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terragente - Centro de Documentação e Pesquisa Vergueiro

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ss<br />

10 mil trabalhadoras rurais no encontro<br />

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RESOLUÇÕES 00 III ENCONTRO DOS TRAUALHADORES RURAIS<br />

DE TUCUNDUVA - RS 25/JUL/85<br />

Nós, agricultures do Município <strong>de</strong> Tucun<br />

duva, reunidos no 111 Encontro Municipal <strong>de</strong> Traba-<br />

lhadores Rurais, reassumimos o compromisso <strong>de</strong> nos<br />

unir e <strong>de</strong> nos organizarmos e não aceitannos mais<br />

as imposições que nos são colocadas, nem promessas<br />

<strong>de</strong> políticos em vésperas <strong>de</strong> eleições.<br />

São sérios e preocupantes os problemas<br />

que nos atingem. Precisamos <strong>de</strong> soluções imediatas<br />

e^ queremos nossa participação nas soluções dos \_<br />

números problemas existentes, soluções concretas e<br />

não só no papel e engavetadas nos gabinetes <strong>de</strong> nos^<br />

sos representantes políticos. Por isso <strong>de</strong>cidimos:<br />

REFORMA AGRARIA - Exigir a concretização da Refor-<br />

ma Agrária; "TERRA PARA QUEM TRABALHA A TERRA", com<br />

uma completa assistência para que o agricultor te<br />

nha condições <strong>de</strong> sobrevivência.<br />

PREVIDÊNCIA SOCIAL z Exigir fiscalização nos reco-<br />

lhi uieníõrUãTrevTdênci a. Lutar por uma Previdência<br />

Social justa, pois há muito tempo reivindicamos,<br />

mas infelizmente ainda não a conquistamos por omi£<br />

são dos responsáveis <strong>de</strong>ste setor. Agora é a hora!<br />

MULHER AGRICULTORA - Que a mulher agricultora seja<br />

reconhecida como trabalhadora rural, com os mesmos<br />

direitos do homem. A mulher que é uma pessoa com<br />

idéias e opiniões próprias, <strong>de</strong>ve ir ã luta junto<br />

com o homem.<br />

POLÍTICA AGRÍCOLA - Fazer protestos e greves, exi-<br />

gindo que as auTõrida<strong>de</strong>s competentes atendam os<br />

nossos pedidos, que são apenas necessários para<br />

uma vida digna <strong>de</strong> trabalhadores rurais. Fazer pro<br />

testos antes da colheita, por melhores preços,pois<br />

<strong>de</strong>pois que a caça fugiu não adianta ficar dando U<br />

ros atras. Diversificar as culturas. Fazer nossos<br />

orçamentos, procurando o máximo <strong>de</strong> in<strong>de</strong>pendência<br />

dos Bancos e que os financiamentos agrícolas se<br />

jem com juros justos, pois atualmente são insupor-<br />

táveis, provocando a <strong>de</strong>scapitalização dos pequenos<br />

produtores e, o crescimento espantoso das entida-<br />

<strong>de</strong>s financeiras.<br />

DENUNCIAMOS - A violência no campo e a impunida<strong>de</strong><br />

aos assassinos. Construção <strong>de</strong> barragens sobre o<br />

Rio Uruguai. Não queremos morrer afogados,queremos<br />

terra para produzir alimentos e nao para enchê-las<br />

<strong>de</strong> água.<br />

Alô, gente animada do TERRAGENTE 1<br />

Cruzeiro, 30 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1985.<br />

Desculpem o atraso, Obrigada pela car<br />

tinha. Continuem animados na luta. A opressão tam<br />

bêm tem limites. Não será ela que nos vencerá. Nõs<br />

venceremos, porque organizados temos conosco a foj^<br />

ça do Espírito revolucionário <strong>de</strong> Cristo,<br />

Reforma Agrária e Constituinte são as<br />

duas ban<strong>de</strong>iras <strong>de</strong> luta. Sabem que também para os<br />

<strong>de</strong>sempregados a Reforma Agrária po<strong>de</strong>rá ser a solu-<br />

ção... Se na cida<strong>de</strong> não ha mais empregos não resol^<br />

ve ficar a espera para gue outros se <strong>de</strong>sempreguem,<br />

Se os empregados, isto e, os <strong>de</strong>sempregados voltarem<br />

para a roça, também os empregados po<strong>de</strong>rão pedir me<br />

Ihores^salãrios, não acham? Não havendo mão-<strong>de</strong>-obra<br />

disponível o empregador ouvirá melhor o empregado.<br />

Bem, uma abraço a vocês. Tudo <strong>de</strong> bom<br />

Unidos sempre na mesma luta<br />

Zélia Marvani<br />

<strong>terragente</strong> 2<br />


opinião do gea<br />

NADA COMO UM DIA<br />

APÓS O OUTRO<br />

No dia 15 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1985, o<br />

Brasil viu, em ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> radio e televi-<br />

são a posse do primeiro governo civil <strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong> 19*64. Era o início da chamada "Nova<br />

Republica".<br />

Nos primeiros tempos, todos os<br />

políticos govemistas diziam que não da<br />

va para exigir <strong>de</strong>mais do novo governo<br />

porque ele estava mal começando,havia o<br />

falecimento do presi<strong>de</strong>nte Tancredo Neves,<br />

a "herança" assumida era muito pesada,<br />

etc.<br />

Papo-furado i parte, o que in-<br />

teressava e interessa e a prática. É no<br />

dia-a-dia que os trabalhadores e a popu-<br />

lação em geral po<strong>de</strong> comparar os^discursos<br />

com a pratica da dita "Nova Republica".<br />

Passados mais <strong>de</strong> 200 dias <strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong> que assumiu, o governo Samey não <strong>de</strong><br />

monstrou para que veio e nem o que real-<br />

mente "mudou". Alias o velho slogam "Mu-<br />

da Brasil" hoje so e usado por empresas<br />

<strong>de</strong> transporte e não pelo "novo" governo.<br />

Mas vamos pegar três exemplos<br />

práticos e <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> importância para ver<br />

mos o <strong>de</strong>sempenho da "Nova República". 0<br />

primeiro <strong>de</strong>les são os empregados da Em<br />

presa Brasileira <strong>de</strong> Correios e Telégrafos<br />

que, pela segunda no mesmo ano, reivindi<br />

cam melhores salários do seu patrão - o<br />

governo. O mínimo que se po<strong>de</strong>ria esperar<br />

era uma <strong>de</strong>magogia do tipo: "Não temos d^<br />

nheiro", "todos precisam dar sua parcela<br />

<strong>de</strong> sacrifício" ou outras <strong>de</strong>sculpas do gê<br />

nero. Mas o que faz a "Nova República"?<br />

Ao mesmo tempo em que aumenta as tarifas<br />

e selos, <strong>de</strong>spe<strong>de</strong> todos os lí<strong>de</strong>res dos mo<br />

vimentos reivindicatorios e contrata no<br />

vos funcionários para os seus lugares.<br />

0 segundo exemplo e o PNRA (ve<br />

ja matéria neste^ TERRAGENTE). Certamen-<br />

te a Reforma Agrária seria uma das saí-<br />

das mais baratas para o problema alimen-<br />

tar brasileiro e uma solução para a ver-<br />

da<strong>de</strong>ira guerra civil que existe hoje no<br />

campo brasileiro. 0 que faz a "Nova Repú<br />

blica"? Lança uma "proposta" <strong>de</strong> Plano <strong>de</strong><br />

Reforma Agrária que nem ela mesma assume<br />

e acaba por assinar um Plano <strong>de</strong>finitivo,<br />

que além <strong>de</strong> <strong>de</strong>magógico so foi apoiado pe<br />

los militares e pelos latifundiários Mais<br />

uma vez os agricu,tores que dicidirem es<br />

perar pela Reforma Agrária do governo po<br />

<strong>de</strong>m ir sentando e esperar com calma,se e<br />

que alguém ainda está esperando pela Re-<br />

forma Agrária do governo.<br />

0 terceiro gran<strong>de</strong> exemplo é a<br />

Constituinte. 0 que se esperava é que ela<br />

fosse livre, soberana, <strong>de</strong>mocrática e ex<br />

clusiva. A "Nova República" não garantiu<br />

nem sequer que ela fosse exclusiva,(veja<br />

TERRAGENTE n9s 33, 34 e este n9) pois a<br />

Comissão Mista <strong>de</strong> Parlamentares que estu<br />

da as emendas e propostas <strong>de</strong> convocação<br />

da Assembléia Constituinte propôs para<br />

março <strong>de</strong> 86 um plebiscito. Neste plebis-<br />

cito a população iria <strong>de</strong>cidir se teríanos<br />

uma Assembléia Constituinte ou um Congres<br />

so com po<strong>de</strong>res constituintes. 0 que fez<br />

a "Nova República"? Destituiu o relator<br />

da Comissão Parlamentar, <strong>de</strong>putado Flávio<br />

Bierrembach do próprio PMDB e nomeou um<br />

outro relator, <strong>de</strong>sta vez do PDS. Assim,pa<br />

ra fazer a lei das leis do país nos vamos<br />

ter uma farsa <strong>de</strong> Constituinte aplicada pr<br />

esta farsa que é a tal "Nova República".<br />

E como diz um velho ditado popu<br />

lar "Nada como um dia após o outro". Esta<br />

aí a "Nova República" para provar, não é<br />

mesmo?<br />

<strong>terragente</strong> 3


0 DIA DA CAÇA - I<br />

Há um velho ditado po<br />

pular que diz: "Um dia i da<br />

caça, outro do caçador". E pa<br />

rece que no dia 17 <strong>de</strong> outubro<br />

no gran<strong>de</strong> Encontro Estadual<br />

das Mulheres Trabalhadoras Ru<br />

rais o dia era da caça, pois<br />

os caçadores, ou melhor, caça<br />

dores <strong>de</strong> votos não se dão mu^<br />

to bem.<br />

0 primeiro "inci<strong>de</strong>nte'<br />

da tar<strong>de</strong> se <strong>de</strong>u quando a <strong>de</strong>pu<br />

tada Ecléa Fernan<strong>de</strong>s^ chegou<br />

ao Beira-Rio, foi até a mesa<br />

coor<strong>de</strong>nadora dos trabalhos,<br />

cumprimentou todos os convida<br />

dos e se sentou na mesa.Mas a<br />

sua alegria não durou muito.<br />

As trabalhadoras rurais cansji<br />

das <strong>de</strong> oportunismo político<br />

"convidaram" não muito gentil<br />

mente que a <strong>de</strong>putada da "AlT<br />

anca Democrática" se retiras-'<br />

se da mesa jã que ninguim a<br />

tinha convidado. Ai, com a ca<br />

ra ã prova <strong>de</strong> "cupim que Deus<br />

lhe <strong>de</strong>u" a <strong>de</strong>putada saiu, <strong>de</strong><br />

mansinho e tentando disfarçar.<br />

^ pinga-fogo<br />

0 DIA DA CAÇA - II<br />

Mas as mulheres não<br />

estavam para brinca<strong>de</strong>ira. No<br />

meio da tar<strong>de</strong> uma das orado-<br />

ras que falava ao microfone<br />

estranhou que, no meio <strong>de</strong> seu<br />

discurso, sem amis nem menos,<br />

as mulheres começaram uma e£<br />

trondosa vaia. Assustada a o<br />

radora parou para ver o que<br />

ocorria. A "ocorrência" era a<br />

saTda do estádio do Superinten<br />

<strong>de</strong>nte do INAMPS-RS, Rui Ne<strong>de</strong>F<br />

Alias^ diga-se <strong>de</strong> passagem,<br />

ninguém sabia o que o homem<br />

fazia por lã, mas todas as mu<br />

lheres mostraram que conheci-<br />

am o tal senhor. E quando ele<br />

se retirou o tchauzinho foi<br />

uma sonora vaia. Pois é, a po<br />

pularida<strong>de</strong> <strong>de</strong>le também não an<br />

da muito boa no meio rural e<br />

ele sentiu isto <strong>de</strong> perto.<br />

0 DIA DA CAÇA - III<br />

Não contentescom as<br />

duas primeiras "ocorrências".<br />

as mulheres acabaram o dia 17<br />

<strong>de</strong> outubro com chave <strong>de</strong> ouro.<br />

Ao seencaminharem em passea-<br />

ta até o centro da cida<strong>de</strong> as<br />

trabalhadoras rurais passaram<br />

pela frente do Palácio do P2<br />

ratini. Alguns dias antes a<br />

Comissão Organizadora do En<br />

contro Estadual havia procura<br />

o governador para que este a<br />

judasse o Encontro localizan~<br />

do algum local para o evento.<br />

0 governador não <strong>de</strong>u bala. No<br />

dia 17 <strong>de</strong> outubro, ao saber<br />

que uma passeata <strong>de</strong> mais <strong>de</strong><br />

um quilômetro estava passando<br />

pelo Palácio o governador a<br />

chou que seria "interessante""'<br />

receberas trabalhadoras ru<br />

rais. S5 .que o dia realmente<br />

nao estava para os caçadores<br />

<strong>de</strong> voto e as mulheres resolve<br />

ram que não iriam falar com<br />

o governador, afinal se elas<br />

tinham organizado o Encontro<br />

sozinhas, para que precisariam<br />

do governador? E ai o Jairzi-<br />

nho ficou vendo a "banda pas<br />

sar", mais uma vez.<br />

DOMITIL.A<br />

Neste ca<strong>de</strong>rno TERRAGENTE apresentamos tre<br />

chos do <strong>de</strong>poimento <strong>de</strong> DOMITILA BARRIOSDE CHUNGARff<br />

que foram publicados no "Ca<strong>de</strong>rno <strong>de</strong> Idéias do Povo<br />

Trabalhador" editado pelo CRO em 197-9 (esgotado). Es^<br />

tes <strong>de</strong>poimentos foram tirados do livro "Se me <strong>de</strong>i-<br />

xam falar" que foi organizado por Moema Viezzer.<br />

Em seu <strong>de</strong>poimento, Domitila fala da luta dos trabalhadores na Bolí-<br />

via e, principalmente, <strong>de</strong> experiência <strong>de</strong> organização das mulheres trabalhadoras bolivi<br />

anas:<br />

"...que este <strong>de</strong>poimento volte ã Classe Trabalhadora, para que juntos, operários, lavra<br />

dores, donas <strong>de</strong> casa, todos, inclusive a juventu<strong>de</strong> e os intelectuais que querem lutar'<br />

conosco, recolhamos a experiência, analisemos e verifiquemos os erros que cometemos no<br />

passado, para que, corrigindo estes erros nós possamos fazer melhores coisas no futu-<br />

ro... criar nós mesmos os instrumentos que nos fazem falta e melhorar a nossa luta."<br />

PEDIDOS E ENDERECD PARA CORRESPONDÊNCIA:<br />

GEA - Grupo <strong>de</strong> Estudos e Assessoria Agrária<br />

Rua Gaspar Martins, 470 - 29 andar - Caixa Postal - 10.507<br />

90.000 - Porto Alegre - RS - Fone: (0512) 25-07-87<br />

<strong>terragente</strong> 4-


sindicalismo<br />

Os meses passados foram bastante movimentados no meio sin<br />

dical. Em agosto tivemos o ENCLAT (Encontro Estadual das Classes Tra<br />

balhadoras) e em setembro o Congresso da CUT/RS. Em outrubro foi a<br />

vez da CONCLAT que promoveu uma reunião a nível nacional.<br />

Vamos espremer um pouco cada um <strong>de</strong>sses acontecimentos para<br />

ver o que sai.<br />

0 ENCLAT se realizou em Porto<br />

Alegre nos dias 16, 17 e 18 <strong>de</strong> agosto com<br />

a presença <strong>de</strong> 1.035 <strong>de</strong>legados.<br />

^pesar no número <strong>de</strong> participan<br />

tes ter sido maior do que das outras vê<br />

zes, a discussão travada, no geral,foi dê<br />

um nível muito baixo, refletindo pouca dis<br />

cussão anterior. —<br />

A maioria das assembléias que<br />

indicaram <strong>de</strong>legados, foram realizadas com<br />

baixa participação. Muitas vezes até nem<br />

foram convocadas, e os <strong>de</strong>legados em boa<br />

parte, sairam <strong>de</strong> conchavos <strong>de</strong> diretoria.<br />

A^ discussões, no Encontro, fo<br />

ram bastante acirradas, porém com pouca<br />

profundida<strong>de</strong>.<br />

0 setor da CUT foi para o EN<br />

CLAT quase sem nenhuma articulação prévia<br />

e por isso, embora tivesse em plenário os<br />

<strong>de</strong>legados mais representativos e combati-<br />

vos, não conseguiu barrar resoluções ex<br />

tremamente atrasadas como foram as em ;Fa~<br />

vor da manutenção do Imposto Sindical ' e<br />

1 • enclat<br />

(ENCONTRO ESTADUAL DA CLASSE TRABALHADORA)<br />

contra a Convenção 87 da OIT - Organização<br />

Internacional do Trabalho (ver TERRAGEN<br />

TE n? 33).<br />

Por outro lado, houve avanços<br />

na <strong>de</strong>finição da luta por uma Constituinte<br />

livre, <strong>de</strong>mocrátiva, soberana e exclusiva,<br />

com ampla participação popular e com crí-<br />

ticas a Comissão Sarney (a dos "Notaveis'5<br />

Uma resolução importante foi a<br />

respeito da composição da CCU - Comissão<br />

Coor<strong>de</strong>nadora Unitária - eleita no final<br />

do ENCLAT. Desta vez a CCU não foi só com<br />

posta por sindicalistas, mas por setore¥<br />

organizados do movimento sindical. A Co<br />

missão tem uma representação <strong>de</strong> sindica"<br />

listas da CUT, 8 da CONCLAT e 8 ditos in<br />

<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes,<br />

Esta resolução assume claramen<br />

te que o movimento sindical está polariza<br />

do em torno <strong>de</strong> duas propostas <strong>de</strong> Centrais<br />

Sindicais que são propostas radicalmente<br />

diferentes em termos <strong>de</strong> concepção e sobre<br />

tudo, da prática no movimento sindical.<br />

<strong>terragente</strong> 5:


sindicalismo<br />

A p^TlCIPAC» DOS TRAB^AW^W^J^ ,<br />

Este ENCLAT contou com a<br />

mais baixa participação <strong>de</strong> Sindicatos<br />

<strong>de</strong> Trabalhadores Rurais <strong>de</strong> que todos<br />

os outros.<br />

Talvez justamente por isso<br />

tenha acontecido que a FETAG tenha<br />

sido eleita para a CCU como uma das 8<br />

entida<strong>de</strong>s representantes da CONCLAT.<br />

0 fato realmente é muito<br />

estranho, uma vez que pelo que se sa<br />

be nunca foi aprovado em nenhuma reu~<br />

nião da Fe<strong>de</strong>ração a sua filiação a es<br />

ta central.<br />

Como então po<strong>de</strong> uma direção<br />

<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ração, ao sabor <strong>de</strong> suas pró<br />

rias posições vincular uma entida<strong>de</strong><br />

que representa um universo enorme <strong>de</strong><br />

ü II CONCUT reuniu nos dias<br />

28 e 29 <strong>de</strong> setembro, em Porto Alegre,738<br />

<strong>de</strong>legados <strong>de</strong> 99 categorias <strong>de</strong> trabalhado<br />

res, um número que representa quase o dcJ<br />

bro <strong>de</strong> participantes em relação ao 19<br />

Congresso no ano passado.<br />

Este aumento reflete o cresci<br />

mento no processo <strong>de</strong> organização da CUT<br />

no Estado aon<strong>de</strong> já existem várias CUTs<br />

Regionais organizadas e outras em pro-<br />

cesso acelerado <strong>de</strong> organização.<br />

CUT/RS reafirmou neste Con-<br />

gresso^os seus princípios básicos <strong>de</strong> in-<br />

<strong>de</strong>pendência em relação a classe dominan-<br />

te e concluiu que a "Nova República" é<br />

2-o Ilconcut<br />

[CONGRESSO DA CUT)<br />

trabalhadores rurais, sem isto ter pas<br />

sado por uma discussão e <strong>de</strong>liberação<br />

dos sindicatos, sem ào menos os diri<br />

gentes sindicais terem se posiciona-<br />

do.<br />

Isto, no fundo <strong>de</strong>monstra<br />

uma visão <strong>de</strong> entida<strong>de</strong> como "aparelho"<br />

da Diretoria e sobretudo, evi<strong>de</strong>ncia<br />

uma prática anti-<strong>de</strong>mocrática que <strong>de</strong>ve<br />

ser questionada a fundo pelos sindi-<br />

catos mais conseqüentes do movimento<br />

sindical rural.<br />

Uma entida<strong>de</strong> sindical <strong>de</strong>ve<br />

representar as convicções e posições<br />

<strong>de</strong> seus associados e não a posição <strong>de</strong><br />

uma direção que eventualmente está a<br />

sua testa<br />

mais um arranjo das elites. Ficou claro<br />

para todos os <strong>de</strong>legados que a situação<br />

dos trabalhadores não melhorou em nada<br />

e <strong>de</strong> que é preciso continuar com luta e<br />

organização.<br />

Neste Congresso, ficou evi<strong>de</strong>ji<br />

te o amadurecimento da CUT tanto que foi<br />

possível levar para aprovação do plenário<br />

uma chapa <strong>de</strong> consenso, fruto <strong>de</strong> uma dis-<br />

cussão e <strong>de</strong> uma composição conseqüente<br />

entre as correntes <strong>de</strong> pensamento que es-<br />

tão constituindo a CUT em todo o Estado.<br />

Para a presidincia da CUT/RS<br />

foi reconduzido o comoanheiro José Fortu<br />

natti e os outros cargos da Executiva fo<br />

ram preenchidos da seguinte forma.<br />

VICE-PRESIDENTE- Paulo Farina- pres. STR Erexim<br />

SEC. GERAL- Si<strong>de</strong>rley - STI Alimentação PoA<br />

19 TESOUREIRO- Gersom - secretário Sind. Telecomunicações<br />

2? TESOUREIRO- José Vieira - pres. Sind. Metal. São Leopoldo<br />

SEC. ORGANIZAÇÃO- GregSrio Mendonça - vice-pres. Sind. Rodoviários<br />

SEC. FORMAÇÃO- Julieta Balestro - professora <strong>de</strong> PoA<br />

SEC. RURAL- Nadir Savoldi - STR <strong>de</strong> Ro<strong>de</strong>io Bonito<br />

