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Tecendo tramas sobre Avaliação da Aprendizagem em aulas

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UNIVERSIDADE SÃO JUDAS TADEU<br />

USJT-SP<br />

Luciene Farias de Melo<br />

<strong>Tecendo</strong> <strong>tramas</strong> <strong>sobre</strong> <strong>Avaliação</strong> <strong>da</strong> <strong>Aprendizag<strong>em</strong></strong> <strong>em</strong> <strong>aulas</strong> de<br />

Educação Física escolar<br />

DOUTORADO EM EDUCAÇÃO FÍSICA<br />

SÃO PAULO<br />

2011


UNIVERSIDADE SÃO JUDAS TADEU<br />

USJT-SP<br />

Luciene Farias de Melo<br />

<strong>Tecendo</strong> <strong>tramas</strong> <strong>sobre</strong> <strong>Avaliação</strong> <strong>da</strong> <strong>Aprendizag<strong>em</strong></strong> <strong>em</strong> <strong>aulas</strong> de<br />

Educação Física escolar<br />

DOUTORADO EM EDUCAÇÃO FÍSICA<br />

Tese apresenta<strong>da</strong> à Banca Examinadora <strong>da</strong><br />

Universi<strong>da</strong>de São Ju<strong>da</strong>s Tadeu de São<br />

Paulo, como exigência parcial para<br />

obtenção do título de Doutora <strong>em</strong><br />

Educação Física, na área de Escola,<br />

Esporte, Ativi<strong>da</strong>de Física e Saúde, sob a<br />

orientação <strong>da</strong> profa. Dra. Vilma Nista-<br />

Piccolo.<br />

SÃO PAULO<br />

2011


Ficha catalográfica elabora<strong>da</strong> pela Biblioteca<br />

<strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de São Ju<strong>da</strong>s Tadeu<br />

Bibliotecária: Elizangela L. de Almei<strong>da</strong> Ribeiro - CRB 8/6878<br />

Melo, Luciene Farias de<br />

M528t <strong>Tecendo</strong> <strong>tramas</strong> <strong>sobre</strong> avaliação <strong>da</strong> aprendizag<strong>em</strong> <strong>em</strong> <strong>aulas</strong> de<br />

educação física / Luciene Farias de Melo. -- São Paulo, 2011.<br />

xx f. ; 30 cm<br />

Orientador: Vilma Lení Nista-Piccolo.<br />

Tese (doutorado) – Universi<strong>da</strong>de São Ju<strong>da</strong>s Tadeu, São<br />

Paulo, 2011.<br />

1. Educação física – Currículos. 2. Pratica de ensino. 3. Professores de<br />

educação física - Formação profissional. I. Nista-Piccolo, Vilma Lení. II.<br />

Universi<strong>da</strong>de São Ju<strong>da</strong>s Tadeu, Programa de Pós-Graduação stricto sensu<br />

<strong>em</strong> Educação Física. III. Título<br />

CDD – 796.07


BANCA EXAMINADORA<br />

____________________________________<br />

____________________________________<br />

____________________________________<br />

____________________________________<br />

____________________________________


AGRADECIMENTOS<br />

Considero esse momento muito importante porque algumas pessoas me aju<strong>da</strong>ram, me<br />

apoiaram e me acompanharam nesta conquista.<br />

À Deus, Nossa Senhora, Jesus Cristo pelo dom <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> e força nos momentos de<br />

desespero, angústia e solidão.<br />

À minha mãe e ao meu pai, Dolores e Seu Nildo, meus eternos agradecimentos pela<br />

compreensão, amor e gratidão. E <strong>em</strong> segui<strong>da</strong> agradeço ao meu marido Eduardo Gui<strong>da</strong> que é, e<br />

foi nesta caminha<strong>da</strong>, o meu equilíbrio, meu apoio, meu amor.<br />

sinceros.<br />

Às ver<strong>da</strong>deiras amigas Elaine Russo e Elaine Almei<strong>da</strong> os meus agradecimentos mais<br />

À Dirigente de Ensino, Coordenadora <strong>da</strong> Educação Física e aos professores de<br />

Educação Física <strong>da</strong> Diretoria de Ensino Centro-Sul/SP, obriga<strong>da</strong> pelo apoio e participação na<br />

pesquisa.<br />

Agradeço aos professores <strong>da</strong> banca examinadora e à orientadora <strong>da</strong> pesquisa.


RESUMO<br />

A partir de uma análise <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de <strong>em</strong> que se percebe que a avaliação pratica<strong>da</strong> pelo<br />

professor de Educação Física escolar, parece ain<strong>da</strong>, realiza<strong>da</strong> de forma pouco sist<strong>em</strong>atiza<strong>da</strong><br />

no cotidiano <strong>da</strong>s <strong>aulas</strong>, foi formula<strong>da</strong> a probl<strong>em</strong>ática desta pesquisa, que objetivou identificar<br />

como os professores de Educação Física <strong>da</strong>s escolas públicas pertencentes à Diretoria de<br />

Ensino <strong>da</strong> região Centro-Sul do Estado de São Paulo realizam a avaliação <strong>da</strong> aprendizag<strong>em</strong><br />

dos seus alunos e refletir junto aos docentes <strong>sobre</strong> aspectos <strong>da</strong> prática avaliativa nas <strong>aulas</strong> de<br />

Educação Física. O caminho metodológico selecionado para o alcance deste objetivo foi a<br />

abor<strong>da</strong>g<strong>em</strong> <strong>da</strong> pesquisa qualitativa de natureza descritiva e exploratória, a partir do<br />

instrumento questionário com perguntas abertas e fecha<strong>da</strong>s, que foi aplicado a todos os<br />

professores de Educação Física desta Diretoria de Ensino, no segundo momento foi a<br />

observação e a transcrição <strong>da</strong>s filmagens feitas com os professores participantes dos<br />

momentos de reflexão <strong>sobre</strong> a prática avaliativa. A análise se apoiou <strong>em</strong> Ginzburg (1989), que<br />

sugere o Paradigma Indiciário como método de pesquisa. O estudo mostrou que os<br />

professores, ao escolher<strong>em</strong> os critérios e instrumentos de avaliação, apontam preferência para<br />

a observação <strong>da</strong> participação e envolvimentos <strong>em</strong> aula, b<strong>em</strong> como d<strong>em</strong>onstraram a<br />

preocupação <strong>em</strong> diversificar as técnicas de avaliação. Esses sinais evidenciaram mu<strong>da</strong>nças na<br />

prática avaliativa dos professores investigados, pois d<strong>em</strong>onstraram que a avaliação não mais é<br />

planeja<strong>da</strong> sob o foco <strong>da</strong> medição e quantificação de resultados de des<strong>em</strong>penhos físicos.<br />

Entretanto observou-se pouca diversificação dos critérios de avaliação e escassez de<br />

estratégias para avaliar de maneira coerente com o processo de ensino e aprendizag<strong>em</strong>.<br />

Assim, a pesquisa justifica-se de maneira geral, por colaborar com a necessária ampliação de<br />

estudos na t<strong>em</strong>ática avaliação <strong>da</strong> aprendizag<strong>em</strong> na área, assim como possibilita a identificação<br />

de aspectos que sinalizam a limitação de conhecimentos, por parte dos professores, para<br />

realizar o processo avaliativo <strong>da</strong> aprendizag<strong>em</strong> de seus alunos de maneira mais adequa<strong>da</strong> e<br />

aponta a necessi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> formação continua<strong>da</strong> para os professores de Educação Física que<br />

atuam no contexto escolar.<br />

Palavras-chave: Educação Física escolar; avaliação; atuação docente.


ABSTRACT<br />

Weaving webs on the assesment of learning in Physical Education classes<br />

From an analysis of reality when you realize that the assessment charged by the school<br />

physical education teacher, se<strong>em</strong>s also performed in a very syst<strong>em</strong>atic in <strong>da</strong>ily lessons, the<br />

probl<strong>em</strong> was formulated in this study, which aimed to identify how Physical education<br />

teachers of the public schools belong to the Board of Education of the Center-South region of<br />

São Paulo declared evaluation by the learning of their students and teachers to reflect together<br />

on aspects of assessment practice in physical education classes. The methodological approach<br />

selected to achieve this goal was the qualitative research approach to descriptive and<br />

exploratory in nature, from the instrument questionnaire with open and closed questions was<br />

applied to all teachers of Physical Education Board of Education, the second time was the<br />

observation and the transcript of the filming made with the teachers participating in the<br />

moments of reflection on the evaluation practice. The analysis was based on Ginzburg (1989),<br />

suggests that the evidentiary paradigm as a research method. The study showed that teachers,<br />

by choosing the criteria and assessment instruments, show preference for the observation of<br />

participation and involv<strong>em</strong>ent in class and d<strong>em</strong>onstrated a concern for diversifying<br />

assessment techniques. These signs show changes in assessment practice of physical<br />

education teachers investigated, since they d<strong>em</strong>onstrated that assessment is no longer planned<br />

under the focus of measur<strong>em</strong>ent and quantification of results of physical performance.<br />

However there was little diversification of evaluation criteria and lack of strategies to evaluate<br />

a manner consistent with the process of teaching and student learning. Thus, the research is<br />

justified in general to collaborate with the necessary expansion of th<strong>em</strong>atic studies on<br />

evaluation of learning in the area, as well as enable the identification of aspects that indicate<br />

the limitation of knowledge on the part of teachers to carry out the process evaluative learning<br />

of their students more adequately, which indicated the need d<strong>em</strong>ands new perspectives in the<br />

process of continuing education of physical education teachers who work in the school<br />

context.<br />

Keywords: Physical Education, assessment, teacher performance.


LISTA DE FIGURAS, QUADROS E TABELAS<br />

Figura Página<br />

1. A evolução <strong>da</strong> avaliação na Educação Física escolar ................................................. 67


Quadros Página<br />

1. Síntese <strong>da</strong>s gerações <strong>da</strong> avaliação.................................................................................17<br />

2. Classe e categorias de análise <strong>da</strong> avaliação..................................................................18<br />

3. Paradigma <strong>da</strong> avaliação experimental.......................................................................... 19<br />

4. Modelos de avaliação: paradigma experimental...........................................................22<br />

5. Paradigma de avaliação qualitativo...............................................................................28<br />

6. Modelos de avaliação: paradigma qualitativo...............................................................31<br />

7. Abor<strong>da</strong>gens cont<strong>em</strong>porâneas de avaliação...................................................................37<br />

8. Síntese de aspectos considerados adequados para a prática do professor de Educação<br />

física escolar nas abor<strong>da</strong>gens pe<strong>da</strong>gógicas...................................................................80<br />

9. Síntese dos Parâmetros Curriculares Nacionais para o 1° e 2° ciclo do Ensino<br />

Fun<strong>da</strong>mental específico de Educação Física.................................................................88<br />

10. Síntese dos Parâmetros Curriculares Nacionais para o 3 o e 4 o ciclo do Ensino<br />

Fun<strong>da</strong>mental específico de Educação Física.................................................................92<br />

11. Síntese dos Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio específico de<br />

Educação Física............................................................................................................98<br />

12. Síntese dos PCN mais, específico <strong>da</strong> área de Educação Física...................................101<br />

13. Aproximações entre os pressupostos <strong>da</strong> prática avaliativa <strong>em</strong> Educação Física escolar<br />

expostos nos Parâmetros Curriculares Nacionais de Educação Física e el<strong>em</strong>entos <strong>da</strong><br />

abor<strong>da</strong>g<strong>em</strong> <strong>da</strong> avaliação formativa.............................................................................105<br />

14. Apresentação do objetivo, método e resultado <strong>da</strong>s pesquisas investiga<strong>da</strong>s por meio dos<br />

artigos selecionados nas bases de <strong>da</strong>dos.....................................................................124<br />

15. Conteúdos, estratégias e métodos de ensino dos professores <strong>da</strong> Diretoria de Ensino<br />

Centro-Sul/SP..............................................................................................................162<br />

16. Critérios de avaliação, instrumento, conteúdo e estratégias de ensino.......................174


17. Relação de algumas respostas forneci<strong>da</strong>s <strong>sobre</strong> como avaliar, com <strong>da</strong>dos <strong>sobre</strong> o que e<br />

como os professores ensinam......................................................................................200


Tabelas<br />

1. Detalhamento <strong>da</strong> busca dos artigos nas bases de <strong>da</strong>dos..............................................121<br />

2. Análise dos artigos <strong>sobre</strong> a prática avaliativa na Educação Física escolar e respectiva<br />

porcentag<strong>em</strong>, relacionados com a categoria abor<strong>da</strong>gens metodológicas....................133<br />

3. Análise dos artigos <strong>sobre</strong> a prática avaliativa na Educação Física escolar e respectiva<br />

porcentag<strong>em</strong>, relacionados com a categoria delineamento <strong>da</strong>s pesquisas..................134<br />

4. Análise dos artigos <strong>sobre</strong> a prática avaliativa na Educação Física escolar e respectiva<br />

porcentag<strong>em</strong>, relacionados com a categoria tipo de análise.......................................135<br />

5. Análise dos artigos <strong>sobre</strong> a prática avaliativa <strong>em</strong> Educação Física escolar e a<br />

respectiva porcentag<strong>em</strong>, relacionados com a categoria tipo de população.................136


SUMÁRIO<br />

1. Introdução 1<br />

2. Revisão de Literatura 6<br />

2.1. A avaliação <strong>da</strong> aprendizag<strong>em</strong> no contexto educacional 6<br />

2.2.1. A evolução <strong>da</strong> avaliação <strong>da</strong> aprendizag<strong>em</strong> a partir do século XX 13<br />

2.2.2 Os paradigmas <strong>da</strong> avaliação <strong>da</strong> aprendizag<strong>em</strong> no contexto escolar 19<br />

2.2.3 A avaliação formativa 35<br />

2.3 A avaliação na Educação Física escolar 65<br />

2.3.1 Análise de aspectos <strong>sobre</strong> o t<strong>em</strong>a avaliação abor<strong>da</strong>dos nos<br />

documentos oficiais <strong>da</strong> Educação Física - Parâmetros Curriculares Nacionais<br />

(PCNs) e Proposta Curricular do Estado de São Paulo<br />

2.3.2 A produção de conhecimento <strong>sobre</strong> a prática avaliativa do<br />

professor de Educação Física escolar<br />

2.3.3 Indícios dos referenciais metodológicos usados para investigar a<br />

prática avaliativa na Educação Física escolar<br />

2.3.4 Indícios <strong>sobre</strong> a avaliação na Educação Física escolar<br />

encontrados nos estudos investigados<br />

3. A pesquisa de campo 154<br />

3.1 O perfil dos sujeitos 160<br />

3.2 Os conteúdos e as estratégias de ensino utiliza<strong>da</strong>s pelos professores de<br />

Educação Física <strong>da</strong> Diretoria de Ensino Centro-Sul/SP<br />

3.3 Os indícios encontrados nas respostas <strong>sobre</strong> a prática avaliativa dos<br />

professores de Educação Física <strong>da</strong> Diretoria de Ensino Centro-Sul/SP<br />

3.3.1 Os indícios encontrados na pergunta 12 - Como você identifica<br />

que o objetivo de sua aula foi atingido?<br />

3.3.2 Os indícios encontrados na pergunta 13 - Você avalia seus<br />

alunos? De que forma o faz? Quando você avalia?<br />

85<br />

118<br />

121<br />

137<br />

162<br />

167<br />

167<br />

186


3.3.3 Os indícios encontrados nos momentos de reflexão <strong>sobre</strong> a<br />

prática avaliativa.<br />

4. Considerações finais 235<br />

Referências 239<br />

Anexo I 251<br />

Anexo II 260<br />

Anexo III 262<br />

Anexo IV 265<br />

Anexos V 269<br />

217


1 Introdução<br />

Em meu processo de formação, tanto na Educação Básica como no Ensino Superior, o<br />

t<strong>em</strong>a avaliação <strong>da</strong> aprendizag<strong>em</strong> foi abor<strong>da</strong>do por meio de experiências que considero<br />

inadequa<strong>da</strong>s, pois, como aluna, os momentos de avaliação ocasionaram sentimentos de<br />

ansie<strong>da</strong>de e sofrimento. Era uma prática s<strong>em</strong> sentido, acompanha<strong>da</strong> de um trabalho de<br />

m<strong>em</strong>orização de informações que, logo após a realização <strong>da</strong> prova, eram certamente<br />

esquecidos. Já no que se refere especificamente às <strong>aulas</strong> de Educação Física, percebia que<br />

nunca era avalia<strong>da</strong>, só me l<strong>em</strong>brando <strong>da</strong> avaliação quando os boletins eram publicados.<br />

Minha opinião <strong>sobre</strong> essa forma de avaliação vivencia<strong>da</strong> no meu processo de Ensino<br />

Básico pode ser aprecia<strong>da</strong> como falta de conhecimento dos professores <strong>sobre</strong> a importância e<br />

consequência do ato de avaliar no processo de aprendizag<strong>em</strong> dos alunos, essa observação<br />

pode ser entendi<strong>da</strong> como algo peculiar à déca<strong>da</strong> de 1980, <strong>em</strong> que se fortificaram as críticas a<br />

essa forma de apreciar o ensino e a aprendizag<strong>em</strong> escolar, mas ain<strong>da</strong> haviam poucas<br />

proposições que traduziss<strong>em</strong> na prática uma forma coerente de proceder com a prática<br />

avaliativa.<br />

Na condição de professora do Ensino Básico, as informações obti<strong>da</strong>s a respeito <strong>da</strong><br />

avaliação durante a formação universitária, soma<strong>da</strong>s às discussões realiza<strong>da</strong>s nas escolas <strong>em</strong><br />

que atuei, asseguravam a necessi<strong>da</strong>de de avaliar os alunos; no entanto, tal necessi<strong>da</strong>de era<br />

compreendi<strong>da</strong> como um “mal necessário”, percebia que para os educadores que compunham o<br />

universo escolar, era comum a ideia de que a ausência de provas impedia que os alunos<br />

estu<strong>da</strong>ss<strong>em</strong>.<br />

Essas experiências de avaliação <strong>em</strong> minha trajetória profissional provocaram <strong>em</strong><br />

minha prática pe<strong>da</strong>gógica incertezas e inseguranças <strong>sobre</strong> o que, como e para que avaliar. Tais<br />

dúvi<strong>da</strong>s induziam a uma representação <strong>da</strong> prática avaliativa s<strong>em</strong>pre associa<strong>da</strong> às tarefas<br />

escolares realiza<strong>da</strong>s pelos alunos e depois analisa<strong>da</strong>s pelo professor, as quais, no meu<br />

pensamento, geravam gasto de t<strong>em</strong>po e um imenso trabalho para corrigir pilhas de provas e<br />

outras tarefas avaliativas.<br />

Consequent<strong>em</strong>ente, essa condição acarretou a aplicação de práticas pe<strong>da</strong>gógicas que<br />

d<strong>em</strong>onstravam limitado conhecimento <strong>sobre</strong> o papel <strong>da</strong> avaliação no processo de ensino e<br />

aprendizag<strong>em</strong> durante as <strong>aulas</strong> que ministrava. D<strong>em</strong>arcou a concepção de um contexto de<br />

ensino que tornava opacas as lentes de que dispunha para realizar a leitura <strong>da</strong>s manifestações<br />

de progressos e dificul<strong>da</strong>des dos alunos, além <strong>da</strong>s conquistas e dos probl<strong>em</strong>as que surgiam<br />

com o ensino proposto.<br />

1


Ao perceber que minha prática de avaliação mostrava-se inadequa<strong>da</strong>, durante a<br />

participação <strong>em</strong> grupos de estudos 1 que discutiam questões <strong>sobre</strong> a Educação Física escolar,<br />

esse t<strong>em</strong>a passou a me incomo<strong>da</strong>r. Por essa razão, na pesquisa desenvolvi<strong>da</strong> no curso de<br />

mestrado optei investigar as possibili<strong>da</strong>des <strong>da</strong> aplicação de portfólio como avaliação na<br />

Educação Física escolar. Nesse estudo, a partir do conhecimento <strong>sobre</strong> as concepções de<br />

avaliação e a aplicação de diferentes procedimentos, senti-me inclina<strong>da</strong> a experienciar, <strong>em</strong><br />

aula, uma nova prática avaliativa basea<strong>da</strong> na proposta de construção de portfólios.<br />

Os resultados dessa pesquisa mostraram que, planejar, vivenciar, refletir e registrar as<br />

ações de ensino com o portfólio contribuiu positivamente para minha formação como<br />

professora/pesquisadora, pois tanto auxiliou a prática pe<strong>da</strong>gógica de avaliação como<br />

melhorou minha atuação como investigadora <strong>em</strong> estudos de enfoque qualitativo. Além disso,<br />

permitiu que as noções relativas ao processo de ensino, aprendizag<strong>em</strong> e avaliação foss<strong>em</strong><br />

reelabora<strong>da</strong>s num movimento dialógico entre a teoria e a prática. Favoreceu a percepção de<br />

modificações na relação entre professor e alunos, com aumento <strong>da</strong> participação de ambos<br />

durante a avaliação, tornando-se mais conscientes de suas responsabili<strong>da</strong>des diante <strong>da</strong><br />

aprendizag<strong>em</strong>, <strong>da</strong> identificação <strong>da</strong>s dificul<strong>da</strong>des e de como fazer para melhorá-las. Em<br />

síntese, a experiência propiciou aprendizag<strong>em</strong> docente e discente. To<strong>da</strong>via, a análise dos<br />

resultados apontou a necessi<strong>da</strong>de de se criar<strong>em</strong> condições nas escolas para que o professor<br />

possa impl<strong>em</strong>entar essa proposta <strong>em</strong> suas <strong>aulas</strong>.<br />

A partir do trabalho desenvolvido no mestrado, constatei a relevância <strong>da</strong> prática<br />

avaliativa no processo de aprendizag<strong>em</strong> dos alunos e na prática pe<strong>da</strong>gógica do professor. Isso<br />

gerou maior interesse <strong>em</strong> investigar como os professores de Educação Física que atuam nas<br />

escolas públicas realizam a avaliação <strong>da</strong> aprendizag<strong>em</strong> dos seus alunos na Educação Básica.<br />

Na revisão <strong>da</strong> literatura, ao debruçar-me <strong>sobre</strong> o t<strong>em</strong>a avaliação <strong>da</strong> aprendizag<strong>em</strong><br />

escolar, a primeira consideração levanta<strong>da</strong> é que se trata de uma prática relaciona<strong>da</strong> à<br />

totali<strong>da</strong>de do fazer pe<strong>da</strong>gógico do professor. Esse processo desencadeia questionamentos<br />

acerca dos objetivos, conteúdos, métodos de ensino, relação entre professor e aluno, entre<br />

pares, entre as características <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de e <strong>da</strong> escola (ZABALA, 1994; HADJI, 1994).<br />

Assim, todo processo educativo é colocado à prova quando se questiona a avaliação utiliza<strong>da</strong><br />

pelos professores no cotidiano escolar (PERRENOUD, 1999).<br />

1 Núcleo de Estudo e Pesquisa <strong>em</strong> Inteligência Corporal (NEPICC – FEF/UNICAMP), Laboratório de Pe<strong>da</strong>gogia<br />

do Movimento Humano (EEFEUSP), Grupo de Estudos e Pesquisas <strong>em</strong> Educação Física Escolar<br />

(GEPEFE/USJT).<br />

2


Isso denota que falar de avaliação leva, necessariamente, a questionamentos <strong>sobre</strong> o<br />

papel do professor como mediador do conhecimento do aluno e seu compromisso com a<br />

quali<strong>da</strong>de desse processo. É, portanto, uma t<strong>em</strong>ática complexa e geradora de muitas<br />

expectativas e ansie<strong>da</strong>des, principalmente quando se observa que para avaliar “b<strong>em</strong>” é<br />

necessário ter clareza <strong>sobre</strong> o que foi planejado, a respeito dos conteúdos a ser<strong>em</strong> ensinados,<br />

dos objetivos a ser<strong>em</strong> atingidos, dos métodos de ensino e dos instrumentos de avaliação que<br />

serão usados. A inter-relação desses aspectos permite uma intervenção pe<strong>da</strong>gógica mais<br />

significativa para os alunos inseridos na Educação Básica (HOFFMANN, 2009).<br />

No caso <strong>da</strong> Educação Física escolar, as discussões <strong>sobre</strong> as novas possibili<strong>da</strong>des de<br />

ensinar e avaliar o processo de ensino e aprendizag<strong>em</strong> foram intensifica<strong>da</strong>s, mais<br />

especificamente, a partir <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> de 1980, quando houve nos meios escolares um<br />

questionamento crítico <strong>sobre</strong> a função educacional, social e cultural <strong>da</strong> área (BRACHT, 1992;<br />

DAOLIO, 1998).<br />

Percebe-se que essas discussões provocaram pouco impacto na prática avaliativa dos<br />

professores de Educação Física, pois no que se refere ao t<strong>em</strong>a avaliação elas não são<br />

abor<strong>da</strong><strong>da</strong>s de forma sist<strong>em</strong>atiza<strong>da</strong> a ponto de apresentar possibili<strong>da</strong>des coerentes e eficazes<br />

para avaliar o conhecimento aprendido durante as <strong>aulas</strong>. Nota-se que exist<strong>em</strong> denúncias 2 de<br />

falta de sist<strong>em</strong>atização no processo de avaliação dos alunos, mas não há propostas avaliativas<br />

que possam, realmente, colaborar com a mu<strong>da</strong>nça desse processo nessa disciplina. Entende-se<br />

que isso ocorre porque as sugestões para a transformação <strong>da</strong> prática pe<strong>da</strong>gógica do professor<br />

<strong>da</strong> área são complexas e lentas para ser<strong>em</strong> efetivamente colocados no cotidiano <strong>da</strong>s <strong>aulas</strong> de<br />

Educação Física escolar, uma vez que implica na mu<strong>da</strong>nça de outros aspectos como: o<br />

conhecimento <strong>sobre</strong> a área por parte dos atores que compõ<strong>em</strong> o contexto escolar; a adequação<br />

<strong>da</strong> formação inicial e continua<strong>da</strong> dos docentes abarcando aprendizagens <strong>sobre</strong> o que, como e<br />

por que ensinar e avaliar de forma contextualiza<strong>da</strong> com projeto pe<strong>da</strong>gógico e as características<br />

<strong>da</strong> instituição de ensino que atua, além <strong>da</strong> necessi<strong>da</strong>de de alterações nas condições<br />

profissionais (salário, t<strong>em</strong>po e espaço para planejar e avaliar os alunos) ofereci<strong>da</strong>s aos<br />

docentes dessa disciplina na escola.<br />

Nessa perspectiva, considera-se que um dos probl<strong>em</strong>as identificados na prática<br />

avaliativa nessa área é, <strong>em</strong> parte, reflexo <strong>da</strong>s questões que se desenham no panorama<br />

educacional brasileiro, <strong>em</strong> razão <strong>da</strong> tradição avaliativa existente.<br />

2 (FREIRE, 1989;SOARES et. al. 1992; OHLWEILER, 1992; SOUZA, 1993; DARIDO, 1999; MAUAD, 2003;<br />

RODRIGUES, 2003; MENDES, 2005).<br />

3


Sendo assim, a mu<strong>da</strong>nça dessa reali<strong>da</strong>de implica considerar as discussões e<br />

proposições educacionais <strong>sobre</strong> o processo de avaliação no contexto <strong>da</strong> Educação 3 , que dev<strong>em</strong><br />

ser pondera<strong>da</strong>s na disciplina de Educação Física. Essas proposições têm consoli<strong>da</strong>do uma<br />

proposta de avaliação formativa compreendi<strong>da</strong> como parte do processo educativo, que t<strong>em</strong><br />

por finali<strong>da</strong>de a promoção de aprendizagens, o uso de diferentes espaços, t<strong>em</strong>pos e<br />

instrumentos que possibilit<strong>em</strong> aos alunos um processo de ensino e aprendizag<strong>em</strong> mais<br />

adequado (GÓMEZ, 1985; FREIRE, 1989; FREIRE; SCAGLIA, 2004; ESTEBAN, 2002;<br />

2008).<br />

Mediante essas considerações, perceb<strong>em</strong>-se poucas orientações aos professores no<br />

processo de formação inicial e continua<strong>da</strong>, colaborando efetivamente para suas atuações, a<br />

fim de que consigam transferir esses pressupostos para sua prática nas instituições de Ensino<br />

Básico. Desse modo, neste estudo objetivou-se, primeiramente, identificar aspectos <strong>sobre</strong><br />

como os professores de Educação Física <strong>da</strong>s escolas públicas praticam a avaliação <strong>da</strong><br />

aprendizag<strong>em</strong> com os seus alunos. Isso foi feito com base na análise de Russo (2010) e <strong>da</strong>s<br />

respostas <strong>da</strong><strong>da</strong>s pelos professores a respeito <strong>da</strong> prática avaliativa, obti<strong>da</strong>s a partir do<br />

questionário construído pelo GEPEFE. Após essa análise, foram promovidos momentos de<br />

reflexão coletiva entre pesquisadora e os professores. Nesses encontros, buscou-se apresentar<br />

as análises <strong>da</strong>s respostas, além de trocar saberes e construir reflexões <strong>sobre</strong> a avaliação <strong>da</strong><br />

aprendizag<strong>em</strong> no cotidiano <strong>da</strong>s <strong>aulas</strong> de Educação Física escolar.<br />

Dessa forma, este trabalho se caracteriza por uma abor<strong>da</strong>g<strong>em</strong> de cunho qualitativo, do<br />

tipo exploratório descritivo, no qual as análises e interpretações dos <strong>da</strong>dos foram realiza<strong>da</strong>s à<br />

luz <strong>da</strong> revisão de literatura <strong>sobre</strong> o t<strong>em</strong>a “avaliação <strong>da</strong> aprendizag<strong>em</strong>” e <strong>da</strong> proposta do<br />

Paradigma Indiciário. Teve como objetivo identificar como os professores de Educação Física<br />

<strong>da</strong>s escolas públicas pertencentes à Diretoria de Ensino <strong>da</strong> região Centro-Sul do Estado de<br />

São Paulo realizam a avaliação <strong>da</strong> aprendizag<strong>em</strong> dos seus alunos e refletir junto aos docentes<br />

<strong>sobre</strong> aspectos <strong>da</strong> prática avaliativa nas <strong>aulas</strong> de Educação Física.<br />

Justifica-se a relevância desta pesquisa, primeiramente, por se tratar de um assunto que<br />

t<strong>em</strong> sido evidenciado com escassez de pesquisas publica<strong>da</strong>s no âmbito <strong>da</strong> Educação Física<br />

escolar (MAUAD, 2003; RODRIGUES, 2003; MEDEIROS, 2004; PEREIRA, 2006;<br />

MENDES, 2005; SILVA, 2007; PADERES, 2007; ZUKOWSKY, 2008; MELO, 2008;<br />

SILVA; BANKOFF, 2010), assim como nas apresentações de trabalhos e nos diálogos<br />

3 <strong>Avaliação</strong> autêntica (CONDEMARÍN E MEDINA, 2005); avaliação mediadora (HOFFMANN, 1993, 2004,<br />

2009); avaliação indiciária (ESTEBAN, 2002, 2008); avaliação diagnóstica (LUCKESI, 2005); avaliação<br />

d<strong>em</strong>ocrática (VASCONCELOS, 2003).<br />

4


<strong>em</strong>preendidos nos encontros científicos 4 , que entend<strong>em</strong> a avaliação como um dos t<strong>em</strong>as mais<br />

difíceis na ação docente, no contexto <strong>da</strong> Educação e <strong>sobre</strong>tudo <strong>da</strong> Educação Física escolar.<br />

Nas pesquisas que investigaram o discurso dos professores <strong>da</strong> área 5 a respeito do<br />

assunto <strong>em</strong> pauta mostram que muitos professores culpam o curso de Licenciatura <strong>em</strong><br />

Educação Física por fornecer poucos subsídios reflexivos e práticos a respeito <strong>da</strong> prática<br />

avaliativa. Consequent<strong>em</strong>ente, a falta de orientação <strong>sobre</strong> o t<strong>em</strong>a, soma<strong>da</strong> ao pouco interesse<br />

<strong>sobre</strong> o assunto, leva os docentes <strong>da</strong> área a apresentar<strong>em</strong> conhecimentos restritos <strong>sobre</strong> por<br />

que, como e quando usar esse dispositivo didático <strong>em</strong> suas <strong>aulas</strong>.<br />

Observa-se nos estudos <strong>sobre</strong> a avaliação <strong>da</strong> aprendizag<strong>em</strong> expostos <strong>em</strong> Hadji (1994),<br />

Perrenoud (1999), Hoffmann (2004, 2009), Esteban (2002, 2008), Luckesi (2005) e<br />

Vasconcelos (2003) que já existe uma considerável produção de conhecimentos que<br />

corroboram a ideia de avaliar processualmente, qualitativamente e de maneira conecta<strong>da</strong> com<br />

o processo de ensino e aprendizag<strong>em</strong> escolar. Porém, quando esses pressupostos são aplicados<br />

<strong>em</strong> situações de formação continua<strong>da</strong> de professores, <strong>sobre</strong>tudo os de Educação Física,<br />

s<strong>em</strong>pre surg<strong>em</strong> argumentos que assinalam a falta de t<strong>em</strong>po para planejar e avaliar conforme<br />

tais pressupostos. Mediante essa percepção, o estudo mostrou que um dos pontos que<br />

defin<strong>em</strong> o cerne <strong>da</strong> probl<strong>em</strong>ática <strong>da</strong> avaliação nesse contexto pode ser sintetizado na questão<br />

<strong>sobre</strong>: como avaliar considerando as características <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s escolas públicas e dos<br />

professores de Educação Física?<br />

Sendo assim, buscou-se neste estudo, apontar aspectos que permitiram a identificação<br />

de indícios que respondess<strong>em</strong> a pergunta exposta. Desse modo, foi revelado como os<br />

professores de Educação Física <strong>da</strong>s escolas públicas, pertencentes à Diretoria de Ensino <strong>da</strong><br />

região Centro-Sul do Estado de São Paulo realizam a avaliação <strong>da</strong> aprendizag<strong>em</strong> dos seus<br />

alunos, nesse ínterim, revelaram sinais <strong>sobre</strong> as dificul<strong>da</strong>des enfrenta<strong>da</strong>s na escola para<br />

avaliar de maneira coerente e por fim apontaram através do processo de reflexão <strong>sobre</strong> a<br />

avaliação <strong>da</strong> aprendizag<strong>em</strong>, possibili<strong>da</strong>des contextualiza<strong>da</strong>s para ser<strong>em</strong> aplica<strong>da</strong>s <strong>em</strong> suas<br />

<strong>aulas</strong>.<br />

4<br />

V S<strong>em</strong>inário de Educação Física Escolar: <strong>Avaliação</strong> <strong>em</strong> Educação Física Escolar. São Paulo, Universi<strong>da</strong>de de<br />

São Paulo, 1999.<br />

Encontro Fluminense de Educação Física Escolar. Rio de Janeiro, 2003.<br />

3 o S<strong>em</strong>inário Internacional de Educação. Futuro Eventos, São Paulo, fevereiro de 2003.<br />

4 o S<strong>em</strong>inário Internacional de Educação. Futuro Eventos, São Paulo, fevereiro de 2004.<br />

XXI Conbrace e III Conice, Salvador, 2009.<br />

Curso “O Que e Como Ensinar na Educação Física Escolar”, promovido pelo GEPEFE/USJT, na Universi<strong>da</strong>de<br />

São Ju<strong>da</strong>s Tadeu, 2010.<br />

5<br />

(SANTOS; GONÇALVES, 1996; VEAL, 1997; DARIDO, 1999; MENDES; NASCIMENTO; MENDES,<br />

2007; SILVA; BANKOFF, 2010; MELO; FERRAZ; NISTA-PICCOLO, 2010).<br />

5


2 Revisão <strong>da</strong> Literatura<br />

2.1 A avaliação <strong>da</strong> aprendizag<strong>em</strong> no contexto educacional<br />

Para discorrer <strong>sobre</strong> avaliação, assim como os d<strong>em</strong>ais t<strong>em</strong>as que são alicerces do<br />

processo de ensino, é importante levar <strong>em</strong> consideração o que Saul (2006) expõe <strong>sobre</strong> alguns<br />

tipos de práticas avaliativas que são usados no contexto educacional como: apreciação de<br />

rendimento escolar, <strong>da</strong> aprendizag<strong>em</strong> escolar, dos cursos, dos programas, do currículo e do<br />

sist<strong>em</strong>a educacional. Entende-se que os professores <strong>da</strong> Educação Básica estão inseridos na<br />

área <strong>da</strong> avaliação <strong>da</strong> aprendizag<strong>em</strong>, foco de preocupação deste estudo. É por meio <strong>da</strong><br />

compreensão <strong>da</strong> prática avaliativa como um processo interno <strong>da</strong> atuação pe<strong>da</strong>gógica que serão<br />

buscados indícios, nesta parte <strong>da</strong> pesquisa, para compreendê-la no contexto <strong>da</strong> Educação e,<br />

especificamente, <strong>da</strong> Educação Física escolar.<br />

Percorrendo a evolução do conceito de avaliação <strong>da</strong> aprendizag<strong>em</strong>, considera-se<br />

relevante retomar os aspectos <strong>da</strong> avaliação vistos no estudo de Melo (2008), <strong>em</strong> que o ato de<br />

avaliar na formação básica foi abor<strong>da</strong>do por meio de duas concepções, a saber: a ideia de<br />

medir a aprendizag<strong>em</strong> dos alunos para verificar os resultados atingidos no final de um<br />

programa de ensino e a ideia de, além de medir, atribuir valor aos progressos e dificul<strong>da</strong>des<br />

encontra<strong>da</strong>s, ou seja, a apreciação do trabalho dos alunos no decorrer do processo de ensino e<br />

aprendizag<strong>em</strong>, tendo como foco a apreensão não só <strong>da</strong> quanti<strong>da</strong>de, mas também <strong>da</strong> quali<strong>da</strong>de<br />

dos resultados obtidos.<br />

A abor<strong>da</strong>g<strong>em</strong> de avaliação basea<strong>da</strong> apenas na ação <strong>da</strong> medi<strong>da</strong> <strong>da</strong>s expressões de<br />

aprendizag<strong>em</strong> dos alunos é alvo de muitas denúncias, enfatizando as consequências <strong>da</strong> prática<br />

desse formato avaliativo nas instituições de ensino. Vários autores apontam que a forma como<br />

se chega aos números que evidenciam o resultado final enaltece diversos mecanismos de<br />

classificação e exclusão dos alunos e resulta <strong>em</strong> fracasso escolar por parte <strong>da</strong> grande massa de<br />

discentes que ingressam na escola e acabam por ficar à marg<strong>em</strong> do processo, legitimado<br />

formalmente pelas notas e, informalmente, pelos julgamentos que se constro<strong>em</strong> no ambiente<br />

escolar, os quais limitam as possibili<strong>da</strong>des de desenvolvimento <strong>da</strong>s suas potenciali<strong>da</strong>des no<br />

contexto sociocultural <strong>em</strong> que estão inseridos (HOFFMANN, 1993, 2004, 2009; LIMA, 1994;<br />

ESTEBAN, 2002, 2008; LUCKESI, 2005; VASCONCELOS, 2003).<br />

A segun<strong>da</strong> abor<strong>da</strong>g<strong>em</strong>, que se refere à valoração <strong>da</strong> aprendizag<strong>em</strong> dos alunos, expõe<br />

aspectos considerados mais adequados ao contexto escolar, uma vez que suscita a necessi<strong>da</strong>de<br />

de acompanhar o que e como aprend<strong>em</strong> e identificar a causa <strong>da</strong>s dificul<strong>da</strong>des d<strong>em</strong>onstra<strong>da</strong>s,<br />

para posterior toma<strong>da</strong> de decisão <strong>sobre</strong> o que fazer para melhorá-las (HADJI, 1994;<br />

6


PERRENOUD, 1999). Nesse sentido, a avaliação é ponto prioritário para buscar<br />

possibili<strong>da</strong>des de aperfeiçoar a ação discente (a aprendizag<strong>em</strong>) e, <strong>sobre</strong>tudo a ação docente (o<br />

ensino). É um processo de análise, de discussão, de reavaliação e de reorganização <strong>da</strong><br />

aprendizag<strong>em</strong> e do ensino. Portanto, deve ser idealiza<strong>da</strong> no sentido de ressignificar o valor<br />

numérico, a quantificação classificatória e excludente, para a ideia <strong>da</strong> avaliação qualitativa e<br />

formativa.<br />

Os estudos de Hoffmann (1993, 2004, 2009), Lima (1994), Esteban (2002, 2008),<br />

Luckesi (2005) e Vasconcelos (2003) confirmam a existência dessas duas abor<strong>da</strong>gens de<br />

avaliação nas escolas de Educação Básica brasileira. Os mesmos autores apontam que,<br />

<strong>em</strong>bora os educadores já apresent<strong>em</strong> conhecimentos <strong>sobre</strong> a concepção <strong>da</strong> avaliação<br />

qualitativa, processual, crítica, formativa, dialógica e inclusiva, observa-se que exist<strong>em</strong><br />

poucos indícios de mu<strong>da</strong>nças nas práticas avaliativas abarcando esses pressupostos, uma vez<br />

que existe a forte tendência de pensar a avaliação como um instrumento que se fun<strong>da</strong>menta<br />

“[...] na perspectiva <strong>da</strong> substituição <strong>da</strong> heterogenei<strong>da</strong>de real por uma homogenei<strong>da</strong>de<br />

idealiza<strong>da</strong>” (ESTEBAN, 2008, p. 14).<br />

Ou seja, o probl<strong>em</strong>a relacionado ao ato de avaliar pautando-se somente na perspectiva<br />

<strong>da</strong> medi<strong>da</strong> é o fato de se resumir numa prática que serve, apenas, para colher informações,<br />

divulgar resultados que buscam igualar os discentes numa mesma escala de capaci<strong>da</strong>des e<br />

habili<strong>da</strong>des, s<strong>em</strong> se preocupar com as subjetivi<strong>da</strong>des e as diversi<strong>da</strong>des expressa<strong>da</strong>s no<br />

processo de aprendizag<strong>em</strong> de ca<strong>da</strong> aluno.<br />

Contrária a essa ideia, o conceito de avaliação voltado para a ideia <strong>da</strong> valoração,<br />

considera, ao mesmo t<strong>em</strong>po, o uso <strong>da</strong> medi<strong>da</strong> e a apreciação individual desses resultados<br />

durante o programa de ensino, os quais são usados não só para informar, mas também para<br />

tomar decisões específicas para a melhora <strong>da</strong>s dificul<strong>da</strong>des dos alunos. Nessa perspectiva<br />

pondera-se que os dois conceitos de avaliação (o <strong>da</strong> medi<strong>da</strong> e o <strong>da</strong> valoração) são<br />

fun<strong>da</strong>mentais para avaliar "b<strong>em</strong>", pois o processo de avaliação passa a ser visto como ação de<br />

recolha de indicadores de aprendizag<strong>em</strong>, realização do diagnóstico dos probl<strong>em</strong>as<br />

encontrados e busca de soluções e estratégias que ajud<strong>em</strong> o professor identificar o que fazer<br />

mediante os resultados obtidos no decorrer do processo de ensino.<br />

Nesse sentido, compreende-se que a questão não é deixar de lado práticas de medi<strong>da</strong>s<br />

e dicotomizar as ações quantitativas e qualitativas do processo de avaliação, mas sim entender<br />

que é necessário que o professor, muito mais do que defender sua posição metodológica <strong>em</strong><br />

oposição a outra, saiba que exist<strong>em</strong> diferentes lógicas de ação <strong>em</strong> avaliação e que o<br />

importante é manter-se coerent<strong>em</strong>ente dentro de ca<strong>da</strong> uma delas, compreendendo que uma<br />

7


abor<strong>da</strong>g<strong>em</strong> compl<strong>em</strong>enta a outra no processo de análise do ensino e <strong>da</strong> aprendizag<strong>em</strong> escolar.<br />

Encontrou-se outra perspectiva de discussão <strong>sobre</strong> a prática avaliativa na análise <strong>da</strong>s<br />

produções científicas publica<strong>da</strong>s <strong>em</strong> dissertações de mestrado e teses de doutorado que tratam<br />

<strong>sobre</strong> o t<strong>em</strong>a avaliação. Nesses estudos obtidos a partir de busca realiza<strong>da</strong> no portal <strong>da</strong> Capes 6 ,<br />

nota-se que a prática avaliativa nas escolas <strong>da</strong> Educação Básica brasileira é exposta sob o<br />

ponto de vista <strong>da</strong>s questões políticas educacionais. Conforme as pesquisas revisa<strong>da</strong>s<br />

compreendeu-se que o processo educacional, ao colaborar para a manutenção de uma<br />

socie<strong>da</strong>de excludente, é recriminado pelos pesquisadores, que consideram a avaliação como a<br />

prática que mais contribui para essa reali<strong>da</strong>de. As consequências desse processo na vi<strong>da</strong> dos<br />

alunos são comenta<strong>da</strong>s por Esteban (2008, p. 14):<br />

A avaliação escolar, na perspectiva excludente, silencia as pessoas, suas culturas e<br />

seus processos de construção de conhecimentos, desvalorizando saberes, fortalece a<br />

hierarquia que está posta, contribuindo para que diversos saberes sejam apagados,<br />

percam sua existência e se confirm<strong>em</strong> como a ausência de conhecimento.<br />

Vários autores 7 concor<strong>da</strong>m que o ato de avaliar a aprendizag<strong>em</strong> t<strong>em</strong> sido desenvolvido<br />

com o intento de atender aos princípios <strong>da</strong> lógica capitalista, que se manifesta <strong>em</strong><br />

conformi<strong>da</strong>de com os interesses <strong>da</strong>s autori<strong>da</strong>des escolares e <strong>da</strong>s <strong>em</strong>presas. Isso ocorre devido<br />

ao atrelamento <strong>da</strong> economia brasileira à economia americana e europeia, que valorizam os<br />

preceitos <strong>da</strong> busca pela eficiência, eficácia e rendimento a qualquer custo – valores esses<br />

relacionados ao movimento denominado tecnologia educacional 8 , que influenciou a<br />

construção dos pressupostos teóricos a ser<strong>em</strong> seguidos nos planejamentos educacionais,<br />

institucionais e pe<strong>da</strong>gógicos, nos diferentes âmbitos <strong>da</strong>s escolas públicas e particulares<br />

(MEDEIROS, 2004; PEREIRA, 2006; SILVA, 2007; ZUKOWSKY, 2008).<br />

O estudo de Enguita (1989) aponta esclarecimentos que aju<strong>da</strong>m a entender a<br />

valorização e o fortalecimento dos princípios capitalistas nas práticas escolares. Conforme o<br />

autor, tais preceitos foram estabelecidos no âmbito <strong>da</strong>s instituições de Ensino Básico quando<br />

o modo de organização <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de voltou-se para o aumento <strong>da</strong> produção, após 1930,<br />

período <strong>em</strong> que foi possível perceber as fortes influências do contexto social e econômico no<br />

âmbito educacional.<br />

6<br />

MEDEIROS, 2004; PEREIRA, 2006; SILVA, 2007; ZUKOWSKY, 2008.<br />

7<br />

Esteban (2008) e outros autores <strong>da</strong>s dissertações e teses investiga<strong>da</strong>s, como: Medeiros (2004), Pereira (2006),<br />

Silva (2007) e Zukowsky (2008).<br />

8<br />

Para além <strong>da</strong> visão atual, que entende a tecnologia como sendo os recursos audiovisuais e, mais recent<strong>em</strong>ente,<br />

computacionais passíveis de ser <strong>em</strong>pregados <strong>em</strong> programas de ensino, no período abor<strong>da</strong>do as tecnologias<br />

referiam-se também aos métodos de ensino, adotados para viabilizar os objetivos e as finali<strong>da</strong>des <strong>da</strong> educação a<br />

partir do final do século XIX. É esse o caso, por ex<strong>em</strong>plo, do tecnicismo, com presença marca<strong>da</strong> no final dos<br />

anos 60, quando o desenvolvimento <strong>da</strong>s tecnologias audiovisuais começou a exercer influência nos métodos de<br />

ensino. Foi, portanto, no século XX que se assistiu ao estreitamento <strong>da</strong> relação entre tecnologia e educação.<br />

8


Machado (2000) explica que, a partir desse período, surgiram pesquisas e propostas de<br />

avaliação <strong>da</strong> aprendizag<strong>em</strong> que se voltaram às análises de currículo e de programas de ensino.<br />

Ralf Tyler 9 foi o estudioso que propôs o modelo de avaliação centra<strong>da</strong> <strong>em</strong> objetivos, bastante<br />

difundi<strong>da</strong> na prática dos educadores brasileiros, para determinar a equivalência entre os<br />

resultados e os objetivos estabelecidos no processo de ensino. Os apontamentos defendidos<br />

nesse modelo definiram a avaliação <strong>da</strong> aprendizag<strong>em</strong> com características que se<br />

ass<strong>em</strong>elhavam às dos processos de produção industrial, uma vez que exaltava o controle<br />

curricular e a aprendizag<strong>em</strong> de conteúdos, desconsiderando as diferenças entre os alunos.<br />

Enguita (1989) elenca alguns motivos que reforçaram a compreensão <strong>da</strong> lógica<br />

capitalista no contexto educacional: a influência <strong>da</strong>s <strong>em</strong>presas <strong>sobre</strong> o poder político; a<br />

utilização dos recursos <strong>da</strong>s <strong>em</strong>presas para ministrar a formação deseja<strong>da</strong> nas escolas, que<br />

passaram a ser usa<strong>da</strong>s como campo de treinamento para o trabalho nas corporações; a visão<br />

social <strong>da</strong>s <strong>em</strong>presas como modelo de eficiência a ser imitado por diferentes instituições<br />

escolares; a evolução <strong>da</strong>s escolas como produto sequencial de conflitos ideológicos,<br />

organizativos e sociais, e não por consensos generalizados.<br />

Como consequência dessas ações, a escola passou a privilegiar os métodos de<br />

transmissão do conhecimento por meio de técnicas de ensino que valorizavam ativi<strong>da</strong>des de<br />

m<strong>em</strong>orização e repetição. Por trás dessa ótica, Martins (1991) conclui que o professor e outros<br />

atores do contexto educacional compreenderam e explicaram os probl<strong>em</strong>as do fracasso<br />

escolar como consequência meramente pe<strong>da</strong>gógica, bastando alterar as técnicas de ensino<br />

para obter resultados mais positivos.<br />

S<strong>em</strong> a devi<strong>da</strong> compreensão <strong>da</strong>s determinações sociais que incorporavam o que ensinar,<br />

como ensinar e para que ensinar, Nunes (2000, p.18) aponta que o professor reproduziu <strong>em</strong><br />

sua prática educativa um trabalho alienado, um ensino mecânico e burocrático, tão presente<br />

ain<strong>da</strong> nas escolas, podendo ser ex<strong>em</strong>plificado <strong>da</strong> seguinte maneira: “dita a matéria (prima pelo<br />

9 Ralph Tyler (1902-1994) foi um educador americano que trabalhou na área <strong>da</strong> avaliação <strong>da</strong> aprendizag<strong>em</strong>.<br />

Liderou a equipe de avaliação do Estudo de Oito Anos (1933-1941), um programa nacional que envolveu<br />

30 escolas secundárias e 300 facul<strong>da</strong>des e universi<strong>da</strong>des americanas, abor<strong>da</strong>ndo a estreiteza e a rigidez nos<br />

currículos do Ensino Médio. Em 1953, Tyler se tornou o primeiro diretor do Centro de Estudos Avançados <strong>em</strong><br />

Ciências Comportamentais <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de de Stanford, cargo que ocupou até sua aposentadoria, <strong>em</strong> 1967. Uma<br />

déca<strong>da</strong> depois de completar seu trabalho com o Estudo de Oito Anos, tendo formalizado seus pensamentos <strong>sobre</strong><br />

a visualização, análise e interpretação do currículo e programa de instrução de uma instituição educacional<br />

<strong>em</strong> Princípios Básicos de Currículo e Instrução, publicado <strong>em</strong> 1949, estabeleceu uma estrutura para a avaliação<br />

do ensino que consiste <strong>em</strong> quatro partes, conheci<strong>da</strong>s como o Rationale Tyler: a) definição de objetivos de<br />

aprendizag<strong>em</strong>; b) seleção <strong>da</strong>s experiências de aprendizag<strong>em</strong> para alcançar os objetivos de ensino; c) organização<br />

de experiências de aprendizag<strong>em</strong> para maximizar a aprendizag<strong>em</strong>; d) como avaliar as experiências de<br />

aprendizag<strong>em</strong> e o processo de ensino.<br />

9


verbalismo), os alunos escutam atentamente e copiam o que foi transmitido e tentam<br />

reproduzir fielmente nas provas o que conseguiram reter de informações possíveis”.<br />

Desse modo, o processo de ensino realizado pelo professor, mediado pela relação<br />

conteúdo/forma, a obsessão pela manutenção <strong>da</strong> ord<strong>em</strong>, <strong>da</strong> disciplina, <strong>da</strong> pontuali<strong>da</strong>de, a<br />

imposição <strong>da</strong>s regras, dos ritos, dos regulamentos, <strong>da</strong> autori<strong>da</strong>de e <strong>da</strong> burocracia, o tratamento<br />

impessoal dispensado aos alunos determinava sutilmente o que o discente deveria ou não<br />

aprender e <strong>em</strong> que ritmo (t<strong>em</strong>po) se <strong>da</strong>ria essa aprendizag<strong>em</strong> (NUNES, 2000; HOFFMAN,<br />

2004).<br />

Enguita (1989) considera que esses pretextos contextualizam a educação e operam <strong>em</strong><br />

favor <strong>da</strong> manutenção <strong>da</strong> organização social que se propõe a propagar o ideário capitalista que<br />

valoriza a competição, a seleção, a exclusão e a submissão, reproduzi<strong>da</strong>s num processo que<br />

r<strong>em</strong>ete aos indivíduos à responsabili<strong>da</strong>de pela posição que ocupam na socie<strong>da</strong>de.<br />

Assim, no que se refere à avaliação, esta passa a ser entendi<strong>da</strong> como uma prática<br />

social que contribui para o processo de hierarquização <strong>da</strong>s competências e habili<strong>da</strong>des,<br />

classifica<strong>da</strong>s conforme os resultados atingidos pelos alunos, além de colocar <strong>em</strong> destaque o<br />

resultado do trabalho dos professores e a efetivi<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s instituições escolares. Segundo<br />

Paderes (2007, p. 52), ela segue uma lógica classificatória que:<br />

[...] não auxilia o aluno a buscar novos caminhos para o crescimento. Ao contrário,<br />

o limita, mas não apenas no âmbito escolar, pois a sensação do fracasso aqui<br />

permeia também a sua vi<strong>da</strong> social. A insegurança e a baixa autoestima, estimula<strong>da</strong>s<br />

na escola, não ficam prisioneiras apenas desse espaço, misturam-se à vi<strong>da</strong> e deixam<br />

suas sequelas.<br />

Conforme a exposição do autor entende-se que a avaliação é uma prática que causa<br />

implicações marcantes na vi<strong>da</strong> escolar, social e cultural dos alunos, uma vez que, direta ou<br />

indiretamente, traz efeitos <strong>em</strong> seu desenvolvimento pessoal. Portanto, ela não é neutra n<strong>em</strong><br />

ingênua e suas implicações vão além dos espaços educacionais, pois se reflet<strong>em</strong> também na<br />

vi<strong>da</strong> social dos discentes.<br />

A compreensão <strong>da</strong> lógica avaliativa volta<strong>da</strong> aos princípios capitalistas realiza<strong>da</strong> nos<br />

contextos escolares também recebe destaque nos estudos de Dias Sobrinho (2003), Pereira<br />

(2006) e Mendes (2005). Os autores apontam que com esse referencial parece permissível o<br />

professor cometer o “erro pe<strong>da</strong>gógico” de supervalorizar a aprendizag<strong>em</strong> dos alunos <strong>em</strong><br />

função <strong>da</strong> veloci<strong>da</strong>de ou <strong>da</strong> quanti<strong>da</strong>de de respostas certas. Isso se relaciona com a busca pela<br />

uniformi<strong>da</strong>de e a visão <strong>da</strong> aprendizag<strong>em</strong> fixa e imutável, que levam alguns docentes a<br />

assinalar como “destino inevitável” o fracasso escolar.<br />

10


Ecos dessa configuração teórica pod<strong>em</strong> ser percebidos no cotidiano escolar. Os<br />

professores, muitas vezes, part<strong>em</strong> de uma concepção que lhes permite perceber a<br />

complexi<strong>da</strong>de do processo de ensino e aprendizag<strong>em</strong>, porém ain<strong>da</strong> não consegu<strong>em</strong> construir<br />

uma prática de avaliação que ultrapasse os limites <strong>da</strong> ideia de, somente, classificar e a<br />

identificar as aprendizagens considera<strong>da</strong>s ideais e as desviantes do padrão ideal planejado<br />

para ser atingido nas <strong>aulas</strong>. Dessa maneira, considera-se que esse cenário encontra-se frente<br />

ao desafio de efetivar a ruptura <strong>da</strong>s práticas avaliativas pauta<strong>da</strong>s no modelo de avaliação por<br />

objetivos e buscar a ressignificação do campo <strong>da</strong> avaliação com base nas necessi<strong>da</strong>des do<br />

sujeito, na possibili<strong>da</strong>de de operar a serviço <strong>da</strong> construção de aprendizagens significativas<br />

para os alunos. Para isso, pondera-se como necessário estruturar a prática avaliativa<br />

incorporando a ideia de investigar e refletir <strong>sobre</strong> as pistas de aprendizagens revela<strong>da</strong>s no<br />

processo de ensino dos alunos (ESTEBAN, 2002, 2008), visando compreender aspectos <strong>sobre</strong><br />

os fenômenos que não são imediatamente observáveis e que só adquir<strong>em</strong> sentido no território<br />

formativo. Isso requer uma mu<strong>da</strong>nça no processo de formação inicial e continua<strong>da</strong> dos<br />

professores, realizando discussões <strong>sobre</strong> a avaliação que abarqu<strong>em</strong> questões como:<br />

[...] por que se avalia, com qual finali<strong>da</strong>de, quais perspectivas, o que significam os<br />

instrumentos de avaliação usados, o que significam as perguntas formula<strong>da</strong>s nos<br />

diversos instrumentos avaliativos e as respostas <strong>da</strong><strong>da</strong>s, como os professores<br />

elaboram seus instrumentos de avaliação, como os alunos chegam às respostas<br />

<strong>da</strong><strong>da</strong>s, que relações exist<strong>em</strong> entre o ato avaliativo e a prática pe<strong>da</strong>gógica <strong>em</strong> sua<br />

totali<strong>da</strong>de, como se explica o processo de aprendizag<strong>em</strong> de um indivíduo ou de um<br />

grupo, entre tantas outras. (ESTEBAN, 2002, p. 172)<br />

Dias Sobrinho (2003), Pereira (2006) e Mendes (2005) compl<strong>em</strong>entam essa ideia<br />

apontando que é preciso conhecer a dialética do processo de avaliação, pois essa é uma<br />

possibili<strong>da</strong>de de gerar a compreensão dos probl<strong>em</strong>as e <strong>da</strong> necessi<strong>da</strong>de de mu<strong>da</strong>nças no<br />

processo avaliativo dos alunos no contexto escolar. Nessa perspectiva Vasconcelos (2003)<br />

apresenta uma série de ações na estrutura <strong>da</strong> dinâmica escolar que pod<strong>em</strong> colaborar para a<br />

melhora do processo de avaliação <strong>da</strong> aprendizag<strong>em</strong>, como estão expostos a seguir:<br />

a) A escola deve propiciar momentos que estimul<strong>em</strong> a reflexão do professor<br />

colocando-o na condição de sujeito, respondendo pelos seus atos e avançando a partir<br />

<strong>da</strong> probl<strong>em</strong>atização pe<strong>da</strong>gógica (pessoal ou coletiva) para o encontro de soluções<br />

contextualiza<strong>da</strong>s.<br />

b) Buscar a mu<strong>da</strong>nça <strong>da</strong> postura avaliativa, entendendo que não basta articular um<br />

discurso novo e continuar com práticas arcaicas. Na visão de Vasconcelos (2003, p.25)<br />

"o que altera a reali<strong>da</strong>de é a ação e não as elucubrações mentais. [...] No entanto, a<br />

recíproca também é ver<strong>da</strong>deira: não adianta ter uma prática nova marca<strong>da</strong> pelo espírito<br />

11


velho; assim, por ex<strong>em</strong>plo, de que vale trabalhar com parecer descritivo ao invés de<br />

nota, se o parecer também é usado para classificar o aluno?". Em outras palavras a<br />

alteração do processo de avaliação no contexto <strong>da</strong>s práticas pe<strong>da</strong>gógicas de docentes<br />

que atuam no Ensino Básico, implica não só a apropriação de novas concepções, mas<br />

também a prática dessas acepções avaliativas aplica<strong>da</strong> na reali<strong>da</strong>de escolar.<br />

c) Exercitar a critici<strong>da</strong>de como exercício individual e coletivo nas reuniões entre<br />

docentes e coordenação pe<strong>da</strong>gógica, tendo <strong>em</strong> vista superar a mera constatação de<br />

probl<strong>em</strong>as, ir além dos discursos fazendo proposições de critérios e instrumentos<br />

adequados com os conteúdos e objetivos de ensino.<br />

d) Considerar a possibili<strong>da</strong>de de fazer as análises gerais, apreciação <strong>da</strong> totali<strong>da</strong>de dos<br />

resultados atingidos, visto como um esforço <strong>em</strong> direção à apreensão do todo, mas<br />

tendo clareza de seu inacabamento e <strong>da</strong> necessi<strong>da</strong>de de abarcar a rede de relações que<br />

caracterizam os vários fatores intervenientes que influenciam a prática <strong>da</strong> avaliação na<br />

escola.<br />

e) Ter visão de processo para a visualização <strong>da</strong>s mu<strong>da</strong>nças nas práticas avaliativas<br />

assumi<strong>da</strong>s como uma sucessão de fenômenos incompletos, construí<strong>da</strong>s no decorrer do<br />

cotidiano <strong>da</strong>s <strong>aulas</strong>.<br />

f) Investir <strong>em</strong> ações que valoriz<strong>em</strong> o trabalho coletivo no contexto escolar para que<br />

haja a socialização de dificul<strong>da</strong>des e saberes no processo de avaliação. Nesse sentido,<br />

o autor destaca a importância de considerar a interação entre os pares, alunos, pais,<br />

dirigentes, legisladores etc., para encontrar possibili<strong>da</strong>des que melhorar<strong>em</strong> o processo<br />

de avaliação.<br />

g) As escolas precisam sist<strong>em</strong>atizar a função dos coordenadores e supervisores de<br />

ensino para que efetivamente cumpram a função de aju<strong>da</strong>r os professores a refletir<strong>em</strong><br />

estabelecendo contradições que possibilit<strong>em</strong> o movimento <strong>da</strong> ressignificação de<br />

conceitos e práticas. Nesse sentido os autores pontuam que há que se cui<strong>da</strong>r <strong>da</strong><br />

quali<strong>da</strong>de do t<strong>em</strong>po, qual seja do grau de interação e de oportuni<strong>da</strong>des para que o<br />

professor "entre <strong>em</strong> crise", se reveja, busque e pesquise para melhorar a prática<br />

avaliativa.<br />

h) Valorizar o papel <strong>da</strong> ética no processo de mu<strong>da</strong>nça <strong>da</strong> avaliação fazendo parte do<br />

cotidiano escolar, <strong>em</strong> to<strong>da</strong>s as suas dimensões, especialmente no sentido de pontuar a<br />

necessi<strong>da</strong>de de todos os atores escolares se comprometer<strong>em</strong> com a aprendizag<strong>em</strong><br />

efetiva dos alunos.<br />

12


i) Praticar, no decorrer <strong>da</strong>s análises <strong>sobre</strong> a prática avaliativa desenvolvi<strong>da</strong> pelos<br />

professores, o senso estético e a sensibili<strong>da</strong>de para compreender a lógica dos aspectos<br />

que se apresentam probl<strong>em</strong>áticos, para que sejam busca<strong>da</strong>s as mu<strong>da</strong>nças necessárias<br />

no contexto escolar.<br />

De maneira geral, nota-se que para a consoli<strong>da</strong>ção de tais proposições é preciso a<br />

construção de uma nova cultura escolar, que pondere a reformulação de ações, normas e<br />

concepções que imped<strong>em</strong> a mu<strong>da</strong>nça <strong>da</strong>s ações didáticas vigentes. Nesse sentido, entende-se<br />

que a ressignificação <strong>da</strong> avaliação <strong>da</strong> aprendizag<strong>em</strong> não depende, apenas, de mu<strong>da</strong>nças legais,<br />

mas também do comprometimento e <strong>da</strong> boa vontade dos atores que compõe a escola para<br />

analisar as condições concretas, identificar as dificul<strong>da</strong>des e criar estratégias específicas para<br />

solucionar os probl<strong>em</strong>as encontrados. O que sugere alterações <strong>da</strong>s condições de trabalho<br />

ofereci<strong>da</strong>s ao professor, mu<strong>da</strong>nças na estrutura <strong>da</strong> escola, <strong>da</strong> formação dos atores escolares<br />

<strong>sobre</strong> as novas concepções de ensino, aprendizag<strong>em</strong> e avaliação.<br />

Tais conjecturas também levaram este estudo ao reconhecimento <strong>da</strong> importância de<br />

compreender aspectos do contexto histórico <strong>da</strong> avaliação, uma vez que esses conhecimentos<br />

ampliariam o entendimento <strong>sobre</strong> as concepções que permeiam as práticas avaliativas na<br />

escola tendo <strong>em</strong> vista os períodos de abrangência e evolução dessa t<strong>em</strong>ática a partir <strong>da</strong><br />

segun<strong>da</strong> metade do século XX (momento <strong>em</strong> que se fortaleceram as discussões <strong>sobre</strong> o t<strong>em</strong>a).<br />

Sendo assim, tais aspectos serão abor<strong>da</strong>dos no próximo tópico.<br />

2.2.1 A evolução <strong>da</strong> avaliação <strong>da</strong> aprendizag<strong>em</strong> a partir do século XX<br />

Dias Sobrinho (2003) se pauta nos estudos de Stuffebeam e Shinkfield (1987) 10 para<br />

delinear a divisão <strong>da</strong> avaliação <strong>em</strong> cinco períodos, ou cinco gerações: 1) era pré-Tyler; 2)<br />

período Tyler; 3) era <strong>da</strong> inocência, com os estudos pós-Tyler; 4) período do realismo, com a<br />

ratificação de três práticas de avaliação (para prestar contas aos pais; para aferição de<br />

resultados, considerando aspectos <strong>da</strong> aprendizag<strong>em</strong> dos alunos, <strong>da</strong> atuação dos professores e<br />

do sist<strong>em</strong>a escolar por meio de técnicas quantitativas e qualitativas; e as avaliações segundo<br />

as proposições de Cronbach e de Scriven); 5) período do profissionalismo ou<br />

profissionalização <strong>da</strong> avaliação.<br />

Nos parágrafos a seguir é exposta uma síntese pauta<strong>da</strong> no estudo de Dias Sobrinho<br />

(2003) <strong>sobre</strong> os aspectos que caracterizam essas gerações, apontando as diferentes concepções<br />

10 STUFFEBEAM, D. L.; SHINKFIELD, A. J. Evaluación sist<strong>em</strong>ática: guía teórica y práctica. Madrid:<br />

Paidós, 1987.<br />

13


<strong>da</strong> avaliação <strong>da</strong> aprendizag<strong>em</strong> que foram construí<strong>da</strong>s historicamente no contexto <strong>da</strong><br />

Educação.<br />

A primeira geração, era pré-Tyler, situa-se entre o final do século XIX e os anos 1930,<br />

adentrando o século XX. Esse período configurou-se, primeiramente, por medições<br />

psicofísicas (capaci<strong>da</strong>des sensoriais, t<strong>em</strong>pos de reação etc.) e, posteriormente, importaram-se<br />

<strong>da</strong> área <strong>da</strong> psicologia os testes padronizados. A psicometria passou a dominar o<br />

desenvolvimento do ensino e <strong>da</strong> aprendizag<strong>em</strong> escolar, principalmente por meio do binômio<br />

avaliação/medição. Destacam-se nesse período os trabalhos com testes, técnicas, escalas de<br />

medi<strong>da</strong> e conhecimento que fun<strong>da</strong>mentaram a “gestão científica” <strong>da</strong> Educação, uma vez que<br />

seguiam o princípio <strong>da</strong> eficiência para obtenção de resultados precisos a partir dos processos<br />

de avaliação.<br />

Outros estudos, como os de Binet 11 , sist<strong>em</strong>atizaram um teste para avaliar o nível de<br />

inteligência dos alunos na escola. Segundo Gardner (1998), a proposta inicial desse<br />

pesquisador era construir uma ferramenta para aju<strong>da</strong>r na detecção e resolução dos probl<strong>em</strong>as<br />

de aprendizag<strong>em</strong> dos alunos nas escolas, mas ela foi <strong>em</strong>prega<strong>da</strong> como um mecanismo para<br />

classificar, selecionar e excluir os alunos que apresentavam dificul<strong>da</strong>des.<br />

De acordo com Depresbiteris (1989), esse período teve seu apogeu nos EUA nas<br />

déca<strong>da</strong>s de 1920 e 1930 e ficou marcado como o testing period. Os estudos e pesquisas <strong>sobre</strong><br />

avaliação se concentraram na aplicação de testes de QI (quociente intelectual), tendo um<br />

enfoque instrumental e mecanicista para analisar as aptidões individuais dos estu<strong>da</strong>ntes.<br />

Patto (1996) aponta que, a partir <strong>da</strong>s déca<strong>da</strong>s menciona<strong>da</strong>s acima, essas referências de<br />

avaliação influenciaram também na Educação brasileira. Os alunos eram submetidos a<br />

diagnósticos individuais <strong>sobre</strong> o nível de inteligência e aprendizag<strong>em</strong>, realizados por médicos<br />

e psicólogos que tinham o intuito de reverter o fracasso escolar.<br />

Conforme Zylberberg e Nista-Piccolo (2008, p.63):<br />

Essa legitimi<strong>da</strong>de científica surtiu efeitos profundos. O dogma hereditarista<br />

prevaleceu e o círculo vicioso comprovou-se: o fracasso de alguns alunos na<br />

aprendizag<strong>em</strong> se dá porque eles nasceram assim, e, portanto, continuarão incapazes<br />

de aprender.<br />

11 Alfred Binet (1857-1911), diretor do laboratório de Psicologia <strong>da</strong> Sorbonne, estudou instrumentos para medir a<br />

inteligência. Em 1904, a pedido do ministro <strong>da</strong> Educação Pública <strong>da</strong> França, Binet desenvolveu técnicas para<br />

identificar os estu<strong>da</strong>ntes cujas aptidões escolares foss<strong>em</strong> tão baixas que exigiss<strong>em</strong> atendimento especializado.<br />

Para tanto, selecionou tarefas relaciona<strong>da</strong>s aos probl<strong>em</strong>as cotidianos, organizou-as pelo grau de complexi<strong>da</strong>de e<br />

abstraiu um valor que expressava a capaci<strong>da</strong>de global <strong>da</strong> criança. Porém, para Binet a quantificação de um valor<br />

numérico único não permitia medir a inteligência ou sequer indicar uma hierarquia intelectual. Os testes<br />

atendiam ao limitado propósito de identificar alunos que precisavam de atendimento especializado. Por isso, o<br />

estudioso enfatizava o risco de os resultados oportunizar<strong>em</strong> a imposição de rótulos indeléveis a essas crianças,<br />

como, por ex<strong>em</strong>plo, o de ser<strong>em</strong> biologicamente incapazes.<br />

14


A respeito do segundo período <strong>da</strong> avaliação, Dias Sobrinho (2003) aponta que foi o<br />

momento <strong>em</strong> que se fixou a proposta de avaliação construí<strong>da</strong> pelo próprio Tyler. Após 1930,<br />

esse pesquisador apresentou pesquisas e propostas <strong>sobre</strong> a avaliação <strong>da</strong> aprendizag<strong>em</strong>,<br />

fomentando investigações que se voltaram às análises de currículo e de programas de ensino.<br />

Sousa (2005, p.28) explica que:<br />

A abor<strong>da</strong>g<strong>em</strong> avaliativa de Tyler gradualmente sist<strong>em</strong>atizou-se e ganhou projeção<br />

com a publicação, <strong>em</strong> 1949, do trabalho intitulado Princípios básicos de currículo e<br />

ensino. Neste, o autor expressa a concepção de avaliação por objetivos, bastante<br />

difundi<strong>da</strong> entre nós, a qual caracteriza-se por conceber a avaliação como<br />

procedimento que permite verificar se os objetivos educacionais estão sendo<br />

atingidos pelo programa de ensino. T<strong>em</strong> por finali<strong>da</strong>de fornecer informações quanto<br />

ao des<strong>em</strong>penho dos alunos <strong>em</strong> face dos objetivos esperados, possibilitando que se<br />

verifique o quanto as experiências de aprendizag<strong>em</strong>, tal como previstas e<br />

executa<strong>da</strong>s, favorec<strong>em</strong> o alcance dos resultados desejados.<br />

Dias Sobrinho (2003, p. 21) aponta que a proposta de avaliação circunscrita nesse<br />

período apresentou indicadores de avanços como, por ex<strong>em</strong>plo, o foco que antes era, apenas,<br />

o aluno visto como objeto de avaliação; esse novo enfoque passa a considerar também a<br />

apreciação do currículo e dos programas de ensino. Porém, o modelo proposto ain<strong>da</strong> se<br />

caracterizava por práticas de verificação quantitativa de conteúdos e a avaliação se restringia à<br />

análise de comportamentos observáveis e fáceis de ser<strong>em</strong> mensurados. O autor compl<strong>em</strong>enta<br />

essa observação, expondo que a avaliação segundo o modelo proposto por Tyler se dedicava<br />

ao êxito na escolarização:<br />

Comprometia-se, então, com a ideologia <strong>da</strong> eficiência social. Os objetivos<br />

educacionais eram estabelecidos <strong>em</strong> função do desenvolvimento industrial e com o<br />

esforço de recuperação <strong>da</strong> economia norte-americana. Observa-se, então, uma certa<br />

ampliação do campo <strong>da</strong> avaliação. Continua sendo fun<strong>da</strong>mentalmente um processo<br />

de medi<strong>da</strong>, porém agora mais preocupa<strong>da</strong> com a adequação dos currículos às<br />

exigências sociais e econômicas, com a formulação de objetivos e a medi<strong>da</strong> de seu<br />

cumprimento.<br />

Percebe-se que essa abor<strong>da</strong>g<strong>em</strong> de avaliação apoiou-se na perspectiva objetivista de<br />

produção do conhecimento e no modelo de avaliação escolar reprodutivista<br />

(DEPRESBITERIS, 1989). As consequências desse enfoque no processo <strong>da</strong> avaliação já<br />

foram abor<strong>da</strong><strong>da</strong>s no it<strong>em</strong> anterior, especificamente, na exposição dos apontamentos <strong>sobre</strong> o<br />

estudo de Enguita (1989) que se direcionou para a análise <strong>da</strong> terceira geração <strong>da</strong> história <strong>da</strong><br />

avaliação.<br />

Essa segun<strong>da</strong> geração também ficou conheci<strong>da</strong> como a era <strong>da</strong> inocência. Para Melo<br />

(2008) nesse momento histórico surgiram as primeiras reflexões que entenderam a avaliação<br />

como el<strong>em</strong>ento integrante do processo de ensino e aprendizag<strong>em</strong> escolar. Essa vertente é<br />

caracteriza<strong>da</strong> pela:<br />

15


[...] proposta de avaliação <strong>da</strong> aprendizag<strong>em</strong> cuja sist<strong>em</strong>atização é denomina<strong>da</strong><br />

Taxonomia de Bloom, <strong>em</strong> referência a seu autor, Benjamin Bloom, que estabeleceu<br />

três categorias para a organização dos objetivos educacionais: cognitiva, afetiva e<br />

psicomotora. A intenção dessa proposta era classificar os comportamentos do<br />

aluno, d<strong>em</strong>arcando as aquisições e os modos de raciocínio para auxiliá-lo a<br />

progredir <strong>em</strong> direção aos objetivos traçados. Também apontava a necessi<strong>da</strong>de de o<br />

professor estabelecer uma relação entre esses objetivos, os comportamentos que os<br />

alunos deveriam aprender e que seriam avaliados. (MELO, 2008, p. 8)<br />

O trabalho de Bloom foi amplamente divulgado, t<strong>em</strong> sido referência até hoje nas<br />

discussões <strong>sobre</strong> a avaliação <strong>da</strong> aprendizag<strong>em</strong>, pois, como aponta Zaina (2001), foi a partir de<br />

seus estudos que surgiram as primeiras ponderações <strong>sobre</strong> uma avaliação formativa, as quais<br />

foram compl<strong>em</strong>enta<strong>da</strong>s por Scriven <strong>em</strong> 1967, no período seguinte <strong>da</strong> trajetória <strong>da</strong>s propostas<br />

de avaliação surgi<strong>da</strong>s no século XIX.<br />

O quarto período, ou quarta geração <strong>da</strong> avaliação, de 1958 a 1972, ficou conhecido<br />

como o período do realismo, que, segundo Dias Sobrinho (2003), se caracterizou como um<br />

momento de intensa mobilização nesse campo, evidenciando três práticas avaliativas:<br />

- a primeira é a compreensão <strong>da</strong> avaliação como prestação de contas aos pais;<br />

- a segun<strong>da</strong> cita a ampliação dos objetos avaliados, passando a ponderar não só as<br />

aprendizagens dos alunos, mas também a atuação dos professores e do sist<strong>em</strong>a escolar como<br />

um todo, utilizando técnicas avaliativas com enfoque quantitativo e qualitativo para a aferição<br />

de resultados;<br />

- a terceira está associa<strong>da</strong> às conjeturas de Cronbach – apresenta<strong>da</strong>s <strong>em</strong> 1963 cuja ideia era<br />

avaliar os programas durante o seu desenvolvimento e tomar decisões que possibilitass<strong>em</strong><br />

soluções contextualiza<strong>da</strong>s – e, na sequência, com já foi exposto, às proposições de Scriven<br />

que reforçaram a ideia de avaliação para melhorar os cursos de formação de professores e<br />

programas de ensino.<br />

Compreende-se que essa geração, apesar de apresentar avanços na escolha dos objetos<br />

a ser<strong>em</strong> avaliados (não focando só no aluno, mas no processo de formação docente e<br />

construção curricular), mantinha a intenção <strong>da</strong>s propostas apresenta<strong>da</strong>s nos períodos<br />

anteriores que buscava a classificação dos comportamentos dos alunos, d<strong>em</strong>arcando as<br />

aquisições de conhecimento, os modos de raciocínio, os comportamentos e a definição de<br />

padrões de aprendizag<strong>em</strong> considerados ideais para ser<strong>em</strong> atingidos no final do programa de<br />

ensino.<br />

Por fim, segundo Dias Sobrinho (2003), um fato contribuiu para consoli<strong>da</strong>ção <strong>da</strong><br />

quinta geração, nomea<strong>da</strong> de período do profissionalismo ou profissionalização <strong>da</strong> avaliação: a<br />

promulgação <strong>da</strong> Lei para a Educação Primária e Secundária, publica<strong>da</strong> nos EUA <strong>em</strong> 1965,<br />

enfatizando a obrigatorie<strong>da</strong>de <strong>da</strong> avaliação <strong>em</strong> programas destinados a alunos que<br />

16


apresentavam defasagens de aprendizag<strong>em</strong>. A obrigatorie<strong>da</strong>de dessa medi<strong>da</strong> provocou a sua<br />

profissionalização, com o surgimento de grande número de publicações <strong>sobre</strong> o t<strong>em</strong>a<br />

avaliação, pr<strong>em</strong>iações para a construção de instrumentos considerados eficazes para avaliar a<br />

aprendizag<strong>em</strong> dos alunos, além de investimentos <strong>em</strong> cursos de formação <strong>em</strong> avaliação,<br />

congressos, s<strong>em</strong>inários, que aumentaram a visibili<strong>da</strong>de <strong>da</strong> prática avaliativa para além <strong>da</strong>s<br />

salas de aula e <strong>da</strong>s instituições educacionais.<br />

Stuffebeam e Shinkfield (1987), citados por Dias Sobrinho (2003), consideram como<br />

principais contribuições desse período o desenvolvimento <strong>da</strong> comunicação, qualificação,<br />

preparação e titulação de avaliadores, a cooperação entre organizações profissionais<br />

relaciona<strong>da</strong>s à avaliação educacional, a melhora <strong>da</strong> comunicação entre partidários dos<br />

métodos positivistas quantitativos e fenomenológicos qualitativos vistos como possibili<strong>da</strong>des<br />

que se compl<strong>em</strong>entam no processo avaliativo.<br />

Segundo o autor, nessa geração o paradigma positivista experimental foi bastante<br />

questionado e o enfoque qualitativo foi valorizado nas discussões e propostas de avaliação. A<br />

avaliação foi caracteriza<strong>da</strong> como julgamento de valor, superando seu sentido descritivo e<br />

diagnóstico.<br />

Quadro 1: Síntese <strong>da</strong>s gerações <strong>da</strong> avaliação.<br />

Gerações Objetivo Papel do avaliador Papel do avaliado<br />

1ª<br />

Geração <strong>da</strong><br />

medi<strong>da</strong><br />

2ª<br />

Geração <strong>da</strong><br />

descrição<br />

3ª<br />

Geração do<br />

julgamento<br />

4ª<br />

Geração <strong>da</strong><br />

negociação<br />

5ª<br />

Geração <strong>da</strong><br />

profissionalização<br />

Medir<br />

Desenvolvimento <strong>da</strong>s técnicas<br />

psicométricas/testes, aplicação<br />

do método científico.<br />

Descrever, incluindo medir.<br />

Emergência <strong>da</strong> avaliação de<br />

programas centrados <strong>em</strong><br />

objetivos de aprendizag<strong>em</strong>.<br />

Julgar o mérito ou valor,<br />

incluindo medi<strong>da</strong> e descrição.<br />

Desenvolvimento de novos<br />

currículos e modelos de<br />

avaliação.<br />

Chegar a discursos<br />

consensuais<br />

Influência do paradigma<br />

qualitativo.<br />

<strong>Avaliação</strong> é julgamento de<br />

valores, superando o sentido<br />

descritivo e diagnóstico.<br />

Técnico que mede a<br />

eficácia dos resultados a<br />

partir dos testes.<br />

Especialista que se limita<br />

a descrever os objetivos<br />

de aprendizag<strong>em</strong><br />

Juiz que acumula as<br />

funções de técnico e<br />

especialista, além de<br />

determinar as decisões a<br />

tomar<br />

Orquestrador de uma<br />

negociação.<br />

Intérprete e agente de<br />

mu<strong>da</strong>nça.<br />

Usar a av. para melhorar<br />

o processo de ensino e<br />

aprendizag<strong>em</strong> levando <strong>em</strong><br />

conta a complexi<strong>da</strong>de que<br />

envolve tal processo.<br />

É medido e controlado.<br />

17<br />

El<strong>em</strong>ento instrumental do<br />

processo.<br />

Ator passivo e objeto <strong>da</strong>s<br />

toma<strong>da</strong>s de decisão<br />

Agente ativo e<br />

participativo, colaborando<br />

e negociando.<br />

Agente ativo,<br />

participativo, reflexivo e<br />

que colabora na toma<strong>da</strong><br />

de decisões <strong>sobre</strong> seu<br />

processo de aprendizag<strong>em</strong>.


Contudo, Dias Sobrinho (2003) aponta que as discussões <strong>da</strong> última geração não<br />

significaram a dissipação <strong>da</strong> proposta <strong>da</strong> avaliação por objetivos, a qual até hoje é uma prática<br />

usa<strong>da</strong> nos âmbitos escolares. O que ocorreu efetivamente nesse período foi a ampliação <strong>da</strong><br />

compreensão <strong>da</strong> complexi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> avaliação escolar, que passou a levar <strong>em</strong> conta aspectos<br />

como a subjetivi<strong>da</strong>de presente nos resultados, o foco no processo e não só no produto de<br />

aprendizag<strong>em</strong>, assim como a preocupação com as influências do contexto social e cultural dos<br />

alunos no processo de avaliação.<br />

No final <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> de 1970 e início <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> de 1980, conforme relatam Lima<br />

(1994), Vasconcelos (2003) e Franco (2005), as proposições avaliativas com a abor<strong>da</strong>g<strong>em</strong><br />

meramente classificatória passaram a ser mais critica<strong>da</strong>s e as discussões dirigiram-se para a<br />

ponderação <strong>da</strong> ótica qualitativa, contrapondo-se à postura técnico-metodológica <strong>da</strong> matriz<br />

objetivista e reprodutora de conhecimentos.<br />

A partir disso, as discussões <strong>sobre</strong> a avaliação, passaram a considerar a análise inter-<br />

relaciona<strong>da</strong> dos seus el<strong>em</strong>entos constituintes (conteúdo, forma e as relações que estabelece<br />

com a reali<strong>da</strong>de), que pod<strong>em</strong> ser ex<strong>em</strong>plificados nas seis categorias construí<strong>da</strong>s por<br />

Vasconcelos (2003, p.39), as quais <strong>em</strong>ergiram de suas investigações <strong>sobre</strong> os discursos dos<br />

educadores e a observação <strong>da</strong> prática avaliativa:<br />

CLASSE CATEGORIAS<br />

<strong>Avaliação</strong> Intencionali<strong>da</strong>de (compromisso com aprendizag<strong>em</strong><br />

dos alunos)<br />

Forma<br />

Conteúdo<br />

Relações Prática Pe<strong>da</strong>gógica (construção de um novo vínculo<br />

pe<strong>da</strong>gógico).<br />

Quadro 2: Classes e categorias de análise <strong>da</strong> avaliação.<br />

Instituição<br />

Sist<strong>em</strong>a escolar<br />

Mediante o quadro percebe-se que as proposições expostas nos períodos de<br />

abrangência e evolução <strong>da</strong> avaliação a partir <strong>da</strong> segun<strong>da</strong> metade do século XX, se afunilaram<br />

<strong>em</strong> proposições que firmaram a necessi<strong>da</strong>de de criar uma nova ecologia avaliativa, tendo <strong>em</strong><br />

vista diferentes dimensões que precisam ser constant<strong>em</strong>ente analisa<strong>da</strong>s de forma inter-<br />

relaciona<strong>da</strong>s para que haja mu<strong>da</strong>nças efetivas no que se refere ao assunto avaliação.<br />

Entretanto, essa reali<strong>da</strong>de, ain<strong>da</strong>, não é presencia<strong>da</strong> nas escolas, pois as práticas<br />

avaliativas historicamente construí<strong>da</strong>s levaram os contextos de formação de professores e as<br />

18


instituições de Ensino Básico definir<strong>em</strong> dois paradigmas de avaliação (experimental - que<br />

priorizava a racionali<strong>da</strong>de instrumental nas avaliações; e o qualitativo - que valoriza as<br />

metodologias interpretativas e hermenêuticas, próprias <strong>da</strong>s ciências sociais para realizar o<br />

processo de avaliação), os quais cont<strong>em</strong>plam ações distintas para a apreciação do processo de<br />

ensino e <strong>da</strong> aprendizag<strong>em</strong>, os quais serão abor<strong>da</strong>dos no tópico a seguir.<br />

2.2.2 Os paradigmas <strong>da</strong> avaliação <strong>da</strong> aprendizag<strong>em</strong> no contexto escolar<br />

Por meio do estudo de Gómez (1985) encontra-se a discussão <strong>sobre</strong> a expressão dos<br />

dois paradigmas <strong>da</strong> avaliação <strong>da</strong> aprendizag<strong>em</strong> escolar: o experimental e o qualitativo,<br />

distinguidos conforme seus diferentes enfoques teóricos e práticas avaliativas. As<br />

características desses dois paradigmas <strong>da</strong> avaliação são revela<strong>da</strong>s no cotidiano <strong>da</strong>s <strong>aulas</strong> dos<br />

professores do Ensino Básico e no diálogo <strong>em</strong>preendido nos cursos de formação inicial e<br />

continua<strong>da</strong>, além de publicações, eventos e concursos realizados no âmbito <strong>da</strong> educação<br />

durante os últimos cinquenta anos.<br />

O primeiro paradigma descrito pelo autor é o experimental ou quantitativo. Foi<br />

constituído por diferentes modelos que compartilham pressupostos éticos, epist<strong>em</strong>ológicos e<br />

metodológicos, os quais fun<strong>da</strong>mentam as investigações e as práticas <strong>da</strong> avaliação no século<br />

XX. As peculiari<strong>da</strong>des desse enfoque avaliativo descritas por Gómez (1985) pod<strong>em</strong> ser<br />

sintetiza<strong>da</strong>s como segue:<br />

Quadro 3: Paradigma <strong>da</strong> avaliação experimental<br />

PARADIGMA DA AVALIAÇÃO EXPERIMENTAL<br />

Visão de ensino Educação como um processo tecnológico <strong>em</strong> que a avaliação quantitativa<br />

serve para comprovar o grau <strong>em</strong> que foram alcançados os objetivos<br />

previamente estabelecidos. Esse modelo conduz à ideia burocrática <strong>da</strong><br />

ativi<strong>da</strong>de avaliadora realiza<strong>da</strong> de maneira descontextualiza<strong>da</strong>, pressupõe<br />

que todos os alunos dev<strong>em</strong> apresentar ao mesmo t<strong>em</strong>po as aprendizagens<br />

adquiri<strong>da</strong>s, descarta os aspectos subjetivos revelados no processo de<br />

aprendizag<strong>em</strong> e não considera as diferenças individuais e contextuais dos<br />

alunos.<br />

Finali<strong>da</strong>de Buscar a objetivi<strong>da</strong>de no processo de avaliação para alcançar resultados<br />

confiáveis. Identificar a aprendizag<strong>em</strong> adquiri<strong>da</strong> conforme o que foi<br />

planejado no currículo, s<strong>em</strong> considerar as circunstâncias que pod<strong>em</strong><br />

influenciar a investigação <strong>da</strong>s aprendizagens.<br />

Enfoque <strong>da</strong> avaliação Análise <strong>da</strong> eficácia dos planejamentos de ensino, que dev<strong>em</strong> fornecer<br />

informações às pessoas que tomam as decisões <strong>sobre</strong> o ensino nos<br />

diferentes âmbitos. A repetência é considera<strong>da</strong> a melhor maneira de o<br />

aluno atingir os objetivos planejados para o programa de ensino.<br />

Apontamentos <strong>sobre</strong><br />

como avaliar<br />

Instrumentos de coleta de <strong>da</strong>dos que valorizam a verificação de hipóteses,<br />

análises <strong>em</strong>píricas que quantificam as observações realiza<strong>da</strong>s, pautandose<br />

<strong>em</strong> normas estatísticas para operacionalização <strong>da</strong>s variáveis. Valoriza os<br />

<strong>da</strong>dos fáceis de ser<strong>em</strong> observados e quantificados.<br />

19


Como visto <strong>em</strong> Dias Sobrinho (2003), o grande interesse pela avaliação surgiu no<br />

período pós-guerra, no fim dos anos 1940, nos Estados Unidos, com o aparecimento de novos<br />

currículos educacionais. Nesse contexto, as concepções a respeito <strong>da</strong>s práticas avaliativas<br />

foram domina<strong>da</strong>s pelo modelo fun<strong>da</strong>do por Ralph Tyler: o paradigma experimental ou<br />

quantitativo, que priorizava a racionali<strong>da</strong>de instrumental nas avaliações. As ideias desse<br />

paradigma se inspiraram nas noções progressistas <strong>da</strong> gestão científica, que, conforme Gómez<br />

(1985) buscavam a objetivi<strong>da</strong>de no processo de avaliação para alcançar resultados confiáveis<br />

por meio de instrumentos vali<strong>da</strong>dos por métodos cientificamente testados. Os <strong>da</strong>dos eram<br />

coletados com o intuito de verificar a confirmação ou não de hipóteses preestabeleci<strong>da</strong>s <strong>sobre</strong><br />

os produtos de aprendizag<strong>em</strong> e do ensino desenvolvido na escola.<br />

O estudo <strong>da</strong> pesquisadora portuguesa Margari<strong>da</strong> Fernandes (1998) confirma o que<br />

Gómez (1986) aponta <strong>sobre</strong> o papel do avaliador nesse paradigma de avaliação pauta-se,<br />

basicamente, na medi<strong>da</strong> do que foi produzido no processo de ensino de maneira similar à<br />

prática de um agricultor que busca a comprovação <strong>da</strong> eficácia de um novo fertilizante. Assim,<br />

a autora metaforiza a perspectiva de avaliação denomina<strong>da</strong> por Gómez (1985) como<br />

paradigma agrobotânico.<br />

Nessa concepção, a educação é compara<strong>da</strong> às ações realiza<strong>da</strong>s na agricultura, pois o<br />

agricultor (professor) deve plantar a s<strong>em</strong>ente predestina<strong>da</strong> a produzir o fruto <strong>em</strong> determina<strong>da</strong><br />

época (final do processo de ensino). Nessa direção, afirma-se a ideia de s<strong>em</strong>ear para depois<br />

colher o resultado (o fruto desejado) <strong>da</strong> aprendizag<strong>em</strong> dos alunos na época estabeleci<strong>da</strong> para a<br />

colheita. A crítica feita a essa compreensão aponta para o fato de pressupor que to<strong>da</strong> árvore<br />

(aluno) deve produzir seus frutos no mesmo t<strong>em</strong>po. Sabe-se que o processo de aprendizag<strong>em</strong><br />

não se manifesta dessa forma, pois os alunos apresentam t<strong>em</strong>pos de aprendizag<strong>em</strong> diferentes<br />

e, desse modo, eles d<strong>em</strong>onstram de maneira pouco presumi<strong>da</strong> aquilo que aprenderam.<br />

Pautando-se <strong>em</strong> Gómez (1985) e Fernandes (1998), isso ocorre porque a base desse<br />

paradigma pondera o interesse técnico, orientado para a medi<strong>da</strong>, predição e controle. A<br />

concepção curricular que lhe está subjacente é estática, uma vez que não questiona a<br />

relevância e significação dos <strong>da</strong>dos, n<strong>em</strong> os aspectos subjetivos revelados no processo de<br />

aprendizag<strong>em</strong> dos alunos, já que se limita a medir os resultados facilmente observáveis e<br />

quantificáveis para obter resultados imediatos.<br />

Concebe, portanto, a ideia <strong>da</strong> avaliação vista como ciência <strong>em</strong>pírico-analítica, que só<br />

aparece na fase terminal do processo de ensino. Orienta-se na perspectiva <strong>da</strong> produção de<br />

20


explicações causais <strong>sobre</strong> a (in)eficácia do currículo, principalmente a partir dos resultados de<br />

aprendizag<strong>em</strong> manifestados pelos alunos (FERNANDES, 1998).<br />

A prática avaliativa assume a função <strong>da</strong> análise <strong>da</strong> eficácia dos planejamentos<br />

escolares, fornecendo aos pais, coordenação, direção escolar e a qu<strong>em</strong> toma as decisões <strong>sobre</strong><br />

as propostas de educação nos âmbitos nacional, estadual, municipal ou mesmo institucional<br />

informações para melhorar as orientações dos programas de ensino e processos de avaliação.<br />

Geralmente, não são considerados os interesses <strong>da</strong>s pessoas que usufru<strong>em</strong> dessas propostas:<br />

estas são construí<strong>da</strong>s por especialistas que, muitas vezes, não conhec<strong>em</strong> as peculiari<strong>da</strong>des <strong>da</strong><br />

reali<strong>da</strong>de escolar. Por isso, conforme Gómez (1985) e Fernandes (1998) evidencia-se, nesse<br />

paradigma o modelo tecnológico conduzindo à ideia burocrática <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong>de avaliativa,<br />

realiza<strong>da</strong> de maneira descontextualiza<strong>da</strong> <strong>da</strong>s peculiari<strong>da</strong>des <strong>da</strong>s instituições de Ensino Básico.<br />

O paradigma experimental sugere diferentes modelos de avaliação, expostos por<br />

Gómez (1985) e nomeados de: avaliação por análise de sist<strong>em</strong>a, avaliação por objetivos<br />

comportamentais, avaliação para toma<strong>da</strong> de decisões e avaliação s<strong>em</strong> referência a objetivos,<br />

sintetiza<strong>da</strong>s no quadro a seguir:<br />

Quadro 4: Modelos de avaliação: paradigma experimental<br />

21


MODELOS DE AVALIAÇÃO: PARADIGMA EXPERIMENTAL<br />

Principais aspectos <strong>Avaliação</strong> por análise de sist<strong>em</strong>as <strong>Avaliação</strong> por objetivos<br />

comportamentais<br />

Principais autores Rivlin (1971) e Rossi, Fre<strong>em</strong>an e<br />

Wright (1979) são considerados os<br />

defensores desse enfoque tecnocrático<br />

<strong>da</strong> avaliação, que t<strong>em</strong> a<br />

sua expressão concreta no projeto<br />

denominado Follow Through.<br />

Visão de ensino Ensino como tecnologia, realizado<br />

por meio de ações instrumentais e<br />

padroniza<strong>da</strong>s.<br />

Finali<strong>da</strong>de Investigação do ensino correlacionando<br />

<strong>da</strong>dos <strong>sobre</strong> os comportamentos<br />

docentes, discentes e os<br />

resultados gerais do programa,<br />

medidos por meio de provas<br />

objetivas.<br />

<strong>Avaliação</strong> <strong>da</strong> informação<br />

para toma<strong>da</strong> de decisões<br />

<strong>Avaliação</strong> s<strong>em</strong> referência a<br />

objetivos<br />

Gagné (1968), Bloom (1972). Stuffelbeam (1971). Scriven (1967) se posiciona a<br />

favor <strong>da</strong>s concepções do paradigma<br />

experimental e, ao mesmo<br />

t<strong>em</strong>po, aponta proposições que<br />

se aproximam <strong>da</strong> avaliação na<br />

perspectiva qualitativa.<br />

Ensino como tecnologia,<br />

realizado por meio de ações<br />

instrumentais que buscam a<br />

otimização dos resultados<br />

de aprendizag<strong>em</strong><br />

preestabelecidos por<br />

instâncias externas.<br />

Medição de<br />

comportamentos<br />

observáveis. Definições operacionais<br />

precisas dos<br />

objetivos do ensino para<br />

uma avaliação mais objetiva<br />

<strong>da</strong> aprendizag<strong>em</strong> e <strong>da</strong>s<br />

dificul<strong>da</strong>des do aluno.<br />

Informar os professores e os<br />

responsáveis pela<br />

construção dos currículos<br />

<strong>sobre</strong> os efeitos do ensino.<br />

22<br />

Ensino como tecnologia. Ensino como tecnologia, porém<br />

os objetivos do ensino não são<br />

imutáveis.<br />

Fornecer informações para os<br />

elaboradores de currículo<br />

julgar<strong>em</strong> decisões pré-ativa,<br />

caracteriza<strong>da</strong> pelo momento<br />

<strong>da</strong> construção dos<br />

planejamentos de ensino e<br />

<strong>aulas</strong>; interativas como<br />

ensinam os conteúdos<br />

selecionados; pós-ativa,<br />

retoma<strong>da</strong> do que ocorreu no<br />

ensino.<br />

Análise do processo de ensino a<br />

fim de intervir para o seu<br />

aperfeiçoamento (avaliação<br />

formativa). Estudo dos<br />

resultados, não apenas os<br />

previstos nos objetivos, mas<br />

também os imprevistos<br />

(avaliação somativa).


Principais aspectos<br />

<strong>Avaliação</strong> por análise de sist<strong>em</strong>as <strong>Avaliação</strong> por objetivos<br />

comportamentais<br />

Enfoque <strong>da</strong> avaliação Visão funcionalista que objetiva a<br />

eficácia <strong>da</strong> coleta de <strong>da</strong>dos e a<br />

análise dos resultados de aprendizagens<br />

preestabelecidos como<br />

ideais<br />

Como avaliar Por meio de instrumentos para<br />

medições de resultados<br />

procedentes dos programas<br />

propostos por autori<strong>da</strong>des<br />

institucionais ou governamentais.<br />

Professor deve ter critérios<br />

predefinidos e formas claras<br />

para avaliar a aprendizag<strong>em</strong><br />

dos alunos.<br />

Uso de técnicas de avaliação<br />

propostas por meio de<br />

testes de rendimento e<br />

instrumentos de medi<strong>da</strong><br />

aplicados antes e depois dos<br />

programas de ensino.<br />

<strong>Avaliação</strong> <strong>da</strong> informação<br />

para toma<strong>da</strong> de decisões<br />

Obter informações para os<br />

especialistas na construção<br />

dos currículos escolares, a fim<br />

de ter<strong>em</strong> indicadores para<br />

julgar os resultados atingidos<br />

no processo de ensino.<br />

Fun<strong>da</strong>menta-se no modelo<br />

C.I.P.P: Context (definição de<br />

objetivos desenvolvidos no<br />

programa de ensino), Input<br />

(estratégias para desenvolver<br />

os objetivos de ensino),<br />

Process (informar e aju<strong>da</strong>r<br />

especialistas na toma<strong>da</strong> de<br />

decisões <strong>sobre</strong> os programas<br />

de ensino), Product (propicia<br />

informações a partir de<br />

medições, comparações com<br />

padrões para julgar os<br />

resultados).<br />

<strong>Avaliação</strong> s<strong>em</strong> referência a<br />

objetivos<br />

23<br />

<strong>Avaliação</strong> a serviço de todos os<br />

atores que compõ<strong>em</strong> o contexto<br />

escolar, especialmente o aluno e<br />

o professor. Os efeitos<br />

secundários de um programa são<br />

importantes e dev<strong>em</strong> ser<br />

avaliados.<br />

Não se avaliam intenções, mas<br />

consecuções (resultados).<br />

Comparação dos resultados dos<br />

alunos com os objetivos previamente<br />

determinados na programação<br />

do ensino, evitando que o<br />

avaliador se fixe apenas nos<br />

resultados previstos.


Principais aspectos <strong>Avaliação</strong> por análise de sist<strong>em</strong>as <strong>Avaliação</strong> por objetivos<br />

comportamentais<br />

O quê se critica Trabalha no sentido de inserir<br />

novamente o discente no sist<strong>em</strong>a<br />

(reprovação).<br />

Preocupação central com a<br />

verificação do produto de<br />

aprendizag<strong>em</strong> que os alunos<br />

deveriam apresentar: qu<strong>em</strong><br />

não consegue atingi-lo é<br />

reprovado.<br />

<strong>Avaliação</strong> <strong>da</strong> informação<br />

para toma<strong>da</strong> de decisões<br />

Não considera as influências<br />

<strong>da</strong> vi<strong>da</strong> cultural e social dos<br />

alunos. Visa somente a<br />

avaliação do programa de<br />

ensino, não coloca o aluno,<br />

também, como agente no<br />

processo de avaliação.<br />

<strong>Avaliação</strong> s<strong>em</strong> referência a<br />

objetivos<br />

24<br />

Foco nos resultados: avaliação<br />

centra<strong>da</strong> fun<strong>da</strong>mentalmente<br />

numa lógica tecnicista.


