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LIDERANÇA:<br />

UM PAPEL A SER EXERCIDO,<br />

NÃO UM CARGO<br />

GESTÃO DE RISCO<br />

COM A CRISE,<br />

QUAIS OS SETORES<br />

QUE MAIS, E QUE MENOS,<br />

PERDERAM<br />

NA BOLSA?<br />

UMA QUESTÃO DE<br />

UMA QUESTÃO DE<br />

GOVERNANÇA:<br />

SUSTENTABILIDADE<br />

nº129<br />

FEV. 2009<br />

R$ 12,00<br />

INVESTIMENTOS,<br />

INOVAÇÃO E CRISE<br />

EMPRESAS HOLDINGS SÃO ICEBERGS DE DESTRUIÇÃO DE VALOR ECONÔMICO?<br />

www.revistari.com.br


REVISTA RI ©<br />

É uma publicação mensal da<br />

IMF Editora Ltda.<br />

Av. Erasmo Braga, 227 - Grupo 404<br />

20020-000 - Rio de Janeiro, RJ<br />

Tel.: (21) 2240-4347 | Fax: (21) 2262-7570<br />

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Diretor Editorial: Ronnie Nogueira<br />

Editor Internacional: William F. Mahoney<br />

Editor Responsável: Ronal<strong>do</strong> A. da Frota Nogueira<br />

Projeto Gráfico<br />

e Edição de Arte: Branded Content & Entertainment Agency<br />

Designers: Ana Letícia, Cecília Araújo e Cimilla Takeda<br />

Atendimento: Érica Aquino<br />

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Arte Digital: André Águia<br />

OPERAÇÃO EM BANCAS<br />

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CONSELHO<br />

Presidente: João Pinheiro Nogueira Batista<br />

Vice-Presidente: Líbano Miranda Barroso<br />

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Diretor Financeiro: Vitor Fagá<br />

Diretor de Comunicação: Luis Fernan<strong>do</strong> Moran<br />

Diretora de Desenvolvimento: Regina Sanchez<br />

Diretora Secretária: Andréa Pereira<br />

Os artigos aqui publica<strong>do</strong>s não pretendem induzir a nenhuma modalidade<br />

de investimento. Os da<strong>do</strong>s e reportagens são apura<strong>do</strong>s com to<strong>do</strong> o rigor, porém<br />

não devem ser considera<strong>do</strong>s perfeitos e acima de falhas involuntárias.<br />

Os artigos assina<strong>do</strong>s são de responsabilidade exclusiva de seus autores.<br />

É proibida a reprodução desse volume, ou parte <strong>do</strong> mesmo, sob quaisquer<br />

meios, sem a autorização prévia e expressa da IMF Editora.<br />

REVISTA RI nº 129 • Fevereiro 2009<br />

04<br />

08<br />

14<br />

16<br />

20<br />

24<br />

32<br />

36<br />

40<br />

44<br />

48<br />

52<br />

54<br />

56<br />

Merca<strong>do</strong> de capitais:<br />

CoM A CRISE, quAIS oS SEtoRES quE MAIS,<br />

E quE MEnoS, PERDERAM nA BolSA?<br />

Por Eduar<strong>do</strong> Tomiya<br />

Gestão de risco:<br />

InVEStIMEntoS, InoVAção E CRISE<br />

Por Adriano Lima<br />

BrandinG:<br />

o BoM, o BElo E o BARAto<br />

Por Rodrigo Rodrigues<br />

Liderança:<br />

lIDERAnçA: uM PAPEl A SER ExERCIDo, não uM CARGo<br />

Por Carlos Cruz<br />

Merca<strong>do</strong> GLoBaL:<br />

o quE A CoRéIA PRECISA:<br />

uMA BoA GoVERnAnçA CoRPoRAtIVA<br />

Por Nicholas Bratt<br />

enfoque:<br />

PRoGRAMAS DE RI PARA títuloS DE REnDA FIxA<br />

Por William F. Mahoney<br />

Governança & Merca<strong>do</strong>:<br />

EMPRESAS HolDInGS São ICEBERGS<br />

DE DEStRuIção DE VAloR?<br />

Por Mônica Mansur Brandão<br />

sustentaBiLidade:<br />

GoVERnAnçA: uMA quEStão DE SuStEntABIlIDADE<br />

Por Roberto Gonzalez<br />

destaque:<br />

AGoStInHo FARIA CARDoSo<br />

SUPERINTENDENTE DE RI DA CEMIG<br />

Por Ana Borges<br />

fato reLevante:<br />

CoDIM oRIEntA CoMPAnHIAS SoBRE Ato E FAto RElEVAntE<br />

Por Giovanna Zanarolli e Jennifer Almeida<br />

iBri notícias:<br />

CARtA Do <strong>IBRI</strong> SoBRE A CRISE GloBAl<br />

consuLtoria:<br />

IntElIGênCIA DE MERCADo: uSE A SEu FAVoR<br />

Por Paulo Henrique Praes<br />

discLosure:<br />

CHInA: InVEStIDoRES PREoCuPADoS CoM A GoVERnAnçA<br />

opinião:<br />

to BRAnD oR not to BRAnD: EIS A quEStão!<br />

Por Jeaninne Carvalho Mettes<br />

www.revistari.com.br • e-mail: ri@imf.com.br


MERCADO DE CAPITAIS<br />

COM A CRISE,<br />

QUAIS OS SETORES<br />

QUE MAIS, E QUE MENOS,<br />

PERDERAM<br />

NA BOLSA?<br />

4 REVISTA RI Fevereiro 2009


A BA BrandAnalytics Consultoria, selecionou uma lista com as cinqüenta<br />

mais valiosas empresas listadas na Bolsa de Valores de São Paulo.<br />

A partir daí, classificou em setores da economia e acompanhou, a partir<br />

de 31 de Março de 2008 até 12 de Dezembro de 2008, o valor <strong>do</strong>s<br />

preços das ações, antes e durante a crise financeira mundial.<br />

Abordagem<br />

O objetivo deste estu<strong>do</strong> é entender o comportamento <strong>do</strong>s setores mais<br />

importantes que compõe o Ibovespa. A seguir ilustramos a composição<br />

<strong>do</strong> índice ten<strong>do</strong> como base a data de 31 de Março de 2008.<br />

Comportamento <strong>do</strong> Ibovespa<br />

Variação acumulada em relação a 31 de Março de 2008<br />

30%<br />

20%<br />

10%<br />

0%<br />

-10%<br />

-20%<br />

-30%<br />

-40%<br />

-50%<br />

-60%<br />

30 Abr/08<br />

31 Mai/08<br />

30 Jun/08<br />

31 Jul/08<br />

31 Ago/08<br />

15 Set/08<br />

30 Set/08<br />

22 Out/08<br />

14 Nov/08<br />

12 Dez/08<br />

Quan<strong>do</strong> observamos a composição <strong>do</strong> Ibovespa nesta data,<br />

verificamos que as empresas fortemente dependen-tes <strong>do</strong> merca<strong>do</strong><br />

exterior, seja por serem exporta<strong>do</strong>ras de produtos ou dependentes de<br />

preços internacionais (Petróleo, commodities, etc.), representam,<br />

em valor, aproximadamente 43% das 50 maiores empresas<br />

listadas no Ibovespa. O que valida um pouco a hipótese de que,<br />

em geral, um <strong>do</strong>s motivos pelos quais a bolsa caia, era porque<br />

o Ibovespa estava bastante calca<strong>do</strong> em empresas dependentes<br />

<strong>do</strong> merca<strong>do</strong> externo. Como a crise afetou estes merca<strong>do</strong>s,<br />

fatalmente atingiria também estas empresas; afetan<strong>do</strong>, portanto o<br />

por Eduar<strong>do</strong> Tomiya*<br />

Composição da carteira analisada<br />

A base ou a representatividade em Valor de merca<strong>do</strong> <strong>do</strong>s setores, no<br />

Ibovespa, é ilustrada a seguir para 12 de Dezembro de 2008:<br />

1%<br />

21%<br />

14%<br />

2%<br />

2%<br />

5%<br />

1%<br />

7% 0%<br />

0% 1% 1%<br />

9%<br />

9%<br />

27%<br />

Construção<br />

0%<br />

Papel e Celulose<br />

1%<br />

Cosméticos<br />

1%<br />

Telecomunicações<br />

9%<br />

Bancos e<br />

Segura<strong>do</strong>ras<br />

27%<br />

Energia Elétrica<br />

9%<br />

Fumo<br />

0%<br />

Alimentos e Bebidas<br />

7%<br />

Fevereiro 2009<br />

Transporte (cia aéreas<br />

e logística)<br />

2%<br />

Varejo<br />

2%<br />

Petróleo e Gás<br />

21%<br />

Indústria aeroespacial<br />

1%<br />

Mineração<br />

14%<br />

Siderurgia & Metalurgia<br />

5%<br />

Química<br />

1%<br />

Ibovespa. Parcialmente, isto era correto, mas e em relação às demais<br />

empresas que nada tinham a ver com as exportações: como, por<br />

exemplo, o segmento de energia elétrica no Brasil ou até mesmo o<br />

segmento de Instituições financeiras no Brasil? Também sentiram<br />

o mesmo efeito?<br />

Para responder estas questões, a BA BrandAnalytics avaliou qual foi<br />

o resulta<strong>do</strong> da evolução <strong>do</strong>s preços das ações das carteiras, compostas<br />

por empresas <strong>do</strong>s setores de atuação, de 31 de Março de 2008 até<br />

12 de Dezembro de 2008. Os resulta<strong>do</strong>s são ilustra<strong>do</strong>s a seguir:<br />

REVISTA RI<br />

5


MERCADO DE CAPITAIS<br />

VARIAçãO DO VAlOR DE MERcADO DAs EMpREsAs DOs sETOREs<br />

(em relação a 31 de março de 2008)<br />

20%<br />

10%<br />

0%<br />

-10%<br />

-20%<br />

-30%<br />

-40%<br />

-50%<br />

-60%<br />

-70%<br />

Cosmésticos<br />

Telecomunição<br />

Bancos e Seguros<br />

6 REVISTA RI Fevereiro 2009<br />

Energia Elétrica<br />

Alimentos<br />

Transporte<br />

Série1 20% -9% -11% -12% -20% -23% -33% -34% -39% -43% -50% -51% -52% -59% -69%<br />

Alguns pontos podem ser resulta<strong>do</strong>s de nossa análise:<br />

1. Exceção ao segmento de cosméticos, to<strong>do</strong>s os segmentos em geral<br />

tiveram os preços de suas ações diminuí<strong>do</strong>s em relação à Março de 2008.<br />

Mesmo assim, cabe ressaltar que o segmento de cosméticos é represen<br />

ta<strong>do</strong> por uma única empresa, a Natura. Ou seja, to<strong>do</strong>s os setores foram<br />

prejudica<strong>do</strong>s com a crise, alguns mais e outros menos.<br />

2. Os segmentos de Telecomunicações, Energia Elétrica, Fumo e Ali<br />

mentos e Bebidas, tiveram uma perda menor que a média (O Ibovespa<br />

perdeu em média 35%). Isto pode ser justifica<strong>do</strong>, por conta destas em<br />

presas terem seus resulta<strong>do</strong>s bastante foca<strong>do</strong>s em merca<strong>do</strong>s locais e que<br />

aparentemente não sofreram uma retração momentânea; ou seja, apa<br />

rentemente no curto prazo, ninguém deixou de utilizar energia elétrica,<br />

telefone, se alimentar e até mesmo fumar.<br />

3. O segmento de Instituições Financeiras, também mostrou que perdeu<br />

menos que o Ibovespa, mesmo ten<strong>do</strong> o mun<strong>do</strong> inteiro viven<strong>do</strong> uma crise<br />

principalmente em instituições financeiras. Também foi um segmento,<br />

assim como os menciona<strong>do</strong>s no item 2 , submeti<strong>do</strong> à uma competição de<br />

larga data, e com empresas com marcas muito fortes e bem posicionadas.<br />

4. Aparentemente os segmentos mais concentra<strong>do</strong>s, em commodities<br />

ou empresas B2B, sofreram maiores perdas. No entanto, o destaque<br />

negativo foi para o segmento de papel de celulose, que além da perda<br />

em função <strong>do</strong> contexto <strong>do</strong> setor, também foi prejudica<strong>do</strong>; pois, algumas<br />

das principais empresas estiveram envolvidas com perdas significativas<br />

em merca<strong>do</strong>s de derivativos.<br />

Fumo<br />

Varejo<br />

Petróleo e Gas<br />

Indústria<br />

Aeroespacial<br />

Mineração<br />

Siderurgia &<br />

Metalurgia<br />

Observamos que a crise afeta, de maneira bastante distinta, os<br />

segmentos de atuação e, que mais que nunca, o Brasil cada vez<br />

mais prova sua força, pois algumas empresas podem chegar ao fi<br />

nal <strong>do</strong> ano a uma perda bastante reduzida. Isto mostra uma econo<br />

mia, cujos princípios estão cada vez mais fortes; pois, em tempos<br />

atrás, uma crise global como esta destruía o valor <strong>do</strong> acionista e as<br />

perdas poderiam ser dramáticas.<br />

Sim, estamos em crise, ela chegou e 2009 aparentemente não será<br />

um ano fácil. Porém, como mostra este estu<strong>do</strong>, existem setores que<br />

mais rapidamente se recuperarão, e que os efeitos, para algumas em<br />

presas/setores no Brasil, estão longe de serem compara<strong>do</strong>s a outras<br />

crises anteriores (que até mesmo no mun<strong>do</strong> foram bem menos graves<br />

que a atual). Estamos, portanto colhen<strong>do</strong> alguns frutos de um avanço<br />

no merca<strong>do</strong> de capitais.<br />

Química<br />

Construção<br />

Papel e Celulose<br />

(*) EDUARDO TOMIYA<br />

é Engenheiro, Mestre, Phd (ABD)<br />

em Engenharia de Produção da<br />

Escola Politécnica da USP. É Sócio<br />

Funda<strong>do</strong>r da BA - BrandAnalytics<br />

Consultoria de Marcas.<br />

É, ainda, professor de branding<br />

na FAAP, FGV, INPI, Rio Branco.<br />

(eduar<strong>do</strong>.tomiya@brandanalytics.com.br)


GESTÃO DE RISCO<br />

InvestImentos,<br />

&<br />

InoVAção<br />

Ino<br />

cRISE c<br />

8 REVISTA RI Fevereiro 2009<br />

por Adriano Lima*


“Logo ce<strong>do</strong> o diretor chega na empresa e marca uma reunião de<br />

urgência com to<strong>do</strong>s os gerentes. Está preocupa<strong>do</strong> com as últimas<br />

notícias que ouvira no rádio, a caminho <strong>do</strong> trabalho, sobre<br />

a crise internacional.<br />

O discurso de abertura é sincero: “Precisamos nos mobilizar<br />

para vencer a crise!!! Precisamos de soluções inova<strong>do</strong>ras para<br />

superar as expectativas <strong>do</strong>s nossos clientes!!!”. O diretor está<br />

bastante alinha<strong>do</strong> com as últimas tendências em administração<br />

de empresas e, após ler alguns livros e revistas, tem a total convicção<br />

de que realmente a inovação é a melhor forma de superar<br />

a crise. As justificativas são claras: “Se quisermos nos destacar<br />

não podemos seguir a manada, temos que ir para outra direção”,<br />

“Só haverá espaço para quem se adaptar rapidamente”.<br />

To<strong>do</strong>s os gerentes prontamente saem pela empresa divulgan<strong>do</strong>:<br />

“Precisamos inovar!”, “Sejam Inova<strong>do</strong>res!”, “Vocês precisam ter novas<br />

idéias!”. Investimentos são aprova<strong>do</strong>s, e projetos são inicia<strong>do</strong>s.<br />

Depois de três meses, de dezenas de sessões de brainstorming<br />

e de milhares de reais, os resulta<strong>do</strong>s alcança<strong>do</strong>s são pífios. Das<br />

idéias geradas, poucas foram implementadas e, destas, quase<br />

nenhuma gerou resulta<strong>do</strong> considerável. Uma avaliação das idéias<br />

mostra que quase a totalidade era baseada em soluções já conhecidas<br />

no dia-a-dia da empresa e não traziam vantagens competitivas<br />

ou, até mesmo, nem podiam ser consideradas idéias novas.<br />

Frente aos resulta<strong>do</strong>s, o diretor e a gerência decidem que o melhor<br />

a fazer é esperar a crise passar e anunciam cortes de gastos<br />

e investimentos. Poucos meses depois, um concorrente se destaca<br />

e a empresa entra em crise, funcionários são demiti<strong>do</strong>s e um<br />

clima de terror se instala na empresa. O diretor lamenta até hoje<br />

os investimentos desperdiça<strong>do</strong>s.”<br />

Fevereiro 2009<br />

REVISTA RI<br />

9


GESTÃO DE RISCO<br />

Histórias como essa são comuns, a diretoria bem informada e alinhada<br />

com as tendências estratégicas decide agir frente à crise e buscar uma<br />

diferenciação em relação aos concorrentes. A ordem de inovar é lançada<br />

e investimentos são aprova<strong>do</strong>s. As pessoas se esforçam para ter idéias<br />

brilhantes e seções de brainstorming são realizadas freqüentemente.<br />

Pouco tempo depois, a sensação é de que o esforço e os investimentos<br />

foram em vão. A partir daquele momento, a empresa passa a assumir<br />

uma posição de cautela frente a qualquer indício de crise com me<strong>do</strong><br />

de que a mesma história se repita. Será que o diretor estava correto em<br />

investir durante a crise?<br />

Por que investir durante uma crise?<br />

Uma das características naturais <strong>do</strong>s seres humanos é fugir com o coletivo<br />

em situações de perigo eminente, como em um incêndio. Esta<br />

característica também pode ser observada no merca<strong>do</strong> de ações quan<strong>do</strong><br />

as pessoas começam a vender suas posições somente porque as outras<br />

estão venden<strong>do</strong>, crian<strong>do</strong> a chamada bola de neve. Em momentos de<br />

crise, a situação se repete quan<strong>do</strong> se fala em investimentos em inovação.<br />

É comum empresas desistirem de um projeto que lhe traria um<br />

ganho substancial com o argumento de que houve cortes de gastos seguin<strong>do</strong><br />

a tendência <strong>do</strong> merca<strong>do</strong>, quan<strong>do</strong> na realidade, este cenário de<br />

pessimismo coletivo pode representar um trampolim para aqueles que<br />

pensarem diferente.<br />

A teoria da seleção natural de Charles Darwin diz que uma espécie<br />

se multiplica exponencialmente em um ambiente até que a escassez<br />

de recursos leva a uma competição acirrada, onde só os mais<br />

fortes sobrevivem. Em momentos de crise o merca<strong>do</strong> se comporta<br />

como o ambiente cita<strong>do</strong> por Darwin. Ocorre uma escassez de oportunidades,<br />

ou seja, um aumento de competitividade entre as empresas<br />

de mesma espécie. Esta competitividade leva a uma alta taxa<br />

de mortalidade daquelas menos adaptadas ao novo cenário. Assim<br />

como diz o trabalho de Charles Darwin, em um merca<strong>do</strong> em crise,<br />

apenas os competi<strong>do</strong>res mais fortes sobrevivem. Certamente, nestes<br />

momentos o merca<strong>do</strong> pode ser cruel com aqueles que apenas<br />

esperarem o momento ruim passar.<br />

Quem estudar o comportamento <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> ao longo das décadas poderá<br />

concluir que tende a seguir um ciclo previsível de perío<strong>do</strong>s de alto<br />

10 REVISTA RI Fevereiro 2009<br />

em um merca<strong>do</strong> em crise, apenas os<br />

competi<strong>do</strong>res mais fortes sobrevivem.<br />

certamente, nestes momentos o merca<strong>do</strong><br />

pode ser cruel com aqueles que apenas<br />

esperarem o momento ruim passar.<br />

crescimento e perío<strong>do</strong>s de crise. Esta tendência mostra que após uma<br />

crise ocorre um perío<strong>do</strong> de merca<strong>do</strong> aqueci<strong>do</strong>, segui<strong>do</strong> de um perío<strong>do</strong><br />

de crise e novamente um perío<strong>do</strong> de merca<strong>do</strong> aqueci<strong>do</strong>, etc. Como investimentos<br />

em inovação visam resulta<strong>do</strong>s a médio-longo prazo, quem<br />

investe durante uma crise provavelmente poderá usufruir deste investimento<br />

no próximo perío<strong>do</strong> de merca<strong>do</strong> aqueci<strong>do</strong>, e vice-versa. Assim,<br />

os perío<strong>do</strong>s de baixas vendas podem ser considera<strong>do</strong>s momentos de<br />

preparação para o próximo momento de merca<strong>do</strong> aqueci<strong>do</strong>, que em<br />

breve virá.<br />

Outra característica de um momento de crise que o torna atraente<br />

para investimentos em inovação se refere à resistência <strong>do</strong>s funcionários<br />

a mudanças em seu dia-a-dia. Nestas ocasiões as pessoas<br />

ficam mais suscetíveis a aceitar mudanças propostas no seu cotidiano,<br />

desta forma, estes momentos seriam uma oportunidade excelente<br />

para a implementação de novas idéias e soluções dentro de<br />

uma empresa. Seria o inverso da mentalidade de que não se mexe<br />

em time que está ganhan<strong>do</strong>. A baixa resistência a mudanças internas<br />

pode aumentar a chance de um novo processo ou produto ter<br />

sucesso em uma empresa.<br />

erros comuns de quem investe em inovação<br />

Como foi visto na história inicial deste artigo, é comum casos de<br />

empresas que não alcançam os resulta<strong>do</strong>s planeja<strong>do</strong>s com seus investimentos<br />

em inovação. Na maioria destes casos, a decisão de<br />

investir é uma decisão correta, o erro cometi<strong>do</strong> é na forma como<br />

este investimento é realiza<strong>do</strong>.<br />

O primeiro desafio para uma empresa que busca se desenvolver é entender<br />

quais são os principais problemas que devem ser soluciona<strong>do</strong>s.