<strong>terragente</strong> 6


Embora 17 <strong>de</strong>legações rurais<br />

tenham participado do CONCUT. muito<br />

mais portanto do que no ENCLAT, este<br />

numero ainda não reflete a real irrplan<br />

taçao da CUT no meio dos trabalhadcres<br />

rurais pois ela é bem mais expressiva.<br />

Inexplicavelmente muitos<br />

sindicalistas e sindicatos <strong>de</strong> trabalha<br />

dores rurais <strong>de</strong>ixaram <strong>de</strong> compareceF<br />

ao Congresso revelando talvez uma fal<br />

ta <strong>de</strong> clareza política no significado"<br />

<strong>de</strong> neste momento histórico, termos a<br />

CUT forte, representativa e enraizada<br />

na base.<br />

Ao todo, ficaram na Dire-<br />

ção Estadual 9 companheiros do campo,<br />

sendo que <strong>de</strong>sta vez as mulheres traba<br />

- sindicalismo<br />

lhadoras rurais batalharam e abriram<br />

espaço para que a companheira Marlise<br />

Fernan<strong>de</strong>s (STR <strong>de</strong> Três <strong>de</strong> Maio) fosse<br />

indicada para compor a Direção.<br />

Na executiva ficaram dois<br />

companheiros do campo, nos cargos <strong>de</strong><br />

vice-presi<strong>de</strong>nte e secretário rural.<br />

Os <strong>de</strong>mais trabalhadores ru<br />

rais que ficaram na Direção Estadual<br />

foram os seguintes: José Siqueira <strong>de</strong><br />

Palmeira das Missões, Roque Barbieri<br />

do STR <strong>de</strong> Farroupilha, A<strong>de</strong>lir Gatto<br />

<strong>de</strong> Tapera, Armando Fagun<strong>de</strong>s do STR<br />

<strong>de</strong> Passo Fundo, Ivan Pavan do STR <strong>de</strong><br />

Aratiba e Val<strong>de</strong>mar Pandolfo <strong>de</strong> Três<br />

<strong>de</strong> Maio.<br />

wfcà AâAâAâAâÀ 'ItXitkitk'<br />

AS RESOLUÇÕES DO CONCUT<br />

0 U CONCUT <strong>de</strong>finiu também<br />

a posição da Central em relação a quatro<br />

temas <strong>de</strong> interesse fundamental nâo só<br />

para os trabalhadores, mas para a socieda-<br />

<strong>de</strong> brasileira em geral: divida externa,<br />

reforma agrária, constituinte e estrutura<br />

sindical.<br />

A divida externa é, no enten<strong>de</strong>r<br />

da CUT uma questão polftica. É a principal<br />

responsável pela recessão imposta pelo<br />

FMI. que preten<strong>de</strong> apertar o máximo o<br />

cinto do povo para que o governo econo-<br />

mize e pagueaos banqueiros internacionais<br />

os empréstimos que fez para custear<br />

as obras faraônicas, a corrupção e as<br />

mordomias. Nesse contexto a posição<br />

assumida pela CUT é <strong>de</strong> ROMPIMENTO<br />

COM 0 FMI E NÃO PAGAMENTO DA<br />

DÍVIDA EXTERNA.<br />

REFORMA AGRARIA<br />

A luta pela reforma agrária<br />

é uma luta histórica dos trabalhadores<br />

brasileiros. A CUT exige imediata im-<br />

plantação do Plano» <strong>de</strong> Reforma Agrá-<br />

ria do governo, sem, no nentanto <strong>de</strong>ixar<br />

reconhecei que a proposta governamental,<br />

fruto direto das pressões dos trabalhadores,<br />

é insatisfatória. A CUT luta por uma<br />

reforma agrária ampla, massiva, radical e<br />

sob controle dos trabalhadores.<br />

CONSTITUINTE<br />

Em relação a Constituinte a CUT<br />

<strong>de</strong>fen<strong>de</strong> a sua convocação imediata e a sua<br />

instalação já no primeiro semestre <strong>de</strong> 86.<br />

Posiciona-se a favor <strong>de</strong> uma Constituinte<br />

que seja livre, soberana, <strong>de</strong>mocrática e<br />

exclusiva, que permita a participação <strong>de</strong><br />

candidatos avulsos ( sem filiação partidária)<br />

e garanta o voto aos maiores <strong>de</strong> 16 anos,<br />

bem como acesso igual e gratuito aos meios<br />

<strong>de</strong> comunicação e todos os segmentos con-<br />

correntes a Assembléia Nacional Consti-<br />

tuinte.<br />

ESTRUTURA SINDICAL<br />

0 fl CONCUT se manifestou<br />

ainda sobre a estrutura sindical brasi-<br />

leira, con<strong>de</strong>nando o mo<strong>de</strong>lo atualmente<br />

em vigor - que suprimiu a liberda<strong>de</strong> sin-<br />

dical impondo autorização prévia do<br />

Ministério do Trabalho para constitui-<br />

ção da entida<strong>de</strong> sindical - e posicionan-<br />

do-se a favor <strong>de</strong> uma nova estrutura sin-<br />

dical que garanta ás entida<strong>de</strong>s sindicais<br />

<strong>de</strong>mocracia, liberda<strong>de</strong> sindical, unida<strong>de</strong><br />

sindical e direito irrestrito <strong>de</strong> greve. Neste<br />

sentido a CUT-RS apoia a Convenção <strong>de</strong> 87<br />

da OIT, que assegura a autonomia política<br />

e administrativa dos sindicatos.<br />

PLANO DE LUTAS<br />

0 II Congresso da CUT aprovou<br />

também um plano <strong>de</strong> lutas que será imple-<br />

mentado por todos os sindicatos filiados<br />

à Central e coor<strong>de</strong>nado pela entida<strong>de</strong>. O<br />

plano contempla as principais reivíndica-<br />

ções dos trabalhadores tanto a nível<br />

econômico, como social e político.<br />

( 0 Bancário - 07/10/85) —<br />

terr agente 7;


sindicalismo<br />

Des<strong>de</strong> a sua fundação no Con-<br />

gresso <strong>de</strong> Praia Gran<strong>de</strong> em 1982 a CONCLAT<br />

nunca havia se assumido como uma Central<br />

sindical.<br />

Nesta época a CONCLAT manti -<br />

nha^o caráter <strong>de</strong> um "conselho". A expli-<br />

cação é simples, não se dispunha a assu-<br />

mir as responsabilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> uma central<br />

diante <strong>de</strong> um governo militar, não se ex<br />

punha a assumir o caráter <strong>de</strong> central pi"<br />

ra evitar os inevitáveis confrontos com<br />

a ditadura e suas oolíticas. Assim. se<br />

preservaram <strong>de</strong> assumir posições já que<br />

não era uma central, mas um conselho.<br />

Foi a CUT que ergueu as prin<br />

cipais ban<strong>de</strong>iras <strong>de</strong> luta da classe tra~<br />

balhadora, foi a CUT que organizou gre-<br />

\'es e que mobilizou os trabalhadores.<br />

Mas, eis que mudam os gover-<br />

nantes e a CONCLAT apressa-se ém assumir<br />

um caráter <strong>de</strong> central, apressa-se em se<br />

fazer representar nos gabinetes atopeta<br />

dos e com o condicionado da Nova Repú"<br />

blica.<br />

Qual a razão <strong>de</strong>sta mudança?<br />

Também é simples. A CONCLAT,<br />

busca apresentar-se como a central, a<br />

representante confiável dos trabalhado-<br />

res com o único objetivo <strong>de</strong> conciliar<br />

com os interesses patronais.<br />

Se na ditadura a CONCLAT con<br />

ciliava (e sempre conciliou) mas não a¥<br />

3 • conclat<br />

TRAGETÚRIA DA CONCILIAÇÃO<br />

sumiu esta vocação <strong>de</strong> forma explícita,a<br />

gora ela enche o peito e passando por<br />

cima da situação concreta e real da cias<br />

se trabalhadora colabora e busca o pac<br />

to social.<br />

Pois foi para isso que se re<br />

uniu nos primeiros dias <strong>de</strong> outubro em<br />

Sao Paulo on<strong>de</strong> foi aprovada a indicação<br />

<strong>de</strong> uma comissão <strong>de</strong> sindicalistas (será<br />

que são mesmo?) com o objetivo <strong>de</strong> nego-<br />

ciar (a<strong>de</strong>rir) ao pacto social.<br />

Esta é a trajetória daqueles<br />

que, no movimento sindical representam<br />

os interesses <strong>de</strong> outra classe, a burgue<br />

sia. É o caminho <strong>de</strong> quem quer amarrar os<br />

trabalhadores ã <strong>de</strong>fesa do sistema capi-<br />

talista com acertos <strong>de</strong> cúpula e freando<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>ntro do aparelho sindical, a ex-<br />

pressão e a mobilização dos trabalhado<br />

res. —<br />

Mas o que estes <strong>de</strong>fensores e<br />

promotores da conciliação não esperavam<br />

e que suas próprias categorias não iriam<br />

e nao vão aceitar o pacto e que, bem pe<br />

Io contrário, estão dispostos a varrer<br />

os conciliadores <strong>de</strong> <strong>de</strong>ntro dos sindica<br />

tos.<br />

Assim é que po<strong>de</strong>mos enten<strong>de</strong>r<br />

o dado que nos é fornecido pela CUT-Na<br />

cional <strong>de</strong> que em média a cada semanaT<br />

uma chapa com o apoio da CUT ganha uma<br />

eleição sindical no país.<br />

^irnMTm ESTADUAL DE JOVENS<br />

Estamos constatando no País mu<br />

danças na consciência <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> parte dos<br />

brasileiros. Os Sem Terra estão discutin<br />

do problemas, tomando posições firmes e<br />

conscientes em <strong>de</strong>fesa <strong>de</strong> seus direitos.<br />

As mulheres avançam cada vez mais para<br />

conquistarem o seu espaço e o tratamento<br />

como ser humano, e não mero instrumento<br />

<strong>de</strong> produção barata para o capitalismo Na<br />

cional e Internacional.<br />

<strong>terragente</strong> 8,<br />

Mas sem dúvida uma das maiores<br />

transformações está ocorrendo entre os<br />

jovens da roça. As causas <strong>de</strong>ssa transfor<br />

maçao, vai <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o trabalho <strong>de</strong> conscien-<br />

tização que e feito nos grupos <strong>de</strong> jovens^<br />

ate a sua própria situação <strong>de</strong> miséria e<br />

<strong>de</strong>sespero que vivem hoje. Pois não há tra<br />

balho, não há participação, não hã nem<br />

mesmo uma perspectiva <strong>de</strong> mudança, princi<br />

palmente enquanto vivermos nessa conjun-


tura falida e exploradora do trabalhador<br />

Talvez seja por isso que o jovem esta se<br />

organizando, pois certamente já percebeu<br />

que sem uma forte união e conscientização<br />

as coisas não mudarão. E uma gran<strong>de</strong> pro<br />

va <strong>de</strong>ssa disposição dos jovens foi dada<br />

no 1? Encontro Estadual <strong>de</strong> Jovens, reali<br />

zado no último dia 22 <strong>de</strong> setembro em Pas<br />

so Fundo. 0 Encontro teve início na par<br />

te da manhã e se esten<strong>de</strong>u por todo o dia,<br />

participaram um total <strong>de</strong> 40.000(quarenta<br />

mil) jovens <strong>de</strong> todo o Rio Gran<strong>de</strong> do Sul.<br />

A organização do mesmo esteve a cargo da<br />

Pastoral da Juventu<strong>de</strong> com o apoio dos Sin<br />

dicatos <strong>de</strong> Trabalhadores Rurais <strong>de</strong> alguns<br />

municípios.<br />

Os assuntos tratados foram os<br />

mais variados possíveis: sobre a Reforma<br />

Agraria os jovens concluíram que a sua<br />

participação e mobilização será fundamen<br />

tal para conquistar a imediata implanta-<br />

ção e execução do P.N.R.A. Também <strong>de</strong>mons<br />

traram seu total apoio as ocupações <strong>de</strong><br />

terras não aproveitadas. Foi <strong>de</strong>finidoain<br />

da que os jovens da roça lançarão um jo<br />

vem para concorrer ã Constituinte. Resta<br />

<strong>de</strong>finir no entanto como se darã essa can<br />

didatura, se será por partido político e<br />

qual <strong>de</strong>les, ou ainda se <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>m o candi<br />

dato avulço. Mas o que foi <strong>de</strong>finidoê que<br />

eles querem uma Constituinte "livre, so<br />

berana, <strong>de</strong>mocrática e exclusiva".<br />

Muitos jovens se mostraram bas<br />

tante preocupados com a atual conjuntura<br />

das Cooperativas Gaúchas. Farão uma cam-<br />

panha para municipalizar as ainda exis<br />

tentes e exigir a punição dos Diretores<br />

corruptos. Reafirmaram a importância da<br />

participação da mulher e do jovem no sin<br />

dicalismo e na política, pois hoje estão<br />

muito afastados, sugando palavra <strong>de</strong> um<br />

jovem "política significa po<strong>de</strong>r e enquan<br />

/T<br />

^<br />

to estivermos afastados da política esta<br />

remos longe do po<strong>de</strong>r".<br />

ANO INTERNACIONAL<br />

DA JUVENTUDE<br />

Foi votada e aprovada uma mo<br />

ção <strong>de</strong> apoio a CUT (Central Única dos Tra<br />

balhadores).<br />

A educação esta bastante atra-<br />

sada e alienante. Os jovens concluíram<br />

que precisam tomar medidas imediatas pa<br />

ra exigir mudanças na educação brasilei-<br />

ra, contando certamente com o apoio <strong>de</strong><br />

boa parte dos professores que jã se cons<br />

cientizaram da falsa e errada educação<br />

que são obrigados a transmitir hoje a mi<br />

Ihões <strong>de</strong> pessoas. Quanto a atuação da ,1<br />

greja foi colocado que a mesma <strong>de</strong>ve as-<br />

sumir as lutas da classe trabalhadora,<br />

pois segundo eles "enquanto a Igreja não<br />

apoiar os pobres ou trabalhadores ela<br />

estará ajudando os ricos".<br />

A luta e organização dos. jo-<br />

vens promete muito, pois o propósito ê<br />

<strong>de</strong> formar mais grupos <strong>de</strong> jovens e promo-<br />

ver Seminários, Encontros e Congressos,<br />

para nesses discutir os problemas sociais<br />

e políticos brasileiros.<br />

0 lema do movimento dos jovens<br />

e: "JOVEM DA ROCA, SEMENTE DA NOVA SOCIE<br />

DADE".<br />

A LUTA CONTINUA<br />

A ILTÍA DOS TRABALHADORES RURAIS POR SEUS DIREITOS À PREVIDÊNCIA E<br />

ASSISTÊNCIA MÉDICA^ POR UMA POLÍTICA AGRÍCOLA ACESSÍVEL E PELA IMPLANTAÇÃO DA REPOR<br />

MA AGRÁRIA TEM CONTINUADO. NOS MESES DE AGOSTO E SETEMBRO^ DURANTE VINTE DIAS^AGRICUL<br />

TORES DE TODOS OS CANTOS DO ESTADO VIERAM A PORTO ALEGRE PARA PRESSIONAR 0 GOVERNO E<br />

CONSEGUIR SOLUÇÕES IMEDIATAS PARA OS SEUS PROBLEMAS.<br />

Na assembléia da FETAG do dia<br />

07 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1985 ficou <strong>de</strong>cidido que.<br />

para encaminhar suas reivindicações quan<br />

to a previdência, política agrícola e re<br />

terr agente 9:


sindicalismo<br />

forma agrária os trabalhadores rurais do<br />

Estado fariam uma série <strong>de</strong> protestos na<br />

capital do Estado.<br />

A gran<strong>de</strong> mudança que houve em<br />

relação a várias manifestações anterio<br />

res foi a forma <strong>de</strong> organizar esta mobili<br />

zação. Em primeiro lugar ao invés <strong>de</strong> a<br />

tos dispersos em cada região do inte-<br />

rior do Estado foi <strong>de</strong>cidido centralizar<br />

todas as manifestações em Porto Alegre.<br />

Como já dissemos as reivindi-<br />

cações atingiam três problemas: previ-'<br />

dência, política agrícola e reforma a-<br />

grária.<br />

Na questão da previdência, a<br />

reivindicação básica era assistência mé<br />

dica e hospitalar gratuita para todos<br />

08 trabalhadores rurais do estado, além<br />

da aprovação do projeto que equipara '<br />

trabalhadores rurais e urbanos.<br />

IMa questão da política agríco<br />

Ia haviam várias reivindicações entre '<br />

as quais: apoio ao pequeno agricultor a_<br />

través <strong>de</strong> uma assistência técnica aces-<br />

sível, programas <strong>de</strong> pesquisa, política'<br />

<strong>de</strong> comercialização <strong>de</strong> insumos, progra-<br />

mas <strong>de</strong> armazenamento e estocagem e for-<br />

terr agente 10<br />

Além disso os protestos tiveram uma se-<br />

qüência ininterrrupta ao contrário do<br />

que acontecia anteriormente quando as<br />

manifestações eram <strong>de</strong> apenas um ou dois<br />

dias.<br />

Assim, com uma organização '<br />

que previa uma organização forte na ca-<br />

pital do estado - local on<strong>de</strong> a pressão'<br />

tem maior divulgação e mais efeito - e<br />

com manifestações prolongadas os agri-<br />

cultores foram ã luta.<br />

as reivindicações<br />

talecimento do sistema cooperativista.'<br />

Além disso era reivindicado o estabele-<br />

cimento <strong>de</strong> uma linha <strong>de</strong> crédito especi-<br />

almente para o meio rural com juros e<br />

correção monetária diferenciados para<br />

custeio e investimento, <strong>de</strong>stinado aos '<br />

pequenos agricultores, mudança na polí-<br />

tica <strong>de</strong> preços mínimos, implantação <strong>de</strong><br />

ensino escolar e profissional voltada '<br />

para o meio rural e criação <strong>de</strong> um real<br />

seguro agrícola.<br />

Em relação a reforma agrária j3<br />

ra exigida a imediata aplicação da pro-<br />

posta original do PNRA que acabou sendo<br />

completamente modificada na sua versão'<br />

final (veja matéria neste TERRAGENTE].'<br />

E^sta implantação do PNRA previa, segun-


do a reivindicação dos trabalhadores, a<br />

instalação <strong>de</strong> 7.000 famílias até Janei-<br />

ro <strong>de</strong> 1986. sendo 1.000 famílias em se-<br />

tembro, tris mil até novembro e mais 3<br />

mil até janeiro. Além disso as reivindi<br />

cações propunham formas individuais ou<br />

coletivas <strong>de</strong> posse e exploração da ter-<br />

ra, o mesmo valendo para a comercializ_a<br />

ção da produção.<br />

Apesar <strong>de</strong> todas estas reivin-<br />

dicações, a que era mais importante pa-<br />

ra os trabalhadores rurais tratava-se '<br />

da previdência. Assegurar assistência '<br />

médica e hospitalar era a questão chave<br />

<strong>de</strong> todo o protesto. Mesmo assim outra '<br />

alteração importante foi a unificação '<br />

das três diferentes lutas neste movimen<br />

to. Isto <strong>de</strong>u um caráter mais amplo às '<br />

reivindicações e foi um fato inédito a-<br />

qui no RS.<br />

Com estas reivindicaçios mi-<br />

lhares <strong>de</strong> agricultores se suce<strong>de</strong>ram em<br />

Porto Alegre por 20 dias. As manifesta<br />

ções só terminaram no dia 06.09.85 quan<br />

do, após várias negociações, audiências<br />

em Brasília e passeatas, o INAMPS garan<br />

tiu que o sistema AIH [Autorização <strong>de</strong><br />

Internação Hospitalar} voltaria a funci<br />

onar regulando os casos <strong>de</strong> baixa em hos<br />

pitais (sobre este assunto leia o TERRA<br />

GENTE n° 29).<br />

Neste acordo o INAMPS se com-<br />

prometia <strong>de</strong> liberar 18.000 internações'<br />

sindicalismo<br />

I hospitalares líiensalmente para os traba-<br />

lhadores rurais. É importante lembrar '<br />

que o sistema AIH só regulamenta os ca-<br />

sos <strong>de</strong> internação e não garante o bene-<br />

fício <strong>de</strong> consultas médicas gratuitas.No<br />

início, estas consultas só seriam forne<br />

cidas em locais on<strong>de</strong> houvessem hospita-<br />

is do governo, do estado ou municípios'<br />

conveniados com o INAMPS.<br />

Este acordo <strong>de</strong>veria entrar em<br />

funcionamento no dia 19 <strong>de</strong> outubro, mas<br />

isto nãc ocorreu, pois os médicos se r£<br />

cusam a aten<strong>de</strong>r os trabalhadoras rurais<br />

alegando que o INAMPS paga mal e ainda'<br />

atrasa no pagamento.<br />

os resultados <strong>de</strong> tanta briga<br />

Além da experiência inovadora<br />

em termos <strong>de</strong> mobilização que conseguiu'<br />

ser concentrada e prolongada, pouco ou<br />

nada foi conseguido até agora em termos<br />

práticos. Com relação ã reforma agrária<br />

as perspectivas pioraram daquela época'<br />

em diante. Em relação ã política agríco<br />

Ia o governo anunciou mudanças, mas es-<br />

tas <strong>de</strong>vem ser esperadas com calma para'<br />

que os leitores não se cansem. E na pre<br />

vidência o impasse continua: os agricul<br />

tores sem assistência e os médicos di~<br />

zendo que recebem pouco.<br />

como a luta vai continuar?<br />

Esta é, sem duvida, uma boa<br />

pergunta. E a resposta quem <strong>de</strong>ve dar '<br />

são os trabalhadores rurais organizados<br />

e atuando em seus sindicatos.<br />

Para a continuida<strong>de</strong> da luta<br />

a nível <strong>de</strong> previdência, os trabalhado-'<br />

res rurais estão prevendo que uma série<br />

<strong>de</strong> caravanas se dirigirão ã Brasília pa<br />

ra pressionar diretamente na capital d"ã<br />

república pela solução <strong>de</strong>ste impasse. '<br />

Estas caravanas <strong>de</strong> agricultores irão e<br />

acamparão só retornando quando houver u<br />

terr agente 11


=sindicalismo ==<br />

ma solução <strong>de</strong>finitiva para este impas-.<br />

se da assistência médica e hospitalar.<br />

Em toda esta luta que está '<br />

sendo levada oor reais modificaçios na<br />

política agrícola, política fundiária e<br />

pela previdincia. os trabalhadores ru-<br />

rais <strong>de</strong>vem ter alguns cuidados: para '<br />

que a mobilização possa ter resultados'<br />

positivos a organização <strong>de</strong>ve crescer,en<br />

volver mais gente e também procurar no-<br />

vas formas <strong>de</strong> pressão. Além disso é ne-<br />

cessário distinguir bem qual é o inimi-<br />

go, porque brigando contra o adversário<br />

errado o "tiro po<strong>de</strong> sair pela culatra".<br />

Por isto talvez seja conveniente evitar<br />

os ataques feitos aos médicos e seus '<br />

sindicatos. Não que estes sejam "santos"<br />

mas esta "briga" <strong>de</strong>veria ser evitada '<br />

por dois motivos básicos: não <strong>de</strong>sviar a<br />

atenção do real inimigo que é o INANPS,<br />

e evitar que mais tar<strong>de</strong>, estes mesmos<br />

médicos, que hoje são ameaçados até com<br />

a Polícia Fe<strong>de</strong>ral, venham dar um mau a-<br />

tendimento aos trabalhadores rurais <strong>de</strong>-<br />

vido a esta "peleia" que está sendo ar-<br />

mada.<br />

10 MIL MULHERES TRABALHADORAS RURAIS REALIZAM GRANDE ENCDNTRO ESTADUAL<br />

MULHER DA ROÇA<br />

MOSTRA SUA FORÇA<br />

DEZ MIL MULHERES TRABALHADORAS RURAIS, VINDAS DE TODOS OS CANTOS DO ESTADO, REUNIRAM-<br />

-SE EM PORTO ALEGRE NO DIA 17 DE OUTUBRO PARA PROTESTAR POR SUAS CONDIÇÕES DE VIDA E<br />

DE TRABALHO,E PARA ORGANIZAR A LUTA POR SUAS REIVINDICAÇÕES ESPECÍFICAS: O RECONHECI<br />

MENTO DE SUA PROFISSÃO COMO TRABALHADORAS RURAIS E OS DIREITOS DECORRENTES DESTE RECO<br />

NHECIMENTO.<br />

A idéia do Encontro surgiu em<br />

vários municípios, nas comemorações do<br />

dia 8 <strong>de</strong> março - dia Internacional da Mu<br />

lher. As mulheres trabalhadoras rurais que<br />

jã estavam organizadas ã nível municipal<br />

(e as vezes até regional) sentiam a nece£<br />

sida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se unir com outras na mesma si<br />

tuação, pra trocar experiências e se orga<br />

nizar num movimento que, aos poucos,abraH<br />

gesse todo o Estado.<br />

Como resultado disto, um grupo<br />

<strong>de</strong> companheiras <strong>de</strong> vários <strong>de</strong>stes municí<br />

pios começou a se reunir para discutir a<br />

viabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um Encontro Estadual e co<br />

mo organizá-lo. A idéia foi crescendo, to<br />

mando forma e entusiasmando. Até que em<br />

junho foi <strong>de</strong>cidido uni Encontro Estadual<br />

para protesto e reivindicação, on<strong>de</strong> a mu<br />

lher trabalhadora rural, até agora tao<br />

marginalizada e tão calada, pu<strong>de</strong>sse <strong>de</strong>sa-<br />

bafar e iniciar um processo <strong>de</strong> organização<br />

e <strong>de</strong> luta ã nível estadual, pelo seu reco<br />

nhecimento como trabalhadora, por seus dT<br />

reitos e pela participação em pé <strong>de</strong> igual<br />

da<strong>de</strong> com o homem, principalmente no sindT<br />

cato.<br />

terr agente 12<br />

Para organizar o Encontro foi<br />

escolhida uma Comissão Estadual e uma Exe<br />

cutiva, Foi feito um boletim para discus^<br />

são nas bases,dos objetivos do Encontro,<br />

das reivindicações do movimento e <strong>de</strong> sua<br />

proposta <strong>de</strong> organização. Foi escolhido um<br />

símbolo para o movimento das mulheres tra<br />

balhadoras rurais do Estado ( abaixo).Ele<br />

representa o sexo feminino $, uma margari<br />

da em homenagem ã Margarida Alves (traba-


lhadora rural, sindicalista <strong>de</strong> Alagoa Graji<br />

<strong>de</strong>, assassinada impunemente) e a imagem<br />

<strong>de</strong> uma mulher agricultora indo a luta. 0<br />

símbolo foi usado em milhares <strong>de</strong> cartazes<br />

e camisetas que agora estão espalhados por<br />

todo o Estado, unindo as mulheres em tor-<br />

no <strong>de</strong> uma única idéia: lutar, organizadas<br />

e com coragem, por seus direitos, Tíimbem<br />

foi escolhido um hino feito por uma traba<br />

lhadora rural <strong>de</strong> Casca - Rosa três - que<br />

foi amplamente divulgado e cantado em pre<br />

paração ao dia 17: "Trabalhadora Rural".<br />

Todo este processo contou com o<br />

apoio dos sindicatos, da Pastoral e da<br />

FETAG: Enfim foram muitas reuniões e mui.<br />

to trabalho ate chegar o dia 17, mas va<br />

leu!<br />

A programação continuou com o<br />

<strong>de</strong>poimento das regionais, on<strong>de</strong> suas repre<br />

sentantes falaram sobre diversos aspectos<br />

da situação <strong>de</strong> vida e <strong>de</strong> trabalho das mu-<br />

lheres na roça. Durante todo o^tempo dos<br />

discursos, as mulheres do plenário se ma-<br />

nifestavam empunhando enxadas, cartazes e<br />

faixas, gritando palavras <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m e a-<br />

plaudindo as companheiras que falavam.<br />

Apresentando a síntese dos <strong>de</strong>-<br />

poimentos feitos, Veatriz Pandolfo, <strong>de</strong>'<br />

Três <strong>de</strong> Maio, colocou para os representan<br />

tes dos Ministros o que as mulheres traba<br />

lhadoras rurais reivindicavam, exigindo u<br />

ma resposta. Logo_apos, tiveram a palavra<br />

José Gomes Temporão (Min. da Previdência)<br />

e Terezinha Silva Lima (Min. do Trabalho)<br />

Neste momento a inconformida<strong>de</strong> das mulhe-<br />

res com os políticos, que jâ se manifesta<br />

va <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início do Encontro, se trans-<br />

formou em vaias e repúdio (vi<strong>de</strong> pinga-fo-<br />

go neste TERRAGENTE).<br />

Também falou Ezídio Pinheiro '<br />

ismo<br />

da Fetag, e José Gomes da Silva, da Con-<br />

tag. .<br />

Mas o dia foi mesmo das mulhe-<br />

res. Respon<strong>de</strong>ndo aos pronunciamentos dos<br />

representantes do governo, Lucilda Kuhn,'<br />

<strong>de</strong> Cruzeiro do Sul, colocou que as mulhe-<br />

res não vão abrir mao <strong>de</strong> lutar por seus '<br />

direitos para transformar a situação atu-<br />

al em que trabalham e produzem e não têm<br />

direito ã nada. E que as mulheres, como '<br />

os <strong>de</strong>mais trabalhadores, não têm motivo<br />

para aceitar qualquer pacto com o governo.<br />

Por fim, as companheiras Mela-<br />

nia Krindges, <strong>de</strong> Santo Cristo e_ Adriana<br />

Ro<strong>de</strong>ghero, <strong>de</strong> Marau em apreciação as pro-<br />

postas apresentadas durante o dia (veja '<br />

manifesto a seguir) que foram aprovadas '<br />

por aclamação.<br />

E com entusiasmo com que se ma<br />

nifestaram durante todo o Encontro, as mu<br />

lheres sairam para a passeata no centro 1<br />

da cida<strong>de</strong>, em mais uma bela <strong>de</strong>monstração'<br />

