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Quem nunca tentou desenhar a sua própria marca? Ou fazer o seu próprio<br />
folder no Word com clipart? Ou misturou todas as letras <strong>do</strong> Power Point num<br />
único slide e achou o resulta<strong>do</strong> bem legal? Quem nunca pensou na facilidade<br />
que é retocar a foto da sogra no Photoshop? Quem nunca pediu laminação<br />
fosca, verniz localiza<strong>do</strong>, hot stamp e papel especial no seu relatório?<br />
Quem nunca se achou designer que atire a primeira pedra.<br />
por Rodrigo Rodrigues*<br />
Design exclusivo, design diferencia<strong>do</strong>,<br />
design inova<strong>do</strong>r, design irresistível são<br />
algumas das expressões exclamativas que<br />
geralmente acompanham um produto com<br />
preço maior <strong>do</strong> que os concorrentes. Da<br />
mesma forma acompanhamos atônitos<br />
o surgimento de novas profissões como<br />
"interior designer" (decora<strong>do</strong>r), food<br />
designer (cozinheiro), "nail designer"<br />
(manicure), "hair designer" (cabeleireiro)<br />
e até mesmo o improvável "designer de<br />
sobrancelhas". Experimente o poder e<br />
acrescente a palavrinha como sufixo <strong>do</strong> seu<br />
cargo e em breve registraremos a ocorrência<br />
<strong>do</strong> "account designer" (conta<strong>do</strong>r),<br />
"law designer" (advoga<strong>do</strong>) ou então o<br />
"designer de relações com investi<strong>do</strong>res".<br />
Estrangeirismos à parte, no espaço entre a<br />
tecnologia, a arte e o marketing, o design<br />
ganhou destaque nas últimas décadas pela<br />
promessa de um mun<strong>do</strong> melhor,<br />
mais bonito, mais acessível para to<strong>do</strong>s e<br />
lucrativo para poucos. Mas num mun<strong>do</strong><br />
onde to<strong>do</strong>s podem ser designers o design<br />
é realmente relevante?<br />
Um breve parágrafo sobre história: o<br />
design gráfico surge a partir da invenção<br />
da imprensa, no século XV - o livro foi o<br />
primeiro objeto produzi<strong>do</strong> em série, já o<br />
design de produto surge no século XIX<br />
decorrente da Revolução Industrial, sen<strong>do</strong><br />
o designer o profissional responsável<br />
pela concepção de objetos industriais. É<br />
importante observar que o design nasce<br />
liga<strong>do</strong> à lógica de produção, diferente da<br />
manifestação artesanal, ou artística, embora<br />
possa se apropriar destas linguagens<br />
em seus produtos. Quan<strong>do</strong> vemos um<br />
"objeto de design" vemos o resulta<strong>do</strong> de<br />
um pensamento, de uma inteligência,<br />
que abrange to<strong>do</strong> o processo produtivo<br />
e não apenas estético. A dualidade <strong>do</strong>s<br />
campos de conhecimento gráfico/visual<br />
versus produto, ainda observada hoje nas<br />
universidade, é revista no século XX após<br />
a invenção <strong>do</strong> cinema, da televisão, da<br />
internet e da mobilidade em geral - entram<br />
em cena o movimento, o som, a informação<br />
e a interatividade. Falamos em webdesign,<br />
design de interface, motion graphic design<br />
etc. E no século XXI surge o conceito de<br />
"branding", na interseção <strong>do</strong> pensamento<br />
estratégico entre o marketing e o design,<br />
quan<strong>do</strong> vamos além da programação<br />
visual chegan<strong>do</strong> até a definição da<br />
estratégia de marca.<br />
Novo século, novos desafios. Tecnologia,<br />
internet, massificação e pirataria. Para<br />
ser designer, alguns acreditam, basta um<br />
computa<strong>do</strong>r. Será que está mais fácil ser<br />
designer? Sim, se pensarmos apenas nos<br />
meios abundantes que temos hoje. Não,<br />
se formos além <strong>do</strong> superficial e enganoso<br />
prazer <strong>do</strong> belo como finalidade. Como<br />
resulta<strong>do</strong> de um processo histórico não<br />
podemos nos eximir de responder às<br />
questões que a atualidade propõe e que<br />
vão muito além de cores e formas, mas que<br />
envolvem processos, materiais, decisões<br />
e proposições. Cabe ao designer propor<br />
questões que abrangem uso de materiais<br />
recicláveis, recicla<strong>do</strong>s ou alternativos,<br />
novos ciclos de vida para produtos<br />
já existentes, novos produtos sequer<br />
pensa<strong>do</strong>s, e todas as palavras bonitas<br />
que empresas insistem em imprimir nos<br />
seus relatórios, em papéis recicla<strong>do</strong>s<br />
ou certifica<strong>do</strong>s, mesmo que não sejam<br />
coerentes com as suas práticas. Mais<br />
<strong>do</strong> que relevante, design, visto como<br />
o pensamento que ordena o processo<br />
produtivo, é fundamental.<br />
Cada vez mais os consumi<strong>do</strong>res cobram<br />
a responsabilidade das empresas, seja em<br />
seus produtos ou na sua comunicação, de<br />
estarem atentas não apenas ao desenho<br />
mas em como to<strong>do</strong> o processo de<br />
produção, embalagem e comunicação é<br />
conduzi<strong>do</strong> - estar atento a esta questão é<br />
ter a possibilidade de criar uma vantagem<br />
competitiva que irá certamente resultar<br />
em alguns ativos não tão intangíveis assim,<br />
como receita, credibilidade e participação<br />
no merca<strong>do</strong>. O design pode salvar o mun<strong>do</strong>?<br />
Sejamos realistas, o design não pode salvar<br />
o mun<strong>do</strong>, mas pode tornar a tarefa mais<br />
fácil e agradável. Não se trata de propor<br />
uma nova categoria de design "verde" ou<br />
"sustentável", mas de resgatar o pensamento<br />
questiona<strong>do</strong>r inerente ao processo - como<br />
podemos fazer melhor? Temos que<br />
responder a essa pergunta, senão a cada<br />
trabalho, diariamente.<br />
(*) RodRigo RodRigues<br />
é Diretor de Criação e Design da Selulloid AG<br />
(E-mail: rodrigo.rodrigues@selulloid.com)<br />
Fevereiro 2009<br />
REVISTA RI 15