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Os Meus Amores - Nautilus

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Dei-me sempre bem, muito bem, com os<br />

meus companheiros, que me chamavam o<br />

Mogadouro; mas ao director tinha-lhe medo, e aos<br />

prefeitos, e aos professores, e eles não se faziam<br />

amar... Que tristeza de vida, que durou seis anos!<br />

Só me não deformaram por milagre; mas fizeramme<br />

ter dos homens uma impressão de falsa<br />

grandeza, de poder falso, de falso valor, de que só<br />

há poucos anos me emancipei – depois de uma<br />

crise nervosa que durou meses e em que parece<br />

que se acumularam dentro de mim todos os<br />

terrores que me fizeram os homens pela vida fora –<br />

esses homens que ainda odeio... Oh, esses<br />

miseráveis seis anos, com homens que deviam ser,<br />

e eu supunha, maiores do que eu (HOMENS,<br />

enfim, como eu julgava que deviam ser os<br />

HOMENS!) e que me saíram tão pequenos e<br />

mentirosos!<br />

O director era bom, e diziam todos que era<br />

meu amigo e que me apontava aos outros como<br />

bom estudante, e no último ano não quis dinheiro a<br />

meu pai por lá me ter, e quando chegou a hora de<br />

me despedir não me quis aparecer, e mandou-me<br />

presentes, e dizem que até chorou...<br />

Eu não fora, com efeito, um mau estudante –<br />

mas fora um péssimo discípulo!<br />

Para fazer o meu primeiro exame, o exame<br />

de instrução primária, tive de fugir do colégio,<br />

porque o professor parece que tinha mais medo do<br />

exame do que eu próprio, e deu-me na véspera 37<br />

palmatoadas, porque me fez 37 perguntas «para<br />

me experimentar», pois não confiava em mim, e eu<br />

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