<strong>de</strong> sua disposição <strong>de</strong> luta. 0 povo da cida<br />

<strong>de</strong>, manifestando o seu apoio, aplaudiu e<br />

jogou papel picado dos edifícios. Para<br />

Porto Alegre, foi uma gran<strong>de</strong> surpresa quê<br />

agitou o centro da cida<strong>de</strong>. Para as mulhe-<br />

res trabalhadoras rurais que vieram <strong>de</strong><br />

longe, que <strong>de</strong>ixaram seus filhos, sua casa<br />

e seu trabalho para vir gritar o seu_pro<br />

testo nas ruas <strong>de</strong> Porto (que muitas nao T '<br />

conheciam), para estas mulheres foi um di<br />

a histérico. Elas realizaram o maior en- 7 "<br />

contro <strong>de</strong> mulheres trabalhadoras rurais '<br />

do país num passo <strong>de</strong>cisivo na luta pelo<br />

reconhecimento <strong>de</strong> seu trabalho.<br />

Lembrando Margarida Alves po<strong>de</strong><br />

mos dizer com certeza que, <strong>de</strong> seu sangue'<br />

<strong>de</strong>rramado muitas outras margaridas estão]<br />

nascendo.<br />

terr agente 13-


sindicalismo<br />

O ENCONTRO<br />

Foi um dia <strong>de</strong> muita emoção, on<br />

<strong>de</strong> as mulheres foram as figuras princT<br />

pais e comandaram - elas mesmas - o maior<br />

encontro <strong>de</strong> mulheres trabalhadoras rurais<br />

do país. Foi, apesar dos <strong>de</strong>poimentos <strong>de</strong><br />

dor, um dia <strong>de</strong> festa.<br />

0 Encontro se realizou no Gi<br />

gante do Beira-Rio pois a Assembléia Le<br />

gislativa, que era o local previsto, nao<br />

conseguiria abrigar as milhares <strong>de</strong> mulhe-<br />

res que vieram a Porto Alegre para lutar<br />

por seus direitos.<br />

Des<strong>de</strong> cedo, começaram a chegar<br />

caravanas <strong>de</strong> todo o lado, com faixas, car<br />

tazes e muita animação que, aos poucos,foi<br />

tomando conta do estádio. Eram moças, mu<br />

lheres, senhoras que vestindo a camiseta<br />

com o símbolo do movimento ou carregando<br />

cartazes e faixas iam colorindo o dia. 0<br />

grupo <strong>de</strong> animação pedia palmas para as ca<br />

ravanas e puxava os cantos e as palavras<br />

<strong>de</strong> or<strong>de</strong>m como:"MULHER ORGANIZADA JA^IAIS<br />

S¥RÂ PISADA", "1,2,3,4 - ATUAÇÃO NO SINDI<br />

CATO", "ISTO NAO É VIDA QUERENDS NOSSA PRO<br />

FISSÃO RECONHECIDA", "EM 80, QUERBDS FA<br />

ZER AS LEIS", "NA HORA DO PEGA, OS POlfn<br />

COS ESTÃO NA MACEGA".<br />

Ãs 10:30 h começou a programa-<br />

ção: uma das apresentadoras. Rosa Maria<br />

Três <strong>de</strong> Casca, fez uma saudação ãs mulhe-<br />

res presentes e colocou o programa do dia<br />

De manhã seria a parte <strong>de</strong> integração, <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>poimentos, cantos e poesia. De tar<strong>de</strong> es<br />

tava prevista a presença dos Ministros dõ<br />

Trabalho e da Previdência, quando as mu-<br />

lheres colocariam suas reivindicações,exi<br />

gindo uma resposta. Depois, a companheira<br />

Maria Catarina Missio, <strong>de</strong> Espumoso, fez<br />

um histórico do movimento e da organização<br />

do Encontro. Então começou a tribuna li<br />

vre, com <strong>de</strong>poimentos <strong>de</strong> varias regiões dõ<br />

Estado e com muita animação a cargo da<br />

Loida e da turma <strong>de</strong> Passo Fundo e dos ir-<br />

mãos Pandolfo, <strong>de</strong> Três <strong>de</strong> Maio.<br />

Ao meio dia teve o intervalo pa<br />

ra o almoço que foi no local,pois as mu<br />

lheres trouxeram sua comida <strong>de</strong> casa.<br />

De tar<strong>de</strong>, ãs 13:^0 h, o Encon-<br />

tro reiniciou com a composição da mesa<br />

com a trabalhadora rural Ana Rossi, <strong>de</strong><br />

Três <strong>de</strong> Maio; a representante da Pastoral,<br />

irmã Terezinha Cardoso, Santina Tertulina,<br />

sindicalista <strong>de</strong> Pemanbuco, convidada; o<br />

representante da FETAG e o da C0NTAG;e os<br />

representantes dos Ministérios do Trabalho<br />

e da Previdência.<br />

Teve continuida<strong>de</strong> a tribuna li<br />

vre on<strong>de</strong> o último <strong>de</strong>poimento foi <strong>de</strong> Sant^i<br />

na, que veio trazer sua experiência e seu<br />

apoio ã luta das mulheres daqui do sul.<br />

MANIFESTO DAS MULHERES<br />

<strong>terragente</strong> 14<br />

TRAB. RURAIS<br />

17 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 85 * Gigante do Beira-Rio<br />

Porto Alegre<br />

Nós mulheres rurais, que traba<br />

Ihamos <strong>de</strong> sol a sol, todos os dias, toda<br />

a vida, não sonos reconhecidas como traba<br />

lhadoras. Nós mulheres, que criamos nos<br />

sos filhos que serão os futuros trabalha-<br />

dores da socieda<strong>de</strong>, que produzimos o ali-<br />

mento para a mesa do povo da cida<strong>de</strong>, não<br />

temos direito a nada.<br />

Quando a gente se mata traba


lhando na roça, não temos direito ã assis<br />

tência médica e nem ao auxílio por aci<strong>de</strong>n<br />

te <strong>de</strong> trabalho. Quando ficamos grávidas<br />

trabalhamos até o último momento e não te<br />

mos^direito a auxílio natalida<strong>de</strong> e a um<br />

salário maternida<strong>de</strong>. E na velhice não te<br />

mos direito ã aposentadoria, nem por ida<br />

<strong>de</strong>, nem por invali<strong>de</strong>z e nem por tempo <strong>de</strong><br />

serviço, Nós sonos consi<strong>de</strong>radas <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>n-<br />

tes dos pais e dos maridos, mas nem isto<br />

nos assegura o direito previsto na lei <strong>de</strong><br />

total assistência médica e hospitalar. Es<br />

tas são conquistas que as companheiras trã<br />

balhadoras da cida<strong>de</strong> já conseguiram ha<br />

muito tempo, mas que até hoje são negadas<br />

para nós. E isto apesar <strong>de</strong> estarmos con<br />

tribuindo com a Previdência, pegando 2,5<br />

por cento sobre tudo aquilo que produzi<br />

nos.<br />

Representamos 50% da força <strong>de</strong><br />

Consi<strong>de</strong>rando toda essa situa<br />

ção <strong>de</strong> injustiça e dificulda<strong>de</strong>s, nós as<br />

trabalhadoras rurais, reivindicamos o se<br />

guinte:<br />

- reconhecimento da profissão da mulher<br />

como trabalhadora rural;<br />

- aposentadoria aos 50 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, por<br />

invali<strong>de</strong>z e aos 30 anos <strong>de</strong> serviço.' Que<br />

o valor da aposentadoria seja pelo menos<br />

<strong>de</strong> um salário mínimo;<br />

- auxílio aci<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> trabalho;<br />

- auxílio natalida<strong>de</strong> e salário maternida-<br />

<strong>de</strong>;<br />

- assistência médica-, hospitalar, ambula-<br />

torial e odontológica, sem a cobrança <strong>de</strong><br />

taxas e <strong>de</strong> diferenças;<br />

- uma política agrícola <strong>de</strong>finida, <strong>de</strong> açor<br />

do com os interesses dos trabalhadores;<br />

sindicalismo<br />

trabalho na agricultura e na pecuária.Mas<br />

trabalhamos sem segurança, sem garantias,<br />

sem direitos. E dia a dia constatamos que<br />

nossa situação fica mais difícil,pois não<br />

temos preços justos para os nossos produ-<br />

tos e nem uma política agrícola <strong>de</strong>finida<br />

<strong>de</strong> acordo con os interesses dos trabalha-<br />

dores. 'Além disso, nem todas as nossas fa<br />

mílias têm terra suficiente para traba<br />

lhar, enquanto alguns poucos concentram<br />

terra para negócios. Assistimos diariamen<br />

te a fuga dos nossos filhos para as cida-<br />

<strong>de</strong>s, on<strong>de</strong> vão em busca <strong>de</strong> empregos e me<br />

lhores condições <strong>de</strong> vida, mas que muitas<br />

vezes acabam se marginalizando.Assistiinos<br />

cem pesar o ensino nas escolas se tornar<br />

cada dia mais <strong>de</strong>ficiente, nunca sendo vol<br />

tado para a realida<strong>de</strong> e as necessida<strong>de</strong>s<br />

do povo da roça.<br />

- que o INCRA cobre os Cr$ 2 trilhões <strong>de</strong><br />

imposto <strong>de</strong>vido pelos latifundiários,e que<br />

este dinheiro seja aplicado para o assen-<br />

tamento das famílias sem terra.<br />

- preços justos para os nossos produtos,<br />

reajustados <strong>de</strong> acordo con a inflação;<br />

- juros subsidiados só para os pequenos<br />

produtores;<br />

- que as pesquisas técnicas sejam feitas<br />

por brasileiros e controladas por brasi<br />

leiros;<br />

- ensino no meio rural voltado para a nos<br />

sa realida<strong>de</strong>;<br />

- participar coto sócias dos sindicatos.<br />

Ter vez e voz.<br />

Para conseguirmos conquistar<br />

tudo isto que estamos pedindo, nós propo-<br />

mos:<br />

= <strong>terragente</strong> 15


sindicalismo<br />

1) Continuar a organização das mulheres<br />

trabalhadoras rurais em todas as ooraunida<br />

<strong>de</strong>s# municípios, regiões e Estado ,0010 ja<br />

foi feito para este Encontro;<br />

2) Promover a sindicalização da mulher ru<br />

ral, para a-.uarmos <strong>de</strong>ntro dos nossos sin-<br />

dicatos e a;sim duplicarmos a força do mo<br />

vimento sinlical;<br />

3) Procurar nos manter sempre informadas<br />

do andamento das nossas reivindicações já<br />

encaminhadas, para sabermos em que não fo<br />

mos ainda atendidas;<br />

4) Comemorar a data <strong>de</strong> 8 <strong>de</strong> março - Dia<br />

Internacional da Mulher - fazendo uma ava<br />

liação da caminhada feita até o momento,<br />

marcarmos novos passos e avaliarmos o an-<br />

damento das nossas reivindicações;<br />

5) Que também as jovens trabalhadoras<br />

rais participem da luta;<br />

6) Pressionar os dirigentes sindicais que<br />

não querem que nós nos organizemos;<br />

7) Fazer o bloco mo<strong>de</strong>lo 15 e participar<br />

da comercialização do produto;<br />

8) Continuarmos unidas e organizadas na<br />

luta por nossos direitos;<br />

9) Para a continuida<strong>de</strong> da nossa luta, man<br />

ru<br />

DEPOIMENTO<br />

termos a atual Comissão Estadual <strong>de</strong> Mulhe<br />

res Trabalhadoras Rurais que organizou es^<br />

te encontro, com o apoio dos sindicatos,<br />

da Pastoral da Terra e da FBEAG;<br />

10) Fazer um abaixo-assinado pela Reforma<br />

Agrária, atingindo todos os trabalhadores<br />

e trabalhadoras rurais sem terra ou com<br />

pouca terra, envolvendo todos nesta luta<br />

e reivindicação <strong>de</strong> terra para quem na ter<br />

ra trabalha:<br />

11) Realizar atos públicos (reuniões, oon<br />

centrações, dias <strong>de</strong> estudo) no próximo dia<br />

30 <strong>de</strong> novembro (21 anos do Estatuto da<br />

Terra) , exigindo a Reforma Agrária Já e<br />

que o Plano do Governo saia do papel. A<br />

data <strong>de</strong>ve também servir para lembramos os<br />

agricultores assassinados na luta pela Re<br />

forma Agrária;<br />

12) Realizar no ano que vem um novo Enoo-<br />

tro Estadual <strong>de</strong> Mulheres Trabalhadoras %<br />

rais, marcando a continuida<strong>de</strong> da nossa lu<br />

ta pela valorização da mulher e pela con-<br />

quista dos direitos oomo trabalhadoras.<br />

13) Caso não formos atendidas em nossas<br />

reivindicações, iremos anular nosso voto<br />

nas próximas eleições. Que o voto da mu<br />

lher rural não sirva mais para eleger a<br />

queles que estão só nos enrolando.<br />

AVALIAÇÃO DE UMA TRABALHADORA RURAL - MARLISE FERNANDES, DE TRÊS DE MAIO<br />

TERftAGENTE-<br />

Encontro?<br />

Marli se, o que você achou do<br />

- Bom, muito bom, principalmente para quem<br />

acompanhou <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o inicio, os primeiros<br />

passos que foram dados para transformar<br />

esse sonho em realida<strong>de</strong>. Esperávamos 1,2<br />

a 3 mil mulheres, e no <strong>de</strong>correr dos dias<br />

fomos vendo que a coisa crescia, que o in<br />

teresse aumentava, que a organização da<br />

trabalhadora rural na base era uma coisa<br />

muito forte, muito firme e que "pelego"ne<br />

nhum conseguiria abafar. E a confirmação<br />

<strong>de</strong> tudo que acabei <strong>de</strong> dizer foi dada no<br />

dia 17 : 10 mil trabalhadoras rurais no<br />

Beira-Rio. As companheiras foram a Porto<br />

Alegre sabendo dos seus problemas^ saben-<br />

do p que querem e sabendo, o que é mais<br />

importante, como chegar a conquista <strong>de</strong>s-<br />

ses direitos, pois as propostas <strong>de</strong> conti-<br />

terr agente 16<br />

nuida<strong>de</strong> que foram feitas no <strong>de</strong>correr do<br />

Encontro mostram que todos sabem que pre-<br />

cisam se organizar na base e sabem também<br />

que a sua participação no sindicato é o<br />

ponto <strong>de</strong> partida para chegar ate os pol_T<br />

ticos e corruptos que exploram o nosso tra<br />

balho. Foi uma gran<strong>de</strong> lição aos sindicaljs<br />

tas pelegos que vários sindicatos que nao<br />

<strong>de</strong>ram valor a nossa organização. As vaias<br />

que foram proferidasaos representantes<br />

dos ministros e também ao representante<br />

do INAMPS gaúcho (Rui Ne<strong>de</strong>l), foram uma<br />

prova <strong>de</strong> que as mulheres sabem muito bem<br />

que são esses que estão nos negando os d^<br />

rei tos. Outro ponto muito importante foi a<br />

<strong>de</strong>cisão das trabalhadoras rurais <strong>de</strong> exi<br />

gir que a Deputada Ecleia Fernan<strong>de</strong>s(PMDBT<br />

<strong>de</strong>ixasse a mesa,on<strong>de</strong> sentou sem ser convi


da<strong>de</strong>, pois estamos cansados <strong>de</strong> políticos<br />

oportunistas que so nos procuram em tempo<br />

<strong>de</strong> campanha política, E como as propostas<br />

regionais diziam, <strong>de</strong> agora em diante va<br />

mos votar nas companheiras e companheiros<br />

que,como nós são trabalhadores, <strong>de</strong> mãos<br />

calejadas e sem salto alto. E no momento<br />

que todo povo brasileiro se conscientizar<br />

disso, as coisas mudarão.<br />

A passeata foi algo maravilhoso,<br />

pois muitas companheiras nunca tinham ido<br />

a Porto Alegre e tiveram a oportunida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> gritar para quem quisesse ouvir a sua<br />

revolta e os seus anceios.<br />

Esse é apenas o começo, hã muita<br />

r w<br />

H<br />

SE<br />

w<br />

t-l<br />

o<br />

w<br />

PM<br />

XI<br />

w<br />

sindicalismo<br />

coisa que precisamos fazer, mas <strong>de</strong> agora<br />

em diante não vai ser apenas uma comissão<br />

em cada município, na regional e no Esta-<br />

do, mas sim serão milhares <strong>de</strong> companheiras<br />

<strong>de</strong>fen<strong>de</strong>ndo a mesma ban<strong>de</strong>ira, que é a do:<br />

- reconhecimento da profissão;<br />

- aposentadoria aos 50 anos;<br />

- auxilio natalida<strong>de</strong>;<br />

- auxilio aci<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> trabalho;<br />

- reforma agrária,<br />

- sindicatos e Fe<strong>de</strong>ração atuante e que <strong>de</strong><br />

fendam os nossos interesses, os interesses<br />

dos trabalhadores.<br />

Ainda temos à disposição CAMISETAS (Cr$ 20.000) e BROCHES (Cr$ 3.000)<br />

com o símbolo do Movimento Estadual das Mulheres trabalhadoras Rurais.<br />

Pedidos e correspondência para:<br />

GEA - Grupo <strong>de</strong> Estudos e Assessoria Agraria<br />

Rua Gaspar Martins, 470 - 2? andar - Caixa Postal - 10.507<br />

90.000 - Porto Alegre - RS - Fone: (0512) 25-07-87<br />

<strong>terragente</strong><br />

Uma publicação do GEA - Grupo <strong>de</strong> Estudos e Assessoria Agrária<br />

Diagramação: Vera Junqueira<br />

Datilografia: Vera dos Apjos Silva<br />

Impressão: Helinho<br />

Edição: Equipe do GEA<br />

Pedidos, correspondência e assinaturas para:<br />

GEA - Grupo <strong>de</strong> Estudos e Assessoria Agrária<br />

Rua Gaspar Martins, 470 - 29 andar - Fone: (0512) 25-07-87<br />

90.000 - Porto Alegre - RS<br />

<strong>terragente</strong> 17:


economia<br />

A DÍVIDA EXTERNA<br />

0 BRASIL TEM UMA DÍVIDA TOTAL DE 100,1 BILHÕES DE DÓLARES PARA COM. OS<br />

BANQUEIROS DO MUNDO (MAIO DE 1985). NÚMERO GRANDE, NSO Ê?<br />

MAS O PROBLEMA PRINCIPAL NfiO ESTA NESTE NÚMERO Al. O BRABO MESMO SÍO<br />

OS JUROS QUE OS TRABALHADORES BRASILEIROS PAGAM OCM O SEU SUOR E QUE, DESDE 1981,GIRA<br />

PELA CASA DOS 10 BILHÕES DE DÕLARES ANUAIS. NÕS PAGAMOS TUDO ISSO .POR ANO, APENAS CO<br />

MO "ALUGUEL" DAQUELA QUANTIA lA DE CIMA. O BRASIL ESTÁ CONDENADO Á PAGAR 10 BILB5ES<br />

DE DÓLARES POR ANO SEM QUE A DIVIDA TOTAL NSO DIMINUA UM CENTAVO SEQUER!<br />

MAS COMO FOI QUE O BRASIL ENTROU NESSA?<br />

Primeiro que não entrou sozi<br />

nho. A moda <strong>de</strong> buscar dinheiro no estran-<br />

geiro para financiar o "<strong>de</strong>senvolvimento"<br />

do país surgiu com força aí pelo início<br />

dos anos 70. Naquela época os gran<strong>de</strong>s ca-<br />

pitalistas do mundo: banqueiros,rentistas,<br />

especuladores, etc, estavam cheios <strong>de</strong> do<br />

lares e não tinham para quem emprestar.AT<br />

<strong>de</strong>scobriram que havia uma porção <strong>de</strong> paí-<br />

ses no chamado "Terceiro Mundo" que podi<br />

am-se transformar em excelentes investimen<br />

tos para o seu dinheirinho que estava pa<br />

rado. Entraram nessa onda o Brasil,Mexicã<br />

Argentina, Indonésia, Coréia do Sul, Peru<br />

etc.<br />

/STéA V^<br />

&m ff\ Ml m *à\J%l/<br />

mttw Wrê<br />

\ i Trtwl 3klH^I<br />

J 9. í/^^k L^"\/\/ .<br />

m^ ¥ t<br />

No início os juros eram bem ca<br />

maradas ( 3 a 4 por cento ao ano), e o d^<br />

nheirinho caiu muito bem para os governos<br />

terr agente 18<br />

<strong>de</strong>sses países. No Brasil, por exemplo, a<br />

ditadura que andava bastante <strong>de</strong>sprestigia<br />

da naquela época, conseguiu se legitimalr<br />

por um bom tempo graças ao apoio dos em<br />

presários e capitalistas que viam com muT<br />

to bons olhos aquele dinheiro fácil quêí<br />

entrava para os seus bolsos. Os trabalha-<br />

dores, é claro, não viram sequer a cor<br />

<strong>de</strong>sses dólares. Foi a época do "Milagre<br />

Brasileiro". Nesse período explodiu a in<br />

dústria automobilística e <strong>de</strong> eletro-domé¥<br />

ticos. Explodiu também a moda dos gran<strong>de</strong>s^<br />

projetos nacionais: Transamazonica,Itaipa<br />

Ponte Rio-Niterói para falar dos mais co<br />

nhecidos. Pouca coisa <strong>de</strong> realmente utiT<br />

foi feita. Gs investimentos em educação,<br />

saú<strong>de</strong>, moradia eram <strong>de</strong> fato ridículos.üs<br />

subsídios para a agricultura embretaram<br />

os agricultores na monocultura, na mecapi<br />

zação e no uso <strong>de</strong> agro-industriais(adubou<br />

venenos, etc.) acasionando a migração <strong>de</strong><br />

milhares <strong>de</strong> agricultores.do campo para a<br />

cida<strong>de</strong>.<br />

0 gran<strong>de</strong> sonho dos governantes<br />

brasileiros, principalmente na época do<br />

general Ernesto Geisel ( II Plano Nacional<br />

<strong>de</strong> Desenvolvimento), era transformar o<br />

Brasil numa gran<strong>de</strong> potência, com um gran-<br />

<strong>de</strong> parque industrial. Entretanto, a fra<br />

queza estrutural do empresariada brasilei<br />

ro que, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> muito, vegetou na sombra<br />

das iniciativas do Estado, não permitiam,<br />

naquela época, que estes empresários J to<br />

massem a iniciativa <strong>de</strong> investirem elels<br />

mesmos em gran<strong>de</strong>s projetos. Para isso o<br />

próprio governo criou as monstruosas em.<br />

presas estatais que entravam como testa-<br />

-<strong>de</strong>-ferro nos investimentos <strong>de</strong> alto risco<br />

ou <strong>de</strong> retorno a longo prazo. Nos rastros<br />

<strong>de</strong>stas empresas - Si<strong>de</strong>rbrás, Petrobrás, E<br />

letrobrás, Nuclebrás, etc. - é que a inT


ciativa privada nacional e multinacional<br />

acomodou-se, florescendo neste vácuo as<br />

gran<strong>de</strong>s empresas <strong>de</strong> construção civil, as<br />

metalúrgicas, a indústria química, etc.<br />

Desta forma a socieda<strong>de</strong> inteira, através<br />

das estatais, bancava os investimentos <strong>de</strong><br />

maior risco, enquanto que os empresários<br />

só "papavam" o filé mignon dos' investimeji<br />

tos a juros subsidiados e sem quase ne<br />

nhum risco.<br />

A idéia, no limite, era um ab-<br />

surdo completo. As estatais inventavam ai<br />

gum gran<strong>de</strong> projeto para tocar para frente<br />

pouco importando a importância social <strong>de</strong>s<br />

te projeto, eo resto vinha atrás. Assim,cT<br />

negócio era empilhar um monte <strong>de</strong> Transama<br />

zônicas, barragens, etc. umas em cima das<br />

outras para puxar o resto da economia.<br />

Obviamente que os empresários<br />

tomados no exterior, além <strong>de</strong> mal emprega-<br />

dos, excediam <strong>de</strong> muito as reais necessida<br />

<strong>de</strong>s <strong>de</strong> nossa economia. Na verda<strong>de</strong>, a quan<br />

tida<strong>de</strong> <strong>de</strong> dinheiro investida em coisas re<br />

almente produtivas foi sempre bem menor 7<br />

do que os empréstimos tomados. Além disso<br />

a <strong>de</strong>fasagem tecnológica brasileira, quer<br />

dizer, a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> importar servi<br />

