000(quarenta<br />
mil) jovens <strong>de</strong> todo o Rio Gran<strong>de</strong> do Sul.<br />
A organização do mesmo esteve a cargo da<br />
Pastoral da Juventu<strong>de</strong> com o apoio dos Sin<br />
dicatos <strong>de</strong> Trabalhadores Rurais <strong>de</strong> alguns<br />
municípios.<br />
Os assuntos tratados foram os<br />
mais variados possíveis: sobre a Reforma<br />
Agraria os jovens concluíram que a sua<br />
participação e mobilização será fundamen<br />
tal para conquistar a imediata implanta-<br />
ção e execução do P.N.R.A. Também <strong>de</strong>mons<br />
traram seu total apoio as ocupações <strong>de</strong><br />
terras não aproveitadas. Foi <strong>de</strong>finidoain<br />
da que os jovens da roça lançarão um jo<br />
vem para concorrer ã Constituinte. Resta<br />
<strong>de</strong>finir no entanto como se darã essa can<br />
didatura, se será por partido político e<br />
qual <strong>de</strong>les, ou ainda se <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>m o candi<br />
dato avulço. Mas o que foi <strong>de</strong>finidoê que<br />
eles querem uma Constituinte "livre, so<br />
berana, <strong>de</strong>mocrática e exclusiva".<br />
Muitos jovens se mostraram bas<br />
tante preocupados com a atual conjuntura<br />
das Cooperativas Gaúchas. Farão uma cam-<br />
panha para municipalizar as ainda exis<br />
tentes e exigir a punição dos Diretores<br />
corruptos. Reafirmaram a importância da<br />
participação da mulher e do jovem no sin<br />
dicalismo e na política, pois hoje estão<br />
muito afastados, sugando palavra <strong>de</strong> um<br />
jovem "política significa po<strong>de</strong>r e enquan<br />
/T<br />
^<br />
to estivermos afastados da política esta<br />
remos longe do po<strong>de</strong>r".<br />
ANO INTERNACIONAL<br />
DA JUVENTUDE<br />
Foi votada e aprovada uma mo<br />
ção <strong>de</strong> apoio a CUT (Central Única dos Tra<br />
balhadores).<br />
A educação esta bastante atra-<br />
sada e alienante. Os jovens concluíram<br />
que precisam tomar medidas imediatas pa<br />
ra exigir mudanças na educação brasilei-<br />
ra, contando certamente com o apoio <strong>de</strong><br />
boa parte dos professores que jã se cons<br />
cientizaram da falsa e errada educação<br />
que são obrigados a transmitir hoje a mi<br />
Ihões <strong>de</strong> pessoas. Quanto a atuação da ,1<br />
greja foi colocado que a mesma <strong>de</strong>ve as-<br />
sumir as lutas da classe trabalhadora,<br />
pois segundo eles "enquanto a Igreja não<br />
apoiar os pobres ou trabalhadores ela<br />
estará ajudando os ricos".<br />
A luta e organização dos. jo-<br />
vens promete muito, pois o propósito ê<br />
<strong>de</strong> formar mais grupos <strong>de</strong> jovens e promo-<br />
ver Seminários, Encontros e Congressos,<br />
para nesses discutir os problemas sociais<br />
e políticos brasileiros.<br />
0 lema do movimento dos jovens<br />
e: "JOVEM DA ROCA, SEMENTE DA NOVA SOCIE<br />
DADE".<br />
A LUTA CONTINUA<br />
A ILTÍA DOS TRABALHADORES RURAIS POR SEUS DIREITOS À PREVIDÊNCIA E<br />
ASSISTÊNCIA MÉDICA^ POR UMA POLÍTICA AGRÍCOLA ACESSÍVEL E PELA IMPLANTAÇÃO DA REPOR<br />
MA AGRÁRIA TEM CONTINUADO. NOS MESES DE AGOSTO E SETEMBRO^ DURANTE VINTE DIAS^AGRICUL<br />
TORES DE TODOS OS CANTOS DO ESTADO VIERAM A PORTO ALEGRE PARA PRESSIONAR 0 GOVERNO E<br />
CONSEGUIR SOLUÇÕES IMEDIATAS PARA OS SEUS PROBLEMAS.<br />
Na assembléia da FETAG do dia<br />
07 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1985 ficou <strong>de</strong>cidido que.<br />
para encaminhar suas reivindicações quan<br />
to a previdência, política agrícola e re<br />
terr agente 9:
sindicalismo<br />
forma agrária os trabalhadores rurais do<br />
Estado fariam uma série <strong>de</strong> protestos na<br />
capital do Estado.<br />
A gran<strong>de</strong> mudança que houve em<br />
relação a várias manifestações anterio<br />
res foi a forma <strong>de</strong> organizar esta mobili<br />
zação. Em primeiro lugar ao invés <strong>de</strong> a<br />
tos dispersos em cada região do inte-<br />
rior do Estado foi <strong>de</strong>cidido centralizar<br />
todas as manifestações em Porto Alegre.<br />
Como já dissemos as reivindi-<br />
cações atingiam três problemas: previ-'<br />
dência, política agrícola e reforma a-<br />
grária.<br />
Na questão da previdência, a<br />
reivindicação básica era assistência mé<br />
dica e hospitalar gratuita para todos<br />
08 trabalhadores rurais do estado, além<br />
da aprovação do projeto que equipara '<br />
trabalhadores rurais e urbanos.<br />
IMa questão da política agríco<br />
Ia haviam várias reivindicações entre '<br />
as quais: apoio ao pequeno agricultor a_<br />
través <strong>de</strong> uma assistência técnica aces-<br />
sível, programas <strong>de</strong> pesquisa, política'<br />
<strong>de</strong> comercialização <strong>de</strong> insumos, progra-<br />
mas <strong>de</strong> armazenamento e estocagem e for-<br />
terr agente 10<br />
Além disso os protestos tiveram uma se-<br />
qüência ininterrrupta ao contrário do<br />
que acontecia anteriormente quando as<br />
manifestações eram <strong>de</strong> apenas um ou dois<br />
dias.<br />
Assim, com uma organização '<br />
que previa uma organização forte na ca-<br />
pital do estado - local on<strong>de</strong> a pressão'<br />
tem maior divulgação e mais efeito - e<br />
com manifestações prolongadas os agri-<br />
cultores foram ã luta.<br />
as reivindicações<br />
talecimento do sistema cooperativista.'<br />
Além disso era reivindicado o estabele-<br />
cimento <strong>de</strong> uma linha <strong>de</strong> crédito especi-<br />
almente para o meio rural com juros e<br />
correção monetária diferenciados para<br />
custeio e investimento, <strong>de</strong>stinado aos '<br />
pequenos agricultores, mudança na polí-<br />
tica <strong>de</strong> preços mínimos, implantação <strong>de</strong><br />
ensino escolar e profissional voltada '<br />
para o meio rural e criação <strong>de</strong> um real<br />
seguro agrícola.<br />
Em relação a reforma agrária j3<br />
ra exigida a imediata aplicação da pro-<br />
posta original do PNRA que acabou sendo<br />
completamente modificada na sua versão'<br />
final (veja matéria neste TERRAGENTE].'<br />
E^sta implantação do PNRA previa, segun-
do a reivindicação dos trabalhadores, a<br />
instalação <strong>de</strong> 7.000 famílias até Janei-<br />
ro <strong>de</strong> 1986. sendo 1.000 famílias em se-<br />
tembro, tris mil até novembro e mais 3<br />
mil até janeiro. Além disso as reivindi<br />
cações propunham formas individuais ou<br />
coletivas <strong>de</strong> posse e exploração da ter-<br />
ra, o mesmo valendo para a comercializ_a<br />
ção da produção.<br />
Apesar <strong>de</strong> todas estas reivin-<br />
dicações, a que era mais importante pa-<br />
ra os trabalhadores rurais tratava-se '<br />
da previdência. Assegurar assistência '<br />
médica e hospitalar era a questão chave<br />
<strong>de</strong> todo o protesto. Mesmo assim outra '<br />
alteração importante foi a unificação '<br />
das três diferentes lutas neste movimen<br />
to. Isto <strong>de</strong>u um caráter mais amplo às '<br />
reivindicações e foi um fato inédito a-<br />
qui no RS.<br />
Com estas reivindicaçios mi-<br />
lhares <strong>de</strong> agricultores se suce<strong>de</strong>ram em<br />
Porto Alegre por 20 dias. As manifesta<br />
ções só terminaram no dia 06.09.85 quan<br />
do, após várias negociações, audiências<br />
em Brasília e passeatas, o INAMPS garan<br />
tiu que o sistema AIH [Autorização <strong>de</strong><br />
Internação Hospitalar} voltaria a funci<br />
onar regulando os casos <strong>de</strong> baixa em hos<br />
pitais (sobre este assunto leia o TERRA<br />
GENTE n° 29).<br />
Neste acordo o INAMPS se com-<br />
prometia <strong>de</strong> liberar 18.000 internações'<br />
sindicalismo<br />
I hospitalares líiensalmente para os traba-<br />
lhadores rurais. É importante lembrar '<br />
que o sistema AIH só regulamenta os ca-<br />
sos <strong>de</strong> internação e não garante o bene-<br />
fício <strong>de</strong> consultas médicas gratuitas.No<br />
início, estas consultas só seriam forne<br />
cidas em locais on<strong>de</strong> houvessem hospita-<br />
is do governo, do estado ou municípios'<br />
conveniados com o INAMPS.<br />
Este acordo <strong>de</strong>veria entrar em<br />
funcionamento no dia 19 <strong>de</strong> outubro, mas<br />
isto nãc ocorreu, pois os médicos se r£<br />
cusam a aten<strong>de</strong>r os trabalhadoras rurais<br />
alegando que o INAMPS paga mal e ainda'<br />
atrasa no pagamento.<br />
os resultados <strong>de</strong> tanta briga<br />
Além da experiência inovadora<br />
em termos <strong>de</strong> mobilização que conseguiu'<br />
ser concentrada e prolongada, pouco ou<br />
nada foi conseguido até agora em termos<br />
práticos. Com relação ã reforma agrária<br />
as perspectivas pioraram daquela época'<br />
em diante. Em relação ã política agríco<br />
Ia o governo anunciou mudanças, mas es-<br />
tas <strong>de</strong>vem ser esperadas com calma para'<br />
que os leitores não se cansem. E na pre<br />
vidência o impasse continua: os agricul<br />
tores sem assistência e os médicos di~<br />
zendo que recebem pouco.<br />
como a luta vai continuar?<br />
Esta é, sem duvida, uma boa<br />
pergunta. E a resposta quem <strong>de</strong>ve dar '<br />
são os trabalhadores rurais organizados<br />
e atuando em seus sindicatos.<br />
Para a continuida<strong>de</strong> da luta<br />
a nível <strong>de</strong> previdência, os trabalhado-'<br />
res rurais estão prevendo que uma série<br />
<strong>de</strong> caravanas se dirigirão ã Brasília pa<br />
ra pressionar diretamente na capital d"ã<br />
república pela solução <strong>de</strong>ste impasse. '<br />
Estas caravanas <strong>de</strong> agricultores irão e<br />
acamparão só retornando quando houver u<br />
terr agente 11
=sindicalismo ==<br />
ma solução <strong>de</strong>finitiva para este impas-.<br />
se da assistência médica e hospitalar.<br />
Em toda esta luta que está '<br />
sendo levada oor reais modificaçios na<br />
política agrícola, política fundiária e<br />
pela previdincia. os trabalhadores ru-<br />
rais <strong>de</strong>vem ter alguns cuidados: para '<br />
que a mobilização possa ter resultados'<br />
positivos a organização <strong>de</strong>ve crescer,en<br />
volver mais gente e também procurar no-<br />
vas formas <strong>de</strong> pressão. Além disso é ne-<br />
cessário distinguir bem qual é o inimi-<br />
go, porque brigando contra o adversário<br />
errado o "tiro po<strong>de</strong> sair pela culatra".<br />
Por isto talvez seja conveniente evitar<br />
os ataques feitos aos médicos e seus '<br />
sindicatos. Não que estes sejam "santos"<br />
mas esta "briga" <strong>de</strong>veria ser evitada '<br />
por dois motivos básicos: não <strong>de</strong>sviar a<br />
atenção do real inimigo que é o INANPS,<br />
e evitar que mais tar<strong>de</strong>, estes mesmos<br />
médicos, que hoje são ameaçados até com<br />
a Polícia Fe<strong>de</strong>ral, venham dar um mau a-<br />
tendimento aos trabalhadores rurais <strong>de</strong>-<br />
vido a esta "peleia" que está sendo ar-<br />
mada.<br />
10 MIL MULHERES TRABALHADORAS RURAIS REALIZAM GRANDE ENCDNTRO ESTADUAL<br />
MULHER DA ROÇA<br />
MOSTRA SUA FORÇA<br />
DEZ MIL MULHERES TRABALHADORAS RURAIS, VINDAS DE TODOS OS CANTOS DO ESTADO, REUNIRAM-<br />
-SE EM PORTO ALEGRE NO DIA 17 DE OUTUBRO PARA PROTESTAR POR SUAS CONDIÇÕES DE VIDA E<br />
DE TRABALHO,E PARA ORGANIZAR A LUTA POR SUAS REIVINDICAÇÕES ESPECÍFICAS: O RECONHECI<br />
MENTO DE SUA PROFISSÃO COMO TRABALHADORAS RURAIS E OS DIREITOS DECORRENTES DESTE RECO<br />
NHECIMENTO.<br />
A idéia do Encontro surgiu em<br />
vários municípios, nas comemorações do<br />
dia 8 <strong>de</strong> março - dia Internacional da Mu<br />
lher. As mulheres trabalhadoras rurais que<br />
jã estavam organizadas ã nível municipal<br />
(e as vezes até regional) sentiam a nece£<br />
sida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se unir com outras na mesma si<br />
tuação, pra trocar experiências e se orga<br />
nizar num movimento que, aos poucos,abraH<br />
gesse todo o Estado.<br />
Como resultado disto, um grupo<br />
<strong>de</strong> companheiras <strong>de</strong> vários <strong>de</strong>stes municí<br />
pios começou a se reunir para discutir a<br />
viabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um Encontro Estadual e co<br />
mo organizá-lo. A idéia foi crescendo, to<br />
mando forma e entusiasmando. Até que em<br />
junho foi <strong>de</strong>cidido uni Encontro Estadual<br />
para protesto e reivindicação, on<strong>de</strong> a mu<br />
lher trabalhadora rural, até agora tao<br />
marginalizada e tão calada, pu<strong>de</strong>sse <strong>de</strong>sa-<br />
bafar e iniciar um processo <strong>de</strong> organização<br />
e <strong>de</strong> luta ã nível estadual, pelo seu reco<br />
nhecimento como trabalhadora, por seus dT<br />
reitos e pela participação em pé <strong>de</strong> igual<br />
da<strong>de</strong> com o homem, principalmente no sindT<br />
cato.<br />
terr agente 12<br />
Para organizar o Encontro foi<br />
escolhida uma Comissão Estadual e uma Exe<br />
cutiva, Foi feito um boletim para discus^<br />
são nas bases,dos objetivos do Encontro,<br />
das reivindicações do movimento e <strong>de</strong> sua<br />
proposta <strong>de</strong> organização. Foi escolhido um<br />
símbolo para o movimento das mulheres tra<br />
balhadoras rurais do Estado ( abaixo).Ele<br />
representa o sexo feminino $, uma margari<br />
da em homenagem ã Margarida Alves (traba-
lhadora rural, sindicalista <strong>de</strong> Alagoa Graji<br />
<strong>de</strong>, assassinada impunemente) e a imagem<br />
<strong>de</strong> uma mulher agricultora indo a luta. 0<br />
símbolo foi usado em milhares <strong>de</strong> cartazes<br />
e camisetas que agora estão espalhados por<br />
todo o Estado, unindo as mulheres em tor-<br />
no <strong>de</strong> uma única idéia: lutar, organizadas<br />
e com coragem, por seus direitos, Tíimbem<br />
foi escolhido um hino feito por uma traba<br />
lhadora rural <strong>de</strong> Casca - Rosa três - que<br />
foi amplamente divulgado e cantado em pre<br />
paração ao dia 17: "Trabalhadora Rural".<br />
Todo este processo contou com o<br />
apoio dos sindicatos, da Pastoral e da<br />
FETAG: Enfim foram muitas reuniões e mui.<br />
to trabalho ate chegar o dia 17, mas va<br />
leu!<br />
A programação continuou com o<br />
<strong>de</strong>poimento das regionais, on<strong>de</strong> suas repre<br />
sentantes falaram sobre diversos aspectos<br />
da situação <strong>de</strong> vida e <strong>de</strong> trabalho das mu-<br />
lheres na roça. Durante todo o^tempo dos<br />
discursos, as mulheres do plenário se ma-<br />
nifestavam empunhando enxadas, cartazes e<br />
faixas, gritando palavras <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m e a-<br />
plaudindo as companheiras que falavam.<br />
Apresentando a síntese dos <strong>de</strong>-<br />
poimentos feitos, Veatriz Pandolfo, <strong>de</strong>'<br />
Três <strong>de</strong> Maio, colocou para os representan<br />
tes dos Ministros o que as mulheres traba<br />
lhadoras rurais reivindicavam, exigindo u<br />
ma resposta. Logo_apos, tiveram a palavra<br />
José Gomes Temporão (Min. da Previdência)<br />
e Terezinha Silva Lima (Min. do Trabalho)<br />
Neste momento a inconformida<strong>de</strong> das mulhe-<br />
res com os políticos, que jâ se manifesta<br />
va <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início do Encontro, se trans-<br />
formou em vaias e repúdio (vi<strong>de</strong> pinga-fo-<br />
go neste TERRAGENTE).<br />
Também falou Ezídio Pinheiro '<br />
ismo<br />
da Fetag, e José Gomes da Silva, da Con-<br />
tag. .<br />
Mas o dia foi mesmo das mulhe-<br />
res. Respon<strong>de</strong>ndo aos pronunciamentos dos<br />
representantes do governo, Lucilda Kuhn,'<br />
<strong>de</strong> Cruzeiro do Sul, colocou que as mulhe-<br />
res não vão abrir mao <strong>de</strong> lutar por seus '<br />
direitos para transformar a situação atu-<br />
al em que trabalham e produzem e não têm<br />
direito ã nada. E que as mulheres, como '<br />
os <strong>de</strong>mais trabalhadores, não têm motivo<br />
para aceitar qualquer pacto com o governo.<br />
Por fim, as companheiras Mela-<br />
nia Krindges, <strong>de</strong> Santo Cristo e_ Adriana<br />
Ro<strong>de</strong>ghero, <strong>de</strong> Marau em apreciação as pro-<br />
postas apresentadas durante o dia (veja '<br />
manifesto a seguir) que foram aprovadas '<br />
por aclamação.<br />
E com entusiasmo com que se ma<br />
nifestaram durante todo o Encontro, as mu<br />
lheres sairam para a passeata no centro 1<br />
da cida<strong>de</strong>, em mais uma bela <strong>de</strong>monstração'<br />
<strong>de</strong> sua disposição <strong>de</strong> luta. 0 povo da cida<br />
<strong>de</strong>, manifestando o seu apoio, aplaudiu e<br />
jogou papel picado dos edifícios. Para<br />
Porto Alegre, foi uma gran<strong>de</strong> surpresa quê<br />
agitou o centro da cida<strong>de</strong>. Para as mulhe-<br />
res trabalhadoras rurais que vieram <strong>de</strong><br />
longe, que <strong>de</strong>ixaram seus filhos, sua casa<br />
e seu trabalho para vir gritar o seu_pro<br />
testo nas ruas <strong>de</strong> Porto (que muitas nao T '<br />
conheciam), para estas mulheres foi um di<br />
a histérico. Elas realizaram o maior en- 7 "<br />
contro <strong>de</strong> mulheres trabalhadoras rurais '<br />
do país num passo <strong>de</strong>cisivo na luta pelo<br />
reconhecimento <strong>de</strong> seu trabalho.<br />
Lembrando Margarida Alves po<strong>de</strong><br />
mos dizer com certeza que, <strong>de</strong> seu sangue'<br />
<strong>de</strong>rramado muitas outras margaridas estão]<br />
nascendo.<br />
terr agente 13-
sindicalismo<br />
O ENCONTRO<br />
Foi um dia <strong>de</strong> muita emoção, on<br />
<strong>de</strong> as mulheres foram as figuras princT<br />
pais e comandaram - elas mesmas - o maior<br />
encontro <strong>de</strong> mulheres trabalhadoras rurais<br />
do país. Foi, apesar dos <strong>de</strong>poimentos <strong>de</strong><br />
dor, um dia <strong>de</strong> festa.<br />
0 Encontro se realizou no Gi<br />
gante do Beira-Rio pois a Assembléia Le<br />
gislativa, que era o local previsto, nao<br />
conseguiria abrigar as milhares <strong>de</strong> mulhe-<br />
res que vieram a Porto Alegre para lutar<br />
por seus direitos.<br />
Des<strong>de</strong> cedo, começaram a chegar<br />
caravanas <strong>de</strong> todo o lado, com faixas, car<br />
tazes e muita animação que, aos poucos,foi<br />
tomando conta do estádio. Eram moças, mu<br />
lheres, senhoras que vestindo a camiseta<br />
com o símbolo do movimento ou carregando<br />
cartazes e faixas iam colorindo o dia. 0<br />
grupo <strong>de</strong> animação pedia palmas para as ca<br />
ravanas e puxava os cantos e as palavras<br />
<strong>de</strong> or<strong>de</strong>m como:"MULHER ORGANIZADA JA^IAIS<br />
S¥RÂ PISADA", "1,2,3,4 - ATUAÇÃO NO SINDI<br />
CATO", "ISTO NAO É VIDA QUERENDS NOSSA PRO<br />
