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universidade estadual paulista “julio de mesquita filho” – unesp ...

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A brinca<strong>de</strong>ira e o jogo tinham funções em si mesmas e serviam para<br />

<strong>de</strong>spen<strong>de</strong>r e gozar o tempo livre. Em carta a Murilo Men<strong>de</strong>s, Mário refere-se<br />

com naturalida<strong>de</strong> à relação sexual como brinquedo, brinca<strong>de</strong>ira. Ele mesmo se<br />

consi<strong>de</strong>rava menino e sua preocupação com a infância sempre esteve<br />

presente. Quando diretor do Departamento <strong>de</strong> Cultura irá <strong>de</strong>senvolver várias<br />

ações voltadas para a cultura da infância, para a cultura popular brasileira e<br />

para a brasilida<strong>de</strong>, fundamentadas no tempo livre e no ócio criador.<br />

Para ele a arte é fruto da preguiça, ela nasce:<br />

[...] dum bocejo sublime, assim como o sentimento do belo<br />

<strong>de</strong>ve ser surgido duma contemplação ociosa da natureza.<br />

(ANDRADE, 1918 apud ANCONA LOPEZ,1972: 110)<br />

O exercício da preguiça que eu cantei em Macunaíma,<br />

é uma das minhas maiores preocupações. (ANDRADE apud<br />

FARIA, 1993: 79)<br />

Para Mário, a Arte nasce do lazer, do ócio horaciano,<br />

que pô<strong>de</strong> ser compreendido pelo Cristianismo, cuja doutrina o<br />

diferencia <strong>de</strong> preguiça = negação <strong>de</strong> luta por um i<strong>de</strong>al, pecado<br />

mortal. A civilização <strong>de</strong>veria portanto compreen<strong>de</strong>r a preguiça,<br />

dar-lhe a conotação <strong>de</strong> valor, da mesma forma que as<br />

socieda<strong>de</strong>s primitivas lhe dão. (ANCONA LOPEZ,1976: 110)<br />

Segundo Telê Ancona Lopes, Mário <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong> irá <strong>de</strong>senvolver à partir<br />

do pensamento <strong>de</strong> Keyserling a valorização do povo brasileiro e das culturas<br />

primitivas, valorizando a sensibilida<strong>de</strong> e a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> viver num mundo <strong>de</strong><br />

poesia, on<strong>de</strong> a cultura <strong>de</strong>ve se apoiar no Sein (Ser) e não em Konnen<br />

(capacida<strong>de</strong>s, fatos).<br />

A valorização da sensibilida<strong>de</strong>, a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> viver<br />

num mundo <strong>de</strong> poesis, no sentido impregnado por Vico,<br />

participando <strong>de</strong>le quase que organicamente, <strong>de</strong>ixando-se<br />

pren<strong>de</strong>r pelos valores da sabedoria, mas não pelo domínio<br />

absoluto da lógica, fazem com que Keyserling valorize o<br />

primitivo para Mario <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong>, antes <strong>de</strong> Lévy-Bruhl.<br />

Kerserling é um filósofo; não trata do primitivismo enquanto<br />

categoria antropológica, mas enquanto realização integral do<br />

homem, admitindo inclusive o progresso, mas tendo como<br />

ponto <strong>de</strong> partida as reais necessida<strong>de</strong>s do Ser. (ANCONA<br />

LOPEZ, 1976: 112)<br />

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