ços ou bens que não po<strong>de</strong>riam ser feitos<br />

por aqui, também foi sempre menor do que<br />

a alegada. Essa <strong>de</strong>pendência <strong>de</strong> bens e ser<br />

viços, que inclui o petróleo, nunca foT<br />

tao gran<strong>de</strong> como argumentavam os ministros<br />

da éooca. Na verda<strong>de</strong>, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1967 até 1984<br />

•JSSO-SSSS para ^S<br />

SERVIÇO DA DmDA,'^^^^^,,,.,----^<br />

economia<br />

a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> recursos investidos ne£<br />

sa área correspon<strong>de</strong> a apenas 18,14 por<br />

cento <strong>de</strong> total do déficit brasileiro,Isso<br />

<strong>de</strong>rruba por terra a teoria daqueles que<br />

alegavam que os principais motivos do en<br />

dividamento brasileiro eram a importação<br />

<strong>de</strong> petróleo e tecnologia.<br />

Mas então, surge a pergunta:se<br />

o país não precisava <strong>de</strong> tanto dinheiro aj3<br />

sim, porque se endividou tanto?<br />

A resposta é simples: pura bur<br />

rice! Na verda<strong>de</strong>, todos os ministros da £<br />

rea econômica sempres incentivaram a bus<br />

ca <strong>de</strong> empréstimos no exterior. Para isso<br />

procuravam sempre manter as taxas <strong>de</strong> ju^<br />

ros internas acima das taxas externas. As<br />

sim os empresários brasileiros sempre iam<br />

buscar dinheiro lá fora.<br />

Além <strong>de</strong>ste incentivo, o próprio<br />

governo, durante muito tempo, contratou<br />

empréstimos com bancos estrangeiros atra<br />

vés das estatais simplesmente para "enfei<br />

tar" o balanço <strong>de</strong> pagamentos como <strong>de</strong>nunci<br />

ou a economista Maria Conceição Tavaresd ]<br />

0 objetivo era acumular reservas para o<br />

"gran<strong>de</strong> salto para o futuro" que o Brasil<br />

daria.<br />

Mas o tiro saiu pela culatra.<br />

Os governantes acreditavam que o dinheiro<br />

do exterior seria sempre barato. Triste i<br />

lusão!<br />

<strong>terragente</strong> 1 9;


economia<br />

0 problema do endividamsnto não<br />

se mostrou tão grave até o ano <strong>de</strong> 1979.Até<br />

aí, as taxas <strong>de</strong> juros oscilavam sempre em<br />

torno <strong>de</strong> 6 a 8 por cento ao ano. Foi en<br />

tão que <strong>de</strong>u-se o segundo choque do petró-<br />

leo e os banqueiros internacionais apro-<br />

veitaram a ocasião para jogar as taxas <strong>de</strong><br />

juros lá para cima. No período 79^84, os<br />

empréstimos tomados no exterior giraram<br />

em torno <strong>de</strong> 15 a 16 por cento ao ano. che<br />

gando ao absurdo <strong>de</strong> 21 por cento em a^<br />

guns casos.<br />

No início <strong>de</strong> 1979 a dívida lí-<br />

quida brasileira era <strong>de</strong> 40,2 bilhões <strong>de</strong><br />

dólares (ver quadro). Des<strong>de</strong> 1979 até 198^<br />

a dívida subiu para 100 bilhóes <strong>de</strong> dólares<br />

sem que entrasse praticamente nenhum re<br />

curso novo. 0 Brasil ficou tão apertado<br />

que foi obrigado a contratar novos emprés<br />

timos para pagar os que já estavam sendo<br />

vencidos.<br />

Este fato veio a acontecer por<br />

uma razão simples. Os juros que o Brasil<br />

paga por este dinheiro são os chamados ju^<br />

ros flutuantes, que variam conforme cer<br />

tas taxas internacionais chamadas "prime<br />

rate" e "libor". Taxas estas que, em últi<br />

ma análise, são controladas pelos próprios<br />

banqueiros que emprestam o dinheiro. Por<br />

aí se vé a irresponsabilida<strong>de</strong> dos troglo-<br />

ditas que controlaram a economia brasilei<br />

ra neste período! Porque quem acaba pagan<br />

do o pato são os trabalhadores brasileiros<br />

que nunca tiveram oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> opinar<br />

nestes assuntos.<br />

Foi assim que chegamos ã loucu<br />

ra <strong>de</strong> ter que enviar anualmente cerca <strong>de</strong><br />

10 bilhões <strong>de</strong> dólares ou mais para os ban<br />

queiros americanos, europeus e japoneses,<br />

sem receber nada em troca.<br />

E a coisa fica mais complicada<br />

ainda, porque os banqueiros só aceitam dó<br />

lares para este pagamento. Essa é a razão<br />

da febre <strong>de</strong> exportação fomentada pelo fli<br />

nistro Delfim Neto naquela época e conti<br />

nuada pelos ministros da área econômica<br />

da NOva República.<br />

<strong>terragente</strong> 20=<br />

Exportem! Exportem tudo! Essa<br />

é a palavra <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m. Pois só exportando<br />

o Brasil conseguirá dólares para po<strong>de</strong>r pa<br />

gar a dívida. Cruzeiro eles não aceitam.<br />

Aí, o Brasil começou a expo£<br />

tar. Soja, automóveis, colheita<strong>de</strong>iras,ele<br />

trodomésticos, calçados, tratores, etc...<br />

Se o leitor quiser dar boas risadas, leia<br />

a pauta <strong>de</strong> exportações brasileiras. Latem<br />

<strong>de</strong> tudo: faca <strong>de</strong> churrasco, ovo <strong>de</strong> codor-<br />

na, lâmina <strong>de</strong> barba, óleo <strong>de</strong> baleia,revis<br />

ta em quadrinhos, teclado <strong>de</strong> piano, nove-<br />

la <strong>de</strong> televisão e assim por diante.<br />

Exportando qualquer coisa a<br />

qualquer preço, o Brasil pulou <strong>de</strong> 6.199<br />

milhões <strong>de</strong> dólares em 1973 para 25.400 mi<br />

Ihões <strong>de</strong> dólares (projeção para 1985} que<br />

entram pela venda <strong>de</strong> produtos brasileiros<br />

para o estrangeiro. Assim, o saldo da ba<br />

lança comercial brasileira (exportações<br />

menos importações] está previsto para al-<br />

go em torno <strong>de</strong> 12 bilhões <strong>de</strong> dólares. Ima<br />

ginem tudo isto investido na Reforma Agra<br />

ria, educação, moradia... Não, não.Não se<br />

iluda. A maior parte <strong>de</strong>ste dinheiro vai<br />

<strong>de</strong> volta para o estrangeiro sob a forma<br />

<strong>de</strong> juros. Mas essa exportação <strong>de</strong>senfrea-<br />

da trouxe ainda outro problema. 0 preço<br />

das mercadorias brasileiras no mercado ex^<br />

terno começou a cair vertiginosamente. Sf3<br />

gundo o economista Joelmir Betting (2),se<br />

tomarmos o índice 1,000 para a média dos<br />

preços da mercadoria brasileira em 1980;<br />

23 <strong>de</strong> outubro<br />

Dia continental<br />

contra a dívida externa


hoje, este índice estaria em 0,610. Isto<br />

significa que temos que produzir muito<br />

mais mercadorias para receber o.mesmo d^<br />

nheiro.<br />

Isso aí, como sempre, cai nas<br />

costas <strong>de</strong> quem trabalha. Tanto a "nova"co<br />

mo a "velha" república utilizam ou utili-<br />

zaram a mesma fórmula para pagar a dívida:<br />

a exportação <strong>de</strong> mercadorias para obter su_<br />

perávit na balança comercial - quer dizer,<br />

exportar mais do que importar. Mas para<br />

ven<strong>de</strong>r o produto brasileiro para os outros<br />

países, é preciso chegar lá com um preço<br />

mais baixo do que os concorrentes. Para<br />

que os nossos preços sejam baixos, é pre<br />

ciso que o custo <strong>de</strong> produção das nossas<br />

mercadorias também seja baixo. E qual e o<br />

■- economia<br />

componente do custo <strong>de</strong> produção que eles<br />

mais procuram diminuir? Os salários e os<br />

preços ao agricultor.<br />

Por aí se vê porque o governo<br />

Sarney reajustou os salários mantendo o<br />

mesmo aperto salarial que o governo pass£<br />

do. Tanto um como outro estão mais preocu<br />

pados com a saú<strong>de</strong> dos bancos do que com a<br />

saú<strong>de</strong> da população brasileira que, porcau<br />

sa disto é jogada na fome e no <strong>de</strong>sespero.<br />

A famosa frase <strong>de</strong> Tancredo Neves e mais<br />

tar<strong>de</strong> <strong>de</strong> Sarney, prometendo não pagar a<br />

dívida com a fome e com a miséria do povo<br />

brasileiro (como se isso já não estivesse<br />

acontecendo!], por enquanto não passou <strong>de</strong><br />

puro exercício <strong>de</strong> retórica.<br />

nas armas americanas,<br />

o fruto <strong>de</strong> nossa exploração<br />

0 maior comprador <strong>de</strong> mercado -<br />

rias no mundo inteiro, por incrível que<br />

pareça, são os Estados Unidos. Os EUA, h£<br />

je, importam mais do que exportam para o<br />

terceiro mundo (ver quadro). Somente o<br />

Brasil manda 27 por cento <strong>de</strong> suas exporta<br />

ções para os EUA - por outro lado, 38 por<br />

cento <strong>de</strong> nossa dívida, também é <strong>de</strong>les. 0<br />

Canada e p Japão juntos, ven<strong>de</strong>m um total<br />

<strong>de</strong> 126 bilhões <strong>de</strong> dólares por ano para os<br />

Estados Unidos.<br />

Produtos Industriais Manufaturados<br />

Exportações americanas para o "Tcrceirc > Mundo"<br />

(em bilhões <strong>de</strong> dólares)<br />

1981 1982<br />

1983 1984( + )<br />

61.5 54,6<br />

45,3 47,0<br />

(+) cifras provisórias<br />

Exportações do "Terceiro Mundo" pars i os EUA<br />

(cm bilhões <strong>de</strong> dólares)<br />

1981<br />

35.0<br />

1982<br />

36,8<br />

1983<br />

45,7<br />

1984( + )<br />

55,0<br />

Para fazer isto, o governo ame<br />

ricano reforçou o dólar através <strong>de</strong> um dé-<br />

ficit no seu orçamento público que <strong>de</strong> 81<br />

para cá. já atinge 1 trilhão <strong>de</strong> dólares!<br />

Dessa forma, a indústria automobilística<br />

e <strong>de</strong> construção, bem como a agricultura £<br />

mericanas, praticamente se <strong>de</strong>sativaram,<br />

pois os outros países chegam no mercado ja<br />

mericano com preços mais baixos. Obviamen<br />

te que este prejuízo é recuperado pela dji<br />

vida financeira dos países do terceiro mun<br />

do para com os EUA.<br />

E você sabe em que o governo a<br />

mericano investe quase todo o dinheiro que<br />

recolhe? Em arma, nos famosos gastos mili<br />

tares americanos. Armas estas qu • se vol-<br />

tam contra o próprio terceiro mu ido, como<br />

pu<strong>de</strong>ram sentir na carne a Nicarágua, Gra-<br />

nada. El Salvador, Líbano e tant is outros<br />

(ver quadro 3].<br />

<strong>terragente</strong> 21;


economia<br />

Então perguntamos: por que <strong>de</strong><br />

vemos pagar uma dívida ilegítima que' so<br />

serve para aumentar o caos <strong>de</strong> todo o mun-<br />

do?<br />

E aí se fecha o ciclo absurdo<br />

do capitalismo mundial. Aqueles que se re<br />

voltam contra esta situação <strong>de</strong> exploração<br />

são obrigados a calar-se diante dos ca<br />

nhões fabricados as custas <strong>de</strong> seu próprio<br />

suor.<br />

E este tipo <strong>de</strong> coisa só benefi<br />

cia aos "gran<strong>de</strong>s", pois mesmo nos EUA, o<br />

resultado <strong>de</strong>ssa política vem aumentando<br />

cada vez mais o índice <strong>de</strong> <strong>de</strong>semprego que<br />

já atinge 7,5% da população economicamente<br />

ativa americana. Nos países ricos, ejà<br />

ta epi<strong>de</strong>mia já atinge a 40 milhões <strong>de</strong> indivíduos!<br />

dia 23 <strong>de</strong> outubro: o início<br />

da resposta<br />

A ajuda governamental dos EUA aos<br />

países da América Central<br />

(em milhões <strong>de</strong> dólares<br />

Econômica Militar<br />

^--___Ano 1979 1985 1979 1985<br />

Honduras^ 2 ) 26,80 154,00 2,30 62,50<br />

El Salvadora 9,60 346,00 0,04 132,00<br />

Costa Rica 10,00 237,00 0,00 10,00<br />

Guatemala 22.7 122,40 0,20 10.30<br />

Total 69,1 359,40 2,50 214,00<br />

(1)<br />

Não inclui a ajuda não governamental, <strong>de</strong> entida<strong>de</strong>s direitistas às forças<br />

contra-revolucionárias.<br />

< 2) Náo inclui os gastos em obras militares infraestrutura que são realizados<br />

durante as manobras militares permanentes <strong>de</strong> forças americanas no pais;<br />

(3<br />

' Da ajuda americana, calcula-se que apenas 15% chega a projetos <strong>de</strong> ajuda<br />

social.<br />

Mas apesar da truculência dos<br />

ameriúanos e seus aliados, diversas vozes<br />

têm-se erguido contra esta situação.<br />

Em julho <strong>de</strong>ste ano, diversas or<br />

ganizações sindicais e populares reuni-<br />

ram-se em Havana (Cuba) para tratar dos<br />

graves problemas que o pagamento da dívi-<br />

da externa está causando aos povos da Amé<br />

rica Latina. Esta Conferência resolveu,ejn<br />

tre outras coisas, <strong>de</strong>clarar o dia 23 <strong>de</strong><br />

outubro como o DIA CONTINENTAL CONTRA 0<br />

PAGAMENTO DA DlVIDA EXTERNA, Este dia p£<br />

<strong>de</strong> ser encarado como um gran<strong>de</strong> marco para<br />

a união dos povos latinos contra o FMI e<br />

seus aliados. Mas ainda há muita coisa a<br />

ser feita e somente a pressão popular po<br />

<strong>terragente</strong> 22.<br />

<strong>de</strong>ra levar os governantes da "Nova Repú<br />

blica" a saírem do lero-lero e partirem<br />

para alguma solução concreta.<br />

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA:<br />

Cl] Um Salto para o Caos - Maria Concei -<br />

ção Tavares.<br />

(2] Os Juros Subversivos - Joelmir Beting<br />

(3] Dependência Externa e Moratória - Gru<br />

po <strong>de</strong> Estudos <strong>de</strong> Balanço <strong>de</strong> Pagamentos da<br />

Socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Economia do Rio Gran<strong>de</strong> do<br />

Sul (Revista Ensaios FEE, 1985)<br />

(4) Revista Perspectiva Internacional<br />

(5) Jornal EM TEMPO<br />

(B) Jornal Gazeta Mercantil


a luta pela terra<br />

reforma agrária<br />

O PLANO QUE ENCOLHEU<br />

SEM DUVIDA O DECRETO-LEI MAIS DISCUTIDO; COMENTADO, E ESPERADO DO<br />

ANO FOI ASSINADO PEDO PRESIDENTE SARNEY NO DIA 10 DE OUTUBRO . TRATA-SE DO 19 PLA<br />

NO NACIONAL DE REFORMA AGRARIA DA "NOVA REPÚBLICA". NESTE PLANO O GOVERNO FEDE<br />

RAL FIXA AS NORMAS E OBJETIVOS COM RELAÇfíO Ã REFORMA AGRARIA BEM COMO DEFINE OS<br />

MEIOS QUE SERÃO UTILIZADOS PARA A IMPLANTAÇÃO DO PLANO NACIONAL, NESTE ARTIGO VO<br />

CÊ FICARA SABENDO DAS PRINCIPAIS MDDIETCAÇÓES ENTRE O PLANO ASSINADO E A PROPOSTA<br />

ORIGINAL QUE O GOVERNO HAVIA LANÇADO EM MAIO DE 1985:<br />

Após extensos <strong>de</strong>bates, discus -<br />

soes e manifestações <strong>de</strong> toda or<strong>de</strong>m, final<br />

mente no dia 10 <strong>de</strong> outubro o presi<strong>de</strong>nte<br />

Sarney assinou o <strong>de</strong>creto-lei que institui<br />

o 19 PNRA da "Nova República". Somente pa<br />

ra lembrar, recordamos que a proposta <strong>de</strong><br />

Plano foi lançada no final <strong>de</strong> maio duran-<br />

te a realização do 49 Congresso Nacional<br />

<strong>de</strong> Trabalhadores Rurais. Naquela ocasião<br />

o "cronograma da Reforma Agrária" do gover-<br />

no estipulava o dia 30 <strong>de</strong> junho para o<br />

final das discussões sobre a proposta do<br />

plano. No começo <strong>de</strong> julho já começaria a<br />

ser executado o Plano <strong>de</strong> Reforma Agrária<br />

<strong>de</strong>finitivo. Mas o "cronograma" foi alter£<br />

Só para que os leitores tenham<br />

uma idéia o PNRA foi alterado e reescrito<br />

10 (<strong>de</strong>z) vezes e um dia antes <strong>de</strong> ser assi^<br />

nado pelo presi<strong>de</strong>nte ele ainda estava sen^<br />

do modificado. Todo este jogo <strong>de</strong> pressões<br />

em relação ã esta questão ficou ainda mais<br />

acirrado com a entrada em ação dos milita^<br />

res através.do Conselho <strong>de</strong> Segurança Na<br />

cional. Este órgão foi criado na época da<br />

ditadura e abordava em suas discussões "tu<br />

do o que dissesse respeito ã Soberania<br />

Nacional". Em resumo era uma forma <strong>de</strong> mi-<br />

litarizar qualquer questão que fosse con-<br />

si<strong>de</strong>rada importante. Pois os militares,in<br />

satisfeitos com a proposta do MIRAD para<br />

o problema agrário do país, resolveram<br />

"criar" um documento chamado Política N£<br />

cional <strong>de</strong> Desenvolvimento Rural Integrada<br />

do e só no período <strong>de</strong> discussões foram gas<br />

tos mais <strong>de</strong> quatro meses.<br />

Mas a <strong>de</strong>mora acima referida não<br />

seria um gran<strong>de</strong> problema se a proposta _i<br />

nial do governo fosse mantida e ampliada.<br />

Isto não ocorreu. 0 que se viu foi o con-<br />

trário. Como já havíamos salientado no<br />

TERRAGENTE N9 34. a proposta da Reforma<br />

Agrária lançada pelo MIRAD (Ministério do<br />

Desenvolvimento e Reforma Agrária lera mui<br />

to avançada para a maioria dos grupos p£<br />

líticos que formam a chamada "Nova Repúbli-<br />

ca". E por isto a proposta inicial <strong>de</strong> Re<br />

forma Agrária foi <strong>de</strong>scaracterizada em va<br />

rios pontos importantes.<br />

as pressões<br />

E foi este documento o responsável por v,3<br />

rias das alterações que o PNRA sofreu.<br />

fiou plenamente a. favor da. Reforma Aqrcírja., tíei<strong>de</strong><br />

çpia •aão liaja- E.efbrjn


a luta pela terra<br />

Mas quais foram as principais mu<br />

danças que o governo fez em seu próprio<br />

Plano <strong>de</strong> Reforma Agrária? A nível geral há<br />

uma gran<strong>de</strong> alteração que po<strong>de</strong> ser lida no<br />

IX dos "mandamentos da Reforma Agrária"as^<br />

sinado pelo presi<strong>de</strong>nte Sarney: "A Reforma<br />

Agrária complementa a política agrícola..".<br />

Isto é o sinal <strong>de</strong> uma mudança profunda em<br />

que a "Nova República" se i<strong>de</strong>ntifica com<br />

a "velha república" on<strong>de</strong> a questão da ter<br />

ra era tratada pelos militares (era???] e<br />

on<strong>de</strong> os governantes diziam que o importan<br />

te era a produção e a política agrícola e<br />

não a distribuição <strong>de</strong> terras. Mas há vá<br />

rias mudanças mais concretas no PNRA que<br />

<strong>de</strong>vem ser analisadas:<br />

19 - Centralização do po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão a<br />

respeito dos Planos Regionais <strong>de</strong> Reforma<br />

Agraria nas mãos do presi<strong>de</strong>nte Sarney;<br />

29 - Preservação dos latifúndios produti-<br />

vos in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte do seu tamanhoj<br />

39 - Descaracterização das áreas <strong>de</strong> confli<br />

to como prioritárias para fins <strong>de</strong> imedia-<br />

ta <strong>de</strong>sapropriação<br />

49 - Priorizaçao <strong>de</strong> terras públicas para<br />

fins <strong>de</strong> Reforma Agrária;<br />

as mudanças<br />

59 - Possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> criação <strong>de</strong> novos pro<br />

jetos <strong>de</strong> colonização;<br />

69 - Utilização do recurso <strong>de</strong>-<strong>de</strong>sapropria<br />

ção somente quando esgotadas todas as pos^<br />

sibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> utilização <strong>de</strong> terras púbLi<br />

cas, negociações, etc.<br />

A primeira mudança e <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> im<br />

portãncia porque diminui consi<strong>de</strong>ravelmen-<br />

te a autonomia dos INCRAs regionais,certra<br />

lizando extremamente as <strong>de</strong>cisões a respei^<br />

to <strong>de</strong> questões específicas <strong>de</strong> cada região.<br />

Isto diminui o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> pressão<br />

do Movimento dos Agricultores Sem Terra a<br />

nível estadual, pois todas as <strong>de</strong>cisões são<br />

tomadas "lá" em Brasília.<br />

A segunda mudança simplesmente<br />

<strong>de</strong>creta que a terra NAO tem função social,<br />

pois garante que qualquer latifúndio, in-<br />

<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte do seu tamanho, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que este<br />

ja "produzindo" (<strong>de</strong> acordo com índices que<br />

o governo ainda não sabe quais são!não s£<br />

rá <strong>de</strong>sapropriado.<br />

A terceira modificação diz res-<br />

peito às áreas <strong>de</strong> conflito pela terra. Na<br />

proposta inicial estas áreas eram consi<strong>de</strong>^<br />

radas como prioritárias para fins <strong>de</strong> <strong>de</strong>sa<br />

propriação. No Plano atual esta questão e<br />

;; i.'.. ? / _^ ; .^ .í> ;^A AREÂr^ltáADA : PÁRA OS ASSENTAMENTOS-1985/89<br />

Gran<strong>de</strong>s regiões<br />

•<br />

Unida<strong>de</strong>s do Fe-<br />

<strong>de</strong>ração<br />

Superfície<br />

territorial<br />

total Km2<br />

Metas<br />

ffamíliasl<br />

1985/86 1987 1988 1989 •otol (1985/89<br />

Área<br />

necessário<br />

Km2<br />

Metas<br />

(fomílios)<br />

Área<br />

necessária<br />

Km2<br />

Metas<br />

1 famílias)<br />

Área<br />

necessária<br />

Km2<br />

Metas<br />

(famílias)<br />

Área<br />

necessária<br />

Km2<br />

Metas<br />

(famílias)<br />

Área<br />

necessária<br />

Km2<br />

Brasil 8 451 189 150.000 46.200 300.000 92.400 450.000 138.600 500.000 153.700 1.400.000 430.900<br />

Norte 3.551.322 15.000 10.800 30.000 21.700 45.000 32.500 50.000 35.800 140.000 100.800<br />