Mediante o quadro exposto é possível destacar alguns aspectos que o paradigma<br />

experimental atribui ao processo de avaliação <strong>da</strong> aprendizag<strong>em</strong> escolar, os quais até hoje são<br />

praticados nos contextos escolares.<br />

Nota-se na abor<strong>da</strong>g<strong>em</strong> de avaliação por análise de sist<strong>em</strong>as que as suas características<br />

pod<strong>em</strong> ser sintetiza<strong>da</strong>s com a determinação: (a) <strong>da</strong> eficácia <strong>da</strong> apreciação dos resultados<br />

medidos a partir <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des planeja<strong>da</strong>s e os resultados alcançados; e (b) a possibili<strong>da</strong>de de<br />

relacionar os resultados obtidos e os recursos utilizados. Como tal, enfatiza uma avaliação por<br />

processos, isto é, ativi<strong>da</strong>des que receberam inputs e os convert<strong>em</strong> <strong>em</strong> outputs, acrescentando<br />

valor para a manifestação de aprendizagens dos participantes.<br />

Percebe-se que o ponto negativo dessa abor<strong>da</strong>g<strong>em</strong> é a sua configuração ser pauta<strong>da</strong> na<br />

concepção de ensino fechado que determina tudo o que deve ser produzido no final do<br />

processo de aprendizag<strong>em</strong>. Estabelece analogia com a ideia de sist<strong>em</strong>a cíclico de currículo<br />

que concebe o ensino como um sist<strong>em</strong>a <strong>em</strong> que busca no final do processo reproduzir aquilo<br />

que foi predeterminado e caso o aluno não consiga alcançar tais objetivos ele deve ser<br />

colocado para reprocessar o sist<strong>em</strong>a novamente, enaltecendo a clássica ideia <strong>da</strong> repetência na<br />

escola.<br />

Assim, critica-se o efeito desse modelo de avaliação na melhora do processo de<br />

aprendizag<strong>em</strong> do aluno, pois corrobora a visão classificatória que aprova ou reprova os alunos<br />

com base na apreciação dos resultados, somente, no final do processo.<br />

Encontra-se na pesquisa de Crahay (2007) a discussão <strong>sobre</strong> as consequências<br />

negativas dessa visão de ensino e avaliação no processo de aprendizag<strong>em</strong>. Segundo o autor, a<br />

repetência não aju<strong>da</strong> os alunos <strong>em</strong> dificul<strong>da</strong>de a superar aquilo que atrapalha seu<br />

desenvolvimento, uma vez que ela não traz nenhuma solução para o probl<strong>em</strong>a <strong>da</strong> gestão <strong>da</strong>s<br />

dificul<strong>da</strong>des apresenta<strong>da</strong>s. O interessante na revisão sist<strong>em</strong>ática apresenta<strong>da</strong> pelo autor foi o<br />

resultado encontrado <strong>em</strong> inúmeras pesquisas que assinalam os efeitos <strong>da</strong> repetência,<br />

mostrando que <strong>em</strong> geral os alunos fracos que recomeçam a mesma série progrid<strong>em</strong> menos que<br />

os alunos que são promovidos. Desse modo, a repetência não é considera<strong>da</strong> a melhor saí<strong>da</strong><br />

para os probl<strong>em</strong>as de aprendizag<strong>em</strong>. A pesquisa do autor também apontou a necessi<strong>da</strong>de de<br />

mais estudos que indiqu<strong>em</strong> medi<strong>da</strong>s pe<strong>da</strong>gógicas para aju<strong>da</strong>r o professor a agir de modo<br />

adequado mediante as dificul<strong>da</strong>des dos alunos no cotidiano <strong>da</strong>s <strong>aulas</strong>.<br />

Diante <strong>da</strong>s consequências expostas, posiciona-se contra vários pressupostos <strong>da</strong><br />

abor<strong>da</strong>g<strong>em</strong> de avaliação por análise de sist<strong>em</strong>as, já que as características de priorizar a<br />

normatizatização e padronização do sist<strong>em</strong>a de ensino e avaliação gera o enaltecimento <strong>da</strong>s<br />

desigual<strong>da</strong>des entre os alunos <strong>em</strong> decorrência <strong>da</strong> seleção e dos processos rígidos que ela<br />

24


envolve, o que resulta na reprovação <strong>da</strong>queles que não consegu<strong>em</strong> atingir os padrões exigidos<br />

no programa de ensino.<br />

A respeito do modelo de avaliação por objetivos comportamentais, ain<strong>da</strong> que se<br />

reconheçam as vantagens provin<strong>da</strong>s <strong>da</strong>s características <strong>da</strong> pe<strong>da</strong>gogia por objetivos, <strong>em</strong> que se<br />

percebe um aspecto importante que enaltece a necessi<strong>da</strong>de de o professor planejar o começo,<br />

o meio e o fim do que objetiva ensinar. Uma vez que, com a formulação dos objetivos de<br />

ensino não se corre o risco de ensinar de maneira indefini<strong>da</strong> e, portanto, não saber o que deve<br />

ser avaliado.<br />

Por outro lado, há nesse modelo aspectos negativos, especialmente, o fato de defender<br />

o treinamento de comportamentos considerados ideais, o que causa a segregação de certos<br />

grupos de alunos, por se pautar <strong>em</strong> parâmetros predefinidos que classificam os discentes <strong>em</strong><br />

diferentes escalas de aproveitamento, prejudicando os sentimentos de autoestima e a<br />

motivação de qu<strong>em</strong> não consegue atingir tais parâmetros.<br />

A base teórica desse modelo de avaliação são os estudos comportamentalistas de<br />

Skinner, que determinam possibili<strong>da</strong>des de intervenções docentes seguindo o estilo de linha<br />

de produção industrial <strong>em</strong> massa. Esses pressupostos <strong>sobre</strong> a avaliação comportamentalista<br />

pod<strong>em</strong> ser associados à ideia do currículo linear, perene, tradicional, que é passível de críticas<br />

porque entende o conhecimento como imutável, devendo ser ensinado de maneira<br />

descontextualiza<strong>da</strong> <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de e complexi<strong>da</strong>de escolar. A respeito <strong>da</strong> avaliação, a<br />

característica mais marcante é ser manti<strong>da</strong> a preocupação central com a verificação do<br />

produto de aprendizag<strong>em</strong> que os alunos dev<strong>em</strong> apresentar; qu<strong>em</strong> não consegue atingi-lo é<br />

reprovado.<br />

Outro ponto negativo nessa abor<strong>da</strong>g<strong>em</strong> de avaliação é que o professor, por sua vez,<br />

assume o papel de executor do planejamento, descarta a importância <strong>da</strong> participação dos<br />

alunos no processo de avaliação, além disso, não se preocupa <strong>em</strong> propiciar momentos para os<br />

discentes refletir<strong>em</strong> <strong>sobre</strong> o que aprenderam no decorrer do ensino.<br />

Com relação ao modelo de avaliação chamado de informação para a toma<strong>da</strong> de<br />

decisões, também situado no paradigma experimental, Gómez (1985), expõe que os resultados<br />

avaliativos são angariados por especialistas externos, que visam examinar os efeitos do<br />

programa de ensino para julgar os indicadores revelados e tomar as melhores decisões na<br />

construção dos currículos educacionais.<br />

A quali<strong>da</strong>de dessa abor<strong>da</strong>g<strong>em</strong> de avaliação é o fato de não se centrar somente na<br />

análise do processo de aprendizag<strong>em</strong> do aluno, mas passa a considerar a apreciação de<br />

programas de ensino. Neste sentido, existe a pretensão de que no processo de avaliação se<br />

25


ealize uma comparação entre o programa existente com o programa proposto por<br />

especialistas do contexto educacional, no qual são definidos como critérios de um programa<br />

com quali<strong>da</strong>de, os seguintes aspectos: (a) identificação <strong>da</strong>s necessi<strong>da</strong>des e definição dos<br />

objetivos do programa; (b) <strong>da</strong> quali<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des, métodos e estratégias de ensino; (c)<br />

gestão do programa; (d) espaço/instalações; (e) elaboração de programas individuais e<br />

grupais; e (g) os instrumentos de avaliação do ensino e <strong>da</strong> aprendizag<strong>em</strong> dos alunos. Neste<br />

sentido, há uma delimitação objetiva do que se pretende avaliar, <strong>em</strong> que prioriza a apreciação<br />

do programa no seu todo, assim como os seus processos <strong>em</strong> separado.<br />

Porém, pautando-se <strong>em</strong> Gómez (1985), esse modelo não valoriza a participação do<br />

aluno atuando, junto ao docente, como agente avaliador do processo de ensino e<br />

aprendizag<strong>em</strong>. O autor critica também o fato dessa proposta caracterizar-se por apresentar<br />

certa neutrali<strong>da</strong>de nas considerações críticas a respeito <strong>da</strong>s relações políticas e econômicas<br />

que exerc<strong>em</strong> influência no contexto educacional, dessa maneira, acabam se apoiando na<br />

crença <strong>da</strong> boa intenção dos que determinam as orientações educativas no país, estado ou<br />

município.<br />

Apesar disso, interpreta-se que esse modelo de avaliação apresenta pontos<br />

interessantes para a escola, pois possibilita o fornecimento de informações <strong>sobre</strong> a quali<strong>da</strong>de<br />

do processo de ensino e aprendizag<strong>em</strong> oferecido pelas instituições de ensino público e<br />

privado. Nota-se que esse modelo avaliativo aproxima-se <strong>da</strong>s características <strong>da</strong> proposta de<br />

avaliação externa que ganhou centrali<strong>da</strong>de nas iniciativas de reforma educacional nos âmbitos<br />

estaduais, municipais e federais a partir de 1980 no contexto <strong>da</strong> Educação brasileira. Essa<br />

prática avaliativa visou o reconhecimento <strong>da</strong>s d<strong>em</strong>an<strong>da</strong>s sociais e a utilização desses<br />

resultados para a toma<strong>da</strong> de decisões <strong>sobre</strong> o que fazer para (que todos os ci<strong>da</strong>dãos brasileiros<br />

tivess<strong>em</strong>) uma educação de boa quali<strong>da</strong>de, tendo <strong>em</strong> vista, fun<strong>da</strong>mentalmente, a diminuição<br />

do fracasso e <strong>da</strong> evasão escolar (FERNANDES, 2005).<br />

A crítica <strong>sobre</strong> a proposta cont<strong>em</strong>porânea <strong>da</strong> avaliação externa vai ao encontro do<br />

probl<strong>em</strong>a, exposto anteriormente por Gómez (1985), dessas avaliações colaborar<strong>em</strong>,<br />

exclusivamente, para manter o controle <strong>da</strong>s políticas nacionais, estaduais e municipais<br />

referentes ao sist<strong>em</strong>a educacional, uma vez que os resultados são obtidos por meio de práticas<br />

avaliativas que d<strong>em</strong>onstram neutrali<strong>da</strong>de <strong>sobre</strong> as questões sociais, culturais e políticas que<br />

permeiam os contextos escolares. A verificação dos indicadores de avaliação não é usa<strong>da</strong><br />

efetivamente para a melhora <strong>da</strong> quali<strong>da</strong>de de ensino público e particular, mas sim, para<br />

classificar as escolas como as melhores e as piores no município, estado ou país. Isso v<strong>em</strong><br />

26


aumentando a configuração de ações volta<strong>da</strong>s à pe<strong>da</strong>gogia do exame, conforme denunciam os<br />

estudos de Luckesi (2005).<br />

Observa-se que a avaliação para a toma<strong>da</strong> de decisões, ou como é comumente<br />

chama<strong>da</strong> a avaliação externa, torna-se relevante para o contexto <strong>da</strong> educação brasileira se for<br />

considerado o processo ao qual estão sendo submeti<strong>da</strong>s as redes de ensino locais que têm<br />

manifestado uma pressão para que façam uma medição única no processo avaliativo dos<br />

alunos, quando, na ver<strong>da</strong>de, a quali<strong>da</strong>de de ensino é fruto de diversos fatores. A<br />

recomen<strong>da</strong>ção de vários especialistas <strong>sobre</strong> o assunto 12 é que ca<strong>da</strong> discente possa ser alvo de<br />

mais de uma medi<strong>da</strong>, preferencialmente que capt<strong>em</strong> áreas de desenvolvimento de<br />

aprendizagens diferentes. É preciso levar <strong>em</strong> conta, por ex<strong>em</strong>plo, o contexto socioeconômico<br />

e a cultura do estu<strong>da</strong>nte e a infraestrutura <strong>da</strong> própria escola que o atende. Nesse sentido,<br />

compreende-se que não é possível deduzir que há boa quali<strong>da</strong>de de ensino só porque o aluno<br />

t<strong>em</strong> boa nota <strong>em</strong> português e mat<strong>em</strong>ática. Tampouco é cabível pagar bônus a professores a<br />

partir do nível de des<strong>em</strong>penho obtido por seus alunos, aspectos que denunciam as<br />

incoerências que esse tipo de avaliação t<strong>em</strong> causado no contexto <strong>da</strong> Educação brasileira.<br />

O último modelo avaliativo do paradigma experimental é o denominado de avaliação<br />

s<strong>em</strong> referência a objetivos. Segundo Gómez (1985), ele se manifesta no meio do caminho dos<br />

dois paradigmas, experimental e qualitativo. Um detalhe que chama a atenção nesse modelo é<br />

que ele passa a considerar que os resultados de um programa de ensino dev<strong>em</strong> ser dirigidos<br />

aos consumidores dos programas de ensino (alunos, pais, professores), e não, apenas, atender<br />

às expectativas dos planejadores e especialistas que constro<strong>em</strong> os currículos escolares. Além<br />

disso, ao propor uma avaliação s<strong>em</strong> referência a objetivos, pretende evitar que o avaliador se<br />

fixe apenas nos resultados previstos, passando a considerar outros efeitos do ensino no<br />

processo de aprendizag<strong>em</strong> escolar.<br />

É, portanto uma abor<strong>da</strong>g<strong>em</strong> de avaliação que se aproxima de alguns aspectos do<br />

modelo curricular humanista, <strong>em</strong> que se reconhece a importância de trabalhar com o<br />

educando, pais e outros atores escolares para que possam compreender os resultados atingidos<br />

e assumir responsabili<strong>da</strong>des no processo de ensino e aprendizag<strong>em</strong>.<br />

Olhando para o todo, no que se refere às abor<strong>da</strong>gens do paradigma experimental, seus<br />

benefícios para o contexto educacional pod<strong>em</strong> ser reconhecidos a partir dos pressupostos que<br />

apontam sugestões que destacam a importância dos professores regular<strong>em</strong> as tarefas de<br />

ensino, planejar e controlar o trabalho pe<strong>da</strong>gógico, b<strong>em</strong> como destacam a compreensão <strong>da</strong><br />

12 (FERNANDES, 2005; FERNANDES, 2010; MOURA; 2010; SANTOS, 2011a; 2011b)<br />

27


avaliação formaliza<strong>da</strong> e sist<strong>em</strong>atiza<strong>da</strong> para informar aos diferentes atores escolares <strong>sobre</strong><br />

quais seriam os avanços e o ponto de ruptura entre o êxito e a apresentação <strong>da</strong> dificul<strong>da</strong>de do<br />

aluno, b<strong>em</strong> como mediante <strong>da</strong>dos concretos <strong>sobre</strong> o processo de ensino e aprendizag<strong>em</strong><br />

permite orientar a ação pe<strong>da</strong>gógica de maneira eficaz.<br />

Por outro lado, as desvantagens pod<strong>em</strong> ser situa<strong>da</strong>s nas proposições que não<br />

consideram a discussão <strong>da</strong> avaliação partilha<strong>da</strong> com os alunos e outros atores escolares.<br />

Prioriza-se o produto e não o processo de aprendizag<strong>em</strong>, não atenta à progressão dos alunos<br />

nas tarefas e não valoriza a compreensão <strong>da</strong>s dificul<strong>da</strong>des revela<strong>da</strong>s no momento <strong>em</strong> que<br />

ocorr<strong>em</strong>.<br />

Sendo assim, pondera-se que a ressignificação desses pontos se faz necessária para<br />

efetivação <strong>da</strong> integralização <strong>da</strong> avaliação ao processo de ensino e aprendizag<strong>em</strong> de maneira<br />

coerente na Educação Básica.<br />

Com relação ao paradigma qualitativo <strong>da</strong> avaliação, Gómez (1985) explica que o<br />

interesse a respeito desse enfoque se destacou somente no final <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> de 1970, quando<br />

surgiram as críticas <strong>sobre</strong> a incoerência <strong>da</strong> aplicação dos testes avaliativos que buscavam<br />

medir e quantificar os resultados <strong>da</strong> aprendizag<strong>em</strong> do aluno e <strong>da</strong> eficiência do ensino do<br />

professor, s<strong>em</strong>pre no final do processo de ensino e de maneira descontextualiza<strong>da</strong>.<br />

O autor aponta alguns aspectos que caracterizam e ressaltam a relevância do<br />

paradigma de avaliação qualitativo no contexto educacional, conforme o quadro a seguir:<br />

Quadro 5: Paradigma <strong>da</strong> avaliação qualitativa.<br />

PARADIGMA DA AVALIAÇÃO QUALITATIVA<br />

Visão de ensino Abor<strong>da</strong>g<strong>em</strong> humanista. Ensino centrado no aluno e <strong>em</strong> seu<br />

desenvolvimento autônomo. Complexi<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s situações educativas,<br />

impossibili<strong>da</strong>de de isolar variáveis e reduzir as interações a relações<br />

lineares de causa-efeito.<br />

Finali<strong>da</strong>de Não deve se restringir à análise de condutas manifesta<strong>da</strong>s <strong>em</strong>piricamente<br />

n<strong>em</strong> aos resultados pré definidos e obtidos no curto prazo, geralmente<br />

previstos no planejamento dos programas de ensino. De modo contrário a<br />

essa lógica, a avaliação qualitativa deve valorizar os efeitos secundários<br />

presentes ao longo do processo de ensino.<br />

Enfoque <strong>da</strong> avaliação Abor<strong>da</strong>g<strong>em</strong> qualitativa e holística que ilumine a totali<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s situações<br />

de ensino e aprendizag<strong>em</strong> analisa<strong>da</strong>s, de forma a torná-la compreensível<br />

para os atores sociais.<br />

Apontamentos <strong>sobre</strong><br />

como avaliar<br />

Conjunto de orientações para propiciar a apreciação de indicadores de<br />

diferentes naturezas que influenciam o processo de ensino e a<br />

manifestação <strong>da</strong> aprendizag<strong>em</strong> dos alunos.<br />

28


Gómez (1985) e Fernandes (1998) explicitam que nesse paradigma é deixa<strong>da</strong> de lado a<br />

preocupação com a objetivi<strong>da</strong>de excessiva no processo avaliativo, fixando-se nos resultados<br />

obtidos ao longo do processo de ensino. Adquire importância as variáveis de diferentes<br />

naturezas, como as intenções e expectativas dos sujeitos, assim como os significados que eles<br />

atribu<strong>em</strong> às suas ações.<br />

Sendo assim, destaca-se a importância do que Eisner (1978) 13 aclarou a respeito do<br />

currículo oculto, preconizando a necessi<strong>da</strong>de de se considerar os aspectos subjetivos do<br />

ambiente escolar que, s<strong>em</strong> fazer parte do currículo oficial, explícito, contribu<strong>em</strong> para o<br />

processo de aprendizag<strong>em</strong> dos alunos. Desse modo, entende-se que o currículo oculto é um<br />

campo de observação <strong>da</strong> aprendizag<strong>em</strong> valorizado no paradigma <strong>da</strong> avaliação qualitativa, o<br />

qual requer um olhar ampliado para identificar e compreender as múltiplas possibili<strong>da</strong>des de<br />

manifestação de aprendizag<strong>em</strong> e dificul<strong>da</strong>de no processo de ensino dos alunos, por meio de<br />

vários instrumentos que dev<strong>em</strong> estar adequados para fornecer ao educador e aluno o indício<br />

<strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de, do que de fato foi aprendido ou não (GÓMEZ, 1985).<br />

Desse modo, uma pr<strong>em</strong>issa enfatiza<strong>da</strong> nesse paradigma é diversificação dos<br />

instrumentos de avaliação, o professor deve buscar identificar diferentes indicadores que<br />

propici<strong>em</strong> a compreensão do todo que compõe o processo de ensino, levando <strong>em</strong> conta a<br />

história de vi<strong>da</strong> dos alunos. Esses aspectos possibilitam compreender os resultados de<br />

aprendizag<strong>em</strong> e as dificul<strong>da</strong>des dos alunos, além de proporcionar<strong>em</strong> informações para a<br />

reformulação <strong>da</strong> ação didática do professor (GÓMEZ, 1985; FERNANDES, 1998).<br />

Nesse sentido, compreende-se que a avaliação qualitativa requer uma metodologia<br />

sensível às diferenças, aos acontecimentos previstos e imprevistos, às manifestações<br />

observáveis e latentes <strong>sobre</strong> os progressos e dificul<strong>da</strong>des. Necessita, portanto, de instrumentos<br />

que possibilit<strong>em</strong> a prática <strong>da</strong> observação aberta e flexível e que possam ser usados, não<br />

dispensando a viabili<strong>da</strong>de e a pratici<strong>da</strong>de dos mesmos no cotidiano <strong>da</strong>s <strong>aulas</strong>.<br />

Em outras palavras, o paradigma <strong>da</strong> avaliação qualitativa caracteriza-se por:<br />

[...] sua complexi<strong>da</strong>de, tendo <strong>em</strong> vista o caráter relativo, intencional e valorativo<br />

(LIMA, 1994, p. 71). A avaliação qualitativa t<strong>em</strong> por base determinar o valor do<br />

ser, e não dizer seu peso. O professor, nesse tipo de avaliação, deve aju<strong>da</strong>r o aluno<br />

no processo de aprendizag<strong>em</strong>, num contexto propriamente personalista. [...] Nessa<br />

perspectiva, a avaliação t<strong>em</strong> como preocupação principal a apreensão <strong>da</strong>s<br />

habili<strong>da</strong>des e competências dos alunos, adquiri<strong>da</strong>s e <strong>em</strong> desenvolvimento. (MELO,<br />

2008, p. 10-11)<br />

Partindo dessas colocações, nota-se que um dos pontos mais pro<strong>em</strong>inentes do<br />

paradigma qualitativo é o fato de conferir importância à ativi<strong>da</strong>de do sujeito que aprende e do<br />

13 Eisner, E. W. The educational imagination. New York: Macmillan, 1978.<br />

29


sujeito que ensina no contexto escolar, vistos como focos do processo avaliativo. Gómez<br />

(1985) eluci<strong>da</strong> que diferentes modelos de avaliação também <strong>em</strong>ergiram a partir desse<br />

paradigma, como, por ex<strong>em</strong>plo, a avaliação basea<strong>da</strong> na crítica artística e os modelos de<br />

avaliação baseados na negociação – avaliação iluminativa, estudo de caso ou avaliação<br />

respondente e avaliação d<strong>em</strong>ocrática, como estão expostos a seguir.<br />

Quadro 6: Modelos de avaliação: paradigma qualitativo.<br />

30


MODELOS DE AVALIAÇÃO: PARADIGMA QUALITATIVO<br />

Principais aspectos <strong>Avaliação</strong> crítica artística <strong>Avaliação</strong> iluminativa <strong>Avaliação</strong> por estudo de caso<br />

= avaliação respondente<br />

<strong>Avaliação</strong> por estudo de caso<br />

= avaliação d<strong>em</strong>ocrática<br />

Principais autores Elliot Eisner (1978). Parlett e Hamilton (1972). Stake (1975). Stenhouse (1975).<br />

Visão de ensino A educação é arte e o professor é<br />

um artista que precisa, acima de<br />

tudo, compreender os signos do<br />

mundo <strong>da</strong> educação, apropriandose<br />

tanto dos aspectos cognitivos<br />

como dos sensíveis.<br />

Finali<strong>da</strong>de Auxiliar os atores escolares a<br />

ampliar sua percepção,<br />

compreendendo os aspectos que<br />

evidenciam a quali<strong>da</strong>de ou as<br />

dificul<strong>da</strong>des <strong>da</strong> prática educativa,<br />

assim como as suas<br />

consequências no processo de<br />

aprendizag<strong>em</strong> dos alunos.<br />

Enfoque <strong>da</strong> avaliação <strong>Avaliação</strong> processual e qualitativa<br />

dos indicadores que ancoram as<br />

singulari<strong>da</strong>des dos comportamentos<br />

<strong>da</strong>s pessoas e o cotidiano <strong>da</strong>s<br />

<strong>aulas</strong>.<br />

Processo dinâmico cujos<br />

significados e quali<strong>da</strong>des<br />

mu<strong>da</strong>m continuamente,<br />

são idiossincráticos e difícilmente<br />

previsíveis.<br />

Compreender os efeitos de<br />

inovações educacionais: a<br />

reali<strong>da</strong>de complexa do programa<br />

estu<strong>da</strong>do, como este<br />

opera, quais as suas vantagens<br />

e desvantagens, como<br />

é influenciado pelas várias<br />

situações do local e <strong>da</strong><br />

instituição onde é<br />

realizado, qual a sua<br />

influência nos estu<strong>da</strong>ntes<br />

etc.<br />

Compreensão <strong>da</strong> conexão<br />

entre as influências do<br />

projeto educacional, as<br />

aprendizagens dos alunos e<br />

a proposta educacional.<br />

Processo de comunicação contínua<br />

entre professor, aluno e<br />

as pessoas que faz<strong>em</strong> parte <strong>da</strong><br />

comuni<strong>da</strong>de escolar.<br />

Oferecer respostas às<br />

questões que permeiam as<br />

angústias e probl<strong>em</strong>as dos<br />

diferentes atores escolares<br />

(alunos, pais, co-ordenadores<br />

pe<strong>da</strong>gógicos etc.).<br />

Leva-se <strong>em</strong> consideração a<br />

opinião do aluno <strong>sobre</strong> o que<br />

é possível fazer para melhorar<br />

o proc. aprendizag<strong>em</strong>.<br />

31<br />

Crítica às duas concepções<br />

heg<strong>em</strong>ônicas de currículo nas<br />

déca<strong>da</strong>s de 1960 e 1970:<br />

currículo como prescrição e<br />

currículo como experiência.<br />

Facilitar e promover mu<strong>da</strong>nças<br />

que ajud<strong>em</strong> a aperfeiçoar a<br />

avaliação subjetiva dos alunos e<br />

do ensino do professor,<br />

tornando-os mais conscientes<br />

<strong>sobre</strong> como serão avaliados<br />

determinados conteúdos.<br />

Processo construído junto ao<br />

aluno; resultados tornados públicos,<br />

ou seja, conhecidos por<br />

todos os atores escolares.


Principais aspectos <strong>Avaliação</strong> crítica artística <strong>Avaliação</strong> iluminativa <strong>Avaliação</strong> por estudo de caso<br />

- avaliação respondente<br />

Como avaliar Análise descritiva para avaliar o<br />

que é literário, metafórico,<br />

poético nas situações<br />

investiga<strong>da</strong>s.<br />

Análise interpretativa, buscando<br />

os significados que confrontam as<br />

teorias com a prática e inferindo<br />

juízos de valor que se refer<strong>em</strong> aos<br />

critérios definidos nas situações<br />

educativas particulares.<br />

Papel do professor/avaliador Utilizar a intuição, compreensão e<br />

<strong>em</strong>patia para inserir-se nos<br />

acontecimentos do processo de<br />

ensino e aprendizag<strong>em</strong> escolar.<br />

Críticas Os <strong>da</strong>dos não possu<strong>em</strong> precisão<br />

suficiente.<br />

Observar, in<strong>da</strong>gar e tentar<br />

explicar os processos.<br />

A avaliação deve acontecer<br />

<strong>em</strong> situações naturais ou<br />

de campo, por meio de<br />

diferentes instrumentos<br />

para a coleta de <strong>da</strong>dos: a<br />

observação, a entrevista e<br />

a análise documental.<br />

Organizar as opiniões,<br />

recolher <strong>da</strong>dos, sugestões<br />

para promover mu<strong>da</strong>nças.<br />

Negociar a sua função com<br />

os participantes do programa<br />

de ensino, tendo <strong>em</strong><br />

vista a conquista <strong>da</strong> confiança<br />

do grupo.<br />

Os <strong>da</strong>dos não possu<strong>em</strong><br />

precisão suficiente.<br />

Observar e compreender os<br />

resultados. Buscar soluções<br />

para os probl<strong>em</strong>as, considerando<br />

as diferentes opiniões e<br />

sugestões dos envolvidos no<br />

processo de ensino investigado.<br />

Utilizar uma varie<strong>da</strong>de<br />

de métodos, incluindo os subjetivos.<br />

Relacionar os antecedentes<br />

e as operações com os<br />

resultados.<br />

Manter comunicação contínua<br />

entre avaliador e avaliado.<br />

Não apresentar conclusões<br />

s<strong>em</strong> antes comparar, analisar<br />

e refletir <strong>sobre</strong> os juízos de<br />

valor <strong>da</strong>s pessoas envolvi<strong>da</strong>s<br />

no processo avaliativo<br />

Os <strong>da</strong>dos não possu<strong>em</strong><br />

precisão suficiente. Confiança<br />

excessiva na capaci<strong>da</strong>de dos<br />

alunos para analisar aspectos<br />

do contexto de ensino.<br />

<strong>Avaliação</strong> por estudo de caso<br />

= avaliação d<strong>em</strong>ocrática<br />

32<br />

Vários instrumentos, como as<br />

entrevistas e os debates, para<br />

angariar opiniões e sugestões<br />

dos participantes <strong>sobre</strong> o<br />

processo de ensino,<br />

aprendizag<strong>em</strong> e avaliação.<br />

Não impor as suas opiniões e<br />

concepções. Submergir no curso<br />

vivo e real dos acontecimentos e<br />

conhecer as diversas interpretações<br />

dos indivíduos que viv<strong>em</strong><br />

esses mesmos acontecimentos.<br />

Apresenta sugestões<br />

considera<strong>da</strong>s abstratas e com<br />

insuficiente clareza para orientar<br />

o professor melhorar a prática<br />

avaliativa.


Nota-se que a abor<strong>da</strong>g<strong>em</strong> de avaliação basea<strong>da</strong> na crítica artística destaca a<br />

necessi<strong>da</strong>de de o professor aguçar o olhar crítico, que deve ir além do simples “gostei” ou<br />

“não gostei”. O fato de recorrer a esse olhar apreciativo leva à realização de análises<br />

decodificando os diferentes códigos, como por ex<strong>em</strong>plo, os indícios de aprendizag<strong>em</strong> e<br />

dificul<strong>da</strong>des manifesta<strong>da</strong>s pelos alunos no decorrer do processo de ensino. Considera-se essa a<br />

quali<strong>da</strong>de dessa proposta, pois o el<strong>em</strong>ento ao qual dá maior atenção é a investigação e a<br />

reflexão <strong>sobre</strong> esses sinais que permit<strong>em</strong> compreender os caminhos <strong>da</strong> aprendizag<strong>em</strong> dos<br />

alunos.<br />

Entretanto, a crítica a esse modelo de avaliação se incide na apresentação de<br />

discussões insuficientes para definir os instrumentos e os critérios de julgamento <strong>da</strong> quali<strong>da</strong>de<br />

<strong>da</strong>s aprendizagens e dificul<strong>da</strong>des dos alunos, ou seja, como avaliar.<br />

A avaliação iluminativa situa-se numa concepção mais holística do processo de ensino<br />

e aprendizag<strong>em</strong>. Pautando-se <strong>em</strong> Souza (2005), esse modelo de avaliação também se baseia<br />

no paradigma socioantropológico, com foco muito mais na descrição, interpretação e<br />

compreensão de um processo educativo do que na medi<strong>da</strong> e previsão de comportamentos pré-<br />

estabelecidos.<br />

Desse modo, o aspecto considerado significativo nesse modelo é o entendimento <strong>sobre</strong><br />

a avaliação englobar todos os envolvidos no processo educacional, analisando com detalhes<br />

ca<strong>da</strong> caso investigado. A avaliação iluminativa valoriza o esforço integrado de investigação<br />

<strong>em</strong> que ca<strong>da</strong> el<strong>em</strong>ento analisado contribui para a compreensão do todo avaliado.<br />

Entende-se que esses pressupostos poderiam caracterizar um caminho interessante<br />

para ser tomado pela avaliação institucional no contexto <strong>da</strong> Educação brasileira, situando-se<br />

na estruturação de um sist<strong>em</strong>a <strong>em</strong> que os resultados sejam compreensíveis aos diversos atores<br />

escolares e que possa solucionar os probl<strong>em</strong>as encontrados no processo de ensino e<br />

aprendizag<strong>em</strong>, que pode ocorrer com a possibili<strong>da</strong>de de tornar um julgamento de valor<br />

quantificável, como por ex<strong>em</strong>plo, os resultados <strong>da</strong>s avaliações educacionais, para cumprir não<br />

só com o papel métrico e de divulgação dos resultados, mas também exercer a função<br />

analítica e pe<strong>da</strong>gógica desses <strong>da</strong>dos, abarcando apreciações mais qualitativas a partir deles.<br />

Pode-se ex<strong>em</strong>plificar nas práticas analíticas ações que subsidi<strong>em</strong> o processo de<br />

informação para os pesquisadores <strong>em</strong> Educação, b<strong>em</strong> como para os atores que compõe os<br />

contextos escolares, tendo <strong>em</strong> vista a investigação do impacto dos insumos educacionais<br />

(contexto social, familiar e as práticas pe<strong>da</strong>gógicas e de gestão escolar), no processo <strong>da</strong><br />

aprendizag<strong>em</strong> discente.<br />

31


Já a função pe<strong>da</strong>gógica do sist<strong>em</strong>a no modelo de avaliação iluminativa pode ser<br />

caracteriza<strong>da</strong> com o uso dos resultados para a melhora de aspectos do sist<strong>em</strong>a de ensino,<br />

como por ex<strong>em</strong>plo, partir <strong>da</strong> análise dos resultados para promover cursos de formação<br />

continua<strong>da</strong> para professores adequados às características dos probl<strong>em</strong>as e contexto escolar<br />

que estão inseridos. B<strong>em</strong> como, os resultados poderiam ser usados para propiciar processos de<br />

reflexão nos atores que compõ<strong>em</strong> a escola acerca do processo de ensino, aprendizag<strong>em</strong> e<br />

avaliação, ressignificando percepções pessoais à luz <strong>da</strong> produção de conhecimentos pertinente<br />

a esses t<strong>em</strong>as.<br />

O modelo de avaliação denominado de respondente é assim chamado porque pretende<br />

encontrar possibili<strong>da</strong>des de resposta às questões que permeiam as angústias e probl<strong>em</strong>as dos<br />

diferentes atores escolares. Portanto, é uma derivação <strong>da</strong> avaliação iluminativa, mas avança<br />

<strong>em</strong> suas proposições porque aponta possibili<strong>da</strong>des de aplicação na escola.<br />

Segundo Gómez (1985), esse modelo de avaliação caracteriza-se pela proposição de<br />

audiências ou reuniões <strong>em</strong> que as soluções para os probl<strong>em</strong>as identificados naquele contexto<br />

são construí<strong>da</strong>s de maneira coletiva. É, portanto, um modelo que não é preestabelecido.<br />

Concede grande importância à observação, à compreensão dos resultados e à busca de<br />

soluções construí<strong>da</strong>s coletivamente, para os probl<strong>em</strong>as identificados no interior escolar.<br />

Em relação à avaliação d<strong>em</strong>ocrática, entende-se que é um modelo que implica a<br />

adoção de uma pe<strong>da</strong>gogia diferencia<strong>da</strong> que assegure a possibili<strong>da</strong>de do aluno ser reconhecido<br />

pelo grupo independent<strong>em</strong>ente de suas competências escolares e de seu nível cultural. Com<br />

forte ênfase nos aspectos qualitativos <strong>da</strong> aprendizag<strong>em</strong>, o papel desse tipo de avaliação é o de<br />

contribuir para esboçar um plano de atuação pe<strong>da</strong>gógica que seja adequado e contextualizado<br />

<strong>em</strong> termos <strong>da</strong>s características do grupo e <strong>da</strong> instituição escolar <strong>em</strong> que está inserido (GÓMEZ,<br />

1985).<br />

Segundo Fernandes (1998, p. 25), a coleta dos <strong>da</strong>dos na avaliação d<strong>em</strong>ocrática deve<br />

ser “extensiva, abrangendo as opiniões e interpretações dos participantes livr<strong>em</strong>ente<br />

expressas, assim como os processos e contextos <strong>em</strong> que o currículo se desenvolve”.<br />

Nota-se que a avaliação nesse modelo é vista como uma ativi<strong>da</strong>de de análise e<br />

valoração <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de percebi<strong>da</strong>. A sua proposta avaliativa opera como facilitadora <strong>da</strong><br />

mu<strong>da</strong>nça do processo de ensino e aprendizag<strong>em</strong> escolar. Porém, considera-se váli<strong>da</strong> a crítica<br />

feita pela autora supracita<strong>da</strong> quando aponta que esse tipo de avaliação pode apresentar<br />

“vulnerabili<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s percepções, o excesso de <strong>da</strong>dos, a dificul<strong>da</strong>de no tratamento e análise<br />

<strong>da</strong>s informações, inadequação de perspectivas e expectativas, dificul<strong>da</strong>de na definição de<br />

papéis” (ibid<strong>em</strong>).<br />

32


Nessa direção, o que se pondera mais significativo <strong>sobre</strong> tais críticas é o fato de<br />

apresentar propostas para a apreciação <strong>da</strong> aprendizag<strong>em</strong> considera<strong>da</strong>s abstratas e com<br />

insuficiente clareza para orientar o professor mu<strong>da</strong>r, efetivamente, sua prática pe<strong>da</strong>gógica<br />

acerca de como fazer para avaliar os aspectos subjetivos revelados no processo de<br />

aprendizag<strong>em</strong> dos seus alunos. Entende-se esse como um dos possíveis motivos que permit<strong>em</strong><br />

compreender porque o paradigma de avaliação qualitativo não está presente nas práticas<br />

avaliativas dos professores que atuam no Ensino Básico.<br />

Apesar <strong>da</strong>s críticas aos modelos de avaliação qualitativa, percebe-se que o avanço que<br />

as suas proposições causaram no contexto escolar foi o fato de ressaltar a necessi<strong>da</strong>de<br />

relacional de aspectos (quantitativos e qualitativos) que compõe os dois paradigmas, que<br />

contribu<strong>em</strong> para a melhora dos processos de reflexões <strong>sobre</strong> a mu<strong>da</strong>nça <strong>da</strong> prática avaliativa<br />

ponderando a incorporação <strong>da</strong> investigação <strong>sobre</strong> fenômenos de outras dimensões sociais,<br />

culturais e metodologias de distintas áreas de conhecimento para compor a ideia <strong>da</strong> ação<br />

avaliativa na escola de maneira mais coerente e eficaz.<br />

Assim não foram desconsiderados os métodos quantitativos nos processos avaliativos,<br />

uma vez que permit<strong>em</strong> o registro através dos resultados <strong>da</strong>s avaliações que assinalam os<br />

avanços e as dificul<strong>da</strong>des encontra<strong>da</strong>s pelos alunos que mu<strong>da</strong>m de escola, os efeitos do<br />

contexto social e <strong>da</strong>s características <strong>da</strong> instituição escolar que estão ou estavam inseridos.<br />

Revela <strong>da</strong>dos concretos que permit<strong>em</strong> identificar qu<strong>em</strong> aprendeu ou não os conhecimentos<br />

ensinados, como os <strong>da</strong>dos pod<strong>em</strong> contribuir com a construção de bons cursos de<br />

aperfeiçoamento de professores e atores que compõ<strong>em</strong> a escola.<br />

Em meados <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> de 1990 ocorreram progressos ain<strong>da</strong> mais significativos <strong>em</strong><br />

termos de avaliação <strong>da</strong> aprendizag<strong>em</strong> na perspectiva do paradigma qualitativo, pois se<br />

fortaleceu o investimento teórico e reflexivo dos estudos <strong>sobre</strong> o t<strong>em</strong>a, passando a enfatizar de<br />

maneira mais incisiva a avaliação com função de contribuir para o processo de aprendizag<strong>em</strong><br />

dos alunos e ensino do professor, entendendo-se que de outro modo sua prática ficaria s<strong>em</strong><br />

sentido (SACRISTÁN, 1998). Ao mesmo t<strong>em</strong>po, considerou-se que a avaliação não deveria<br />

ser pensa<strong>da</strong> de forma desconecta<strong>da</strong> do processo de ensino e aprendizag<strong>em</strong> e <strong>da</strong>s variáveis que<br />

nele interfer<strong>em</strong>; também foram efetiva<strong>da</strong>s as intenções educativas dirigi<strong>da</strong>s para o enfoque<br />

qualitativo, processual e formativo <strong>da</strong> avaliação <strong>da</strong> aprendizag<strong>em</strong> (MELO, 2008). Desse<br />

modo, o foco <strong>da</strong> avaliação passou a ser:<br />

[...] a investigação e a construção de um referente de avaliação capaz de<br />

compreender o aluno <strong>em</strong> sua singulari<strong>da</strong>de, ponderando as funções sociais <strong>da</strong><br />

avaliação escolar e suas repercussões no processo de ensino e aprendizag<strong>em</strong>.<br />

Confere destaque à “voz” do aluno, utilizando seus significados como meios de<br />

revisão do papel do avaliador. Minimiza a normalização <strong>da</strong> escola, optando pela<br />

33


criativi<strong>da</strong>de e autonomia no trabalho pe<strong>da</strong>gógico. Admite a heterogenei<strong>da</strong>de entre<br />

os alunos e a necessi<strong>da</strong>de de interpretação dos resultados de avaliação à luz <strong>da</strong>s<br />

características individuais, coletivas e do contexto <strong>em</strong> que os alunos estão inseridos.<br />

(ibid<strong>em</strong>, p. 12)<br />

Também se percebeu como aspecto positivo no paradigma qualitativo o<br />

reconhecimento <strong>da</strong> importância <strong>da</strong> avaliação pontando-a como necessária no programa de<br />

ensino, devendo ser um meio de promover o feedback, sendo contínua e pauta<strong>da</strong> <strong>em</strong> critérios<br />

realísticos que permitam o diagnóstico do alcance dos objetivos. Pondera-se como negativo a<br />

carência de proposições <strong>sobre</strong> como deveria ser desenvolvi<strong>da</strong> a prática <strong>da</strong> avaliação baseando-<br />

se nesse paradigma. Colocam-se outros probl<strong>em</strong>as de natureza metodológica de difícil<br />

resolução como a generalização, a vulnerabili<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s percepções, o excesso de <strong>da</strong>dos, a<br />

dificul<strong>da</strong>de de analisar o conteúdo avaliado.<br />

Mediante os dois paradigmas de avaliação, ao compará-los reflete-se também <strong>sobre</strong> a<br />

relação antagônica de viver numa socie<strong>da</strong>de onde <strong>em</strong>erge a necessi<strong>da</strong>de relacional<br />

d<strong>em</strong>ocrática no contexto escolar, na qual seus pressupostos situam-se no paradigma<br />

qualitativo, ao mesmo t<strong>em</strong>po, que se presencia outra perspectiva de gestão política,<br />

econômica e institucional que prioriza a relação antid<strong>em</strong>ocrática, foca<strong>da</strong> nas pr<strong>em</strong>issas do<br />

paradigma experimental. Desse modo, uma questão que se coloca é: existe equação que<br />

congregue as peculiari<strong>da</strong>des desses dois paradigmas no contexto educacional?<br />

Compreende-se que a resposta a essa pergunta vai ao encontro <strong>da</strong> necessi<strong>da</strong>de <strong>da</strong><br />

mu<strong>da</strong>nça paradigmática que implica ponderar não a substituição de um paradigma por outro,<br />

mas sim a relação, a compl<strong>em</strong>entari<strong>da</strong>de e o diálogo a partir <strong>da</strong>s concepções que os<br />

fun<strong>da</strong>mentam. Isso implica o reconhecimento do uso prático <strong>da</strong> avaliação, para além de uma<br />

utilização, apenas, instrumental, que pode ser interpreta<strong>da</strong> como uma tentativa de ressignificar<br />

o papel do professor e do aluno no processo de construção e avaliação do conhecimento<br />

escolar. Implica também a construção de estratégias orienta<strong>da</strong>s para atingir os objetivos de<br />

ensino, propiciando a interação e a socialização dos saberes e <strong>da</strong>s responsabili<strong>da</strong>des no<br />

processo de aprendizag<strong>em</strong>, além de considerar a intersubjetivi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> compreensão e o<br />

reconhecimento mútuo <strong>da</strong>s expectativas individuais e coletivas dos diferentes atores escolares.<br />

Em síntese, compreende-se que essas mu<strong>da</strong>nças só ocorrerão se houver a<br />

transformação pessoal do professor, dos outros atores escolares e <strong>da</strong> instituição que atua,<br />

tendo <strong>em</strong> vista a formação dos mesmos para propiciar a melhora de conhecimentos, a<br />

conscientização de suas responsabili<strong>da</strong>des, b<strong>em</strong> como o aumento <strong>da</strong> autonomia <strong>da</strong> escola.<br />

Nessa proposta vislumbra-se uma construção curricular perspectiva<strong>da</strong> como um processo<br />

ativo <strong>em</strong> que seja priorizado o planejamento, a ação e a reflexão <strong>sobre</strong> o processo de ensino,<br />

34


aprendizag<strong>em</strong> e avaliação dialeticamente relacionados, cabendo ao processo avaliativo a<br />

apreciação crítica, contínua e processual, de forma a conduzir os atores escolares a toma<strong>da</strong>s<br />

de decisões coletivas, contextualiza<strong>da</strong>s e coerentes com os probl<strong>em</strong>as que vivenciam na<br />

escola e no cotidiano <strong>da</strong>s <strong>aulas</strong>.<br />

Encontra-se <strong>em</strong> Perrenoud (1999) e Hadji (1994) os pressupostos teóricos <strong>da</strong> proposta<br />

avaliativa que atende a esses princípios: trata-se <strong>da</strong> avaliação formativa, que será abor<strong>da</strong><strong>da</strong> no<br />

próximo tópico.<br />

2.2.3 A avaliação formativa<br />

A avaliação formativa na concepção de Perrenoud (1999) é defini<strong>da</strong> como uma<br />

regulação contínua <strong>da</strong>s intervenções e <strong>da</strong>s situações didáticas. Seu papel não é criar<br />

hierarquias, mas compreender as aprendizagens e dificul<strong>da</strong>des dos alunos, por meio de seus<br />

modos de pensamento, tendo <strong>em</strong> vista auxiliá-los no processo de aprendizag<strong>em</strong>, conforme os<br />

objetivos de ensino preestabelecidos.<br />

Nas considerações de Hadji (1994, p. 7), a avaliação na lógica formativa deve<br />

fun<strong>da</strong>mentar-se na ideia de propiciar:<br />

[...] um retorno de informação multidirecional, dirigi<strong>da</strong> ao aluno, ao invés de<br />

referir-se ao aluno. Tal avaliação não pressupõe n<strong>em</strong> julgamento de valor, n<strong>em</strong><br />

escala de valor. Esta é a sua segun<strong>da</strong> característica: a avaliação formativa inscrevese<br />

no projeto de aju<strong>da</strong>r os alunos, esclarecendo-os. Trata-se de aju<strong>da</strong>r o aluno a<br />

tomar consciência <strong>da</strong>s dificul<strong>da</strong>des que encontra, a reconhecer e a corrigir ele<br />

próprio seus erros. Ao mesmo t<strong>em</strong>po, trata-se de esclarecer o professor/avaliador<br />

<strong>sobre</strong> os efeitos reais, <strong>em</strong> termos de aprendizag<strong>em</strong>, de sua ação de ensino. É para<br />

todos os atores do cenário pe<strong>da</strong>gógico – trabalho de aprendizag<strong>em</strong> do aluno,<br />

trabalho de ensino do professor.<br />

Para o autor, o paradigma <strong>da</strong> avaliação qualitativa está, atualmente, configurado na<br />

proposta formativa, que é considera<strong>da</strong> neste estudo a mais pertinente para compreender a<br />

regulação <strong>da</strong>s práticas de avaliação no meio educativo. Isso porque a avaliação formativa<br />

abarca princípios de grande valor no processo educacional.<br />

Dentre as suas características, a mais significativa é a que sugere a prática avaliativa<br />

ocorrendo continuamente durante o processo, com a finali<strong>da</strong>de de informar professor, aluno e<br />

outros atores que compõ<strong>em</strong> o cenário escolar <strong>sobre</strong> as aprendizagens e dificul<strong>da</strong>des<br />

encontra<strong>da</strong>s. O ato de avaliar fornece <strong>da</strong>dos que permit<strong>em</strong> verificar diretamente o nível de<br />

aprendizag<strong>em</strong> dos alunos e também determina a quali<strong>da</strong>de do processo de ensino. Nesse<br />

sentido, a avaliação t<strong>em</strong> uma função de retroalimentar o ensino, ou seja, fornecer feedback ao<br />

professor, uma vez que o abastece com <strong>da</strong>dos para que possa repensar e replanejar sua<br />

35


atuação didática, visando a colaborar para que os êxitos sejam atingidos no que se refere à<br />

aprendizag<strong>em</strong> dos alunos (PERRENOUD, 1999; HADJI, 1994).<br />

Desse modo, o que se percebe é que quando se trata <strong>da</strong> avaliação formativa se está<br />

perante uma avaliação <strong>em</strong> certo sentido mais sofistica<strong>da</strong>, do ponto de vista <strong>da</strong>s pressuposições<br />

conceituais que a caracterizam. Conforme Fernandes (2006, p. 22), “trata-se de uma avaliação<br />

interativa, centra<strong>da</strong> nos processos cognitivos dos alunos e associa<strong>da</strong> aos processos de<br />

feedback, de regulação, de autoavaliação e de autorregulação <strong>da</strong>s aprendizagens”.<br />

As propostas cont<strong>em</strong>porâneas de avaliação, sist<strong>em</strong>atiza<strong>da</strong>s no quadro abaixo, são<br />

decorrentes de uma varie<strong>da</strong>de de discussões cujo principal fun<strong>da</strong>mento se associa aos<br />

princípios <strong>da</strong> prática avaliativa situa<strong>da</strong> no paradigma qualitativo, com el<strong>em</strong>entos constitutivos<br />

<strong>da</strong> proposta de avaliação formativa.<br />

Quadro 7: Abor<strong>da</strong>gens cont<strong>em</strong>porâneas de avaliação<br />

36


ABORDAGENS CONTEMPORÂNEAS DE AVALIAÇÃO<br />

Abor<strong>da</strong>gens de avaliação Enfoque <strong>da</strong> avaliação Finali<strong>da</strong>de Como avaliar Papel do professor Papel do aluno<br />

<strong>Avaliação</strong> mediadora<br />

(HOFFMANN, 1993, 2004,<br />

2009)<br />

Buscar a melhoria <strong>da</strong><br />

aprendizag<strong>em</strong>, com<br />

tarefas que oportuniz<strong>em</strong><br />

a expressão de<br />

aprendizag<strong>em</strong> do aluno<br />

de maneira processual.<br />

Necessi<strong>da</strong>de de clareza<br />

dos princípios avaliativos:<br />

avaliação a serviço <strong>da</strong><br />

ação, com a investigação<br />

<strong>sobre</strong> a aprendizag<strong>em</strong><br />

motiva<strong>da</strong> pela<br />

preocupação de agir para<br />

melhorar; relação<br />

dialógica na construção<br />

do conhecimento,<br />

levando <strong>em</strong> conta a lógica<br />

do professor e do aluno.<br />

Acompanhar o processo<br />

de construção de<br />

conhecimentos do aluno.<br />

<strong>Avaliação</strong> como<br />

julgamento e também<br />

como ação. A prática<br />

educativa é a própria<br />

prática avaliativa, que,<br />

por sua vez, revela to<strong>da</strong> a<br />

concepção políticope<strong>da</strong>gógica<br />

de uma<br />

escola.<br />

Conjunto de instrumentos<br />

de avaliação para<br />

interpretar a evolução e<br />

as dificul<strong>da</strong>des de<br />

aprendizag<strong>em</strong> do aluno<br />

durante o processo de<br />

ensino.<br />

Da mesma forma que o<br />

professor media o conhecimento<br />

do aluno, a avaliação<br />

deve mediar esse<br />

processo, tornando possível<br />

a identificação de<br />

probl<strong>em</strong>as na aprendizag<strong>em</strong><br />

do aluno. Aprofun<strong>da</strong>r-se<br />

nas estratégias de<br />

pensamento do aluno,<br />

nas formas como ele age<br />

e realiza ativi<strong>da</strong>des<br />

educativas. Ter clareza<br />

<strong>sobre</strong> o significado que<br />

ele atribui a sua ação<br />

educativa.<br />

37<br />

Participar de maneira<br />

ativa <strong>da</strong> apreciação de seu<br />

processo de aprendizag<strong>em</strong>.<br />

Estar disposto a<br />

ouvir, a dialogar e<br />

compreender seus<br />

avanços e dificul<strong>da</strong>des.


Abor<strong>da</strong>gens de avaliação<br />

<strong>Avaliação</strong> indiciária<br />

(ESTEBAN, 2002, 2008)<br />

<strong>Avaliação</strong> autêntica<br />

(CONDEMARÍN; MEDINA,<br />

2005)<br />

Enfoque <strong>da</strong> avaliação Finali<strong>da</strong>de Como avaliar Papel do professor Papel do aluno<br />

A avaliação deve articular<br />

sujeitos e contextos<br />

diversos, confrontando os<br />

múltiplos conhecimentos<br />

que perpassam o saber, o<br />

fazer e o pensar de alunos<br />

e professores. É<br />

ferramenta para a toma<strong>da</strong><br />

de decisões no processo<br />

de ensino e<br />

aprendizag<strong>em</strong>.<br />

Relaciona<strong>da</strong> com a<br />

experiência vivi<strong>da</strong> pelos<br />

alunos <strong>em</strong> aula, diz<br />

respeito a probl<strong>em</strong>as<br />

complexos e implica a<br />

utilização funcional dos<br />

conhecimentos<br />

disciplinares, s<strong>em</strong> t<strong>em</strong>po<br />

fixo para avaliar as<br />

aprendizagens.<br />

Integração dos conceitos<br />

anglo-saxões de<br />

assessment (coleta e<br />

síntese <strong>da</strong> informação<br />

acerca <strong>da</strong>s aprendizagens<br />

dos estu<strong>da</strong>ntes) e<br />

Interpretar sinais para<br />

mediar o processo <strong>em</strong><br />

tessitura. Interrogar as<br />

respostas, in<strong>da</strong>gar sua<br />

configuração, procurar as<br />

relações que as<br />

constitu<strong>em</strong>.<br />

Melhorar o processo de<br />

ensino e aprendizag<strong>em</strong><br />

pela interação do<br />

professor com seus<br />

alunos. Informar e<br />

orientar os alunos e pais<br />

<strong>sobre</strong> os avanços na<br />

aprendizag<strong>em</strong>, centrandose<br />

nas aptidões,<br />

interesses, capaci<strong>da</strong>des e<br />

competências dos<br />

educandos.<br />

Formulação contínua de<br />

questões abertas que<br />

permitam ao aluno<br />

construir respostas que<br />

revel<strong>em</strong> suas concepções,<br />

seus sentimentos,<br />

conhecimentos, etc.<br />

Apenas tarefas contextualiza<strong>da</strong>s.<br />

Emprego de<br />

múltiplos procedimentos<br />

e técnicas para avaliar as<br />

competências dos alunos<br />

<strong>em</strong> sua totali<strong>da</strong>de e<br />

complexi<strong>da</strong>de.<br />

Portfólio para reunir as<br />

múltiplas evidências do<br />

des<strong>em</strong>penho de alunos,<br />

<strong>em</strong> resposta a situações<br />

reais que ocorr<strong>em</strong> <strong>em</strong> sala<br />

de aula.<br />

Enxergar outras possibili<strong>da</strong>des,<br />

ler as entrelinhas,<br />

os sinais, para entender<br />

os motivos do fracasso,<br />

criando alternativas para<br />

garantir o êxito dos<br />

alunos.<br />

Observar o aprendiz no<br />

processo de trabalho ou<br />

na realização de algo<br />

concreto. Fornecer feedbacks<br />

e ajustar a instrução<br />

e a avaliação de acordo<br />

com os resultados observados.<br />

Colaborar com os alunos,<br />

permitindo que eles<br />

também avali<strong>em</strong> as<br />

aprendizagens adquiri<strong>da</strong>s<br />

e as que precisam ser<br />

melhora<strong>da</strong>s.<br />

38<br />

Exercer sua curiosi<strong>da</strong>de,<br />

assumir postura<br />

instigadora <strong>sobre</strong> os<br />

avanços e as razões que<br />

justificam o “ain<strong>da</strong> não<br />

saber”.<br />

Colaboração com o<br />

professor frente às<br />

aprendizagens adquiri<strong>da</strong>s<br />

e as que precisam ser<br />

melhora<strong>da</strong>s.


evaluation (formulação de<br />

juízos <strong>em</strong>itidos com base<br />

nos <strong>da</strong>dos reunidos).<br />

É, portanto, um processo<br />

participativo,<br />

multidimensional, que<br />

não descarta o uso dos<br />

testes baseados <strong>em</strong><br />

normas ou as provas<br />

elabora<strong>da</strong>s pelo<br />

educador, mas lhes dá<br />

novo significado e situa-os<br />

<strong>em</strong> uma ampla gama de<br />

procedimentos e técnicas<br />

específicas que ampliam o<br />

leque de possibili<strong>da</strong>des<br />

para o professor obter<br />

evidências váli<strong>da</strong>s dos<br />

pontos fortes e fracos de<br />

seus alunos.<br />

Levar <strong>em</strong> consideração as<br />

estratégias cognitivas e<br />

metacognitivas utiliza<strong>da</strong>s<br />

pelos alunos.<br />

39


Abor<strong>da</strong>gens de avaliação<br />

<strong>Avaliação</strong> diagnóstica<br />

(LUCKESI, 2005).<br />

Enfoque <strong>da</strong> avaliação Finali<strong>da</strong>de Como avaliar Papel do professor Papel do aluno<br />

Volta<strong>da</strong> para a<br />

autocompreensão e<br />

participação do aluno,<br />

<strong>em</strong>prega instrumentos<br />

que visam auxiliar a<br />

aprendizag<strong>em</strong>, e não<br />

determinar a aprovação<br />

ou reprovação dos alunos.<br />

Possui elevado valor<br />

didático, pois permite<br />

correção de rumos do<br />

sist<strong>em</strong>a de ensino, do<br />

professor e do aluno<br />

durante o processo de<br />

aprendizag<strong>em</strong>, por meio<br />

<strong>da</strong> autocompreensão.<br />

Ser um instrumento de<br />

autocompreensão por<br />

parte do professor, do<br />

aluno e do sist<strong>em</strong>a de<br />

ensino. Identificar<br />

avanços e dificul<strong>da</strong>des por<br />

meio desse instrumento.<br />

Instrumentos como diálogo<br />

e registros que<br />

permitam discutir o<br />

estado <strong>da</strong> aprendizag<strong>em</strong>,<br />

promovendo o caráter<br />

participativo <strong>da</strong> avaliação<br />

realiza<strong>da</strong> pelo professor e<br />

alunos.<br />

Verificar a eficiência de<br />

seu trabalho, assim como<br />

os desvios, na medi<strong>da</strong> <strong>em</strong><br />

que está atento ao an<strong>da</strong>mento<br />

<strong>da</strong> aprendizag<strong>em</strong><br />

de seus alunos, por meio<br />

dos instrumentos de<br />

avaliação.<br />

40<br />

Descobrir permanent<strong>em</strong>ente<br />

<strong>em</strong> que nível de<br />

aprendizag<strong>em</strong> se<br />

encontra, dentro de sua<br />

ativi<strong>da</strong>de escolar,<br />

adquirindo consciência<br />

<strong>da</strong>s suas limitações atuais<br />

e <strong>da</strong>s necessi<strong>da</strong>des e<br />

possibili<strong>da</strong>des de avanço.


Percebe-se que, independent<strong>em</strong>ente <strong>da</strong>s características particulares de ca<strong>da</strong> uma <strong>da</strong>s<br />

propostas de avaliação, as designações supracita<strong>da</strong>s se refer<strong>em</strong> a uma prática avaliativa<br />

orienta<strong>da</strong> para melhorar a aprendizag<strong>em</strong> dos alunos e o ensino do professor. Além disso,<br />

r<strong>em</strong>et<strong>em</strong> à importância <strong>da</strong> integração entre o ensino, a aprendizag<strong>em</strong> e a avaliação, além de<br />

destacar<strong>em</strong> a aprendizag<strong>em</strong> do aluno e o ensino do professor como os el<strong>em</strong>entos mais<br />

importantes nesse processo.<br />

A avaliação <strong>em</strong> ca<strong>da</strong> uma <strong>da</strong>s abor<strong>da</strong>gens também indica outros pontos convergentes,<br />

como a importância de a prática avaliativa se integrar ativamente no processo de formação no<br />

qual se inscreve e, a partir <strong>da</strong>í, dispor de um quadro teórico que oriente a interpretação dos<br />

<strong>da</strong>dos e o diagnóstico dos probl<strong>em</strong>as de aprendizag<strong>em</strong>. Esse referencial teórico deve levar <strong>em</strong><br />

conta múltiplos aspectos (cognitivo, afetivo, social) <strong>da</strong>s aprendizagens e <strong>da</strong>s interações no<br />

processo de ensino. Uma vez que a compreensão dos avanços e dificul<strong>da</strong>des do aluno se<br />

apresenta como valor para guiar a ação no processo de ensino de maneira contextualiza<strong>da</strong>,<br />

torna-se essencial o desejo de que a avaliação seja um instrumento útil nesse processo. Nesse<br />

sentido, um dos avanços identificados nessas abor<strong>da</strong>gens é o entendimento de que os<br />

diagnósticos de avaliação dev<strong>em</strong> permitir uma a<strong>da</strong>ptação adequa<strong>da</strong> <strong>da</strong> ação do professor,<br />

constituindo-se como intervenção eficaz na melhora <strong>da</strong> aprendizag<strong>em</strong> dos alunos. Por essa<br />

razão, defende-se que a avaliação precisa estar liga<strong>da</strong> ao contexto dos alunos, além de ser<br />

contínua e interativa.<br />

A respeito do enfoque <strong>da</strong>s diversas propostas de avaliação cont<strong>em</strong>porâneas, é possível<br />

destacar nas abor<strong>da</strong>gens indiciária e d<strong>em</strong>ocrática uma função <strong>da</strong> avaliação como el<strong>em</strong>ento<br />

para esclarecer os atores do jogo social, desocultando situações, aju<strong>da</strong>ndo a compreendê-las,<br />

fornecendo aos atores escolares el<strong>em</strong>entos que permitam conhecer realmente o que se passa<br />

nas salas de aula.<br />

Outro aspecto observado nas mesmas abor<strong>da</strong>gens supracita<strong>da</strong>s é o foco <strong>da</strong> avaliação:<br />

além de fazer a apreciação <strong>da</strong> aprendizag<strong>em</strong> do aluno, também consiste numa prática social<br />

que, <strong>em</strong> última análise, visa à melhoria do des<strong>em</strong>penho dos professores e contribui para o<br />

progresso <strong>da</strong>s instituições e <strong>da</strong> própria socie<strong>da</strong>de. Desse modo, defende-se a<br />

corresponsabilização entre os diversos atores educacionais e julga-se que, enquanto não<br />

houver uma conjugação de esforços nesse sentido, será difícil alterar a situação <strong>da</strong><br />

probl<strong>em</strong>ática que envolve a avaliação.<br />

De maneira geral, percebe-se que nenhuma dessas propostas de avaliação t<strong>em</strong> relação<br />

com a concepção de avaliação restrita, pontual e limita<strong>da</strong> na verificação dos objetivos<br />

comportamentais expressa no paradigma experimental, que, segundo os autores, ain<strong>da</strong> é o<br />

40


modelo usado <strong>em</strong> alguns sist<strong>em</strong>as escolares. Portanto, a análise <strong>da</strong>s características desses<br />

tipos de avaliação aponta para o paradigma qualitativo, conforme exposto <strong>em</strong> Gómez (1985),<br />

e também assinala variações que possibilitam compreender as características <strong>da</strong> avaliação<br />

formativa revela<strong>da</strong> nas ideias cont<strong>em</strong>porâneas <strong>da</strong> prática avaliativa no contexto <strong>da</strong> educação.<br />

Entretanto, vale ressaltar que esses modelos cont<strong>em</strong>porâneos ampliam a discussão<br />

<strong>sobre</strong> o paradigma qualitativo de avaliação, especialmente quando salientam a importância de<br />

o professor procurar pistas que ajud<strong>em</strong> a conhecer os saberes, as atitudes, as capaci<strong>da</strong>des dos<br />

alunos, considerando os aspectos <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de escolar. Entende-se que esses pressupostos<br />

colaboram para a caracterização <strong>da</strong> essência <strong>da</strong> proposta <strong>da</strong> avaliação formativa, contribuindo<br />

para a identificação <strong>da</strong>s aprendizagens e dificul<strong>da</strong>des, e intervenção para melhorá-las,<br />

considerando as múltiplas perspectivas, ou seja, levando <strong>em</strong> conta os principais intervenientes<br />

no processo de ensino e aprendizag<strong>em</strong> escolar, como as opiniões dos professores, que dev<strong>em</strong><br />

participar ativamente, assim como os diretores, os pais, os alunos.<br />

Sendo assim, neste estudo optou-se por adotar, exclusivamente, a expressão “avaliação<br />

formativa”, pois a revisão de literatura mostrou que as proposições acerca dessa expressão<br />

cont<strong>em</strong>plam as características <strong>da</strong>s outras designações apresenta<strong>da</strong>s <strong>em</strong> Hoffmann (1993,<br />

2004, 2009), Esteban (2002, 2008), Vasconcelos (2003), Cond<strong>em</strong>arín e Medina (2005) e<br />

Luckesi (2005). Além disso, considera-se importante pontuar que essa proposta de avaliação é<br />

a mais adequa<strong>da</strong> para ser desenvolvi<strong>da</strong> no âmbito <strong>da</strong> Educação Básica e, <strong>sobre</strong>tudo na<br />

disciplina de Educação Física, uma vez que apresenta características significativas e<br />

suficientes para melhorar o processo de avaliação <strong>da</strong> aprendizag<strong>em</strong> escolar dos alunos.<br />

No que se refere à determinação dos documentos oficiais destinados à educação,<br />

especificamente a Lei de Diretrizes e Bases <strong>da</strong> Educação Nacional (LDB) 9.394/96 (BRASIL,<br />

1996) propõe <strong>em</strong> seu artigo 24 a necessi<strong>da</strong>de de se considerar um modelo de avaliação com<br />

caráter contínuo e cumulativo, além de apontar que dev<strong>em</strong> prevalecer nas práticas avaliativas<br />

os aspectos qualitativos <strong>sobre</strong> os quantitativos e a consideração dos resultados adquiridos ao<br />

longo do período de ensino e aprendizag<strong>em</strong> <strong>sobre</strong> as eventuais provas finais.<br />

Um ponto interessante a ser destacado <strong>sobre</strong> a aprovação <strong>da</strong> LDB 9.394/1996<br />

(BRASIL, 1996) é que ela surgiu <strong>em</strong> meio a inúmeras discussões <strong>sobre</strong> as questões escolares,<br />

os elevados índices de repetência, de evasão escolar, probl<strong>em</strong>as nos currículos e nos processos<br />

de avaliação. Com o aumento <strong>da</strong> repercussão dessas discussões e do descontentamento <strong>da</strong>s<br />

pessoas liga<strong>da</strong>s ao processo educacional (educadores, pais, pesquisadores), <strong>em</strong>ergiram<br />

sugestões de organização do ensino, dentre elas a proposta <strong>da</strong> escola constituí<strong>da</strong> por ciclos de<br />

formação. Não obstante, essa lei não especificou como esses ciclos deveriam ser estabelecidos<br />

41


nos contextos escolares, deixando brechas para que surgiss<strong>em</strong> diversas formas de<br />

interpretação, conceituação e aplicação nos sist<strong>em</strong>as de Ensino Básico (DINIZ; AMARAL,<br />

2009).<br />

Desse modo, entende-se que a escola organiza<strong>da</strong> <strong>em</strong> ciclos é aquela que apresenta seus<br />

t<strong>em</strong>pos e espaços divididos <strong>em</strong> ciclos de formação, que se baseiam <strong>em</strong> experiências<br />

socialmente significativas para a i<strong>da</strong>de dos alunos, podendo também ser nomea<strong>da</strong> de escola<br />

cicla<strong>da</strong>:<br />

[...] t<strong>em</strong> por base ideias construtivistas e a partir delas o conceito de que a<br />

aprendizag<strong>em</strong> e os conhecimentos ocorr<strong>em</strong> por processo gradual, partindo de<br />

el<strong>em</strong>entos simples e significativos ao sujeito e que depend<strong>em</strong> <strong>da</strong> estrutura interna<br />

deste, sendo, por isso mesmo, um processo individual, ou seja, os sujeitos<br />

necessitam de t<strong>em</strong>pos diferenciados para completar ca<strong>da</strong> fase do processo. Daí a<br />

justificativa <strong>da</strong> não seriação na educação fun<strong>da</strong>mental, mas ciclos, respeitando o<br />

estágio de desenvolvimento <strong>em</strong> que a criança se encontra [...]. (ALVARENGA,<br />

1999, apud DINIZ; AMARAL, 2009, p. 247).<br />

A prática avaliativa é vista como um el<strong>em</strong>ento importante na estrutura <strong>da</strong> escola<br />

cicla<strong>da</strong>, pois rompe com as tradições <strong>da</strong> escola seria<strong>da</strong> e propõe a avaliação como<br />

contribuidora efetiva do processo de aprendizag<strong>em</strong> e do desenvolvimento do aluno. Buscando<br />

esse objetivo, a escola cicla<strong>da</strong>:<br />

[...] programa uma avaliação que procura conhecer, através <strong>da</strong>s análises dos erros,<br />

a dimensão e a profundi<strong>da</strong>de do conhecimento apresentado pelo discente, para<br />

assim conduzi-lo a novos caminhos para a aprendizag<strong>em</strong> dos conteúdos e para<br />

estimulá-lo a evoluir e produzir novos conhecimentos. Nesse sentido, os resultados<br />

<strong>da</strong>s avaliações são partes do processo de construção do saber e oportuni<strong>da</strong>de de<br />

verificação e reflexão <strong>da</strong> prática pe<strong>da</strong>gógica escolar. (ibid<strong>em</strong>, p. 249)<br />

Nota-se a relevância <strong>da</strong> proposta <strong>da</strong> escola cicla<strong>da</strong>, <strong>sobre</strong>tudo por se apresentar<br />

coerente com os princípios <strong>da</strong> avaliação formativa, que se baseia na análise <strong>da</strong> provisorie<strong>da</strong>de<br />

do conhecimento do aluno (HOFFMANN, 2004), na identificação <strong>da</strong>s dificul<strong>da</strong>des e na (re)<br />

orientação dos pontos de vista do professor para defrontar os probl<strong>em</strong>as encontrados.<br />

No Brasil, a impl<strong>em</strong>entação dos ciclos se deu, principalmente, no Ensino Básico, com<br />

a intenção de pôr fim aos altos índices de repetência anual nesse nível de ensino. É<br />

fun<strong>da</strong>mental que a finali<strong>da</strong>de dessa proposta seja compreendi<strong>da</strong> não como forma de facilitar a<br />

aprovação, mas sim de dificultar reprovações de alunos equivoca<strong>da</strong>s.<br />

É fato que na escola brasileira a seriação produziu mais desalento do que efetivi<strong>da</strong>de.<br />

Quando havia estrutura seria<strong>da</strong> <strong>em</strong> to<strong>da</strong>s as redes, não se percebiam as falhas na efetivi<strong>da</strong>de<br />

<strong>da</strong> alfabetização simplesmente porque as crianças não chegavam até a oitava série. O sist<strong>em</strong>a<br />

praticamente expelia o aluno. Com a proposta do ensino por ciclos e a progressão continua<strong>da</strong>,<br />

42


o aluno com defasag<strong>em</strong> ao menos é visto, deixando explícita a necessi<strong>da</strong>de de mu<strong>da</strong>r o olhar<br />

pe<strong>da</strong>gógico para promover, efetivamente, a melhora <strong>da</strong> aprendizag<strong>em</strong> escolar.<br />

Nesse sentido, essa proposta passou a caracterizar o processo de avaliação como um<br />

modo de solicitar mu<strong>da</strong>nças urgentes nas ações docentes desenvolvi<strong>da</strong>s nas <strong>aulas</strong>. O desafio<br />

com o qual a escola e o professor passaram a se deparar para inserir tal proposta exigiu,<br />

portanto, reformulações complexas e difíceis de ocorrer nos contextos escolares, <strong>da</strong><strong>da</strong> a<br />

rigidez funcional e organizacional dos sist<strong>em</strong>as de ensino e <strong>da</strong>s concepções docentes.<br />

O resultado desse período de reorganização do ensino para se a<strong>da</strong>ptar aos ciclos pode<br />

ser visto como um campo de equívocos e discórdias entre os educadores que atuam no<br />

contexto escolar, muitos dos quais passaram a entender a proposta de progressão continua<strong>da</strong><br />

como aprovação automática, vista simplesmente como a eliminação <strong>da</strong> prática avaliativa nas<br />

escolas.<br />

A própria legislação que inseriu os ciclos de formação <strong>em</strong> três anos era considera<strong>da</strong><br />

“uma loucura completa por não observar que ain<strong>da</strong> estava na m<strong>em</strong>ória de pais e professores o<br />

insucesso de uma ideia s<strong>em</strong>elhante, a <strong>da</strong> „progressão continua<strong>da</strong>‟, testa<strong>da</strong> <strong>em</strong> São Paulo”,<br />

conforme esclarece Ghiraldelli Junior (2010, p. 1). Nesse ponto, o autor entende que a<br />

legislação educacional referente à organização do ensino por ciclos não considerou a cultura<br />

educacional na qual ela foi aplica<strong>da</strong>:<br />

[...] o legislador também não ficou atento para a própria tradição <strong>da</strong> maneira de se<br />

avaliar alunos nos primeiros anos do ensino brasileiro. Nunca, aos olhos dos<br />

próprios professores, a não reprovação nos anos iniciais foi vista de outra maneira<br />

senão como „promoção automática‟. (ibid<strong>em</strong>)<br />

Pautando-se nesse autor, é possível afirmar que a falta de contextualização histórica<br />

levou a proposta <strong>da</strong> escola cicla<strong>da</strong> ao encontro de barreiras para sua implantação, esbarrando<br />

nas dificul<strong>da</strong>des pessoais e nos probl<strong>em</strong>as de formação dos professores. Por não manter um<br />

olhar histórico aguçado, a proposta <strong>da</strong> legislação educacional foi contra tudo o que estava (e<br />

ain<strong>da</strong> está) arraigado no comportamento de pais e professores.<br />

Por conseguinte, o Conselho Nacional de Educação (CNE) perdeu a validez de uma<br />

ideia que poderia aju<strong>da</strong>r a desenvolver a educação brasileira:<br />

Da maneira como a conversa foi posta, se gastou saliva para dizer que se trata de<br />

algo que não é a „promoção imediata‟ e, quanto mais se afirmou isso, mais os<br />

professores falaram baixinho: „o governo quer mesmo é aprovar todo mundo s<strong>em</strong><br />

saber na<strong>da</strong>‟. (GHIRALDELLI JUNIOR, 2010, p. 1)<br />

Segundo Jacomini (2009, p. 567) nota-se que, <strong>em</strong>bora esse pensamento possa<br />

representar a opinião de muitos educadores brasileiros na atuali<strong>da</strong>de, é importante pontuar que<br />

"o termo 'promoção automática', [...] foi <strong>em</strong>pregado na déca<strong>da</strong> de 1950 pelos educadores<br />

43


Dante Moreira e Almei<strong>da</strong> Júnior como parte de uma proposta de reorganização <strong>da</strong> escola com<br />

o objetivo de d<strong>em</strong>ocratizar o ensino".<br />

Portanto, <strong>em</strong> sua orig<strong>em</strong> a promoção automática que é atualmente um termo usado<br />

pelos educadores como sinônimo de progressão continua<strong>da</strong> e vista como uma escolarização<br />

desprovi<strong>da</strong> de aprendizag<strong>em</strong>, conforme as palavras do autor, observa-se que ela tinha o<br />

mesmo significado atribuído hoje à progressão continua<strong>da</strong>, ou seja, organizar o processo de<br />

ensino e aprendizag<strong>em</strong> de forma que os alunos possam progredir nos anos de escolari<strong>da</strong>de<br />

s<strong>em</strong> interrupções ou repetições de série.<br />

Nesse contexto, pode-se entender que a progressão continua<strong>da</strong> ou fim dos processos<br />

de reprovação no Ensino Fun<strong>da</strong>mental são parte de um processo histórico e traduz<strong>em</strong> os<br />

avanços e os limites de uma escola para todos.<br />

Sendo assim, considera-se importante desmistificar os equívocos e não desconsiderar<br />

que a proposta do ensino por ciclos e a progressão continua<strong>da</strong> apresentam apontamentos<br />

interessantes para <strong>em</strong>preender mu<strong>da</strong>nças significativas no contexto <strong>da</strong> Educação,<br />

especialmente na Educação Física escolar, quando se refere à necessi<strong>da</strong>de de uma teoria <strong>da</strong><br />

avaliação formativa consoli<strong>da</strong><strong>da</strong> que fun<strong>da</strong>mente a prática avaliativa do professor no contexto<br />

educacional, com base no princípio de que é “o aprendiz que determina o próprio t<strong>em</strong>po de<br />

aprendizag<strong>em</strong>” (HOFFMANN, 2004, p. 41). A autora compl<strong>em</strong>enta esse pressuposto,<br />

expondo que na escola cicla<strong>da</strong>:<br />

Não há como delimitar t<strong>em</strong>pos fixos para a aprendizag<strong>em</strong>, porque é um processo<br />

permanente, de natureza individual, experiência singular de ca<strong>da</strong> um. Não há<br />

sentido <strong>em</strong> valorizar os pontos de chega<strong>da</strong>, porque são s<strong>em</strong>pre pontos de passag<strong>em</strong>,<br />

provisórios. O importante é apontar os rumos do caminho, ajustar os passos ao<br />

esforço necessário, torná-los tão “sedutores” a ponto de aguçar a curiosi<strong>da</strong>de do<br />

aprendiz para o que está por vir. (ibid<strong>em</strong>, p. 40)<br />

Portanto, como foi possível observar nos parágrafos anteriores, os apontamentos<br />

defendidos na proposta <strong>da</strong> organização do ensino por ciclos e na ideia <strong>da</strong> progressão<br />

continua<strong>da</strong> assinalaram el<strong>em</strong>entos <strong>da</strong> avaliação formativa. Para ampliar o olhar <strong>sobre</strong> o cerne<br />

<strong>da</strong> matriz conceitual <strong>da</strong> avaliação formativa, observou-se como necessário, neste ponto <strong>da</strong><br />

revisão de literatura, aprofun<strong>da</strong>r a proposta dessa visão de avaliação <strong>em</strong> diferentes estudos<br />

desenvolvidos no âmbito educacional.<br />

Encontrou-se no estudo do professor português Domingos Fernandes (2006) a<br />

exposição de duas tradições teóricas que fun<strong>da</strong>mentam os pressupostos que caracterizam a<br />

avaliação formativa. Elas são denomina<strong>da</strong>s como tradição teórica francófona e tradição<br />

teórica anglo-saxônica, e estão descritas a seguir.<br />

44


Na tradição francófona, a avaliação formativa é vista como uma fonte de regulação<br />

dos processos de aprendizag<strong>em</strong>. A regulação é o conceito-chave dessa tradição teórica, que<br />

t<strong>em</strong> como ex<strong>em</strong>plo o estudo de Perrenoud (1999). Valorizam-se os processos cognitivos e<br />

metacognitivos do aluno, os quais são expressos por ações de autocontrole e autoavaliação.<br />

Assim, o interesse primordial dessa abor<strong>da</strong>g<strong>em</strong> é analisar o modo como os alunos aprend<strong>em</strong>,<br />

para utilizar uma avaliação formativa que os oriente na autorregulação <strong>da</strong> aprendizag<strong>em</strong>.<br />

Segundo Fernandes (2006, p. 27), nessa teoria de avaliação “sustenta-se que os alunos têm um<br />

papel mais central e mais autônomo no processo avaliativo, com a interferência do professor<br />

reduzi<strong>da</strong>”.<br />

Porém, ao conferir tal papel ao aluno, o autor alerta <strong>sobre</strong> a necessi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> utilização<br />

adequa<strong>da</strong> <strong>da</strong> autoavaliação, para que os discentes enten<strong>da</strong>m a importância <strong>da</strong> regulação <strong>da</strong>s<br />

suas próprias aprendizagens como forma de, também, ter responsabili<strong>da</strong>de na busca de<br />

soluções para as dificul<strong>da</strong>des encontra<strong>da</strong>s. Essas características marcam as influências <strong>da</strong>s<br />

teorias sociocognitivas nessa abor<strong>da</strong>g<strong>em</strong>.<br />

Já para os investigadores anglo-saxônicos o feedback t<strong>em</strong> um papel primordial no<br />

processo <strong>da</strong> avaliação. O autor aponta que a avaliação formativa na perspectiva desses<br />

investigadores segue:<br />

[...] uma matriz teórica pragmática, mais relaciona<strong>da</strong> com o apoio e a orientação<br />

que os professores pod<strong>em</strong> prestar aos alunos na resolução de tarefas e no<br />

desenvolvimento <strong>da</strong>s aprendizagens previstas no currículo. Ou seja, a avaliação<br />

formativa é um processo <strong>em</strong>inent<strong>em</strong>ente pe<strong>da</strong>gógico, muito orientado e controlado<br />

pelos professores, destinado a melhorar as aprendizagens dos alunos (ibid<strong>em</strong>).<br />

Nessa tradição, o feedback é um conceito central para a avaliação formativa e deve ser<br />

proposto pelo professor com o objetivo de comunicar aos alunos o seu estado <strong>em</strong> relação às<br />

aprendizagens manifesta<strong>da</strong>s e orientar para a superação <strong>da</strong>s eventuais dificul<strong>da</strong>des.<br />

No entanto, o autor explica que, além de ser um meio para melhorar o processo de<br />

aprendizag<strong>em</strong> dos alunos, os investigadores anglo-saxônicos se refer<strong>em</strong> à avaliação formativa<br />

como:<br />

[...] um processo determinante na melhoria dos resultados dos alunos através <strong>da</strong><br />

utilização de tarefas que express<strong>em</strong> as exigências do currículo. Ou seja, nesta<br />

perspectiva, parece haver uma relação explícita entre a avaliação formativa e um<br />

referencial curricular b<strong>em</strong> determinado <strong>em</strong> que os professores assum<strong>em</strong> claramente<br />

o controlo de uma diversi<strong>da</strong>de de incumbências tais como a identificação de<br />

domínios do currículo, a seleção de uma varie<strong>da</strong>de de tarefas para propor aos<br />

alunos, a seleção de estratégias de avaliação e a planificação do ensino <strong>em</strong> geral.<br />

(ibid<strong>em</strong>, p. 28)<br />

Em suma, a visão dos investigadores anglo-saxônicos aponta a preocupação com o<br />

funcionamento e o desenvolvimento dos processos de interação pe<strong>da</strong>gógica e de comunicação<br />

45


estabelecidos <strong>em</strong> aula. Há também um interesse de aproximação à reali<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s <strong>aulas</strong>,<br />

reconhecendo a necessi<strong>da</strong>de de resolver os probl<strong>em</strong>as de forma imediata, logo que são<br />

identificados. Destarte, é notória na perspectiva <strong>da</strong> avaliação formativa anglo-saxônica a<br />

fun<strong>da</strong>mentação situa<strong>da</strong> na base de investigação <strong>em</strong>pírica para entender o processo avaliativo.<br />

Na interpretação do autor supracitado essas duas tradições teóricas abraçam<br />

constatações significativas que pod<strong>em</strong> contribuir para a construção de uma teoria adequa<strong>da</strong> de<br />

avaliação formativa, como pode ser visto nas análises a seguir:<br />

A primeira resulta <strong>da</strong> “sugestão” francófona para que se relativize o papel do<br />

feedback, pois a sua ocorrência não garante, por si só, o desenvolvimento <strong>da</strong>s<br />

aprendizagens. Há mais el<strong>em</strong>entos a ter <strong>em</strong> conta, tais como as relações do<br />

feedback com os processos de ensino e com o desenvolvimento dos processos<br />

cognitivos e sócioafetivos dos alunos ou a interação dos alunos com as tarefas.<br />

Assim, o feedback deverá ter um enquadramento teórico mais amplo, não se<br />

limitando a ser um processo mecânico de orientação dos alunos (PERRENOUD,<br />

1998). A segun<strong>da</strong> t<strong>em</strong> a ver com a “sugestão” anglo-saxónica acerca do trabalho<br />

[pe<strong>da</strong>gógico ser desenvolvido] por alunos e professores nas salas de aula. Em<br />

particular, acerca do papel relevante que o professor deve ter no desenvolvimento<br />

do currículo, proporcionando oportuni<strong>da</strong>des para que as interações sociais entre os<br />

alunos. Além disso, o professor deverá ter um papel determinante no<br />

desenvolvimento <strong>da</strong> interação com todos e com ca<strong>da</strong> um dos alunos, pois é através<br />

dela que a avaliação pode, ou não, assumir uma natureza formativa. (ibid<strong>em</strong>, p. 29)<br />

Pautando-se na exposição do autor, verifica-se que as duas teorias <strong>da</strong> avaliação têm<br />

pressupostos compl<strong>em</strong>entares para a construção de uma única teoria <strong>da</strong> avaliação formativa,<br />

<strong>em</strong> que se destaca a postura do professor enquanto avaliador:<br />

a) escolhendo adequa<strong>da</strong>mente os feedbacks que fornecerá para os alunos, ponderando não só<br />

o processo de aprendizag<strong>em</strong> e as dificul<strong>da</strong>des identifica<strong>da</strong>s, mas também outras variáveis<br />

decorrentes do processo de ensino, como as relações sócioafetivas dos alunos;<br />

b) criando oportuni<strong>da</strong>des que evidenci<strong>em</strong> a participação dos alunos no processo de avaliação,<br />

refletindo <strong>sobre</strong> seus progressos e dificul<strong>da</strong>des e incentivando a autocorreção;<br />

c) estabelecendo a interdependência <strong>da</strong> avaliação, do ensino e <strong>da</strong> aprendizag<strong>em</strong>,<br />

desenvolvendo as ativi<strong>da</strong>des avaliativas de maneira conecta<strong>da</strong> ao processo de educação dos<br />

alunos;<br />

d) dinamizando as interações professor-aluno e aluno-aluno, buscando indicadores de<br />

aprendizag<strong>em</strong> e de dificul<strong>da</strong>des durante o processo.<br />

Percebe-se nos pressupostos dessas duas vertentes <strong>da</strong> avaliação formativa que muitos<br />

conceitos estão presentes nas propostas avaliativas cont<strong>em</strong>porâneas, especialmente as que são<br />

denomina<strong>da</strong>s de: avaliação mediadora (HOFFMANN, 1993, 2004, 2009); avaliação indiciária<br />

(ESTEBAN, 2002, 2008); avaliação diagnóstica (LUCKESI, 2005); avaliação d<strong>em</strong>ocrática<br />

(VASCONCELOS, 2003).<br />

46


Ao analisar essas propostas avaliativas, observa-se a ampliação de aspectos <strong>sobre</strong> as<br />

discussões que abor<strong>da</strong>m a avaliação formativa, apresentando el<strong>em</strong>entos teóricos e práticos<br />

consistentes para o professor avaliar a aprendizag<strong>em</strong> de seus alunos e a eficácia do ensino<br />

proposto de forma coerente na escola. Por seu turno, os apontamentos ressaltados nessas<br />

propostas de avaliação possibilitam constatar que os pressupostos que sustentam essas<br />

práticas avaliativas part<strong>em</strong> do paradigma qualitativo de avaliação exposto por Gómez (1985).<br />

Os el<strong>em</strong>entos teóricos que confirmam essa observação pod<strong>em</strong> ser ilustrados pelo<br />

destaque <strong>da</strong>do à necessi<strong>da</strong>de de o professor procurar pistas que ajud<strong>em</strong> a conhecer os saberes,<br />

as atitudes, procedimentos realizados pelos alunos durante o processo de ensino e<br />

aprendizag<strong>em</strong>. Essa coleta de indicadores deve ser feita considerando-se também os<br />

el<strong>em</strong>entos do contexto real <strong>da</strong> escola que interfer<strong>em</strong> nesse processo (ESTEBAN, 2002;<br />

VASCONCELOS, 2003; HOFFMANN, 2009).<br />

Compl<strong>em</strong>entam-se tais conjecturas com a proposição de avaliação mediadora por<br />

Hoffmann (2004), quando esse autor expõe que no processo de avaliação:<br />

[...] o professor precisa fazer leituras ca<strong>da</strong> vez mais frequentes e intensas <strong>da</strong>s<br />

situações vivi<strong>da</strong>s pelos alunos, ajustando sua escuta às diferentes mensagens, e<br />

<strong>da</strong>ndo continui<strong>da</strong>de ao diálogo através de provocações adequa<strong>da</strong>s a ca<strong>da</strong> momento<br />

e às possibili<strong>da</strong>des de ca<strong>da</strong> um. (ibid<strong>em</strong>, p. 80)<br />

Outro aspecto apreciado nas propostas avaliativas cont<strong>em</strong>porâneas que evidenciam a<br />

fun<strong>da</strong>mentação teórica do paradigma qualitativo de avaliação é o entendimento <strong>da</strong> avaliação<br />

como ativi<strong>da</strong>de que deve promover a participação dos alunos, para que se torn<strong>em</strong> mais<br />

conscientes de suas responsabili<strong>da</strong>des diante <strong>da</strong> aprendizag<strong>em</strong>, <strong>da</strong> identificação <strong>da</strong>s<br />

dificul<strong>da</strong>des e de como fazer para melhorá-las. Perrenoud (1999) apoia essa ideia e explica<br />

que a avaliação deve ter como principal intenção ser formativa para aju<strong>da</strong>r o aluno a aprender<br />

e se desenvolver, participando <strong>da</strong> regulação <strong>da</strong>s suas aprendizagens e, consequent<strong>em</strong>ente,<br />

contribuindo para a melhora do processo de ensino do professor.<br />

Desse modo, encontram-se outros apontamentos que dev<strong>em</strong> ser levados <strong>em</strong> conta,<br />

como é o caso <strong>da</strong> correção <strong>da</strong>s tarefas e ativi<strong>da</strong>des realiza<strong>da</strong>s pelos alunos.<br />

Os estudos cont<strong>em</strong>poraneais de avaliação apontam como essencial o partilhamento de<br />

ideias, por parte dos professores e alunos, acerca <strong>da</strong> quali<strong>da</strong>de do que se pretende alcançar.<br />

Isso leva a entender que a ação avaliativa, <strong>em</strong>bora de natureza intuitiva, espontânea, não se dá<br />

s<strong>em</strong> clareza dos propósitos e dos objetivos de ensino preestabelecidos. Conforme Hoffmann<br />

(2004) é preciso definir os saberes que serão construídos <strong>em</strong> determina<strong>da</strong> situação e buscar<br />

possibili<strong>da</strong>des para tornar a experiência educativa ain<strong>da</strong> mais rica para os alunos. Entretanto, a<br />

autora alerta que essa definição de saberes não deve delinear “pontos de chega<strong>da</strong> absolutos,<br />

47


mas pontos de passag<strong>em</strong>, rumos para a continui<strong>da</strong>de do processo educativo, que precisa,<br />

s<strong>em</strong>pre, levar <strong>em</strong> conta a reali<strong>da</strong>de e o contexto que o influenciam” (ibid<strong>em</strong>, p. 63).<br />

Assim, de acordo com Freitas (1995), entende-se que qualquer prática avaliativa deve<br />

considerar dois itens importantes: os critérios e os instrumentos de avaliação. Com relação aos<br />

critérios, eles dev<strong>em</strong> ser pensados a partir dos objetivos; os instrumentos dev<strong>em</strong> ser<br />

entendidos como mecanismos indispensáveis para a verificação <strong>da</strong> aprendizag<strong>em</strong> dos<br />

conteúdos ensinados.<br />

Para o desenvolvimento desses pressupostos, faz-se imperativa a redefinição <strong>da</strong><br />

concepção de erro, já que a escola t<strong>em</strong> li<strong>da</strong>do tal conceito como sinônimo de fracasso e, no<br />

extr<strong>em</strong>o, de reprovação. Geralmente se espera que o aluno reproduza apenas o que já lhe foi<br />

transmitido com base nos modelos preestabelecidos pela educação tradicional. Entende-se que<br />

a ressignificação deve ocorrer no sentido de permitir ao aluno errar para aprender<br />

(ESTEBAN, 2002; VASCONCELOS, 2003; HOFFMANN, 2009). Essas pr<strong>em</strong>issas situam a<br />

avaliação com uma função de diagnóstico de aprendizagens (LUCKESI, 2005), as quais<br />

apontam “pistas importantes, assinalam trilhas não percebi<strong>da</strong>s que dev<strong>em</strong> ser considera<strong>da</strong>s e<br />

explora<strong>da</strong>s” (ESTEBAN, 2002, p. 143) pelo professor.<br />

Assim, o erro passa a ter importância no acompanhamento do processo de ensino e<br />

aprendizag<strong>em</strong>, pois será ele um indicador significativo <strong>da</strong>s condições concretas <strong>em</strong> que se<br />

encontra o aluno. Conforme Vasconcelos (2003, p. 43), a avaliação pode passar a ser vista<br />

como:<br />

[...] um processo abrangente <strong>da</strong> existência humana, que implica uma reflexão crítica<br />

<strong>sobre</strong> a prática, no sentido de captar seus avanços, suas resistências, suas<br />

dificul<strong>da</strong>des e possibilitar uma toma<strong>da</strong> de decisão <strong>sobre</strong> o que fazer para superar os<br />

obstáculos. É a forma de acompanhar o desenvolvimento dos educandos e ajudá-los<br />

<strong>em</strong> suas eventuais dificul<strong>da</strong>des.<br />

Ain<strong>da</strong> <strong>sobre</strong> a redefinição <strong>da</strong> concepção do erro, Hoffmann (2004) também assinala<br />

que é preciso o professor entender que de na<strong>da</strong> valerá atuar somente corrigindo os erros dos<br />

alunos e apontando-lhes a resposta certa. Nesse processo torna-se imprescindível o<br />

favorecimento de oportuni<strong>da</strong>des e t<strong>em</strong>po para a descoberta de possibili<strong>da</strong>des de acertos. Essa<br />

consideração sugere mu<strong>da</strong>nças na organização do t<strong>em</strong>po escolar que permitam aos alunos o<br />

direito de cometer erros, escolher alternativas (frustra<strong>da</strong>s ou não), solucionar probl<strong>em</strong>as, para<br />

que seja possível a observação de seus avanços e dificul<strong>da</strong>des, assim como buscar as<br />

estratégias necessárias para melhorar as aprendizagens que não foram cont<strong>em</strong>pla<strong>da</strong>s<br />

(PERRENOUD, 1999; HOFFMANN, 2004, 2009).<br />

48


Ao mesmo t<strong>em</strong>po, a exposição desses pressupostos aponta a necessi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> mu<strong>da</strong>nça<br />

de concepção <strong>da</strong> nota no contexto escolar, deixando de ser considera<strong>da</strong> o componente cabal<br />

do processo de avaliação na escola. Desse modo, sugere-se que a nota seja vista como um<br />

<strong>da</strong>do útil <strong>sobre</strong> o processo de aprendizag<strong>em</strong> dos alunos, assumindo um caráter formativo e<br />

não mais a visão classificatória e excludente dos alunos no processo de ensino<br />

(VASCONCELOS, 2003; HOFFMANN, 2004, 2009).<br />

Nessa direção, Vasconcelos (2003) e Hoffmann (2004, 2009) expõ<strong>em</strong> que pensar a<br />

avaliação com caráter formativo significa a busca de um processo avaliativo com<br />

intencionali<strong>da</strong>de e práticas diagnósticas, conscientizadoras, dialógicas, intervencionistas e<br />

transformadoras.<br />

Desse modo, trabalhar com essa perspectiva de avaliação requer a escolha de<br />

procedimentos avaliativos menos “engessados”, desenvolvidos durante o processo de ensino e<br />

aprendizag<strong>em</strong> e que apresent<strong>em</strong> possibili<strong>da</strong>des de reduzir a burocracia do trabalho do<br />

professor. Além disso, ao atuar com a proposta <strong>da</strong> avaliação formativa não se deve resumir a<br />

prática avaliativa ao uso de instrumentos como as provas ou a observação feita <strong>em</strong> aula, s<strong>em</strong><br />

registros, com atribuição de uma nota somente no final do bimestre. Para a mu<strong>da</strong>nça dessa<br />

perspectiva reducionista do ato de avaliar, é fun<strong>da</strong>mental que os instrumentos sejam<br />

entendidos como meios, e não fins. Por isso eles não pod<strong>em</strong> se tornar a finali<strong>da</strong>de central do<br />

processo avaliativo.<br />

Assim, a avaliação deve constituir-se por meio de um processo que leve <strong>em</strong><br />

consideração a ação pe<strong>da</strong>gógica e colabore com o professor para a descoberta de caminhos e<br />

estratégias que lev<strong>em</strong> os seus alunos à melhora do processo de aprendizag<strong>em</strong>. Requer,<br />

portanto, uma nova postura docente que compreen<strong>da</strong> a avaliação na perspectiva <strong>da</strong> melhoria<br />

do percurso do aluno, distanciando-se de situações de fracasso e aproximando-se do sucesso<br />

escolar (LÜDKE, 2002; HOFFMANN, 2004).<br />

Perrenoud (1999) também vai nessa linha de reflexão quando assegura que a<br />

avaliação formativa deve contribuir, efetivamente, para a regulação <strong>da</strong>s aprendizagens e<br />

auxiliar no processo de ensino. Ressalta que a avaliação deve ser entendi<strong>da</strong> como o principal<br />

recurso de formação do aluno e de informação <strong>sobre</strong> a eficácia <strong>da</strong> prática pe<strong>da</strong>gógica do<br />

professor.<br />

Outras observações realiza<strong>da</strong>s acerca <strong>da</strong> natureza e <strong>da</strong> função <strong>da</strong> avaliação formativa<br />

nas propostas avaliativas cont<strong>em</strong>porâneas assinalam outras características considera<strong>da</strong>s<br />

relevantes para que sejam consoli<strong>da</strong><strong>da</strong>s essas perspectivas na escola:<br />

49


a) práticas avaliativas que destaqu<strong>em</strong> a ideia de valor <strong>sobre</strong> a de medi<strong>da</strong>, identificando<br />

aspectos explícitos e implícitos que pod<strong>em</strong> esclarecer a manifestação <strong>da</strong>s aprendizagens e<br />

dificul<strong>da</strong>des dos alunos. Essa identificação pode ser feita por meio <strong>da</strong> coleta de indícios,<br />

sinais e pormenores que revelam o essencial dos probl<strong>em</strong>as encontrados no processo de<br />

ensino e aprendizag<strong>em</strong> (MACHADO, 2000; HOFFMANN, 2004, 2009; ESTEBAN, 2002,<br />

2008);<br />

b) o ato de angariar indícios de aprendizag<strong>em</strong> e dificul<strong>da</strong>des adverte para a ponderação <strong>da</strong><br />

subjetivi<strong>da</strong>de como uma característica imanente dos processos avaliativos. Nesse sentido, o<br />

professor precisa compreender que, ao se deparar com um determinado indício (de<br />

aprendizag<strong>em</strong> ou dificul<strong>da</strong>de), esse deve ser visto como construção e representação do aluno,<br />

uma vez que esse indicador é produto de sua subjetivi<strong>da</strong>de. Essa perspectiva afirma o<br />

compromisso do professor diante <strong>da</strong>s diferenças individuais, considerando as manifestações<br />

de aprendizag<strong>em</strong> ou dificul<strong>da</strong>de que incid<strong>em</strong> de forma varia<strong>da</strong> entre os discentes. Requer uma<br />

postura diferencia<strong>da</strong> do docente mediante a expressão <strong>da</strong>s dificul<strong>da</strong>des dos alunos, que dev<strong>em</strong><br />

ser estimulados para desenvolver suas hipóteses certas ou erra<strong>da</strong>s e realizar novas tarefas que<br />

os confront<strong>em</strong> com outras respostas (diferentes e contraditórias), levando-os a defender o seu<br />

ponto de vista ou reformulá-lo. Esse é um processo gra<strong>da</strong>tivo, lento, que exige saber esperar<br />

pelo momento dos alunos. Para isso o professor não deve se deixar levar por referências<br />

prévias (positivas ou negativas) construí<strong>da</strong>s a respeito do aluno (VASCONCELOS, 2003;<br />

HOFFMANN, 2009);<br />

c) avaliação <strong>em</strong> estreita relação com a prática de feedback oportuno, diversificado e frequente,<br />

para auxiliar os alunos a localizar<strong>em</strong> suas aprendizagens e dificul<strong>da</strong>des, oferecendo-lhes<br />

oportuni<strong>da</strong>des de descobrir<strong>em</strong> melhores soluções para os probl<strong>em</strong>as encontrados<br />

(HOFFMANNN, 2009);<br />

d) o feedback como instrumento importante para ativar os processos cognitivos e<br />

metacognitivos dos alunos, que, por sua vez, regulam e controlam os processos de<br />

aprendizag<strong>em</strong>, assim como melhoram a sua motivação e autoestima (PERRENOUD, 1999);<br />

e) a natureza <strong>da</strong> interação e <strong>da</strong> comunicação entre professores e alunos como um aspecto<br />

central no processo de ensino e avaliação <strong>da</strong>s aprendizagens, especialmente <strong>em</strong> razão de os<br />

professores estabelecer<strong>em</strong> pontes entre o que consideram importante aprender na escola e o<br />

complexo mundo dos alunos (HOFFMANN, 2004, 2009; ESTEBAN, 2002, 2008);<br />

f) os alunos se responsabilizando progressivamente por suas aprendizagens, com<br />

oportuni<strong>da</strong>des de partilhar o que e como compreenderam dentre os conteúdos ensinados<br />

(PERRENOUD, 1999; VASCONCELOS, 2003; HOFFMANN, 2004);<br />

50


g) as tarefas avaliativas dev<strong>em</strong> ser cui<strong>da</strong>dosamente seleciona<strong>da</strong>s, representando os domínios<br />

estruturantes dos conteúdos ensinados, para ativar processos complexos de pensamento a<br />

ser<strong>em</strong> desenvolvidos <strong>em</strong> aula, como, por ex<strong>em</strong>plo, momentos de análise, síntese, relações,<br />

conceitos, seleção de informações etc. (PERRENOUD, 1999; HOFFMANN, 2009);<br />

h) o processo de avaliação estreitamente relacionado com as tarefas de ensino<br />

(PERRENOUD, 1999);<br />

i) o ambiente de avaliação na aula a serviço <strong>da</strong> aprendizag<strong>em</strong> dos alunos, uma vez que se<br />

baseie no princípio de que todos os alunos pod<strong>em</strong> aprender (VASCONCELOS, 2003;<br />

HOFFMANN, 2004, 2009; ESTEBAN, 2002, 2008).<br />

Vários desses apontamentos encontram-se nas exposições de Zabala (1994), Coll et.<br />

al. (2000) e Coll (2001) <strong>sobre</strong> a avaliação formativa examina<strong>da</strong> na perspectiva construtivista.<br />

Em Zabala (1994), parte-se <strong>da</strong> pergunta inicial “por que avaliar?”, para entender quais<br />

dev<strong>em</strong> ser o objeto e o sujeito <strong>da</strong> avaliação. O autor apresenta argumentos que eliminam a<br />

ideia <strong>da</strong> avaliação apenas do aluno, como sujeito que aprende, e propõe uma avaliação de<br />

como o professor ensina, uma vez que considera uma boa avaliação aquela que proporcione<br />

informação tanto ao professor como ao aluno <strong>sobre</strong> o que está ocorrendo a respeito <strong>da</strong><br />

aprendizag<strong>em</strong> e dos obstáculos enfrentados.<br />

Propõe, ain<strong>da</strong>, que a avaliação seja realiza<strong>da</strong> no início e no meio do programa de<br />

ensino, de modo regulador, assim como no final do processo, com a avaliação integradora.<br />

Essa divisão é <strong>em</strong>prega<strong>da</strong> para caracterizar a ideia de avaliar de forma processual. Portanto,<br />

esses três momentos <strong>da</strong> avaliação não dev<strong>em</strong> ser interpretados como momentos estanques,<br />

pois o ato de avaliar deve acontecer continuamente no cotidiano <strong>da</strong>s <strong>aulas</strong>. Assim, é possível<br />

que os avanços e as dificul<strong>da</strong>des sejam detectados no processo de ensino e aprendizag<strong>em</strong> e as<br />

toma<strong>da</strong>s de decisão <strong>sobre</strong> o que fazer para melhorar sejam realiza<strong>da</strong>s logo que o probl<strong>em</strong>a é<br />

percebido.<br />

Já com relação a “o que avaliar” o autor propõe que as ativi<strong>da</strong>des avaliativas sejam<br />

construí<strong>da</strong>s no sentido de analisar as diferentes aprendizagens de fatos, conceitos,<br />

procedimentos e atitudes.<br />

Sobre esse ponto vale ressaltar que se considera a distinção desses três tipos de<br />

conteúdos relevante para este estudo porque possibilita compreender o desenvolvimento<br />

desses conhecimentos e adequar os métodos e as estratégias didáticas, além de criar<br />

possibili<strong>da</strong>des de avaliação coerentes com a natureza dos conteúdos a ser<strong>em</strong> desenvolvidos,<br />

pois eles apresentam, conforme Zabala (1994), Coll et. al. (2000) e Coll (2001),<br />

características diferentes que correspond<strong>em</strong>, respectivamente, às perguntas “o que se deve<br />

51


saber?” (dimensão conceitual), “o que se deve saber fazer?” (dimensão procedimental) e<br />

“como se deve ser?” (dimensão atitudinal).<br />

Segundo Coll et. al. (2000) e Coll (2001), as peculiari<strong>da</strong>des desses conteúdos como<br />

objeto de conhecimento a ser ensinado na escola requer<strong>em</strong> a sua tradução no contexto de uma<br />

sequência didática, <strong>em</strong> uma avaliação específica e diferencia<strong>da</strong> para ca<strong>da</strong> tipo de<br />

conhecimento: conceitual, procedimental e atitudinal. Isso significa que eles não precisam ser<br />

avaliados de maneira separa<strong>da</strong>, mas é necessária a construção de critérios e instrumentos de<br />

avaliação diferentes para analisar o nível de aprendizag<strong>em</strong> alcançado pelos alunos <strong>em</strong> relação<br />

aos fatos, conceitos, procedimentos e atitudes que faz<strong>em</strong> parte de uma uni<strong>da</strong>de didática.<br />

Nesse sentido, Pozo (2000) esclarece que para a avaliação de fatos e conceitos as<br />

ativi<strong>da</strong>des avaliativas <strong>da</strong> aprendizag<strong>em</strong> dev<strong>em</strong> estar <strong>em</strong> consonância com a uni<strong>da</strong>de t<strong>em</strong>ática e<br />

com a estratégia de ensino desenvolvi<strong>da</strong> durante o cotidiano <strong>da</strong>s <strong>aulas</strong>.<br />

Sobre a avaliação de fatos, o autor explica que é preciso levar <strong>em</strong> consideração que<br />

eles pod<strong>em</strong> ser tratados como sinônimos de <strong>da</strong>dos, e ambos são representados pelas inúmeras<br />

informações que se t<strong>em</strong> acerca de um determinado assunto ou área de conhecimento. As<br />

tarefas de avaliação dev<strong>em</strong> solicitar a recuperação de um <strong>da</strong>do ou informação aprendi<strong>da</strong>, num<br />

contexto similar àquele <strong>em</strong> que se aprendeu.<br />

Outras sugestões, aponta<strong>da</strong>s por Pozo (2000), assinalam a importância de o professor,<br />

ao propor o ensino de fatos, perguntar-se <strong>sobre</strong> o grau de relevância desse tipo de<br />

conhecimento nas ativi<strong>da</strong>des de aprendizag<strong>em</strong> e de avaliação. A cobrança de um fato no<br />

processo de ensino e avaliação deve ser feita, conforme explicações de Macedo et. al. (2005),<br />

mediante o reconhecimento <strong>da</strong> necessi<strong>da</strong>de desse conteúdo frente à d<strong>em</strong>an<strong>da</strong> <strong>da</strong> proposta: o<br />

conteúdo precisa ser recuperado porque faz sentido para os alunos solucionar<strong>em</strong> determina<strong>da</strong><br />

tarefa. Desse modo, segundo o autor, a palavra “necessário” passa a ser entendi<strong>da</strong> como “o<br />

quê, <strong>em</strong> <strong>da</strong>do momento não pode deixar de ser feito. Desse modo, assume o caráter de<br />

inevitável, de algo que se não for feito gera um sentimento de [...] incoerência”. (idib<strong>em</strong>, p.<br />

19).<br />

Levando <strong>em</strong> consideração essas pr<strong>em</strong>issas, Pozo (2000) explicita que a ação de<br />

recuperação <strong>da</strong> m<strong>em</strong>ória para expressar a aprendizag<strong>em</strong> de um fato no processo de avaliação<br />

pode ser auxilia<strong>da</strong> s<strong>em</strong>pre que for<strong>em</strong> proporcionados indícios facilitadores, como, por<br />

ex<strong>em</strong>plo, apresentar várias alternativas de resposta, pedindo que seja marca<strong>da</strong> a correta. Uma<br />

última sugestão <strong>sobre</strong> a avaliação de fatos é fazer revisões frequentes, não deixando<br />

transcorrer muito t<strong>em</strong>po entre o momento de ensino do fato e a avaliação.<br />

52


O autor considera mais difícil avaliar a aprendizag<strong>em</strong> de conceitos do que medir o<br />

nível de l<strong>em</strong>brança dos alunos na avaliação factual. Entende como arriscado afirmar que um<br />

aluno não sabe determinado conceito, quando o conhecimento conceitual é avaliado somente<br />

a partir <strong>da</strong> verificação <strong>da</strong> definição correta de algo, pois ao d<strong>em</strong>onstrar dificul<strong>da</strong>des para<br />

definir o conceito o aluno talvez não saiba colocá-lo <strong>em</strong> palavras, mas pode saber identificá-lo<br />

ou usá-lo <strong>em</strong> sua ativi<strong>da</strong>de cotidiana. Por isso, o autor defende que a “aplicação do conceito à<br />

realização de ativi<strong>da</strong>des ou à solução de probl<strong>em</strong>as é outra forma de avaliar o grau de<br />

aquisição de um conceito” (ibid<strong>em</strong>, p. 64).<br />

Na apresentação <strong>da</strong>s técnicas de avaliação conceitual é sugeri<strong>da</strong> a prática <strong>da</strong> definição<br />

do significado, que consiste <strong>em</strong> pedir ao aluno que defina o que entende de um conceito.<br />

Nesse tipo de avaliação os critérios de correção dev<strong>em</strong> estar b<strong>em</strong> claros, tomando cui<strong>da</strong>do<br />

com respostas que não reflitam nenhuma compreensão, mas apenas uma aprendizag<strong>em</strong> literal<br />

e m<strong>em</strong>orística de uma acepção copia<strong>da</strong>. Segundo o autor, “é muito importante valorizar mais<br />

o uso que o aluno faz de suas próprias palavras do que a mera reprodução literal” (ibid<strong>em</strong>, p.<br />

65).<br />

A técnica de múltipla escolha é uma possibili<strong>da</strong>de para avaliar esse tipo de conteúdo.<br />

Nesse caso, é solicitado ao aluno que reconheça o significado de um conceito entre várias<br />

opções que o professor lhe oferece. Na exposição t<strong>em</strong>ática é pedido aos alunos que realiz<strong>em</strong><br />

uma composição ou exposição organiza<strong>da</strong> <strong>sobre</strong> determina<strong>da</strong> área conceitual, que pode ser<br />

uma solicitação genérica ou específica. Outra técnica é a identificação e categorização de<br />

ex<strong>em</strong>plos, fazendo com que os alunos identifiqu<strong>em</strong> ex<strong>em</strong>plos ou situações relaciona<strong>da</strong>s com<br />

um conceito.<br />

Um instrumento, ain<strong>da</strong>, para a avaliação <strong>da</strong> aprendizag<strong>em</strong> conceitual é a resolução de<br />

probl<strong>em</strong>as que exijam a ativação de um conceito aprendido anteriormente. Em relação a esse<br />

it<strong>em</strong>, o autor ressalta, mais uma vez, que a avaliação conceitual precisa apresentar situações<br />

s<strong>em</strong>elhantes àquelas vivencia<strong>da</strong>s durante o processo de ensino e aprendizag<strong>em</strong>. É importante<br />

que sejam construí<strong>da</strong>s situações-probl<strong>em</strong>a abertas que “permitam conhecer o uso que os<br />

alunos faz<strong>em</strong> de seus conhecimentos [...]” (ibid<strong>em</strong>, p. 67).<br />

A respeito <strong>da</strong> avaliação de procedimentos, Coll e Valls (2000, p. 113) apontam que o<br />

sentido geral <strong>da</strong> avaliação dessa noção de conteúdo é a comprovação de sua funcionali<strong>da</strong>de:<br />

“ver até que ponto o aluno é capaz de usar o procedimento <strong>em</strong> outras situações, fazendo-o, ao<br />

mesmo t<strong>em</strong>po, de maneira flexível, segundo as exigências ou condições <strong>da</strong>s novas tarefas”.<br />

A avaliação <strong>da</strong> aprendizag<strong>em</strong> procedimental pode ser ordena<strong>da</strong> <strong>em</strong> torno de dois eixos<br />

que colaboram para definir o foco de análise:<br />

53


a) possui conhecimento suficiente relativo ao procedimento (sabe quais as ações ou<br />

decisões que o compõ<strong>em</strong>, <strong>em</strong> que ord<strong>em</strong> dev<strong>em</strong> ocorrer, sob que condições etc.);<br />

b) o uso e a aplicação desse conhecimento nas situações específicas. (ibid<strong>em</strong>, p.<br />