FISSÃO RECONHECIDA", "EM 80, QUERBDS FA<br />
ZER AS LEIS", "NA HORA DO PEGA, OS POlfn<br />
COS ESTÃO NA MACEGA".<br />
Ãs 10:30 h começou a programa-<br />
ção: uma das apresentadoras. Rosa Maria<br />
Três <strong>de</strong> Casca, fez uma saudação ãs mulhe-<br />
res presentes e colocou o programa do dia<br />
De manhã seria a parte <strong>de</strong> integração, <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>poimentos, cantos e poesia. De tar<strong>de</strong> es<br />
tava prevista a presença dos Ministros dõ<br />
Trabalho e da Previdência, quando as mu-<br />
lheres colocariam suas reivindicações,exi<br />
gindo uma resposta. Depois, a companheira<br />
Maria Catarina Missio, <strong>de</strong> Espumoso, fez<br />
um histórico do movimento e da organização<br />
do Encontro. Então começou a tribuna li<br />
vre, com <strong>de</strong>poimentos <strong>de</strong> varias regiões dõ<br />
Estado e com muita animação a cargo da<br />
Loida e da turma <strong>de</strong> Passo Fundo e dos ir-<br />
mãos Pandolfo, <strong>de</strong> Três <strong>de</strong> Maio.<br />
Ao meio dia teve o intervalo pa<br />
ra o almoço que foi no local,pois as mu<br />
lheres trouxeram sua comida <strong>de</strong> casa.<br />
De tar<strong>de</strong>, ãs 13:^0 h, o Encon-<br />
tro reiniciou com a composição da mesa<br />
com a trabalhadora rural Ana Rossi, <strong>de</strong><br />
Três <strong>de</strong> Maio; a representante da Pastoral,<br />
irmã Terezinha Cardoso, Santina Tertulina,<br />
sindicalista <strong>de</strong> Pemanbuco, convidada; o<br />
representante da FETAG e o da C0NTAG;e os<br />
representantes dos Ministérios do Trabalho<br />
e da Previdência.<br />
Teve continuida<strong>de</strong> a tribuna li<br />
vre on<strong>de</strong> o último <strong>de</strong>poimento foi <strong>de</strong> Sant^i<br />
na, que veio trazer sua experiência e seu<br />
apoio ã luta das mulheres daqui do sul.<br />
MANIFESTO DAS MULHERES<br />
<strong>terragente</strong> 14<br />
TRAB. RURAIS<br />
17 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 85 * Gigante do Beira-Rio<br />
Porto Alegre<br />
Nós mulheres rurais, que traba<br />
Ihamos <strong>de</strong> sol a sol, todos os dias, toda<br />
a vida, não sonos reconhecidas como traba<br />
lhadoras. Nós mulheres, que criamos nos<br />
sos filhos que serão os futuros trabalha-<br />
dores da socieda<strong>de</strong>, que produzimos o ali-<br />
mento para a mesa do povo da cida<strong>de</strong>, não<br />
temos direito a nada.<br />
Quando a gente se mata traba
lhando na roça, não temos direito ã assis<br />
tência médica e nem ao auxílio por aci<strong>de</strong>n<br />
te <strong>de</strong> trabalho. Quando ficamos grávidas<br />
trabalhamos até o último momento e não te<br />
mos^direito a auxílio natalida<strong>de</strong> e a um<br />
salário maternida<strong>de</strong>. E na velhice não te<br />
mos direito ã aposentadoria, nem por ida<br />
<strong>de</strong>, nem por invali<strong>de</strong>z e nem por tempo <strong>de</strong><br />
serviço, Nós sonos consi<strong>de</strong>radas <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>n-<br />
tes dos pais e dos maridos, mas nem isto<br />
nos assegura o direito previsto na lei <strong>de</strong><br />
total assistência médica e hospitalar. Es<br />
tas são conquistas que as companheiras trã<br />
balhadoras da cida<strong>de</strong> já conseguiram ha<br />
muito tempo, mas que até hoje são negadas<br />
para nós. E isto apesar <strong>de</strong> estarmos con<br />
tribuindo com a Previdência, pegando 2,5<br />
por cento sobre tudo aquilo que produzi<br />
nos.<br />
Representamos 50% da força <strong>de</strong><br />
Consi<strong>de</strong>rando toda essa situa<br />
ção <strong>de</strong> injustiça e dificulda<strong>de</strong>s, nós as<br />
trabalhadoras rurais, reivindicamos o se<br />
guinte:<br />
- reconhecimento da profissão da mulher<br />
como trabalhadora rural;<br />
- aposentadoria aos 50 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, por<br />
invali<strong>de</strong>z e aos 30 anos <strong>de</strong> serviço.' Que<br />
o valor da aposentadoria seja pelo menos<br />
<strong>de</strong> um salário mínimo;<br />
- auxílio aci<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> trabalho;<br />
- auxílio natalida<strong>de</strong> e salário maternida-<br />
<strong>de</strong>;<br />
- assistência médica-, hospitalar, ambula-<br />
torial e odontológica, sem a cobrança <strong>de</strong><br />
taxas e <strong>de</strong> diferenças;<br />
- uma política agrícola <strong>de</strong>finida, <strong>de</strong> açor<br />
do com os interesses dos trabalhadores;<br />
sindicalismo<br />
trabalho na agricultura e na pecuária.Mas<br />
trabalhamos sem segurança, sem garantias,<br />
sem direitos. E dia a dia constatamos que<br />
nossa situação fica mais difícil,pois não<br />
temos preços justos para os nossos produ-<br />
tos e nem uma política agrícola <strong>de</strong>finida<br />
<strong>de</strong> acordo con os interesses dos trabalha-<br />
dores. 'Além disso, nem todas as nossas fa<br />
mílias têm terra suficiente para traba<br />
lhar, enquanto alguns poucos concentram<br />
terra para negócios. Assistimos diariamen<br />
te a fuga dos nossos filhos para as cida-<br />
<strong>de</strong>s, on<strong>de</strong> vão em busca <strong>de</strong> empregos e me<br />
lhores condições <strong>de</strong> vida, mas que muitas<br />
vezes acabam se marginalizando.Assistiinos<br />
cem pesar o ensino nas escolas se tornar<br />
cada dia mais <strong>de</strong>ficiente, nunca sendo vol<br />
tado para a realida<strong>de</strong> e as necessida<strong>de</strong>s<br />
do povo da roça.<br />
- que o INCRA cobre os Cr$ 2 trilhões <strong>de</strong><br />
imposto <strong>de</strong>vido pelos latifundiários,e que<br />
este dinheiro seja aplicado para o assen-<br />
tamento das famílias sem terra.<br />
- preços justos para os nossos produtos,<br />
reajustados <strong>de</strong> acordo con a inflação;<br />
- juros subsidiados só para os pequenos<br />
produtores;<br />
- que as pesquisas técnicas sejam feitas<br />
por brasileiros e controladas por brasi<br />
leiros;<br />
- ensino no meio rural voltado para a nos<br />
sa realida<strong>de</strong>;<br />
- participar coto sócias dos sindicatos.<br />
Ter vez e voz.<br />
Para conseguirmos conquistar<br />
tudo isto que estamos pedindo, nós propo-<br />
mos:<br />
= <strong>terragente</strong> 15
sindicalismo<br />
1) Continuar a organização das mulheres<br />
trabalhadoras rurais em todas as ooraunida<br />
<strong>de</strong>s# municípios, regiões e Estado ,0010 ja<br />
foi feito para este Encontro;<br />
2) Promover a sindicalização da mulher ru<br />
ral, para a-.uarmos <strong>de</strong>ntro dos nossos sin-<br />
dicatos e a;sim duplicarmos a força do mo<br />
vimento sinlical;<br />
3) Procurar nos manter sempre informadas<br />
do andamento das nossas reivindicações já<br />
encaminhadas, para sabermos em que não fo<br />
mos ainda atendidas;<br />
4) Comemorar a data <strong>de</strong> 8 <strong>de</strong> março - Dia<br />
Internacional da Mulher - fazendo uma ava<br />
liação da caminhada feita até o momento,<br />
marcarmos novos passos e avaliarmos o an-<br />
damento das nossas reivindicações;<br />
5) Que também as jovens trabalhadoras<br />
rais participem da luta;<br />
6) Pressionar os dirigentes sindicais que<br />
não querem que nós nos organizemos;<br />
7) Fazer o bloco mo<strong>de</strong>lo 15 e participar<br />
da comercialização do produto;<br />
8) Continuarmos unidas e organizadas na<br />
luta por nossos direitos;<br />
9) Para a continuida<strong>de</strong> da nossa luta, man<br />
ru<br />
DEPOIMENTO<br />
termos a atual Comissão Estadual <strong>de</strong> Mulhe<br />
res Trabalhadoras Rurais que organizou es^<br />
te encontro, com o apoio dos sindicatos,<br />
da Pastoral da Terra e da FBEAG;<br />
10) Fazer um abaixo-assinado pela Reforma<br />
Agrária, atingindo todos os trabalhadores<br />
e trabalhadoras rurais sem terra ou com<br />
pouca terra, envolvendo todos nesta luta<br />
e reivindicação <strong>de</strong> terra para quem na ter<br />
ra trabalha:<br />
11) Realizar atos públicos (reuniões, oon<br />
centrações, dias <strong>de</strong> estudo) no próximo dia<br />
30 <strong>de</strong> novembro (21 anos do Estatuto da<br />
Terra) , exigindo a Reforma Agrária Já e<br />
que o Plano do Governo saia do papel. A<br />
data <strong>de</strong>ve também servir para lembramos os<br />
agricultores assassinados na luta pela Re<br />
forma Agrária;<br />
12) Realizar no ano que vem um novo Enoo-<br />
tro Estadual <strong>de</strong> Mulheres Trabalhadoras %<br />
rais, marcando a continuida<strong>de</strong> da nossa lu<br />
ta pela valorização da mulher e pela con-<br />
quista dos direitos oomo trabalhadoras.<br />
13) Caso não formos atendidas em nossas<br />
reivindicações, iremos anular nosso voto<br />
nas próximas eleições. Que o voto da mu<br />
lher rural não sirva mais para eleger a<br />
queles que estão só nos enrolando.<br />
AVALIAÇÃO DE UMA TRABALHADORA RURAL - MARLISE FERNANDES, DE TRÊS DE MAIO<br />
TERftAGENTE-<br />
Encontro?<br />
Marli se, o que você achou do<br />
- Bom, muito bom, principalmente para quem<br />
acompanhou <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o inicio, os primeiros<br />
passos que foram dados para transformar<br />
esse sonho em realida<strong>de</strong>. Esperávamos 1,2<br />
a 3 mil mulheres, e no <strong>de</strong>correr dos dias<br />
fomos vendo que a coisa crescia, que o in<br />
teresse aumentava, que a organização da<br />
trabalhadora rural na base era uma coisa<br />
muito forte, muito firme e que "pelego"ne<br />
nhum conseguiria abafar. E a confirmação<br />
<strong>de</strong> tudo que acabei <strong>de</strong> dizer foi dada no<br />
dia 17 : 10 mil trabalhadoras rurais no<br />
Beira-Rio. As companheiras foram a Porto<br />
Alegre sabendo dos seus problemas^ saben-<br />
do p que querem e sabendo, o que é mais<br />
importante, como chegar a conquista <strong>de</strong>s-<br />
ses direitos, pois as propostas <strong>de</strong> conti-<br />
terr agente 16<br />
nuida<strong>de</strong> que foram feitas no <strong>de</strong>correr do<br />
Encontro mostram que todos sabem que pre-<br />
cisam se organizar na base e sabem também<br />
que a sua participação no sindicato é o<br />
ponto <strong>de</strong> partida para chegar ate os pol_T<br />
ticos e corruptos que exploram o nosso tra<br />
balho. Foi uma gran<strong>de</strong> lição aos sindicaljs<br />
tas pelegos que vários sindicatos que nao<br />
<strong>de</strong>ram valor a nossa organização. As vaias<br />
que foram proferidasaos representantes<br />
dos ministros e também ao representante<br />
do INAMPS gaúcho (Rui Ne<strong>de</strong>l), foram uma<br />
prova <strong>de</strong> que as mulheres sabem muito bem<br />
que são esses que estão nos negando os d^<br />
rei tos. Outro ponto muito importante foi a<br />
<strong>de</strong>cisão das trabalhadoras rurais <strong>de</strong> exi<br />
gir que a Deputada Ecleia Fernan<strong>de</strong>s(PMDBT<br />
<strong>de</strong>ixasse a mesa,on<strong>de</strong> sentou sem ser convi
da<strong>de</strong>, pois estamos cansados <strong>de</strong> políticos<br />
oportunistas que so nos procuram em tempo<br />
<strong>de</strong> campanha política, E como as propostas<br />
regionais diziam, <strong>de</strong> agora em diante va<br />
mos votar nas companheiras e companheiros<br />
que,como nós são trabalhadores, <strong>de</strong> mãos<br />
calejadas e sem salto alto. E no momento<br />
que todo povo brasileiro se conscientizar<br />
disso, as coisas mudarão.<br />
A passeata foi algo maravilhoso,<br />
pois muitas companheiras nunca tinham ido<br />
a Porto Alegre e tiveram a oportunida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> gritar para quem quisesse ouvir a sua<br />
revolta e os seus anceios.<br />
Esse é apenas o começo, hã muita<br />
r w<br />
H<br />
SE<br />
w<br />
t-l<br />
o<br />
w<br />
PM<br />
XI<br />
w<br />
sindicalismo<br />
coisa que precisamos fazer, mas <strong>de</strong> agora<br />
em diante não vai ser apenas uma comissão<br />
em cada município, na regional e no Esta-<br />
do, mas sim serão milhares <strong>de</strong> companheiras<br />
<strong>de</strong>fen<strong>de</strong>ndo a mesma ban<strong>de</strong>ira, que é a do:<br />
- reconhecimento da profissão;<br />
- aposentadoria aos 50 anos;<br />
- auxilio natalida<strong>de</strong>;<br />
- auxilio aci<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> trabalho;<br />
- reforma agrária,<br />
- sindicatos e Fe<strong>de</strong>ração atuante e que <strong>de</strong><br />
fendam os nossos interesses, os interesses<br />
dos trabalhadores.<br />
Ainda temos à disposição CAMISETAS (Cr$ 20.000) e BROCHES (Cr$ 3.000)<br />
com o símbolo do Movimento Estadual das Mulheres trabalhadoras Rurais.<br />
Pedidos e correspondência para:<br />
GEA - Grupo <strong>de</strong> Estudos e Assessoria Agraria<br />
Rua Gaspar Martins, 470 - 2? andar - Caixa Postal - 10.507<br />
90.000 - Porto Alegre - RS - Fone: (0512) 25-07-87<br />
<strong>terragente</strong><br />
Uma publicação do GEA - Grupo <strong>de</strong> Estudos e Assessoria Agrária<br />
Diagramação: Vera Junqueira<br />
Datilografia: Vera dos Apjos Silva<br />
Impressão: Helinho<br />
Edição: Equipe do GEA<br />
Pedidos, correspondência e assinaturas para:<br />
GEA - Grupo <strong>de</strong> Estudos e Assessoria Agrária<br />
Rua Gaspar Martins, 470 - 29 andar - Fone: (0512) 25-07-87<br />
90.000 - Porto Alegre - RS<br />
<strong>terragente</strong> 17:
economia<br />
A DÍVIDA EXTERNA<br />
0 BRASIL TEM UMA DÍVIDA TOTAL DE 100,1 BILHÕES DE DÓLARES PARA COM. OS<br />
BANQUEIROS DO MUNDO (MAIO DE 1985). NÚMERO GRANDE, NSO Ê?<br />
MAS O PROBLEMA PRINCIPAL NfiO ESTA NESTE NÚMERO Al. O BRABO MESMO SÍO<br />
OS JUROS QUE OS TRABALHADORES BRASILEIROS PAGAM OCM O SEU SUOR E QUE, DESDE 1981,GIRA<br />
PELA CASA DOS 10 BILHÕES DE DÕLARES ANUAIS. NÕS PAGAMOS TUDO ISSO .POR ANO, APENAS CO<br />
MO "ALUGUEL" DAQUELA QUANTIA lA DE CIMA. O BRASIL ESTÁ CONDENADO Á PAGAR 10 BILB5ES<br />
DE DÓLARES POR ANO SEM QUE A DIVIDA TOTAL NSO DIMINUA UM CENTAVO SEQUER!<br />
MAS COMO FOI QUE O BRASIL ENTROU NESSA?<br />
Primeiro que não entrou sozi<br />
nho. A moda <strong>de</strong> buscar dinheiro no estran-<br />
geiro para financiar o "<strong>de</strong>senvolvimento"<br />
do país surgiu com força aí pelo início<br />
dos anos 70. Naquela época os gran<strong>de</strong>s ca-<br />
pitalistas do mundo: banqueiros,rentistas,<br />
especuladores, etc, estavam cheios <strong>de</strong> do<br />
lares e não tinham para quem emprestar.AT<br />
<strong>de</strong>scobriram que havia uma porção <strong>de</strong> paí-<br />
ses no chamado "Terceiro Mundo" que podi<br />
am-se transformar em excelentes investimen<br />
tos para o seu dinheirinho que estava pa<br />
rado. Entraram nessa onda o Brasil,Mexicã<br />
Argentina, Indonésia, Coréia do Sul, Peru<br />
etc.<br />
/STéA V^<br />
&m ff\ Ml m *à\J%l/<br />
mttw Wrê<br />
\ i Trtwl 3klH^I<br />
J 9. í/^^k L^"\/\/ .<br />
m^ ¥ t<br />
No início os juros eram bem ca<br />
maradas ( 3 a 4 por cento ao ano), e o d^<br />
nheirinho caiu muito bem para os governos<br />
terr agente 18<br />
<strong>de</strong>sses países. No Brasil, por exemplo, a<br />
ditadura que andava bastante <strong>de</strong>sprestigia<br />
da naquela época, conseguiu se legitimalr<br />
por um bom tempo graças ao apoio dos em<br />
presários e capitalistas que viam com muT<br />
to bons olhos aquele dinheiro fácil quêí<br />
entrava para os seus bolsos. Os trabalha-<br />
dores, é claro, não viram sequer a cor<br />
<strong>de</strong>sses dólares. Foi a época do "Milagre<br />
Brasileiro". Nesse período explodiu a in<br />
dústria automobilística e <strong>de</strong> eletro-domé¥<br />
ticos. Explodiu também a moda dos gran<strong>de</strong>s^<br />
projetos nacionais: Transamazonica,Itaipa<br />
Ponte Rio-Niterói para falar dos mais co<br />
nhecidos. Pouca coisa <strong>de</strong> realmente utiT<br />
foi feita. Gs investimentos em educação,<br />
saú<strong>de</strong>, moradia eram <strong>de</strong> fato ridículos.üs<br />
subsídios para a agricultura embretaram<br />
os agricultores na monocultura, na mecapi<br />
zação e no uso <strong>de</strong> agro-industriais(adubou<br />
venenos, etc.) acasionando a migração <strong>de</strong><br />
milhares <strong>de</strong> agricultores.do campo para a<br />
cida<strong>de</strong>.<br />
0 gran<strong>de</strong> sonho dos governantes<br />
brasileiros, principalmente na época do<br />
general Ernesto Geisel ( II Plano Nacional<br />
<strong>de</strong> Desenvolvimento), era transformar o<br />
Brasil numa gran<strong>de</strong> potência, com um gran-<br />
<strong>de</strong> parque industrial. Entretanto, a fra<br />
queza estrutural do empresariada brasilei<br />
ro que, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> muito, vegetou na sombra<br />
das iniciativas do Estado, não permitiam,<br />
naquela época, que estes empresários J to<br />
massem a iniciativa <strong>de</strong> investirem elels<br />
mesmos em gran<strong>de</strong>s projetos. Para isso o<br />
próprio governo criou as monstruosas em.<br />
presas estatais que entravam como testa-<br />
-<strong>de</strong>-ferro nos investimentos <strong>de</strong> alto risco<br />
ou <strong>de</strong> retorno a longo prazo. Nos rastros<br />
<strong>de</strong>stas empresas - Si<strong>de</strong>rbrás, Petrobrás, E<br />
letrobrás, Nuclebrás, etc. - é que a inT
ciativa privada nacional e multinacional<br />
acomodou-se, florescendo neste vácuo as<br />
gran<strong>de</strong>s empresas <strong>de</strong> construção civil, as<br />
metalúrgicas, a indústria química, etc.<br />
Desta forma a socieda<strong>de</strong> inteira, através<br />
das estatais, bancava os investimentos <strong>de</strong><br />
maior risco, enquanto que os empresários<br />
só "papavam" o filé mignon dos' investimeji<br />
tos a juros subsidiados e sem quase ne<br />
nhum risco.<br />
A idéia, no limite, era um ab-<br />
surdo completo. As estatais inventavam ai<br />
gum gran<strong>de</strong> projeto para tocar para frente<br />
pouco importando a importância social <strong>de</strong>s<br />
te projeto, eo resto vinha atrás. Assim,cT<br />
negócio era empilhar um monte <strong>de</strong> Transama<br />
zônicas, barragens, etc. umas em cima das<br />
outras para puxar o resto da economia.<br />
Obviamente que os empresários<br />
tomados no exterior, além <strong>de</strong> mal emprega-<br />
dos, excediam <strong>de</strong> muito as reais necessida<br />
<strong>de</strong>s <strong>de</strong> nossa economia. Na verda<strong>de</strong>, a quan<br />
tida<strong>de</strong> <strong>de</strong> dinheiro investida em coisas re<br />
almente produtivas foi sempre bem menor 7<br />
do que os empréstimos tomados. Além disso<br />
a <strong>de</strong>fasagem tecnológica brasileira, quer<br />
dizer, a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> importar servi<br />
ços ou bens que não po<strong>de</strong>riam ser feitos<br />
por aqui, também foi sempre menor do que<br />
