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Mortes Vitorianas:Corpos e luto no século XIX - Senac

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matrimônio seria o único tipo aceito e praticado pela sociedade. Para os críticos da sociedade utilitarista e<br />

monetarista, um prato cheio para denunciar a hipocrisia dessa pregação.<br />

O autor dedica um capítulo de sua História da Sexualidade aos textos que passaram a censurar o sexo e<br />

ditar um comportamento adequado, próprio da burguesia, desde o <strong>século</strong> XVII. Ao promoverem debates<br />

acalorados acerca da conduta moral ideal, não estariam, na verdade, promovendo um assunto que<br />

justamente buscavam refrear, limitar?<br />

Se a hipótese geralmente aceita a respeito da sexualidade é a repressiva, Foucault, por sua vez, afirma que<br />

a partir do <strong>século</strong> XVI, a “colocação do sexo em discurso”, em vez de sofrer um processo de restrição<br />

foi, ao contrário, submetida a um mecanismo de crescente incitação; que as técnicas de poder exercidas<br />

sobre o sexo não obedeceram a um princípio de seleção rigorosa mas, ao contrário, de disseminação e<br />

implantação das sexualidades polimorfas e que a vontade de saber não se detém diante de um tabu<br />

irrevogável, mas se obsti<strong>no</strong>u em constituir uma ciência da sexualidade. (FOUCAULT. História da<br />

Sexualidade. Página 17.)<br />

38 Nos 120 dias de Sodoma do Marquês de Sade, provavelmente o mais importante autor da literatura<br />

libertina, o grupo de liberti<strong>no</strong>s que se isola <strong>no</strong> castelo de Siling conta com um clérigo. Irmão do celerado<br />

Duque de Blangis, o Bispo de ... é definido da seguinte maneira: A negrura de sua alma era a mesma [de<br />

seu irmão] assim como o pendor para o crime, o desprezo pela religião, o ateísmo, a velhacaria, mas<br />

tinha o espírito mais flexível e mais destro, mais criatividade para causar a morte de suas vítimas (...)<br />

Idólatra da sodomia ativa e passiva, com uma clara preferência por essa última, passava a vida sendo<br />

enrabado e esse prazer, que nunca requer um grande desgaste de forças, combinava perfeitamente com<br />

seus recursos limitados. Incestuoso, sodomita, assassi<strong>no</strong>, ladrão, pedófilo: o “Bispo de ...” , justamente<br />

por não ser especificado, podia ser qualquer um. Ou todos. (SADE, Marques de. Os 120 de Sodoma ou A<br />

escola da libertinagem. Tradução de Alain François. São Paulo: Iluminuras, 2006, Página 24.)<br />

39 HUNT, Lynn. A por<strong>no</strong>grafia e a revolução francesa. In: A invenção da Por<strong>no</strong>grafia. Página 336.<br />

A invenção da por<strong>no</strong>grafia reúne artigos de diferentes historiadores a respeito da tradição de escritos de<br />

cunho erótico e sexual <strong>no</strong> Ocidente durante o período moder<strong>no</strong>. Sobre o assunto, a historiadora <strong>no</strong>rte-<br />

americana Lynn Hunt – organizadora da publicação – escreve que Por<strong>no</strong>grafia e revolução parecem<br />

parceiras involuntárias e constrangidas. Nos <strong>século</strong> XVI, XVII e XVIII, a por<strong>no</strong>grafia foi escrita quase<br />

exclusivamente por homens; em geral, ainda que nem sempre, para um público de leitores masculi<strong>no</strong>s de<br />

classe alta, supostamente liberti<strong>no</strong>s, tanto nas idéias quanto <strong>no</strong> comportamento. Os liberti<strong>no</strong>s<br />

aristocráticos são, presumivelmente, representantes da decadência da moralidade aristocrática, que os<br />

revolucionários franceses desejavam erradicar. Os revolucionários franceses são retratados como<br />

purita<strong>no</strong>s – Robespierre, evidentemente, é o principal exemplo -, e é difícil imaginar esses homens<br />

rígidos e ascéticos aprovando a por<strong>no</strong>grafia. A por<strong>no</strong>grafia de motivação política a provocar a<br />

revolução ao abalar a legitimidade do Antigo Regime como sistema social e político. (Página 336.)<br />

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