114)<br />

Quando os autores iniciam a sugestão de técnicas de avaliação, eles explicam que, se a<br />

análise for feita somente para comprovar a existência de conhecimento procedimental, como,<br />

por ex<strong>em</strong>plo, ver o se o aluno conhece a regra de determinado jogo ou tarefa, “pod<strong>em</strong> ser<br />

feitas perguntas concretas <strong>sobre</strong> como é realiza<strong>da</strong> uma determina<strong>da</strong> ativi<strong>da</strong>de que necessite <strong>da</strong><br />

sua utilização”. No entanto, “o procedimento pressupõe não somente assimilar o enunciado <strong>da</strong><br />

regra que o expressa, mas também saber colocá-lo <strong>em</strong> prática” (ibid<strong>em</strong>). Os autores ain<strong>da</strong><br />

suger<strong>em</strong> que sejam colhidos <strong>da</strong>dos <strong>sobre</strong> o grau de eficiência e aproveitamento <strong>da</strong> atuação do<br />

aluno.<br />

Para realizar essa tarefa de comprovação é preciso levar <strong>em</strong> consideração as principais<br />

dimensões <strong>da</strong> aprendizag<strong>em</strong> procedimental, as quais auxiliam o processo de escolha do<br />

melhor instrumento para avaliar tal conhecimento e também colabora para a construção de<br />

critérios de avaliação. Tais indicadores pod<strong>em</strong> ser sintetizados <strong>da</strong> seguinte maneira:<br />

a) a composição <strong>da</strong>s ações de que consta o procedimento;<br />

b) a integração e a precisão do conjunto <strong>da</strong> ação;<br />

c) a generalização do procedimento a outras situações;<br />

d) a automatici<strong>da</strong>de de execução;<br />

e) a contextualização do procedimento e o conhecimento do procedimento.<br />

(ibid<strong>em</strong>)<br />

Dentre os itens expostos pelos autores, entende-se que o primeiro r<strong>em</strong>ete-se à<br />

avaliação do repertório completo <strong>da</strong>s ações, os passos ou decisões que não foram<br />

suficient<strong>em</strong>ente resolvidos. Um ex<strong>em</strong>plo de técnica e critério de avaliação é a solicitação de<br />

exposição oral, ordena<strong>da</strong> e flui<strong>da</strong>, ajustando-se a um plano ou roteiro prévio, seguindo uma<br />

ord<strong>em</strong> lógica na apresentação <strong>da</strong>s informações, adequando a linguag<strong>em</strong> ao conteúdo e à<br />

situação procedimental avalia<strong>da</strong>. A integração e precisão do conjunto <strong>da</strong> ação abor<strong>da</strong>m a<br />

maneira como os alunos escolh<strong>em</strong>, sist<strong>em</strong>atizam e ordenam as ações, verificando a eficácia <strong>da</strong><br />

atuação orienta<strong>da</strong> para a consecução de determina<strong>da</strong> meta.<br />

A generalização do procedimento é avalia<strong>da</strong> a partir <strong>da</strong> observação de como ele<br />

funciona <strong>em</strong> outros contextos. Os autores apresentam um ex<strong>em</strong>plo de critério e instrumento<br />

de avaliação no contexto <strong>da</strong> Educação Física, observando o ato de “ajustar os movimentos<br />

corporais a diferentes mu<strong>da</strong>nças <strong>da</strong>s condições de uma ativi<strong>da</strong>de, tais como a duração e o<br />

espaço onde é realiza<strong>da</strong>” (ibid<strong>em</strong>, p. 115).<br />

realiza<strong>da</strong>:<br />

Os autores expõ<strong>em</strong> a avaliação <strong>da</strong> automatização do procedimento, que pode ser<br />

54


[...] observando a quanti<strong>da</strong>de de gasto de atenção que acompanha a execução<br />

procedimental ou a rapidez e a segurança com que o procedimento é aplicado, s<strong>em</strong><br />

necessi<strong>da</strong>de de pensar e observar expressamente os diferentes momentos que o<br />

compõ<strong>em</strong>. (ibid<strong>em</strong>, p. 116)<br />

Por fim, a observação do grau de adequação e pertinência na escolha dos<br />

procedimentos para solucionar um probl<strong>em</strong>a recai <strong>sobre</strong> os critérios para identificar e<br />

diferenciar possibili<strong>da</strong>des de solução, escolha <strong>da</strong>s melhores alternativas para resolver o<br />

probl<strong>em</strong>a proposto, levando <strong>em</strong> conta as suas peculiari<strong>da</strong>des.<br />

A partir dos pressupostos <strong>sobre</strong> o ensino e a avaliação <strong>da</strong> aprendizag<strong>em</strong><br />

procedimental, Coll e Valls (2000, p. 117) ressaltam a importância <strong>da</strong> observação do<br />

professor para ensinar e avaliar esse tipo de conteúdo:<br />

Somente estando muito perto do aluno e observando as suas atuações é que se pode<br />

comprovar realmente o grau de aprendizag<strong>em</strong> alcançado, o sentido do progresso ou<br />

os obstáculos que se encontram e a eficiência do ensino.<br />

Por isso, os autores consideram que as principais técnicas de avaliação <strong>da</strong><br />

aprendizag<strong>em</strong> procedimental são aquelas que exig<strong>em</strong> algum tipo de mediação do professor,<br />

que necessitam <strong>da</strong> sua presença enquanto o procedimento é realizado pelo aluno.<br />

Sobre a avaliação <strong>da</strong> aprendizag<strong>em</strong> <strong>da</strong>s atitudes, recorrendo a conceitos <strong>da</strong> psicologia<br />

social, Sarabia (2000, p. 122) explicita que “atitudes são tendências ou disposições adquiri<strong>da</strong>s<br />

e relativamente duradouras a avaliar de um modo determinado um objeto, pessoa,<br />

acontecimento ou situação e a atuar de acordo com essa avaliação”. No sentido coloquial, os<br />

pensamentos e sentimentos <strong>da</strong>s pessoas são expressos na sua forma de falar, agir e comportar-<br />

se nas relações com os outros.<br />

Como conteúdo de ensino, as atitudes, assim como os conceitos e procedimentos, não<br />

constitu<strong>em</strong> uma área separa<strong>da</strong>, mas são parte integrante de to<strong>da</strong>s as matérias e ocupam um<br />

papel central <strong>em</strong> todo ato de aprendizag<strong>em</strong>.<br />

Os pressupostos de maior relevância para a formação e mu<strong>da</strong>nça de atitudes na escola<br />

são os valores, as normas e juízos. Os valores estão atrelados a princípios éticos com os quais<br />

as pessoas têm compromisso <strong>em</strong>ocional e os quais utilizam para julgar as condutas (ibid<strong>em</strong>).<br />

Toledo, Velardi e Nista-Piccolo (2009) esclarec<strong>em</strong> que esses princípios vão desde os que<br />

reg<strong>em</strong> o mundo até os que reg<strong>em</strong> as ci<strong>da</strong>des e organizações (grupos de interesse). As autoras<br />

colocam como ex<strong>em</strong>plos de valores o respeito, a soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de, a responsabili<strong>da</strong>de, a<br />

disciplina. Por sua vez, as normas, para Sarabia (2000, p.128), refer<strong>em</strong>-se aos “padrões de<br />

conduta compartilhados pelos m<strong>em</strong>bros de um grupo social”. Isso pode ser ex<strong>em</strong>plificado por<br />

meio <strong>da</strong>s normas ou regras que se encontram nas escolas, <strong>sobre</strong>tudo nas diferentes disciplinas<br />

55


escolares, <strong>em</strong> que são necessárias regras de convivência para que as <strong>aulas</strong> aconteçam de modo<br />

que todos possam aprender. Juízos de valor, por seu turno, são, conforme Toledo, Velardi e<br />

Nista-Piccolo (2009, p. 57), “disposições que passam por um processo avaliativo ou reflexivo,<br />

baseado nos valores individuais ou sociais, e não nos fatores intuitivos”.<br />

Na escola, crianças e adolescentes dev<strong>em</strong>, segundo Sarabia (2000), internalizar uma<br />

série de normas e papéis que permit<strong>em</strong> o funcionamento <strong>da</strong> instituição de ensino <strong>em</strong> geral,<br />

pois essa deve ser concebi<strong>da</strong> como guia para sua conduta. Também aprend<strong>em</strong> uma série de<br />

atitudes <strong>sobre</strong> si mesmos, <strong>sobre</strong> os outros e <strong>sobre</strong> o mundo, pelo fato de se encontrar<strong>em</strong> numa<br />

situação pública de interação com outros indivíduos, que caracteriza o processo de<br />

socialização na escola.<br />

A aprendizag<strong>em</strong> <strong>da</strong>s atitudes, para Toledo, Velardi e Nista-Piccolo (2009, grifo meu),<br />

é um processo que se dá na interação entre alunos, professor e meio ambiente, com seus<br />

fatores internos e externos. Essas autoras, com base nos estudos de Coll e seus colaboradores,<br />

ain<strong>da</strong> afirmam que o tipo de aprendizag<strong>em</strong> mais eficiente e significativo para o aluno <strong>em</strong><br />

termos <strong>da</strong>s atitudes é a socialização, pois na escola ocorr<strong>em</strong> mu<strong>da</strong>nças constantes de cenários,<br />

personagens e normas, exigindo um processo de aprendizag<strong>em</strong> contínuo realizado <strong>em</strong><br />

contexto mutável e interativo.<br />

Entende-se que essa visão de processo no ensino <strong>da</strong>s atitudes, normas e valores<br />

também deve ser considera<strong>da</strong> na prática avaliativa desse tipo de conteúdo, guiando-se o<br />

professor pelo objetivo de possuir informação <strong>sobre</strong> o processo de formação e mu<strong>da</strong>nça de<br />

atitudes experienciados pelos alunos durante as <strong>aulas</strong>. Pelo fato de esse conteúdo ser<br />

constituído por construtos hipotéticos e subjetivos, não sendo, portanto, diretamente<br />

observável, Sarabia (2000, p. 170) propõe que é preciso “inferir as atitudes a partir <strong>da</strong>s<br />

respostas dos sujeitos diante do objeto, pessoa ou situação <strong>da</strong> qual é realiza<strong>da</strong> a avaliação<br />

subjetiva” e que as “respostas pod<strong>em</strong> ser verbais ou comportamentos manifestos, <strong>em</strong> ambos<br />

os casos, deve-se realizar uma interpretação <strong>da</strong>s mesmas como passo prévio à avaliação <strong>da</strong>s<br />

atitudes”.<br />

Segundo o autor, um ex<strong>em</strong>plo de técnica de avaliação para essa dimensão do<br />

conhecimento são as escalas de atitudes e questionários:<br />

[...] calculados para provocar respostas que manifestam atitudes, s<strong>em</strong> por isso<br />

alterá-las ou criá-las, ou seja, procura-se conseguir fazer com que a pessoa traduza<br />

uma atitude interna <strong>em</strong> um comportamento ou expressão verbal externa. (ibid<strong>em</strong>, p.<br />

171)<br />

As limitações desses instrumentos usados como avaliação de aspectos dos conteúdos<br />

atitudinais têm sido, conforme o autor, indica<strong>da</strong>s por diversos estudiosos, com base <strong>em</strong> que<br />

56


esses métodos consideram a medição <strong>da</strong>s atitudes subjetivas por meio de uma técnica<br />

quantitativa e pressupõ<strong>em</strong> que “uma mesma pergunta ou it<strong>em</strong> t<strong>em</strong> o mesmo significado para<br />

todos os que respond<strong>em</strong>, por isso, uma resposta determina<strong>da</strong> receberá a mesma pontuação <strong>em</strong><br />

todos os casos” (ibid<strong>em</strong>).<br />

No entanto, o autor considera interessante a ideia de o professor construir suas<br />

próprias escalas de avaliação do comportamento dos alunos, aspecto que se associa ao<br />

conteúdo atitudinal:<br />

[...] permitindo-lhe estimar a situação inicial <strong>da</strong> classe <strong>em</strong> relação a um<br />

determinado valor ou atitude e os progressos que os alunos vão alcançando com<br />

resultado dos programas e as técnicas de intervenção <strong>em</strong>prega<strong>da</strong>s. Nessas escalas,<br />

os alunos expressarão o seu acordo, maior ou menor, com uma série de afirmações<br />

relativas aos valores ou atitudes que têm sido objeto do ensino sist<strong>em</strong>ático. (ibid<strong>em</strong>)<br />

Outra possibili<strong>da</strong>de apresenta<strong>da</strong> pelo autor para avaliar el<strong>em</strong>entos do conteúdo<br />

atitudinal é a observação dos alunos, tendo <strong>em</strong> vista a identificação de determina<strong>da</strong>s atitudes,<br />

normas e valores que pod<strong>em</strong> revelar se houve ou não a mu<strong>da</strong>nça atitudinal.<br />

O autor expõe três componentes <strong>da</strong>s atitudes que precisam ser avaliados durante a<br />

observação participante do professor: o componente cognitivo (capaci<strong>da</strong>de de o aluno pensar);<br />

o afetivo (sentimentos, sensações, <strong>em</strong>oções) e a tendência à ação (comportamental).<br />

Sobre o primeiro componente é proposto que seja avaliado o que e como os alunos<br />

pensam <strong>sobre</strong> o significado do que é ensinado. Para o segundo el<strong>em</strong>ento, o autor aponta que é<br />

necessário estu<strong>da</strong>r o coletivo de alunos com o qual se trabalha para entender os matizes a<br />

ser<strong>em</strong> examinados nesse aspecto do conteúdo atitudinal. Por fim, no terceiro componente, que<br />

se refere à observação do comportamento dos alunos, cabe ao professor realizar<br />

continuamente a apreciação <strong>da</strong>s atitudes e condutas expressa<strong>da</strong>s pelos discentes durante o<br />

processo de ensino e aprendizag<strong>em</strong>.<br />

O autor também faz referência às circunstâncias e aos grupos sociais nos quais o<br />

significado se torna inteligível. Uma possibili<strong>da</strong>de de técnica avaliativa é levantar o perfil do<br />

grupo, especificamente no sentido de saber com quantos alunos é forma<strong>da</strong> a turma, qual é o<br />

seu nível de envolvimento etc. É preciso que mais adiante seja busca<strong>da</strong> a compreensão dos<br />

significados <strong>da</strong>s atitudes manifesta<strong>da</strong>s pelo mesmo grupo de alunos. Depois é importante<br />

procurar conhecer como esse significado é transmitido <strong>em</strong> situações de intimi<strong>da</strong>de ou<br />

proximi<strong>da</strong>de. Finalmente, verificar como tais atitudes, normas e valores são confirmados ou<br />

consoli<strong>da</strong>dos nas ações realiza<strong>da</strong>s entre os alunos.<br />

Atualmente, Coll e seus colaboradores e Zabala vêm sendo referen<strong>da</strong>dos <strong>em</strong><br />

publicações acadêmicas e <strong>em</strong> projetos e propostas de ensino público nacional, como é o caso<br />

57


dos PCNs (BRASIL,1997; 1998; 2002), especialmente quando se busca sist<strong>em</strong>atizar a<br />

avaliação dos diferentes tipos de conteúdos.<br />

A partir <strong>da</strong> revisão de alguns estudos desenvolvidos por esses autores, conclui-se que<br />

as proposições e diálogos apresentados colaboram para caracterizar possibili<strong>da</strong>des para o<br />

professor visualizar o que avaliar e como avaliar, pois apresentam critérios avaliativos<br />

contextualizados para ca<strong>da</strong> tipo de conteúdo, permeados pelo paradigma qualitativo,<br />

pautando-se na abor<strong>da</strong>g<strong>em</strong> <strong>da</strong> avaliação formativa, que propõe:<br />

a) avaliar com foco no processo de ensino e aprendizag<strong>em</strong> seguido;<br />

b) conceber a avaliação posicionando-a a serviço <strong>da</strong> aprendizag<strong>em</strong> e não se<br />

encerrando como um fim <strong>em</strong> si mesma;<br />

c) averiguar o que t<strong>em</strong> de ser melhorado tanto nos processos de estudo do aluno<br />

quanto nos processos de ensino do professor;<br />

d) utilizar instrumentos coerentes com a natureza do conhecimento ensinado;<br />

e) avaliar indicadores de aprendizag<strong>em</strong> para além dos parâmetros motores, que<br />

incluam as dimensões cognitivas e também afetivo-sociais;<br />

f) possibilitar a inserção <strong>da</strong> avaliação no processo de ensino e aprendizag<strong>em</strong>, com a<br />

função de diagnosticar, refletir e reestruturar decisões, por meio de iniciativas<br />

individuais e coletivas;<br />

g) instigar a autonomia, participação e cooperação entre os indivíduos envolvidos<br />

nas práticas de ensino e avaliação;<br />

h) abor<strong>da</strong>r os resultados, relativizando a responsabili<strong>da</strong>de e estabelecendo a<br />

continui<strong>da</strong>de do ato de avaliar, refletindo quanto às causas, consequências e o que<br />

fazer para mu<strong>da</strong>r a situação diagnostica<strong>da</strong>. (MELO, 2008, p. 107)<br />

Além disso, percebe-se que os esclarecimentos <strong>sobre</strong> os diferentes tipos de<br />

instrumentos e critérios apresentados para avaliar os conteúdos escolares, expostos <strong>em</strong> Coll e<br />

Valls (2000), Pozo (2000) e Sarabia (2000), d<strong>em</strong>onstram que é possível eliminar o paradoxo<br />

existente no processo de avaliação que defende uma concepção qualitativa e formativa,<br />

preocupa<strong>da</strong> com a melhora <strong>da</strong> aprendizag<strong>em</strong> dos alunos e que, por outro lado, utiliza<br />

instrumentos e critérios tradicionais, restritos e classificatórios, que não estabelece relações<br />

com o que e como foi ensinado.<br />

Entretanto, Silva e Bankoff (2010, p. 72, grifo meu) eluci<strong>da</strong>m que:<br />

Viv<strong>em</strong>os no século <strong>em</strong> que parece que tudo já aconteceu. As mu<strong>da</strong>nças ocorr<strong>em</strong> de<br />

forma tão rápi<strong>da</strong> que muitas inovações já surg<strong>em</strong> totalmente obsoletas, [...]. Estas<br />

transformações, no entanto, não são absorvi<strong>da</strong>s de forma tão rápi<strong>da</strong> quanto ocorr<strong>em</strong><br />

na socie<strong>da</strong>de pela escola. A educação como um todo não t<strong>em</strong> acompanhado o<br />

progresso que a comuni<strong>da</strong>de escolar deseja que ela mostre, estreitando a<br />

relação entre a teoria e a prática pe<strong>da</strong>gógica, inovando, criando novos<br />

modelos, estratégias, metodologias e conteúdos, que possam contribuir na<br />

formação cultural <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de cont<strong>em</strong>porânea como um todo.<br />

Vasconcelos (2003, p. 25) compartilha <strong>da</strong> ressalva e aponta que, mediante as questões<br />

explicita<strong>da</strong>s, “a alteração <strong>da</strong> prática não se <strong>da</strong>rá de uma vez”. Apesar disso, considera que<br />

“para não ficarmos <strong>em</strong> meras abstrações, novas práticas concretas são necessárias”, pois a<br />

mu<strong>da</strong>nça <strong>da</strong> concepção e <strong>da</strong> prática avaliativa:<br />

58


[...] não se <strong>da</strong>rá nos isolando do cotidiano para dedicarmo-nos, exclusivamente, ao<br />

estudo, ou deixando de lado as teorias e mergulhando de cabeça na prática, estes<br />

caminhos são equivocados por romper<strong>em</strong> a uni<strong>da</strong>de dialética entre ação e reflexão.<br />

(ibid<strong>em</strong>).<br />

Mediante essas implicações, compreende-se que a promoção de mu<strong>da</strong>nças na<br />

avaliação <strong>da</strong> aprendizag<strong>em</strong> escolar precisa criar possibili<strong>da</strong>des de reflexão <strong>sobre</strong> a<br />

importância <strong>da</strong> perspectiva formativa no processo de ensino e aprendizag<strong>em</strong>, de forma<br />

contextualiza<strong>da</strong> <strong>em</strong> relação à ativi<strong>da</strong>de pe<strong>da</strong>gógica dos professores e às características dos<br />

alunos e <strong>da</strong> escola <strong>em</strong> que estão inseridos.<br />

No mesmo sentido, Esteban (2002) sugere que a formação docente inclua estratégias<br />

para aju<strong>da</strong>r os professores e os alunos a aprender<strong>em</strong> formas de avaliar a aprendizag<strong>em</strong> e o<br />

ensino, considerando as interações e diálogos professor-aluno e aluno-aluno para toma<strong>da</strong> de<br />

consciência <strong>sobre</strong> os resultados alcançados e decisões construí<strong>da</strong>s de forma coletiva no<br />

cotidiano <strong>da</strong>s <strong>aulas</strong>.<br />

As possibili<strong>da</strong>des de intervenção que pod<strong>em</strong> ocorrer no processo de formação docente<br />

para desenvolver a prática <strong>da</strong> avaliação formativa na escola são indica<strong>da</strong>s pelos autores<br />

supracitados <strong>da</strong> seguinte maneira:<br />

- durante a formação superior o professor deve ter oportuni<strong>da</strong>de de vivenciar propostas de<br />

práticas avaliativas que contribuam para avaliar o processo de aprendizag<strong>em</strong> dos alunos;<br />

- é preciso que essas vivências sejam desenvolvi<strong>da</strong>s cont<strong>em</strong>plando o princípio <strong>da</strong> simetria<br />

inverti<strong>da</strong>, que propõe ao futuro professor experienciar, como aluno, atitudes, modelos e<br />

modos de aplicação processual <strong>da</strong> avaliação que possam ser usados ou a<strong>da</strong>ptados quando<br />

estiver atuando na escola;<br />

- é importante que sejam estabeleci<strong>da</strong>s aproximações sucessivas e articulação entre a ação e a<br />

reflexão, concebendo a ação informa<strong>da</strong> pela reflexão (dos conhecimentos, fins, estratégias) e a<br />

reflexão desafia<strong>da</strong> pela ação, a qual deve ponderar a presença dos aspectos histórico-sociais e<br />

culturais dos alunos. Compl<strong>em</strong>enta-se que:<br />

Trata-se de duas mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>des de ativi<strong>da</strong>des, que não pod<strong>em</strong> ser fundi<strong>da</strong>s, mas que<br />

também não dev<strong>em</strong> ser isola<strong>da</strong>s, sob pena de cairmos na abstração estéril<br />

(verbalismo) ou na ação cega (ativismo). O campo de articulação <strong>da</strong> ação e <strong>da</strong><br />

reflexão é justamente o esforço de transformação <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de. (VASCONCELOS,<br />

2003, p. 25-26)<br />

Desse modo, ao se vislumbrar<strong>em</strong> mu<strong>da</strong>nças na prática avaliativa, posiciona-se a favor<br />

<strong>da</strong> ideia que as propostas de mu<strong>da</strong>nça sejam realiza<strong>da</strong>s no próprio “chão <strong>da</strong> escola”. Nesse<br />

sentido, Vasconcelos (2003) aponta que é preciso:<br />

59


[...] superar o individualismo que t<strong>em</strong> caracterizado, por séculos, a ação docente<br />

(não há partilha, ca<strong>da</strong> um se fecha no seu componente curricular), assumir a<br />

condição de sujeito coletivo, articular, fazer rede.<br />

A mu<strong>da</strong>nça na avaliação depende do educador, mas, como ser de relações, numa<br />

ativi<strong>da</strong>de interativa, depende também dos outros (colegas, alunos, pais, dirigentes,<br />

legisladores etc.). (ibid<strong>em</strong>, p. 32-33)<br />

A citação do autor leva à consideração <strong>da</strong> visão processual que requer mu<strong>da</strong>nça <strong>da</strong><br />

prática avaliativa e exige investimento nas situações de formação continua<strong>da</strong> para os<br />

professores que já atuam <strong>em</strong> instituições de Ensino Básico.<br />

O autor expõe que uma proposta de formação continua<strong>da</strong> que aborde a avaliação <strong>da</strong><br />

aprendizag<strong>em</strong> solicita outros aspectos particulares, que são a renúncia de concepções e<br />

práticas arraiga<strong>da</strong>s, a disposição dos professores para aprender novos conhecimentos, o<br />

comprometimento dos outros atores escolares. Vasconcelos (2003) aponta que todo esse<br />

processo d<strong>em</strong>an<strong>da</strong> um movimento contínuo de reflexão <strong>sobre</strong> a prática educativa, que<br />

possibilite a avaliação desenvolvi<strong>da</strong> como tarefa diária. Ou seja, a intenção <strong>da</strong> formação<br />

continua<strong>da</strong> para professores abor<strong>da</strong>ndo a t<strong>em</strong>ática <strong>da</strong> avaliação deve buscar a construção<br />

coletiva de um modelo de atuação pe<strong>da</strong>gógica <strong>em</strong> que todos os atores escolares, <strong>sobre</strong>tudo o<br />

grupo de professores, possam estar incluídos com condições adequa<strong>da</strong>s para aprender e<br />

ensinar.<br />

Sobre as situações de formação, Vasconcelos (2003), Franco (2005), Luckesi (2005) e<br />

Hoffmann (2009) também alertam que é preciso ter cui<strong>da</strong>do com a quali<strong>da</strong>de do t<strong>em</strong>po, do<br />

espaço e <strong>da</strong>s intervenções propostas. Os formadores dev<strong>em</strong> se preocupar <strong>em</strong> promover<br />

interações e diálogos significativos que instigu<strong>em</strong> os participantes a se rever e buscar mais<br />

conhecimentos. Os autores concor<strong>da</strong>m que as mu<strong>da</strong>nças não dev<strong>em</strong> ser impostas, mas<br />

também não é aceitável ficar esperando que a necessi<strong>da</strong>de de mu<strong>da</strong>nça surja espontaneamente<br />

por parte dos professores. Daí a d<strong>em</strong>an<strong>da</strong> <strong>da</strong> mediação, provocando reflexões, subsidiando a<br />

construção de conhecimentos e interações que lev<strong>em</strong> o corpo docente a se conscientizar dos<br />

probl<strong>em</strong>as e se comprometer com a edificação coletiva de possibili<strong>da</strong>des de solução<br />

contextualiza<strong>da</strong>s.<br />

relevante:<br />

Na mesma perspectiva, Hoffmann (2009, p. 124) assinala outro apontamento<br />

[...] não serão mu<strong>da</strong>nças <strong>em</strong> estatutos ou regimentos que provocarão a toma<strong>da</strong> de<br />

consciência dos educadores <strong>sobre</strong> o significado dessa prática. É necessária a<br />

abertura a novas condutas a partir de investigações sérias que lev<strong>em</strong> outros<br />

professores a acreditar que é possível. E ampliar o círculo! Nesse sentido é urgente<br />

o relato de experiências que persigam esses princípios e revel<strong>em</strong> se vale à pena<br />

tentar tal prática diferencia<strong>da</strong>.<br />

60


Entretanto, sabe-se que tais mu<strong>da</strong>nças não são fáceis de ser alcança<strong>da</strong>s. Compreende-<br />

se que um probl<strong>em</strong>a identificado nas iniciativas de formação continua<strong>da</strong> é a resistência à<br />

mu<strong>da</strong>nça, expressa por muitos professores. Eles ficam presos à força de conceitos e<br />

experiências ti<strong>da</strong>s anteriormente, sent<strong>em</strong>-se pouco à vontade quanto a sua forma de avaliar e,<br />

ao mesmo t<strong>em</strong>po, resist<strong>em</strong>, julgando que as propostas são delirantes, inviáveis e implicam<br />

grande dispêndio de t<strong>em</strong>po para ser<strong>em</strong> coloca<strong>da</strong>s <strong>em</strong> prática (VASCONCELOS, 2003;<br />

HOFFMANN, 2009).<br />

Compreende-se essa reali<strong>da</strong>de como falta de conhecimento <strong>sobre</strong> a avaliação como<br />

processo formativo, que parece não ter representado eco na prática pe<strong>da</strong>gógica dos<br />

professores no contexto brasileiro. Os professores, ao desenvolver<strong>em</strong> o processo de ensino e<br />

aprendizag<strong>em</strong>, ain<strong>da</strong> avaliam de modo a favorecer a lógica <strong>da</strong> avaliação que mensura,<br />

seleciona, aprova e reprova os alunos, vista como objeto final do trabalho docente.<br />

Pautando-se <strong>em</strong> Luckesi (2005), entende-se também que é importante considerar que<br />

essa visão <strong>da</strong> prática avaliativa é resultante <strong>da</strong> concepção tradicional de ensino e<br />

aprendizag<strong>em</strong>, é uma compreensão historicamente construí<strong>da</strong> que permanece no cenário<br />

educacional s<strong>em</strong> muita reflexão <strong>sobre</strong> sua influência e importância no processo de formação<br />

dos alunos. Na concepção de Pereira (2006, p.40), isso leva às seguintes ações:<br />

Avaliamos sim, s<strong>em</strong> ao menos sabermos o que é. E muitas vezes nos silenciamos<br />

frente às incertezas do como, por que e para que avaliar. Olhar para a avaliação que<br />

acontece no interior <strong>da</strong> sala de aula s<strong>em</strong> nos restringirmos aos aspectos técnicos que<br />

tentam congelar esse fenômeno exige dos profissionais <strong>da</strong> educação o exercício do<br />

olhar mais detalhado para a escola e para a socie<strong>da</strong>de <strong>em</strong> que se encontra inserido.<br />

Conforme diferentes autores 14 , a lógica do sist<strong>em</strong>a educacional indica uma<br />

compreensão difusa <strong>da</strong> avaliação que, mesmo considerando a necessi<strong>da</strong>de de avaliar<br />

processualmente, ain<strong>da</strong> usa a classificação dos alunos por meio do processo <strong>da</strong> avaliação <strong>da</strong><br />

aprendizag<strong>em</strong>. Dessa maneira, acaba causando equívocos que são d<strong>em</strong>onstrados na prática<br />

pe<strong>da</strong>gógica dos professores que realizam a avaliação, priorizando a reprodução de<br />

conhecimentos e a verificação de resultados finais que limitam o desenvolvimento dos alunos<br />

nos âmbitos escolares e na vi<strong>da</strong> social.<br />

Perrenoud (1999) compl<strong>em</strong>enta essa discussão apresentando outros obstáculos à<br />

construção de um projeto de avaliação formativa nos âmbitos escolares:<br />

- pouca familiari<strong>da</strong>de dos professores com os processos de aprendizag<strong>em</strong>, raramente durante<br />

sua formação os professores estu<strong>da</strong>m as teorias psicológicas que permit<strong>em</strong> a apreensão <strong>da</strong><br />

14 HOFFMANN (1993, 2004, 2009); LIMA (1994); DIAS SOBRINHO (2003); ESTEBAN (2002, 2008);<br />

LUCKESI (2005); VASCONCELOS (2003); PEREIRA (2006); PADERES (2007), entre outros.<br />

61


noção de aprendizag<strong>em</strong> dos alunos, e mesmo quando os docentes têm contato com esses<br />

conhecimentos teóricos, o ensino é realizado de maneira abstrata, o que pouco colabora para<br />

compreender o que se passa no processo de aprendizag<strong>em</strong>, dificultando a regulação contínua<br />

realiza<strong>da</strong> na avaliação formativa;<br />

- falta de t<strong>em</strong>po do professor, aliado aos diversos probl<strong>em</strong>as manifestados no trabalho com os<br />

alunos, o que exige dele a toma<strong>da</strong> de decisões no decorrer <strong>da</strong> aula, fazendo com que seu<br />

t<strong>em</strong>po se fragmente, ocasionando a sua dispersão, o que t<strong>em</strong> efeitos na regulação <strong>da</strong>s<br />

aprendizagens, pois os momentos para realizar a avaliação e fornecer feedback acabam não<br />

sendo suficient<strong>em</strong>ente b<strong>em</strong> desenvolvidos;<br />

- excessiva importância atribuí<strong>da</strong> pelos professores à regulação <strong>da</strong>s tarefas e ao controle do<br />

trabalho dos alunos, quando se deveria priorizar o processo, e não o produto, atentando para a<br />

progressão dos discentes nas tarefas e tentando compreender o cerne <strong>da</strong>s dificul<strong>da</strong>des<br />

manifesta<strong>da</strong>s.<br />

Percebe-se que a busca de uma melhor intervenção profissional no que diz respeito ao<br />

processo de avaliação apresenta-se como tarefa complexa para encontrar uma solução<br />

imediata para todos os probl<strong>em</strong>as manifestados. Em contraparti<strong>da</strong>, entende-se que Pereira,<br />

(2006, p. 73) assinala que “é preciso assumir uma atitude de modéstia, de humil<strong>da</strong>de, de<br />

perseverança e paciência com a convicção de que não há probl<strong>em</strong>as que não possam ser<br />

resolvidos”.<br />

Após a revisão de literatura apresenta<strong>da</strong> nesta parte do estudo, ficou claro que no<br />

processo avaliativo é importante compreender as características dos alunos. Ou seja, é preciso<br />

ter claro que o modo como eles pensam e ag<strong>em</strong> resulta <strong>da</strong> apropriação de formas culturais de<br />

ação e pensamento que adquiriram <strong>em</strong> suas experiências de vi<strong>da</strong>. Por esse motivo é<br />

fun<strong>da</strong>mental conhecê-los b<strong>em</strong> e considerá-los como seres únicos. Quando isso é levado <strong>em</strong><br />

conta há a preocupação do professor <strong>em</strong> desenvolver ativi<strong>da</strong>des diversifica<strong>da</strong>s para<br />

cont<strong>em</strong>plar essas diferenças individuais.<br />

Outro ponto considerado importante na avaliação é estimular o aluno a participar,<br />

autoavaliando-se e <strong>da</strong>ndo sua opinião nas avaliações coletivas, além de colaborar com a<br />

construção dos critérios de avaliação. Com isso, o professor acentua a importância <strong>da</strong> reflexão<br />

<strong>sobre</strong> o processo vivido e ressalta a parcela de responsabili<strong>da</strong>de dos alunos <strong>sobre</strong> o próprio<br />

processo de aprendizag<strong>em</strong>.<br />

Esses pressupostos são derivações do conceito de avaliação, que propõ<strong>em</strong> buscar um<br />

conhecimento aprofun<strong>da</strong>do <strong>sobre</strong> o processo de ensino, atribuindo significados às<br />

informações que são colhi<strong>da</strong>s no cotidiano (escolar, social, cultural) dos alunos. Nesse<br />

62


contexto posiciona-se a favor <strong>da</strong> ideia <strong>da</strong> avaliação também vista como meio de verificação de<br />

fatos observados <strong>em</strong> aula, produzindo juízos de valor a partir deles.<br />

Do mesmo modo, considerou interessante nas preconizações expostas que vários<br />

aspectos mencionados situam-se no paradigma <strong>da</strong> avaliação qualitativa, o qual é considerado<br />

neste estudo o mais adequado para desenvolver a prática avaliativa no contexto escolar, pois<br />

evidencia a perspectiva de praticar a avaliação atribuindo valores, mais do que somente medir<br />

o processo de aprendizag<strong>em</strong> dos alunos.<br />

Posiciona-se, portanto, a favor de vários dos pressupostos expostos na proposta <strong>da</strong><br />

avaliação formativa porque se apresentou como um caminho interessante para promover<br />

mu<strong>da</strong>nças na prática avaliativa dos professores, uma vez que entende a busca de indícios<br />

como possibili<strong>da</strong>de para desenvolver técnicas adequa<strong>da</strong>s para avaliar nessa perspectiva, uma<br />

vez que buscar sinais e vestígios no processo de avaliação permite estimar o valor por meio de<br />

um processo de interpretação de <strong>da</strong>dos colhidos, que proporcion<strong>em</strong> “indícios valiosos para o<br />

reconhecimento <strong>da</strong> quali<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s competências que representam os avaliados” (MACHADO,<br />

1993, p. 14).<br />

Por esse prisma, o que se considera significativo nessa proposta é entender o ato de<br />

avaliar se distanciando <strong>da</strong> busca de aprendizagens e dificul<strong>da</strong>des expressas por meio de<br />

conhecimentos vistos como ver<strong>da</strong>des absolutas. Passa a procurar vestígios que apont<strong>em</strong><br />

explicações <strong>sobre</strong> os sinais deixados pelos alunos no processo de ensino e aprendizag<strong>em</strong>, <strong>em</strong><br />

que se torna fun<strong>da</strong>mental manter o olhar atento para as experiências cotidianas, refletir <strong>sobre</strong><br />

elas e identificar os indicadores que permitam ver além do imediatamente perceptível,<br />

identificando possibili<strong>da</strong>des ain<strong>da</strong> não explora<strong>da</strong>s (ESTEBAN, 2008).<br />

Portanto, pode-se pontuar que a análise dos estudos cont<strong>em</strong>porâneos publicados no<br />

contexto educacional aponta a vali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> proposta <strong>da</strong> avaliação formativa, cont<strong>em</strong>plando os<br />

pressupostos do paradigma qualitativo e experimental. Tal proposta explicita novas<br />

possibili<strong>da</strong>des para o professor que atua na Educação Básica avaliar os avanços e as<br />

dificul<strong>da</strong>des dos alunos. Recomen<strong>da</strong>-se que a avaliação seja realiza<strong>da</strong> como um processo<br />

articulado e com orientação dialógica, que pressupõe inclusão e multiplici<strong>da</strong>de de saberes.<br />

Com isso, a proposta oferece visibili<strong>da</strong>de para as análises subjetivas, que dev<strong>em</strong> ser<br />

incorpora<strong>da</strong>s no processo <strong>da</strong> avaliação formativa, já que as conclusões <strong>sobre</strong> o que é certo e<br />

errado no processo de ensino e aprendizag<strong>em</strong> dev<strong>em</strong> ser relativiza<strong>da</strong>s e continuamente<br />

interroga<strong>da</strong>s, procurando entender a lógica do aluno.<br />

Na mesma direção, Machado (2000) expõe que é importante, quando se t<strong>em</strong> intenção<br />

de trabalhar com a avaliação formativa, considerar a tolerância como um valor essencial a ser<br />

63


cultivado nas práticas escolares. Segundo o autor, o professor, ao identificar os sinais de<br />

aprendizag<strong>em</strong> e dificul<strong>da</strong>des dos alunos, precisa li<strong>da</strong>r diretamente com a capaci<strong>da</strong>de de<br />

perceber o outro <strong>em</strong> suas potenciali<strong>da</strong>des e <strong>em</strong> sua capaci<strong>da</strong>de para aprender. Desse modo, o<br />

autor propõe que a tolerância pode ser compreendi<strong>da</strong> <strong>em</strong> três níveis: o primeiro se refere à<br />

necessi<strong>da</strong>de de tomar conhecimento <strong>da</strong> existência do outro; o segundo é o ato de reconhecer<br />

que as pessoas são diferentes umas <strong>da</strong>s outras, abdicando <strong>da</strong> intenção primária de traduzi-las<br />

ou convertê-las nas suas próprias concepções e referenciais; e o terceiro estabelece relação<br />

com as duas acepções anteriores, assinalando a necessi<strong>da</strong>de de respeitar o outro como ser<br />

humano, com to<strong>da</strong>s as suas características e potenciais. A esse respeito, Machado (2000, p.<br />

91) esclarece:<br />

Para tanto, mais do que uma avaliação do outro que seja determina<strong>da</strong> de modo<br />

absoluto pelas categorias de análise, pelos valores do professor, mais do que uma<br />

intenção de redução <strong>da</strong> aprendizag<strong>em</strong> do aluno ao seu sist<strong>em</strong>a de referência, é<br />

preciso a confiança no acordo por meio do discurso, nas ações orienta<strong>da</strong>s ao<br />

entendimento, nas possibili<strong>da</strong>des de uma compreensão mútua, de uma fusão de<br />

horizontes, no que se refere à partilha de significações.<br />

Mediante essa exposição, percebe-se que os processos de avaliação escolar vêm<br />

carecendo <strong>da</strong> conscientização <strong>sobre</strong> a importância dessa tolerância. Faltam conhecimentos aos<br />

professores que ajud<strong>em</strong> a entender a relevância desse valor como aliado na manutenção<br />

permanente dos canais de percepção, principalmente nos momentos <strong>em</strong> que se angariam os<br />

indícios de aprendizagens e as dificul<strong>da</strong>des dos alunos nas <strong>aulas</strong>.<br />

Sendo assim, considera-se que conhecer os pressupostos <strong>da</strong> perspectiva de avaliação<br />

formativa pode melhorar o processo de avaliação realizado pelos professores. Porém, isso só<br />

será conseguido se for oferecido aos docentes um processo de formação adequado, que<br />

oportunize a reflexão aprofun<strong>da</strong><strong>da</strong> e fun<strong>da</strong>menta<strong>da</strong> <strong>em</strong> teorias <strong>sobre</strong> a prática avaliativa. É<br />

somente a criação de condições espaciais, t<strong>em</strong>porais, materiais e dialógicas desenvolvi<strong>da</strong>s <strong>em</strong><br />

propostas de formação inicial e continua<strong>da</strong> que poderá mobilizar as mu<strong>da</strong>nças necessárias na<br />

prática pe<strong>da</strong>gógica dos professores <strong>em</strong> geral. É preciso que nessas iniciativas o docente seja<br />

levado ao exercício <strong>da</strong> reflexão antes, durante e depois <strong>da</strong> aplicação de propostas para que a<br />

compreensão <strong>da</strong> importância <strong>da</strong> avaliação formativa seja incorpora<strong>da</strong> às suas práticas<br />

escolares de maneira consciente e autônoma.<br />

Em linhas gerais mediante tudo o que foi visto nesta parte <strong>da</strong> revisão de literatura,<br />

observou-se que a avaliação educacional v<strong>em</strong> sendo amplamente discuti<strong>da</strong> por teóricos,<br />

s<strong>em</strong>pre <strong>em</strong> busca de uma solução para torná-la viável na escola. Além disso, ela influenciou<br />

64


to<strong>da</strong>s as áreas do conhecimento escolar e, como não poderia deixar de ser, marcou também a<br />

Educação Física escolar <strong>em</strong> seu processo histórico.<br />

Para compreender o processo <strong>da</strong> avaliação, considerou-se importante levantar os<br />

indicadores <strong>da</strong>s principais correntes pe<strong>da</strong>gógicas <strong>da</strong> Educação Física escolar, analisando suas<br />

propostas de avaliação, assim como os apontamentos <strong>sobre</strong> avaliação contidos nos<br />

documentos oficiais (Parâmetros Curriculares <strong>da</strong> Educação Física, a Proposta Curricular do<br />

Estado de São Paulo) e a produção científica de artigos que abor<strong>da</strong>m a prática avaliativa do<br />

professor <strong>da</strong> área, os quais permitirão a compreensão <strong>sobre</strong> como o processo de avaliação foi<br />

e é tratado nessa disciplina.<br />

2.3 A avaliação na Educação Física escolar<br />

Apesar <strong>da</strong> importância do processo de avaliação <strong>da</strong> aprendizag<strong>em</strong> se apresentar de<br />

forma intrínseca à complexi<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s ações realiza<strong>da</strong>s na escola, no capítulo anterior<br />

observou-se que esse processo, frequent<strong>em</strong>ente, é desenvolvido por meio de práticas<br />

caracteriza<strong>da</strong>s pela classificação dos saberes dos alunos e finaliza<strong>da</strong>s pela atribuição <strong>da</strong> nota.<br />

Percebeu-se que essa lógica acaba trazendo consequências <strong>sobre</strong> a percepção que o estu<strong>da</strong>nte<br />

t<strong>em</strong> de si como “aprendiz” ou “não aprendiz”, o que afeta a sua noção de competência<br />

(HOFFMANN, 1993, 2004, 2009; ESTEBAN, 2002, 2008; VASCONCELOS, 2003).<br />

Esses probl<strong>em</strong>as relativos à prática avaliativa ain<strong>da</strong> aparec<strong>em</strong> <strong>em</strong> muitas escolas<br />

brasileiras, razão por que vários autores advert<strong>em</strong> para a necessi<strong>da</strong>de de se discutir a<br />

avaliação, a fim de promover conhecimentos a respeito do conjunto de inquietações que o<br />

t<strong>em</strong>a origina, como, por ex<strong>em</strong>plo: o que é preciso avaliar, como se deve avaliar, que<br />

resultados dev<strong>em</strong> ser apurados, como apurar os resultados, <strong>em</strong> que momento isso deve<br />

ocorrer, como planejar um instrumento de avaliação capaz de contribuir no processo de<br />

aprendizag<strong>em</strong> do aluno, como comunicar os resultados aos alunos e responsáveis (ZABALA,<br />

1994; COLL, 2001; VASCONCELOS, 2003).<br />

No que se refere à prática pe<strong>da</strong>gógica dos docentes de Educação Física, percebe-se<br />

que o processo de avaliação também está cercado dessas in<strong>da</strong>gações.<br />

Esse panorama decorre, muitas vezes, <strong>da</strong> limita<strong>da</strong> fun<strong>da</strong>mentação teórica e prática<br />

<strong>sobre</strong> a t<strong>em</strong>ática <strong>da</strong> avaliação <strong>da</strong> aprendizag<strong>em</strong> na área. É necessária, portanto, uma base de<br />

conhecimentos que ajude, efetivamente, a melhorar a compreensão, por parte dos professores<br />

de Educação Física, <strong>sobre</strong> a importância <strong>da</strong> avaliação nos processos de ensino e de<br />

aprendizag<strong>em</strong>, tendo <strong>em</strong> vista levar os docentes compreender<strong>em</strong> os sentidos para a presença<br />

<strong>da</strong> prática avaliativa no processo de aprendizag<strong>em</strong> dos alunos (SOUZA, 2010).<br />

65


Observa-se, num primeiro olhar, que no cotidiano <strong>da</strong>s <strong>aulas</strong> de Educação Física essa<br />

falta de conhecimentos geram incertezas e são traduzi<strong>da</strong>s no processo de avaliação por meio<br />

de práticas que não se preocupam <strong>em</strong> explicar o que foi avaliado n<strong>em</strong> defin<strong>em</strong> claramente os<br />

juízos de valor que serão considerados para atribuir o conceito satisfatório ou insatisfatório<br />

<strong>sobre</strong> o resultado <strong>da</strong>s aprendizagens construí<strong>da</strong>s pelos alunos. O que parece é que a avaliação<br />

<strong>da</strong> aprendizag<strong>em</strong> é desenvolvi<strong>da</strong> de maneira descompromissa<strong>da</strong>, vista como uma norma<br />

burocrática que não apresenta indicadores consistentes para professor e aluno entender<strong>em</strong> o<br />

que, como e quanto foi aprendido no processo de ensino.<br />

Para modificar essas práticas e os efeitos já mencionados que nelas pod<strong>em</strong>-se<br />

considerar indesejáveis, faz-se necessário aprofun<strong>da</strong>r a compreensão <strong>sobre</strong> as questões que<br />

envolv<strong>em</strong> o processo de avaliação na Educação Física, levando <strong>em</strong> conta as particulari<strong>da</strong>des<br />

<strong>da</strong> herança histórica <strong>da</strong> área, as características dos contextos escolares, a experiência dos<br />

docentes <strong>da</strong> área e a literatura pertinente ao t<strong>em</strong>a. Essa possibili<strong>da</strong>de se apresenta como<br />

promissora para entender os motivos que levam os professores a enfrentar dificul<strong>da</strong>des para<br />

desenvolver o processo de avaliação <strong>em</strong> suas <strong>aulas</strong>. Além disso, são necessários mais estudos<br />

e vivências de práticas avaliativas contextualiza<strong>da</strong>s com a especifici<strong>da</strong>de dessa área de<br />

conhecimento, com as características <strong>da</strong>s experiências prévias dos professores e dos alunos<br />

inseridos nos distintos níveis de Ensino Básico, assim como com as peculiari<strong>da</strong>des <strong>da</strong>s<br />

instituições escolares públicas e particulares.<br />

Sendo assim, apresenta-se como relevante, situar aspectos <strong>sobre</strong> o contexto histórico<br />

<strong>da</strong> avaliação na Educação Física escolar para delinear a visão <strong>sobre</strong> as práticas de avaliação<br />

des<strong>em</strong>penha<strong>da</strong>s pelos professores <strong>da</strong> área.<br />

Figura 01: Evolução <strong>da</strong> avaliação na Educação Física escolar.<br />

66


A partir do séc. XX<br />

1940 à 1969<br />

Método Francês<br />

e Método Desportivo<br />

Generalizado<br />

<strong>Avaliação</strong> por meio de testes<br />

1970<br />

Após<br />

Regime Militar<br />

Popham e Tyler= av. por<br />

objetivos.<br />

EVOLUÇÃO DA AVALIAÇÃO<br />

1980<br />

Ed. Psicomotora,<br />

Abor<strong>da</strong>g<strong>em</strong><br />

Desenvolvimentista<br />

observação sist<strong>em</strong>ática do<br />

comportamento motor<br />

A partir de 1990<br />

Final de 1980<br />

Abor<strong>da</strong>g<strong>em</strong><br />

Tendência Humanista<br />

Crítica Superadora;<br />

Abor<strong>da</strong>g<strong>em</strong> Construtivista<br />

PCN;<br />

Nota-se que <strong>em</strong> meados do século XX, as propostas de trabalho do Método Francês e<br />

do Método Desportivo Generalizado (MDG) tinham a ginástica como conteúdo e adotavam os<br />

princípios eugenistas e higienistas <strong>da</strong> época. Essas propostas levaram a um ensino centrado na<br />

figura do professor e com pouco significado para os alunos.<br />

O Método Francês apresentava como conteúdo os jogos, exercícios educativos,<br />

esportes individuais e coletivos. A metodologia de ensino oferecia o mesmo tratamento a<br />

todos os alunos, ou seja, as diferenças individuais não eram considera<strong>da</strong>s e os estu<strong>da</strong>ntes<br />

deveriam executar as propostas de aula s<strong>em</strong> questionar. O processo de avaliação métodos<br />

pautava-se <strong>em</strong> testes padronizados com tabelas que apresentavam <strong>da</strong>dos anátomo-fisiológicos<br />

como critérios para a obtenção de resultados de medi<strong>da</strong>s biométricas (SOUZA, 1993;<br />

DARIDO, 1999).<br />

O Método Desportivo Generalizado, de acordo com Betti (1991), originou-se <strong>da</strong><br />

proposta de August Listello, na déca<strong>da</strong> de 40. O método tinha como conteúdo o esporte e o<br />

jogo; a metodologia de ensino se baseava <strong>em</strong> uma sequência padroniza<strong>da</strong> de aula. O processo<br />

de avaliação considerava o des<strong>em</strong>penho motor, que era testado e medido, utilizando-se como<br />

parâmetro tabelas construí<strong>da</strong>s por especialistas.<br />

É possível observar que as duas perspectivas expostas ain<strong>da</strong> frequentam a concepção e<br />

a prática de muitos professores de Educação Física. No entanto, elas pod<strong>em</strong> ser entendi<strong>da</strong>s<br />

como limita<strong>da</strong>s para ser<strong>em</strong> segui<strong>da</strong>s no atual contexto sócio, político e educacional <strong>em</strong> que<br />

viv<strong>em</strong>os, uma vez que segu<strong>em</strong> um modelo de avaliação que se concretiza por meio de<br />

normas, tabelas e padrões aplicados de forma descontextualiza<strong>da</strong>, homogeneizando a<br />

observação do comportamento dos alunos.<br />

Enfoque qualitativo<br />

cont<strong>em</strong>plando todos os aspectos<br />

do processo de ensino e<br />

aprendizag<strong>em</strong><br />

Enfoque qualitativo e formativo<br />

Superação do sentido<br />

descritivo e diagnóstico;<br />

Vincula<strong>da</strong> ao projeto pe<strong>da</strong>gógico e<br />

proc. de ensino e aprendizag<strong>em</strong><br />

67


Nas déca<strong>da</strong>s de 60 e 70, o esporte ganhou força no contexto escolar, passando a ser<br />

encarado pelas elites governamentais como promotor <strong>da</strong> nação frente ao mundo. O conteúdo<br />

<strong>da</strong>s <strong>aulas</strong> era técnico-desportivo. A metodologia de ensino seguia o modelo pirami<strong>da</strong>l, <strong>em</strong> que<br />

os níveis mais altos depend<strong>em</strong> de níveis mais baixos. Os instrumentos de avaliação consistiam<br />

<strong>em</strong> testes de competência técnica e física que valorizavam os mais hábeis e excluíam os que<br />

não obtinham sucesso nas práticas.<br />

Santos (2003) realizou um estudo, no contexto <strong>da</strong> Educação Física escolar, <strong>sobre</strong> os<br />

principais referenciais teóricos a respeito <strong>da</strong> avaliação veicula<strong>da</strong> nos periódicos de 1930 a<br />

2000. Identificou como referencial teórico na produção de 1960 a 1970 os estudos de Pophan<br />

e Tyler, com a proposta <strong>da</strong> avaliação por objetivos. Tal proposta se manifestou <strong>em</strong> autores <strong>da</strong><br />

área como Singer e Dick (1980). Eles reconheciam a necessi<strong>da</strong>de de considerar a<br />

individuali<strong>da</strong>de dos alunos, porém defendiam o processo quantitativo de avaliação, baseado<br />

nos objetivos de ensino. O professor de Educação Física evidenciava os comportamentos que<br />

estavam se modificando nos alunos, utilizando instrumentos de testag<strong>em</strong> referenciados pelos<br />

domínios <strong>da</strong> aprendizag<strong>em</strong> cognitiva, afetiva, psicomotora e social. Esse referencial teórico<br />

ratificava avanços na concepção de ensino e aprendizag<strong>em</strong>, no que diz respeito à formulação<br />

de objetivos didático-pe<strong>da</strong>gógicos, fun<strong>da</strong>mentando-se <strong>em</strong> diferentes domínios (cognitivo,<br />

afetivo, psicomotor e social). No entanto, ain<strong>da</strong> se limitava à ideia de avaliar comportamentos<br />

fáceis de observar e passíveis de ser mensurados com instrumentos de verificação.<br />

Ao se comparar o Método Esportivo com os resultados do estudo de Santos (2003),<br />

encontram-se contradições. Os periódicos especializados estimavam a necessi<strong>da</strong>de de<br />

estabelecer objetivos com base nos diferentes domínios do conhecimento, mas o Método<br />

Esportivo <strong>da</strong>va ênfase, exclusivamente, ao aspecto <strong>da</strong> competência técnica motora. Isso<br />

d<strong>em</strong>onstra que os avanços <strong>da</strong> avaliação na Educação Física escolar ficaram mais no campo<br />

teórico do que no prático.<br />

Observa-se, até esse momento, que a avaliação seguiu o caminho percorrido pelas<br />

d<strong>em</strong>ais áreas <strong>da</strong> Educação, priorizando os testes com padrões de aprendizag<strong>em</strong><br />

preestabelecidos e tabelas de quantificação para evitar a subjetivi<strong>da</strong>de na comparação dos<br />

resultados.<br />

Foi a partir de 1980, com influência <strong>da</strong>s ciências humanas, que se passou a questionar<br />

a ênfase às padronizações de des<strong>em</strong>penho que sustentava a perspectiva de avaliação do<br />

Método Esportivo. Nesse contexto, o estudo do corpo humano e sua ação motora recebeu<br />

contribuições <strong>da</strong> psicologia, sociologia e história.<br />

68


Le Boulch (1986) e Vayer (1977) destacaram-se com sua proposta de educação<br />

psicomotora, fun<strong>da</strong>mental para a Educação Física escolar repensar as concepções vigentes. A<br />

educação psicomotora caracterizava-se por considerar que o bom desenvolvimento motor<br />

poderia auxiliar as capaci<strong>da</strong>des cognitivas, como o aprendizado <strong>da</strong> escrita e <strong>da</strong> leitura. O<br />

processo de avaliação utilizava a observação do movimento, com foco nos processos<br />

cognitivo e sócio-afetivo necessários à execução do ato motor.<br />

Houve, assim, um grande interesse pelo desenvolvimento motor por parte dos<br />

professores de Educação Física. Dentre as correntes teóricas surgi<strong>da</strong>s com base nesse prisma<br />

destaca-se a abor<strong>da</strong>g<strong>em</strong> desenvolvimentista, que trouxe el<strong>em</strong>entos <strong>da</strong>s teorias do<br />

desenvolvimento humano e <strong>da</strong>s subáreas de aprendizag<strong>em</strong> motora e desenvolvimento motor, a<br />

qual será explica<strong>da</strong> de forma detalha<strong>da</strong> mais a frente na discussão deste capítulo.<br />

Outra fonte histórica que marca mu<strong>da</strong>nças conceituais na área é a publicação de Freire<br />

(1989), <strong>em</strong> que o autor assinala uma compreensão não-punitiva <strong>da</strong> avaliação, associa<strong>da</strong> ao<br />

processo pe<strong>da</strong>gógico. Pondera, além do aspecto motor, a importância de apreciar outras<br />

dimensões <strong>da</strong> aprendizag<strong>em</strong> humana como as relações interpessoais e o crescimento do aluno.<br />

Enfatiza a possibili<strong>da</strong>de <strong>da</strong> avaliação do desenvolvimento do grupo e <strong>da</strong> autoavaliação num<br />

processo que permita ao aluno participar do próprio processo avaliativo.<br />

É perceptível que no fim <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> de 80 os debates <strong>em</strong> torno <strong>da</strong> renovação <strong>da</strong><br />

Educação Física escolar no Brasil ampliaram o quadro de referenciais teóricos, assimilando<br />

mais os aportes oriundos <strong>da</strong>s ciências sociais e humanas.<br />

Na déca<strong>da</strong> de 90, <strong>em</strong>bora tenham aparecido outras sugestões para desenvolver a<br />

avaliação nas <strong>aulas</strong> de Educação Física escolar, destaca-se a perspectiva teórica Crítica<br />

Superadora, que recebeu influência específica <strong>da</strong> filosofia, história e sociologia 15 . Considera-<br />

se neste estudo a abor<strong>da</strong>g<strong>em</strong> que aponta possibili<strong>da</strong>des para a construção de uma visão de<br />

avaliação formativa na área, por apresentar uma proposta mais sist<strong>em</strong>atiza<strong>da</strong> de avaliação.<br />

Encontra-se nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) de Educação Física aa<br />

afirmação <strong>da</strong> superação de uma concepção até então dominante na área que, "[...] por suas<br />

origens militares e médicas e por seu atrelamento quase servil aos mecanismos de manutenção<br />

do status quo vigente na história brasileira",(BRASIL, 1997, p.25) restringiram os conceitos<br />

de corpo e movimento aos seus aspectos fisiológicos e técnicos. Nessa perspectiva a postura<br />

do professor com relação à avaliação dos alunos baseia-se na compreensão <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de,<br />

15 A obra Metodologia do ensino de educação física organiza<strong>da</strong> por SOARES, C.L.; TAFFAREL, C.N.Z.;<br />

VARJAL, E.; CASTELLANI FILHO, L.; ESCOBAR, M.O.; BRACHT, V. é uma <strong>da</strong>s principais publicações<br />

nessa linha teórica.<br />

69


considerando as particulari<strong>da</strong>des do contexto histórico, social e cultural <strong>em</strong> que os alunos<br />

estão inseridos. De maneira geral, o foco <strong>da</strong> avaliação se volta para os resultados recolhidos<br />

no processo de ensino e aprendizag<strong>em</strong> e para a promoção <strong>da</strong> formação humana do aluno.<br />

Na busca de novos sentidos para a avaliação na Educação Física escolar, optou-se na<br />

continui<strong>da</strong>de desta parte do estudo recorrer primeiramente às pr<strong>em</strong>issas de algumas<br />

abor<strong>da</strong>gens pe<strong>da</strong>gógicas na área, tais como: a desenvolvimentista, a construtivista, a sistêmica<br />

e a crítico-superadora, que preconizam possibili<strong>da</strong>des de desenvolver vivências corporais,<br />

formas de ensinar e avaliar no processo educacional vigente nessa área de conhecimento. O<br />

objetivo é investigar as contribuições dessas abor<strong>da</strong>gens para identificar aspectos <strong>sobre</strong> o<br />

assunto avaliação no processo de ensino e aprendizag<strong>em</strong> <strong>em</strong> Educação Física escolar, o qual<br />

permitirá avançar na compreensão do assunto.<br />

Com relação à abor<strong>da</strong>g<strong>em</strong> desenvolvimentista, suas preconizações trouxeram<br />

el<strong>em</strong>entos <strong>da</strong>s teorias do desenvolvimento humano e <strong>da</strong>s subáreas de aprendizag<strong>em</strong> e<br />

desenvolvimento motor. Nas discussões <strong>em</strong>preendi<strong>da</strong>s na Educação Física brasileira, essa<br />

abor<strong>da</strong>g<strong>em</strong> situa-se na publicação de 1988, Educação Física escolar: fun<strong>da</strong>mentos de uma<br />

abor<strong>da</strong>g<strong>em</strong> desenvolvimentista, de Tani, Manoel, Kokubun e Proença. A fun<strong>da</strong>mentação<br />

teórica dessa obra se apoia no princípio <strong>da</strong> análise do desenvolvimento infantil, considerando<br />

a maturação e as características individuais dos alunos. Os autores se baseiam na taxonomia<br />

de Gallahue (1982), a fim de estabelecer as seguintes fases: movimentos fetais, movimentos<br />

espontâneos e reflexos, movimentos rudimentares, movimentos fun<strong>da</strong>mentais, combinação de<br />

movimentos fun<strong>da</strong>mentais e movimentos culturalmente determinados.<br />

A avaliação não é uma t<strong>em</strong>ática discuti<strong>da</strong> nessa publicação, mas as considerações a<br />

respeito dos parâmetros que caracterizam a progressão normal do crescimento físico e do<br />

desenvolvimento mediante observação sist<strong>em</strong>ática do comportamento motor pod<strong>em</strong><br />

assessorar a avaliação <strong>da</strong> prática pe<strong>da</strong>gógica do professor no sentido de verificar a adequação<br />

dos conteúdos ao longo <strong>da</strong>s faixas etárias e compreender o erro do aluno como algo<br />

fun<strong>da</strong>mental para que ele possa atingir outro grau de desenvolvimento. Por isso, o professor<br />

t<strong>em</strong> de conhecer muito b<strong>em</strong> ca<strong>da</strong> fase de desenvolvimento, a fim de fazer a avaliação <strong>da</strong>s<br />

habili<strong>da</strong>des básicas, buscando saber, por meio de trabalhos motores, <strong>em</strong> qual estágio (inicial,<br />

el<strong>em</strong>entar ou maduro) o aluno se encontra. Considera-se nessa obra que só assim o docente<br />

poderá ser coerente <strong>em</strong> sua análise do des<strong>em</strong>penho do aluno.<br />

Entretanto, dois artigos relacionados a esse enfoque d<strong>em</strong>onstram a preocupação de<br />

desvelar as intenções educacionais <strong>da</strong> abor<strong>da</strong>g<strong>em</strong> desenvolvimentista, apontando os aspectos<br />

epist<strong>em</strong>ológicos que avançaram com os estudos desses autores nessas duas últimas déca<strong>da</strong>s.<br />

70


A publicação de Manoel nos anais do V S<strong>em</strong>inário de Educação Física escolar, realizado na<br />

EEFEUSP <strong>em</strong> 1999, e a produção científica “Abor<strong>da</strong>g<strong>em</strong> desenvolvimentista: 20 anos<br />

depois”, de Tani (2008), clarificam o que os autores consideram adequado no processo de<br />

ensino, aprendizag<strong>em</strong> e avaliação dos alunos nessa abor<strong>da</strong>g<strong>em</strong> pe<strong>da</strong>gógica.<br />

Com relação ao artigo de Tani (2008), fica uma crítica ao que o autor percebe como<br />

falta de compreensão <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de acadêmica <strong>sobre</strong> as concepções defendi<strong>da</strong>s na obra<br />

publica<strong>da</strong> <strong>em</strong> 1988. Ou seja, de maneira específica, o autor considera que o cerne <strong>da</strong>s<br />

intenções de sua produção, que já preconizava ponderações relaciona<strong>da</strong>s à perspectiva do<br />

desenvolvimento ecológico, permaneceu s<strong>em</strong> ser adequa<strong>da</strong>mente compreendido pelos leitores<br />

e estudiosos <strong>da</strong> Educação Física escolar.<br />

Tal colocação, no entanto, pode ser entendi<strong>da</strong> como um equívoco do autor, pois o<br />

artigo divulgado <strong>em</strong> Tani et. al. (1988) revela claramente que a Educação Física escolar<br />

deveria priorizar a aquisição de padrões motores. A proposta ali apresenta<strong>da</strong> se baseia num<br />

ensino fechado na sist<strong>em</strong>atização padroniza<strong>da</strong> de níveis de aprendizag<strong>em</strong> motora que<br />

deveriam ser atingidos pelos alunos, s<strong>em</strong> considerar as influências sociais e culturais, assim<br />

como as experiências prévias dos alunos na construção <strong>da</strong>s práticas pe<strong>da</strong>gógicas e observação<br />

dos resultados manifestados no processo de ensino.<br />

As ponderações de Tani (2008) <strong>sobre</strong> a presença dos pressupostos <strong>da</strong> perspectiva<br />

ecológica e sistêmica na obra de 1988 pod<strong>em</strong> ser considera<strong>da</strong>s um equívoco na medi<strong>da</strong> <strong>em</strong><br />

que se t<strong>em</strong> <strong>em</strong> vista que tais pr<strong>em</strong>issas foram construí<strong>da</strong>s nas preconizações publica<strong>da</strong>s <strong>sobre</strong><br />

a abor<strong>da</strong>g<strong>em</strong> desenvolvimentista ao longo desses vinte anos e não especificamente <strong>em</strong> Tani<br />

et. al. (1988).<br />

Assim, segundo as eluci<strong>da</strong>ções apresenta<strong>da</strong>s nos estudos atuais <strong>da</strong> abor<strong>da</strong>g<strong>em</strong><br />

desenvolvimentista (TANI, 2008), pode-se compreender que o processo de aprendizag<strong>em</strong><br />

motora dos alunos pauta-se na perspectiva <strong>da</strong> visão ecológica e sistêmica, considerando que<br />

todos os domínios do comportamento humano, como o meio ambiente e suas interações,<br />

aliados ao desenvolvimento motor, estimulam a afetivi<strong>da</strong>de, a socialização e a cognição dos<br />

alunos. Os apontamentos suger<strong>em</strong> entendimento <strong>sobre</strong> o processo de avaliação com base na<br />

investigação de indicadores de mu<strong>da</strong>nça de comportamento motor que envolvam a<br />

manifestação <strong>da</strong> aprendizag<strong>em</strong> motora, considerando a obtenção de respostas corretas nas<br />

avaliações. Sobre essa pr<strong>em</strong>issa, Tani (2008) esclarece que:<br />

Respostas erra<strong>da</strong>s são inerentes ao processo de aprendizag<strong>em</strong> motora. Existe,<br />

portanto, a necessi<strong>da</strong>de de considerá-las um el<strong>em</strong>ento importante na aprendizag<strong>em</strong><br />

e tentar utilizá-las positivamente para tornar a aprendizag<strong>em</strong> mais efetiva. O<br />

probl<strong>em</strong>a, neste caso, não é o erro <strong>em</strong> si, mas a não-compreensão do mecanismo de<br />

detecção e correção do erro. O desenvolvimento desse mecanismo é considerado de<br />

71


fun<strong>da</strong>mental importância na aprendizag<strong>em</strong> motora. (ADAMS, 1971 apud TANI,<br />

2008, p. 318)<br />

Baseando-se nas explicações do autor, a compreensão <strong>sobre</strong> como se dão os erros<br />

manifestados pelos alunos é vista como um requisito necessário para melhorar a<br />

aprendizag<strong>em</strong> motora na Educação Física escolar. Um aspecto que é passível de crítica é o<br />

fato de a correção ser basea<strong>da</strong> <strong>em</strong> padrões motores predeterminados, que leva enfocar a<br />

universali<strong>da</strong>de do desenvolvimento. Nesse sentido, ela r<strong>em</strong>ete a um tratamento homogêneo<br />

para todos os sujeitos e ao mesmo t<strong>em</strong>po focaliza o indivíduo no que concerne ao seu<br />

potencial de realização pessoal, aspecto que é analisado de forma divorcia<strong>da</strong> de questões mais<br />

amplas, como a socie<strong>da</strong>de e a cultura <strong>em</strong> que o indivíduo está inserido.<br />

Segundo Tani (2008), tais pressupostos levam a abor<strong>da</strong>g<strong>em</strong> desenvolvimentista a<br />

estabelecer como t<strong>em</strong>a central <strong>da</strong> Educação Física escolar dois tipos de aprendizag<strong>em</strong>: do<br />

movimento e através do movimento:<br />

To<strong>da</strong>via, o autor considera que:<br />

Com a aprendizag<strong>em</strong> do movimento os escolares se capacitam a mover-se numa<br />

varie<strong>da</strong>de de ativi<strong>da</strong>des motoras crescent<strong>em</strong>ente complexas, próprias do seu estágio<br />

de desenvolvimento e devi<strong>da</strong>mente inseri<strong>da</strong>s no contexto sociocultural <strong>em</strong> que<br />

viv<strong>em</strong>. Aprender a mover-se envolve ativi<strong>da</strong>des como tentar, praticar, pensar,<br />

tomar decisões, avaliar, ousar e persistir. A aprendizag<strong>em</strong> através do movimento,<br />

por sua vez, implica o uso do movimento como meio para alcançar um fim – fim<br />

não é necessariamente uma melhora na capaci<strong>da</strong>de de mover-se. (ibid<strong>em</strong>, p.319)<br />

[...] como a aprendizag<strong>em</strong> do movimento e a aprendizag<strong>em</strong> através do movimento<br />

são, na reali<strong>da</strong>de, duas faces de uma mesma moe<strong>da</strong> e, dessa forma, não pod<strong>em</strong> ser<br />

mutuamente exclusivas, a AD [Abor<strong>da</strong>g<strong>em</strong> Desenvolvimentista] espera que,<br />

como consequência de um trabalho adequado com a aprendizag<strong>em</strong> do movimento –<br />

portanto, um probl<strong>em</strong>a de natureza fun<strong>da</strong>mentalmente metodológica – também<br />

ocorra a aprendizag<strong>em</strong> através do movimento. (ibid<strong>em</strong>, p. 319, grifo meu)<br />

Desse modo, interpreta-se que a avaliação nessa abor<strong>da</strong>g<strong>em</strong> focaliza as realizações dos<br />

alunos que se dão no domínio motor, mais especificamente os erros e acertos que se refer<strong>em</strong> à<br />

aprendizag<strong>em</strong> do e <strong>sobre</strong> o movimento.<br />

Pautando-se <strong>em</strong> Manoel (1999), a avaliação na perspectiva <strong>da</strong> abor<strong>da</strong>g<strong>em</strong><br />

desenvolvimentista precisa levar <strong>em</strong> consideração que os atos de ensinar e aprender<br />

significam processos complexos, por isso torna-se relevante ponderar os pressupostos <strong>da</strong><br />

avaliação formativa, realizando “microavaliações ao longo de to<strong>da</strong> a trajetória de<br />

aprendizag<strong>em</strong>” (MANOEL, 1999, p. 25). Entretanto, o autor expõe que:<br />

Orientar a avaliação formativa para que através dela se possam obter <strong>da</strong>dos e julgar<br />

o quanto os alunos estão envolvidos nesse processo de solução de probl<strong>em</strong>as é um<br />

desafio ain<strong>da</strong> não superado pela Abor<strong>da</strong>g<strong>em</strong> Desenvolvimentista.<br />

72


O autor também apresenta outros desafios que essa abor<strong>da</strong>g<strong>em</strong> pe<strong>da</strong>gógica precisa<br />

ultrapassar para sist<strong>em</strong>atizar o processo de avaliação dos alunos:<br />

O levantamento de <strong>da</strong>dos para a avaliação envolve primordialmente a observação e<br />

o registro <strong>da</strong> realização motora num contexto prático. Os propósitos do processo de<br />

avaliação são: (1) identificar as realizações do aluno e orientar estratégias de ensino<br />

e aprendizag<strong>em</strong> futuras (avaliação formativa); (2) identificar as dificul<strong>da</strong>des de<br />

aprendizag<strong>em</strong> de forma a permitir a elaboração e impl<strong>em</strong>entação de estratégias<br />

apropria<strong>da</strong>s a esses probl<strong>em</strong>as (avaliação diagnóstica); (3) documentar as<br />

realizações de ca<strong>da</strong> aluno periodicamente (avaliação somativa); (4) facilitar a<br />

avaliação de aspectos <strong>da</strong> impl<strong>em</strong>entação do currículo <strong>da</strong> escola. [Porém, é preciso<br />

admitir que] Ain<strong>da</strong> exist<strong>em</strong> muitas dúvi<strong>da</strong>s <strong>sobre</strong> o conteúdo que vai ser avaliado<br />

na aprendizag<strong>em</strong> <strong>sobre</strong> o movimento. (ibid<strong>em</strong>, p. 25)<br />

Mauad (2003) pontua as suas críticas a respeito dos pressupostos de avaliação<br />

sugeridos na abor<strong>da</strong>g<strong>em</strong> desenvolvimentista, assinalando probl<strong>em</strong>as no uso <strong>da</strong> observação e<br />

na necessi<strong>da</strong>de de sist<strong>em</strong>atização <strong>da</strong> prática avaliativa. Segundo a autora, mesmo que Tani et.<br />

al. (1988) ponder<strong>em</strong> o valor <strong>da</strong> avaliação como feedback para o aluno, a forma como os<br />

aspectos (observação e sist<strong>em</strong>atização) são mencionados não traz suficiente esclarecimento<br />

<strong>sobre</strong> como realizar os registros avaliativos e tampouco é apontado como isso será,<br />

posteriormente, transformado <strong>em</strong> nota ou conceito. Observam-se os mesmos probl<strong>em</strong>as nas<br />

publicações de Manoel (1999) e Tani (2008).<br />

Souza (1993), Darido (1999) e Mauad (2003) também consideram que essa abor<strong>da</strong>g<strong>em</strong><br />

pe<strong>da</strong>gógica carece de clareza <strong>sobre</strong> como proceder durante o processo de avaliação. As<br />

autoras converg<strong>em</strong> para a compreensão de que seus pressupostos <strong>sobre</strong> a prática avaliativa<br />

faz<strong>em</strong> referência a uma ação que documente as realizações dos alunos de forma quantitativa.<br />

Elas entend<strong>em</strong> que isso é evidenciado quando se deparam com as sugestões expostas <strong>em</strong> Tani<br />

et. al. (1988), que assinalam o retorno dos resultados de avaliação ao aluno priorizando o<br />

processo de aquisição de padrões motores considerados adequados para ser<strong>em</strong> atingidos<br />

durante as <strong>aulas</strong>. Na concepção <strong>da</strong>s autoras essa pr<strong>em</strong>issa sinaliza a necessi<strong>da</strong>de de quantificar<br />

os erros e acertos observados durante a avaliação <strong>da</strong>s habili<strong>da</strong>des básicas.<br />

Souza (1993) compl<strong>em</strong>enta essa análise, expondo que o processo de ensino e de<br />

avaliação proposto nessa abor<strong>da</strong>g<strong>em</strong> foca a necessi<strong>da</strong>de de obtenção e fornecimento de <strong>da</strong>dos<br />

seguros <strong>sobre</strong> a aprendizag<strong>em</strong> motora dos alunos, mediante a análise <strong>da</strong>s mu<strong>da</strong>nças de<br />

comportamento observáveis. Entende-se que essa intenção pode ser compara<strong>da</strong> com as<br />

técnicas quantitativas de avaliação que têm como base os procedimentos usados nas pesquisas<br />

caracteriza<strong>da</strong>s como experimentais. Esses aspectos <strong>da</strong> avaliação indicados na abor<strong>da</strong>g<strong>em</strong><br />

desenvolvimentista apontam tendência para o caráter tecnicista e quantitativo <strong>da</strong> prática<br />

avaliativa, que são situados nas preconizações do paradigma experimental de avaliação<br />

discutido no capítulo anterior (GÓMEZ, 1985).<br />

73


Considera-se que a crítica mais significativa feita à abor<strong>da</strong>g<strong>em</strong> desenvolvimentista<br />

<strong>sobre</strong> a prática avaliativa recai <strong>sobre</strong> a avaliação <strong>da</strong> aprendizag<strong>em</strong> motora, que revela uma<br />

concepção limita<strong>da</strong>, pois despreza as outras dimensões dos conhecimentos aprendidos pelos<br />

alunos. Percebe-se que o processo de avaliação prioriza os conhecimentos expressos pelos<br />

alunos apenas de maneira <strong>em</strong>pírica, com olhar direcionado para as manifestações de<br />

aprendizag<strong>em</strong> passíveis de observação e adequa<strong>da</strong>s às padronizações que caracterizam os<br />

níveis de desenvolvimento motor. Os conhecimentos carregados de subjetivi<strong>da</strong>de, que não são<br />

passíveis de ser<strong>em</strong> mensurados e só adquir<strong>em</strong> sentido se for<strong>em</strong> analisados no território<br />

qualitativo, parec<strong>em</strong> não ser devi<strong>da</strong>mente valorizados nos pressupostos <strong>da</strong> avaliação na<br />

abor<strong>da</strong>g<strong>em</strong> desenvolvimentista.<br />

Nesse caso, entende-se que a avaliação desenvolvi<strong>da</strong> sob a perspectiva meramente<br />

<strong>em</strong>pírica pode suprimir manifestações singulares de aprendizag<strong>em</strong> que se materializam nas<br />

complexas relações entre os alunos, o contexto social, cultural, escolar e o processo de ensino<br />

e aprendizag<strong>em</strong>.<br />

Outro apontamento relevante, nesse sentido, é o fato de levar <strong>em</strong> consideração que a<br />

avaliação na Educação Física deve buscar a obtenção <strong>da</strong> resposta correta no processo de<br />

aprendizag<strong>em</strong> motora: os autores <strong>da</strong> abor<strong>da</strong>g<strong>em</strong> desenvolvimentista parec<strong>em</strong> considerar que o<br />

direcionamento do olhar para o erro não considera a importância do envolvimento do<br />

professor e dos alunos <strong>em</strong> um processo cooperativo visando à ampliação permanente do<br />

conhecimento, mas sim priorizam a detecção dos erros e a formas de corrigi-los baseando-se<br />

<strong>em</strong> padrões motores predeterminados.<br />

Com base <strong>em</strong> Esteban (2008), é possível inferir que essa postura docente mantém a<br />

dicotomia entre o erro e o acerto, preserva as perspectivas classificatória e excludente e, com<br />

elas, a competição e a sanção negativa para aqueles que não ating<strong>em</strong> os padrões<br />

predeterminados de aprendizag<strong>em</strong>.<br />

A abor<strong>da</strong>g<strong>em</strong> construtivista marcou mu<strong>da</strong>nças conceituais na área <strong>da</strong> Educação Física<br />

escolar com a publicação de Freire (1989). Embora não se defina como tal, o autor é<br />

considerado percussor <strong>da</strong>s ideias construtivistas na Educação Física escolar, visto que toma<br />

como referencial teórico os campos <strong>da</strong> psicologia, <strong>da</strong> aprendizag<strong>em</strong> e do desenvolvimento<br />

cognitivo para compreender a atuação do professor.<br />

Segundo o autor, cabe ao docente entender as ativi<strong>da</strong>des realiza<strong>da</strong>s pelos alunos, que<br />

dev<strong>em</strong> ser estimulados para a construção do conhecimento sist<strong>em</strong>atizado e escolarizado, por<br />

meio <strong>da</strong> vivência <strong>da</strong>s práticas corporais lúdicas. Também explicita várias críticas aos modelos<br />

de avaliação mecanicistas e com padronizações rígi<strong>da</strong>s do domínio psicomotor, especialmente<br />

74


as que buscam respostas corretas s<strong>em</strong> levar <strong>em</strong> consideração o caminho que o aluno<br />

percorreu.<br />

Freire (1989) e Freire e Scaglia (2004) apresentam uma compreensão de avaliação que<br />

pondera a ação avaliativa tendo <strong>em</strong> vista a complexi<strong>da</strong>de do ser humano, e não a mera análise<br />

de <strong>da</strong>dos objetivos: o professor deve avaliar seus alunos de acordo com a sua experiência e o<br />

conhecimento que ele t<strong>em</strong> dos discentes.<br />

Nessa perspectiva, os autores entend<strong>em</strong> que a individuali<strong>da</strong>de e a subjetivi<strong>da</strong>de<br />

humana dev<strong>em</strong> ser considera<strong>da</strong>s nas práticas avaliativas <strong>em</strong> <strong>aulas</strong> de Educação Física por<br />

meio de um olhar qualitativo que abarque os campos <strong>da</strong> aprendizag<strong>em</strong> pouco observáveis,<br />

como, por ex<strong>em</strong>plo, as relações interpessoais e os aspectos do crescimento geral dos alunos.<br />

Para isso, recomen<strong>da</strong>m o uso de técnicas como a autoavaliação e a construção de sociogramas<br />

para observar o desenvolvimento geral do grupo, num processo <strong>em</strong> que os alunos possam<br />

participar <strong>da</strong> própria avaliação, mantendo o registro dos <strong>da</strong>dos por meio desses instrumentos.<br />

Percebe-se que o modelo de avaliação defendido na abor<strong>da</strong>g<strong>em</strong> construtivista mantém<br />

a atenção no indivíduo, ou seja, <strong>em</strong> sua subjetivi<strong>da</strong>de: considera aspectos de sua experiência<br />

prévia no processo de ensino e o conhecimento que já possui acerca dos conteúdos a ser<strong>em</strong><br />

ensinados. Além disso, valoriza a investigação de el<strong>em</strong>entos <strong>da</strong> afetivi<strong>da</strong>de, motrici<strong>da</strong>de,<br />

sociabili<strong>da</strong>de e cognição dos alunos, que são manifestados nas <strong>aulas</strong> (FREIRE, 1989).<br />

Interpreta-se que as tarefas de avaliação nessa abor<strong>da</strong>g<strong>em</strong> preconizam el<strong>em</strong>entos de<br />

investigação do que se passa no íntimo do sujeito pensante, os quais dev<strong>em</strong> ser angariados<br />

durante o processo de construção do conhecimento dos alunos. Cabe ao professor realizar a<br />

leitura <strong>da</strong>s situações vivi<strong>da</strong>s pelos alunos, procurando identificar os sinais de aprendizag<strong>em</strong> e<br />

as dificul<strong>da</strong>des, de acordo com as possibili<strong>da</strong>des de ca<strong>da</strong> um.<br />

O que se considera mais interessante na discussão <strong>sobre</strong> a avaliação na abor<strong>da</strong>g<strong>em</strong><br />

construtivista é a concepção de que n<strong>em</strong> s<strong>em</strong>pre o conhecimento está atrelado ao resultado<br />

que o professor deseja alcançar com os seus alunos. O foco de atenção no processo de<br />

avaliação situa-se no aluno, ou seja, na observação de aspectos externos e internos expressos<br />

pelos discentes, que retratam as mu<strong>da</strong>nças qualitativas que ocorr<strong>em</strong> nos momentos de<br />

vivências corporais realiza<strong>da</strong>s nas <strong>aulas</strong>.<br />

Porém, <strong>em</strong>bora a abor<strong>da</strong>g<strong>em</strong> construtivista, no que se refere ao t<strong>em</strong>a avaliação,<br />

represente a incorporação de discussões inovadoras que correspond<strong>em</strong> ao paradigma <strong>da</strong><br />

avaliação qualitativa, considera-se que são apresenta<strong>da</strong>s poucas sugestões de técnicas para a<br />

análise <strong>da</strong>s diferentes dimensões <strong>da</strong> aprendizag<strong>em</strong> dos alunos <strong>em</strong> <strong>aulas</strong> de Educação Física,<br />

ofereci<strong>da</strong>s com limita<strong>da</strong>s orientações para o professor de Educação Física construir e aplicar<br />

75


um referente de avaliação capaz de transformar a sua prática avaliativa na perspectiva<br />

qualitativa e formativa durante o processo de ensino dos alunos.<br />

Com relação à abor<strong>da</strong>g<strong>em</strong> sistêmica, esta se fun<strong>da</strong>menta “[...] na teoria dos sist<strong>em</strong>as,<br />

contextualizando histórica, política e sociologicamente as influências sofri<strong>da</strong>s pela Educação<br />

Física” (SANCHES-NETO; BETTI, 2008, p. 12). Betti (1991, 1994) defende que a<br />

transformação <strong>da</strong> área poderia advir do trabalho docente pautado por princípios que<br />

preconizam a possibili<strong>da</strong>de de o professor intervir pe<strong>da</strong>gogicamente de acordo com os<br />

princípios de inclusão, equifinali<strong>da</strong>de e diversi<strong>da</strong>de.<br />

Essa abor<strong>da</strong>g<strong>em</strong> pretende que a Educação Física escolar não trabalhe apenas com um<br />

tipo de conteúdo esportivo: garantir a diversi<strong>da</strong>de como um princípio é proporcionar<br />

vivências que possibilit<strong>em</strong> a integração dos alunos na cultura corporal de movimento, visando<br />

à aprendizag<strong>em</strong> de conteúdos diversos vincula<strong>da</strong> ao uso do t<strong>em</strong>po livre e oportunizando o<br />

alcance <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia crítica, ativa, criativa e autônoma (BETTI, 1991).<br />

Segundo Melo (2008) o autor Mauro Betti (1991, 1994), apesar de não reportar<br />

diretamente uma proposta de avaliação, na proposta <strong>da</strong> abor<strong>da</strong>g<strong>em</strong> sistêmica contribui para a<br />

compreensão <strong>da</strong> prática avaliativa na Educação Física escolar a partir dos princípios que<br />

defende: deixar claro que o processo de ensino e aprendizag<strong>em</strong> deve estar vinculado com a<br />

proposta político pe<strong>da</strong>gógica <strong>da</strong> escola, considerar a não exclusão e cont<strong>em</strong>plar a diversi<strong>da</strong>de<br />

dos conteúdos dessa área de conhecimento, esses aspectos são vistos como valiosos para o<br />

desenvolvimento de um processo avaliativo que pode propiciar contribuições efetivas na<br />

aprendizag<strong>em</strong> dos alunos.<br />

Sendo assim, essa abor<strong>da</strong>g<strong>em</strong>, ao defender a conexão do programa de Educação Física<br />

com o projeto político-pe<strong>da</strong>gógico <strong>da</strong> escola, mesmo o autor não explicitando as implicações<br />

desse atrelamento para a avaliação, pressupõe que o componente curricular <strong>da</strong> Educação<br />

Física deve dialogar com os aspectos de ensino e de avaliação <strong>da</strong>s d<strong>em</strong>ais disciplinas<br />

escolares. Considera-se que pensar dessa forma possibilita a integração dos objetivos do<br />

professor de Educação Física com os dos d<strong>em</strong>ais professores <strong>da</strong> escola.<br />

Além disso, destaca-se a perspectiva <strong>da</strong> avaliação qualitativa, especialmente quando o<br />

autor pondera os princípios a ser<strong>em</strong> seguidos nas <strong>aulas</strong> de Educação Física, que se refer<strong>em</strong> à<br />

não exclusão e à consideração <strong>da</strong> diversi<strong>da</strong>de dos conhecimentos <strong>da</strong> área. Devido às<br />

características desses princípios, pode-se inferir que requer<strong>em</strong> uma metodologia avaliativa<br />

sensível às diferenças, aos acontecimentos previstos e imprevistos, às manifestações<br />

observáveis e latentes <strong>sobre</strong> os progressos e dificul<strong>da</strong>des expressados pelos alunos. Com base<br />

nisso, a abor<strong>da</strong>g<strong>em</strong> sistêmica pondera que o processo avaliativo abarque as diferentes<br />

76


manifestações de aprendizag<strong>em</strong> dos alunos por meio <strong>da</strong> análise dos vários conteúdos que<br />

compõ<strong>em</strong> os t<strong>em</strong>as <strong>da</strong> cultura corporal.<br />

A abor<strong>da</strong>g<strong>em</strong> crítico-superadora, apresenta<strong>da</strong> no livro Metodologia do Ensino <strong>da</strong><br />

Educação Física, escrito por um coletivo de autores <strong>da</strong> área e publicado <strong>em</strong> 1992,<br />

fun<strong>da</strong>menta-se na pe<strong>da</strong>gogia crítico-social dos conteúdos.<br />

Essa tendência pe<strong>da</strong>gógica valoriza a escola como local de apropriação de saber, com<br />

o objetivo de preparar o aluno para o mundo adulto, fornecendo condições para que ele possa<br />

modificar o meio onde vive, ou seja, lutar <strong>em</strong> favor <strong>da</strong> d<strong>em</strong>ocratização <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de<br />

(MAUAD, 2003).<br />

Baseados nessa concepção, os autores propõ<strong>em</strong> que a Educação Física seja vista como<br />

uma prática social que trata pe<strong>da</strong>gogicamente os t<strong>em</strong>as <strong>da</strong> cultura corporal – os jogos, as<br />

<strong>da</strong>nças, os esportes, as ginásticas e as lutas –, que dev<strong>em</strong> ser contextualizados, resgatando seu<br />

processo histórico.<br />

Com relação ao ensino, é exposta a necessi<strong>da</strong>de de propiciar situações que<br />

aprofund<strong>em</strong> a reflexão do aluno <strong>sobre</strong> o processo de construção <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de e seus<br />

determinantes históricos, políticos, sociais e culturais, apreendendo de forma crítica os<br />

diferentes conhecimentos historicamente construídos na área.<br />

Especificamente <strong>sobre</strong> a avaliação <strong>da</strong> aprendizag<strong>em</strong>, os autores dessa obra dedicam<br />

um longo e elaborado capítulo a esse assunto, sob a ótica dos conceitos defendidos nessa<br />

abor<strong>da</strong>g<strong>em</strong> pe<strong>da</strong>gógica. Assim como ocorre na obra de Freire (1989) analisa<strong>da</strong> anteriormente,<br />

os autores apresentam críticas à prática avaliativa realiza<strong>da</strong> apenas na dimensão técnica e<br />

tradicional, por ser discriminatória e excludente. Por outro lado, defend<strong>em</strong> que a prática<br />

avaliativa deve ser compreendi<strong>da</strong> como um dispositivo didático que sirva “[...] de referência<br />

para análise <strong>da</strong> aproximação ou distanciamento do eixo curricular que norteia o projeto<br />

pe<strong>da</strong>gógico <strong>da</strong> escola” (SOARES et. al.,1992, p. 103).<br />

Sendo assim, os autores dessa abor<strong>da</strong>g<strong>em</strong>, atrelados aos pressupostos de seu<br />

referencial marxista, apresentam a dialética <strong>da</strong> avaliação do processo ensino e aprendizag<strong>em</strong><br />

estritamente relaciona<strong>da</strong> ao projeto pe<strong>da</strong>gógico <strong>da</strong> escola.<br />

Quanto aos instrumentos e critérios, a abor<strong>da</strong>g<strong>em</strong> crítico-superadora aponta a<br />

necessi<strong>da</strong>de de romper com as visões que homogeneizam e condicionam os indivíduos a<br />

seguir<strong>em</strong> padrões de movimento e comportamento. Esses últimos apontamentos levam a<br />

inferir que essa abor<strong>da</strong>g<strong>em</strong> se aproxima <strong>da</strong>s perspectivas que defend<strong>em</strong> a avaliação qualitativa<br />

d<strong>em</strong>ocrática, a qual trabalha a serviço <strong>da</strong> quali<strong>da</strong>de do ensino, visando à construção de uma<br />

77


socie<strong>da</strong>de mais crítica, criativa, consciente e com justiça social (GÓMEZ, 1985;<br />

VASCONCELOS, 2003).<br />

Nos estudos de Mauad (2003) e Melo (2008) essa obra é considera<strong>da</strong> uma <strong>da</strong>s<br />

primeiras a apresentar uma proposta de avaliação clara e detalha<strong>da</strong> para a Educação Física<br />

escolar, apontando as “referências para conduzir metodologicamente a avaliação do processo<br />

de ensino e aprendizag<strong>em</strong>”. (SOARES, et. al., 1992, p. 102).<br />

A prática avaliativa é abor<strong>da</strong><strong>da</strong> enfatizando a não exclusão e o acompanhamento dos<br />

avanços e <strong>da</strong>s dificul<strong>da</strong>des no processo de ensino e aprendizag<strong>em</strong>. Ela deve considerar “[...] a<br />

observação, a análise e a conceituação dos el<strong>em</strong>entos que compõ<strong>em</strong> a totali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> conduta<br />

humana e que se expressam no desenvolvimento de ativi<strong>da</strong>des” de ensino (SOARES, et. al.,<br />

1992, p. 104).<br />

É interessante o posicionamento dos autores a respeito <strong>da</strong> nota, que deve evadir <strong>da</strong><br />

ideia burocrática e formal para se tornar uma referência para o processo de ensino e<br />

aprendizag<strong>em</strong>, por meio de uma interpretação do professor. Posteriormente, essa referência<br />

deve levar a uma reinterpretação constante <strong>da</strong>s metodologias de ensino e <strong>da</strong> avaliação, s<strong>em</strong>pre<br />

a par dos interesses individuais e coletivos, assim como do projeto político-pe<strong>da</strong>gógico. Nessa<br />

direção, Soares et. al. (1992) destacam a importância de a nota ser vista como símbolo do<br />

processo seguido pelos alunos. Reforçam, ain<strong>da</strong>, que a avaliação deve se pautar na análise <strong>da</strong>s<br />

condutas e <strong>da</strong> complexi<strong>da</strong>de humana, por isso as práticas avaliativas dev<strong>em</strong> ser diferencia<strong>da</strong>s<br />

e as decisões <strong>sobre</strong> o que avaliar pod<strong>em</strong> ser construí<strong>da</strong>s de forma compartilha<strong>da</strong> com os<br />

alunos. Esses autores também preconizam a importância de fornecer o t<strong>em</strong>po necessário para<br />

o aluno d<strong>em</strong>onstrar as suas aprendizagens, a compreensão crítica <strong>sobre</strong> os conteúdos<br />

ensinados. Enfatizam a necessi<strong>da</strong>de de a avaliação ser construí<strong>da</strong> e aplica<strong>da</strong> com<br />

intencionali<strong>da</strong>de educativa para efetivamente colaborar no processo de aprendizag<strong>em</strong> dos<br />

alunos.<br />

Observa-se como el<strong>em</strong>ento mais significativo dessa abor<strong>da</strong>g<strong>em</strong> o fato de não<br />

d<strong>em</strong>onstrar muito interesse no desenvolvimento motor, realçando as questões sociais e<br />

históricas, o que é justificado pelas características próprias dessa teoria. To<strong>da</strong>via, os autores<br />

atentam para uma análise criteriosa <strong>da</strong>s condições gerais dos alunos, de forma a permitir uma<br />

ordenação de <strong>da</strong>dos reais e concretos para nortear a ação didática, o que se considera possível<br />

pelo uso de instrumentos de avaliação cui<strong>da</strong>dosamente elaborados.<br />

Nessa direção, o erro deve perder o estigma <strong>da</strong> culpa ou do castigo, passando a ser<br />

parte determinante do processo de ensino e aprendizag<strong>em</strong>. Os autores voltam a frisar a<br />

importância de manter uma avaliação constante, informal, atenta e sist<strong>em</strong>ática durante to<strong>da</strong>s<br />

78


as oportuni<strong>da</strong>des cria<strong>da</strong>s, propositalmente ou não, pelo professor. A proposta de avaliação na<br />

abor<strong>da</strong>g<strong>em</strong> crítico-superadora pauta-se na articulação do processo de ensino e aprendizag<strong>em</strong><br />

com as peculiari<strong>da</strong>des <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de, na mediação entre a reali<strong>da</strong>de e o conhecimento, basea<strong>da</strong><br />

no materialismo dialético e no conteúdo fun<strong>da</strong>mentado na cultura corporal, e, por fim, na<br />

comunicação ativa e crítica dos conhecimentos ensinados.<br />

Em linhas gerais, as abor<strong>da</strong>gens pe<strong>da</strong>gógicas analisa<strong>da</strong>s apontam limita<strong>da</strong> nitidez na<br />

apresentação dos pressupostos <strong>da</strong> avaliação no contexto <strong>da</strong> Educação Física escolar.<br />

Observou-se que a prática avaliativa não é o t<strong>em</strong>a <strong>em</strong> que os estudiosos <strong>da</strong> área mais invest<strong>em</strong><br />

e, geralmente, é abor<strong>da</strong><strong>da</strong> com pouco aprofun<strong>da</strong>mento teórico, além de as sugestões de<br />

avaliação trazer<strong>em</strong> poucos ex<strong>em</strong>plos e possibili<strong>da</strong>des que lev<strong>em</strong> <strong>em</strong> conta os probl<strong>em</strong>as de<br />

turmas numerosas e a falta de t<strong>em</strong>po para o professor de Educação Física planejar e avaliar as<br />

aprendizagens dos diferentes conteúdos ensinados aos alunos.<br />

Apesar disso, ao mesmo t<strong>em</strong>po, notam-se apontamentos <strong>sobre</strong> a avaliação <strong>da</strong><br />

aprendizag<strong>em</strong> nas abor<strong>da</strong>gens <strong>da</strong> Educação Física escolar que assinalam pressupostos<br />

considerados adequados para ser<strong>em</strong> seguidos na prática avaliativa dos professores <strong>da</strong> área, os<br />

quais estão identificados seguir.<br />

Quadro 8: Síntese de aspectos considerados adequados para a prática do professor de<br />

Educação física escolar nas abor<strong>da</strong>gens pe<strong>da</strong>gógicas.<br />

79


ABORDAGEM<br />

PEDAGÓGICA<br />

DESENVOLVIMENTISTA TANI et. al. Educação Física<br />

Escolar: fun<strong>da</strong>mentos de<br />

uma abor<strong>da</strong>g<strong>em</strong> desenvolvimentista,<br />

1988.<br />

OBRAS CONSULTADAS CARACTERÍSTICAS e/ou<br />

OBJETIVOS<br />

MANOEL, E. J. Considerações<br />

<strong>sobre</strong> a avaliação <strong>em</strong><br />

Educação Física escolar: uma<br />

visão <strong>da</strong> abor<strong>da</strong>g<strong>em</strong><br />

desenvolvimentista. Anais do<br />

V S<strong>em</strong>inário de Educação<br />

Física escolar na EEFEUSP,<br />

São Paulo, Universi<strong>da</strong>de de<br />

São Paulo, p. 20-32, 1999.<br />

Processos de aprendizag<strong>em</strong><br />

vistos como crescimento<br />

físico, desenvolvimento<br />

fisiológico e motor,<br />

cognitivo e afetivo-social;<br />

ênfase na aprendizag<strong>em</strong><br />

do movimento.<br />

ASPECTOS GERAIS DA<br />

AVALIAÇÃO<br />

Revisão dos conteúdos<br />

selecionados, do método<br />

utilizado, <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des<br />

realiza<strong>da</strong>s, <strong>da</strong>s relações<br />

estabeleci<strong>da</strong>s <strong>em</strong> aula,<br />

ou seja, a uma revisão do<br />

ensino.<br />

PAPEL DO PROFESSOR<br />

NO PROCESSO DE<br />

AVALIAÇÃO<br />

Definir critérios para<br />

identificar os erros e<br />

acertos observados no<br />

processo de<br />

aprendizag<strong>em</strong> motora<br />

dos alunos.<br />

Observar e<br />

sist<strong>em</strong>atizar a prática<br />

avaliativa por meio de<br />

registros (como as<br />

fichas individuais) para<br />

acompanhar o<br />

progresso dos alunos.<br />

PAPEL DO ALUNO<br />

80<br />

Não define nenhum<br />

indício <strong>sobre</strong> esse<br />

assunto.


ABORDAGEM<br />

PEDAGÓGICA<br />

OBRAS CONSULTADAS CARACTERÍSTICAS e/ou<br />

OBJETIVOS<br />

CONSTRUTIVISTA FREIRE, J. B. Educação de<br />

corpo inteiro: teoria e<br />

prática <strong>da</strong> Educação Física.<br />

Scipione, SP. 1989.<br />

FREIRE, J. B.; SCAGLIA A. J.<br />

Educação como prática<br />

corporal. São Paulo: Scipione,<br />

2004.<br />

Considera o acervo cultural<br />

do aluno; valoriza a<br />

individuali<strong>da</strong>de,<br />

criativi<strong>da</strong>de e liber<strong>da</strong>de do<br />

aluno; vê o jogo como<br />

forma de trabalhar o<br />

campo cognitivo,<br />

social, moral e<br />

afetivo; privilegia<br />

relações interpessoais;<br />

prática inclusiva.<br />

ASPECTOS GERAIS DA<br />

AVALIAÇÃO<br />

A avaliação não pode se<br />

limitar à apreciação<br />

<strong>sobre</strong> o desenvolvimento<br />

e aprendizag<strong>em</strong> motora<br />

dos alunos.<br />

É preciso avaliar de<br />

forma qualitativa os<br />

campos <strong>da</strong> aprendizag<strong>em</strong><br />

pouco observáveis,<br />

como, por ex<strong>em</strong>plo, as<br />

relações interpessoais e<br />

os aspectos do<br />

crescimento geral dos<br />

alunos.<br />

PAPEL DO PROFESSOR<br />

NO PROCESSO DE<br />

AVALIAÇÃO<br />

Dar importância igual a<br />

to<strong>da</strong>s as dimensões <strong>da</strong><br />

aprendizag<strong>em</strong>:<br />

cognitiva, afetiva e<br />

psicomotora.<br />

Avaliar de maneira<br />

individual, por meio <strong>da</strong><br />

observação dos alunos.<br />

Avaliar de maneira<br />

coletiva por meio de<br />

sociogramas para<br />

observar o<br />

desenvolvimento do<br />

grupo.<br />

Propiciar uma prática<br />

avaliativa que permita<br />

aos alunos<br />

participar<strong>em</strong> de seu<br />

próprio processo de<br />

avaliação.<br />

Considerar no<br />

processo avaliativo o<br />

acervo de<br />

conhecimentos dos<br />

alunos.<br />

PAPEL DO ALUNO<br />

81<br />

Participar do processo<br />

de avaliação, realizar a<br />

autoavaliação e expor<br />

sua opinião nos<br />

diálogos de avaliação<br />

coletiva.


ABORDAGEM<br />

PEDAGÓGICA<br />

OBRAS CONSULTADAS CARACTERÍSTICAS e/ou<br />

OBJETIVOS<br />

SISTÊMICA BETTI, M. Educação física e<br />

socie<strong>da</strong>de. São Paulo: Ed.<br />

Movimento, 1991.<br />

_________ O que a s<strong>em</strong>iótica<br />

inspira ao ensino <strong>da</strong><br />

Educação Física. Revista<br />

Discorpo, São Paulo, n.3, p.<br />

25 a 45, 1994.<br />

Inserção do aluno na<br />

cultura física, para que<br />

enten<strong>da</strong> a cultura do<br />

movimento; formação do<br />

ci<strong>da</strong>dão crítico, consciente<br />

e criativo; experimentar<br />

movimentos e d<strong>em</strong>ais<br />

conhecimentos desta<br />

prática (interpretação,<br />

solução de probl<strong>em</strong>as,<br />

flexibilização de regras,<br />

respeito); prática inclusiva.<br />

ASPECTOS GERAIS DA<br />

AVALIAÇÃO<br />

Deixar claro que o<br />

processo de ensino e<br />

aprendizag<strong>em</strong> e também<br />

a avaliação dev<strong>em</strong> estar<br />

de acordo com a<br />

proposta políticope<strong>da</strong>gógica<br />

<strong>da</strong> escola.<br />

Levar <strong>em</strong> consideração<br />

os princípios <strong>da</strong> não<br />

exclusão dos alunos e a<br />

diversi<strong>da</strong>de de<br />

conteúdos que dev<strong>em</strong><br />

ser ensinados,<br />

aprendidos e avaliados<br />

no cotidiano <strong>da</strong>s <strong>aulas</strong> de<br />

Educação Física.<br />

PAPEL DO PROFESSOR<br />

NO PROCESSO DE<br />

AVALIAÇÃO<br />

Em nenhum momento<br />

de sua obra o autor<br />

trata <strong>da</strong> avaliação, mas<br />

deixa claro que cabe<br />

ao professor de<br />

Educação Física utilizar<br />

várias estratégias de<br />

ensino, isso equivale a<br />

interpretar que a<br />

avaliação deve<br />

enfatizar o processo de<br />

ensino e<br />

aprendizag<strong>em</strong>, sendo<br />

vista como um meio<br />

para diagnosticar e<br />

tomar decisões,<br />

envolvendo o prof.<br />

alunos e a equipe<br />

pe<strong>da</strong>gógica.<br />

PAPEL DO ALUNO<br />

82<br />

Não define nenhum<br />

indício <strong>sobre</strong> esse<br />

assunto.


ABORDAGEM<br />

PEDAGÓGICA<br />

OBRAS CONSULTADAS CARACTERÍSTICAS e/ou<br />

OBJETIVOS<br />

CRITICO-SUPERADORA SOARES, C. L. et. al.<br />

Metodologia do ensino <strong>da</strong><br />

Educação Física. São Paulo:<br />

Cortez, 1992.<br />

Esta tendência pe<strong>da</strong>gógica<br />

valoriza a escola como local<br />

de apropriação de saber,<br />

com o objetivo de preparar<br />

o aluno para o mundo<br />

adulto, fornecendo<br />

condições para que possa<br />

modificar o meio onde<br />

vive, ou seja, lutar <strong>em</strong> favor<br />

<strong>da</strong> d<strong>em</strong>ocratização <strong>da</strong><br />

socie<strong>da</strong>de.<br />

ASPECTOS GERAIS DA<br />

AVALIAÇÃO<br />

<strong>Avaliação</strong> a serviço <strong>da</strong><br />

quali<strong>da</strong>de do ensino, a<br />

qual t<strong>em</strong> relação direta<br />

com o projeto histórico<br />

<strong>da</strong> educação, <strong>sobre</strong>tudo,<br />

<strong>da</strong> Educação Física.<br />

escolar.<br />

Buscar a não exclusão<br />

dos alunos, acompanhar<br />

e compreender os<br />

avanços e as dificul<strong>da</strong>des<br />

no processo de ensino e<br />

aprendizag<strong>em</strong>.<br />

PAPEL DO PROFESSOR<br />

NO PROCESSO DE<br />

AVALIAÇÃO<br />

Conduzir a avaliação<br />

com intencionali<strong>da</strong>des<br />

educacionais b<strong>em</strong><br />

delinea<strong>da</strong>s, levando<br />

<strong>em</strong> conta os<br />

pressupostos do<br />

projeto pe<strong>da</strong>gógico <strong>da</strong><br />

escola.<br />

Realizar a observação,<br />

a análise e a<br />

conceituação dos<br />

el<strong>em</strong>entos que<br />

compõ<strong>em</strong> a totali<strong>da</strong>de<br />

<strong>da</strong> conduta humana,<br />

que se expressam nas<br />

ativi<strong>da</strong>des realiza<strong>da</strong>s<br />

pelos alunos.<br />

A nota vista como<br />

símbolo do processo<br />

seguido.<br />

PAPEL DO ALUNO<br />

83<br />

Realizar a leitura <strong>da</strong><br />

reali<strong>da</strong>de, visando uma<br />

inserção<br />

transformadora na<br />

reali<strong>da</strong>de social e<br />

cultural dos conteúdos<br />

construídos<br />

historicamente na área.<br />

Estar consciente de seu<br />

desenvolvimento,<br />

apoiando-se na análise<br />

crítica dos conteúdos<br />

<strong>da</strong> cultura corporal.<br />

Entender a nota como<br />

símbolo do processo<br />

seguido e não como<br />

el<strong>em</strong>ento mais<br />

importante.