a alegada. Essa <strong>de</strong>pendência <strong>de</strong> bens e ser<br />
viços, que inclui o petróleo, nunca foT<br />
tao gran<strong>de</strong> como argumentavam os ministros<br />
da éooca. Na verda<strong>de</strong>, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1967 até 1984<br />
•JSSO-SSSS para ^S<br />
SERVIÇO DA DmDA,'^^^^^,,,.,----^<br />
economia<br />
a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> recursos investidos ne£<br />
sa área correspon<strong>de</strong> a apenas 18,14 por<br />
cento <strong>de</strong> total do déficit brasileiro,Isso<br />
<strong>de</strong>rruba por terra a teoria daqueles que<br />
alegavam que os principais motivos do en<br />
dividamento brasileiro eram a importação<br />
<strong>de</strong> petróleo e tecnologia.<br />
Mas então, surge a pergunta:se<br />
o país não precisava <strong>de</strong> tanto dinheiro aj3<br />
sim, porque se endividou tanto?<br />
A resposta é simples: pura bur<br />
rice! Na verda<strong>de</strong>, todos os ministros da £<br />
rea econômica sempres incentivaram a bus<br />
ca <strong>de</strong> empréstimos no exterior. Para isso<br />
procuravam sempre manter as taxas <strong>de</strong> ju^<br />
ros internas acima das taxas externas. As<br />
sim os empresários brasileiros sempre iam<br />
buscar dinheiro lá fora.<br />
Além <strong>de</strong>ste incentivo, o próprio<br />
governo, durante muito tempo, contratou<br />
empréstimos com bancos estrangeiros atra<br />
vés das estatais simplesmente para "enfei<br />
tar" o balanço <strong>de</strong> pagamentos como <strong>de</strong>nunci<br />
ou a economista Maria Conceição Tavaresd ]<br />
0 objetivo era acumular reservas para o<br />
"gran<strong>de</strong> salto para o futuro" que o Brasil<br />
daria.<br />
Mas o tiro saiu pela culatra.<br />
Os governantes acreditavam que o dinheiro<br />
do exterior seria sempre barato. Triste i<br />
lusão!<br />
<strong>terragente</strong> 1 9;
economia<br />
0 problema do endividamsnto não<br />
se mostrou tão grave até o ano <strong>de</strong> 1979.Até<br />
aí, as taxas <strong>de</strong> juros oscilavam sempre em<br />
torno <strong>de</strong> 6 a 8 por cento ao ano. Foi en<br />
tão que <strong>de</strong>u-se o segundo choque do petró-<br />
leo e os banqueiros internacionais apro-<br />
veitaram a ocasião para jogar as taxas <strong>de</strong><br />
juros lá para cima. No período 79^84, os<br />
empréstimos tomados no exterior giraram<br />
em torno <strong>de</strong> 15 a 16 por cento ao ano. che<br />
gando ao absurdo <strong>de</strong> 21 por cento em a^<br />
guns casos.<br />
No início <strong>de</strong> 1979 a dívida lí-<br />
quida brasileira era <strong>de</strong> 40,2 bilhões <strong>de</strong><br />
dólares (ver quadro). Des<strong>de</strong> 1979 até 198^<br />
a dívida subiu para 100 bilhóes <strong>de</strong> dólares<br />
sem que entrasse praticamente nenhum re<br />
curso novo. 0 Brasil ficou tão apertado<br />
que foi obrigado a contratar novos emprés<br />
timos para pagar os que já estavam sendo<br />
vencidos.<br />
Este fato veio a acontecer por<br />
uma razão simples. Os juros que o Brasil<br />
paga por este dinheiro são os chamados ju^<br />
ros flutuantes, que variam conforme cer<br />
tas taxas internacionais chamadas "prime<br />
rate" e "libor". Taxas estas que, em últi<br />
ma análise, são controladas pelos próprios<br />
banqueiros que emprestam o dinheiro. Por<br />
aí se vé a irresponsabilida<strong>de</strong> dos troglo-<br />
ditas que controlaram a economia brasilei<br />
ra neste período! Porque quem acaba pagan<br />
do o pato são os trabalhadores brasileiros<br />
que nunca tiveram oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> opinar<br />
nestes assuntos.<br />
Foi assim que chegamos ã loucu<br />
ra <strong>de</strong> ter que enviar anualmente cerca <strong>de</strong><br />
10 bilhões <strong>de</strong> dólares ou mais para os ban<br />
queiros americanos, europeus e japoneses,<br />
sem receber nada em troca.<br />
E a coisa fica mais complicada<br />
ainda, porque os banqueiros só aceitam dó<br />
lares para este pagamento. Essa é a razão<br />
da febre <strong>de</strong> exportação fomentada pelo fli<br />
nistro Delfim Neto naquela época e conti<br />
nuada pelos ministros da área econômica<br />
da NOva República.<br />
<strong>terragente</strong> 20=<br />
Exportem! Exportem tudo! Essa<br />
é a palavra <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m. Pois só exportando<br />
o Brasil conseguirá dólares para po<strong>de</strong>r pa<br />
gar a dívida. Cruzeiro eles não aceitam.<br />
Aí, o Brasil começou a expo£<br />
tar. Soja, automóveis, colheita<strong>de</strong>iras,ele<br />
trodomésticos, calçados, tratores, etc...<br />
Se o leitor quiser dar boas risadas, leia<br />
a pauta <strong>de</strong> exportações brasileiras. Latem<br />
<strong>de</strong> tudo: faca <strong>de</strong> churrasco, ovo <strong>de</strong> codor-<br />
na, lâmina <strong>de</strong> barba, óleo <strong>de</strong> baleia,revis<br />
ta em quadrinhos, teclado <strong>de</strong> piano, nove-<br />
la <strong>de</strong> televisão e assim por diante.<br />
Exportando qualquer coisa a<br />
qualquer preço, o Brasil pulou <strong>de</strong> 6.199<br />
milhões <strong>de</strong> dólares em 1973 para 25.400 mi<br />
Ihões <strong>de</strong> dólares (projeção para 1985} que<br />
entram pela venda <strong>de</strong> produtos brasileiros<br />
para o estrangeiro. Assim, o saldo da ba<br />
lança comercial brasileira (exportações<br />
menos importações] está previsto para al-<br />
go em torno <strong>de</strong> 12 bilhões <strong>de</strong> dólares. Ima<br />
ginem tudo isto investido na Reforma Agra<br />
ria, educação, moradia... Não, não.Não se<br />
iluda. A maior parte <strong>de</strong>ste dinheiro vai<br />
<strong>de</strong> volta para o estrangeiro sob a forma<br />
<strong>de</strong> juros. Mas essa exportação <strong>de</strong>senfrea-<br />
da trouxe ainda outro problema. 0 preço<br />
das mercadorias brasileiras no mercado ex^<br />
terno começou a cair vertiginosamente. Sf3<br />
gundo o economista Joelmir Betting (2),se<br />
tomarmos o índice 1,000 para a média dos<br />
preços da mercadoria brasileira em 1980;<br />
23 <strong>de</strong> outubro<br />
Dia continental<br />
contra a dívida externa
hoje, este índice estaria em 0,610. Isto<br />
significa que temos que produzir muito<br />
mais mercadorias para receber o.mesmo d^<br />
nheiro.<br />
Isso aí, como sempre, cai nas<br />
costas <strong>de</strong> quem trabalha. Tanto a "nova"co<br />
mo a "velha" república utilizam ou utili-<br />
zaram a mesma fórmula para pagar a dívida:<br />
a exportação <strong>de</strong> mercadorias para obter su_<br />
perávit na balança comercial - quer dizer,<br />
exportar mais do que importar. Mas para<br />
ven<strong>de</strong>r o produto brasileiro para os outros<br />
países, é preciso chegar lá com um preço<br />
mais baixo do que os concorrentes. Para<br />
que os nossos preços sejam baixos, é pre<br />
ciso que o custo <strong>de</strong> produção das nossas<br />
mercadorias também seja baixo. E qual e o<br />
■- economia<br />
componente do custo <strong>de</strong> produção que eles<br />
mais procuram diminuir? Os salários e os<br />
preços ao agricultor.<br />
Por aí se vê porque o governo<br />
Sarney reajustou os salários mantendo o<br />
mesmo aperto salarial que o governo pass£<br />
do. Tanto um como outro estão mais preocu<br />
pados com a saú<strong>de</strong> dos bancos do que com a<br />
saú<strong>de</strong> da população brasileira que, porcau<br />
sa disto é jogada na fome e no <strong>de</strong>sespero.<br />
A famosa frase <strong>de</strong> Tancredo Neves e mais<br />
tar<strong>de</strong> <strong>de</strong> Sarney, prometendo não pagar a<br />
dívida com a fome e com a miséria do povo<br />
brasileiro (como se isso já não estivesse<br />
acontecendo!], por enquanto não passou <strong>de</strong><br />
puro exercício <strong>de</strong> retórica.<br />
nas armas americanas,<br />
o fruto <strong>de</strong> nossa exploração<br />
0 maior comprador <strong>de</strong> mercado -<br />
rias no mundo inteiro, por incrível que<br />
pareça, são os Estados Unidos. Os EUA, h£<br />
je, importam mais do que exportam para o<br />
terceiro mundo (ver quadro). Somente o<br />
Brasil manda 27 por cento <strong>de</strong> suas exporta<br />
ções para os EUA - por outro lado, 38 por<br />
cento <strong>de</strong> nossa dívida, também é <strong>de</strong>les. 0<br />
Canada e p Japão juntos, ven<strong>de</strong>m um total<br />
<strong>de</strong> 126 bilhões <strong>de</strong> dólares por ano para os<br />
Estados Unidos.<br />
Produtos Industriais Manufaturados<br />
Exportações americanas para o "Tcrceirc > Mundo"<br />
(em bilhões <strong>de</strong> dólares)<br />
1981 1982<br />
1983 1984( + )<br />
61.5 54,6<br />
45,3 47,0<br />
(+) cifras provisórias<br />
Exportações do "Terceiro Mundo" pars i os EUA<br />
(cm bilhões <strong>de</strong> dólares)<br />
1981<br />
35.0<br />
1982<br />
36,8<br />
1983<br />
45,7<br />
1984( + )<br />
55,0<br />
Para fazer isto, o governo ame<br />
ricano reforçou o dólar através <strong>de</strong> um dé-<br />
ficit no seu orçamento público que <strong>de</strong> 81<br />
para cá. já atinge 1 trilhão <strong>de</strong> dólares!<br />
Dessa forma, a indústria automobilística<br />
e <strong>de</strong> construção, bem como a agricultura £<br />
mericanas, praticamente se <strong>de</strong>sativaram,<br />
pois os outros países chegam no mercado ja<br />
mericano com preços mais baixos. Obviamen<br />
te que este prejuízo é recuperado pela dji<br />
vida financeira dos países do terceiro mun<br />
do para com os EUA.<br />
E você sabe em que o governo a<br />
mericano investe quase todo o dinheiro que<br />
recolhe? Em arma, nos famosos gastos mili<br />
tares americanos. Armas estas qu • se vol-<br />
tam contra o próprio terceiro mu ido, como<br />
pu<strong>de</strong>ram sentir na carne a Nicarágua, Gra-<br />
nada. El Salvador, Líbano e tant is outros<br />
(ver quadro 3].<br />
<strong>terragente</strong> 21;
economia<br />
Então perguntamos: por que <strong>de</strong><br />
vemos pagar uma dívida ilegítima que' so<br />
serve para aumentar o caos <strong>de</strong> todo o mun-<br />
do?<br />
E aí se fecha o ciclo absurdo<br />
do capitalismo mundial. Aqueles que se re<br />
voltam contra esta situação <strong>de</strong> exploração<br />
são obrigados a calar-se diante dos ca<br />
nhões fabricados as custas <strong>de</strong> seu próprio<br />
suor.<br />
E este tipo <strong>de</strong> coisa só benefi<br />
cia aos "gran<strong>de</strong>s", pois mesmo nos EUA, o<br />
resultado <strong>de</strong>ssa política vem aumentando<br />
cada vez mais o índice <strong>de</strong> <strong>de</strong>semprego que<br />
já atinge 7,5% da população economicamente<br />
ativa americana. Nos países ricos, ejà<br />
ta epi<strong>de</strong>mia já atinge a 40 milhões <strong>de</strong> indivíduos!<br />
dia 23 <strong>de</strong> outubro: o início<br />
da resposta<br />
A ajuda governamental dos EUA aos<br />
países da América Central<br />
(em milhões <strong>de</strong> dólares<br />
Econômica Militar<br />
^--___Ano 1979 1985 1979 1985<br />
Honduras^ 2 ) 26,80 154,00 2,30 62,50<br />
El Salvadora 9,60 346,00 0,04 132,00<br />
Costa Rica 10,00 237,00 0,00 10,00<br />
Guatemala 22.7 122,40 0,20 10.30<br />
Total 69,1 359,40 2,50 214,00<br />
(1)<br />
Não inclui a ajuda não governamental, <strong>de</strong> entida<strong>de</strong>s direitistas às forças<br />
contra-revolucionárias.<br />
< 2) Náo inclui os gastos em obras militares infraestrutura que são realizados<br />
durante as manobras militares permanentes <strong>de</strong> forças americanas no pais;<br />
(3<br />
' Da ajuda americana, calcula-se que apenas 15% chega a projetos <strong>de</strong> ajuda<br />
social.<br />
Mas apesar da truculência dos<br />
ameriúanos e seus aliados, diversas vozes<br />
têm-se erguido contra esta situação.<br />
Em julho <strong>de</strong>ste ano, diversas or<br />
ganizações sindicais e populares reuni-<br />
ram-se em Havana (Cuba) para tratar dos<br />
graves problemas que o pagamento da dívi-<br />
da externa está causando aos povos da Amé<br />
rica Latina. Esta Conferência resolveu,ejn<br />
tre outras coisas, <strong>de</strong>clarar o dia 23 <strong>de</strong><br />
outubro como o DIA CONTINENTAL CONTRA 0<br />
PAGAMENTO DA DlVIDA EXTERNA, Este dia p£<br />
<strong>de</strong> ser encarado como um gran<strong>de</strong> marco para<br />
a união dos povos latinos contra o FMI e<br />
seus aliados. Mas ainda há muita coisa a<br />
ser feita e somente a pressão popular po<br />
<strong>terragente</strong> 22.<br />
<strong>de</strong>ra levar os governantes da "Nova Repú<br />
blica" a saírem do lero-lero e partirem<br />
para alguma solução concreta.<br />
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA:<br />
Cl] Um Salto para o Caos - Maria Concei -<br />
ção Tavares.<br />
(2] Os Juros Subversivos - Joelmir Beting<br />
(3] Dependência Externa e Moratória - Gru<br />
po <strong>de</strong> Estudos <strong>de</strong> Balanço <strong>de</strong> Pagamentos da<br />
Socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Economia do Rio Gran<strong>de</strong> do<br />
Sul (Revista Ensaios FEE, 1985)<br />
(4) Revista Perspectiva Internacional<br />
(5) Jornal EM TEMPO<br />
(B) Jornal Gazeta Mercantil
a luta pela terra<br />
reforma agrária<br />
O PLANO QUE ENCOLHEU<br />
SEM DUVIDA O DECRETO-LEI MAIS DISCUTIDO; COMENTADO, E ESPERADO DO<br />
ANO FOI ASSINADO PEDO PRESIDENTE SARNEY NO DIA 10 DE OUTUBRO . TRATA-SE DO 19 PLA<br />
NO NACIONAL DE REFORMA AGRARIA DA "NOVA REPÚBLICA". NESTE PLANO O GOVERNO FEDE<br />
RAL FIXA AS NORMAS E OBJETIVOS COM RELAÇfíO Ã REFORMA AGRARIA BEM COMO DEFINE OS<br />
MEIOS QUE SERÃO UTILIZADOS PARA A IMPLANTAÇÃO DO PLANO NACIONAL, NESTE ARTIGO VO<br />
CÊ FICARA SABENDO DAS PRINCIPAIS MDDIETCAÇÓES ENTRE O PLANO ASSINADO E A PROPOSTA<br />
ORIGINAL QUE O GOVERNO HAVIA LANÇADO EM MAIO DE 1985:<br />
Após extensos <strong>de</strong>bates, discus -<br />
soes e manifestações <strong>de</strong> toda or<strong>de</strong>m, final<br />
mente no dia 10 <strong>de</strong> outubro o presi<strong>de</strong>nte<br />
Sarney assinou o <strong>de</strong>creto-lei que institui<br />
o 19 PNRA da "Nova República". Somente pa<br />
ra lembrar, recordamos que a proposta <strong>de</strong><br />
Plano foi lançada no final <strong>de</strong> maio duran-<br />
te a realização do 49 Congresso Nacional<br />
<strong>de</strong> Trabalhadores Rurais. Naquela ocasião<br />
o "cronograma da Reforma Agrária" do gover-<br />
no estipulava o dia 30 <strong>de</strong> junho para o<br />
final das discussões sobre a proposta do<br />
plano. No começo <strong>de</strong> julho já começaria a<br />
ser executado o Plano <strong>de</strong> Reforma Agrária<br />
<strong>de</strong>finitivo. Mas o "cronograma" foi alter£<br />
Só para que os leitores tenham<br />
uma idéia o PNRA foi alterado e reescrito<br />
10 (<strong>de</strong>z) vezes e um dia antes <strong>de</strong> ser assi^<br />
nado pelo presi<strong>de</strong>nte ele ainda estava sen^<br />
do modificado. Todo este jogo <strong>de</strong> pressões<br />
em relação ã esta questão ficou ainda mais<br />
acirrado com a entrada em ação dos milita^<br />
res através.do Conselho <strong>de</strong> Segurança Na<br />
cional. Este órgão foi criado na época da<br />
ditadura e abordava em suas discussões "tu<br />
do o que dissesse respeito ã Soberania<br />
Nacional". Em resumo era uma forma <strong>de</strong> mi-<br />
litarizar qualquer questão que fosse con-<br />
si<strong>de</strong>rada importante. Pois os militares,in<br />
satisfeitos com a proposta do MIRAD para<br />
o problema agrário do país, resolveram<br />
"criar" um documento chamado Política N£<br />
cional <strong>de</strong> Desenvolvimento Rural Integrada<br />
do e só no período <strong>de</strong> discussões foram gas<br />
tos mais <strong>de</strong> quatro meses.<br />
Mas a <strong>de</strong>mora acima referida não<br />
seria um gran<strong>de</strong> problema se a proposta _i<br />
nial do governo fosse mantida e ampliada.<br />
Isto não ocorreu. 0 que se viu foi o con-<br />
trário. Como já havíamos salientado no<br />
TERRAGENTE N9 34. a proposta da Reforma<br />
Agrária lançada pelo MIRAD (Ministério do<br />
Desenvolvimento e Reforma Agrária lera mui<br />
to avançada para a maioria dos grupos p£<br />
líticos que formam a chamada "Nova Repúbli-<br />
ca". E por isto a proposta inicial <strong>de</strong> Re<br />
forma Agrária foi <strong>de</strong>scaracterizada em va<br />
rios pontos importantes.<br />
as pressões<br />
E foi este documento o responsável por v,3<br />
rias das alterações que o PNRA sofreu.<br />
fiou plenamente a. favor da. Reforma Aqrcírja., tíei<strong>de</strong><br />
çpia •aão liaja- E.efbrjn
a luta pela terra<br />
Mas quais foram as principais mu<br />
danças que o governo fez em seu próprio<br />
Plano <strong>de</strong> Reforma Agrária? A nível geral há<br />
uma gran<strong>de</strong> alteração que po<strong>de</strong> ser lida no<br />
IX dos "mandamentos da Reforma Agrária"as^<br />
sinado pelo presi<strong>de</strong>nte Sarney: "A Reforma<br />
Agrária complementa a política agrícola..".<br />
Isto é o sinal <strong>de</strong> uma mudança profunda em<br />
que a "Nova República" se i<strong>de</strong>ntifica com<br />
a "velha república" on<strong>de</strong> a questão da ter<br />
ra era tratada pelos militares (era???] e<br />
on<strong>de</strong> os governantes diziam que o importan<br />
te era a produção e a política agrícola e<br />
não a distribuição <strong>de</strong> terras. Mas há vá<br />
rias mudanças mais concretas no PNRA que<br />
<strong>de</strong>vem ser analisadas:<br />
19 - Centralização do po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão a<br />
respeito dos Planos Regionais <strong>de</strong> Reforma<br />
Agraria nas mãos do presi<strong>de</strong>nte Sarney;<br />
29 - Preservação dos latifúndios produti-<br />
vos in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte do seu tamanhoj<br />
39 - Descaracterização das áreas <strong>de</strong> confli<br />
to como prioritárias para fins <strong>de</strong> imedia-<br />
ta <strong>de</strong>sapropriação<br />
49 - Priorizaçao <strong>de</strong> terras públicas para<br />
fins <strong>de</strong> Reforma Agrária;<br />
as mudanças<br />
59 - Possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> criação <strong>de</strong> novos pro<br />
jetos <strong>de</strong> colonização;<br />
69 - Utilização do recurso <strong>de</strong>-<strong>de</strong>sapropria<br />
ção somente quando esgotadas todas as pos^<br />
sibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> utilização <strong>de</strong> terras púbLi<br />
cas, negociações, etc.<br />
A primeira mudança e <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> im<br />
portãncia porque diminui consi<strong>de</strong>ravelmen-<br />
te a autonomia dos INCRAs regionais,certra<br />
lizando extremamente as <strong>de</strong>cisões a respei^<br />