BRANDING<br />

o bom,<br />

o belo e o<br />

barato<br />

14 REVISTA RI Fevereiro 2009


Quem nunca tentou desenhar a sua própria marca? Ou fazer o seu próprio<br />

folder no Word com clipart? Ou misturou todas as letras <strong>do</strong> Power Point num<br />

único slide e achou o resulta<strong>do</strong> bem legal? Quem nunca pensou na facilidade<br />

que é retocar a foto da sogra no Photoshop? Quem nunca pediu laminação<br />

fosca, verniz localiza<strong>do</strong>, hot stamp e papel especial no seu relatório?<br />

Quem nunca se achou designer que atire a primeira pedra.<br />

por Rodrigo Rodrigues*<br />

Design exclusivo, design diferencia<strong>do</strong>,<br />

design inova<strong>do</strong>r, design irresistível são<br />

algumas das expressões exclamativas que<br />

geralmente acompanham um produto com<br />

preço maior <strong>do</strong> que os concorrentes. Da<br />

mesma forma acompanhamos atônitos<br />

o surgimento de novas profissões como<br />

"interior designer" (decora<strong>do</strong>r), food<br />

designer (cozinheiro), "nail designer"<br />

(manicure), "hair designer" (cabeleireiro)<br />

e até mesmo o improvável "designer de<br />

sobrancelhas". Experimente o poder e<br />

acrescente a palavrinha como sufixo <strong>do</strong> seu<br />

cargo e em breve registraremos a ocorrência<br />

<strong>do</strong> "account designer" (conta<strong>do</strong>r),<br />

"law designer" (advoga<strong>do</strong>) ou então o<br />

"designer de relações com investi<strong>do</strong>res".<br />

Estrangeirismos à parte, no espaço entre a<br />

tecnologia, a arte e o marketing, o design<br />

ganhou destaque nas últimas décadas pela<br />

promessa de um mun<strong>do</strong> melhor,<br />

mais bonito, mais acessível para to<strong>do</strong>s e<br />

lucrativo para poucos. Mas num mun<strong>do</strong><br />

onde to<strong>do</strong>s podem ser designers o design<br />

é realmente relevante?<br />

Um breve parágrafo sobre história: o<br />

design gráfico surge a partir da invenção<br />

da imprensa, no século XV - o livro foi o<br />

primeiro objeto produzi<strong>do</strong> em série, já o<br />

design de produto surge no século XIX<br />

decorrente da Revolução Industrial, sen<strong>do</strong><br />

o designer o profissional responsável<br />

pela concepção de objetos industriais. É<br />

importante observar que o design nasce<br />

liga<strong>do</strong> à lógica de produção, diferente da<br />

manifestação artesanal, ou artística, embora<br />

possa se apropriar destas linguagens<br />

em seus produtos. Quan<strong>do</strong> vemos um<br />

"objeto de design" vemos o resulta<strong>do</strong> de<br />

um pensamento, de uma inteligência,<br />

que abrange to<strong>do</strong> o processo produtivo<br />

e não apenas estético. A dualidade <strong>do</strong>s<br />

campos de conhecimento gráfico/visual<br />

versus produto, ainda observada hoje nas<br />

universidade, é revista no século XX após<br />

a invenção <strong>do</strong> cinema, da televisão, da<br />

internet e da mobilidade em geral - entram<br />

em cena o movimento, o som, a informação<br />

e a interatividade. Falamos em webdesign,<br />

design de interface, motion graphic design<br />

etc. E no século XXI surge o conceito de<br />

"branding", na interseção <strong>do</strong> pensamento<br />

estratégico entre o marketing e o design,<br />

quan<strong>do</strong> vamos além da programação<br />

visual chegan<strong>do</strong> até a definição da<br />

estratégia de marca.<br />

Novo século, novos desafios. Tecnologia,<br />

internet, massificação e pirataria. Para<br />

ser designer, alguns acreditam, basta um<br />

computa<strong>do</strong>r. Será que está mais fácil ser<br />

designer? Sim, se pensarmos apenas nos<br />

meios abundantes que temos hoje. Não,<br />

se formos além <strong>do</strong> superficial e enganoso<br />

prazer <strong>do</strong> belo como finalidade. Como<br />

resulta<strong>do</strong> de um processo histórico não<br />

podemos nos eximir de responder às<br />

questões que a atualidade propõe e que<br />

vão muito além de cores e formas, mas que<br />

envolvem processos, materiais, decisões<br />

e proposições. Cabe ao designer propor<br />

questões que abrangem uso de materiais<br />

recicláveis, recicla<strong>do</strong>s ou alternativos,<br />

novos ciclos de vida para produtos<br />

já existentes, novos produtos sequer<br />

pensa<strong>do</strong>s, e todas as palavras bonitas<br />

que empresas insistem em imprimir nos<br />

seus relatórios, em papéis recicla<strong>do</strong>s<br />

ou certifica<strong>do</strong>s, mesmo que não sejam<br />

coerentes com as suas práticas. Mais<br />

<strong>do</strong> que relevante, design, visto como<br />

o pensamento que ordena o processo<br />

produtivo, é fundamental.<br />

Cada vez mais os consumi<strong>do</strong>res cobram<br />

a responsabilidade das empresas, seja em<br />

seus produtos ou na sua comunicação, de<br />

estarem atentas não apenas ao desenho<br />

mas em como to<strong>do</strong> o processo de<br />

produção, embalagem e comunicação é<br />

conduzi<strong>do</strong> - estar atento a esta questão é<br />

ter a possibilidade de criar uma vantagem<br />

competitiva que irá certamente resultar<br />

em alguns ativos não tão intangíveis assim,<br />

como receita, credibilidade e participação<br />

no merca<strong>do</strong>. O design pode salvar o mun<strong>do</strong>?<br />

Sejamos realistas, o design não pode salvar<br />

o mun<strong>do</strong>, mas pode tornar a tarefa mais<br />

fácil e agradável. Não se trata de propor<br />

uma nova categoria de design "verde" ou<br />

"sustentável", mas de resgatar o pensamento<br />

questiona<strong>do</strong>r inerente ao processo - como<br />

podemos fazer melhor? Temos que<br />

responder a essa pergunta, senão a cada<br />

trabalho, diariamente.<br />

(*) RodRigo RodRigues<br />

é Diretor de Criação e Design da Selulloid AG<br />

(E-mail: rodrigo.rodrigues@selulloid.com)<br />

Fevereiro 2009<br />

REVISTA RI 15


LIDERANÇA<br />

LIDERANÇA:<br />

UM PAPEL A SER EXERCIDO,<br />

NÃO UM CARGO<br />

16 REVISTA RI Fevereiro 2009


Um <strong>do</strong>s assuntos mais discuti<strong>do</strong>s dentro das organizações hoje é a<br />

Liderança. Após algumas transformações na maneira de se fazer gestão,<br />

amplian<strong>do</strong> o foco que antes estava restrito aos negócios para as pessoas<br />

e como elas podem e devem trabalhar, essa figura passou a ser o centro<br />

motiva<strong>do</strong>r de grandes conquistas, uma vez que é capaz de impulsionar o<br />

crescimento de outras pessoas e das empresas em que elas se encontram.<br />

Mas ainda temos que tomar cuida<strong>do</strong> para não interpretarmos de maneira<br />

errada o que vem a ser a liderança e como exercê-la de mo<strong>do</strong> positivo.<br />

por Carlos Cruz*<br />

Ao longo <strong>do</strong>s anos instituem-se, nas<br />

maiores empresas <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>, políticas<br />

de governança baseadas em estruturas<br />

verticais e sólidas. Isso fazia com que<br />

cada pessoa soubesse exatamente o que<br />

deveria fazer e quem eram as pessoas<br />

responsáveis por dar as ordens. A flexibilidade<br />

era muito baixa e os profissionais<br />

funcionavam como que em uma grande<br />

máquina, cuja velocidade de trabalho era<br />

ditada de cima para baixo.<br />

Hoje a situação é muito diferente, as pessoas<br />

dentro de uma organização assumem<br />

diversos papéis para conseguirem executar<br />

com sucesso suas tarefas. A verticalização<br />

deu espaço aos organogramas horizontais,<br />

que priorizam a intercomunicação entre<br />

as diferentes áreas de uma mesma empresa.<br />

Os resulta<strong>do</strong>s não são mais vistos<br />

apenas como fruto da somatória <strong>do</strong>s bons<br />

desempenhos pessoais, é preciso que toda<br />

uma equipe se motive e conquiste objetivos<br />

comuns.<br />

Essa evolução trouxe mudanças em relação<br />

à forma de se gerenciar. Antes, se cada<br />

um era visto como um componente isola<strong>do</strong><br />

e responsável apenas por suas atividades,<br />

direciona<strong>do</strong> pela antiga figura <strong>do</strong> chefe,<br />

hoje, esse mesmo indivíduo faz parte de<br />

um verdadeiro time, com influência direta<br />

nos resulta<strong>do</strong>s de to<strong>do</strong>s. Por isso, a figura<br />

<strong>do</strong> profissional centraliza<strong>do</strong>r foi substituída<br />

pelos líderes, capazes de interagir com<br />

uma série de indivíduos, estimulan<strong>do</strong>-os a<br />

obter os melhores resulta<strong>do</strong>s, da maneira<br />

mais colaborativa possível e ainda priorizan<strong>do</strong><br />

o auto-desenvolvimento.<br />

Como saber se posso<br />

ser um líder?<br />

Ao contrário <strong>do</strong> que muitos pensam, exercemos<br />

a liderança to<strong>do</strong>s os dias, em maior<br />

ou menor escala, dependen<strong>do</strong> <strong>do</strong> perfil<br />

de cada indivíduo e da situação em que<br />

nos encontramos. Diferentemente <strong>do</strong> que<br />

acontecia no passa<strong>do</strong>, esse título não é<br />

concedi<strong>do</strong> pela empresa, ou seja, a liderança<br />

não representa um cargo, mas, sim,<br />

um papel a ser exerci<strong>do</strong>. Isso faz com que<br />

você possa liderar independentemente<br />

<strong>do</strong> seu status. Desde o mais simples funcionário<br />

até o presidente de uma multinacional,<br />

to<strong>do</strong>s têm a capacidade de fazer<br />

isso. O líder é aquele que facilita aos<br />

profissionais da sua equipe brilharem, se<br />

desenvolverem constantemente e, principalmente,<br />

perceberem a sua importância<br />

para o sistema onde estão inseri<strong>do</strong>s.<br />

Por isso, se deseja tornar-se um líder<br />

trabalhe muito, pague o preço e desenvolva<br />

suas competências. Sejam<br />

quais forem suas atribuições, alcance a<br />

excelência. Lembre-se que se você conseguir<br />

melhorar 1% a cada dia, no final<br />

<strong>do</strong> ano terá atingi<strong>do</strong> um índice de crescimento<br />

superior aos 300%. Com certeza<br />

isso será reconheci<strong>do</strong> pelo grupo e, conseqüentemente,<br />

pela empresa em que trabalha.<br />

Não se deixe guiar apenas pelo status<br />

e pelo poder que um cargo de liderança<br />

pode lhe trazer, já que esse não deve ser<br />

o objetivo de um profissional que exerce<br />

esse papel. Deseje, sim, ser uma pessoa<br />

capaz de realizar transformações em benefício<br />

de seus companheiros de trabalho<br />

e de sua empresa.<br />

Qual deve ser o foCo <strong>do</strong><br />

trabalho de um líder?<br />

Existem <strong>do</strong>is grandes focos de trabalho<br />

para um líder: nos resulta<strong>do</strong>s e nas pessoas.<br />

Você pode se perguntar qual é o<br />

melhor, correto? Bom, nesse caso minha<br />

resposta é simples, os <strong>do</strong>is! Como em outros<br />

aspectos de nossa vida, é importante<br />

mantermos o equilíbrio para obtermos<br />

sucesso. Quan<strong>do</strong> se persegue apenas os<br />

resulta<strong>do</strong>s, corremos o risco de deixarmos<br />

nossa equipe desmotivada e sem a<br />

atenção que devem receber. No caso contrário,<br />

quan<strong>do</strong> trabalhamos apenas para<br />

o bem estar de nossos companheiros de<br />

trabalho podemos deixar de atingir nossas<br />

metas. Por isso, o líder deve estar atento<br />

Fevereiro 2009<br />

REVISTA RI 17


LIDERANÇA<br />

aos resulta<strong>do</strong>s e ao mo<strong>do</strong> como eles estão<br />

sen<strong>do</strong> conquista<strong>do</strong>s. Não podemos ter<br />

uma equipe que bate as metas to<strong>do</strong>s os<br />

meses, mas que não tem um bom relacionamento<br />

ou estão sempre em situações de<br />

desgaste emocional. O contrário também<br />

não é deseja<strong>do</strong>, um grupo de profissionais<br />

muito bem emocionalmente, mas que<br />

não gera conquistas e crescimento para<br />

a empresa. Portanto, é importante obter<br />

resulta<strong>do</strong>s através <strong>do</strong> desenvolvimento<br />

da equipe.<br />

Quais CompetênCias um<br />

líder deve ter?<br />

Acredito que para se tornar um bom líder<br />

é preciso desenvolver algumas competências,<br />

independentemente <strong>do</strong> cenário em<br />

que você pretende atuar. Por isso, analise<br />

como anda trabalhan<strong>do</strong> e reflita sobre<br />

os sete pontos que vou descrever abaixo,<br />

considera<strong>do</strong>s básicos:<br />

• Desenvolva a visão de curto, de<br />

médio e de longo prazo - O líder<br />

precisa ter uma visão de futuro atraente<br />

e realista, com parâmetros bem defini<strong>do</strong>s<br />

para a questão <strong>do</strong>s números. Assim,<br />

ele poderá inspirar e mobilizar a equipe<br />

por meio <strong>do</strong> compartilhamento de suas<br />

expectativas e as formas de alcançá-las;<br />

• Oriente-se para resulta<strong>do</strong>s em<br />

equipe - Além de ter uma visão futura<br />

bem definida, é necessário criar estratégias<br />

que envolvam as pessoas para<br />

o alcance de resulta<strong>do</strong>s extraordinários.<br />

Muitos profissionais em cargo de liderança<br />

falham com a equipe por dedica-<br />

18 REVISTA RI Fevereiro 2009<br />

rem a sua atenção apenas com meto<strong>do</strong>logias<br />

e números, esquecen<strong>do</strong>, assim, <strong>do</strong><br />

desenvolvimento de competências;<br />

• Tenha bom senso de realidade -<br />

O líder tem que perceber que a equipe,<br />

os desafios, a empresa, os clientes e o<br />

merca<strong>do</strong> nunca são e nem serão como<br />

ele gostaria que fosse. Portanto, encarar<br />

a realidade e fazer não só o que gosta,<br />

mas o que é preciso ser feito para o sucesso<br />

<strong>do</strong>s negócios e da equipe é uma<br />

característica fundamental para um líder<br />

extraordinário e orienta<strong>do</strong> para bons resulta<strong>do</strong>s,<br />

que permitam crescimentos na<br />

área profissional e pessoal;<br />

• Mantenha-se flexível - A flexibilidade<br />

ajuda um líder a fazer o que for<br />

preciso para alcançar os resulta<strong>do</strong>s espera<strong>do</strong>s.<br />

Caso seja preciso mudar de<br />

rumo, treinar a equipe de uma forma diferenciada,<br />

ou até mesmo, colocar a mão<br />

na massa para solucionar um problema,<br />

ele terá que fazer. Estar prepara<strong>do</strong> para<br />

modificar o caminho até o destino final<br />

é essencial;<br />

• Reconheça a equipe - O verdadeiro<br />

segre<strong>do</strong> de uma equipe de sucesso é a<br />

forma e a freqüência com que um líder<br />

fornece feedbacks positivos. Uma dica<br />

para fortalecer o comprometimento da<br />

equipe está em agendar reuniões quinzenais<br />

para parabenizar a equipe e comemorar<br />

os resulta<strong>do</strong>s mais importantes<br />

<strong>do</strong> perío<strong>do</strong>;<br />

• Conheça a si mesmo - Muitos líderes<br />

frustram-se por não conhecerem o<br />

perfil das pessoas que formam sua equipe,<br />

mas antes é preciso buscar o autoconhecimento.<br />

Aconselho a to<strong>do</strong> líder<br />

passar por programas de coaching, terapias,<br />

treinamentos, entre outros. Quan<strong>do</strong><br />

um líder conhece seu ponto fraco ele<br />

pode transformá-lo em ponto forte ou até<br />

mesmo contratar um braço direito para<br />

suprir sua necessidade, o grande desafio<br />

é que muitos não se permitem enxergar<br />

esses pontos a serem trabalha<strong>do</strong>s; e<br />

• Assuma a responsabilidade - Aconteça<br />

o que acontecer, o líder tem que assumir<br />

a responsabilidade pelos resulta<strong>do</strong>s.<br />

No momento de sucesso o líder deve parabenizar<br />

a equipe por esta conquista e em<br />

um eventual fracasso ele deve instigar a to<strong>do</strong>s<br />

a pensarem em possíveis aprendiza<strong>do</strong>s<br />

com aquela situação.<br />

(*) Carlos Cruz<br />

atua como Coach Executivo e de Equipes,<br />

Conferencista em Desenvolvimento Humano<br />

e Diretor da UP Treinamentos & Consultoria.<br />

(contato@carloscruz.com.br)


MERCADO GLOBAL<br />

O quE A CORéIA pRECISA:<br />

UMA BoA GovernAnçA<br />

CorporAtivA<br />

Embora eu invista em mais de 20 países, o meu interesse e a<br />

minha afeição pela Coréia <strong>do</strong> Sul são muito especiais. Eu primeiro<br />

descobri as oportunidades de investimentos na Coréia quan<strong>do</strong><br />

estava trabalhan<strong>do</strong> como analista cobrin<strong>do</strong> empresas japonesas<br />

no final <strong>do</strong>s anos 1970. Naquela época, quan<strong>do</strong> perguntadas, as<br />

principais empresas japonesas diziam que numa perspectiva<br />

de longo prazo, elas estavam mais preocupadas com a potencial<br />

concorrência das empresas coreanas <strong>do</strong> que das já estabelecidas<br />

empresas americanas ou européias.<br />

por nicholas Bratt *<br />

Como analista, a minha responsabilidade era avaliar a seriedade daquela<br />

ameaça competitiva potencial. Consequentemente, fiz minha<br />

primeira visita à Coréia como analista de investimentos. Talvez eu<br />

tenha si<strong>do</strong> o primeiro analista estrangeiro fazer a tal visita.<br />

O que eu vi naquela primeira visita foi estimulante. Olhan<strong>do</strong> para<br />

trás é difícil descrever o sentimento de entusiasmo que tive. Havia<br />

empresas competitivas globalmente crescen<strong>do</strong> mais de 100%<br />

ao ano e cotadas com índices preço/lucro de apenas um digito.<br />

(exemplo: Samsung Electronics, Hyundai Motor Company, Gold<br />

Star (agora LG Electronics) e Ankuk Fire and Marine (agora Samsung<br />

Fire and Marine).<br />

No espaço de uma geração um país agrícola afligi<strong>do</strong> pela destruição<br />

de uma guerra e da pobreza transformou-se num <strong>do</strong>s work shops<br />

20 REVISTA RI Fevereiro 2009<br />

industriais mais bem sucedi<strong>do</strong>s <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>. Ao descobrir que o<br />

merca<strong>do</strong> de ações era fecha<strong>do</strong> para estrangeiros eu passei a explorar<br />

a possibilidade de criar um fun<strong>do</strong> de investimentos que possibilitasse<br />

que estrangeiros investissem em ações coreanas pela primeira<br />

vez na história.<br />

Depois de cinco longos anos de negociações, o meu então emprega<strong>do</strong>r,<br />

a tradicional e conhecida firma de investimentos Scudder, Stevens<br />

and Clark, recebeu em janeiro de 1984 um telex <strong>do</strong> Ministério<br />

de Finanças autorizan<strong>do</strong>-a a estabelecer um closed-end fund para<br />

investir na Coréia.<br />

O fun<strong>do</strong> seria lista<strong>do</strong> na New York Stock Exchange e se chamaria<br />

The Korea Fund. Como seria a primeira entidade estrangeira autorizada<br />

a investir na Bolsa de Valores da Coréia, foi exigi<strong>do</strong> que o fun<strong>do</strong>


operasse sob uma licença especial que estipulava todas as diretrizes<br />

e restrições de acor<strong>do</strong> com a legislação coreana.<br />

O fun<strong>do</strong> foi lança<strong>do</strong> durante o verão de 1984 com uma base de ca<br />

pital inicial de US$ 60 milhões, que era o mínimo exigi<strong>do</strong> para ser<br />

registra<strong>do</strong> na New York Stock Exchange. Os investi<strong>do</strong>res originais<br />

eram principalmente americanos e europeus, na maioria institucio<br />

nais (embora também incluíssem alguns individuais).<br />

Refletin<strong>do</strong> anos de rápi<strong>do</strong> crescimento econômico e de um bem suce<br />

di<strong>do</strong> desenvolvimento industrial, a capitalização <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> de ações<br />

coreano cresceu de US$ 4 bilhões para um valor recente de US$ 380<br />

bilhões. O Korea Fund participou plenamente dessa era de enorme<br />

crescimento e o seu tamanho chegou a US$ 1.4 bilhões em 2005.<br />

A Coréia se transformou de um <strong>do</strong>s países mais pobres <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>,<br />

no final da guerra da Coréia nos anos 1950, para ser um <strong>do</strong>s mais<br />

bem sucedi<strong>do</strong>s países em desenvolvimento <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>. Em várias<br />

formas, o país tem muito de uma nação desenvolvida e é apenas<br />

uma questão de tempo para que se qualifique como um merca<strong>do</strong> de<br />

ações <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> desenvolvi<strong>do</strong>.<br />

Os coreanos investem pesadamente no capital humano (7.2% <strong>do</strong><br />

Produto Interno Bruto é gasto em educação). Cerca de 97% da<br />

população na faixa <strong>do</strong>s 20 e 30 anos obtiveram pelo menos uma<br />

educação secundaria superior, o que representa o mais alto nível<br />

entre os países da OECD – Organization for Economic Coopera<br />

tion and Development. O numero de PhDs por 1.000 habitantes<br />

é o maior <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>.<br />

Os gastos em Pesquisa & Desenvolvimento (P&D) também cresce<br />

ram fortemente. Em 2006, estes gastos em relação ao PIB cresceram<br />

para 3.23%, o quinto maior índice no mun<strong>do</strong> depois de Israel, Su<br />

écia, Finlândia e Japão. A penetração da Internet e o seu índice de<br />

utilização também estão entre os mais altos <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>.<br />

Devi<strong>do</strong> a esses fortes recursos, eu não tenho dúvida de que a Coréia<br />

sobreviverá a atual crise e emergirá mais forte <strong>do</strong> que nunca. Afinal,<br />

em relação aos seus vizinhos, a Coréia conseguiu se beneficiar com<br />

as crises asiáticas em 1997 e 1998.<br />

Embora o meu entusiasmo para investir na Coréia nunca tenha<br />

muda<strong>do</strong>, eu tenho algumas preocupações quan<strong>do</strong> se trata de go<br />

vernança corporativa.<br />

A Coréia precisa melhorar a sua governança corporativa. O sistema<br />

político da Coréia e a sua forma de vida são basea<strong>do</strong>s em valores<br />

democráticos. Porém, existem muitas empresas coreanas onde a de<br />

mocracia <strong>do</strong> acionista simplesmente não existe.<br />

É como se as empresas listadas fossem propriedade de suas famílias fun<br />

da<strong>do</strong>ras em total desatenção aos interesses <strong>do</strong>s acionistas minoritários.<br />

Eu reconheço que desde a crise monetária no final <strong>do</strong>s anos 1990 a<br />

Coréia realizou enorme progresso em termos de governança elevan<br />

<strong>do</strong> o valor <strong>do</strong> acionista através de significativas mudanças na estru<br />

tura legal e regulatória.<br />

Todavia, ainda tem muito espaço para melhorar, especialmente<br />

na implementação dessas leis e regulamentos. É uma lástima que<br />

a Coréia, um <strong>do</strong>s paises líderes na região asiática, fique atrás <strong>do</strong>s<br />

seus peers em termos de implementação e prática de boa gover<br />

nança corporativa.<br />

Existem muitos benefícios para a Coréia se a governança corporativa<br />

for melhorada. Um importante impacto será a redução <strong>do</strong> custo de<br />

capital, pois uma maior credibilidade e transparência atrairá o capi<br />

tal estrangeiro. O alcance de padrões de governança corporativa de<br />

classe mundial também acelerará a admissão da Coréia nos índices<br />

de merca<strong>do</strong> de ações <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> desenvolvi<strong>do</strong>.<br />

É essencial tomar medidas que evitem quaisquer quedas fortes<br />

adicionais nos preços das ações coreanas.Uma melhor governança<br />

aumentará a atratividade das ações coreanas em geral. Isso se torna<br />

Fevereiro 2009<br />

REVISTA RI<br />

21


MERCADO GLOBAL<br />

criticamente importante na atual crise, em que o público em geral<br />

na Coréia tornou-se desencanta<strong>do</strong> com o investimento em ações.<br />

Além disso, o governo deveria estimular as fusões e aquisições, incluin<strong>do</strong><br />

os takeovers hostis, o que permitiria que os preços das ações<br />

fossem negocia<strong>do</strong>s a valores mais altos.<br />

A Coréia agora me lembra a época que visitei o país pela primeira<br />

vez há alguns anos atrás: os preços das ações eram baratos e ignora<strong>do</strong>s<br />

pelo público em geral. Como uma nação exporta<strong>do</strong>ra, a<br />

Coréia é vista como uma fly-wheel na economia mundial.<br />

Na medida em que avança o declínio econômico global, os investimentos<br />

coreanos são vistos como particularmente vulneráveis. Os<br />

investi<strong>do</strong>res, tanto locais como estrangeiros, aban<strong>do</strong>naram o merca<strong>do</strong><br />

de ações, deprimin<strong>do</strong> os preços para níveis bastante atrativos.<br />

No merca<strong>do</strong>, pequenas e médias empresas mostram particularmente<br />

bons valores. Ao longo <strong>do</strong>s anos elas fortaleceram os seus<br />

balanços financeiros e elevaram sua competitividade.<br />

Essas empresas não são acompanhadas pelas corretoras, locais ou estrangeiras,<br />

e os seus valores verdadeiros são apenas reconheci<strong>do</strong>s por<br />

aqueles dispostos a fazerem uma profunda e independente pesquisa.<br />

O merca<strong>do</strong> de ações coreano permanece bastante ineficiente e extraordinárias<br />

oportunidades de investimento se apresentam para<br />

aqueles investi<strong>do</strong>res dispostos a assumirem uma visão paciente e<br />

de longo prazo – uma abordagem que infelizmente está faltan<strong>do</strong> a<br />

muitos investi<strong>do</strong>res locais.<br />

John Lee, administra<strong>do</strong>r da carteira <strong>do</strong> Korea Fund entre 1991 e<br />

2005, e eu lançamos a estratégica Lazard Korea Corporate Governance<br />

em 2006. O objetivo <strong>do</strong> investimento é alcançar valorização<br />

no longo prazo investin<strong>do</strong> em empresas coreanas com capitalização<br />

de merca<strong>do</strong> inferior a US$ 2 bilhões.<br />

O Professor Jong Ha-sung, um renoma<strong>do</strong> acadêmico da Korea<br />

University e há muito tempo um ativista cívico pelos direitos <strong>do</strong>s<br />

acionistas minoritários, atua como nosso consultor de governança<br />

corporativa para essa estratégica.<br />

22 REVISTA RI Fevereiro 2009<br />

Muitas empresas coreanas estão significativamente sub-valorizadas devi<strong>do</strong><br />

principalmente a duas razões: fraca governança corporativa e ineficiência<br />

<strong>do</strong> merca<strong>do</strong>. Se conseguirmos melhorar a qualidade da governança<br />

e elevar a transparência e o disclosure eu acredito que com o tempo os<br />

investi<strong>do</strong>res vão reconhecer o valor intrínseco das empresas coreanas.<br />

O merca<strong>do</strong> de ações se tornará menos ineficiente e os preços das<br />

ações refletirão os valores com maior precisão. Nós temos trabalha<strong>do</strong><br />

diligentemente com as equipes de administração das empresas<br />

que temos na carteira <strong>do</strong> Fun<strong>do</strong> de forma a melhorar a<br />

qualidade de suas governanças.<br />

Alcançamos excelentes progressos e provocamos significativas<br />

mudanças. Também temos incentiva<strong>do</strong> as empresas a investirem<br />

em suas relações com investi<strong>do</strong>res. Pela primeira vez, várias empresas<br />

que estão no nosso Fun<strong>do</strong> realizaram road shows internacionais<br />

organiza<strong>do</strong>s pela Doewoo Securities.<br />

Cabe aos coreanos reconhecerem não apenas os seus sucessos mas<br />

também os seus fracassos, e assumirem a necessidade para mudanças.<br />

Não há tempo a perder. A falha em mudar e adaptar levará a uma relativa<br />

erosão num mun<strong>do</strong> que se torna mais competitivo a cada dia.<br />

Se, todavia, esse merca<strong>do</strong> puder se adaptar com êxito, não tenho<br />

dúvida de que esse extraordinário país com seu marcante e talentoso<br />

grupo de capital humano continuará a elevar o seu peso e<br />

elevar o padrão de vida <strong>do</strong> seu povo.<br />

(*) NICHOLAS BRATT<br />

é managing director <strong>do</strong> Lazard Asset Managenet.<br />

(Nicholas.Bratt@lazard.com)<br />

Nota: John Lee, managing director <strong>do</strong> Lazard Asset Management<br />

também contribuiu para este artigo, que foi publica<strong>do</strong> originalmente<br />

no Korea Times, Coréia <strong>do</strong> Sul, em 01/01/2009.