RO 243.044. 2.300 1.600 4.500 3.300. 6.800 4.900 7.700 5.500 21.300 15.300<br />

AC 152.589 900 600 1.700 1.300 2.600 1.900 3.000 2.100 . 8.200 5.900<br />

AM 1.558.987 3400 2400 6.700 4.900 10.100 7.300 10.800 7.700 31.000 22.300<br />

RR 230 104 300 200 700 500 1.000 700 1.200 900 3.200 2.300<br />

PA t.227.530 8.000 5.90Q 16.200 11.500 24.100 17.400 27.000 19.400 75.200 54.200<br />

AP 139.068 100 100 300 200 400 300 300 200 1.100 800<br />

Nor<strong>de</strong>ste 1.539.632 67 500 20.200 135.000 40.500 202.500 60.700 225.000 67.600 630.000 189.000<br />

MA 324.616 12.700 3 800 25.500 7.700 38.200 11 500 42.400 12.600 118.800 35.600<br />

PI 250.934 10.700 3.200 21.400 6.400 32.100 9.600 35.700 10.800 99.900 30.000<br />

CE 146.817 5.400 1.600 10.700 3.200 16.100 4.800 17.900 5.400 50.300 15.000<br />

RN 53.015 2.000 800 5.200 1.500 7.600 2.300 8.600 2.700 24.200 7.300<br />

PB 56.372 2.200 700 4.400 1.300 6.600 2.000 7.400 2.200 20.600 6.200<br />

PE 98.281 3.400 1.000 6.800 2.100 10.200 3.100 11 400 3.300 31.800 9.500<br />

Al 27.652 1.200 400 2.500 700 3.700 1.300 4.000 1.200 11.400 3.400<br />

SE 21.994 1.300 400 2.500 700 3.800 1.100 4.100 1.300 11.700 3.500<br />

BA 559.95» 28 000 8.300 56.000 16.900 84.000 25.200: 93.500 28.100 261.500 78.500<br />

Su<strong>de</strong>ste 9)8.808 30.000 4.700 60.000 9.300 90.000 14.000 100.000 15.700 280.000 43.700<br />

MG 582.586 14.900 2.300 29.600 4.600 44.500 6.900. 49.400 7.800 138.400 21.600<br />

ES 45.597 2.000 300 4.000 600 6.000 900 6.700 1.100 18.700 2.900<br />

RJ 43.305 1.700 300 3.500 500 5.200 800 5.600 900 16.000 2.500<br />

SP 247.320 11.400 1.800 22.900 3.600 34.000 5.400 38.400 5.900 106.900 16.700<br />

Sul 562.071 15.000 2.400 30 000 4.700 45.000 7.100 50.000 7.600 140.000 21.800<br />

PR 199.060 8.300 1.300 15.700 2.600 25.000 3.800 27.900 4.300. 77.900 12.100<br />

SC 95.483 2.900 500 ■ 5.800 900 8.700 1.400 9.000 1.400 27.000 4.200<br />

RS 267.522 3.800 600 7.500 1.200 11.300 1.800 12.500 1.900 35.100 5.500<br />

<strong>Centro</strong>-Oeste 1.879.356 22.500 8.100 45.000 16.200 67.500 24.300 75.000 27.000 210.000 75.600<br />

MT 881.001 4.500 1.600 9.000 3.300 13.500 4.900 14.900 5.300 41.900 15.100<br />

MS 350.548 4.400 1.600 8.900 3.200 13.300 4.800 14.600 5.200 41.200 14.800<br />

GO 642.036 13.500 4.870 26.800 9.630 40.300 14.500 44.900 16.200 125.500 45.200<br />

Df 5.771 100 30 300 70 400 100 600 300 1.400 500<br />

<strong>terragente</strong> 24


modificada. Isto significa que o governo<br />

quer "evitar" a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> novos con<br />

flitos, bem como tenta tirar <strong>de</strong> seus "om-<br />

bros" a responsabilida<strong>de</strong> pela imediata s£<br />

lução dos conflitos hoje existentes.<br />

A quarta modificação é uma vo^<br />

ta ao passado. Novamente se ouve agora<br />

da'"boca" do próprio governo -.que a Re-<br />

forma Agrária <strong>de</strong>ve ser feita_prioritaria-<br />

mente em terras, públicas e não em terras<br />

privadas (leia-se latifúndios]. Assim es-<br />

tá aberta a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> que os agri-<br />

cultores sem terra voltem a receber prio-<br />

ritariamente aqueles "belos lotes <strong>de</strong> ter-<br />

ra", só que lá perto da Amazônia on<strong>de</strong> o g£<br />

verno possui a maioria <strong>de</strong> suas terras.<br />

A quinta modificação diz respei^<br />

to ã colonização. Na proposta inicial o<br />

governo dizia que não iria criar novos pro<br />

Jetos <strong>de</strong> colonização no mínimo até 1987.<br />

CUT <strong>de</strong>nuncia e político<br />

nega assassinato <strong>de</strong> 27<br />

posseiros no Maranhão<br />

São Paulo — O Partido dos Trabalhadores e a Central Única<br />

dos Trabalhadores divulgaram nota <strong>de</strong>nunciando o assassinato <strong>de</strong><br />

27 posseiros na Fazenda Capoema, município <strong>de</strong> Santa Luzia,<br />

próximo a Imperatriz, no Maranhão. Ouvido por telefone, o<br />

Prefeito <strong>de</strong> Santa Luzia, Antônio Brás (PFL), disse que morreram<br />

dois posseiros e um pistoleiro e que as informações alarmantes são<br />

divulgadas "pela oposição, pelo recém-criado sindicato dos traba-<br />

lhadores e pelos padres, que até estimulam a invasão <strong>de</strong> proprie-<br />

da<strong>de</strong>s".<br />

A nota conjunta PT/CUT diz que os crimes foram cometidos<br />

por pistoleiros na noite <strong>de</strong> terça-feira e que outros 32 posseiros<br />

foram mortos nos últimos 15 dias, perfazendo 60 mortes por<br />

conflitos <strong>de</strong> terras na área. A nota acusa como mandante o<br />

"grileiro Francisco Simeão Neto, o Chico Rico", que —diz ainda a<br />

nota—"tem ligações com a Secretaria da Indústria e Comércio do<br />

Governo do Paraná.<br />

Área conflagrada<br />

A CUT e o PT atribuem os conflitos à falta <strong>de</strong> "uma reforma<br />

agrária efetiva, que resolva os problemas do campo". O vice-<br />

presi<strong>de</strong>nte da CUT, Avelino Ganzer, viajou ontem para o<br />

Brigada faz treinos<br />

contra guerrilha<br />

Atravfca do oficio, o comandante do Batalh&o <strong>de</strong> Choque<br />

da Brigada MUltar. coronel Anísio Seero Portllbo, confir-<br />

mou a Ida <strong>de</strong> uma traçio daquela unida<strong>de</strong> paraa localida-<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong> Itapuft para um exer<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa Interna e territo-<br />

rial, conforme Informou a seçfio Crime e Castigo <strong>de</strong> on-<br />

tem. Revela o oficio aue "Segundo a Lei n?. 7.6M. <strong>de</strong> 30 <strong>de</strong><br />

ENQUANTO ISSO,<br />

■- a luta pela terra=<br />

Agora o governo não diz nada sobre datas.<br />

Isto abre a possibilida<strong>de</strong> inclusive <strong>de</strong><br />

que novos projetos oficiais <strong>de</strong> colonização<br />

sejam utilizados como forma <strong>de</strong> "fazer a<br />

Reforma Agrária".<br />

A sexta modificação trata da<br />

mais importante ferramenta que o^ governo<br />

tem para implantar a Reforma Agrária com<br />

rapi<strong>de</strong>z e eficiência. Este instrumento é<br />

a <strong>de</strong>sapropriação <strong>de</strong> terras. Segundo a pro<br />

posta inicial a <strong>de</strong>sapropriação seria uti-<br />

lizada como o principal meio para obtenção<br />

<strong>de</strong> terras visando os reassentamentos. Ago<br />

ra esta ferramenta é secundarizada e o go<br />

verno vai priorizar a utilização <strong>de</strong> suas<br />

terras e a negociação como meios <strong>de</strong> im-<br />

plantação da Reforma Agrária. Isto certa-<br />

mente terá um efeito <strong>de</strong> tornar muito mais<br />

lento e difícil a aplicação do PNRA.<br />

Maranhão, para ajudar as famílias no resgate dos corpos, já que,<br />

segundo a CUT, os proprietários das terras não permitem que os<br />

mortos sejam retirados e, até ontem, os parentes não teriam<br />

conseguido retirar dois corpos <strong>de</strong> posseiros assassinados na<br />

semana passada.<br />

Segundo o Prefeito <strong>de</strong> Santa Luzia (12 mil 500 km 2 e 100 mil<br />

habitantes), "o movimento da reforma agrária também está<br />

criando, problema, porque o povo não está enten<strong>de</strong>ndo bem e fica<br />

invadindo terras". Antônio Brás, que veio do PDS, diz que o<br />

<strong>de</strong>stacamento policial vasculhou a região — on<strong>de</strong> 1 mil 400<br />

famílias, segundo a CUT, lutam pela terra — e só encontrou dois<br />

corpos. O prefeito admite que boa parte das fazendas da região é<br />

<strong>de</strong> terras improdutivas: "Existem proprieda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> 40, 50 e até 110<br />

mil hectares e não se usa nem 20 mil hectares. A reforma agrária<br />

seria uma gran<strong>de</strong> coisa, quando menos porque regularizaria a<br />

posse da terra".<br />

Prisão <strong>de</strong> lavradores<br />

causa tensão na Bahia<br />

Salvador — Com a <strong>de</strong>cretação da prisão preventiva <strong>de</strong> 14<br />

posseiros e a <strong>de</strong>tenção efetiva <strong>de</strong> cinco <strong>de</strong>les, voltou a ficar muito<br />

tensa a situação na Vila Tancredo Neves, no Município <strong>de</strong><br />

Wenceslau Guimarães, a 280 quilômetros <strong>de</strong>sta Capital, on<strong>de</strong> está<br />

em fase adiantada um projeto <strong>de</strong> assentamento <strong>de</strong> 173 famílias <strong>de</strong><br />

trabalhadores rurais que viviam em permanente conflito com a<br />

empresa S/A Lopes Marques, que se diz proprietária das terras.<br />

ZH 18.10.85<br />

novembro <strong>de</strong> 1981 (Lei <strong>de</strong> Organização Básica da Brigada<br />

Militar). Art. iS, parágrafo 3? — o Batalh&o <strong>de</strong> Policia <strong>de</strong><br />

Choque tem como missão legal á eontraguerrilha urbana<br />

e rural, po<strong>de</strong>ndo ser empregado em outros tipos <strong>de</strong> poli-<br />

ciamento".<br />

O mesmo oficio esclarece que "Desse dispositivo legal,<br />

<strong>de</strong>preen<strong>de</strong>-se que o Batalhflo <strong>de</strong> Choque <strong>de</strong>verá manter-se<br />

a<strong>de</strong>strado para o emprego em operações rurais, tais co-<br />

mo: controle <strong>de</strong> populaçfio. manutenção da or<strong>de</strong>m em<br />

possíveis conflitos referentes i posse <strong>de</strong> terra, conflitos<br />

entresüvícolas,etc". ZH 09.10.85<br />

= <strong>terragente</strong> 25:


a luta pela terra<br />

e agora?<br />

Coi i a assinatura do PNRA pelo<br />

governo, a 1 ita pela Reforma Agrária en<br />

tra em uma nnva fase. As "regras do jogo"<br />

foram <strong>de</strong>finidas e parece que a "primeira<br />

batalha" foi ganha pelos latifundiários e<br />

empresários rurais com o apoio <strong>de</strong>cisivo<br />

dos militares;<br />

Esta vitória fica clara quando<br />

se vê que o presi<strong>de</strong>nte do INCRA, José Go-<br />

mes da Silva se <strong>de</strong>mitiu do cargo por achar<br />

que o PNRA divulgado e assinado pelo presi.<br />

<strong>de</strong>nte não tem como ser executado. A queda'<br />

do presi<strong>de</strong>nte do INCRA não <strong>de</strong>termina isola<br />

damente que hajam gran<strong>de</strong>s alterações na ro<br />

ta do governo para a Reforma Agrária. Esta<br />

<strong>de</strong>missão é apenas um reflexo das dificulda^<br />

<strong>de</strong>s que o MIRAD (Ministério do Desenvolvi-<br />

mento e Reforma Agrária) vem encontrando '<br />

para trabalhar a questão da Reforma Agrári<br />

a. Pelas modificações que o Plano Nacional<br />

PNRA sobreu ficam colocadas novas dificul<br />

da<strong>de</strong>s para o Movimento dos Trabalhadores<br />

Rurais sem Terra e para todos aqueles que<br />

lutaram pela Reforma Agrária massivaesob<br />

controle dos trabalhadores. Agora a luta<br />

vai exigir uma maior organização e res<br />

postas a nível nacional. Estas respostas<br />

a nível nacional passam a ser fundamentais<br />

porque o governo centralizou as <strong>de</strong>cisões<br />

sobre a Reforma Agrária no Palácio do Pia<br />

nalto. com isto tenta minimizar as lutas<br />

específicas <strong>de</strong> cada região. Da mesma for-<br />

ma passa a ter cada vez mais importância<br />

a articulação <strong>de</strong> Comitês pela Reforma A<br />

grária massivos e extremamente atuantes<br />

para contrabalançar a campanha dos anti-<br />

-Reforma Agrária. Além disso é necessário<br />

ainda pressionar o governo para que o seu<br />

tímido plano <strong>de</strong> reforma agrária seja ime-<br />

diatamente executado. Sem dúvida o momen-<br />

to <strong>de</strong> agora é <strong>de</strong>cisivo e quem quer ver a<br />

Reforma Agrária na prática não po<strong>de</strong> mais<br />

ficar parado.<br />

ÁREA NECESSÁRIA E AS FAMÍLIAS BENEFICIÁRIAS<br />

(Por unida<strong>de</strong>s da Fe<strong>de</strong>ração, no período <strong>de</strong> 85 a 89)<br />

<strong>terragente</strong> 26


======== a luta pela terra<br />

1 • MOVIMENTO DOS SEM TERRA<br />

Darci Maschio<br />

No dia 25 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1984 o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra '<br />

veio a Porto Alegre, na se<strong>de</strong> do INCRA para fazer uma gran<strong>de</strong> manifestação on<strong>de</strong> era exigida<br />

uma solução para o problema agra rio em nosso Estado e no paTs. Naquela oportunida^<br />

<strong>de</strong> o TERRAGENTE entrevistou Darci Mas chio, representante do Movimento dos Sem Terra so<br />

bre a situação do movimento e também sobre as questões mais importantes que se colocavam<br />

naquele momento. Passado mais <strong>de</strong> um ano o TERRAGENTE volta a falar como Darci Mais<br />

chio, agora na direção nacional do Mo vimento dos Sem Terra após a realização do l^Q Con<br />

gresso Nacional dos Sem Terra. Naquel a época o TERRAGENTE colocava algumas questões ^<br />

que hoje vão ser colocadas <strong>de</strong> novo pa ra se fazer um balanço do movimento do ano passado<br />

para cã.<br />

TERRAGENTE - Como é que evoluiu a participação^'<br />

dos Sindicatos dos Trabalhadores Rurais no auxí-<br />

lio, na cooperação e na luta do dia-a-dia junto'<br />

com o Movimento dos Sem Terra?<br />

DARCI- Bom, na época em 84 quandonõsestivemos<br />

aqui no INCRA, naquela manifestação nos iramos<br />

ainda 20 e poucos municípios engajados na luta<br />

e o movimento sindical tinha sérias dúvidas so<br />

bre o nosso movimento. Sempre os dirigentes sin<br />

dicais nos acusavam <strong>de</strong> fazer movimentos parale-<br />

los e que po<strong>de</strong>riam ser até oposições sindicais.<br />

Portanto colocavam todo o tipo <strong>de</strong> impedlho na<br />

nossa luta, impedindo a nossa organização,inclu<br />

sive na época a gente teve sérias brigas com o<br />

movimento sindical. Hoje a realida<strong>de</strong> mudou, o<br />

movimento sindical reconhece a autonomiadosSem<br />

Terra, reconhece que o crescimento que nós tive<br />

mos do ano passado para cã foi um crescimento<br />

assustador, o qual o movimento sindical daquela<br />

época até hoje nao teve conquistas <strong>de</strong>ntro do mo<br />

vimento e nós do Movimento dos Sem Terra tive<br />

mos inclusive a ocupação em Santo Augusto. De<br />

pois, consequentemente, uma vitória e o aumento<br />

<strong>de</strong> companheiros que se engajavam na luta. Tive-<br />

mos várias reuniões, inclusive com os diretores<br />

da FETAGj on<strong>de</strong> colocamos <strong>de</strong> que a nossa inten-_<br />

ção não e tomar os sindicatos, nossa intenção i<br />

simplesmente se organizar e conquistar o nosso<br />

pedaço <strong>de</strong> terra, só que ai os sindicalistas que<br />

colocavam impecilho no meio da luta, claro, sem<br />

dúvida, nós procurávamos tirar eles da estrada.<br />

TERRAGENTE - Como está a situação do Movimento '<br />

dos Sem Terra no Rio Gran<strong>de</strong> do Sul, quantosmun^<br />

cípios estão organizados, qual foi a evolução do<br />

ano passado para cá?<br />

DARCI- Bom, como eu dizia no ano passado eram 20<br />

municípios aproximadamente. Hoje nós temos 60<br />

municípios na luta. Agora o movimento i mais e£<br />

truturado , hoje nós temos comissões municipais,<br />

a_Comissão Regional, a Comissão Estadual e tam<br />

bém eleita a Comissão Executiva Nacional. Eu re<br />

presento no Rio Gran<strong>de</strong> do Sul a Comissão Execu-<br />

tiva Nacional do movimento que inclusive é um<br />

motivo <strong>de</strong> honra para nós que agora, assumida a<br />

Nova República, mudaram até a tática <strong>de</strong> como re<br />

ceber. Nós fomos recebidos muito bem em Brasília,<br />

tivemos audiência, que inclusive convém salien<br />

tar, o próprio movimento sindical ignorava, du-<br />

vidava que nós chegássemos em BrasTlia a falar<br />

com o ministro o qual nós fizemos ooraue nós va<br />

mos ataliando por on<strong>de</strong> é mais perto. Não abe<strong>de</strong><br />

centos essa conjuntura sindical, esta estrutura<br />

sindical. Nós vamos da base direto aon<strong>de</strong> for ne<br />

cessário e assim o movimento cresceu, teve mais<br />

crédito porque nós não fizemos muita cerimônia,<br />

para pedir as coisas. Aquilo que nós sentimosfo<br />

mos lá em BrasTlia e dissemos. Aquilo que_ os<br />

trabalhadores querem que diga, aquilo que é re<br />

almente o problema, estamos exigentes, não esta<br />

mos esperando muito. Enten<strong>de</strong>mos a conjuntura po<br />

litica do momento como diz a "Nova República",<br />

mas mesmo assim nós não paramos, o movimento a<br />

cada dia adquire mais força, credibilida<strong>de</strong> e<br />

mais gente na luta.<br />

"...o povo já está cheio <strong>de</strong> amarras, o po<br />

vo jã esta com o saco cheio <strong>de</strong> todo mundo<br />

impedir, <strong>de</strong> ter que pedir na porta | ro se<br />

cretario aten<strong>de</strong>r, pro guarda pra pooer en<br />

trar, pro secretário do secretario. E<br />

<strong>de</strong>ntro do movimento sindical muitas vezes<br />

se vê a mesma coisa: basta ver a estrutu-<br />

ra do sindicato, das regionais, da :e<strong>de</strong>ra<br />

ção, da confe<strong>de</strong>ração, até chegar no Minis<br />

têrio do Trabalho..."<br />

<strong>terragente</strong> 27:<br />

^


a luta pela terra<br />

TERRAGENTE - Outra coisa que sempre fica no ar<br />

para muitas pessoas é como po<strong>de</strong> que por exemplo<br />

na Bahia, em Rondônia, no Maranhão, até no Mato<br />

Grosso, on<strong>de</strong> os conflitos pela terra são_ muito<br />

mais acirrados e o movimento nem sempre é tão<br />

organizado. Em contra partida,aqui no Rio Gran-<br />

<strong>de</strong> do Sul a luta, o Movimento dos Sem Terra con<br />

seguiu uma organização ate superior a outros Es<br />

tados. Como é que se po<strong>de</strong> enten<strong>de</strong>r essa diferen<br />

ça <strong>de</strong> organização e como é que o Movimento dos<br />

Sem Terra está pensando em ultrapassar esse mo<br />

mento?<br />

DARCI- Bom, sem duvida <strong>de</strong> que no Rio Gran<strong>de</strong> do<br />

Sul, o Estado como organização é o que esta ma<br />

is organizado_digamos, e o fato <strong>de</strong> outros Esta-<br />

dos on<strong>de</strong> se dá a luta mais a acirrada não está<br />

tão organizado como o caso do Rio Gran<strong>de</strong> do Sul,<br />

é fácil <strong>de</strong> enten<strong>de</strong>r. Aon<strong>de</strong> os conflitos se dão<br />

mais seguidamente, inclusive apelando para as<br />

próprias armas, diminui o tempo dos trabalhado-<br />

res pensarem, sentarempara estudar. 0 caso do<br />

Rio Gran<strong>de</strong> do Sul que nós não per<strong>de</strong>mos tempo,h5s<br />

nos fins <strong>de</strong> semana tiramos para se reunir,para<br />

discutir com a companheirada, assim avança mais<br />

a organização nossa a nível <strong>de</strong> Estado. 0 caso<br />

que por exemplo na Bahia e outros Estados on<strong>de</strong><br />

o conflito armado se dã todas as semanas,da'pa-<br />

ra se enten<strong>de</strong>r que lã eles para sentarem-se e<br />

estudarem tem que estar com a espingarda do ]a<br />

do da ca<strong>de</strong>ira, Então eles tem que se sentar rã<br />

ras as vezes. Vão mais na luta concreta que se<br />

cria mediante a própria miséria do trabalhador,<br />

e a exploração do latifundiário e do grileiro.<br />

Então a organização <strong>de</strong>les cresce na medida em<br />

que crescem os conflitos, e nós aqui aproveita-<br />

mos enquanto que não tem conflito que não se sa<br />

be se nao vai ter um dia, para se sentar, discü<br />

tir e ver inclusive estratégias e também se a<br />

profundar um pouco mais no conhecimento políti-<br />

co. NÓS do Rio Gran<strong>de</strong> do Sul enten<strong>de</strong>mos que o<br />

problema da terra e todos os problemas brasile^<br />

ros não vão se resolver dando um pedacinho <strong>de</strong>.<br />

Invasões maciças:<br />

a ameaça do<br />

movimento dos<br />

sem-terra<br />

O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra<br />

reiterou ontem, em São Paulo, após examinar o Plano<br />

Nacional <strong>de</strong> Reforma Agrária ÍPNRA), sua posição <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ar um processo maciço <strong>de</strong> Invasões <strong>de</strong><br />

áreas que consi<strong>de</strong>ram Improdutivas nos doze Estados<br />

on<strong>de</strong> possuem representação.<br />

Na opinião do integrante da executiva nacional da<br />

entida<strong>de</strong>, Laíaiete Pereira Biet, o movimento consi<strong>de</strong>-<br />

<strong>terragente</strong> 28<br />

terra para nós, vai se dar o dia que o trabalhèT<br />

dor tomar consciência política e também ocupar<br />

os espaços políticos^ botando os seus represen-<br />

tantes inclusive a nível <strong>de</strong> Estado como <strong>de</strong>puta-<br />

dos, a nível nacional no Congresso e inclusive,<br />

estamos pensando aqui no Rio Gran<strong>de</strong> do Sul como<br />

a questão da_Constituinte que está ai lançada em<br />

discussão até em boteco <strong>de</strong> esquina. Nós estamos<br />

discutindo politicamente que o problema -para não<br />

se resolve apenas ocupando um pedaço <strong>de</strong> terra^<br />

se resolve ocupando toda essa máfia oue tem ai<br />

comandando o país que mesmo que tenha mudado <strong>de</strong><br />

militares para a Nova Republicaj não mudou-<br />

a classe que domina que é isso que é importante<br />

para nós, principalmente da li<strong>de</strong>rança do movimen<br />

to. Temos claro que_nao mudou a classe que domí<br />

na e isso é o que nós queremos mudar, mudar o<br />

sistema e não apenas o regime <strong>de</strong> governo.<br />

itKKAGtNit- uma ultima colocação Darci: como é<br />

que o Movimento dos Sem Terra vi a continuida<strong>de</strong><br />

da luta? Quais as formas <strong>de</strong> luta do Movimento?<br />

No ano passado tu falavas que o movimento ainda<br />

tinha muito a se organizar, colocava que o mov^<br />

mento alim<strong>de</strong> pressionar no INCRA e vir fazer<br />

manifestações como tinha feito no dia 25 <strong>de</strong> ju-<br />

lho <strong>de</strong> 1984, começaria a ter outras formas <strong>de</strong><br />

luta, como acabou havendo mesmo com a ocupação<br />

<strong>de</strong> terras.<br />

DARCI- Bom, a estratégia do movimento na época,<br />

em 84 quando eu falava_para o TERRAGENTE era<br />

realmente ocupar, só nós tínhamos em sigilo e<br />

foi o que nós fizemos. Hoje nós já dizemos pu<br />

blicamente, inclusive, dissemos ao INCRA,ao re-<br />

presentante do presi<strong>de</strong>nte do INCRA <strong>de</strong> Brasília,<br />

que caso eles venham a enten<strong>de</strong>r a reivindicação<br />

tudo bem, caso contrário, nós estamos dizendo<br />

publicamente que vamos ocupar e não vamos recu<br />

ar, nós temos claro que queremos é avançar na<br />

luta e conquistar a terra, não importa o que é<br />

necessário fazer, se for necessário ocupar con-<br />

tinuaremos ocupando as terras.<br />

' ewse A<br />

ra que suas reivindicações não foram atendidas pelo<br />

Governo e que estão esgotados, a partir <strong>de</strong> agora, to-<br />

dos os caminhos que conduzem ao entendimento.<br />

— O Governo brincou com os trabalhadores. Demos<br />

crédito ao Plano Nacional da Reforma Agrária e fo-<br />

mos frustrados, porque não fomos levados a sério, ob-<br />

servou.(AG) ZH 12.10.85


2- REASSENTADOS<br />

Lk grupo <strong>de</strong> quase 100 famílias<br />

<strong>de</strong> agricultores, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> muito lutarem'<br />

para conseguir terras pelas vias legais '<br />

resolveram que não havia mais solução,que<br />

seu caminho era as vias <strong>de</strong> fato e ocupa-'<br />

ram uma área <strong>de</strong> terras da Estação Experi-<br />

mental do governo do estado do Rio Gran<strong>de</strong><br />

do Sul no município <strong>de</strong> Santo Augusto, A o<br />

cupação ocorreu no dia 28 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong><br />