to <strong>de</strong> questões específicas <strong>de</strong> cada região.<br />
Isto diminui o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> pressão<br />
do Movimento dos Agricultores Sem Terra a<br />
nível estadual, pois todas as <strong>de</strong>cisões são<br />
tomadas "lá" em Brasília.<br />
A segunda mudança simplesmente<br />
<strong>de</strong>creta que a terra NAO tem função social,<br />
pois garante que qualquer latifúndio, in-<br />
<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte do seu tamanho, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que este<br />
ja "produzindo" (<strong>de</strong> acordo com índices que<br />
o governo ainda não sabe quais são!não s£<br />
rá <strong>de</strong>sapropriado.<br />
A terceira modificação diz res-<br />
peito às áreas <strong>de</strong> conflito pela terra. Na<br />
proposta inicial estas áreas eram consi<strong>de</strong>^<br />
radas como prioritárias para fins <strong>de</strong> <strong>de</strong>sa<br />
propriação. No Plano atual esta questão e<br />
;; i.'.. ? / _^ ; .^ .í> ;^A AREÂr^ltáADA : PÁRA OS ASSENTAMENTOS-1985/89<br />
Gran<strong>de</strong>s regiões<br />
•<br />
Unida<strong>de</strong>s do Fe-<br />
<strong>de</strong>ração<br />
Superfície<br />
territorial<br />
total Km2<br />
Metas<br />
ffamíliasl<br />
1985/86 1987 1988 1989 •otol (1985/89<br />
Área<br />
necessário<br />
Km2<br />
Metas<br />
(fomílios)<br />
Área<br />
necessária<br />
Km2<br />
Metas<br />
1 famílias)<br />
Área<br />
necessária<br />
Km2<br />
Metas<br />
(famílias)<br />
Área<br />
necessária<br />
Km2<br />
Metas<br />
(famílias)<br />
Área<br />
necessária<br />
Km2<br />
Brasil 8 451 189 150.000 46.200 300.000 92.400 450.000 138.600 500.000 153.700 1.400.000 430.900<br />
Norte 3.551.322 15.000 10.800 30.000 21.700 45.000 32.500 50.000 35.800 140.000 100.800<br />
RO 243.044. 2.300 1.600 4.500 3.300. 6.800 4.900 7.700 5.500 21.300 15.300<br />
AC 152.589 900 600 1.700 1.300 2.600 1.900 3.000 2.100 . 8.200 5.900<br />
AM 1.558.987 3400 2400 6.700 4.900 10.100 7.300 10.800 7.700 31.000 22.300<br />
RR 230 104 300 200 700 500 1.000 700 1.200 900 3.200 2.300<br />
PA t.227.530 8.000 5.90Q 16.200 11.500 24.100 17.400 27.000 19.400 75.200 54.200<br />
AP 139.068 100 100 300 200 400 300 300 200 1.100 800<br />
Nor<strong>de</strong>ste 1.539.632 67 500 20.200 135.000 40.500 202.500 60.700 225.000 67.600 630.000 189.000<br />
MA 324.616 12.700 3 800 25.500 7.700 38.200 11 500 42.400 12.600 118.800 35.600<br />
PI 250.934 10.700 3.200 21.400 6.400 32.100 9.600 35.700 10.800 99.900 30.000<br />
CE 146.817 5.400 1.600 10.700 3.200 16.100 4.800 17.900 5.400 50.300 15.000<br />
RN 53.015 2.000 800 5.200 1.500 7.600 2.300 8.600 2.700 24.200 7.300<br />
PB 56.372 2.200 700 4.400 1.300 6.600 2.000 7.400 2.200 20.600 6.200<br />
PE 98.281 3.400 1.000 6.800 2.100 10.200 3.100 11 400 3.300 31.800 9.500<br />
Al 27.652 1.200 400 2.500 700 3.700 1.300 4.000 1.200 11.400 3.400<br />
SE 21.994 1.300 400 2.500 700 3.800 1.100 4.100 1.300 11.700 3.500<br />
BA 559.95» 28 000 8.300 56.000 16.900 84.000 25.200: 93.500 28.100 261.500 78.500<br />
Su<strong>de</strong>ste 9)8.808 30.000 4.700 60.000 9.300 90.000 14.000 100.000 15.700 280.000 43.700<br />
MG 582.586 14.900 2.300 29.600 4.600 44.500 6.900. 49.400 7.800 138.400 21.600<br />
ES 45.597 2.000 300 4.000 600 6.000 900 6.700 1.100 18.700 2.900<br />
RJ 43.305 1.700 300 3.500 500 5.200 800 5.600 900 16.000 2.500<br />
SP 247.320 11.400 1.800 22.900 3.600 34.000 5.400 38.400 5.900 106.900 16.700<br />
Sul 562.071 15.000 2.400 30 000 4.700 45.000 7.100 50.000 7.600 140.000 21.800<br />
PR 199.060 8.300 1.300 15.700 2.600 25.000 3.800 27.900 4.300. 77.900 12.100<br />
SC 95.483 2.900 500 ■ 5.800 900 8.700 1.400 9.000 1.400 27.000 4.200<br />
RS 267.522 3.800 600 7.500 1.200 11.300 1.800 12.500 1.900 35.100 5.500<br />
<strong>Centro</strong>-Oeste 1.879.356 22.500 8.100 45.000 16.200 67.500 24.300 75.000 27.000 210.000 75.600<br />
MT 881.001 4.500 1.600 9.000 3.300 13.500 4.900 14.900 5.300 41.900 15.100<br />
MS 350.548 4.400 1.600 8.900 3.200 13.300 4.800 14.600 5.200 41.200 14.800<br />
GO 642.036 13.500 4.870 26.800 9.630 40.300 14.500 44.900 16.200 125.500 45.200<br />
Df 5.771 100 30 300 70 400 100 600 300 1.400 500<br />
<strong>terragente</strong> 24
modificada. Isto significa que o governo<br />
quer "evitar" a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> novos con<br />
flitos, bem como tenta tirar <strong>de</strong> seus "om-<br />
bros" a responsabilida<strong>de</strong> pela imediata s£<br />
lução dos conflitos hoje existentes.<br />
A quarta modificação é uma vo^<br />
ta ao passado. Novamente se ouve agora<br />
da'"boca" do próprio governo -.que a Re-<br />
forma Agrária <strong>de</strong>ve ser feita_prioritaria-<br />
mente em terras, públicas e não em terras<br />
privadas (leia-se latifúndios]. Assim es-<br />
tá aberta a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> que os agri-<br />
cultores sem terra voltem a receber prio-<br />
ritariamente aqueles "belos lotes <strong>de</strong> ter-<br />
ra", só que lá perto da Amazônia on<strong>de</strong> o g£<br />
verno possui a maioria <strong>de</strong> suas terras.<br />
A quinta modificação diz respei^<br />
to ã colonização. Na proposta inicial o<br />
governo dizia que não iria criar novos pro<br />
Jetos <strong>de</strong> colonização no mínimo até 1987.<br />
CUT <strong>de</strong>nuncia e político<br />
nega assassinato <strong>de</strong> 27<br />
posseiros no Maranhão<br />
São Paulo — O Partido dos Trabalhadores e a Central Única<br />
dos Trabalhadores divulgaram nota <strong>de</strong>nunciando o assassinato <strong>de</strong><br />
27 posseiros na Fazenda Capoema, município <strong>de</strong> Santa Luzia,<br />
próximo a Imperatriz, no Maranhão. Ouvido por telefone, o<br />
Prefeito <strong>de</strong> Santa Luzia, Antônio Brás (PFL), disse que morreram<br />
dois posseiros e um pistoleiro e que as informações alarmantes são<br />
divulgadas "pela oposição, pelo recém-criado sindicato dos traba-<br />
lhadores e pelos padres, que até estimulam a invasão <strong>de</strong> proprie-<br />
da<strong>de</strong>s".<br />
A nota conjunta PT/CUT diz que os crimes foram cometidos<br />
por pistoleiros na noite <strong>de</strong> terça-feira e que outros 32 posseiros<br />
foram mortos nos últimos 15 dias, perfazendo 60 mortes por<br />
conflitos <strong>de</strong> terras na área. A nota acusa como mandante o<br />
"grileiro Francisco Simeão Neto, o Chico Rico", que —diz ainda a<br />
nota—"tem ligações com a Secretaria da Indústria e Comércio do<br />
Governo do Paraná.<br />
Área conflagrada<br />
A CUT e o PT atribuem os conflitos à falta <strong>de</strong> "uma reforma<br />
agrária efetiva, que resolva os problemas do campo". O vice-<br />
presi<strong>de</strong>nte da CUT, Avelino Ganzer, viajou ontem para o<br />
Brigada faz treinos<br />
contra guerrilha<br />
Atravfca do oficio, o comandante do Batalh&o <strong>de</strong> Choque<br />
da Brigada MUltar. coronel Anísio Seero Portllbo, confir-<br />
mou a Ida <strong>de</strong> uma traçio daquela unida<strong>de</strong> paraa localida-<br />
<strong>de</strong> <strong>de</strong> Itapuft para um exer<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa Interna e territo-<br />
rial, conforme Informou a seçfio Crime e Castigo <strong>de</strong> on-<br />
tem. Revela o oficio aue "Segundo a Lei n?. 7.6M. <strong>de</strong> 30 <strong>de</strong><br />
ENQUANTO ISSO,<br />
■- a luta pela terra=<br />
Agora o governo não diz nada sobre datas.<br />
Isto abre a possibilida<strong>de</strong> inclusive <strong>de</strong><br />
que novos projetos oficiais <strong>de</strong> colonização<br />
sejam utilizados como forma <strong>de</strong> "fazer a<br />
Reforma Agrária".<br />
A sexta modificação trata da<br />
mais importante ferramenta que o^ governo<br />
tem para implantar a Reforma Agrária com<br />
rapi<strong>de</strong>z e eficiência. Este instrumento é<br />
a <strong>de</strong>sapropriação <strong>de</strong> terras. Segundo a pro<br />
posta inicial a <strong>de</strong>sapropriação seria uti-<br />
lizada como o principal meio para obtenção<br />
<strong>de</strong> terras visando os reassentamentos. Ago<br />
ra esta ferramenta é secundarizada e o go<br />
verno vai priorizar a utilização <strong>de</strong> suas<br />
terras e a negociação como meios <strong>de</strong> im-<br />
plantação da Reforma Agrária. Isto certa-<br />
mente terá um efeito <strong>de</strong> tornar muito mais<br />
lento e difícil a aplicação do PNRA.<br />
Maranhão, para ajudar as famílias no resgate dos corpos, já que,<br />
segundo a CUT, os proprietários das terras não permitem que os<br />
mortos sejam retirados e, até ontem, os parentes não teriam<br />
conseguido retirar dois corpos <strong>de</strong> posseiros assassinados na<br />
semana passada.<br />
Segundo o Prefeito <strong>de</strong> Santa Luzia (12 mil 500 km 2 e 100 mil<br />
habitantes), "o movimento da reforma agrária também está<br />
criando, problema, porque o povo não está enten<strong>de</strong>ndo bem e fica<br />
invadindo terras". Antônio Brás, que veio do PDS, diz que o<br />
<strong>de</strong>stacamento policial vasculhou a região — on<strong>de</strong> 1 mil 400<br />
famílias, segundo a CUT, lutam pela terra — e só encontrou dois<br />
corpos. O prefeito admite que boa parte das fazendas da região é<br />
<strong>de</strong> terras improdutivas: "Existem proprieda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> 40, 50 e até 110<br />
mil hectares e não se usa nem 20 mil hectares. A reforma agrária<br />
seria uma gran<strong>de</strong> coisa, quando menos porque regularizaria a<br />
posse da terra".<br />
Prisão <strong>de</strong> lavradores<br />
causa tensão na Bahia<br />
Salvador — Com a <strong>de</strong>cretação da prisão preventiva <strong>de</strong> 14<br />
posseiros e a <strong>de</strong>tenção efetiva <strong>de</strong> cinco <strong>de</strong>les, voltou a ficar muito<br />
tensa a situação na Vila Tancredo Neves, no Município <strong>de</strong><br />
Wenceslau Guimarães, a 280 quilômetros <strong>de</strong>sta Capital, on<strong>de</strong> está<br />
em fase adiantada um projeto <strong>de</strong> assentamento <strong>de</strong> 173 famílias <strong>de</strong><br />
trabalhadores rurais que viviam em permanente conflito com a<br />
empresa S/A Lopes Marques, que se diz proprietária das terras.<br />
ZH 18.10.85<br />
novembro <strong>de</strong> 1981 (Lei <strong>de</strong> Organização Básica da Brigada<br />
Militar). Art. iS, parágrafo 3? — o Batalh&o <strong>de</strong> Policia <strong>de</strong><br />
Choque tem como missão legal á eontraguerrilha urbana<br />
e rural, po<strong>de</strong>ndo ser empregado em outros tipos <strong>de</strong> poli-<br />
ciamento".<br />
O mesmo oficio esclarece que "Desse dispositivo legal,<br />
<strong>de</strong>preen<strong>de</strong>-se que o Batalhflo <strong>de</strong> Choque <strong>de</strong>verá manter-se<br />
a<strong>de</strong>strado para o emprego em operações rurais, tais co-<br />
mo: controle <strong>de</strong> populaçfio. manutenção da or<strong>de</strong>m em<br />
possíveis conflitos referentes i posse <strong>de</strong> terra, conflitos<br />
entresüvícolas,etc". ZH 09.10.85<br />
= <strong>terragente</strong> 25:
a luta pela terra<br />
e agora?<br />
Coi i a assinatura do PNRA pelo<br />
governo, a 1 ita pela Reforma Agrária en<br />
tra em uma nnva fase. As "regras do jogo"<br />
foram <strong>de</strong>finidas e parece que a "primeira<br />
batalha" foi ganha pelos latifundiários e<br />
empresários rurais com o apoio <strong>de</strong>cisivo<br />
dos militares;<br />
Esta vitória fica clara quando<br />
se vê que o presi<strong>de</strong>nte do INCRA, José Go-<br />
mes da Silva se <strong>de</strong>mitiu do cargo por achar<br />
que o PNRA divulgado e assinado pelo presi.<br />
<strong>de</strong>nte não tem como ser executado. A queda'<br />
do presi<strong>de</strong>nte do INCRA não <strong>de</strong>termina isola<br />
damente que hajam gran<strong>de</strong>s alterações na ro<br />
ta do governo para a Reforma Agrária. Esta<br />
<strong>de</strong>missão é apenas um reflexo das dificulda^<br />
<strong>de</strong>s que o MIRAD (Ministério do Desenvolvi-<br />
mento e Reforma Agrária) vem encontrando '<br />
para trabalhar a questão da Reforma Agrári<br />
a. Pelas modificações que o Plano Nacional<br />
PNRA sobreu ficam colocadas novas dificul<br />
da<strong>de</strong>s para o Movimento dos Trabalhadores<br />
Rurais sem Terra e para todos aqueles que<br />
lutaram pela Reforma Agrária massivaesob<br />
controle dos trabalhadores. Agora a luta<br />
vai exigir uma maior organização e res<br />
postas a nível nacional. Estas respostas<br />
a nível nacional passam a ser fundamentais<br />
porque o governo centralizou as <strong>de</strong>cisões<br />
sobre a Reforma Agrária no Palácio do Pia<br />
nalto. com isto tenta minimizar as lutas<br />
específicas <strong>de</strong> cada região. Da mesma for-<br />
ma passa a ter cada vez mais importância<br />
a articulação <strong>de</strong> Comitês pela Reforma A<br />
grária massivos e extremamente atuantes<br />
para contrabalançar a campanha dos anti-<br />
-Reforma Agrária. Além disso é necessário<br />
ainda pressionar o governo para que o seu<br />
tímido plano <strong>de</strong> reforma agrária seja ime-<br />
diatamente executado. Sem dúvida o momen-<br />
to <strong>de</strong> agora é <strong>de</strong>cisivo e quem quer ver a<br />
Reforma Agrária na prática não po<strong>de</strong> mais<br />
ficar parado.<br />
ÁREA NECESSÁRIA E AS FAMÍLIAS BENEFICIÁRIAS<br />
(Por unida<strong>de</strong>s da Fe<strong>de</strong>ração, no período <strong>de</strong> 85 a 89)<br />
<strong>terragente</strong> 26
======== a luta pela terra<br />
1 • MOVIMENTO DOS SEM TERRA<br />
Darci Maschio<br />
No dia 25 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1984 o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra '<br />
veio a Porto Alegre, na se<strong>de</strong> do INCRA para fazer uma gran<strong>de</strong> manifestação on<strong>de</strong> era exigida<br />
uma solução para o problema agra rio em nosso Estado e no paTs. Naquela oportunida^<br />
<strong>de</strong> o TERRAGENTE entrevistou Darci Mas chio, representante do Movimento dos Sem Terra so<br />
bre a situação do movimento e também sobre as questões mais importantes que se colocavam<br />
naquele momento. Passado mais <strong>de</strong> um ano o TERRAGENTE volta a falar como Darci Mais<br />
chio, agora na direção nacional do Mo vimento dos Sem Terra após a realização do l^Q Con<br />
gresso Nacional dos Sem Terra. Naquel a época o TERRAGENTE colocava algumas questões ^<br />
que hoje vão ser colocadas <strong>de</strong> novo pa ra se fazer um balanço do movimento do ano passado<br />
para cã.<br />
TERRAGENTE - Como é que evoluiu a participação^'<br />
dos Sindicatos dos Trabalhadores Rurais no auxí-<br />
lio, na cooperação e na luta do dia-a-dia junto'<br />
com o Movimento dos Sem Terra?<br />
DARCI- Bom, na época em 84 quandonõsestivemos<br />
aqui no INCRA, naquela manifestação nos iramos<br />
ainda 20 e poucos municípios engajados na luta<br />
e o movimento sindical tinha sérias dúvidas so<br />
bre o nosso movimento. Sempre os dirigentes sin<br />
dicais nos acusavam <strong>de</strong> fazer movimentos parale-<br />
los e que po<strong>de</strong>riam ser até oposições sindicais.<br />
Portanto colocavam todo o tipo <strong>de</strong> impedlho na<br />
nossa luta, impedindo a nossa organização,inclu<br />
sive na época a gente teve sérias brigas com o<br />
movimento sindical. Hoje a realida<strong>de</strong> mudou, o<br />
movimento sindical reconhece a autonomiadosSem<br />
Terra, reconhece que o crescimento que nós tive<br />
mos do ano passado para cã foi um crescimento<br />
assustador, o qual o movimento sindical daquela<br />
época até hoje nao teve conquistas <strong>de</strong>ntro do mo<br />
vimento e nós do Movimento dos Sem Terra tive<br />
mos inclusive a ocupação em Santo Augusto. De<br />
pois, consequentemente, uma vitória e o aumento<br />
<strong>de</strong> companheiros que se engajavam na luta. Tive-<br />
mos várias reuniões, inclusive com os diretores<br />
da FETAGj on<strong>de</strong> colocamos <strong>de</strong> que a nossa inten-_<br />
ção não e tomar os sindicatos, nossa intenção i<br />
simplesmente se organizar e conquistar o nosso<br />
pedaço <strong>de</strong> terra, só que ai os sindicalistas que<br />
colocavam impecilho no meio da luta, claro, sem<br />
dúvida, nós procurávamos tirar eles da estrada.<br />
TERRAGENTE - Como está a situação do Movimento '<br />
dos Sem Terra no Rio Gran<strong>de</strong> do Sul, quantosmun^<br />
cípios estão organizados, qual foi a evolução do<br />
ano passado para cá?<br />
DARCI- Bom, como eu dizia no ano passado eram 20<br />
municípios aproximadamente. Hoje nós temos 60<br />
municípios na luta. Agora o movimento i mais e£<br />
truturado , hoje nós temos comissões municipais,<br />
a_Comissão Regional, a Comissão Estadual e tam<br />
bém eleita a Comissão Executiva Nacional. Eu re<br />
presento no Rio Gran<strong>de</strong> do Sul a Comissão Execu-<br />
tiva Nacional do movimento que inclusive é um<br />
motivo <strong>de</strong> honra para nós que agora, assumida a<br />
Nova República, mudaram até a tática <strong>de</strong> como re<br />
ceber. Nós fomos recebidos muito bem em Brasília,<br />
tivemos audiência, que inclusive convém salien<br />
tar, o próprio movimento sindical ignorava, du-<br />
vidava que nós chegássemos em BrasTlia a falar<br />
com o ministro o qual nós fizemos ooraue nós va<br />
mos ataliando por on<strong>de</strong> é mais perto. Não abe<strong>de</strong><br />
centos essa conjuntura sindical, esta estrutura<br />
sindical. Nós vamos da base direto aon<strong>de</strong> for ne<br />
cessário e assim o movimento cresceu, teve mais<br />
crédito porque nós não fizemos muita cerimônia,<br />
para pedir as coisas. Aquilo que nós sentimosfo<br />
mos lá em BrasTlia e dissemos. Aquilo que_ os<br />
trabalhadores querem que diga, aquilo que é re<br />
almente o problema, estamos exigentes, não esta<br />
mos esperando muito. Enten<strong>de</strong>mos a conjuntura po<br />
litica do momento como diz a "Nova República",<br />
mas mesmo assim nós não paramos, o movimento a<br />
cada dia adquire mais força, credibilida<strong>de</strong> e<br />
mais gente na luta.<br />
"...o povo já está cheio <strong>de</strong> amarras, o po<br />
vo jã esta com o saco cheio <strong>de</strong> todo mundo<br />
impedir, <strong>de</strong> ter que pedir na porta | ro se<br />
cretario aten<strong>de</strong>r, pro guarda pra pooer en<br />
trar, pro secretário do secretario. E<br />
<strong>de</strong>ntro do movimento sindical muitas vezes<br />
se vê a mesma coisa: basta ver a estrutu-<br />
ra do sindicato, das regionais, da :e<strong>de</strong>ra<br />
ção, da confe<strong>de</strong>ração, até chegar no Minis<br />
têrio do Trabalho..."<br />
<strong>terragente</strong> 27:<br />
^
a luta pela terra<br />
TERRAGENTE - Outra coisa que sempre fica no ar<br />
para muitas pessoas é como po<strong>de</strong> que por exemplo<br />