ENFOQUE<br />

24 REVISTA RI Fevereiro 2009


PrograMas de rI<br />

Para P títulos<br />

de renda<br />

FIxa<br />

Os detentores de títulos de dívidas são investi<strong>do</strong>res importantes<br />

de uma empresa. As empresas emitem títulos de dívidas basicamente<br />

pelos mesmos motivos que vendem ações – para financiar os<br />

negócios e aproveitar as oportunidades.<br />

por William F. Mahoney*<br />

Fevereiro 2009<br />

REVISTA RI<br />

25


ENFOQUE<br />

Os detentores de títulos de dívidas não têm<br />

direito de voto. Também não compartilham <strong>do</strong><br />

poder da empresa para aumentar a lucratividade,<br />

já que seus retornos são fixos. Mas os detentores<br />

de títulos de dívidas constituem um segmento<br />

fundamental para uma empresa.<br />

Os instrumentos de renda fixa, ou títulos<br />

de dívidas, são um outro méto<strong>do</strong> de captar<br />

recursos. As ofertas de títulos de dívidas são<br />

freqüentemente realizadas em montantes<br />

comparáveis àqueles das ofertas de ações.<br />

Na verdade, os executivos de finanças das<br />

empresas traçam estratégias de formação<br />

de capital que combinam diversas formas<br />

de adquirir recursos para gerenciar as operações<br />

e investir em crescimento - empréstimos<br />

bancários e linhas de crédito, renda<br />

fixa e ações emitidas para investi<strong>do</strong>res públicos<br />

e priva<strong>do</strong>s.<br />

Um componente fundamental de qualquer<br />

estratégia de financiamento é o custo <strong>do</strong> capital.<br />

Os custos incluem juros sobre a dívida,<br />

comissões e outras despesas envolvidas na<br />

participação nos merca<strong>do</strong>s de ações e títulos<br />

de dívidas, o pagamento de dividen<strong>do</strong>s,<br />

custos <strong>do</strong>s serviços aos acionistas e o custo<br />

contínuo <strong>do</strong> provimento de retornos sobre o<br />

patrimônio para os investi<strong>do</strong>res de ações.<br />

As empresas calculam seus custos de capital<br />

ao decidirem quais instrumentos financeiros<br />

usar. Dívida ou ações podem<br />

ser favorecidas em certos momentos; um<br />

ambiente com baixa taxa de juros pode favorecer<br />

a escolha pelos títulos de dívidas.<br />

Demandas diversas de retornos por parte<br />

<strong>do</strong>s investi<strong>do</strong>res podem fazer com que uma<br />

empresa se volte para o merca<strong>do</strong> priva<strong>do</strong> ou<br />

decida conduzir uma oferta pública de títulos<br />

de dívidas ou de ações em épocas em<br />

que há a necessidade de caixa.<br />

A maioria das empresas associa méto<strong>do</strong>s<br />

de formação de capital, combinan<strong>do</strong> empréstimos,<br />

linhas de crédito e dívida e<br />

ações emitidas para investi<strong>do</strong>res priva<strong>do</strong>s<br />

26 REVISTA RI Fevereiro 2009<br />

e para o público. Observam os índices dívida-patrimônio<br />

de perto. Calculam constantemente<br />

o custo da dívida e o custo <strong>do</strong><br />

patrimônio separadamente, decidin<strong>do</strong> qual<br />

usar em um determina<strong>do</strong> momento. Calculam<br />

o custo <strong>do</strong>s <strong>do</strong>is méto<strong>do</strong>s em um custo<br />

de capital médio pondera<strong>do</strong>.<br />

Algumas administrações preferem dívida ou<br />

ações como seu méto<strong>do</strong> favorito de formação<br />

de capital. Os executivos evitam a dívida,<br />

declaran<strong>do</strong> orgulhosamente ter pouca ou nenhuma<br />

dívida nos livros, nenhum pagamento<br />

substancial de juros para efetuar e nenhum<br />

principal a amortizar. Outras administrações<br />

buscam conduzir seus negócios sem a responsabilidade<br />

de ser uma empresa de capital<br />

aberto, que significa incidência de custos<br />

de regulamentação e preço de divulgação,<br />

pressão por desempenho to<strong>do</strong>s os trimestres<br />

para aumentar o preço das ações e o me<strong>do</strong> de<br />

uma incorporação hostil. Em vez disso, elas<br />

contam com empréstimos, linhas de crédito,<br />

investi<strong>do</strong>res priva<strong>do</strong>s e títulos de dívidas.<br />

Os investi<strong>do</strong>res de títulos de dívidas e de<br />

ações são "farinha <strong>do</strong> mesmo saco". Na verdade,<br />

é provável que as mesmas instituições<br />

detenham títulos de dívidas e ações da sua<br />

empresa. Os fun<strong>do</strong>s mútuos administram<br />

uma série de fun<strong>do</strong>s de títulos de dívidas, assim<br />

como fun<strong>do</strong>s de ações em atendimento a<br />

investi<strong>do</strong>res individuais. E a base de detentores<br />

de títulos de dívidas de uma empresa<br />

provavelmente inclui algumas pessoas físicas<br />

abastadas, que estão diversifican<strong>do</strong> suas carteiras<br />

multimilionárias.<br />

As práticas de RI se concentraram nos detentores<br />

de ações devi<strong>do</strong> ao seu impacto no<br />

valor da empresa, refleti<strong>do</strong> no preço diário<br />

das ações e nas tendências de longo prazo<br />

de preços, e devi<strong>do</strong> à sua capacidade de influenciar<br />

o mo<strong>do</strong> como a administração conduz<br />

o negócio. Os detentores de ações têm<br />

muito o que dizer sobre a maneira como um<br />

negócio é administra<strong>do</strong>. Eles têm direito de<br />

voto. Nestes tempos de ativismo <strong>do</strong>s acionistas<br />

e sua pressão sobre governança, ninguém<br />

precisa lembrar os executivos da influência<br />

<strong>do</strong>s detentores de ações. Eles votam em peças<br />

centrais da estrutura de governança da<br />

empresa, têm o direito de aprovar a escolha<br />

<strong>do</strong>s membros <strong>do</strong> conselho da administração,<br />

os planos de remuneração em ações e<br />

a nomeação de auditores; aprovar ou revogar<br />

planos de direitos <strong>do</strong>s acionistas para evitar<br />

incorporações que não são bem-vindas.<br />

Os detentores de ações têm o direito de enviar<br />

suas próprias deliberações para votação<br />

pela base acionária da empresa. Em uma<br />

disputa pelo controle da administração da<br />

empresa, são os detentores de ações que<br />

decidem o resulta<strong>do</strong>. Eles podem depor a<br />

administração atual.<br />

Em contrapartida, os detentores de títulos de<br />

dívidas não têm direito de voto. Também não<br />

compartilham <strong>do</strong> poder da empresa para aumentar<br />

a lucratividade, já que seus retornos<br />

são fixos. Mas os detentores de títulos de dívidas<br />

constituem um segmento fundamental<br />

para uma empresa; sua aquisição de milhões<br />

em títulos de dívidas constitui um componente<br />

significativo da formação de capital.<br />

A pArTicipAçãO dOs<br />

deTenTOres de TíTulOs de<br />

dívidAs nOs lucrOs<br />

Nesse contexto, os detentores de títulos de<br />

dívidas têm direitos altamente importantes.<br />

Basicamente, são os primeiros a gozar <strong>do</strong>s<br />

benefícios <strong>do</strong> investimento, porque têm<br />

prioridade sobre os detentores de ações<br />

ordinárias na distribuição <strong>do</strong>s lucros. Essa<br />

prioridade também inclui o dinheiro a ser<br />

pago aos investi<strong>do</strong>res no caso de falência.<br />

Os detentores de títulos de dívidas são os<br />

primeiros a receber.<br />

Enquanto muitos detentores de ações acompanham<br />

o desempenho <strong>do</strong>s lucros de uma<br />

empresa, os detentores de títulos de dívidas


ENFOQUE<br />

monitoram o fluxo de caixa. Seus pagamentos<br />

anuais de renda a juros fixos são efetua<strong>do</strong>s<br />

com base no fluxo de caixa.<br />

Os executivos das empresas com investi<strong>do</strong>res<br />

em títulos de dívidas e em ações estão<br />

sempre prontos para dizer que dão o mesmo<br />

tratamento a esses grupos de detentores<br />

em termos de reconhecer sua importância,<br />

organizan<strong>do</strong> ofertas, prestan<strong>do</strong> serviço contínuo<br />

e fornecen<strong>do</strong> um fluxo constante de<br />

informações úteis.<br />

Na maioria das empresas, os executivos<br />

de RI concentram-se no la<strong>do</strong> patrimonial<br />

da estrutura <strong>do</strong> capital, sen<strong>do</strong> as relações<br />

de dívida administradas pelo departamento<br />

financeiro/tesouraria. O CFO é<br />

o responsável óbvio pelo gerenciamento<br />

de práticas de dívidas, trabalhan<strong>do</strong> junto<br />

aos bancos, supervisionan<strong>do</strong> ofertas<br />

e manten<strong>do</strong> relações contínuas com os<br />

detentores de títulos de dívidas. Geralmente,<br />

essas tarefas são realizadas no<br />

departamento financeiro/tesouraria pelo<br />

tesoureiro, o tesoureiro assistente, o gerente<br />

financeiro ou por diretores com<br />

cargos semelhantes.<br />

É também justo dizer que os profissionais<br />

de RI de algumas empresas estão envolvi<strong>do</strong>s<br />

nas relações com os detentores de títulos<br />

de dívida. Podemos chamar isso uma<br />

tendência que tem cresci<strong>do</strong> lentamente<br />

por cerca de uma década.<br />

Breve introdução aos títulos<br />

de dívidas<br />

Um título de dívida certifica que seu detentor<br />

emprestou dinheiro à empresa e receberá<br />

um juro fixo e o principal de acor<strong>do</strong><br />

com os termos especifica<strong>do</strong>s. Os títulos<br />

de dívidas têm um valor nominal e uma<br />

taxa de cupom, sen<strong>do</strong> que o valor nominal<br />

é o valor de face. A taxa de cupom é a taxa<br />

de juros nominal que leva a determinar a<br />

taxa de juros real que o investi<strong>do</strong>r recebe<br />

sobre o título de dívida. É juro anual por<br />

valor nominal. Um título de dívida de R$<br />

1.000,00 com um cupom de 5% paga R$<br />

50,00 por ano. Os títulos têm datas de<br />

vencimento, isto é, a data final de amortização<br />

<strong>do</strong> principal.<br />

28 REVISTA RI Fevereiro 2009<br />

Os títulos de dívidas têm uma escritura, que<br />

expõe os termos, as obrigações da empresa<br />

e quaisquer restrições, conhecidas como<br />

cláusulas restritivas. Elas podem incluir as<br />

necessidades mínimas de capital circulante<br />

e certos índices de dívida ou quocientes de<br />

liquidez. As escrituras são preparadas para<br />

um terceiro, chama<strong>do</strong> de agente fiduciário,<br />

que é responsável por garantir que os termos<br />

da escritura sejam honra<strong>do</strong>s.<br />

A taxa de juro efetiva <strong>do</strong> título da dívida é<br />

o seu rendimento. Não é necessariamente a<br />

mesma que a taxa de cupom. Um título de<br />

dívida pode ser adquiri<strong>do</strong> com desconto ou<br />

preço abaixo <strong>do</strong> seu valor de face, ou com<br />

um ágio ou preço acima <strong>do</strong> seu valor de face.<br />

Portanto, o rendimento pode ser acima ou<br />

abaixo da taxa de cupom.<br />

Os títulos de dívidas contêm uma disposição<br />

de resgate, que permite que a empresa<br />

que emite o título da dívida recompre ou<br />

resgate o título de dívida de seus detentores<br />

a preços específicos durante perío<strong>do</strong>s<br />

especifica<strong>do</strong>s.<br />

Alguns títulos de dívidas incluem um fun<strong>do</strong><br />

de amortização que permite que a empresa<br />

amortize parte da dívida em certas épocas,<br />

reduzin<strong>do</strong> o sal<strong>do</strong> <strong>do</strong> principal. Os investi<strong>do</strong>res<br />

estão cientes da disposição porque está<br />

prevista na escritura.<br />

tipos de títulos de dívidas<br />

Há diversos tipos de títulos de dívidas. As<br />

debêntures não são garantidas e são protegidas<br />

pelo crédito da empresa. Essa é uma<br />

das razões pelas quais os investi<strong>do</strong>res monitoram<br />

as classificações de risco bem de<br />

perto. Algumas empresas também emitem<br />

debêntures subordinadas, com disposições<br />

na escritura que fazem com que sejam<br />

classificadas de acor<strong>do</strong> com outra dívida<br />

não garantida.<br />

Os títulos de dívidas conversíveis podem<br />

ser converti<strong>do</strong>s em outros títulos, geralmente<br />

ações ordinárias, a um preço fixa<strong>do</strong><br />

previamente. São considera<strong>do</strong>s como se tivessem<br />

as características tanto <strong>do</strong>s títulos<br />

de dívidas como das ações ao oferecerem<br />

renda a juros fixos e possível valorização<br />

de preço quan<strong>do</strong> funcionan<strong>do</strong> como ações.<br />

Os zero coupon bonds (títulos de dívidas<br />

sem cupom de juros) acumulam juros durante<br />

sua vida, que são soma<strong>do</strong>s ao valor<br />

principal e pagos juntamente com ele no<br />

vencimento. Portanto, o detentor recebe<br />

um pagamento maior.<br />

Ainda há os títulos de dívidas de alto risco,<br />

classifica<strong>do</strong>s pela Moody's e S&P como BB<br />

ou inferior. São considera<strong>do</strong>s mais arrisca<strong>do</strong>s<br />

porque a empresa emissora provavelmente<br />

não estabeleceu um histórico de forte desempenho<br />

comercial. A boa notícia é que<br />

esses títulos de dívidas geralmente oferecem<br />

um rendimento maior para os investi<strong>do</strong>res<br />

dispostos a especular.<br />

Conforme menciona<strong>do</strong>, a qualidade <strong>do</strong>s<br />

títulos de dívidas é um serviço de classificação<br />

de crédito que visa proporcionar<br />

aos investi<strong>do</strong>res uma escala <strong>do</strong> risco de<br />

inadimplência por parte da empresa. As<br />

principais firmas de classificação incluem<br />

a Moody's, a S&P e a Fitch. As classificações<br />

começam com AAA, que é a qualidade<br />

superior, depois AA, alta qualidade,<br />

A, qualidade média alta, BBB, média, BB,<br />

quase arriscada, B, arriscada, até CCC,<br />

CC, C e D, todas sugerin<strong>do</strong> que a empresa<br />

pode inadimplir ou provavelmente<br />

inadimplirá nos títulos das dívidas. As classificações<br />

mais altas apresentam a menor<br />

probabilidade de inadimplência e por isso<br />

sugerem níveis de risco.<br />

Os vencimentos também são importantes<br />

para os investi<strong>do</strong>res. O risco é fundamental<br />

na decisão sobre o que é um vencimento<br />

aceitável quan<strong>do</strong> se investe em títulos de<br />

dívidas. O risco entra em cena em termos<br />

de perda potencial de um maior retorno<br />

se as taxas de juros subirem; o investi<strong>do</strong>r<br />

perde o retorno maior que poderia ter si<strong>do</strong><br />

obti<strong>do</strong> com o investimento <strong>do</strong> dinheiro em<br />

outros instrumentos.<br />

Entretanto, vencimentos mais longos trazem<br />

rendimentos maiores. Vencimentos de dez<br />

anos são procura<strong>do</strong>s por investi<strong>do</strong>res mais<br />

conserva<strong>do</strong>res, que buscam equilibrar o risco<br />

e a remuneração. Os títulos de dívidas<br />

podem ter várias características, como a de<br />

dar à empresa a possibilidade de convertê-los


ou resgatá-los antes da data de vencimento.<br />

Os investi<strong>do</strong>res geralmente recebem um pequeno<br />

ágio quan<strong>do</strong> os títulos de dívidas são<br />

resgata<strong>do</strong>s antes <strong>do</strong> programa<strong>do</strong>, mas este<br />

não será soma<strong>do</strong> ao retorno que teria si<strong>do</strong><br />

acumula<strong>do</strong> no vencimento.<br />

Os títulos de dívida estão entre os principais<br />

veículos de formação de capital<br />

usa<strong>do</strong>s pelas empresas. Um gráfico sobre<br />

subscrições de empresas <strong>do</strong> Investment<br />

Company Institute, <strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s,<br />

mostra que as empresas emitiram US$<br />

1,37 trilhão em títulos de dívidas convencionais<br />

em 2003, frente à captação de<br />

US$ 156 bilhões por meio de emissões de<br />

ações ordinárias e preferenciais. As subscrições<br />

de dívidas lastreadas em ativos de<br />

empresas durante o ano acrescentaram<br />

outros US$ 1,352 trilhão.<br />

O ICI, uma associação da indústria<br />

americana de fun<strong>do</strong>s<br />

mútuos, mostrou que os fun<strong>do</strong>s<br />

mútuos <strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s<br />

detinham cerca de US$<br />

7,5 trilhões em ativos no fim<br />

de setembro de 2004, sen<strong>do</strong><br />

que US$ 3,8 trilhões desse<br />

total eram administra<strong>do</strong>s<br />

nos fun<strong>do</strong>s mútuos de ações<br />

e US$ 928 bilhões nos fun<strong>do</strong>s de títulos<br />

de dívidas tributáveis. Enquanto isso, em<br />

uma recente análise <strong>do</strong>s ativos <strong>do</strong>s fun<strong>do</strong>s<br />

mútuos, o Federal Reserve (FED, banco<br />

central americano) informou que US$<br />

3,7 trilhões são manti<strong>do</strong>s em fun<strong>do</strong>s de<br />

ações e US$ 1,2 trilhão em fun<strong>do</strong>s de títulos<br />

de dívidas.<br />

Não importa a forma como você a analisa,<br />

a renda fixa é uma ferramenta fundamental<br />

para as empresas levantarem capital.<br />

Práticas de ri semelhantes<br />

com detentores de títulos<br />

e de ações<br />

As práticas de RI atendem tanto os investi<strong>do</strong>res<br />

de ações como os de títulos de dívidas.<br />

Os elementos-chave são basicamente os<br />

mesmos: entender as necessidades <strong>do</strong>s investi<strong>do</strong>res,<br />

fornecen<strong>do</strong> informações valiosas,<br />

suprin<strong>do</strong> detalhes conforme solicita<strong>do</strong> e sen-<br />

<strong>do</strong> receptivo a solicitações de informações,<br />

amplian<strong>do</strong> as relações qualitativas.<br />

Os interesses de informações <strong>do</strong>s detentores<br />

de títulos de dívidas e de ações são<br />

basicamente os mesmos. Os investi<strong>do</strong>res<br />

querem fazer o melhor trabalho possível<br />

no que diz respeito a entender o plano e<br />

as estratégias de negócios da empresa, assim<br />

como sua visão, o mo<strong>do</strong> como ganha<br />

dinheiro, suas principais fontes de receita,<br />

posição e vantagens competitivas, gerenciamento<br />

de despesa e margens, eficiência<br />

da administração, problemas e desafios e<br />

oportunidades de crescimento.<br />

Interesses em informações podem divergir<br />

em ênfase e grau, mas não muito hoje em<br />

dia. Os investi<strong>do</strong>res de ações se concentram<br />

nos lucros, porque o desempenho de<br />

curto prazo <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> acionário é mais<br />

os detentores de títulos de dívidas consideram<br />

os pontos fortes básicos e as vantagens de<br />

merca<strong>do</strong> de uma empresa como sen<strong>do</strong> a base<br />

para ampliar sua liderança comercial de forma<br />

consistente com os termos de seu investimento.<br />

orienta<strong>do</strong> pelos lucros. Mas esses investi<strong>do</strong>res<br />

também têm um grande interesse na<br />

capacidade de a administração sustentar<br />

os pontos fortes <strong>do</strong> negócio e os fundamentos<br />

de crescimento, e na capacidade<br />

da empresa de gerar fluxo de caixa que<br />

ajuda a pagar as contas e proporciona recursos<br />

para investir e pagar dividen<strong>do</strong>s.<br />

Os detentores de títulos de dívidas consideram<br />

os pontos fortes básicos e as vantagens<br />

de merca<strong>do</strong> de uma empresa como<br />

sen<strong>do</strong> a base para ampliar sua liderança<br />

comercial de forma consistente com os<br />

termos de seu investimento, e observam<br />

os fluxos de caixa atentamente, para assegurar<br />

a satisfação <strong>do</strong>s pagamentos <strong>do</strong>s<br />

juros devi<strong>do</strong>s de seus títulos de dívidas.<br />

Mas esses investi<strong>do</strong>res estão igualmente<br />

interessa<strong>do</strong>s no poder de obtenção de<br />

lucros da empresa, nos pontos fortes das<br />

relações com os clientes, no canal para<br />

os produtos, na posição na indústria, na<br />

qualidade da administração e em outros<br />

impulsiona<strong>do</strong>res de valor.<br />

Os meios de comunicação que melhor chegam<br />

a esses grupos são os mesmos.<br />

Os detentores de títulos de dívidas examinam<br />

o prospecto; acompanham de perto a utilização<br />

<strong>do</strong>s recursos; estudam a análise de risco;<br />

examinam o desempenho e a capacidade de<br />

geração de fluxo de caixa; esperam garantias<br />

das perspectivas <strong>do</strong> negócio; analisam as<br />

demonstrações financeiras; lêem a Análise<br />

e Discussão <strong>do</strong>s Resulta<strong>do</strong>s (MD&A) com<br />

interesse especial; e pensam bastante sobre<br />

as credenciais da equipe de executivos.<br />

Lêem ainda os formulários registra<strong>do</strong>s na<br />

Comissão de Valores, as declarações de<br />

registro, o relatório anual, os comunica<strong>do</strong>s<br />

à imprensa e os roteiros das apresentações<br />

da administração com muito<br />

interesse. Participam das teleconferências,<br />

visitam regularmente<br />

o site da empresa na<br />

internet, participam de conferências<br />

de corretores, juntamente<br />

com analistas <strong>do</strong> buy<br />

side e gestores de carteiras.<br />

Os detentores de títulos de<br />

dívidas institucionais incluem analistas <strong>do</strong><br />

buy side e gestores de investimento. Praticamente<br />

to<strong>do</strong>s os principais bancos de<br />

investimento, as grandes firmas de gestão<br />

de investimento, bancos comerciais com<br />

operações de gestão de ativos, fun<strong>do</strong>s mútuos<br />

relativamente grandes e muitos <strong>do</strong>s<br />

patrocina<strong>do</strong>res <strong>do</strong>s fun<strong>do</strong>s de pensão têm<br />

um grupo de títulos de dívidas, que consiste<br />

em analistas e gestores de carteiras.<br />

As diferenças entre as relações com detentores<br />

de ações e de títulos de dívidas se dão<br />

no contato diário por telefone e e-mail e<br />

pessoalmente, em reuniões e conferências.<br />

Esses contatos, conversas por telefone e<br />

reuniões geralmente ocorrem entre o investi<strong>do</strong>r<br />

de títulos de dívidas e um diretor da<br />

área financeira, e não com o departamento<br />

de RI. O estabelecimento de relações com<br />

os detentores de títulos de dívidas continua<br />

sen<strong>do</strong> trabalho <strong>do</strong> departamento financeiro/da<br />