1984 e no mesmo dia os^agricultores foram<br />

expulsos. Três dias após serem enxotados'<br />

violentamente pela Brigada Militar, eles<br />

foram para uma ãrea <strong>de</strong> apenas 2 hectares'<br />

PINHEIRO - Bom, a gente enfrentou muita dificu^<br />

da<strong>de</strong> ate inclusive a li<strong>de</strong>rança enfrentou a pres<br />

são da polícia, mas graças a união do povo, a o?<br />

ganizaçao, a consciência <strong>de</strong> que era sõ com luta<br />

para nós conseguir a terra, então a gente resis-<br />

tiu a tudo isso graças a população riogran<strong>de</strong>nse<br />

que nos ajudou, nos apoiaram, nos <strong>de</strong>ram forca.N5s<br />

consi<strong>de</strong>ramos uma vitoria muito gran<strong>de</strong> porque as<br />

simjmntos colonos sem terra, muitos companheiros<br />

estão enten<strong>de</strong>ndo, estão compreen<strong>de</strong>ndo e acredi-<br />

tando nos próprios companheiros, que é sõ com or<br />

ganizaçao e união para conseguir as vitórias.<br />

TERRAGENTE - 0 Pinheiro levantou uma questão que<br />

e bastante importante, que i a questão da organi<br />

zação e da luta do pessoal. Principalmente dos ã<br />

gricultores sem terra que provaram que mesmo num<br />

governo do PDS, um governo eleito ainda na época<br />

do regime militar, um governo que i claramente<br />

contra o movimento dos Sem Terra, os agricultores<br />

sem terra do Rio Gran<strong>de</strong> do Sul com sua organiza-<br />

ção conseguiram conquistar a terra. Pinheiro, o<br />

que tu acha que foi mais importante nesse tempo<br />

todo para que mantivesse o pessoal unido além do<br />

apoio que recebiam <strong>de</strong> várias entida<strong>de</strong>s. Igreja,<br />

et . Como era a participação do sindicalismo e<br />

quais foram os outros acordos que vocês acharam<br />

mais importantes para conseguir esta vitória?<br />

PINHEIRO- Bom, da parte do sindicato foram muito<br />

poucos sindicatos combativos que estiveram dis-<br />

postos na luta e uma entida<strong>de</strong> muito forte sempre<br />

presente nas horas <strong>de</strong> mais dificulda<strong>de</strong> seria a<br />

FRACAB e a CUT que foram umas entida<strong>de</strong>s que até<br />

ficaram marcadas pelas nossas autorida<strong>de</strong>s do Es-<br />

tado, isso a gente sabe e eu posso contar com<br />

muita certeza é a própria imprensa nos <strong>de</strong>u muita<br />

força, muito apoio e assim a gente conseguiu a<br />

proveitando os espaços <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s atos públicos<br />

realizados aqui em Porto Alegre, jornal, rádio e<br />

televisão e assim com nosso talento, com a nossa<br />

coragem, com a nossa capacida<strong>de</strong> nós conseguimos<br />

<strong>de</strong>nunciar muitas injustiças que vinham tendo no<br />

Movimento dos Sem Terra.<br />

TERRAGENTE- Pinheiro, outra dúvida que sempre<br />

resta ate para os trabalhadores rurais em geral<br />

Rnheiro<br />

a luta pela terra<br />

em Erval Seco, no local chamado "Estrada<br />

da Fortaleza" on<strong>de</strong> se iniciou, enfrentou'<br />

e terminou um gran<strong>de</strong> capítulo da história<br />

do Movimento Sem Terra no Rio Gran<strong>de</strong> do'<br />

Sul e que os levou a mais uma vitória.<br />

Abaixo, o TERRAGENTE publica u<br />

ma entrevista feita com o Pinheiro que T<br />

foi um dos dirigentes do acampamento <strong>de</strong> '<br />

Erval Seco, on<strong>de</strong> ele nos conta um pouco<br />

das dificulda<strong>de</strong>s enfrentadas e como estão<br />

agora as famílias acampadas em Tupancire-<br />

tã.<br />

i que eles não acreditam muito em si mesmos, £<br />

cham que não tem condições <strong>de</strong> se organizar, <strong>de</strong><br />

lutar, <strong>de</strong> enfrentar batalhas. Como e que foi que<br />

os Sem Terra se organizaram lã no acampamento mes<br />

mo para resistir esses meses todos, e como é que<br />

faziam para dividir os alimentos, etc. Como é<br />

que era a organização interna do acampamento?<br />

PINHEIRO- Bom, a primeira coisa é que foi uma or<br />

ganizaçao muito importante que nasceu da " base,<br />

<strong>de</strong> nós, eu como sou um dos criadores do Movimen-<br />

to dos Sem Terra, a gente iniciou uma caminhada,<br />

uma nova caminhada e a dificulda<strong>de</strong> maior que a<br />

gente encontrou foi a não participação do próprio<br />

colono sem terra que não acreditava gor ser um<br />

camarada pobre, inexperiente.e nós tínhamos,por<br />

que a gente teve muita experiência <strong>de</strong> ocupação,<br />

_<strong>de</strong> <strong>de</strong>spejo, então quando chegamos no acampameji<br />

to <strong>de</strong> Erval Seco o pessoal ja estava consciente,<br />

<strong>de</strong> que era sõ com luta para conseguir a terra<br />

Nós sempre colocamos para os companheiros o exem<br />

pio <strong>de</strong> Ronda Alta, <strong>de</strong> 600 famílias <strong>de</strong>sistiram mm<br />

tas porque a não participação nas reuniões,a nao<br />

participação na oração, que a gente tem por cos-<br />

tume, usou muito a Bíblia, usou rezar muito e pe<br />

dimos a Deus que isso viesse a acontecer e assim<br />

a gente colocava na cabeça dos companheiros que<br />

participassem das reuniões que participassem das<br />

<strong>de</strong>cisões que assim a li<strong>de</strong>rança levava ao conheo<br />

mento das autorida<strong>de</strong>s.<br />

TERRAGENTE - Bom, mais importante e o que foi<br />

mais significativo foi que após nove meses apro-<br />

ximadamente, gran<strong>de</strong> parte <strong>de</strong>ssas famílias foram<br />

assentadas em Tupanciretã e uma outra parte das<br />

famílias ficou em Erval Seco mesmo. Afinal <strong>de</strong> con<br />

tas o que interessa mesmo é que todas essas famT<br />

lias, a gran<strong>de</strong>jnaioria foi reassentada e foi mais<br />

uma gran<strong>de</strong> vitória. Como é que está agora o pes-<br />

soal lã em Tupanciretã, Pinheiro?<br />

PINHEIRO- Quanto a nossa companheirada <strong>de</strong> Tupan-<br />

ciretã, estão todos felizes, todos contentes, o<br />

apoio em nosso favor ê bastante. A Universida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> Santa Maria nos dando muito apoio, essa equi-<br />

pe da Agronomia, tem mais uma engenheira elétri-<br />

terr agente 29


=a luta pela terra<br />

ca que está a nossa disposição, tem a Igreja,por<br />

exemplo^ a Rádio Medianeira que é da Igreja a<br />

gente já ocupou, já nos serviu, a gente fez pro<br />

grania lã, repercutiu muito bem e a própria popu-<br />

lação <strong>de</strong> Tupanciretã, a Prefeitura, EMATER, um<br />

pessoal que acabou vindo nos apoiar.<br />

TERRAGENTE - Pinheiro, e agora enquanto o pesso-<br />

al ainda nao tem todo o equipamento necessário,<br />

nao tem nem casa para morar, estão morando em<br />

baixo mesmo <strong>de</strong> barracos, quejnoravam em Erval Se<br />

co, como é que o pessoal está vivendo, como que<br />

está sobrevivendo, on<strong>de</strong> é que está trabalhando,o<br />

que é que o pessoal está fazendo?<br />

PINHEIRO- Bom, tu sabe que Tupanciretã é uma re-<br />

giao_<strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s latifundiários, a nossa chegada<br />

lá já foi um espinho para eles, já foi uma infe-<br />

licida<strong>de</strong>, eles não gostaram disso, mesmo assim<br />

eles se propõe a nos dar uma mao <strong>de</strong> uma maneira<br />

ou <strong>de</strong> outra, agora o_que a gente quer <strong>de</strong>ixar bem<br />

claro é que nós também precisamos fazer os nos^<br />

sos interesses.<br />

TERRAGENTE- E <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>sse"fazer os interesses"<br />

dos agricultores^ pessoal já está plantando ai<br />

guma coisa na própria terra, já está fazendo aT<br />

guma horta? Como e que está lã a situação?<br />

PINHEIRO- Sim, o próprio Estado liberou um tra<br />

tor e esse trator estava trabalhando, então ope£<br />

soai, enquanto nós estivemos acampados três nie<br />

ses numa agrovila lã na fazenda, eu li<strong>de</strong>rei ope?<br />

soai numa horta comunitária e essa horta nós fT<br />

zemos com o nosso trabalho, e assim o momento que<br />

foi distribuída a terra, dali nós tiramos o trans<br />

plante para todas as hortas coletivas, então to<br />

do o pessoal tem horta. Já plantamos mandioca,<br />

plantamos cana, plantamos pasto, temos uma boa<br />

quantia <strong>de</strong> pasto, uma boa quantia da companheira<br />

da já plantaram um tanto <strong>de</strong> milho, enfim estão<br />

trabalhando, estão progredindo.<br />

TERRAGENTE - E o pessoal que está lá acampado Pi<br />

nheiro, está tudo com lote dividido, para cada<br />

família um lote, e quanto que é mais ou menos a<br />

área dos lotes que o pessoal ganhou?<br />

PINHEIRO- Bom,_aon<strong>de</strong> tem uma parte <strong>de</strong> campo hor-<br />

tado, a terra é hortada,então <strong>de</strong>u um lote <strong>de</strong> 9,5<br />

hectares, enquanto que nós do campo bruto, eu ga<br />

nhei aproximadamente 11 hectares, assim como tem<br />

lotes com 12 hectares e lotes com 10 hectares,en<br />

tão mais por isso, por ela se distribuída indivT<br />

dual, ainda nós não estamos contando, porque a<br />

gente colocou, "mesmo com a terra a luta conti -<br />

nua". Então nós estamos nos unindo cada vez mais<br />

porque é só com união, taT o exemplo da conquis-<br />

ta da terra, então nós vamos organizar uma asso-<br />

ciação que provavelmente dois grupos já po<strong>de</strong>-se<br />

dizer que ja está feito, um com treze famílias e<br />

outro com <strong>de</strong>z, on<strong>de</strong> eu participo, a gente vai tra<br />

balhar coletivo, que assim a gente tem força pa<br />

ra reivindicar aquilo que nós temos direito<br />

TERRAGENTE- E, isso que tu levantou é uma coisa<br />

interessante porque geralmente o pessoal diz por<br />

um lado que o colono, o sem terra e_um vagabundo,<br />

e tu já está mostrando que a coisa é bem ao con-<br />

trário e por outro, o pessoal diz:"ah! <strong>de</strong>pois vo<br />

cê ganha a terra, em 2 ou 3 anos já vai per<strong>de</strong>r<br />

<strong>de</strong> novo porque não sabe usar a terra". Quer di<br />

zer que os Sem Terra lã <strong>de</strong> Tupanciretã estão mol<br />

trando exatamente o contrario, quer dizer, estão<br />

se unindo, estão fazendo até horta comunitária,<br />

estão fazendo reunião <strong>de</strong> varias famílias para<br />

<strong>terragente</strong> 30<br />

trabalhar em coletivida<strong>de</strong>, em mutirão para ven<br />

cer essa dificulda<strong>de</strong>?<br />

PINHEIRO- E isso ai, quer dizer que não só em mu<br />

tirão, mas uma associação, organizar uma associa<br />

ção <strong>de</strong>finitiva, que assim a gente leve ao conhe-<br />

cimento das autorida<strong>de</strong>s a nossa reunião e a nos-<br />

sa força, nós queremos mostrar isso mesmo que fa<br />

laste, a gente foi acusado muitas vezes como va<br />

gabundo, isso e aquilo e não é bem isso aT. Quer<br />

dizer gue nós tendo a terra, tendo a infra-estru<br />

tura nos vamos mostrar as qualida<strong>de</strong>s porque eu<br />

coloquei <strong>de</strong>s<strong>de</strong> antes que teve uma equipe que <strong>de</strong><br />

começo se <strong>de</strong>ram conta da nossa vinda Ia como eu<br />

jã falei, eacusando-nos <strong>de</strong> vagabundos e isso e<br />

aquilo. E nós com esse tipo <strong>de</strong> trabalho nós esta<br />

mos mostrando que nós gueremos trabalhar, nos<br />

queremos progredir e nos queremos oarticioar.<br />

TERRAGENTE. Bom^ a gente po<strong>de</strong> ver aT, o Pinhei-<br />

ro contou para nós um exemplo muito claro <strong>de</strong> co-<br />

mo após 9, 10, 12 meses <strong>de</strong> organização e muita<br />

luta, os agricultores sem terra do Rio Gran<strong>de</strong> do<br />

Sul conseguiram mais uma gran<strong>de</strong> vitória. Pinhei-<br />

ro como i que tu acha que vai continuar crescen-<br />

do o movimento, será que o pessoal vai continuar<br />

acampando, vai ter que continuar acampando mesmo<br />

com o "novo" governo?<br />

PINHEIRO- Bom, da nossa parte nós jã colocamos<br />

muitas vezes, não acreditamos em Reforma Agrária,<br />

mas sim acreditamos na união do povo que hojemes<br />

mo a gente reunido com o pessoal do ministro da<br />

agricultura, nós <strong>de</strong>ixamos bem claro que com orga<br />

nização, com união, com pressão, nós vamos conse<br />

guir asnossas reivindicações, agora ocontrário<br />

disso nós não vamos conseguir, então nós só acre<br />

ditamos em Reforma Agrária se o povo continuar £<br />

nido.<br />

coAocamo s<br />

a nossa P^nl^e^ K^s<br />

^TToO. Bom, d - a 0 acredHawos e w 0 ^03 ^<br />

^ SS0 c em Reforma W<br />

ditamos em<br />

nido.


A NOVA REPUBLICA<br />

política agrícola<br />

E OS PREQOS MÍNIMOS<br />

A ALGUM TEMPO JÂ SE TEM OUVIDO FALAR NA TAL DE NOVA REPUBLICA E DE<br />

SUAS "BOAS INTENÇÕES". O PRESIDENTE SARNEY ANUNCIOU EM SEUS DISCURSOS UMA CONDUTA<br />

VOLTADA PARA O SOCIAL. O MINISTRO DA AGRICULTURA PEDRO SIMON E SEUS ASSESSORES DIZEM<br />

ESTAR PREPARANDO UMA POLÍTICA AGRÍCOLA VOLTADA AO PBQUBND PRODUTOR E Ã PRODUÇÃO DE<br />

ALIMENIOS PARA A POPULAÇÃO. OS JORNAIS DIZHVI QUE O GOVERNO PRETENDE ELEVAR A PRODU-<br />

Ç&) AGRÍCOLA EM 5% ATÉ O PRÓXIMD ANO. MAS SERÁ QUE A NOVA REPUBLICA TEM MESMO ESTAS<br />

BOAS INTENÇÕES? O CASO DA DEFINIÇÃO DA POLÍTICA DE PREÇOS MlNIMDS RESPONDE BEM A ES<br />

TA PERGUNTA.<br />

0 ministro Simon, da Agricultura,<br />

fez um gran<strong>de</strong> alar<strong>de</strong> na imprensa no iní<br />

cio <strong>de</strong> agosto anunciando que os preços mi<br />

nimos para os alimentos básicos, como o<br />

arroz, feijão, milho e mandioca, seriam<br />

aumentados <strong>de</strong> acordo com a variação da<br />

inflação dos últimos 12 meses. Apenas os<br />

produtos <strong>de</strong> exportação, como a soja e o a_l<br />

godão, teriam os preços reajustados em ín<br />

dices inferiores ao da inflação.<br />

No entanto, o próprio Ministério<br />

da Agricultura admitia que o preço <strong>de</strong> in<br />

sumos, como o óleo diesel e fertilizantes,<br />

subiu mais do que a inflação. Portanto,<br />

mesmo que o reajuste fosse todo feito em<br />

função da inflação, os agricultores conti<br />

nuariam per<strong>de</strong>ndo dinheiro, pois os custos<br />

<strong>de</strong> produção teriam aumentado mais do que<br />

esta. Além disso, parece que o ministro<br />

se confundiu, pois corrigir os preços mi<br />

nimos em função da inflação não é um fa<br />

vor, mas uma obrigação do governo, já que<br />

os agricultores não têm motivo nenhum p£<br />

ra serem castigados pela existência da in<br />

fiação.<br />

Mas a proposta do ministro Simon<br />

com todos os seus <strong>de</strong>feitos, era ainda apj3<br />

nas uma proposta. Era preciso que o pres^<br />

<strong>de</strong>nte Sarney, em conjunto com os ministros<br />

da fazenda e do planejamento, concordasse<br />

com a tal proposta. Só que ele não concojr<br />

dou e resolveu rebaixá-la ainda mais.<br />

A imprensa anunciou que o reajus<br />

te médio dos preços mínimos, que era <strong>de</strong><br />

230%, passou para 220%. Mas esta media não<br />

representa a verda<strong>de</strong>, porque a diferença<br />

entre a proposta do Ministério da Agricul_<br />

tura e a que vai vigorar está em que, do<br />

total <strong>de</strong> 20 produtos incluidos na políti<br />

ca <strong>de</strong> garantia <strong>de</strong> preços mínimos, os sete<br />

principais tiveram seu reajuste diminuída<br />

Os outros treze, incluindo amendoim,sorgo,<br />

cera <strong>de</strong> carnaúba e outros produtos <strong>de</strong> pe<br />

quena importância, mantiveram os índices<br />

da proposta anterior.<br />

Portanto, todos os principais pro<br />

dutos agrícolas do Brasil para a safra <strong>de</strong><br />

85/86 tiveram seus preços mínimos corrigi<br />

dos abaixo da inflação do período,que foi<br />

<strong>de</strong> 217,9%. como dá pra se ver abaixo:<br />

PRODUTO NOVO PREÇO(Cr$) REAJUSTE(%) CUSTO DE PR0D.(Cr$)<br />

Arroz <strong>de</strong> Sequeiro 63.000 191,7 76.195<br />

Arroz Irrigado 61.200 186,0 60.422 V<br />

Feijão 155.000 186,0 143.121 1<br />

Milho<br />

Soja<br />

Mandioca<br />

37.200<br />

59.040<br />

169.000<br />

186.2<br />

195.2<br />

216,6<br />

43.011<br />

69.941<br />

187.190<br />

O<br />

X<br />

o<br />

u<br />

0)<br />

Sorgo<br />

34.969 217.9 -<br />

<strong>terragente</strong>sr<br />

\<br />

CO


= política agrícola<br />

Como dá pra ver também,a maioria<br />

dos novos preços mínimos está abaixo do<br />

custo <strong>de</strong> produção estimado. Quer dizer,se<br />

estes forem os preços pagos aos agriculto<br />

res, isto será o mesmo que fazer coni que<br />

eles paguem para trabalhar!<br />

E aí surge a pergunta: on<strong>de</strong> estão<br />

as boas intenções? A Nova Repúlica conti<br />

nua querendo frear a inflação apertando o<br />

Mais um escândalo no coopera-<br />

tivismo. Como esta frase já é conhecida<br />

<strong>de</strong> todos, vamos somente mudar o nome da<br />

cooperativa. Desta vez o estouro foi na<br />

COTRISA.<br />

Entre os associados melhor in<br />

formados, os comentários sobre as dificul<br />

da<strong>de</strong>s financeiras da COTRISA já não eram<br />

novida<strong>de</strong>. A maior novida<strong>de</strong> ocorreu no co<br />

meço <strong>de</strong> outubro quando a CEP(Companhia dê^<br />

Financiamento da Produção) <strong>de</strong>scobriu que<br />

o presi<strong>de</strong>nte da COTRISA, Jandir Chau <strong>de</strong><br />

Araújo e seu vice Danilo Toaldo tinham b£<br />

lado uma "jogada" para tapar o "buraco"da<br />

cooperativa. A tramóia era simples: a CO<br />

TRISA vendia a soja que pertencia ã CEP<br />

e da qual a cooperativa era fiel <strong>de</strong>posita<br />

ria, e com isto "equilibrava" o caixa.<br />

Mas a jogada não <strong>de</strong>u certo po_r<br />

que a CEP <strong>de</strong>scobriu o <strong>de</strong>svio e venda <strong>de</strong><br />

suas sementes. E o montante era <strong>de</strong> apro-<br />

ximadamente 120.000 toneladas <strong>de</strong> grãos <strong>de</strong><br />

soja.<br />

Assim, após todo o "rolo" ar-<br />

mado pela antiga diretoria, os associados<br />

se reuniram e constituíram uma diretoria<br />

provisória, <strong>de</strong>stituindo a antiga. Mas a<br />

tal diretoria está engolindo "cobras e Ia<br />

gartos" para tentar fazer o gigante quê<br />

é a COTRISA funcionar. Como acontece em<br />

todas as cooperativas do porte <strong>de</strong>sta, os<br />

associados per<strong>de</strong>m totalmente o controle e<br />

nem sabem tudo o que tem ou tudo o que <strong>de</strong><br />

vem.<br />

Na verda<strong>de</strong> o pano <strong>de</strong> fundo <strong>de</strong><br />

toda esta história é uma gran<strong>de</strong> disputa<br />

política para ver quem continua com as<br />

"ré<strong>de</strong>as" da cooperativa na mão. Por um Ia<br />

<strong>terragente</strong> 3 2=<br />

cinto dos trabalhadores, tanto rurais quan<br />

to urbanos. Continua dizendo que é preci<br />

so produzir alimentos básicos para o país<br />

("encher a panela do povo", como diziam<br />

antes), mas também não dá as mínimas con_<br />

dições pra que isto aconteça. Qual é e:n<br />

tão a diferença entre a Velha e a Nova Re<br />

pública?<br />

mais uma<br />

do foi articulada uma "Comiasao pro-preser<br />

vação da COTRISA" composta por altos fun-<br />

cionários da cooperativa, alguns sindica-<br />

tos <strong>de</strong> trabalhadores urbanos e o PMDB,PDT,<br />

PDS e principalmente o PEL.<br />

De outro lado há a direção oro<br />

visória escolhida pelos associados e sus<br />

tentada por alguns sindicatos <strong>de</strong> trabalha<br />

dores rurais combativos da região.<br />

De parte da diretoria provisó-<br />

ria, as maiores dificulda<strong>de</strong>s são a art Leu<br />

, lação dos Sindicatos <strong>de</strong> Trabalhadores Ru<br />

rais da região para garantir a continuid£<br />

<strong>de</strong> daquela e a falta <strong>de</strong> dados precisos so<br />

bre a real situação da COTRISA. Além_ dis<br />

so há uma carência <strong>de</strong> técnicos confiáveis<br />

que possam ajudar a administrar esta difi<br />

cil situação e superar este momento <strong>de</strong> im<br />

passe, garantindo a efetiva participação<br />

dos associados nos <strong>de</strong>stinos da cooperati-<br />

va.<br />

Outro fato importante é que a<br />

auditoria da FEC0TRIG0, que estava traba-<br />

lhando para <strong>de</strong>scobrir o tamanho do "bura-<br />

co" financeiro da cooperativa foi pre;sio<br />

nada a <strong>de</strong>ixar o trabalho. Esta pressãi que<br />

partia dos antigos diretores ligados ao<br />

PEL foi rechaçada pela diretoria prov sé-<br />

ria e agora a auditoria vai voltar a fun<br />

cionar.<br />

Neste jogo <strong>de</strong> pressões, só rejs<br />

ta esperar que os culpados sejam inteira-<br />

mente responsabilizados e punidos - já que<br />

hoje estão soltos - e que os agricultores<br />

não sejam prejudicados e possam partici-<br />

par efetivamente e <strong>de</strong>mocraticamente das<br />

<strong>de</strong>cisões do seu futuro.