na Bahia, em Rondônia, no Maranhão, até no Mato<br />
Grosso, on<strong>de</strong> os conflitos pela terra são_ muito<br />
mais acirrados e o movimento nem sempre é tão<br />
organizado. Em contra partida,aqui no Rio Gran-<br />
<strong>de</strong> do Sul a luta, o Movimento dos Sem Terra con<br />
seguiu uma organização ate superior a outros Es<br />
tados. Como é que se po<strong>de</strong> enten<strong>de</strong>r essa diferen<br />
ça <strong>de</strong> organização e como é que o Movimento dos<br />
Sem Terra está pensando em ultrapassar esse mo<br />
mento?<br />
DARCI- Bom, sem duvida <strong>de</strong> que no Rio Gran<strong>de</strong> do<br />
Sul, o Estado como organização é o que esta ma<br />
is organizado_digamos, e o fato <strong>de</strong> outros Esta-<br />
dos on<strong>de</strong> se dá a luta mais a acirrada não está<br />
tão organizado como o caso do Rio Gran<strong>de</strong> do Sul,<br />
é fácil <strong>de</strong> enten<strong>de</strong>r. Aon<strong>de</strong> os conflitos se dão<br />
mais seguidamente, inclusive apelando para as<br />
próprias armas, diminui o tempo dos trabalhado-<br />
res pensarem, sentarempara estudar. 0 caso do<br />
Rio Gran<strong>de</strong> do Sul que nós não per<strong>de</strong>mos tempo,h5s<br />
nos fins <strong>de</strong> semana tiramos para se reunir,para<br />
discutir com a companheirada, assim avança mais<br />
a organização nossa a nível <strong>de</strong> Estado. 0 caso<br />
que por exemplo na Bahia e outros Estados on<strong>de</strong><br />
o conflito armado se dã todas as semanas,da'pa-<br />
ra se enten<strong>de</strong>r que lã eles para sentarem-se e<br />
estudarem tem que estar com a espingarda do ]a<br />
do da ca<strong>de</strong>ira, Então eles tem que se sentar rã<br />
ras as vezes. Vão mais na luta concreta que se<br />
cria mediante a própria miséria do trabalhador,<br />
e a exploração do latifundiário e do grileiro.<br />
Então a organização <strong>de</strong>les cresce na medida em<br />
que crescem os conflitos, e nós aqui aproveita-<br />
mos enquanto que não tem conflito que não se sa<br />
be se nao vai ter um dia, para se sentar, discü<br />
tir e ver inclusive estratégias e também se a<br />
profundar um pouco mais no conhecimento políti-<br />
co. NÓS do Rio Gran<strong>de</strong> do Sul enten<strong>de</strong>mos que o<br />
problema da terra e todos os problemas brasile^<br />
ros não vão se resolver dando um pedacinho <strong>de</strong>.<br />
Invasões maciças:<br />
a ameaça do<br />
movimento dos<br />
sem-terra<br />
O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra<br />
reiterou ontem, em São Paulo, após examinar o Plano<br />
Nacional <strong>de</strong> Reforma Agrária ÍPNRA), sua posição <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ar um processo maciço <strong>de</strong> Invasões <strong>de</strong><br />
áreas que consi<strong>de</strong>ram Improdutivas nos doze Estados<br />
on<strong>de</strong> possuem representação.<br />
Na opinião do integrante da executiva nacional da<br />
entida<strong>de</strong>, Laíaiete Pereira Biet, o movimento consi<strong>de</strong>-<br />
<strong>terragente</strong> 28<br />
terra para nós, vai se dar o dia que o trabalhèT<br />
dor tomar consciência política e também ocupar<br />
os espaços políticos^ botando os seus represen-<br />
tantes inclusive a nível <strong>de</strong> Estado como <strong>de</strong>puta-<br />
dos, a nível nacional no Congresso e inclusive,<br />
estamos pensando aqui no Rio Gran<strong>de</strong> do Sul como<br />
a questão da_Constituinte que está ai lançada em<br />
discussão até em boteco <strong>de</strong> esquina. Nós estamos<br />
discutindo politicamente que o problema -para não<br />
se resolve apenas ocupando um pedaço <strong>de</strong> terra^<br />
se resolve ocupando toda essa máfia oue tem ai<br />
comandando o país que mesmo que tenha mudado <strong>de</strong><br />
militares para a Nova Republicaj não mudou-<br />
a classe que domina que é isso que é importante<br />
para nós, principalmente da li<strong>de</strong>rança do movimen<br />
to. Temos claro que_nao mudou a classe que domí<br />
na e isso é o que nós queremos mudar, mudar o<br />
sistema e não apenas o regime <strong>de</strong> governo.<br />
itKKAGtNit- uma ultima colocação Darci: como é<br />
que o Movimento dos Sem Terra vi a continuida<strong>de</strong><br />
da luta? Quais as formas <strong>de</strong> luta do Movimento?<br />
No ano passado tu falavas que o movimento ainda<br />
tinha muito a se organizar, colocava que o mov^<br />
mento alim<strong>de</strong> pressionar no INCRA e vir fazer<br />
manifestações como tinha feito no dia 25 <strong>de</strong> ju-<br />
lho <strong>de</strong> 1984, começaria a ter outras formas <strong>de</strong><br />
luta, como acabou havendo mesmo com a ocupação<br />
<strong>de</strong> terras.<br />
DARCI- Bom, a estratégia do movimento na época,<br />
em 84 quando eu falava_para o TERRAGENTE era<br />
realmente ocupar, só nós tínhamos em sigilo e<br />
foi o que nós fizemos. Hoje nós já dizemos pu<br />
blicamente, inclusive, dissemos ao INCRA,ao re-<br />
presentante do presi<strong>de</strong>nte do INCRA <strong>de</strong> Brasília,<br />
que caso eles venham a enten<strong>de</strong>r a reivindicação<br />
tudo bem, caso contrário, nós estamos dizendo<br />
publicamente que vamos ocupar e não vamos recu<br />
ar, nós temos claro que queremos é avançar na<br />
luta e conquistar a terra, não importa o que é<br />
necessário fazer, se for necessário ocupar con-<br />
tinuaremos ocupando as terras.<br />
' ewse A<br />
ra que suas reivindicações não foram atendidas pelo<br />
Governo e que estão esgotados, a partir <strong>de</strong> agora, to-<br />
dos os caminhos que conduzem ao entendimento.<br />
— O Governo brincou com os trabalhadores. Demos<br />
crédito ao Plano Nacional da Reforma Agrária e fo-<br />
mos frustrados, porque não fomos levados a sério, ob-<br />
servou.(AG) ZH 12.10.85
2- REASSENTADOS<br />
Lk grupo <strong>de</strong> quase 100 famílias<br />
<strong>de</strong> agricultores, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> muito lutarem'<br />
para conseguir terras pelas vias legais '<br />
resolveram que não havia mais solução,que<br />
seu caminho era as vias <strong>de</strong> fato e ocupa-'<br />
ram uma área <strong>de</strong> terras da Estação Experi-<br />
mental do governo do estado do Rio Gran<strong>de</strong><br />
do Sul no município <strong>de</strong> Santo Augusto, A o<br />
cupação ocorreu no dia 28 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong><br />
1984 e no mesmo dia os^agricultores foram<br />
expulsos. Três dias após serem enxotados'<br />
violentamente pela Brigada Militar, eles<br />
foram para uma ãrea <strong>de</strong> apenas 2 hectares'<br />
PINHEIRO - Bom, a gente enfrentou muita dificu^<br />
da<strong>de</strong> ate inclusive a li<strong>de</strong>rança enfrentou a pres<br />
são da polícia, mas graças a união do povo, a o?<br />
ganizaçao, a consciência <strong>de</strong> que era sõ com luta<br />
para nós conseguir a terra, então a gente resis-<br />
tiu a tudo isso graças a população riogran<strong>de</strong>nse<br />
que nos ajudou, nos apoiaram, nos <strong>de</strong>ram forca.N5s<br />
consi<strong>de</strong>ramos uma vitoria muito gran<strong>de</strong> porque as<br />
simjmntos colonos sem terra, muitos companheiros<br />
estão enten<strong>de</strong>ndo, estão compreen<strong>de</strong>ndo e acredi-<br />
tando nos próprios companheiros, que é sõ com or<br />
ganizaçao e união para conseguir as vitórias.<br />
TERRAGENTE - 0 Pinheiro levantou uma questão que<br />
e bastante importante, que i a questão da organi<br />
zação e da luta do pessoal. Principalmente dos ã<br />
gricultores sem terra que provaram que mesmo num<br />
governo do PDS, um governo eleito ainda na época<br />
do regime militar, um governo que i claramente<br />
contra o movimento dos Sem Terra, os agricultores<br />
sem terra do Rio Gran<strong>de</strong> do Sul com sua organiza-<br />
ção conseguiram conquistar a terra. Pinheiro, o<br />
que tu acha que foi mais importante nesse tempo<br />
todo para que mantivesse o pessoal unido além do<br />
apoio que recebiam <strong>de</strong> várias entida<strong>de</strong>s. Igreja,<br />
et . Como era a participação do sindicalismo e<br />
quais foram os outros acordos que vocês acharam<br />
mais importantes para conseguir esta vitória?<br />
PINHEIRO- Bom, da parte do sindicato foram muito<br />
poucos sindicatos combativos que estiveram dis-<br />
postos na luta e uma entida<strong>de</strong> muito forte sempre<br />
presente nas horas <strong>de</strong> mais dificulda<strong>de</strong> seria a<br />
FRACAB e a CUT que foram umas entida<strong>de</strong>s que até<br />
ficaram marcadas pelas nossas autorida<strong>de</strong>s do Es-<br />
tado, isso a gente sabe e eu posso contar com<br />
muita certeza é a própria imprensa nos <strong>de</strong>u muita<br />
força, muito apoio e assim a gente conseguiu a<br />
proveitando os espaços <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s atos públicos<br />
realizados aqui em Porto Alegre, jornal, rádio e<br />
televisão e assim com nosso talento, com a nossa<br />
coragem, com a nossa capacida<strong>de</strong> nós conseguimos<br />
<strong>de</strong>nunciar muitas injustiças que vinham tendo no<br />
Movimento dos Sem Terra.<br />
TERRAGENTE- Pinheiro, outra dúvida que sempre<br />
resta ate para os trabalhadores rurais em geral<br />
Rnheiro<br />
a luta pela terra<br />
em Erval Seco, no local chamado "Estrada<br />
da Fortaleza" on<strong>de</strong> se iniciou, enfrentou'<br />
e terminou um gran<strong>de</strong> capítulo da história<br />
do Movimento Sem Terra no Rio Gran<strong>de</strong> do'<br />
Sul e que os levou a mais uma vitória.<br />
Abaixo, o TERRAGENTE publica u<br />
ma entrevista feita com o Pinheiro que T<br />
foi um dos dirigentes do acampamento <strong>de</strong> '<br />
Erval Seco, on<strong>de</strong> ele nos conta um pouco<br />
das dificulda<strong>de</strong>s enfrentadas e como estão<br />
agora as famílias acampadas em Tupancire-<br />
tã.<br />
i que eles não acreditam muito em si mesmos, £<br />
cham que não tem condições <strong>de</strong> se organizar, <strong>de</strong><br />
lutar, <strong>de</strong> enfrentar batalhas. Como e que foi que<br />
os Sem Terra se organizaram lã no acampamento mes<br />
mo para resistir esses meses todos, e como é que<br />
faziam para dividir os alimentos, etc. Como é<br />
que era a organização interna do acampamento?<br />
PINHEIRO- Bom, a primeira coisa é que foi uma or<br />
ganizaçao muito importante que nasceu da " base,<br />
<strong>de</strong> nós, eu como sou um dos criadores do Movimen-<br />
to dos Sem Terra, a gente iniciou uma caminhada,<br />
uma nova caminhada e a dificulda<strong>de</strong> maior que a<br />
gente encontrou foi a não participação do próprio<br />
colono sem terra que não acreditava gor ser um<br />
camarada pobre, inexperiente.e nós tínhamos,por<br />
que a gente teve muita experiência <strong>de</strong> ocupação,<br />
_<strong>de</strong> <strong>de</strong>spejo, então quando chegamos no acampameji<br />
to <strong>de</strong> Erval Seco o pessoal ja estava consciente,<br />
<strong>de</strong> que era sõ com luta para conseguir a terra<br />
Nós sempre colocamos para os companheiros o exem<br />
pio <strong>de</strong> Ronda Alta, <strong>de</strong> 600 famílias <strong>de</strong>sistiram mm<br />
tas porque a não participação nas reuniões,a nao<br />
participação na oração, que a gente tem por cos-<br />
tume, usou muito a Bíblia, usou rezar muito e pe<br />
dimos a Deus que isso viesse a acontecer e assim<br />
a gente colocava na cabeça dos companheiros que<br />
participassem das reuniões que participassem das<br />
<strong>de</strong>cisões que assim a li<strong>de</strong>rança levava ao conheo<br />
mento das autorida<strong>de</strong>s.<br />
TERRAGENTE - Bom, mais importante e o que foi<br />
mais significativo foi que após nove meses apro-<br />
ximadamente, gran<strong>de</strong> parte <strong>de</strong>ssas famílias foram<br />
assentadas em Tupanciretã e uma outra parte das<br />
famílias ficou em Erval Seco mesmo. Afinal <strong>de</strong> con<br />
tas o que interessa mesmo é que todas essas famT<br />
lias, a gran<strong>de</strong>jnaioria foi reassentada e foi mais<br />
uma gran<strong>de</strong> vitória. Como é que está agora o pes-<br />
soal lã em Tupanciretã, Pinheiro?<br />
PINHEIRO- Quanto a nossa companheirada <strong>de</strong> Tupan-<br />
ciretã, estão todos felizes, todos contentes, o<br />
apoio em nosso favor ê bastante. A Universida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> Santa Maria nos dando muito apoio, essa equi-<br />
pe da Agronomia, tem mais uma engenheira elétri-<br />
terr agente 29
=a luta pela terra<br />
ca que está a nossa disposição, tem a Igreja,por<br />
exemplo^ a Rádio Medianeira que é da Igreja a<br />
gente já ocupou, já nos serviu, a gente fez pro<br />
grania lã, repercutiu muito bem e a própria popu-<br />
lação <strong>de</strong> Tupanciretã, a Prefeitura, EMATER, um<br />
pessoal que acabou vindo nos apoiar.<br />
TERRAGENTE - Pinheiro, e agora enquanto o pesso-<br />
al ainda nao tem todo o equipamento necessário,<br />
nao tem nem casa para morar, estão morando em<br />
baixo mesmo <strong>de</strong> barracos, quejnoravam em Erval Se<br />
co, como é que o pessoal está vivendo, como que<br />
está sobrevivendo, on<strong>de</strong> é que está trabalhando,o<br />
que é que o pessoal está fazendo?<br />
PINHEIRO- Bom, tu sabe que Tupanciretã é uma re-<br />
giao_<strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s latifundiários, a nossa chegada<br />
lá já foi um espinho para eles, já foi uma infe-<br />
licida<strong>de</strong>, eles não gostaram disso, mesmo assim<br />
eles se propõe a nos dar uma mao <strong>de</strong> uma maneira<br />
ou <strong>de</strong> outra, agora o_que a gente quer <strong>de</strong>ixar bem<br />
claro é que nós também precisamos fazer os nos^<br />
sos interesses.<br />
TERRAGENTE- E <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>sse"fazer os interesses"<br />
dos agricultores^ pessoal já está plantando ai<br />
guma coisa na própria terra, já está fazendo aT<br />
guma horta? Como e que está lã a situação?<br />
PINHEIRO- Sim, o próprio Estado liberou um tra<br />
tor e esse trator estava trabalhando, então ope£<br />
soai, enquanto nós estivemos acampados três nie<br />
ses numa agrovila lã na fazenda, eu li<strong>de</strong>rei ope?<br />
soai numa horta comunitária e essa horta nós fT<br />
zemos com o nosso trabalho, e assim o momento que<br />
foi distribuída a terra, dali nós tiramos o trans<br />
plante para todas as hortas coletivas, então to<br />
do o pessoal tem horta. Já plantamos mandioca,<br />
plantamos cana, plantamos pasto, temos uma boa<br />
quantia <strong>de</strong> pasto, uma boa quantia da companheira<br />
da já plantaram um tanto <strong>de</strong> milho, enfim estão<br />
trabalhando, estão progredindo.<br />
TERRAGENTE - E o pessoal que está lá acampado Pi<br />
nheiro, está tudo com lote dividido, para cada<br />
família um lote, e quanto que é mais ou menos a<br />
área dos lotes que o pessoal ganhou?<br />
PINHEIRO- Bom,_aon<strong>de</strong> tem uma parte <strong>de</strong> campo hor-<br />
tado, a terra é hortada,então <strong>de</strong>u um lote <strong>de</strong> 9,5<br />
hectares, enquanto que nós do campo bruto, eu ga<br />
nhei aproximadamente 11 hectares, assim como tem<br />
lotes com 12 hectares e lotes com 10 hectares,en<br />
tão mais por isso, por ela se distribuída indivT<br />
dual, ainda nós não estamos contando, porque a<br />
gente colocou, "mesmo com a terra a luta conti -<br />
nua". Então nós estamos nos unindo cada vez mais<br />
porque é só com união, taT o exemplo da conquis-<br />
ta da terra, então nós vamos organizar uma asso-<br />
ciação que provavelmente dois grupos já po<strong>de</strong>-se<br />
dizer que ja está feito, um com treze famílias e<br />
outro com <strong>de</strong>z, on<strong>de</strong> eu participo, a gente vai tra<br />
balhar coletivo, que assim a gente tem força pa<br />
ra reivindicar aquilo que nós temos direito<br />
TERRAGENTE- E, isso que tu levantou é uma coisa<br />
interessante porque geralmente o pessoal diz por<br />
um lado que o colono, o sem terra e_um vagabundo,<br />
e tu já está mostrando que a coisa é bem ao con-<br />
trário e por outro, o pessoal diz:"ah! <strong>de</strong>pois vo<br />
cê ganha a terra, em 2 ou 3 anos já vai per<strong>de</strong>r<br />
<strong>de</strong> novo porque não sabe usar a terra". Quer di<br />
zer que os Sem Terra lã <strong>de</strong> Tupanciretã estão mol<br />
trando exatamente o contrario, quer dizer, estão<br />
se unindo, estão fazendo até horta comunitária,<br />
estão fazendo reunião <strong>de</strong> varias famílias para<br />
<strong>terragente</strong> 30<br />
trabalhar em coletivida<strong>de</strong>, em mutirão para ven<br />
cer essa dificulda<strong>de</strong>?<br />
PINHEIRO- E isso ai, quer dizer que não só em mu<br />
tirão, mas uma associação, organizar uma associa<br />
ção <strong>de</strong>finitiva, que assim a gente leve ao conhe-<br />
cimento das autorida<strong>de</strong>s a nossa reunião e a nos-<br />
sa força, nós queremos mostrar isso mesmo que fa<br />
laste, a gente foi acusado muitas vezes como va<br />
gabundo, isso e aquilo e não é bem isso aT. Quer<br />
dizer gue nós tendo a terra, tendo a infra-estru<br />
tura nos vamos mostrar as qualida<strong>de</strong>s porque eu<br />
coloquei <strong>de</strong>s<strong>de</strong> antes que teve uma equipe que <strong>de</strong><br />
começo se <strong>de</strong>ram conta da nossa vinda Ia como eu<br />
jã falei, eacusando-nos <strong>de</strong> vagabundos e isso e<br />
aquilo. E nós com esse tipo <strong>de</strong> trabalho nós esta<br />
mos mostrando que nós gueremos trabalhar, nos<br />
queremos progredir e nos queremos oarticioar.<br />
TERRAGENTE. Bom^ a gente po<strong>de</strong> ver aT, o Pinhei-<br />
ro contou para nós um exemplo muito claro <strong>de</strong> co-<br />
mo após 9, 10, 12 meses <strong>de</strong> organização e muita<br />
luta, os agricultores sem terra do Rio Gran<strong>de</strong> do<br />
Sul conseguiram mais uma gran<strong>de</strong> vitória. Pinhei-<br />
ro como i que tu acha que vai continuar crescen-<br />
do o movimento, será que o pessoal vai continuar<br />
acampando, vai ter que continuar acampando mesmo<br />
com o "novo" governo?<br />
PINHEIRO- Bom, da nossa parte nós jã colocamos<br />
muitas vezes, não acreditamos em Reforma Agrária,<br />
mas sim acreditamos na união do povo que hojemes<br />
mo a gente reunido com o pessoal do ministro da<br />
agricultura, nós <strong>de</strong>ixamos bem claro que com orga<br />
nização, com união, com pressão, nós vamos conse<br />
guir asnossas reivindicações, agora ocontrário<br />
disso nós não vamos conseguir, então nós só acre<br />
ditamos em Reforma Agrária se o povo continuar £<br />
nido.<br />
coAocamo s<br />
a nossa P^nl^e^ K^s<br />
^TToO. Bom, d - a 0 acredHawos e w 0 ^03 ^<br />
^ SS0 c em Reforma W<br />
ditamos em<br />
nido.