tesouraria.<br />

Fevereiro 2009<br />

REVISTA RI<br />

29


ENFOQUE<br />

TENdêNcIA: OrgANIzAçãO dA<br />

FuNçãO pArA ATENdEr A AMbOs<br />

Os grupOs<br />

Os RIs estão cada vez mais participan<strong>do</strong><br />

<strong>do</strong> processo. Em muitas empresas, o RI<br />

faz parte da área financeira, responden<strong>do</strong><br />

diretamente ao CFO (ou ao tesoureiro). O<br />

RI tem experiência em finanças, pode ser o<br />

tesoureiro ou o tesoureiro assistente atual<br />

ou anterior, ou ainda outro gerente ou diretor<br />

financeiro. Os executivos nos cargos<br />

mais altos ficam bastante satisfeitos que o<br />

RI seja o principal contato com os analistas<br />

e os investi<strong>do</strong>res institucionais, tanto de<br />

ações como de títulos de dívida.<br />

As administrações permanecem relutantes,<br />

entretanto, em colocar um profissional<br />

de RI com treinamento/experiência em<br />

comunicação e/ou sem o que é considera<strong>do</strong><br />

como sen<strong>do</strong> a formação e a experiência<br />

adequada, isto é, um MBA em finanças,<br />

na gestão de relações com os detentores de<br />

títulos de dívidas.<br />

Muitas administrações empresariais, é claro,<br />

têm a mesma opinião sobre as qualificações<br />

necessárias para o trabalho de RI<br />

junto aos detentores de ações da empresa.<br />

Ter um conhecimento profun<strong>do</strong> da posição<br />

financeira da empresa e de suas demonstrações,<br />

estratégias, estrutura de capital e<br />

contabilidade é considera<strong>do</strong> um requisito<br />

necessário para ser um RI eficiente, assim<br />

como conhecer as operações e a indústria<br />

da empresa e ser um bom comunica<strong>do</strong>r.<br />

A prática comum hoje é a de que as relações<br />

com investi<strong>do</strong>res funcionem como<br />

parte <strong>do</strong> departamento financeiro. O ideal<br />

é que os profissionais de RI trabalhem em<br />

sintonia com o CFO, com o tesoureiro e<br />

com os tesoureiros assistentes na gestão<br />

das relações com os detentores de ações e<br />

de títulos de dívidas. E, cada vez mais, o RI<br />

está trabalhan<strong>do</strong> com ambos os grupos.<br />

Faz senti<strong>do</strong> que o processo de comunicação<br />

da empresa seja gerencia<strong>do</strong> e coordena<strong>do</strong><br />

por um departamento central. Essa<br />

é uma forma de integrar a comunicação:<br />

somente o departamento financeiro com<br />

o de RI, nesse caso, no atendimento aos<br />

30 REVISTA RI Fevereiro 2009<br />

investi<strong>do</strong>res tanto de ações como de títulos<br />

de dívidas, em vez de integrar o departamento<br />

de RI com o de RP no atendimento<br />

de uma base de grupos maiores. Certamente,<br />

o pessoal de RP pode participar da<br />

criação de materiais de comunicação li<strong>do</strong>s<br />

pelos detentores de títulos de dívidas, da<br />

mesma forma que esses materiais são li<strong>do</strong>s<br />

pelos detentores de ações.<br />

ApLIcANdO FErrAMENTAs<br />

dE rI às rELAçõEs cOM Os<br />

dETENTOrEs dE TíTuLOs dE<br />

dívIdAs<br />

As empresas estão se tornan<strong>do</strong> mais proativas<br />

na aproximação com analistas e investi<strong>do</strong>res<br />

de renda fixa. Faz mais senti<strong>do</strong> hoje<br />

vender títulos de dívidas e de renda fixa de<br />

uma empresa a instituições e pessoas físicas<br />

com patrimônio líqui<strong>do</strong> eleva<strong>do</strong>.<br />

As empresas estão preparan<strong>do</strong> listas de analistas<br />

e das principais instituições nos seus<br />

esforços de comunicação. Os investi<strong>do</strong>res de<br />

renda fixa são cada vez mais convida<strong>do</strong>s para<br />

reuniões da empresa, visita<strong>do</strong>s pela administração<br />

em viagens, incluí<strong>do</strong>s em convites<br />

para teleconferências; recebem divulgações<br />

e seus nomes estão nas listas de e-mail que<br />

recebem o fluxo regular de comunicação.<br />

As empresas usam as fontes de da<strong>do</strong>s para<br />

ajudá-las a identificar seus detentores de<br />

títulos de dívidas, assegurarem o fluxo de<br />

informações e os esforços no estabelecimento<br />

de relações. Também conduzem<br />

programas direciona<strong>do</strong>s, identifican<strong>do</strong> instituições<br />

com investimentos substanciais<br />

em títulos de dívidas, especialmente aqueles<br />

investi<strong>do</strong>s no setor e empresas afins. As<br />

fontes de da<strong>do</strong>s fornecem algumas informações<br />

sobre o perfil <strong>do</strong>s investimentos -<br />

tipos e condições <strong>do</strong>s títulos de dívidas, limites<br />

de capitalização <strong>do</strong> merca<strong>do</strong>, nomes<br />

das empresas nas carteiras.<br />

Nos Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s, as empresas chegam<br />

aos analistas institucionais de títulos de dívidas<br />

obten<strong>do</strong> listas. A investigação de analistas<br />

inclui a obtenção de da<strong>do</strong>s <strong>do</strong> perfil <strong>do</strong>s<br />

investimentos e classificações, por exemplo,<br />

de analistas de títulos de dívidas <strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s<br />

Uni<strong>do</strong>s da Institutional Investor. A Thomson<br />

Financial está entre as firmas que fornecem<br />

informações sobre a titularidade de instituições<br />

e da<strong>do</strong>s direciona<strong>do</strong>s. Assim como a<br />

Computershare, a Fact Set, a Ilios, a Citigate<br />

Financial, entre outras. Os detentores de<br />

títulos de dívidas, os analistas e investi<strong>do</strong>res<br />

em potencial estão sen<strong>do</strong> convida<strong>do</strong>s a participar<br />

de reuniões patrocinadas por empresas<br />

- algumas separadas e algumas combinadas<br />

com analistas e investi<strong>do</strong>res de ações.<br />

Nos Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s, as práticas de divulgação<br />

estão passan<strong>do</strong> a incluir tu<strong>do</strong>. A intenção<br />

é a de fornecer informações oportunas para<br />

to<strong>do</strong>s ao mesmo tempo. O Regulamento FD<br />

(Fair Disclosure) está sen<strong>do</strong> aplica<strong>do</strong> a to<strong>do</strong> o<br />

merca<strong>do</strong>, incluin<strong>do</strong> detentores de ações e de<br />

títulos de dívidas e quaisquer outros investi<strong>do</strong>res<br />

interessa<strong>do</strong>s.<br />

Os detentores de títulos de dívidas observam<br />

de perto as classificações atribuídas à empresa<br />

pelas agências de classificação. Essas<br />

classificações afetam a qualidade, o custo e<br />

o rendimento <strong>do</strong>s títulos de dívidas e, conseqüentemente,<br />

afetam os retornos sobre os<br />

investimentos diretamente. Os investi<strong>do</strong>res<br />

usam as classificações para avaliar o risco,<br />

consistente com os retornos espera<strong>do</strong>s. Os<br />

RIs geralmente participam das apresentações<br />

feitas para as agências que levam à atribuição<br />

de classificações para diversos títulos<br />

de dívidas e ofertas.<br />

(*) WILLIAM F. MAHONEY - expert em<br />

Relações com Investi<strong>do</strong>res - é o autor <strong>do</strong><br />

livro “Manual <strong>do</strong> RI: Princípios e Melhores<br />

Práticas de Relações com Investi<strong>do</strong>res”,<br />

de onde foi extraí<strong>do</strong> este artigo. (E-mail:<br />

wfmahoney35@verizon.net)<br />

C<br />

MC<br />

YM<br />

CM Y<br />

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CY MY<br />

CMY CY<br />

CMY K<br />

K


GOVERNANÇA & MERCADO<br />

EMPRESAS<br />

HOLDINGS<br />

SÃO ICEBERGS DE DESTRUIÇÃO<br />

DE VALOR ECONÔMICO?<br />

32 REVISTA RI Fevereiro 2009


O verbo to hold em inglês tem os significa<strong>do</strong>s<br />

de manter, controlar e guardar entre outros.<br />

O que são empresas holdings?<br />

De maneira mais abrangente, podemos dizer que constituem um <strong>do</strong>s muitos<br />

instrumentos usa<strong>do</strong>s nas economias capitalistas para fins de controle empresarial,<br />

entre os quais os acor<strong>do</strong>s internacionais (exemplo: Acor<strong>do</strong> de Kyoto), as leis nacionais<br />

(como a Lei das Sociedades Anônimas, n. 6.404 de 15/12/76 e suas revisões), a<br />

O regulamentação verbo to hold vigente em inglês (as várias tem instruções os significa<strong>do</strong>s da Comissão de manter, de Valores Mobiliários,<br />

controlar para exemplificar), e guardar a auto-regulação entre outros. de O merca<strong>do</strong> que são (citan<strong>do</strong> empresas aqui o holdings?<br />

Novo Merca<strong>do</strong><br />

e os Níveis 1 e 2 de governança da Bolsa de Valores de São Paulo), os estatutos<br />

empresariais, os acor<strong>do</strong>s de acionistas, os códigos de ética, os regulamentos<br />

empresariais próprios, os contratos e muito mais, incluin<strong>do</strong> os ditames da cultura<br />

e suas regras informais (em geral, férreas). Se refletirmos de maneira mais restrita,<br />

holdings são, também, portfólios de ativos, de forte a fracamente administra<strong>do</strong>s.<br />

por Mônica Mansur Brandão*<br />

Mas por que pode fazer senti<strong>do</strong> criar uma<br />

empresa holding? Acionistas não preferem<br />

diversificar eles mesmos seu portfólio de<br />

investimentos? Por que uma holding pode<br />

valer menos no merca<strong>do</strong> de ações <strong>do</strong> que<br />

a soma de suas subsidiárias?<br />

Tais perguntas fazem senti<strong>do</strong>, pois, para muitos<br />

investi<strong>do</strong>res, a necessidade de criação de<br />

uma holding pode parecer algo subjetivo ou<br />

imaterial. Há algum tempo, um colega de<br />

trabalho, executivo de finanças, investi<strong>do</strong>r<br />

e estudioso <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> de capitais, fez uma<br />

afirmativa que nos fez pensar: holding é algo<br />

que eu não compreen<strong>do</strong> bem e que, portanto,<br />

considero arrisca<strong>do</strong>, pois nunca se sabe<br />

exatamente como se dão as transferências de<br />

valor econômico entre ela e seus principais<br />

acionistas. Ficamos com essa frase na cabeça<br />

e ela motiva a existência <strong>do</strong> presente artigo.<br />

Após trocar idéias com alguns investi<strong>do</strong>res e<br />

administra<strong>do</strong>res <strong>do</strong> nosso relacionamento, os<br />

quais preferem não ser cita<strong>do</strong>s, chegamos à<br />

seguinte hipótese: holdings não serão icebergs<br />

de destruição de valor econômico, a depender<br />

de como forem usadas em prol <strong>do</strong> seu<br />

conjunto de acionistas como um to<strong>do</strong>.<br />

Quais motivos podem ensejar a criação de<br />

holdings? Vários, aqui dividi<strong>do</strong>s em <strong>do</strong>is grupos:<br />

aqueles liga<strong>do</strong>s às pessoas físicas e às<br />

suas famílias e aqueles liga<strong>do</strong>s à administração<br />

de negócios per se. Pessoas físicas podem<br />

abrigar seus ativos em empresas holdings por<br />

entenderem que isso é mais conveniente sob<br />

o prisma da segurança pessoal e da gestão<br />

patrimonial. Raciocinan<strong>do</strong> com base nos interesses<br />

da família, elas podem buscar uma<br />

solução para assegurar a presença familiar<br />

nos negócios por muitos anos, mitigar conflitos<br />

e favorecer o aproveitamento de talentos e<br />

experiências familiares onde for mais conveniente.<br />

Já sob o prisma administrativo, o qual<br />

também pode interessar às pessoas e famílias,<br />

as holdings criam a obrigatoriedade de ampliar<br />

a visão sistêmica <strong>do</strong>s negócios, podem contribuir<br />

para melhor equacionar o pagamento<br />

de tributos, favorecer a mitigação de riscos e<br />

mais, prestar serviços às subsidiárias de um<br />

grupo empresarial.<br />

Não podemos deixar de dizer que as holdings<br />

existem sob diferentes tipologias, poden<strong>do</strong> ser<br />

criadas por pessoas, famílias ou empresas, ser<br />

de participações (sem atividade operacional)<br />

ou operacionais (com atividade operacional),<br />

ter capital aberto ou fecha<strong>do</strong>, e ainda, formato<br />

estelar (a holding está no epicentro de holdin<br />

gs dela controla<strong>do</strong>ras e por ela controladas) ou<br />

piramidal (a holding controla outras holdings<br />

a jusante, em cadeia). Naturalmente, essas<br />

tipologias não se auto-esgotam, mas acreditamos<br />

que dão uma idéia <strong>do</strong> que se pode<br />

encontrar no capitalismo. Adicionalmente,<br />

são funções típicas de holdings em muitos<br />

grupos empresariais (em ordem alfabética):<br />

Fevereiro 2009<br />

REVISTA RI<br />

33


GOVERNANÇA & MERCADO<br />

A chave da gestão<br />

da estratégia<br />

de uma holding<br />

(a estratégica<br />

corporativa): criar<br />

sinergias e, portanto,<br />

valor econômico.<br />

aquisição de ativos, auditoria, comunicação<br />

social, conselho de administração e seus<br />

comitês e conselho fiscal, controla<strong>do</strong>ria em<br />

âmbito nacional e internacional (controles de<br />

subsidiárias em países estrangeiros), finanças<br />

corporativas (com destaque para a gestão <strong>do</strong>s<br />

investimentos <strong>do</strong> grupo), jurídico, logística e<br />

suprimentos, meio ambiente, planejamento e<br />

gestão da estratégia, recursos humanos (gente),<br />

relações com investi<strong>do</strong>res, tecnologia geral<br />

e tecnologia de informação entre outras<br />

Se as considerações anteriores ajudam a compreender<br />

as causas da existência das holdings<br />

e os serviços que elas pode prestar a um grupo<br />

empresarial, fica, ainda, faltan<strong>do</strong> fechar um<br />

raciocínio: como as holdings devem ser administradas<br />

em prol <strong>do</strong>s interesses <strong>do</strong>s acionistas<br />

que não dependem delas para diversificar<br />

seus investimentos? Como reunir vários negócios<br />

e unidades de negócios (UNs) sob uma<br />

mesma empresa holding de forma a interessar<br />

aos investi<strong>do</strong>res cita<strong>do</strong>s? A melhor resposta<br />

que encontramos é: gerin<strong>do</strong> a holding de<br />

maneira a criar sinergias entre as UNs e as<br />

áreas de suporte às mesmas. Exploremos essa<br />

34 REVISTA RI Fevereiro 2009<br />

questão em termos simples, na linha a<strong>do</strong>tada<br />

pelos professores Roberto Kaplan e David<br />

Norton, no livro Alignment (2006): uma hol<br />

ding criada para gerir várias UNs, ao ser implantada,<br />

cria um custo próprio. Sob o ponto<br />

de vista estritamente financeiro, o valor total<br />

das unidades administrativas é subtraí<strong>do</strong>, no<br />

momento da criação da holding, desse custo a<br />

valor presente. Entretanto, se a holding passa<br />

a coordenar as UNs crian<strong>do</strong> sinergias, ou seja,<br />

fazen<strong>do</strong> com que elas operem conjuntamente<br />

de forma superior, o valor econômico <strong>do</strong> grupo<br />

empresarial aumenta. Esta é, portanto, a<br />

chave da gestão da estratégia de uma holding<br />

(a estratégica corporativa): criar sinergias e,<br />

portanto, valor econômico.<br />

Existem inúmeras alternativas que favorecem<br />

a criação de valor via sinergias: administração<br />

otimizada de participações em todas as<br />

suas etapas, busca de acesso comum a fontes<br />

de financiamento de baixo custo, realização<br />

de vendas casadas ou cruzadas para clientes<br />

de diferentes UNs, compartilhamento<br />

de processos e recursos operacionais, gestão<br />

superior de pessoas e de conhecimento são<br />

exemplos que não esgotam o rol de possibilidades.<br />

E existem muitas outras identificadas<br />

por Kaplan e Norton, que buscam explorar a<br />

questão à luz <strong>do</strong> Balanced Scorecard. Sinergias<br />

criadas no âmbito de uma holding podem<br />

e devem mais <strong>do</strong> que compensar os seus<br />

custos próprios. Sob o prisma estratégico,<br />

as estratégias das empresas holdings devem<br />

perseguir sinergias. Cumpre lembrar que a<br />

empresa holding agrega, genericamente, <strong>do</strong>is<br />

riscos muito relevantes: o primeiro risco é o<br />

da fraca governança interna (referimo-nos<br />

aqui à governança das empresas sob a hol<br />

ding), com perda de alinhamento; quan<strong>do</strong> a<br />

holding é fraca, pode permitir que determi-<br />

nadas subsidiárias tomem decisões de forma<br />

não otimizada para o grupo empresarial, com<br />

substancial perda de sinergia. Em segun<strong>do</strong><br />

lugar, existe o risco da falta de transparência,<br />

já que os públicos externos acessam apenas<br />

parte das informações empresariais.<br />

Holdings podem ser mais descontadas nos<br />

merca<strong>do</strong>s acionários; conforme dito inicialmente,<br />

o preço de suas ações pode ser inferior<br />

ao valor total das ações de empresas sob elas<br />

abrigadas, assim atestam exemplos <strong>do</strong> mun<strong>do</strong><br />

real. É louvável o esforço que alguns grupos<br />

empresariais têm feito buscan<strong>do</strong> reduzir esse<br />

desconto, aumentan<strong>do</strong> sua transparência e<br />

demonstran<strong>do</strong> sua boa governança, mas explicitar<br />

com clareza o papel das holdings na criação<br />

de sinergias merece grande atenção <strong>do</strong>s<br />

dirigentes empresariais. Não basta fazer bem,<br />

é preciso demonstrar que se faz bem. Nesse<br />

senti<strong>do</strong>, enfatizamos aqui o papel fundamental<br />

das áreas de Relações com Investi<strong>do</strong>res das<br />

companhias holdings com ações em Bolsa de<br />

Valores: elas têm o grande desafio de demonstrar<br />

aos investi<strong>do</strong>res <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> de capitais<br />

como a holding cria maior valor <strong>do</strong> que o custo<br />

que impõe pelo fato de existir.<br />

(*) MÔNICA MANSUR BRANDÃO<br />

é conselheira da Apimec-MG, profissional<br />

de finanças, professora, MBA em Finanças,<br />

especializada em Gestão Estratégica e mestre em<br />

Administração (E-mail: mbran@terra.com.br).


SUSTENTABILIDADE<br />

Governança:<br />

uma questão de<br />

sustentabilidade<br />

36 REVISTA RI Fevereiro 2009


Nenhuma empresa pode afirmar ter comunicação empresarial<br />

efetiva, quan<strong>do</strong> não permite à sociedade ter acesso a informações<br />

relevantes ao seu próprio desenvolvimento. E isso está relaciona<strong>do</strong><br />

tanto a Governança Corporativa como a Sustentabilidade.<br />

por Roberto Gonzalez*<br />

A Guerra de Secessão <strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s (1860-1864) teve um forte<br />

impacto nas relações humanas e nas estruturas empresariais agrárias<br />

e urbanas: o Norte, industrializa<strong>do</strong>, necessitava de trabalha<strong>do</strong>res<br />

assalaria<strong>do</strong>s; o Sul, agrícola, contava com mão-de-obra basicamente<br />

escrava. Nessa região, por óbvias razões, não existia o debate sobre o<br />

papel econômico e social das fazendas ou empresas rurais.<br />

Enquanto isso, o Norte já discutia o papel social que as estradas<br />

de ferro e as indústrias poderiam desempenhar. Notou-se que<br />

os habitantes desses esta<strong>do</strong>s estavam mais expostos à educação<br />

e ao conhecimento. Podemos afirmar que foram as empresas<br />

que contribuíram para o desenvolvimento socioeconômico dessa<br />

região, mesmo que neste início poucos promovessem a valorização<br />

profissional <strong>do</strong>s trabalha<strong>do</strong>res.<br />

A formação <strong>do</strong>s primeiros sindicatos, por sua vez, deu início ao<br />

debate sobre a qualidade de vida no trabalho, ainda que naquela<br />

época ninguém soubesse qual a real dimensão de questões como<br />

diminuição da jornada (que, em alguns casos, chegava a 18 horas<br />

diárias de trabalho), direito à alimentação, benefícios e outros.<br />

Em 1908, na Inglaterra, foi funda<strong>do</strong> o Institute of Directors, que<br />

reunia os gestores das empresas britânicas, mas que não promoveu<br />

avanços significativos. Basicamente, os participantes ordenaram<br />

os princípios que deveriam orientar a condução <strong>do</strong>s negócios e as<br />

relações conflitantes existentes.<br />

Quan<strong>do</strong> os sindicatos estavam consolida<strong>do</strong>s (por volta da década de<br />

1960), nos Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s e na Europa começaram a surgir com muita<br />

força as Organizações Não-Governamentais (ONGs). Muitas foram<br />

criadas para cobrar das empresas boas relações com a comunidade,<br />

especialmente no que dizia respeito a questões socioambientais.<br />

Na mesma época, no mun<strong>do</strong> to<strong>do</strong>, começaram a surgir leis específicas,<br />

com o objetivo de regulamentar as relações entre empresas e<br />

a sociedade. O movimento ficou ainda mais forte nas décadas<br />

subseqüentes, quan<strong>do</strong> também foram criadas diversas instituições de<br />

defesa <strong>do</strong>s interesses <strong>do</strong> consumi<strong>do</strong>r.<br />

Nasce um coNceito<br />

Seguin<strong>do</strong> essa tendência, os investi<strong>do</strong>res que inicialmente entregavam<br />

seus recursos, interessa<strong>do</strong>s unicamente no retorno financeiro e sem<br />

a preocupação de como a empresa atuaria para atingir esse objetivo,<br />

começaram a alterar suas posturas.<br />

Tornou-se óbvio para to<strong>do</strong>s que organizações com péssimas<br />

relações trabalhistas apresentavam um passivo enorme, menor<br />

produtividade e baixa motivação, o que refletia negativamente<br />

nos resulta<strong>do</strong>s operacionais. Além disso, empresas que poluíam<br />

o meio ambiente comprometiam o resulta<strong>do</strong> financeiro da<br />

organização, graças às autuações <strong>do</strong>s órgãos regula<strong>do</strong>res e à<br />

própria atitude <strong>do</strong>s clientes.<br />

Hoje, mesmo com a crise socioeconômica, a sociedade está mais<br />

esclarecida e consciente <strong>do</strong> papel que uma empresa deve representar.<br />

Se ela não atende às necessidades <strong>do</strong> público usuário de seus produtos<br />

e serviços e às responsabilidades perante a ocorrência de equívocos,<br />

com certeza diminuirá sua participação no market share.<br />

Mais uma vez, isso representará resulta<strong>do</strong>s financeiros negativos. Ao<br />

sonegar impostos, terá, posteriormente, multas e será cobrada pela<br />

quantia que não havia si<strong>do</strong> paga, com juros e correção, acarretan<strong>do</strong><br />

em uma corrosão <strong>do</strong> lucro.<br />

Assim nasce o conceito de governança corporativa, em que as<br />

relações de uma empresa com to<strong>do</strong>s os seus públicos estratégicos<br />

(acionistas, fornece<strong>do</strong>res, usuários e clientes, trabalha<strong>do</strong>res, governos,<br />

Fevereiro 2009<br />

REVISTA RI<br />

37


SUSTENTABILIDADE<br />

o Cadbury Committee definiu governança corporativa como o<br />

sistema por meio <strong>do</strong> qual companhias são dirigidas e controladas.<br />

os conselhos de administração são responsáveis pela governança<br />

de suas companhias. o papel <strong>do</strong>s acionistas na governança<br />

é indicar os conselheiros e os auditores e certificar que uma<br />

adequada estrutura de governança está sen<strong>do</strong> implantada.<br />

comunidade etc.) são fundamentais para a execução de uma boa<br />

gestão. Essas idéias foram compiladas no final <strong>do</strong> século XX.<br />

Em dezembro de 1992, o Cadbury Committee definiu governança<br />

corporativa como o sistema por meio <strong>do</strong> qual companhias são dirigidas<br />

e controladas. Os conselhos de administração são responsáveis pela<br />

governança de suas companhias. O papel <strong>do</strong>s acionistas na governança<br />