ITAPUÃ<br />

ecologia<br />

um exemplo a ser seguido<br />

A luta pela preservação <strong>de</strong> par-<br />

ques e reservas naturais <strong>de</strong> nosso Estado<br />

não e nova. Muitas pessoas jã chamaram a<br />

atenção para o fato <strong>de</strong> que a monocultura<br />

e a urbanização <strong>de</strong>senfreada estariam ^tra<br />

zendo sérios danos ao equilíbrio ecológi-<br />

co do nosso Estado. Diversas nascentes <strong>de</strong><br />

rios jâ <strong>de</strong>sapareceram, inúmeras espécies<br />

<strong>de</strong> animais e vegetais estão extintas ou<br />

quase em extinção. A preservação <strong>de</strong> áreas<br />

com vegetação e a fauna nativas ê muito<br />

importante para evitar estes <strong>de</strong>sequilí-<br />

brios.<br />

Hoje, no nosso Estado, a luta<br />

sunbolo pela preservação <strong>de</strong> nossas áreas<br />

naturais tem sido a do Parque Estadual <strong>de</strong><br />

Itapuã. Diversas entida<strong>de</strong>s estão engaja<br />

das nesta briga.<br />

0 Parque Estadual <strong>de</strong> Itapuã fi<br />

ca ao lado <strong>de</strong> Porto Alegre, bem na regi-<br />

ão on<strong>de</strong> o Guaíba <strong>de</strong>semboca na Lagoa _ dos<br />

Patos. Neste parque, alem da vegetação ti<br />

pica da região, existe um tipo <strong>de</strong> rocha<br />

bastante raro, que ê o granito cor-<strong>de</strong>-ro<br />

sa.<br />

Este granito atraiu a atenção<br />

<strong>de</strong> diversas pedreiras que começaram a di-<br />

namitar as enormes pedras que dão uma ca-<br />

racterística toda especial ao parque.<br />

Alem disso, uma bela praia, <strong>de</strong><br />

frente para a Lagoa dos Patos, começou a<br />

ser loteada ilegalmente por especuladores,<br />

para veranistas <strong>de</strong> Porto Alegre.<br />

Abaixo, o ecologista Giovani Gre<br />

gol - secretario da Associação Gaüchâ <strong>de</strong><br />

Proteção ao Ambiente Natural (AGAPAN)-nos<br />

conta com vai a briga que as entida<strong>de</strong>s e<br />

cologicas têm travado para acabar com a<br />

<strong>de</strong>struição do Parque.<br />

ate' agora uma vitoria<br />

As pedreiras pararam. Desta vez<br />

(esperamos) para sempre. Depois <strong>de</strong> tanta<br />

luta pelo menos uma vitória na longa his-<br />

tória <strong>de</strong> 12 anos <strong>de</strong> campanha pela efetiva<br />

ção do Parque Estadual <strong>de</strong> Itapuã. Não foi<br />

fácil. Seis meses atrás ecologistas e cor_<br />

tadores <strong>de</strong> pedra fizeram um acordo que per<br />

mitia a continuida<strong>de</strong> do corte por 3 mese^<br />

enquanto uma comissão conjunta procurava<br />

uma solução que a Secretaria <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> e<br />

Meio Ambiente encaminharia.<br />

A conclusão unânime <strong>de</strong>ssa comis<br />

são, apenas 10 dias após o seu nascimento<br />

foi enviar ao Secretário Germano Bonow o<br />

pedido <strong>de</strong> transferência das pedreiras p£<br />

ra a área do Hospital Colônia ou Leprosá-<br />

rio, <strong>de</strong> proprieda<strong>de</strong> da SSMA, o qi'e fica<br />

ao lado do Parque.<br />

0 prazo <strong>de</strong> 3 meses, no entanto,<br />

se esgotou sem solução. Os cortai ores,mes<br />

mo a contragosto, cumpriram o conbinado e<br />

pararam no dia prometido. A fome e a re-<br />

volta campeavam na região. Tentou-se cul-<br />

par os ecologistas e fomos quase agredidos<br />

numa ocasião. Apenas a intervenção pes-<br />

soal e direta <strong>de</strong> vários membros 1a Comis-<br />

<strong>terragente</strong> 33:


ecologia<br />

são <strong>de</strong> luta para efetivação do Parque, con<br />

seguiu <strong>de</strong>satar o nó. Combatidos <strong>de</strong> um lã<br />

do por alguns cortadores controlados por<br />

intermediários do comércio <strong>de</strong> granito (ca<br />

minhoneiros) e <strong>de</strong> outro lado por setores<br />

do governo do Estado comprometidos com a<br />

não efetivação do Parque, atuamos entre os<br />

cortadores e nos colocamos juntos insis-<br />

tindo para que a SSMA executasse a medida<br />

requerida.<br />

0 resultado ,é que agora os cor<br />

tadores saíram do Parque, assinaram um<br />

contrato que lhes dá o direito <strong>de</strong> explorar<br />

a Região do Leprosário durante 4 anos e<br />

principalmente tem a sua situação legiti-<br />

mada e reconhecida. Como nos disse um ve<br />

lho cortador durante uma <strong>de</strong> nossas visi-<br />

tas: "Tem males que vem para bem. Eu não<br />

queria sair do Parque <strong>de</strong> jeito nenhum,mas<br />

agora reconheço que assim está melhor pa<br />

ra todo mundo".<br />

Desta forma <strong>de</strong>monstramos, mais<br />

uma vez, que ecologia e questão social não<br />

são antagônicas, mas complementares. Eco-<br />

logistas e trabalhadores unidos em função<br />

<strong>de</strong> um objetivo comum, taparam a boca na<br />

prática, dos mal intencionados e oportunis<br />

tas <strong>de</strong> todo tipo e origem que tentaram <strong>de</strong><br />

magogicamente nos jogar uns contra os oü<br />

tros alegando que os ecologistas "não tem<br />

sensibilida<strong>de</strong> social". Esse refrão muito<br />

antigo da Ditadura Militar continua ainda<br />

sendo batido por anacrônicos e/ou mal in<br />

formados.<br />

Superado o problema das pedrei-<br />

ras vamos ã outra questão urgencial do<br />

Parque: a invasão ilegal da Praia <strong>de</strong> Fora.<br />

A Praia <strong>de</strong> Fora é um dos lugares mais be<br />

los da região. Graças ao <strong>de</strong>scaso e a ir<br />

responsabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sucessivas administra<br />

ções estaduais que não fiscalizaram e naõ<br />

pagaram até hoje os proprietários, o Par<br />

que foi sendo <strong>de</strong>predado e invadido, a Prã'<br />

ia <strong>de</strong> Fora é o melhor exemplo.<br />

Ali chegou-se ao ponto <strong>de</strong> "or-<br />

ganizar", a invasão <strong>de</strong> Terras Públicas.<br />

Criou-se uma Socieda<strong>de</strong> dos (llUI) Amigos<br />

da Praia <strong>de</strong> Fora - SAPF - que começou a<br />

ocupar e lotear terrenos como se fossem<br />

seus. 0 resultado é que on<strong>de</strong> 10 anos atrás<br />

existiam 3 construções, hoje existem mais<br />

<strong>de</strong> 1000 casa. Além dos invasores existem<br />

gran<strong>de</strong>s beneficiários da situação, como.<br />

por exemplo, a Diretoria da SAPF, presid^<br />

da pelo Sr. Toríblo Santos que sempre foi<br />

na região cabo eleitoral do partido no po<br />

<strong>de</strong>r no Estado. Dessa forma enten<strong>de</strong>mos poF<br />

que as coisas custam tanto a mudar em Itã<br />

puã. Havíamos no passado constatado que a<br />

maioria dos cortadores não tinha carteira<br />

<strong>terragente</strong> 34'<br />

<strong>de</strong> trabalho e eram semi-alfabetizados. No<br />

entanto, todos tinham título eleitoral.Iri<br />

teressante, não?<br />

Os ventos estão mudando e ago<br />

ra os lí<strong>de</strong>res do loteamento clan<strong>de</strong>stino<br />

fazem contatos com elementos <strong>de</strong> vários par<br />

tidos políticos, às vezes durante belos<br />

churrascos, no sentido <strong>de</strong> buscar apoio pa<br />

ra a permanência e a regularização do que<br />

é inaceitável e injustificável: a aproprl<br />

ação privada <strong>de</strong> terras públicas <strong>de</strong>stina"<br />

das ao lazer e a preservação ambiental.De<br />

talhe: a maioria dos usuários daà casas<br />

<strong>de</strong> veraneio da Praia <strong>de</strong> Fora moram e vo<br />

tam em Porto Alegre.<br />

Mas a criação mais sorrateira<br />

e manhosa da SAPF foi a criação <strong>de</strong> um Nú<br />

cleo <strong>de</strong> Defesa Ecológica para cuja funda"<br />

mentação convidamos várias autorida<strong>de</strong>s e<br />

Entida<strong>de</strong>s Ecológicas (po<strong>de</strong>mos afirmar que-<br />

as últimas recusaram o convite). D presi-<br />

<strong>de</strong>nte <strong>de</strong>sse núcleo o Sr. Ciro Spacsek a<br />

firmou em carta ao Jornal ZH que os inva-<br />

sores da Praia <strong>de</strong> Fora amam a natureza e<br />

querem <strong>de</strong>la usufruir sem a interferência<br />

<strong>de</strong> ecologistas "a<strong>de</strong>ptos <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ologias fal<br />

sas". Pois bem, no dia 28.09.85, sábadoT<br />

os ecologistas em mais uma <strong>de</strong> suas idas<br />

semanais a Itapuã receberam da fiscaliza-<br />

ção permanente da SSMA a notícia <strong>de</strong> que<br />

naquela manhã o Sr. Ciro-, presi<strong>de</strong>nte do<br />

Núcleo <strong>de</strong> Defesa Ecológica da Soe. doa A<br />

migos da Praia <strong>de</strong> Fora, foi pego tentan<strong>de</strong>ã<br />

burlar a proibição <strong>de</strong> entrada <strong>de</strong> materiais<br />

<strong>de</strong> construção para obras na Praia, trans-<br />

portando, <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> uma Kombi, um saco <strong>de</strong><br />

cimento escondido <strong>de</strong> baixo <strong>de</strong> um colchão.<br />

Foi apanhado em flagrante. Por aí se me<strong>de</strong><br />

a "preocupação ecológica" <strong>de</strong> certas pesso<br />

as. Por essas e por outras é que estamos<br />

pedindo apoio <strong>de</strong> todos os ecologistas e<br />

simpatizantes para que nos aju<strong>de</strong>m a tirar<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>ntro do Parque este loteamento clan-<br />

<strong>de</strong>stino.<br />

FORA LOTEAMENTO CLANDESTINO DA PRAIA<br />

FORA.<br />

Grego1<br />

DE


ecologia<br />

OMELETE COM ALDRIN<br />

0 recente "inci<strong>de</strong>nte" ocorri-<br />

do em Salvador do Sul no caso das ga.l.i<br />

nhas e ovos envenenados com Aldrin nos <strong>de</strong>i<br />

xa algumas conclusões: multinacionais, oo<br />

mo a Pionner continuam mandando e <strong>de</strong>smandan<br />

do nos órgãos oficiais do Estado e do pa<br />

ís, e estes, por sua vez. com mais algu-<br />

mas provas <strong>de</strong> incompetência e até <strong>de</strong> opojr<br />

tunismo,<strong>de</strong>monstram não ter gran<strong>de</strong> interes<br />

se pela saú<strong>de</strong> da população.<br />

A Proagro Rionner, filial da<br />

multinacional americana Piònner Sementes<br />

Ltda., conseguiu uma autorização da Secre<br />

taria da Agricultura e da Saú<strong>de</strong>.e Meio Am<br />

biente para envenenar e ven<strong>de</strong>r 2.000 tone<br />

ladas <strong>de</strong> sementes <strong>de</strong> milho, mesmo <strong>de</strong>pois<br />

<strong>de</strong> ter entrado em vigor a Lei Estadual dos<br />

Agrotóxicos, que proíbe o uso <strong>de</strong> produtos<br />

organoclorados, como o Aldrin. Mais uma<br />

vez uma lei conquistada a duras penas pj3<br />

Io Movimento Ecológico do Estado é "patro<br />

lado" pela força política <strong>de</strong> uma multina-<br />

cional. Mesmo apesar da legislação,as mu^<br />

ti, velhas conhecedoras do."jeitinho bra-<br />

sileiro", continuam conseguindo fazer<br />

aqui tudo o que, nos seus países <strong>de</strong> orjL<br />

gem, é rigorosamente proibido.<br />

Como 450 das 2.000 toneladas<br />

per<strong>de</strong>ram a condição germinativa, a Pionner<br />

as ven<strong>de</strong>u, no final <strong>de</strong> 84 ã empresa Gere<br />

ais Sinos Ltda. Esta empresa, então ven<br />

<strong>de</strong>u uma parte do milho a 12 moinhos que o<br />

transformaram em ração para galinhas e su<br />

ínos (parte esta que, em gran<strong>de</strong> parte,nao<br />

foi recuperada]. Outra parte, ou melhor,<br />

140 toneladas foram vendidas â Granja Saji<br />

to Inácio <strong>de</strong> Salvador do Sul, que também<br />

utilizou o milho para produção <strong>de</strong> ração<br />

para aves. Quinze dias após o início da<br />

utilização da ração, morreram 7 mil .poe<strong>de</strong>i^<br />

ras. A produção continuou, apesar disto,<br />

porém diminuiu muito. Em fevereiro <strong>de</strong>ste<br />

ano foram chamados os técnicos da Secreta<br />

ria da Saú<strong>de</strong> para recolher amostras <strong>de</strong><br />

ovos e das galinhas. Mas estes só aparece<br />

ram em maio e os resultados das análises<br />

nunca chegaram às mãos da administração da<br />

granja. Enquanto isto, os ovos continLevam<br />

sendo vendidos à população. Mas provavel-<br />

mente o Sr. Secretário da Saú<strong>de</strong> não comia<br />

esta marca <strong>de</strong> ovos.<br />

Finalmente foram enviadas £<br />

mostras ao Ministério da Agricultura, que<br />

só em 30 <strong>de</strong> setembro (data esta que por<br />

"estranha.coincidência" é o dia mundial<br />

dos alimentos], tomou as <strong>de</strong>vidas providêjn<br />

cias. interditando -5 dos 11 aviários da<br />

empresa. Foram mortas 20 mil aves e cond£<br />

nados 370 mil ovos (fato que <strong>de</strong>u origem<br />

ao título do artigo] após a constatação<br />

<strong>de</strong> que a contaminação com Aldrin nas aves<br />

era "apenas" <strong>de</strong> 2 a 4 mil vezes além do<br />

tolerado e nos ovos, 10 vezes superior ao<br />

limite estabelecido pela Organização Mun<br />

dial da Saú<strong>de</strong>. Porém, antes <strong>de</strong>sta interdi<br />

ção ocorrer, já havia sido vendido aproxi<br />

madamente 1 bilhão <strong>de</strong>stes mesmos ovos a^<br />

população da Gran<strong>de</strong> Porto Alegre.<br />

É realmente estranho oue jus-<br />

tamente nesta data, o Ministério da Agri-<br />

cultura tenha se dado conta <strong>de</strong> que havia<br />

Aldrin naqueles ovos, quando já no começo<br />

<strong>de</strong> maio <strong>de</strong>ste ano a imprensa publicava a<br />

autuação da Mercantil <strong>de</strong> Cereais, <strong>de</strong> Guaí<br />

ba, <strong>de</strong>vida a suas instalações estarem con<br />

taminadas com este produto. Esta contami-<br />

nação era <strong>de</strong>vida ao beneficiamento <strong>de</strong> se<br />

mentes <strong>de</strong> milho compradas da nossa já c£<br />

nhecida empresa Cereais Sinos Ltda. ou se<br />

ja, a tal que ven<strong>de</strong>u parte das sementes<br />

para a Granja Santo Inácio. Será que real<br />

mente era tão difícil fazer este tipo <strong>de</strong><br />

ligação.ou será que existe um pouquinho <strong>de</strong><br />

oportunismo político <strong>de</strong> parte <strong>de</strong>ste Minis<br />

tério que não se importa muito em brincar<br />

com a saú<strong>de</strong> da população?<br />

Lembrete: o Aldrin, no corpo<br />

humano, transforma-se em Dieldrin, que é<br />

um produto bastante mais estável, permane<br />

cendo ativo por 50 anos e <strong>de</strong>positando-se<br />

nas gorduras do corpo.<br />

<strong>terragente</strong> 35:


política<br />

ASSEMBLÉIA<br />

CONSTITUINTE<br />

NAO. Nós não teremos Assembléia Constituinte. Assim como não estamos ten<br />

do Reforma Agraria, previdência digna, distribuição <strong>de</strong> renda, melhores condições <strong>de</strong><br />

vida e <strong>de</strong> trabalho...<br />

No dia 22.10, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> muita polêmica foi aprovada a emenda Samey para con<br />

vocação <strong>de</strong> Constituinte. 0 governo vence mais uma contra os interesses da maioria<br />

da socieda<strong>de</strong>. Quem garantiu esta vitoria? Alem dos conchavos do governo (PMDB) e A-<br />

liança Democrática, o congresso teve papel importante nesta trama, Como isto aconte<br />

ceu? Vamos ver mais <strong>de</strong> perto.<br />

Em agosto passado, foi apresen-<br />

tada para o Congresso Nacional a Emenda<br />

Sarney, herança ainda <strong>de</strong> Tancredo Neves ,<br />

com a proposta do governo e da Aliança De<br />

mocrática para a Constituinte, que é a s£<br />

guinte:<br />

- quem convoca a Constituinte é o Executi<br />

vo, isto é, o Presi<strong>de</strong>nte;<br />

- a eleição para a Constituinte será ape-<br />

nas em novembro <strong>de</strong> 86 e o início dos tra<br />

balhos em janeiro <strong>de</strong> 87;<br />

- a Constituinte não será exclusiva, isto<br />

quer dizer que o Congresso Nacional que<br />

sera eleito então, terã po<strong>de</strong>res Consti-<br />

tuintes, acumulando as funções ordinár^<br />

as <strong>de</strong> Congresso com as <strong>de</strong> Constituite;<br />

- preserva o mandato <strong>de</strong> 1/3 dos senadores<br />

eleitos em 82(e que não foram votados<br />

para isso!...)<br />

- mantém a representativida<strong>de</strong> <strong>de</strong>sigual do<br />

atual Congresso on<strong>de</strong> há proporcionalid£<br />

<strong>de</strong>s diferentes entre o números <strong>de</strong> votos<br />

e o número <strong>de</strong> representantes;<br />

- não revoga as leis repressivas ainda vi^<br />

gentes (Lei <strong>de</strong> Segurança Nacional, Lei<br />

<strong>de</strong> Greve, Lei <strong>de</strong> Imprensa, ETC).<br />

- propõem a Comissão <strong>de</strong> "Notáveis"como ba<br />

se para a preparação da nova Constitui-<br />

ção.<br />

<strong>terragente</strong> 36<br />

a emenda sarney<br />

Resumindo, por esta Emenda pro-<br />

posta por Sarney, não teremos Assembléia<br />

Nacional Constituinte exclusivamente elei.<br />

ta para este fim mas sim Congresso com t£<br />

dos os vícios do atual, e ainda legislan-<br />

do em causa própria.


política<br />

uma proposta alternativa<br />

Como alternativa que mais consjL<br />

<strong>de</strong>ra as exigências <strong>de</strong>finidas pelo movimen<br />

to sindical e por amplos setores da clas-<br />

se trabalhadora que discutiu a questão,só<br />

surgiu a proposta do PT (Partido dos Tra-<br />

balhadores). A proposta apresentada foi a<br />

seguinte:<br />

- quem convoca a Constituinte é o CongrB£<br />

so Nacional e não o Presi<strong>de</strong>nte da Repú-<br />

blica;<br />

- eleições específicas para a Assembléia'<br />

Constituinte em março <strong>de</strong> 86, unicameral<br />

isto é,não está dividida em Senado e Ca<br />

mara, exclusiva para elaborar e votar a<br />

nova Constituição;<br />

- para estas eleições po<strong>de</strong>rão ser eleitos<br />

todos os cidadãos brasileiros com no mi<br />

nimo 18 anos completos;<br />

- o número <strong>de</strong> representantes na Assembléi<br />

a Nacional Constituinte será calculado'<br />

proporcionalmente ao número <strong>de</strong> eleito-<br />

res por estado;<br />

- não participarão os Senadores eleitos<br />

em 82, com mandato até 1990, que o go-<br />

verno coloca como "constituintes biôni-<br />

cos" em sua emenda;<br />

- coeficiente eleitoral estadual e nacio-<br />

nal para fixar o número <strong>de</strong> representan-<br />

tes <strong>de</strong> cada partido, Serão consi<strong>de</strong>rados<br />

os votos na legenda para os partidos;<br />

- os partidos políticos que obtiverem re-<br />

registro até a data das convenções par-<br />

tidárias para escolha dos candidatos,po<br />

<strong>de</strong>rão participar das eleições da Assem-<br />

bléia Nacional Constituinte;<br />

- a propaganda eleitoral no rádio e na te<br />

levisão será em horário gratuito, distri<br />

buido igualmente entre os partidos;<br />

- a Assembléia Nacional Constituinte será<br />

instalada em Brasília em 21 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong><br />

1986 e ela própria elegerá entre os s£<br />

us membros a sua mesa diretora, e <strong>de</strong>ci-<br />

dirá sobre o prazo <strong>de</strong> seu funcionamento<br />

e data da promulgação da nova Constitui<br />

ção;<br />

- realizar eleições em 15 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong><br />

1985 em todos os municípios para compo-<br />

sição <strong>de</strong> Comissões Conselheiras Munici-<br />

pais encarregadas <strong>de</strong> formular, em 90 di^<br />

as, sugestões para elaboração da .nova<br />

Constituição que serão enviadas ã Mesa'<br />

da Assembléia Nacional Constituinte;<br />

- revogação das leis repressivas como Lei<br />

<strong>de</strong> Segurança Nacional, Lei <strong>de</strong> Imprensa,<br />

Lei <strong>de</strong> Greve, etc...<br />

Para encaminhar a sua proposta,<br />

(que na essência também é <strong>de</strong>fendida" pe-<br />

la OAB-Dr<strong>de</strong>m dos Advogados do Brasil e pe_<br />

Ia Igreja) o PT propunha uma gran<strong>de</strong> campja<br />

nha, com o povo nas ruas reivindicando os<br />

seu direito ã Constituinte Livre, Sobera<br />

na. Democrática e Exclusiva, como aconte-<br />

ceu na luta pelas "Diretas Já". Só que pa<br />

ra isto, a idéia teria que ter tido o apo^<br />

o dos gran<strong>de</strong>s partidos, que mais uma vez<br />

mostraram que não estão tão preocupados<br />

com a participação popular e com a legiti-<br />

mida<strong>de</strong> da Constituinte.<br />

a constituinte roubada<br />

Para encaminar a discussão da<br />

Constituinte, foi criada uma Comissão no<br />

Congresso Nacional, presidida pelo <strong>de</strong>puta<br />

do Flávio Bierrembach, do PMDB <strong>de</strong> São Pau^<br />

Io que, pessoalmente, simpatizava com a<br />

proposta da Constituinte exclusiva. Bier-<br />

rembach consultou vários segmentos da so-<br />

cieda<strong>de</strong> e apresentou uma proposta que a<br />

"Nova República" não engoliu:<br />

realização <strong>de</strong> um PLEBICITO em narço <strong>de</strong><br />

86 para o povo <strong>de</strong>cida se quer I onstitu-<br />

inte exclusiva ou a Emenda Sartey;<br />

caso fosse <strong>de</strong>cidido por Constituinte ex_<br />

clusiva esta seria eleita em 7 <strong>de</strong> setem<br />

bro <strong>de</strong> 86;<br />

os senadores <strong>de</strong> 82 só participariam se<br />

o Plebicito permitisse;<br />

o presi<strong>de</strong>nte da Assembléia Constituinte<br />

<strong>terragente</strong> 37 1


política<br />

seria o substituto constitucional do<br />

Presi<strong>de</strong>nte da República;<br />

- Revogação das medidas <strong>de</strong> emergência,etcj<br />

As pressas Ulisses Guimarães e<br />

Pimenta da Veiga, representando o <strong>de</strong>sejo'<br />

<strong>de</strong> Sarney, trataram <strong>de</strong> se articular com<br />

o PFL, PDS, PTB e setores do PDT para a-<br />

presentar outra proposta (assinada pelo '<br />

<strong>de</strong>putado catarinense Giavarina] recolocan<br />

do a Emenda Sarney com alguns enfeites'<br />

que resultou na renúncia <strong>de</strong> Bierrembach,'<br />

e agora?<br />

Mais uma vez. Governo e Congres<br />

so apostam na falta <strong>de</strong> experiência <strong>de</strong> paF<br />

ticipação política do povo trabalhador ¥<br />

na <strong>de</strong>bilida<strong>de</strong> das nossas organizações.Con<br />

fiam que não sabemos a diferença entre Cm<br />

gresso e Constituinte...<br />

Esquecem que este povo trabalha<br />

dor é o mesmo que repudiou o regime mili~<br />

tar, que saiu nas ruas pelas eleições di<br />

Certamente uma Constituinte Li-<br />

vre, Soberana, Democrátia e Exclusiva, se<br />

ria perigosa para este senhores, pois po~<br />

<strong>de</strong>ria alterar um pouco as coisas. A Cons-<br />

tituinte precisa ficar sob controle para<br />

que não dê um pingo <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r a mais para<br />

o povo. Para que não haja Reforma Agrária<br />

Reforma Urbana, reforma nenhuma. Para que<br />

fique tudo como está.<br />

Só que nós não aceitamos e con-<br />

tinuamos, teimosos, na luta.E vamos votar<br />

no ano que vem...<br />

* M ...... .<br />

presi<strong>de</strong>nte da Comissão, e a <strong>de</strong>rrota <strong>de</strong><br />