A NOVA REPUBLICA<br />
política agrícola<br />
E OS PREQOS MÍNIMOS<br />
A ALGUM TEMPO JÂ SE TEM OUVIDO FALAR NA TAL DE NOVA REPUBLICA E DE<br />
SUAS "BOAS INTENÇÕES". O PRESIDENTE SARNEY ANUNCIOU EM SEUS DISCURSOS UMA CONDUTA<br />
VOLTADA PARA O SOCIAL. O MINISTRO DA AGRICULTURA PEDRO SIMON E SEUS ASSESSORES DIZEM<br />
ESTAR PREPARANDO UMA POLÍTICA AGRÍCOLA VOLTADA AO PBQUBND PRODUTOR E Ã PRODUÇÃO DE<br />
ALIMENIOS PARA A POPULAÇÃO. OS JORNAIS DIZHVI QUE O GOVERNO PRETENDE ELEVAR A PRODU-<br />
Ç&) AGRÍCOLA EM 5% ATÉ O PRÓXIMD ANO. MAS SERÁ QUE A NOVA REPUBLICA TEM MESMO ESTAS<br />
BOAS INTENÇÕES? O CASO DA DEFINIÇÃO DA POLÍTICA DE PREÇOS MlNIMDS RESPONDE BEM A ES<br />
TA PERGUNTA.<br />
0 ministro Simon, da Agricultura,<br />
fez um gran<strong>de</strong> alar<strong>de</strong> na imprensa no iní<br />
cio <strong>de</strong> agosto anunciando que os preços mi<br />
nimos para os alimentos básicos, como o<br />
arroz, feijão, milho e mandioca, seriam<br />
aumentados <strong>de</strong> acordo com a variação da<br />
inflação dos últimos 12 meses. Apenas os<br />
produtos <strong>de</strong> exportação, como a soja e o a_l<br />
godão, teriam os preços reajustados em ín<br />
dices inferiores ao da inflação.<br />
No entanto, o próprio Ministério<br />
da Agricultura admitia que o preço <strong>de</strong> in<br />
sumos, como o óleo diesel e fertilizantes,<br />
subiu mais do que a inflação. Portanto,<br />
mesmo que o reajuste fosse todo feito em<br />
função da inflação, os agricultores conti<br />
nuariam per<strong>de</strong>ndo dinheiro, pois os custos<br />
<strong>de</strong> produção teriam aumentado mais do que<br />
esta. Além disso, parece que o ministro<br />
se confundiu, pois corrigir os preços mi<br />
nimos em função da inflação não é um fa<br />
vor, mas uma obrigação do governo, já que<br />
os agricultores não têm motivo nenhum p£<br />
ra serem castigados pela existência da in<br />
fiação.<br />
Mas a proposta do ministro Simon<br />
com todos os seus <strong>de</strong>feitos, era ainda apj3<br />
nas uma proposta. Era preciso que o pres^<br />
<strong>de</strong>nte Sarney, em conjunto com os ministros<br />
da fazenda e do planejamento, concordasse<br />
com a tal proposta. Só que ele não concojr<br />
dou e resolveu rebaixá-la ainda mais.<br />
A imprensa anunciou que o reajus<br />
te médio dos preços mínimos, que era <strong>de</strong><br />
230%, passou para 220%. Mas esta media não<br />
representa a verda<strong>de</strong>, porque a diferença<br />
entre a proposta do Ministério da Agricul_<br />
tura e a que vai vigorar está em que, do<br />
total <strong>de</strong> 20 produtos incluidos na políti<br />
ca <strong>de</strong> garantia <strong>de</strong> preços mínimos, os sete<br />
principais tiveram seu reajuste diminuída<br />
Os outros treze, incluindo amendoim,sorgo,<br />
cera <strong>de</strong> carnaúba e outros produtos <strong>de</strong> pe<br />
quena importância, mantiveram os índices<br />
da proposta anterior.<br />
Portanto, todos os principais pro<br />
dutos agrícolas do Brasil para a safra <strong>de</strong><br />
85/86 tiveram seus preços mínimos corrigi<br />
dos abaixo da inflação do período,que foi<br />
<strong>de</strong> 217,9%. como dá pra se ver abaixo:<br />
PRODUTO NOVO PREÇO(Cr$) REAJUSTE(%) CUSTO DE PR0D.(Cr$)<br />
Arroz <strong>de</strong> Sequeiro 63.000 191,7 76.195<br />
Arroz Irrigado 61.200 186,0 60.422 V<br />
Feijão 155.000 186,0 143.121 1<br />
Milho<br />
Soja<br />
Mandioca<br />
37.200<br />
59.040<br />
169.000<br />
186.2<br />
195.2<br />
216,6<br />
43.011<br />
69.941<br />
187.190<br />
O<br />
X<br />
o<br />
u<br />
0)<br />
Sorgo<br />
34.969 217.9 -<br />
<strong>terragente</strong>sr<br />
\<br />
CO
= política agrícola<br />
Como dá pra ver também,a maioria<br />
dos novos preços mínimos está abaixo do<br />
custo <strong>de</strong> produção estimado. Quer dizer,se<br />
estes forem os preços pagos aos agriculto<br />
res, isto será o mesmo que fazer coni que<br />
eles paguem para trabalhar!<br />
E aí surge a pergunta: on<strong>de</strong> estão<br />
as boas intenções? A Nova Repúlica conti<br />
nua querendo frear a inflação apertando o<br />
Mais um escândalo no coopera-<br />
tivismo. Como esta frase já é conhecida<br />
<strong>de</strong> todos, vamos somente mudar o nome da<br />
cooperativa. Desta vez o estouro foi na<br />
COTRISA.<br />
Entre os associados melhor in<br />
formados, os comentários sobre as dificul<br />
da<strong>de</strong>s financeiras da COTRISA já não eram<br />
novida<strong>de</strong>. A maior novida<strong>de</strong> ocorreu no co<br />
meço <strong>de</strong> outubro quando a CEP(Companhia dê^<br />
Financiamento da Produção) <strong>de</strong>scobriu que<br />
o presi<strong>de</strong>nte da COTRISA, Jandir Chau <strong>de</strong><br />
Araújo e seu vice Danilo Toaldo tinham b£<br />
lado uma "jogada" para tapar o "buraco"da<br />
cooperativa. A tramóia era simples: a CO<br />
TRISA vendia a soja que pertencia ã CEP<br />
e da qual a cooperativa era fiel <strong>de</strong>posita<br />
ria, e com isto "equilibrava" o caixa.<br />
Mas a jogada não <strong>de</strong>u certo po_r<br />
que a CEP <strong>de</strong>scobriu o <strong>de</strong>svio e venda <strong>de</strong><br />
suas sementes. E o montante era <strong>de</strong> apro-<br />
ximadamente 120.000 toneladas <strong>de</strong> grãos <strong>de</strong><br />
soja.<br />
Assim, após todo o "rolo" ar-<br />
mado pela antiga diretoria, os associados<br />
se reuniram e constituíram uma diretoria<br />
provisória, <strong>de</strong>stituindo a antiga. Mas a<br />
tal diretoria está engolindo "cobras e Ia<br />
gartos" para tentar fazer o gigante quê<br />
é a COTRISA funcionar. Como acontece em<br />
todas as cooperativas do porte <strong>de</strong>sta, os<br />
associados per<strong>de</strong>m totalmente o controle e<br />
nem sabem tudo o que tem ou tudo o que <strong>de</strong><br />
vem.<br />
Na verda<strong>de</strong> o pano <strong>de</strong> fundo <strong>de</strong><br />
toda esta história é uma gran<strong>de</strong> disputa<br />
política para ver quem continua com as<br />
"ré<strong>de</strong>as" da cooperativa na mão. Por um Ia<br />
<strong>terragente</strong> 3 2=<br />
cinto dos trabalhadores, tanto rurais quan<br />
to urbanos. Continua dizendo que é preci<br />
so produzir alimentos básicos para o país<br />
("encher a panela do povo", como diziam<br />
antes), mas também não dá as mínimas con_<br />
dições pra que isto aconteça. Qual é e:n<br />
tão a diferença entre a Velha e a Nova Re<br />
pública?<br />
mais uma<br />
do foi articulada uma "Comiasao pro-preser<br />
vação da COTRISA" composta por altos fun-<br />
cionários da cooperativa, alguns sindica-<br />
tos <strong>de</strong> trabalhadores urbanos e o PMDB,PDT,<br />
PDS e principalmente o PEL.<br />
De outro lado há a direção oro<br />
visória escolhida pelos associados e sus<br />
tentada por alguns sindicatos <strong>de</strong> trabalha<br />
dores rurais combativos da região.<br />
De parte da diretoria provisó-<br />
ria, as maiores dificulda<strong>de</strong>s são a art Leu<br />
, lação dos Sindicatos <strong>de</strong> Trabalhadores Ru<br />
rais da região para garantir a continuid£<br />
<strong>de</strong> daquela e a falta <strong>de</strong> dados precisos so<br />
bre a real situação da COTRISA. Além_ dis<br />
so há uma carência <strong>de</strong> técnicos confiáveis<br />
que possam ajudar a administrar esta difi<br />
cil situação e superar este momento <strong>de</strong> im<br />
passe, garantindo a efetiva participação<br />
dos associados nos <strong>de</strong>stinos da cooperati-<br />
va.<br />
Outro fato importante é que a<br />
auditoria da FEC0TRIG0, que estava traba-<br />
lhando para <strong>de</strong>scobrir o tamanho do "bura-<br />
co" financeiro da cooperativa foi pre;sio<br />
nada a <strong>de</strong>ixar o trabalho. Esta pressãi que<br />
partia dos antigos diretores ligados ao<br />
PEL foi rechaçada pela diretoria prov sé-<br />
ria e agora a auditoria vai voltar a fun<br />
cionar.<br />
Neste jogo <strong>de</strong> pressões, só rejs<br />
ta esperar que os culpados sejam inteira-<br />
mente responsabilizados e punidos - já que<br />
hoje estão soltos - e que os agricultores<br />
não sejam prejudicados e possam partici-<br />
par efetivamente e <strong>de</strong>mocraticamente das<br />
<strong>de</strong>cisões do seu futuro.
ITAPUÃ<br />
ecologia<br />
um exemplo a ser seguido<br />
A luta pela preservação <strong>de</strong> par-<br />
ques e reservas naturais <strong>de</strong> nosso Estado<br />
não e nova. Muitas pessoas jã chamaram a<br />
atenção para o fato <strong>de</strong> que a monocultura<br />
e a urbanização <strong>de</strong>senfreada estariam ^tra<br />
zendo sérios danos ao equilíbrio ecológi-<br />
co do nosso Estado. Diversas nascentes <strong>de</strong><br />
rios jâ <strong>de</strong>sapareceram, inúmeras espécies<br />
<strong>de</strong> animais e vegetais estão extintas ou<br />
quase em extinção. A preservação <strong>de</strong> áreas<br />
com vegetação e a fauna nativas ê muito<br />
importante para evitar estes <strong>de</strong>sequilí-<br />
brios.<br />
Hoje, no nosso Estado, a luta<br />
sunbolo pela preservação <strong>de</strong> nossas áreas<br />
naturais tem sido a do Parque Estadual <strong>de</strong><br />
Itapuã. Diversas entida<strong>de</strong>s estão engaja<br />
das nesta briga.<br />
0 Parque Estadual <strong>de</strong> Itapuã fi<br />
ca ao lado <strong>de</strong> Porto Alegre, bem na regi-<br />
ão on<strong>de</strong> o Guaíba <strong>de</strong>semboca na Lagoa _ dos<br />
Patos. Neste parque, alem da vegetação ti<br />
pica da região, existe um tipo <strong>de</strong> rocha<br />
bastante raro, que ê o granito cor-<strong>de</strong>-ro<br />
sa.<br />
Este granito atraiu a atenção<br />
<strong>de</strong> diversas pedreiras que começaram a di-<br />
namitar as enormes pedras que dão uma ca-<br />
racterística toda especial ao parque.<br />
Alem disso, uma bela praia, <strong>de</strong><br />
frente para a Lagoa dos Patos, começou a<br />
ser loteada ilegalmente por especuladores,<br />
para veranistas <strong>de</strong> Porto Alegre.<br />
Abaixo, o ecologista Giovani Gre<br />
gol - secretario da Associação Gaüchâ <strong>de</strong><br />
Proteção ao Ambiente Natural (AGAPAN)-nos<br />
conta com vai a briga que as entida<strong>de</strong>s e<br />
cologicas têm travado para acabar com a<br />
<strong>de</strong>struição do Parque.<br />
ate' agora uma vitoria<br />
As pedreiras pararam. Desta vez<br />
(esperamos) para sempre. Depois <strong>de</strong> tanta<br />
luta pelo menos uma vitória na longa his-<br />
tória <strong>de</strong> 12 anos <strong>de</strong> campanha pela efetiva<br />
ção do Parque Estadual <strong>de</strong> Itapuã. Não foi<br />
fácil. Seis meses atrás ecologistas e cor_<br />
tadores <strong>de</strong> pedra fizeram um acordo que per<br />
mitia a continuida<strong>de</strong> do corte por 3 mese^<br />
enquanto uma comissão conjunta procurava<br />
uma solução que a Secretaria <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> e<br />
Meio Ambiente encaminharia.<br />
A conclusão unânime <strong>de</strong>ssa comis<br />
são, apenas 10 dias após o seu nascimento<br />
foi enviar ao Secretário Germano Bonow o<br />
pedido <strong>de</strong> transferência das pedreiras p£<br />
ra a área do Hospital Colônia ou Leprosá-<br />
rio, <strong>de</strong> proprieda<strong>de</strong> da SSMA, o qi'e fica<br />
ao lado do Parque.<br />
0 prazo <strong>de</strong> 3 meses, no entanto,<br />
se esgotou sem solução. Os cortai ores,mes<br />
mo a contragosto, cumpriram o conbinado e<br />
pararam no dia prometido. A fome e a re-<br />
volta campeavam na região. Tentou-se cul-<br />
par os ecologistas e fomos quase agredidos<br />
numa ocasião. Apenas a intervenção pes-<br />
soal e direta <strong>de</strong> vários membros 1a Comis-<br />
<strong>terragente</strong> 33:
ecologia<br />
são <strong>de</strong> luta para efetivação do Parque, con<br />
seguiu <strong>de</strong>satar o nó. Combatidos <strong>de</strong> um lã<br />
do por alguns cortadores controlados por<br />
intermediários do comércio <strong>de</strong> granito (ca<br />
minhoneiros) e <strong>de</strong> outro lado por setores<br />
do governo do Estado comprometidos com a<br />
não efetivação do Parque, atuamos entre os<br />
cortadores e nos colocamos juntos insis-<br />
tindo para que a SSMA executasse a medida<br />
requerida.<br />
0 resultado ,é que agora os cor<br />
tadores saíram do Parque, assinaram um<br />
contrato que lhes dá o direito <strong>de</strong> explorar<br />
a Região do Leprosário durante 4 anos e<br />
principalmente tem a sua situação legiti-<br />
mada e reconhecida. Como nos disse um ve<br />
lho cortador durante uma <strong>de</strong> nossas visi-<br />
tas: "Tem males que vem para bem. Eu não<br />
queria sair do Parque <strong>de</strong> jeito nenhum,mas<br />
agora reconheço que assim está melhor pa<br />
ra todo mundo".<br />
Desta forma <strong>de</strong>monstramos, mais<br />
uma vez, que ecologia e questão social não<br />
são antagônicas, mas complementares. Eco-<br />
logistas e trabalhadores unidos em função<br />
<strong>de</strong> um objetivo comum, taparam a boca na<br />
prática, dos mal intencionados e oportunis<br />
tas <strong>de</strong> todo tipo e origem que tentaram <strong>de</strong><br />
magogicamente nos jogar uns contra os oü<br />
tros alegando que os ecologistas "não tem<br />
sensibilida<strong>de</strong> social". Esse refrão muito<br />
antigo da Ditadura Militar continua ainda<br />
sendo batido por anacrônicos e/ou mal in<br />
formados.<br />
Superado o problema das pedrei-<br />
ras vamos ã outra questão urgencial do<br />
Parque: a invasão ilegal da Praia <strong>de</strong> Fora.<br />
A Praia <strong>de</strong> Fora é um dos lugares mais be<br />
los da região. Graças ao <strong>de</strong>scaso e a ir<br />
responsabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sucessivas administra<br />
ções estaduais que não fiscalizaram e naõ<br />
pagaram até hoje os proprietários, o Par<br />
que foi sendo <strong>de</strong>predado e invadido, a Prã'<br />
ia <strong>de</strong> Fora é o melhor exemplo.<br />
Ali chegou-se ao ponto <strong>de</strong> "or-<br />
ganizar", a invasão <strong>de</strong> Terras Públicas.<br />
Criou-se uma Socieda<strong>de</strong> dos (llUI) Amigos<br />
da Praia <strong>de</strong> Fora - SAPF - que começou a<br />
ocupar e lotear terrenos como se fossem<br />
seus. 0 resultado é que on<strong>de</strong> 10 anos atrás<br />
existiam 3 construções, hoje existem mais<br />
<strong>de</strong> 1000 casa. Além dos invasores existem<br />
gran<strong>de</strong>s beneficiários da situação, como.<br />
por exemplo, a Diretoria da SAPF, presid^<br />
da pelo Sr. Toríblo Santos que sempre foi<br />
na região cabo eleitoral do partido no po<br />
<strong>de</strong>r no Estado. Dessa forma enten<strong>de</strong>mos poF<br />
que as coisas custam tanto a mudar em Itã<br />
puã. Havíamos no passado constatado que a<br />
maioria dos cortadores não tinha carteira<br />
<strong>terragente</strong> 34'<br />
<strong>de</strong> trabalho e eram semi-alfabetizados. No<br />
entanto, todos tinham título eleitoral.Iri<br />
teressante, não?<br />
Os ventos estão mudando e ago<br />
ra os lí<strong>de</strong>res do loteamento clan<strong>de</strong>stino<br />
fazem contatos com elementos <strong>de</strong> vários par<br />
tidos políticos, às vezes durante belos<br />
churrascos, no sentido <strong>de</strong> buscar apoio pa<br />
ra a permanência e a regularização do que<br />
é inaceitável e injustificável: a aproprl<br />
ação privada <strong>de</strong> terras públicas <strong>de</strong>stina"<br />
das ao lazer e a preservação ambiental.De<br />
talhe: a maioria dos usuários daà casas<br />
<strong>de</strong> veraneio da Praia <strong>de</strong> Fora moram e vo<br />
tam em Porto Alegre.<br />
Mas a criação mais sorrateira<br />
e manhosa da SAPF foi a criação <strong>de</strong> um Nú<br />
cleo <strong>de</strong> Defesa Ecológica para cuja funda"<br />
mentação convidamos várias autorida<strong>de</strong>s e<br />
Entida<strong>de</strong>s Ecológicas (po<strong>de</strong>mos afirmar que-<br />
as últimas recusaram o convite). D presi-<br />
<strong>de</strong>nte <strong>de</strong>sse núcleo o Sr. Ciro Spacsek a<br />
firmou em carta ao Jornal ZH que os inva-<br />
sores da Praia <strong>de</strong> Fora amam a natureza e<br />
querem <strong>de</strong>la usufruir sem a interferência<br />
<strong>de</strong> ecologistas "a<strong>de</strong>ptos <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ologias fal<br />
sas". Pois bem, no dia 28.09.85, sábadoT<br />
os ecologistas em mais uma <strong>de</strong> suas idas<br />
semanais a Itapuã receberam da fiscaliza-<br />
ção permanente da SSMA a notícia <strong>de</strong> que<br />
naquela manhã o Sr. Ciro-, presi<strong>de</strong>nte do<br />
Núcleo <strong>de</strong> Defesa Ecológica da Soe. doa A<br />
migos da Praia <strong>de</strong> Fora, foi pego tentan<strong>de</strong>ã<br />
burlar a proibição <strong>de</strong> entrada <strong>de</strong> materiais<br />
<strong>de</strong> construção para obras na Praia, trans-<br />
portando, <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> uma Kombi, um saco <strong>de</strong><br />
cimento escondido <strong>de</strong> baixo <strong>de</strong> um colchão.<br />
Foi apanhado em flagrante. Por aí se me<strong>de</strong><br />
a "preocupação ecológica" <strong>de</strong> certas pesso<br />
as. Por essas e por outras é que estamos<br />
pedindo apoio <strong>de</strong> todos os ecologistas e<br />
simpatizantes para que nos aju<strong>de</strong>m a tirar<br />
<strong>de</strong> <strong>de</strong>ntro do Parque este loteamento clan-<br />
<strong>de</strong>stino.<br />
FORA LOTEAMENTO CLANDESTINO DA PRAIA<br />
FORA.<br />