Com base na revisão de literatura <strong>sobre</strong> a avaliação no contexto educacional, percebe-<br />

se que os diferentes apontamentos a respeito <strong>da</strong>s práticas avaliativas, expostos nas principais<br />

correntes pe<strong>da</strong>gógicas <strong>da</strong> Educação Física escolar, circunscrev<strong>em</strong> aspectos do paradigma <strong>da</strong><br />

avaliação qualitativa, <strong>da</strong> qual se deriva a proposta <strong>da</strong> avaliação formativa. Entretanto,<br />

percebe-se que as indicações feitas <strong>sobre</strong> a avaliação são apresenta<strong>da</strong>s de forma resumi<strong>da</strong> e,<br />

com pouca sugestão de intervenção avaliativa para ser aplica<strong>da</strong> nas <strong>aulas</strong> dessa área de<br />

conhecimento. Isso leva a entender que há pouco aprofun<strong>da</strong>mento teórico a respeito <strong>da</strong><br />

proposta de avaliação formativa nas abor<strong>da</strong>gens analisa<strong>da</strong>s, que, apesar de considerá-la,<br />

apontam sugestões superficiais para desenvolvê-la no cotidiano <strong>da</strong>s <strong>aulas</strong> de Educação Física<br />

escolar.<br />

Partindo dessa análise, considera-se necessário identificar os enfoques <strong>sobre</strong> a<br />

avaliação recomen<strong>da</strong>dos nos documentos oficiais <strong>da</strong> Educação Física.<br />

2.3.1 Análise de aspectos <strong>sobre</strong> o t<strong>em</strong>a avaliação abor<strong>da</strong>dos nos documentos<br />

oficiais <strong>da</strong> Educação Física - Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) e Proposta<br />

Curricular do Estado de São Paulo<br />

Sabe-se que todo projeto pe<strong>da</strong>gógico <strong>da</strong>s escolas públicas deve dialogar com a<br />

produção <strong>da</strong> área, assim como com a legislação vigente e os documentos oficiais que apontam<br />

propostas e parâmetros nacionais e estaduais. Nesta parte do estudo é importante explicar que<br />

a opção de analisar os pressupostos para o ensino <strong>da</strong> Educação Física nos níveis Fun<strong>da</strong>mental<br />

e Médio, contidos nos PCNs e na Proposta Curricular do Estado de São Paulo justifica-se pelo<br />

fato de esta pesquisa investigar a prática pe<strong>da</strong>gógica de professores que atuam <strong>em</strong> escolas de<br />

Ensino Fun<strong>da</strong>mental e Médio <strong>da</strong> rede pública estadual de São Paulo, os quais no estudo de<br />

Russo (2010) assinalaram seguir as proposições conti<strong>da</strong>s nos documentos oficiais para a<br />

construção do processo de ensino, aprendizag<strong>em</strong> e avaliação dos seus alunos. Além do mais,<br />

entende-se que tal investigação é relevante porque propicia o desvelamento de aspectos<br />

inovadores e <strong>da</strong>s críticas formula<strong>da</strong>s a esses documentos, como também permite a<br />

identificação e a compreensão dos encaminhamentos didáticos para a prática avaliativa dos<br />

professores <strong>da</strong> área.<br />

Por isso, considera-se que a averiguação dos subsídios teóricos desses documentos<br />

oficiais possa auxiliar na compreensão de el<strong>em</strong>entos que caracterizam as escolhas avaliativas<br />

dos docentes pesquisados neste estudo.<br />

85


PCNs de Educação Física<br />

Entre as ações do governo federal, os PCNs foram lançados pelo MEC e distribuídos<br />

por todo o país. Para a construção desse documento, partiu-se dos pressupostos do movimento<br />

de reorientação curricular <strong>em</strong>preendido a partir <strong>da</strong> LDB 9.394/96 (BRASIL, 1996) e<br />

consoli<strong>da</strong>do com as Diretrizes Curriculares Nacionais do Ensino Fun<strong>da</strong>mental, que<br />

culminaram com a publicação dos parâmetros para a Educação Física escolar <strong>em</strong> 1997. Essa<br />

ação foi importante, na medi<strong>da</strong> <strong>em</strong> que as reflexões acerca <strong>da</strong>s práticas educativas<br />

sinalizavam a necessi<strong>da</strong>de de um novo olhar <strong>sobre</strong> o processo educacional, partindo do<br />

pressuposto de que a escola deveria privilegiar a construção de aprendizagens significativas<br />

dos alunos.<br />

Um olhar geral permite verificar que o documento assinala que a escola t<strong>em</strong> a função<br />

de formar e informar, de maneira que os conteúdos nela trabalhados possam colaborar para a<br />

inserção do aluno no meio social e cultural, nortear a prática pe<strong>da</strong>gógica dos professores, o<br />

entendimento <strong>sobre</strong> os papéis <strong>da</strong> escola e de ca<strong>da</strong> um no universo escolar. Nas orientações<br />

específicas forneci<strong>da</strong>s para ca<strong>da</strong> área de conhecimento são ressaltados os objetivos por área,<br />

os t<strong>em</strong>as transversais e as discussões que apontam a importância <strong>da</strong> relação entre aspectos <strong>da</strong><br />

instituição, o professor, o aluno e o universo social e cultural que os envolve.<br />

Também se constata que a fun<strong>da</strong>mentação teórica dos PCNs está basea<strong>da</strong> nos estudos<br />

de Coll et. al. (1998) e seus colaboradores e na experiência <strong>da</strong> reforma curricular espanhola,<br />

<strong>em</strong> termos <strong>da</strong> apresentação dos conteúdos <strong>da</strong>s diferentes áreas de conhecimento escolar.<br />

Assim, um ponto positivo desse documento no contexto educacional brasileiro foi que<br />

ampliou a visão <strong>sobre</strong> os conhecimentos escolares, pois apresenta uma seleção de formas ou<br />

saberes culturais cuja assimilação é considera<strong>da</strong> essencial para que se produza um<br />

desenvolvimento e uma socialização adequa<strong>da</strong> dos alunos.<br />

Partindo dessa contextualização <strong>sobre</strong> os conteúdos escolares, o mesmo documento<br />

defende a aprendizag<strong>em</strong> <strong>da</strong>s três dimensões de conhecimentos – procedimental, conceitual e<br />

atitudinal – que dev<strong>em</strong> estar relaciona<strong>da</strong>s entre si no momento do planejamento e<br />

desenvolvimento <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des.<br />

Segundo Toledo, Velardi e Nista-Piccolo (2009), no caso <strong>da</strong> Educação Física escolar,<br />

essa concepção de conteúdos ressalta a importância <strong>da</strong> relação dos conceitos, procedimentos e<br />

atitudes com os t<strong>em</strong>as procedentes <strong>da</strong>s manifestações <strong>da</strong> cultura corporal específicas <strong>da</strong> área,<br />

que são tratados por meio dos conhecimentos <strong>sobre</strong> o corpo nos jogos, nos esportes, nas lutas,<br />

nas ginásticas e nas <strong>da</strong>nças. Para as autoras, a proposta de Coll e seus colaboradores<br />

possibilita um corte transversal nos t<strong>em</strong>as <strong>da</strong> cultura corporal, já que enaltece e sist<strong>em</strong>atiza as<br />

86


diferentes tipologias de conhecimentos procedentes <strong>da</strong>s manifestações culturais que a área<br />

abor<strong>da</strong>.<br />

Nos PCNs (BRASIL, 1997) específicos para a Educação Física no 1 o e 2 o ciclo do<br />

Ensino Fun<strong>da</strong>mental, os apontamentos <strong>sobre</strong> os conteúdos, métodos e avaliação traz<strong>em</strong> como<br />

princípios norteadores a inclusão, a diversi<strong>da</strong>de e as categorias de t<strong>em</strong>as como:<br />

conhecimentos <strong>sobre</strong> o corpo, jogos, ginásticas, esportes, ativi<strong>da</strong>des rítmicas expressivas,<br />

lutas, que são apresentados <strong>em</strong> blocos e classificados de forma conceitual, atitudinal e<br />

procedimental, como pode ser visto no quadro a seguir.<br />

Quadro 09: Síntese dos PCNs para o 1 o e 2 o ciclo do Ensino Fun<strong>da</strong>mental específico <strong>da</strong> área<br />

de Educação Física (BRASIL, 1997).<br />

87


PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS DE EDUCAÇÃO FÍSICA -1 o e 2 o ciclo<br />

OBJETIVOS Conhecer, valorizar e participar de manifestações <strong>da</strong> cultura corporal;<br />

adotar atitude cooperativa, s<strong>em</strong> discriminar;<br />

conhecer suas possibili<strong>da</strong>des corporais, avaliando o seu des<strong>em</strong>penho e comparando-o ao dos colegas;<br />

organizar-se <strong>em</strong> jogos e brincadeiras, d<strong>em</strong>onstrando jogos extraescolares, discutindo suas regras <strong>em</strong> grupo, resolvendo as situações de conflito;<br />

criar brincadeiras canta<strong>da</strong>s e coreografias, acompanhando o ritmo e valorizando <strong>da</strong>nças folclóricas;<br />

diferenciar situações de esforço e repouso, reconhecendo as alterações corporais do exercício;<br />

analisar padrões de estética, saúde e hábitos posturais.<br />

CONTEÚDOS<br />

MÉTODOS<br />

AVALIAÇÃO<br />

Fun<strong>da</strong>menta-se no entendimento do corpo e do movimento <strong>em</strong> seus aspectos socioculturais, e deve ser vista como área de conhecimento <strong>da</strong> cultura<br />

corporal de movimento e disciplina que integra o aluno na cultura corporal de movimento, por meio dos conteúdos: a) conhecimentos <strong>sobre</strong> o corpo; b)<br />

ativi<strong>da</strong>des rítmicas e expressivas; c) esportes, jogos, lutas e ginásticas, os quais dev<strong>em</strong> se ensinados levando <strong>em</strong> consideração seu caráter de vivência<br />

(possibili<strong>da</strong>des de organização, transformação e aprendizag<strong>em</strong>), conceitual (que envolve assuntos relacionados às regras, história e táticas) e atitudinal<br />

(que diz respeito às ativi<strong>da</strong>des realiza<strong>da</strong>s que permit<strong>em</strong> as construções, desconstruções e reconstruções <strong>da</strong>s práticas).<br />

Prática e reflexão <strong>sobre</strong> os conteúdos.<br />

Relação entre o docente e os alunos para a construção do conhecimento.<br />

Coexistência, nas <strong>aulas</strong>, entre a técnica e o caráter lúdico <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des, estando ambos presentes na construção <strong>da</strong> forma de abor<strong>da</strong>g<strong>em</strong> dos<br />

conteúdos, quando trabalhados.<br />

Concomitância de aprimoramento e vivência prazerosa.<br />

Deve ser útil, tanto para o aluno como para o professor, para que ambos possam significar os resultados, perceber e analisar o desenvolvimento do<br />

que decorreu como efeito do processo de ensino e aprendizag<strong>em</strong> do conteúdo.<br />

Meios de avaliação capazes de verificar se os objetivos foram alcançados.<br />

<strong>Avaliação</strong> contínua: inicial ou diagnóstica, processual e final.<br />

Instrumentos avaliativos: incentiva-se à construção de métodos próprios <strong>da</strong> escola. Ex<strong>em</strong>plos de métodos avaliativo: fichas de acompanhamento do<br />

progresso individual, relatórios dos alunos, ficha de avaliação do professor, dinâmicas que proporcion<strong>em</strong> a expressão de conhecimentos, relatórios<br />

de autoavaliação <strong>sobre</strong> o envolvimento nas ativi<strong>da</strong>des e que permitam aos alunos opinar<strong>em</strong> <strong>sobre</strong> o an<strong>da</strong>mento do planejamento.<br />

Sobre os critérios de avaliação, os PCNs de EF enfatizam que o aluno deve ser capaz de: enfrentar desafios corporais <strong>em</strong> jogos e brincadeiras,<br />

respeitando regras; interagir com os colegas s<strong>em</strong> discriminar por razões físicas, socioculturais ou de gênero; enfrentar situações de competição,<br />

respeitando regras; estabelecer relações entre a prática de exercícios e a saúde; valorizar e vivenciar manifestações <strong>da</strong> cultural corporal de<br />

maneira receptiva.<br />

88


A análise e interpretação desse documento efetua<strong>da</strong> por um grupo de intelectuais <strong>da</strong><br />

Educação Física e edita<strong>da</strong> pelo Colégio Brasileiro de Ciências do Esporte (CBCE, 1997)<br />

assinala pontos críticos a respeito dos pressupostos apresentados nos PCNs, que pod<strong>em</strong> ser<br />

sintetizados como:<br />

aparência de um currículo nacional mínimo e detalhado, que homogeneíza a avaliação,<br />

os conteúdos, os objetivos e as orientações didáticas, com falta de ancorag<strong>em</strong> na<br />

reali<strong>da</strong>de social, na Educação pública e na Educação Física, pressupondo um aluno,<br />

um professor e uma escola ideais;<br />

falta de rigor histórico, ignorando a produção historiográfica <strong>da</strong> Educação Física<br />

brasileira;<br />

articulação de aspectos incompatíveis de tendências pe<strong>da</strong>gógicas numa única proposta<br />

curricular de ensino <strong>da</strong> Educação Física;<br />

t<strong>em</strong>as transversais como orientadores na escolha dos conteúdos e não como questões<br />

que os permeiam;<br />

uso de inúmeros termos <strong>da</strong> Educação Física (motrici<strong>da</strong>de humana, habili<strong>da</strong>de motora,<br />

aprendizag<strong>em</strong> motora, cultura corporal, educação corporal), que se contrapõ<strong>em</strong> se<br />

for<strong>em</strong> analisados na base epist<strong>em</strong>ológica <strong>em</strong> que são abor<strong>da</strong>dos;<br />

excesso de referências <strong>da</strong> psicologia, concebendo um sujeito universal, abstraído de<br />

sua reali<strong>da</strong>de;<br />

falta <strong>da</strong> consulta às enti<strong>da</strong>des políticas e científicas <strong>da</strong> Educação Física para a<br />

construção dos parâmetros para a área;<br />

manutenção do pensamento etapista no trato dos conteúdos, apesar <strong>da</strong> organização dos<br />

ciclos (SOARES, 1997; SOUZA;VAGO; MENDES, 2005).<br />

Apoiando-se nas críticas apresenta<strong>da</strong>s, interpreta-se que as consequências desses<br />

probl<strong>em</strong>as na prática pe<strong>da</strong>gógica dos professores pod<strong>em</strong> configurar um planejamento confuso,<br />

que não consegue organizar as propostas de conteúdo, método e avaliação ponderando as<br />

abor<strong>da</strong>gens pe<strong>da</strong>gógicas que se apresentam compatíveis. Ou seja, o professor seleciona<br />

conteúdos orientando-se por uma tendência pe<strong>da</strong>gógica e um processo de avaliação por outra<br />

abor<strong>da</strong>g<strong>em</strong>. Assim corre-se o risco de enaltecer um processo de ensino, aprendizag<strong>em</strong> e<br />

avaliação desconectado, s<strong>em</strong> relação entre uma dimensão e outra, o que pode levar à falta de<br />

clareza <strong>sobre</strong> quais são as intenções do programa de ensino, o que está sendo privilegiado nas<br />

<strong>aulas</strong>, como está ocorrendo a avaliação dos conhecimentos aprendidos.<br />

Entretanto, ain<strong>da</strong> que as críticas sejam pertinentes, é preciso admitir que:<br />

89


[...] dentre vários textos que fomentaram o processo de modificações no ensino <strong>da</strong><br />

Educação Física, os PCNs merec<strong>em</strong> destaque, pois contribuíram para fun<strong>da</strong>mentar<br />

uma prática educativa diferencia<strong>da</strong>, tendo como ponto de parti<strong>da</strong> a obrigatorie<strong>da</strong>de<br />

legal de inserir o componente na proposta pe<strong>da</strong>gógica <strong>da</strong> escola. (GRAMORELLI;<br />

NEIRA, 2009, p.108).<br />

Sendo assim, para além de denunciar a ênfase <strong>da</strong><strong>da</strong> aos aspectos prescritivos e a forma<br />

aligeira<strong>da</strong> de tratar os pressupostos teóricos desse documento, considera-se que os PCNs<br />

apresentam princípios que indicam formas de organização dos contextos educativos<br />

considerados interessantes no debate <strong>da</strong> visão tecnicista e biológica <strong>da</strong> área, como, por<br />

ex<strong>em</strong>plo, a inclusão, a integração, a diversi<strong>da</strong>de, o aprender a aprender e o aprender a viver<br />

junto.<br />

No mesmo sentido, Rodrigues (2002) também pondera que existe uma atualização do<br />

discurso <strong>sobre</strong> a função social <strong>da</strong> Educação Física, justificando-a no contexto <strong>da</strong>s novas<br />

exigências <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de brasileira na déca<strong>da</strong> de 1990. Entretanto, o autor não deixa de chamar<br />

a atenção para o ecletismo presente nos PCNs, especialmente quanto à definição do objeto de<br />

estudo <strong>da</strong> Educação Física, apresentado de maneira confusa e superficial, s<strong>em</strong> considerar as<br />

diferenças epist<strong>em</strong>ológicas entre as abor<strong>da</strong>gens pe<strong>da</strong>gógicas <strong>da</strong> área.<br />

Com relação ao assunto avaliação, percebe-se que esse documento assinala que a<br />

avaliação <strong>em</strong> Educação Física t<strong>em</strong> características próprias. O professor, visto como mediador<br />

<strong>da</strong> aprendizag<strong>em</strong> dos alunos, deve fazer diagnósticos, considerar a capaci<strong>da</strong>de de<br />

aprendizag<strong>em</strong> dos discentes e propiciar momento para eles se autoavaliar<strong>em</strong>. A avaliação é<br />

entendi<strong>da</strong> como um dispositivo didático processual e contínuo, e deve servir para a<br />

reorientação do processo de ensino e aprendizag<strong>em</strong> escolar. Essa forma de compreender a<br />

avaliação t<strong>em</strong> sua importância justifica<strong>da</strong> na possibili<strong>da</strong>de de acompanhar o processo de<br />

desenvolvimento do aluno no decorrer do processo de ensino e aprendizag<strong>em</strong>.<br />

Pode-se pontuar que as preconizações <strong>sobre</strong> avaliação nos PCNs para o 1° e 2° ciclo<br />

do Ensino Fun<strong>da</strong>mental impactou na ação avaliativa dos professores de forma a melhorar a<br />

apropriação de conhecimentos a respeito <strong>da</strong> prática avaliativa formativa, porém abarcando<br />

discussões considera<strong>da</strong>s superficiais. Percebeu-se que os docentes de Educação Física<br />

passaram a considerar tal lógica <strong>em</strong> seus discursos pe<strong>da</strong>gógicos, mas <strong>em</strong> contraparti<strong>da</strong>, as<br />

características <strong>da</strong>s práticas avaliativas impl<strong>em</strong>enta<strong>da</strong>s pelos mesmos, conforme identifica<strong>da</strong>s<br />

pelos estudos de Bratifische (2003) Mendez, Nascimento e Mendez (2007) e Diniz e Amaral<br />

(2009), é realiza<strong>da</strong> de maneira restrita, valorizando-se como critério a presença <strong>em</strong> aula,; a<br />

avaliação <strong>da</strong>s performances e técnicas dos movimentos, o domínio <strong>da</strong>s regras, o<br />

90


desenvolvimento <strong>da</strong>s habili<strong>da</strong>des motoras considera<strong>da</strong>s ideias para ser<strong>em</strong> d<strong>em</strong>onstra<strong>da</strong>s nas<br />

<strong>aulas</strong>.<br />

Sobre os PCNs (BRASIL, 1998) para o 3° e 4° ciclo do Ensino Fun<strong>da</strong>mental,<br />

Gramorelli e Neira (2009, p.11) identificaram:<br />

[...] aspectos que sinalizam mu<strong>da</strong>nças para o ensino <strong>da</strong> Educação Física, quando<br />

confrontados com os referenciais e propostas para o componente, vigentes até<br />

princípios dos anos 1990. Destacam-se, devido às características inovadoras à época,<br />

os seguintes pressupostos: o princípio <strong>da</strong> inclusão, a distribuição dos conhecimentos<br />

<strong>da</strong> área <strong>em</strong> categorias e blocos de conteúdos e a forma de avaliação.<br />

Mediante a apreciação dos autores, considera-se relevante expor um quadro síntese<br />

dos conteúdos, métodos e avaliação presentes nesse documento.<br />

Quadro10: Síntese dos PCNs para o 3 o e 4 o ciclo do Ensino Fun<strong>da</strong>mental específico <strong>da</strong> área<br />

de Educação Física (BRASIL, 1998).<br />

91


PARÂMENTROS CURRICULARES NACIONAIS DE EDUCAÇÃO FÍSICA – 3 o E 4 o CICLO (BRASIL, 1998)<br />

OBJETIVOS<br />

Participar de ativi<strong>da</strong>des de natureza relacional, reconhecendo e respeitando suas características físicas e de des<strong>em</strong>penho motor, assim como<br />

a de seus colegas, s<strong>em</strong> discriminar por características pessoais, físicas, sexuais ou sociais.<br />

Apropriar-se de processos de aperfeiçoamento <strong>da</strong>s capaci<strong>da</strong>des físicas, <strong>da</strong>s habili<strong>da</strong>des motoras próprias <strong>da</strong>s situações relacionais,<br />

aplicando-os com discernimento <strong>em</strong> situações-probl<strong>em</strong>a que surjam no cotidiano.<br />

Adotar atitudes de respeito mútuo, digni<strong>da</strong>de e soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de na prática dos jogos, lutas e esportes, buscando encaminhar os conflitos de<br />

forma não-violenta, pelo diálogo, e prescindindo <strong>da</strong> figura do árbitro.<br />

Saber diferenciar os contextos amador, recreativo, escolar e profissional, reconhecendo e evitando o caráter excessivamente competitivo<br />

<strong>em</strong> quaisquer desses contextos.<br />

Conhecer, valorizar, apreciar e desfrutar de algumas <strong>da</strong>s diferentes manifestações <strong>da</strong> cultura corporal, adotando uma postura despoja<strong>da</strong> de<br />

preconceitos ou discriminações por razões sociais, sexuais ou culturais.<br />

Reconhecer e valorizar as diferenças de des<strong>em</strong>penho, linguag<strong>em</strong> e expressivi<strong>da</strong>de decorrentes, inclusive, dessas mesmas diferenças<br />

culturais, sexuais e sociais.<br />

Relacionar a diversi<strong>da</strong>de de manifestações <strong>da</strong> cultura corporal de seu ambiente e de outros com o contexto <strong>em</strong> que são produzi<strong>da</strong>s e<br />

valoriza<strong>da</strong>s, aprofun<strong>da</strong>ndo-se no conhecimento dos limites e <strong>da</strong>s possibili<strong>da</strong>des do próprio corpo de forma a poder controlar algumas de<br />

suas posturas e ativi<strong>da</strong>des corporais com autonomia e a valorizá-las como recurso para melhoria de suas aptidões físicas.<br />

Aprofun<strong>da</strong>r as noções conceituais de esforço, intensi<strong>da</strong>de e frequência por meio do planejamento e sist<strong>em</strong>atização de suas práticas<br />

corporais.<br />

Buscar informações para seu aprofun<strong>da</strong>mento teórico de forma a construir e a<strong>da</strong>ptar alguns sist<strong>em</strong>as de melhoria de sua aptidão física.<br />

Organizar e praticar ativi<strong>da</strong>des corporais, valorizando-as como recurso para usufruto do t<strong>em</strong>po disponível, assim como ter a capaci<strong>da</strong>de de<br />

alterar ou interferir nas regras convencionais, com o intuito de torná-las mais adequa<strong>da</strong>s ao momento do grupo, favorecendo a inclusão dos<br />

praticantes.<br />

Analisar, compreender e manipular os el<strong>em</strong>entos que compõ<strong>em</strong> as regras como instrumentos de criação e transformação.<br />

Analisar alguns dos padrões de beleza, saúde e des<strong>em</strong>penho presentes no cotidiano e compreender sua inserção no contexto sociocultural<br />

<strong>em</strong> que são produzidos, despertando para o senso crítico e relacionando-os com as práticas <strong>da</strong> cultura corporal de movimento.<br />

Conhecer, organizar e interferir no espaço de forma autônoma, assim como reivindicar locais adequados para a promoção de ativi<strong>da</strong>des<br />

corporais e de lazer, reconhecendo-as como uma necessi<strong>da</strong>de do ser humano e um direito do ci<strong>da</strong>dão, <strong>em</strong> busca de uma melhor quali<strong>da</strong>de<br />

de vi<strong>da</strong>.<br />

92


PARÂMENTROS CURRICULARES NACIONAIS DE EDUCAÇÃO FÍSICA – 3 o E 4 o CICLO (BRASIL, 1998)<br />

CONTEÚDOS<br />

MÉTODOS<br />

AVALIAÇÃO<br />

Educação Física vista como área de conhecimento que deve integrar o aluno na cultura corporal de movimento, por meio dos conteúdos: a)<br />

conhecimentos <strong>sobre</strong> o corpo; b) ativi<strong>da</strong>des rítmicas e expressivas; c) esportes, jogos, lutas e ginásticas. Conteúdos desenvolvidos nas suas<br />

dimensões conceitual, procedimental e atitudinal, com “valorização dos procedimentos s<strong>em</strong> restringi-los ao universo <strong>da</strong>s habili<strong>da</strong>des motoras e<br />

dos fun<strong>da</strong>mentos dos esportes, incluindo procedimentos de organização, sist<strong>em</strong>atização de informações e aperfeiçoamento entre outros. Aos<br />

conteúdos conceituais de regras, táticas e alguns <strong>da</strong>dos históricos factuais de mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>des, somam-se reflexões <strong>sobre</strong> os conceitos de ética,<br />

estética, des<strong>em</strong>penho, satisfação, eficiência, entre outros. E, finalmente, os conteúdos de natureza atitudinal são explicitados como objeto de<br />

ensino e aprendizag<strong>em</strong> e propostos como vivências concretas pelo aluno, o que viabiliza a construção de uma postura de responsabili<strong>da</strong>de<br />

perante si e o outro” (BRASIL, 1998, p. 82)..<br />

“*...+ diversificando estratégias de abor<strong>da</strong>g<strong>em</strong> dos conteúdos, professor e aluno pod<strong>em</strong> participar de uma integração cooperativa de construção<br />

e descoberta, <strong>em</strong> que o professor promove uma visão organiza<strong>da</strong> do processo, como possibili<strong>da</strong>des reais (experiência socioculturalmente<br />

construí<strong>da</strong>, referência para a leitura <strong>da</strong> tentativa do aluno), e o aluno contribui com o el<strong>em</strong>ento novo (o seu estilo pessoal de executar e refletir,<br />

e, portanto, de aprender), de que se apropria, trazendo a síntese <strong>da</strong> atuali<strong>da</strong>de para o momento <strong>da</strong> aprendizag<strong>em</strong> (conhecimentos prévios,<br />

recursos de troca de informações, informações <strong>da</strong> mídia etc.). Desse modo, ambos pod<strong>em</strong> ressignificar suas estruturas interiores de<br />

aprendizag<strong>em</strong> e de ensino e elaborar a intenção e a predisposição necessárias para a construção do novo e do atual” (BRASIL, 1998, p. 46-47).<br />

“A predominância <strong>da</strong>s intenções avaliativas deve ocorrer dentro de uma perspectiva processual, ou seja, facilitar a observação do aluno no<br />

processo de construção de conhecimento. Essa avaliação contínua compreende as fases que se convencionou denominar diagnóstica ou inicial,<br />

formativa ou concomitante e somativa ou final” (BRASIL, 1998, p. 58).<br />

A avaliação deve “*...+ ser de utili<strong>da</strong>de, tanto para o aluno como para o professor, para que ambos possam dimensionar os avanços e as<br />

dificul<strong>da</strong>des dentro do processo de ensino e aprendizag<strong>em</strong> e torná-lo ca<strong>da</strong> vez mais produtivo” (ibid<strong>em</strong>, p. 58).<br />

93


Na opinião de Neira e Nunes (2006, p. 119), os PCNs encontram-se no “rastro <strong>da</strong>s<br />

teorias críticas do currículo”, pois apontam:<br />

[...] a preocupação com o pleno exercício <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia, destacado pelos critérios<br />

para decisão de conteúdos e valorização do patrimônio de conhecimentos de ca<strong>da</strong><br />

locali<strong>da</strong>de expressos na proposta para a Educação Física, que nos permite classificar<br />

este desenho curricular como uma perspectiva crítica delinea<strong>da</strong> nos seus objetivos<br />

para o componente.<br />

Por outro lado, observa-se nos PCNs (BRASIL, 1998) para o 3° e 4° ciclo do Ensino<br />

Fun<strong>da</strong>mental que, ao enfocar a apresentação dos objetivos, evidencia-se a amplitude de<br />

abor<strong>da</strong>gens abarca<strong>da</strong>s nesse documento 1 , que inclui, por ex<strong>em</strong>plo, a dimensão <strong>da</strong> crítica aos<br />

padrões de beleza, ao mesmo t<strong>em</strong>po <strong>em</strong> que é referencia<strong>da</strong> a busca <strong>da</strong> compreensão dos<br />

benefícios <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong>de física para a saúde. Uma leitura mais atenta mostra também uma<br />

perspectiva <strong>da</strong> compreensão dos processos de aprendizag<strong>em</strong> a partir <strong>da</strong> ótica do<br />

construtivismo. Embora a finali<strong>da</strong>de seja a integração do aluno na esfera <strong>da</strong> cultura corporal<br />

de movimento, mais uma vez é identifica<strong>da</strong> a existência de certo ecletismo nos meios<br />

considerados para alcançar essas finali<strong>da</strong>des (CASTRO; SILVA JÚNIOR; SOUZA, 2008).<br />

Tendo <strong>em</strong> vista a explicação desse ecletismo, pode-se observar que os PCNs<br />

(BRASIL, 1997, 1998) se baseiam mais na consideração dos esportes, lutas, jogos e<br />

ginásticas, ativi<strong>da</strong>des rítmicas e expressivas como manifestações <strong>da</strong> cultura corporal <strong>da</strong><br />

Educação Física escolar que converge para uma perspectiva <strong>da</strong> abor<strong>da</strong>g<strong>em</strong> pe<strong>da</strong>gógica<br />

culturalista. Ao mesmo t<strong>em</strong>po, estabelec<strong>em</strong> que essas manifestações culturais devam ser<br />

cont<strong>em</strong>pla<strong>da</strong>s a partir <strong>da</strong> perspectiva proposta por Coll, ou seja, <strong>em</strong> suas concepções factuais,<br />

conceituais, procedimentais e atitudinais. Além disso, traz<strong>em</strong> indicadores <strong>da</strong> abor<strong>da</strong>g<strong>em</strong><br />

desenvolvimentista na escolha dos conteúdos e critérios de avaliação. Segundo Paes (1996,<br />

p.57), é preciso distinguir essas abor<strong>da</strong>gens, pois isso pode auxiliar o professor a enxergar<br />

relações possíveis ou inexecutáveis. Conforme as palavras do autor:<br />

Go Tani et. al. (1988) e Soares et. al. (1992) discut<strong>em</strong> a Educação Física Escolar<br />

considerando diferentes abor<strong>da</strong>gens. Go Tani (1988) defende a ideia de que, na<br />

Educação Física Escolar, seu conteúdo deve ser proposto obedecendo a uma<br />

sequência normal existente nos processos de crescimento, desenvolvimento e<br />

aprendizag<strong>em</strong> motora, e cabe ao professor orientar e sist<strong>em</strong>atizar o seu ensino,<br />

respeitando as características inerentes de ca<strong>da</strong> faixa etária. Soares et. al. (1992), na<br />

elaboração dos ciclos de escolarização, d<strong>em</strong>onstram suas preocupações na<br />

organização, na sist<strong>em</strong>atização e na distribuição dos conteúdos dentro do t<strong>em</strong>po<br />

pe<strong>da</strong>gogicamente necessário para o aprendizado, não se vinculando a etapas de<br />

ensino, pois os autores compreend<strong>em</strong> que é possível trabalhar com ciclos diferentes<br />

ao mesmo t<strong>em</strong>po.<br />

1 Aspecto também notado na publicação dos PCNs para o 1° e 2° ciclo do Ensino Fun<strong>da</strong>mental <strong>em</strong> 1997.<br />

94


Partindo <strong>da</strong>s considerações do autor, entende-se que, com essa “mistura” de<br />

concepções e diferentes matrizes teóricas presente nos PCNs <strong>da</strong> área para o 1°, 2°, 3°, 4°<br />

ciclo, ressaltam-se algumas combinações entre abor<strong>da</strong>gens pe<strong>da</strong>gógicas <strong>da</strong> área que pod<strong>em</strong><br />

ser equivoca<strong>da</strong>s se for leva<strong>da</strong> <strong>em</strong> conta a perspectiva <strong>da</strong> fun<strong>da</strong>mentação teórica.<br />

Compreende-se que a análise crítica desses documentos aponta os probl<strong>em</strong>as que<br />

causaram e ain<strong>da</strong> acarretam na prática pe<strong>da</strong>gógica dos professores <strong>da</strong> área, pois mais<br />

confundiram do que eluci<strong>da</strong>ram ou orientaram os profissionais <strong>da</strong> área que atuam no contexto<br />

escolar, ocasionando certa dispersão nas orientações <strong>da</strong>s práticas pe<strong>da</strong>gógicas no contexto <strong>da</strong>s<br />

<strong>aulas</strong> de Educação Física desenvolvi<strong>da</strong>s no Ensino Básico.<br />

Ao mesmo t<strong>em</strong>po, considera-se importante reconhecer que foi a partir desses<br />

documentos que se percebeu um movimento dos professores para a busca de informações e<br />

conhecimentos <strong>sobre</strong> as categorias de conteúdo conceituais, procedimentais, atitudinais. Além<br />

disso, passaram a ser mais valorizados os princípios <strong>da</strong> inclusão, dos t<strong>em</strong>as transversais, <strong>da</strong><br />

organização do ensino por meio de projetos de trabalho, a inserção <strong>da</strong> Educação Física no<br />

projeto pe<strong>da</strong>gógico <strong>da</strong> escola e, principalmente, a concepção de avaliação. Sendo assim,<br />

corrobora-se com Gramorelli e Neira (2009) que as orientações desses documentos apontam<br />

aspectos inovadores à época <strong>em</strong> que foram publicados.<br />

No que se refere à avaliação, a análise dos documentos citados mostra que o propósito<br />

<strong>da</strong> prática avaliativa não é aprovar ou reprovar, mas sim acompanhar o processo de<br />

desenvolvimento dos alunos no sentido de apreciar a manifestação de aprendizagens de ord<strong>em</strong><br />

cognitiva, física, afetiva, de relação interpessoal, ética e estética. Para tanto, essa análise<br />

aponta que o professor deve utilizar uma série de técnicas e instrumentos que possam fornecer<br />

<strong>da</strong>dos para a avaliação qualitativa do des<strong>em</strong>penho dos alunos e a reflexão <strong>sobre</strong> a própria<br />

prática docente, além de propiciar a autoavaliação dos estu<strong>da</strong>ntes e a consideração dos<br />

resultados para realizar a melhora <strong>da</strong> prática de ensino. Nesse sentido, a avaliação deve<br />

apreciar os diferentes conteúdos trabalhados como os alunos, ser um processo contínuo,<br />

realizado <strong>em</strong> todos os momentos <strong>da</strong> relação de ensino e aprendizag<strong>em</strong>.<br />

Mediante esses indicadores, a análise deixa transparecer que o documento considera a<br />

visão de avaliação integra<strong>da</strong> às d<strong>em</strong>ais esferas <strong>da</strong> ação educativa, na medi<strong>da</strong> <strong>em</strong> que expõ<strong>em</strong><br />

pr<strong>em</strong>issas que indicam, <strong>em</strong> termos gerais, que o processo avaliativo deve ser qualitativo e<br />

propiciar a prática reflexiva <strong>sobre</strong> a ação didática do professor, visando a auxiliar o aluno a<br />

melhorar o processo de aprendizag<strong>em</strong>. Nessa direção, identifica-se <strong>em</strong> tais preconizações o<br />

paradigma qualitativo e formativo <strong>da</strong> avaliação, que, segundo Hadji (1994), Perrenoud (1999),<br />

95


Vasconcelos (2003) e Luckesi (2005), é um caminho promissor para <strong>em</strong>preender mu<strong>da</strong>nças<br />

nas práticas avaliativas dos professores que atuam na Educação Básica.<br />

É importante ressaltar que nesses documentos se observa que a contextualização dos<br />

pressupostos apontados t<strong>em</strong> como norte os dispositivos <strong>da</strong> LDB 9.394/96 (BRASIL, 1996), a<br />

qual estabelece <strong>em</strong> seu artigo 24 a necessi<strong>da</strong>de de se considerar um modelo de avaliação com<br />

caráter contínuo e cumulativo, além de apontar que dev<strong>em</strong> prevalecer nas práticas avaliativas<br />

os aspectos qualitativos <strong>sobre</strong> os quantitativos e a consideração dos resultados adquiridos ao<br />

longo do período de ensino e aprendizag<strong>em</strong> <strong>sobre</strong> as eventuais provas finais. Também se<br />

estabelec<strong>em</strong> relações com as normas <strong>da</strong>s Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino<br />

Fun<strong>da</strong>mental que destacam, na Resolução CEB nº 2, de 7 de abril de 1998, a necessi<strong>da</strong>de de<br />

os sist<strong>em</strong>as de ensino decidir<strong>em</strong>, de maneira autônoma, como organizar e desenvolver suas<br />

propostas pe<strong>da</strong>gógicas, o que evidencia a integração <strong>da</strong>s bases teóricas que favorec<strong>em</strong> a<br />

organização dos conteúdos, visando a reforçar a coerência no planejamento, desenvolvimento<br />

e avaliação <strong>da</strong>s práticas pe<strong>da</strong>gógicas (BRASIL, 1998a).<br />

Esses aspectos presentes nos PCNs do Ensino Fun<strong>da</strong>mental são compreendidos como<br />

apontamentos relevantes para se pensar a avaliação, já que nesses documentos pode-se<br />

observar o entendimento do que é previsto na LDB 9.394/96 (BRASIL, 1996) <strong>sobre</strong> a<br />

quali<strong>da</strong>de do resultado do processo de ensino e aprendizag<strong>em</strong> prevalecer <strong>sobre</strong> a avaliação<br />

meramente quantitativa, funcionando de maneira contextualiza<strong>da</strong> com o nível de ensino <strong>em</strong><br />

seus diferentes ciclos de formação, assegurando dessa forma que um deslize provocado por<br />

fatores circunstanciais não prejudique o desenvolvimento do aluno. Além disso, a mesma Lei<br />

preconiza <strong>sobre</strong> a avaliação contínua, que deve ser desenvolvi<strong>da</strong>, conforme a Resolução<br />

menciona<strong>da</strong> anteriormente, de maneira coerente com a reali<strong>da</strong>de <strong>em</strong> que ocorreu o processo<br />

de ensino e aprendizag<strong>em</strong> do aluno (ibid<strong>em</strong>).<br />

Desse modo, pode-se observar "eco" dos preceitos que implicam a prática avaliativa<br />

no que é instituído pelo Conselho Nacional de Educação e o Ministério <strong>da</strong> Educação.<br />

Os PCNs para o Ensino Médio (PCNEM) foram publicados <strong>em</strong> 1999 e compõ<strong>em</strong> a<br />

reforma curricular <strong>em</strong>preendi<strong>da</strong> no Ensino Médio quando <strong>da</strong> aprovação <strong>da</strong> LDB 9.394/96<br />

(BRASIL, 1996) e <strong>da</strong>s Diretrizes Curriculares Nacionais, que estabeleceu a divisão do<br />

conhecimento escolar <strong>em</strong> três grandes áreas: Linguagens, Códigos e suas tecnologias;<br />

Ciências <strong>da</strong> Natureza, Mat<strong>em</strong>ática e suas tecnologias; Ciências Humanas e suas tecnologias.<br />

Essa classificação teve como base a reunião <strong>da</strong>queles conhecimentos que compartilham<br />

objetos de estudo e se comunicam, os quais facilitam a prática interdisciplinar na escola.<br />

96


Nessa nova perspectiva a Educação Física no Ensino Médio foi aloca<strong>da</strong> na área de<br />

Linguagens, Códigos e suas tecnologias, juntamente com as disciplinas de Língua Portuguesa,<br />

Língua Estrangeira Moderna, Informática e Arte. No entanto, observa-se que a disciplina<br />

poderia também ter sido classifica<strong>da</strong> na área de Ciências Humanas e suas tecnologias, uma<br />

vez que t<strong>em</strong> uma forte ligação com os conhecimentos produzidos historicamente, naquilo que<br />

se convencionou denominar de cultura corporal ou cultura corporal de movimento, mas não<br />

foi isso o que ocorreu.<br />

O PCNEM (BRASIL, 1999) foi elaborado por uma equipe diferente <strong>da</strong> que compôs os<br />

parâmetros para o Ensino Fun<strong>da</strong>mental, o que justifica a presença de outras perspectivas<br />

conceituais nesse documento.<br />

Nesse documento, o quadro que consta ao final de ca<strong>da</strong> área de conhecimento traz as<br />

respectivas competências e habili<strong>da</strong>des a ser<strong>em</strong> desenvolvi<strong>da</strong>s, as quais são apresenta<strong>da</strong>s<br />

seguindo um roteiro delineado <strong>em</strong> três partes, que serve para to<strong>da</strong>s as disciplinas: 1)<br />

representação e comunicação; 2) investigação e compreensão e 3) contextualização<br />

sociocultural. Os pressupostos <strong>sobre</strong> a Educação Física presentes nesse documento estão<br />

expostos no quadro a seguir.<br />

Quadro11: Síntese dos PCNEM específico <strong>da</strong> área de Educação Física (BRASIL, 1999).<br />

97


PARÂMENTROS CURRICULARES NACIONAIS DE EDUCAÇÃO FÍSICA PARA O ENSINO MÉDIO (BRASIL, 1999)<br />

COMPETÊNCIAS<br />

E HABILIDADES<br />

CONTEÚDOS<br />

MÉTODOS<br />

AVALIAÇÃO<br />

INVESTIGAÇÃO E COMPREENSÃO<br />

REPRESENTAÇÃO E COMUNICAÇÃO<br />

Compreender o funcionamento do organismo humano, de forma a reconhecer e modificar as ativi<strong>da</strong>des<br />

corporais, valorizando-as com recurso para a melhoria de suas aptidões físicas;<br />

Desenvolver as noções conceituais de esforço, intensi<strong>da</strong>de e frequência, aplicando-se suas práticas corporais;<br />

Refletir <strong>sobre</strong> as informações específicas <strong>da</strong> cultura corporal, sendo capaz de discerni-las e reinterpretá-las<br />

<strong>em</strong> bases científicas, adotando uma postura autônoma na seleção de ativi<strong>da</strong>des e procedimentos para a<br />

manutenção ou aquisição <strong>da</strong> saúde.<br />

Assumir uma postura ativa, na prática <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des físicas, e consciente <strong>da</strong> importância delas na vi<strong>da</strong> do<br />

ci<strong>da</strong>dão.<br />

Participar de ativi<strong>da</strong>des <strong>em</strong> grandes e pequenos grupos, compreendendo as diferenças individuais e<br />

procurando colaborar para que o grupo possa atingir os objetivos a que se propôs;<br />

Reconhecer na convivência e nas práticas pacíficas, maneiras eficazes de crescimento coletivo, dialogando,<br />

refletindo e adotando uma postura d<strong>em</strong>ocrática <strong>sobre</strong> os diferentes pontos de vista postos <strong>em</strong> debate.<br />

D<strong>em</strong>onstrar autonomia na elaboração de ativi<strong>da</strong>des corporais, assim como capaci<strong>da</strong>de para discutir e<br />

modificar regras, reunindo el<strong>em</strong>entos de várias manifestações de movimentos e estabelecendo uma melhor<br />

utilização dos conhecimentos adquiridos <strong>sobre</strong> a cultura corporal.<br />

CONTEXTUALIZAÇÃO SOCIOCULTURAL<br />

Compreender as diferentes manifestações <strong>da</strong> cultura corporal, reconhecendo e valorizando as diferenças de<br />

des<strong>em</strong>penho, linguag<strong>em</strong> e expressão.<br />

Promoção do desporto educacional e apoio às práticas desportivas não-formais (BRASIL, 1999, p. 158).<br />

Estratégias diversifica<strong>da</strong>s, desde o ensino e a vivência de mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>des esportivas até a experimentação de linguagens como os jogos, a <strong>da</strong>nça o circo,<br />

entre outras.<br />

Não menciona.<br />

98


Observam-se boas intenções nas propostas inseri<strong>da</strong>s nos PCNEM (BRASIL, 1999),<br />

especialmente quando o documento sugere a incorporação de princípios calcados na inclusão,<br />

o que pode ser considerado um avanço <strong>em</strong> relação à história <strong>da</strong> Educação Física escolar, que<br />

se pautou na exclusão dos alunos pelos critérios de performance técnica e tática. Também<br />

apontam uma abor<strong>da</strong>g<strong>em</strong> que defende o respeito aos limites e à individuali<strong>da</strong>de do aluno,<br />

reconhec<strong>em</strong> a importância do trabalho coletivo, enfocando o aprendizado e o<br />

desenvolvimento, os quais, mesmo sendo expostos com pouco aprofun<strong>da</strong>mento teórico, são<br />

considerados interessantes e promissores para se pensar <strong>em</strong> mu<strong>da</strong>nças no cotidiano <strong>da</strong>s <strong>aulas</strong><br />

de Educação Física no Ensino Médio.<br />

Por outro lado, notam-se alguns probl<strong>em</strong>as nesse documento, como a pouca<br />

preocupação <strong>em</strong> sist<strong>em</strong>atizar el<strong>em</strong>entos como os objetivos, as concepções de ensino, os<br />

conteúdos, as estratégias e a prática avaliativa. Darido e Sanches Neto (2005) acrescentam<br />

outra crítica a esse documento, relaciona<strong>da</strong> à observação de uma tendência tecnicista e<br />

utilitária, que para os autores se deve às relações entre os apontamentos <strong>sobre</strong> a escolarização<br />

e o mercado de trabalho. Outro detalhe notado é que as competências e habili<strong>da</strong>des que<br />

pod<strong>em</strong> ser considera<strong>da</strong>s como pilares do paradigma avaliativo <strong>em</strong>ergente não são discuti<strong>da</strong>s<br />

nesse documento.<br />

Sendo assim, a presença do conhecimento de Educação Física na escola média<br />

procurou novos sentidos a partir <strong>da</strong>s diretrizes apresenta<strong>da</strong>s <strong>em</strong> Brasil (1999), com a<br />

proposição, nos PCN mais (BRASIL, 2002), do aprofun<strong>da</strong>mento teórico dos pressupostos<br />

defendidos na versão anterior dos PCNEM. Com base nesse novo documento:<br />

[...] s<strong>em</strong> qualquer pretensão normativa, busca-se contribuir para a impl<strong>em</strong>entação<br />

<strong>da</strong>s reformas educacionais defini<strong>da</strong>s pela nova Lei de Diretrizes e Bases <strong>da</strong><br />

Educação Nacional (LDBEN, 1996) e regulamenta<strong>da</strong>s por Diretrizes do Conselho<br />

Nacional de Educação. Entre os objetivos centrais está o de facilitar a organização<br />

do trabalho escolar na área de Linguagens, Códigos e suas Tecnologias. Para isso,<br />

explicita a articulação <strong>da</strong>s competências gerais que se deseja promover com os<br />

conhecimentos disciplinares e seus conceitos estruturantes e apresenta, ain<strong>da</strong>, um<br />

conjunto de sugestões de práticas educativas e de organização dos currículos,<br />

coerentes com essa articulação. Além de abrir um diálogo <strong>sobre</strong> o projeto<br />

pe<strong>da</strong>gógico escolar e de apoiar o professor <strong>em</strong> seu trabalho nas disciplinas, o texto<br />

traz el<strong>em</strong>entos para a continui<strong>da</strong>de <strong>da</strong> formação profissional docente na escola.<br />

Portanto, ain<strong>da</strong> que se concentr<strong>em</strong> nas disciplinas <strong>da</strong> área de Linguagens, Códigos e<br />

suas Tecnologias, as orientações aqui apresenta<strong>da</strong>s – compl<strong>em</strong>entares aos<br />

Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio (PCNEM, 1999) – têm <strong>em</strong><br />

vista a escola <strong>em</strong> sua totali<strong>da</strong>de. (ibid<strong>em</strong>, p. 7)<br />

Na análise desse documento, percebe-se o reconhecimento do atual momento do<br />

Ensino Médio, manifestando preocupações com aspectos que requer<strong>em</strong> atenção e cui<strong>da</strong>do,<br />

pois a precarie<strong>da</strong>de desse nível de ensino é resultante <strong>da</strong> falta de vagas para atender à alta<br />

99


d<strong>em</strong>an<strong>da</strong> dos jovens, ausência de estrutura física, material, de recursos financeiros, de<br />

profissionais capacitados e de uma proposta pe<strong>da</strong>gógica adequa<strong>da</strong> para essa fase de<br />

escolarização.<br />

Adentrando especificamente no PCN mais (BRASIL, 2002) que se refere à disciplina<br />

de Educação Física no Ensino Médio, as competências e habili<strong>da</strong>des a ser<strong>em</strong> desenvolvi<strong>da</strong>s<br />

nessa área de conhecimento situam-se nos mesmos eixos <strong>da</strong> proposta anterior: representação e<br />

comunicação, investigação e compreensão, contextualização sociocultural, que são<br />

apresenta<strong>da</strong>s nesse documento permea<strong>da</strong>s por um aprofun<strong>da</strong>mento de conceitos e<br />

procedimentos didático-pe<strong>da</strong>gógicos. O quadro a seguir expõe os itens que são aprofun<strong>da</strong>dos<br />

<strong>sobre</strong> essas competências e habili<strong>da</strong>des no documento publicado <strong>em</strong> 2002, assim como a<br />

síntese de apontamentos <strong>sobre</strong> como ensinar e avaliar os alunos nesse nível de ensino.<br />

Quadro12: Síntese dos PCN mais, específico <strong>da</strong> área de Educação Física (BRASIL, 2002).<br />

100


PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS DE EDUCAÇÃO FÍSICA PARA O ENSINO MÉDIO (BRASIL, 2002)<br />

COMPETÊNCIAS E<br />

HABILIDADES PARA<br />

O ENSINO MÉDIO<br />

REPRESENTAÇÃO E COMUNICAÇÃO<br />

Assumir na prática <strong>da</strong>s<br />

ativi<strong>da</strong>des físicas uma postura<br />

ativa e consciente <strong>da</strong><br />

importância delas na vi<strong>da</strong> do<br />

ci<strong>da</strong>dão.<br />

Participar de ativi<strong>da</strong>des <strong>em</strong><br />

grandes e pequenos grupos,<br />

compreendendo as diferenças<br />

individuais e procurando<br />

colaborar para que o grupo<br />

possa atingir os objetivos a<br />

que se propôs.<br />

Reconhecer, na convivência e<br />

nas práticas pacíficas,<br />

maneiras eficazes de<br />

crescimento coletivo,<br />

dialogando, refletindo e<br />

adotando uma postura<br />

d<strong>em</strong>ocrática <strong>sobre</strong> os<br />

diferentes pontos de vista<br />

postos <strong>em</strong> debate.<br />

D<strong>em</strong>onstrar autonomia na<br />

elaboração de ativi<strong>da</strong>des<br />

corporais, assim como<br />

capaci<strong>da</strong>de para discutir e<br />

modificar regras, reunindo<br />

el<strong>em</strong>entos de várias<br />

manifestações de<br />

movimentos e estabelecendo<br />

uma melhor utilização dos<br />

conhecimentos adquiridos<br />

<strong>sobre</strong> a cultura corporal.<br />

ITENS APROFUNDADOS PELA AUTORA<br />

REPRESENTAÇÃO E COMUNICAÇÃO<br />

1. Linguag<strong>em</strong> corporal<br />

2. Signo e símbolo<br />

3. Denotação e conotação<br />

4. Gramática <strong>da</strong> linguag<strong>em</strong> corporal<br />

5. Texto<br />

6. Interlocução, significação, dialogismo<br />

101


CONTEÚDOS<br />

INVESTIGAÇÃO E COMPREENSÃO<br />

CONTEXTUALIZAÇÃO SOCIOCULTURAL<br />

Compreender o<br />

funcionamento do organismo<br />

humano, de forma a<br />

reconhecer e modificar as<br />

ativi<strong>da</strong>des corporais,<br />

valorizando-as como recurso<br />

para a melhoria de suas<br />

aptidões físicas.<br />

Desenvolver as noções<br />

conceituais de esforço,<br />

intensi<strong>da</strong>de e frequência,<br />

aplicando-se a suas práticas<br />

corporais.<br />

Refletir <strong>sobre</strong> as informações<br />

específicas <strong>da</strong> cultura<br />

corporal, sendo capaz de<br />

discerni-las e reinterpretá-las<br />

<strong>em</strong> bases científicas,<br />

adotando uma postura<br />

autônoma na seleção de<br />

ativi<strong>da</strong>des e procedimentos<br />

para a manutenção ou<br />

aquisição <strong>da</strong> saúde.<br />

Compreender as diferentes<br />

manifestações <strong>da</strong> cultura<br />

corporal, reconhecendo e<br />

valorizando as diferenças de<br />

des<strong>em</strong>penho,<br />

expressão.<br />

linguag<strong>em</strong> e<br />

Não sist<strong>em</strong>atiza Não sist<strong>em</strong>atiza<br />

INVESTIGAÇÃO E COMPREENSÃO<br />

1. Análise e síntese<br />

2, 3 e 4. Correlação, identi<strong>da</strong>de e integração<br />

5. Classificação<br />

6. Informação e redundância<br />

7. Hipertexto<br />

CONTEXTUALIZAÇÃO SOCIOCULTURAL<br />

1. Cultura<br />

2. Globalização versus localização<br />

3. Arbitrarie<strong>da</strong>de versus motivação dos signos e símbolos<br />

4. Negociação de sentidos<br />

MÉTODOS Ressignificação <strong>da</strong>s práticas comuns nas <strong>aulas</strong> <strong>da</strong> disciplina no Ensino Médio, tendo <strong>em</strong> vista a formação que se pretende, de acordo com as<br />

102


AVALIAÇÃO<br />

novas proposições para a disciplina nesse nível de ensino.<br />

Desenvolver um ensino inclusivo apoiando, estimulando, incentivando, valorizando, promovendo e acolhendo o estu<strong>da</strong>nte.<br />

Promover aprendizagens significativas a partir <strong>da</strong> contextualização, mobilizando o estu<strong>da</strong>nte, estabelecendo uma relação de reciproci<strong>da</strong>de<br />

entre ele e o objeto do conhecimento.<br />

Interdisciplinari<strong>da</strong>de, partindo do princípio de que todo conhecimento mantém um diálogo permanente com os outros.<br />

Processo contínuo de diagnóstico <strong>da</strong> situação, contando com a participação de professores, alunos e equipe pe<strong>da</strong>gógica. Desde o início do<br />

período letivo, os alunos precisam ser informados <strong>sobre</strong> por que, como e quando estão sendo avaliados, abrindo-se espaço para que<br />

particip<strong>em</strong>, oferecendo sugestões.<br />

A participação dos alunos na definição dos critérios e nos rumos <strong>da</strong> avaliação implica decisões conjuntas, ca<strong>da</strong> qual assumindo sua<br />

responsabili<strong>da</strong>de no processo.<br />

Pode-se avaliar de forma sist<strong>em</strong>ática por meio <strong>da</strong> observação <strong>da</strong>s situações de vivência, de perguntas e respostas formula<strong>da</strong>s durante as<br />

<strong>aulas</strong>, e de forma específica, <strong>em</strong> autoavaliação, provas, pesquisas, relatórios, apresentações etc.<br />

A avaliação <strong>em</strong> Educação Física deve considerar a observação, análise e conceituação de el<strong>em</strong>entos que compõ<strong>em</strong> a totali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> conduta<br />

humana, ou seja, a avaliação deve estar volta<strong>da</strong> para a aquisição de competências, habili<strong>da</strong>des, conhecimentos e atitude dos alunos.<br />

Abranger as dimensões cognitiva, motora e atitudinal, verificando a capaci<strong>da</strong>de do aluno de expressar sua sist<strong>em</strong>atização dos conhecimentos<br />

relativos à cultura corporal <strong>em</strong> diferentes linguagens – corporal, escrita e fala<strong>da</strong>. Embora essas três dimensões apareçam integra<strong>da</strong>s no<br />

processo de aprendizag<strong>em</strong>, os momentos de formalização a avaliação pod<strong>em</strong> enfatizar uma ou outra delas – esse é outro motivo para a<br />

diversificação dos instrumentos.<br />

103


Perceb<strong>em</strong>-se durante a leitura dos PCN mais (BRASIL, 2002) alguns probl<strong>em</strong>as já<br />

observados nos documentos expostos anteriormente, pois não há uma introdução que informe<br />

ao leitor a linha de raciocínio ou uma concepção teórica que sustenta o texto. Nota-se que o<br />

texto exibe, <strong>em</strong> vários momentos, a expressão "cultura corporal” como se estivesse tratando<br />

<strong>da</strong> corrente pe<strong>da</strong>gógica culturalista <strong>da</strong> Educação Física, publica<strong>da</strong> <strong>em</strong> Soares et. al. (1992),<br />

mas revela ecletismo de concepções ao retomar o modelo <strong>da</strong> abor<strong>da</strong>g<strong>em</strong> volta<strong>da</strong> à aptidão<br />

física, desconectado <strong>da</strong> preocupação com o conjunto <strong>da</strong> escola e com as concepções<br />

pe<strong>da</strong>gógicas desse contexto, o que é absolutamente incompatível com a corrente <strong>da</strong> cultura<br />

corporal.<br />

Nesse documento se observam apontamentos interessantes <strong>sobre</strong> o processo de<br />

avaliação no contexto pe<strong>da</strong>gógico. Nota-se que, além de considerar os aspectos expostos nos<br />

PCNs do Ensino Fun<strong>da</strong>mental (BRASIL, 1997, 1998), o documento aprofun<strong>da</strong> alguns<br />

el<strong>em</strong>entos que compõ<strong>em</strong> as preconizações <strong>da</strong> avaliação formativa, especificando o que, como<br />

e por que avaliar no processo de aprendizag<strong>em</strong> dos alunos, a partir <strong>da</strong>s ideias de estudiosos <strong>da</strong><br />

avaliação no contexto educacional, como Hadji (1994), Zabala (1994) e Luckesi (2005).<br />

Observam-se, assim, nos PCNs (BRASIL, 1997, 1998, 1999 e 2002), aproximações<br />

teóricas com algumas preconizações <strong>da</strong> avaliação formativa, razão por que neste segmento do<br />

trabalho se optou, pela construção de um quadro para evidenciar os pontos que d<strong>em</strong>onstram<br />

essas relações.<br />

Quadro 13: Aproximações entre os pressupostos <strong>da</strong> prática avaliativa <strong>em</strong> Educação Física<br />

escolar expostos nos PCNs de Educação Física e el<strong>em</strong>entos <strong>da</strong> abor<strong>da</strong>g<strong>em</strong> <strong>da</strong> avaliação<br />

formativa.<br />

104


APONTAMENTOS MAIS SIGNIFICATIVOS SOBRE OS PRESSUPOSTOS DE<br />

AVALIAÇÃO EXPOSTOS NOS PCNs DE EDUCAÇÃO FÍSICA.<br />

105<br />

APROXIMAÇÕES COM APONTAMENTOS DA PROPOSTA BASEADA NA AVALIAÇÃO<br />

FORMATIVA.<br />

A prática avaliativa deve ocorrer junto ao processo de ensino e aprendizag<strong>em</strong>. A prática educativa é a própria prática avaliativa, que, por sua vez, revela to<strong>da</strong> a<br />

concepção político-pe<strong>da</strong>gógica de uma escola. Portanto, a avaliação deve estar<br />

conecta<strong>da</strong> ao processo de ensino e aprendizag<strong>em</strong> desenvolvido na escola.<br />

(HOFFMANN, 1993, 2004, 2009; VASCONCELOS, 2003; LUCKESI, 2005)<br />

A função <strong>da</strong> avaliação é munir o professor com <strong>da</strong>dos para o ajustamento <strong>da</strong>s<br />

ações educativas, possibilitando a toma<strong>da</strong> de decisões quanto à continui<strong>da</strong>de do<br />

programado ou a necessi<strong>da</strong>de de alterações.<br />

Não se restringe ao estabelecimento <strong>da</strong> nota.<br />

Avaliar os diferentes conhecimentos conceituais, procedimentais e atitudinais, de<br />

forma integra<strong>da</strong> às práticas de ensino, podendo ter momentos formalizados que<br />

enfatiz<strong>em</strong> uma ou outra categoria.<br />

O professor deve verificar quanto o seu trabalho está sendo eficiente e que desvios<br />

está tendo. (ESTEBAN, 2002, 2008).<br />

A avaliação t<strong>em</strong> finali<strong>da</strong>de de melhorar o processo de ensino e aprendizag<strong>em</strong> que<br />

ocorre na interação de um professor com seus alunos. (CONDEMARÍN; MEDINA,<br />

2005; LUCKESI, 2005).<br />

Diagnosticar as dificul<strong>da</strong>des dos alunos, com vistas à correção de rumos, à<br />

reformulação de procedimentos didáticos ou até mesmo dos objetivos. De maneira<br />

contínua. (VASCONCELOS, 2003).<br />

A avaliação deve levar a uma revisão dos conteúdos selecionados, do método<br />

utilizado, <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des realiza<strong>da</strong>s, <strong>da</strong>s relações estabeleci<strong>da</strong>s <strong>em</strong> aula, ou seja, a uma<br />

revisão do ensino. (LUCKESI, 2005).<br />

O professor deve se aprofun<strong>da</strong>r nas estratégias de pensamento do aluno, nas formas<br />

como ele age e realiza ativi<strong>da</strong>des educativas. (HOFFMANN, 1993, 2004, 2009).


APONTAMENTOS MAIS SIGNIFICATIVOS RETIRADOS DOS PRESSUPOSTOS SOBRE<br />

AVALIAÇÃO NOS PCNs de Educação Física.<br />

106<br />

APROXIMAÇÕES COM APONTAMENTOS DA PROPOSTA BASEADA NA AVALIAÇÃO<br />

FORMATIVA.<br />

Considera a característica de processuali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> avaliação. É preciso avaliar a expressão de aprendizag<strong>em</strong> aluno de maneira processual.<br />

(HOFFMANN, 1993, 2004, 2009).<br />

Leva <strong>em</strong> conta a participação do aluno, não só nos momentos de autoavaliação,<br />

mas também durante as reflexões <strong>sobre</strong> a construção de critérios de avaliação.<br />

Deve cumprir a função de fazer com que o aluno e o professor reconheçam os<br />

avanços conseguidos e as dificul<strong>da</strong>des encontra<strong>da</strong>s durante o processo de ensino e<br />

aprendizag<strong>em</strong>, tendo <strong>em</strong> vista a contribuição para o processo de aprendizag<strong>em</strong> dos<br />

alunos, experimentando e transformando o conhecimento aprendido nas <strong>aulas</strong> de<br />

Educação Física.<br />

Na prática <strong>da</strong> avaliação, o professor não deve esperar o mesmo resultado de todos<br />

os alunos.<br />

A avaliação deve ser de utili<strong>da</strong>de, tanto para o aluno como para o professor, para<br />

que ambos possam dimensionar os avanços e as dificul<strong>da</strong>des dentro do processo<br />

de ensino e aprendizag<strong>em</strong> e torná-lo ca<strong>da</strong> vez mais produtivo.<br />

É importante realizar a avaliação diagnóstica ou inicial, pois ela fornece os <strong>da</strong>dos<br />

para a elaboração do projeto de desenvolvimento dos conteúdos, a partir <strong>da</strong><br />

consideração dos conhecimentos prévios do aluno. Relativiza os objetivos,<br />

conteúdos e metodologias de ensino, assim como estabelecer as ativi<strong>da</strong>des e<br />

tarefas a ser<strong>em</strong> realiza<strong>da</strong>s.<br />

Dev<strong>em</strong>-se propiciar tarefas avaliativas que oportuniz<strong>em</strong> a expressão de aprendizag<strong>em</strong><br />

do aluno de maneira processual. (HOFFMAN, 1993, 2004, 2009).<br />

Estabelecer uma a relação dialógica na construção do conhecimento, considerando a<br />

lógica do professor e do aluno. (HOFFMANN, 1993, 2004, 2009; CONDEMARÍN;<br />

MEDINA, 2005).<br />

A avaliação entendi<strong>da</strong> numa perspectiva d<strong>em</strong>ocrática e transformadora é aquela <strong>em</strong><br />

que os resultados constitu<strong>em</strong> parte de um diagnóstico e que, a partir dessa análise <strong>da</strong><br />

reali<strong>da</strong>de, sejam toma<strong>da</strong>s decisões coletivas <strong>sobre</strong> o que fazer para retomar os<br />

probl<strong>em</strong>as constatados. (VASCONCELOS, 2003).<br />

Considerar a subjetivi<strong>da</strong>de, as características peculiares <strong>da</strong>s possibili<strong>da</strong>des e<br />

dificul<strong>da</strong>des. Impossível reduzir o processo de avaliação ao que é imediatamente<br />

observável. (ESTEBAN, 2002, 2008).<br />

<strong>Avaliação</strong> <strong>da</strong> aprendizag<strong>em</strong> é um recurso pe<strong>da</strong>gógico útil e necessário ao educador e<br />

ao aluno na construção de si mesmo. (LUCKESI, 2005).<br />

A avaliação inicial deve levar <strong>em</strong> conta as seguintes perguntas: O que sabe? O que<br />

sabe fazer? O que pode chegar a saber (conhecer, fazer, ser)? Como pode aprender?<br />

Que experiência? Quais os interesses? (ZABALA, 1994).


APONTAMENTOS MAIS SIGNIFICATIVOS RETIRADOS DOS PRESSUPOSTOS SOBRE<br />

AVALIAÇÃO NOS PCNs de Educação Física.<br />

A avaliação formativa ou concomitante ao processo de ensino e aprendizag<strong>em</strong>, a<br />

qual deve fornecer <strong>da</strong>dos importantes para o ajustamento <strong>da</strong>s ações educativas,<br />

possibilitando a toma<strong>da</strong> de decisões quanto à continui<strong>da</strong>de do programado ou a<br />

necessi<strong>da</strong>de de alterações. Poderá tornar-se <strong>em</strong> si um objeto de ensino, pois dela<br />

derivam as reflexões <strong>sobre</strong> os valores e conceitos envolvidos e <strong>sobre</strong> a vali<strong>da</strong>de do<br />

próprio instrumento.<br />

A avaliação final ou somativa serve para a formalização do processo, a fim de<br />

vali<strong>da</strong>r as ativi<strong>da</strong>des realiza<strong>da</strong>s, conhecer e expressar a situação de ca<strong>da</strong> aluno e<br />

poder tomar as medi<strong>da</strong>s educativas pertinentes, dentro dos objetivos de<br />

aprendizag<strong>em</strong> propostos.<br />

107<br />

APROXIMAÇÕES COM APONTAMENTOS DA PROPOSTA BASEADA NA AVALIAÇÃO<br />

FORMATIVA<br />

A fase <strong>da</strong> avaliação reguladora deve informar e fazer uma valoração do processo, pois<br />

permite conhecer como os alunos aprend<strong>em</strong>, possibilitando introduzir ativi<strong>da</strong>des<br />

novas que comport<strong>em</strong> desafios mais adequados e aju<strong>da</strong>s mais contingentes. (ZABALA,<br />

1994).<br />

A avaliação final é o momento <strong>em</strong> que é preciso indicar o quanto se atingiu após o<br />

processo. Localiza as aprendizagens adquiri<strong>da</strong>s e direciona a continui<strong>da</strong>de.<br />

Apurar os resultados obtidos, quer dizer, as competências consegui<strong>da</strong>s <strong>em</strong> relação<br />

aos objetivos previstos e analisa o processo seguido. (ZABALA, 1994).


Como pode ser visto no quadro acima <strong>sobre</strong> a avaliação, nota-se o mesmo que foi<br />

observado na análise dos PCNs do Ensino Fun<strong>da</strong>mental. Esse documento d<strong>em</strong>onstra o<br />

alinhamento com as disposições <strong>sobre</strong> avaliação expostas na LDB 9.394/96 (BRASIL, 1996)<br />

e nas Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio, Resolução CEB No. 3, de 26 de<br />

junho de 1998, que entre seus pressupostos também figura a importância de a avaliação ser<br />

processual e coerente com o processo de ensino e aprendizag<strong>em</strong> dos alunos.<br />

Mediante o exame do documento PCN de Educação Física (BRASIL, 1997, 1998,<br />

2002), é possível observar, de modo geral, que os documentos que se refer<strong>em</strong> ao ensino de<br />

Educação Física afirmam o caráter inovador dos parâmetros por se fun<strong>da</strong>mentar<strong>em</strong> <strong>em</strong><br />

recentes tendências no campo <strong>da</strong> educação, merecendo destaque aquilo que entend<strong>em</strong> <strong>sobre</strong> o<br />

processo de avaliação. Ressalta-se o princípio de a avaliação girar <strong>em</strong> torno <strong>da</strong> preocupação<br />

com a formação do hom<strong>em</strong> e a construção do conhecimento do aluno, não se restringindo a<br />

uma única ativi<strong>da</strong>de, como, por ex<strong>em</strong>plo, a prova, mas abarcando um conjunto de ativi<strong>da</strong>des<br />

que poderão favorecer a aprendizag<strong>em</strong> do aluno. Para que o próprio aluno também tenha<br />

oportuni<strong>da</strong>de de verificar o seu crescimento, é visto como importante que a avaliação<br />

mantenha coerência <strong>em</strong> relação ao processo de ensino e aprendizag<strong>em</strong> escolar, apreciando<br />

diferentes tipos de conteúdo. Em termos <strong>da</strong> postura do professor, as novas tendências para um<br />

enfoque menos tradicional, menos rígido, com o exercício de uma prática avaliativa mais<br />

qualitativa e formativa.<br />

Entende-se que, desse modo, as discussões <strong>sobre</strong> o t<strong>em</strong>a avaliação arrazoa<strong>da</strong>s nos<br />

PCNs apontam pouca possibili<strong>da</strong>de de ser<strong>em</strong> aplica<strong>da</strong>s na Educação Física escolar, já que os<br />

professores carec<strong>em</strong> de ex<strong>em</strong>plos, explicações contextualiza<strong>da</strong>s com a disciplina <strong>em</strong> que<br />

atuam, para que, efetivamente, enten<strong>da</strong>m e apliqu<strong>em</strong> práticas avaliativas inovadoras <strong>em</strong> suas<br />

<strong>aulas</strong>. A observação desse probl<strong>em</strong>a nos pressupostos <strong>sobre</strong> avaliação acaba revelando o<br />

pouco eco dessas orientações no cotidiano <strong>da</strong> prática pe<strong>da</strong>gógica, <strong>sobre</strong>tudo de avaliação,<br />

como constataram as pesquisas de Darido, (1999, 2003), Bratifische (2003) e Silva e Bankoff<br />

(2010), as quais serão analisa<strong>da</strong>s mais adiante.<br />

PROPOSTA CURRICULAR DO ESTADO DE SÃO PAULO<br />

Os debates <strong>em</strong> torno dos pressupostos dos PCNs levaram o governo do estado de São<br />

Paulo a apresentar <strong>em</strong> 2008 uma nova proposta curricular para o estado, definindo as<br />

competências, habili<strong>da</strong>des e os conteúdos que deveriam ser tratados nos anos finais do Ensino<br />

Fun<strong>da</strong>mental e Ensino Médio.<br />

108


A proposta foi oficializa<strong>da</strong> por meio <strong>da</strong> Resolução nº 92 <strong>da</strong> Secretaria <strong>da</strong> Educação do<br />

Estado de São Paulo <strong>em</strong> 19 de dez<strong>em</strong>bro de 2007 (BRASIL, 2007). O Estado organizou esse<br />

documento para uniformizar o currículo dos níveis de Ensino Fun<strong>da</strong>mental II e Médio, e<br />

basea<strong>da</strong> na referi<strong>da</strong> Resolução a Secretaria de Educação estabeleceu as diretrizes para a<br />

organização curricular dos últimos anos do Ensino Fun<strong>da</strong>mental II e Ensino Médio nas<br />

escolas <strong>da</strong> rede pública estadual paulista. A reorganização curricular <strong>da</strong> educação básica foi<br />

constituí<strong>da</strong> pela equipe gestora como uma ação que visou à melhoria do processo educacional<br />

paulista. Dessa forma, essa nova proposta de modelo curricular é o resultado de uma <strong>da</strong>s<br />

metas lança<strong>da</strong>s pelo governo estadual para a Educação (SEE/SP, 2008a, p.11), a qual t<strong>em</strong><br />

como princípios centrais:<br />

109<br />

[...] a escola que aprende, o currículo como espaço de cultura, as competências<br />

como eixo de aprendizag<strong>em</strong>, a priori<strong>da</strong>de <strong>da</strong> competência de leitura e de escrita, a<br />

articulação <strong>da</strong>s competências para aprender e a contextualização no mundo do<br />

trabalho.<br />

Assim, pautando-se nesses princípios, um conjunto de documentos no formato de<br />

apostilas, jornais e DVDs foi dirigido aos professores <strong>da</strong> rede estadual de ensino. Nesses<br />

documentos são apresenta<strong>da</strong>s informações e orientações para a utilização dos materiais que<br />

foram enviados para o desenvolvimento <strong>da</strong>s <strong>aulas</strong>. Os cadernos do professor, ex<strong>em</strong>plo desses<br />

documentos, são organizados por bimestre e por disciplina:<br />

Neles, são apresenta<strong>da</strong>s situações de aprendizag<strong>em</strong> para orientar o trabalho do<br />

professor no ensino dos conteúdos disciplinares específicos. Esses conteúdos,<br />

habili<strong>da</strong>des e competências são organizados por série e acompanhados de<br />

orientações para a gestão <strong>da</strong> sala de aula, para a avaliação e a recuperação, assim<br />

como de sugestões de métodos e estratégias de trabalho nas <strong>aulas</strong>, experimentações,<br />

projetos coletivos, ativi<strong>da</strong>des extraclasse e estudos interdisciplinares (ibid<strong>em</strong>,<br />

2008a, p.9).<br />

A Proposta Curricular do Estado de São Paulo para a disciplina de Educação Física<br />

apresenta-se junto às disciplinas de Língua Portuguesa, Língua Estrangeira Moderna e Artes,<br />

compreendi<strong>da</strong>s na área de Linguagens, Códigos e suas Tecnologias. Na proposta defende-se<br />

que “as linguagens são meios para o conhecimento. O hom<strong>em</strong> conhece o mundo através de<br />

suas linguagens e seus símbolos” (ibid<strong>em</strong>, p. 31).<br />

Nesse ponto identifica-se uma mu<strong>da</strong>nça paradigmática para a Educação Física, que,<br />

além de se pautar na cultura corporal de movimento, considera outro conceito interessante<br />

para a área, a ideia do “se - movimentar”. Desse modo, o conteúdo <strong>da</strong> Educação Física:<br />

[...] compreende o sujeito mergulhado <strong>em</strong> diferentes reali<strong>da</strong>des culturais, nas quais<br />

estão indissociados do corpo, movimento e intencionali<strong>da</strong>de. Ela não se reduz mais<br />

ao condicionamento físico e ao esporte, quando praticados de maneira inconsciente<br />

ou mecânica. O aluno do Ensino Básico deve não só vivenciar, experimentar,<br />

valorizar, apreciar e aproveitar os benefícios advindos <strong>da</strong> cultura do movimento,


Assim, os autores entend<strong>em</strong> que:<br />

110<br />

mas também perceber e compreender os sentidos e significados <strong>da</strong>s suas diversas<br />

manifestações na socie<strong>da</strong>de cont<strong>em</strong>porânea (ibid<strong>em</strong>, p. 38).<br />

[...] a Educação Física escolar deve tratar pe<strong>da</strong>gogicamente de conteúdos culturais<br />

relacionados ao movimentar-se humano, porque o ser humano, ao longo de sua<br />

evolução de milhões de anos, foi construindo certos conhecimentos ligados ao uso<br />

do corpo e ao seu movimentar-se (ibid<strong>em</strong>).<br />

Compreende-se que a Proposta Curricular preconiza que a Educação Física trata <strong>da</strong><br />

cultura relaciona<strong>da</strong> aos aspectos corporais, que se expressa de diversas formas, dentre as quais<br />

o jogo, o esporte, a ginástica, a luta e as ativi<strong>da</strong>des rítmicas que se cruzam com os seguintes<br />

eixos t<strong>em</strong>áticos: Corpo, Saúde e Beleza; Cont<strong>em</strong>poranei<strong>da</strong>de; Mídias; Lazer e Trabalho.<br />

To<strong>da</strong>via, os autores assinalam que, ao apresentar esses conteúdos, deve-se considerar<br />

a diversi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> dinâmica cultural <strong>da</strong>s ações corporais específicas de ca<strong>da</strong> t<strong>em</strong>a, o que<br />

também exige levar <strong>em</strong> conta os “processos de significação, ou seja, aquilo que dá sentido a<br />

determina<strong>da</strong>s ações corporais” (ibid<strong>em</strong>, p. 42).<br />

Os objetivos inseridos na proposta para ser<strong>em</strong> atingidos nas <strong>aulas</strong> de Educação Física<br />

escolar estão voltados para os anos finais do Ensino Fun<strong>da</strong>mental e para o Ensino Médio.<br />

Segundo os autores <strong>da</strong> Proposta Curricular (ibid<strong>em</strong>), as finali<strong>da</strong>des expostas para os últimos<br />

anos do Ensino Fun<strong>da</strong>mental dev<strong>em</strong> considerar a importância de:<br />

diversificar, sist<strong>em</strong>atizar e aprofun<strong>da</strong>r as experiências do se - movimentar no âmbito<br />

<strong>da</strong> cultura de movimento, no sentido de proporcionar novas experiências de se -<br />

movimentar, permitindo aos alunos ressignificar experiências já vivencia<strong>da</strong>s e<br />

produzir novas significações a partir do cotejamento com os sentidos e<br />

intencionali<strong>da</strong>des presentes nas codificações <strong>da</strong>s culturas lúdicas, esportivas, gímnicas,<br />

<strong>da</strong>s lutas e <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des rítmicas.<br />

E para o Ensino Médio, ponderar a:<br />

compreensão do jogo, esporte, ginástica, luta e ativi<strong>da</strong>de rítmica como fenômenos<br />

socioculturais, <strong>em</strong> sintonia com os t<strong>em</strong>as do nosso t<strong>em</strong>po e <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> dos alunos,<br />

ampliando os conhecimentos no âmbito <strong>da</strong> cultura de movimento;<br />

alargamento <strong>da</strong>s possibili<strong>da</strong>des e significados/sentidos nas experiências de se -<br />

movimentar no jogo, esporte, ginástica, luta e ativi<strong>da</strong>de rítmica, rumo à construção de<br />

uma autonomia crítica e autocrítica.


A apresentação dos objetivos deixa claro que estão estruturados <strong>sobre</strong> o conceito de se<br />

- movimentar. Perceb<strong>em</strong>-se as possibili<strong>da</strong>des a ser<strong>em</strong> exercita<strong>da</strong>s na escola pública, por meio<br />

<strong>da</strong> relação do eu e a cultura do movimento, <strong>em</strong> que estão implícitos os sentidos criados e<br />

vivenciados nessa relação, a compreensão que as pessoas e a socie<strong>da</strong>de têm dessa relação. Ao<br />

mesmo t<strong>em</strong>po, preconizam que na prática dos el<strong>em</strong>entos que compõ<strong>em</strong> a cultura de<br />

movimentos é necessário considerar a presença do outro, gerando com isso as relações sociais<br />

advin<strong>da</strong>s desse processo.<br />

Portanto, entende-se que o conceito apresentado na Proposta Curricular de Educação<br />

Física do Estado de São Paulo prioriza o exercício do sentir, compreender e relacionar-se com<br />

o outro. Centra-se na formação integral de um indivíduo sensível, crítico, criativo, que deve<br />

desenvolver-se a partir <strong>da</strong> apropriação dos conhecimentos vivenciados e aprendidos <strong>sobre</strong> a<br />

cultura corporal inseri<strong>da</strong> nos jogos, esportes, lutas, ginástica e <strong>da</strong>nça.<br />

Segundo a proposta, o professor t<strong>em</strong> liber<strong>da</strong>de para elaborar outras estratégias de<br />

ensino e de avaliação, as quais dev<strong>em</strong> possibilitar entender se os alunos alcançaram ou não as<br />

competências planeja<strong>da</strong>s, por isso o documento que apresenta a Proposta Curricular específica<br />

para ca<strong>da</strong> área de conhecimento escolar não aponta pressupostos <strong>sobre</strong> como ensinar e avaliar,<br />

discutidos na especifici<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s sugestões de conteúdos e eixos t<strong>em</strong>áticos.<br />

Dessa forma, de maneira geral, a Proposta Curricular do Estado de São Paulo visa a<br />

sist<strong>em</strong>atizar o ensino <strong>da</strong> Educação Física nas escolas, apresentando aos professores sugestões<br />

curriculares para ser<strong>em</strong> desenvolvi<strong>da</strong>s nas <strong>aulas</strong>. Moura (2010) aponta que muitas são as<br />

críticas feitas a esse documento, que vão desde a desconsideração <strong>da</strong>s grandes diferenças<br />

culturais e sociais <strong>em</strong> um estado tão diversificado como São Paulo, até a falta de autonomia<br />

do professor para organizar suas <strong>aulas</strong>. Na elaboração dessa Proposta Curricular não se<br />

buscou conhecer a visão dos professores que trabalham nas escolas, eximindo-os de discutir,<br />

concor<strong>da</strong>r com o referido documento ou dele discor<strong>da</strong>r, o que d<strong>em</strong>onstra uma posição, de<br />

certo modo, autoritária do estado (ibid<strong>em</strong>).<br />

No texto introdutório <strong>da</strong> Proposta Curricular do Estado de São Paulo a avaliação é<br />

abor<strong>da</strong><strong>da</strong> de maneira geral, abarcando princípios que se pautam na legislação vigente,<br />

publica<strong>da</strong> na LDB 9.394/96 (BRASIL, 1996), que se centra no entendimento <strong>da</strong> avaliação<br />

vista como el<strong>em</strong>ento do currículo e parte do processo de ensino e aprendizag<strong>em</strong>, e pondera a<br />

prática <strong>da</strong> avaliação interna ou formativa e <strong>da</strong> avaliação externa ou institucional.<br />

Fernandes (2010), ao analisar o caderno do gestor, observou outras orientações<br />

pauta<strong>da</strong>s na avaliação formativa que consideram que ela seja feita a partir <strong>da</strong> observação e<br />

registro do desenvolvimento dos alunos, <strong>em</strong> seus aspectos cognitivo, afetivo e relacional, e<br />

111


seja decorrente <strong>da</strong>s propostas de ensino. Ela é contínua, diagnóstica e sist<strong>em</strong>ática e deve ser<br />

compreendi<strong>da</strong> como o eixo do processo de ensino e aprendizag<strong>em</strong>. Faz parte <strong>da</strong> aula do<br />

professor e deve ser observa<strong>da</strong> <strong>em</strong> ca<strong>da</strong> situação de aprendizag<strong>em</strong> proposta. Por meio <strong>da</strong><br />

avaliação dev<strong>em</strong>-se rever todos os passos do planejamento do processo de ensino e<br />

aprendizag<strong>em</strong>, isto é, se as intenções planeja<strong>da</strong>s foram adequa<strong>da</strong>s, se o t<strong>em</strong>po para a<br />

aprendizag<strong>em</strong> foi funcional, se os materiais didáticos eram apropriados, se a relação aluno-<br />

professor foi produtiva.<br />

Encontram-se pressupostos parecidos nos cadernos de Educação Física do professor<br />

(SEE/SP, 2008b) e do aluno (SEE/SP, 2008c). Nesses cadernos sugere-se uma série de<br />

exercícios, dicas de pesquisas, filmes, livros e sites, indicadores bibliográficos e de estudo<br />

com explicações para o professor <strong>sobre</strong> sua relevância no contexto de ensino de determinados<br />

conteúdos, além de orientações <strong>sobre</strong> como aplicar esses recursos durante as <strong>aulas</strong>. No<br />

caderno do aluno, elaborado de acordo com o caderno do docente, as ativi<strong>da</strong>des propostas<br />

compl<strong>em</strong>entam o trabalho de sala de aula e apresentam-se adequa<strong>da</strong>s para ser<strong>em</strong> usa<strong>da</strong>s como<br />

tarefas avaliativas no decorrer do processo de ensino e aprendizag<strong>em</strong>.<br />

A análise <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des propostas no caderno do professor (SEE/SP, 2008b) e no<br />

caderno do aluno (SEE/SP, 2008c) revela uma intencionali<strong>da</strong>de de avaliação formativa. As<br />

ativi<strong>da</strong>des são apresenta<strong>da</strong>s estabelecendo relações com o conteúdo e o método proposto <strong>em</strong><br />

ca<strong>da</strong> it<strong>em</strong> abor<strong>da</strong>do nas <strong>aulas</strong> de Educação Física, e se verifica a priorização <strong>da</strong> prática de<br />

registros individuais e coletivos, propostos por meio de questionamento e probl<strong>em</strong>atização<br />

dos conteúdos aprendidos. No caderno do professor, ressalta-se que a avaliação deve revelar o<br />

que o aluno já sabe e os caminhos que percorreu para alcançar o conhecimento d<strong>em</strong>onstrado<br />

<strong>em</strong> seu processo de aprendizag<strong>em</strong> (SEE/SP, 2008b).<br />

Outro ponto observado <strong>em</strong> ambos os cadernos (do aluno e do professor) são tarefas<br />

construí<strong>da</strong>s para ca<strong>da</strong> t<strong>em</strong>a proposto, indica<strong>da</strong>s para a recuperação <strong>da</strong>s aprendizagens não<br />

alcança<strong>da</strong>s pelo aluno durante o programa de ensino. Isso d<strong>em</strong>onstra que os organizadores <strong>da</strong><br />

Proposta Curricular entend<strong>em</strong> que não é preciso que todos chegu<strong>em</strong> ao mesmo nível de<br />

aprendizag<strong>em</strong>, mas é indispensável que todos tenham iguais oportuni<strong>da</strong>des para aprender,<br />

respeitando seu t<strong>em</strong>po de aprendizag<strong>em</strong>. Desse modo as ativi<strong>da</strong>des de recuperação são<br />

entendi<strong>da</strong>s na Proposta Curricular como possibili<strong>da</strong>de de auxiliar aqueles que apresentam<br />

dificul<strong>da</strong>des no processo de ensino, respeitando as diferenças e o t<strong>em</strong>po de aprender de ca<strong>da</strong><br />

aluno. Essa consideração está de acordo com a LDB 9.394/96 (BRASIL, 1996) quando, no<br />

Art. 24, institui a obrigatorie<strong>da</strong>de de estudos de recuperação, de preferência paralelos ao<br />

112


período letivo, para os casos de baixo rendimento escolar, a ser<strong>em</strong> desenvolvidos pelas<br />

instituições de ensino <strong>em</strong> seus regimentos.<br />

Logo, tendo como base as prerrogativas dessa lei, pode-se entender que a avaliação na<br />

Proposta Curricular <strong>da</strong> Educação Física deve ser um instrumento que faça parte <strong>da</strong>s práticas<br />

de ensino e aprendizag<strong>em</strong> escolar, sendo trabalha<strong>da</strong> de forma contínua, permanente e<br />

cumulativa, subsidiando o professor e os alunos acerca dos avanços conseguidos e as<br />

dificul<strong>da</strong>des encontra<strong>da</strong>s no decorrer do processo de ensino, tendo <strong>em</strong> vista a toma<strong>da</strong> de<br />

decisões para melhorar os probl<strong>em</strong>as encontrados.<br />

Tais aspectos estabelec<strong>em</strong> correlação com os pressupostos do paradigma qualitativo <strong>da</strong><br />

avaliação, <strong>em</strong> que a prática avaliativa deve ser compreendi<strong>da</strong> como uma ação pe<strong>da</strong>gógica<br />

utiliza<strong>da</strong> no dia a dia do professor.<br />

No mesmo sentido, <strong>em</strong> relação à Proposta Curricular do Estado de São Paulo, foi<br />

possível observar, na análise dos cadernos do aluno e do professor (SEE/SP, 2008b; 2008c),<br />

que as ativi<strong>da</strong>des sugeri<strong>da</strong>s cont<strong>em</strong>plam os princípios avaliativos expostos nos PCNs de<br />

Educação Física para o Ensino Fun<strong>da</strong>mental e Médio (BRASIL, 1997; 1998; 2002),<br />

especialmente os que se refer<strong>em</strong> à necessi<strong>da</strong>de de a avaliação ser desenvolvi<strong>da</strong> levando <strong>em</strong><br />

conta a característica do conteúdo e método de ensino, numa prática que sirva para o<br />

professor e para o aluno.<br />

Isso significa que, apesar de não haver um texto com explicações e um<br />

posicionamento claro <strong>sobre</strong> o que se entende a respeito <strong>da</strong> avaliação na proposta que foi<br />

direciona<strong>da</strong> à área <strong>da</strong> Educação Física, as tarefas de ensino presentes nos cadernos (SEE/SP,<br />

2008b; 2008c) cumpr<strong>em</strong> o papel que os PCNs (BRASIL, 1997; 1998; 2002) não apresentam<br />

<strong>em</strong> seus documentos: apontar para os professores possibili<strong>da</strong>des de avaliar a aprendizag<strong>em</strong> de<br />

conteúdos específicos <strong>da</strong> área, estabelecendo coerência com o processo de ensino e com o<br />

princípio de avaliar processualmente. Assim, pode-se observar que, de maneira específica, os<br />

pressupostos <strong>sobre</strong> avaliação expostos nos parâmetros federais ecoam nas diretrizes estaduais.<br />

Esse é um aspecto relevante para os professores que utilizam esses documentos a fim de<br />

orientar a construção <strong>da</strong> sua prática pe<strong>da</strong>gógica.<br />

Nas referências <strong>sobre</strong> a avaliação externa e institucional, a prática avaliativa é<br />

explica<strong>da</strong> como possibili<strong>da</strong>de de melhorar o gerenciamento do progresso dos alunos. A<br />

Secretaria de Educação propõe a aplicação de instrumentos de avaliação para todos os alunos<br />

do 3º, 5º, 7º e 9º ano do Ensino Fun<strong>da</strong>mental e <strong>da</strong> 3ª série do Ensino Médio nas disciplinas de<br />

Língua Portuguesa e Mat<strong>em</strong>ática, <strong>em</strong> todos os anos letivos. As áreas de Ciência Humana e<br />

Ciência <strong>da</strong> Natureza são avalia<strong>da</strong>s <strong>em</strong> anos alternados (RELATÓRIO SARESP, p. 11, 2007<br />

113


apud FERNANDES, 2010). Sendo assim, mesmo com menos frequência, os conhecimentos<br />

desenvolvidos no processo de ensino e aprendizag<strong>em</strong> <strong>da</strong> disciplina Educação Física também<br />

passam pela avaliação institucional com o intento de fazer o diagnóstico <strong>da</strong> situação atual <strong>da</strong>s<br />

escolas no que tange à quali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> educação, estabelecendo metas para a melhoria dessa<br />

quali<strong>da</strong>de.<br />

No que se refere à avaliação institucional, a secretária de Educação Básica do<br />

Ministério <strong>da</strong> Educação (MEC), professora Maria Pilar Lacer<strong>da</strong> Almei<strong>da</strong> e Silva, afirma que<br />

“essas avaliações são importantes no sentido de orientar políticas públicas, entender por que<br />

está <strong>da</strong>quela maneira, o que pode ser melhorado” (SANTOS, 2011a , p. 7).<br />

Nas escolas públicas do Estado de São Paulo, a avaliação externa foi instituí<strong>da</strong> <strong>em</strong><br />

1996, com o Sist<strong>em</strong>a de <strong>Avaliação</strong> do Rendimento Escolar (SARESP), que é visto, pelo<br />

secretário de Educação Herman Jacobus Cornelis Voorwald, como forma de avaliar o<br />

des<strong>em</strong>penho dos alunos <strong>da</strong> rede, para realizar a “leitura de mu<strong>da</strong>nças de rota que precisa ser<br />

adota<strong>da</strong>” (SANTOS, 2011b, p. 10).<br />

O pagamento de um bônus atrelado ao des<strong>em</strong>penho dos alunos nessa avaliação é algo<br />

que t<strong>em</strong> sido bastante criticado pelos professores <strong>da</strong> rede. Na entrevista de Santos (2011b, p.<br />

10), quando esse assunto é abor<strong>da</strong>do <strong>em</strong> pergunta ao secretário <strong>da</strong> Educação do Estado de São<br />

Paulo, este justifica essa medi<strong>da</strong> com base <strong>em</strong> que:<br />

114<br />

[...] não há uma política salarial, de uma carreira que efetivamente dê ao professor a<br />

possibili<strong>da</strong>de de construí-la mediante seu esforço através de indicadores muito<br />

claros, a única possibili<strong>da</strong>de de ter um recurso a mais é o bônus.<br />

O bônus pode ser entendido como uma estratégia interessante do Estado para<br />

reconhecer aqueles servidores que efetivamente estão compromissados com o processo de<br />

educação de seus alunos. Na entrevista o secretário compl<strong>em</strong>enta:<br />

Nós usar<strong>em</strong>os o SARESP este ano para obtenção do IDESP 1 e pagamento do bônus,<br />

mas modificar<strong>em</strong>os este pagamento, colocando o esforço <strong>da</strong> uni<strong>da</strong>de escolar como<br />

um indicador forte, deixando de levar <strong>em</strong> conta somente o atingimento <strong>da</strong>s metas.<br />

Dependendo <strong>da</strong> escola a manutenção <strong>da</strong> nota, já significa um grande esforço <strong>da</strong>quela<br />

comuni<strong>da</strong>de. (ibid<strong>em</strong>, p. 11)<br />

Entende-se com base <strong>em</strong> Fernandes (2010) que, <strong>em</strong> função <strong>da</strong> centrali<strong>da</strong>de que essa<br />

avaliação ganhou no currículo paulista, atrela<strong>da</strong> ao bônus dos professores, muitas escolas<br />

deixaram de se preocupar com o processo de aprendizag<strong>em</strong> dos alunos e se voltaram para o<br />

ato de treinar os discentes para esse tipo de exame, <strong>em</strong> detrimento de uma avaliação mais<br />

formativa.


Outros equívocos têm acontecido porque a Proposta Curricular aponta a necessi<strong>da</strong>de<br />

de a avaliação interna (formativa) estar relaciona<strong>da</strong> à avaliação externa (SARESP), o que<br />

explicita a existência de conflitos entre uma proposta e outra, pois a avaliação externa é<br />

realiza<strong>da</strong> para manter o controle <strong>da</strong>s políticas nacionais e estaduais referentes ao sist<strong>em</strong>a<br />

educacional, portanto t<strong>em</strong> no seu cerne a apresentação de aspectos desconexos <strong>em</strong> relação ao<br />

que é preconizado na avaliação interna. A avaliação externa é feita por meio de um único<br />

instrumento – a prova –, que foca na manifestação <strong>da</strong> aprendizag<strong>em</strong> linguística e lógico-<br />

mat<strong>em</strong>ática, desconsiderando outras possibili<strong>da</strong>des de expressão <strong>da</strong> aprendizag<strong>em</strong> por parte<br />

dos alunos. É uma prova aplica<strong>da</strong> com dia e hora marca<strong>da</strong>, e o resultado obtido nesse<br />

momento é definitivo – essas são características que conflitam com a avaliação processual,<br />

formativa e transformadora, na qual o professor e o aluno dev<strong>em</strong> refletir <strong>sobre</strong> os resultados a<br />

fim de encontrar<strong>em</strong> caminhos para melhorar o processo de ensino e aprendizag<strong>em</strong>.<br />

Percebe-se que a t<strong>em</strong>ática avaliação, que antes era de uso e controle interno <strong>da</strong> escola,<br />

passou se a constituir num instrumento dos órgãos governamentais com o fim de impl<strong>em</strong>entar<br />

as reformas educacionais e ter seus resultados contabilizados para classificar as escolas como<br />

melhores e piores. Isso t<strong>em</strong> provocado uma nova configuração do sist<strong>em</strong>a educacional, que<br />

vive <strong>em</strong> meio a um processo de vigilância, reduzindo a autonomia profissional dos<br />

professores e aumentando o poder coercitivo do Estado. Além disso, ressalta-se a lógica <strong>da</strong><br />

pe<strong>da</strong>gogia do exame, tão critica<strong>da</strong> por Luckesi (2005), <strong>em</strong> que o aluno, durante as ativi<strong>da</strong>des<br />

escolares é condicionado a solucionar questões de provas para se preparar para o ENEM,<br />

SARESP, PROVA BRASIL, vestibular etc. De acordo com o autor, nessa perspectiva o<br />

exercício pe<strong>da</strong>gógico escolar é atravessado mais por uma pe<strong>da</strong>gogia do exame do que por<br />

uma pe<strong>da</strong>gogia centra<strong>da</strong> no processo de ensino e aprendizag<strong>em</strong> escolar. Os alunos ficam<br />

fixados na promoção, interessados apenas <strong>em</strong> saber como se <strong>da</strong>rá o processo de aprovação no<br />

final do período escolar.<br />

Pode-se entender que esse cenário leva à interpretação de que o conceito de avaliação<br />

externa influencia as práticas <strong>da</strong> avaliação interna na Proposta Curricular paulista, tendo como<br />

consequência uma avaliação foca<strong>da</strong> somente na medição e na quantificação de resultados.<br />

A partir dessa análise, entende-se que as reais intenções dessas avaliações dev<strong>em</strong> ser<br />

esclareci<strong>da</strong>s para os atores <strong>da</strong> escola. Segundo a secretária <strong>da</strong> Educação Básica do MEC, é<br />

preciso compreender que as avaliações externas requer<strong>em</strong> as ações de “formar, preparar,<br />

estimular, mostrar o quanto é importante que todos particip<strong>em</strong> com serie<strong>da</strong>de” (SANTOS,<br />

2011a, p. 8), assim como ter <strong>em</strong> vista que, <strong>em</strong>bora a prova seja importante, não pode ser o<br />

mais relevante num processo de ensino, aprendizag<strong>em</strong> e avaliação.<br />

115


Apesar <strong>da</strong>s diferentes críticas expostas anteriormente, compreende-se que a Proposta<br />

Curricular do Estado de São Paulo para a Educação Física, diante <strong>da</strong> visão de conteúdos que<br />

sugere, ao menos no plano teórico, assinala possibili<strong>da</strong>des educacionais para a área, tais<br />

como:<br />

a inserção de diferentes t<strong>em</strong>as para ser<strong>em</strong> abor<strong>da</strong>dos na Educação Física<br />

116<br />

escolar do ensino público estadual paulista, o que pode estar gerando um<br />

processo educacional mais efetivo com a realização de reflexões e críticas<br />

<strong>sobre</strong> o que se ensina e aprende no cotidiano <strong>da</strong>s <strong>aulas</strong>;<br />

a contextualização dos conteúdos <strong>da</strong> Educação Física, compreendendo o<br />

sujeito mergulhado <strong>em</strong> diferentes reali<strong>da</strong>des culturais, nas quais estão<br />

indissociados corpo, movimento e intencionali<strong>da</strong>de, numa perspectiva que<br />

implica ajustar o papel do professor como um mediador do processo de<br />

aprendizag<strong>em</strong> dos alunos, responsável por facilitar “[...] a leitura dos signos<br />

relacionados às práticas <strong>da</strong> cultura corporal de movimento. [...] Portanto, é<br />

também um saber que deve levar o aluno à autonomia no usufruto <strong>da</strong> cultura<br />

corporal de movimento” (BETTI, 2006, p. 233);<br />

o aprofun<strong>da</strong>mento <strong>da</strong> discussão simbólica <strong>da</strong> Educação Física escolar e a<br />

atualização do conceito de cultura corporal, ponderando o saber corporal como<br />

algo inerente aos seres humanos e presente nos conhecimentos historicamente<br />

construídos na área, além de possibilitar mediatizações simbólicas para uma<br />

ação pe<strong>da</strong>gógica efetiva.<br />

Com relação à perspectiva de ensino, nota-se que os pressupostos <strong>da</strong> Proposta<br />

Curricular não se reduz<strong>em</strong> ao condicionamento físico e ao esporte, quando praticados de<br />

maneira inconsciente ou mecânica; ponderam que o aluno deve aprender, por meio de<br />

vivências, experimentações, apreciações e aproveitamento dos benefícios advindos <strong>da</strong> cultura<br />

corporal do movimento, assim como perceber e compreender os sentidos e significados <strong>da</strong>s<br />

suas diversas manifestações na socie<strong>da</strong>de cont<strong>em</strong>porânea (SEE/SP, 2008a).<br />

A respeito <strong>da</strong> avaliação, entende-se que se evidencia uma lacuna no documento que<br />

aponta os pressupostos específicos <strong>da</strong> Proposta Curricular no contexto <strong>da</strong> Educação Física.<br />

Em função dessa característica, deixa-se de significar a relevância desse processo<br />

desenvolvido no contexto <strong>da</strong> construção <strong>da</strong>s competências e habili<strong>da</strong>des dos alunos, o que,<br />

segundo Lleixà et. al. (2010), é interessante que seja pratica<strong>da</strong> por meio de situações probl<strong>em</strong>a<br />

que permitam a expressão de aprendizagens <strong>em</strong> contextos diferentes.