é indicar os conselheiros e os auditores e certificar que uma adequada<br />

estrutura de governança está sen<strong>do</strong> implantada.<br />

Neste ano, o Cadbury Committee desenvolveu o primeiro código de<br />

orientação das relações entre acionistas e gestores de empresas: o The<br />

Cadbury Report. Podemos dizer que esse foi o primeiro código de<br />

governança corporativa.<br />

Dois anos depois, no Canadá, a Bolsa de Toronto editou o Dey Report,<br />

que destaca: governança corporativa significa o processo e estrutura<br />

utilizada para dirigir e gerenciar os negócios da companhia, com o objetivo<br />

de aumentar o valor <strong>do</strong>s acionistas, o que inclui assegurar a viabilidade<br />

econômica da empresa. O processo e estrutura definem a divisão de<br />

poder e estabelecem os mecanismos para fixar responsabilidades entre<br />

acionistas, conselho de administração e direção executiva.<br />

Também em 1997, surge o The Hampel Report, que abor<strong>do</strong>u mais as<br />

relações <strong>do</strong>s agentes envolvi<strong>do</strong>s direta e indiretamente com a empresa.<br />

Dois anos depois, a Organização de Cooperação e Desenvolvimento<br />

Econômico (OCDE) elaborou o Código das Melhores Práticas de<br />

Governança Corporativa, com ênfase nas relações da empresa com<br />

seus stakeholders (públicos estratégicos).<br />

Desde então o debate sobre Governança Corporativa só cresceu no<br />

mun<strong>do</strong> inteiro e no momento da crise atual amplia-se a discussão<br />

sobre a pratica da Governança Corporativa e também uma forte<br />

reflexão relacionada a agilidade de tomada de decisões que o<br />

momento atual necessita.<br />

Governança no Brasil em linhas Gerais<br />

No Brasil, em 1995, foi funda<strong>do</strong> o Instituto Brasileiro de Conselho de<br />

Administração (IBCA). Começava, aqui, o debate sobre governança<br />

38 REVISTA RI Fevereiro 2009<br />

corporativa praticamente no mesmo instante que nas nações mais<br />

industrializadas. Em 1997, o nome da entidade foi modifica<strong>do</strong> para<br />

Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC).<br />

O IBGC, no seu nascimento, definia assim o conceito de governança:<br />

sistema que permite aos acionistas ou cotistas o governo estratégico<br />

de sua empresa e a efetiva monitoração da direção executiva. As<br />

ferramentas que garantem o controle da propriedade sobre a gestão<br />

são o conselho de administração, a auditoria independente e o<br />

conselho fiscal.<br />

Em 1999, o IBGC apresenta o primeiro código de melhores práticas<br />

de governança corporativa made in Brazil, foca<strong>do</strong> unicamente no<br />

conselho de administração, que considerava sugestões <strong>do</strong> Top<br />

Management Summit, realiza<strong>do</strong> em abril de 1997.<br />

Em 2000 é lança<strong>do</strong> o Novo Merca<strong>do</strong> um divisor de águas no que<br />

tange a Governança Corporativa no Merca<strong>do</strong> de Capitais Brasileiro.<br />

Em abril de 2001, o IBGC lançava a segunda edição desse código,<br />

que abordava, além <strong>do</strong> conselho de administração, questões como<br />

propriedade, acionistas, diretoria executiva, auditoria independente,<br />

conselho fiscal, ética e conflito de interesses. Também mencionava,<br />

pela primeira vez, a relação com os stakeholders, deixan<strong>do</strong> claro<br />

que o Chief Executive Officer (CEO) e a diretoria da empresa são<br />

responsáveis pela relação com os públicos estratégicos.<br />

Em 2004, o IBGC lançou a 3ª edição <strong>do</strong> código. Como o tempo passou,<br />

atualmente, o instituto a<strong>do</strong>ta a seguinte definição para governança<br />

corporativa: conjunto de práticas e relacionamentos entre acionistas/<br />

cotistas, conselho de administração, diretoria, auditoria independente<br />

e conselho fiscal, com a finalidade de otimizar o desempenho da<br />

empresa e facilitar o acesso ao capital.<br />

Com tantas definições (são mais de 30 em to<strong>do</strong> o mun<strong>do</strong>), tomei a<br />

liberdade, em abril de 2002, de formatar uma definição conceitual<br />

que, acredito, retrata a essência <strong>do</strong> que deve ser governança<br />

corporativa: é to<strong>do</strong> o processo de gestão e monitoramento desta que<br />

leva em consideração os princípios da responsabilidade corporativa<br />

(fiscal, social, trabalhista, comunitária, ambiental, societária,


etc.), com interação com o ambiente e os públicos estratégicos,<br />

os chama<strong>do</strong>s stakeholders, em busca da sustentabilidade para ser<br />

perene. Em setembro de 2007 troquei a palavra perene por longeva.<br />

Em outro artigo abordarei a diferença dessas duas palavras que em<br />

um primeiro momento podem parecer sinônimos.<br />

Um grande momento no Brasil foi em 2007 quan<strong>do</strong> a agenda <strong>do</strong><br />

IBGC (Instituto Brasileiro de Governança Corporativa) foi dedicada<br />

a debater a Sustentabilidade na visão da Governança Corporativa e a<br />

convergência <strong>do</strong>s conceitos.<br />

DifERENçAs<br />

É importante destacar que a questão da governança corporativa<br />

teve início na Europa por um motivo e, nos Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s, por<br />

outro. O Velho Continente que apresentava uma concentração <strong>do</strong><br />

capital da propriedade debateu-se sobre os direitos <strong>do</strong>s acionistas<br />

que não faziam parte <strong>do</strong> bloco de controle. Ou seja, aqueles que<br />

não estavam no grupo com mais de 50% das ações com direito a<br />

voto nas empresas.<br />

Já nos Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s, a grande pulverização das ações fez com que os<br />

corpos diretivos das companhias efetuassem aumentos para si tanto na<br />

remuneração fixa, como na variável amplian<strong>do</strong> a participação nos resulta<strong>do</strong>s<br />

e a blindagem contra riscos, o que contribuiu para que os detentores <strong>do</strong><br />

capital da propriedade não fossem devidamente remunera<strong>do</strong>s.<br />

Em outras palavras: nos Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s, a gestão de uma empresa<br />

detinha to<strong>do</strong> seu controle e, praticamente, não ouvia os acionistas.<br />

Em muitos casos, o CEO (Chief Executive Officer) era chairman, ou<br />

seja o presidente da diretoria era também presidente <strong>do</strong> conselho de<br />

administração. Eles deveriam defender os interesses da companhia<br />

e maximizar os retornos para os acionistas. Entretanto, na prática,<br />

defendiam muito mais os interesses <strong>do</strong>s gestores.<br />

Vale aqui uma explicação: quan<strong>do</strong> me refiro a defender os interesses<br />

da companhia, penso no melhor desenvolvimento da organização,<br />

o que envolve as relações da empresa com to<strong>do</strong>s os seus públicos<br />

estratégicos, os stakeholders.<br />

UNiãO DE iDéiAs<br />

To<strong>do</strong>s esses fatos e idéias levaram à união <strong>do</strong> conceito de governança<br />

corporativa ao da comunicação empresarial e consequentemente<br />

sustentabilidade, que tem início com os que estão ao la<strong>do</strong>. Isto é,<br />

sócios, trabalha<strong>do</strong>res, clientes, fornece<strong>do</strong>res, acionistas, comunidade,<br />

entre outros. Nenhuma empresa pode afirmar ter comunicação<br />

empresarial efetiva, quan<strong>do</strong> não permite à sociedade ter acesso a<br />

informações relevantes ao seu próprio desenvolvimento.<br />

Toda empresa pode ter boas práticas de governança corporativa se<br />

a<strong>do</strong>tar procedimentos de transparência, como parte de um sistema<br />

estratégico e integra<strong>do</strong> de comunicação, de forma a facilitar a<br />

oferta de informações aos públicos estratégicos. As organizações<br />

devem prestar contas de uma forma ágil, eficiente e respeitosa.<br />

Ainda, devem não só cumprir à risca toda a estafante legislação<br />

nacional, mas também os mais exigentes dispositivos de regulamentação<br />

internacionais.<br />

Alguns dizem que o principal benefício da governança corporativa,<br />

em empresas de capital aberto, é a segurança decorrente da recomendação<br />

de que essas companhias devem ter vários conselheiros<br />

independentes. Caso esses conselheiros não façam nada <strong>do</strong> que foi<br />

exposto até aqui, abre-se um precedente para o questionamento:<br />

são empresas com boas práticas de governança corporativa?<br />

As empresas que desejarem dar um salto de qualidade e cumprir os<br />

quatro princípios básicos da governança corporativa transparência<br />

à sociedade, equidade com os públicos estratégicos, prestação de<br />

contas a to<strong>do</strong>s os envolvi<strong>do</strong>s com a organização e responsabilidade<br />

corporativa devem, com a máxima prioridade, implantar modelos<br />

de gestão e programas de comunicação empresarial que,<br />

provavelmente, poderão garantir a efetividade <strong>do</strong>s esforços.<br />

Por tu<strong>do</strong> isso, a frase os investi<strong>do</strong>res são uns tolos, porque nos<br />

dão seus recursos, e arrogantes, porque ainda querem explicações<br />

a respeito, dita por Carl Fürstenberg, banqueiro alemão,<br />

(*1850 | +1933), no final <strong>do</strong> século XIX, não tem mais espaço<br />

no mun<strong>do</strong> atual. As corporações que assim pensarem estarão<br />

caminhan<strong>do</strong> a passos largos em direção à não-existência.<br />

(*) ROBERTO GONZALEZ<br />

é diretor de estratégia de sustentabilidade da The Media Group -<br />

Comunicação Corporativa, membro <strong>do</strong> Conselho Deliberativo <strong>do</strong> ISE (Índice<br />

de Sustentabilidade Empresarial) da BM&FBovespa, <strong>do</strong> Conselho <strong>do</strong> Fun<strong>do</strong><br />

Ethical da Asset Management <strong>do</strong> Banco Real, professor convida<strong>do</strong> da FIA/USP<br />

e na Trevisan Escola de Negócios e USCS (roberto@mediagroup.com.br)<br />

Obs.: A base deste artigo foi extraída <strong>do</strong> texto publica<strong>do</strong> pelo autor no livro<br />

“Ética na vida das empresas”.<br />

Fevereiro 2009<br />

REVISTA RI<br />

39


DESTAQUE<br />

AGOSTINHO<br />

FARIA CARDOSO<br />

SupERINTENDENTE DE RI DA CEMIG<br />

40 REVISTA RI Fevereiro 2009


TRANSIÇÃO NA ÁREA DE RI:<br />

CEMIG DÁ EXEMPLO AO MERCADO<br />

Não é a toa que a Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig)<br />

é reconhecida no merca<strong>do</strong> financeiro pela excelência na área<br />

de relações com investi<strong>do</strong>res. A transição ocorrida na área nos<br />

últimos <strong>do</strong>is anos tornou-se um exemplo de como lidar com as<br />

expectativas <strong>do</strong>s investi<strong>do</strong>res e analistas diante de mudanças.<br />

por Ana Borges<br />

Com o objetivo de evitar que as mudanças<br />

prejudicassem a área, a empresa preparou o<br />

terreno para a saída de Luiz Fernan<strong>do</strong> Rolla,<br />

profissional reconheci<strong>do</strong> no merca<strong>do</strong>, da superintendência<br />

de relações com investi<strong>do</strong>res.<br />

Rolla, que recebeu diversos prêmios por seu<br />

trabalho junto ao merca<strong>do</strong>, foi o responsável<br />

pela implantação <strong>do</strong>s programas de ADR nível<br />

I e II na New York Stock Exchange e Nível<br />

I de Governança na Bovespa. Dentre os<br />

reconhecimentos, o executivo foi eleito, por<br />

exemplo, como Melhor Profissional de RI por<br />

diversos anos pelas Associação <strong>do</strong>s Analistas e<br />

Profissionais de Investimento <strong>do</strong> Merca<strong>do</strong> de<br />

Capitais (Apimec) e recebeu o prêmio da IR<br />

Magazine (2006).<br />

Após a saída da superintendência, Rolla não<br />

conseguiu ficar muito tempo afasta<strong>do</strong> da empresa:<br />

foi convida<strong>do</strong> à retornar aos negócios<br />

e assumiu a diretoria de Finanças, Relações<br />

com Investi<strong>do</strong>res e Controle de Participações<br />

da Cemig. As mudanças trouxeram um aprimoramento<br />

para o dia-a-dia <strong>do</strong> relacionamento<br />

com o merca<strong>do</strong> que, mesmo sem a presença de<br />

Rolla na superintendência, não ficou nenhum<br />

pouco desampara<strong>do</strong>.<br />

Para a sucessão da superintendência, a companhia<br />

tinha duas opções. A primeira seria escolher<br />

um profissional da casa, que já conhecesse<br />

os processos da empresa e que pudesse passar<br />

a atuar na área de RI. Já a segunda possibilidade<br />

consistia em escolher um profissional experiente<br />

de RI, mas que precisasse passar pelo<br />

aprendiza<strong>do</strong> sobre a companhia.<br />

Fevereiro 2009<br />

REVISTA RI<br />

41


DESTAQUE<br />

A decisão foi pela primeira opção, com a escolha<br />

da prata da casa, Agostinho Faria Car<strong>do</strong>so.<br />

A empresa entendeu que seria melhor para<br />

o cargo um profissional que conhecesse seus<br />

processos internos e com conhecimento tanto<br />

sobre o setor de energia quanto de finanças.<br />

O executivo trabalha na Cemig desde 1985 e<br />

atuou nas áreas de operação, gerenciamento<br />

da demanda, comercialização com grandes<br />

clientes e compra e venda de energia no ataca<strong>do</strong><br />

e gestão de riscos de energia.<br />

Car<strong>do</strong>so aceitou o desafio e para se adequar<br />

às exigências da área de RI e passou<br />

um ano acompanhan<strong>do</strong> Rolla no dia-adia<br />

<strong>do</strong> atendimento a investi<strong>do</strong>res. O<br />

novo superintendente também começou<br />

a participar <strong>do</strong>s encontros públicos com<br />

investi<strong>do</strong>res, como road shows e reuniões<br />

Apimecs. O desafio de substituir um<br />

campeão não é fácil. Mas a forma como<br />

o processo foi feito, facilitou a transição,<br />

conta Car<strong>do</strong>so. Ele participou de programas<br />

de treinamento no Brasil e nos Esta<strong>do</strong>s<br />

Uni<strong>do</strong>s que além de abordarem as<br />

formas de ampliar e melhorar o relacionamento<br />

com investi<strong>do</strong>res e imprensa,<br />

também evolveram questões regulatórias,<br />

como legislação societária.<br />

Car<strong>do</strong>so começou a assumir aos poucos as<br />

responsabilidades <strong>do</strong> cargo. Durante este<br />

tempo, fui sen<strong>do</strong> prepara<strong>do</strong> para a função<br />

de RI, com a oportunidade única de ter o<br />

próprio Luiz Fernan<strong>do</strong> como mestre, lembra.<br />

Segun<strong>do</strong> Car<strong>do</strong>so a principal característica<br />

de seu antecessor é a generosidade.<br />

Ele me passou o seu conhecimento com<br />

paciência. Não via isso como obrigação,<br />

conta. Após um ano de treinamento, Car<strong>do</strong>so<br />

assumiu a área de RI.<br />

Hoje, após <strong>do</strong>is anos desde o início da transição,<br />

a equipe de RI está completamente<br />

formada e a solução da continuidade foi<br />

42 REVISTA RI Fevereiro 2009<br />

obtida com sucesso. Como o Luiz Fernan<strong>do</strong><br />

assumiu a função de diretor financeiro,<br />

também nos dá apoio à atividade e auxilia<br />

nas metas de cobertura. Antes mesmo <strong>do</strong><br />

Brasil ser grau de investimento, buscamos<br />

ampliar a cobertura de RI para os investi<strong>do</strong>res<br />

da Ásia, diz. A Cemig atualmente<br />

atende as demandas de investi<strong>do</strong>res<br />

asiáticos, europeus e americanos, sem<br />

deixar de buscar aprimorar o atendimento<br />

aos investi<strong>do</strong>res brasileiros. Além de<br />

realizar as reuniões Apimecs nas capitais,<br />

a equipe de RI da Cemig também tem<br />

i<strong>do</strong> ao interior.<br />

Além de Agostinho, outros profissionais<br />

da casa passaram pelo processo de<br />

aprendizagem sobre o relacionamento<br />

com o investi<strong>do</strong>r. Este ano, o gerente<br />

de RI, Antônio Carlos Vélez Braga, fez<br />

o mesmo treinamento em Nova Iorque,<br />

junto com outros executivos.<br />

A área de RI também conta como apoio<br />

<strong>do</strong>s executivos da empresa, que participam<br />

das reuniões com o merca<strong>do</strong>.<br />

Com o contato direto junto aos investi<strong>do</strong>res,<br />

os executivos passam ver como<br />

funcionam as reuniões e as demandas<br />

<strong>do</strong> merca<strong>do</strong>. Ao mesmo tempo, o investi<strong>do</strong>r<br />

tem a oportunidade de perguntar<br />

diretamente para o responsável pela<br />

área, explica.<br />

Estatísticas<br />

Luiz Fernan<strong>do</strong> Rolla e<br />

Agostinho Faria Car<strong>do</strong>so<br />

A Cemig buscou, em 2007, ampliar suas<br />

ações junto ao merca<strong>do</strong> de capitais com o<br />

objetivo de estabelecer um relacionamento<br />

cada vez mais transparente, em consonância<br />

com as práticas de governança corporativa,<br />

tornan<strong>do</strong>-se mais próxima <strong>do</strong>s acionistas,<br />

analistas e investi<strong>do</strong>res. As divulgações<br />

<strong>do</strong>s resulta<strong>do</strong>s trimestrais e anual foram<br />

realizadas por apresentações transmitidas<br />

via vídeo webcast e teleconferência, com<br />

tradução simultânea para o inglês, contan<strong>do</strong><br />

com a presença <strong>do</strong> presidente <strong>do</strong><br />

Conselho de Administração e da diretoria<br />

Executiva da companhia.<br />

Ao longo <strong>do</strong> ano, a Cemig esteve presente,<br />

no Brasil e no exterior em<br />

84 seminários, conferências e encontros<br />

com investi<strong>do</strong>res; 10 congressos; 11 road<br />

shows; além de teleconferências e videoconferências<br />

com analistas de merca<strong>do</strong><br />

de capitais e investi<strong>do</strong>res. Os eventos nacionais<br />

e internacionais ultrapassaram a<br />

marca de 490 reuniões individuais.<br />

Foram realizadas também ações focadas na<br />

educação financeira <strong>do</strong>s investi<strong>do</strong>res individuais,<br />

pela participação nas Expo Money de<br />

São Paulo e de Belo Horizonte, bem como<br />

no The World Money Show, em Orlan<strong>do</strong> nos<br />

Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s.


FATO RELEVANTE<br />

codim<br />

orienta comPanhiaS aBertaS SoBre<br />

ato e Fato reLeVante<br />

por Giovanna Zanarolli e Jennifer almeida<br />

Os relatores <strong>do</strong> pronunciamento foram<br />

Edison Garcia pela AMEC Associação<br />

de Investi<strong>do</strong>res <strong>do</strong> Merca<strong>do</strong> de Capitais<br />

e Marcos Sanchez pelo IBRACON<br />

Instituto <strong>do</strong>s Auditores Independentes<br />

<strong>do</strong> Brasil.<br />

O CODIM sugere que a linguagem utilizada<br />

pelas companhias quan<strong>do</strong> forem<br />

divulgar qualquer fato relevante seja a<br />

mais clara possível. A linguagem deve<br />

facilitar o entendimento de todas as informações<br />

de forma elucidativa <strong>do</strong> fato<br />

que se queira divulgar, explica Edison<br />

Garcia. Em um merca<strong>do</strong> sadio to<strong>do</strong>s devem<br />

ter acesso às informações adequadas,<br />

sempre privilegian<strong>do</strong> a transparência,<br />

completa Marcos Sanchez.<br />

O pronunciamento orienta que a companhia<br />

crie um Comitê de Divulgação assim<br />

como ressalta que a linguagem deve<br />

ser clara e acessível. O Comitê de Divulgação<br />

deve conter membros da área<br />

de Relações com Investi<strong>do</strong>res, Finanças,<br />

Jurídica e de Comunicação - conforme<br />

sugere o <strong>do</strong>cumento <strong>do</strong> CODIM. O<br />

esforço <strong>do</strong> Comitê é para auxiliar os<br />

novos participantes <strong>do</strong> merca<strong>do</strong>, mas<br />

também orientar aqueles que não tem o<br />

hábito de seguir as orientações, finaliza<br />

Edison Garcia.<br />

Acompanhe o pronunciamento na íntegra:<br />

44<br />

REVISta RI<br />

Fevereiro 2009<br />

codim<br />

comitÊ de orientação Para diVuLGação<br />

de inFormaçÕeS ao merca<strong>do</strong><br />

(aBraSca – amec – anBid – ancor – aPimec – BoVeSPa – cFc – iBGc – iBracon – iBri)<br />

Pronunciamento<br />

de orientação nº 05,<br />

de 27 de novembro de 2008.<br />

EmEnta: ato ou Fato reLeVante.<br />

aBRanGÊnCIa. ESCLaRECImEntOS<br />

DE COnCEItOS E PROCEDImEntOS.<br />

tRanSPaRÊnCIa E BOaS PRÁtICaS DE<br />

GOVERnanÇa CORPORatIVa. aDOÇÃO<br />

DE REGRaS PRUDEnCIaIS. CUmPRImEntO<br />

Da InStRUÇÃO Da CVm.<br />

O Comitê de Orientação para Divulgação de<br />

Informações ao Merca<strong>do</strong> CODIM, com base<br />

em sua competência, torna público que, após<br />

submeter a matéria em audiência pública,<br />

aprovou, por decisão de seus membros em reunião<br />

realizada no dia 23 de outubro de 2008,<br />

o presente Pronunciamento de Orientação, o<br />

que faz mediante os seguintes termos:<br />

conceituação<br />

A divulgação <strong>do</strong> ato ou fato relevante é<br />

obrigação prevista na Lei 6.404/1976 (art.<br />

157, §§ 4º e 5º) como dever de informar <strong>do</strong><br />

administra<strong>do</strong>r da companhia. Essa obrigação<br />

foi regulamentada pela Comissão de<br />

Valores Mobiliários (art. 8º, III e 22, § 1º,<br />

I, V e VI da Lei 6.385/1976), e detalhada<br />

na Instrução CVM 358/2002.<br />

Assim, com o objetivo de orientar as companhias<br />

abertas quanto à correta e tempestiva<br />

utilização das ferramentas de comunicação<br />

disponíveis, e, principalmente, contribuir<br />

para a melhoria continua da qualidade da informação<br />

prestada, para evitar a prática de irregularidades<br />

como a divulgação incompleta,<br />

inadequada ou intempestiva de informações<br />

ao merca<strong>do</strong>, seguem alguns esclarecimentos<br />

que podem auxiliar a compreensão <strong>do</strong> que<br />

seja ato ou fato relevante.<br />

ato ou Fato reLeVante<br />

Conceito: Para fins deste Pronunciamento<br />

de Orientação e em consonância com<br />

a legislação em vigor e as instruções editadas<br />

pela Comissão de Valores Mobiliários<br />

CVM, considera-se ato ou fato relevante


O quinto pronunciamento de orientação <strong>do</strong> CODIM (Comitê<br />

de Orientação para Divulgação de Informações ao Merca<strong>do</strong>)<br />

sobre Ato e Fato relevante foi divulga<strong>do</strong> no dia 27 de<br />

novembro de 2008 e declara que a informação de ato e fato<br />

relevante é aquela que pode influenciar de mo<strong>do</strong> ponderável<br />

a cotação das ações e outros títulos emiti<strong>do</strong>s pela empresa, a<br />

decisão <strong>do</strong>s investi<strong>do</strong>res de comprar, vender ou manter esses<br />

papéis e ainda a decisão <strong>do</strong>s acionistas de exercer quaisquer<br />

direitos inerentes à titularidade das ações.<br />

qualquer decisão <strong>do</strong>(s) acionista(s) controla<strong>do</strong>r<br />

