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Tàpies e seus Corpos: um Olhar Sexuado Anníbal Montaldi - Unesp

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primeiras exposições do artista, organizada pelo Instituto Francês com esses três<br />

artistas do Dau al Set, citados acima — a primeira ocorreu em 1948, no primeiro<br />

“Salón de Octubre” de Barcelona. Os três artistas pediram a João Cabral para<br />

escrever o texto de apresentação da exposição, já que ele possuía grande<br />

interesse pelas artes em geral e tinha finalizado <strong>um</strong> livro sobre Miró 43 no ano<br />

anterior. Do contato com João Cabral, <strong>Tàpies</strong> obteve conhecimento e<br />

aprofundamento da filosofia marxista e do socialismo que, segundo o pintor, foi<br />

<strong>um</strong>a influência decisiva em sua formação, só comparada em importância ao<br />

próprio surrealismo, que já exercia, e à psicologia, por meio dos escritos de<br />

Jung.<br />

Uma das preocupações de <strong>Tàpies</strong>, a partir de então, passou a ser o papel<br />

militante da pintura e do artista — é certo que, posteriormente, conceberia o<br />

equívoco desta preocupação —, por conseqüência a sua leitura intensificou para<br />

os escritos de Marx, Engels, Lênin e até mesmo Stalin.<br />

Bem possível que <strong>Tàpies</strong>, nesse período, estivesse se sentindo imbuído da<br />

“cruzada” política a favor de <strong>um</strong>a sociedade mais justa, socialmente igualitária e<br />

com ideais antiditatoriais; algo que não é incom<strong>um</strong> para <strong>um</strong> espanhol do período,<br />

ainda mais para <strong>um</strong> catalão que sentia os acontecimentos pátrios em <strong>um</strong> alto<br />

grau de repressão velada por atos populistas 44 . Não podia ser empunhada<br />

43 Segundo <strong>Tàpies</strong> e biógrafos de Miró, João Cabral de Melo Neto escreveu o livro de Miró logo<br />

após a exposição do mesmo na Galeria Maeght em Paris, em 1950, organizada por André Breton e<br />

Marcel Duchamp. No livro que João Cabral escreve ele compara as obras de Miró à poesia e<br />

reafirma a posição de “o mais surrealista entre todos os surrealistas”, pela preocupação<br />

simultânea com o fazer e com o intuitivo. Segundo Maia in “Cabral e Miró: A psicologia de suas<br />

composições”, do Sexto Congresso da Associação Internacional de Lusitanistas, “Conforme<br />

Cabral, Miró é <strong>um</strong> pintor essencialmente marcado pela preocupação de construir, no qual o<br />

mínimo gesto criador fará parte de <strong>um</strong>a luta aguda e continuada, <strong>um</strong>a vez que cada milímetro<br />

de linha tem de ser sempre avaliado”. Além da importância do texto em si, as ilustrações do livro<br />

são as primeiras gravuras feitas por Miró, especialmente para a publicação.<br />

44 Interessante a postura naqueles anos e nos posteriores idem, o governo fazia <strong>um</strong>a propaganda<br />

externa de liberdade e vanguardismo, utilizando obras de artistas, como as do próprio <strong>Tàpies</strong>,<br />

como mensagem governamental ao exterior. Sendo que, dentro do próprio país, esses artistas não<br />

eram divulgados e, pelo contrário, eram retalhados de <strong>seus</strong> direitos a partir do momento que<br />

sentiam <strong>um</strong>a série de sanções em relação à exposição de suas obras e da divulgação na imprensa,<br />

como <strong>um</strong>a arte não bem recebida pela situação governista. Além do mais, a escolha das obras<br />

para irem para o exterior era feita por funcionários do governo e não pelo próprio artista. <strong>Tàpies</strong>,<br />

44

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