Por outro lado, ao examinar as tarefas de ensino expostas nos cadernos do aluno e do<br />

professor (SEE/SP, 2008b; 2008c), nota-se uma série de estratégias avaliativas que pod<strong>em</strong> ser<br />

aplica<strong>da</strong>s, processualmente, como momentos de apreciação <strong>da</strong> aprendizag<strong>em</strong> discente, nas<br />

quais identificam-se intenções <strong>da</strong> avaliação formativa, <strong>em</strong> consonância com as proposições do<br />

documento oficial PCN (BRASIL, 1997;1998; 2002).<br />

Contudo, <strong>em</strong> linhas gerais, considera-se um princípio importante nessa análise o<br />

entendimento de que não se pode considerar que tais documentos (PCNs e Proposta<br />

Curricular) resolvam o probl<strong>em</strong>a <strong>da</strong> falta de conhecimento <strong>sobre</strong> como avaliar a<br />

aprendizag<strong>em</strong> dos alunos <strong>em</strong> <strong>aulas</strong> de Educação Física, mas pode-se dizer que as abor<strong>da</strong>gens<br />

do t<strong>em</strong>a nesses documentos apontam aspectos para o professor <strong>da</strong> área trabalhar com novas<br />

propostas avaliativas <strong>em</strong> suas <strong>aulas</strong>.<br />

Entretanto, como se percebe no cotidiano escolar, as mu<strong>da</strong>nças na prática pe<strong>da</strong>gógica<br />

dos professores não ocorr<strong>em</strong> somente pela força de decretos, parâmetros ou diretrizes<br />

curriculares, ressalta-se a necessi<strong>da</strong>de de ser<strong>em</strong> oportuniza<strong>da</strong>s situações de formação que<br />

consider<strong>em</strong> a especifici<strong>da</strong>de de ca<strong>da</strong> escola, as características dos alunos e as experiências<br />

acumula<strong>da</strong>s dos professores. Nesse sentido, surg<strong>em</strong> como proposta interessante os momentos<br />

oferecidos dentro dos contextos escolares para que os professores possam dialogar e refletir<br />

<strong>sobre</strong> as questões que envolv<strong>em</strong> os alunos e as características do contexto de suas <strong>aulas</strong><br />

relacionando com a produção cientifica e acadêmica <strong>da</strong> área. Em anuência com essa<br />

compreensão, Torres (1998) alerta que a capacitação <strong>em</strong> formato de formação continua<strong>da</strong> <strong>em</strong><br />

serviço é de suma importância no campo educacional.<br />

Observou-se, também, nos pressupostos <strong>sobre</strong> avaliação inseridos nos PCNs e na<br />

Proposta Curricular do Estado de São Paulo, que, apesar de sinalizar<strong>em</strong> recomen<strong>da</strong>ções<br />

significativas para a avaliação do processo de ensino e aprendizag<strong>em</strong> na Educação Física<br />

escolar, já que apontam avanços <strong>em</strong> relação ao paradigma tradicional de avaliação<br />

historicamente construído na área, não perceb<strong>em</strong> outras dimensões <strong>da</strong>s práticas avaliativas<br />

que não aquelas liga<strong>da</strong>s somente ao acompanhamento do ensino e aprendizag<strong>em</strong>.<br />

A análise dos documentos também mostrou el<strong>em</strong>entos passíveis de questionamentos<br />

face à abor<strong>da</strong>g<strong>em</strong> <strong>da</strong> avaliação na Educação Física escolar a partir de aspectos gerais <strong>sobre</strong><br />

como avaliar, s<strong>em</strong> se deter <strong>em</strong> análises específicas <strong>sobre</strong> a área, evidenciando orientações<br />

pouco contextualiza<strong>da</strong>s com as características <strong>da</strong> disciplina como a instabili<strong>da</strong>de, o<br />

movimento permanente, a turbulência, as <strong>aulas</strong> realiza<strong>da</strong>s <strong>em</strong> espaços abertos, com t<strong>em</strong>po<br />

restrito e com diversi<strong>da</strong>de de relações e interações pe<strong>da</strong>gógicas que acontec<strong>em</strong> a todo t<strong>em</strong>po.<br />

117<br />

Nesse sentido, assim como foi visto na revisão de literatura <strong>sobre</strong> os PCNs (BRASIL,


1997; 1998; 1999; 2002), depara-se com o probl<strong>em</strong>a de o próprio sist<strong>em</strong>a não aju<strong>da</strong>r<br />

efetivamente na viabilização <strong>da</strong> avaliação formativa no contexto <strong>da</strong>s <strong>aulas</strong> de Educação Física<br />

escolar.<br />

Também se compreende a dificul<strong>da</strong>de para edificar a mu<strong>da</strong>nça <strong>da</strong> prática avaliativa<br />

situa<strong>da</strong> nas próprias crenças e representações dos docentes <strong>da</strong> área, pois as contradições que<br />

foram construí<strong>da</strong>s <strong>em</strong> seus projetos avaliativos decorr<strong>em</strong> <strong>da</strong>s contradições do próprio sist<strong>em</strong>a<br />

educativo.<br />

Partindo dessa análise, pondera-se como necessária a revisão de estudos que<br />

apresent<strong>em</strong> como enfoque a discussão <strong>da</strong> prática avaliativa do professor de Educação Física,<br />

para aprofun<strong>da</strong>r os conhecimentos por meio <strong>da</strong> compreensão <strong>da</strong> avaliação realiza<strong>da</strong> nessa<br />

disciplina, utilizando diferentes produções científicas que versam <strong>sobre</strong> o debate <strong>da</strong> t<strong>em</strong>ática<br />

circunscrito na Educação Básica.<br />

Assim, com o conhecimento desses pressupostos, somando-se aos conhecimentos<br />

obtidos com a revisão de literatura <strong>sobre</strong> a avaliação no contexto educacional, nas abor<strong>da</strong>gens<br />

pe<strong>da</strong>gógicas <strong>da</strong> Educação Física e nos documentos oficiais vigentes para a área apresenta-se<br />

um caminho que orienta a análise realiza<strong>da</strong> nesta parte do estudo <strong>sobre</strong> a produção de<br />

conhecimento a respeito <strong>da</strong> prática avaliativa do professor <strong>da</strong> área, que está exposta no<br />

próximo it<strong>em</strong> discutido nesta pesquisa.<br />

2.3.2 A produção de conhecimento <strong>sobre</strong> a prática avaliativa do professor de<br />

Educação Física escolar<br />

Conhecer aspectos <strong>da</strong> produção de conhecimento <strong>sobre</strong> a prática avaliativa do<br />

professor de Educação Física, partindo <strong>da</strong> análise de artigos expostos <strong>em</strong> algumas bases de<br />

<strong>da</strong>dos <strong>da</strong> área – Scielo, Sibradid e EBSCO-SportDiscus, permitiu levantar, nesta parte do<br />

estudo, as publicações <strong>sobre</strong> a avaliação do processo de ensino e aprendizag<strong>em</strong>, analisando<br />

como essas pesquisas têm sido desenvolvi<strong>da</strong>s e qual a sua contribuição para o avanço do<br />

processo avaliativo realizado nas <strong>aulas</strong> de Educação Física escolar, uma vez que a<br />

probl<strong>em</strong>ática evidencia<strong>da</strong> na prática avaliativa de professores <strong>da</strong> área <strong>em</strong> contexto de<br />

educação pública ressalta que é realiza<strong>da</strong> apenas com o propósito de atender a fins<br />

burocráticos, pautando-se pela ausência de compromisso do professor de Educação Física<br />

(MAUAD, 2003; RODRIGUES, 2003; MELO, 2008; MELO; FERRAZ; NISTA-PICCOLO,<br />

2010).<br />

Assim, para a construção desta parte do trabalho, foi utiliza<strong>da</strong> a pesquisa de revisão<br />

sist<strong>em</strong>ática, estabelecendo categorias que retratam parte do cenário <strong>da</strong> investigação <strong>sobre</strong> a<br />

118


prática avaliativa na Educação Física escolar. O estudo seguiu as seguintes etapas: a) coleta e<br />

descrição dos <strong>da</strong>dos; b) categorização dos <strong>da</strong>dos <strong>em</strong> tabelas e análises; c) discussão dos<br />

resultados sob a abor<strong>da</strong>g<strong>em</strong> quantitativa e qualitativa, pautando-se na literatura pertinente ao<br />

assunto estu<strong>da</strong>do.<br />

A escolha de utilizar a quantificação de alguns <strong>da</strong>dos revelados, conforme as<br />

categorias estabeleci<strong>da</strong>s é explica<strong>da</strong> pelo fato de desven<strong>da</strong>r<strong>em</strong> el<strong>em</strong>entos importantes para a<br />

compreensão <strong>da</strong> probl<strong>em</strong>ática desta parte <strong>da</strong> pesquisa, contribuindo para a construção dos<br />

resultados. Tal opção está respal<strong>da</strong><strong>da</strong> <strong>em</strong> Suassuna (2008), que, ao reportar os <strong>da</strong>dos<br />

quantificados, considera que é possível aproveitar as informações que estes traduz<strong>em</strong>, no<br />

sentido de se realizar<strong>em</strong> interpretações mais pontuais <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de investiga<strong>da</strong>,<br />

compl<strong>em</strong>entando a análise qualitativa dos mesmos <strong>da</strong>dos. Assim, ressalta a autora que ca<strong>da</strong><br />

procedimento (quantitativo e qualitativo) torna-se el<strong>em</strong>ento importante para a compreensão<br />

do todo analisado.<br />

Optou-se analisar os estudos publicados no período de 1990 a 2010 pelo fato de esses<br />

anos corresponder<strong>em</strong> a um fortalecimento <strong>da</strong>s críticas e discussões <strong>sobre</strong> a prática pe<strong>da</strong>gógica<br />

do professor de Educação Física, o que colaborou para o aumento <strong>da</strong> produção de pesquisas e<br />

a melhora dos referenciais teóricos <strong>sobre</strong> as questões que envolv<strong>em</strong> a avaliação <strong>da</strong><br />

aprendizag<strong>em</strong> na área (LÜDORF, 2002; SANTOS, 2003). Os critérios de inclusão <strong>da</strong><br />

produção de conhecimento que versa <strong>sobre</strong> a prática avaliativa <strong>em</strong> Educação Física nesta<br />

parte <strong>da</strong> pesquisa foram definidos com a escolha de estudos desenvolvidos no contexto <strong>da</strong><br />

Educação Física escolar e que apresentass<strong>em</strong> pesquisa <strong>sobre</strong> a prática pe<strong>da</strong>gógica de<br />

avaliação realiza<strong>da</strong> pelo professor <strong>da</strong> área <strong>em</strong> diferentes níveis do Ensino Básico (Educação<br />

Infantil, Ensino Fun<strong>da</strong>mental e Ensino Médio).<br />

A definição <strong>da</strong>s categorias foi fun<strong>da</strong>menta<strong>da</strong> nos estudos de Gamboa (1994) e Gil<br />

(2007), conforme a seguinte fun<strong>da</strong>mentação:<br />

Na categoria abor<strong>da</strong>gens metodológicas construiu-se a classificação <strong>da</strong>s categorias de<br />

análise baseando-se Gamboa (1994), que expõe as seguintes possibili<strong>da</strong>des:<br />

_Abor<strong>da</strong>gens <strong>em</strong>pírico-analíticas: segu<strong>em</strong> os princípios <strong>da</strong>s ciências naturais, dentre<br />

os quais a neutrali<strong>da</strong>de do pesquisador, identificação de variáveis, formulação de<br />

hipóteses, tratamento estatístico dos <strong>da</strong>dos e relação causa-efeito, adotando uma visão<br />

de hom<strong>em</strong> que advém <strong>da</strong> concepção funcionalista.<br />

_Abor<strong>da</strong>gens fenomenológico-hermenêuticas: buscam o desvelamento, a compreensão<br />

119<br />

e a interpretação dos fenômenos, procurando analisar profun<strong>da</strong>mente o sentido de


ações, os discursos, os gestos, as palavras etc., numa visão <strong>em</strong> que predomina a<br />

concepção existencial de hom<strong>em</strong>.<br />

_Abor<strong>da</strong>gens crítico-dialéticas: entend<strong>em</strong> a reali<strong>da</strong>de como um processo dinâmico e<br />

histórico, à luz do conflito, buscando a conscientização crítica e a transformação<br />

político-social, a partir de uma concepção de hom<strong>em</strong> como agente histórico.<br />

Na categoria delineamento de pesquisa, foi observado se a pesquisa apresentava<br />

característica de pesquisa bibliográfica, documental, experimental, genuinamente<br />

experimental, pré-experimental, quase-experimental, ex-post-facto, levantamento<br />

survey, estudo de caso, estudo de campo (GIL, 2007).<br />

No que se refere à categoria instrumentos, foram considerados os instrumentos<br />

observação, entrevista, questionário aberto e/ou fechado, fontes primárias e/ou<br />

secundárias.<br />

Na categoria tipo de população, foi busca<strong>da</strong> a característica dos indivíduos<br />

definidos para a pesquisa (professores de Educação Física que atuam na Educação<br />

Básica).<br />

Finalmente, na categoria análise foi observado se a pesquisa apresentava<br />

característica descritiva, de conteúdo ou documental (ibid<strong>em</strong>).<br />

Para a construção desta parte do estudo foram leva<strong>da</strong>s <strong>em</strong> consideração as limitações<br />

estabeleci<strong>da</strong>s pelos periódicos científicos <strong>da</strong> área, que priorizam a publicação de artigos com<br />

reduzido número de páginas e a apresentação sintética de resultados. Além disso, optou-se por<br />

apresentar as tabelas que descrev<strong>em</strong> a segun<strong>da</strong> redução dos <strong>da</strong>dos, realiza<strong>da</strong> a partir <strong>da</strong>s<br />

categorias construí<strong>da</strong>s para a análise dos artigos. Nessas tabelas também são apresenta<strong>da</strong>s a<br />

frequência quantifica<strong>da</strong> dos <strong>da</strong>dos, assim como a porcentag<strong>em</strong> dos mesmos <strong>em</strong> relação ao<br />

total de artigos investigados.<br />

Outro ponto que vale destacar é que, <strong>em</strong>bora o recorte desta investigação exclua uma<br />

parte dos artigos publicados <strong>em</strong> outros periódicos <strong>da</strong> Educação Física, principalmente por não<br />

estar<strong>em</strong> indexados nas bases de <strong>da</strong>dos investiga<strong>da</strong>s, considera-se a análise dos <strong>da</strong>dos<br />

coletados na amostra deste estudo cobre de maneira ampla e suficiente o conhecimento<br />

científico vali<strong>da</strong>do na área.<br />

Desse modo, o próximo it<strong>em</strong> deste estudo apresenta a análise e a discussão dos <strong>da</strong>dos<br />

angariados nos artigos investigados.<br />

120


2.3.3 Indícios dos referenciais metodológicos usados para investigar a prática<br />

avaliativa na Educação Física escolar<br />

Para iniciar a análise <strong>da</strong> produção de conhecimento <strong>sobre</strong> a avaliação na Educação<br />

Física escolar, a Tabela 1 mostra o caminho realizado para a seleção dos artigos nas bases de<br />

<strong>da</strong>dos, que trouxeram um total de 105 produções que se referiam ao assunto avaliação na<br />

Educação Física escolar, as quais foram objeto <strong>da</strong> varredura nas bases de <strong>da</strong>dos. Depois <strong>da</strong><br />

leitura dos textos completos, ficou d<strong>em</strong>onstra<strong>da</strong> a seleção dos 18 artigos que tratavam de<br />

maneira específica <strong>da</strong> prática avaliativa do professor de Educação Física escolar, conforme<br />

está exposto a seguir.<br />

Tabela 1: Detalhamento <strong>da</strong> busca dos artigos nas bases de <strong>da</strong>dos<br />

Base de <strong>da</strong>dos<br />

N° de registros<br />

mostrados pela base<br />

N° de registros de acordo<br />

com os critérios<br />

propostos<br />

Scielo 15 FILTROS<br />

Somente texto completo<br />

ou resumo<br />

1990-2010<br />

Sibradid 67 FILTROS<br />

Somente resumos<br />

1990-2010<br />

EBSCO-SportDiscus<br />

23 FILTROS<br />

THESAURUS Physical<br />

Education.<br />

Somente texto completo<br />

ou resumo<br />

1997-2010<br />

= 5<br />

28%<br />

3 bases 105 18 100%<br />

Vale pontuar que, para a seleção dos artigos, foi percorrido um caminho longo e<br />

trabalhoso. Primeiramente, foi realiza<strong>da</strong> uma varredura nas bases de <strong>da</strong>dos, utilizando os<br />

descritores expostos acima. Nesse momento foram encontra<strong>da</strong>s dificul<strong>da</strong>des para localizar os<br />

artigos específicos referentes ao foco desta pesquisa. Percebeu-se que as bases de <strong>da</strong>dos<br />

d<strong>em</strong>onstram escassez de possibili<strong>da</strong>des de combinação de descritores e, ao mesmo t<strong>em</strong>po,<br />

apresentam limitações nas opções de busca. Devido a esse obstáculo, gastou-se um enorme<br />

t<strong>em</strong>po para selecionar as produções que abor<strong>da</strong>vam o t<strong>em</strong>a pesquisado, já que a investigação<br />

foi feita manualmente. Foi necessário ler muitos títulos e resumos presentes nas bases de<br />

<strong>da</strong>dos por não estar disponibilizado o recurso dos filtros de busca, que poderia facilitar o<br />

encontro dos artigos que atendess<strong>em</strong> aos critérios definidos como inclusão. Foram<br />

= 2<br />

= 11<br />

%<br />

11%<br />

61%<br />

121


descartados aqueles artigos que abor<strong>da</strong>vam a avaliação, mas não cont<strong>em</strong>plavam o período<br />

escolhido, ou <strong>em</strong> que a investigação do assunto não se <strong>da</strong>va no contexto escolar.<br />

Considera-se importante discorrer <strong>sobre</strong> essas dificul<strong>da</strong>des, porque, possivelmente,<br />

serão as mesmas encontra<strong>da</strong>s pelos professores de Educação Física que atuam na escola, ou<br />

ain<strong>da</strong>, aqueles que se inser<strong>em</strong> <strong>em</strong> cursos de pós-graduação, os quais são estimulados a<br />

pesquisar <strong>em</strong> bases de <strong>da</strong>dos para se atualizar <strong>sobre</strong> diferentes t<strong>em</strong>as, <strong>sobre</strong>tudo, a prática<br />

avaliativa. Desse modo, como pode ser visto ain<strong>da</strong> que existam algumas produções cientificas<br />

<strong>sobre</strong> o assunto, a investigação nas bases de <strong>da</strong>dos é algo trabalhoso e complicado, essa<br />

observação leva a pensar que tal dificul<strong>da</strong>de pode contribuir para o restrito acesso à literatura<br />

que trate <strong>da</strong> t<strong>em</strong>ática avaliação por parte dos docentes <strong>sobre</strong> as produções científicas <strong>da</strong> área.<br />

Ao observar a Tabela 1, o recorte de duas déca<strong>da</strong>s (de 1990 a 2010) considerado neste<br />

estudo para efetuar a investigação mostra o resultado de 18 artigos selecionados, o que<br />

representa um baixo número de produções que abor<strong>da</strong>m a prática avaliativa do professor de<br />

Educação Física.<br />

Essa ressalva v<strong>em</strong> ao encontro do que Tavares (2003), Antunes et. al. (2005) e Pirolo<br />

et. al. (2007) afirmam <strong>em</strong> seus estudos, <strong>sobre</strong> a escassez de pesquisas com t<strong>em</strong>áticas que<br />

abarcam a Educação Física escolar, mais especificamente os trabalhos realizados no campo <strong>da</strong><br />

intervenção pe<strong>da</strong>gógica do professor, nos quais se inclu<strong>em</strong> as pesquisas <strong>sobre</strong> a prática<br />

avaliativa. No estudo que busca retratar a pesquisa brasileira <strong>em</strong> Educação Física escolar de<br />

1999 a 2003, Antunes et. al. (2005, p.05) perceberam que:<br />

122<br />

Quando se analisa apenas as revistas generalistas, 76,2% dos artigos não estão<br />

relacionados com a Educação Física Escolar [...]. Possivelmente, esse resultado<br />

mostra as mu<strong>da</strong>nças sofri<strong>da</strong>s pela área que, no passado, era vista quase como<br />

sinônimo de Educação Física Escolar, e hoje é considera<strong>da</strong> uma área mais<br />

abrangente que estu<strong>da</strong> o fenômeno movimento humano, desde o seu nível de<br />

análise bioquímico até o sociocultural.<br />

Partindo <strong>da</strong> análise dos resultados dessa mesma pesquisa, os autores chegaram à<br />

constatação de “não ser o contexto escolar um objeto privilegiado de estudo para a Educação<br />

Física [...]”. Esse quadro é considerado preocupante, pois “mostra um déficit de<br />

conhecimentos acad<strong>em</strong>icamente elaborados acerca <strong>da</strong> prática pe<strong>da</strong>gógica na escola” (ibid<strong>em</strong>).<br />

Os autores levantam como possível causa para esse probl<strong>em</strong>a [...] o distanciamento <strong>da</strong>s<br />

instituições de ensino superior do sist<strong>em</strong>a básico de ensino. Qu<strong>em</strong> está no cotidiano escolar<br />

não sabe o que os pesquisadores estão produzindo, e estes [pesquisadores] não sab<strong>em</strong> como<br />

aqueles [professores]profissionais atuam. (ibid<strong>em</strong>, grifos meus).


No estudo de Job (2010) são relacionados outros motivos para o baixo número de<br />

produções acadêmicas no âmbito <strong>da</strong> Educação Física escolar, especialmente aquelas que se<br />

refer<strong>em</strong> à prática de ensino e avaliação do professor <strong>da</strong> área. Segundo a autora, as revistas<br />

nacionais <strong>da</strong> área sofr<strong>em</strong> com dificul<strong>da</strong>des expressivas no que diz respeito às “edições<br />

irregulares, ausência de políticas editoriais claras, ausência de assinaturas e quase ausência de<br />

leitores” (ibid<strong>em</strong>, p. 4). Como consequência, a materiali<strong>da</strong>de social <strong>da</strong> produção científica <strong>da</strong><br />

Educação Física é prejudica<strong>da</strong>, principalmente no que se refere à pesquisa realiza<strong>da</strong> no e para<br />

o contexto escolar.<br />

A leitura dos <strong>da</strong>dos expostos na Tabela 1 também possibilita observar que, dos 18<br />

artigos selecionados por meio <strong>da</strong>s bases de <strong>da</strong>dos (Sibradid, Scielo, EBSCO-SportDiscus),<br />

mais <strong>da</strong> metade (n=11) dos artigos que abor<strong>da</strong>m a prática avaliativa na Educação Física<br />

escolar pertenc<strong>em</strong> à Sibradid, representando 61% <strong>da</strong> amostra. Na sequência, aparec<strong>em</strong> as<br />

bases de <strong>da</strong>dos <strong>da</strong> SportDiscus, com uma amostra de 28% de artigos (n=5) e Scielo,<br />

representando 11% do total de artigos (n=2).<br />

O quadro a seguir apresenta uma sist<strong>em</strong>atização dos objetivos, métodos e resultados<br />

<strong>da</strong>s pesquisas representa<strong>da</strong>s pelos artigos selecionados. Optou-se por realizar essa<br />

d<strong>em</strong>onstração para que as inferências e as articulações entre os estudos sejam feitas<br />

explicitamente, s<strong>em</strong> permanecer apenas subentendi<strong>da</strong>s no texto.<br />

Quadro14: Apresentação do objetivo, método e resultado <strong>da</strong>s pesquisas investiga<strong>da</strong>s por meio<br />

dos artigos selecionados nas bases de <strong>da</strong>dos.<br />

123


Autores e título Objetivo Método de investigação (abor<strong>da</strong>g<strong>em</strong><br />

metodológica, delineamentos <strong>da</strong>s<br />

pesquisas)<br />

1- VEAL, M. L. School-based theories of<br />

pupil assessment: a case study. Research<br />

Quarterly for Exercise & Sport, v. 63, n.<br />

1, Mar, p. 48-59, 1992.<br />

2- SANTOS, S. G. dos; GONÇALVES, G. A<br />

avaliação <strong>em</strong> educação física: uma<br />

análise nas escolas estaduais e<br />

municipais <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de de Maringá-PR.<br />

Revista <strong>da</strong> Educação Física, UEM,<br />

Maringá, v. 7, n. 1, p. 75-83, 1996.<br />

Identificar aspectos <strong>da</strong> prática avaliativa<br />

de dois professores de Educação Física<br />

numa escola americana de nível<br />

secundário.<br />

Investigar as práticas avaliativas de<br />

trinta professores <strong>da</strong> disciplina de<br />

Educação Física que atuam nas escolas<br />

municipais e estaduais na ci<strong>da</strong>de de<br />

Maringá, no Paraná.<br />

Pesquisa descritiva, com subtipo estudo<br />

de caso, utilizando-se de análise<br />

documental, entrevistas e observação<br />

sist<strong>em</strong>ática <strong>da</strong>s <strong>aulas</strong>.<br />

Pesquisa descritiva com<br />

levantamento survey, utilizando-se <strong>da</strong><br />

aplicação de questionário.<br />

Resultados <strong>da</strong>s pesquisas<br />

124<br />

Constatou que os professores<br />

desenvolviam uma prática avaliativa<br />

adequa<strong>da</strong>, por meio de uma varie<strong>da</strong>de<br />

de instrumentos para analisar as<br />

diferentes dimensões de conhecimento<br />

dos alunos, assim como seus domínios<br />

cognitivos, motores e afetivo-sociais. Foi<br />

identificado no planejamento dos<br />

programas de ensino que os professores<br />

avaliavam de forma relaciona<strong>da</strong> com as<br />

características e os pressupostos<br />

educacionais que a escola seguia, assim<br />

como com os conteúdos e os métodos<br />

de ensino <strong>da</strong> disciplina.<br />

Os resultados apontam que as<br />

avaliações eram realiza<strong>da</strong>s pelos<br />

professores de Educação Física apenas<br />

para cumprir normas, s<strong>em</strong><br />

planejamento e consequent<strong>em</strong>ente s<strong>em</strong><br />

definição dos objetivos educacionais.<br />

Segundo os pesquisadores, esses<br />

resultados espelham as contradições e<br />

confusões inerentes às mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>des de<br />

avaliação, por parte dos profissionais <strong>da</strong><br />

área, os quais d<strong>em</strong>onstraram<br />

precarie<strong>da</strong>de de entendimento teórico e<br />

prático <strong>sobre</strong> o papel <strong>da</strong> avaliação no<br />

processo de ensino e aprendizag<strong>em</strong>.


Autores e título Objetivo Método de investigação (abor<strong>da</strong>g<strong>em</strong><br />

metodológica, delineamentos <strong>da</strong>s<br />

pesquisas)<br />

3- DESROSIERS. P.; GENET-VOLET, Y.;<br />

GODBOUT, P. Teachers’ assessment<br />

practices viewed through the<br />

instruments used in physical education<br />

classes. Journal of Teaching in Physical<br />

Education, v. 16, n. 2, p. 211-228, 1997.<br />

4- VEAL, M. L. Pupil assessment<br />

perceptions and practices of secon<strong>da</strong>ry<br />

teaching. Journal of Teaching in Physical<br />

Education, v. 7 n. 4, p. 327- 343, 1997.<br />

Investigar a proposta de avaliação de<br />

treze professores de Educação Física<br />

que trabalhavam <strong>em</strong> escolas americanas<br />

com turmas do nível secundário.<br />

Investigar o que, como e por que<br />

professores de Educação Física que<br />

atuavam com turmas <strong>da</strong> escola<br />

secundária avaliavam seus alunos, tendo<br />

como foco identificar aspectos que<br />

explicass<strong>em</strong> a seleção dos instrumentos<br />

de avaliação.<br />

Pesquisa descritiva com subtipo estudo<br />

de campo. Observação sist<strong>em</strong>ática <strong>da</strong>s<br />

<strong>aulas</strong> de Educação Física.<br />

Pesquisa descritiva com subtipo estudo<br />

de campo e pesquisa explicativa. Análise<br />

<strong>da</strong>s <strong>aulas</strong> e entrevistas. Análise de<br />

conteúdo.<br />

Resultados <strong>da</strong>s pesquisas<br />

125<br />

Os autores constataram que 71% dos<br />

instrumentos eram usados para avaliar<br />

de forma diagnóstica e aplicados no<br />

decorrer do processo de ensino-<br />

aprendizag<strong>em</strong>. Verificaram 77% de<br />

instrumentos considerados fechados<br />

com escalas de performance motora e<br />

outras listas de verificação <strong>da</strong><br />

aprendizag<strong>em</strong> <strong>da</strong>s habili<strong>da</strong>des técnicas e<br />

táticas dos alunos. A avaliação <strong>da</strong><br />

aprendizag<strong>em</strong> feita pelos professores<br />

investigados privilegiava a análise<br />

quantitativa <strong>da</strong>s habili<strong>da</strong>des motoras,<br />

não ponderando a avaliação de outras<br />

dimensões do conhecimento nas <strong>aulas</strong><br />

de Educação Física.<br />

Verificou que 16% dos professores<br />

realizavam avaliação diagnóstica, 30%<br />

faziam avaliação formativa e 54%,<br />

avaliação somativa. Os resultados<br />

dessas avaliações eram usados na<br />

construção de intervenções<br />

individualiza<strong>da</strong>s dos alunos que<br />

d<strong>em</strong>onstravam dificul<strong>da</strong>des de<br />

aprendizagens.


Autores e título Objetivo Método de investigação (abor<strong>da</strong>g<strong>em</strong><br />

metodológica, delineamentos <strong>da</strong>s<br />

pesquisas)<br />

5- PALAFOX, G. H. M.; TERRA, D. V.<br />

Introdução <strong>da</strong> avaliação na Educação<br />

Física. Rev. Pensar a Prática, UFG, Goiás,<br />

v. 1, n. 1, p. 1-10, 1998.<br />

6- SILVA, A. H. A avaliação <strong>da</strong><br />

aprendizag<strong>em</strong> <strong>em</strong> Educação Física<br />

escolar: desvelando a categoria. Rev.<br />

Pensar a Prática, UFG, Goiás, n. 2, p.<br />

101-118, 1999.<br />

Refletir acerca <strong>da</strong>s bases políticope<strong>da</strong>gógicas<br />

que têm sustentado as<br />

práticas de avaliação <strong>em</strong> Educação Física<br />

Escolar. Nesse contexto são analisa<strong>da</strong>s<br />

as posturas do educador e <strong>da</strong> escola<br />

dentro de um tipo de prática de<br />

avaliação fun<strong>da</strong>menta<strong>da</strong> numa<br />

perspectiva pós-marxista.<br />

Analisar a categoria avaliação e sua<br />

interação direta com outras categorias<br />

importantes, como o projeto histórico,<br />

projeto político-pe<strong>da</strong>gógico e<br />

organização do trabalho pe<strong>da</strong>gógico,<br />

este especialmente <strong>em</strong> sala de aula.<br />

Pesquisa bibliográfica. Análise<br />

qualitativa.<br />

Pesquisa bibliográfica. Análise<br />

qualitativa.<br />

Resultados <strong>da</strong>s pesquisas<br />

126<br />

As considerações finais julgam ter<br />

fornecido el<strong>em</strong>entos teóricos e práticos<br />

que permitam construir coletivamente<br />

uma proposta sist<strong>em</strong>atiza<strong>da</strong> e crítica de<br />

avaliação para a Educação Física escolar,<br />

respeitando-se o caráter particular de<br />

ca<strong>da</strong> estabelecimento de ensino.<br />

As considerações finais ressaltam a<br />

necessi<strong>da</strong>de de deixar de conceber a<br />

avaliação nos seus aspectos meramente<br />

técnicos para vê-la, principalmente, sob<br />

sua dimensão social e política. Esse<br />

olhar pode aju<strong>da</strong>r a dirimir os altos<br />

índices de evasão, reprovação e<br />

eliminação que ocorr<strong>em</strong> na escola. Os<br />

autores afirmam que o primeiro passo<br />

para tal desiderato seria desvelar a<br />

categoria avaliação e to<strong>da</strong>s as outras<br />

que a ela estão relaciona<strong>da</strong>s, através do<br />

estudo e <strong>da</strong> pesquisa <strong>sobre</strong> essa<br />

t<strong>em</strong>ática.


Autores e título Objetivo Método de investigação (abor<strong>da</strong>g<strong>em</strong><br />

metodológica, delineamentos <strong>da</strong>s<br />

pesquisas)<br />

7- RAMOS, V. de A. Políticas públicas e<br />

avaliação: onde estamos para onde<br />

vamos? Rev. Pensar a Prática, UFG,<br />

Goiás, n. 2, p. 84-100, 1999.<br />

8- RODRIGUES, G. M. A avaliação na<br />

Educação Física escolar: caminhos e<br />

contextos. Revista Mackenzie de<br />

Educação Física e Esporte, São Paulo, v.<br />

2, n. 2, p. 11-21, 2003.<br />

9- BRATIFISCHE, S. A. <strong>Avaliação</strong> <strong>em</strong><br />

Educação Física: um desafio. Rev. <strong>da</strong><br />

Educação Física, UEM, Maringá, v. 14, n.<br />

2, p. 21-29, 2003.<br />

Socializar estudos e provocar discussões<br />

e reflexões <strong>sobre</strong> a avaliação <strong>em</strong><br />

Educação Física, segundo PCNs.<br />

Apresentar considerações acerca <strong>da</strong>s<br />

práticas avaliativas presentes no meio<br />

educacional, a fim de eluci<strong>da</strong>r<br />

aspectos circunscritos nesse processo.<br />

Compreensão dos fatores que<br />

influenciam o processo de avaliação nas<br />

escolas, a partir de referências<br />

bibliográficas <strong>sobre</strong> a avaliação <strong>em</strong><br />

Educação e <strong>em</strong> Educação Física e, ain<strong>da</strong>,<br />

<strong>da</strong> experiência de vi<strong>da</strong> como professora<br />

de Educação Física <strong>em</strong> escolas<br />

particulares e públicas.<br />

Pesquisa descritiva documental e<br />

bibliográfica. Análise de conteúdo.<br />

Pesquisa bibliográfica. Análise<br />

qualitativa.<br />

Pesquisa bibliográfica. Análise<br />

qualitativa.<br />

Resultados <strong>da</strong>s pesquisas<br />

127<br />

Por meio <strong>da</strong> análise dos PCNs e <strong>da</strong>s<br />

contribuições de autores <strong>da</strong> área <strong>da</strong><br />

Educação e <strong>da</strong> Educação Física, o autor<br />

considera que foi possível construir<br />

proposições que aponta saí<strong>da</strong>s e<br />

contrapontos para as práticas avaliativas<br />

excludentes e o papel seletivo e<br />

discriminatório que predomina<br />

atualmente nas avaliações escolares.<br />

Considerou que a revisão <strong>da</strong> bibliografia<br />

<strong>sobre</strong> avaliação na Educação Física<br />

situou e permitiu uma reflexão <strong>sobre</strong> os<br />

aspectos que delimitam a Educação na<br />

atuali<strong>da</strong>de, entendidos como<br />

necessários para a construção de novas<br />

propostas<br />

que aten<strong>da</strong>m às necessi<strong>da</strong>des atuais<br />

<strong>em</strong>ergentes.<br />

Evidencia as mu<strong>da</strong>nças ocorri<strong>da</strong>s no<br />

campo <strong>da</strong> avaliação <strong>em</strong> Educação Física.<br />

Antes se pregava uma avaliação com<br />

predomínio de testes de aptidão física,<br />

que ain<strong>da</strong> permeiam a vi<strong>da</strong> de muitos<br />

profissionais. Em contraparti<strong>da</strong> a essa<br />

concepção, posiciona-se a avaliação que<br />

visualiza o aluno de forma integra<strong>da</strong>.


Autores e título Objetivo Método de investigação (abor<strong>da</strong>g<strong>em</strong><br />

metodológica, delineamentos <strong>da</strong>s<br />

pesquisas)<br />

10- SILVA JÚNIOR, A. S. Prática avaliativa<br />

e aprendizagens significativas <strong>em</strong><br />

Educação Física: trajetória, orientações<br />

legais e implicações pe<strong>da</strong>gógicas. Rev.<br />

Proposições, Facul<strong>da</strong>de de Educação <strong>da</strong><br />

Unicamp, Campinas, v. 15, n. 2, p. 201-<br />

216, 2004.<br />

11- TAN, S. K. S.; WRIGHT, S. Authentic<br />

assessment to enhance student learning<br />

in primary school physical education.<br />

Journal of Physical Education &<br />

Recreation, v. 10, n. 2, p. 36-45, 2004.<br />

O texto se propõe a recuperar a<br />

trajetória legal <strong>da</strong> Educação Física, que<br />

t<strong>em</strong> implicações diretas nas diferentes<br />

práticas avaliativas ao longo de sua<br />

história no Brasil.<br />

Investigar como os professores de<br />

Educação Física que atuam <strong>em</strong> uma<br />

escola americana de ensino primário<br />

avaliam a aprendizag<strong>em</strong> dos seus<br />

alunos.<br />

Pesquisa bibliográfica. Análise<br />

qualitativa.<br />

Amostra intencional não probabilística<br />

de uma escola primária. Pesquisa<br />

bibliográfica e descritiva com subtipo<br />

estudo de caso.<br />

Resultados <strong>da</strong>s pesquisas<br />

128<br />

Conclui que a avaliação terá vali<strong>da</strong>de<br />

quando captar a subjetivi<strong>da</strong>de do<br />

professor e do aluno, de forma<br />

sist<strong>em</strong>atiza<strong>da</strong> diante dos conteúdos<br />

tratados, quando se conseguir investigar<br />

continuamente os sujeitos e objetos do<br />

processo de construção do<br />

conhecimento. Avaliar significa <strong>da</strong>r aval<br />

às decisões, à continui<strong>da</strong>de, à<br />

construção, desconstrução e<br />

reconstrução do processo e <strong>da</strong> prática<br />

pe<strong>da</strong>gógica.<br />

Depararam com práticas de avaliação<br />

que apresentavam poucas<br />

possibili<strong>da</strong>des de avaliar as habili<strong>da</strong>des<br />

cognitivas e afetivo-sociais dos alunos,<br />

focando somente nas habili<strong>da</strong>des<br />

motoras. Por outro lado, identificaram<br />

nos programas de ensino a<br />

recomen<strong>da</strong>ção de a avaliação considerar<br />

os diferentes domínios do<br />

conhecimento expressos nas<br />

aprendizagens dos alunos. Priorizava-se<br />

a avaliação tradicional, com a<br />

observação de habili<strong>da</strong>des esportivas,<br />

conclu<strong>em</strong> expondo a necessi<strong>da</strong>de de


Autores e título Objetivo Método de investigação (abor<strong>da</strong>g<strong>em</strong><br />

metodológica, delineamentos <strong>da</strong>s<br />

pesquisas)<br />

12- PEREZ, A. P.; RINCON, C. A. La<br />

evaluación de la educación física, los<br />

prototipos de enseñante y sus<br />

contextos. La Revista Venezolana de<br />

Educación, Venezuela, v. 9, n. 31, p. 481-<br />

486, 2005.<br />

13- MENDES, E. H.; NASCIMENTO, J. V.<br />

do; MENDES, J. C. Metamorfoses na<br />

avaliação <strong>em</strong> Educação Física: <strong>da</strong><br />

formação inicial à prática pe<strong>da</strong>gógica<br />

escolar. Revista Movimento, UFRGS,<br />

Porto Alegre, v. 13, n. 2, p. 55-76, 2007.<br />

Analisar algumas propostas de avaliação<br />

na Educação Física.<br />

Analisar o processo de estruturação <strong>da</strong>s<br />

práticas avaliativas na Educação Física<br />

escolar.<br />

Pesquisa bibliográfica. Análise<br />

qualitativa.<br />

Amostra não probabilística intencional<br />

de oito professores egressos do curso de<br />

formação inicial <strong>em</strong> Educação Física <strong>da</strong><br />

Unioeste atuantes no Ensino<br />

Fun<strong>da</strong>mental e Médio no município de<br />

Marechal Cândido Rondon, Paraná.<br />

Pesquisa qualitativa: estudo de campo.<br />

Análise quantitativa utilizando a<br />

estatística descritiva para a<br />

caracterização dos participantes.<br />

Análise de conteúdo.<br />

formação continua<strong>da</strong>.<br />

Resultados <strong>da</strong>s pesquisas<br />

129<br />

A avaliação parece ser compreendi<strong>da</strong><br />

como um processo de investigação dos<br />

probl<strong>em</strong>as de aprendizag<strong>em</strong> dos alunos,<br />

considerando a complexi<strong>da</strong>de do âmbito<br />

social e cultural <strong>em</strong> que os alunos estão<br />

inseridos, a fim de conhecer as reais<br />

dificul<strong>da</strong>des para encontrar as possíveis<br />

soluções.<br />

Os resultados revelaram o fraco impacto<br />

<strong>da</strong> formação inicial no processo de<br />

estruturação <strong>da</strong>s práticas avaliativas,<br />

sendo mais determinante a experiência<br />

profissional advin<strong>da</strong> <strong>da</strong> própria<br />

reali<strong>da</strong>de educacional.


Autores e título Objetivo Método de investigação (abor<strong>da</strong>g<strong>em</strong><br />

metodológica, delineamentos <strong>da</strong>s<br />

pesquisas)<br />

14- DINIZ, J.; AMARAL, S. C. F. A<br />

avaliação na Educação Física escolar:<br />

uma comparação entre as escolas<br />

tradicional e cicla<strong>da</strong>. Rev. Movimento,<br />

UFRGS, Porto Alegre, v. 15, n. 1, p. 243-<br />

254, 2009.<br />

15- NYE, S.; DUBAY, C.; GILBERT, L.;<br />

WAJCIECHOWSKI, M. The importance of<br />

assessment within physical education.<br />

Virginia Journal, Spring, v. 30, n. 1, p. 8-<br />

20, 2009.<br />

Realizar uma análise comparativa entre<br />

as escolas tradicional e cicla<strong>da</strong>,<br />

pensando <strong>em</strong> como se <strong>da</strong>ria a avaliação<br />

na Educação Física a partir dessas duas<br />

perspectivas.<br />

Apontar pressupostos <strong>sobre</strong> a avaliação<br />

autêntica, defendendo a avaliação<br />

realiza<strong>da</strong> no decorrer do processo,<br />

portanto com característica formativa.<br />

Pesquisa bibliográfica e descritiva com<br />

delineamento comparativo entre a visão<br />

de avaliação <strong>da</strong>s escolas tradicional e<br />

cicla<strong>da</strong>. Análise qualitativa comparativa.<br />

Pesquisa bibliográfica. Análise<br />

qualitativa.<br />

Resultados <strong>da</strong>s pesquisas<br />

130<br />

Como resultado desse estudo verificouse<br />

que a avaliação <strong>em</strong> Educação Física<br />

realiza<strong>da</strong> por esses dois tipos de escola<br />

utiliza instrumentos avaliativos<br />

s<strong>em</strong>elhantes, tais como: a presença <strong>em</strong><br />

aula, a autoavaliação e o des<strong>em</strong>penho<br />

dos alunos, além de <strong>aulas</strong> teóricas e<br />

testes escritos. Entretanto, a avaliação<br />

realiza<strong>da</strong> pela escola tradicional é<br />

orienta<strong>da</strong> para a seleção e classificação,<br />

dos discentes, enquanto a avaliação na<br />

proposta de escola cicla<strong>da</strong> é orienta<strong>da</strong><br />

para o desenvolvimento <strong>da</strong><br />

aprendizag<strong>em</strong> e a formação de<br />

indivíduos socialmente ativos e<br />

autônomos, capazes de refletir <strong>sobre</strong> a<br />

própria prática e <strong>sobre</strong> a reali<strong>da</strong>de social<br />

à qual pertenc<strong>em</strong>.<br />

Defende a avaliação formativa realiza<strong>da</strong><br />

por meio de diversos instrumentos,<br />

priorizando o feedback para os alunos<br />

<strong>sobre</strong> o seu progresso no processo de<br />

aprendizag<strong>em</strong>.


Autores e título Objetivo Método de investigação (abor<strong>da</strong>g<strong>em</strong><br />

metodológica, delineamentos <strong>da</strong>s<br />

pesquisas)<br />

16- OLIVEIRA, R. C. de. <strong>Avaliação</strong> <strong>em</strong><br />

Educação Física: concepções e prática de<br />

um professor. Revista Mackenzie de<br />

Educação Física e Esporte, São Paulo, v.<br />

8, n. 2, p. 63-74, 2009.<br />

17- SILVA, J. F. <strong>da</strong>; BANKOFF, A. D. P.<br />

Métodos de avaliação <strong>em</strong> Educação<br />

Física no ensino fun<strong>da</strong>mental. Rev.<br />

Conexões, Facul<strong>da</strong>de de Educação Física<br />

<strong>da</strong> Unicamp, Campinas, v. 8, n. 1, p. 54-<br />

76, 2010.<br />

Discutir a avaliação <strong>em</strong> Educação Física e<br />

o seu enlace com a aprendizag<strong>em</strong> do<br />

educando.<br />

Identificar os métodos de avaliação<br />

<strong>em</strong>pregados pelos professores de<br />

Educação Física para avaliar seus alunos.<br />

Pesquisa qualitativa de tipo estudo de<br />

caso, com base na concepção de<br />

professor-pesquisador, valendo-se <strong>da</strong><br />

revisão de literatura e de registros<br />

sist<strong>em</strong>áticos <strong>da</strong> prática pe<strong>da</strong>gógica no<br />

que se refere ao t<strong>em</strong>a.<br />

Amostra não probabilística intencional<br />

de catorze professores de Educação<br />

Física, que lecionam <strong>em</strong> escolas <strong>da</strong> rede<br />

pública do estado de São Paulo na<br />

ci<strong>da</strong>de de Campinas, no Ensino<br />

Fun<strong>da</strong>mental, com alunos de 5ª a 8ª<br />

série. Pesquisa descritiva:<br />

levantamento survey, por meio de<br />

entrevistas e diário de campo. Análise<br />

de conteúdo.<br />

Resultados <strong>da</strong>s pesquisas<br />

131<br />

Apresentação de el<strong>em</strong>entos que<br />

contribu<strong>em</strong> para a discussão <strong>da</strong><br />

avaliação <strong>em</strong> Educação Física no que diz<br />

respeito à aprendizag<strong>em</strong>, entendendo a<br />

necessi<strong>da</strong>de de considerar os objetivos<br />

mais amplos do processo pe<strong>da</strong>gógico,<br />

assim como se estruturar a partir de<br />

critérios e instrumentos avaliativos que<br />

permitam contribuir para a formação do<br />

educando.<br />

Resultados: 52% dos professores<br />

utilizavam avaliação formal e 47%,<br />

informal; avaliação automática, 21%;<br />

prova escrita, trabalhos/pesquisas e<br />

interesse/participação, 14%; avaliação<br />

diagnóstica e avaliação do<br />

desenvolvimento físico, 9%; avaliação<br />

contínua, 7%; avaliação tradicional,<br />

avaliação oral e avaliação <strong>da</strong> capaci<strong>da</strong>de<br />

física e motora, 3% .<br />

Conclusão: A avaliação possui múltiplas<br />

funções, agindo principalmente como<br />

mecanismo de controle e exclusão,<br />

proporcionando importantes el<strong>em</strong>entos<br />

de mensuração utilizados pelos<br />

professores.


Autores e título Objetivo Método de investigação (abor<strong>da</strong>g<strong>em</strong><br />

metodológica, delineamentos <strong>da</strong>s<br />

pesquisas)<br />

18- MELO, L. F. de; FERRAZ, O. L.; NISTA-<br />

PICCOLO, V. L. O portfólio como<br />

possibili<strong>da</strong>de de avaliação na educação<br />

física escolar. Rev. <strong>da</strong> Educação Física,<br />

UEM, Maringá, v. 21, n. 1, p. 87-97,<br />

2010.<br />

O estudo trata de aspectos <strong>da</strong> ação<br />

avaliativa na Educação Física escolar a<br />

partir de uma investigação <strong>sobre</strong> as<br />

possibili<strong>da</strong>des do portfólio.<br />

Amostra não probabilística intencional<br />

de uma professora- pesquisadora e seus<br />

23 alunos do 4º ano do Ensino<br />

Fun<strong>da</strong>mental de um colégio particular<br />

de Guarulhos-SP. Pesquisa descritiva:<br />

estudo de caso. Análise qualitativa<br />

pauta<strong>da</strong> no paradigma indiciário.<br />

Resultados <strong>da</strong>s pesquisas<br />

132<br />

Planejar, vivenciar, refletir e registrar a<br />

experiência de ensino com o portfólio<br />

contribuiu positivamente para a<br />

formação como professorapesquisadora,<br />

pois tanto auxiliou a<br />

prática pe<strong>da</strong>gógica de avaliação como<br />

melhorou a atuação como investigadora<br />

<strong>em</strong> estudos de enfoque qualitativo.<br />

Além disso, permitiu que as noções<br />

relativas ao processo de ensino e<br />

avaliação foss<strong>em</strong> reelabora<strong>da</strong>s <strong>em</strong> um<br />

movimento dialógico entre a teoria e a<br />

prática. Favoreceu a percepção de<br />

modificações na relação entre professor<br />

e alunos, com aumento <strong>da</strong> participação<br />

destes durante a avaliação, tornando-se<br />

mais conscientes de suas<br />

responsabili<strong>da</strong>des diante <strong>da</strong><br />

aprendizag<strong>em</strong>, <strong>da</strong> identificação <strong>da</strong>s<br />

dificul<strong>da</strong>des e de como fazer para<br />

melhorá-las. Em síntese, a experiência<br />

propiciou aprendizag<strong>em</strong> docente e<br />

discente. To<strong>da</strong>via, a avaliação dos<br />

resultados apontou a necessi<strong>da</strong>de de se<br />

criar<strong>em</strong> condições nas escolas para o<br />

professor impl<strong>em</strong>entar a proposta <strong>em</strong><br />

suas <strong>aulas</strong>.


Após a apresentação desses estudos, a Tabela 2 a seguir mostra a análise numérica <strong>da</strong>s<br />

abor<strong>da</strong>gens metodológicas revela<strong>da</strong>s nos artigos investigados.<br />

Tabela 2: Análise dos artigos <strong>sobre</strong> a prática avaliativa na Educação Física escolar e<br />

respectiva porcentag<strong>em</strong>, relaciona<strong>da</strong>s com a categoria abor<strong>da</strong>gens metodológicas.<br />

Abor<strong>da</strong>gens metodológicas N° de artigos %<br />

Empírico-analítica<br />

Fenomenológico-hermenêutica<br />

02 11<br />

16 89<br />

Crítico-dialética 0 0<br />

TOTAL: 3 18 artigos 100%<br />

A base metodológica <strong>da</strong> pesquisa na Educação Física escolar, especificamente <strong>sobre</strong> a<br />

prática de avaliação, indica tendência para o desenvolvimento <strong>da</strong> pesquisa qualitativa, que<br />

cont<strong>em</strong>pla características <strong>da</strong> abor<strong>da</strong>g<strong>em</strong> fenomenológico-hermenêutica, a qual preponderou<br />

nas pesquisas <strong>sobre</strong> a t<strong>em</strong>ática investiga<strong>da</strong>, representando 89% dos artigos (n=16).<br />

Essa observação d<strong>em</strong>onstra evolução na revisão do conceito detectado <strong>em</strong> estudos<br />

anteriores, que produziam análises puramente descritivas com abor<strong>da</strong>g<strong>em</strong> analítica<br />

experimental, muito utiliza<strong>da</strong> na déca<strong>da</strong> 1970, cujo objetivo era descrever e quantificar as<br />

quali<strong>da</strong>des didáticas do “bom professor” e aspectos que caracterizavam o “melhor” método<br />

avaliativo. Depois se isolavam as variáveis envolvi<strong>da</strong>s e se apontavam quais eram as<br />

responsáveis por um determinado efeito observado. Assim, submetia-se a complexa reali<strong>da</strong>de<br />

educacional a um esqu<strong>em</strong>a simplificador de análise (LÜDKE; ANDRÉ, 1986; RODRIGUES,<br />

2003).<br />

To<strong>da</strong>via, a abor<strong>da</strong>g<strong>em</strong> crítico-dialética, pelo menos nos últimos vinte anos, parece não<br />

ter ganhado espaço nas pesquisas publica<strong>da</strong>s <strong>em</strong> formato de artigos científicos <strong>sobre</strong> a<br />

t<strong>em</strong>ática investiga<strong>da</strong>, já que nenhuma <strong>da</strong>s produções apresentou esse enfoque.<br />

A escassez de pesquisas com essa abor<strong>da</strong>g<strong>em</strong> na produção de conhecimentos <strong>sobre</strong> a<br />

prática avaliativa do professor de Educação Física indica que as discussões teóricas de viés<br />

marxista, as quais ganharam corpo nas considerações <strong>da</strong> área a partir <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> de 1980<br />

(DAÓLIO, 1998), não repercutiram <strong>da</strong> mesma forma nas produções analisa<strong>da</strong>s <strong>sobre</strong> a<br />

t<strong>em</strong>ática <strong>em</strong> questão, especialmente nos artigos publicados no período de 1990 a 2010.<br />

Porém, vale ressaltar a importância dessa abor<strong>da</strong>g<strong>em</strong> na construção de estudos <strong>sobre</strong> a prática<br />

<strong>da</strong> avaliação realiza<strong>da</strong> no contexto <strong>da</strong> Educação Física escolar, que pode ser explica<strong>da</strong> pelo<br />

fato de permitir a compreensão <strong>da</strong> prática avaliativa considerando o contexto social e histórico<br />

133


<strong>da</strong>queles que participam de seu processo (os professores e os alunos). A abor<strong>da</strong>g<strong>em</strong> crítico-<br />

dialética pondera que, no decorrer do processo investigativo, é preciso reconhecer:<br />

- a presença <strong>da</strong> subjetivi<strong>da</strong>de na construção <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de e na perspectiva <strong>da</strong> interpretação<br />

coletiva;<br />

- espaço de ação e de análise ao não planejado, ao imprevisto, à desord<strong>em</strong> aparente;<br />

- a ação coletiva, dialógica, crítica e comprometi<strong>da</strong> com a <strong>em</strong>ancipação <strong>em</strong>preendi<strong>da</strong> pelos<br />

sujeitos <strong>da</strong> prática, entre os quais se inclui o pesquisador (GHEDIN; FRANCO, 2007).<br />

Além <strong>da</strong> análise <strong>da</strong>s abor<strong>da</strong>gens metodológicas, foram investigados nos artigos os<br />

delineamentos de pesquisa utilizados, que estão expostos a seguir.<br />

Tabela 3: Análise dos artigos <strong>sobre</strong> a prática avaliativa na Educação Física escolar e<br />

respectiva porcentag<strong>em</strong>, relacionados com a categoria delineamento <strong>da</strong>s pesquisas.<br />

Delineamentos de pesquisa N° de artigos %<br />

Estudo de caso<br />

Estudo de campo<br />

Descritiva por meio de<br />

levantamentos (surveys)<br />

4 22<br />

3 17<br />

2 11<br />

Bibliográfica 5 28<br />

Documental e bibliográfica<br />

Descritiva (estudo comparativo)<br />

3 17<br />

1 5<br />

TOTAL: 7 tipos 18 artigos 100%<br />

Quanto aos delineamentos metodológicos presentes nos artigos investigados, percebe-<br />

se, na Tabela 3, uma forte tendência para o caráter qualitativo <strong>da</strong>s pesquisas, apresentado <strong>em</strong><br />

28% <strong>da</strong> amostra de artigos com a utilização do delineamento de pesquisa bibliográfica (n=5).<br />

Essa constatação d<strong>em</strong>onstra a presença de trabalhos produzidos por meio de discussões<br />

<strong>em</strong>inent<strong>em</strong>ente teóricas que objetivaram teorizar a prática avaliativa dos professores de<br />

Educação Física. Na sequência, verificaram-se os delineamentos que correspond<strong>em</strong> às<br />

características do estudo de caso, com 22% (n=4), estudo de campo, com 17% (n=3), e estudo<br />

documental combinado com o bibliográfico, também com 17% (n=3). Percebe-se que, apesar<br />

de os autores desses artigos indicar<strong>em</strong> avanços teóricos nos discursos acadêmicos para a<br />

realização <strong>da</strong>s pesquisas <strong>sobre</strong> avaliação na Educação Física escolar, apenas 55% dos artigos<br />

(n=10) denunciam as mazelas <strong>da</strong>s práticas avaliativas cotidianas realiza<strong>da</strong>s pelo professor de<br />

Educação Física, pois o foco dos pesquisadores foi o de construir descrições <strong>sobre</strong> o que os<br />

134


professores sab<strong>em</strong>, como avaliam e quais as dificul<strong>da</strong>des encontra<strong>da</strong>s, utilizando-se desses<br />

diferentes delineamentos de pesquisa.<br />

Santos (2005) considera que as pesquisas <strong>sobre</strong> a prática avaliativa realiza<strong>da</strong>s por meio<br />

de delineamentos descritivos com subtipos que inclu<strong>em</strong> o estudo de caso, de campo,<br />

documental e bibliográfico, enfocando somente a descrição, a classificação e a interpretação<br />

de fenômenos, representam baixo impacto no campo <strong>da</strong> ação avaliativa na Educação Física<br />

escolar. O mesmo autor assinala que:<br />

135<br />

[...] ao partir <strong>da</strong> reflexão de que na conjuntura posta nos estudos no campo <strong>da</strong><br />

avaliação voltados para as constatações e denúncias já ofereceram sua parcela de<br />

contribuição, nos convi<strong>da</strong> a realizar pesquisas que vis<strong>em</strong> a investigar, analisar e<br />

divulgar as iniciativas de construção de práticas avaliativas comprometi<strong>da</strong>s com a<br />

aprendizag<strong>em</strong> de todos os alunos e com o desenvolvimento dos professores e <strong>da</strong><br />

escola. (ibid<strong>em</strong>, p. 17)<br />

Pautando-se nessa citação, percebe-se a necessi<strong>da</strong>de de valorizar a pesquisa <strong>em</strong><br />

prática avaliativa na Educação Física escolar mais volta<strong>da</strong> para a pesquisa aplica<strong>da</strong>, já que a<br />

pesquisa descritiva, na maioria <strong>da</strong>s vezes, direciona-se para a exposição de denúncias dos<br />

probl<strong>em</strong>as referentes à prática avaliativa dos professores, contribuindo pouco para a melhora<br />

<strong>da</strong> prática pe<strong>da</strong>gógica de avaliação na área.<br />

investigados.<br />

A Tabela abaixo possibilita verificar o tipo de análise revelado nos artigos<br />

Tabela 4: Análise dos artigos <strong>sobre</strong> a prática avaliativa na Educação Física escolar e<br />

respectiva porcentag<strong>em</strong>, relacionados com a categoria tipo de análise.<br />

Tipo de análise N° de artigos %<br />

Análise descritiva 5 28<br />

Análise qualitativa de conteúdo<br />

6 33<br />

Análise qualitativa bibliográfica<br />

documental<br />

7 39<br />

TOTAL: 18 100%<br />

Percebe-se na investigação <strong>sobre</strong> o tipo de análise que, igualmente aos itens analisados<br />

anteriormente, apresenta forte tendência para a perspectiva dos modelos usados na pesquisa<br />

qualitativa. Porém, ao examinar essa categoria na produção de conhecimentos <strong>sobre</strong> a prática<br />

avaliativa na Educação Física escolar, percebe-se que ela se apresenta com o caráter ensaísta,<br />

especulativo e revisionista de diversos estudos. Isso fica evidente <strong>em</strong> 39% dos artigos (n=7),<br />

que traz<strong>em</strong> análises bibliográficas e documentais.<br />

Observou-se, ao mesmo t<strong>em</strong>po, a presença <strong>da</strong> análise de conteúdo <strong>em</strong> 33% dos artigos<br />

(n=6). Por último, as análises descritivas representam 28% <strong>da</strong> amostra de artigos (n=5). Com


isso, percebeu-se que diferentes tipos de análise qualitativa são apresentados nos artigos<br />

investigados, d<strong>em</strong>onstrando certo equilíbrio na frequência <strong>em</strong> que são <strong>em</strong>pregados nas<br />

pesquisas <strong>sobre</strong> a prática avaliativa do professor de Educação Física escolar.<br />

Para finalizar a análise deste estudo, considerou-se relevante apreciar mais um aspecto<br />

<strong>sobre</strong> a parte metodológica dos artigos, que diz respeito ao tipo de população usa<strong>da</strong> na<br />

construção dos artigos investigados, pois essa informação auxiliaria o conhecimento <strong>sobre</strong> os<br />

níveis de ensino que atuam os professores participantes <strong>da</strong>s pesquisas <strong>sobre</strong> a prática<br />

avaliativa <strong>em</strong> Educação Física escolar. Os <strong>da</strong>dos estão expostos na Tabela 5 a seguir.<br />

Tabela 5: Análise dos artigos <strong>sobre</strong> a prática avaliativa <strong>em</strong> Educação Física escolar e a<br />

respectiva porcentag<strong>em</strong>, relacionados com a categoria tipo de população<br />

Tipo de população<br />

Professor-pesquisador do Ensino<br />

Básico (2º ao 5º ano) e alunos<br />

Professor de Educação Física do<br />

Ensino Básico (6º ao 9º ano)<br />

N° de artigos<br />

Artigos que não usaram<br />

população para o<br />

desenvolvimento do estudo<br />

09<br />

50%<br />

TOTAL: 18 100%<br />

03<br />

06<br />

Nesta tabela explicita-se que, dos 18 artigos analisados, 50% refer<strong>em</strong>-se a<br />

investigações que se serviram de professores de Educação Física para o desenvolvimento <strong>da</strong>s<br />

pesquisas. Sendo, assim, uma amostra de 33% aponta para a escolha, como população, de<br />

professores de Educação Física que atuam nos anos finais do Ensino Fun<strong>da</strong>mental. Na<br />

sequência, observa-se a amostra de 17% de artigos que usaram como população os<br />

professores dos primeiros anos do Ensino Fun<strong>da</strong>mental.<br />

Foi curioso notar que, nos artigos investigados, não se identificaram estudos com<br />

professores de Educação Física que atuam nos níveis <strong>da</strong> Educação Infantil e no Ensino Médio.<br />

Isso d<strong>em</strong>onstra a carência de pesquisas nesses níveis de ensino no âmbito <strong>da</strong> Educação Física<br />

escolar, especialmente no que diz respeito à t<strong>em</strong>ática prática avaliativa.<br />

De maneira geral, por meio <strong>da</strong> escolha do tipo de população identifica<strong>da</strong> na análise<br />

dos artigos, constata-se o compromisso dos pesquisadores <strong>em</strong> produzir pesquisas <strong>sobre</strong> a<br />

prática avaliativa utilizando como sujeitos os docentes que atuam no contexto escolar. Porém,<br />

como visto anteriormente, não são todos os níveis de ensino que estão sendo cont<strong>em</strong>plados na<br />

pesquisa <strong>sobre</strong> a t<strong>em</strong>ática avaliação. Desse modo, ressalta-se a necessi<strong>da</strong>de de estudos<br />

%<br />

17%<br />

33%<br />

136


tentando abranger os diferentes níveis de ensino <strong>da</strong> Educação Básica para possibilitar o<br />

desvelamento de peculiari<strong>da</strong>des de ca<strong>da</strong> série para a construção de orientações<br />

contextualiza<strong>da</strong>s e mais efetivas, visando promover mu<strong>da</strong>nças no ato de avaliar praticado pelo<br />

professor de Educação Física escolar.<br />

2.3.4 Indícios <strong>sobre</strong> a avaliação na Educação Física escolar encontrados nos<br />

estudos investigados<br />

A análise dos artigos selecionados possibilitou a coleta de indícios que revelam a<br />

compreensão de aspectos <strong>da</strong> avaliação adotados pelos autores que desenvolveram estudos<br />

<strong>sobre</strong> a prática avaliativa no processo de ensino e aprendizag<strong>em</strong> na Educação Física escolar,<br />

entre 1990 e 2010.<br />

Percebeu-se, durante a análise dos 18 artigos, a apresentação de el<strong>em</strong>entos que<br />

possibilitam melhorar a prática avaliativa dos professores de Educação Física, na forma de<br />

referenciais teóricos e práticos que se fun<strong>da</strong>mentam no paradigma qualitativo, do qual se<br />

deriva a proposta <strong>da</strong> avaliação formativa. Embora não sejam assinalados todos os el<strong>em</strong>entos<br />

que caracterizam essa proposta de avaliação, os pontos destacados permit<strong>em</strong> observar que os<br />

autores consideram essa perspectiva como a mais adequa<strong>da</strong> para ser desenvolvi<strong>da</strong> no<br />

cotidiano <strong>da</strong>s <strong>aulas</strong> de Educação Física escolar.<br />

Sendo assim, para iniciar a apresentação desses indícios, é interessante expor o estudo<br />

de Oliveira (2009), <strong>em</strong> que a avaliação é considera<strong>da</strong> como uma forma de definir o aporte de<br />

conhecimentos <strong>da</strong> Educação Física escolar e dimensionar a aprendizag<strong>em</strong> dos alunos. O autor<br />

entende que a prática avaliativa deve promover as formas de apropriação do conhecimento<br />

específico <strong>da</strong> área, priorizando o singular dos t<strong>em</strong>as <strong>da</strong> cultura corporal, tais como o jogo, a<br />

<strong>da</strong>nça, a ginástica, o esporte, a luta, os conhecimentos <strong>sobre</strong> o corpo, e depois avaliar as<br />

diferentes manifestações de aprendizag<strong>em</strong> dos alunos, como, por ex<strong>em</strong>plo, a participação nas<br />

propostas de aula, as atitudes, a expressão dos conceitos e procedimentos aprendidos.<br />

Na mesma direção, Palafox e Terra (1998) consideram que, para o professor trabalhar<br />

a visão complexa e dinâmica dos t<strong>em</strong>as e conteúdos <strong>da</strong> cultura corporal por meio de um<br />

ensino e um processo de avaliação que propicie saberes significativos para os alunos, é<br />

necessária uma outra postura diante <strong>da</strong> forma de conceber o conhecimento ensinado nas <strong>aulas</strong><br />

de Educação Física escolar, que requer do professor a atuação “de mediador, provocando<br />

desafios, reflexões e diálogo permanente” (ibid<strong>em</strong>, p. 4), visando formar um aluno crítico,<br />

transformador do seu conhecimento.<br />

137


Mediante a exposição dos autores, percebe-se a sinalização de el<strong>em</strong>entos importantes<br />

para o ensino <strong>da</strong> Educação Física escolar, os quais se refer<strong>em</strong> à necessi<strong>da</strong>de de a avaliação ser<br />

abor<strong>da</strong><strong>da</strong> como um processo conectado aos objetivos, ao conteúdo e à metodologia de ensino,<br />

garantindo a especifici<strong>da</strong>de dos conhecimentos <strong>da</strong> área. Do mesmo modo, Zabala (1994),<br />

Perrenoud (1999), Coll et. al. (2000), entre outros autores, defend<strong>em</strong> a prática <strong>da</strong> avaliação<br />

formativa, apontando como um dos princípios fun<strong>da</strong>mentais que o processo avaliativo esteja<br />

conectado às tarefas de ensino propostas no cotidiano <strong>da</strong>s <strong>aulas</strong>. Tais indicações também são<br />

observa<strong>da</strong>s nos apontamentos <strong>sobre</strong> avaliação expostos nos documentos oficiais publicados<br />

nos PCNs de Educação Física (BRASIL, 1997; 1998; 2002) e nos cadernos do aluno e do<br />

professor expostos na Proposta Curricular do Estado de São Paulo para a área (SEE/SP,<br />

2008b; 2008c).<br />

Na análise dos estudos investigados identificou-se outro aspecto interessante <strong>sobre</strong> a<br />

avaliação na Educação Física escolar: a necessi<strong>da</strong>de de consoli<strong>da</strong>r a legitimi<strong>da</strong>de desse<br />

componente disciplinar no interior <strong>da</strong>s instituições de Ensino Básico (SILVA JÚNIOR, 2004;<br />

TAN; WRIGHT, 2004; PEREZ; RINCON, 2005).<br />

Segundo Silva Júnior (2004, p. 212), a legitimi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> disciplina Educação Física no<br />

contexto escolar só será realiza<strong>da</strong> se os argumentos que a sustentam for<strong>em</strong> abor<strong>da</strong>dos:<br />

138<br />

[...] pelo que lhe é específico, ou seja, pelo corpo de conhecimentos pelo qual é<br />

responsável, “pe<strong>da</strong>gogizando-os” e normatizando-os, o que seria uma forma de<br />

contribuir para o projeto de escolarização do educando. [Para isso] É preciso que a<br />

Educação Física se desenvolva, [...] não de maneira mecânica, mas sim por<br />

mediações, interações, contradições, consensos contextualizados no contexto<br />

escolar.<br />

Esses pressupostos também são expostos no estudo de Soares et. al. (1992),<br />

ressaltando que a legitimi<strong>da</strong>de ou relevância de um componente curricular só se constituirá na<br />

perspectiva de um currículo que permita levar o aluno a refletir <strong>sobre</strong> os conteúdos<br />

específicos <strong>da</strong> área.<br />

Desse modo, Silva Júnior (2004) e Perez e Rincon (2005) são partidários <strong>da</strong> ideia de<br />

que, ao ser defini<strong>da</strong> a legitimi<strong>da</strong>de do papel <strong>da</strong> Educação Física nas instituições de Ensino<br />

Básico, as questões relaciona<strong>da</strong>s à prática avaliativa poderão ser atenua<strong>da</strong>s, porque o<br />

professor precisará assumir uma postura pe<strong>da</strong>gógica que priorize a transparência e a<br />

contextualização <strong>da</strong>s finali<strong>da</strong>des e especifici<strong>da</strong>des <strong>da</strong> área, d<strong>em</strong>onstrando preocupação com a<br />

introdução do aluno nas questões relaciona<strong>da</strong>s à cultura corporal e assim contribuindo para<br />

uma formação crítica, transformadora do seu conhecimento. Além disso, deve desenvolver<br />

um ensino articulado com as características do processo de ensino e aprendizag<strong>em</strong> dos alunos<br />

e as orientações do projeto pe<strong>da</strong>gógico <strong>da</strong> escola.


Com isso, entende-se que para a Educação Física vencer o desafio de ser reconheci<strong>da</strong><br />

como uma área de conhecimento no contexto escolar é preciso:<br />

139<br />

1) superar seu caráter de mera ativi<strong>da</strong>de, de “prática pela prática”;<br />

2) integrar-se ao processo pe<strong>da</strong>gógico como um dos el<strong>em</strong>entos fun<strong>da</strong>mentais do<br />

desenvolvimento do educando s<strong>em</strong>, contudo, usar de sua especifici<strong>da</strong>de para auto<br />

exilar-se no interior <strong>da</strong> escola;<br />

3) diferenciar-se de uma perspectiva “tarefeira”, espontaneísta, voluntariosa;<br />

4) assumir-se como profissional de uma área de conhecimento que t<strong>em</strong> um saber a<br />

ser desenvolvido no meio escolar. (OLIVEIRA, 1999, p. 7).<br />

To<strong>da</strong>via, a busca pela legitimi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> Educação Física na escola não deve significar:<br />

[...] o poder de aprovar ou reprovar o aluno. O resultado <strong>da</strong> avaliação deve<br />

processar-se na relação entre objetivos, conteúdos e metodologias, representando o<br />

grau de desenvolvimento <strong>da</strong>s aprendizagens significativas que dão aval ao aluno. A<br />

promoção ou retenção [do aluno] deve ser considera<strong>da</strong> como última instância <strong>da</strong><br />

avaliação, e não objeto de desejo de um componente curricular no percurso <strong>da</strong><br />

construção de sua legitimi<strong>da</strong>de. (SILVA JÚNIOR, 2004, p. 203).<br />

Desse modo, <strong>em</strong> que pes<strong>em</strong> as peculiari<strong>da</strong>des <strong>da</strong> área <strong>da</strong> Educação Física escolar,<br />

Betti e Zuliane (2002) entend<strong>em</strong> que a avaliação apresenta características e dificul<strong>da</strong>des que<br />

pod<strong>em</strong> ser considera<strong>da</strong>s comuns aos d<strong>em</strong>ais componentes curriculares, como, por ex<strong>em</strong>plo, a<br />

ideia de a prática avaliativa servir para probl<strong>em</strong>atizar a ação pe<strong>da</strong>gógica, melhorar o processo<br />

de aprendizag<strong>em</strong> dos alunos, e não apenas para atribuir um conceito ao aluno, mas também<br />

apresenta peculiari<strong>da</strong>des, como, por ex<strong>em</strong>plo, a capaci<strong>da</strong>de de coletar, elaborar e interpretar as<br />

informações provenientes do contexto dessa disciplina, que é diferente <strong>da</strong>s outras áreas de<br />

conhecimento, pois o professor de Educação Física também avalia por critérios informais, já<br />

que “[...] o interesse, capaci<strong>da</strong>de geral e comportamento do aluno tornam-se muito evidentes<br />

nas situações de aula, pela natureza de seus conteúdos e estratégias” (ibid<strong>em</strong>, p. 79).<br />

Em Veal (1992; 1997), Silva (1999) e Diniz e Amaral (2009) é exposta a crítica <strong>sobre</strong><br />

a falta de posicionamento político e social do professor de Educação Física na escola. Essa<br />

postura é considera<strong>da</strong> pelos autores como prejudicial para a delimitação <strong>da</strong> legitimi<strong>da</strong>de <strong>da</strong><br />

Educação Física no contexto escolar, pois ela contribui para que os valores e ideologias<br />

defendidos nas orientações do projeto pe<strong>da</strong>gógico <strong>da</strong> escola sejam seguidos s<strong>em</strong><br />

questionamentos, implicando probl<strong>em</strong>as no planejamento do ensino, assim como na<br />

realização do processo de avaliação.<br />

Na concepção de Soares (2001), é importante que o professor de Educação Física<br />

dialogue com os outros atores escolares para identificar possibili<strong>da</strong>des de inserir a disciplina<br />

no âmago do projeto de educação seguido pela instituição de ensino <strong>em</strong> que trabalha,<br />

inclusive para melhorar o processo de avaliação de aprendizag<strong>em</strong>. Conforme a autora, o


projeto pe<strong>da</strong>gógico deve ser encarado do início ao fim como um meio que define o<br />

posicionamento político <strong>da</strong>s pessoas que compõ<strong>em</strong> a escola, <strong>sobre</strong>tudo do professor de<br />

Educação Física. Além disso, determina as escolhas de conteúdos, métodos e avaliação<br />

desenvolvidos no interior <strong>da</strong>s diferentes áreas de conhecimento escolar.<br />

Uma questão que vale pontuar nessa parte do estudo é pensar <strong>sobre</strong> como as escolas<br />

têm propiciado a participação docente na construção do projeto pe<strong>da</strong>gógica escolar?<br />

O que t<strong>em</strong> se observado é que os próprios coordenadores e diretores de ensino, muitas<br />

vezes, não valorizam e não criam instrumentos para viabilizar esses momentos com o corpo<br />

docente. A consequência disso é a escassez de orientação para a realização de uma prática<br />

pe<strong>da</strong>gógica contextualiza<strong>da</strong> com as intenções educacionais <strong>da</strong> escola, <strong>sobre</strong>tudo as que se<br />

refer<strong>em</strong> ao processo de avaliação, específicas <strong>da</strong> instituição escolar <strong>em</strong> que está inserido.<br />

Não obstante esse probl<strong>em</strong>a, também se verifica <strong>em</strong> vários estudos 17 denúncias <strong>sobre</strong> a<br />

falta de comprometimento do professor de Educação Física com os pressupostos defendidos<br />

no projeto pe<strong>da</strong>gógico e na organização do trabalho escolar desenvolvido nas instituições de<br />

Ensino Básico, <strong>em</strong> escolas que proporcionam esse espaço de discussão para os docentes,<br />

considera-se que isso ocasiona deficiências na fun<strong>da</strong>mentação teórica e prática do<br />

planejamento pe<strong>da</strong>gógico do professor <strong>da</strong> área.<br />

Compreende-se que isso provoca lacunas de conhecimentos que se expressam na<br />

organização do ensino e, consequent<strong>em</strong>ente, na artificiali<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s tarefas avaliativas, o que<br />

faz com que o professor de Educação Física fique alheio às orientações que fun<strong>da</strong>mentam a<br />

estrutura ideológica que está por trás <strong>da</strong>s práticas exerci<strong>da</strong>s na escola <strong>em</strong> que atua<br />

(ESTEBAN, 2002; 2008; VASCONCELOS, 2003; LUCKESI, 2005).<br />

A falta de posicionamento político do docente t<strong>em</strong> afini<strong>da</strong>de com as preconizações do<br />

modelo de avaliação expresso no paradigma experimental como informação para a toma<strong>da</strong> de<br />

decisões. Gómez (1985) aponta que a característica marcante dessa proposta avaliativa é se<br />

apoiar na crença <strong>da</strong> boa intenção dos que determinam as orientações educativas institucionais,<br />

municipais, estaduais ou nacionais. A postura do professor avaliador, assim, é a de aceitar as<br />

preconizações, não realizando reflexões ou críticas, mas apropriando-se <strong>da</strong>s mesmas de<br />

maneira neutra, s<strong>em</strong> questioná-las.<br />

Por outro lado, Silva (1999) e Santos e Gonçalves (1996), ao compreender<strong>em</strong> que a<br />

avaliação é um t<strong>em</strong>a que qualifica a educação, como também os serviços prestados pela<br />

instituição de ensino, entend<strong>em</strong> que essa prática necessita de uma referência que deve ser<br />

17 (SANTOS; GONÇALVES, 1996; PALAFOX; TERRA, 1998; VEAL, 1992; 1997; SILVA, 1999; MENDES;<br />

NASCIMENTO, MENDES, 2007; OLIVEIRA, 2009; DINIZ; AMARAL, 2009).<br />

140


encontra<strong>da</strong> no projeto pe<strong>da</strong>gógico. Nessa direção, os autores esclarec<strong>em</strong> que o projeto<br />

pe<strong>da</strong>gógico deve ser entendido como o horizonte a ser atingido, <strong>em</strong> função do qual a<br />

avaliação terá sentido d<strong>em</strong>arcado, conforme as características dos atores e do contexto<br />

escolar. É no projeto pe<strong>da</strong>gógico que a articulação <strong>da</strong> ação e <strong>da</strong> reflexão <strong>sobre</strong> os objetivos, o<br />

conhecimento a ser ensinado, os métodos de ensino, assim como as formas de realização <strong>da</strong>s<br />

práticas avaliativas do processo de ensino e aprendizag<strong>em</strong> dev<strong>em</strong> ser pensa<strong>da</strong>s e<br />

sist<strong>em</strong>atiza<strong>da</strong>s, considerando a reali<strong>da</strong>de e a particulari<strong>da</strong>de de ca<strong>da</strong> contexto escolar. Os<br />

autores ain<strong>da</strong> entend<strong>em</strong> que a postura docente na construção desse documento é fun<strong>da</strong>mental<br />

para a implantação e viabilização de práticas curriculares inovadoras, mas alertam que isso<br />

requer conhecimentos, por parte dos professores e outros atores escolares, <strong>sobre</strong> os diferentes<br />

modelos de escola e as intenções <strong>da</strong>s políticas educacionais que fun<strong>da</strong>mentam esse<br />

documento.<br />

Vasconcelos (2003) sustenta que esse engajamento coletivo na construção do projeto<br />

pe<strong>da</strong>gógico pode ser facilitado com a reflexão <strong>sobre</strong> a avaliação, realiza<strong>da</strong> nas diferentes<br />

disciplinas escolares, pois esse dispositivo didático coloca <strong>em</strong> evidência o projeto<br />

institucional, os fins <strong>da</strong> educação e as concepções pe<strong>da</strong>gógicas, constituindo-se, portanto, num<br />

momento privilegiado de discussão do projeto pe<strong>da</strong>gógico <strong>da</strong> escola, que acaba exercendo<br />

influência positiva na construção do planejamento ou plano de ensino do professor.<br />

Partindo desses preceitos, entende-se, por meio dos estudos de Palafox e Terra (1998),<br />

Bratifische (2003), Silva Júnior (2004) e Oliveira (2009) que o planejamento ou plano de<br />

ensino deve ser o meio colaborador para a coleta de informações <strong>sobre</strong> aspectos <strong>da</strong><br />

organização do ensino proposto pelos professores e para assinalar indicadores <strong>da</strong>quilo <strong>em</strong> que<br />

o aluno avançou e o que produziu de novo sob o ponto de vista do que foi escolhido para ser<br />

ensinado. Ao mesmo t<strong>em</strong>po, contribui para o reconhecimento <strong>da</strong>s falhas e <strong>da</strong> necessi<strong>da</strong>de de<br />

reconstrução <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des de ensino.<br />

Para alcançar essas intenções, os estudos de Santos e Gonçalves (1996), Rodrigues<br />

(2003) e Oliveira (2009) apontam que é preciso o redimensionamento <strong>da</strong> noção de<br />

planejamento de ensino do professor de Educação Física, visto como um trajeto dinâmico,<br />

quebrando a noção linear para que ocorra a diluição dos resultados <strong>da</strong> avaliação do ensino e<br />

aprendizag<strong>em</strong> dos alunos.<br />

Observa-se que a reflexão <strong>da</strong> avaliação no contexto <strong>da</strong> Educação Física escolar numa<br />

perspectiva inovadora e transformadora apresenta-se conecta<strong>da</strong> a vários pressupostos do<br />

paradigma qualitativo <strong>da</strong> avaliação (GÓMEZ, 1985), especialmente os que se refer<strong>em</strong> à<br />

importância <strong>da</strong> construção do projeto pe<strong>da</strong>gógico e, consequent<strong>em</strong>ente, do planejamento de<br />

141


ensino, não somente como possibili<strong>da</strong>de de definir aspectos a ser<strong>em</strong> seguidos durante a<br />

prática pe<strong>da</strong>gógica do professor, mas também como possibili<strong>da</strong>de de responder às questões<br />

<strong>sobre</strong> o contexto escolar, como a definição dos fins sociais que perpassam e orientam a<br />

instituição de ensino, os objetivos <strong>da</strong> área de conhecimento e <strong>da</strong> escola, considera<strong>da</strong>s<br />

fun<strong>da</strong>mentais para o professor promover uma prática pe<strong>da</strong>gógica transformadora<br />

(VASCONCELOS, 2003).<br />

Nesse sentido, compreende-se que as respostas a essas questões pod<strong>em</strong> ser obti<strong>da</strong>s por<br />

meio <strong>da</strong> constante reflexão individual e coletiva <strong>sobre</strong> a prática pe<strong>da</strong>gógica, que poderá ser<br />

amadureci<strong>da</strong> a partir <strong>da</strong> experiência diária e <strong>da</strong> interação com os pares. Essa ação capacita o<br />

professor para abarcar os objetivos <strong>da</strong> escola, estabelecer relações com a construção <strong>da</strong>s<br />

práticas avaliativas inovadoras, possibilitando mu<strong>da</strong>nças significativas na sua intervenção<br />

pe<strong>da</strong>gógica. Entretanto, para que isso ocorra, faz-se necessário que a escola se consolide<br />

como espaço de reflexão <strong>sobre</strong> esses conhecimentos de forma contextualiza<strong>da</strong> com os<br />

objetivos que pleiteia no projeto pe<strong>da</strong>gógico e com as características do contexto escolar, s<strong>em</strong><br />

perder de vista os aspectos culturais e sociais gerais.<br />

Oliveira (2009) compl<strong>em</strong>enta essa discussão, assinalando a importância de se levar <strong>em</strong><br />

conta a existência dos dois pares dialéticos <strong>em</strong> estreita relação que se <strong>sobre</strong>ssa<strong>em</strong> nesse<br />

processo: o objetivo e a avaliação, o conteúdo e a metodologia de ensino. Para o autor, tanto o<br />

professor quanto os alunos dev<strong>em</strong> saber o que foi ensinado (o conteúdo proposto), como foi<br />

ensinado (a metodologia utiliza<strong>da</strong>) e a forma de avaliação realiza<strong>da</strong>, pois esses conhecimentos<br />

orientam a percepção do alcance ou não dos objetivos educacionais, ou seja, se houve ou não<br />

aprendizag<strong>em</strong>. Nessa perspectiva, entende-se que a avaliação deve se concretizar por meio de<br />

ações que estejam relaciona<strong>da</strong>s com os objetivos planejados e com as noções de conteúdo e o<br />

método de ensino utilizado (SANTOS; GONÇALVES, 1996; RODRIGUES, 2003).<br />

Portanto, assim como é apontado na revisão <strong>da</strong> abor<strong>da</strong>g<strong>em</strong> desenvolvimentista exposta<br />

nas produções de Tani et. al. (1988); Manoel (1999), Soares et. al. (1992) e <strong>em</strong> Brasil (1997,<br />

1998, 2002), outro desafio a ser enfrentado no processo avaliativo na Educação Física escolar<br />

é o estabelecimento de tal coerência. Esses autores, <strong>em</strong>bora situ<strong>em</strong> suas explicações <strong>em</strong> bases<br />

epist<strong>em</strong>ológicas diferentes, realçam a importância do ato de avaliar, fazendo uma leitura a<br />

partir do que se pretendeu ensinar. Por isso consideram importante que a prática avaliativa se<br />

apresente contextualiza<strong>da</strong> com o que e como se ensina, pois assim garante-se o sentido e o<br />

significado dessa prática para o aluno e para o professor.<br />

Também r<strong>em</strong>et<strong>em</strong> à avaliação na Educação Física escolar alguns estudos que<br />

consideram a influência de outras instâncias <strong>sobre</strong> o contexto escolar, como, por ex<strong>em</strong>plo, a<br />

142


prática de coordenadores, diretor pe<strong>da</strong>gógico, mantenedores, funcionários <strong>em</strong> geral, assim<br />

como a forma como estão estruturados os pressupostos teóricos e práticos no projeto<br />

pe<strong>da</strong>gógico <strong>da</strong> instituição (PALAFOX; TERRA, 1998; OLIVEIRA, 2009; SILVA;<br />

BANKOFF, 2010).<br />

Tal consideração pode ser relaciona<strong>da</strong> ao paradigma qualitativo, especialmente aos<br />

pressupostos dos modelos de avaliação baseados na negociação, expostos <strong>em</strong> Gómez (1985),<br />

que, de maneira geral, ressaltam a necessi<strong>da</strong>de de conhecer as implicações educacionais que<br />

as pessoas que compõ<strong>em</strong> o contexto escolar valorizam, principalmente no que se refere à<br />

prática avaliativa. Essa ação é vista como necessária por entender a avaliação como um<br />

dispositivo didático que deve oferecer informações a todos os envolvidos no processo<br />

educacional.<br />

Santos e Gonçalves (1996), Bratifische (2003) e Perez e Rincon (2005) são entusiastas<br />

dessa ideia e consideram que a avaliação não deve ser desenvolvi<strong>da</strong> de forma isola<strong>da</strong> dos<br />

outros componentes do contexto escolar: a análise dos probl<strong>em</strong>as identificados pode ser<br />

realiza<strong>da</strong> por meio de múltiplas perspectivas e de forma inter-relaciona<strong>da</strong> com os diferentes<br />

aspectos que influenciam o processo de ensino e aprendizag<strong>em</strong> dos alunos.<br />

Na mesma perspectiva, encontra-se nos pressupostos <strong>da</strong> avaliação formativa expostos<br />

<strong>em</strong> Zabala (1994) a ponderação <strong>da</strong> importância de a avaliação <strong>da</strong> aprendizag<strong>em</strong> escolar levar<br />

<strong>em</strong> conta os diferentes aspectos <strong>da</strong> prática do professor, <strong>da</strong> organização escolar e curricular,<br />

<strong>da</strong> participação <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de na escola, <strong>da</strong>s condições de trabalho, enfim, qualquer<br />

el<strong>em</strong>ento que possa acarretar influências <strong>sobre</strong> o “bom” desenvolvimento do processo de<br />

ensino e aprendizag<strong>em</strong> dos alunos.<br />

Em outras referências a respeito <strong>da</strong> avaliação <strong>em</strong> Educação Física coleta<strong>da</strong>s nos<br />

artigos investigados é aponta<strong>da</strong> a necessi<strong>da</strong>de de o professor avaliar o aluno como um todo<br />

(DESROSIERS; GENET-VOLET; GODBOUT, 1997; BRATISFISCHE, 2003; SILVA;<br />

BANKOFF, 2010), ou seja, cont<strong>em</strong>plando a avaliação dos diferentes domínios de<br />

conhecimento. Essa indicação está de acordo com os pressupostos <strong>sobre</strong> avaliação expostos<br />

<strong>em</strong> Freire (1989), Soares et. al. (1992), Freire e Scaglia (2004), nos PCNs de Educação Física<br />

(BRASIL, 1997, 1998, 2002), <strong>em</strong> Darido (2005), na Proposta Curricular do Estado de São<br />

Paulo (SEE/SP, 2008a), assim como nas obras de autores do contexto educacional que versam<br />

<strong>sobre</strong> a avaliação <strong>da</strong> aprendizag<strong>em</strong> na perspectiva qualitativa (GÓMEZ, 1985) e na proposta<br />

formativa descrita nos estudos de Hadji (1994), Zabala (1994), Perrenoud (1999), Hoffmann<br />

(1993, 2004, 2009), Esteban (2002, 2008), Vasconcelos (2003), Luckesi (2005), entre outros.<br />

Ao levar <strong>em</strong> conta tal pr<strong>em</strong>issa, entende-se que a avaliação será realiza<strong>da</strong> com a<br />

143


intencionali<strong>da</strong>de educativa de identificar os diferentes conhecimentos ensinados e<br />

manifestados no processo de aprendizag<strong>em</strong> dos alunos, assim como propiciar subsídios para<br />

compreender o cerne <strong>da</strong>s dificul<strong>da</strong>des revela<strong>da</strong>s.<br />

Sobre esse ponto, a revisão de literatura mostra um destaque para a distinção dos três<br />

tipos de conteúdo – conceitual, procedimental e atitudinal – vistos como relevantes para<br />

orientar os métodos de ensino e a escolha de técnicas de avaliação coerentes com a natureza<br />

dos conhecimentos escolhidos para ser<strong>em</strong> trabalhados durante as <strong>aulas</strong> de Educação Física<br />

escolar, pois eles apresentam, conforme Zabala (1994), Coll et. al. (2000) e Coll (2001),<br />

características diferentes que correspond<strong>em</strong>, respectivamente, às perguntas “o que se deve<br />

saber?” (dimensão conceitual), “o que se deve saber fazer?” (dimensão procedimental), e<br />

“como se deve ser?” (dimensão atitudinal).<br />

Segundo Coll et. al. (2000) e Coll (2001), esses conteúdos requer<strong>em</strong> a sua tradução no<br />

contexto de sequências de ensino e avaliação específicas para abarcar as particulari<strong>da</strong>des de<br />

conhecimentos que abor<strong>da</strong>m.<br />

Melo (2008) entende que, com essa perspectiva, a avaliação no contexto <strong>da</strong> Educação<br />

Física escolar pode ser concebi<strong>da</strong> a serviço <strong>da</strong> aprendizag<strong>em</strong>, e não se encerrando como um<br />

fim <strong>em</strong> si mesmo. Permite averiguar o que t<strong>em</strong> de ser melhorado tanto nos processos de<br />

estudo do aluno quanto nos processos de ensino do professor e avalia utilizando instrumentos<br />

coerentes com a natureza do conhecimento ensinado, assim como sugere a escolha de<br />

indicadores de aprendizag<strong>em</strong> para além dos parâmetros motores, que incluam as dimensões<br />

cognitivas, afetivas e sociais.<br />

Desrosiers, Genet-Volet e Godbout (1997) e Silva (2010) corroboram essas<br />

considerações quando expõ<strong>em</strong> que para avaliar os distintos conhecimentos expressos no<br />

processo de aprendizag<strong>em</strong> dos alunos é preciso realizar uma boa escolha dos instrumentos de<br />

avaliação. Segundo os autores, esse cui<strong>da</strong>do contribui para a prática de coleta de indicadores<br />

consistentes <strong>sobre</strong> o progresso e as dificul<strong>da</strong>des de aprendizag<strong>em</strong> dos diversos tipos de<br />

conhecimento expressos pelos discentes.<br />

Percebe-se que a exposição dos autores indica a observação de mais um apontamento<br />

provindo do paradigma qualitativo <strong>da</strong> avaliação, que se refere à escolha dos instrumentos ou<br />

tarefas avaliativas diversifica<strong>da</strong>s. Segundo Gómez (1985), é preciso que a escolha dos<br />

instrumentos de avaliação seja diversifica<strong>da</strong>, para facilitar o campo de observação <strong>da</strong><br />

aprendizag<strong>em</strong>, que, devido a sua complexi<strong>da</strong>de, requer um olhar ampliado para a<br />

identificação <strong>da</strong>s manifestações de aprendizag<strong>em</strong> e a compreensão <strong>da</strong>s dificul<strong>da</strong>des dos<br />

alunos no contexto escolar.<br />

144


Perrenoud (1999) e Hoffmann (2009) atentam para a importância de considerar os<br />

instrumentos de avaliação como meios, e não fins, do processo de ensino e aprendizag<strong>em</strong> dos<br />

alunos. A escolha desses instrumentos deve ser cui<strong>da</strong>dosa, representar as dimensões do<br />

conteúdo ensinado, ativar os processos de pensamento vivenciados <strong>em</strong> aula e, além disso, ser<br />

aplicados nos diferentes momentos do processo de ensino, e não apenas no final de um<br />

programa.<br />

No estudo de Santos e Gonçalves (1996) outros aspectos interessantes a respeito <strong>da</strong><br />

escolha dos instrumentos de avaliação são assinalados. Os autores consideram relevante,<br />

durante a escolha dos procedimentos de avaliação, assegurar a possibili<strong>da</strong>de de os alunos<br />

participar<strong>em</strong> não só como sujeitos avaliados, mas também como avaliadores do seu próprio<br />

processo de aprendizag<strong>em</strong> e do ensino do professor. As práticas de autoavaliação colaboram<br />

para a toma<strong>da</strong> de consciência <strong>sobre</strong> a parcela de responsabili<strong>da</strong>de do aluno no próprio<br />

processo de aprendizag<strong>em</strong>, ao mesmo t<strong>em</strong>po <strong>em</strong> que contribu<strong>em</strong> com o professor,<br />

apresentando “parâmetros que encaminh<strong>em</strong> o replanejamento constante de sua ação docente”<br />

(PALAFOX; TERRA, 1998, p. 4).<br />

Desse modo, é consenso entre vários autores que a avaliação <strong>em</strong> Educação Física<br />

realiza<strong>da</strong> na ótica do fazer coletivo, envolvendo <strong>em</strong> seu processo ações docentes e discentes, é<br />

uma possibili<strong>da</strong>de relevante para <strong>em</strong>preender mu<strong>da</strong>nças significativas na prática avaliativa<br />

dos professores <strong>da</strong> área (PALAFOX; TERRA, 1998; SILVA JÚNIOR, 2004; MENDES;<br />

NASCIMENTO; MENDES, 2007). Nesses estudos defende-se que a participação do aluno no<br />

ato de avaliar pode ser aproveita<strong>da</strong> como momento valioso para a promoção de reflexões<br />

<strong>sobre</strong> o que os discentes fizeram <strong>em</strong> aula. Melo (2008, p.44) expõe que a intenção do fazer<br />

coletivo será concretiza<strong>da</strong> no processo de avaliação quando<br />

145<br />

[...] o professor de Educação Física abandonar o papel de examinador, e o aluno, o<br />

de examinado, uma vez que um dos princípios dessa forma de conceber a avaliação<br />

é a promoção de parcerias (professor-aluno e aluno-aluno).<br />

Esse pressuposto é defendido no paradigma <strong>da</strong> avaliação qualitativa, especificamente<br />

no modelo d<strong>em</strong>ocrático, que expõe que o processo avaliativo deve ser construído junto ao<br />

aluno (GÓMEZ, 1985). Também se observa esse princípio na proposta formativa, que,<br />

segundo Fernandes (2006), é uma possibili<strong>da</strong>de de criar oportuni<strong>da</strong>des para os alunos<br />

participar<strong>em</strong> do seu próprio processo de avaliação.<br />

Explica Hoffmann (2004) que incluir a participação dos alunos no processo de<br />

avaliação requer do professor a construção de práticas que promovam a reflexão dos alunos<br />

<strong>sobre</strong> seus progressos e dificul<strong>da</strong>des, incentivando-os a buscar<strong>em</strong> a auto-observação e a


exposição de sua opinião <strong>sobre</strong> os critérios a ser<strong>em</strong> considerados <strong>em</strong> determinado programa<br />

de ensino de conteúdos. Para a autora, cabe ao docente realizar a leitura <strong>da</strong>s situações vivi<strong>da</strong>s<br />

na perspectiva dos alunos, ajustando a escuta às diferentes mensagens e sinais que<br />

possibilit<strong>em</strong> a identificação dos indícios de aprendizag<strong>em</strong> e dificul<strong>da</strong>des durante o processo<br />

de ensino e aprendizag<strong>em</strong>.<br />

Perrenoud (1999) reforça essa ideia ao eluci<strong>da</strong>r que a avaliação é formativa aju<strong>da</strong> o<br />

aluno a aprender a se conhecer e colabora para o seu autodesenvolvimento, partindo <strong>da</strong><br />

regulação <strong>da</strong>s suas aprendizagens.<br />

Sendo assim, encontra-se no instrumento avaliativo denominado autoavaliação um<br />

interessante meio para cumprir tal intento. Palafox e Terra (1998) o caracterizam como um<br />

procedimento que deve aju<strong>da</strong>r os alunos a avaliar<strong>em</strong> seu êxito no processo de ensino e<br />

aprendizag<strong>em</strong> de forma crítica. Portanto, conforme Perrenoud (1999), tal instrumento<br />

colabora para o discente se localizar no processo de ensino e aprendizag<strong>em</strong>, pois possibilita o<br />

exercício <strong>da</strong> metacognição (o conhecimento <strong>sobre</strong> o caminho <strong>da</strong> aprendizag<strong>em</strong> que está<br />

adquirindo), além de favorecer o desenvolvimento <strong>da</strong> autorregulação. Consequent<strong>em</strong>ente, o<br />

instrumento pode aju<strong>da</strong>r o aluno a compreender o seu próprio desenvolvimento, percebendo<br />

seus erros e buscando formas para a superação deles.<br />

No estudo de Melo (2008, p.75) verificou-se que a autoavaliação realiza<strong>da</strong> pelos<br />

alunos <strong>em</strong> <strong>aulas</strong> de Educação Física promoveu o exercício de lançar um olhar distanciado<br />

<strong>sobre</strong> o processo vivido, o que colaborou para a prática <strong>da</strong> reflexão que sist<strong>em</strong>atizou as ações<br />

e aprendizagens desenvolvi<strong>da</strong>s. Os resultados <strong>da</strong> pesquisa também assinalaram que:<br />

146<br />

Nos registros diários a reflexão ocorreu <strong>sobre</strong> a ação, o que implicou um olhar mais<br />

específico e pontual <strong>sobre</strong> o processo de aprendizag<strong>em</strong>. As características do<br />

procedimento de autoavaliação possibilitaram aos alunos revisar<strong>em</strong> as ações que<br />

praticaram <strong>em</strong> determinado período de ensino, fazer recortes e realizar sínteses<br />

<strong>sobre</strong> o que foi significativo no processo de ensino e aprendizag<strong>em</strong> <strong>sobre</strong> como<br />

alcançar a melhoria de sua aprendizag<strong>em</strong>.<br />

Com essa exposição, percebe-se no estudo relatado que a autoavaliação correspondeu<br />

à busca <strong>da</strong> autorreferenciação, um dos princípios <strong>da</strong> prática avaliativa considerado de grande<br />

valia no contexto educacional, por permitir a toma<strong>da</strong> de consciência que possibilitou aos<br />

alunos compreender<strong>em</strong> o sentido <strong>da</strong> própria aprendizag<strong>em</strong>, por meio <strong>da</strong> explicitação do<br />

caminho percorrido.<br />

Em outros estudos observou-se que a avaliação na Educação Física é vista somente<br />

por meio <strong>da</strong> realização de um diagnóstico, que deve gerar informações periódicas de maneira


quantitativa e qualitativa <strong>sobre</strong> o ensino e as condições <strong>da</strong> aprendizag<strong>em</strong> manifesta<strong>da</strong> pelo<br />

aluno (PALAFOX; TERRA, 1998; BRATIFISCHE, 2003; SILVA; BANKOFF, 2010).<br />

Entende-se que a avaliação vista com função apenas de diagnóstico dos resultados<br />

alcançados padece de uma concepção limita<strong>da</strong>. Isso foi explicado no estudo de Melo (2008),<br />

que compreende que a avaliação deve ser vista para além do diagnóstico de probl<strong>em</strong>as<br />

relacionados ao processo de ensino e aprendizag<strong>em</strong>. Segundo a autora, a partir <strong>da</strong> ação<br />

diagnóstica deve-se vislumbrar toma<strong>da</strong>s de decisão para resolver os probl<strong>em</strong>as encontrados no<br />

processo de ensino e aprendizag<strong>em</strong>. No contexto <strong>da</strong> avaliação formativa, Vasconcelos (2003)<br />

e Luckesi (2005) eluci<strong>da</strong>m que o diagnóstico pode ser concebido como parte <strong>da</strong> função <strong>da</strong><br />

avaliação <strong>da</strong> aprendizag<strong>em</strong>, porém não deve ser visto como fim <strong>em</strong> si mesmo.<br />

Entende-se que não há sentido <strong>em</strong> propor processos avaliativos que somente<br />

apresentam o que o aluno aprendeu ou não aprendeu e o faz<strong>em</strong> refém dessas constatações,<br />

que, muitas vezes, são toma<strong>da</strong>s como sentenças definitivas. Se a proposição <strong>da</strong> avaliação é<br />

conceber juízos de valor para uma toma<strong>da</strong> de decisão, ela deverá, primeiramente, ser realiza<strong>da</strong><br />

como um mecanismo diagnóstico <strong>da</strong> situação de aprendizag<strong>em</strong>, tendo <strong>em</strong> vista detectar os<br />

avanços e dificul<strong>da</strong>des do aluno. Esse momento de apreciação do aproveitamento escolar não<br />

deve ser visto como ponto definitivo de chega<strong>da</strong>, mas como ponto de parti<strong>da</strong>, para, mediante<br />

os resultados encontrados no processo de avaliação, subsidiar o encaminhamento de novas<br />

ações didáticas, possibilitando mu<strong>da</strong>nças contextualiza<strong>da</strong>s no processo de ensino e<br />

aprendizag<strong>em</strong> (LUCKESI, 2005).<br />

Na mesma direção, Nye et. al. (2009) e Oliveira (2009) apontam que a construção de<br />

critérios de avaliação claros possibilita ao professor não só realizar o diagnóstico dos<br />

resultados, mas também a reflexão <strong>sobre</strong> o que fazer a partir dos resultados obtidos.<br />

Segundo os autores, os critérios dev<strong>em</strong> ser construídos a partir dos objetivos de<br />

ensino, <strong>da</strong>s características dos conteúdos e métodos, assim como dos instrumentos de<br />

avaliação. Consideram a relação desses mecanismos indispensável para o processo de<br />

avaliação <strong>da</strong> aprendizag<strong>em</strong>, que pode passar a ser realizado de maneira mais integra<strong>da</strong> à<br />

reali<strong>da</strong>de escolar.<br />

Freitas (1995) e Luckesi (2005) compartilham desses pressupostos e apontam que os<br />

critérios dev<strong>em</strong> refletir a expectativa de ensino estabeleci<strong>da</strong>, formulando-se a partir dos<br />

objetivos, conteúdos e métodos de ensino propostos. Perceb<strong>em</strong>-se as mesmas ponderações<br />

nos PCNs de Educação Física (BRASIL, 1997, 1998, 2002) e nos cadernos do aluno e do<br />

professor na Proposta Curricular do Estado de São Paulo (SEE/SP, 2008b; 2008c).<br />

147


Desse modo, entende-se que, para o processo avaliativo se equacionar de maneira<br />

coerente e responsável, os instrumentos utilizados dev<strong>em</strong> estar relacionados aos critérios<br />

estabelecidos, de modo a conseguir obter <strong>da</strong>dos <strong>da</strong> aprendizag<strong>em</strong> construí<strong>da</strong>, de acordo com<br />

os níveis de desenvolvimento cognitivo, motor, afetivo e social explicitados nos objetivos.<br />

Percebe-se a relação desses pressupostos com as pr<strong>em</strong>issas que caracterizam o modelo<br />

avaliativo exposto <strong>em</strong> Gómez (1985), pautado nos objetivos comportamentais na déca<strong>da</strong> de<br />

1970. Esse modelo pondera, na construção de um instrumento de avaliação, a escolha de<br />

critérios que permitam definir as aprendizagens que serão avalia<strong>da</strong>s. Um ex<strong>em</strong>plo a ser citado,<br />

conforme estudo de Dias Sobrinho (2003), é a Taxonomia dos Objetivos, de Benjamin<br />

Bloom, a qual não só sist<strong>em</strong>atiza os objetivos de ensino como também apresenta critérios de<br />

avaliação que orientam o que deveria ser avaliado.<br />

Entretanto, no contexto <strong>da</strong> Educação Física, Souza (1993; 2010), que investigou, por<br />

meio de entrevista, os professores de Educação Física atuantes no Ensino Fun<strong>da</strong>mental de 6º a<br />

9º ano <strong>da</strong> rede pública, na ci<strong>da</strong>de de Nova Iguaçu (RJ), constatou, na análise de conteúdo <strong>da</strong>s<br />

respostas forneci<strong>da</strong>s pelos participantes <strong>da</strong> pesquisa, que os critérios de avaliação <strong>em</strong>pregados<br />

nessa disciplina carec<strong>em</strong> de clareza e apresentam-se pouco relacionados com os objetivos,<br />

conteúdos e instrumentos de ensino que apontaram trabalhar no cotidiano de suas aula.<br />

Para a mu<strong>da</strong>nça desse cenário, outro requisito se apresenta necessário para a mu<strong>da</strong>nça<br />

<strong>da</strong>s práticas avaliativas na Educação Física escolar é a construção de registros de avaliação.<br />

Vários autores apontam que os registros são importantes porque fornec<strong>em</strong> ao professor<br />

condições de observar e analisar indicadores de aprendizag<strong>em</strong> e dificul<strong>da</strong>des, além de<br />

materializar o que os alunos aprenderam ou não nas <strong>aulas</strong> (DESROSIERS; GENET-VOLET;<br />

GODBOUT, 1997; PALAFOX; TERRA, 1998; BRATIFISCHE, 2003; NYE et. al., 2009;<br />

MELO, FERRAZ; NISTA-PICCOLO, 2010).<br />

Melo (2008, p. 40) considera que, no contexto <strong>da</strong> Educação Física escolar, é relevante<br />

a produção de registros de avaliação de maneira simultânea à aprendizag<strong>em</strong> de conteúdos.<br />

Segundo a autora, isso pode ocorrer, por ex<strong>em</strong>plo<br />

148<br />

[...] gravando-se o des<strong>em</strong>penho motor por um colega, seguido de discussão <strong>em</strong><br />

dupla <strong>sobre</strong> determina<strong>da</strong> diretriz para análise e registro de observação <strong>da</strong> tarefa<br />

realiza<strong>da</strong>. Ain<strong>da</strong>, o t<strong>em</strong>po pode ser organizado para que a vivência aconteça durante<br />

a aula e no final seja retomado o que o aluno aprendeu, discutindo-se coletivamente<br />

os aspectos <strong>em</strong> que sentiu dificul<strong>da</strong>de e o que fazer para melhorar. A produção do<br />

registro pode ser proposta como tarefa de casa ou por meio <strong>da</strong> gravação de áudio<br />

nas ro<strong>da</strong>s de conversa.<br />

Encontrou-se <strong>em</strong> Freitas (1995), Pozo (2000) e Vasconcelos (2003) certo consenso a<br />

respeito <strong>da</strong> ideia de propiciar a construção de registros que possam ser usados como


instrumento de avaliação <strong>da</strong> aprendizag<strong>em</strong> dos alunos durante o processo de ensino. No<br />

contexto <strong>da</strong>s produções que se relacionam à Educação Física escolar, os PCNs (BRASIL,<br />

1997, 1998, 2002), os cadernos do aluno na Proposta Curricular do Estado de São Paulo<br />

(SEE/SP, 2008c) e <strong>em</strong> Manoel (1999) a prática dos registros é destaca<strong>da</strong> como um importante<br />

instrumento de avaliação <strong>da</strong> aprendizag<strong>em</strong> dos alunos.<br />

Observou-se <strong>em</strong> Palafox e Terra (1998), Diniz e Amaral (2009) e Melo, Ferraz e<br />

Nista-Piccolo (2010) que a prática avaliativa na Educação Física escolar pode ser vista como<br />

uma possibili<strong>da</strong>de de revisão e interpretação dos erros dos alunos.<br />

Diniz e Amaral (2009, p. 249) encontram no contexto <strong>da</strong> escola cicla<strong>da</strong> apontamentos<br />

que assinalam caminhos que pod<strong>em</strong> contribuir para a redefinição <strong>da</strong> concepção do erro<br />

manifestado durante o processo de ensino e aprendizag<strong>em</strong> nas <strong>aulas</strong> de Educação Física<br />

escolar. Destaca-se a ideia de o erro ser investigado por meio de uma densa compreensão que<br />

possibilite análises de sua dimensão e a profundi<strong>da</strong>de do conhecimento apresentado pelo<br />

discente, para assim “conduzi-lo a novos caminhos para a aprendizag<strong>em</strong> dos conteúdos e para<br />

estimulá-lo a evoluir e produzir novos conhecimentos”.<br />

A redefinição <strong>da</strong> concepção do erro também é referencia<strong>da</strong> <strong>em</strong> Esteban (2002),<br />

Vasconcelos (2003) e Hoffmann (2009), por meio de discussões que lev<strong>em</strong> a reflexão <strong>sobre</strong> a<br />

desmistificação do trato com o saber e o não saber, vistos como situações inerentes ao<br />

processo de ensino e aprendizag<strong>em</strong>, permitindo ao aluno errar para aprender. Assim, o erro<br />

passa a ter importância no acompanhamento dos resultados do processo de ensino e<br />

aprendizag<strong>em</strong> como um indicador significativo <strong>da</strong>s condições concretas <strong>em</strong> que se encontra o<br />

aluno.<br />

No contexto <strong>da</strong> Educação Física escolar, Tani (2008) aponta sinais que se refer<strong>em</strong> a<br />

alguns aspectos dos pressupostos indicados pelos autores supracitados. O autor expõe que a<br />

avaliação deve focalizar as realizações dos alunos no domínio motor, mais especificamente na<br />

compreensão dos erros e acertos manifestados no processo de aprendizag<strong>em</strong> do e <strong>sobre</strong> o<br />

movimento.<br />

Discute-se também nos artigos investigados a importância de a avaliação ser realiza<strong>da</strong><br />

por meio de um processo contínuo e sist<strong>em</strong>ático. Vários autores se posicionam a favor dessa<br />

pr<strong>em</strong>issa e são contra a concepção de avaliar de forma esporádica e num momento estanque,<br />

predefinido. Assim, a avaliação é vista como um processo contínuo que configura parte do<br />

processo de ensino e aprendizag<strong>em</strong> e, por sua vez, adquire dimensões diferencia<strong>da</strong>s, já que,<br />

por ser um processo, ela contém fases (diagnóstica, formativa e somativa) que integram<br />

149


funções, momentos e instrumentos que caracterizam a intencionali<strong>da</strong>de avaliativa (SANTOS;<br />

GONÇALVES, 1996; SILVA JÚNIOR, 2004; SILVA; BANKOFF, 2010).<br />

Isso significa que a avaliação não é somente uma prática de fechamento do bimestre,<br />

realiza<strong>da</strong> para verificar o que se produziu, mas, como exposto na LDB 9.394/96 (BRASIL,<br />

1996), nos PCNs (BRASIL, 1998) e na Proposta Curricular do Estado de São Paulo (SEE/SP,<br />

2008a), é um processo de análise dos percursos seguidos pelos alunos durante a construção<br />

<strong>da</strong>s aprendizagens. Ao mesmo t<strong>em</strong>po, ela deve, conforme Gómez (1985), Zabala (1994),<br />

Hadji, (1994), Perrenoud (1999), Hoffman (1993, 2004, 2009), Vasconcelos (2003), levar à<br />

toma<strong>da</strong> de decisões <strong>sobre</strong> o que fazer para melhorar as dificul<strong>da</strong>des identifica<strong>da</strong>s nesse<br />

processo.<br />

De maneira geral, percebe-se nos estudos analisados que os pressupostos <strong>sobre</strong> a<br />

t<strong>em</strong>ática <strong>da</strong> avaliação identificados na prática pe<strong>da</strong>gógica dos professores de Educação Física<br />

compreend<strong>em</strong> o ato de avaliar como uma ação que implica a visão processual de análise <strong>da</strong>s<br />

aprendizagens e dificul<strong>da</strong>des manifesta<strong>da</strong>s pelos alunos. Deve, também, colaborar para situar<br />

o aluno <strong>sobre</strong> quanto ele avançou (ou não) <strong>em</strong> seu processo de aprendizag<strong>em</strong>.<br />

Pautando-se <strong>em</strong> Perrenoud (1999), entende-se que o professor, ao discutir a apreciação<br />

dos resultados com os alunos, t<strong>em</strong> a possibili<strong>da</strong>de de compreender como eles significam o<br />

processo, quais são os pontos que eles consideram relevantes, numa ação que aju<strong>da</strong> a envolvê-<br />

los na regulação contínua <strong>da</strong>s suas aprendizagens, abandonando a lógica <strong>da</strong> seleção por uma<br />

lógica <strong>da</strong> formação.<br />

Nessa lógica formativa <strong>da</strong> avaliação, Esteban (2002) assinala que cabe ao professor<br />

ponderar as relações <strong>da</strong> percepção que os alunos têm de si mesmos com o outro e com o<br />

contexto. Para isso, Vasconcelos (2003) e Luckesi (2005) ressaltam o diálogo como o meio<br />

mais eficaz para compreender as características dos alunos e as origens dos probl<strong>em</strong>as de<br />

aprendizag<strong>em</strong> para encontrar soluções, junto aos alunos, que atenu<strong>em</strong> as dificul<strong>da</strong>des<br />

manifesta<strong>da</strong>s.<br />

No exercício de auxiliar os alunos para a busca do autoconhecimento durante o<br />

processo de avaliação é importante que o docente atue no sentido de despertar a<br />

responsabili<strong>da</strong>de do aluno para melhorar a sua aprendizag<strong>em</strong>. Essa pr<strong>em</strong>issa pode possibilitar<br />

aos alunos não apenas perceber<strong>em</strong> as evoluções e carências de conhecimentos, mas também<br />

encontrar possibili<strong>da</strong>des para melhorar tais dificul<strong>da</strong>des, junto com o professor e também por<br />

si mesmos (ESTEBAN, 2002).<br />

Sendo assim, Hadji (1994) e Hoffmann (2009) consideram que o professor deve atuar<br />

de maneira mediadora no processo avaliativo dos seus alunos, de modo a estabelecer um olhar<br />

150


sensível às potenciali<strong>da</strong>des e dificul<strong>da</strong>des discentes. Para isso, deve ir além <strong>da</strong>s técnicas<br />

avaliativas e focar no projeto de aju<strong>da</strong>r o aluno a encontrar o seu caminho para o<br />

desenvolvimento de aprendizagens mais significativas.<br />

Nessa perspectiva, percebe-se que se faz necessário que o professor adote uma atitude<br />

compreensiva, investigadora e propiciadora de situações que permitam a construção de<br />

soluções individuais e coletivas, as quais são consideras por Esteban (2002; 2008) um meio<br />

eficaz para ampliar as experiências educativas, do autoconhecimento e <strong>da</strong> percepção <strong>da</strong>s<br />

possibili<strong>da</strong>des de aprendizag<strong>em</strong>.<br />

Notou-se também, na análise dos artigos, que a avaliação no contexto <strong>da</strong> Educação<br />

Física é compreendi<strong>da</strong> como um dispositivo que faz parte do conjunto <strong>da</strong>s ações didáticas e<br />

pe<strong>da</strong>gógicas do professor, que d<strong>em</strong>an<strong>da</strong> momentos de reflexão, discussão, reavaliação do<br />

processo de aprendizag<strong>em</strong> e de ensino. Portanto, entende-se que, para superar as práticas<br />

classificatórias <strong>da</strong> avaliação <strong>da</strong> aprendizag<strong>em</strong> e <strong>da</strong>s ações não sist<strong>em</strong>atiza<strong>da</strong>s e improvisa<strong>da</strong>s,<br />

a busca de estratégias que efetivamente colabor<strong>em</strong> para a mu<strong>da</strong>nça <strong>da</strong> prática avaliativa no<br />

contexto dessa disciplina apresenta-se como requisito necessário.<br />

Nesse sentido, a formação docente é reconheci<strong>da</strong> pelos autores como indispensável,<br />

ampara<strong>da</strong> por referenciais teóricos que contribuam para a compreensão <strong>da</strong> avaliação,<br />

aprofun<strong>da</strong>ndo as reflexões a respeito <strong>da</strong> sua função no contexto escolar, assim como na área<br />