(es), deliberação da assembléia geral,<br />

deliberação <strong>do</strong>s órgãos de administração da<br />

companhia ou qualquer outro ato ou fato de<br />

caráter político-administrativo, técnico, negocial<br />

ou econômico-financeiro, ocorri<strong>do</strong>s ou<br />

relaciona<strong>do</strong>s aos seus negócios, que possam<br />

influir de mo<strong>do</strong> ponderável na:<br />

a) cotação <strong>do</strong>s valores mobiliários de emissão da<br />

Companhia;<br />

b) decisão <strong>do</strong>s investi<strong>do</strong>res de comprar, vender<br />

ou manter esses valores mobiliários;<br />

c) decisão <strong>do</strong>s investi<strong>do</strong>res de exercer quaisquer<br />

direitos inerentes à condição de titular de valores<br />

mobiliários emiti<strong>do</strong>s pela Companhia ou a<br />

eles referencia<strong>do</strong>s.<br />

To<strong>do</strong> ato ou fato relevante deve ser publica<strong>do</strong> em<br />

jornal de grande circulação utiliza<strong>do</strong> habitualmente<br />

pela companhia, além de ser formalmente<br />

encaminha<strong>do</strong> à CVM, às bolsas de valores ou<br />

às entidades <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> de balcão em que a<br />

companhia aberta negocia os seus valores mobiliários.<br />

Caso a divulgação seja feita de forma resumida,<br />

o ato ou fato relevante deve mencionar<br />

o endereço na rede mundial de computa<strong>do</strong>res<br />

(internet) em que os investi<strong>do</strong>res encontrarão a<br />

informação completa.<br />

ComuniCa<strong>do</strong> ao merCa<strong>do</strong><br />

Conceito: Para fins deste Pronunciamento<br />

de Orientação, da legislação editada e pelas<br />

instruções emanadas da Comissão de Valores<br />

Mobiliários CVM, considera-se passível<br />

de expedição de Comunica<strong>do</strong> ao Merca<strong>do</strong><br />

qualquer informação que não seja conceitualmente<br />

um Fato Relevante, mas que a administração<br />

da companhia aberta considere importante<br />

sua divulgação para to<strong>do</strong>s os agentes<br />

<strong>do</strong> merca<strong>do</strong> de capitais.<br />

A publicação de Comunica<strong>do</strong> ao Merca<strong>do</strong><br />

é facultativa. Todavia, caso a companhia decida<br />

pela publicação, esta deverá ser feita<br />

preferencialmente no jornal habitualmente<br />

utiliza<strong>do</strong> pela companhia.<br />

<strong>do</strong>s objetivos<br />

1. O propósito deste Pronunciamento de<br />

Orientação é o de contribuir para a melhor<br />

e mais eficiente divulgação das informações<br />

aos participantes <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> de valores mobiliários<br />

nacional. Há também o objetivo de<br />

evitar a assimetria informacional, a divulgação<br />

seletiva ou fracionada e/ou a não-divulgação<br />

de informações relevantes, controlar<br />

eventuais vazamentos <strong>do</strong>s Fatos Relevantes,<br />

bem como coibir práticas não-equitativas e<br />

uso irregular de informações privilegiadas.<br />

Buscou-se, também, explicar exemplos de<br />

ato ou fato relevante, mitigan<strong>do</strong> os riscos da<br />

ocorrência de descumprimento da Instrução<br />

da CVM que regula a matéria.<br />

2. As companhias abertas devem preservar o direito<br />

à plena e tempestiva divulgação de informações<br />

para todas as pessoas com as quais se<br />

relacionam, tais como acionistas, investi<strong>do</strong>res,<br />

cre<strong>do</strong>res, agentes de merca<strong>do</strong>, mídia, dentre<br />

outros, evitan<strong>do</strong> assim que eventuais detentores<br />

de informações privilegiadas possam vir a<br />

utilizá-las em proveito próprio ou de terceiros.<br />

3. Dada a responsabilidade legal <strong>do</strong> Diretor<br />

de Relações com Investi<strong>do</strong>res em divulgar<br />

informações ao merca<strong>do</strong> sobre a companhia,<br />

esta deverá garantir mecanismos internos de<br />

mo<strong>do</strong> que as informações sejam tempestivamente<br />

disponibilizadas ao Diretor de Relações<br />

com Investi<strong>do</strong>res para tomar as providências<br />

quanto à sua divulgação ou não.<br />

da abrangênCia <strong>do</strong> ConCeito<br />

de atos ou Fatos relevantes<br />

4. A CVM, com o objetivo de reduzir a influência<br />

de aspectos subjetivos ínsitos à interpretação<br />

<strong>do</strong> conceito de Ato ou Fato Relevante,<br />

fixa<strong>do</strong> em sua Instrução, enumerou, de forma<br />

não exauriente, hipóteses em que é obrigatória<br />

a divulgação de Fato Relevante. É por essa<br />

razão que os administra<strong>do</strong>res das companhias<br />

abertas devem fazer profunda reflexão quanto<br />

ao ato ou fato ocorri<strong>do</strong> e não se ater apenas à<br />

lista exemplificativa constante da Instrução da<br />

CVM ao avaliarem a necessidade de divulgação.<br />

Fevereiro 2009<br />

REVISTA RI 45


FATO RELEVANTE<br />

Deverão, ainda, analisar em que modalidade de<br />

divulgação este ato ou fato melhor se enquadra<br />

– Fato Relevante ou Comunica<strong>do</strong> ao Merca<strong>do</strong>.<br />

Tal avaliação deve levar em conta que em muitas<br />

oportunidades uma situação que a companhia<br />

julga não ser relevante, o merca<strong>do</strong> acaba<br />

tratan<strong>do</strong> como tal, o que reforça a necessidade<br />

de uma avaliação rigorosa.<br />

5. Toda companhia aberta deve, nos termos de<br />

Instrução da CVM, inserir em sua Política de<br />

Divulgação de Informações ao Merca<strong>do</strong> instruções<br />

específicas sobre a divulgação de Ato ou<br />

Fato Relevante, bem como sobre a manutenção<br />

<strong>do</strong> sigilo relativo às informações relevantes ainda<br />

não divulgadas.<br />

6. A a<strong>do</strong>ção de práticas que visem à plena,<br />

ampla e tempestiva divulgação de Ato ou Fato<br />

Relevante proporciona maior credibilidade ao<br />

merca<strong>do</strong> de capitais, agrega valor à companhia<br />

e mitiga os riscos de propositura de ações de<br />

reparação civil e responsabilidade penal aos diretores<br />

e controla<strong>do</strong>res de companhias abertas,<br />

além de constituir salvaguarda aos acionistas<br />

minoritários e outros investi<strong>do</strong>res, que não têm<br />

acesso direto à administração da empresa.<br />

Da análise Objetiva DOs CasOs<br />

COnCretOs<br />

7. Com o intuito de evitar a proliferação de<br />

publicações desnecessárias, os eventos relaciona<strong>do</strong>s<br />

com o Ato ou Fato Relevante devem<br />

ter o seu significa<strong>do</strong> e sua importância analisa<strong>do</strong>s<br />

no contexto das atividades ordinárias<br />

e da dimensão da companhia e não isoladamente.<br />

Recomenda-se evitar a banalização<br />

das divulgações de Atos ou Fatos Relevantes,<br />

que pode prejudicar a qualidade da análise<br />

das referidas informações pelo merca<strong>do</strong>.<br />

Da respOnsabiliDaDe e Da<br />

OpOrtuniDaDe De DivulgaçãO<br />

De atOs Ou FatOs relevantes<br />

8. Todas as informações sobre Ato ou Fato Relevante<br />

da Companhia devem ser centralizadas<br />

na pessoa <strong>do</strong> Diretor de Relações com Investi<strong>do</strong>res.<br />

O DRI é o principal responsável perante<br />

a companhia pela divulgação e comunicação<br />

de Ato ou Fato Relevante, caben<strong>do</strong> ainda aos<br />

acionistas controla<strong>do</strong>res, diretores, membros<br />

46 REVISTA RI Fevereiro 2009<br />

<strong>do</strong>s conselhos de administração, fiscal e <strong>do</strong>s demais<br />

órgãos cria<strong>do</strong>s por disposição estatutária,<br />

a responsabilidade de comunicar ao DRI qualquer<br />

ato ou fato de que tenham conhecimento,<br />

para que esse realize a devida divulgação.<br />

9. Se for verificada a ocorrência de oscilações<br />

atípicas na cotação, no preço ou na quantidade<br />

negociada <strong>do</strong>s valores mobiliários de emissão da<br />

companhia aberta, ou a eles referencia<strong>do</strong>s, é de<br />

responsabilidade <strong>do</strong> DRI, nos termos de Instrução<br />

da CVM, inquirir às pessoas com acesso a<br />

atos ou fatos relevantes, com o objetivo de averiguar<br />

se estas têm conhecimento acerca de informações<br />

que devam ser divulgadas ao merca<strong>do</strong>.<br />

É também responsabilidade <strong>do</strong> DRI prestar informações,<br />

caso a CVM, a bolsa de valores ou a<br />

entidade <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> de balcão organiza<strong>do</strong> em<br />

que os valores mobiliários de emissão da companhia<br />

sejam admiti<strong>do</strong>s à negociação venham a<br />

exigir esclarecimentos adicionais à comunicação<br />

e à divulgação de ato ou fato relevante.<br />

10. Sempre que ocorrer um Ato ou Fato Relevante,<br />

a sua divulgação deverá ser imediata<br />

e simultânea a to<strong>do</strong>s os merca<strong>do</strong>s em que a<br />

companhia aberta tenha seus valores mobiliários<br />

negocia<strong>do</strong>s.<br />

11. Para que um Fato Relevante seja divulga<strong>do</strong><br />

não é necessário que a informação seja<br />

definitiva ou esteja formalizada, basta que<br />

não seja meramente especulativa ou mera<br />

intenção sem base em fatos concretos. Nessas<br />

hipóteses a sua divulgação deve ser feita<br />

à medida que as informações venham a<br />

ser produzidas, pois independentemente da<br />

efetiva conclusão, formalização ou definição<br />

<strong>do</strong> negócio jurídico que deu origem ao Fato<br />

Relevante, as informações devem ser disponibilizadas<br />

ao merca<strong>do</strong> como forma de evitar<br />

surpresas, mitigan<strong>do</strong> o risco de vazamento<br />

de informações privilegiadas.<br />

12. Quanto ao horário da divulgação, este deve<br />

se dar preferencialmente antes <strong>do</strong> início ou<br />

após o encerramento <strong>do</strong>s negócios nos merca<strong>do</strong>s<br />

em que os valores mobiliários da companhia<br />

forem lista<strong>do</strong>s, prevalecen<strong>do</strong> o horário de<br />

funcionamento <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> brasileiro em caso<br />

de incompatibilidade, poden<strong>do</strong> excepcionalmente,<br />

se assim exigirem as circunstâncias, tal<br />

divulgação se dar durante o pregão.<br />

13. Cabe ao Diretor de Relações com Inves-<br />

ti<strong>do</strong>res avaliar criteriosamente a necessidade<br />

de solicitar à bolsa de valores ou merca<strong>do</strong> de<br />

balcão organiza<strong>do</strong> a suspensão da negociação<br />

<strong>do</strong>s Valores Mobiliários da companhia, pelo<br />

tempo necessário à adequada disseminação<br />

<strong>do</strong> Ato ou Fato Relevante, caso seja imperativo<br />

que a sua divulgação ocorra durante o<br />

horário de negociação.<br />

14. A divulgação <strong>do</strong> Ato ou Fato Relevante a ser<br />

veicula<strong>do</strong> em qualquer meio de comunicação,<br />

inclusive informação à imprensa, ou em reuniões<br />

de entidades de classe, investi<strong>do</strong>res, analistas<br />

ou com público seleciona<strong>do</strong>, no País ou no<br />

exterior deve se dar de maneira uniforme, acessível,<br />

tempestiva, ampla e concomitantemente a<br />

to<strong>do</strong> o merca<strong>do</strong> e públicos estratégicos.<br />

15. Os Atos ou Fatos Relevantes podem, excepcionalmente,<br />

deixar de ser divulga<strong>do</strong>s se os<br />

acionistas controla<strong>do</strong>res ou os administra<strong>do</strong>res<br />

da companhia entenderem que sua revelação<br />

porá em risco interesse legítimo da companhia.<br />

Entretanto, os acionistas controla<strong>do</strong>res ou administra<strong>do</strong>res<br />

ficam obriga<strong>do</strong>s diretamente, ou por<br />

intermédio <strong>do</strong> Diretor de Relações com Investi<strong>do</strong>res,<br />

a divulgar imediatamente o ato ou fato<br />

relevante na hipótese da informação escapar ao<br />

controle ou se ocorrer oscilação atípica na cotação,<br />

preço ou quantidade negociada <strong>do</strong>s Valores<br />

Mobiliários de emissão da companhia aberta ou<br />

a eles referencia<strong>do</strong>s.<br />

16. Na hipótese acima prevista, é recomenda<strong>do</strong><br />

aos Administra<strong>do</strong>res e Acionistas Controla<strong>do</strong>res<br />

da companhia submeter à CVM<br />

a sua decisão de, excepcionalmente, manter<br />

em sigilo Atos ou Fatos Relevantes cuja divulgação<br />

entenda configurar manifesto risco<br />

a legítimos interesses da companhia, cientes<br />

de que o requerimento de tratamento confidencial<br />

não os exime da responsabilidade<br />

pela divulgação <strong>do</strong> ato ou fato relevante.<br />

17. É recomendável que as companhias abertas<br />

criem um Comitê de Divulgação e de monitoramento<br />

interno para facilitar o controle das<br />

informações privilegiadas, composto ao menos<br />

pelos executivos responsáveis pelas áreas de relações<br />

com investi<strong>do</strong>res, financeira, jurídica e de<br />

comunicação, sem prejuízo <strong>do</strong>s demais profissionais<br />

que vierem a compor o mesmo.<br />

18. O Comitê de Divulgação interna terá como<br />

diretrizes:


a) gerir a política de divulgação da companhia,<br />

sen<strong>do</strong> responsável pelo registro de acesso às<br />

informações privilegiadas, classifica<strong>do</strong>-as de<br />

acor<strong>do</strong> com critérios que possam facilitar o seu<br />

monitoramento. Deverão ser a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong>s parâmetros,<br />

como o número de pessoas envolvidas e a<br />

participação, ou não, de colabora<strong>do</strong>res externos,<br />

dentre outros;<br />

b) centralizar as informações relevantes da companhia,<br />

auxilian<strong>do</strong> o DRI na suas obrigações perante<br />

a CVM;<br />

c) discutir e recomendar a divulgação ou não<br />

divulgação de Atos e Fatos relevantes e comunica<strong>do</strong>s<br />

ao merca<strong>do</strong>, fundamentan<strong>do</strong> sua<br />

recomendação.<br />

Da Forma De Divulgação<br />

Do ato ou Fato relevante<br />

19. Toda e qualquer divulgação de Ato ou Fato<br />

Relevante deve ser feita obedecen<strong>do</strong> às seguintes<br />

diretrizes:<br />

a) Ordem e Distribuição:<br />

a.1) De forma a prover a imediata e simultânea<br />

disseminação da informação a to<strong>do</strong>s os participantes<br />

<strong>do</strong> merca<strong>do</strong>, o ato ou fato relevante<br />

deve ser envia<strong>do</strong> à CVM, via sistema IPE, e à<br />

bolsa ou merca<strong>do</strong> de balcão organiza<strong>do</strong> onde<br />

os valores mobiliários de emissão da companhia<br />

sejam negocia<strong>do</strong>s, deven<strong>do</strong> também ser<br />

incluí<strong>do</strong> no site de relações com investi<strong>do</strong>res<br />

e envia<strong>do</strong>, através de press release, para a lista<br />

de distribuição da companhia;<br />

a.2) O ato ou fato relevante deve ser publica<strong>do</strong><br />

em jornal de grande circulação utiliza<strong>do</strong> habitualmente<br />

pela companhia.<br />

b) Conteú<strong>do</strong> e Linguagem:<br />

b1) A divulgação deve ser feita em linguagem<br />

clara e objetiva, de mo<strong>do</strong> que seu entendimento<br />

seja plenamente acessível a to<strong>do</strong>s os<br />

seus destinatários.<br />

b2) Deve conter toda e qualquer informação relevante<br />

aos negócios da companhia, que afetem<br />

os valores mobiliários de emissão da companhia<br />

aberta ou a eles referencia<strong>do</strong>s.<br />

b3) Caso seja utilizada a prerrogativa conce-<br />

dida pela CVM de divulgar o Ato ou Fato<br />

Relevante de forma resumida, a companhia<br />

deverá fornecer a melhor informação possível<br />

ao merca<strong>do</strong>, tanto qualitativa quanto quantitativa,<br />

deven<strong>do</strong> conter os elementos necessários<br />

a sua compreensão e deverá indicar<br />

nas publicações o(s) endereço(s) na Rede<br />

Mundial de Computa<strong>do</strong>res (Internet) onde a<br />

informação completa deverá estar disponível<br />

a to<strong>do</strong>s os públicos estratégicos em teor no<br />

mínimo idêntico àquele remeti<strong>do</strong> à CVM e<br />

às bolsa(s) de valores e merca<strong>do</strong>(s) de balcão<br />

organiza<strong>do</strong>, nos quais é admitida a negociação<br />

os valores mobiliários da companhia.<br />

b4) O <strong>do</strong>cumento que será leva<strong>do</strong> à publicação,<br />

ou divulgação ao merca<strong>do</strong>, receberá o título de<br />

FATO RELEVANTE, não obstante a Instrução<br />

da CVM disponha sobre a divulgação de atos e<br />

fatos relevantes;<br />

20. Na hipótese da ocorrência de uma divulgação<br />

involuntária, ou vazamento de informação<br />

relativa à Ato ou Fato Relevante, que ainda não<br />

tenha si<strong>do</strong> divulga<strong>do</strong> no Brasil ou no exterior,<br />

deve ser feita a sua divulgação imediata, homogênea<br />

e simultânea.<br />

Das orientações gerais De<br />

ConDuta e Das regras De<br />

PruDênCia<br />

21. Com o intuito de mitigar o risco de vazamento<br />

de informações privilegiadas a companhia<br />

deve limitar o número de porta-vozes autoriza<strong>do</strong>s<br />

e informar aos demais colabora<strong>do</strong>res<br />

envolvi<strong>do</strong>s que estão expressamente proibi<strong>do</strong>s<br />

de comentar este tipo de informação, bem como<br />

deverão abster-se de negociar títulos e valores<br />

mobiliários enquanto as mesmas não forem<br />

divulgadas ao merca<strong>do</strong>. Recomenda-se ainda a<br />

adesão às práticas <strong>do</strong> Manual Abrasca de Controle<br />

e Divulgação de Informações Relevantes,<br />

expressamente o seu Termo de Confidencialidade<br />

(item.I.5).<br />

22. A Companhia deve registrar o teor das<br />

informações trocadas, com o objetivo de<br />

individualizar e resguardar responsabilidades<br />

<strong>do</strong>s remetentes e destinatários. Fica a critério da<br />

Companhia a escolha <strong>do</strong> instrumento de registro<br />

que melhor lhe convier.<br />

23. A companhia deve firmar Contratos de Con-<br />

fidencialidade com to<strong>do</strong>s os seus interlocutores,<br />

especialmente com os consultores, colabora<strong>do</strong>res,<br />

presta<strong>do</strong>res de serviços, internos ou externos,<br />

terceiriza<strong>do</strong>s ou não. Essa recomendação<br />

se faz presente sempre que esses, por conta <strong>do</strong>s<br />

serviços presta<strong>do</strong>s, das consultas a si dirigidas,<br />

ou por qualquer outra razão, tenham acesso a<br />

informações que não são de conhecimento público.<br />

exemPlo De ato ou Fato<br />

relevante - esClareCimentos<br />

aDiCionais<br />

24. A CVM, através de Instrução, elenca,<br />

dentre as hipóteses de Fato Relevante, a<br />

impetração de recuperação judicial, requerimento<br />

ou confissão de falência ou propositura<br />

de ação judicial, pela companhia ou contra<br />

ela, que possa vir a afetar a sua situação<br />

econômico-financeira.<br />

25. Assim, recomenda-se que seja também<br />

objeto de publicação de Fato Relevante decisões<br />

administrativas, judiciais ou arbitrais,<br />

inclusive medidas de urgência (e.g. liminares,<br />

cautelares ou tutelas antecipadas), que<br />

contemplem matéria de mérito relevante,<br />

contrárias ou favoráveis à companhia aberta,<br />

mesmo quan<strong>do</strong> proferidas em primeira instância<br />

ou que admitam recurso, mas que possam<br />

afetar a situação econômico-financeira<br />

da companhia.<br />

26. Também deve ser considerada informação<br />

sujeita à publicação de Fato Relevante,<br />

quan<strong>do</strong> decisão judicial de mérito, liminar ou<br />

de antecipação de tutela judicial for proferida<br />

em qualquer instância ou sentença arbitral<br />

que altere, significativamente, a base acionária<br />

da companhia.<br />

27. Deve constar <strong>do</strong> texto <strong>do</strong> Fato Relevante<br />

a existência de condição (suspensiva ou resolutiva)<br />

sobre a informação divulgada, especialmente<br />

se pendente aprovação de agentes<br />

públicos ou priva<strong>do</strong>s.<br />

São Paulo, 27 de novembro de 2008.<br />

geralDo soares<br />

HarolDo reginalDo levy neto<br />

Coordena<strong>do</strong>res<br />

Fevereiro 2009<br />

REVISTA RI 47


<strong>IBRI</strong> NOTÍCIAS<br />

Carta <strong>do</strong> <strong>IBRI</strong> sobre a Crise Global<br />

O <strong>IBRI</strong> divulgou, no dia 17 de dezembro de 2008, carta sobre a crise financeira internacional. A Carta foi<br />

discutida e aprovada pelo Conselho de Administração e Diretoria Executiva <strong>do</strong> <strong>IBRI</strong> e está alinhada com a<br />

missão <strong>do</strong> Instituto no aperfeiçoamento e valorização da profissão de Relações com Investi<strong>do</strong>res (RI) em nosso<br />

país. O Instituto acredita na importância <strong>do</strong> RI agir de maneira pró-ativa em momentos de crise, contribuin<strong>do</strong>,<br />

por conseqüência, com o desenvolvimento <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> de capitais no Brasil. Leia a seguir a íntegra da carta:<br />

Os últimos meses foram marca<strong>do</strong>s pelo aprofundamento<br />

da crise financeira internacional.<br />

Originada no merca<strong>do</strong> norte-americano<br />

de crédito habitacional, a crise ampliou-se<br />

para outros merca<strong>do</strong>s financeiros e outros<br />

países, contagian<strong>do</strong> a chamada economia<br />

real. Nós <strong>do</strong> <strong>IBRI</strong> (Instituto Brasileiro de<br />

Relações com Investi<strong>do</strong>res) acreditamos que<br />

essa situação tem implicações extremamente<br />

importantes para a função de Relações com<br />

Investi<strong>do</strong>res nas companhias de capital aberto,<br />

exigin<strong>do</strong> <strong>do</strong>s profissionais de RI respostas<br />

específicas e enérgicas.<br />

O Merca<strong>do</strong> de Capitais no Brasil<br />

Os padrões de regulação e auto-regulação<br />

aplica<strong>do</strong>s ao sistema bancário e ao merca<strong>do</strong><br />

de capitais no Brasil se situam, segun<strong>do</strong> avaliação<br />

unânime de especialistas e instituições<br />

internacionais, entre os melhores <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>.<br />

Os critérios prudenciais quanto a riscos, alavancagem<br />

e transparência são mais exigentes<br />

<strong>do</strong> que aqueles que vigoram em vários merca<strong>do</strong>s<br />

internacionais, inclusive em alguns<br />

maiores que o brasileiro. Além disso, o Brasil<br />

possui uma das mais avançadas sistemáticas<br />

de negociação de títulos e valores mobiliários,<br />

proporcionan<strong>do</strong> segurança transacional aos<br />

investi<strong>do</strong>res. As entidades <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> de capitais<br />

brasileiro têm desenvolvi<strong>do</strong> nos últimos<br />

anos grande esforço para propagar a cultura<br />

de investimento. O reflexo disso é percebi<strong>do</strong><br />

no amadurecimento <strong>do</strong>s investi<strong>do</strong>res.<br />

O <strong>IBRI</strong><br />

O <strong>IBRI</strong> (Instituto Brasileiro de Relações com<br />

Investi<strong>do</strong>res) atua há 11 anos no desenvolvimento<br />

<strong>do</strong> merca<strong>do</strong> de capitais brasileiro e<br />

entende que seu papel junto às empresas,<br />

demais entidades e órgãos <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> de<br />

capitais tem si<strong>do</strong> e deverá permanecer de<br />

fundamental importância para a disseminação<br />

da cultura de investimento e da educação<br />

48 REVISTA RI Fevereiro 2009<br />

financeira <strong>do</strong> público investi<strong>do</strong>r. A entidade tem<br />

enfatiza<strong>do</strong> também a a<strong>do</strong>ção das melhores práticas<br />

de Governança Corporativa pelas companhias.<br />

A contribuição <strong>do</strong> <strong>IBRI</strong> para a disseminação<br />

da cultura <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> de capitais se dá com<br />

o apoio à formação e valorização <strong>do</strong> profissional<br />

de Relações com Investi<strong>do</strong>res, com reflexos<br />

positivos para as companhias de capital aberto<br />

e para o público investi<strong>do</strong>r. Como resulta<strong>do</strong> e<br />

reconhecimento desse trabalho, o <strong>IBRI</strong> tem<br />

acompanha<strong>do</strong> a evolução no número de companhias<br />

de capital aberto e mais <strong>do</strong> que <strong>do</strong>brou o<br />

número de associa<strong>do</strong>s desde 2005.<br />

O Profissional de RI<br />

O profissional de RI é o principal responsável<br />

por disseminar a cultura <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> de capitais<br />

dentro das companhias e por a<strong>do</strong>tar, no estabelecimento<br />

<strong>do</strong>s relacionamentos com os investi<strong>do</strong>res,<br />

os princípios fundamentais defini<strong>do</strong>s<br />

pelo <strong>IBRI</strong> em seu Código de Conduta: Transparência;<br />

Equidade; Franqueza e Independência;<br />

Integridade; e Responsabilidade.<br />

O <strong>IBRI</strong> entende que é preciso criar e manter<br />

nas companhias a convicção de que a franqueza<br />

e a transparência são fatores fundamentais na<br />

construção e manutenção da imagem de solidez<br />

da companhia, de sua credibilidade e reputação<br />

empresarial. Assim, as companhias devem estabelecer<br />

políticas de divulgação amplas e consistentes,<br />

além de ter porta-vozes prepara<strong>do</strong>s para<br />

a comunicação integral.<br />

Essa comunicação deve incluir não apenas<br />

aspectos positivos e favoráveis, mas também<br />

aqueles negativos ou desfavoráveis, desde que<br />

importantes para a decisão de investimento,<br />

sem omissões ou informações evasivas.<br />

A Crise<br />

Os princípios <strong>do</strong> Código de Ética, importantes<br />

em situações de normalidade, tornam-se funda-<br />

mentais em situações como a da atual crise<br />

financeira internacional, quan<strong>do</strong> respostas<br />

tempestivas são essenciais para a consolidação<br />

<strong>do</strong>s ativos intangíveis das companhias,<br />

como sua credibilidade, e a da área de Relações<br />

com Investi<strong>do</strong>res. As companhias –<br />

principalmente as com ações nas mãos <strong>do</strong><br />

público investi<strong>do</strong>r – devem conquistar a confiança<br />

<strong>do</strong> investi<strong>do</strong>r com responsabilidade e<br />

transparência com ênfase em seus processos<br />

de gestão e exposição a riscos. Nesse senti<strong>do</strong>,<br />

o <strong>IBRI</strong> apóia as recentes medidas da CVM<br />

(Comissão de Valores Mobiliários), que complementaram<br />

as obrigações das companhias<br />

na divulgação de operações com derivativos.<br />

A informação precisa é o principal instrumento<br />

para o gerenciamento de crises e deve<br />

ser fornecida de forma organizada, consistente,<br />

contínua e proativa. Cabe ao diretor<br />

de RI e a sua equipe obter, com a necessária<br />

diligência, as informações internas relevantes<br />

e pertinentes e divulgá-las com presteza<br />

e equanimidade. Isso significa interagir e informar<br />

todas as partes interessadas e utilizar<br />

toda a gama de instrumentos atualmente à<br />

disposição: publicação de fatos relevantes e/<br />

ou comunica<strong>do</strong>s; teleconferências; reuniões<br />

públicas ou reservadas, além das ferramentas<br />

eletrônicas disponíveis na Internet, como emails<br />

e chats, por exemplo.<br />

As companhias de capital aberto devem<br />

aproveitar esse momento, de elevada volatilidade<br />

nos merca<strong>do</strong>s de capitais internacionais,<br />

como uma oportunidade de avaliação<br />

e renovação <strong>do</strong> compromisso com os<br />

investi<strong>do</strong>res e demais partes interessadas.<br />

Companhias que mantêm os canais de diálogo<br />

constantemente abertos, proporcionam<br />

informações amplas e transparentes<br />

e valorizam e fortalecem seus profissionais<br />

de RI terão, com certeza e em seu devi<strong>do</strong><br />

tempo, o reconhecimento e a valorização<br />

<strong>do</strong> merca<strong>do</strong> de capitais.


