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Os Meus Amores - Nautilus

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À LAREIRA<br />

A António de Albuquerque<br />

Louvado seja Deus, aquela casa da Tia Maria<br />

Lorna era das mais remediadas lá da aldeia, e até<br />

das mais alegres. Tinha por fora uma varanda de<br />

pedra para onde se subia por degraus também de<br />

pedra; em baixo as lojas, onde os laregos e uma<br />

burra se arrumavam; a tulha; uma despensa; e ao<br />

lado, arrumada a ela, a grande curralada dos bois,<br />

enorme, atulhada de feno e de palha nas sobrelojas,<br />

com uma quadra muito espaçosa para as ovelhas,<br />

quando as ovelhas não pernoitavam pelas terras,<br />

farta manjedoura pràs vacas, e a um recanto, no<br />

chão, a cama onde ficava o moço. Na varanda,<br />

estava sempre o Caramujo, um demónio de cão<br />

pequeno muito assanhado, ruivo de cor, que levava<br />

os dias a ladrar muito enraivado, porque não havia<br />

ninguém que por aí passasse que não tivesse que<br />

contender com o Caramujo.<br />

– Eh, mal-encarado! Eh, inimigo!<br />

Lá por dentro, a casa da Tia Maria Lorna<br />

podia-se ver. Tudo arrumado, as coisas todas no<br />

seu lugar. A Comadre Aniceta chamava-lhe até<br />

«um oratório» e não se fartava de mirar tudo, de<br />

reparar com reverência naquele arranjo de todas as<br />

coisas, e se ia à despensa até se benzia:<br />

– Nome do Padre, do Filho e do Espírito<br />

Santo! Ora não há! Assim, até parece que faz gosto<br />

a gente viver, só pra se regalar de ver este asseio!<br />

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