<strong>em</strong> que atua. Isso porque os estudos converg<strong>em</strong> para a ideia de ser impossível avaliar s<strong>em</strong><br />

uma definição clara e um conhecimento consistente, por parte dos professores, <strong>sobre</strong> os<br />

objetivos educacionais inseridos no projeto pe<strong>da</strong>gógico <strong>da</strong> escola e no planejamento de ensino<br />

docente, que deve apresentar a característica de ser maleável e adequado às necessi<strong>da</strong>des dos<br />

alunos e do contexto escolar.<br />

A abor<strong>da</strong>g<strong>em</strong> <strong>da</strong> t<strong>em</strong>ática avaliação analisa<strong>da</strong> nos artigos selecionados permite,<br />

portanto, a identificação de apontamentos correspondentes à perspectiva <strong>da</strong> avaliação<br />

formativa. Como foi visto na revisão de literatura, essa proposta deriva<strong>da</strong> do paradigma <strong>da</strong><br />

avaliação qualitativa é considera<strong>da</strong> a mais coerente para propiciar mu<strong>da</strong>nças na prática<br />

pe<strong>da</strong>gógica dos professores de Educação Física (GÓMEZ, 1985; HOFFMANN, 1993, 2004,<br />

2009), pois t<strong>em</strong> como foco não apenas a análise <strong>da</strong>s atitudes e comportamentos d<strong>em</strong>onstrados<br />

pelo aluno, mas também a compreensão dos interesses e a observação <strong>da</strong>s diferentes facetas<br />

do desenvolvimento cognitivo, social, afetivo, físico e motor, b<strong>em</strong> como <strong>da</strong> prática<br />

pe<strong>da</strong>gógica do professor.<br />

151


A análise dos artigos 18 também traz à tona diversas críticas <strong>sobre</strong> a prática avaliativa<br />

do professor de Educação Física, especialmente quando a avaliação é realiza<strong>da</strong> s<strong>em</strong> qualquer<br />

relação com o planejamento de ensino do professor, pauta<strong>da</strong> <strong>em</strong> práticas que buscam medi<strong>da</strong>s<br />

de ord<strong>em</strong> biométrica (como peso e altura), assim como técnicas e execução de gestos<br />

esportivos, destrezas motoras, quali<strong>da</strong>des físicas que pod<strong>em</strong> levar à discriminação e exclusão<br />

dos alunos nas <strong>aulas</strong> de Educação Física.<br />

Os autores revelam não considerar adequado os professores avaliar<strong>em</strong> a aprendizag<strong>em</strong><br />

tendo como único critério a assidui<strong>da</strong>de (presença) dos alunos nas <strong>aulas</strong>. Criticam a avaliação<br />

realiza<strong>da</strong> somente de maneira informal, com pouca consistência de explicações <strong>sobre</strong> a sua<br />

função no contexto escolar e com foco somente nas atitudes e habili<strong>da</strong>des motoras como<br />

forma de observar se houve o cumprimento de tarefas, s<strong>em</strong> promover um processo de reflexão<br />

<strong>sobre</strong> os significados <strong>da</strong>s práticas vivencia<strong>da</strong>s.<br />

Do mesmo modo, recriminam a avaliação executa<strong>da</strong> num momento estanque e<br />

exclusivamente por meio <strong>da</strong> observação <strong>em</strong> aula, com atribuição <strong>da</strong> nota no final do bimestre,<br />

s<strong>em</strong> explicações <strong>sobre</strong> os preceitos que ela simboliza. Por outro lado, recebe críticas também<br />

a avaliação foca<strong>da</strong> só no aluno com o uso de instrumentos que não abarcam a manifestação<br />

<strong>da</strong>s diferentes aprendizagens dos conteúdos <strong>da</strong> Educação Física, assim como a avaliação que<br />

d<strong>em</strong>onstre falta de compromisso para construir um ambiente participativo no processo<br />

avaliativo.<br />

Partindo dessas críticas, é possível inferir que existe uma lacuna na compreensão <strong>da</strong><br />

avaliação vista como parte importante do processo de ensino e aprendizag<strong>em</strong> na prática<br />

pe<strong>da</strong>gógica dos professores de Educação Física. Para a mu<strong>da</strong>nça desse panorama, os autores<br />

apontam como indispensável a formação continua<strong>da</strong>, visando à orientação dos docentes <strong>da</strong><br />

área <strong>sobre</strong> a importância e a necessi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> avaliação <strong>da</strong> aprendizag<strong>em</strong> no processo de ensino<br />

na Educação Física, por meio de situações reflexivas e contextualiza<strong>da</strong>s com a sua reali<strong>da</strong>de.<br />

Contudo, esse processo só será efetivo se as escolas se preocupar<strong>em</strong> <strong>em</strong> dispor de<br />

t<strong>em</strong>po e espaço para promover a participação dos professores <strong>em</strong> estudos, visando à troca de<br />

experiências <strong>sobre</strong> as práticas de ensino e avaliação (MELO, 2008; MELO; FERRAZ;<br />

NISTA-PICCOLO, 2010). Desse modo, entende-se como necessário reconhecer os probl<strong>em</strong>as<br />

que os professores enfrentam <strong>em</strong> seu cotidiano escolar, especialmente no que se refere à falta<br />

18 SANTOS; GONÇALVES, 1996; DESROSIERS; GENET-VOLET; GODBOUT, 1997; VEAL, 1992; 1997;<br />

RAMOS, 1999; SILVA, 1999; RODRIGUES, 2003; BRATIFISCHE, 2003; SILVA JÚNIOR, 2004; TAN e<br />

WRIGHT, 2004; PEREZ; RINCON, 2005; MENDES; NASCIMENTO; MENDES, 2007; DINIZ e AMARAL,<br />

2009; OLIVEIRA, 2009; SILVA e BANKOFF, 2010.<br />

152


de t<strong>em</strong>po e aos baixos salários, que limitam a busca de formação continua<strong>da</strong> fora do contexto<br />

<strong>em</strong> que atuam. Por isso, considera-se importante a ideia de propiciar programas de formação<br />

continua<strong>da</strong> desenvolvidos nas próprias escolas, pois é nelas que acontec<strong>em</strong> as contradições e é<br />

lá que deveriam acontecer os processos de reflexão-ação-reflexão do professor (SHÖN, 1992;<br />

2000). Também é válido ponderar que as universi<strong>da</strong>des modifiqu<strong>em</strong> sua relação com as<br />

escolas, deixando de tratá-las somente como espaço para estágios, observações e pesquisas,<br />

passando a concebê-las como um campo <strong>em</strong> que deve ser desenvolvido o diálogo crítico e<br />

produtivo <strong>da</strong>s teorias relaciona<strong>da</strong>s com as reflexões <strong>sobre</strong> a prática escolar, visando ao<br />

enriquecimento do conhecimento dos professores que estão se formando e dos que já estão<br />

formados.<br />

153


3. A pesquisa de campo<br />

Este estudo de doutorado faz parte de um projeto maior que é desenvolvido pelo grupo<br />

de pesquisas intitulado GEPEFE - Grupo de Estudo e Pesquisa <strong>em</strong> Educação Física escolar,<br />

que integra a rede de pesquisadores do Observatório <strong>da</strong> Educação Física, do programa de pós-<br />

graduação nessa área, na Universi<strong>da</strong>de São Ju<strong>da</strong>s Tadeu, <strong>em</strong> São Paulo.<br />

O GEPEFE foi instituído a partir do interesse de professores e alunos de Educação<br />

Física de diferentes Instituições de Ensino Superior (IES), <strong>em</strong> buscar maiores informações<br />

<strong>sobre</strong> a situação real <strong>da</strong>s <strong>aulas</strong> de Educação Física no âmbito escolar. No ano de 2009 o grupo<br />

deu início ao grande projeto de investigação “A formação e a atuação do professor de<br />

Educação Física escolar: um estudo no estado de São Paulo”, apoiado e financiado pelo edital<br />

Observatório <strong>da</strong> Educação, pela CAPES 19 e pelo INEP/MEC 20 , o qual propõe duas vertentes<br />

de pesquisa: a análise do perfil do professor de Educação Física formado <strong>em</strong> IES no estado de<br />

São Paulo e a análise <strong>da</strong> atuação dos professores que atuam na rede escolar pertencente à<br />

Diretoria de Ensino (DE) do Centro-Sul <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de de São Paulo, por conta de um convênio<br />

dessa DE com a universi<strong>da</strong>de São Ju<strong>da</strong>s Tadeu (USJT).<br />

Essa universi<strong>da</strong>de t<strong>em</strong> desenvolvido projetos <strong>em</strong> diferentes áreas do conhecimento,<br />

<strong>em</strong> parceria com essa DE, atendendo os professores de suas 72 escolas e assim ampliando, por<br />

meio desse grupo de estudos, suas possibili<strong>da</strong>des de intervenção junto aos profissionais de<br />

Educação Física que trabalham nas escolas pertencentes a essa DE.<br />

Com o intuito de alcançar os objetivos propostos no projeto de investigação do<br />

GEPEFE, foi realizado o contato com a dirigente de ensino <strong>da</strong> DE <strong>da</strong> região Centro-Sul do<br />

estado de São Paulo, para apresentar a intenção <strong>da</strong> pesquisa e solicitar a autorização e o<br />

auxílio para o desenvolvimento do estudo.<br />

Mediante a autorização <strong>da</strong> dirigente, to<strong>da</strong>s as etapas previstas no grande projeto do<br />

grupo de estudos foi encaminhado para a apreciação do Comitê de Ética <strong>em</strong> Pesquisa <strong>da</strong><br />

Universi<strong>da</strong>de São Ju<strong>da</strong>s Tadeu (Coep/USJT) e, após sua aprovação registra<strong>da</strong> sob o número<br />

070/2009, iniciou-se a pesquisa.<br />

Sendo assim, os professores pertencentes a essa Diretoria de Ensino foram convocados<br />

(via Diretoria) para participar<strong>em</strong> do evento que o GEPEFE organizou na Universi<strong>da</strong>de São<br />

Ju<strong>da</strong>s Tadeu, realizado <strong>em</strong> julho de 2009, o qual teve como objetivo proporcionar o encontro<br />

dos professores de Educação Física com os mentores <strong>da</strong> Proposta Curricular do Estado de São<br />

Paulo. Aproveitando a vin<strong>da</strong> desses docentes, foram coletados, por meio de um questionário<br />

19 Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior.<br />

20 Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira/Ministério <strong>da</strong> Educação.<br />

154


aplicado aos professores participantes do evento, os <strong>da</strong>dos para as pesquisas de Souza (2010),<br />

intitula<strong>da</strong> "Hip Hop e Educação Física escolar: possibili<strong>da</strong>des de novas t<strong>em</strong>atizações", Russo<br />

(2010), sob o título "Os conteúdos e os métodos desenvolvidos nas <strong>aulas</strong> de Educação Física<br />

escolar", assim como para este estudo de doutorado "<strong>Tecendo</strong> <strong>tramas</strong> <strong>sobre</strong> <strong>Avaliação</strong> <strong>da</strong><br />

<strong>Aprendizag<strong>em</strong></strong> <strong>em</strong> <strong>aulas</strong> de Educação Física escolar". Também foi exposto aos participantes<br />

que após a análise dos <strong>da</strong>dos eles seriam convi<strong>da</strong>dos para participar<strong>em</strong> de oficinas, palestras e<br />

momentos de reflexão <strong>sobre</strong> a prática pe<strong>da</strong>gógica, <strong>sobre</strong>tudo a respeito do assunto avaliação<br />

<strong>da</strong> aprendizag<strong>em</strong>, os quais seriam promovido pelos integrantes do grupo de estudos.<br />

Com relação ao questionário (ANEXO I), é importante explicar que ele foi construído<br />

de maneira coletiva, pelos integrantes do GEPEFE, cont<strong>em</strong>plava três grandes partes assim<br />

distribuí<strong>da</strong>s: I) <strong>da</strong>dos <strong>da</strong> escola; II) <strong>da</strong>dos do professor; III) práticas adota<strong>da</strong>s, que inclu<strong>em</strong><br />

informações <strong>sobre</strong> os conteúdos e os métodos de ensino desenvolvidos nas <strong>aulas</strong> de EF, além<br />

de informações <strong>sobre</strong> como os professores avaliam os alunos nessas <strong>aulas</strong>.<br />

A respeito <strong>da</strong> parte do projeto do GEPEFE que compete especificamente a este estudo<br />

de doutorado, conforme proposto no grande projeto do Grupo de Estudos aprovado pelo<br />

Observatório <strong>da</strong> Educação e pelo COEP/USJT, foi identificar e compreender aspectos <strong>da</strong><br />

avaliação <strong>da</strong> aprendizag<strong>em</strong> realiza<strong>da</strong> pelos professores de Educação Física <strong>da</strong>s escolas<br />

públicas pertencentes à Diretoria de Ensino Centro-Sul do Estado de São Paulo. A partir dessa<br />

análise foram propostos encontros para refletir junto aos docentes <strong>sobre</strong> aspectos envolv<strong>em</strong> a<br />

prática avaliativa.<br />

Desse modo, de acordo com a complexi<strong>da</strong>de que envolve o objetivo deste estudo, foi<br />

adota<strong>da</strong> a abor<strong>da</strong>g<strong>em</strong> <strong>da</strong> pesquisa qualitativa, pois se considerou que os <strong>da</strong>dos não poderiam<br />

ser coletados de modo aprofun<strong>da</strong>do por meio de outro método.<br />

Entre os mais diversos significados, a conceituação encontra<strong>da</strong> <strong>sobre</strong> a abor<strong>da</strong>g<strong>em</strong><br />

qualitativa que mais estabeleceu relação com este estudo foi a exposta por Bog<strong>da</strong>n e Biklen<br />

(1994), que entend<strong>em</strong> como um processo de reflexão e análise <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de por meio <strong>da</strong><br />

utilização de diferentes métodos e técnicas para uma compreensão detalha<strong>da</strong> do objeto de<br />

estudo <strong>em</strong> seu contexto.<br />

Desse modo, a pesquisa adotou a abor<strong>da</strong>g<strong>em</strong> qualitativa de natureza descritiva<br />

exploratória (SELLTIZ et. al., 1975) realiza<strong>da</strong> a partir <strong>da</strong> pesquisa de campo, na qual o<br />

questionário e a observação foram as técnicas escolhi<strong>da</strong>s para coleta dos <strong>da</strong>dos <strong>sobre</strong> a prática<br />

avaliativa dos professores de Educação Física <strong>da</strong> Diretoria de Ensino Centro-Sul/SP.<br />

Pautando-se nos autores supracitados, nesse tipo de pesquisa o pesquisador deve<br />

interessar-se pelo significado que as pessoas dão às coisas, e os <strong>da</strong>dos dev<strong>em</strong> ser<br />

155


preferencialmente analisados de forma intuitiva, sendo de vital importância promover a<br />

compreensão dos fenômenos observados.<br />

Mediante as características dos estudos com abor<strong>da</strong>g<strong>em</strong> qualitativa descritiva<br />

exploratória apresentados por Sellitz et. al. (1975), foi possível interpretar que esse tipo de<br />

pesquisa ganha significativa importância quando se t<strong>em</strong> a intencionali<strong>da</strong>de de investigar<br />

aspectos <strong>da</strong> prática pe<strong>da</strong>gógica escolar, uma vez que as pesquisas realiza<strong>da</strong>s <strong>em</strong> âmbito<br />

escolar requer<strong>em</strong> não ser apreendi<strong>da</strong>s por meio de estudos metodológicos que “congelam”<br />

alguns momentos <strong>da</strong> prática dos sujeitos que ali se inser<strong>em</strong>. Nesse sentido, os autores suger<strong>em</strong><br />

que os estudos com a abor<strong>da</strong>g<strong>em</strong> qualitativa descritiva exploratória dev<strong>em</strong> buscar o<br />

desvelamento dos pressupostos implicados na reali<strong>da</strong>de investiga<strong>da</strong>, levando <strong>em</strong> consideração<br />

a natureza dialética dos contextos, captando não apenas as objetivações de uma prática real<br />

concreta, mas também a potenciali<strong>da</strong>de latente de seu processo de transformação.<br />

No caso deste estudo de doutorado, essas características e as recomen<strong>da</strong>ções <strong>da</strong><br />

pesquisa qualitativa descritiva e exploratória foram considera<strong>da</strong>s relevantes, uma vez que<br />

estabelec<strong>em</strong> relação direta com as intenções <strong>da</strong> análise <strong>da</strong>s respostas e reflexões expostas<br />

pelos professores durante os encontros propostos para discutir o t<strong>em</strong>a avaliação <strong>da</strong><br />

aprendizag<strong>em</strong>.<br />

Com relação aos sujeitos <strong>da</strong> pesquisa, como se tratava de um número considerável de<br />

escolas e professores de Educação Física que ministram <strong>aulas</strong> <strong>em</strong> diferentes níveis de ensino<br />

(1° e 2° ciclos do Ensino Fun<strong>da</strong>mental e Ensino Médio), recorreu-se a Turato (2003) para<br />

adotar a estratégia de isolar uma parcela <strong>da</strong> população deseja<strong>da</strong>, chama<strong>da</strong> de amostra, a qual<br />

foi constituí<strong>da</strong> considerando os el<strong>em</strong>entos que “relacionam-se intencionalmente de acordo<br />

com certas características estabeleci<strong>da</strong>s no plano” de investigação <strong>da</strong> pesquisadora<br />

(RICHARDSON et. al., 1999, p. 161). Sendo assim, foi usa<strong>da</strong> a mesma amostra defini<strong>da</strong><br />

como não probabilística-intencional no projeto do GEPEFE e no estudo de Russo (2010), <strong>em</strong><br />

que o critério para a escolha dos participantes se deu pela preferência de pelo menos um<br />

professor de Educação Física de ca<strong>da</strong> escola, que ministrasse <strong>aulas</strong> no Ensino Básico (Ensino<br />

Fun<strong>da</strong>mental e Ensino Médio) e que atuasse <strong>em</strong> escolas vincula<strong>da</strong>s à Diretoria de Ensino <strong>da</strong><br />

região Centro-Sul do Estado de São Paulo. Na análise <strong>da</strong>s respostas ao questionário, os<br />

professores foram denominados S1, S2, S3, e assim por diante, até S64; na transcrição e<br />

análise dos discursos construídos nos momentos de reflexão, os professores participantes<br />

foram denominados Professor 1, Professor 2, e assim por diante, até Professor 08.<br />

É importante explicar que, após a aplicação do questionário, foram obti<strong>da</strong>s 67<br />

respostas, mas três professores responderam por duas escolas e apresentaram as mesmas<br />

156


espostas nos dois questionários, por trabalhar<strong>em</strong> <strong>em</strong> mais de uma escola. Isso fez com que<br />

fosse escolhido apenas um dos questionários respondidos por esses sujeitos, e assim a amostra<br />

resultou <strong>em</strong> 64 professores questionados efetivamente no evento ocorrido <strong>em</strong> julho de 2009<br />

na USJT. Esses docentes também foram convi<strong>da</strong>dos para participar<strong>em</strong> dos momentos de<br />

reflexão <strong>sobre</strong> a prática avaliativa, mas somente oito docentes se disponibilizaram a tomar<br />

parte dos encontros para discussão.<br />

Os instrumentos de coleta de <strong>da</strong>dos foram: o questionário construído pelo GEPEFE,<br />

sendo utilizados para esta pesquisa apenas as perguntas abertas de número 12 e 13, que se<br />

referiam à prática avaliativa; e a observação registra<strong>da</strong> por meio <strong>da</strong> transcrição <strong>da</strong>s filmagens<br />

realiza<strong>da</strong>s nos encontros para reflexão com os professores. Pautando-se <strong>em</strong> Ghedin e Franco<br />

(2007), essas técnicas são possibili<strong>da</strong>des adequa<strong>da</strong>s para captar as informações observa<strong>da</strong>s na<br />

prática pe<strong>da</strong>gógica de docentes, por isso foram escolhi<strong>da</strong>s como recursos a ser<strong>em</strong> <strong>em</strong>pregados<br />

nessa parte <strong>da</strong> pesquisa de campo, a fim de garantir a compreensão <strong>da</strong> complexi<strong>da</strong>de do<br />

fenômeno investigado, por abarcar a multiplici<strong>da</strong>de de fontes de <strong>da</strong>dos e estratégia adequa<strong>da</strong>s<br />

para a análise <strong>da</strong> prática avaliativa nas <strong>aulas</strong> de Educação Física.<br />

Vale pontuar que a finali<strong>da</strong>de dos encontros foi para refletir <strong>sobre</strong> a prática avaliativa e<br />

promover uma aproximação com os docentes de Educação Física <strong>da</strong> DE Centro-Sul/SP por<br />

meio <strong>da</strong> prática dialógica, para aquecer a frieza <strong>da</strong> análise dos <strong>da</strong>dos obtidos a partir <strong>da</strong>s<br />

respostas <strong>da</strong><strong>da</strong>s ao questionário.<br />

Sendo assim, foi combinado com a dirigente de ensino e a coordenadora pe<strong>da</strong>gógica<br />

de Educação Física dessa diretoria o primeiro encontro com os professores de Educação<br />

Física, que ocorreu na própria sede <strong>da</strong> DE Centro-Sul/SP, no dia 16 de set<strong>em</strong>bro de 2011,<br />

com início às18h30, horário <strong>em</strong> que, segundo a coordenadora, não havia mais <strong>aulas</strong> nas<br />

escolas públicas, portanto facilitaria para os professores comparecer<strong>em</strong> aos encontros.<br />

A coordenadora de Educação Física se disponibilizou entrar <strong>em</strong> contato com os<br />

professores <strong>da</strong> área e convidá-los para participar dos momentos de reflexão <strong>sobre</strong> a avaliação.<br />

Ela enviou para as escolas e para os e-mails pessoais de ca<strong>da</strong> docente <strong>da</strong> área um convite com<br />

a <strong>da</strong>ta e o horário de início do primeiro encontro. Foi combinado com ela que não seria<br />

determina<strong>da</strong> a quanti<strong>da</strong>de de encontros n<strong>em</strong> o horário de término dos mesmos, porque se tinha<br />

como intenção combinar esses detalhes com os professores participantes <strong>da</strong> reunião inicial.<br />

No primeiro encontro notou-se que, <strong>em</strong>bora sejam habituais as alterações no quadro<br />

docente no início de ca<strong>da</strong> ano letivo nas escolas públicas, <strong>em</strong> virtude de transferências para<br />

outras escolas e entra<strong>da</strong> de novos professores nas Diretorias de Ensino, teve-se a sorte de os<br />

oito professores que compareceram ter<strong>em</strong> sido sujeitos participantes do evento feito pelo<br />

157


GEPEFE <strong>em</strong> 2009, na Universi<strong>da</strong>de São Ju<strong>da</strong>s Tadeu, no qual foi aplicado o questionário<br />

<strong>sobre</strong> vários aspectos <strong>da</strong> prática pe<strong>da</strong>gógica, inclusive <strong>sobre</strong> a avaliação. Mas cabe esclarecer<br />

que esse número de professores participantes variou a ca<strong>da</strong> encontro, assim como não se teve<br />

a intenção de comparar as respostas <strong>da</strong><strong>da</strong>s pelos docentes no questionário com os discursos<br />

construídos pelos mesmos durante os momentos de reflexão. A finali<strong>da</strong>de dos momentos de<br />

reflexão foi coletar <strong>da</strong>dos a partir de uma aproximação com os professores para refletir <strong>sobre</strong><br />

o t<strong>em</strong>a avaliação, considerando a contribuição <strong>da</strong> literatura pertinente ao t<strong>em</strong>a, a experiência<br />

dos docentes e <strong>da</strong> pesquisadora de forma flexível mediante uma proposta de encontros para<br />

trocas de saberes, leituras e reflexões <strong>sobre</strong> o t<strong>em</strong>a avaliação.<br />

Foi acor<strong>da</strong>do entre os docentes e a pesquisadora que todo o processo de reflexão <strong>sobre</strong><br />

a prática avaliativa ocorreria <strong>em</strong> três encontros, os quais foram filmados e depois transcritos<br />

pela pesquisadora (ANEXO V). A interpretação dos <strong>da</strong>dos baseou-se na proposta do<br />

Paradigma Indiciário, que será explicado nos parágrafos a seguir.<br />

A análise dos <strong>da</strong>dos está relaciona<strong>da</strong> com a delimitação dos aspectos que permit<strong>em</strong><br />

compreender a prática avaliativa realiza<strong>da</strong> pelos professores de Educação Física escolar,<br />

percebeu-se a complexi<strong>da</strong>de do objeto de estudo: avaliação, que exigia “o manejo de muitos<br />

fios” e se mostrava difícil de fazê-lo com clareza e coerência, afrontando a dinâmica<br />

particular <strong>da</strong> prática e a flexibili<strong>da</strong>de dos <strong>da</strong>dos recolhidos no momento <strong>da</strong> análise de <strong>da</strong>dos.<br />

Desse modo, considerou-se adequa<strong>da</strong> a proposta do Paradigma Indiciário, já que era um<br />

método que permitia a compreensão <strong>da</strong>s múltiplas significações e <strong>da</strong>s representações dos<br />

participantes <strong>da</strong> pesquisa, para “tornar visível, fazendo perceber o que não se percebe e ver o<br />

que normalmente não se vê” (GHEDIN; FRANCO, 2007, p. 78) no processo avaliativo<br />

realizado pelos professores investigados.<br />

Nessa perspectiva, percebeu-se, logo no início <strong>da</strong> construção do estudo, que os <strong>da</strong>dos<br />

encontrados precisavam ser analisados ponderando a subjetivi<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s inúmeras variáveis<br />

qualitativas que foram revela<strong>da</strong>s durante a investigação. Ao mesmo t<strong>em</strong>po, apresentou-se<br />

como necessário recorrer a um referencial teórico que subsidiasse a análise dos indícios a<br />

respeito <strong>da</strong> avaliação revelados na prática pe<strong>da</strong>gógica dos professores de Educação Física<br />

pertencentes às escolas <strong>da</strong> Diretoria de Ensino Centro-Sul/SP.<br />

Sendo assim, com o objetivo de encontrar o que não estava visível nas respostas e no<br />

discurso dos professores <strong>sobre</strong> como realizam a prática avaliativa <strong>em</strong> suas <strong>aulas</strong>, impôs-se o<br />

uso de um instrumental específico para identificar e compreender os detalhes, as minúcias, as<br />

peculiari<strong>da</strong>des. O método de análise proposto no Paradigma Indiciário, desvelado por<br />

Ginzburg (1989), foi considerado o mais adequado para explorar as respostas e os discursos<br />

158


<strong>sobre</strong> o processo de avaliação realizado pelos professores de Educação Física investigados,<br />

pois ajudou a encontrar o que se ocultava nas dobras <strong>da</strong>s atuações cotidianas, além de se<br />

mostrar relevante para reconhecer os traços singulares dos professores e utilizar todos os<br />

sentidos <strong>da</strong> pesquisadora para a compreensão do objeto investigado.<br />

Portanto, o Paradigma Indiciário foi considerado o método apropriado para a<br />

construção <strong>da</strong> análise <strong>da</strong> pesquisa de campo, pois estabeleceu uma maneira específica de olhar<br />

a reali<strong>da</strong>de no contexto dos professores atuantes nas escolas <strong>da</strong> Diretoria de Ensino <strong>da</strong> região<br />

Centro-Sul/SP, permitindo reunir indícios concernentes ao objeto de estudo numa trama de<br />

sinais que se enre<strong>da</strong>ram com o quadro de referência teórica <strong>da</strong> pesquisadora.<br />

A coerência dos sinais encontrados e a referência teórica desenha<strong>da</strong> na visão <strong>da</strong><br />

pesquisadora possibilitaram, portanto, percorrer “o tapete com os olhos <strong>em</strong> várias direções”.<br />

(ibid<strong>em</strong>, 1989, p. 170). A metáfora do tapete explica o modo como o autor compreende o<br />

método constituído pelo Paradigma Indiciário, o qual, conforme o contexto de uso, denomina-<br />

se indiciário. O pesquisador é o tecelão que deve buscar os indícios reunindo as informações<br />

<strong>em</strong> uma interpretação que encontra “seu significado no contexto teórico sustentado pela<br />

urdidura dos fios”.<br />

Houve nesta pesquisa o comprometimento <strong>da</strong> pesquisadora para manter uma<br />

proximi<strong>da</strong>de crítica, fazendo uma interpretação do conjunto de <strong>da</strong>dos ou sinais, articulando as<br />

pistas encontra<strong>da</strong>s à revisão de literatura pertinente ao t<strong>em</strong>a avaliação, com a finali<strong>da</strong>de de<br />

chegar a uma melhor compreensão <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de.<br />

Segundo os princípios do Paradigma Indiciário, a atitude adota<strong>da</strong> frente aos sinais<br />

coletados, tanto nas respostas ao questionário quanto nos discursos dos professores expressos<br />

nos momentos de reflexão, foi não se centrar na quanti<strong>da</strong>de de <strong>da</strong>dos, mas sim na quali<strong>da</strong>de<br />

singular <strong>da</strong>s pistas, dos indícios revelados, que apresentaram significados diversos no corpus<br />

analisado.<br />

De acordo com a essência do método, as pistas foram encontra<strong>da</strong>s e interpreta<strong>da</strong>s de<br />

forma atenta, utilizando-se a intuição e o olhar clínico <strong>da</strong> pesquisadora. Para isso, foram<br />

realizados recortes no contexto <strong>da</strong>s transcrições <strong>da</strong>s respostas <strong>da</strong><strong>da</strong>s pelos professores a partir<br />

do questionário aplicado e dos discursos transcritos dos momentos de reflexão <strong>sobre</strong> a prática<br />

avaliativa. Esses fragmentos revelaram objetos de conhecimento significativos para a<br />

pesquisa. Houve a organização e a t<strong>em</strong>atização dos indícios que sustentaram ou refutaram a<br />

t<strong>em</strong>ática investiga<strong>da</strong> na pesquisa. Foi busca<strong>da</strong> a leitura crítica <strong>da</strong>s t<strong>em</strong>atizações construí<strong>da</strong>s a<br />

partir dos indícios revelados por meio <strong>da</strong> revisão de literatura, não deixando de representar o<br />

conteúdo essencial dos sinais encontrados.<br />

159


A partir disso, com a intenção de compreender os sinais que revelass<strong>em</strong> as<br />

dificul<strong>da</strong>des encontra<strong>da</strong>s pelos professores participantes deste estudo e as possibili<strong>da</strong>des de<br />

mu<strong>da</strong>nças apresenta<strong>da</strong>s na prática avaliativa, levaram-se <strong>em</strong> consideração os diversos tipos de<br />

<strong>da</strong>dos que subsidiaram o trabalho, como: a revisão de literatura; a análise do perfil e <strong>da</strong>s<br />

categorias t<strong>em</strong>áticas dos conteúdos e estratégias utiliza<strong>da</strong>s pelos professores, exposta no<br />

estudo de Russo (2010); a análise dos indícios revelados nas respostas <strong>sobre</strong> a prática<br />

avaliativa dos mesmos docentes; os sinais encontrados nas transcrições construí<strong>da</strong>s pela<br />

pesquisadora a partir dos momentos de reflexão <strong>sobre</strong> a avaliação realizados com os<br />

professores.<br />

Contudo, considera-se oportuno expor que no caso deste estudo de doutorado,<br />

conforme Ghedin e Franco (2007), o caminho percorrido só foi vislumbrado ao fim <strong>da</strong><br />

trajetória. O método, <strong>em</strong>bora fosse uma exigência de antecipação <strong>da</strong> pesquisa, só foi visto <strong>em</strong><br />

sua plenitude após a realização <strong>da</strong> trajetória investigativa, possibilitando uma compreensão<br />

mais rica e detalha<strong>da</strong> do processo desta investigação.<br />

3.1 O perfil dos sujeitos.<br />

É importante ressaltar que o foco deste trabalho não se centrou na análise de todos os<br />

aspectos que faz<strong>em</strong> parte <strong>da</strong> prática pe<strong>da</strong>gógica dos professores participantes <strong>da</strong> pesquisa,<br />

uma vez que o perfil dos participantes (ANEXO II), os conteúdos e os métodos e as<br />

estratégias de ensino já tinham sido analisados por Russo (2010). Sendo assim, considerou-se<br />

importante para este estudo a utilização <strong>da</strong>s análises <strong>da</strong> autora supracita<strong>da</strong>, pois suas<br />

constatações colaboraram para a compreensão de sinais a respeito do contexto e <strong>da</strong>s<br />

características <strong>da</strong> prática pe<strong>da</strong>gógica dos sujeitos desta pesquisa.<br />

O quadro que Russo (2010) expôs <strong>sobre</strong> o perfil dos professores que responderam o<br />

questionário são apresentados com os <strong>da</strong>dos que apontam a i<strong>da</strong>de, instituição de formação, os<br />

cursos de formação continua<strong>da</strong> e o t<strong>em</strong>po de atuação na rede estadual e na escola <strong>em</strong> que os<br />

docentes investigados estão inseridos.<br />

O levantamento do perfil do professor corresponde, portanto, à segun<strong>da</strong> parte do<br />

questionário (ANEXO I), que t<strong>em</strong> como primeira questão a identificação <strong>da</strong> faixa etária dos<br />

docentes. Russo (2010) verificou uma parte dos sujeitos (39%) possui entre 41 e 50 anos,<br />

seguidos por 55% de sujeitos entre 20 e 40 anos.<br />

Em relação à formação dos professores, notou-se que a maioria (42%) formou-se na<br />

déca<strong>da</strong> de 2000, enquanto 34% concluíram sua graduação na déca<strong>da</strong> de 1980, seguidos de<br />

17% que concluíram sua formação inicial na déca<strong>da</strong> de 1990. Apenas 5% dos sujeitos se<br />

160


formaram na déca<strong>da</strong> de 1970. Esses <strong>da</strong>dos suger<strong>em</strong> que o grande número de Instituições de<br />

Ensino Superior que começaram a funcionar no final <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> de 1990 pode ter possibilitado<br />

maior frequência de profissionais graduados nessa área de conhecimento.<br />

Com relação ao enfoque atribuído à dimensão de ensino que o professor obteve <strong>em</strong> sua<br />

formação, a autora identificou que a maioria dos sujeitos (45%) teve a formação volta<strong>da</strong> para<br />

uma dimensão técnico-esportiva.<br />

Sobre a formação continua<strong>da</strong>, Russo (2010) percebeu que boa parte dos professores<br />

(59%) procurou atualizar-se por meio de cursos de especialização. Apenas 23% se<br />

especializaram <strong>em</strong> Educação Física escolar, seguidos de 18% que procuraram conhecer mais<br />

<strong>sobre</strong> esportes ou esportes na escola, e 48% que buscaram se especializar nas d<strong>em</strong>ais áreas <strong>da</strong><br />

Educação Física. Assim, é possível constatar que a metade dos docentes investigados dá<br />

pouca ênfase à área escolar como continuação dos seus estudos.<br />

A respeito do t<strong>em</strong>po aproximado de atuação na rede estadual de ensino, 47% atuam<br />

entre 3 e 5 anos, e 43%, entre 6 e 15 anos. Embora Russo (2010) tenha interpretado que a<br />

metade dos professores encontra-se ain<strong>da</strong> no início de sua carreira na rede estadual de ensino,<br />

os <strong>da</strong>dos levantados nesta pesquisa mostram que os docentes d<strong>em</strong>onstram já ter<strong>em</strong> t<strong>em</strong>po de<br />

experiência (3 a 5 anos) atuando <strong>em</strong> escolas de Educação Básica.<br />

Além do t<strong>em</strong>po de atuação na rede pública, a autora analisou quanto t<strong>em</strong>po o professor<br />

atuava na escola <strong>em</strong> que ele estava inserido, notou que a maioria estava na instituição entre 3<br />

e 5 anos, resultando <strong>em</strong> 59% dos sujeitos, seguidos por 24% que atuam na mesma uni<strong>da</strong>de há<br />

menos de 2 anos.<br />

Até esse ponto, nota-se que a apresentação desses <strong>da</strong>dos permitiu conhecer um pouco<br />

<strong>sobre</strong> o perfil dos professores os quais compl<strong>em</strong>entaram o olhar para o todo neste estudo, mas<br />

além desses resultados considerou-se relevante apreciar as análises feitas pela mesma autora<br />

<strong>sobre</strong> como os professores escolh<strong>em</strong> e ensinam os conteúdos <strong>em</strong> suas <strong>aulas</strong>, uma vez que<br />

esses apontamentos foram, posteriormente, necessários para a análise <strong>sobre</strong> a prática<br />

avaliativa (dos mesmos docentes) nesta pesquisa de doutorado.<br />

A autora, apoia<strong>da</strong> <strong>em</strong> Laville e Dionne (1999), analisou as respostas dos professores<br />

apresenta<strong>da</strong>s nas questões abertas que se referiam de forma específica à prática pe<strong>da</strong>gógica<br />

adota<strong>da</strong> pelos professores investigados. Essas questões estão cont<strong>em</strong>pla<strong>da</strong>s na parte III do<br />

questionário (ANEXO I) que foi aplicado aos docentes. A seguir, expõe-se a síntese do que a<br />

autora encontrou <strong>sobre</strong> o quê (conteúdos) e como (estratégias de ensino) os professores<br />

ensinam.<br />

161


3.2 Os conteúdos e as estratégias de ensino utiliza<strong>da</strong>s pelos professores de Educação<br />

Física <strong>da</strong> Diretoria de Ensino Centro-Sul/SP<br />

Optou-se trazer o quadro construído no estudo de Russo (2010, p.116), que apresenta<br />

os conteúdos, os métodos e as estratégias de ensino menciona<strong>da</strong>s pelos professores de<br />

Educação Física investigados.<br />

Quadro 15: Conteúdos, estratégias e métodos de ensino dos professores <strong>da</strong> Diretoria de<br />

Ensino Centro-Sul/SP.<br />

SUJEITO CONTEÚDOS ESTRATÉGIAS MÉTODOS<br />

S1 Jogos e brincadeiras, ativi<strong>da</strong>des<br />

rítmicas e expressivas, exercícios<br />

físicos e ativi<strong>da</strong>des esportivas.<br />

Explicam conteúdos propõ<strong>em</strong><br />

situações probl<strong>em</strong>a d<strong>em</strong>onstram<br />

movimento, utilizam recursos<br />

visuais e de áudio.<br />

Não diretivo<br />

S2 Conhecimento do corpo Estimulam a construção do Não diretivo.<br />

S3 Não define<br />

conhecimento.<br />

Diretivo, não diretivo Diretivo/Não<br />

diretivo (D/N)<br />

S4 Documentos <strong>da</strong> Secretaria Pesquisas, recursos visuais e vídeos Não define<br />

S5 Documentos <strong>da</strong> Secretaria Utilizam estratégias conti<strong>da</strong>s na D/N<br />

Proposta Curricular, explicam<br />

conteúdos<br />

práticas<br />

por meio de <strong>aulas</strong><br />

S6 Jogos,<br />

D<strong>em</strong>onstram movimento, utilizam Diretivo<br />

brincadeiras, ativi<strong>da</strong>des rítmicas e recursos visuais e de áudio,<br />

expressivas, exercícios físicos, explicam conteúdos, desenvolv<strong>em</strong><br />

ativi<strong>da</strong>des esportivas e lutas. conteúdos por meio de <strong>aulas</strong><br />

S7 Utilizam estratégias conti<strong>da</strong>s na<br />

Proposta Curricular<br />

práticas, propõ<strong>em</strong> pesquisas.<br />

D/N D/N<br />

S8 Jogos e brincadeiras, ativi<strong>da</strong>des e<br />

expressivas, ginásticas/exercícios.<br />

Não define Não define<br />

S9 Jogos e brincadeiras, ativi<strong>da</strong>des<br />

esportivas, luta, ativi<strong>da</strong>des<br />

rítmicas e expressivas, ginásticas.<br />

Utilizam estratégias conti<strong>da</strong>s na<br />

Proposta Curricular<br />

S10 Não define Não define Não define<br />

S11 Jogos e brincadeiras, ativi<strong>da</strong>des Explicam conteúdos, desenvolv<strong>em</strong> Diretivo<br />

esportivas, saúde e quali<strong>da</strong>de de conteúdos por meio de <strong>aulas</strong><br />

vi<strong>da</strong> ativi<strong>da</strong>des alternativas práticas, estimulam reflexão.<br />

S12 Ativ. esportivas, rítmicas e Explicam conteúdos, desenvolv<strong>em</strong> Diretivo<br />

expressivas, lutas conhecimentos do<br />

corpo<br />

conteúdos através de práticas.<br />

S13 Não define Direcionam as estratégias, utilizam<br />

métodos globais para específico,<br />

desenvolv<strong>em</strong> conteúdos por meio<br />

de <strong>aulas</strong> práticas<br />

Diretivo<br />

S14 Conhecimento do corpo, Jogos e Explicam conteúdos, desenvolv<strong>em</strong> Diretivo<br />

Brincadeiras<br />

conteúdos por meio de <strong>aulas</strong><br />

S15 Jogos e brincadeiras, ativi<strong>da</strong>des<br />

esportivas, ginásticas<br />

práticas, utilizam recursos visuais e<br />

de áudio.<br />

Explicam conteúdos Diretivo<br />

D/N<br />

162


S16 Documentos <strong>da</strong> Secretaria Não define Não define<br />

S17 Jogos e brincadeiras, ativi<strong>da</strong>des Levantam conhecimentos prévios, Diretivo<br />

rítmicas e expressivas, ativi<strong>da</strong>des desenvolv<strong>em</strong> conteúdos por meio<br />

esportivas, ginásticas, de <strong>aulas</strong> práticas<br />

S18<br />

conhecimento <strong>sobre</strong> o corpo<br />

Documentos <strong>da</strong> Secretaria Explicam conteúdos, aumentam Diretivo<br />

nível de dificul<strong>da</strong>de<br />

S19 Conhecimento <strong>sobre</strong> o corpo, Explicam conteúdos, aumentam Diretivo<br />

ativi<strong>da</strong>de rítmica e expressiva, nível de dificul<strong>da</strong>de.<br />

capaci<strong>da</strong>des físicas, jogos e<br />

brincadeiras,<br />

esportivas<br />

ativi<strong>da</strong>des<br />

S20 Documentos <strong>da</strong> Secretaria Não define Não define<br />

S21 Lutas, ativi<strong>da</strong>des esportivas, jogos<br />

e brincadeiras, documentos <strong>da</strong><br />

secretaria<br />

Mapeiam a cultura dos alunos Não define<br />

S22 Capaci<strong>da</strong>des físicas Explicam conteúdos, estimulam Não diretivo<br />

S23 Lutas, ginástica, ativi<strong>da</strong>des<br />

discussão e reflexão dos conteúdos,<br />

propõ<strong>em</strong> trabalho <strong>em</strong> grupo.<br />

Explicam conteúdos, desenvolv<strong>em</strong> Diretivo<br />

rítmicas e expressivas, ativi<strong>da</strong>des conteúdos por meio de <strong>aulas</strong><br />

esportivas.<br />

práticas.<br />

S24 Ativi<strong>da</strong>des esportivas, saúde e<br />

quali<strong>da</strong>de de vi<strong>da</strong><br />

Não define Não define<br />

S25 Capaci<strong>da</strong>des físicas Não define Não define<br />

S26 Capaci<strong>da</strong>des físicas, habili<strong>da</strong>des Utilizam jogos como estratégia, Não define<br />

motoras<br />

propõe trabalho <strong>em</strong> grupo<br />

S27 Ativi<strong>da</strong>des rítmicas e expressivas, Propõe trabalho <strong>em</strong> grupo, Diretivo<br />

ativi<strong>da</strong>des esportivas, ginástica, desenvolve conteúdos por meio de<br />

lutas, jogo e brincadeiras, <strong>aulas</strong> práticas<br />

S28<br />

conhecimentos <strong>sobre</strong> o corpo<br />

Ativi<strong>da</strong>des esportivas, exercícios Explicam conteúdos, d<strong>em</strong>onstram Diretivo<br />

físicos e jogos de tabuleiro movimentos<br />

S29 Jogos e brincadeiras, ativi<strong>da</strong>des D<strong>em</strong>onstram movimentos, Não define<br />

esportivas e ginásticas<br />

trabalham com criação<br />

S30 Jogos e brincadeiras, ativi<strong>da</strong>des Utilizam recursos visuais e de áudio, Não define<br />

esportivas e ginásticas<br />

d<strong>em</strong>onstram movimentos.<br />

S31 Jogos e brincadeiras, Capaci<strong>da</strong>des Utilizam método global para D/N<br />

físicas, Ativi<strong>da</strong>des esportivas, específico, levantam conhecimentos<br />

Ativi<strong>da</strong>des alternativas<br />

prévios, explicam conteúdos,<br />

S32 Lutas, Ativi<strong>da</strong>des alternativas e<br />

Ativi<strong>da</strong>des rítmicas e expressivas,<br />

Ativi<strong>da</strong>des esportivas<br />

estimulam reflexão dos conteúdos.<br />

Incentiva o desenvolvimento motor Não define<br />

S33 Ginástica, ativi<strong>da</strong>des esportivas Utilizam jogos como estratégia Não define<br />

S34 Ativi<strong>da</strong>des esportivas, Ativi<strong>da</strong>des Explicam conteúdos, trabalham com Não diretivo<br />

alternativas, Ginásticas, Jogos e criação, estimulam discussão e<br />

brincadeiras<br />

reflexão dos conteúdos.<br />

S35 Capaci<strong>da</strong>de física, ativi<strong>da</strong>des<br />

S36<br />

rítmicas e expressivas, jogos de<br />

tabuleiro<br />

Ginástica, jogos e brincadeiras,<br />

ativi<strong>da</strong>des rítmicas e expressivas,<br />

Não define Não define<br />

Não define Não define<br />

163


S37<br />

exercícios físicos<br />

Ativi<strong>da</strong>des esportivas, Ativi<strong>da</strong>des<br />

rítmicas e expressivas Jogos e<br />

brincadeiras, Ginásticas, Lutas<br />

S38 Ativi<strong>da</strong>des esportivas, Ativi<strong>da</strong>des<br />

rítmicas e expressivas, jogos e<br />

brincadeiras, Ginásticas, Lutas,<br />

S40<br />

documentos <strong>da</strong> secretaria<br />

Ativi<strong>da</strong>des esportivas, Ativi<strong>da</strong>des<br />

rítmicas e expressivas, jogos e<br />

brincadeiras, Lutas,<br />

S41 Ativi<strong>da</strong>des rítmicas e expressivas,<br />

jogos e brincadeiras<br />

S42 Ativi<strong>da</strong>des rítmicas e expressivas,<br />

jogos e brincadeiras, Ginásticas,<br />

Lutas,<br />

S43 Ativi<strong>da</strong>des esportivas, Ativi<strong>da</strong>des<br />

rítmicas e expressivas, jogos e<br />

brincadeiras, lutas e ginásticas.<br />

S44 Habili<strong>da</strong>des<br />

brincadeiras<br />

motoras, jogos e<br />

S45 Ativi<strong>da</strong>des esportivas, Ativi<strong>da</strong>des<br />

rítmicas e expressivas, jogos e<br />

brincadeiras, Conhecimento<br />

S46<br />

<strong>sobre</strong> o corpo, dinâmicas, jogos<br />

de tabuleiro, capaci<strong>da</strong>des físicas<br />

Habili<strong>da</strong>des motoras, capaci<strong>da</strong>des<br />

físicas, Ativi<strong>da</strong>des rítmicas e<br />

expressivas, Conhecimento <strong>sobre</strong><br />

o corpo, saúde com quali<strong>da</strong>de de<br />

vi<strong>da</strong><br />

Levantam conhecimentos prévios, D/N<br />

Utilizam<br />

específico<br />

método global para<br />

Não define Não define<br />

Não define Não define<br />

Utiliza jogos como estratégia. Não define<br />

Métodos enfatizados no pós-guerra Diretivo<br />

apresentam<br />

ativi<strong>da</strong>des.<br />

a história <strong>da</strong>s<br />

Utiliza jogos como estratégia. Não diretivo<br />

Estimula a discussão e reflexão dos<br />

conteúdos<br />

Não define Não define<br />

Estimula a construção de<br />

conhecimentos, utiliza princípios<br />

humanistas, levantam<br />

conhecimentos prévios<br />

Explica o conteúdo, desenvolve<br />

conteúdos por meio de <strong>aulas</strong><br />

práticas<br />

Não diretivo<br />

Diretivo<br />

S47 Não define Não direcionam as estratégias, D/N<br />

S48 Habili<strong>da</strong>des motoras, ginásticas<br />

direcionam as estratégias.<br />

Propõe situações probl<strong>em</strong>a Não diretivo<br />

S49 Não direcionam as estratégias, D/N<br />

S50 Ativi<strong>da</strong>des rítmicas e expressivas,<br />

direcionam as estratégias<br />

Estimulam reflexão dos conteúdos, Não diretivo<br />

jogos e brincadeiras, ativi<strong>da</strong>des utilizam jogos como estratégia,<br />

esportivas e ginásticas<br />

propõ<strong>em</strong> situações-probl<strong>em</strong>a.<br />

S51 Documentos <strong>da</strong> secretaria Explica o conteúdo, <strong>aulas</strong> práticas,<br />

propõe trabalho <strong>em</strong> grupo<br />

Diretivo<br />

S52 Não define Levanta conhecimentos prévios. Não diretivo<br />

S53 Jogos e brincadeiras, ativi<strong>da</strong>des<br />

rítmicas e expressivas, ginástica,<br />

lutas, ativi<strong>da</strong>des alternativa<br />

Estimula discussão e reflexão dos<br />

conteúdos<br />

Mapeia a cultura dos alunos Não define<br />

S54 Ativi<strong>da</strong>des esportivas, Não define Não define<br />

S55<br />

conhecimento <strong>sobre</strong> o corpo,<br />

saúde e quali<strong>da</strong>de de vi<strong>da</strong><br />

Não define Estimula a construção de Não Diretivo<br />

conhecimento,<br />

conhecimentos prévios.<br />

levanta<br />

S56 Não define Não define Não define<br />

164


S57 Ativi<strong>da</strong>de esportiva, saúde e<br />

quali<strong>da</strong>de de visa, ativi<strong>da</strong>de<br />

S58<br />

alternativa, capaci<strong>da</strong>des físicas<br />

Conhecimento do copo, jogos e<br />

brincadeiras, ativi<strong>da</strong>des<br />

esportivas, ativi<strong>da</strong>des rítmicas e<br />

expressivas, ginástica<br />

Direcionam estratégias Diretivo<br />

Estimula discussão e reflexão dos<br />

conteúdos. Levanta conhecimentos<br />

prévios, explica ativi<strong>da</strong>de.<br />

Não diretivo<br />

S59 Ativi<strong>da</strong>des esportivas Não define Não define<br />

S60 Capaci<strong>da</strong>des físicas, Utiliza jogos como estratégia Não define<br />

S61<br />

conhecimento <strong>sobre</strong> o corpo,<br />

jogos e brincadeiras<br />

Documentos <strong>da</strong> secretaria Explica os conteúdos, propõe Não diretivo<br />

S62 Jogos e brincadeiras, ativi<strong>da</strong>des<br />

esportivas, ativi<strong>da</strong>des rítmicas e<br />

expressivas, ginástica<br />

situações-probl<strong>em</strong>a<br />

Não define Não define<br />

S63 Jogos e brincadeiras, ativi<strong>da</strong>des<br />

esportivas, ativi<strong>da</strong>des rítmicas e<br />

expressivas, conhecimento <strong>sobre</strong><br />

o corpo.<br />

Não define Não define<br />

S64 Jogos e brincadeiras, ativi<strong>da</strong>des Desenvolve conteúdo por meio de Diretivo<br />

esportivas, ativi<strong>da</strong>des rítmicas e <strong>aulas</strong> práticas, explicam conteúdos,<br />

expressivas, conhecimento <strong>sobre</strong><br />

o corpo.<br />

utilizam recursos visuais e áudio.<br />

Mediante o quadro exposto, Russo (2010), a autora percebeu que a preferência dos<br />

docentes investigados são as ativi<strong>da</strong>des esportivas, que apareceram <strong>em</strong> um pouco mais <strong>da</strong><br />

metade <strong>da</strong>s respostas dos professores (58%). Por outro lado, na sequência <strong>da</strong> análise<br />

chamaram a atenção outras categorias, que se refer<strong>em</strong> aos jogos e brincadeiras, com 45%,<br />

juntamente com as ativi<strong>da</strong>des rítmicas e expressivas, cita<strong>da</strong>s por 42% dos sujeitos, além <strong>da</strong>s<br />

ginásticas, com 31%, e as lutas, com 22%. Esse panorama revelou a preocupação dos<br />

professores com a variação dos t<strong>em</strong>as <strong>da</strong> cultura corporal nas <strong>aulas</strong> de Educação Física.<br />

professores.<br />

A categoria seguinte trata dos conhecimentos do corpo e é aponta<strong>da</strong> por 20% de<br />

Revelaram-se outras categorias que foram pouco menciona<strong>da</strong>s, como os documentos<br />

<strong>da</strong> Secretaria <strong>da</strong> Educação e ativi<strong>da</strong>des alternativas, ambas aparecendo <strong>em</strong> 13% <strong>da</strong>s<br />

respostas dos professores, assim como as habili<strong>da</strong>des motoras, aponta<strong>da</strong>s por 8%, e a saúde e<br />

quali<strong>da</strong>de de vi<strong>da</strong>, apresenta<strong>da</strong> por 9%.<br />

Mesmo com pouca porcentag<strong>em</strong>, a autora compreendeu que essas categorias revelam<br />

que os conteúdos tratados nas <strong>aulas</strong> de Educação Física assinalam preocupação com a<br />

exposição de t<strong>em</strong>as que faz<strong>em</strong> parte <strong>da</strong> cultura corporal, além de apontar a possibili<strong>da</strong>de de<br />

trocas de informações entre professor e aluno para a escolha de alguns conteúdos que estão<br />

presentes na vi<strong>da</strong> cotidiana dos discentes.<br />

165


Em linhas gerais, compreendeu-se, por meio dos conteúdos analisados por Russo<br />

(2010), que as escolhas realiza<strong>da</strong>s pelos professores <strong>sobre</strong> os t<strong>em</strong>as a ser<strong>em</strong> ensinados no<br />

cotidiano <strong>da</strong>s suas <strong>aulas</strong> de Educação Física escolar pod<strong>em</strong> ser reflexo <strong>da</strong> formação que eles<br />

tiveram e que, possivelmente, por falta de atualização, deixam de conhecer outras<br />

possibili<strong>da</strong>des para desenvolver<strong>em</strong> os t<strong>em</strong>a e conteúdos <strong>da</strong> área <strong>em</strong> suas <strong>aulas</strong>.<br />

Após analisar os conteúdos, a mesma autora buscou entender os métodos adotados<br />

pelos professores para o ensino desses conteúdos. Um primeiro detalhe observado pela autora<br />

foi a falta de clareza constata<strong>da</strong> nas respostas dos sujeitos <strong>da</strong> pesquisa <strong>sobre</strong> tal t<strong>em</strong>ática. Não<br />

foi possível identificar, <strong>em</strong> 25% <strong>da</strong>s respostas el<strong>em</strong>entos significativos <strong>sobre</strong> os métodos<br />

usados. Mas muitas respostas, <strong>em</strong>bora não indicass<strong>em</strong> os métodos de ensino, relatavam as<br />

estratégias de ensino usa<strong>da</strong>s nas <strong>aulas</strong>.<br />

Sendo assim, a primeira categoria exposta se refere a explicam oralmente os conteúdos<br />

aos seus alunos, que aparece <strong>em</strong> 28% <strong>da</strong>s respostas dos professores, indicando que apenas o<br />

próprio professor seleciona os conteúdos para desenvolver as <strong>aulas</strong>. Tal categoria<br />

apresentava-se s<strong>em</strong>pre acompanha<strong>da</strong> <strong>da</strong> estratégia desenvolv<strong>em</strong> conteúdos por meio de <strong>aulas</strong><br />

práticas, cita<strong>da</strong> por 23%. A relação entre essas categorias d<strong>em</strong>onstrou que as <strong>aulas</strong> são<br />

aplica<strong>da</strong>s de forma diretiva – com o professor explicando a ativi<strong>da</strong>de e o aluno executando as<br />

tarefas propostas – a partir de estratégias que pod<strong>em</strong> ser caracteriza<strong>da</strong>s como tradicionais.<br />

A autora constatou que poucos (6%) foram os casos <strong>em</strong> que os professores citam<br />

estratégias de ensino diversifica<strong>da</strong>s para trabalhar com seus alunos.<br />

Com relação a como os professores selecionam os conteúdos que trabalham nas <strong>aulas</strong>,<br />

a categoria levantam os conhecimentos prévios dos alunos apareceu <strong>em</strong> 14% <strong>da</strong>s respostas<br />

dos professores, aspecto considerado importante, já que aponta partir <strong>da</strong>s informações que os<br />

alunos traz<strong>em</strong> para a escola para construir as propostas de ensino.<br />

Poucos professores (3%) mencionaram a utilização de situações probl<strong>em</strong>a como<br />

estratégia; a solicitação de pesquisas foi cita<strong>da</strong> somente por 8% dos investigados e a categoria<br />

propõe trabalhos <strong>em</strong> grupo foi descrita por 5% dos professores como possibili<strong>da</strong>de de ensinar<br />

os conteúdos.<br />

Foi encontra<strong>da</strong> <strong>em</strong> 11% <strong>da</strong>s respostas a explicitação de que utilizam jogos como<br />

estratégia para desenvolver os conteúdos nas <strong>aulas</strong>.<br />

Poucos professores apontaram como estratégias de ensino trabalhar com criação,<br />

<strong>da</strong>do apresentado <strong>em</strong> 3% <strong>da</strong>s respostas. Outros 3% dos professores descreveram que utilizam<br />

método global para específico.<br />

166


Apareceram, ain<strong>da</strong>, as categorias estimulam a discussão e a reflexão dos conteúdos,<br />

observa<strong>da</strong>s <strong>em</strong> 13% <strong>da</strong>s respostas, além de 5% de respostas que apontaram utilizar estratégias<br />

conti<strong>da</strong>s na Proposta Curricular do Estado de São Paulo. Essas observações levaram a<br />

interpretar que alguns professores utilizam estratégias pe<strong>da</strong>gógicas participativas que<br />

proporcionam situações propícias para que o aluno busque seu conhecimento.<br />

Em contraparti<strong>da</strong>, a autora encontrou 8% de sujeitos que apontaram niti<strong>da</strong>mente que<br />

direcionam as ativi<strong>da</strong>des aos seus alunos.<br />

Sendo assim, a análise de Russo (2010) permitiu conhecer um pouco mais <strong>sobre</strong> a<br />

prática pe<strong>da</strong>gógica dos professores também investigados neste trabalho de doutorado,<br />

aju<strong>da</strong>ndo a compreender aspectos <strong>da</strong> prática avaliativa dos mesmos docentes.<br />

3.3 Os indícios encontrados nas respostas <strong>sobre</strong> a prática avaliativa dos professores de<br />

Educação Física <strong>da</strong> Diretoria de Ensino Centro-Sul/SP<br />

3.3.1 Os indícios encontrados na pergunta 12: Como você identifica que o<br />

objetivo de sua aula foi atingido?<br />

A questão de número 12 foi proposta aos professores porque vincula os aspectos<br />

avaliados no processo de ensino e aprendizag<strong>em</strong> aos d<strong>em</strong>ais el<strong>em</strong>entos que compõ<strong>em</strong> a<br />

prática pe<strong>da</strong>gógica dos professores de Educação Física <strong>da</strong> Diretoria Centro-Sul/SP. Desse<br />

modo, considera-se pertinente a colocação de Freitas (2002), quando expõe que:<br />

167<br />

[...] no interior <strong>da</strong> educação, a avaliação não se caracteriza por ser uma categoria<br />

independente. [...] Sua significação depende de outras. O par dialético mais<br />

significativo, entre as categorias do processo didático, é constituído pela junção<br />

objetivos/avaliação. De fato, a avaliação não poderia ser leva<strong>da</strong> a cabo se não<br />

estivesse associa<strong>da</strong> a objetivos. Tais objetivos, no caso <strong>da</strong> Educação, atend<strong>em</strong> a<br />

determinações não apenas de um conteúdo específico, mas as determinações <strong>da</strong>s<br />

próprias funções sociais atribuí<strong>da</strong>s à escola pela trama social. Compl<strong>em</strong>entado esse<br />

quadro, [...] está o par conteúdo/metodologia. É nesse terreno que se decid<strong>em</strong><br />

formulações de trabalho que interag<strong>em</strong> de maneira importante com as possibili<strong>da</strong>des<br />

que o aluno e a escola apresentam, à luz do par objetivos/avaliação. (ibid<strong>em</strong>, p. 88-<br />

89, grifo meu)<br />

Baseando-se no autor, entende-se que a construção <strong>da</strong>s práticas avaliativas precisa<br />

levar <strong>em</strong> consideração a dependencia de outros t<strong>em</strong>as que faz<strong>em</strong> parte do processo de ensino<br />

do professor. Em outras palavras a avaliação requer o ajustamento e a coerência com as<br />

escolhas que o professor faz a respeito dos objetivos, conteúdos e <strong>da</strong>s formas de ensinar.<br />

Segundo Oliveira (2009), essa postura ampara a prática pe<strong>da</strong>gógica e a coleta de indicadores<br />

de aprendizagens e dificul<strong>da</strong>des de maneira contextualiza<strong>da</strong> com as intenções que se pretende<br />

atingir no processo de ensino <strong>da</strong> Educação Física escolar. Exige que o professor se questione


<strong>sobre</strong> a construção de instrumentos de avaliação que cont<strong>em</strong>pl<strong>em</strong> aquilo que efetivamente faz<br />

e considera importante na ação de ensinar e avaliar no cotidiano de suas <strong>aulas</strong>.<br />

Sendo assim, a análise <strong>da</strong> questão referi<strong>da</strong> investiga como se manifesta nas respostas<br />

dos professores o binômio objetivo/avaliação, que pautando-se na proposta <strong>da</strong> avaliação<br />

formativa, apresenta-se como uma possibili<strong>da</strong>de de entender como ocorre a função avaliativa<br />

que visa propiciar a ação de retroalimentar o processo de ensino e aprendizag<strong>em</strong> desenvolvido<br />

nas <strong>aulas</strong>. Nesse ínterim, compreende-se que tal binômio, ao lado dos métodos de ensino e<br />

dos conteúdos, propicia ao professor de Educação Física a leitura <strong>da</strong>s intenções planeja<strong>da</strong>s e<br />

<strong>da</strong>s situações vivi<strong>da</strong>s pelos alunos no cotidiano de suas <strong>aulas</strong>, ajustando sua escuta e sua<br />

percepção às mensagens de dificul<strong>da</strong>des e dos avanços d<strong>em</strong>onstrados pelos alunos,<br />

colaborando com toma<strong>da</strong>s de decisões adequa<strong>da</strong>s <strong>sobre</strong> o que fazer na continui<strong>da</strong>de do<br />

processo de ensino.<br />

Sendo assim, a finali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> questão de número 12 se distancia <strong>da</strong>s intenções expostas<br />

por Dias Sobrinho (2003) na segun<strong>da</strong> geração <strong>da</strong> história <strong>da</strong> avaliação, <strong>em</strong> que se fixou a<br />

proposta construí<strong>da</strong> por Tyler, a qual se caracterizou pelo enaltecimento <strong>da</strong> concepção de<br />

avaliação <strong>da</strong> aprendizag<strong>em</strong> entendi<strong>da</strong> somente como uma medi<strong>da</strong> do alcance dos objetivos<br />

educacionais. Esse estudo de doutorado se contrapõe à essa ideia avaliativa, pois se centra na<br />

definição de objetivos dicotomizando a relação entre meios e fins, enfatizando um<br />

racionalismo excessivo no processo de avaliação cuja neutrali<strong>da</strong>de é questionável na medi<strong>da</strong><br />

<strong>em</strong> que se sabe que é muito difícil desvincular a ação de avaliar e os valores que a<br />

fun<strong>da</strong>mentam. Diante disso, buscou-se o entendimento de como os professores identificam<br />

que o objetivo <strong>da</strong> aula foi atingido.<br />

Ao levantar os indícios nas respostas (ANEXO III) a esse questionamento, foi possível<br />

observar que a maioria dos professores identifica que o objetivo <strong>da</strong> aula foi atingido<br />

apontando el<strong>em</strong>entos do processo de avaliação. Respostas que mostraram diferentes vestígios<br />

considerados importantes para esta pesquisa, pois revelam como os docentes compreend<strong>em</strong> a<br />

relação entre objetivos e avaliação. Para tanto, nos parágrafos a seguir, foram valorizados os<br />

detalhes, os sinais que desven<strong>da</strong>m aspectos <strong>sobre</strong> a prática avaliativa dos sujeitos<br />

investigados.<br />

A escolha de critérios e instrumento de avaliação<br />

Os indícios encontrados apresentam coexistência de itens que pod<strong>em</strong> ser sintetizados<br />

<strong>em</strong> dois el<strong>em</strong>entos <strong>da</strong> prática avaliativa: critérios e instrumentos de avaliação.<br />

168


Pautando-se no estudo de Melo (2008), é proposto que os critérios de avaliação sejam<br />

entendidos como conhecimentos, escolhidos pelo professor ou <strong>em</strong> parceria com os alunos,<br />

que dev<strong>em</strong> ser considerados no momento <strong>da</strong> avaliação <strong>da</strong> aprendizag<strong>em</strong>. Eles são importantes<br />

para orientar a ativi<strong>da</strong>de avaliativa dos docentes e tornar transparente para to<strong>da</strong> a comuni<strong>da</strong>de<br />

escolar, e especialmente para os alunos, o que será apreciado no processo de aprendizag<strong>em</strong>. Já<br />

os instrumentos de avaliação, na concepção de Luckesi (2005), são as ativi<strong>da</strong>des ou situações<br />

avaliativas seleciona<strong>da</strong>s para coletar os <strong>da</strong>dos necessários (conforme os critérios<br />

preestabelecidos) para configurar o estado <strong>da</strong> aprendizag<strong>em</strong> do discente e também para<br />

municiar o professor com informações significativas <strong>sobre</strong> as práticas que deram certo, as que<br />

deram errado e as que precisam ser redefini<strong>da</strong>s no processo de ensino.<br />

Para identificar se o seu objetivo foi alcançado, chamou a atenção a quanti<strong>da</strong>de de<br />

docentes que se referiram ao uso dos critérios (observação <strong>da</strong>) participação e envolvimento<br />

dos alunos nas <strong>aulas</strong> de Educação Física. Destaca-se o uso do instrumento observação, n<strong>em</strong><br />

s<strong>em</strong>pre citado literalmente, mas presente na maioria <strong>da</strong>s respostas que apontam avaliar por<br />

meio dos critérios expostos.<br />

Tais critérios de avaliação mostram sinais de mu<strong>da</strong>nça na prática avaliativa dos<br />

professores de Educação Física investigados, já que é d<strong>em</strong>onstra<strong>da</strong> a consideração do par<br />

objetivos/avaliação, não mais sob o foco <strong>da</strong> medição e quantificação de resultados. Esse tipo<br />

de aferição de des<strong>em</strong>penho foi consagrado no ensino tradicional <strong>da</strong> Educação Física escolar<br />

por meio de instrumentos construídos por especialistas que, muitas vezes, na<strong>da</strong> têm a ver com<br />

o contexto escolar – como os testes de des<strong>em</strong>penho físico e motor que foram bastante<br />

utilizados pelos professores <strong>da</strong> área que atuavam no contexto escolar nos períodos higienista,<br />

militarista e esportivista (BETTI, 1991; SOUZA, 1993; DARIDO, 1999, 2003, 2005; SILVA,<br />

2010).<br />

Ao mesmo t<strong>em</strong>po, perceb<strong>em</strong>-se vestígios que se aproximam do que defend<strong>em</strong> Freire<br />

(1989) e Soares et. al. (1992), a respeito de o processo de avaliação na área levar <strong>em</strong><br />

consideração a apreciação de aspectos subjetivos manifestados no processo de aprendizag<strong>em</strong><br />

dos alunos.<br />

Souza (1993) e Darido (1999, 2005) entend<strong>em</strong> que esses sinais de mu<strong>da</strong>nça pod<strong>em</strong> ser<br />

consequência <strong>da</strong>s influências críticas que incidiram na área a partir de 1980, as quais<br />

apontaram como inadequados os modelos de avaliação mecanicista e com padronizações<br />

rígi<strong>da</strong>s para a observação de des<strong>em</strong>penhos motores e <strong>da</strong>s técnicas esportivas.<br />

As autoras supracita<strong>da</strong>s também apontam que, a partir desse período, fortaleceram-se<br />

as preconizações <strong>sobre</strong> a avaliação qualitativa na Educação Física escolar, o que sugere a<br />

169


análise de diferentes aspectos <strong>da</strong> complexi<strong>da</strong>de humana, devendo a prática avaliativa ser<br />

entendi<strong>da</strong> como um processo desenvolvido com intenção educativa, que visa, acima de tudo,<br />

estar a serviço <strong>da</strong> aprendizag<strong>em</strong> do aluno (MAUAD, 2003; MELO, 2008).<br />

Com relação aos critérios utilizados pelos professores, os <strong>da</strong>dos revelam a preferência<br />

por el<strong>em</strong>entos do conteúdo atitudinal. Em diversas respostas foram mencionados, aspectos<br />

desse tipo de conteúdo, enfatizando a apreciação <strong>da</strong> participação, envolvimento, interesse,<br />

satisfação, motivação, felici<strong>da</strong>de, carinho e prazer durante as <strong>aulas</strong> de Educação Física,<br />

como pode ser visto nas respostas seleciona<strong>da</strong>s que sustentam essas afirmações:<br />

Pela participação deles, seu envolvimento e execução <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des. (S1)<br />

170<br />

Quando vejo que todos se interessam pela ativi<strong>da</strong>de e vejo nível de<br />

desenvolvimento ao desenvolver a proposta obti<strong>da</strong>. (S16)<br />

Na satisfação e motivação dos alunos. (S13)<br />

Na minha opinião, atinjo os objetivos propostos quando meus alunos sa<strong>em</strong> felizes<br />

<strong>da</strong> aula e eu também. (S32)<br />

Do carinho que eles têm <strong>em</strong> fazer a aula e situações <strong>da</strong>s munições <strong>da</strong><br />

aprendizag<strong>em</strong> <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des. (S33)<br />

Pela manifestação de prazer e manifestação <strong>da</strong> turma. (S36)<br />

Interpreta-se que a manifestação desses indícios pode ser, <strong>em</strong> parte, compreendi<strong>da</strong><br />

devido as influências adquiri<strong>da</strong>s, por parte dos professores <strong>da</strong> área, a partir <strong>da</strong> publicação dos<br />

PCNs de Educação Física (BRASIL, 1997; 1998; 2002). Como visto na revisão de literatura<br />

esses documentos apresentam uma abor<strong>da</strong>g<strong>em</strong> aplica<strong>da</strong> pauta<strong>da</strong> nos estudos de Coll e seus<br />

colaboradores (1998), a qual consideram os conhecimentos de natureza atitudinal como um<br />

dos tipos de conteúdo que a Educação Física escolar deve abor<strong>da</strong>r <strong>em</strong> suas <strong>aulas</strong>. A influência<br />

dessa concepção de conteúdo na construção de conhecimentos dos professores de Educação<br />

Física é também reconheci<strong>da</strong> <strong>em</strong> Freire et. al. (2010, p. 224), quando expõe que:<br />

A Educação Física Escolar se apropriou desse discurso, e a aprendizag<strong>em</strong> de<br />

conteúdos atitudinais, integra<strong>da</strong> às d<strong>em</strong>ais dimensões, é advoga<strong>da</strong> por diversos<br />

autores, como Brasil (1997), Freire e Mariz de Oliveira (2004), Darido e Rangel<br />

(2005), Sanches Neto e Betti (2008), Rodrigues e Darido (2008).<br />

A partir dessa visão, Toledo, Velardi e Nista-Piccolo (2009, p.55) compreend<strong>em</strong>, que<br />

o conteúdo atitudinal pode ser visto como:<br />

[...] „termômetro‟ para a aula, fornecendo feedback para o professor acerca do<br />

planejamento executado e futuro, aumentando as possibili<strong>da</strong>des de sucesso <strong>da</strong> aula e<br />

a integração entre professores e alunos, a partir do conhecimento individualizado.<br />

Mediante esses apontamentos, infere-se que o professor de Educação Física deve levar<br />

<strong>em</strong> consideração, dentre outros conhecimentos, a observação de atitudes e comportamentos


que express<strong>em</strong> envolvimento ou desmotivação dos alunos na aula. Esses aspectos pod<strong>em</strong> ser<br />

considerados no processo avaliativo, visando identificar se o objetivo do ensino foi atingido.<br />

Entende-se que os conteúdos atitudinais são compostos por el<strong>em</strong>entos que dev<strong>em</strong> ser<br />

reconhecidos pelo professor de Educação Física, pois aju<strong>da</strong>m no processo de ensino e<br />

apreciação do posicionamento, predisposição e comportamento dos alunos perante o que<br />

aprend<strong>em</strong>, como pode ser visto nas definições <strong>sobre</strong> esses componentes, a seguir:<br />

componente cognitivo (conhecimentos e crenças) – refere-se à adequação do<br />

planejamento <strong>da</strong>s <strong>aulas</strong> “[...] respeito que se deve ter às habili<strong>da</strong>des cognitivas,<br />

coletivas e individuais” (TOLEDO;VELARDI;NISTA-PICCOLO, 2009, p. 53);<br />

componente afetivo (sentimentos e preferências) – refere-se às manifestações dos<br />

alunos mostrando uma “disposição positiva [...] quanto ao próprio conteúdo <strong>da</strong><br />

matéria” (COLL; VALLS, 1998, p. 150);<br />

componente de conduta (ações manifestas e declarações de intenções) – “refere-se à<br />

manifestação ou declarações dos alunos nota<strong>da</strong>s na aula de Educação Física”<br />

(TOLEDO;VELARDI;NISTA-PICCOLO, 2009, p. 54), como as sensações,<br />

expressões de prazer, motivação, solicitação para repetir a ativi<strong>da</strong>de, irritação,<br />

descontentamento.<br />

Percebe-se que os conteúdos atitudinais estão presentes na visão ideológica subjacente<br />

ao contexto pe<strong>da</strong>gógico construído nas interações cotidianas <strong>em</strong> que se materializa a produção<br />

do saber. A escola é um contexto socializador, gerador de atitudes relativas ao conhecimento,<br />

ao professor, aos colegas, às disciplinas, às tarefas, à socie<strong>da</strong>de, por isso a compreensão <strong>da</strong>s<br />

atitudes, dos valores, <strong>da</strong>s normas como conteúdos escolares faz com que a aprendizag<strong>em</strong><br />

desse tipo de conteúdo se revele de maneira processual, individual e coletiva, durante as ações<br />

de ensinar e aprender (ZABALA, 1994; SARABIA, 2000).<br />

Notam-se, nas respostas dos professores investigados, citações de conteúdos<br />

atitudinais apontando preferência pelos componentes que se refer<strong>em</strong> às condutas e aspectos<br />

afetivos. Essa análise assinala a necessi<strong>da</strong>de de mais conhecimentos, por parte dos docente,<br />

<strong>sobre</strong> o significado de todos os el<strong>em</strong>entos desse conteúdo para ser<strong>em</strong> cont<strong>em</strong>plados e<br />

<strong>em</strong>pregados no processo de ensino e avaliação dos alunos <strong>em</strong> <strong>aulas</strong> de Educação Física<br />

escolar.<br />

Mediante os indícios encontrados, surge um questionamento importante para este<br />

estudo: o conteúdo atitudinal é passível de avaliação?<br />

Observa-se que a apreciação desse tipo de conhecimento é cerca<strong>da</strong> de incertezas, pois<br />

exige a transformação de <strong>da</strong>dos subjetivos <strong>em</strong> <strong>da</strong>dos quantitativos para formular os conceitos<br />

171


ou notas no final do bimestre. Toledo, Velardi e Nista-Piccolo (2009, 58-59) explicitam que a<br />

atribuição de notas para alguns aspectos do conteúdo atitudinal é<br />

172<br />

[...] tarefa complexa quantificar de 0 a 10 os esforços e as atitudes dos alunos, ain<strong>da</strong><br />

mais se considerarmos que há alunos que não gostam de expor seu corpo, de se<br />

movimentar ao ritmo de uma música, de jogar ou de lutar, de brincar com diferentes<br />

posições de seu corpo, e muitas outras propostas ofereci<strong>da</strong>s <strong>em</strong> <strong>aulas</strong> de Educação<br />

Física.<br />

Porém, apesar dessas dificul<strong>da</strong>des, as autoras reconhec<strong>em</strong> que é importante a<br />

avaliação <strong>da</strong>s atitudes nas <strong>aulas</strong> de Educação Física, já que:<br />

Os professores pod<strong>em</strong> averiguar se as atitudes de um aluno não prejudicam os<br />

outros; se seu comportamento é aceito socialmente; se os alunos cumpr<strong>em</strong> com os<br />

trabalhos solicitados; e quais são as razões que os imped<strong>em</strong> de vivenciar as<br />

propostas. [para isso] É necessário que sejam feitas avaliações individualiza<strong>da</strong>s,<br />

processualmente. (ibid<strong>em</strong>, grifo meu)<br />

Isso posto, à medi<strong>da</strong> que a avaliação <strong>da</strong>s atitudes se estabelece como uma tarefa<br />

dinâmica e que gera dificul<strong>da</strong>de para o docente por implicar um alto grau de subjetivi<strong>da</strong>de ao<br />

transformar <strong>da</strong>dos qualitativos <strong>em</strong> quantitativos, constitui uma ação complica<strong>da</strong> para o<br />

professor de Educação Física realizar a apreciação desse tipo de conhecimento <strong>em</strong> suas <strong>aulas</strong>.<br />

Sendo assim, a avaliação desse conteúdo d<strong>em</strong>an<strong>da</strong> alguns cui<strong>da</strong>dos que já foram<br />

assinalados na revisão de literatura, os quais pod<strong>em</strong> ser sintetizados <strong>da</strong> seguinta maneira:<br />

aceitar de maneira relativiza<strong>da</strong> e continuamente interroga<strong>da</strong> as conclusões <strong>sobre</strong> o que<br />

é certo e errado nas análises subjetivas <strong>da</strong>s atitudes, normas e valores, procurando<br />

compreender a história de vi<strong>da</strong> e a lógica do aluno (ESTEBAN, 2002);<br />

reconhecer que os alunos são diferentes uns dos outros, o que implica abdicar <strong>da</strong><br />

intenção primária de traduzi-los ou convertê-los nas concepções e referenciais que o<br />

professor possui (MACHADO, 2000);<br />

construir de forma compartilha<strong>da</strong> entre alunos e professor as escalas de avaliação do<br />

conteúdo atitudinal que foi trabalhado durante as <strong>aulas</strong>. As escalas pod<strong>em</strong> servir para<br />

estimar a situação inicial <strong>da</strong> turma <strong>em</strong> relação a um determinado valor ou atitude e<br />

depois pod<strong>em</strong> ser reaplica<strong>da</strong>s para verificar os progressos que os alunos alcançaram no<br />

processo de ensino. Essas escalas pod<strong>em</strong> servir para o professor avaliar os alunos e<br />

também para os discentes se autoavaliar<strong>em</strong>, visando à expressão do entendimento ou<br />

não acerca dos valores, normas ou atitudes que foram objeto de ensino <strong>em</strong><br />

determinado programa de <strong>aulas</strong> (SARABIA, 2000);<br />

Deve-se estabelecer a direção <strong>da</strong> observação (do professor e dos alunos),<br />

sist<strong>em</strong>atizando os aspectos do conteúdo atitudinal que será priorizado no momento <strong>da</strong><br />

avaliação (SARABIA, 2000).


Além desses itens, é preciso levar <strong>em</strong> conta que, ao avaliar o conteúdo atitudinal, a<br />

atribuição <strong>da</strong> nota não pode se pautar, somente, na apreciação desse tipo de conhecimento.<br />

Nesse sentido, fun<strong>da</strong>mentando-se nas ideias de Ferraz (2004, p.53), compreende-se que o ato<br />

de:<br />

173<br />

[...] simplesmente <strong>da</strong>r nota para comportamentos desejados não considera a<br />

complexi<strong>da</strong>de inerente ao ensino de valores e atitudes, além de incentivar o que se<br />

denomina “cálculo de risco”, ou seja, o aluno observa se vai ser punido ou não para<br />

se comportar de determina<strong>da</strong> forma.<br />

Corroboram-se as colocações do autor, que entende a avaliação de conteúdos<br />

atitudinais na Educação Física escolar como um dos el<strong>em</strong>entos de ensino, e não um acerto de<br />

contas com os alunos indisciplinados no momento <strong>da</strong> prática avaliativa.<br />

Observa-se que os professores revelaram <strong>em</strong> suas respostas um entendimento de<br />

avaliação limitado à análise de alguns componentes do conteúdo atitudinal. Além disso,<br />

percebe-se que, quando verificam se o objetivo <strong>da</strong> aula foi atingido, explicitam critérios<br />

avaliativos pouco diversificados. Assim, fica clara a necessi<strong>da</strong>de de probl<strong>em</strong>atização <strong>da</strong><br />

prática pe<strong>da</strong>gógica para ser capaz de revelar diferentes conhecimentos construídos no decorrer<br />

<strong>da</strong>s <strong>aulas</strong>. Entende-se que avaliar somente pela participação, motivação e satisfação dos<br />

alunos nas <strong>aulas</strong> parec<strong>em</strong> ser critérios que contradiz<strong>em</strong> a ideia de identificar os<br />

conhecimentos construídos.<br />

Vários autores consideram a escolha de conteúdos pautando-se somente no âmbito<br />

atitudinal insuficiente para abarcar a complexi<strong>da</strong>de de um programa de ensino na Educação<br />

Física. Para analisar a efetivação <strong>da</strong>s finali<strong>da</strong>des de ensino dessa disciplina é necessário levar<br />

<strong>em</strong> conta outros tipos de t<strong>em</strong>as e conteúdos que abor<strong>da</strong>dos durante as <strong>aulas</strong> dessa área de<br />

conhecimento no contexto escolar (BRASIL, 1997; 1998; 2002; DARIDO, 2005; MELO,<br />

2008).<br />

Na revisão de literatura <strong>sobre</strong> a avaliação no contexto educacional encontram-se mais<br />

esclarecimentos <strong>sobre</strong> a priorização dos critérios pautados na análise de comportamentos<br />

d<strong>em</strong>onstrados nas <strong>aulas</strong> de Educação Física escolar. A análise <strong>da</strong>s condutas do bom aluno –<br />

tais como interesse, motivação, envolvimento e participação na aula – teve grande<br />

destaque nas propostas avaliativas expostas na terceira geração <strong>da</strong> história <strong>da</strong> avaliação. Dias<br />

Sobrinho (2003) assinala Benjamin Bloom como um dos precursores dessas proposições,<br />

estabelecendo três categorias para a organização dos objetivos educacionais: cognitiva, afetiva<br />

e psicomotora. A intenção <strong>da</strong> avaliação voltou-se para a classificação dos comportamentos do<br />

aluno, delimitando as aquisições e os modos de raciocínio para auxiliá-lo a progredir <strong>em</strong><br />

direção aos objetivos traçados.


Esse posicionamento t<strong>em</strong> relação com o que expõe Hadji (1994) <strong>sobre</strong> a filosofia <strong>da</strong><br />

avaliação nomea<strong>da</strong> como apreciativa. Segundo o autor, os métodos utilizados para essa forma<br />

de avaliar valorizam os resultados de aprendizag<strong>em</strong> qualificando os <strong>da</strong>dos obtidos no<br />

processo, julgados à luz do dever-ser.<br />

Dias Sobrinho (2003) explicita que, na atuali<strong>da</strong>de, os professores ain<strong>da</strong> são<br />

influenciados por essa visão de avaliação, pois muitas práticas acabam enfocando a análise<br />

<strong>da</strong>s condutas dos alunos, geralmente medi<strong>da</strong>s a partir de normas estabeleci<strong>da</strong>s pela escola<br />

para manter a disciplina dos discentes. Essas regras são aplica<strong>da</strong>s, comumente, pela<br />

submissão, que é, segundo Sarabia (2000) e Zabala (1998), uma forma de aprendizag<strong>em</strong><br />

condiciona<strong>da</strong>, marca<strong>da</strong> pelo reforço social e pelo castigo. A infração <strong>da</strong>s regras leva às<br />

sanções, e é nesse controle que se pode perceber a presença <strong>da</strong> repreensão no contexto<br />

escolar.<br />

Para Hoffmann (2009), privilegia-se a avaliação de condutas dos alunos porque esse<br />

procedimento colabora para a construção, por parte do professor, de justificativas <strong>sobre</strong> os<br />

resultados do des<strong>em</strong>penho discente, pautando-se nos comportamentos observados nas <strong>aulas</strong>.<br />

Segundo a autora, os docentes utilizam explicações <strong>sobre</strong> o baixo rendimento dos alunos<br />

como consequência <strong>da</strong> ausência de condutas correspondentes ao “ideal do bom aluno”<br />

(ibid<strong>em</strong>, p. 41). A autora compl<strong>em</strong>enta essa discussão expondo que “não se quer dizer que tal<br />

conduta do aluno na escola não seja necessária. Mas tal explicação sumária e definitiva deixa<br />

de lado questões muito importantes por investigar” (ibid<strong>em</strong>).<br />

Sob a mesma perspectiva, Perrenoud (1999) pontua que é preciso ficar atento a essa<br />

visão limita<strong>da</strong> de avaliação que assinala juízos de excelência escolar provenientes <strong>da</strong><br />

construção intelectual, cultural e social do professor, o qual julga os comportamentos dos<br />

alunos e sua respectiva qualificação segundo suas próprias teorias.<br />

Ao correlacionar os critérios de avaliação usados pelos professores pesquisados com o<br />

que foi constatado no estudo de Russo (2010), verificou-se que os mesmos docentes abor<strong>da</strong>m<br />

<strong>em</strong> suas <strong>aulas</strong> a diversi<strong>da</strong>de dos t<strong>em</strong>as <strong>da</strong> cultura corporal, mas a avaliação, mais uma vez,<br />

mostra-se restrita a análise de alguns aspectos dos componentes do conteúdo atitudinal, que<br />

pod<strong>em</strong> ser sintetizados na obrigatorie<strong>da</strong>de de participar <strong>da</strong>s <strong>aulas</strong> e querer que os alunos<br />

encontr<strong>em</strong> prazer nas ativi<strong>da</strong>des que realizam.<br />

Quadro 16: Critérios de avaliação, instrumento, conteúdo e estratégias de ensino.<br />

PROF RESPOSTAS<br />

SELECIONADAS<br />

COMPONENTE BÁSICO<br />

DA AVALIAÇÃO DAS<br />

ATITUDES<br />

MANIFESTADOS NAS<br />

POSSIBILIDADE DE<br />

INSTRUMENTO QUE OS<br />

PROFESSORES<br />

UTILIZAM<br />

174<br />

O QUE E COMO<br />

ENSINAM<br />

(segundo Russo,<br />

2010)


S1 Pela participação deles,<br />

seu envolvimento e<br />

execução <strong>da</strong>s<br />

ativi<strong>da</strong>des.<br />

S2 Pela participação do<br />

aluno na escola como<br />

um todo.<br />

S6 Quando os alunos se<br />

interessam, realizam as<br />

ativi<strong>da</strong>des,<br />

compreend<strong>em</strong> a<br />

importância dos<br />

conhecimentos<br />

aprendidos.<br />

S11 Através <strong>da</strong> observação<br />

dos alunos e <strong>da</strong><br />

repercussão dos<br />

conteúdos<br />

apresentados nas<br />

<strong>aulas</strong>.<br />

S13 Na satisfação e<br />

motivação dos alunos.<br />

S14 Através <strong>da</strong> observação<br />

e participação dos<br />

alunos, após o<br />

conteúdo proposto ser<br />

ministrado.<br />

S15 Quando há participação<br />

e a motivação dos<br />

alunos na aula.<br />

S16 Quando vejo que todos<br />

se interessam pela<br />

ativi<strong>da</strong>de e vejo nível<br />

de desenvolvimento ao<br />

RESPOSTAS DOS<br />

PROFESSORES<br />

Conduta<br />

Aspecto Afetivo<br />

175<br />

Observação Todos os t<strong>em</strong>as <strong>da</strong><br />

cultura corporal,<br />

por meio de<br />

explicações,<br />

situaçõesprobl<strong>em</strong>a,<br />

recursos<br />

audiovisuais.<br />

Conduta Observação Conhecimentos<br />

<strong>sobre</strong> o corpo,<br />

estimula a<br />

construção<br />

conhecimentos.<br />

de<br />

Aspecto Afetivo<br />

Conduta<br />

Observação Todos os t<strong>em</strong>as <strong>da</strong><br />

cultura corporal,<br />

por meio de<br />

explicações,<br />

d<strong>em</strong>onstração de<br />

movimentos, <strong>aulas</strong><br />

práticas, recursos<br />

audiovisuais<br />

Aspecto Afetivo Observação Jogos, esporte,<br />

conhecimento<br />

<strong>sobre</strong> o corpo e<br />

ativi<strong>da</strong>des<br />

esportivas, por<br />

meio de<br />

explicações, <strong>aulas</strong><br />

práticas,<br />

estimulação <strong>da</strong><br />

reflexão.<br />

Conduta Observação Não define. Ensina<br />

por meios que<br />

direcionam<br />

estratégias,<br />

método global,<br />

<strong>aulas</strong> práticas.<br />

Conduta<br />

Observação Conhecimento do<br />

corpo, jogos e<br />

brincadeiras, por<br />

meio de<br />

explicações, <strong>aulas</strong><br />

práticas, recursos<br />

audiovisuais.<br />

Conduta<br />

Observação Jogos, esportes e<br />

ginásticas, por<br />

meio de<br />

explicações de<br />

conteúdos.<br />

Aspecto Afetivo<br />

Cognitivo<br />

Observação Documentos <strong>da</strong><br />

secretaria.<br />

Todos os t<strong>em</strong>as <strong>da</strong><br />

cultura corporal.


desenvolver a proposta<br />

obti<strong>da</strong>.<br />

S22 Pelo gosto que a gente<br />

percebe que o aluno<br />

tomou pela prática,<br />

pela expressão dele, e<br />

também pelo processo<br />

de avanços dos<br />

educandos, <strong>da</strong>ndo a<br />

eles s<strong>em</strong>pre o t<strong>em</strong>po<br />

necessário para<br />

aprender, respeitando<br />

esse t<strong>em</strong>po para o<br />

equilíbrio.<br />

S27 Observando a sua<br />

participação e<br />

motivação.<br />

S32 Na minha opinião,<br />

atinjo os objetivos<br />

propostos quando<br />

meus alunos sa<strong>em</strong><br />

felizes <strong>da</strong> aula e eu<br />

também.<br />

S33 Do carinho que eles<br />

têm <strong>em</strong> fazer a aula e<br />

situações <strong>da</strong>s munições<br />

<strong>da</strong> aprendizag<strong>em</strong> <strong>da</strong>s<br />

ativi<strong>da</strong>des.<br />

S36 Pela manifestação de<br />

prazer e manifestação<br />

<strong>da</strong> turma.<br />

S44 Sinto muita dificul<strong>da</strong>de.<br />

Sinto que o objetivo foi<br />

atingido quando a aula<br />

satisfaz a maioria dos<br />

alunos.<br />

S45 A participação do<br />

grupo <strong>em</strong> to<strong>da</strong>s as<br />

ativi<strong>da</strong>des propostas e<br />

a troca de experiência<br />

entre eles.<br />

S51 Quando o aluno t<strong>em</strong><br />

uma satisfação plena e<br />

sabe identificar o que<br />

foi aprendido.<br />

Cognitivo<br />

Conduta<br />

176<br />

Não define forma<br />

de ensinar.<br />

Observação Capaci<strong>da</strong>des físicas<br />

(conhecimento<br />

<strong>sobre</strong> o corpo), por<br />

meio de explicação<br />

dos conteúdos,<br />

estimula reflexão e<br />

discussão,<br />

trabalhos <strong>em</strong><br />

grupo.<br />

Conduta<br />

Observação Todos os t<strong>em</strong>as <strong>da</strong><br />

cultura corporal,<br />

por meio de aula<br />

prática e trabalhos<br />

<strong>em</strong> grupo.<br />

Conduta Observação Capaci<strong>da</strong>des físicas<br />

(conhecimento<br />

<strong>sobre</strong> o corpo).<br />

Não define forma<br />

de ensinar.<br />

Aspecto Afetivo Observação Ginástica e<br />

esporte, por meio<br />

do jogo como<br />

estratégia.<br />

Conduta Observação Todos os t<strong>em</strong>as <strong>da</strong><br />

cultura corporal.<br />

Não define a<br />

forma de ensinar.<br />

Conduta Observação Habili<strong>da</strong>des<br />

motoras, jogos e<br />

brincadeiras.<br />

Não define a<br />

forma de ensinar.<br />

Conduta<br />

Aspecto Afetivo<br />

Aspecto Afetivo<br />

Conduta<br />

Observação Todos os t<strong>em</strong>as <strong>da</strong><br />

cultura corporal,<br />

por meio <strong>da</strong><br />

construção de<br />

conhecimentos,<br />

levantamento do<br />

conhecimento<br />

prévio.<br />

Observação Documentos <strong>da</strong><br />

secretaria.<br />

Todos os t<strong>em</strong>as <strong>da</strong><br />

cultura corporal),<br />

por meio de<br />

explicações, aula<br />

prática e trabalhos<br />

<strong>em</strong> grupo.<br />

S52 Os alunos começam a Conduta Observação Não define. Ensina


mu<strong>da</strong>r, se transformam<br />

<strong>em</strong> pessoas melhores.<br />

Começam a querer<br />

participar mais, o<br />

interesse no aprender<br />

aumenta e a indisciplina<br />

e valores s<strong>em</strong> éticas<br />

diminu<strong>em</strong><br />

consideravelmente.<br />

S57 Infelizmente a minoria<br />

dos alunos participam<br />

o suficiente para que<br />

se sinta uma mu<strong>da</strong>nça<br />

na postura com relação<br />

às ativi<strong>da</strong>des físicas.<br />

Posso dizer que<br />

mantendo a minha<br />

postura com os alunos<br />

de mostrar a Educação<br />

Física como algo sério<br />

consigo observar<br />

mu<strong>da</strong>nças no<br />

comportamento dos<br />

alunos.<br />

Cognitivo<br />

Aspecto Afetivo<br />

Aspecto Afetivo<br />

Conduta<br />

177<br />

por meio de<br />

levantamento do<br />

conhecimento<br />

prévio, estimula<br />

discussão e<br />

reflexão <strong>sobre</strong> os<br />

conteúdos.<br />

Observação Esporte,<br />

conhecimento<br />

<strong>sobre</strong> o corpo,<br />

ativi<strong>da</strong>des<br />

alternativas.<br />

Direcionamento de<br />

estratégias.<br />

Como pode ser observado os <strong>da</strong>dos fornec<strong>em</strong> sinais que expõe o processo de avaliação<br />

dos professores investigados é realizado com pouca correspondência a resepito dos objetivos,<br />

conteúdos que relatam desenvolver <strong>em</strong> suas <strong>aulas</strong>, b<strong>em</strong> como com os critérios e instrumentos<br />

que os docentes apontaram <strong>em</strong>pregar no cotidiano de suas aula.<br />

Na visão de Palafox e Terra (1998) e Oliveira (2008), essa ação docente não garante a<br />

análise <strong>da</strong> aprendizag<strong>em</strong> de acordo com as especifici<strong>da</strong>des dos conhecimentos desenvolvidos<br />

na Educação Física escolar. Além do mais, não cria possibili<strong>da</strong>des para os alunos expor<strong>em</strong> o<br />

que efetivamente aprenderam ou não durante as <strong>aulas</strong>, assim como não estimula o processo de<br />

conscientização, elaboração, reconstrução de novas formas de pensar e de significar os<br />

conteúdos escolares específicos <strong>da</strong> área. Do mesmo modo, não aponta indicadores que ajud<strong>em</strong><br />

o professor verificar se conseguiu ensinar todos os conteúdos trabalhados com os alunos.<br />

Conforme a revisão de literatura, Hoffmann (2009), Souza (1993) e Aroeira e<br />

Rodrigues (2006) entend<strong>em</strong> que manter a coerência entre objetivos, conteúdos, métodos e<br />

avaliação no planejamento de ensino é um procedimento que assegura a importância e o<br />

significado <strong>da</strong> prática avaliativa para o docente e para o aluno.<br />

Nesse sentido, Fernandes (1998) expõe que se faz necessário diversificar os<br />

instrumentos de avaliação <strong>em</strong> vez de restringir-se a uma única técnica que limita a prática<br />

avaliativa a análises restritas de aspectos que interfer<strong>em</strong> no processo avaliativo. Isso significa


que o professor deve buscar identificar diferentes indicadores que propici<strong>em</strong> a compreensão<br />

do todo que compõe o processo de ensino, usando diferentes técnicas avaliativas. To<strong>da</strong>via,<br />

nota-se que esse princípio não t<strong>em</strong> sido priorizado pela maioria dos professores investigados,<br />

como pode ser visto no indício que será discutido a seguir.<br />

A priorização <strong>da</strong> observação como instrumento de avaliação<br />

Vale ressaltar, como já foi mencionado, que n<strong>em</strong> to<strong>da</strong>s as respostas forneci<strong>da</strong>s pelos<br />

professores investigados apontam literalmente a observação como instrumento de avaliação,<br />

mas é possível verificar a presença dessa técnica devido à característica dos critérios de<br />

avaliação que são priorizados quando os docentes analisam se o objetivo de ensino foi<br />

atingido. A sustentação para essa ressalva encontra-se nas respostas de vários professores 21 , a<br />

seguir estão expostas algumas dessas respostas:<br />

Através de avaliações subjetivas e ao longo <strong>da</strong>s <strong>aulas</strong>. (S3)<br />

178<br />

Quando os alunos se interessam, realizam as ativi<strong>da</strong>des, compreend<strong>em</strong> a<br />

importância dos conhecimentos aprendidos. (S6)<br />

Através de bons resultados dos alunos. (S7)<br />

Através <strong>da</strong> observação dos alunos e <strong>da</strong> repercussão dos conteúdos apresentados<br />

nas <strong>aulas</strong>. (S11)<br />

Pelo gosto que a gente percebe que o aluno tomou pela prática, pela expressão<br />

dele, e também pelo processo de avanços dos educandos, <strong>da</strong>ndo a ele s<strong>em</strong>pre o<br />

t<strong>em</strong>po necessário para ele aprender, respeitando esse t<strong>em</strong>po para o equilíbrio. (S22)<br />

Quando, por ex<strong>em</strong>plo, <strong>em</strong> uma aula de esporte, os alunos consegu<strong>em</strong> jogar<br />

adequa<strong>da</strong>mente. (S23)<br />

De acordo com Darido (2005) e Silva (2010) o uso <strong>da</strong> observação no processo de<br />

avaliação <strong>da</strong> aprendizag<strong>em</strong> <strong>em</strong> <strong>aulas</strong> de Educação Física t<strong>em</strong> suas vantagens: as <strong>aulas</strong> não<br />

precisam ser interrompi<strong>da</strong>s para notar as falas, os procedimentos e as atitudes usa<strong>da</strong>s pelos<br />

alunos no cotidiano escolar e o professor t<strong>em</strong> parâmetros imediatos para verificar se os<br />

objetivos, conteúdos e metodologia de ensino estão sendo adequados para promover a<br />

aprendizag<strong>em</strong> <strong>da</strong>s turmas que leciona.<br />

Contudo, considera-se conveniente que o professor saiba que esse instrumento t<strong>em</strong><br />

limitações e que a técnica de observação <strong>em</strong> aula é uma estratégia de avaliação informal e<br />

subjetiva. Muitas vezes, a atuação dos alunos é interpreta<strong>da</strong> sob o ponto de vista do professor,<br />

que possui seus próprios valores e concepções. Sendo assim, o uso <strong>da</strong> observação requer<br />

21 (S1, S2, S3, S6, S7, S11, S13, S14, S15, S16, S18, S22, S23, S24, S25, S26, S27, S29, S30, S32, S33, S34,<br />

S36, S39, S44, S45, S47, S51, S52, S55, S57, S58, S60, S62, S63).


cui<strong>da</strong>dos <strong>em</strong> relação à teoria que orienta a prática educativa do docente. Além disso, é um<br />

instrumento que não dá conta de avaliar de maneira qualitativa todos os aspectos que<br />

compõ<strong>em</strong> o processo de aprendizag<strong>em</strong> dos alunos, uma vez que, só observar os alunos<br />

durante as <strong>aulas</strong> não garante a análise completa do aprendizado escolar e assim não mostra, de<br />

maneira precisa, se o objetivo <strong>da</strong>s <strong>aulas</strong> foi atingido (LUCKESI, 2005).<br />

Nessa perspectiva, entende-se que, mais do que observar, é preciso que o professor<br />

<strong>em</strong>pregue critérios b<strong>em</strong> definidos e registre suas percepções a respeito <strong>da</strong> aprendizag<strong>em</strong> e<br />

dificul<strong>da</strong>des dos alunos. Se isso não for feito, o que é visto logo poderá ser esquecido e não<br />

servir para avaliar (MELO, 2008).<br />

Não obstante, a análise dos <strong>da</strong>dos também apontou que os professores utilizam, além<br />

<strong>da</strong> observação, outros instrumentos para apreciar a aprendizag<strong>em</strong> dos alunos.<br />

O uso de outros instrumentos de avaliação<br />

Nos indícios encontrados nas respostas <strong>da</strong><strong>da</strong>s à pergunta 12 percebe-se a citação de<br />

instrumentos de avaliação diferentes <strong>da</strong> habitual observação, para identificar se o objetivo <strong>da</strong><br />

aula foi atingido, como está exposto a seguir:<br />

179<br />

Em ro<strong>da</strong> de conversa, através <strong>da</strong> participação a partir <strong>da</strong> vivência dos alunos (se<br />

procuram pelo menos tentar...). (S17)<br />

Durante ativi<strong>da</strong>des de avaliação <strong>em</strong> conversas informais, observando as relações<br />

interpessoais dos meus alunos. (S21)<br />

Vendo a satisfação do aluno ao comentar <strong>da</strong>s <strong>aulas</strong> <strong>em</strong> que participou. (S31)<br />

Quando um aluno chega pra mim e diz que adorou a aula e que vai procurar um<br />

clube ou local específico para praticar mais. (S35)<br />

Quando no final <strong>da</strong> aula faz<strong>em</strong>os a ro<strong>da</strong> de conversa e eles próprios consegu<strong>em</strong><br />

identificar os pontos positivos e principalmente quando eles estão satisfeitos <strong>em</strong><br />

suas manifestações. (S37)<br />

Quando meu aluno termina as ativi<strong>da</strong>des com um sorriso largo, comentando<br />

com os alunos “hoje a aula foi <strong>da</strong> hora”. Meu objetivo maior é o aluno. (S38)<br />

Através <strong>da</strong> avaliação contínua e observação. Observo muito minhas turmas,<br />

principalmente nas relações interpessoais e s<strong>em</strong>pre com a ro<strong>da</strong> de grupo no final<br />

<strong>da</strong> aula. (S43)<br />

A participação do grupo <strong>em</strong> to<strong>da</strong>s as ativi<strong>da</strong>des propostas e a troca de<br />

experiência entre eles. (S45)<br />

Por meio <strong>da</strong> leitura dessas respostas entende-se que os professores identificam se o<br />

objetivo <strong>da</strong> aula foi atingido a partir <strong>da</strong>s observações e conversas realiza<strong>da</strong>s entre professor e<br />

alunos ou entre os alunos. Revelam-se, assim, sinais de que os docentes se preocupam <strong>em</strong>


compreender como os alunos perceb<strong>em</strong> e verbalizam as aprendizagens adquiri<strong>da</strong>s durante as<br />

<strong>aulas</strong>. Esse é um aspecto que estabelece relação com o que foi exposto nas preconizações do<br />

paradigma qualitativo (GÓMEZ, 1986), que assinala a importância de o professor entender o<br />

processo de aprendizag<strong>em</strong>, fazendo uso de instrumentos variados para avaliar de forma<br />

aprofun<strong>da</strong><strong>da</strong> os sinais deixados pelos discentes (HOFFMANN, 1993, 2004, 2009).<br />

A conversa é reconheci<strong>da</strong> como instrumento de avaliação na proposta <strong>da</strong> avaliação<br />

d<strong>em</strong>ocrática aponta<strong>da</strong> no estudo de Vasconcelos (2003), que entende a participação do aluno<br />

<strong>em</strong> momentos de diálogo como uma rica possibili<strong>da</strong>de de coleta de indícios de aprendizag<strong>em</strong><br />

ou dificul<strong>da</strong>des com relação a determinado conteúdo trabalhado.<br />

Ao relacionar as respostas dos professores que mencionaram o uso <strong>da</strong> conversa como<br />

meio para avaliar a aprendizag<strong>em</strong> de atitudes com os resultados apresentados por Russo<br />

(2010), nota-se que o diálogo tanto é usado como estratégia de ensino como para avaliar os<br />

alunos nas <strong>aulas</strong> de Educação Física. Isso d<strong>em</strong>onstra que os professores se preocupam <strong>em</strong><br />

dialogar com seus alunos, atribuindo a essa ação diferentes intencionali<strong>da</strong>des, mas, <strong>sobre</strong>tudo<br />

utilizando-a como meio de avaliar a expressão ou não de determinados comportamentos<br />

atitudinais nas <strong>aulas</strong> de Educação Física (BRASIL, 1998; SILVA JUNIOR, 2004; DARIDO,<br />

2005; NYE et. al., 2009; OLIVEIRA, 2009).<br />

Considera-se que, no contexto <strong>da</strong> Educação Física escolar, é adequado a conversa ser<br />

vista como instrumento de avaliação porque possibilita a identificação dos conhecimentos que<br />

os alunos já possu<strong>em</strong> e colabora para a escolha de conteúdos e estratégias de ensino a ser<strong>em</strong><br />

desenvolvidos <strong>em</strong> aula. Além disso, as situações de conversa possibilitam aprender de forma<br />

coletiva na interação entre professor e aluno e dos alunos entre si, já que assinalam diversos<br />

significados <strong>sobre</strong> o contexto discursivo, tornando possível a construção de conhecimento por<br />

meio de um processo de interação social (SOARES et. al. 1992).<br />

No entanto, percebe-se que o uso desse instrumento nas respostas dos professores<br />

investigados não abarca to<strong>da</strong>s essas intenções, restringindo-se à análise dos conhecimentos<br />

que o professor considera relevantes para ser<strong>em</strong> avaliados no processo de ensino e<br />

aprendizag<strong>em</strong>, o que se resume à apreciação <strong>da</strong> aprendizag<strong>em</strong> de algumas normas e<br />

comportamentos, considerados adequados para o desenvolvimento <strong>da</strong> aula.<br />

No mesmo sentido, outro lado <strong>da</strong> prática <strong>da</strong> conversa como instrumento de avaliação<br />

deve ser considerado, com base no seguinte questionamento: professor e alunos dialogam?<br />

Gircoreano (2008, p. 45) assinala uma probl<strong>em</strong>ática frequente na relação professor-<br />

aluno, quando se trata do diálogo:<br />

180


181<br />

Normalmente falam, mas é possível que n<strong>em</strong> s<strong>em</strong>pre esse diálogo se efetive de<br />

forma a que realmente esteja havendo comunicação entre educadores e educandos,<br />

de que eles estejam se entendendo, ou mesmo falando <strong>sobre</strong> a mesma coisa [...]. O<br />

que o aluno fala pode não ter apenas um significado, mas uma infini<strong>da</strong>de, e suas<br />

elaborações pod<strong>em</strong> ter sentidos totalmente diferentes <strong>da</strong>queles apresentados pelo<br />

professor.<br />

A ponderação do autor ilumina um aspecto que pode gerar grande dificul<strong>da</strong>de para o<br />

estabelecimento do diálogo entre professor e aluno – ou até mesmo impedir esse diálogo –<br />

como estratégia de avaliação:<br />

Normalmente o professor peca por partir de uma concepção predetermina<strong>da</strong>,<br />

basea<strong>da</strong> nos conceitos que pretende “transmitir” e ver o aluno manifestar. O aluno<br />

fala de um lado e ele responde de outro. Mas o professor não está preparado para<br />

escutar as ideias mais pessoais ou originais, encobertas quase s<strong>em</strong>pre pelo que<br />

deseja que o aluno apren<strong>da</strong>. Não sendo <strong>da</strong> mesma natureza as perguntas e as<br />

repostas, surge um “ruído” na comunicação que muitas vezes não consegue ser<br />

superado, impedindo a continui<strong>da</strong>de dessa comunicação e a interação professoraluno.<br />