Plebicito.<br />

Por fim, no dia 22 <strong>de</strong> outubro '<br />

foi aprovada a proposta da Emenda Sarney<br />

(com enfeites) só tendo contra os votos<br />

do PT. PSB e setores do PDT.<br />

Não houve gran<strong>de</strong>s resistências'<br />

por parte do Congresso porque a proposta'<br />

aprovada afina perfeitamente com os inte-<br />

resses políticos dos setores que são re-'<br />

sentados neste Congresso.<br />

retas, que tem o cotidiano <strong>de</strong> muitas lutas.<br />

É um povo que ainda se confu<strong>de</strong>'<br />

na hora <strong>de</strong> transformar sofrimento em indi<br />

gnação mas que politicamente tem evoluído<br />

muito.<br />

Não vamos nos iludir com este '<br />

Congresso Constituinte que estão nos apre-<br />

sentando como um avanço histórico e uma<br />

conquista <strong>de</strong>mocrática quando sabemos que<br />

recuamos 40 anos na nossa história (Consti<br />

tuição <strong>de</strong> 46). Também sabemos que <strong>de</strong>ste" 1 "<br />

Congresso provavelmente não sairá uma Cons<br />

titulçáo que traga mudanças profundas na<br />

or<strong>de</strong>m econômica e social, que vá atacar as<br />

fontes <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r que mantêm este país numa'<br />

situação <strong>de</strong> extrema <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>. Isto por<br />

que o Congresso Constituinte muito prova-<br />

velmente será composto por senhores como '<br />

os que hoje, no atual congresso, <strong>de</strong>ci<strong>de</strong>m,'<br />

por nos, o contrario dos nossos interesses.<br />

0 QUE ti PARA OUE SERVE A CONTITUINTE/ AS CONSTITUINTES DE NOSSA HISTORIA<br />

PORQUE A CONSTITUINTE INTERESSA AOS TRABALHADORES/ CONSTITUINTE E PODER<br />

leia em CADERNO TERKAGENTE CONSTITÜIMTE, pedidos para GEA, cx.postal 10.507-POA<br />

<strong>terragente</strong> 38


Após a proclamação da República,<br />

aconteceram diversos conflitos no Brasil,<br />

envolvendo milhares <strong>de</strong> pessoas._ Exemplos<br />

representativos <strong>de</strong>stas lutas, são a Guer<br />

ra dos Canudos <strong>de</strong> 1893 a 1897, no Ceara,<br />

e a Guerra do Contestado que iniciou em<br />

1912 e esten<strong>de</strong>u-se até o início <strong>de</strong> 1916.<br />

Canudos e Contestado foram lutas<br />

eminentemente populares e que, apesar <strong>de</strong><br />

terem acontecido em regiões diferentes,são<br />

conseqüências <strong>de</strong> causas comuns: a extrema<br />

miséria e opressão em que o "caboclo" <strong>de</strong>s<br />

te país era obrigado a viver, e que com<br />

a proclamação da República e conseqüentes<br />

T<br />

memória das lutas<br />

A GUERRA<br />

DO<br />

CONTESTADO<br />

larta<br />

&& Si


memória das lutas<br />

va-mate. Finalmente os peões e agregados,<br />

viviam nas fazendas dos gran<strong>de</strong> e médios<br />

proprietários, fazendo toda a sorte <strong>de</strong><br />

serviços: cuidar o gado, extrair erva-ma<br />

te, tirar lenha, etc.<br />

Com a proclamação da Republica,<br />

em 1889 as terras <strong>de</strong>vo lutas que antes es^<br />

tavam sob a autorida<strong>de</strong> do Imperador, pa£<br />

saram para a jurisdição dos governos esta<br />

duais. As oligarquias estaduais aproveita<br />

ram-se disto para reforçar seus esquemas<br />

<strong>de</strong> favorecimento com os "coronéis", donos<br />

do po<strong>de</strong>r nos municípios. Por isto, em to<br />

do o Brasil, as terras <strong>de</strong>volutas,na maior<br />

parte das vezes ocupadas por posseiros,fo<br />

ram passando pouco a pouco para as mãos<br />

dos "coronéis". No Estado <strong>de</strong> Santa Catari-<br />

na, palco principal da revolta, a coisa<br />

nao foi diferente. Posseiros, pequenos cri<br />

adores e lavradores, começaram a ser ex<br />

pulsos das terras que ocupavam a <strong>de</strong>zenas<br />

<strong>de</strong> anos, para darem lugar ao gado dos "co<br />

ronêis". E o pior ê que jã não sobravam<br />

terras para eles, e também para os peões<br />

expulsos das fazendas. Com isto aumentava<br />

ainda mais a miséria em que jã se encon<br />

travam. Sem terra para trabalhar,passaram<br />

a viver da caça, do pinhão, e <strong>de</strong> algum<br />

serviço eventual. Isto naturamente tendia<br />

a gerar conflitos.<br />

E importante observar que, para<br />

estes "caboclos" recém expulsos <strong>de</strong> suas<br />

terras, o gran<strong>de</strong> culpado passava a ser a<br />

República. Por isto, durante a luta,con<strong>de</strong><br />

navam a Republica e pediam a restauração<br />

da Monarquia no "sertões <strong>de</strong> Contestado".<br />

2 - a penetração<br />

do capital estrangeiro<br />

Lumber and Colonization Co.", comprou 180<br />

mil ha <strong>de</strong> terra na mesma área, com o ob<br />

jetivo <strong>de</strong> explorar ma<strong>de</strong>ira para exportação<br />

Foi instalada na^região a maior empresa<br />

ma<strong>de</strong>ireira da América Latina, e para o<br />

transporte da ma<strong>de</strong>ira aos portos catari<br />

nenses foi construída mais uma estrada dê<br />

ferro, também pela "Brasil Railway".<br />

As ferrovias e o complexo ma<strong>de</strong>i<br />

reiro, fizeram com que milhares <strong>de</strong> "cabo<br />

cios" per<strong>de</strong>ssem suas terras. Até mesmo me<br />

dios e gran<strong>de</strong>s fazen<strong>de</strong>iros per<strong>de</strong>ram as<br />

terras e um gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong> pequenos ser<br />

radores foram arruinados. Estavam assim<br />

criadas as condições concretas para a eclo<br />

são <strong>de</strong> um gran<strong>de</strong> conflito na região.<br />

<strong>terragente</strong> 40<br />

Paralelamente ao avanço dos "co<br />

ronéis" sobre as terras, outro fato viria<br />

a aumentar ainda mais a tensão social na<br />

região.<br />

No início do século o Governo bra<br />

sileiro resolveu construir uma ferrovia<br />

ligando São Paulo ao Rio Gran<strong>de</strong> do Sul, e<br />

parte do traçado passava pela região <strong>de</strong><br />

Constestado. A concessão da construção da<br />

ferrovia ficou para a "Brazil Railway Com<br />

pany". Pelo contrato, esta empresa amerl<br />

cana tinha direito <strong>de</strong> proprieda<strong>de</strong><br />

toda a área que estivesse <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong><br />

faixa <strong>de</strong> 15 quilômetros ao lado <strong>de</strong><br />

sobre<br />

uma<br />

cada<br />

margem da ferrovia. Ainda no ano <strong>de</strong> 1911,<br />

uma empresa pertencente ao grupp da "Bra<br />

zil Railway", chamado "Southom BraziT


memoYia das lutas=<br />

3 - os monges joao maria<br />

As transformações econômicas que<br />

estavam ocorrendo na região, não eram por<br />

si so capazes <strong>de</strong> <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ar o conflito.<br />

Os "caboclos" não possuiam qualquer tipo<br />

<strong>de</strong> organização e a miséria em que foram<br />

jogados não seria suficiente para provocar<br />

um movimento coletivo <strong>de</strong> resistência.<br />

Faltava um elemento catalisador,<br />

que <strong>de</strong>sse um mínimo <strong>de</strong> unida<strong>de</strong> aos "cabo<br />

cios". Este papel foi cumprido pelos Mon<br />

ges, que com sua vida simples, i<strong>de</strong>ntifica<br />

dos com a pobreza do povo, vivendo no me<br />

io <strong>de</strong>le, e pregando a luta do Bem contra<br />

o Mal, assumem uma importância fundamental<br />

A população do Contestado, como<br />

<strong>de</strong> resto <strong>de</strong> todo o interior do Brasil,<br />

trazia em si um forte sentimento religio<br />

so, uma espécie <strong>de</strong> catolicismo rústico.Co<br />

mo a Igreja Católica não possuia padres<br />

suficientes para das atendimento religio<br />

so a esta população, apareciam os monges,<br />

que tinham certas qualida<strong>de</strong>s como mágicos,<br />

curan<strong>de</strong>iros e vi<strong>de</strong>ntes e que também assu<br />

miam as necessida<strong>de</strong>s espirituais do povo,<br />

casando, batizando e dizendo missa.Não fa<br />

ziam parte dos quadros oficiais da Igreja,<br />

0 ano <strong>de</strong> 1912 foi especialmente<br />

terrível para as jã difíceis condições <strong>de</strong><br />

vida da população do Contestado. Além da<br />

ofensiva dos "coronéis" sobre as terras<br />

dos posseiros, neste ano cresce a tomada<br />

<strong>de</strong> terras pela "Brazil Railway". Para pio<br />

rar ainda mais, no ano <strong>de</strong> 1911 havia acon<br />

tecido uma praga <strong>de</strong> ratazanas que <strong>de</strong>stru<br />

iu todas as reservas dos ja pobres paióis<br />

dos caboclos. Parecia que as profecias dos<br />

e nem eram por ela formados ou instruídos.<br />

Eram quase que um produto da religiosida<br />

<strong>de</strong> do povo e da falta <strong>de</strong> padres para cul<br />

tivâ-la.<br />

Ao lado da função^<strong>de</strong> guia espiH<br />

tual, o monge assumia também um papel po<br />

lítico. Na pregação do Bem contra o Mal,<br />

este ultimo era i<strong>de</strong>ntificado pelos "cabo<br />

cios" com os responsáveis pela sua expul<br />

são das terras: "A República, os Coronéis<br />

e a empresa estrangeira".<br />

0 monge João Maria, um dos pre<br />

cursores do conflito, <strong>de</strong>clarava-se antT<br />

-republicano convicto. Dizia entre outras<br />

coisas, que a "República é a or<strong>de</strong>m do De<br />

mônio e a Monarquia ê a or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> Deus".<br />

Nas suas visões, previa para breve a vol<br />

ta <strong>de</strong> São Sebastião, ã frente do seu exer<br />

cito encantado para varrer o mal e restau<br />

rar a monarquia nos campos do Contestado.<br />

Os "cablocos", <strong>de</strong>spejados <strong>de</strong><br />

suas terras, sem qualquer alternativa e<br />

vivendo na mais absoluta miséria encontra<br />

vam nas palavras dos monges um sinal, umã<br />

saída para as suas terríveis condições <strong>de</strong><br />

vida. Por isto juntavam-se ao seu redor e<br />

os seguiam.<br />

monges, que previam <strong>de</strong>sgraças futuras, es<br />

vam-se confirmando.<br />

No ano <strong>de</strong> 1912, surgiu ra região<br />

um novo monge chamado José Maria <strong>de</strong> San<br />

to Agostinho. José Maria, era e>-soldado<br />

e <strong>de</strong>sertor do exército, que se <strong>de</strong>dicava â<br />

pratica do curandoirismo, o que lhe confe<br />

ria gran<strong>de</strong> prestígio em meio ã população<br />

pobre, que passou a acompanha-lo em suas<br />

andanças.<br />

<strong>terragente</strong> 41


memória das lutas<br />

José Maria influenciado pelos co<br />

nhecimentos adquiridos no exército,passou<br />

a dar alguma organização ao grupo que o<br />

seguia. Formou grupos chamados "quadros<br />

santos", cujo comando era entregue aos a<br />

<strong>de</strong>ptos mais aptos. Os "comandantes" orga<br />

nizavam as rezas e as chamadas formas: fi<br />

Ia <strong>de</strong> sertanejos que se <strong>de</strong>dicavam a uma<br />

espécie <strong>de</strong> treinamento militar e que ento<br />

avam canções e vivas a São Sebastião, Sao<br />

José e Santa Maria .<br />

0 primeiro combate aconteceu em<br />

22 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1912. Os sertanejos havi<br />

am feito um acampamento nos Campos <strong>de</strong> Ira<br />

ni. Alguns fazen<strong>de</strong>iros, alarmados com a<br />

concentração, e temendo pelos seus bens,<br />

pediram providências ao governo contra os<br />

"fanáticos que haviam proclamado a monar<br />

quia nos sertões do Contestado".<br />

0 Estado do Paraná, que queria<br />

para si aquelas terras, mandou logo uma<br />

expedição militar comandada pelo Coronel<br />

João Gualberto, com o objetivo <strong>de</strong> disper<br />

sar e trazer aqueles "fanáticos" maneados<br />

para <strong>de</strong>sfilarem nas ruas <strong>de</strong> Curitiba.João<br />

Gualberto exigiu que o monge se apresen<br />

tasse na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Curitibanos, para ex<br />

plicar aquele ajuntamento <strong>de</strong> pessoal e<br />

que imediatamente fosse <strong>de</strong>sfeito o acampa<br />

mento sob pena <strong>de</strong> "dar-vos já franco com<br />

bate e a todos que forem solidários con<br />

vosco, em verda<strong>de</strong>ira guerra <strong>de</strong> extermínio 7 .'<br />

José Maria^ temendo ser preso,<br />

não aceitou as exigências do Coronel.<br />

Deu-se então a luta, on<strong>de</strong> as for<br />

ças do Coronel foram completamente emrol<br />

vidas pela tática <strong>de</strong> "guerrilhas" dos ca<br />

<strong>terragente</strong> 42<br />

boclos, e em poucas horas foram postas em<br />

fuga. No combate, morreu o monge José Ma<br />

ria. 0 coronel Gualberto, foi morto a<br />

golpes <strong>de</strong> facão.<br />

A morte do monge, não quebrou o<br />

ânimo <strong>de</strong> seus seguidores. Ao contrário,to<br />

dos acreditavam que ele estava prestes a<br />

ressuscitar ã frente do exército <strong>de</strong> São<br />

Sebastião, para continuar a Guerra Santa.<br />

Isto; e mais a vitoria sobre as forças go<br />

vemistas, fazia crescer o número <strong>de</strong> se<br />

guidores, que ainda contavam com um refor<br />

ço material importante: gran<strong>de</strong> numero <strong>de</strong><br />

armas e munições tomadas dos soldados.<br />

A organização das rezas e qua<br />

dras ficou a cargo dos mais antigos e quã<br />

lifiçados a<strong>de</strong>ptos do monge, que tomaram-<br />

-se também os comandantes militares.<br />

Após o primeiro combate, os "pe<br />

lados" como viriam a chamar-se, se estabe<br />

leceram em Taquaruçu para ali construir<br />

uma cida<strong>de</strong> Santa. Famílias inteiras ven<strong>de</strong><br />

ram ou abandonaram tudo o que tinham,pois<br />

acreditavam que na'Cida<strong>de</strong> Santa nada lhes<br />

faltaria". Foram criadas uma porção <strong>de</strong> re<br />

gras que <strong>de</strong>viam ser seguidas por todos:<br />

- os novos a<strong>de</strong>ptos não podiam mais abando<br />

nar os acampamentos<br />

- todo o crente <strong>de</strong>veria cortar o cabelo<br />

bem curto, e passatam a chamar-se "pela<br />

dos", enquanto os que não pertenciam ã ir<br />

manda<strong>de</strong> eram os "peludos".<br />

- ninguém podia guardar riquezas individu<br />

ais. Os únicos bens pessoais permitidos e<br />

ram as armas e os arreios para os cavalos.<br />

- a terra era plantada coletivamente e o<br />

fruto repartido entre todos.


»<br />

I<br />

Assentaram-se assim as^bases pa<br />

ra a organização militar e também para a<br />

vida igualitária entre os revoltosos do<br />

Constestado.<br />

Durante o ano <strong>de</strong> 1913, novos com<br />

bates trouxeram mais vitorias para os "pe<br />

lados". Isto serviu para aumentar mais e<br />

mais o número <strong>de</strong> revoltosos,^que acredita<br />

vam que eram o verda<strong>de</strong>iro exército encan<br />

tado <strong>de</strong> São Sebastião, e portanto invencT<br />

veis. Além dos posseiros expulsos das ter<br />

ras, também operários da "Brazil Railway 11<br />

e até fazen<strong>de</strong>iros que^tinham suas terras<br />

roubadas pelos "coronéis, juntavam-se ao<br />

movimento.<br />

memona das lutas<br />

Isto tomou necessário organizar<br />

novos "redutos" e reforçar os esquemas <strong>de</strong><br />

organização militar. A organização políti<br />

co-militar passou a ser centralizada;cria<br />

ram-se piquetes com o objetivo <strong>de</strong> confis<br />

car armas e alimentos nas fazendas, cria<br />

ram-se as figuras do "comandante <strong>de</strong> for<br />

mas e comandante geral militar". 0 primei<br />

ro era responsável pelo controle da popu<br />

lação e por evitar <strong>de</strong>serções. 0 segundo<br />

organizava marchas e treinamentos milita<br />

res e os "bombeiros", que se infiltravam<br />

nas tropas do governo para "bombear" in<br />

formações para os redutos.<br />

2 - amplia-se a guerra<br />

Durante o ano <strong>de</strong> 1914 os revolto<br />

sos <strong>de</strong> Contestado ampliaram em muito a sua<br />

ação. Ocuparam varias vilas e cida<strong>de</strong>s e<br />

a estrada <strong>de</strong> ferro entre Canoinhas e Por<br />

to'União ficou sob seu controle. Os pique<br />

tes penetraram cada vez mais nas fazendas,<br />

em busca <strong>de</strong> armas, gado e cereais, e va<br />

\rias serrarias da "Lumber" foram queima<br />

das. -


■<br />

memória das lutas ———<br />

3-o cerco <strong>de</strong> fogo<br />

- <strong>de</strong>rrota dos contestados<br />

O general Setembrino passou a a<br />

tuar em duas frentes. De um lado procura<br />

va persuadir os revoltosos a abandonarem<br />

as armas, oferecendo-lhes terras <strong>de</strong> que<br />

mais tar<strong>de</strong> teriam títulos^ De outro prepa<br />

rou um plano <strong>de</strong> cerco da área em conflito,<br />

a começar pela vigilância sobre a estrada<br />

<strong>de</strong> ferro, caminhos e estradas, <strong>de</strong> forma a<br />

impedir a entrada <strong>de</strong> mercadorias para os<br />

revoltosos e pela formação <strong>de</strong> quatro po<strong>de</strong><br />

rosas colunas que marcharam sobre a regT<br />

ão sublevada.<br />

Diante do cerco das forças do ge<br />

neral Setembrino, os revoltosos lançaram-<br />

-se num gran<strong>de</strong> plano <strong>de</strong> contra-ataque. Au<br />

mentaram o numero <strong>de</strong> povoados e fazendas<br />

saqueadas- Mas o avanço das forças gover<br />

nistas era implacável. Vilas e cida<strong>de</strong>s fõ<br />

ram sendo reconquistadas e a área sob con<br />

trole dos revoltosos foi diminuindo.<br />

Diante da impossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> man<br />

ter a <strong>de</strong>fesa <strong>de</strong> vários redutos, os Conte,s<br />

tados resolveram transferir toda a popula<br />

ção para o vale do arroio <strong>de</strong> Santa Maria.<br />

Estejiovo reduto situava-se num vale es<br />

tratêgico, no meio <strong>de</strong> um <strong>de</strong>sfila<strong>de</strong>iro,coin<br />

estreitas gargantas naturais e portanto<br />

era muito bom para um sistema <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa.<br />

Contestado geralmente nos ê apre<br />

sentada como a luta dos "caboclos fanati<br />

zados e enlouquecidos", que queriam res<br />

taurar a Monarquia e que portanto eram T<br />

nimigos da republica.<br />

Mas, as causas <strong>de</strong> um conflito tão<br />

gran<strong>de</strong>, não po<strong>de</strong>m ser encontradas no sim<br />

pies fanatismo religioso ou no monarquis<br />

mo dos caboclos. Os revoltosos queriam una<br />

socieda<strong>de</strong> "on<strong>de</strong> o povinho possa beber â<br />

gua limpa e <strong>de</strong>ixar que todos também be<br />

bessem", mas sabiam eles que "a maior par<br />

te dos senhores continua a sujar a água<br />

que todos tem que beber", nas palavras <strong>de</strong><br />

seu i<strong>de</strong>ólogo, o monge José Maria.<br />

O Monarquismo so po<strong>de</strong> ser compre<br />

endido como uma contraposição ao regime fê<br />

gime republicano que era o responsável pe<br />

Ia perda <strong>de</strong> terras e a piora das condi<br />

ções <strong>de</strong> vida dos "caboclos". Era uma espe<br />

cie <strong>de</strong> tentativa <strong>de</strong> volta ao passado,on<strong>de</strong><br />

nao havia estrangeiros e coronéis a lhes<br />

<strong>terragente</strong> 44<br />

conclusão<br />

Enquanto isto, os combates conti<br />

nuavam. Os Contestados, utilizando-se dos<br />

conhecimentos do relevo e das <strong>de</strong>fesas na<br />

turais da região, conseguiam conter o a<br />

vanço das forças do exercito. Mas tinham<br />

um inimigo que a cada avanço das forças<br />

govemistas tomava-se mais <strong>de</strong>vastador: A<br />

FOME. A fome que aos poucos matava cente<br />

nas e centenas <strong>de</strong> pessoas e que também cau<br />

sava <strong>de</strong>sentendimentos entre a população<br />

do reduto do Santa Maria. Parte queria a<br />

rendição, parte não aceitava. Registraram<br />

-se inúmeros inci<strong>de</strong>ntes entre os próprios<br />

revoltosos que quebraram sua capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

resistência e o próprio sistema <strong>de</strong>mocrãti<br />

co <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r existente. Por isto aos pou<br />

cos foi-se consolidando o po<strong>de</strong>r absoluto<br />

<strong>de</strong> um único indivíduo sobre todos os par<br />

ticipantes do movimento. Foi a Ditaduradõ<br />

chefe A<strong>de</strong>odato.<br />

Em abril <strong>de</strong> 1915, o reduto <strong>de</strong><br />

Santa Maria era conquistado pelas forças<br />

govemistas que o reduziram a cinzas para<br />

que <strong>de</strong>le não sobrassem referências aos re<br />

voltosos. Parte dos revoltosos conseguiu<br />

fugir. Fundaram a cida<strong>de</strong> Santa <strong>de</strong> São Pe<br />

dro, <strong>de</strong>struída ao final do ano <strong>de</strong> 1915.<br />

Com isto, estava terminado o movimento do<br />

Contestado.<br />

tomarem as terras. Por que, a luta pela<br />

terra era a verda<strong>de</strong>ira origem do conflito,<br />

como po<strong>de</strong> ser visto numa.frase encontrada<br />

no bolso <strong>de</strong> um "caboclo" morto em combate:<br />

"Nois não tem direito <strong>de</strong> terra. Tudo é<br />

pras gente da Europa".<br />

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA<br />

TOTA, Antônio Pedro - Contestado: A<br />

ra do novo mundo. Ed. Brasiliense.<br />

çao "Tudo e História", n? 70, 1983,<br />

Paulo.<br />

guer<br />

Lole<br />

Sao<br />

DERENGOSKI, Paulo - A Saga do Contestado.<br />

Correio do Povo "Ca<strong>de</strong>rno <strong>de</strong> Sábado", 1980<br />

Porto Alegre.<br />

QUEIROZ, Maurício Vinhas <strong>de</strong> - Messianismo<br />

e conflito social - A Guerra Sertaneja do<br />

Contestado. Ed. Civilização Brasileira,<br />

1966, Rio <strong>de</strong> Janeiro.<br />

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