Grego1<br />
DE
ecologia<br />
OMELETE COM ALDRIN<br />
0 recente "inci<strong>de</strong>nte" ocorri-<br />
do em Salvador do Sul no caso das ga.l.i<br />
nhas e ovos envenenados com Aldrin nos <strong>de</strong>i<br />
xa algumas conclusões: multinacionais, oo<br />
mo a Pionner continuam mandando e <strong>de</strong>smandan<br />
do nos órgãos oficiais do Estado e do pa<br />
ís, e estes, por sua vez. com mais algu-<br />
mas provas <strong>de</strong> incompetência e até <strong>de</strong> opojr<br />
tunismo,<strong>de</strong>monstram não ter gran<strong>de</strong> interes<br />
se pela saú<strong>de</strong> da população.<br />
A Proagro Rionner, filial da<br />
multinacional americana Piònner Sementes<br />
Ltda., conseguiu uma autorização da Secre<br />
taria da Agricultura e da Saú<strong>de</strong>.e Meio Am<br />
biente para envenenar e ven<strong>de</strong>r 2.000 tone<br />
ladas <strong>de</strong> sementes <strong>de</strong> milho, mesmo <strong>de</strong>pois<br />
<strong>de</strong> ter entrado em vigor a Lei Estadual dos<br />
Agrotóxicos, que proíbe o uso <strong>de</strong> produtos<br />
organoclorados, como o Aldrin. Mais uma<br />
vez uma lei conquistada a duras penas pj3<br />
Io Movimento Ecológico do Estado é "patro<br />
lado" pela força política <strong>de</strong> uma multina-<br />
cional. Mesmo apesar da legislação,as mu^<br />
ti, velhas conhecedoras do."jeitinho bra-<br />
sileiro", continuam conseguindo fazer<br />
aqui tudo o que, nos seus países <strong>de</strong> orjL<br />
gem, é rigorosamente proibido.<br />
Como 450 das 2.000 toneladas<br />
per<strong>de</strong>ram a condição germinativa, a Pionner<br />
as ven<strong>de</strong>u, no final <strong>de</strong> 84 ã empresa Gere<br />
ais Sinos Ltda. Esta empresa, então ven<br />
<strong>de</strong>u uma parte do milho a 12 moinhos que o<br />
transformaram em ração para galinhas e su<br />
ínos (parte esta que, em gran<strong>de</strong> parte,nao<br />
foi recuperada]. Outra parte, ou melhor,<br />
140 toneladas foram vendidas â Granja Saji<br />
to Inácio <strong>de</strong> Salvador do Sul, que também<br />
utilizou o milho para produção <strong>de</strong> ração<br />
para aves. Quinze dias após o início da<br />
utilização da ração, morreram 7 mil .poe<strong>de</strong>i^<br />
ras. A produção continuou, apesar disto,<br />
porém diminuiu muito. Em fevereiro <strong>de</strong>ste<br />
ano foram chamados os técnicos da Secreta<br />
ria da Saú<strong>de</strong> para recolher amostras <strong>de</strong><br />
ovos e das galinhas. Mas estes só aparece<br />
ram em maio e os resultados das análises<br />
nunca chegaram às mãos da administração da<br />
granja. Enquanto isto, os ovos continLevam<br />
sendo vendidos à população. Mas provavel-<br />
mente o Sr. Secretário da Saú<strong>de</strong> não comia<br />
esta marca <strong>de</strong> ovos.<br />
Finalmente foram enviadas £<br />
mostras ao Ministério da Agricultura, que<br />
só em 30 <strong>de</strong> setembro (data esta que por<br />
"estranha.coincidência" é o dia mundial<br />
dos alimentos], tomou as <strong>de</strong>vidas providêjn<br />
cias. interditando -5 dos 11 aviários da<br />
empresa. Foram mortas 20 mil aves e cond£<br />
nados 370 mil ovos (fato que <strong>de</strong>u origem<br />
ao título do artigo] após a constatação<br />
<strong>de</strong> que a contaminação com Aldrin nas aves<br />
era "apenas" <strong>de</strong> 2 a 4 mil vezes além do<br />
tolerado e nos ovos, 10 vezes superior ao<br />
limite estabelecido pela Organização Mun<br />
dial da Saú<strong>de</strong>. Porém, antes <strong>de</strong>sta interdi<br />
ção ocorrer, já havia sido vendido aproxi<br />
madamente 1 bilhão <strong>de</strong>stes mesmos ovos a^<br />
população da Gran<strong>de</strong> Porto Alegre.<br />
É realmente estranho oue jus-<br />
tamente nesta data, o Ministério da Agri-<br />
cultura tenha se dado conta <strong>de</strong> que havia<br />
Aldrin naqueles ovos, quando já no começo<br />
<strong>de</strong> maio <strong>de</strong>ste ano a imprensa publicava a<br />
autuação da Mercantil <strong>de</strong> Cereais, <strong>de</strong> Guaí<br />
ba, <strong>de</strong>vida a suas instalações estarem con<br />
taminadas com este produto. Esta contami-<br />
nação era <strong>de</strong>vida ao beneficiamento <strong>de</strong> se<br />
mentes <strong>de</strong> milho compradas da nossa já c£<br />
nhecida empresa Cereais Sinos Ltda. ou se<br />
ja, a tal que ven<strong>de</strong>u parte das sementes<br />
para a Granja Santo Inácio. Será que real<br />
mente era tão difícil fazer este tipo <strong>de</strong><br />
ligação.ou será que existe um pouquinho <strong>de</strong><br />
oportunismo político <strong>de</strong> parte <strong>de</strong>ste Minis<br />
tério que não se importa muito em brincar<br />
com a saú<strong>de</strong> da população?<br />
Lembrete: o Aldrin, no corpo<br />
humano, transforma-se em Dieldrin, que é<br />
um produto bastante mais estável, permane<br />
cendo ativo por 50 anos e <strong>de</strong>positando-se<br />
nas gorduras do corpo.<br />
<strong>terragente</strong> 35:
política<br />
ASSEMBLÉIA<br />
CONSTITUINTE<br />
NAO. Nós não teremos Assembléia Constituinte. Assim como não estamos ten<br />
do Reforma Agraria, previdência digna, distribuição <strong>de</strong> renda, melhores condições <strong>de</strong><br />
vida e <strong>de</strong> trabalho...<br />
No dia 22.10, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> muita polêmica foi aprovada a emenda Samey para con<br />
vocação <strong>de</strong> Constituinte. 0 governo vence mais uma contra os interesses da maioria<br />
da socieda<strong>de</strong>. Quem garantiu esta vitoria? Alem dos conchavos do governo (PMDB) e A-<br />
liança Democrática, o congresso teve papel importante nesta trama, Como isto aconte<br />
ceu? Vamos ver mais <strong>de</strong> perto.<br />
Em agosto passado, foi apresen-<br />
tada para o Congresso Nacional a Emenda<br />
Sarney, herança ainda <strong>de</strong> Tancredo Neves ,<br />
com a proposta do governo e da Aliança De<br />
mocrática para a Constituinte, que é a s£<br />
guinte:<br />
- quem convoca a Constituinte é o Executi<br />
vo, isto é, o Presi<strong>de</strong>nte;<br />
- a eleição para a Constituinte será ape-<br />
nas em novembro <strong>de</strong> 86 e o início dos tra<br />
balhos em janeiro <strong>de</strong> 87;<br />
- a Constituinte não será exclusiva, isto<br />
quer dizer que o Congresso Nacional que<br />
sera eleito então, terã po<strong>de</strong>res Consti-<br />
tuintes, acumulando as funções ordinár^<br />
as <strong>de</strong> Congresso com as <strong>de</strong> Constituite;<br />
- preserva o mandato <strong>de</strong> 1/3 dos senadores<br />
eleitos em 82(e que não foram votados<br />
para isso!...)<br />
- mantém a representativida<strong>de</strong> <strong>de</strong>sigual do<br />
atual Congresso on<strong>de</strong> há proporcionalid£<br />
<strong>de</strong>s diferentes entre o números <strong>de</strong> votos<br />
e o número <strong>de</strong> representantes;<br />
- não revoga as leis repressivas ainda vi^<br />
gentes (Lei <strong>de</strong> Segurança Nacional, Lei<br />
<strong>de</strong> Greve, Lei <strong>de</strong> Imprensa, ETC).<br />
- propõem a Comissão <strong>de</strong> "Notáveis"como ba<br />
se para a preparação da nova Constitui-<br />
ção.<br />
<strong>terragente</strong> 36<br />
a emenda sarney<br />
Resumindo, por esta Emenda pro-<br />
posta por Sarney, não teremos Assembléia<br />
Nacional Constituinte exclusivamente elei.<br />
ta para este fim mas sim Congresso com t£<br />
dos os vícios do atual, e ainda legislan-<br />
do em causa própria.
política<br />
uma proposta alternativa<br />
Como alternativa que mais consjL<br />
<strong>de</strong>ra as exigências <strong>de</strong>finidas pelo movimen<br />
to sindical e por amplos setores da clas-<br />
se trabalhadora que discutiu a questão,só<br />
surgiu a proposta do PT (Partido dos Tra-<br />
balhadores). A proposta apresentada foi a<br />
seguinte:<br />
- quem convoca a Constituinte é o CongrB£<br />
so Nacional e não o Presi<strong>de</strong>nte da Repú-<br />
blica;<br />
- eleições específicas para a Assembléia'<br />
Constituinte em março <strong>de</strong> 86, unicameral<br />
isto é,não está dividida em Senado e Ca<br />
mara, exclusiva para elaborar e votar a<br />
nova Constituição;<br />
- para estas eleições po<strong>de</strong>rão ser eleitos<br />
todos os cidadãos brasileiros com no mi<br />
nimo 18 anos completos;<br />
- o número <strong>de</strong> representantes na Assembléi<br />
a Nacional Constituinte será calculado'<br />
proporcionalmente ao número <strong>de</strong> eleito-<br />
res por estado;<br />
- não participarão os Senadores eleitos<br />
em 82, com mandato até 1990, que o go-<br />
verno coloca como "constituintes biôni-<br />
cos" em sua emenda;<br />
- coeficiente eleitoral estadual e nacio-<br />
nal para fixar o número <strong>de</strong> representan-<br />
tes <strong>de</strong> cada partido, Serão consi<strong>de</strong>rados<br />
os votos na legenda para os partidos;<br />
- os partidos políticos que obtiverem re-<br />
registro até a data das convenções par-<br />
tidárias para escolha dos candidatos,po<br />
<strong>de</strong>rão participar das eleições da Assem-<br />
bléia Nacional Constituinte;<br />
- a propaganda eleitoral no rádio e na te<br />
levisão será em horário gratuito, distri<br />
buido igualmente entre os partidos;<br />
- a Assembléia Nacional Constituinte será<br />
instalada em Brasília em 21 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong><br />
1986 e ela própria elegerá entre os s£<br />
us membros a sua mesa diretora, e <strong>de</strong>ci-<br />
dirá sobre o prazo <strong>de</strong> seu funcionamento<br />
e data da promulgação da nova Constitui<br />
ção;<br />
- realizar eleições em 15 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong><br />
1985 em todos os municípios para compo-<br />
sição <strong>de</strong> Comissões Conselheiras Munici-<br />
pais encarregadas <strong>de</strong> formular, em 90 di^<br />
as, sugestões para elaboração da .nova<br />
Constituição que serão enviadas ã Mesa'<br />
da Assembléia Nacional Constituinte;<br />
- revogação das leis repressivas como Lei<br />
<strong>de</strong> Segurança Nacional, Lei <strong>de</strong> Imprensa,<br />
Lei <strong>de</strong> Greve, etc...<br />
Para encaminhar a sua proposta,<br />
(que na essência também é <strong>de</strong>fendida" pe-<br />
la OAB-Dr<strong>de</strong>m dos Advogados do Brasil e pe_<br />
Ia Igreja) o PT propunha uma gran<strong>de</strong> campja<br />
nha, com o povo nas ruas reivindicando os<br />
seu direito ã Constituinte Livre, Sobera<br />
na. Democrática e Exclusiva, como aconte-<br />
ceu na luta pelas "Diretas Já". Só que pa<br />
ra isto, a idéia teria que ter tido o apo^<br />
o dos gran<strong>de</strong>s partidos, que mais uma vez<br />
mostraram que não estão tão preocupados<br />
com a participação popular e com a legiti-<br />
mida<strong>de</strong> da Constituinte.<br />
a constituinte roubada<br />
Para encaminar a discussão da<br />
Constituinte, foi criada uma Comissão no<br />
Congresso Nacional, presidida pelo <strong>de</strong>puta<br />
do Flávio Bierrembach, do PMDB <strong>de</strong> São Pau^<br />
Io que, pessoalmente, simpatizava com a<br />
proposta da Constituinte exclusiva. Bier-<br />
rembach consultou vários segmentos da so-<br />
cieda<strong>de</strong> e apresentou uma proposta que a<br />
"Nova República" não engoliu:<br />
realização <strong>de</strong> um PLEBICITO em narço <strong>de</strong><br />
86 para o povo <strong>de</strong>cida se quer I onstitu-<br />
inte exclusiva ou a Emenda Sartey;<br />
caso fosse <strong>de</strong>cidido por Constituinte ex_<br />
clusiva esta seria eleita em 7 <strong>de</strong> setem<br />
bro <strong>de</strong> 86;<br />
os senadores <strong>de</strong> 82 só participariam se<br />
o Plebicito permitisse;<br />
o presi<strong>de</strong>nte da Assembléia Constituinte<br />
<strong>terragente</strong> 37 1
política<br />
seria o substituto constitucional do<br />
Presi<strong>de</strong>nte da República;<br />
- Revogação das medidas <strong>de</strong> emergência,etcj<br />
As pressas Ulisses Guimarães e<br />
Pimenta da Veiga, representando o <strong>de</strong>sejo'<br />
<strong>de</strong> Sarney, trataram <strong>de</strong> se articular com<br />
o PFL, PDS, PTB e setores do PDT para a-<br />
presentar outra proposta (assinada pelo '<br />
<strong>de</strong>putado catarinense Giavarina] recolocan<br />
do a Emenda Sarney com alguns enfeites'<br />
que resultou na renúncia <strong>de</strong> Bierrembach,'<br />
e agora?<br />
Mais uma vez. Governo e Congres<br />
so apostam na falta <strong>de</strong> experiência <strong>de</strong> paF<br />
ticipação política do povo trabalhador ¥<br />
na <strong>de</strong>bilida<strong>de</strong> das nossas organizações.Con<br />
fiam que não sabemos a diferença entre Cm<br />
gresso e Constituinte...<br />
Esquecem que este povo trabalha<br />
dor é o mesmo que repudiou o regime mili~<br />
tar, que saiu nas ruas pelas eleições di<br />
Certamente uma Constituinte Li-<br />
vre, Soberana, Democrátia e Exclusiva, se<br />
ria perigosa para este senhores, pois po~<br />
<strong>de</strong>ria alterar um pouco as coisas. A Cons-<br />
tituinte precisa ficar sob controle para<br />
que não dê um pingo <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r a mais para<br />
o povo. Para que não haja Reforma Agrária<br />
Reforma Urbana, reforma nenhuma. Para que<br />
fique tudo como está.<br />
Só que nós não aceitamos e con-<br />
tinuamos, teimosos, na luta.E vamos votar<br />
no ano que vem...<br />
* M ...... .<br />
presi<strong>de</strong>nte da Comissão, e a <strong>de</strong>rrota <strong>de</strong><br />
Plebicito.<br />
Por fim, no dia 22 <strong>de</strong> outubro '<br />
foi aprovada a proposta da Emenda Sarney<br />
(com enfeites) só tendo contra os votos<br />
do PT. PSB e setores do PDT.<br />
Não houve gran<strong>de</strong>s resistências'<br />
por parte do Congresso porque a proposta'<br />
aprovada afina perfeitamente com os inte-<br />
resses políticos dos setores que são re-'<br />
sentados neste Congresso.<br />
retas, que tem o cotidiano <strong>de</strong> muitas lutas.<br />
É um povo que ainda se confu<strong>de</strong>'<br />
na hora <strong>de</strong> transformar sofrimento em indi<br />
gnação mas que politicamente tem evoluído<br />
muito.<br />
Não vamos nos iludir com este '<br />
Congresso Constituinte que estão nos apre-<br />
sentando como um avanço histórico e uma<br />
conquista <strong>de</strong>mocrática quando sabemos que<br />
recuamos 40 anos na nossa história (Consti<br />
tuição <strong>de</strong> 46). Também sabemos que <strong>de</strong>ste" 1 "<br />
Congresso provavelmente não sairá uma Cons<br />
titulçáo que traga mudanças profundas na<br />
or<strong>de</strong>m econômica e social, que vá atacar as<br />
fontes <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r que mantêm este país numa'<br />
situação <strong>de</strong> extrema <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>. Isto por<br />
que o Congresso Constituinte muito prova-<br />
velmente será composto por senhores como '<br />
os que hoje, no atual congresso, <strong>de</strong>ci<strong>de</strong>m,'<br />
por nos, o contrario dos nossos interesses.<br />
0 QUE ti PARA OUE SERVE A CONTITUINTE/ AS CONSTITUINTES DE NOSSA HISTORIA<br />
PORQUE A CONSTITUINTE INTERESSA AOS TRABALHADORES/ CONSTITUINTE E PODER<br />
leia em CADERNO TERKAGENTE CONSTITÜIMTE, pedidos para GEA, cx.postal 10.507-POA<br />
<strong>terragente</strong> 38
Após a proclamação da República,<br />
aconteceram diversos conflitos no Brasil,<br />
envolvendo milhares <strong>de</strong> pessoas._ Exemplos<br />
representativos <strong>de</strong>stas lutas, são a Guer<br />
ra dos Canudos <strong>de</strong> 1893 a 1897, no Ceara,<br />
e a Guerra do Contestado que iniciou em<br />
1912 e esten<strong>de</strong>u-se até o início <strong>de</strong> 1916.<br />
Canudos e Contestado foram lutas<br />
eminentemente populares e que, apesar <strong>de</strong><br />
terem acontecido em regiões diferentes,são<br />
conseqüências <strong>de</strong> causas comuns: a extrema<br />
miséria e opressão em que o "caboclo" <strong>de</strong>s<br />
te país era obrigado a viver, e que com<br />
a proclamação da República e conseqüentes<br />
T<br />
memória das lutas<br />
A GUERRA<br />
DO<br />
CONTESTADO<br />
larta<br />
&& Si
memória das lutas<br />
va-mate. Finalmente os peões e agregados,<br />
viviam nas fazendas dos gran<strong>de</strong> e médios<br />
proprietários, fazendo toda a sorte <strong>de</strong><br />
serviços: cuidar o gado, extrair erva-ma<br />
te, tirar lenha, etc.<br />
Com a proclamação da Republica,<br />
em 1889 as terras <strong>de</strong>vo lutas que antes es^<br />
tavam sob a autorida<strong>de</strong> do Imperador, pa£<br />
saram para a jurisdição dos governos esta<br />
duais. As oligarquias estaduais aproveita<br />
ram-se disto para reforçar seus esquemas<br />
<strong>de</strong> favorecimento com os "coronéis", donos<br />
do po<strong>de</strong>r nos municípios. Por isto, em to<br />
do o Brasil, as terras <strong>de</strong>volutas,na maior<br />
parte das vezes ocupadas por posseiros,fo<br />
ram passando pouco a pouco para as mãos<br />
dos "coronéis". No Estado <strong>de</strong> Santa Catari-<br />
na, palco principal da revolta, a coisa<br />
nao foi diferente. Posseiros, pequenos cri<br />
adores e lavradores, começaram a ser ex<br />
pulsos das terras que ocupavam a <strong>de</strong>zenas<br />
<strong>de</strong> anos, para darem lugar ao gado dos "co<br />
ronêis". E o pior ê que jã não sobravam<br />
terras para eles, e também para os peões<br />
expulsos das fazendas. Com isto aumentava<br />
ainda mais a miséria em que jã se encon<br />
travam. Sem terra para trabalhar,passaram<br />
a viver da caça, do pinhão, e <strong>de</strong> algum<br />
serviço eventual. Isto naturamente tendia<br />
a gerar conflitos.<br />
E importante observar que, para<br />
estes "caboclos" recém expulsos <strong>de</strong> suas<br />
terras, o gran<strong>de</strong> culpado passava a ser a<br />
República. Por isto, durante a luta,con<strong>de</strong><br />
navam a Republica e pediam a restauração<br />
da Monarquia no "sertões <strong>de</strong> Contestado".<br />
2 - a penetração<br />
do capital estrangeiro<br />
Lumber and Colonization Co.", comprou 180<br />
mil ha <strong>de</strong> terra na mesma área, com o ob<br />
jetivo <strong>de</strong> explorar ma<strong>de</strong>ira para exportação<br />
Foi instalada na^região a maior empresa<br />
ma<strong>de</strong>ireira da América Latina, e para o<br />
transporte da ma<strong>de</strong>ira aos portos catari<br />
nenses foi construída mais uma estrada dê<br />
ferro, também pela "Brasil Railway".<br />
As ferrovias e o complexo ma<strong>de</strong>i<br />
reiro, fizeram com que milhares <strong>de</strong> "cabo<br />
cios" per<strong>de</strong>ssem suas terras. Até mesmo me<br />
dios e gran<strong>de</strong>s fazen<strong>de</strong>iros per<strong>de</strong>ram as<br />
terras e um gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong> pequenos ser<br />
radores foram arruinados. Estavam assim<br />
criadas as condições concretas para a eclo<br />
são <strong>de</strong> um gran<strong>de</strong> conflito na região.<br />
<strong>terragente</strong> 40<br />
Paralelamente ao avanço dos "co<br />
ronéis" sobre as terras, outro fato viria<br />
a aumentar ainda mais a tensão social na<br />
região.<br />
No início do século o Governo bra<br />
sileiro resolveu construir uma ferrovia<br />
ligando São Paulo ao Rio Gran<strong>de</strong> do Sul, e<br />
parte do traçado passava pela região <strong>de</strong><br />
Constestado. A concessão da construção da<br />
ferrovia ficou para a "Brazil Railway Com<br />
pany". Pelo contrato, esta empresa amerl<br />
cana tinha direito <strong>de</strong> proprieda<strong>de</strong><br />
toda a área que estivesse <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong><br />
faixa <strong>de</strong> 15 quilômetros ao lado <strong>de</strong><br />
sobre<br />
uma<br />
cada<br />
margem da ferrovia. Ainda no ano <strong>de</strong> 1911,<br />
uma empresa pertencente ao grupp da "Bra<br />
zil Railway", chamado "Southom BraziT
memoYia das lutas=<br />
3 - os monges joao maria<br />
As transformações econômicas que<br />
estavam ocorrendo na região, não eram por<br />
si so capazes <strong>de</strong> <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ar o conflito.<br />
Os "caboclos" não possuiam qualquer tipo<br />
<strong>de</strong> organização e a miséria em que foram<br />
jogados não seria suficiente para provocar<br />
um movimento coletivo <strong>de</strong> resistência.<br />
Faltava um elemento catalisador,<br />
que <strong>de</strong>sse um mínimo <strong>de</strong> unida<strong>de</strong> aos "cabo<br />
cios". Este papel foi cumprido pelos Mon<br />
ges, que com sua vida simples, i<strong>de</strong>ntifica<br />
dos com a pobreza do povo, vivendo no me<br />
io <strong>de</strong>le, e pregando a luta do Bem contra<br />
o Mal, assumem uma importância fundamental<br />
A população do Contestado, como<br />
<strong>de</strong> resto <strong>de</strong> todo o interior do Brasil,<br />
trazia em si um forte sentimento religio<br />
so, uma espécie <strong>de</strong> catolicismo rústico.Co<br />
mo a Igreja Católica não possuia padres<br />
suficientes para das atendimento religio<br />
so a esta população, apareciam os monges,<br />
que tinham certas qualida<strong>de</strong>s como mágicos,<br />
curan<strong>de</strong>iros e vi<strong>de</strong>ntes e que também assu<br />
miam as necessida<strong>de</strong>s espirituais do povo,<br />
casando, batizando e dizendo missa.Não fa<br />
ziam parte dos quadros oficiais da Igreja,<br />
0 ano <strong>de</strong> 1912 foi especialmente<br />
terrível para as jã difíceis condições <strong>de</strong><br />
vida da população do Contestado. Além da<br />
ofensiva dos "coronéis" sobre as terras<br />
dos posseiros, neste ano cresce a tomada<br />
<strong>de</strong> terras pela "Brazil Railway". Para pio<br />
rar ainda mais, no ano <strong>de</strong> 1911 havia acon<br />
tecido uma praga <strong>de</strong> ratazanas que <strong>de</strong>stru<br />
iu todas as reservas dos ja pobres paióis<br />
dos caboclos. Parecia que as profecias dos<br />
e nem eram por ela formados ou instruídos.<br />
Eram quase que um produto da religiosida<br />
<strong>de</strong> do povo e da falta <strong>de</strong> padres para cul<br />
tivâ-la.<br />
Ao lado da função^<strong>de</strong> guia espiH<br />
tual, o monge assumia também um papel po<br />
lítico. Na pregação do Bem contra o Mal,<br />
este ultimo era i<strong>de</strong>ntificado pelos "cabo<br />
cios" com os responsáveis pela sua expul<br />
são das terras: "A República, os Coronéis<br />
e a empresa estrangeira".<br />
0 monge João Maria, um dos pre<br />
cursores do conflito, <strong>de</strong>clarava-se antT<br />
-republicano convicto. Dizia entre outras<br />
coisas, que a "República é a or<strong>de</strong>m do De<br />
mônio e a Monarquia ê a or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> Deus".<br />
Nas suas visões, previa para breve a vol<br />
ta <strong>de</strong> São Sebastião, ã frente do seu exer<br />
cito encantado para varrer o mal e restau<br />
rar a monarquia nos campos do Contestado.<br />
Os "cablocos", <strong>de</strong>spejados <strong>de</strong><br />
suas terras, sem qualquer alternativa e<br />
vivendo na mais absoluta miséria encontra<br />
vam nas palavras dos monges um sinal, umã<br />
saída para as suas terríveis condições <strong>de</strong><br />
vida. Por isto juntavam-se ao seu redor e<br />
os seguiam.<br />
monges, que previam <strong>de</strong>sgraças futuras, es<br />
vam-se confirmando.<br />
No ano <strong>de</strong> 1912, surgiu ra região<br />
um novo monge chamado José Maria <strong>de</strong> San<br />
to Agostinho. José Maria, era e>-soldado<br />
e <strong>de</strong>sertor do exército, que se <strong>de</strong>dicava â<br />
pratica do curandoirismo, o que lhe confe<br />
ria gran<strong>de</strong> prestígio em meio ã população<br />
pobre, que passou a acompanha-lo em suas<br />
andanças.<br />
<strong>terragente</strong> 41
memória das lutas<br />
José Maria influenciado pelos co<br />
nhecimentos adquiridos no exército,passou<br />
a dar alguma organização ao grupo que o<br />
seguia. Formou grupos chamados "quadros<br />
santos", cujo comando era entregue aos a<br />
<strong>de</strong>ptos mais aptos. Os "comandantes" orga<br />
nizavam as rezas e as chamadas formas: fi<br />
Ia <strong>de</strong> sertanejos que se <strong>de</strong>dicavam a uma<br />
espécie <strong>de</strong> treinamento militar e que ento<br />
avam canções e vivas a São Sebastião, Sao<br />
José e Santa Maria .<br />
0 primeiro combate aconteceu em<br />
22 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1912. Os sertanejos havi<br />
am feito um acampamento nos Campos <strong>de</strong> Ira<br />
ni. Alguns fazen<strong>de</strong>iros, alarmados com a<br />
concentração, e temendo pelos seus bens,<br />
pediram providências ao governo contra os<br />
"fanáticos que haviam proclamado a monar<br />
quia nos sertões do Contestado".<br />
0 Estado do Paraná, que queria<br />
para si aquelas terras, mandou logo uma<br />
expedição militar comandada pelo Coronel<br />
João Gualberto, com o objetivo <strong>de</strong> disper<br />
sar e trazer aqueles "fanáticos" maneados<br />
para <strong>de</strong>sfilarem nas ruas <strong>de</strong> Curitiba.João<br />
Gualberto exigiu que o monge se apresen<br />
tasse na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Curitibanos, para ex<br />
plicar aquele ajuntamento <strong>de</strong> pessoal e<br />
que imediatamente fosse <strong>de</strong>sfeito o acampa<br />
mento sob pena <strong>de</strong> "dar-vos já franco com<br />
bate e a todos que forem solidários con<br />
vosco, em verda<strong>de</strong>ira guerra <strong>de</strong> extermínio 7 .'<br />
José Maria^ temendo ser preso,<br />
não aceitou as exigências do Coronel.<br />
Deu-se então a luta, on<strong>de</strong> as for<br />
ças do Coronel foram completamente emrol<br />
vidas pela tática <strong>de</strong> "guerrilhas" dos ca<br />
<strong>terragente</strong> 42<br />
boclos, e em poucas horas foram postas em<br />
fuga. No combate, morreu o monge José Ma<br />
ria. 0 coronel Gualberto, foi morto a<br />
golpes <strong>de</strong> facão.<br />
A morte do monge, não quebrou o<br />
ânimo <strong>de</strong> seus seguidores. Ao contrário,to<br />
dos acreditavam que ele estava prestes a<br />
ressuscitar ã frente do exército <strong>de</strong> São<br />
Sebastião, para continuar a Guerra Santa.<br />
Isto; e mais a vitoria sobre as forças go<br />
vemistas, fazia crescer o número <strong>de</strong> se<br />
guidores, que ainda contavam com um refor<br />
ço material importante: gran<strong>de</strong> numero <strong>de</strong><br />
armas e munições tomadas dos soldados.<br />
A organização das rezas e qua<br />
dras ficou a cargo dos mais antigos e quã<br />
lifiçados a<strong>de</strong>ptos do monge, que tomaram-<br />
-se também os comandantes militares.<br />
Após o primeiro combate, os "pe<br />
lados" como viriam a chamar-se, se estabe<br />
leceram em Taquaruçu para ali construir<br />
uma cida<strong>de</strong> Santa. Famílias inteiras ven<strong>de</strong><br />
ram ou abandonaram tudo o que tinham,pois<br />
acreditavam que na'Cida<strong>de</strong> Santa nada lhes<br />
faltaria". Foram criadas uma porção <strong>de</strong> re<br />
gras que <strong>de</strong>viam ser seguidas por todos:<br />
- os novos a<strong>de</strong>ptos não podiam mais abando<br />
nar os acampamentos<br />
- todo o crente <strong>de</strong>veria cortar o cabelo<br />
bem curto, e passatam a chamar-se "pela<br />
dos", enquanto os que não pertenciam ã ir<br />
manda<strong>de</strong> eram os "peludos".<br />
- ninguém podia guardar riquezas individu<br />
ais. Os únicos bens pessoais permitidos e<br />
ram as armas e os arreios para os cavalos.<br />
- a terra era plantada coletivamente e o<br />
fruto repartido entre todos.
»<br />
I<br />
Assentaram-se assim as^bases pa<br />
ra a organização militar e também para a<br />
vida igualitária entre os revoltosos do<br />
Constestado.<br />
Durante o ano <strong>de</strong> 1913, novos com<br />
bates trouxeram mais vitorias para os "pe<br />
lados". Isto serviu para aumentar mais e<br />
mais o número <strong>de</strong> revoltosos,^que acredita<br />
vam que eram o verda<strong>de</strong>iro exército encan<br />
tado <strong>de</strong> São Sebastião, e portanto invencT<br />
veis. Além dos posseiros expulsos das ter<br />
ras, também operários da "Brazil Railway 11<br />
e até fazen<strong>de</strong>iros que^tinham suas terras<br />
roubadas pelos "coronéis, juntavam-se ao<br />
movimento.<br />
memona das lutas<br />
Isto tomou necessário organizar<br />
novos "redutos" e reforçar os esquemas <strong>de</strong><br />
organização militar. A organização políti<br />
co-militar passou a ser centralizada;cria<br />
ram-se piquetes com o objetivo <strong>de</strong> confis<br />
car armas e alimentos nas fazendas, cria<br />
ram-se as figuras do "comandante <strong>de</strong> for<br />
mas e comandante geral militar". 0 primei<br />
ro era responsável pelo controle da popu<br />
lação e por evitar <strong>de</strong>serções. 0 segundo<br />
organizava marchas e treinamentos milita<br />
res e os "bombeiros", que se infiltravam<br />
nas tropas do governo para "bombear" in<br />
formações para os redutos.<br />
2 - amplia-se a guerra<br />
Durante o ano <strong>de</strong> 1914 os revolto<br />
sos <strong>de</strong> Contestado ampliaram em muito a sua<br />
ação. Ocuparam varias vilas e cida<strong>de</strong>s e<br />
a estrada <strong>de</strong> ferro entre Canoinhas e Por<br />
to'União ficou sob seu controle. Os pique<br />
tes penetraram cada vez mais nas fazendas,<br />
em busca <strong>de</strong> armas, gado e cereais, e va<br />
\rias serrarias da "Lumber" foram queima<br />
das. -
■<br />
memória das lutas ———<br />
3-o cerco <strong>de</strong> fogo<br />
- <strong>de</strong>rrota dos contestados<br />
O general Setembrino passou a a<br />
tuar em duas frentes. De um lado procura<br />
va persuadir os revoltosos a abandonarem<br />
as armas, oferecendo-lhes terras <strong>de</strong> que<br />
mais tar<strong>de</strong> teriam títulos^ De outro prepa<br />
rou um plano <strong>de</strong> cerco da área em conflito,<br />
a começar pela vigilância sobre a estrada<br />
<strong>de</strong> ferro, caminhos e estradas, <strong>de</strong> forma a<br />
impedir a entrada <strong>de</strong> mercadorias para os<br />
revoltosos e pela formação <strong>de</strong> quatro po<strong>de</strong><br />
rosas colunas que marcharam sobre a regT<br />
ão sublevada.<br />
Diante do cerco das forças do ge<br />
neral Setembrino, os revoltosos lançaram-<br />
-se num gran<strong>de</strong> plano <strong>de</strong> contra-ataque. Au<br />
mentaram o numero <strong>de</strong> povoados e fazendas<br />
saqueadas- Mas o avanço das forças gover<br />
nistas era implacável. Vilas e cida<strong>de</strong>s fõ<br />
ram sendo reconquistadas e a área sob con<br />
trole dos revoltosos foi diminuindo.<br />
Diante da impossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> man<br />
ter a <strong>de</strong>fesa <strong>de</strong> vários redutos, os Conte,s<br />
tados resolveram transferir toda a popula<br />
ção para o vale do arroio <strong>de</strong> Santa Maria.<br />
Estejiovo reduto situava-se num vale es<br />
tratêgico, no meio <strong>de</strong> um <strong>de</strong>sfila<strong>de</strong>iro,coin<br />
estreitas gargantas naturais e portanto<br />
era muito bom para um sistema <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa.<br />
Contestado geralmente nos ê apre<br />
sentada como a luta dos "caboclos fanati<br />
zados e enlouquecidos", que queriam res<br />
taurar a Monarquia e que portanto eram T<br />
nimigos da republica.<br />
Mas, as causas <strong>de</strong> um conflito tão<br />
gran<strong>de</strong>, não po<strong>de</strong>m ser encontradas no sim<br />
pies fanatismo religioso ou no monarquis<br />
mo dos caboclos. Os revoltosos queriam una<br />
socieda<strong>de</strong> "on<strong>de</strong> o povinho possa beber â<br />
gua limpa e <strong>de</strong>ixar que todos também be<br />
bessem", mas sabiam eles que "a maior par<br />
te dos senhores continua a sujar a água<br />
que todos tem que beber", nas palavras <strong>de</strong><br />
seu i<strong>de</strong>ólogo, o monge José Maria.<br />
O Monarquismo so po<strong>de</strong> ser compre<br />
endido como uma contraposição ao regime fê<br />
gime republicano que era o responsável pe<br />
Ia perda <strong>de</strong> terras e a piora das condi<br />
ções <strong>de</strong> vida dos "caboclos". Era uma espe<br />
cie <strong>de</strong> tentativa <strong>de</strong> volta ao passado,on<strong>de</strong><br />
nao havia estrangeiros e coronéis a lhes<br />
<strong>terragente</strong> 44<br />
conclusão<br />
Enquanto isto, os combates conti<br />
nuavam. Os Contestados, utilizando-se dos<br />
conhecimentos do relevo e das <strong>de</strong>fesas na<br />
turais da região, conseguiam conter o a<br />
vanço das forças do exercito. Mas tinham<br />
um inimigo que a cada avanço das forças<br />
govemistas tomava-se mais <strong>de</strong>vastador: A<br />
FOME. A fome que aos poucos matava cente<br />
nas e centenas <strong>de</strong> pessoas e que também cau<br />
sava <strong>de</strong>sentendimentos entre a população<br />
do reduto do Santa Maria. Parte queria a<br />
rendição, parte não aceitava. Registraram<br />
-se inúmeros inci<strong>de</strong>ntes entre os próprios<br />
revoltosos que quebraram sua capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
resistência e o próprio sistema <strong>de</strong>mocrãti<br />
co <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r existente. Por isto aos pou<br />
cos foi-se consolidando o po<strong>de</strong>r absoluto<br />
<strong>de</strong> um único indivíduo sobre todos os par<br />
ticipantes do movimento. Foi a Ditaduradõ<br />
chefe A<strong>de</strong>odato.<br />
Em abril <strong>de</strong> 1915, o reduto <strong>de</strong><br />
Santa Maria era conquistado pelas forças<br />
govemistas que o reduziram a cinzas para<br />
que <strong>de</strong>le não sobrassem referências aos re<br />
voltosos. Parte dos revoltosos conseguiu<br />
fugir. Fundaram a cida<strong>de</strong> Santa <strong>de</strong> São Pe<br />
dro, <strong>de</strong>struída ao final do ano <strong>de</strong> 1915.<br />
Com isto, estava terminado o movimento do<br />
Contestado.<br />
tomarem as terras. Por que, a luta pela<br />
terra era a verda<strong>de</strong>ira origem do conflito,<br />
como po<strong>de</strong> ser visto numa.frase encontrada<br />
no bolso <strong>de</strong> um "caboclo" morto em combate:<br />
"Nois não tem direito <strong>de</strong> terra. Tudo é<br />
pras gente da Europa".<br />
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA<br />
TOTA, Antônio Pedro - Contestado: A<br />
ra do novo mundo. Ed. Brasiliense.<br />
çao "Tudo e História", n? 70, 1983,<br />
Paulo.<br />
guer<br />
Lole<br />
Sao<br />
DERENGOSKI, Paulo - A Saga do Contestado.<br />
Correio do Povo "Ca<strong>de</strong>rno <strong>de</strong> Sábado", 1980<br />
Porto Alegre.<br />
QUEIROZ, Maurício Vinhas <strong>de</strong> - Messianismo<br />
e conflito social - A Guerra Sertaneja do<br />
Contestado. Ed. Civilização Brasileira,<br />
1966, Rio <strong>de</strong> Janeiro.<br />
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