Isto é, o professor também não aprendeu, na sua formação, a “ouvir” esses<br />

outros significados <strong>da</strong> fala do aluno. (Ibid<strong>em</strong>)<br />

Partindo dessas considerações, entende-se que o diálogo, ou a conversa entre professor<br />

e aluno, e do aluno com os colegas, t<strong>em</strong> um papel fun<strong>da</strong>mental no desenvolvimento dos<br />

discentes. Entretanto, para que esse isntrumento seja usado de maneira efetiva no processo de<br />

avaliação, é preciso reconhecer as possibili<strong>da</strong>des e dificul<strong>da</strong>des para a aplicação do mesmo,<br />

tendo <strong>em</strong> vista que “o avanço desejável deve ser „alimentado‟ através do esforço pessoal do<br />

estu<strong>da</strong>nte, mas associado a um diálogo significativo promovido pelo professor” (ibid<strong>em</strong>).<br />

As respostas de S21, S43 e S45 também chamaram a atenção por apontar<strong>em</strong> os<br />

instrumentos observação e conversa ou diálogos presenciados como meios para analisar as<br />

declarações interpessoais dos discentes e as interações entre os alunos.<br />

Com relação ao critério que assinala a apreciação <strong>da</strong>s declarações interpessoais dos<br />

alunos, <strong>em</strong>bora sejam aspectos do conteúdo atitudinal considerados gerais e relacionados à<br />

convivência humana, considera-se que eles são relevantes para observar se os objetivos <strong>da</strong>s<br />

<strong>aulas</strong> de Educação Física foram atingidos, pois nesse componente curricular exist<strong>em</strong> inúmeras<br />

situações conflituosas ou que requer<strong>em</strong> contato físico, a construção de regras para garantir a<br />

participação dos os alunos nas ativi<strong>da</strong>des propostas. Em outras palavras, são aspectos que<br />

requer<strong>em</strong> a capaci<strong>da</strong>de de li<strong>da</strong>r e aprender com o outro e ser aceito pelo grupo.<br />

Pautando-se nos estudos de Gardner (1994), <strong>em</strong>bora esse autor se situe numa base<br />

epist<strong>em</strong>ológica diferente <strong>da</strong>s análises realiza<strong>da</strong>s neste estudo, é pertinente ponderar que dentre<br />

as tantas inteligências que uma pessoa possui, as relações interpessoais são considera<strong>da</strong>s um<br />

dos potenciais biopsicológicos <strong>da</strong> inteligência humana. É a forma como o indivíduo li<strong>da</strong> com<br />

o seu meio social, seja na família, na escola ou no trabalho. O autor define a inteligência


interpessoal com base na percepção e convivência com o outro que implica conduzir diálogos,<br />

perceber como o outro se sente, d<strong>em</strong>onstrar características de sociabili<strong>da</strong>de e cooperação.<br />

No contexto escolar, o estímulo dessa inteligência se torna relevante porque a escola é<br />

um espaço social que comporta grande número de pessoas, onde é normal que aconteçam os<br />

conflitos e desejável que suas razões sejam compreendi<strong>da</strong>s para se chegar a uma solução. O<br />

que não pode acontecer é o despreparo do professor <strong>em</strong> relação às toma<strong>da</strong>s de decisões frente<br />

aos probl<strong>em</strong>as identificados. É necessário desenvolver um trabalho que ajude os alunos a se<br />

tornar<strong>em</strong> sujeitos mais tolerantes com o próximo, ou seja, o professor precisa ter<br />

conhecimentos para ensinar seus alunos a li<strong>da</strong>r<strong>em</strong> com os aspectos que envolv<strong>em</strong> as relações<br />

interpessoais, a fim de que eles se sintam mais preparados para enfrentar esse tipo de probl<strong>em</strong>a<br />

de maneira satisfatória (SILVA, 2008, p. 15).<br />

Para isso, o professor precisa conhecer o significado <strong>da</strong>s relações interpessoais expressas<br />

pelos educandos, auxiliá-los na percepção <strong>da</strong>s diferenças entre as pessoas, além de mostrar que<br />

ca<strong>da</strong> um deve ser respeitado e valorizado <strong>em</strong> suas características.<br />

Desse modo, os instrumentos observação e conversa apresentam-se adequados para avaliar<br />

critérios relacionados à t<strong>em</strong>ática <strong>da</strong>s relações interpessoais, pois permit<strong>em</strong> colocar os alunos<br />

diante <strong>da</strong> necessi<strong>da</strong>de de refletir <strong>sobre</strong> a capaci<strong>da</strong>de de valorizar o que o outro traz consigo,<br />

considerando que uma pessoa é diferente de outra, que os sentimentos pod<strong>em</strong> mu<strong>da</strong>r dependendo<br />

do que é vivenciado. Além disso, pod<strong>em</strong> aju<strong>da</strong>r a identificar os conflitos e encontrar<br />

possibili<strong>da</strong>des de melhorar as relações interpessoais entre os el<strong>em</strong>entos de um mesmo grupo.<br />

As respostas dos professores revelam outros indícios considerados interessantes para<br />

esta análise, como, por ex<strong>em</strong>plo, as afirmações dos professores S5 e S48, que apontam<br />

el<strong>em</strong>entos relacionados a instrumentos avaliativos apresentados de maneira evasiva,<br />

dificultando a identificação <strong>da</strong>s avaliações que esses professores efetivamente utilizam, como<br />

pode ser visto a seguir:<br />

Pelas avaliações e interesses e conhecimentos deles. (S5)<br />

Através <strong>da</strong>s avaliações e participação. (S48)<br />

Tal observação leva a refletir a respeito <strong>da</strong> dificul<strong>da</strong>de de sist<strong>em</strong>atização e organização<br />

de conteúdos, objetivos e critérios de avaliação por parte dos professores para a escolha de<br />

possibili<strong>da</strong>des de avaliar a aprendizag<strong>em</strong> dos alunos, o que talvez esteja relacionado à<br />

carência de subsídios teóricos que auxili<strong>em</strong> os docentes a definir<strong>em</strong> os critérios e<br />

instrumentos, de forma contextualiza<strong>da</strong> com o que realmente é ensinado durante o processo<br />

de ensino e aprendizag<strong>em</strong>.<br />

182


Nos estudos de Palafox e Terra (1998), Bratifische (2003) e Silva Júnior (2004)<br />

também foram encontrados na análise dos discursos dos docentes participantes de suas<br />

pesquisas limitações de conhecimento para sist<strong>em</strong>atizar os critérios e os instrumentos de<br />

avaliação, mas essa dificul<strong>da</strong>de foi interpreta<strong>da</strong> como ausência de um planejamento b<strong>em</strong><br />

delineado.<br />

Para a melhora dessa dificul<strong>da</strong>des Silva Júnior (2004) e Perez e Rincon (2005)<br />

suger<strong>em</strong> que o professor de Educação Física assuma uma postura pe<strong>da</strong>gógica transparente e<br />

contextualiza<strong>da</strong> com as finali<strong>da</strong>des e especifici<strong>da</strong>des <strong>da</strong> área no contexto escolar.<br />

D<strong>em</strong>onstram preocupação com a necessi<strong>da</strong>de de se estabelecer uma conexão entre os<br />

objetivos, os conhecimentos a ser<strong>em</strong> ensinados, os métodos de ensino e o que deve ser feito a<br />

respeito do processo de avaliação <strong>da</strong> aprendizag<strong>em</strong>, quando o contexto é a cultura corporal.<br />

A revisão de literatura apontou que os estudos mais recentes <strong>sobre</strong> a t<strong>em</strong>ática<br />

avaliação <strong>da</strong> aprendizag<strong>em</strong> apontam que essa forma de pensar a avaliação está descrita na<br />

proposta <strong>da</strong> avaliação formativa, que cont<strong>em</strong>pla os pressupostos do paradigma qualitativo. Tal<br />

proposta explicita possibili<strong>da</strong>des que colaboram para o professor que atua na Educação Básica<br />

avaliar de maneira adequa<strong>da</strong> os avanços e as dificul<strong>da</strong>des dos alunos. Recomen<strong>da</strong>-se que a<br />

avaliação seja realiza<strong>da</strong> como um processo articulado e com orientação dialógica, que<br />

considere a multiplici<strong>da</strong>de de saberes dos discentes. Com isso, a avaliação formativa oferece<br />

visibili<strong>da</strong>de para as análises subjetivas, que dev<strong>em</strong> ser incorpora<strong>da</strong>s no processo avaliativo,<br />

levando <strong>em</strong> consideração as conclusões <strong>sobre</strong> o que é certo e errado de forma relativiza<strong>da</strong> e<br />

continuamente interroga<strong>da</strong>, procurando entender a lógica do aluno (HOFFMANN, 1993,<br />

2004; CONDEMARÍN; MEDINA, 2002; ESTEBAN, 2002, 2008; VASCONCELOS, 2003;<br />

LUCKESI, 2005).<br />

Nota-se ain<strong>da</strong>, nas respostas de S28 e S64, outro tipo de técnica de avaliação: os<br />

registros e avaliações teóricas que se apresentam compostos com a usual observação.<br />

183<br />

<strong>Avaliação</strong> teórica <strong>da</strong> proposta e nível de desenvolvimento e participação do<br />

aluno. (S28)<br />

Através <strong>da</strong> observação/ participação; registro. (S64)<br />

Mediante esses <strong>da</strong>dos, notam-se sinais que retomam alguns apontamentos <strong>da</strong> revisão<br />

de literatura que preconizam, como uma <strong>da</strong>s funções <strong>da</strong> avaliação formativa, propiciar o<br />

fornecimento de indicadores <strong>sobre</strong> o quê e como o professor ensina, os quais pod<strong>em</strong> ser<br />

usados para o aperfeiçoamento <strong>da</strong> prática pe<strong>da</strong>gógica, visando à melhora <strong>da</strong> aprendizag<strong>em</strong><br />

dos alunos (GÓMEZ, 1985; HADJI, 1994; FERNANDES, 2006). A leitura <strong>da</strong>s respostas


desses professores mostra que a maioria dá preferência à apreciação <strong>da</strong> satisfação, do<br />

interesse e <strong>da</strong> participação dos alunos <strong>em</strong> aula<br />

Nas respostas dos professores S5, S28 e S37 esses critérios são compl<strong>em</strong>entados com<br />

os que se refer<strong>em</strong> à análise dos conhecimentos dos alunos, conteúdos <strong>da</strong> proposta<br />

(possivelmente <strong>da</strong> Proposta Curricular do Estado de São Paulo) e os pontos positivos<br />

(provavelmente dos conteúdos aprendidos).<br />

Partindo desses indícios, entende-se que, com os critérios e os instrumentos de<br />

avaliação mencionados, a prática avaliativa, mais uma vez, apresenta-se incompleta e<br />

limita<strong>da</strong>, principalmente porque se aprecia somente a manifestação dos comportamentos<br />

considerados ideais nas <strong>aulas</strong> de Educação Física, utilizando-se <strong>da</strong>s técnicas de observação e<br />

conversas.<br />

A consequência dessa visão é d<strong>em</strong>onstra<strong>da</strong> nas práticas avaliativas como a ausência do<br />

cumprimento <strong>da</strong> função avaliativa formativa de subsidiar o professor com <strong>da</strong>dos que possam<br />

propiciar a melhora <strong>da</strong> quali<strong>da</strong>de de ensino nas <strong>aulas</strong> de Educação Física escolar. Desse<br />

modo, entende-se que pode levar a uma desqualificação <strong>da</strong> importância dos conhecimentos<br />

efetivamente ensinados nas <strong>aulas</strong> desses docentes, especialmente no processo de avaliação.<br />

O probl<strong>em</strong>a constatado nessa perspectiva é que as aprendizagens, as práticas de ensino<br />

e os conhecimentos construídos nas <strong>aulas</strong> pod<strong>em</strong> ser realizados apenas pela observação e<br />

conversas a respeito <strong>da</strong> dimensão de conhecimento atitudinal que são as condutas expressa<strong>da</strong>s<br />

nas <strong>aulas</strong>, que acabam sendo reconhecidos como únicos indicadores do sucesso escolar e<br />

subsídio para a atribuição <strong>da</strong> nota no final do bimestre.<br />

Também é interessante notar que os professores S8, S30, S50 e S58 relataram que<br />

avaliam se o objetivo foi atingido por meio <strong>da</strong> observação <strong>da</strong> criativi<strong>da</strong>de e autonomia dos<br />

alunos durante as tarefas propostas nas <strong>aulas</strong>. Verificam-se a seguir os indícios negritados <strong>em</strong><br />

suas respostas:<br />

184<br />

Através de uma avaliação formativa que entende quais são as principais<br />

dificul<strong>da</strong>des dos alunos e nos dá informações dos dois principais agentes do<br />

processo educativo: o professor que saberá <strong>sobre</strong> o seu trabalho pe<strong>da</strong>gógico e<br />

poderá regular suas ações e o aluno que terá noção de suas maiores<br />

dificul<strong>da</strong>des e na melhor <strong>da</strong>s hipóteses conseguirá corrigir e solucionar seus<br />

erros. (S8)<br />

Quando o aluno t<strong>em</strong> autonomia para resolver probl<strong>em</strong>as, criar situações novas.<br />

(S30)<br />

Procuro identificar através do diálogo e <strong>da</strong> observação se os alunos entenderam o<br />

que foi proposto, se consegu<strong>em</strong> executar a ativi<strong>da</strong>de, resolver a situação<br />

probl<strong>em</strong>a. (S50)


É possível identificar nessas respostas sinais que mostram o uso <strong>da</strong>s situações-<br />

probl<strong>em</strong>a como um meio para investigar as aprendizagens dos alunos <strong>em</strong> <strong>aulas</strong> de Educação<br />

Física. Considera-se essa uma escolha adequa<strong>da</strong>, pois esse tipo de proposta entende a<br />

probl<strong>em</strong>atização como forma de levar o aluno ao aprendizado e favorece a manifestação de<br />

seus potenciais. Além disso, as situações probl<strong>em</strong>a têm como princípio norteador a<br />

participação ativa dos alunos inseridos <strong>em</strong> tarefas que representam desafios, mobilizando seus<br />

recursos internos e instigando-os à toma<strong>da</strong> de decisões (MACEDO, 2002). Com essas<br />

características, elas permit<strong>em</strong> maior capaci<strong>da</strong>de de análise <strong>sobre</strong> as diferentes áreas do<br />

conhecimento dos alunos, que é revelado quando os alunos buscam estratégias para solucionar<br />

os probl<strong>em</strong>as nas <strong>aulas</strong>.<br />

As respostas de S8 e S30 parec<strong>em</strong> reconhecer a importância <strong>da</strong>s situações probl<strong>em</strong>a<br />

como possibili<strong>da</strong>de de identificar aspectos do desenvolvimento <strong>da</strong> autonomia dos alunos.<br />

Entende-se como adequa<strong>da</strong> essa consideração dos professores porque as situações probl<strong>em</strong>a<br />

incentivam os discentes a selecionar e analisar informações conforme os recursos de que<br />

dispõ<strong>em</strong> e que se mostram adequados para solucionar o probl<strong>em</strong>a proposto. Nesse caso, os<br />

aspectos <strong>da</strong> autonomia pod<strong>em</strong> ser vistos como o ato de fazer escolhas por si mesmo e agir<br />

com vistas à mu<strong>da</strong>nça de algo significativo para o aluno.<br />

Um realce deve ser feito a respeito <strong>da</strong> resposta de S8, pois esse é o único professor que<br />

cita a avaliação formativa, assinalando que esse processo não deve ser realizado somente sob<br />

a perspectiva <strong>da</strong> aprendizag<strong>em</strong> do aluno, mas também deve revelar como está o ensino do<br />

professor. Considera-se esse um indicador que, mesmo de forma tími<strong>da</strong>, d<strong>em</strong>onstra sinais <strong>da</strong><br />

influência <strong>da</strong>s discussões a respeito <strong>da</strong> avaliação formativa <strong>sobre</strong> as concepções dos<br />

professores de Educação Física escolar investigados.<br />

Notaram-se também compreensões <strong>da</strong> avaliação como um contínuo formativo, nas<br />

respostas de S3, S8, S9, S22, S34, S42, S43, S55 e S61. O enfoque <strong>da</strong>do à realização de uma<br />

prática avaliativa processual com o intuito de identificar se o objetivo planejado foi atingido<br />

<strong>em</strong> aula revela a importância de a avaliação ser realiza<strong>da</strong> no cotidiano <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des<br />

propostas nas <strong>aulas</strong> de Educação Física. Isso v<strong>em</strong> ao encontro de Hoffmann (2004, p.40)<br />

quando a autora diz que:<br />

185<br />

[...] não há sentido <strong>em</strong> valorizar somente os pontos de chega<strong>da</strong>, porque são s<strong>em</strong>pre<br />

pontos de passag<strong>em</strong>, provisórios. O importante é apontar os rumos do caminho,<br />

ajustar os passos ao esforço necessário, [...] e aguçar a curiosi<strong>da</strong>de do aprendiz para<br />

o que está por vir.


A observação de que os professores investigados consideram essa pr<strong>em</strong>issa revela<br />

vestígios de uma intenção qualitativa no ato de avaliar, que faz avançar as concepções<br />

tradicionais de avaliação, as quais delimitam t<strong>em</strong>pos fixos para a aprendizag<strong>em</strong> dos alunos,<br />

como por ex<strong>em</strong>plo, acontecia na avaliação por objetivos. Isso d<strong>em</strong>onstra um sinal de mu<strong>da</strong>nça<br />

no processo de avaliação na área, <strong>em</strong>bora se perceba que ain<strong>da</strong> há muito a ser feito <strong>em</strong> termos<br />

de estudos e práticas avaliativas para esse componente curricular.<br />

Para finalizar, é importante l<strong>em</strong>brar que a análise <strong>da</strong>s respostas <strong>da</strong> pergunta 12<br />

privilegiou conhecer indícios, os quais se mostraram mais significativos aos olhos <strong>da</strong><br />

pesquisadora e representam a relação do sujeito (professor) com suas concepções, como<br />

práticas de ensino e de avaliação no contexto <strong>da</strong> Educação Física escolar.<br />

Em linhas gerais, percebeu-se na maioria <strong>da</strong>s respostas a necessi<strong>da</strong>de de maior<br />

aprofun<strong>da</strong>mento teórico e prático <strong>sobre</strong> a compreensão do ato de avaliar como uma forma de<br />

acompanhar o atingimento dos objetivos de ensino dos professores de Educação Física <strong>da</strong><br />

Diretoria Centro-Sul/SP. Tal pr<strong>em</strong>issa levará ao aperfeiçoamento <strong>da</strong> prática educativa, a qual<br />

poderá propiciar o desenvolvimento pleno <strong>da</strong>s aprendizagens dos alunos por meio <strong>da</strong>s<br />

ativi<strong>da</strong>des de ensino propostas pelo professor de Educação Física. Nesse sentido, entende-se<br />

como essencial o reconhecimento dos aspectos que compõ<strong>em</strong> tanto os processos de<br />

aprendizag<strong>em</strong> do aluno como os do ensino desenvolvido pelo professor, já que<br />

186<br />

[...] desde uma perspectiva profissional, o conhecimento de como os alunos<br />

aprend<strong>em</strong> é, <strong>em</strong> primeiro lugar, um meio para ajudá-los <strong>em</strong> seu crescimento e, <strong>em</strong><br />

segui<strong>da</strong>, é o instrumento que nos irá permitir a melhora <strong>da</strong> nossa atuação <strong>em</strong> aula.<br />

(NEIRA, 2004, p.174).<br />

Nessa perspectiva, defende-se uma nova concepção de avaliação <strong>da</strong> aprendizag<strong>em</strong>,<br />

contextualiza<strong>da</strong>, inseri<strong>da</strong> nas <strong>aulas</strong> de Educação Física com a intencionali<strong>da</strong>de de melhorar as<br />

experiências de aprendizag<strong>em</strong> dos alunos, identificando as suas necessi<strong>da</strong>des e promovendo<br />

um ensino com mais quali<strong>da</strong>de, que poderá ser gera<strong>da</strong> a partir <strong>da</strong> formação "in loco" <strong>sobre</strong><br />

todos os aspectos que compõ<strong>em</strong> a prática pe<strong>da</strong>gógica, <strong>sobre</strong>tudo a avaliação, dos atores que<br />

compõ<strong>em</strong> o contexto escolar.<br />

3.3.2 Os indícios encontrados na pergunta 13 - Você avalia seus alunos? De que forma o<br />

faz? Quando você avalia?<br />

A décima terceira questão versa <strong>sobre</strong> três pontos in<strong>da</strong>gadores <strong>da</strong> prática avaliativa dos<br />

professores de Educação Física <strong>da</strong> Diretoria de Ensino Centro-Sul/SP. Nota-se que as<br />

respostas (ANEXO IV) apresentam-se construí<strong>da</strong>s numa mesma frase, o que leva à opção de<br />

analisar de maneira integra<strong>da</strong> os indícios encontrados <strong>sobre</strong> o processo de avaliação, por


facilitar a exploração <strong>da</strong>s respostas, buscando “o que se oculta nas dobras” (GINZBURG,<br />

1989, p. 170) <strong>da</strong>s atuações cotidianas escolares dos professores investigados. Com essa<br />

possibili<strong>da</strong>de reconhec<strong>em</strong>-se os traços singulares dos docentes que responderam ao<br />

questionário, s<strong>em</strong> minimizar ou fragmentar as particulari<strong>da</strong>des de suas concepções <strong>sobre</strong> o ato<br />

de avaliar a aprendizag<strong>em</strong> dos alunos. Esses aspectos colaboram para a compreensão do<br />

objeto desta pesquisa, permitindo que a individuali<strong>da</strong>de seja abor<strong>da</strong><strong>da</strong> s<strong>em</strong> desconsiderar a<br />

totali<strong>da</strong>de do fenômeno pesquisado.<br />

Outro detalhe que vale ressaltar <strong>sobre</strong> os diferentes questionamentos inseridos nessa<br />

pergunta é a referência a aspectos considerados fun<strong>da</strong>mentais para a discussão <strong>da</strong> prática<br />

avaliativa na Educação Física escolar, tais como: de que forma e quando os alunos são<br />

avaliados. No estudo de Melo (2008) essas in<strong>da</strong>gações são interpreta<strong>da</strong>s como pontos<br />

relevantes para se discutir a prática de avaliação do professor <strong>da</strong> área, pois elas aju<strong>da</strong>m a<br />

investigar a visão de avaliação e estabelecer relações com o processo de ensino e<br />

aprendizag<strong>em</strong> <strong>em</strong> <strong>aulas</strong> de Educação Física.<br />

Um aspecto que chamou a atenção na leitura <strong>da</strong>s respostas é a amostra de 98% de<br />

professores que apontam realizar a avaliação <strong>da</strong> aprendizag<strong>em</strong> de seus alunos. Esse <strong>da</strong>do<br />

revela que a maioria dos docentes considera a prática avaliativa uma tarefa necessária para as<br />

<strong>aulas</strong> de Educação Física escolar.<br />

Essa alta porcentag<strong>em</strong> de docentes que citam avaliar seus alunos pode ser explica<strong>da</strong><br />

pelo fato de os participantes <strong>da</strong> pesquisa ter<strong>em</strong> sido incitados a pensar <strong>sobre</strong> o assunto<br />

avaliação no momento <strong>em</strong> que responderam ao questionário, mobilizando, assim, seus<br />

recursos internos <strong>em</strong> termos de conhecimentos para realizar tal tarefa. Suas respostas não<br />

asseguram que o processo de avaliação é efetivamente realizado <strong>da</strong> maneira como relatam,<br />

pois não houve neste estudo investigações in loco, observando as <strong>aulas</strong> desses docentes.<br />

Contudo, perceb<strong>em</strong>-se diferentes saberes que, ao ser<strong>em</strong> mobilizados, revelam<br />

respostas significativas para a apreciação teórica e prática <strong>da</strong> avaliação no processo de ensino<br />

e aprendizag<strong>em</strong> dos alunos, além de permitir<strong>em</strong> conhecer el<strong>em</strong>entos <strong>da</strong> prática avaliativa<br />

segundo a concepção dos professores investigados.<br />

Observam-se alguns aspectos nas respostas dos professores que caracterizam a<br />

proposta <strong>da</strong> avaliação formativa, os quais pod<strong>em</strong> ter sido adquiridos pelos docentes no curso<br />

de Licenciatura, por meio de discussões <strong>sobre</strong> o ato de avaliar, nos diálogos com os pares <strong>em</strong><br />

reuniões pe<strong>da</strong>gógicas ou mesmo nos estudos realizados para participar de concursos públicos<br />

relacionados à área, <strong>em</strong> que a avaliação apresenta-se como um t<strong>em</strong>a recorrente.<br />

187<br />

Segundo Dias Sobrinho (2003), as reflexões, análises e debates pe<strong>da</strong>gógicos <strong>sobre</strong> o


t<strong>em</strong>a avaliação no contexto educacional não vêm de hoje, existe uma diversi<strong>da</strong>de de<br />

proposições <strong>sobre</strong> o assunto, <strong>em</strong>bora elas apresent<strong>em</strong> limitações históricas, psicológicas e<br />

sociais. Na atuali<strong>da</strong>de, os educadores se esforçam para definir os probl<strong>em</strong>as e buscar soluções<br />

que favoreçam mu<strong>da</strong>nças no sist<strong>em</strong>a avaliativo, o que acaba implicando modificações na<br />

prática avaliativa.<br />

Portanto, no que se refere ao cotidiano escolar, s<strong>em</strong> desconsiderar a importância do<br />

debate <strong>em</strong>preendido nas concepções deriva<strong>da</strong>s do paradigma qualitativo como proposta <strong>da</strong><br />

avaliação formativa, surge uma in<strong>da</strong>gação: tais pressupostos têm sido suficientes para<br />

melhorar a prática avaliativa dos professores <strong>em</strong> geral?<br />

Segundo vários autores, pode-se afirmar que não houve uma transformação integral <strong>da</strong><br />

visão docente pauta<strong>da</strong> no paradigma experimental, que ain<strong>da</strong> é o que dá suporte a muitas<br />

práticas educativas nas instituições de Ensino Básico (VASCONCELOS, 2003;<br />

FERNANDES et. al., 2005; ESTEBAN, 2009).<br />

Várias pesquisas 22 realiza<strong>da</strong>s no contexto <strong>da</strong> Educação Física escolar assinalam essa<br />

probl<strong>em</strong>ática, identificando que o grande “nó” no processo de avaliação situa-se no campo do<br />

saber avaliar.<br />

Considerando os resultados encontrados nos estudos citados acima, pode-se notar que<br />

os professores de Educação Física carec<strong>em</strong> de conhecimentos para avaliar adequa<strong>da</strong>mente<br />

seus alunos. Também é possível enxergar outras possibili<strong>da</strong>des que contextualizam melhor o<br />

“nó” que caracteriza a probl<strong>em</strong>ática <strong>da</strong> prática avaliativa na área, por ex<strong>em</strong>plo, no “eco” <strong>da</strong>s<br />

vivências desses profissionais com o t<strong>em</strong>a avaliação quando foram alunos <strong>da</strong> Educação<br />

Básica e do Ensino Superior e que é reproduzido na prática pe<strong>da</strong>gógica, s<strong>em</strong> reflexão e<br />

conhecimentos suficientes para saber como proceder de maneira diferente <strong>da</strong>quela vivencia<strong>da</strong><br />

<strong>em</strong> seu processo de formação.<br />

Nessa mesma perspectiva, Borges (1998) e Amorim e Ramos (2010) indicam a<br />

trajetória dos profissionais de Educação Física, do período <strong>da</strong> formação básica e acadêmica<br />

até a etapa <strong>da</strong> prática docente, como um importante el<strong>em</strong>ento para entender as ações<br />

educativas adota<strong>da</strong>s durante o exercício <strong>da</strong> profissão.<br />

No que se refere ao processo de avaliação, a revisão de literatura aponta que a<br />

dificul<strong>da</strong>de dos professores <strong>em</strong> efetuar a prática avaliativa na escola de maneira adequa<strong>da</strong> está<br />

22 SANTOS; GONÇALVEZ, 1996; DESROSIERS; GENET-VOLET; GODBOUT, 1997; PALAFOX; TERRA,<br />

1998; RODRIGUES, 2003; BRATIFISCHE, 2003; SILVA JÚNIOR, 2004; TAN; WRIGHT, 2004; MENDES;<br />

NASCIMENTO; MENDES, 2007 NYE et. al., 2009; OLIVEIRA, 2009; SILVA; BANKOFF, 2010.<br />

188


marca<strong>da</strong> pela atribuição de um papel classificatório que, provavelmente, foi experienciado na<br />

sua trajetória como alunos, por meio <strong>da</strong>s “[...] ideias de mérito, julgamento, punição e<br />

recompensa, exigindo o distanciamento entre os sujeitos que se entrelaçam nas práticas<br />

escolares cotidianas” (ESTEBAN, 2008, p. 15). A prática avaliativa foi, e ain<strong>da</strong> é, uma<br />

dinâmica que isola os alunos e o professor, dificulta o diálogo, reduz os espaços de<br />

cooperação e estimula a competição, <strong>sobre</strong>tudo nas <strong>aulas</strong> de Educação Física.<br />

Quando a avaliação é assim realiza<strong>da</strong>, vários autores 23 denunciam que ela não se refere<br />

à melhora <strong>da</strong> aprendizag<strong>em</strong> e do ensino como processos interativos e intersubjetivos, mas sim<br />

ao rendimento como resultado verificável que apenas serve para classificar e hierarquizar as<br />

aprendizagens dos alunos s<strong>em</strong> tomar nenhuma ação para melhorar as dificul<strong>da</strong>des<br />

encontra<strong>da</strong>s..<br />

Compreende-se que o processo avaliativo, por sua vez, mantém-se na m<strong>em</strong>ória dos<br />

professores como uma prática que t<strong>em</strong> como fim “vigiar para punir”, como tão b<strong>em</strong> discute<br />

Foucault (1992, p. 75). Isso significa que a imag<strong>em</strong> de escola, aprendizag<strong>em</strong> e ensino no<br />

contexto <strong>da</strong> construção dos saberes docentes é marca<strong>da</strong> por momentos de avaliação<br />

configurados como um sist<strong>em</strong>a de vigilância e de punição, facilmente traduzível <strong>em</strong> provas,<br />

testes, notas, recuperação, aprovação e reprovação.<br />

Destarte, os apontamentos necessários para construir uma prática avaliativa eficaz nos<br />

moldes do paradigma qualitativo <strong>em</strong>ergente converg<strong>em</strong> para a necessi<strong>da</strong>de de avanços <strong>em</strong><br />

estudos <strong>sobre</strong> a avaliação <strong>em</strong> Educação Física que colabor<strong>em</strong>, efetivamente, para uma<br />

mu<strong>da</strong>nça <strong>da</strong> prática pe<strong>da</strong>gógica do professor <strong>da</strong> área.<br />

Segundo Santos (2005, p. 17) essa necessi<strong>da</strong>de de pesquisas deve considerar as ações<br />

de “investigar, analisar e divulgar as iniciativas de construção de práticas avaliativas<br />

comprometi<strong>da</strong>s com a aprendizag<strong>em</strong> de todos os alunos e com o desenvolvimento dos<br />

professores e <strong>da</strong> escola”, sendo este reconhecido como o desafio posto na área de<br />

conhecimento: Educação Física escolar.<br />

Essas considerações também são aponta<strong>da</strong>s por Ludke (2002, p.95-96) no campo <strong>da</strong><br />

pe<strong>da</strong>gogia, na medi<strong>da</strong> <strong>em</strong> que a autora expõe que as perspectivas <strong>da</strong>s pesquisas t<strong>em</strong> sido<br />

189<br />

[...] muito capazes de denunciar e de criticar o papel <strong>da</strong> avaliação e as práticas<br />

avaliativas vigentes <strong>em</strong> nosso sist<strong>em</strong>a de ensino, mas não t<strong>em</strong> sido suficient<strong>em</strong>ente<br />

eficientes na proposição de recursos alternativos que possam neutralizar os efeitos<br />

negativos e favorecer os efeitos positivos nos quais acreditamos que [...] a nossa<br />

acad<strong>em</strong>ia está b<strong>em</strong> distancia<strong>da</strong> do esforço necessário para descobrir novos jeitos,<br />

não apenas os comuns, de se avaliar.<br />

23 HOFFMANN, 1993, 2004, 2009; LIMA, 1994; ESTEBAN, 2002, 2008; VASCONCELOS, 2003;<br />

MEDEIROS, 2004; LUCKESI, 2005; PEREIRA, 2006; SILVA, 2007.


190<br />

Em paralelo ao descuido de nossos acadêmicos com os „jeitos de fazer‟ avaliação, se<br />

situa outra questão pouco cui<strong>da</strong><strong>da</strong> pela universi<strong>da</strong>de. Trata-se <strong>da</strong> velha e clássica<br />

questão <strong>da</strong> formação de professores. Ao lado dos muitos probl<strong>em</strong>as que estamos<br />

acostumados a discutir com relação a esse t<strong>em</strong>a, precisamos acrescentar o que se<br />

refere à formação para o exercício <strong>da</strong> avaliação escolar.<br />

Com relação à formação dos professores volta<strong>da</strong> para o exercício <strong>da</strong> ação de avaliar na<br />

perspectiva formativa, observa-se que ain<strong>da</strong> são grandes as lacunas preenchi<strong>da</strong>s por tentativas<br />

tími<strong>da</strong>s de mu<strong>da</strong>nças nas práticas avaliativas.<br />

As respostas forneci<strong>da</strong>s à pergunta de número 13 revelam sinais dessa probl<strong>em</strong>ática,<br />

pois os professores manifestam pressupostos pouco claros <strong>sobre</strong> como realizar uma prática<br />

avaliativa adequa<strong>da</strong> no cotidiano <strong>da</strong>s <strong>aulas</strong> de Educação Física escolar, como pode ser visto<br />

nas respostas a seguir:<br />

Sim, de maneira contínua, s<strong>em</strong>pre <strong>da</strong>ndo a ele o t<strong>em</strong>po necessário para ele<br />

aprender, respeitando esse t<strong>em</strong>po para o equilíbrio <strong>da</strong> aprendizag<strong>em</strong>,<br />

proporcionando ao educando a proximi<strong>da</strong>de do conteúdo a ser avaliado com suas<br />

vivências e conhecimentos prévios, ampliando-os. (S22)<br />

O aluno é avaliado durante todo o processo, por meio de ativi<strong>da</strong>des práticas, seus<br />

registros e discussões, e no final de ca<strong>da</strong> t<strong>em</strong>a (conteúdo) proposto. (S9)<br />

Sendo assim, a análise exposta a seguir estabelece t<strong>em</strong>áticas construí<strong>da</strong>s a partir dos<br />

indícios revelados nas respostas dos sujeitos, visando a desvelar “pistas, mais precisamente,<br />

sintomas (no caso de Freud), indícios (no caso de Sherlock Holmes), signos pictóricos (no<br />

caso de Morelli)” (GINZBURG, 1989, p. 150) <strong>sobre</strong> como os docentes descrev<strong>em</strong> o processo<br />

de avaliação <strong>da</strong> aprendizag<strong>em</strong> <strong>em</strong> suas <strong>aulas</strong>.<br />

Novamente depara-se com o uso exclusivo <strong>da</strong> observação<br />

A primeira t<strong>em</strong>ática que <strong>em</strong>ergiu após a leitura <strong>da</strong>s respostas foi a grande frequência<br />

com que o instrumento observação foi mencionado pelos professores de Educação Física <strong>da</strong><br />

Diretoria de Ensino Centro-Sul/SP. Notou-se que essa técnica é cita<strong>da</strong> como única forma de<br />

avaliar a aprendizag<strong>em</strong> dos alunos nas respostas de 10% dos professores. Ao mesmo t<strong>em</strong>po,<br />

nas respostas de 33% de professores ela não é menciona<strong>da</strong> literalmente, mas a partir dos<br />

critérios explicitados é possível interpretar que a observação é o meio usado para avaliar.<br />

To<strong>da</strong>via, tendo <strong>em</strong> vista que esse estudo busca a compreensão dos <strong>da</strong>dos implícitos,<br />

outros sinais aju<strong>da</strong>m a compreender o significado que esses docentes atribu<strong>em</strong> ao uso <strong>da</strong><br />

observação no processo de avaliação. Assim, foram seleciona<strong>da</strong>s algumas respostas que<br />

apontam o privilégio de tal instrumento para avaliar a participação dos alunos <strong>em</strong> <strong>aulas</strong> de<br />

Educação Física escolar:<br />

Sim, pela observação constante <strong>da</strong> execução <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des e <strong>da</strong> d<strong>em</strong>onstração do<br />

interesse deles. (S1).


191<br />

Todos são avaliados. Observo de acordo com as características, o aproveitamento,<br />

compreensão e prática constante dos conteúdos ensinados. E isso é feito todos os<br />

dias durante as <strong>aulas</strong>. (S19)<br />

Sim, <strong>em</strong> to<strong>da</strong>s as <strong>aulas</strong>, observando sua evolução, dificul<strong>da</strong>des. (S26)<br />

Avalio no dia-dia por observação. (S29)<br />

Observação. (S47)<br />

Observação do des<strong>em</strong>penho. (S48)<br />

Sim, diariamente por observação, participação, comprometimento com a aula e<br />

comportamento. (S62)<br />

Os indícios negritados apontam relação com o que Tan e Wright (2004), Mendes<br />

(2005) e Silva e Bankoff (2010) verificaram <strong>em</strong> suas pesquisas <strong>sobre</strong> a prática avaliativa<br />

realiza<strong>da</strong> por professores <strong>da</strong> área.<br />

Tan e Wright (2004) fizeram um estudo de caso numa escola americana de Ensino<br />

Primário e identificaram nos programas de ensino de Educação Física a orientação avaliativa,<br />

dirigi<strong>da</strong> aos professores, que apontava a necessi<strong>da</strong>de de considerar todos os domínios de<br />

aprendizag<strong>em</strong> (cognitivo, afetivo, social e motor) dos alunos inseridos nesse nível de ensino.<br />

Entretanto, constataram que tal recomen<strong>da</strong>ção ficava apenas no papel, pois na prática<br />

pe<strong>da</strong>gógica dos professores era prioriza<strong>da</strong> a avaliação feita pela observação de competências<br />

técnicas e habili<strong>da</strong>des esportivas.<br />

Mendes (2005), após entrevistar oito professores egressos do curso de formação inicial<br />

<strong>em</strong> Educação Física <strong>da</strong> Unioeste-PR, já atuantes como docentes do Ensino Fun<strong>da</strong>mental e<br />

Médio no município de Marechal Cândido Rondon (PR) havia pelo menos dois anos,<br />

constatou nos discursos desses sujeitos que suas vivências de avaliação na formação inicial<br />

como alunos do Ensino Básico durante as <strong>aulas</strong> de Educação Física privilegiavam a<br />

quantificação, o grau de retenção dos conhecimentos teóricos e as avaliações do des<strong>em</strong>penho<br />

físico. Já na análise <strong>da</strong>s características <strong>da</strong>s práticas avaliativas realiza<strong>da</strong>s por esses docentes, o<br />

autor notou que os objetivos <strong>da</strong> avaliação pretendiam apreciar, apenas, a participação nas<br />

<strong>aulas</strong>. No que se refere aos procedimentos de avaliação, os professores utilizavam, na maioria<br />

<strong>da</strong>s vezes, a observação diária.<br />

Curiosamente, essa pesquisa revela que, apesar de a experiência desses professores na<br />

formação básica se caracterizar pela avaliação intenciona<strong>da</strong> para a mensuração do<br />

des<strong>em</strong>penho físico e técnico, eles apresentam sentimento de repúdio e indignação <strong>em</strong> relação<br />

a esse enfoque avaliativo para ser reproduzido <strong>em</strong> suas <strong>aulas</strong>. Mediante esse resultado,


eforça-se a ideia de que o exercício <strong>da</strong> profissão docente não é neutro, e sim repleto de<br />

crenças, saberes e concepções que foram ou são apropriados culturalmente por meio de<br />

relações sociais e reconstruídos individualmente e/ou coletivamente pelos docentes<br />

(BORGES, 1998).<br />

Os resultados do trabalho de Mendes (2005) também mostram que a opção dos<br />

professores pela avaliação por meio <strong>da</strong> prática de observação <strong>da</strong> participação dos alunos <strong>em</strong><br />

aula revela um movimento de transição que a Educação Física escolar apresenta no cenário<br />

brasileiro atual (BRACHT, 2011). No caso <strong>da</strong> avaliação, encontram-se vestígios <strong>da</strong><br />

compreensão de el<strong>em</strong>entos do paradigma qualitativo na prática pe<strong>da</strong>gógica dos professores<br />

pesquisados. Contudo, verifica-se ain<strong>da</strong> “pouca intencionali<strong>da</strong>de dos participantes <strong>da</strong><br />

investigação <strong>em</strong> perceber, no processo avaliativo, a evolução individual e a construção de<br />

conhecimentos, através de mu<strong>da</strong>nças de hábitos de vi<strong>da</strong> e dos aspectos culturais do<br />

movimento humano” (MENDES, 2005, p. 61).<br />

Silva e Bankoff (2010), ao investigar<strong>em</strong> os métodos de avaliação utilizados por<br />

quatorze professores de Educação Física atuantes nos anos finais do Ensino Fun<strong>da</strong>mental, que<br />

lecionam <strong>em</strong> escolas <strong>da</strong> rede pública do estado de São Paulo, na ci<strong>da</strong>de de Campinas, tiveram<br />

como resultados 52% de professores que utilizavam a avaliação formal e 47% que utilizavam<br />

a informal (somente pela observação). Prova escrita, trabalhos/pesquisas e<br />

interesse/participação eram usados por 14% <strong>da</strong> amostra de professores.<br />

Ao relacionar os resultados <strong>da</strong>s pesquisas expostas com os indícios encontrados nas<br />

respostas dos professores participantes deste estudo, <strong>em</strong>erge a necessi<strong>da</strong>de de saber: qual é a<br />

explicação para os professores de Educação Física priorizar<strong>em</strong> a observação como<br />

instrumento <strong>em</strong> sua prática avaliativa?<br />

Fun<strong>da</strong>mentando-se <strong>em</strong> Linhales (1999), percebe-se que um probl<strong>em</strong>a recorrente na<br />

prática profissional do professor de Educação Física está relacionado às condições de trabalho<br />

<strong>da</strong>s escolas <strong>em</strong> que atuam. A escassez de t<strong>em</strong>po devido à carga horária completa de <strong>aulas</strong> para<br />

suprir as necessi<strong>da</strong>des de r<strong>em</strong>uneração e o excessivo número de alunos por turma são<br />

justificativas considera<strong>da</strong>s váli<strong>da</strong>s para entender as dificul<strong>da</strong>des que os professores <strong>da</strong> área<br />

encontram para construir instrumentos de avaliação diversificados, aplicá-los com os alunos<br />

durante o processo de ensino e fornecer feedback nas tarefas avaliativas.<br />

Esse dil<strong>em</strong>a leva a uma possibili<strong>da</strong>de de explicação <strong>sobre</strong> por que a observação acaba<br />

sendo prioriza<strong>da</strong> na prática pe<strong>da</strong>gógica, já que é um instrumento fácil de ser usado, possibilita<br />

ver o todo s<strong>em</strong> gerar trabalho extra, além de apresentar a quali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> pratici<strong>da</strong>de para aplicar<br />

com grande número de alunos (DARIDO, 2005). Acrescenta-se a essa eluci<strong>da</strong>ção o fato <strong>da</strong><br />

192


área <strong>da</strong> Educação Física escolar se caracterizar, <strong>sobre</strong>tudo, pela prática de movimentos<br />

realizados durante as <strong>aulas</strong>, sendo essa mais uma possibili<strong>da</strong>de de entender a preferência por<br />

parte dos docentes por esse instrumento de avaliação.<br />

Segundo Linhales (1999) e Melo (2008), esse é um dos desafios que os profissionais<br />

de Educação Física precisam enfrentar. Nesse contexto, considera-se interessante a promoção<br />

de situações de formação continua<strong>da</strong> pautando-se nos saberes docentes, no estudo e confronto<br />

com a literatura pertinente ao t<strong>em</strong>a avaliação, visando à materialização desses diálogos na<br />

prática pe<strong>da</strong>gógica e nas competências específicas <strong>da</strong> área. Pensar dessa maneira torna-se<br />

relevante no sentido de abrir os horizontes no próprio campo de trabalho do professor,<br />

oferecendo mais espaço à reflexão-ação-reflexão (SHÖN, 2000).<br />

Na mesma direção, entende-se que a prática avaliativa pressupõe a necessi<strong>da</strong>de de,<br />

primeiramente, reconhecer os probl<strong>em</strong>as que os professores de Educação Física enfrentam <strong>em</strong><br />

seu cotidiano escolar, os quais limitam a busca de novos conhecimentos e a aplicação de<br />

práticas avaliativas inovadoras. Sendo assim, Melo (2008) e Melo, Ferraz e Nista-Piccolo<br />

(2010) entend<strong>em</strong> que, a partir do conhecimento de aspectos que caracterizam a probl<strong>em</strong>ática<br />

<strong>da</strong> prática avaliativa, é preciso criar espaços e t<strong>em</strong>pos no interior <strong>da</strong>s escolas para que os<br />

questionamentos e as contradições revela<strong>da</strong>s na especifici<strong>da</strong>de <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong>de educativa dos<br />

docentes sejam socializa<strong>da</strong>s e transforma<strong>da</strong>s <strong>em</strong> objeto de diálogo à luz <strong>da</strong>s experiências e <strong>da</strong>s<br />

proposições teóricas expostas na produção científica <strong>da</strong> área.<br />

Mas, como ain<strong>da</strong> os professores de Educação Física não atingiram essas condições<br />

ideais de trabalho, Guiselini e Mattos (2008, p.12) suger<strong>em</strong> que os docentes que atuam no<br />

contexto escolar continu<strong>em</strong> trabalhando com as condições que possu<strong>em</strong> e não fiqu<strong>em</strong><br />

esperando pelas situações perfeitas de trabalho, que muito b<strong>em</strong> merec<strong>em</strong> para ministrar boas<br />

<strong>aulas</strong>. Conforme as palavras dos autores, “quando possuirmos essas condições adequa<strong>da</strong>s,<br />

nossas crianças não estarão mais conosco e, se estivess<strong>em</strong>, não voltariam à i<strong>da</strong>de de hoje.<br />

Portanto, façamos um bom trabalho pensando nelas” agora.<br />

Sendo assim, ain<strong>da</strong> que tais dil<strong>em</strong>as estejam presentes na vi<strong>da</strong> profissional dos<br />

professores de Educação Física, entende-se que não se pode cair no comodismo de usar<br />

somente o instrumento observação na prática avaliativa, de maneira descompromissa<strong>da</strong> e s<strong>em</strong><br />

a devi<strong>da</strong> sist<strong>em</strong>atização, já que essa ação pode reforçar o que Soares et. al. (1992) e Mattos e<br />

Neira (2000) denunciam a respeito de a avaliação na Educação Física escolar não ser<br />

realiza<strong>da</strong> com o intuito de melhorar o processo ensino e aprendizag<strong>em</strong>, e sim, apenas, para<br />

cumprir normas.<br />

193


Outro detalhe fun<strong>da</strong>mental é não fechar os olhos para alguns esforços direcionados à<br />

difusão de conhecimentos <strong>em</strong> diferentes vias, como cursos, livros, teses, apresentações e<br />

discussões <strong>sobre</strong> o t<strong>em</strong>a <strong>em</strong> s<strong>em</strong>inários e congressos <strong>da</strong> área. Isso leva a refletir que a questão<br />

<strong>da</strong> avaliação assinala ain<strong>da</strong> outro probl<strong>em</strong>a: o limitado acesso ou mesmo o pouco interesse<br />

dos professores de Educação Física que atuam no Ensino Básico para procurar esse tipo de<br />

conhecimento. Contudo, não se deve desconsiderar o que foi detectado na pesquisa feita <strong>em</strong><br />

algumas bases de <strong>da</strong>dos, <strong>em</strong> que se revelou a necessi<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s bases que publicam as<br />

produções científicas desenvolvi<strong>da</strong>s na área facilitar<strong>em</strong> o acesso a esses estudos, oferecendo<br />

mais recursos para o encontro dos estudos <strong>sobre</strong> a prática avaliativa na Educação Física, pois,<br />

<strong>da</strong> maneira como (as bases de <strong>da</strong>dos) se apresentam dificultam o acesso dos professores ao<br />

conhecimento científico produzido na área.<br />

Em várias pesquisas encontram-se críticas à observação usa<strong>da</strong> como procedimento<br />

privilegiado na avaliação nas <strong>aulas</strong> de Educação Física, uma vez que esse posicionamento<br />

d<strong>em</strong>onstra a carência de critérios preestabelecidos para efetivar a prática avaliativa nas <strong>aulas</strong> e<br />

sinaliza que os professores <strong>da</strong> área não compreend<strong>em</strong> que o ato de avaliar exige, antes que se<br />

defina como será realizado, o estabelecimento dos conteúdos, objetivos e critérios para, <strong>em</strong><br />

segui<strong>da</strong>, escolher os instrumentos de avaliação (DESROSIERS; GENET-VOLET;<br />

GODBOUT, 1997; PALAFOX; TERRA, 1998; BRATIFISCHE, 2003, NYE et. al., 2009;<br />

MELO, 2008).<br />

Desse modo, o uso <strong>da</strong> observação como único meio avaliativo leva a interrogar: até<br />

que ponto os professores de Educação Física consegu<strong>em</strong>, por meio desse instrumento<br />

avaliativo, perceber o que aluno está aprendendo?<br />

A resposta requer a retoma<strong>da</strong> de alguns “fios” traçados na revisão de literatura que<br />

afirmam a importância de a avaliação <strong>da</strong> aprendizag<strong>em</strong> abarcar os diferentes tipos de<br />

conteúdos ensinados <strong>em</strong> aula (HOFFMANN, 1993, 2004, 2009; ZABALA, 1994; COLL et.<br />

al. 2000; ESTEBAN, 2002, 2008; VASCONCELOS, 2003; BRASIL, 1998; DARIDO, 2005;<br />

MELO, 2008; MELO; FERRAZ; NISTA-PICCOLO, 2010), pois possibilita a apreciação <strong>da</strong><br />

cultura corporal nas suas diferentes tipologias de t<strong>em</strong>a e conteúdos – atitudinais, conceituais e<br />

procedimentais.<br />

Para cumprir esse pressuposto <strong>da</strong> avaliação formativa, Vasconcelos (2003) aponta que<br />

é preciso diversificar os instrumentos de avaliação e aplicá-los durante o processo de ensino e<br />

aprendizag<strong>em</strong>, <strong>da</strong>do que essa ideia supera a concentração do ato avaliativo realizado num<br />

momento estanque, no final do programa de ensino, especialmente quando o professor precisa<br />

entregar as notas para ser<strong>em</strong> publica<strong>da</strong>s no boletim dos alunos.<br />

194


Baseando-se nos autores citados nos dois últimos parágrafos, interpreta-se que o uso<br />

<strong>da</strong> observação no processo de avaliação <strong>em</strong> <strong>aulas</strong> de Educação Física escolar deve levar <strong>em</strong><br />

conta o objetivo, o tipo de conteúdo e as estratégias de ensino planeja<strong>da</strong>s e explica<strong>da</strong>s nas<br />

<strong>aulas</strong>, assim como a intenção e as concepções que sustentam a prática avaliativa do professor<br />

<strong>da</strong> área.<br />

Sendo assim, se for<strong>em</strong> considera<strong>da</strong>s as particulari<strong>da</strong>des dos conteúdos conceituais,<br />

entende-se que a simples observação pode não <strong>da</strong>r conta de identificar todos os el<strong>em</strong>entos que<br />

compõ<strong>em</strong> esse tipo de conteúdo. Essas particulari<strong>da</strong>des pod<strong>em</strong> ser percebi<strong>da</strong>s, segundo Pozo<br />

(2000), por meio <strong>da</strong> capaci<strong>da</strong>de de descrever, comparar objetos, acontecimentos ou ideias, e<br />

implicam uma aprendizag<strong>em</strong> compreensiva que exige a capaci<strong>da</strong>de de interpretar, explicar e<br />

significar algo. Devido a suas especifici<strong>da</strong>des, essas habili<strong>da</strong>des requer<strong>em</strong> o uso de outras<br />

técnicas para apreciar a manifestação <strong>da</strong> aprendizag<strong>em</strong> conceitual.<br />

Por outro lado, se o professor t<strong>em</strong> a intenção de avaliar os procedimentos usados pelos<br />

alunos para a execução <strong>da</strong> habili<strong>da</strong>de do rolamento, a observação pode ser considera<strong>da</strong> um<br />

instrumento adequado, já que o comportamento motor é um ato observável (TANI, 1988,<br />

2008).<br />

Desse modo, o que se percebe é que a observação deve ser usa<strong>da</strong> com cautela; caso<br />

contrário, como expõe Oliveira (2009, p. 72), “ao utilizarmos somente um instrumento<br />

avaliativo, estamos fa<strong>da</strong>dos a não compreender to<strong>da</strong> a complexi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> aprendizag<strong>em</strong> do<br />

educando”.<br />

Pautando-se <strong>em</strong> Bracht (2011, p.14), pode-se interpretar que o uso <strong>da</strong> observação<br />

como instrumento exclusivo no processo de avaliação dos professores de Educação Física<br />

pode ser entendido como uma expressão do momento histórico <strong>da</strong> área, que se revela na<br />

atuali<strong>da</strong>de com:<br />

195<br />

[...] um certo declínio <strong>da</strong> EF tradicional, mas, por outro lado, a não construção<br />

concomitante de uma „nova prática‟, o que v<strong>em</strong> sendo caracterizado por<br />

Fensterseifer e González (2010) como uma situação entre o não mais e o ain<strong>da</strong> não.<br />

Em muitos casos não t<strong>em</strong>os a EF tradicional (com seu ensino dos esportes visando<br />

às competições escolares), mas também ain<strong>da</strong> não t<strong>em</strong>os uma perspectiva crítica de<br />

EF largamente consoli<strong>da</strong><strong>da</strong> nas práticas pe<strong>da</strong>gógicas escolares.<br />

O que o autor assinala também se aplica ao processo de avaliação, pois os professores<br />

d<strong>em</strong>onstram <strong>em</strong> suas respostas indícios de uma prática avaliativa com sinais do paradigma<br />

qualitativo, mas ain<strong>da</strong> se defrontam com uma postura que resiste a mu<strong>da</strong>nças, especialmente<br />

no que se refere à coerência entre as práticas de ensino e as escolhas de conteúdo, objetivo,<br />

estratégia e avaliação escolar. Portanto, deflagra-se um momento histórico <strong>em</strong> que muito se


t<strong>em</strong> por fazer para que as práticas avaliativas sejam desenvolvi<strong>da</strong>s de maneira efetiva nas<br />

<strong>aulas</strong> de Educação Física escolar.<br />

O autor compl<strong>em</strong>enta essa discussão, apontando que:<br />

196<br />

[...] é preciso não cair no simplismo <strong>da</strong> mera denúncia ou culpabilização dos<br />

professores. O fenômeno é b<strong>em</strong> complexo e envolve uma série de fatores. A própria<br />

falta de reconhecimento <strong>da</strong> disciplina escolar EF e, consequent<strong>em</strong>ente, do trabalho<br />

dos professores de EF é um dos fatores que levam os mesmos a desinvestir [<strong>em</strong><br />

buscar conhecer e aplicar práticas avaliativas inovadoras] (ibid<strong>em</strong>, p. 20, grifo<br />

meu).<br />

Outro it<strong>em</strong> identificado na análise <strong>da</strong>s respostas, que aponta a observação pratica<strong>da</strong><br />

no processo de avaliação realizado pelos professores, refere-se à desconsideração do registro<br />

dos aspectos observados. Isso leva a interpretar que os professores investigados guar<strong>da</strong>m na<br />

m<strong>em</strong>ória as informações nota<strong>da</strong>s durante as <strong>aulas</strong>, s<strong>em</strong> realizar nenhuma sist<strong>em</strong>atização que<br />

marque a regulari<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s observações.<br />

Assim, aponta-se a necessi<strong>da</strong>de de os professores conhecer<strong>em</strong> o papel relevante <strong>da</strong><br />

observação <strong>da</strong>s aprendizagens revela<strong>da</strong>s pelos alunos, contribuindo para a construção de<br />

registros reflexivos acerca dos aspectos notados durante as <strong>aulas</strong>, que pod<strong>em</strong> aju<strong>da</strong>r nas<br />

toma<strong>da</strong>s de decisões frente às dificul<strong>da</strong>des manifesta<strong>da</strong>s pelos alunos (CÉSAR SENA, 2004).<br />

Para abor<strong>da</strong>r as dificul<strong>da</strong>des relaciona<strong>da</strong>s à avaliação <strong>em</strong> Educação Física escolar,<br />

Mattos e Neira (1999) faz<strong>em</strong> uma comparação entre a avaliação nas disciplinas teóricas,<br />

ministra<strong>da</strong>s <strong>em</strong> sala de aula, e a avaliação <strong>da</strong> Educação Física. Explicam que, na primeira,<br />

muitas vezes o processo de aprendizag<strong>em</strong> é acompanhado pela produção escrita do aluno,<br />

enquanto na segun<strong>da</strong> a ativi<strong>da</strong>de motora é avalia<strong>da</strong> pela observação.<br />

Os autores questionam essa atitude e consideram que “o professor de Educação Física<br />

deve buscar amparar seus instrumentos de mensuração <strong>da</strong> aprendizag<strong>em</strong> e do avanço do aluno<br />

<strong>em</strong> itens sólidos [...]” (ibid<strong>em</strong>, p. 78). Consideram que a avaliação pode ser feita pelo simples<br />

olhar e compl<strong>em</strong>enta<strong>da</strong> com o registro, por isso suger<strong>em</strong> que o professor observe no máximo<br />

dois alunos de ca<strong>da</strong> vez, tendo como foco a apreciação dos aspectos cognitivo, afetivo, social<br />

e motor, no transcorrer normal <strong>da</strong>s <strong>aulas</strong>, e não <strong>em</strong> situação especial de avaliação. O professor<br />

deve registrar os itens que julgar importantes para o processo de avaliação <strong>da</strong> aprendizag<strong>em</strong><br />

dos alunos. Embora os autores recomend<strong>em</strong> essa ação complexa, entend<strong>em</strong> que o professor,<br />

adquirindo certa prática, poderá elaborar códigos que facilit<strong>em</strong> os registros de observação do<br />

processo de ensino e aprendizag<strong>em</strong>.<br />

Nessa perspectiva, infere-se que a observação é uma possibili<strong>da</strong>de de avaliação<br />

na Educação Física escolar, mas é importante que esteja ampara<strong>da</strong> por critérios avaliativos e<br />

associa<strong>da</strong> à prática do registro, pois são meios que se compl<strong>em</strong>entam e oportunizam a revisão


de práticas de ensino, a análise do planejamento, a verificação <strong>da</strong>s dificul<strong>da</strong>des dos alunos de<br />

maneira processual, além de colaborar para a construção de feedback individualizado a partir<br />

<strong>da</strong>s anotações realiza<strong>da</strong>s pelo docente (CÉSAR SENA, 2004; MELO, 2008).<br />

levantados.<br />

Além <strong>da</strong> observação, vários outros sinais foram encontrados nos <strong>da</strong>dos<br />

O uso <strong>da</strong> observação com outros instrumentos de avaliação<br />

A leitura <strong>da</strong>s respostas à pergunta 13 apontou indícios <strong>da</strong> observação usa<strong>da</strong> de maneira<br />

concomitante com outros instrumentos avaliativos nas <strong>aulas</strong> de Educação Física escolar,<br />

conforme as respostas a seguir:<br />

197<br />

Através <strong>da</strong> observação subjetiva, elaboração de trabalho, cartazes, ao longo <strong>da</strong>s<br />

<strong>aulas</strong> e no final de ca<strong>da</strong> módulo trabalhado. (S3)<br />

O t<strong>em</strong>po todo. Observação, avaliação prática s<strong>em</strong> modelo, apenas indicações de<br />

técnica, avaliação escrita conceitual, opiniões. (S17)<br />

Avalio meus alunos de formas diferentes, através de trabalhos, cadernos,<br />

observação e registro de situações <strong>em</strong> aula. (S21)<br />

Sim através <strong>da</strong> observação, avaliação escrita e algumas vezes diálogo. (S34)<br />

Através de observações a anotações durante as <strong>aulas</strong>. (S41)<br />

A avaliação é contínua, durante todo o processo de ensino. É feita através <strong>da</strong><br />

observação de trabalhos <strong>em</strong> grupo e individual, registros feitos pelos alunos e<br />

também pelo professor. (S53)<br />

Sim, a observação é sist<strong>em</strong>ática e contínua. O aluno deve participar e progredir<br />

dentro do processo dinâmico de construção do conhecimento. Instrumento <strong>da</strong><br />

avaliação – trabalhos, anotações <strong>sobre</strong> o interesse, participação, cooperação. O<br />

que facilita minha observação é que acompanho esses alunos desde a 1ª série no<br />

des<strong>em</strong>penho individualmente de suas capaci<strong>da</strong>des físicas-motoras. Assim como<br />

o desenvolvimento <strong>da</strong> capaci<strong>da</strong>de sócio-afetiva bimestralmente. (S58)<br />

Sim, observações e registros. A avaliação acontece <strong>em</strong> todo processo de ensino e<br />

aprendizag<strong>em</strong>. (S61)<br />

A análise dos critérios e instrumentos de avaliação citados pelos professores mostra<br />

que a maioria explicita os instrumentos, mas poucos expõ<strong>em</strong> os critérios que utilizam para<br />

avaliar seus alunos, além disso, os docentes não expressam a preocupação com o retorno dos<br />

resultados <strong>da</strong> avaliação para os alunos. Isso leva a entender que o ato de avaliar é realizado<br />

com intuito de colher <strong>da</strong>dos gerais <strong>sobre</strong> o que foi ensinado, s<strong>em</strong> se preocupar com a<br />

sist<strong>em</strong>atização dos conhecimentos que serão apreciados no processo de avaliação. Assim,<br />

qualquer apontamento feito pelo aluno que tenha relação com o conteúdo ensinado é<br />

considerado válido no processo avaliativo.


Nas investigações de Souza (1993; 2010) foram encontra<strong>da</strong>s informações forneci<strong>da</strong>s<br />

por docentes de Educação Física a esse respeito considera<strong>da</strong>s evasivas, o que denuncia a<br />

escassez de saberes dos professores de Educação Física <strong>sobre</strong> a escolha de critérios e<br />

instrumentos de avaliação.<br />

Pode-se interpretar o limitado conhecimento <strong>sobre</strong> a construção de critérios de<br />

avaliação <strong>em</strong> <strong>aulas</strong> de Educação Física como uma d<strong>em</strong>onstração do entendimento superficial<br />

<strong>da</strong>s propostas de conteúdos, métodos e avaliação formativa, compreendi<strong>da</strong> de maneira<br />

fragmenta<strong>da</strong>, s<strong>em</strong> reflexão e aprofun<strong>da</strong>mento <strong>sobre</strong> os seus significados. Para explicar<br />

melhor, os professores a<strong>da</strong>ptam <strong>em</strong> sua prática avaliativa apenas fragmentos <strong>da</strong>s sugestões de<br />

como proceder, traduzindo-os <strong>em</strong> suas <strong>aulas</strong> como a construção de formas de avaliar basea<strong>da</strong>s<br />

na informali<strong>da</strong>de, s<strong>em</strong> sist<strong>em</strong>atização e com pouca consistência teórica <strong>sobre</strong> o assunto. Com<br />

esse procedimento, a análise dos <strong>da</strong>dos é realiza<strong>da</strong> s<strong>em</strong> se preocupar com o que deve ser<br />

apreciado no processo de ensino e aprendizag<strong>em</strong> dos alunos.<br />

Desse modo, baseando-se <strong>em</strong> Hadji (1994), entende-se que os professores<br />

desconsideram a função do ato de avaliar como toma<strong>da</strong> de posição face ao valor de algo.<br />

Sendo essa uma <strong>da</strong>s características do paradigma qualitativo <strong>da</strong> avaliação (GÓMEZ, 1985),<br />

entende-se que novas exigências são requeri<strong>da</strong>s à prática pe<strong>da</strong>gógica do professor de<br />

Educação Física, as quais pod<strong>em</strong> ser sintetiza<strong>da</strong>s na competência de apreciar os <strong>da</strong>dos<br />

colhidos no processo de aprendizag<strong>em</strong>, julgando e tomando as decisões necessárias para<br />

melhorar as aprendizagens dos alunos.<br />

Ao mesmo t<strong>em</strong>po, a dificul<strong>da</strong>de dos professores <strong>da</strong> área para sist<strong>em</strong>atizar os critérios<br />

de avaliação pode ser explica<strong>da</strong> a partir <strong>da</strong> probl<strong>em</strong>ática evidencia<strong>da</strong> no processo de formação<br />

inicial. Nessa etapa, apresenta-se ao futuro professor uma diversi<strong>da</strong>de de concepções de<br />

ensino, propostas de conteúdo e métodos que, muitas vezes, são tratados de maneira pouco<br />

contextualiza<strong>da</strong> com as peculiari<strong>da</strong>des <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de escolar (SANCHES NETO; BETTI,<br />

2008). Esse processo t<strong>em</strong> como consequência o limitado consenso <strong>sobre</strong> o que, como e por<br />

que ensinar nas suas <strong>aulas</strong>, o que se reflete, obviamente, na escolha dos critérios e<br />

instrumentos de avaliação <strong>da</strong> aprendizag<strong>em</strong> dos alunos.<br />

Outras respostas apontam diferentes instrumentos de avaliação e revelam como<br />

principais indícios o uso de técnicas como a observação, o trabalho, registros (s<strong>em</strong> dizer se<br />

são feitos pelo professor ou pelos alunos), registros de aula (pressupõe-se que são feitos pelo<br />

professor) e registros dos alunos. Ao mesmo t<strong>em</strong>po, algumas respostas faz<strong>em</strong> referência à<br />

utilização de prova teórica, prova prática, caderno e diálogo.<br />

198


As respostas <strong>da</strong><strong>da</strong>s pelos professores traz<strong>em</strong> indícios de que os docentes compreend<strong>em</strong><br />

a importância <strong>da</strong> prática avaliativa toma<strong>da</strong> como um processo, não sendo possível<br />

desenvolvê-la com um único instrumento avaliativo, pois desse modo não propicia<br />

oportuni<strong>da</strong>des suficientes para o aluno revelar suas aprendizagens (DESROSIERS; GENET-<br />

VOLET; GODBOUT, 1997; PALAFOX; TERRA, 1998; BRATIFISCHE, 2003, NYE et. al.,<br />

2009; MELO; FERRAZ; NISTA-PICCOLO, 2010).<br />

Baseando-se <strong>em</strong> Brasil (2002), os instrumentos de avaliação assinalados pelos<br />

professores investigados pod<strong>em</strong> ser caracterizados como informais (observação, trabalhos,<br />

s<strong>em</strong>inários, debates, jogos, autoavaliação etc.) ou formais (as provas teóricas e práticas).<br />

Ressalta-se que a seleção dessas técnicas de avaliação depende <strong>da</strong> natureza de conhecimentos<br />

que compõ<strong>em</strong> os t<strong>em</strong>as <strong>da</strong> cultura corporal e os objetivos planejados para ser<strong>em</strong> atingidos <strong>em</strong><br />

aula, que pod<strong>em</strong> cont<strong>em</strong>plar: informações, habili<strong>da</strong>des, atitudes, aplicação de conhecimentos<br />

etc. Além <strong>da</strong> coerência com os conteúdos ministrados e os objetivos planejados, os<br />

instrumentos de avaliação precisam estar adequados aos métodos e procedimentos<br />

<strong>em</strong>pregados durante o processo de ensino (ZABALA, 1994; COLL et. al., 2000; COLL,<br />

2001).<br />

Esses pressupostos d<strong>em</strong>onstram o que está expresso <strong>em</strong> Brasil (2002) – ou seja, que o<br />

valor <strong>da</strong> avaliação situa-se não na escolha do instrumento <strong>em</strong> si, mas no uso que o professor<br />

faz dele, e também <strong>em</strong> Mendez (2005, p. 98), quando a autora explicita<br />

199<br />

[...] mais que o instrumento, importa o tipo de conhecimento que põe à prova, o tipo<br />

de perguntas que se formula, o tipo de quali<strong>da</strong>de (mental ou prática) que se exige e<br />

as respostas que se espera obter conforme o conteúdo <strong>da</strong>s perguntas ou probl<strong>em</strong>as<br />

que são formulados.<br />

Não se percebe tal preocupação nas respostas dos professores:<br />

Sim, através <strong>da</strong> observação, provas, trabalhos. (S18)<br />

Avalio meus alunos de formas diferentes, através de trabalhos, cadernos,<br />

observação e registro de situações <strong>em</strong> aula. (S21)<br />

Sim através <strong>da</strong> observação, avaliação escrita e algumas vezes diálogo. (S34)<br />

Através de observações e anotações durante as <strong>aulas</strong>. (S41)<br />

Avalio s<strong>em</strong>pre os alunos através <strong>da</strong> observação, do diálogo, dos registros. A<br />

avaliação deve ser contínua e formativa. (S50)<br />

A avaliação é contínua, durante todo o processo de ensino. É feita através <strong>da</strong><br />

observação de trabalhos <strong>em</strong> grupo e individual, registros feitos pelos alunos e<br />

também pelo professor. (S53)<br />

Sim, observações e registros. A avaliação acontece <strong>em</strong> todo processo de ensino e<br />

aprendizag<strong>em</strong>. (S61)


Porém, também não é possível afirmar que a ponderação <strong>sobre</strong> as razões que<br />

justificam o <strong>em</strong>prego de determinado instrumento não exista, uma vez que pode não ter sido<br />

aponta<strong>da</strong> <strong>em</strong> virtude de as perguntas do questionário aplicado aos professores não instigar os<br />

docentes a abor<strong>da</strong>r<strong>em</strong> tal t<strong>em</strong>ática <strong>em</strong> suas respostas. Ao mesmo t<strong>em</strong>po, nota-se que as<br />

citações desses instrumentos poucas vezes acompanham apontamentos que explicitam o que<br />

avaliam ao utilizar tais técnicas avaliativas.<br />

Por isso, optou-se por estabelecer a relação dos indícios encontrados nessas respostas<br />

com os <strong>da</strong>dos que revelam o que e como esses professores ensinam (RUSSO, 2010), para<br />

identificar mais pistas <strong>sobre</strong> os critérios utilizados no processo de avaliação realizado pelos<br />

professores investigados nesta pesquisa, como pode ser visto no quadro a seguir.<br />

Quadro 17: Relação de algumas respostas forneci<strong>da</strong>s <strong>sobre</strong> como avaliar, com <strong>da</strong>dos <strong>sobre</strong> o<br />

que e como os professores ensinam.<br />

PROF POSSIBILIDADE DE INSTRUMENTO QUE OS<br />

PROFESSORES UTILIZAM<br />

O QUE E COMO ENSINAM (segundo<br />

Russo, 2010)<br />

S18 observação, provas, trabalhos Documentos <strong>da</strong> secretaria; não define as<br />

estratégias de ensino.<br />

S21 trabalhos, cadernos, observação e registro de<br />

situações <strong>em</strong> aula<br />

200<br />

Documentos <strong>da</strong> secretaria; por meio do<br />

mapeamento <strong>da</strong> cultura dos alunos.<br />

S34 observação, avaliação escrita e diálogo Esporte, ativi<strong>da</strong>des alternativas,<br />

ginástica, jogos e brincadeiras; por meio<br />

de explicações, estímulo à criativi<strong>da</strong>de,<br />

reflexão acerca dos conteúdos<br />

ensinados.<br />

S41 observações e anotações Jogos, brincadeira e ativi<strong>da</strong>des rítmicas;<br />

por meio de jogos.<br />

S50 observação, diálogo, registros Esporte, ginástica, jogos, brincadeiras e<br />

ativi<strong>da</strong>des rítmicas; por meio de jogos e<br />

situações-probl<strong>em</strong>a.<br />

S53 observação de trabalhos <strong>em</strong> grupo e individual,<br />

registros feitos pelos alunos e pelo professor<br />

Jogos, brincadeiras, ativi<strong>da</strong>des rítmicas,<br />

ginásticas, lutas, ativi<strong>da</strong>des alternativas;<br />

por meio do mapeamento <strong>da</strong> cultura dos<br />

alunos.<br />

S61 observações e registros Documentos <strong>da</strong> secretaria; por meio de<br />

explicações e situações-probl<strong>em</strong>a.<br />

Percebe-se que a maioria dessas respostas explicita diferentes instrumentos de<br />

avaliação que apontam relação com a natureza de conhecimentos de que os professores<br />

ensinam no cotidiano de suas <strong>aulas</strong> como o (jogo, esporte, lutas, <strong>da</strong>nça, conhecimentos <strong>sobre</strong>


o corpo, ginástica). Sendo assim, entende-se para que o uso de diferentes instrumentos ocorra<br />

de forma adequa<strong>da</strong> são importantes alguns questionamentos, tais como: O que é possível<br />

avaliar com essas técnicas de avaliação? Os conteúdos que esses instrumentos revelam são<br />

coerentes para avaliar os conhecimentos que foram trabalhados durante as <strong>aulas</strong>?<br />

A resposta para essas perguntas, mais uma vez, destaca a relevante tarefa pe<strong>da</strong>gógica<br />

de organizar e planejar a prática de ensino, pois com essa ação se torna mais fácil estabelecer<br />

critérios avaliativos <strong>em</strong> coerência com o que foi ensinado (BRASIL, 2002; SEE/SP, 2008b).<br />

Nesse sentido, o trabalho, expresso nas respostas de alguns docentes, pode ser<br />

considerado um instrumento interessante, pois, dependendo <strong>da</strong> forma como é proposto,<br />

possibilita aos discentes uma oportuni<strong>da</strong>de de manifestar aprendizagens diferentes, usando<br />

estratégias que levam a explicitar para si, para os colegas e professores seus pensamentos a<br />

respeito do que sab<strong>em</strong> <strong>sobre</strong> determinado conteúdo.<br />

To<strong>da</strong>via, segundo Zanon e Althaus (2008, p. 14), é necessário que, ao optar pelo uso<br />

desse instrumento de avaliação, os professores lev<strong>em</strong> <strong>em</strong> conta diferentes procedimentos, que<br />

expostos a seguir, para avaliar a aprendizag<strong>em</strong> discente:<br />

201<br />

definir de maneira clara os critérios para exploração do t<strong>em</strong>a/conteúdo<br />

trabalhado;<br />

indicar fontes de consulta;<br />

incitar a expressão de compreensões, conceitos e elaborações feitas pelo próprio<br />

aluno;<br />

verificar se houve o atingimento dos objetivos propostos, assim como o grau de<br />

dificul<strong>da</strong>de <strong>sobre</strong> determinado conteúdo;<br />

acompanhar as aprendizagens, avanços e dificul<strong>da</strong>des de ca<strong>da</strong> aluno.<br />

Compreende-se que no contexto <strong>da</strong> Educação Física escolar a solicitação de um<br />

trabalho como tarefa avaliativa deve também incluir el<strong>em</strong>entos que se aproxim<strong>em</strong> <strong>da</strong><br />

reali<strong>da</strong>de <strong>em</strong> que o conteúdo foi ensinado, além de levar <strong>em</strong> conta o nível de ensino, o número<br />

de alunos e o t<strong>em</strong>po disponível para apresentá-lo e discuti-lo nas <strong>aulas</strong>. Além disso, é preciso<br />

definir os objetivos que se pretende atingir com essa proposta, como, por ex<strong>em</strong>plo, o<br />

levantamento de mais <strong>da</strong>dos ou a elaboração mais complexa <strong>da</strong> síntese dos conhecimentos<br />

aprendidos <strong>em</strong> aula etc. É importante que tais intenções estejam claras para professor e<br />

principalmente para os alunos, pois assim se garante o sentido dessa técnica de avaliação no<br />

processo de ensino e aprendizag<strong>em</strong>.<br />

Com relação ao registro de aula feito pelo professor, aparece evidenciado nas<br />

respostas abaixo:<br />

Avalio meus alunos de formas diferentes, através de trabalhos, cadernos,<br />

observação e registro de situações <strong>em</strong> aula. (S21)<br />

Através de observações a anotações durante as <strong>aulas</strong>. (S41)


202<br />

A avaliação é contínua, durante todo o processo de ensino. É feita através <strong>da</strong><br />

observação de trabalhos <strong>em</strong> grupo e individual, registros feitos pelos alunos e<br />

também pelo professor. (S53)<br />

Evidencia-se nessas respostas que o registro feito pelo professor é utilizado como<br />

apoio para realizar a observação do processo de aprendizag<strong>em</strong> do aluno e dos aspectos que<br />

caracterizam a prática de ensino realiza<strong>da</strong>. O uso <strong>da</strong> observação e do registro é sustentado<br />

como prática avaliativa coerente nos estudos de Zabala (1994) e Warschauer (1997). Segundo<br />

os autores, o registro do professor pode ser entendido como um tipo de documentação <strong>da</strong>s<br />

observações realiza<strong>da</strong>s durante a prática pe<strong>da</strong>gógica, que pode ser utiliza<strong>da</strong> como meio para<br />

reflexão e verificação de avanços, dificul<strong>da</strong>des e, se necessário, para mu<strong>da</strong>r as estratégias de<br />

ensino, assumindo novas posturas mediante os probl<strong>em</strong>as encontrados no processo de ensino<br />

e aprendizag<strong>em</strong>.<br />

Um cui<strong>da</strong>do que se deve ter com o uso desse instrumento é não registrar qualquer<br />

conhecimento: é preciso que as anotações apresent<strong>em</strong> relação com o que está sendo ensinado.<br />

Como já foi exposto na análise <strong>da</strong> pergunta 12, entende-se que o professor deve realizar<br />

anotações tendo um foco definido, a fim de que elas sirvam para a reflexão <strong>sobre</strong> as<br />

aprendizagens e dificul<strong>da</strong>des revela<strong>da</strong>s pelos alunos, assim como para saber o que se pode<br />

fazer para melhorá-las.<br />

Já outros registros citados pelos professores não identificam se se trata de uma<br />

realização do docente ou do aluno, mas, pela forma como estão explicitados pelas respostas e<br />

reproduzidos abaixo, supõe-se que se trata de registros construídos pelos alunos:<br />

delas difere dessa posição:<br />

Avalio s<strong>em</strong>pre os alunos através <strong>da</strong> observação, do diálogo, dos registros. A<br />

avaliação deve ser contínua e formativa. (S50)<br />

Sim, observações e registros. A avaliação acontece <strong>em</strong> todo processo de ensino e<br />

aprendizag<strong>em</strong>. (S61)<br />

Apesar de as respostas como um todo poder<strong>em</strong> ser considera<strong>da</strong>s evasivas, uma<br />

A avaliação é contínua, durante todo o processo de ensino. É feita através <strong>da</strong><br />

observação de trabalhos <strong>em</strong> grupo e individual, registros feitos pelos alunos e<br />

também pelo professor. (S53)<br />

A resposta do professor S53 explicita literalmente que os registros feitos pelos alunos<br />

e também pelo professor são considerados como meios para avaliar a aprendizag<strong>em</strong>.<br />

No estudo de Melo (2008), a prática do registro realizado pelos alunos <strong>em</strong> <strong>aulas</strong> de<br />

Educação Física é apresenta<strong>da</strong> como um bom instrumento de avaliação <strong>da</strong> aprendizag<strong>em</strong><br />

conceitual, factual e de el<strong>em</strong>entos do conteúdo atitudinal trabalhados no programa de ensino.


Para a autora, é importante que os registros sejam norteados por critérios específicos,<br />

que pod<strong>em</strong> ser construídos junto aos alunos. A solicitação de registros pode ter como intenção<br />

conhecer a opinião do discente após ou durante uma experiência de aula, e eles dev<strong>em</strong> ser<br />

entendidos como ativi<strong>da</strong>de de estudo, pois permit<strong>em</strong> a retoma<strong>da</strong> de conteúdos aprendidos,<br />

possibilitando a comparação de informações que revelam de onde os alunos partiram, quanto<br />

avançaram e o que falta para melhorar.<br />

Ao trabalhar com a prática de registros <strong>em</strong> <strong>aulas</strong> de Educação Física, a autora<br />

observou <strong>em</strong> sua pesquisa que os alunos d<strong>em</strong>onstraram necessi<strong>da</strong>de de outros conhecimentos<br />

para proceder a uma construção adequa<strong>da</strong> de registros que pudess<strong>em</strong> revelar o que<br />

aprenderam nas <strong>aulas</strong>. Isso porque a utilização de outra linguag<strong>em</strong> que não a corporal para<br />

expressar a aprendizag<strong>em</strong> ou as dificul<strong>da</strong>des encontra<strong>da</strong>s durante as <strong>aulas</strong> de Educação Física<br />

apresentou-se como desafio para os discentes participantes <strong>da</strong> investigação. Sendo assim, a<br />

autora expõe que o professor atente a essa situação, já que a expressão de aprendizag<strong>em</strong> por<br />

meio do registro pode d<strong>em</strong>onstrar-se limita<strong>da</strong> para manifestar as aprendizagens e dificul<strong>da</strong>des<br />

encontra<strong>da</strong>s na Educação Física escolar.<br />

Sobre esse ponto, ao questionar-se <strong>sobre</strong> o que os professores investigados registram,<br />

depara-se com uma dificul<strong>da</strong>de de ordenação e organização dos conhecimentos que ensinam<br />

<strong>em</strong> suas <strong>aulas</strong> no momento <strong>da</strong> avaliação. Isso ocorre porque são necessárias mu<strong>da</strong>nças na<br />

prática pe<strong>da</strong>gógica como um todo <strong>em</strong> que a melhora do processo avaliativo será<br />

consequência.<br />

Vale também ressaltar a preocupação do professor S53 <strong>em</strong> ponderar dois tipos de<br />

registro: o que é feito pelo professor e o que é realizado pelo aluno. Considera-se essa ação<br />

adequa<strong>da</strong>, porque cria a possibili<strong>da</strong>de constante de reflexão por parte do professor que registra<br />

aspectos do processo de aprendizag<strong>em</strong> e dificul<strong>da</strong>de dos alunos, e permite identificar os<br />

avanços e as necessi<strong>da</strong>des <strong>em</strong> relação às metas estabeleci<strong>da</strong>s. Já com relação ao aluno, a<br />

prática do registro avaliativo t<strong>em</strong> a função de torná-lo ator e autor de sua aprendizag<strong>em</strong>.<br />

Colabora para a reflexão <strong>sobre</strong> o que aprende e o estimula a assumir a parcela que lhe cabe de<br />

responsabili<strong>da</strong>de <strong>sobre</strong> a sua aprendizag<strong>em</strong>. Para isso é preciso entender o potencial do<br />

registro avaliativo como uma prática de significação e reflexão constante <strong>sobre</strong> o que se está<br />

aprendendo (MELO, 2008; MELO; FERRAZ; NISTA-PICCOLO, 2010).<br />

Os <strong>da</strong>dos apresentados indicam aspectos considerados adequados, por condizer<strong>em</strong><br />

com a perspectiva <strong>da</strong> avaliação formativa, que é a diversificação dos instrumentos de<br />

avaliação, especialmente quando os professores apontam a observação, os trabalhos e os<br />

registros. Nota-se nesses instrumentos a ponderação <strong>da</strong>s sugestões expostas <strong>em</strong> Freire (1989),<br />

203


que preconiza uma prática avaliativa com caráter menos punitivo, uma vez que esses meios<br />

não traz<strong>em</strong> a pressão que a prova escrita geralmente impõe aos alunos.<br />

Julgam-se pertinentes as pr<strong>em</strong>issas expostas porque derrubam os mitos criados <strong>em</strong><br />

função <strong>da</strong> avaliação que gera medo, afirmando que esse processo pode ser desenvolvido de<br />

forma diferente, com caráter qualitativo e formativo, mediante a coleção de evidências <strong>sobre</strong> o<br />

crescimento do aluno como aprendiz nas <strong>aulas</strong> de Educação Física.<br />

Tal significado indica mu<strong>da</strong>nças na prática avaliativa dos professores de Educação<br />

Física, principalmente se for comparado com o processo de avaliação realizado por meio de<br />

testes tradicionais, segundo as práticas historicamente construí<strong>da</strong>s na área.<br />

Com relação aos instrumentos prova, caderno e diálogo, nota-se no primeiro<br />

instrumento a apresentação de limitados esclarecimentos <strong>sobre</strong> o tipo de prova apresentado<br />

por esse professor, como se verifica nesta resposta:<br />

Sim, através <strong>da</strong> observação, provas, trabalhos. (S18)<br />

Já na declaração de outro docente é possível verificar que o modelo de prova usado é a<br />

avaliação escrita, como pode ser visto a seguir:<br />

Sim através <strong>da</strong> observação, avaliação escrita e algumas vezes diálogo. (S34)<br />

Diante disso, levando-se <strong>em</strong> conta que não se deve rejeitar nenhum procedimento de<br />

avaliação, já que tanto a prova como as outras técnicas avaliativas são considera<strong>da</strong>s<br />

importantes para avaliar os diferentes tipos de conteúdo, assim como para propiciar a<br />

manifestação <strong>da</strong>s várias aprendizagens dos alunos, entende-se que usar a prova teórica ou<br />

prática é resultado de uma decisão refleti<strong>da</strong> a ca<strong>da</strong> momento, <strong>sobre</strong>tudo quando aplica<strong>da</strong> <strong>em</strong><br />

aula de Educação Física escolar. Esse aspecto precisa ser ressaltado, sob pena de se cair no<br />

erro de fazer uso dessa técnica tal como foi perpetua<strong>da</strong> <strong>em</strong> déca<strong>da</strong>s anteriores, ou seja,<br />

priorizando a verificação de conhecimentos teóricos m<strong>em</strong>orizados que precisavam ser<br />

reproduzidos <strong>em</strong> provas. Além <strong>da</strong>s provas teóricas aplica<strong>da</strong>s com fins de verificar a<br />

m<strong>em</strong>orização, as avaliações práticas merec<strong>em</strong> reflexão, para que se garanta não reproduzir os<br />

procedimentos do passado, que mensuravam o des<strong>em</strong>penho físico e motor dos alunos<br />

d<strong>em</strong>onstrado nas <strong>aulas</strong>, visando s<strong>em</strong>pre a selecionar os melhores <strong>da</strong> turma, enquanto os piores<br />

eram excluídos <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des esportivas competitivas.<br />

Compreende-se que o instrumento: prova de caráter prático ou teórico deve ser<br />

escolhido levando-se <strong>em</strong> conta a sua adequação <strong>em</strong> relação ao conteúdo, às estratégias de<br />

ensino e aos critérios avaliativos. Além disso, no caso <strong>da</strong> Educação Física escolar, é<br />

importante pontuar que a prova escrita é uma conquista para a área, pois é um instrumento<br />

204


que permite a sist<strong>em</strong>atização e a síntese de conteúdos conceituais e factuais aprendidos <strong>em</strong><br />

aula que acabam contribuindo com a valorização dessa dimensão do conhecimento <strong>da</strong> cultura<br />

corporal.<br />

To<strong>da</strong>via, como já foi exposto, não é adequado usar a prova (teórica ou prática) como<br />

único instrumento de avaliação no processo de ensino e aprendizag<strong>em</strong>, portanto essa técnica<br />

dev<strong>em</strong> ser usa<strong>da</strong> <strong>em</strong> <strong>aulas</strong> de Educação Física, desde que combina<strong>da</strong>s a outros instrumentos<br />

de avaliação, pois assim garante-se a apreciação dos conhecimentos <strong>em</strong> suas diferentes<br />

dimensões e <strong>em</strong> distintos momentos do programa de ensino.<br />

Essa pr<strong>em</strong>issa parece ser considera<strong>da</strong> por vários professores:<br />

205<br />

Sim. Durante o processo, através de provas (teóricas), percebendo a evolução e o<br />

interesse dos alunos. (S6)<br />

Sim, através do envolvimento dos alunos nas <strong>aulas</strong> e com questões <strong>sobre</strong> os<br />

t<strong>em</strong>as absorvidos no bimestre que são incluídos <strong>em</strong> um “simulado” realizado por<br />

todos os alunos bimestralmente. (S11)<br />

Em ativi<strong>da</strong>des práticas e <strong>em</strong> provas através <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des escritas. (S16)<br />

Sim, através de prova teórica do assunto do bimestre e a participação e vivência<br />

<strong>em</strong> to<strong>da</strong>s as <strong>aulas</strong> práticas, mais trabalhos com apresentações dos t<strong>em</strong>as<br />

vivenciados. (S23)<br />

Avalio através de trabalhos pequenos, se realizou as tarefas propostas <strong>da</strong> apostila<br />

e, às vezes, organizo uma prova circuito, de habili<strong>da</strong>des, tenho o hábito de usa o<br />

CPA (Comportamento, Participação e Atitudes). (S27)<br />

S<strong>em</strong>pre, durante todo o período <strong>da</strong> escola. Ó, faço de diversas maneiras, postura<br />

pessoal, conhecimento <strong>da</strong> matéria, responsabili<strong>da</strong>de, e através <strong>da</strong> chama<strong>da</strong> oral<br />

e prova escrita. <strong>Avaliação</strong> contínua. (S42)<br />

Sim, dependendo <strong>da</strong> forma como o conteúdo é trabalhado. Conteúdos mais práticos<br />

são avaliados pela participação (não pelo des<strong>em</strong>penho). Conteúdos mais teóricos<br />

são avaliados com provas. (S57)<br />

Avalio a participação dos alunos nas <strong>aulas</strong>, além de trabalhos e avaliações<br />

teóricas. (S59)<br />

Os sinais identificados nas respostas mostram que os docentes consideram o uso <strong>da</strong><br />

prova escrita e prática junto a outros instrumentos no processo de avaliação. Porém, há<br />

professores que difer<strong>em</strong> dessa observação, como pode ser visto a seguir:<br />

Tecnicamente (provas) e fisicamente (testes). (S13)<br />

Percebe-se que o professor S13 aponta o uso de provas, provavelmente para avaliar<br />

conteúdos teóricos, e testes para avaliar aspectos físicos e motores.<br />

No que se refere aos testes considera-se que eles pod<strong>em</strong> ser entendidos como mais um<br />

procedimento avaliativo para ser usado na prática pe<strong>da</strong>gógica dos professores <strong>da</strong> área, desde<br />

que seja levado <strong>em</strong> conta os apontamentos expostos no caso do instrumento - prova.


Já no depoimento de outro docente os indícios são apresentados <strong>da</strong> seguinte maneira:<br />

206<br />

No começo do ano, durante as <strong>aulas</strong>, durante todo o ano eu vou auxiliando-os <strong>em</strong><br />

ca<strong>da</strong> aula suas dificul<strong>da</strong>des (s<strong>em</strong>pre medindo suas evoluções) através de <strong>da</strong>dos<br />

comportamentais, avaliações verbais e teóricas, <strong>em</strong> forma de s<strong>em</strong>inários e<br />

provas escritas e orais (s<strong>em</strong>pre com intenção do aumento <strong>da</strong> aprendizag<strong>em</strong>). (S52)<br />

Esse professor mostra que considera a visão processual <strong>da</strong> avaliação e utiliza<br />

diferentes formas de avaliar os alunos, como as avaliações verbais, teóricas, s<strong>em</strong>inários,<br />

provas escritas e orais, o fato que chamou a atenção foi a última técnica avaliativa<br />

menciona<strong>da</strong> (a prova oral), já que é um procedimento criticado no meio educacional por se<br />

caracterizar com um meio que pode constranger os alunos, deixando-os inseguros para<br />

expressar as aprendizagens que construiu no decorrer do processo de ensino.<br />

Relacionando os indícios encontrados nas respostas supracita<strong>da</strong>s com os <strong>da</strong>dos<br />

apresentados <strong>em</strong> Russo (2010) que expõ<strong>em</strong> o perfil dos professores investigados, verifica-se<br />

que tais docentes, <strong>em</strong> relação à formação, concluíram a graduação na déca<strong>da</strong> de 1980. Porém,<br />

a resposta de um dos sujeitos investigados (S13) teve como enfoque a dimensão esportivo-<br />

técnica com vertente que mesclava teoria e prática, assim como realizou um curso de<br />

especialização <strong>em</strong> Esporte. Já outro professor (S52) revela que a sua formação teve vertente<br />

pe<strong>da</strong>gógica que foi compl<strong>em</strong>enta<strong>da</strong> com o curso de pós-graduação <strong>em</strong> Educação Física<br />

escolar.<br />

Mediante esses <strong>da</strong>dos encontram-se sinais que explicam as escolhas realiza<strong>da</strong>s na<br />

prática avaliativa desses professores, como, por ex<strong>em</strong>plo, a reprodução de técnicas que pod<strong>em</strong><br />

ter sido experiencia<strong>da</strong>s no processo de formação na graduação e por isso reproduzi<strong>da</strong>s na sua<br />

ação pe<strong>da</strong>gógica. Segundo Pereira (2004), as provas e os testes físicos foram instrumentos<br />

bastante utilizados na déca<strong>da</strong> de 1980, nos contextos de formação e atuação profissional, que<br />

priorizavam o ensino <strong>da</strong> execução de habili<strong>da</strong>des técnicas e capaci<strong>da</strong>des físicas, aspectos<br />

geralmente avaliados por meio de provas práticas <strong>em</strong> que os alunos precisavam apresentar um<br />

des<strong>em</strong>penho físico e técnico para obter nota. Essas observações destacam a probl<strong>em</strong>ática dos<br />

processos de formação de alguns cursos de Licenciatura, que ain<strong>da</strong> desenvolv<strong>em</strong> currículos a<br />

partir de orientações pauta<strong>da</strong>s na perspectiva tradicional esportiva. O ônus de se adotar<br />

somente esses instrumentos (provas e testes) é que acaba não valorizando a aquisição de<br />

conhecimentos de outras naturezas, específicos dos t<strong>em</strong>as <strong>da</strong> Educação Física escolar, n<strong>em</strong> é<br />

<strong>da</strong><strong>da</strong> importância à dimensão didático pe<strong>da</strong>gógica, que visa à construção de competências<br />

necessárias à atuação no contexto escolar.<br />

No estudo de Russo (2010), outro <strong>da</strong>do que chamou a atenção estava na resposta do<br />

sujeito (S52), que, por ter uma formação volta<strong>da</strong> para a área pe<strong>da</strong>gógica e haver realizado


uma especialização específica <strong>sobre</strong> o t<strong>em</strong>a Educação Física escolar, d<strong>em</strong>onstrou indícios de<br />

um processo de avaliação que se preocupava com a apreciação dos conhecimentos adquiridos<br />

pelos seus alunos. Esse sujeito diversificava as estratégias e os critérios avaliativos, porém<br />

priorizava instrumentos como provas e outros tipos de verificações, cuja finali<strong>da</strong>de é apenas<br />

aferir o conhecimento apropriado pelo aluno. A respeito desse tipo de procedimento,<br />

Escudeiro e Neira (2011, p.03) esclarec<strong>em</strong>:<br />

207<br />

Vista assim, a avaliação t<strong>em</strong> por função isolar as subjetivi<strong>da</strong>des e tornar visíveis os<br />

resultados quantitativos que expõ<strong>em</strong> o rendimento de ca<strong>da</strong> estu<strong>da</strong>nte. No seu viés<br />

classificatório a avaliação isola os sujeitos, impondo-lhes formas de raciocínio e de<br />

comportamento que privilegiam um grupo específico, qual seja, aqueles que se<br />

alinham aos quesitos exigidos.<br />

Desse modo, pod<strong>em</strong>-se perceber sinais de que esse sujeito enfrenta o dil<strong>em</strong>a entre os<br />

conhecimentos aprendidos <strong>sobre</strong> avaliação durante as experiências vivi<strong>da</strong>s no Ensino Básico<br />

(por meio de práticas avaliativas tradicionais) e aqueles construídos na graduação, que,<br />

conforme a análise de Russo (2010) parec<strong>em</strong> ter preconizado a perspectiva <strong>da</strong> formação<br />

humanista e pe<strong>da</strong>gógica.<br />

Por outro lado, percebe-se nas respostas de outros professores a preocupação <strong>em</strong><br />

combinar diferentes instrumentos de avaliação, d<strong>em</strong>onstra<strong>da</strong> nos indícios negritados a seguir:<br />

Em ativi<strong>da</strong>des práticas e <strong>em</strong> provas através <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des escritas. (S16)<br />

O t<strong>em</strong>po todo. Observação, avaliação prática (s<strong>em</strong> modelo, apenas indicações de<br />

técnica) avaliação escrita (conceitual, opiniões). (S17)<br />

Sim, através <strong>da</strong> observação, provas, trabalhos. (S18)<br />

Avalio através de trabalhos pequenos, se realizou as tarefas propostas <strong>da</strong> apostila<br />

e, às vezes, organizo uma prova circuito, de habili<strong>da</strong>des, tenho o hábito de usa o<br />

CPA (Comportamento, Participação e Atitudes). (S27)<br />

Sim através <strong>da</strong> observação, avaliação escrita e algumas vezes diálogo. (S34)<br />

No começo do ano, durante as <strong>aulas</strong>, durante todo o ano eu vou auxiliando-os <strong>em</strong><br />

ca<strong>da</strong> aula suas dificul<strong>da</strong>des (s<strong>em</strong>pre medindo suas evoluções) através de <strong>da</strong>dos<br />

comportamentais, avaliações verbais e teóricas, <strong>em</strong> forma de s<strong>em</strong>inários e provas<br />

escritas e orais (s<strong>em</strong>pre com intenção do aumento <strong>da</strong> aprendizag<strong>em</strong>). (S52)<br />

Sim, dependendo <strong>da</strong> forma como o conteúdo é trabalhado. Conteúdos mais práticos<br />

são avaliados pela participação (não pelo des<strong>em</strong>penho). Conteúdos mais teóricos são<br />

avaliados com provas. (S57)<br />

Avalio a participação dos alunos nas <strong>aulas</strong>, além de trabalhos e avaliações teóricas.<br />

(S59)<br />

Nessas repostas não se consegue verificar se os instrumentos aludidos são usados para<br />

exercer a intenção <strong>da</strong> avaliação formativa, que versa <strong>sobre</strong> a importância de utilizar diferentes


técnicas para abranger a multiplici<strong>da</strong>de de indícios de aprendizag<strong>em</strong> e dificul<strong>da</strong>des dos alunos<br />

revelados processualmente no programa de ensino (ESTEBAN, 2002, 2008).<br />

A partir dessa observação, mais uma vez evidenciam-se sinais de que os professores<br />

necessitam de conhecimentos que os capacit<strong>em</strong> compreender por que dev<strong>em</strong> diversificar os<br />

instrumentos de avaliação para que o desenvolvimento <strong>da</strong>s estratégias avaliativas não caia no<br />

erro de:<br />

208<br />

[...] na tentativa de acertar, e porque ouviram falar na diversificação de instrumentos<br />

utilizam provas de conhecimento <strong>sobre</strong> história, regras e contexto de algumas<br />

mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>des. Nesses casos, <strong>em</strong> vez de um ensino sist<strong>em</strong>atizado, voltado à integração<br />

do aluno na esfera <strong>da</strong> cultura corporal, assiste-se a uma preparação rápi<strong>da</strong> para a<br />

realização <strong>da</strong> prova, <strong>em</strong> uma aula teórica que a precede (BRASIL, 2002, p. 168).<br />

Mediante a citação exposta, nota-se que, obviamente, a prática avaliativa na Educação<br />

Física escolar não pode ficar restrita à adequação e aplicação técnico-instrumental. O estudo<br />

de Resende (1995) confirma essa pr<strong>em</strong>issa e esclarece que, acima de tudo, a avaliação nessa<br />

área de conhecimento deve ter como perspectiva “[...] contribuir para o processo de<br />

apropriação ativa e crítica de conhecimentos, habili<strong>da</strong>des e atitudes necessárias à<br />

<strong>em</strong>ancipação e auto-realização dos alunos como sujeitos críticos, autônomos, capazes de<br />

tomar decisões, resolver probl<strong>em</strong>as [...]” (ibid<strong>em</strong>, p. 7).<br />

Entende-se que para alcançar essas mu<strong>da</strong>nças na prática avaliativa é preciso, acima de<br />

tudo, buscar a modificação <strong>da</strong> intencionali<strong>da</strong>de do professor <strong>da</strong> área, volta<strong>da</strong> para a ação<br />

formadora, a qual se defende neste estudo. Requer, ain<strong>da</strong>, a ação de deixar de não só ver o<br />

coletivo, mas também focar o individual, pautar-se na multidimensionali<strong>da</strong>de do olhar e<br />

interrogar-se para favorecer as aprendizagens discentes. No âmbito <strong>da</strong> escola, a ideia central<br />

que deve motivar o processo de avaliação é a busca pela compreensão do processo de<br />

aprendizag<strong>em</strong> dos alunos, para agir de maneira a favorecer oportuni<strong>da</strong>des de aprendizagens<br />

significativas (HOFFMANN, 1993, 2004; CONDEMARÍN; MEDINA, 2002; ESTEBAN,<br />

2002, 2008; VASCONCELOS, 2003; LUCKESI, 2005).<br />

Resende (1995) ain<strong>da</strong> expõe que para alcançar essas intenções avaliativas <strong>em</strong> <strong>aulas</strong> de<br />

Educação Física é necessário definir os critérios de quali<strong>da</strong>de que se espera dos alunos. O<br />

autor compl<strong>em</strong>enta que “negar esse aspecto concreto <strong>da</strong> aprendizag<strong>em</strong> no contexto avaliativo<br />

significa cair no arbitrário” (ibid<strong>em</strong>, p. 5), que pode levar ao uso de diferentes instrumentos,<br />

variando os julgamentos construídos pelo professor apenas a partir de sua intuição ou seu<br />

estado de humor.<br />

Assim, como apontam Hadji (1994), Perrenoud (1999), Vasconcelos (2003) e Luckesi<br />

(2005), a definição dos critérios deve ser entendi<strong>da</strong> como ação fun<strong>da</strong>mental para tornar os


alunos cientes de quais são os juízos de valor considerados <strong>em</strong> ca<strong>da</strong> etapa do programa de<br />

ensino. Compreende-se que é por meio desse ato que a seleção <strong>da</strong>s técnicas avaliativas pode<br />

ser mais adequa<strong>da</strong> para verificar se os objetivos definidos estão sendo atingidos, analisando<br />

<strong>em</strong> que aspectos os alunos d<strong>em</strong>onstram dificul<strong>da</strong>des, o que pode levar se necessário, à toma<strong>da</strong><br />

de decisões <strong>sobre</strong> mu<strong>da</strong>nças na prática pe<strong>da</strong>gógica.<br />

Além disso, os autores assinalam a relevância dessa sist<strong>em</strong>atização, que pode abarcar<br />

uma função motivadora para os alunos, aju<strong>da</strong>ndo-os a trabalhar de forma mais produtiva, já<br />

que conhec<strong>em</strong> as finali<strong>da</strong>des e intencionali<strong>da</strong>des do trabalho que o professor propõe, assim<br />

como o que está sendo avaliado. Seus resultados pod<strong>em</strong> ser estu<strong>da</strong>dos juntamente com o<br />

docente, considerando-se a análise dos indícios de progressos e dificul<strong>da</strong>des <strong>em</strong> função <strong>da</strong>s<br />

suas necessi<strong>da</strong>de e possibili<strong>da</strong>des.<br />

Em outras respostas analisa<strong>da</strong>s, os professores mencionam o caderno como<br />

instrumento de avaliação <strong>da</strong> aprendizag<strong>em</strong> dos seus alunos:<br />

209<br />

Avalio meus alunos de formas diferentes, através de trabalhos, cadernos,<br />

observação e registro de situações <strong>em</strong> aula. (S21)<br />

Avalio através de trabalhos pequenos, se realizou as tarefas propostas <strong>da</strong> apostila<br />

e, às vezes, organizo uma prova circuito, de habili<strong>da</strong>des, tenho o hábito de usa o<br />

CPA (Comportamento, Participação e Atitudes). (S27)<br />

Sim, constant<strong>em</strong>ente, a partir dos t<strong>em</strong>as desenvolvidos, com registros realizados por<br />

eles e participação <strong>em</strong> trabalhos e ativi<strong>da</strong>des propostas e seu comportamento<br />

<strong>em</strong> aula, vendo o caderno etc. (S63)<br />

Por meio dos sinais encontrados nessas respostas, supõe-se que os professores estão se<br />

referindo à Proposta Curricular do Estado de São Paulo, <strong>em</strong> que o caderno do aluno faz parte<br />

do conjunto de material apostilado fornecido aos docentes e discentes <strong>da</strong> rede estadual de<br />

ensino. Recorrendo ao estudo de Russo (2010), essa suposição pode ser confirma<strong>da</strong> somente<br />

por um sujeito (S21), que aponta <strong>em</strong> seu depoimento utilizar essa proposta como conteúdo <strong>em</strong><br />

suas <strong>aulas</strong>. Porém, nas respostas dos outros dois professores, analisa<strong>da</strong>s pela mesma autora, os<br />

docentes afirmam não fazer uso desse documento.<br />

Entretanto, pode-se notar que esses sujeitos mostram coerência na maneira como<br />

defin<strong>em</strong> os conteúdos que ensinam <strong>em</strong> relação com os que são sugeridos na Proposta<br />

Curricular. Isso leva a pensar que, possivelmente, tal documento orienta suas escolhas de<br />

conteúdos e métodos de ensino, razão por que o caderno do aluno é considerado <strong>em</strong> suas<br />

respostas <strong>sobre</strong> como avaliam, apresentando o caderno como mais um meio usado para<br />

avaliar a aprendizag<strong>em</strong> dos discentes.<br />

Conforme exposto na revisão de literatura, no intuito de apoiar o trabalho realizado<br />

nas escolas e contribuir para uma melhor aprendizag<strong>em</strong>, a Secretaria <strong>da</strong> Educação do Estado


de São Paulo propôs, <strong>em</strong> 2008, um currículo básico para to<strong>da</strong>s as escolas <strong>da</strong> rede estadual de<br />

ensino. Assim, várias ações foram desencadea<strong>da</strong>s, com a finali<strong>da</strong>de de favorecer a<br />

implantação e o desenvolvimento desse currículo.<br />

Os cadernos do aluno (SEE/SP, 2008c) e do professor (SEE/SP, 2008b) foram<br />

distribuídos para cerca de 3,3 milhões de estu<strong>da</strong>ntes do 6° ao 9° ano do Ensino Fun<strong>da</strong>mental e<br />

do Ensino Médio, assim como para os professores que atuam na rede pública do estado de<br />

São Paulo. Assim, esses cadernos contêm orientações na forma de uma série de exercícios,<br />

dicas de pesquisas filmes, livros e sites, indicadores bibliográficos e de estudo. Além de<br />

compl<strong>em</strong>entar o trabalho <strong>em</strong> sala de aula, esse material oferece várias sugestões de tarefas<br />

escolares. Porém, o material ressalta que cabe ao professor orientar os estudos, esclarecer<br />

dúvi<strong>da</strong>s, retomar os conteúdos e fazer revisões, enquanto o aluno, por meio do seu caderno,<br />

t<strong>em</strong> a tarefa de ler os textos indicados e realizar os exercícios e as pesquisas propostas para<br />

ampliar os seus conhecimentos <strong>sobre</strong> os assuntos abor<strong>da</strong>dos.<br />

Em vista disso, entende-se que é importante os professores conhecer<strong>em</strong> essas<br />

ativi<strong>da</strong>des, tendo <strong>em</strong> vista seus fun<strong>da</strong>mentos, para aplicar<strong>em</strong> <strong>em</strong> suas <strong>aulas</strong> realizando, se<br />

necessário, a<strong>da</strong>ptações às turmas com que trabalham. Entende-se que essas a<strong>da</strong>ptações pod<strong>em</strong><br />

ser feitas de maneira coletiva, com a colaboração dos outros professores <strong>da</strong> área que atuam<br />

<strong>em</strong> determinado contexto escolar. Assim, as decisões pod<strong>em</strong> abarcar um caráter mais<br />

contextualiza<strong>da</strong>s com as características dos alunos e as condições materiais, espaciais e<br />

t<strong>em</strong>porais de que dispõe a instituição <strong>em</strong> que os professores atuam, além de levar <strong>em</strong> conta as<br />

considerações do projeto pe<strong>da</strong>gógico <strong>da</strong> escola.<br />

Por fim, o diálogo usado como procedimento de avaliação também foi referido poucas<br />

vezes pelos professores investigados:<br />

210<br />

O aluno é avaliado durante todo o processo, por meio de ativi<strong>da</strong>des práticas, seus<br />

registros e discussões, e no final de ca<strong>da</strong> t<strong>em</strong>a (conteúdo) proposto. (S9)<br />

Sim através <strong>da</strong> observação, avaliação escrita e algumas vezes diálogo. (S34)<br />

Sim, autoavaliação. Em to<strong>da</strong>s as ativi<strong>da</strong>des e, principalmente nas suas ativi<strong>da</strong>des e<br />

falas iniciais e com as finais. (S40)<br />

Interpretam-se como expressões limita<strong>da</strong>s de conhecimentos as respostas dos<br />

professores que apontam o uso do diálogo como instrumento de avaliação. Entende-se que<br />

promover o diálogo a respeito do que o aluno está aprendendo nas <strong>aulas</strong> de Educação Física,<br />

com a mediação do professor, colabora para o discente revelar as aprendizagens construí<strong>da</strong>s<br />

durante as <strong>aulas</strong>. É um instrumento que instiga a interação, a reflexão e a expressão de ideias,<br />

portanto é, portanto, fun<strong>da</strong>mental para a apreciação do desenvolvimento dos alunos, e esse


papel não pode ser relegado a segundo plano (ZABALA, 1994; COLL et. al., 2000;<br />

HOFFMANN, 2004, 2009).<br />

O mesmo é percebido <strong>em</strong> relação ao instrumento autoavaliação, que aparece somente<br />

na resposta de um dos sujeitos investigados. Com base nos pressupostos inseridos nos PCNs<br />

de Educação Física (BRASIL, 1997; 1998; 2002), a avaliação deve ser um dispositivo<br />

didático útil para o professor e também para o aluno. Nesse sentido, entende-se que a<br />

autoavaliação revela-se como um instrumento relevante para cumprir tal intento,<br />

especialmente na perspectiva do discente, pois aju<strong>da</strong> a toma<strong>da</strong> de consciência de suas<br />

conquistas, dificul<strong>da</strong>des e busca contínua do conhecimento.<br />

Com essas características compreende-se que não só a autoavaliação, mas também o<br />

diálogo dev<strong>em</strong> fazer parte do processo avaliativo <strong>em</strong> <strong>aulas</strong> de Educação Física, porque essas<br />

práticas oportunizam a participação do aluno na análise <strong>da</strong>s aprendizagens construí<strong>da</strong>s, levam<br />

a uma reflexão que pode sensibilizar o discente para assumir um novo comportamento no<br />

intuito de corrigir ações que possam estar dificultando sua aprendizag<strong>em</strong>. Além disso, esses<br />

instrumentos incitam à autocrítica, que é um exercício de desenvolvimento pessoal, o qual<br />

certamente contribui de maneira positiva para a melhora do aprendizado (ESTEBAN, 2002;<br />

VASCONCELOS, 2003; HOFFMANN, 2004, 2009; LUCKESI, 2005).<br />

Em síntese, mediante tais vestígios percebe-se que a mu<strong>da</strong>nça <strong>da</strong> prática avaliativa não<br />

é algo simples de ser realizado no contexto <strong>da</strong> Educação Física escolar. As ativi<strong>da</strong>des<br />

avaliativas, como as provas, os cadernos, os diálogos e a autoavaliação exig<strong>em</strong> do professor<br />

de Educação Física reflexão e prática de princípios avaliativos inscritos na proposta formativa<br />

como possibili<strong>da</strong>de de melhorar o ensino e o processo de aprendizag<strong>em</strong> discente.<br />

Além disso, é oportuna a consideração de Freire (1989), que evidencia a necessi<strong>da</strong>de<br />

<strong>da</strong> disposição do professor para interagir com o seu grupo de alunos. Essa ação é vista como<br />

necessária para que ele possa aproveitar ao máximo a avaliação, observando os variados<br />

aspectos <strong>da</strong>s aprendizagens manifesta<strong>da</strong>s e analisando com maior profundi<strong>da</strong>de as questões<br />

inerentes aos discentes e ao processo de ensino.<br />

Com relação à análise dos critérios que mais chamaram a atenção na pergunta de<br />

número 13, estão assinalados nas respostas dos professores, como pode ser visto a seguir:<br />

211<br />

Através <strong>da</strong> observação subjetiva, elaboração de trabalho, cartazes, ao longo <strong>da</strong>s<br />

<strong>aulas</strong> e no final de ca<strong>da</strong> módulo trabalhado. (S3).<br />

Sim. Durante o processo, através de provas (teóricas), percebendo a evolução e o<br />

interesse dos alunos. (S6).<br />

Sim, a observação é sist<strong>em</strong>ática e contínua. O aluno deve participar e progredir<br />

dentro do processo dinâmico de construção do conhecimento.


212<br />

Instrumento <strong>da</strong> avaliação – trabalhos, anotações <strong>sobre</strong> o interesse, participação,<br />

cooperação. O que facilita minha observação é que acompanho esses alunos desde a<br />

1ª série no des<strong>em</strong>penho individualmente de suas capaci<strong>da</strong>des físicas-motoras.<br />

Assim como o desenvolvimento <strong>da</strong> capaci<strong>da</strong>de sócio-afetiva bimestralmente.<br />

(S58).<br />

Considera-se que critérios como avaliação subjetiva, observação <strong>da</strong> evolução dos<br />

alunos e desenvolvimento <strong>da</strong> capaci<strong>da</strong>de sócio afetiva oferec<strong>em</strong> informações<br />

indetermina<strong>da</strong>s e desprovi<strong>da</strong>s de subsídios que possibilit<strong>em</strong> distinguir o que esses professores<br />

avaliam. Como consequência <strong>da</strong> formulação de critérios ou juízos de valor com caráter<br />

subjetivo, Neira (2004) alerta que o professor de Educação Física com uma concepção<br />

limita<strong>da</strong> <strong>sobre</strong> o que avalia corre o risco de julgar diferent<strong>em</strong>ente os alunos que passaram por<br />

situações s<strong>em</strong>elhantes, apresentando o mesmo resultado. O autor compl<strong>em</strong>enta sua ressalva,<br />

explicando que isso pode ocorrer por que:<br />

Na efetivação <strong>da</strong>s avaliações está presente todo um contingente de el<strong>em</strong>entos ligados<br />

à individuali<strong>da</strong>de do professor, às relações existentes entre ele e ca<strong>da</strong> um dos alunos,<br />

e às condições histórico-concretas <strong>em</strong> que se dá ca<strong>da</strong> uma dessas situações. (ibid<strong>em</strong>,<br />

p. 169).<br />

Nesse ponto compreende-se que na Educação Física escolar, por ser uma disciplina<br />

caracteriza<strong>da</strong> pelo dinamismo e que solicita avaliações diferencia<strong>da</strong>s a todo instante, não cabe<br />

mais o desenvolvimento de processos de ensino, aprendizag<strong>em</strong> e avaliação realizados s<strong>em</strong> a<br />

devi<strong>da</strong> sist<strong>em</strong>atização, desvinculados <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de diária <strong>da</strong>s <strong>aulas</strong> e <strong>da</strong> intencionali<strong>da</strong>de de:<br />

[...] colaborar para o projeto de aju<strong>da</strong>r o aluno a tomar consciência <strong>da</strong>s<br />

dificul<strong>da</strong>des que encontra, reconhecer e corrigir ele próprio seus erros. Ao mesmo<br />

t<strong>em</strong>po, esclarecer o professor/avaliador <strong>sobre</strong> os efeitos reais, <strong>em</strong> termos de<br />

aprendizag<strong>em</strong>, de sua ação de ensinar. (HADJI, 1994, p. 7, grifo meu).<br />

Partindo dessa pr<strong>em</strong>issa, tal visão de avaliação corresponde à proposta formativa que<br />

se mostra aplica<strong>da</strong> de maneira parcial na prática avaliativa dos professores investigados. Isso<br />

leva a refletir que, apesar <strong>da</strong> expressiva produção acadêmica a favor dessas ideias, publica<strong>da</strong><br />

no fim <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> de 1980 e início <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> de 1990 (FREIRE, 1989; SOARES, et. al., 1992;<br />

DARIDO, 1999), o processo de avaliação realizado pelos docentes de Educação Física escolar<br />

ain<strong>da</strong> não foi atingido de maneira significativa.<br />

Observa-se que as discussões que apontam mu<strong>da</strong>nças no processo de avaliação surg<strong>em</strong><br />

no contexto <strong>da</strong> prática pe<strong>da</strong>gógica dos professores dessa disciplina de forma superficial, não<br />

chegando a significar uma real transformação no paradigma <strong>da</strong> avaliação (PALAFOX;<br />

TERRA, 1998). Uma evidência disso é que os docentes, mesmo reconhecendo que dev<strong>em</strong><br />

avaliar de diferentes maneiras, sintetizam o processo de avaliação num único instrumento e<br />

critério: a observação <strong>da</strong> participação dos alunos <strong>em</strong> aula. Desse modo, a avaliação não é<br />

entendi<strong>da</strong> como uma possibili<strong>da</strong>de de definição do aporte de conhecimentos <strong>da</strong> Educação


Física escolar, que deve ser balizado por um processo avaliativo que dimensione a<br />

aprendizag<strong>em</strong> dos alunos (OLIVEIRA, 2009).<br />

Nota-se que os professores desconhec<strong>em</strong> os aspectos que envolv<strong>em</strong> o processo de<br />

avaliação e seus significados na prática pe<strong>da</strong>gógica, o que também acaba contribuindo para a<br />

desvalorização e redução de possibili<strong>da</strong>des didáticas nessa área de conhecimento perante a<br />

comuni<strong>da</strong>de escolar.<br />

Nesse sentido, almejam-se mu<strong>da</strong>nças de paradigma no processo de avaliação <strong>em</strong><br />

Educação Física escolar e os sinais encontrados evidenciam que é necessário o aumento de<br />

estudos que se aproxim<strong>em</strong> do diálogo com os professores que atuam nos contextos escolares.<br />

Segundo alguns autores 24 que pesquisam o cotidiano <strong>da</strong>s <strong>aulas</strong> na Educação Básica, esses<br />

estudos são os que mais apresentam resultados satisfatórios e que pod<strong>em</strong> sensibilizar e<br />

estimular os professores <strong>da</strong> área a se atualizar<strong>em</strong> com relação ao t<strong>em</strong>a avaliação.<br />

Sendo assim, conclui-se que a definição de um novo paradigma para a Educação<br />

Física escolar requer uma ampla discussão <strong>em</strong> torno <strong>da</strong> complexi<strong>da</strong>de que envolve as<br />

concepções de ensino, aprendizag<strong>em</strong> e avaliação, a fim de estimular no professor seu<br />

envolvimento reflexivo, crítico e prático para que possa repensar sua postura pe<strong>da</strong>gógica e<br />

reelaborar seu fazer profissional, <strong>em</strong> especial no que se refere à ação avaliativa, gera<strong>da</strong> por<br />

uma perspectiva mais crítico-reflexiva (SILVA, 2007).<br />

Mas a pergunta que se apresenta é como fazer isso?<br />

Entende-se que é preciso promover momentos de formação que apont<strong>em</strong> as<br />

probl<strong>em</strong>atizações acerca <strong>da</strong> prática avaliativa que dev<strong>em</strong>, portanto, envolver questões<br />

relaciona<strong>da</strong>s não somente à avaliação, mas também às concepções do professor <strong>da</strong> área acerca<br />

do processo de ensino e aprendizag<strong>em</strong>, as quais poderão ser repensa<strong>da</strong>s no sentido de<br />

propiciar:<br />

213<br />

[...] um diálogo permanente com os d<strong>em</strong>ais campos de conhecimento escolar,<br />

valorizando a reflexão crítica <strong>sobre</strong> os saberes e práticas que desenvolve.<br />

Contextualizar os fins e objetivos <strong>da</strong> avaliação, assim como os métodos e estratégias<br />

a ser<strong>em</strong> adota<strong>da</strong>s, evitando as separações e rupturas existentes entre os t<strong>em</strong>pos de<br />

ensinar/aprender e os t<strong>em</strong>pos de avaliar. Significa, também, valorizar as práticas<br />

cotidianas de professores/as e alunos/as como t<strong>em</strong>po/espaços legítimos de<br />

construção e reconstrução <strong>da</strong> cultura corporal de movimento. (LINHALES, 1999, p.<br />

36).<br />

Do mesmo modo, encontram-se nos pressupostos <strong>da</strong> avaliação formativa aponta<strong>da</strong> nos<br />

estudos de Zabala (1994), Perrenoud (1999) e Coll et. al. (2000) a necessi<strong>da</strong>de dos professores<br />

compreender<strong>em</strong> a importância de o processo avaliativo apresentar-se estreitamente conectado<br />

24 (FAZENDA, 2001; ANDRÉ, 2004).


às tarefas de ensino propostas no cotidiano <strong>da</strong>s <strong>aulas</strong> desenvolvi<strong>da</strong>s nas diferentes áreas de<br />

conhecimento escolar. Tais indicações também são observa<strong>da</strong>s nas orientações <strong>sobre</strong><br />

avaliação expostas nos documentos oficiais publicados nos PCNs de Educação Física<br />

(BRASIL, 1997; 1998; 2002) e no caderno do aluno e do professor na Proposta Curricular do<br />

Estado de São Paulo (SEE/SP, 2008b; 2008c).<br />

Compreende-se que essas pr<strong>em</strong>issas recomen<strong>da</strong>m a necessi<strong>da</strong>de de legitimar o papel<br />

<strong>da</strong> Educação Física nas instituições de Ensino Básico, enaltecendo a experimentação, o<br />

conhecimento, a probl<strong>em</strong>atização e a reconstrução de um amplo universo de t<strong>em</strong>as, conteúdos<br />

e práticas corporais impregna<strong>da</strong>s de significados socioculturais forjados pelo t<strong>em</strong>po/espaço<br />

<strong>em</strong> que se situam e que lhes confer<strong>em</strong> legitimi<strong>da</strong>de na cultura escolar (BRACHT, 1997).<br />

Assim sendo, Silva Júnior (2004) e Perez e Rincon (2005) entend<strong>em</strong> que as questões<br />

relaciona<strong>da</strong>s à prática pe<strong>da</strong>gógica na Educação Física escolar pod<strong>em</strong> melhorar, e, <strong>sobre</strong>tudo<br />

no que diz respeito à ação avaliativa, uma vez que vão requerer do professor a adoção de uma<br />

postura pe<strong>da</strong>gógica transparente e contextualiza<strong>da</strong>, de acordo com as finali<strong>da</strong>des e<br />

especifici<strong>da</strong>des dessa área, d<strong>em</strong>onstrando preocupação <strong>em</strong> introduzir o aluno nas questões<br />

relaciona<strong>da</strong>s à cultura corporal de movimentos.<br />

Dando continui<strong>da</strong>de à análise, observam-se os termos frequência <strong>em</strong> aula e presença<br />

do aluno, apontados como critérios de avaliação, conforme destacado a seguir:<br />

214<br />

Neste final de aula, outro momento infelizmente t<strong>em</strong> que constar a presença ou a<br />

falta do aluno e principalmente. (S37)<br />

Pela participação durante as <strong>aulas</strong> e frequência. (S60)<br />

Tais critérios enaltec<strong>em</strong> o sentido puramente burocrático <strong>da</strong> avaliação, pois na<strong>da</strong><br />

revelam <strong>sobre</strong> o caminho percorrido no processo de ensino e aprendizag<strong>em</strong> e pouco<br />

contribu<strong>em</strong> para indicar a melhor direção a ser segui<strong>da</strong>, isto é, não aju<strong>da</strong>m a definir estratégias<br />

para melhorar as dificul<strong>da</strong>des revela<strong>da</strong>s pelos alunos no processo de aprendizag<strong>em</strong>.<br />

Entretanto, a consideração desses critérios pode ser explica<strong>da</strong> pelas preconizações<br />

expostas na LDB 9.394/96 (BRASIL, 1996), que adota tal critério, expondo-o aos professores<br />

que atuam no Ensino Fun<strong>da</strong>mental como uma obrigatorie<strong>da</strong>de, uma determinação que precisa<br />

ser segui<strong>da</strong>. Desse modo, essa lei leva a interpretar que o ensino exige uma frequência mínima<br />

para o aprendizado, sendo legítima a reprovação pela ausência a <strong>aulas</strong> e pelo descumprimento<br />

de metas previamente estabeleci<strong>da</strong>s, como ocorre quando as notas do aluno não ating<strong>em</strong> certo<br />

percentual.<br />

Essa ponderação é entendi<strong>da</strong> como perigosa, uma vez que afirma que a frequência<br />

pode servir como el<strong>em</strong>ento de reprovação. Compreende-se que a assidui<strong>da</strong>de às <strong>aulas</strong>, por si


só, n<strong>em</strong> s<strong>em</strong>pre se traduz <strong>em</strong> um bom des<strong>em</strong>penho <strong>em</strong> termos de aprendizag<strong>em</strong>. Ela apenas<br />

afere a presença do aluno nas <strong>aulas</strong>, mas deixa de avaliar o que ele realmente aprendeu.<br />

Sendo assim, considera-se mais adequado que a frequência possa servir como<br />

el<strong>em</strong>ento de referência para a toma<strong>da</strong> de medi<strong>da</strong>s pelo professor e pela escola no sentido de<br />

detectar os probl<strong>em</strong>as que estejam dificultando a permanência do aluno nas <strong>aulas</strong> ou<br />

proporcionar novos métodos de ensino <strong>em</strong> circunstâncias específicas ou excepcionais (por<br />

ex<strong>em</strong>plo, reposição de <strong>aulas</strong>), mas não ser um meio de acerto de contas usado pelo professor<br />

no processo de avaliação do aluno.<br />

O importante na disciplina de Educação Física escolar é fazer com que o aluno<br />

apresente a capaci<strong>da</strong>de de compreender e realizar ativi<strong>da</strong>des a partir do conhecimento de suas<br />

possibili<strong>da</strong>des de movimentos, além de fazer uma leitura crítica a respeito dos conteúdos <strong>da</strong><br />

cultura corporal, buscando experimentá-los, a<strong>da</strong>ptá-los ou mesmo modificá-los para ser<strong>em</strong><br />

desfrutados <strong>em</strong> sua vi<strong>da</strong> cotidiana. Entende-se que esses pressupostos são mais relevantes<br />

para fun<strong>da</strong>mentar a construção de critérios de avaliação nessa disciplina do que a observação<br />

<strong>da</strong> frequência dos alunos <strong>em</strong> aula.<br />

Por fim, a partir dos indícios encontrados na pergunta de número 13, foi possível<br />

observar que a avaliação é compreendi<strong>da</strong> pelos professores como necessária e esse<br />

entendimento se manifesta na forma de critérios e instrumentos que justificam como<br />

proced<strong>em</strong> no ato de avaliar a aprendizag<strong>em</strong> de seus alunos. Entretanto, a análise desses<br />

el<strong>em</strong>entos revela conhecimentos insuficientes para explicar os fun<strong>da</strong>mentos dos critérios e<br />

instrumentos selecionados pelos docentes investigados no processo de avaliação <strong>da</strong><br />

aprendizag<strong>em</strong> dos alunos.<br />

Outro detalhe digno de nota são as avaliações realiza<strong>da</strong>s a partir <strong>da</strong> perspectiva do<br />

professor avaliador. Esse indício d<strong>em</strong>onstra a necessi<strong>da</strong>de de compreender a importância de<br />

essa prática ser desenvolvi<strong>da</strong> por meio de um processo que promova a interação entre<br />

professor e aluno, assim como dos alunos entre si, além de incluir a participação dos<br />

educandos como pessoas capazes de se autoavaliar (FREIRE, 1989; FREIRE; SCAGLIA,<br />

2004).<br />

Os professores também precisam atentar para a função <strong>da</strong> avaliação no que se refere a<br />

informar os alunos quanto aos aspectos avaliados e como eles serão transformados <strong>em</strong><br />

conceito, para que os discentes tenham conhecimento <strong>sobre</strong> como, por que e para que estão<br />

sendo avaliados. Tal aspecto levou a outra observação, que foi a falta de respostas <strong>sobre</strong> como<br />

os professores atribu<strong>em</strong> nota aos alunos. Talvez, porque a nota, herdeira <strong>da</strong> concepção<br />

tradicional <strong>da</strong> avaliação <strong>da</strong> aprendizag<strong>em</strong> escolar, estabeleceu-se como um símbolo que faz<br />

215


parte <strong>da</strong> ação de reduzir o rendimento do estu<strong>da</strong>nte avaliado à apreciação de determina<strong>da</strong>s<br />

formas de raciocínios e comportamentos considerados ideais, que é, geralmente, privilegia<strong>da</strong><br />

pela socie<strong>da</strong>de e cultura <strong>em</strong> que os alunos estão inseridos.<br />

Segundo a LDB 9.394/96 (BRASIL, 1996, p. 23), no Art. 26, ao tratar <strong>da</strong> Educação<br />

Física nos sist<strong>em</strong>as de ensino, estabelece 25 :<br />

216<br />

§ 3o. A Educação Física, integra<strong>da</strong> à proposta pe<strong>da</strong>gógica <strong>da</strong> escola, é componente<br />

curricular obrigatório <strong>da</strong> Educação Básica, sendo sua prática facultativa ao aluno:<br />

I – que cumpra jorna<strong>da</strong> de trabalho igual ou superior<br />

a seis horas;<br />

II – maior de trinta anos de i<strong>da</strong>de;<br />

III – que estiver prestando serviço militar inicial ou que, <strong>em</strong> situação similar, estiver<br />

obrigado à prática <strong>da</strong> educação física;<br />

IV – amparado pelo Decreto-Lei no 1.044, de 21 de outubro de 1969;<br />

V – (vetado);<br />

VI – que tenha prole.<br />

Em função de fazer parte <strong>da</strong> base comum <strong>da</strong> Educação Básica, nos níveis de Ensino<br />

Fun<strong>da</strong>mental e Médio, a disciplina Educação Física encontra a possibili<strong>da</strong>de ampara<strong>da</strong> por lei<br />

de reprovar tanto por faltas (25% no âmbito geral <strong>da</strong>s disciplinas) quanto pelo des<strong>em</strong>penho<br />

registrado <strong>em</strong> termos quantitativos (notas).<br />

A ausência de informações <strong>sobre</strong> como os professores investigados atribu<strong>em</strong> notas aos<br />

seus alunos não significa que não realiz<strong>em</strong> essa ação <strong>em</strong> determinado momento do processo<br />

de ensino e aprendizag<strong>em</strong>. Talvez a explicação para a carência dessa discussão nas repostas<br />

analisa<strong>da</strong>s esteja no que foi constatado no estudo de Mendes (2005), quando os professores<br />

investigados apresentaram certa preocupação <strong>em</strong> evitar que seus alunos experimentass<strong>em</strong><br />

práticas avaliativas vivencia<strong>da</strong>s por eles quando eram alunos no Ensino Básico.<br />

Por isso, mais uma vez, v<strong>em</strong> à tona a importância de raciocinar com os alunos <strong>sobre</strong> a<br />

responsabili<strong>da</strong>de de apreciar a aprendizag<strong>em</strong> construí<strong>da</strong> num programa de ensino. Para isso a<br />

construção de critérios avaliativos que cont<strong>em</strong>pl<strong>em</strong> o que foi ensinado parece ser uma<br />

primeira alternativa viável para propiciar a inclusão do educando nesse processo. Desse<br />

modo, é possível que o modelo rígido, seletivo e autoritário ce<strong>da</strong> lugar a uma nova proposta<br />

de avaliação, menos tradicional. É importante salientar que essa mu<strong>da</strong>nça de postura não se dá<br />

de uma hora para outra, pois para romper os paradigmas <strong>da</strong> avaliação incutidos nessa área de<br />

conhecimento exige-se disposição para reflexão a respeito do que deve ser feito para melhorar<br />

a postura e atuação docente (SOARES, et. al. 1992; DARIDO, 1999).<br />

Ou seja, as d<strong>em</strong>an<strong>da</strong>s <strong>da</strong> prática avaliativa implicam revisão do papel do professor de<br />

Educação Física escolar, deixando de lado a postura de detentor do saber e único responsável<br />

25 Re<strong>da</strong>ção <strong>da</strong><strong>da</strong> pela LDB nº 10.793, de 1/12/2003 e retoma<strong>da</strong> na LDB 9.394/96 .


pelo processo de avaliação, passando a atuar como um facilitador e mediador <strong>da</strong>s<br />

aprendizagens construí<strong>da</strong>s de forma coletiva, compartilhando a responsabili<strong>da</strong>de do processo<br />

de ensino, aprendizag<strong>em</strong> e avaliação com os alunos (VASCONCELOS, 2003; MELO, 2008).<br />

Nesse ponto defende-se que a abor<strong>da</strong>g<strong>em</strong> do assunto avaliação na Educação Física<br />

escolar, <strong>em</strong> momentos de formação continua<strong>da</strong>, deve ponderar todos os aspectos que<br />

compõ<strong>em</strong> a prática pe<strong>da</strong>gógica do professor <strong>da</strong> área, assim como preconiza Silva Júnior<br />

(2004, p. 203):<br />

217<br />

A ação pe<strong>da</strong>gógica <strong>da</strong> Educação Física, e aqui se inclu<strong>em</strong> os objetos, procedimentos<br />

e critérios de avaliação, deve, prioritariamente, através de experimentações<br />

corporais, favorecer a sist<strong>em</strong>atização de percepções, representações e conceitos<br />

el<strong>em</strong>entares, <strong>em</strong> direção a elaborações de explicações, generalizações, sínteses ca<strong>da</strong><br />

vez mais conscientes e consistentes perante uma determina<strong>da</strong> dimensão <strong>da</strong> cultura<br />

corporal.<br />

Desse modo, pode-se vislumbrar não só a mu<strong>da</strong>nça <strong>da</strong> prática avaliativa, mas também<br />

a complexi<strong>da</strong>de que permeia a prática de ensino e aprendizag<strong>em</strong> (SILVA, 1999).<br />

Nesse sentido, compreende-se que uma transformação paradigmática é requeri<strong>da</strong> para<br />

que sejam construí<strong>da</strong>s novas possibili<strong>da</strong>des avaliativas que permitam entender as<br />

singulari<strong>da</strong>des dos alunos e as necessi<strong>da</strong>des do professor, assim como a inserção dos discentes<br />

na cultura corporal de maneira crítica, reflexiva e por meio de experiências práticas, que<br />

cont<strong>em</strong>pl<strong>em</strong> a especifici<strong>da</strong>de de conhecimentos que abarcam os t<strong>em</strong>as que compõ<strong>em</strong> essa<br />

área. Desse modo, o processo avaliativo alimentado pela homogenei<strong>da</strong>de, classificação e<br />

categorização <strong>da</strong>s aprendizagens dos alunos perde totalmente o significado na dinâmica <strong>da</strong>s<br />

<strong>aulas</strong> <strong>da</strong> Educação Física escolar.<br />

avaliativa.<br />

3.3.3 Os indícios encontrados nos momentos de reflexão <strong>sobre</strong> a prática<br />

A ideia de propor aos professores momentos de reflexão foi fortaleci<strong>da</strong> no processo de<br />

construção do projeto desta pesquisa, pois havia a preocupação, <strong>da</strong> pesquisadora e <strong>da</strong><br />

orientadora deste estudo, com o distanciamento dos sujeitos investigados a respeito <strong>da</strong> prática<br />

avaliativa que seria evidenciado nas respostas <strong>da</strong><strong>da</strong>s ao questionário. Sendo assim, a intenção<br />

de oferecer esses momentos foi para produzir densi<strong>da</strong>de à análise dos <strong>da</strong>dos expostos neste<br />

estudo <strong>sobre</strong> o processo de avaliação realizado nas <strong>aulas</strong> de Educação Física escolar.<br />

Ou seja, tal finali<strong>da</strong>de foi endossa<strong>da</strong> pelo desejo de, mais do que diagnosticar as<br />

questões <strong>sobre</strong> a prática avaliativa, analisa<strong>da</strong>s à luz <strong>da</strong> revisão de literaturas pertinentes ao<br />

t<strong>em</strong>a, buscou-se uma aproximação com esses docentes por meio do diálogo, para aquecer a


frieza <strong>da</strong> análise dos <strong>da</strong>dos obtidos a partir <strong>da</strong>s respostas, que, por si só, não garantiam a<br />

probl<strong>em</strong>atização <strong>da</strong> prática avaliativa com os mesmos.<br />

Partindo desse anseio, to<strong>da</strong> a organização <strong>da</strong> proposta dos encontros com os<br />

professores foi estrutura<strong>da</strong> tendo como ponto de parti<strong>da</strong> realizar a devolutiva junto ao grupo<br />

de docentes, compartilhando com eles os resultados <strong>da</strong> análise <strong>da</strong>s respostas <strong>sobre</strong> a prática<br />

avaliativa. Na sequência, buscou-se dialogar com os docentes a respeito <strong>da</strong> avaliação, tendo<br />

como fim despertar a curiosi<strong>da</strong>de, a dúvi<strong>da</strong>, a pergunta, a investigação e a criação de um<br />

ambiente <strong>em</strong> que, como estabelece Paulo Freire (1996), além de ensinar, a pesquisadora<br />

aprenderia, e o professor participante, além de aprender, ensinaria.<br />

Nesse sentido, não se teve o intento de somente atualizar os professores acerca de<br />

conhecimentos <strong>sobre</strong> avaliação, mas sim instigá-los a expor suas dúvi<strong>da</strong>s e anseios <strong>sobre</strong> a<br />

própria prática avaliativa, por meio <strong>da</strong> criação de um espaço de discussão e reflexão que<br />

fizesse com que se sentiss<strong>em</strong> sujeitos <strong>da</strong>queles momentos, e não objetos <strong>da</strong> formação<br />

propicia<strong>da</strong>. Assim, o enfoque dos momentos de reflexão foi trabalhar com os professores e<br />

não a respeito deles.<br />

Portanto, a proposta dos encontros se sustentou na ideia de “refletir e compartilhar<br />

com os professores as condutas educativas, as realiza<strong>da</strong>s e as deseja<strong>da</strong>s, para motivar o<br />

desenvolvimento de novas condutas” (IMBERNÓN, 2010, p. 111). Para isso, buscou-se a<br />

reflexão <strong>sobre</strong> as possibili<strong>da</strong>des de avaliar a aprendizag<strong>em</strong> dos alunos no cotidiano <strong>da</strong>s <strong>aulas</strong>,<br />

tomando como base a experiência docente, as características do contexto escolar e as<br />

pr<strong>em</strong>issas teóricas <strong>sobre</strong> o t<strong>em</strong>a avaliação <strong>da</strong> aprendizag<strong>em</strong> publica<strong>da</strong>s no âmbito <strong>da</strong><br />

Educação e <strong>da</strong> Educação Física escolar.<br />

A transcrição desses momentos mostrou os diálogos realizados nos três encontros de<br />

reflexão (ANEXO V) com os professores, isso expôs o esforço de entender novos aspectos<br />

adentrando nos discursos dos docentes investigados e não somente atuou-se como uma<br />

pequisadora que analisou os <strong>da</strong>dos de fora. A interpretação dos <strong>da</strong>dos também se baseou na<br />

proposta do Paradigma Indiciário, que buscou nos discursos dos sujeitos as pistas que, aos<br />

olhos <strong>da</strong> pesquisadora, permitiriam decifrar e compreender os fatos cotidianos que levaram à<br />

exposição de dificul<strong>da</strong>des para avaliar e às reflexões <strong>sobre</strong> possibili<strong>da</strong>des de melhorar a<br />

prática avaliativa nas <strong>aulas</strong> de Educação Física dos sujeitos investigados.<br />

Sendo assim, mediante os indícios revelados na transcrição, algumas t<strong>em</strong>áticas se<br />

destacaram, e estão expostas nos próximos parágrafos, segui<strong>da</strong>s <strong>da</strong> interpretação basea<strong>da</strong> na<br />

literatura pertinente. É certo que outros sinais poderiam ser analisados, contudo optou-se por<br />

218


enfatizar apenas aqueles que foram considerados mais representativos para a pesquisadora,<br />

abarcando o conjunto de verbalizações e os objetivos deste trabalho.<br />

Os professores, ao ser<strong>em</strong> solicitados, logo no início do primeiro encontro, a responder<br />

às mesmas perguntas <strong>sobre</strong> a prática avaliativa inseri<strong>da</strong>s no questionário construído e aplicado<br />

pelo GEPEFE <strong>em</strong> 2009, assinalaram indícios similares e outros sinais que se diferenciaram do<br />

que foi revelado na análise anterior <strong>sobre</strong> essas mesmas questões. Com relação à pergunta<br />

“Como você identifica que o objetivo de sua aula foi atingido?”, os professores revelaram<br />

atentar para as respostas dos alunos que mostram entendimentos <strong>sobre</strong> o que foi proposto na<br />

aula. Além disso, apontaram considerar a participação <strong>em</strong> aula como outro indicador<br />

relevante para verificar se foi ou não atingido os objetivos, como pode ser visto a seguir:<br />

219<br />

Quando o aluno não só faz a ativi<strong>da</strong>de realiza<strong>da</strong>, mas também entende o objetivo<br />

do que foi proposto. (Professor 2)<br />

A partir do momento <strong>em</strong> que o aluno consiga responder, por ex<strong>em</strong>plo, ou durante a<br />

dinâmica <strong>da</strong> aula, as questões ou situações propostas do dia. Ex.: laterali<strong>da</strong>de – o<br />

aluno saber responder como descer do tr<strong>em</strong> do metrô quando o condutor diz:<br />

“Des<strong>em</strong>barque pelo lado esquerdo do tr<strong>em</strong>”. Ele sabendo já identifico como<br />

conhecimento adquirido. (Professor 5)<br />

Quando consigo fazer com que todos ou a maioria participe efetivamente <strong>da</strong> aula.<br />

(Professor 6)<br />

Quando vejo que a grande maioria <strong>da</strong> turma realizou o desenvolvimento, onde meus<br />

alunos realizam diversas formas de movimentos desde o mais simples ao mais<br />

complexo e no término <strong>da</strong> aula avalio o olhar de satisfação e motivação de muitos<br />

alunos. (Professor 7)<br />

Quando o aluno modifica o seu comportamento, incorporando no dia a dia.<br />

(Professor 4)<br />

Encontrou-se nessas respostas outros indícios de que os professores expõ<strong>em</strong> o uso <strong>da</strong><br />

técnica <strong>da</strong> observação para apreciar as ativi<strong>da</strong>des realiza<strong>da</strong>s e perceber se todos ou a<br />

maioria participam <strong>da</strong>s <strong>aulas</strong>. Pressupõe-se também que o mesmo instrumento é usado para<br />

verificar o entendimento do aluno <strong>sobre</strong> o que aprendeu a respeito <strong>da</strong>s diversas formas de<br />

movimentos, <strong>da</strong> expressão <strong>da</strong> satisfação e motivação, além <strong>da</strong> modificação do<br />

comportamento dos alunos. Esses vestígios sinalizaram que não houve alterações nas<br />

concepções dos docentes <strong>sobre</strong> o binômio objetivo/avaliação, com relação ao que foi<br />

encontrado nas respostas forneci<strong>da</strong>s no questionário aplicado <strong>em</strong> 2009, pois deparou-se com<br />

os mesmos vestígios na análise anterior.<br />

Apenas uma resposta diferiu desses sinais:<br />

Eu procuro dominar o conteúdo que vou ensinar para saber usar a forma de<br />

avaliação que ajude a ver se o objetivo foi cumprido. (Professor 3)


Observou-se que o Professor 3 apresentou <strong>em</strong> sua resposta a preocupação com um<br />

aspecto relevante para a construção de uma boa prática avaliativa, que se refere saber o que<br />

ensina, ter clareza dos objetivos planejados para possibilitar melhores escolhas <strong>sobre</strong> os<br />

critérios e instrumentos de avaliação, estabelecendo coerência com o conteúdo e as estratégias<br />

de ensino (ZABALA, 1994; PERRENOUD, 1999; BRASIL, 1997, 1998, 2002; COLL et. al.,<br />

2000). Dessa maneira, observou-se que esse professor d<strong>em</strong>onstrou um bom entendimento<br />

<strong>sobre</strong> a função que a avaliação deve ter <strong>em</strong> suas <strong>aulas</strong>.<br />

Na segun<strong>da</strong> pergunta, “Você avalia seus alunos? De que forma o faz? Quando você<br />

avalia?”, os indícios revelados foram negritados nas respostas a seguir:<br />

220<br />

Sim, as avaliações são periódicas de acordo com an<strong>da</strong>mento do conteúdo, mas<br />

também atrela<strong>da</strong>s ao fechamento do bimestre. As avaliações são teóricas, por<br />

participação nas <strong>aulas</strong>, por „desenvoltura‟ no fazer e não pelo movimento<br />

técnico. (Professor 1)<br />

Sim, avalio meus alunos através de provas, participação nas <strong>aulas</strong> práticas e<br />

trabalhos realizados <strong>em</strong> grupos, isso com o Ensino Médio. No ciclo I avalio<br />

somente através <strong>da</strong> observação dos alunos durante as <strong>aulas</strong> e re<strong>da</strong>ções realiza<strong>da</strong>s<br />

pelos mesmos. As provas e as re<strong>da</strong>ções são feitas ao final de ca<strong>da</strong> bimestre.<br />

(Professor 2)<br />

Sim, de maneira contínua, no processo, vendo o ser humano holisticamente, por<br />

meio de diferentes instrumentos. (Professor 3)<br />

Sim, continuamente (nas <strong>aulas</strong> no dia a dia). (Professor 4)<br />

Sim, há avaliação escrita, através de perguntas de textos já apresentados.<br />

Criação de exercícios ou jogos utilizando materiais e movimentos ligados à<br />

ativi<strong>da</strong>de física. Também é avaliado o aproveitamento dos alunos, desde a<br />

disciplina <strong>em</strong> quadra, cui<strong>da</strong>do com os materiais <strong>da</strong> escola, e interesse, no<br />

conteúdo e técnicas de ca<strong>da</strong> mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>de ou gesto de movimentos, além de<br />

pesquisas simples <strong>sobre</strong> determinados t<strong>em</strong>as. (Professor 5)<br />

Sim avalio a participação e o progresso de ca<strong>da</strong> aluno, às vezes pedindo trabalho,<br />

provas práticas e teóricas. A avaliação é realiza<strong>da</strong> por bimestre. (Professor 6)<br />

Procuro avaliar meus alunos de maneira atitudinal onde através de diversos<br />

estímulos práticos eu vejo as atitudes de meus alunos durante as <strong>aulas</strong> práticas.<br />

Acredito que partindo de uma avaliação atitudinal aos poucos pod<strong>em</strong>os desenvolver<br />

uma avaliação mais geral. Por ex<strong>em</strong>plo, utilizando jogos a<strong>da</strong>ptados para<br />

determina<strong>da</strong>s turmas, procuro avaliar durante to<strong>da</strong>s as minhas <strong>aulas</strong>, não<br />

determinando uma <strong>da</strong>ta precisa, mas através de observações ali vivencia<strong>da</strong>s, tento<br />

compará-las com outras <strong>aulas</strong> chegando a um resultado diferenciado. (Professor 7)<br />

Sim, individualmente e respeitando a capaci<strong>da</strong>de e comprometimento de ca<strong>da</strong><br />

aluno. A avaliação é constante. (Professor 8)<br />

Nota-se que a maioria dos professores apontou avaliar el<strong>em</strong>entos do conteúdo<br />

atitudinal situados somente no âmbito <strong>da</strong> apreciação de comportamentos considerados<br />

adequados para ser<strong>em</strong> mostrados nas <strong>aulas</strong>, como a participação, disciplina, cui<strong>da</strong>do com os<br />

materiais, interesse, de maneira atitudinal, comprometimento. Os professores também


evidenciaram a preocupação com a avaliação contínua e processual, aplicando diferentes<br />

instrumentos: observação, prova escrita e prática, trabalhos, re<strong>da</strong>ções, pesquisas. Tais<br />

critérios e instrumentos também foram destacados na análise anterior, portanto não cabe<br />

repetir as apreciações <strong>sobre</strong> os mesmos indicíos neste momento <strong>da</strong> pesquisa.<br />

Ao mesmo t<strong>em</strong>po, observou-se que, além <strong>da</strong> forte presença de critérios pautados na<br />

apreciação de comportamentos e condutas dos alunos, os professores expuseram que realizam<br />

a apreciação <strong>da</strong> execução do movimento, como pode ser visto nos indícios por<br />

“desenvoltura” no fazer e não pelo movimento técnico e técnicas de ca<strong>da</strong> mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>de.<br />

Notaram-se nesses dois enfoques diferentes critérios: um que diz priorizar a observação<br />

motora, mas s<strong>em</strong> a preocupação com a execução <strong>da</strong> técnica perfeita, e o outro que aprecia a<br />

técnica do movimento ensinado. Considera-se que as técnicas de movimentos contidos nos<br />

conteúdos <strong>da</strong> cultura corporal dev<strong>em</strong> ser reconheci<strong>da</strong>s como conhecimentos a ser<strong>em</strong><br />

ensinados nas <strong>aulas</strong> de Educação Física escolar porque facilitam a execução de determinados<br />

movimentos visando à segurança, à estética ou o sucesso na execução de determina<strong>da</strong><br />

habili<strong>da</strong>de motora. Fornec<strong>em</strong> uma identi<strong>da</strong>de que pode ser entendi<strong>da</strong> como “universal” a<br />

determinados movimentos dos esportes, <strong>da</strong>s <strong>da</strong>nças, ginásticas e lutas. No entanto,<br />

considerou-se relevante ponderar que esses conteúdos não dev<strong>em</strong> ser tratados como mais<br />

importantes na aula, mas isso não significa desconsiderá-los do processo de ensino e<br />

avaliação, como sinaliza a resposta do Professor 1.<br />

Um último indício que chamou a atenção <strong>em</strong> uma <strong>da</strong>s respostas foi produzido pelo<br />

Professor 5, que apontou considerar no processo de avaliação a criação de exercícios ou<br />

jogos utilizando materiais e movimentos. Mediante esses indícios foi possível perceber que<br />

esse docente leva <strong>em</strong> consideração a observação <strong>da</strong> execução de movimentos durante o<br />

processo de criação do aluno. Interpretou-se esse critério como adequado, pois possibilita a<br />

apreciação <strong>da</strong> experimentação, criação de possibili<strong>da</strong>des, a<strong>da</strong>ptações e, até mesmo, alterações<br />

de práticas corporais, propiciando a ressignificação <strong>da</strong> gestuali<strong>da</strong>de pelos aluno. Apontou,<br />

portanto, a intenção do professor de oferecer uma educação mais significativa para os alunos<br />

nas <strong>aulas</strong> de Educação Física escolar (NEIRA, 2009).<br />

Em linhas gerais, o fato dessa son<strong>da</strong>g<strong>em</strong> mostrar sinais s<strong>em</strong>elhantes aos encontrados<br />

na análise anterior, assinalou que os professores participantes nos momentos de reflexão não<br />

avançaram <strong>em</strong> suas concepções <strong>sobre</strong> a avaliação. Considerou-se que esses sinais firmaram,<br />

ain<strong>da</strong> mais, a necessi<strong>da</strong>de dos encontros para refletir <strong>sobre</strong> a prática avaliativa. A transcrição<br />

dos discursos dos sujeitos (ANEXO V) durante os encontros apresentou outros sinais que<br />

colaboraram para a construção de t<strong>em</strong>áticas que apontaram mais aspectos <strong>sobre</strong> o processo de<br />

221


avaliação realizado pelos professores investigados, assim como discussões que d<strong>em</strong>onstraram<br />

motivar o desenvolvimento de novas condutas avaliativas.<br />

As situações probl<strong>em</strong>áticas identifica<strong>da</strong>s pelo grupo de professores:<br />

a) A vivência de práticas avaliativas inadequa<strong>da</strong>s no processo de formação<br />

Esse indício foi identificado com a observação realiza<strong>da</strong> pelo Professor 6, que, após a<br />

apresentação <strong>da</strong> análise <strong>da</strong>s respostas a respeito <strong>da</strong> prática avaliativa dos docentes de<br />

Educação Física <strong>da</strong> Diretoria de Ensino Centro-Sul/SP, relacionou os probl<strong>em</strong>as <strong>sobre</strong> a<br />

avaliação com as vivências obti<strong>da</strong>s durante o processo de formação, as quais foram<br />

entendi<strong>da</strong>s como possíveis motivos para as dificul<strong>da</strong>des <strong>em</strong> avaliar adequa<strong>da</strong>mente as<br />

aprendizagens discentes. Tal consideração pode ser vista na citação a seguir:<br />

222<br />

Eu concordo com tudo que você colocou, é legal ver que a gente já faz coisas legais<br />

na avaliação, mas acho que a gente ain<strong>da</strong> t<strong>em</strong> alguns probl<strong>em</strong>as na nossa prática<br />

porque a gente avalia do jeito que fomos avaliados. (Professor 6)<br />

Essa reflexão levou a pesquisadora a in<strong>da</strong>gar os professores a respeito <strong>da</strong> forma como<br />

foram avaliados. As respostas trouxeram as m<strong>em</strong>órias dos docentes <strong>sobre</strong> o processo de<br />

avaliação que vivenciaram durante a formação na Educação Básica e no Educação Superior,<br />

como pode ser visto a seguir:<br />

Ah, e assim, a avaliação, quando eu estudei nas <strong>aulas</strong> de Educação Física, eu<br />

acho que era péssimo, porque naquela época não tinha na<strong>da</strong> de teoria. E assim,<br />

minha professora só <strong>da</strong>va praticamente ativi<strong>da</strong>de física de condicionamento físico, e<br />

no dia <strong>da</strong> prova a gente tinha que fazer não sei quantos mil abdominais, não sei<br />

quantas flexões, éramos avaliados pelo número de vezes que conseguia fazer.<br />

(Professor 1)<br />

O que eu vejo é que eu não sei avaliar, a minha formação não me ensinou a<br />

avaliar, por isso acho que falta conhecimento <strong>sobre</strong> isso para melhorar essa prática<br />

nas minhas <strong>aulas</strong>. (Professor 2)<br />

É eu também tive esse tipo de prova, principalmente, na facul<strong>da</strong>de. Tinha<br />

professores que eram muito sist<strong>em</strong>áticos na forma de avaliar. Na natação estava<br />

um frio congelante, a ponto de algum aluno ter hipotermia, mas ele não queria<br />

saber, <strong>da</strong>va prova mesmo assim. Não eram todos os professores assim, mas posso<br />

dizer que a maioria avaliava assim. (Professor 7)<br />

Notou-se nos trechos negritados que as recor<strong>da</strong>ções <strong>sobre</strong> a maneira como os<br />

participantes foram avaliados desencadeou questionamentos e críticas <strong>sobre</strong> as práticas<br />

avaliativas que eles consideram inadequa<strong>da</strong>s. Também apontaram que essas experiências<br />

pod<strong>em</strong> ser vistas como possíveis motivos <strong>da</strong>s dificul<strong>da</strong>des que enfrentam para avaliar seus<br />

alunos no cotidiano de suas <strong>aulas</strong>, como se pode verificar nos vestígios recortados de seus<br />

próprios discursos: no dia <strong>da</strong> prova éramos avaliados pelo número de vezes que


conseguíamos fazer; na facul<strong>da</strong>de estava um frio congelante, a ponto de algum aluno ter<br />

hipotermia, mas ele [o professor] não queria saber, <strong>da</strong>va prova mesmo assim; eu não sei<br />

avaliar, a minha formação não me ensinou a avaliar.<br />

Esses sinais corroboram m<strong>em</strong>órias <strong>sobre</strong> as experiências avaliativas evidenciando um<br />

esqu<strong>em</strong>a tradicional, realizado no contexto de formação por meio de atitudes repressoras e<br />

classificatórias, também revelam a preocupação dos professores com a falta de consistência<br />

teórica <strong>sobre</strong> o assunto recebi<strong>da</strong> na universi<strong>da</strong>de, que, na opinião dos participantes 2 e 7,<br />

compromete a concretização de uma prática avaliativa adequa<strong>da</strong> na escola.<br />

Desse modo, percebeu-se que a exposição <strong>da</strong>s experiências ti<strong>da</strong>s com a avaliação<br />

enquanto discente apontou a necessi<strong>da</strong>de de estar atento ao que vivenciou para não cometer os<br />

mesmos erros com seus alunos, assim como sinalizou a importância do olhar <strong>sobre</strong> essas<br />

experiências avaliativas inadequa<strong>da</strong>s para criar alternativas que transform<strong>em</strong> as heranças <strong>da</strong><br />

avaliação tradicional vivi<strong>da</strong>s no processo de formação.<br />

Na revisão <strong>sobre</strong> os artigos que tratam <strong>da</strong> prática avaliativa dos professores de<br />

Educação Física escolar, encontraram-se vários autores 26 que criticam a formação inicial do<br />

docente <strong>da</strong> área <strong>em</strong> termos de avaliação e expõ<strong>em</strong> a necessi<strong>da</strong>de dos cursos de Licenciatura<br />

melhorar<strong>em</strong> o processo de ensino e aprendizag<strong>em</strong> dos graduandos acerca <strong>da</strong> ação de avaliar,<br />

tendo como foco elevar sua compreensão <strong>sobre</strong> a função <strong>da</strong> avaliação nessa área de<br />

conhecimento escolar, assim como propiciar práticas que estabeleçam relações com a<br />

reali<strong>da</strong>de escolar para que os licenciandos saiam desse nível de ensino com conhecimentos<br />

suficientes para apreciar o ensino proposto e as aprendizagens de seus alunos de maneira<br />

coerente.<br />

Além disso, Imbernón (2010) assinala que é preciso considerar que a capaci<strong>da</strong>de<br />

profissional dos professores não termina na formação inicial, mas alcança o terreno prático e<br />

as concepções pelas quais se estabelece a sua ação pe<strong>da</strong>gógica. Por isso, o autor entende que é<br />

importante na construção de propostas de formação continua<strong>da</strong> tomar cui<strong>da</strong>do com práticas<br />

transmissoras e uniformes, que priorizam a teoria descontextualiza<strong>da</strong>, váli<strong>da</strong> para todos os<br />

participantes s<strong>em</strong> diferenciação, distante dos probl<strong>em</strong>as práticos e reais <strong>da</strong> escola e<br />

fun<strong>da</strong>mentados <strong>em</strong> um educador ideal (que não existe). Pautando-se no autor, a formação<br />

continua<strong>da</strong> deve auxiliar o docente:<br />

223<br />

[...] a refletir <strong>sobre</strong> situações práticas, incluindo-se, nesse processo, o debate <strong>sobre</strong> o<br />

valor ético <strong>da</strong>s atuações, [...], analisando-se, para isso, o sentido <strong>da</strong> educação e<br />

26 SANTOS; GONÇALVES, 1996; RAMOS, 1999; SILVA, 1999; RODRIGUES, 2003; BRATIFISCHE, 2003;<br />

SILVA JÚNIOR, 2004; MENDES et. al., 2007; DINIZ; AMARAL, 2009; OLIVEIRA, 2009; SILVA;<br />

BANKOFF, 2010, MELO, FERRAZ e NISTA-PICCOLO, 2010.


224<br />

submetendo-o à revisão crítica [<strong>sobre</strong> o processo de ensino] (IMBERNÓN, 2010,<br />

p. 95, grifo meu).<br />

A seguir, observou-se que os diálogos com os professores mostraram outros indícios<br />

que vão ao encontro <strong>da</strong> identificação de situações probl<strong>em</strong>áticas identifica<strong>da</strong>s no contexto<br />

escolar.<br />

b) As limitações que os professores enfrentam no contexto escolar<br />

Essa t<strong>em</strong>atização refere-se às verbalizações que apontaram entraves para realizar uma<br />

prática avaliativa coerente e efetiva no cotidiano <strong>da</strong>s <strong>aulas</strong> de Educação Física dos<br />

participantes investigados nesta parte <strong>da</strong> pesquisa, como, por ex<strong>em</strong>plo, a falta de interesse e<br />

a resistência dos alunos dos últimos anos do Ensino Fun<strong>da</strong>mental e Médio. Além disso,<br />

assinalam a insuficiente valorização <strong>da</strong> Educação Física no âmbito escolar e a falta de<br />

t<strong>em</strong>po para planejar a prática avaliativa. Com relação aos alunos, os discursos selecionados<br />

apresentaram os seguintes indícios negritados:<br />

[...] Também acho difícil avaliar <strong>da</strong>ndo conta de um processo de avaliação mais<br />

d<strong>em</strong>ocrático, mais humano, vendo o ser humano holisticamente, porque você não<br />

encontra uma valorização por parte do aluno desse tipo de avaliação. (Professor<br />

3)<br />

Mas acontece que como a socie<strong>da</strong>de está se formando, desse jeito, você não<br />

consegue esse processo com os alunos. Eles não estão n<strong>em</strong> aí. De um universo de<br />

10 salas de aula você t<strong>em</strong> meia dúzia que está a fim. Eles não estão a fim de na<strong>da</strong>.<br />

É muito triste. Até a quarta série têm-se alunos um pouco interessados, na quinta<br />

<strong>em</strong> diante aí o negócio dá um declínio. (Professor 1)<br />

Eu também vejo uma série de probl<strong>em</strong>as para usar essas estratégias de avaliação na<br />

minha aula, os alunos são acostumados a dizer que não vão fazer as ativi<strong>da</strong>des, e<br />

eu não vou bater de frente. (Professor 5)<br />

[...] agora, você vê que eles não respeitam, não estão interessados, e você tenta<br />

ensinar e avaliar o básico do básico eles não sab<strong>em</strong>, eles d<strong>em</strong>onstram não ter<br />

competência nenhuma, não se desenvolv<strong>em</strong>, não consegu<strong>em</strong> pensar, eles não<br />

estão raciocinando. (Professor 1)<br />

Outra coisa que percebo é o desligamento deles. Eu percebi que cometi um engano<br />

e eu fiquei inconforma<strong>da</strong> com o erro <strong>da</strong>s alunas, eu fui distribuir as provas e elas<br />

tinham a mesma formatação <strong>da</strong> prova <strong>da</strong> quinta e <strong>da</strong> sexta série. A quinta série<br />

estava aprendendo o futsal e a sexta série o basquete. Na hora que eu entreguei as<br />

provas os meninos ain<strong>da</strong> fizeram perguntas, respondi e eu entreguei as provas, mas<br />

faltaram duas provas e eu acabei e entregando a <strong>da</strong> sexta série que era <strong>sobre</strong><br />

basquete, totalmente diferente <strong>da</strong> prova <strong>da</strong> 5o série. Uma <strong>da</strong>s meninas eu acho<br />

que ela era meio ler<strong>da</strong> mesmo. Agora a outra é uma menina que sabe as coisas,<br />

ela me respondeu a pergunta to<strong>da</strong> <strong>sobre</strong> um conteúdo que não tinha sido<br />

trabalhado – o basquete – e não se tocou [...]. Eu fiquei inconforma<strong>da</strong>. (Professor<br />

1)<br />

Notou-se nos vestígios encontrados a escassez de conhecimentos <strong>sobre</strong> as<br />

características e as formas de atuar com adolescentes, que, provavelmente, ocorre devido às


limitações do processo de formação profissional, cujas noções <strong>sobre</strong> escolarização, educação<br />

e adolescência pod<strong>em</strong> ter sido trabalhados de forma insuficientes para melhorar a<br />

contextualização e avaliação <strong>da</strong> própria prática. Identificam-se vestígios nos discursos dos<br />

sujeitos que revelam poucos subsídios teóricos, situação decorrente <strong>da</strong> inexistência de<br />

material didático para o ensino e avaliação no contexto <strong>da</strong> Educação Física, especificamente,<br />

nos últimos anos do Ensino Fun<strong>da</strong>mental e Ensino Médio. Esse probl<strong>em</strong>a se confirmou na<br />

análise <strong>da</strong> produção científica <strong>da</strong> área <strong>sobre</strong> a prática avaliativa, exposta no capítulo <strong>sobre</strong> o<br />

t<strong>em</strong>a na área.<br />

As questões levanta<strong>da</strong>s pelos docentes <strong>sobre</strong> a falta de interesse e valorização dos<br />

alunos nas <strong>aulas</strong> de Educação Física, assim como as prováveis explicações <strong>sobre</strong> a<br />

identificação dos probl<strong>em</strong>as apontados suger<strong>em</strong> alguns desafios que precisam ser alcançados<br />

no processo de formação continua<strong>da</strong> docente que atuam com tais séries:<br />

primeiramente, é preciso partir do princípio de que entender a forma de pensar e agir<br />

<strong>da</strong>s turmas compostas por alunos adolescentes é a chave para obter um bom<br />

aprendizado (STRAUCH, 2003);<br />

para qu<strong>em</strong> trabalha com adolescentes é importante não tomar como pessoal qualquer<br />

tipo de afronta vin<strong>da</strong> de um aluno. Responder a uma provocação no mesmo tom só faz<br />

o professor perder o respeito e a admiração do grupo, o que dificulta o trabalho <strong>em</strong><br />

classe (ibid<strong>em</strong>);<br />

os alunos também precisam ter voz, por isso é importante promover o diálogo com as<br />

culturas juvenis, assumindo-se como um espaço público e cultural significativo<br />

(NEIRA, 2007);<br />

as manifestações de produção de cultura pelos jovens dev<strong>em</strong> ser reconheci<strong>da</strong>s e<br />

trabalha<strong>da</strong>s na escola, pois isso aju<strong>da</strong> a manter o interesse e facilita a aprendizag<strong>em</strong><br />

(ibid<strong>em</strong>);<br />

é preciso levar <strong>em</strong> conta que a melhora <strong>da</strong> autonomia do adolescente na sua relação<br />

com o conhecimento não se dá naturalmente. Ao mesmo t<strong>em</strong>po, esse processo não<br />

será conseguido por meio de mera alternância entre momentos <strong>em</strong> que os alunos<br />

faz<strong>em</strong> o que quer<strong>em</strong> e momentos <strong>em</strong> que faz<strong>em</strong> o que o professor man<strong>da</strong>, mas sim <strong>da</strong><br />

atribuição de responsabili<strong>da</strong>des que possam ser exerci<strong>da</strong>s de forma produtiva<br />

(CORREIA, 2009). Isso significa que o aluno adolescente precisa ter claro qual é o<br />

papel dele e do professor, deve sentir que a escola satisfaz suas expectativas, como<br />

225<br />

também precisa encontrar no contexto escolar um local para expressar seus


pensamentos e descobrir suas aptidões, para que o nível de ansie<strong>da</strong>de e a agressivi<strong>da</strong>de<br />

diminuam.<br />

Esses pressupostos levam a refletir que as <strong>aulas</strong> de Educação Física dev<strong>em</strong> buscar<br />

envolver os alunos nas ativi<strong>da</strong>des, não pelos mecanismos <strong>da</strong> coerção, mas por meio <strong>da</strong><br />

promoção de situações de comunicação e interação com os adolescentes.<br />

Tais necessi<strong>da</strong>des permitiram inferir que uma reflexão sist<strong>em</strong>ática e continua<strong>da</strong> com<br />

os professores investigados pode ser o caminho para promover a dimensão formadora <strong>da</strong><br />

prática e ajudá-los a refletir <strong>sobre</strong> possibili<strong>da</strong>de de alterar o sentido de determina<strong>da</strong>s ações<br />

pe<strong>da</strong>gógicas, visando recompor o equilíbrio entre os esqu<strong>em</strong>as práticos predominantes e os<br />

esqu<strong>em</strong>as teóricos <strong>sobre</strong> o processo de ensino, aprendizag<strong>em</strong> e avaliação de alunos na fase <strong>da</strong><br />

adolescência. Esses aspectos são defendidos por Imbernón (2010, p. 56) como possibili<strong>da</strong>des<br />

promissoras para que “se estabeleça um processo contínuo de modificação e introdução de<br />

estratégias, baseado na experiência acumula<strong>da</strong> e ao mesmo t<strong>em</strong>po nas novas necessi<strong>da</strong>des<br />

detecta<strong>da</strong>s” pelos próprios docentes.<br />

Entretanto, outro probl<strong>em</strong>a sinalizado pelos Professores 1 e 2 referiu-se à falta de<br />

valorização <strong>da</strong> Educação Física por parte dos atores escolares. Na concepção dos docentes,<br />

esse é mais um fator que dificulta o desenvolvimento de práticas avaliativas adequa<strong>da</strong>s, como<br />

pode ser visto no relato a seguir:<br />

226<br />

Acho importante falar de outro probl<strong>em</strong>a que encontro, que ain<strong>da</strong> vejo na escola,<br />

diretores e coordenadores que acham que a Educação Física deve estar à parte<br />

de to<strong>da</strong>s as discussões pe<strong>da</strong>gógicas <strong>da</strong> escola. O professor é visto como alguém<br />

que não faz parte do grupo que ministra aula para aquele aluno. Às vezes, a gente<br />

n<strong>em</strong> se encontra com os professores de sala, coordenadores, isso dificulta o<br />

diálogo, a troca de informação <strong>sobre</strong> o processo de ensino e aprendizag<strong>em</strong> de<br />

determinado grupo, <strong>sobre</strong> o processo de avaliação. Se b<strong>em</strong> que t<strong>em</strong>os o conselho<br />

e todos os professores dev<strong>em</strong> participar. (Professor 1)<br />

Entendeu-se que esses apontamentos levam à necessi<strong>da</strong>de de compreender como<br />

foram construí<strong>da</strong>s as representações <strong>sobre</strong> a Educação Física escolar no imaginário dos atores<br />

que compõ<strong>em</strong> o contexto escolar.<br />

Aranha e Russo (2010), ao entrevistar<strong>em</strong> pessoas que não faz<strong>em</strong> parte <strong>da</strong> área mas<br />

que atuam no contexto escolar, constataram que o entendimento delas <strong>sobre</strong> a Educação<br />

Física é de que esta disciplina é uma mera ativi<strong>da</strong>de que t<strong>em</strong> como função na escola apenas<br />

ensinar conhecimentos <strong>sobre</strong> como melhorar a saúde e a experiência lúdica e recreativa dos<br />

alunos.<br />

Pautando-se nos autores supracitados, as concepções dos sujeitos acerca <strong>da</strong><br />

Educação Física escolar part<strong>em</strong> dos saberes adquiridos <strong>em</strong> suas experiências, os quais foram


incorporados durante o processo de formação básica, por meio de diversos significados<br />

construídos historicamente na área, e transmitidos culturalmente durante a infância e a<br />

adolescência nas instituições de ensino <strong>em</strong> que esses indivíduos estu<strong>da</strong>ram.<br />

Desse modo, o que se percebeu é que, <strong>em</strong>bora a Educação Física escolar já tenha<br />

déca<strong>da</strong>s de discussões <strong>em</strong> que se consoli<strong>da</strong>ram propostas que reconhec<strong>em</strong> a área como um<br />

campo de conhecimentos que trata <strong>da</strong> cultura corporal, a qual deve ser reconheci<strong>da</strong> como<br />

parte importante <strong>da</strong> formação dos alunos na Educação Básica, esses saberes não estão<br />

presentes nas percepções que os diferentes atores escolares têm <strong>da</strong> área. Isso significa que os<br />

professores de Educação Física, além <strong>da</strong> função de formar os alunos, precisam assumir a<br />

formação <strong>da</strong>s pessoas que compõ<strong>em</strong> a escola, visando à construção de entendimentos mais<br />

atuais <strong>sobre</strong> a área, que enfatiz<strong>em</strong> a relevância <strong>da</strong> mesma no processo de desenvolvimentos<br />

dos discentes.<br />

Para isso, como foi apontado <strong>em</strong> Oliveira (1999), Silva Júnior (2004) e Perez e<br />

Rincon (2005), o professor de Educação Física precisa assumir-se como profissional que (do<br />

mesmo modo que os docentes <strong>da</strong>s outras disciplinas) detém um saber importante que precisa<br />

ser desenvolvido com os alunos. Isso requer uma postura pe<strong>da</strong>gógica defini<strong>da</strong> e<br />

contextualiza<strong>da</strong> com as finali<strong>da</strong>des <strong>da</strong> disciplina, com as peculiari<strong>da</strong>des dos alunos e com as<br />

orientações do projeto pe<strong>da</strong>gógico <strong>da</strong> escola. Entende-se que, com essas pr<strong>em</strong>issas, é possível<br />

o professor se equipar de bons argumentos para dialogar com os atores escolares, expondo as<br />

concepções e valores a respeito <strong>da</strong> área de conhecimento <strong>da</strong> Educação Física escolar.<br />

Outro entrave apontado pelos Professores 1, 2 e 4 foi a falta de t<strong>em</strong>po para avaliar de<br />

maneira adequa<strong>da</strong> a aprendizag<strong>em</strong> de seus alunos. Apresenta-se a seguir a transcrição de<br />

algumas verbalizações feitas pelos professores:<br />

227<br />

O probl<strong>em</strong>a que vejo é que mesmo tendo vontade mu<strong>da</strong>r, de fazer as coisas<br />

direitinho, tendo a carga horária cheia, o número de alunos que eu tenho é muito<br />

grande, fica muito difícil. Então, o probl<strong>em</strong>a é pensar <strong>em</strong> avaliar esse mundo de<br />

alunos que a gente t<strong>em</strong>, é complicado avaliar, é tudo mega [...]. (Professor 2)<br />

Agora eu acho que o governo deveria aju<strong>da</strong>r um pouco mais <strong>sobre</strong> esse aspecto. Na<br />

reali<strong>da</strong>de o que acontece é que está todo mundo muito, muito <strong>sobre</strong>carregado, todos<br />

os professores acumulam dois, três <strong>em</strong>pregos, o t<strong>em</strong>po que sobra é realmente<br />

usado para descansar e respirar. É claro que isso é de acordo com a pessoa, mas<br />

o sist<strong>em</strong>a está obrigando você a manter o status quo do jeito que está. (Professora<br />

01)<br />

Notou-se que, <strong>em</strong>bora os professores saibam que é de grande importância investir na<br />

construção de novos saberes para mu<strong>da</strong>r a prática avaliativa, um dos principais motivos que<br />

os imped<strong>em</strong> de investir nesse intento é a falta de t<strong>em</strong>po. Os professores argumentaram que


estão presos a uma carga horária que dificulta a realização do planejamento <strong>da</strong>s <strong>aulas</strong>, assim<br />

como a sua saí<strong>da</strong> para a formação continua<strong>da</strong>.<br />

Em outro momento, o Professor 3 lamentou a dificul<strong>da</strong>de de se afastar do trabalho<br />

para se atualizar, uma vez que não há liberação <strong>da</strong> escola para realizar a formação continua<strong>da</strong><br />

fora dela.<br />

228<br />

É que hoje a gente percebe que é difícil ter cursos aqui, os professores <strong>da</strong>s<br />

escolas estaduais perderam essa possibili<strong>da</strong>de de ter<strong>em</strong> o direito de sair, ser<br />

dispensado para fazer cursos, participar de discussões nas diretorias de ensino.<br />

(Professor 3)<br />

Outra coisa é <strong>sobre</strong> o processo de formação continua<strong>da</strong>, a gente <strong>da</strong> escola pública<br />

não pode mais sair para fazer um curso, é uma ou outra convocação que a<br />

gente consegue ir, mas hoje é raro o professor ter autorização para sair <strong>da</strong><br />

escola para fazer um curso. E aí começa a acontecer isso, a gente perde o que<br />

está sendo atualizado <strong>em</strong> termos de conhecimentos <strong>da</strong> área. (Professor 4)<br />

O relato dos professores assinalou um probl<strong>em</strong>a que t<strong>em</strong> ocorrido nas escolas públicas<br />

estaduais: o docente não t<strong>em</strong> a possibili<strong>da</strong>de de anistia <strong>da</strong> sua carga horária para realizar um<br />

curso ou participar de algum tipo de processo de formação continua<strong>da</strong>. Eles reconheceram<br />

isso como mais um aspecto que dificulta a busca de uma prática mais qualitativa para avaliar<br />

seus alunos.<br />

Sobre esse ponto, observou-se que a ativi<strong>da</strong>de docente “[...] é uma construção social<br />

que comporta múltiplas facetas” (TARDIF; LESSARD, 2004, p. 41) e está inseri<strong>da</strong> num<br />

conjunto de controles e regras institucionaliza<strong>da</strong>s e burocratiza<strong>da</strong>s. Trata-se de um trabalho<br />

composto, onde os fenômenos de tensão e os dil<strong>em</strong>as dificultam a atuação plena do professor<br />

de Educação Física. Tal estado de coisas pode ser entendido por meio <strong>da</strong>s construções<br />

históricas do contexto educacional, que implicam relações de poder e formam uma<br />

organização burocratiza<strong>da</strong>. O professor, dentro desse contexto, pode ser visto como <strong>da</strong>tado<br />

historicamente, sujeito a essa interferência. Além de ser uma profissão desgastante por<br />

colocar o profissional continuamente <strong>em</strong> interface com o outro, ela encontra-se dentro de uma<br />

organização repleta de normas e dificul<strong>da</strong>des que, muitas vezes, impossibilitam o potencial<br />

criativo para desenvolver a avaliação, que os docentes gostariam de ter.<br />

Essas observações levaram a entender que a formação continua<strong>da</strong> realiza<strong>da</strong> no interior<br />

<strong>da</strong>s escolas v<strong>em</strong> a ser uma boa alternativa <strong>em</strong> favor do amparo profissional ao professor e <strong>da</strong><br />

quali<strong>da</strong>de do ensino, pois pode favorecer o diálogo e oportunizar a troca de experiências,<br />

podendo gerar a construção de novas soluções para os probl<strong>em</strong>as percebidos e suscitar, assim,<br />

novos saberes para ser<strong>em</strong> aplicados na prática pe<strong>da</strong>gógica.<br />

O confronto com a literatura e a percepção de novas possibili<strong>da</strong>des de avaliar os alunos


Foram encontrados vários vestígios nos discursos dos professores que expressam<br />

possibili<strong>da</strong>des de utilizar os apontamentos teóricos tratados no decorrer dos momentos de<br />

reflexão nas suas <strong>aulas</strong>.<br />

Observou-se que vários el<strong>em</strong>entos que não foram mencionados nas respostas<br />

forneci<strong>da</strong>s nos dois momentos <strong>em</strong> que o questionário foi aplicado apareceram nas falas dos<br />

docentes nesses encontros, como pode ser visto na transcrição a seguir:<br />

229<br />

Pegando o gancho no que a [...] falou <strong>da</strong> falta <strong>da</strong>s pessoas entender<strong>em</strong> a importância<br />

<strong>da</strong> nossa área na escola, é interessante pensar o quanto essas discussões <strong>sobre</strong><br />

avaliação pod<strong>em</strong> aju<strong>da</strong>r as pessoas a respeitar<strong>em</strong> mais o nosso trabalho. Agora<br />

é imprescindível que na hora do conselho de classe a gente tenha argumentos para<br />

falar por que a gente acha que determinado aluno merece aquela nota, o que é<br />

que ele faz e o que é feito nas nossas <strong>aulas</strong> que justifica aquela nota do aluno, e não<br />

prevaleça somente o que o professor de português ou mat<strong>em</strong>ática avalia, precisamos<br />

ter subsídios para argumentar, senão fica aquela coisa, também só brinca na sua aula<br />

de Educação Física [...]. (Professor 3)<br />

Mediante os indícios negritados foi possível notar que os momentos de reflexão <strong>sobre</strong><br />

o processo de avaliação suscitaram ideias para o Professor 3 resolver um dos probl<strong>em</strong>as<br />

enfrentados na escola, que é a falta de valorização <strong>da</strong> área por parte <strong>da</strong> coordenação, direção<br />

pe<strong>da</strong>gógica e professores de outras disciplinas. Desse modo, a percepção do professor<br />

estabeleceu consonância com o que defend<strong>em</strong> vários autores <strong>da</strong> área 27 <strong>sobre</strong> a avaliação<br />

também ser reconheci<strong>da</strong> como meio para contribuir com o processo de legitimação do<br />

trabalho educacional desenvolvido nas <strong>aulas</strong> de Educação Física escolar.<br />

Em outro relato, o Professor 2, ao se deparar com as reflexões <strong>sobre</strong> os pressupostos<br />

<strong>da</strong> avaliação formativa, admitiu a limitação de algumas práticas avaliativas que ele realiza:<br />

Quando eu fazia a avaliação prática e não avaliava a parte teórica, eu acabava<br />

avaliando o aluno pela participação, mas eu s<strong>em</strong>pre achei injusto avaliar o cara<br />

somente pela participação <strong>em</strong> aula. (Professor 2)<br />

Observou-se que a reflexão <strong>em</strong> torno <strong>da</strong> prática avaliativa realiza<strong>da</strong> pelo docente<br />

apontaram sinais de compreensão <strong>da</strong> necessi<strong>da</strong>de de avaliar abarcando a análise de to<strong>da</strong>s as<br />

aprendizagens manifesta<strong>da</strong>s pelos alunos conforme os objetivos de ensino propostos, aspectos<br />

defendidos com adequados para desenvolver a prática avaliativa formativa (SANTOS;<br />

GONÇALVES, 1996; ZABALA, 1994; BRASIL,1997, 1998, 2002, entre outros.<br />

Em outro momento de reflexão foi reconheci<strong>da</strong> a necessi<strong>da</strong>de de refletir e encontrar<br />

possibili<strong>da</strong>des para avaliar numa perspectiva mais qualitativa e formativa, levando <strong>em</strong> conta a<br />

individualização e as diferenças dos discentes no processo de avaliação, como pode ser visto a<br />

seguir:<br />

27 OLIVEIRA (1999), SILVA JÚNIOR (2004), PEREZ e RINCON (2005).


230<br />

[...] agora está tudo redondinho, está diferente, ca<strong>da</strong> um é ca<strong>da</strong> um, mas dentro<br />

do todo, a gente t<strong>em</strong> que diferenciar. Então, isso é muito difícil, não sei se eu tô<br />

cometendo uma heresia dizendo que antes a gente fazia diferente, quando hoje está<br />

<strong>da</strong>ndo para perceber que a gente precisa tomar uma atitude e chegar e fazer<br />

algo diferente com o aluno para ele tomar<strong>em</strong> consciência. A gente está levando<br />

uma chacoalha<strong>da</strong>, então começa pela gente, se eu conseguir mu<strong>da</strong>r eu acho que<br />

é mais fácil passar para alguém. (Professor 4)<br />

Notou-se que o Professor 4 apontou compreender que a melhora <strong>da</strong>s suas <strong>aulas</strong> deve<br />

começar por ele. Tal entendimento foi reforçado nas pr<strong>em</strong>issas defendi<strong>da</strong>s por Vasconcelos<br />

(2003) e Hoffmann (2004, 2009). Nesse ponto observou-se que os momentos de reflexão<br />

pod<strong>em</strong> ter gerado a motivação intrínseca relaciona<strong>da</strong> à tarefa de “ser professor”, ação que,<br />

segundo Imbernón (2010), é, geralmente, difícil de atingir <strong>em</strong> processos de formação<br />

continua<strong>da</strong> porque comumente os docentes se encontram imersos <strong>em</strong> um ambiente de<br />

desmotivação e passivi<strong>da</strong>de educacional.<br />

Foram estabeleci<strong>da</strong>s outras relações entre as proposições teóricas e a construção de<br />

possibili<strong>da</strong>des para melhorar a prática avaliativa, como pode ser visto no relato exposto a<br />

seguir:<br />

Também t<strong>em</strong> uma coisa interessante, é que você imagina fazer alguma coisa com o<br />

aluno <strong>em</strong> cima <strong>da</strong>quilo que você t<strong>em</strong> como conhecimento, é isso que a Luciene está<br />

tentando dizer, é interessante, eu acho que o professor para fazer isso que ela está<br />

falando ele t<strong>em</strong> que ter domínio do conteúdo, se ele não domina o conteúdo ele<br />

não sabe justificar o que faz [...]. (Professor 3)<br />

Nesse relato, perceberam-se sinais de reconhecimento <strong>da</strong> necessi<strong>da</strong>de de dominar o<br />

conteúdo para ensinar e avaliar melhor. Como já foi exposto, vários autores entend<strong>em</strong> tal<br />

percepção como uma conjectura indispensável ao planejamento e prática pe<strong>da</strong>gógica do<br />

professor, pois, como já foi exposto, ter domínio e clareza do que se pretende ensinar colabora<br />

para o aprimoramento do processo de ensino, aprendizag<strong>em</strong> e avaliação.<br />

Durante os diálogos, observou-se, também, que os professores, à medi<strong>da</strong> que foram<br />

levados a refletir <strong>sobre</strong> as propostas de avaliação com viés mais qualitativo e formativo,<br />

assinalaram outras possibili<strong>da</strong>des de avaliar seus alunos, como pode ser visto nos discursos a<br />

seguir:<br />

Mas duas coisas que eu acho interessante, essa coisa do aluno que avalia o colega e<br />

o aluno realizar a autoavaliação, que ela é importante também, porque é feita<br />

no decorrer do processo, o aluno vai aprendendo a ver de onde partiu e o que<br />

está aprendendo, percebe as coisas dele próprio, as limitações, os avanços.<br />

Então acho que assim o t<strong>em</strong>a é interessante. (Professor 3)<br />

Eu também acho que para fazer isso a gente t<strong>em</strong> que procurar meios, registros,<br />

ativi<strong>da</strong>des que são possíveis de ser<strong>em</strong> aplica<strong>da</strong>s nas nossas <strong>aulas</strong>, por isso acho a<br />

observação um bom instrumento. (Professor 7)


231<br />

Então é assim, vamos supor que eu fui e conversei com os alunos <strong>sobre</strong> a história<br />

<strong>da</strong> ginástica, pegamos e fiz<strong>em</strong>os algumas pesquisas e dessas pesquisas foram<br />

apresentados os aspectos que mais chamaram a atenção por meio <strong>da</strong> conversa<br />

mesmo, aí eu avalio com uma prova teórica com perguntas e respostas, então<br />

não é tão adequado como a forma que foi ensinado, aí o aluno não consegue<br />

fazer relação e recuperar a m<strong>em</strong>ória porque o jeito que eu estou tentando<br />

recuperar essa m<strong>em</strong>ória dele não consegue fazer essa relação com o jeito que<br />

foi ensinado. É isso? (Professor 1)<br />

Eu não tô dizendo que não tenha que ter a prática para a execução de estrela, por<br />

ex<strong>em</strong>plo, você faz a estrela e mostra a prática <strong>da</strong> concretização do movimento, mas<br />

quando você fala <strong>sobre</strong> ou escreve <strong>sobre</strong>, você está internalizando o movimento,<br />

outras dimensões do seu entendimento que não é só corporalmente, não estou só<br />

minimizando, mas isso não tá só acontecendo corporalmente, mas está acontecendo<br />

noutro sentido que o movimento t<strong>em</strong>. (Professora 3)<br />

Eu estou vendo nesses encontros possibili<strong>da</strong>des que eu nunca tinha visto na<br />

Educação Física, produzir registros com os alunos traz muitas possibili<strong>da</strong>des de<br />

ver as aprendizagens dos alunos. (Professor 2)<br />

Então, pensando nos critérios, os critérios que eu vou construir é segundo o<br />

conteúdo que eu organizei, o objetivo que eu tenho para ser atingido e<br />

conforme o jeito que eu ensinei, eu pedi numa pesquisa, por ex<strong>em</strong>plo. (Professor 3)<br />

Assim, o que vejo é que a construção de um conhecimento não vai ficar tudo no<br />

subjetivo ou tudo vale, se a gente pensar assim t<strong>em</strong> mais coerência. (Professor 1)<br />

Nas partes negrita<strong>da</strong>s notou-se que as reflexões realiza<strong>da</strong>s nos encontros não ficaram<br />

apenas nas explicações teóricas <strong>sobre</strong> a t<strong>em</strong>ática <strong>da</strong> avaliação, mas fizeram com que os<br />

professores refletiss<strong>em</strong> <strong>sobre</strong> a revisão de literatura, relacionando o t<strong>em</strong>a com mais<br />

possibili<strong>da</strong>des de instrumentos e critérios de avaliação para ser<strong>em</strong> aplicados <strong>em</strong> suas <strong>aulas</strong>.<br />

Desse modo, perceberam-se sinais de novas condutas avaliativas construí<strong>da</strong>s <strong>em</strong> meio aos<br />

processos de discussão desenvolvidos que se apresentaram contextualizados com os<br />

fazeres/saberes pe<strong>da</strong>gógicos dos participantes dessa parte do estudo, porém ain<strong>da</strong> d<strong>em</strong>onstrou<br />

a necessi<strong>da</strong>de de mais conhecimentos <strong>sobre</strong> as características dos conteúdos, a seleção dos<br />

critérios e os instrumentos de avaliação de forma relaciona<strong>da</strong>.<br />

Outro relato considerado significativo é o do Professor 3, que sinalizou a necessi<strong>da</strong>de<br />

mu<strong>da</strong>r seus paradigmas para avaliar melhor os seus alunos:<br />

Na reali<strong>da</strong>de é assim, eu acho que eu tenho que quebrar esses paradigmas que eu<br />

tenho de pensar a avaliação no modo antigo. Eu tenho essa dificul<strong>da</strong>de dessa<br />

coisa de sist<strong>em</strong>atizar a avaliação porque eu não tenho horário para fazer isso, eu não<br />

consigo, eu acumulo dois cargos e dou aula o dia todo. Então, quando eu começo a<br />

pensar <strong>em</strong> como eu vou passar isso para os meus alunos, isso para mim é visto como<br />

um trabalho, uma coisa a mais, <strong>em</strong>bora eu enten<strong>da</strong> e é claro para mim a<br />

importância de avaliar dessa maneira. (Professor 3)<br />

Mediante a exposição desse professor, percebeu-se que os momentos de reflexão<br />

propiciaram a ele o exame de suas teorias implícitas, seus esqu<strong>em</strong>as de funcionamento, suas


atitudes, mostrando a necessi<strong>da</strong>de de mu<strong>da</strong>r aquilo que faz, mas aparenta não conseguir<br />

visualizar como fazer para <strong>em</strong>preender tais modificações <strong>em</strong> sua prática. Tal observação<br />

evidenciou a importância do investimento <strong>em</strong> processos de formação continua<strong>da</strong>, que dev<strong>em</strong><br />

abarcar a intenção de instigar o professor a refletir e buscar estratégias contextualiza<strong>da</strong>s com o<br />

seu cotidiano profissional, ação fun<strong>da</strong>mental para a construção de novos saberes docentes<br />

(IMBERNÓN, 2010).<br />

Outro apontamento considerado significativo nesses momentos de reflexão e que não<br />

foi abor<strong>da</strong>do nas respostas <strong>da</strong><strong>da</strong>s ao questionário foi o reconhecimento <strong>da</strong> importância <strong>da</strong><br />

apreciação do processo de ensino e aprendizag<strong>em</strong>, com a nota entendi<strong>da</strong> como um símbolo<br />

que qualifica o processo seguido, como está exposto no relato a seguir:<br />

232<br />

Mas o que acho importante é a gente pensar na avaliação descola<strong>da</strong> <strong>da</strong> questão <strong>da</strong><br />

nota, quando a gente avalia por um processo, o que eu acho legal dessa visão é<br />

você ver a avaliação como um processo amoroso, é você construir junto com<br />

eles um futuro para essas pessoas. Por que a nota é... é só um símbolo. (Professor<br />

3)<br />

Essa pr<strong>em</strong>issa vai ao encontro do que vários autores <strong>da</strong> área 28 apontaram <strong>em</strong> seus<br />

estudos <strong>sobre</strong> a importância de se compreender a nota como uma síntese do processo seguido<br />

nas <strong>aulas</strong> de Educação Física, devendo-se eluci<strong>da</strong>r aos alunos os preceitos que ela representa.<br />

Sendo assim, <strong>em</strong> linhas gerais, nessa análise observou-se que, <strong>em</strong>bora tenham sido<br />

encontra<strong>da</strong>s repetições de ideias que já tinham sido verifica<strong>da</strong>s e analisa<strong>da</strong>s nas respostas<br />

forneci<strong>da</strong>s ao questionário aplicado <strong>em</strong> 2009, outros indícios foram revelados nesses<br />

momentos de reflexão com os professores participantes, e um dos sinais mais significativos<br />

foi notar que os docentes, ao expor<strong>em</strong> suas reflexões <strong>sobre</strong> avaliação diante <strong>da</strong>s discussões<br />

pauta<strong>da</strong>s na literatura pertinente ao t<strong>em</strong>a, perceberam possibili<strong>da</strong>des de mu<strong>da</strong>nças no processo<br />

de avaliação que poderiam ser aplica<strong>da</strong> <strong>em</strong> suas <strong>aulas</strong> e identificaram as vantagens de<br />

trabalhar com um processo de avaliativo mais qualitativo:<br />

Achei que o mais importante é pensar que a avaliação t<strong>em</strong> a função do aluno<br />

saber o porquê <strong>da</strong>quilo que a gente está passando para ele. Construir os<br />

objetivos as ativi<strong>da</strong>des que eu posso usar para fazer com que isso aconteça.<br />

(Professor 2)<br />

Eu vejo assim, se esse processo de avaliação for aplicado na escola, eu vejo que o<br />

aluno vai ter mais mecanismos para compreender o que está acontecendo, as<br />

competências e habili<strong>da</strong>des para tomar decisões a respeito dos probl<strong>em</strong>as que irá<br />

enfrentar lá na frente. (Professor 3)<br />

28 SOARES et. al., 1992; SANTOS e GONÇALVES, 1996; RAMOS, 1999; SILVA, 1999; BRATIFISCHE,<br />

2003; SILVA JÚNIOR, 2004; MENDES et. al., 2007; DINIZ e AMARAL, 2009; OLIVEIRA, 2009; SILVA e<br />

BANKOFF, 2010.


Os momentos de reflexão também levaram os professores a reconhecer<strong>em</strong> que têm<br />

pouco espaço para discutir sua atuação <strong>em</strong> aula. Isso os levou a manifestar a necessi<strong>da</strong>de de<br />

mais estudos e a vontade de realizar cursos, de participar de grupos estudos, de ter reuniões<br />

pe<strong>da</strong>gógicas que cont<strong>em</strong>pl<strong>em</strong> a reflexões ampara<strong>da</strong>s pela literatura e que possam ajudá-los a<br />

resolver as questões que enfrentam no contexto escolar com as suas turmas, como pode ser<br />

visto nos discursos expostos a seguir:<br />

233<br />

Eu sinto falta de cursos preparatórios, de capacitação, reciclag<strong>em</strong>... Eu sinto<br />

falta de grupos de estudos, que te apoie, estude, discuta, troca de experiências<br />

entre colegas <strong>da</strong> mesma área. (Professor 5)<br />

Acho importante a gente lutar para que as trocas de experiência sejam feitas<br />

com professores <strong>da</strong> área, é diferente de conversar nas reuniões de HTPC com<br />

professores de outras áreas. Por isso achei os encontros b<strong>em</strong> válidos para a gente.<br />

(Professor 6)<br />

Desse modo, evidenciou-se a necessi<strong>da</strong>de de oportunizar aos professores de Educação<br />

Física nas reuniões s<strong>em</strong>anais de HTPC (hora de trabalho produzido coletivamente entre os<br />

professores) ver<strong>da</strong>deiras situações de formação continua<strong>da</strong>, as quais dev<strong>em</strong> priorizar<br />

discussões reflexivas e propositivas acerca <strong>da</strong>s características do ambiente escolar e <strong>da</strong>s<br />

peculiari<strong>da</strong>des dessa área de conhecimentos, para que os docentes possam estabelecer a<br />

coesão entre a teoria e a prática <strong>em</strong> suas <strong>aulas</strong> na Educação Básica.<br />

Além dos relatos <strong>sobre</strong> a necessi<strong>da</strong>de de mais estudos, foi interessante notar a<br />

importância desses encontros para os participantes, os quais chegaram a expressar a vontade<br />

de continuar com as reflexões <strong>sobre</strong> a prática avaliativa, propondo a continui<strong>da</strong>de dos estudos<br />

num grupo de discussão <strong>sobre</strong> o assunto avaliação, como pode se observado nos seguintes<br />

relatos:<br />

Eu agradeço esses encontros, e acho que ele acaba com gostinho de quero mais.<br />

(Professor 1)<br />

Eu concordo. (Professor 2)<br />

Eu também. Até me atrevo a colocar uma ideia que tive, <strong>da</strong> gente montar um<br />

grupo de estudos para estu<strong>da</strong>r mais <strong>sobre</strong> avaliação, contando com a sua<br />

presença, é claro. (Professor 3)<br />

Desse modo, entendeu-se que a aproximação por meio do diálogo com os professores<br />

de Educação Física <strong>da</strong> Diretoria de Ensino Centro-Sul/SP parece não só ter causado reflexões<br />

significativas <strong>sobre</strong> a prática avaliativa que pod<strong>em</strong> ajudá-los a compreender princípios <strong>sobre</strong> o<br />

processo de avaliação e aplicar ações avaliativas adequa<strong>da</strong>s com seus alunos, como também<br />

parece ter instigado os docentes a querer prolongar as discussões, procurar mais<br />

conhecimentos <strong>sobre</strong> avaliação <strong>da</strong> aprendizag<strong>em</strong>.


Os encontros revelaram-se como uma espécie de fechamento <strong>da</strong> análise inicia<strong>da</strong> pelo<br />

questionário aplicado <strong>em</strong> 2009, mas também sinalizaram o início de novas possibili<strong>da</strong>des para<br />

os professores continuar<strong>em</strong> seus estudos <strong>sobre</strong> avaliação, desafiando-se mais para aplicar<br />

estratégias diferencia<strong>da</strong>s e até se motivar para se inserir <strong>em</strong> discussões <strong>sobre</strong> o t<strong>em</strong>a.<br />

Entretanto, mesmo tendo sido reconheci<strong>da</strong> pelo grupo a necessi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> modificar a<br />

forma como avaliam os seus alunos, esse processo mostrou-se complexo, pois implica afastar-<br />

se de certos paradigmas para abarcar novas ideias na prática avaliativa, o que acaba levando<br />

os docentes a ter<strong>em</strong> medo <strong>da</strong> mu<strong>da</strong>nça. Isso ficou evidenciado <strong>em</strong> alguns momentos dos<br />

diálogos <strong>em</strong> que pareceu que os professores se sent<strong>em</strong> incomo<strong>da</strong>dos com as formas que<br />

proced<strong>em</strong> para avaliar os alunos, mas, ao invés de procurar possibili<strong>da</strong>des para modificar a<br />

prática pe<strong>da</strong>gógica, prefer<strong>em</strong> agarrar-se à ideia de esperar que alguém ofereça respostas e<br />

venha salvá-los dos probl<strong>em</strong>as que encontram para avaliar o processo de ensino e<br />

aprendizag<strong>em</strong>.<br />

Ain<strong>da</strong> assim, foi possível perceber, mesmo minimamente, que os encontros<br />

suscitaram uma visão dos probl<strong>em</strong>as de outra perspectiva, entendendo-se que para realizar<br />

uma prática avaliativa coerente no cotidiano de suas <strong>aulas</strong> os próprios professores são, ao<br />

mesmo t<strong>em</strong>po, a in<strong>da</strong>gação e a resposta.<br />

234


4. Considerações finais<br />

Perseguiu-se nesta investigação a compreensão <strong>da</strong> prática avaliativa no contexto <strong>da</strong><br />

Educação Física escolar. Com tal intenção utilizou-se como ponto de parti<strong>da</strong> a revisão de<br />

literatura <strong>sobre</strong> avaliação no contexto <strong>da</strong> Educação.<br />

Orientando-se por esse caminho, observou-se que o ato de avaliar é um dos vértices de<br />

um triângulo que compõe o processo ensino e aprendizag<strong>em</strong>. Refletir <strong>sobre</strong> a avaliação<br />

apresentou-se uma possibili<strong>da</strong>de de pensar <strong>sobre</strong> o ato de ensinar e aprender. Ela é, portanto,<br />

uma ação que solicita a coerência do planejamento de ensino, dos objetivos, <strong>da</strong>s metodologias<br />

e estratégias usa<strong>da</strong>s para apreciar de maneira qualitativa o desenvolvimento <strong>da</strong> aprendizag<strong>em</strong><br />

dos alunos.<br />

Sendo assim, a avaliação não é um fim <strong>em</strong> si mesmo. É parte do processo de ensino e<br />

aprendizag<strong>em</strong>, por isso deve ser entendi<strong>da</strong> não somente como um instrumento, mas como um<br />

procedimento que levará o processo de ensino a serviço <strong>da</strong> aprendizag<strong>em</strong> dos alunos.<br />

Entendeu-se que, para tecer os fios <strong>da</strong> contextura que envolve o assunto avaliação,<br />

especificamente nas <strong>aulas</strong> de Educação Física escolar, diferentes aspectos deveriam ser<br />

abor<strong>da</strong>dos neste estudo, como por ex<strong>em</strong>plo, o que pensam os professores <strong>da</strong> área a respeito do<br />

t<strong>em</strong>a avaliação, aspectos <strong>sobre</strong> como foi o processo de formação <strong>em</strong> relação ao assunto,<br />

verificou-se propostas <strong>sobre</strong> a avaliação no contexto <strong>da</strong> Educação, investigou-se o que as<br />

abor<strong>da</strong>gens pe<strong>da</strong>gógicas <strong>da</strong> área expressam a respeito <strong>da</strong> avaliação, b<strong>em</strong> como as<br />

preconizações expostas nos documentos oficiais e estudos <strong>sobre</strong> a prática avaliativa na área.<br />

Notou-se que os referenciais pautados na perspectiva <strong>da</strong> proposta <strong>da</strong> avaliação<br />

formativa foram reconhecidos por vários estudiosos como adequados para desenvolver tal<br />

processo na escola. Porém, as discussões apresentaram-se distantes dos probl<strong>em</strong>as práticos e<br />

reais <strong>da</strong> escola e, principalmente, <strong>da</strong>s especifici<strong>da</strong>des <strong>da</strong> disciplina Educação Física escolar.<br />

Perceberam-se s<strong>em</strong>elhanças entre os apontamentos encontrados na revisão de<br />

literatura e a análise <strong>da</strong> produção científica <strong>sobre</strong> a prática avaliativa de professores <strong>da</strong> área.<br />

Nesse estágio <strong>da</strong> pesquisa ficou evidente que a questão que se instala é como fazer a<br />

ressignificação de aspectos relacionados ao ato de avaliar vislumbrando novas possibili<strong>da</strong>des<br />

<strong>sobre</strong> a ação de sist<strong>em</strong>atizar a apreciação <strong>da</strong> aprendizag<strong>em</strong> e registrar os resultados. Também<br />

foi ressalta<strong>da</strong> a necessi<strong>da</strong>de de mais estudos <strong>sobre</strong> a ação de avaliar <strong>em</strong> <strong>aulas</strong> de Educação<br />

Física, abarcando a introdução do pesquisador na dinâmica <strong>da</strong> prática docente, a fim de<br />

compreender a representação singular <strong>da</strong> avaliação nessa área de conhecimento e, então,<br />

235


colaborar com sugestões de intervenções que contribuam efetivamente para a transformação<br />

do processo avaliativo do ensino e <strong>da</strong> aprendizag<strong>em</strong>.<br />

Nesse caminhar, percebeu-se na pesquisa de campo que a escolha do Paradigma<br />

Indiciário para analisar os indícios revelados ofereceu possibili<strong>da</strong>des de compreender<br />

conhecimentos e de interpretar a reali<strong>da</strong>de dos professores de Educação Física que atuam nas<br />

escolas públicas <strong>da</strong> Diretoria de Ensino Centro-Sul/SP, <strong>sobre</strong>tudo no que se refere aos<br />

aspectos vinculados à prática avaliativa.<br />

A análise dos indícios revelados nas respostas <strong>sobre</strong> a prática avaliativa forneci<strong>da</strong>s<br />

pelos professores, mostrou uma limitação de conhecimentos <strong>sobre</strong> o t<strong>em</strong>a avaliação, traduzi<strong>da</strong><br />

<strong>em</strong> processos que privilegiam a observação de comportamentos afetivos e sociais<br />

d<strong>em</strong>onstrados pelos alunos durante as <strong>aulas</strong>. Os professores investigados apontaram<br />

diversificar os instrumentos de avaliação, mas assinalaram ser<strong>em</strong> esses escolhidos e aplicados<br />

estabelecendo pouca coerência com os conteúdos, objetivos e métodos utilizados no processo<br />

de ensino e aprendizag<strong>em</strong> dos alunos.<br />

Mediante essas questões, a ideia de sugerir momentos de reflexão aos professores<br />

investigados apresentou-se significativa e compl<strong>em</strong>entou este estudo. Revelou sinais que<br />

evidenciaram que a aproximação com os professores colaborou com o compartilhamento de<br />

condutas educativas, as realiza<strong>da</strong>s e as deseja<strong>da</strong>s, <strong>em</strong> que foi possível colher outros indícios<br />

<strong>sobre</strong> o processo avaliativo realizado pelos participantes investigados, como por ex<strong>em</strong>plo, a<br />

identificação dos probl<strong>em</strong>as enfrentados para desenvolver um bom processo de avaliação com<br />

seus alunos; as dificul<strong>da</strong>des deriva<strong>da</strong>s <strong>da</strong> falta de aprofun<strong>da</strong>mento <strong>sobre</strong> o t<strong>em</strong>a; a observação<br />

de que não há diálogo, trocas de experiências, conhecimentos ou sugestões a respeito do<br />

assunto entre os professores <strong>da</strong> área e n<strong>em</strong> com os outros atores que compõ<strong>em</strong> a escola.<br />

Também foi possível perceber que, apesar de ensinar todos os tipos de conteúdos, as<br />

aprendizagens dos alunos são avalia<strong>da</strong>s somente na perspectiva de alguns el<strong>em</strong>entos que<br />

compõ<strong>em</strong> o conteúdo atitudinal, como a participação e o envolvimento <strong>em</strong> aula.<br />

Ao mesmo t<strong>em</strong>po, os diálogos com os professores apontaram momentos <strong>em</strong> que se<br />

motivaram para desenvolver novas ações avaliativas. Enxergaram benefícios individuais e<br />

coletivos ao trabalhar com a perspectiva <strong>da</strong> avaliação formativa, apresentaram dúvi<strong>da</strong>s e<br />

anseios específicos a respeito do t<strong>em</strong>a estu<strong>da</strong>do, realizaram observações e sugestões <strong>sobre</strong> o<br />

relato dos docentes participantes nos encontros, d<strong>em</strong>onstrando disposição para compartilhar e<br />

refletir a partir de conhecimentos de sua experiência e os propostos na produção científica <strong>da</strong><br />

área <strong>da</strong> Educação e <strong>da</strong> Educação Física escolar com relação ao assunto avaliação. Sendo<br />

assim, infere-se que a iniciativa de promover momentos de reflexão <strong>sobre</strong> o t<strong>em</strong>a avaliação<br />

236


com os professores investigados colaborou para que os participantes se mostrass<strong>em</strong> mais<br />

abertos e desejass<strong>em</strong> a mu<strong>da</strong>nça <strong>da</strong> sua prática avaliativa.<br />

No entanto, sabe-se que não foi possível garantir que as possibili<strong>da</strong>des de mu<strong>da</strong>nças<br />

<strong>sobre</strong> a prática <strong>da</strong> avaliação expressa<strong>da</strong>s nos encontros seriam aplica<strong>da</strong>s nas <strong>aulas</strong> dos<br />

participantes, uma vez que a alterações nesse sentido apresenta-se como algo complexo e<br />

lento, requer a vivência de tais propostas no cotidiano <strong>da</strong>s <strong>aulas</strong>, a reflexão <strong>sobre</strong> a ação<br />

desenvolvi<strong>da</strong>, b<strong>em</strong> como a formação dos atores que compõe a escola <strong>sobre</strong> os estudos<br />

inovadores acerca do ato de avaliar. Aspectos que d<strong>em</strong>an<strong>da</strong>m a mu<strong>da</strong>nça de todo sist<strong>em</strong>a<br />

educacional e, <strong>sobre</strong>tudo, <strong>da</strong> cultura escolar <strong>em</strong> relação às <strong>aulas</strong> de Educação Física.<br />

Por isso, não se pode concluir neste estudo que houve efetivamente a mu<strong>da</strong>nça <strong>da</strong><br />

prática avaliativa dos professores, mas sim entendeu-se que os encontros possibilitaram<br />

assinalar indicadores interessantes para ser<strong>em</strong> considerados na construção de situações de<br />

formação continua<strong>da</strong>, como as ações que instigu<strong>em</strong> os docentes a refletir<strong>em</strong> <strong>sobre</strong> suas<br />

próprias formas de avaliar, relacionando sua história com o t<strong>em</strong>a, aprendendo novos<br />

conhecimentos e incentivando interpretações à luz <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de escolar, <strong>da</strong> especifici<strong>da</strong>de <strong>da</strong><br />

área e <strong>da</strong>s situações probl<strong>em</strong>áticas vivi<strong>da</strong>s nas <strong>aulas</strong>.<br />

Este estudo se deparou, portanto, com a necessi<strong>da</strong>de de mais investimentos <strong>em</strong><br />

processos de formação continua<strong>da</strong> no próprio local de trabalho docente: a escola. Entendeu-se<br />

que mediante o entrave <strong>da</strong>s questões profissionais e pessoais que os professores de Educação<br />

Física enfrentam, esse pode ser o meio mais eficaz para compreender outras formas de avaliar<br />

o ensino e a aprendizag<strong>em</strong>.<br />

O desafio mais significativo que se colocou no estudo foi a necessi<strong>da</strong>de de<br />

potencializar uma cultura formativa in loco nas instituições de Ensino Básico, a fim de<br />

fomentar uma consciência crítica, in<strong>da</strong>gadora e criativa conforme sugere Freire (1996),<br />

visando à relação <strong>da</strong> teoria com a prática docente, a partir <strong>da</strong> introdução de novas perspectivas<br />

para criar possibili<strong>da</strong>des de avaliar o ensino e a aprendizag<strong>em</strong> dos alunos nas <strong>aulas</strong>.<br />

Contudo, isso só será conseguido mediante uma mu<strong>da</strong>nça <strong>da</strong>s concepções dos<br />

professores <strong>da</strong> área, dirigentes e coordenadores escolares, alia<strong>da</strong> a reivindicações dos docentes<br />

pela formação continua<strong>da</strong> realiza<strong>da</strong> no próprio contexto <strong>em</strong> que atuam.<br />

Assim, considera-se que um dos sinais de avanço que o final desta investigação<br />

presenciou foi a solicitação dos professores para <strong>da</strong>r continui<strong>da</strong>de aos momentos de reflexão<br />

por meio de um grupo de estudos <strong>sobre</strong> o t<strong>em</strong>a avaliação. Apesar desse ganho, permaneceu a<br />

certeza de que os fios dessa trama, por mais que tenham apontado aspectos relevantes, é<br />

preciso reconhecer que eles faz<strong>em</strong> parte de um tecido maior que precisa continuar a ser<br />

237


"tecido" para se chegar a compreensão de uma forma eficaz para aplicar o processo de<br />

avaliação com intenções formativas <strong>em</strong> <strong>aulas</strong> de Educação Física escolar. Para isso, é<br />

necessário que o professor e os atores escolares tenham oportuni<strong>da</strong>des para continuar<strong>em</strong><br />

aprendendo. Isso porque não há a última palavra <strong>sobre</strong> a prática pe<strong>da</strong>gógica, pois é preciso<br />

s<strong>em</strong>pre se considerar aprendiz, especialmente no que tange ao assunto avaliação.<br />

Termina-se esta tese com a ideia de que talvez esta época seja o começo de um novo<br />

t<strong>em</strong>po para os docentes <strong>da</strong> área de Educação Física escolar que atuam <strong>em</strong> escolas pertencentes<br />

à Diretoria de Ensino <strong>da</strong> região Centro-Sul/SP, continuando a aprender <strong>sobre</strong> o assunto<br />

avaliação para ter a oportuni<strong>da</strong>de de gerar novos conhecimentos e práticas avaliativas<br />

adequa<strong>da</strong>s.<br />

Do mesmo modo, se almeja que este estudo seja um recomeço para aqueles que a lerão<br />

(profissionais que atuam no contexto escolar ou nas Instituições de Ensino Superior), e início<br />

de uma transformação do ato de avaliar nas <strong>aulas</strong> de Educação Física escolar.<br />

238


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Teaching in Physical Education. v.7, n. 4, p.327-343, 1997.<br />

WARSCHAUER, C. A ro<strong>da</strong> e o registro: uma parceria entre o professor, os alunos e o<br />

conhecimento. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1997.<br />

ZABALA, A. A prática educativa. Porto Alegre: Artmed, 1994.<br />

ZABALZA, M. A. Diários de aula: contributos para o estudo dos dil<strong>em</strong>as práticos dos<br />

professores. Porto: Porto Editora, 1994.<br />

ZAINA, L. A. M. Acompanhamento do aprendizado do aluno <strong>em</strong> cursos à distância<br />

através <strong>da</strong> Web: metodologia e ferramentas. Dissertação (Mestrado <strong>em</strong> Engenharia) –<br />

Escola Politécnica, USP, São Paulo, 2001.<br />

ZANON, D. P.; ALTHAUS, M. M. Instrumentos de avaliação na prática pe<strong>da</strong>gógica<br />

universitária. 2008. Disponível <strong>em</strong>:<br />

http://www.uepg.br/codi/pdfs/Instrumentos%20de%20Avalia%C3%A7%C3%A3o%20Althau<br />

s%20e%20Zanon.pdf Acesso: 03/10/2011.<br />

ZUKOWSKY, Cristina. Z. T. Formação <strong>em</strong> avaliação: a formação de docentes no<br />

enfrentamento de um processo de avaliação a serviço <strong>da</strong> aprendizag<strong>em</strong>. Tese (Doutorado<br />

<strong>em</strong> Educação), Facul<strong>da</strong>de de Educação, Pontifícia Universi<strong>da</strong>de Católica de São Paulo, São<br />

Paulo, 2008.<br />

ZYLBERBERG, T. P; NISTA-PICCOLO, V. L. As contribuições dos estudos <strong>sobre</strong><br />

inteligência humana para a pe<strong>da</strong>gogia do esporte. Pensar a Prática, n. 11, p. 59-68, 2008.<br />

250


ANEXO I<br />

QUESTIONÁRIO<br />

Nome do Professor: ___________________________________________________<br />

Endereço:____________________________________________________________<br />

Telefone: ____________________________________________________________<br />

Email: ______________________________________________________________<br />

Nome <strong>da</strong> Escola:______________________________________________________<br />

Prezado Professor,<br />

ESCLARECIMENTOS:<br />

Nós, integrantes do GEPEFE (Grupo de Estudos e Pesquisas <strong>em</strong> Educação Física<br />

Escolar) do Programa de Pós-Graduação <strong>em</strong> Educação Física <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de São Ju<strong>da</strong>s<br />

Tadeu, solicitamos ao exmo professor que preencha os tópicos apresentados nesse<br />

questionário, respondendo com to<strong>da</strong> sinceri<strong>da</strong>de para que a pesquisa possa apresentar os<br />

<strong>da</strong>dos coerentes com a ver<strong>da</strong>de.<br />

Ressaltamos que o seu nome e o <strong>da</strong> sua escola serão s<strong>em</strong>pre mantidos <strong>em</strong> sigilo, sendo<br />

identificados por siglas, nomea<strong>da</strong>s s<strong>em</strong> qualquer relação com sua identi<strong>da</strong>de.<br />

O questionário, que segue abaixo, é composto de três grandes partes: <strong>da</strong>dos <strong>da</strong> escola,<br />

que visam nos <strong>da</strong>r parâmetros de análise <strong>da</strong>s possibili<strong>da</strong>des que o professor t<strong>em</strong> para<br />

251


desenvolver suas práticas pe<strong>da</strong>gógicas; <strong>da</strong> formação do professor, com a intenção de<br />

identificar até que ponto sua formação colaborou com sua atuação nas escolas; e questões que<br />

permeiam as <strong>aulas</strong> de Educação Física na escola, visando pontuar conteúdos e método<br />

desenvolvidos, assim como meios de avaliação dos alunos nessa disciplina.<br />

Caso surjam dúvi<strong>da</strong>s ao preencher os <strong>da</strong>dos poderá nos enviar um e-mail para<br />

prof.vilmanista@usjt.br, ou ain<strong>da</strong> entrar <strong>em</strong> contato pelo telefone 11-2799-1917.<br />

Obriga<strong>da</strong>.<br />

Profa Dra Vilma Lení Nista-Piccolo<br />

252<br />

Coordenadora do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu <strong>em</strong> Educação Física


PARTE I : DADOS DA ESCOLA<br />

Preencha os <strong>da</strong>dos abaixo relacionados à infra-estrutura de sua escola e aos materiais<br />

que ela possui.<br />

RECURSOS MATERIAIS DA ESCOLA<br />

Abaixo existe uma relação de materiais que pod<strong>em</strong> ser encontrados <strong>em</strong> algumas<br />

escolas. Coloque X à frente do material existente <strong>em</strong> sua escola, e assinale (S) SIM caso você<br />

o utilize <strong>em</strong> suas <strong>aulas</strong> de Educação Física, e (N) NÃO, se você não usa esse material.<br />

( ) Arcos – (bambolês) ( )<br />

( ) Banco sueco ( )<br />

( ) Bastões ( )<br />

( ) Colchões p/ ginástica ( )<br />

( ) