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Os Meus Amores - Nautilus

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credores de meu pai o que se lhes devia, e os<br />

devedores de meu pai nunca nos pagaram um real,<br />

nem os obrigámos a isso, e o que nos deviam era<br />

quatro vezes o que nós devíamos!...<br />

De modo que me vi na vida sozinho e pobre,<br />

e com mulher e um filho. Comecei a advogar, mas<br />

fugia de pedir dinheiro pelos meus serviços – e<br />

ainda estive uma temporada administrador (maire)<br />

interino de Coimbra, e o governador civil gostava<br />

de mim, mas os políticos embirraram porque a<br />

minha «política» era só... a «lei!».<br />

Até que vim a Lisboa a dois concursos: para<br />

«conservador do registo predial» e para «delegado<br />

do Procurador Régio», mas regressei a Coimbra<br />

sem esperança de ser despachado, porque não<br />

tinha ninguém que me protegesse...<br />

Mas um dia de manhã recebo uma carta, de<br />

Camilo Castelo Branco, o grande escritor, que eu<br />

nunca tinha visto, nem ele a mim: dizia-me que<br />

vira nos jornais que eu fora a concurso e que<br />

escrevera ao Ministro pedindo-lhe que me<br />

despachasse!<br />

Caí das nuvens! Mas daí a poucos dias<br />

estava efectivamente despachado «delegado do<br />

Procurador Régio» do Sabugal, e eu ia ao Minho<br />

visitar o grande escritor, vê-lo pela primeira vez<br />

(primeira e última) e beijar-lhe as mãos pelo seu<br />

tão grande favor.<br />

Mais tarde eu soube como as coisas se<br />

tinham passado: Camilo estava casualmente numa<br />

livraria do Porto, quando viu num jornal o meu<br />

nome, entre os dos outros que tinham vindo<br />

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