<strong>IBRI</strong> dá boas-vindas a seus novos<br />

Conselheiros de Administração e Fiscal<br />

O Conselho de Administração e a Diretoria<br />

<strong>do</strong> <strong>IBRI</strong> estiveram reuni<strong>do</strong>s com convida<strong>do</strong>s<br />

em jantar de confraternização, no dia 4 de<br />

dezembro de 2008, logo após o lançamento<br />

<strong>do</strong> livro "O Esta<strong>do</strong> da Arte das Relações com<br />

Investi<strong>do</strong>res no Brasil". João Pinheiro Nogueira<br />

Batista, presidente <strong>do</strong> Conselho de<br />

Administração <strong>do</strong> <strong>IBRI</strong>, realizou discurso e<br />

deu boas-vindas aos novos conselheiros eleitos<br />

e agradeceu de forma especial o trabalho<br />

desenvolvi<strong>do</strong> por Geral<strong>do</strong> Travaglia, Arleu<br />

Anhalt, Sérgio Sayeg, Valter Faria e Gilberto<br />

Mifano.<br />

Foram eleitos para integrar o Conselho de<br />

Administração <strong>do</strong> <strong>IBRI</strong>: Carlos Kawall, da<br />

BM&FBOVESPA; Doris Wilhelm, da Paranapanema<br />

S/A; João Pinheiro Nogueira Batista,<br />

da Bertin S/A; José Roberto Pacheco,<br />

da O<strong>do</strong>ntoprev S/A; Julia Reid Ferretti, <strong>do</strong><br />

Banco Fibra S/A; Leonar<strong>do</strong> Dutra de Moraes<br />

Horta, da Magazine Luiza S/A; Luiz<br />

Fernan<strong>do</strong> Rolla, da Cemig S/A; Milton Vargas,<br />

<strong>do</strong> Bradesco S/A e Roberto Terziani, da<br />

Oi-Telemar S/A; ao la<strong>do</strong> de Conselheiros<br />

que não tinham mandato venci<strong>do</strong> como Líbano<br />

Barroso, da TAM S/A; Alfre<strong>do</strong> Egydio<br />

Setubal, <strong>do</strong> Itaú Unibanco Banco Múltiplo;<br />

Elizabeth Piovezan Benamor, da Souza Cruz;<br />

Fabio Schvartsman, da Telemar Norte Leste;<br />

João Nogueira<br />

Batista, presidente<br />

<strong>do</strong> Conselho de<br />

Administração<br />

<strong>do</strong> <strong>IBRI</strong>, dá boas<br />

vindas aos novos<br />

conselheiros<br />

durante o jantar<br />

<strong>do</strong> Instituto.<br />

Gilson Rodrigues Bentes, da Usiminas/Cosipa<br />

- Cia. Siderúrgica Paulista S/A; José Marcos<br />

Treiger, da Multiner S/A; Luis Largman,<br />

da Cyrela Brazil Realty S.A.; Marco Geovanne<br />

Tobias da Silva, <strong>do</strong> Banco <strong>do</strong> Brasil S/A; Paul<br />

Elie Altit, da Odebrecht; Plínio <strong>do</strong> Amaral Pinheiro,<br />

da Duratex S/A; Roberto da Cunha<br />

Castello Branco, da Vale; Wang Wei Chang,<br />

da Perdigão; Welson Teixeira Júnior, da Sadia;<br />

Wilson Ferreira Júnior, da CPFL Energia e<br />

Wilson Amarante, <strong>do</strong> Grupo Rede. Já Edgar<br />

Jabbour, da Deloitte; Iran Siqueira Lima, da<br />

FIPECAFI (Fundação Instituto de Pesquisas<br />

Contábeis, Atuariais e Financeiras) e José<br />

Fernan<strong>do</strong> Monteiro Alves, da Sadia atuarão<br />

no Conselho Fiscal <strong>do</strong> <strong>IBRI</strong> até 2010.<br />

Geral<strong>do</strong> Soares, presidente executivo <strong>do</strong> <strong>IBRI</strong>,<br />

explica ações <strong>do</strong> Instituto e os planos para o futuro.<br />

O presidente executivo <strong>do</strong> Instituto, Geral<strong>do</strong><br />

Soares, apresentou balanço da gestão e<br />

ressaltou os principais projetos da diretoria<br />

nos últimos 24 meses. "Gostaria de salientar<br />

algumas conquistas <strong>do</strong> <strong>IBRI</strong> nesse perío<strong>do</strong><br />

como a criação das Diretorias Nordeste e<br />

Sul, o fato <strong>do</strong> número de associa<strong>do</strong>s ter cresci<strong>do</strong><br />

102%; o lançamento de 3 livros sobre<br />

a área e a profissão de RI, inauguração de<br />

sede própria, a realização de 54 eventos; a<br />

elaboração de pesquisa com a Deloitte sobre<br />

os desafios <strong>do</strong> IFRS; realização de enquetes;<br />

a descentralização <strong>do</strong>s eventos fora de São<br />

Paulo; o relacionamento institucional com<br />

outras entidades, entre outros", destacou.<br />

"Ampliaremos o número de associa<strong>do</strong>s, o<br />

nosso site será reformula<strong>do</strong> e contará com<br />

informações exclusivas para os associa<strong>do</strong>s<br />

e também criaremos o selo de qualidade<br />

<strong>IBRI</strong>", adiantou Soares quais serão os projetos<br />

<strong>do</strong> Instituto para 2009.<br />

O jantar foi um oferecimento da Chorus<br />

Call <strong>do</strong> Brasil, da The MediaGroup e <strong>do</strong><br />

Jornal Valor Econômico.<br />

Fevereiro 2009<br />

REVISTA RI<br />

Fotos: Sonia Mele<br />

49


IbrI NOTÍCIAS<br />

CODIM COlOCa eM auDIênCIa<br />

públICa prOnunCIaMentOs<br />

sObre release e DIvulgaçãO<br />

De reMuneraçãO DOs<br />

aDMInIstraDOres<br />

O Comitê de Orientação para Divulgação<br />

de Informações ao Merca<strong>do</strong><br />

(CODIM) submete à audiência pública<br />

as minutas de Pronunciamento de<br />

Orientação sobre “Release (nº6)” e<br />

“Política de Divulgação da Remuneração<br />

<strong>do</strong>s Administra<strong>do</strong>res (nº7)”,<br />

até o dia 30 de janeiro de 2009 e 27<br />

de fevereiro 2009, respectivamente.<br />

seMInárIO tI e O MerCaDO De CapItaIs<br />

O <strong>IBRI</strong> e a revista Executivos Financeiros<br />

preparam a segunda edição<br />

<strong>do</strong> “Seminário TI e o Merca<strong>do</strong> de<br />

Capitais”. O evento acontecerá na<br />

primeira quinzena de março de<br />

sãO paulO e rIO De JaneIrO abreM<br />

InsCrIções para a 10ª e 11ª turMa<br />

DO Mba FInanças, COMunICaçãO<br />

e relações COM InvestIDOres<br />

Estão abertas as inscrições para a<br />

10ª e 11ª turma <strong>do</strong> MBA Finanças, Comunicação<br />

e Relações com Investi<strong>do</strong>res,<br />

ofereci<strong>do</strong> pelo <strong>IBRI</strong> e pela FIPE-<br />

CAFI (Fundação Instituto de Pesquisas<br />

Contábeis, Atuariais e Financeiras). As<br />

aulas terão início em março de 2009 na<br />

nova sede da FIPECAFI, situada na Rua<br />

Maestro Cardim, 1.170, Bela Vista, próximo<br />

da Avenida Paulista (Shopping<br />

Paulista) e da estação Paraíso <strong>do</strong> Metrô,<br />

em São Paulo (SP). A novidade para<br />

2009 é que o <strong>IBRI</strong> e a FIPECAFI oferecem<br />

pela primeira vez o MBA de RI na<br />

cidade <strong>do</strong> Rio de Janeiro (Rua São José,<br />

40 - Terminal Menezes Cortes - Centro<br />

<strong>do</strong> Rio de Janeiro).<br />

50 REVISTA RI Fevereiro 2009<br />

As orientações têm o objetivo de<br />

estabelecer as melhores práticas a<br />

serem observadas pelas companhias<br />

abertas e a participação de to<strong>do</strong>s os<br />

interessa<strong>do</strong>s é de extrema relevância<br />

para o processo. Os arquivos podem<br />

ser acessa<strong>do</strong>s por meio <strong>do</strong> site www.<br />

codim.org.br e as sugestões enviadas<br />

para codim@codim.org.br.<br />

2009, na FECOMERCIO, Rua Dr. Plínio<br />

Barreto, 285, São Paulo (SP) e abordará<br />

temas relaciona<strong>do</strong>s à implementação<br />

de sistemas de TI no merca<strong>do</strong><br />

de capitais.<br />

As inscrições estão abertas. O MBA em<br />

RI contará com a coordenação <strong>do</strong> Professor<br />

Doutor Iran Siqueira Lima e possibilitará<br />

aos profissionais uma visão global<br />

em business, o entendimento conceitual<br />

e operacional das diversas atividades relacionadas<br />

com o merca<strong>do</strong> financeiro e<br />

de capitais, mais especificamente ligadas<br />

às atividades de Relações com Investi<strong>do</strong>res.<br />

O MBA permite, também, a troca de<br />

experiências por meio de palestras com<br />

profissionais de destaque na comunidade<br />

financeira. Inscrições e mais informações:<br />

FIPECAFI – Fundação Instituto<br />

de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras<br />

- Site: www.fipecafi.org E-mail:<br />

coordena<strong>do</strong>ria.mba@fipecafi.org<br />

sIlvIO guerra<br />

reCebe O “prêMIO<br />

MInas geraIs De<br />

DesenvOlvIMentO<br />

eCOnôMICO”<br />

Silvio Guerra<br />

Silvio Guerra, diretor-gerente<br />

<strong>do</strong> <strong>IBRI</strong> Minas Gerais, recebeu<br />

o “Prêmio Minas Gerais de<br />

Desenvolvimento Econômico”<br />

na categoria Relações com<br />

Investi<strong>do</strong>res. O diretor de RI<br />

da Localiza recebeu a medalha<br />

“Paulo Camilo de Oliveira<br />

Penna” como reconhecimento<br />

pelo trabalho desenvolvi<strong>do</strong><br />

durante o evento organiza<strong>do</strong><br />

pela Revista Merca<strong>do</strong>Comum<br />

e pela ASSEMG – Associação<br />

<strong>do</strong>s Economistas de Minas<br />

Gerais. A premiação tem<br />

o objetivo de contribuir para<br />

o desenvolvimento <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong><br />

de Minas Gerais e consequentemente<br />

<strong>do</strong> Brasil.


Companhias Abertas<br />

Brasileiras buscam<br />

visibilidade no merca<strong>do</strong><br />

internacional<br />

Com a crise financeira internacional que atingiu os merca<strong>do</strong>s na<br />

segunda metade de setembro de 2008 as companhias abertas<br />

brasileiras enxergaram oportunidade de reafirmar os laços com<br />

os investi<strong>do</strong>res estrangeiros ao participar de fóruns internacionais,<br />

fundamentais para esclarecer dúvidas recorrentes.<br />

por Jennifer Almeida<br />

Em 2008, o <strong>IBRI</strong> promoveu <strong>do</strong>is importantes<br />

eventos internacionais com o intuito de estreitar<br />

os laços com os investi<strong>do</strong>res estrangeiros: O<br />

"Brazil Day" (4ª edição) e a "3ª Tarde de Brasil<br />

en Latibex".<br />

Para Arman<strong>do</strong> d´Almeida Neto, vice-presidente<br />

e diretor de Relações com Investi<strong>do</strong>res da Multiplan,<br />

esse tipo de intercâmbio é extremamente<br />

importante para que os investi<strong>do</strong>res internacionais<br />

tenham mais informação e possam ampliar<br />

e diferenciar seus conhecimentos sobre o Brasil<br />

e as empresas, estimulan<strong>do</strong> assim as perspectivas<br />

de negócios e investimentos.<br />

Investi<strong>do</strong>res de várias partes <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> como<br />

Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s, Reino Uni<strong>do</strong>, Portugal, Suíça<br />

e Espanha buscaram ao longo <strong>do</strong>s eventos explicações<br />

sobre os planos de investimento das<br />

companhias e como a economia brasileira reagirá<br />

em 2009. As empresas desenharam, por sua<br />

vez, o cenário de cada setor e destacaram suas<br />

metas, mostran<strong>do</strong> perspectivas e oportunidades<br />

de negócios.<br />

"Na 3ª Tarde de Brasil en Latibex organizada<br />

pelo <strong>IBRI</strong> em conjunto com a Bolsa de Madrid<br />

pudemos levar uma mensagem de otimismo<br />

modera<strong>do</strong> sobre o desempenho da economia<br />

brasileira em um momento de crise nos<br />

países mais industrializa<strong>do</strong>s. Ficou evidente<br />

que estamos mais bem prepara<strong>do</strong>s <strong>do</strong> que jamais<br />

estivemos para enfrentar os desafios que<br />

essa crise irá nos impor. Cabe destacar, além<br />

da solidez da economia brasileira, o seu grau<br />

de sofisticação e diversificação, especialmente<br />

quan<strong>do</strong> essa comparação é feita com outras<br />

economias emergentes. Do ponto de vista<br />

de merca<strong>do</strong>, tivemos a oportunidade de encontrar<br />

investi<strong>do</strong>res de renda fixa e variável<br />

<strong>do</strong> Continente Europeu e Reino Uni<strong>do</strong>, em<br />

mais uma oportunidade de posicionar as nossas<br />

empresas como alternativas diferenciadas<br />

de investimento", relatou Luiz Henrique<br />

Valverde, vice-presidente executivo <strong>do</strong> <strong>IBRI</strong><br />

e diretor de Relações com Investi<strong>do</strong>res da<br />

Braskem sobre sua participação no evento.<br />

"As reuniões one-on-one foram com investi<strong>do</strong>res<br />

que já conhecíamos e quatro ou cinco grupos de<br />

novos investi<strong>do</strong>res. O nível de conhecimento de<br />

quem acompanha é diferente, existem investi<strong>do</strong>res<br />

que acompanham a empresa há 15 anos,<br />

e sabem os passos <strong>do</strong> dia-a-dia da empresa. O<br />

Brasil passa a ter uma importância na geopolítica<br />

<strong>do</strong> mun<strong>do</strong>", ressaltou Carlos Henrique,<br />

consultor de negócios dentro da gerência de<br />

Relações com Investi<strong>do</strong>res da Petrobras.<br />

Para Calman Luiz Moricz, gerente de Relações<br />

com Investi<strong>do</strong>res <strong>do</strong> Banco Panamericano, ter<br />

participa<strong>do</strong> da mesa re<strong>do</strong>nda sobre merca<strong>do</strong> de<br />

consumo no Brasil na 3ª Tarde de Brasil en Latibex<br />

e das 19 reuniões one-on-one, foi muito<br />

importante para ampliar a base de contato da<br />

empresa. Os investi<strong>do</strong>res estão mais criteriosos<br />

e privilegian<strong>do</strong> as companhias com políticas<br />

mais consistentes de investimento. "Eles estão<br />

olhan<strong>do</strong> para o Brasil como um horizonte mais<br />

para frente, quem já está investin<strong>do</strong> continua,<br />

quem não está não decidirá agora. Já participamos<br />

outras vezes desses eventos. Vale a pena ir",<br />

finaliza Francisco Smith, diretor de Relações<br />

com Investi<strong>do</strong>res da Grendene.<br />

<strong>IBRI</strong><br />

homenAgeIA<br />

pAtRoCInA<strong>do</strong>Res<br />

O <strong>IBRI</strong> reconhece o empenho<br />

de todas as empresas<br />

que confiaram no trabalho<br />

desenvolvi<strong>do</strong> pelo Instituto.<br />

Agradecemos aos nossos<br />

parceiros que contribuíram<br />

para o desenvolvimento <strong>do</strong><br />

Instituto ao longo de 2008 e<br />

para o aperfeiçoamento das<br />

Relações com Investi<strong>do</strong>res<br />

no Brasil, especialmente os<br />

seguintes colabora<strong>do</strong>res:<br />

Banco <strong>do</strong> Brasil; Banco Itaú<br />

Holding Financeira; Bradesco;<br />

Brasil Telecom; Braskem;<br />

Cemig; Comgás; CPFL Energia;<br />

Deloitte; Itaúsa; Nossa<br />

Caixa; Petrobras; Redecard;<br />

Souza Cruz; Suzano; TAM;<br />

Unibanco; Vale. Agradecemos,<br />

também, o apoio de<br />

importantes parceiros <strong>do</strong><br />

<strong>IBRI</strong>: Revista RI, parceira<br />

desde 1998; FIPECAFI (Fundação<br />

Instituto de Pesquisas<br />

Contábeis, Atuariais e Financeiras);<br />

Pricewaterhouse<br />

Coopers, desde o ano 2000;<br />

The MediaGroup, desde<br />

2001, o Jornal Valor Econômico,<br />

desde 2003 e Chorus<br />

Call, desde 2004 e PR<br />

Newswire desde 2007.<br />

Fevereiro 2009<br />

REVISTA RI<br />

51


CONSULTORIA<br />

inteligência de Merca<strong>do</strong>:<br />

use a seu favor<br />

não existe momento mais oportuno para se comunicar com a<br />

comunidade investi<strong>do</strong>ra <strong>do</strong> que em épocas de crise. É o momento<br />

que os representantes <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> mais precisam e demandam<br />

informações e, geralmente, é o momento em que você realmente<br />

tem algo importante a dizer. seja bom ou ruim.<br />

por paulo Henrique praes*<br />

Na faculdade de economia, tive um professor<br />

que utilizava um exemplo bem ilustrativo para a<br />

turma entender o conceito de percepção de valor<br />

e de utilidade marginal. O exemplo utiliza<strong>do</strong><br />

dizia que uma pessoa estava perdida em um deserto<br />

qualquer, sob um calor escaldante, morren<strong>do</strong><br />

de sede e em uma região onde havia muitos<br />

diamantes. Como essa pessoa estava perdida,<br />

em uma área remota e deserta e, além disso,<br />

morren<strong>do</strong> de sede, aqueles diamantes não lhe<br />

tinham valor algum. Pelo contrário, ela trocaria<br />

tantos diamantes quantos fossem possíveis por<br />

apenas um copo d'água. A água sim possuía muito<br />

valor para ela, pois ali era um bem escasso. Por<br />

sorte, ela acabou encontran<strong>do</strong> uma pessoa disposta<br />

a realizar essa troca um diamante por um<br />

copo d'água tantas vezes quantas ela quisesse.<br />

Porém, após cada copo d'água, o valor percebi<strong>do</strong><br />

da água ia diminuin<strong>do</strong> para aquela pessoa e, por<br />

volta <strong>do</strong> quinto copo, já não possuía mais valor<br />

algum, pois ela já estava saciada.<br />

Muito beM, excelente exeMplo.<br />

Mas o que isso teM a ver coM<br />

relações coM investi<strong>do</strong>res?<br />

A princípio não muita coisa, mas forçan<strong>do</strong> um<br />

pouco e trocan<strong>do</strong> água por informação começa a<br />

fazer mais senti<strong>do</strong> e até podemos fazer uma analogia<br />

com <strong>do</strong>is momentos recentes <strong>do</strong> merca<strong>do</strong><br />

de capitais. O primeiro, antes da crise, quan<strong>do</strong><br />

52<br />

REVISTA RI<br />

Fevereiro 2009<br />

havia grande liquidez no merca<strong>do</strong> e investi<strong>do</strong>res<br />

ávi<strong>do</strong>s por risco. O segun<strong>do</strong> momento, o atual,<br />

quan<strong>do</strong> presenciamos um ciclo de crise. Como<br />

toda crise, esta também vem acompanhada de<br />

incertezas, muitas dúvidas e receios, o que acaba<br />

geran<strong>do</strong> grande demanda por informação.<br />

Naquele primeiro momento de bonança, vimos<br />

muitas companhias irem a merca<strong>do</strong>, abrirem o<br />

capital, realizarem emissões e captações. Mas<br />

também vimos essas empresas participan<strong>do</strong> de<br />

diversos eventos, reuniões com analistas e investi<strong>do</strong>res,<br />

reuniões one-on-one, non-deal roadshows,<br />

envian<strong>do</strong> comunica<strong>do</strong>s quase que diários,<br />

releases trimestrais de resulta<strong>do</strong>s muitas vezes<br />

extensos, relatórios anuais sofistica<strong>do</strong>s e caros.<br />

Alguns tinham a finalidade de informar, outros<br />

de impressionar. Mas to<strong>do</strong>s com um objetivo<br />

em comum: se expor ao merca<strong>do</strong> e à comunidade<br />

investi<strong>do</strong>ra, se venden<strong>do</strong> como uma opção<br />

interessante e rentável de investimento.<br />

Voltan<strong>do</strong> ao exemplo inicial <strong>do</strong> copo d'água:<br />

ofereciam mais água quan<strong>do</strong> a quantidade<br />

existente já era suficiente. E agora que to<strong>do</strong>s<br />

parecem estar perdi<strong>do</strong>s no deserto, ansiosos por<br />

um mínimo de água, quase não encontramos<br />

ofertas. Geralmente, vejo as áreas de relações<br />

com investi<strong>do</strong>res perguntarem: Qual é o melhor<br />

momento para se comunicar com o merca<strong>do</strong>?<br />

e geralmente a resposta da própria empresa<br />

é: Quan<strong>do</strong> a empresa tem boas notícias a dar.<br />

Enquanto, na verdade, a pergunta correta seria:<br />

Quan<strong>do</strong> os stakeholders mais precisam de informações?<br />

e uma boa resposta poderia ser: Quan<strong>do</strong><br />

elas não existem.<br />

Não existe momento mais oportuno para se comunicar<br />

com a comunidade investi<strong>do</strong>ra <strong>do</strong> que<br />

em épocas de crise. É o momento que os representantes<br />

<strong>do</strong> merca<strong>do</strong> mais precisam e demandam<br />

informações e, geralmente, é o momento<br />

em que você realmente tem algo importante a<br />

dizer. Seja bom ou ruim. E é nesse ponto que eu<br />

gostaria de chamar mais atenção: para as notícias<br />

ruins. É um erro tentar escondê-las ou disfarçálas.<br />

Elas podem e provavelmente serão percebidas<br />

como muito mais graves <strong>do</strong> que de fato o são.<br />

Se eu puder deixar um conselho para as áreas de<br />

relações com investi<strong>do</strong>res sobre esse ponto, eu<br />

seria simples, rápi<strong>do</strong> e direto: não subestimem<br />

os analistas e investi<strong>do</strong>res. Não adianta em um<br />

trimestre você comparar com o trimestre <strong>do</strong> ano<br />

anterior e, no próximo relatório, para melhorar<br />

um número ruim, comparar com o trimestre<br />

imediatamente anterior ou ainda fazer uma comparação<br />

acumulada. Sabe quem você consegue<br />

enganar desse jeito? Você mesmo. Na edição<br />

128 da Revista RI, há um artigo muito interessante<br />

escrito pelo Reginal<strong>do</strong> Alexandre (Breve<br />

roteiro para os profissionais de RI). Se você ainda<br />

não leu, está perden<strong>do</strong> tempo.


É preciso ser honesto com os stakeholders.<br />

É isso o que eles esperam: honestidade. Não<br />

tenham me<strong>do</strong> de dar notícias ruins, em tempos<br />

de crise elas são esperadas. O que não<br />

são esperadas são as notícias boas. Sabe<br />

aquela frase que diz que na crise enquanto<br />

alguns choram outros vendem lenços? É um<br />

discurso muito bonito, mas difícil de colocar<br />

em pratica. Eu até acredito que existam<br />

oportunidades em momentos de crise, mas<br />

pensan<strong>do</strong> bem, se a crise fosse boa para todas<br />

as empresas e setores, não seria uma crise, seria?<br />

Então administre as expectativas <strong>do</strong> seu<br />

público e os prepare para o que está por vir.<br />

É uma máxima de nossa atividade: o merca<strong>do</strong><br />

odeia surpresas, sejam elas boas ou ruins. E<br />

se tem alguém em uma companhia que deve<br />

saber o que está acontecen<strong>do</strong> e quais são as<br />

expectativas imediatas é o profissional de RI.<br />

Se ele não sabe é por que tem algo erra<strong>do</strong>, ou<br />

com o ele ou com a companhia.<br />

Realizar a comunicação com o merca<strong>do</strong> de<br />

forma eficiente e se fazer entender parece<br />

fácil, mas não é. Há famosos cases de fatos<br />

simples que tomaram uma dimensão enorme<br />

(e diferente da esperada) por falhas no processo<br />

de comunicação. Para saber se comunicar,<br />

primeiro escute. Isso faz parte <strong>do</strong> próprio<br />

desenvolvimento humano. Aprendemos<br />

a falar, ouvin<strong>do</strong>. Nesse merca<strong>do</strong> funciona da<br />

mesma forma. Preste atenção nas demandas<br />

que a área de RI recebe <strong>do</strong>s analistas e investi<strong>do</strong>res.<br />

Quais são as dúvidas freqüentes,<br />

o que eles não entendem, o que temem, o<br />

que discordam e por que discordam. Ouça o<br />

merca<strong>do</strong> e, se ele não vem até você, vá atrás<br />

dele. Participe de eventos e de reuniões.<br />

Faça análises pós-conferências e utilize-as<br />

para aprender com seus erros e aperfeiçoar<br />

os seus acertos.<br />

Fazer o que esperam que você faça e não o que<br />

você acha que esperam é o segre<strong>do</strong> de um eficiente<br />

programa de relações com investi<strong>do</strong>res.<br />

Ouvir o merca<strong>do</strong> é um primeiro passo para<br />

isso e o merca<strong>do</strong> tem muito a lhe dizer. Uma<br />

boa forma de ouvi-lo é por meio <strong>do</strong>s estu<strong>do</strong>s<br />

de percepções. E não confundam estu<strong>do</strong> de<br />

percepção com análise pós-conferência. Este<br />

último, em geral, avalia o processo trimestral<br />

de divulgação de resulta<strong>do</strong>s (release de resulta<strong>do</strong>s<br />

e teleconferência). O estu<strong>do</strong> de percepção<br />

é um estu<strong>do</strong> muito mais completo (e<br />

complexo) <strong>do</strong> que a análise pós-conferência,<br />

com um número muito maior de entrevista<strong>do</strong>s<br />

e muito mais abrangente. Com ele é possível<br />

avaliar to<strong>do</strong> o esforço da área de relações com<br />

investi<strong>do</strong>res de uma companhia, desde o atendimento<br />

de solicitações, passan<strong>do</strong> pelo processo<br />

de comunicação, websites, até a abordagem<br />

<strong>do</strong> comprometimento e participação da alta<br />

administração no relacionamento com o merca<strong>do</strong>.<br />

Neste trabalho é muito importante o RI<br />

sentar-se com a consultoria da sua preferência<br />

para selecionar os entrevista<strong>do</strong>s, de forma que<br />

a amostra represente bem a população e, para<br />

isso, tente sempre incluir o investi<strong>do</strong>r individual.<br />

Não aceite formatos prontos ou (produtos<br />

de prateleiras), exija um projeto customiza<strong>do</strong>,<br />

pois cada companhia tem sua característica e<br />

nem sempre o que é bom para uma pode ser<br />

boa para outra.<br />

Isso é inteligência de merca<strong>do</strong> e isso não é algo<br />

simples é coisa de quem realmente entende de<br />

Relações com Investi<strong>do</strong>res. Use a seu favor.<br />

(*) Paulo Henrique Praes<br />

é economista, pós-graduan<strong>do</strong> no IBMEC-SP,<br />

profissional de investimento com certificação<br />

CPA/20 pela Anbid e consultor sênior de<br />

relações com investi<strong>do</strong>res da Global RI.<br />

(paulo.henrique@globalri.com.br)<br />

Fevereiro 2009 REVISTA RI 53


disclosure<br />

CHINA:<br />

INvestI<strong>do</strong>res preoCupA<strong>do</strong>s Com A GoverNANçA<br />

De acor<strong>do</strong> com da<strong>do</strong>s <strong>do</strong> Estu<strong>do</strong><br />

de Percepção <strong>do</strong> Investi<strong>do</strong>r - Ásia<br />

2008/2009, da IR Magazine, realiza<strong>do</strong><br />

entre 14 de agosto e 15 de<br />

outubro de 2008, os investi<strong>do</strong>res<br />

consideram que a China tem as<br />

melhores oportunidades de investimentos<br />

embora demonstrem<br />

sérias preocupações com a governança<br />

corporativa e os riscos políticos atrela<strong>do</strong>s aos investimentos<br />

naquele país. A pesquisa, que envolveu cerca de 500<br />

analistas buy-side e sell-side e investi<strong>do</strong>res da Ásia e <strong>do</strong> resto<br />

estu<strong>do</strong> ANAlIsA A dIssemINAção de INformAções<br />

Em recente estu<strong>do</strong>, Eugene Soltes, da University of Chicago Booth<br />

School of Business, desafia a idéia de que a informação da empresa<br />

é instantaneamente absorvida pelo merca<strong>do</strong>. Ao invés, Soltes mostra<br />

que uma maior disseminação leva a reduzir os spreads de compra e<br />

venda, aumenta o turnover e diminui a volatilidade. O importante é<br />

como a informação é distribuída. Usan<strong>do</strong> uma amostragem de quase<br />

todas as empresas americanas não-financeiras na NYSE, AMEX e<br />

Nasdaq - entre janeiro de 2001 e dezembro de 2006, Soltes rastreou<br />

os press releases desde o ponto de origem e examinou a extensão e o<br />

tipo de cobertura que eles obtiveram. Ele também entrevistou editores<br />

e executivos da mídia e de agências de notícias. Soltes concluiu<br />

que como o total de da<strong>do</strong>s sobre as empresas é muito grande para<br />

ser acompanha<strong>do</strong> por um investi<strong>do</strong>r, a disseminação tem um valioso<br />

papel para manter o investi<strong>do</strong>r informa<strong>do</strong>. Ele verifica que noticias<br />

das empresas podem ficar congestionadas em dias de fortes notícias<br />

políticas e em épocas quan<strong>do</strong> muitas outras empresas também di-<br />

Crise & Conselhos<br />

Os Conselhos de Administração de instituições financeiras nos Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s estão sentin<strong>do</strong> cres<br />

centes pressões <strong>do</strong>s acionistas que buscam um melhor monitoramento <strong>do</strong>s riscos por parte <strong>do</strong>s direto<br />

res. A questão é saber se, de fato, os acionistas terão mais voz e real acesso no processo de nomeação<br />

<strong>do</strong>s membros <strong>do</strong>s Conselhos, diz John Kehoe, sócio da Barroway Topaz Kessler Meltzer & Check.<br />

Embora a côrte de apelação tenha efetivamente proposto mais acesso aos acionistas, a SEC a<strong>do</strong>tou<br />

uma provisão muito mais restritiva. Eu gostaria que a SEC, sob o novo coman<strong>do</strong> de Mary Schapiro<br />

(indicada pelo presidente Obama), aborde o assunto e conceda aos acionistas o acesso que eles de<br />

veriam ter, comentou Kehoe.<br />

54 REVISTA RI Fevereiro 2009<br />

<strong>do</strong> mun<strong>do</strong> - que investem na China, Hong Kong, Taiwan, Cingapura,<br />

Malásia, Tailândia, Filipinas e In<strong>do</strong>nésia, revelou que<br />

muitas empresas chinesas nem sempre entendem as perspectivas<br />

<strong>do</strong>s investi<strong>do</strong>res, nem avaliam a importância das reuniões<br />

e <strong>do</strong> fornecimento de orientações precisas para o merca<strong>do</strong>,<br />

e isso tem leva<strong>do</strong> a uma queda da confiança <strong>do</strong>s investi<strong>do</strong>res<br />

nos administra<strong>do</strong>res das empresas. O estu<strong>do</strong> também mostrou<br />

preocupações <strong>do</strong>s investi<strong>do</strong>res com as consequências da atual<br />

redução da demanda pelas exportações chinesas para os Esta<strong>do</strong>s<br />

Uni<strong>do</strong>s e Europa. Na região, o merca<strong>do</strong> de Cingapura é o<br />

preferi<strong>do</strong> em termos de governança corporativa embora o entusiasmo<br />

seja menor em termos de potencial de crescimento.<br />

vulgam seus press releases. Soltes mostra que em "dias calmos" em<br />

termos de notícias, a cobertura agregada de uma empresa na mídia<br />

pode crescer em 10%. Ele também observa que um aumento de 20%<br />

na cobertura na mídia poderá resultar num aumento de quase 5% no<br />

turnover. O trabalho mostra que uma maior disseminação leva certos<br />

benefícios para o merca<strong>do</strong> de capitais. "Certamente, para as grandes<br />

empresas amplamente acompanhadas, como as "Microsofts" <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>,<br />

as pessoas terão as informações onde quer que sejam publicadas",<br />

diz Solters. "Porém, para as milhares de pequenas e médias empresas,<br />

é menos provável que os investi<strong>do</strong>res obtenham as informações tão<br />

facilmente se forem apenas colocadas nos seus websites. Poucas pessoas<br />

vão querer rastrear dezenas de websites para ver se existem novas<br />

informações. Para Soltes, é uma questão de custo-benefício para os<br />

executivos de RI. Eles devem considerar que o custo de divulgação de<br />

um press release através de um serviço de divulgação compara<strong>do</strong> com<br />

o benefício que a disseminação pode assegurar usan<strong>do</strong> tais serviços.


Relatórios Ambientais<br />

Uma recente pesquisa da Spada, firma de consultoria e relações<br />

públicas <strong>do</strong> Reino Uni<strong>do</strong>, indica que as empresas estão divulgan<strong>do</strong><br />

mais sobre os seus impactos ambientais, mas os padrões <strong>do</strong>s relatórios<br />

precisam melhorar. O estu<strong>do</strong>, que analisou os mais recentes<br />

relatórios das empresas <strong>do</strong> índice FTSE 100, mostra a falta de clareza<br />

com relação à terminologia. Das 79 empresas que usam o termo<br />

sustentabilidade, apenas duas - a BP e a British American Tobacco<br />

define-o na sua primeira menção. Por outro la<strong>do</strong>, a administração<br />

da cadeia de suprimentos é uma das áreas menos abordadas, apesar<br />

de sua importância para o impacto ambiental de uma empresa. Os<br />

relatórios ambientais ainda estão na infância em comparação com os<br />

relatórios financeiros, mas com mais mídia e interesse público sobre<br />

as políticas verdes e credencias das empresas, é essencial que essas<br />

matérias sejam comunicadas e avaliadas - com maior consistência e<br />

clareza. O que está claro é que o relatório de responsabilidade corporativa<br />

precisa amadurecer no seu formato, comentou Gavin Ingham<br />

Brooke, diretor de Spada.<br />

Conselhos de Risco<br />

O aperto no crédito expôs a fraqueza da supervisão <strong>do</strong>s Conselhos na<br />

administração de risco, e a Moody´s Investor Service acredita que o<br />

problema será um principal foco <strong>do</strong>s acionistas em 2009. Christian<br />

Plath, da área de governança corporativa da Moody´s, acredita que os<br />

investi<strong>do</strong>res começarão a fazer mais perguntas sobre a capacidade e<br />

experiência <strong>do</strong>s membros <strong>do</strong>s conselhos no monitoramento da função<br />

de risco e exigin<strong>do</strong> que os novos membros tenham conhecimentos<br />

especializa<strong>do</strong>s. Plath admite que algumas propostas <strong>do</strong>s acionistas<br />

visarão a criação de comitês especializa<strong>do</strong>s em riscos, pois essas funções<br />

já não tem si<strong>do</strong> bem desempenhadas pelos comitês de auditoria.<br />

Ele acha que as instituições financeiras deverão ser as primeiras a<br />

a<strong>do</strong>tar a nova função supervisora <strong>do</strong>s Conselhos.<br />

Líder mundial na distribuição de notícias empresariais<br />

para mídia, comunidade financeira e investi<strong>do</strong>res individuais.<br />

www.prnewswire.com.br<br />

ADRs<br />

Cotações DATA BASE: 21/01/2009<br />

Emissores – Níveis II e III Merca<strong>do</strong> Símbolo Volume Última<br />

Ambev (Pref.) NYSE ABV 924,700 41.51<br />

Ambev (Ord.) NYSE ABV.C 24,700 34.48<br />

Aracruz Celulose NYSE ARA 1,268,300 8.87<br />

Banco Bradesco NYSE BBD 17,628,400 9.26<br />

Banco Itaú Holding NYSE ITU 14,845,700 10.29<br />

Brasil Telecom NYSE BTM 85,500 15.68<br />

Brasil Telecom Part. NYSE BRP 285,800 33.73<br />

Braskem NYSE BAK 195,400 5.47<br />

Cemig NYSE CIG 1,040,800 14.23<br />

Cia. Bras. Distribuição NYSE CBD 490,700 24.73<br />

Copel NYSE ELP 660,900 10.13<br />

CPFL Energia NYSE CPL 164,200 40.36<br />

CSN NYSE SID 5,969,900 15.55<br />

Eletrobras NYSE EBR 359,700 11.79<br />

Embraer NYSE ERJ 805,500 17.47<br />

Gafisa NYSE GFA 885,700 9.19<br />

Gerdau NYSE GGB 9,869,500 7.25<br />

Gol Linhas Aéreas NYSE GOL 1,130,900 4.83<br />

Net Serviços NASDAQ NETCD 322,100 6.54<br />

Perdigão NYSE PDA 88,600 27.16<br />

Petrobrás (Ord.) NYSE PBR 26,233,900 25.15<br />

Petrobrás (Pref.) NYSE PBRA 9,963,900 21.04<br />

Sabesp NYSE SBS 291,400 22.65<br />

Sadia NYSE SDA 298,800 4.39<br />

Tam NYSE TAM 663,300 7.99<br />

Tele Norte Celular Part. NYSE TCN n.a. n.a.<br />

Tele Norte Leste Part. NYSE TNE 1,389,600 11.75<br />

Telecomunicações de S.P. NYSE TSP 142,400 18.11<br />

Telemig Celular Part. NYSE TMB 22,800 30.11<br />

Tim Participações NYSE TSU 394,000 13.64<br />

Ultrapar NYSE UGP 113,200 22.75<br />

Unibanco NYSE UBB 1,493,500 58.20<br />

Vale <strong>do</strong> Rio Doce (Pref.) NYSE RIOPR 11,695,300 11.41<br />

Vale <strong>do</strong> Rio Doce (Ord.) NYSE RIO 29,176,400 12.88<br />

Vivo Participações NYSE VIV 1,683,200 15.00<br />

Votorantim Celulose NYSE VCP 2,354,600 5.97<br />

Fonte: The Bank of New York (www.adrbny.com).<br />

Emissores – Nível I (OTC) e Regra 144A (PORTAL)<br />

Acesita-Pref (ACAHY) / Acesita-Ord (ACABY) / AES Tietê-Pref<br />

(CDEOY) / AES Tietê-Ord (CDEEY) / ALL Logística (AALQY) /<br />

Alpargatas-Pref (SAANY) / Alpargatas-Ord (SAALY) / Belgo<br />

Mineira (CSBMY) / Bombril (BMBBY) / Brazil Realty-Pref (BZEXF)<br />

/ Brazil Realty-Ord (BZEXY) / Celesc (CEDWY) / Cemig-Ord<br />

(CEMFF) / Cesp-Pref (CESQY) / Cesp-Ord (CSQSY) / Cia. Força e<br />

Luz Cataguazes-Pref (CFLPY) / Cia. Força e Luz Cataguazes-Ord<br />

(CFLCY) / Cia. Suzano (CSZPY) / Cia. Transmissão Paulista-Pref<br />

(CTPZY) / Cia. Transmissão Paulista-Ord (CTPTY) / Copel-Ord<br />

(ELPVY) / Coteminas (CDDMY) / CST (CSTBY) / Diagnosticos da<br />

América S.A. (DAMRY) / Duke Energy-Pref (DEIPY) / Duke Energy-<br />

Ord (DEIWY) / Eletrobrás-Pref (CAIGY) / Eletrobrás-Com (CAIFY)<br />

/ Eucatex (ECTXY) / Globex (GBXPY) / Iochpe (IOCJY) / Klabin<br />

(KLBAY) / Paranapanema (PNPPY) / Rossi Residencial (RSRZY) /<br />

Saraiva-Pref (SVLSY) / Saraiva-Ord (SVLOY) / Suzano Petroquímica<br />

(SUZPY) / Telefônica Data (TDBPY) / Tractebel-Pref (TBLGY)<br />

/ Tractabel-Ord (TBLEY) / Usiminas (USNZY) / Vigor (SFPVY)<br />

NOTA: Os ADRs são classifica<strong>do</strong>s em diferentes níveis: Nível I (Merca<strong>do</strong><br />

de Balcão – OTC), Nível II (Registro em Bolsa), Nível III (Oferta<br />

Pública em Bolsa) e Regra 144 A (Oferta Privada - com negociação<br />

restrita à investi<strong>do</strong>res institucionais qualifica<strong>do</strong>s – PORTAL).<br />

Março 2008<br />

REVISTA RI<br />

Para maiores informações entre em contato com a PR Newswire no tel.: (11) 2504-5128.<br />

55


OPINIÃO<br />

to brand or<br />

not to brand,<br />

eis a questão!<br />

por Jeaninne Carvalho Mettes*<br />

De certo mo<strong>do</strong>, hoje seria possível traçar um paralelo entre o dile<br />

ma encara<strong>do</strong> por Hamlet, naquele momento de crise existencial,<br />

contemplan<strong>do</strong> o suicídio, e o atual desafio enfrenta<strong>do</strong> por vários<br />

gestores de marcas. Neste momento de insegurança institucional,<br />

empresas ao re<strong>do</strong>r <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> começam a perceber que a prática<br />

de branding também pode se tornar uma questão de vida ou morte<br />

para o seu negócio.<br />

De fato, é num momento de crise que surgem as oportunidades, pois<br />

alguns empresários no Brasil e no mun<strong>do</strong> começam a enxergar a cons<br />

trução de marca como um investimento primordial de alavancagem e<br />

potencialização de sua estratégia de negócio. Investem em branding<br />

por acreditarem ter si<strong>do</strong> este um trunfo de poucas marcas que ainda<br />

estão muito bem estabelecidas e consagradas no merca<strong>do</strong>, apesar das<br />

turbulências passadas por seus negócios.<br />

Tal premissa, certamente, leva em consideração o fato de que tais<br />

marcas são o que são e estão onde estão hoje graças ao cuida<strong>do</strong> coti<br />

diano que tiveram, e ainda têm, com a consistência de sua imagem e<br />

reputação no merca<strong>do</strong>. Além disso, têm o compromisso com a entrega<br />

de sua promessa em to<strong>do</strong>s os pontos de contato com os mais diversos<br />

públicos, tanto interna, como externamente.<br />

Percorrer e entender o processo de como grandes marcas inspira<br />

<strong>do</strong>ras foram e são criadas, construídas e geridas, pode ajudar pro<br />

fissionais a perceberem que to brand significa ser e estar, enquanto<br />

not to brand significa não ser e não estar no merca<strong>do</strong> por muito<br />

tempo. Logo, <strong>do</strong> mesmo mo<strong>do</strong> que alguns negócios conseguem se<br />

diferenciar e decolar em momentos de crise, marcas que vislum<br />

bram aproveitar o atual momento para inovar e fazer a diferença,<br />

podem evitar a morte ou comoditização.<br />

A marca é a alma <strong>do</strong> negócio, a essência, o to<strong>do</strong> que define e firma<br />

a visão estratégica, o valor racional e emocional que não é possível<br />

transparecer nos seus balanços e relatórios financeiros. E, portan<br />

to, como qualquer outro ativo da empresa, uma vez bem geri<strong>do</strong>,<br />

tem o poder de blindar o negócio, além de aumentar o seu valor de<br />

mo<strong>do</strong> sustentável.<br />

56 REVISTA RI Agosto | Setembro 2008<br />

Nesse momento de insegurança,<br />

as empresas começam a<br />

perceber que a prática de<br />

branding também pode se tornar<br />

uma questão de vida ou morte<br />

para o seu negócio.<br />

É o caso de marcas como GM, Sadia, Bombril, Parmalat e Varig. Es<br />

tas empresas nos mostram que a relação da marca com o consumi<strong>do</strong>r<br />

pode atingir uma força e uma intensidade tamanha, capaz de amorte<br />

cer o impacto, ou até blindar quase que totalmente, as mentes e co<br />

rações <strong>do</strong> público mesmo diante de escândalos financeiros ou fiascos<br />

de governança corporativa.<br />

Sem dúvida, especialmente num momento de tanta esquizofrenia e<br />

insegurança institucional, em que o valor <strong>do</strong> negócio se torna frágil e<br />

suscetível a oscilações e à volatilidade <strong>do</strong> merca<strong>do</strong>, uma marca bem<br />

cuidada e estrategicamente gerida se destaca da multidão como uma<br />

força influencia<strong>do</strong>ra, capaz de fazer toda a diferença. Entretanto,<br />

cabe ressaltar que to<strong>do</strong> esse esforço de marca se torna totalmente em<br />

vão, caso o negócio não esteja sen<strong>do</strong> regi<strong>do</strong> pelos princípios de boas<br />

práticas e transparência no merca<strong>do</strong>.<br />

Para uma marca ter vida longa, o segre<strong>do</strong> é branding, a prática coti<br />

diana de alinhar seu discurso às suas ações (walk the talk), refletin<strong>do</strong><br />

verdadeira, distinta e criativamente sua visão, valores, princípios e<br />

atitude, forman<strong>do</strong> fortes relacionamentos e experiências apaixonan<br />

tes por meio da confiança, cativan<strong>do</strong> consumi<strong>do</strong>res por meio <strong>do</strong> di<br />

álogo e abrin<strong>do</strong> portas a novas oportunidades de negócio por meio<br />

da inovação e ousadia. É esta ferramenta inteligente de gestão que<br />

pode genuinamente construir, agregar e multiplicar valor emocional<br />

e, conseqüentemente, gerar valor econômico ao negócio como um<br />

to<strong>do</strong>, hoje e amanhã.<br />

Portanto, lets brand it!!!<br />

(*) Jeaninne Carvalho Mettes,<br />

sócia-funda<strong>do</strong>ra da Brand Up, consultoria<br />

estratégica de gestão de marcas<br />

(jeaninne@b-up.com.br)

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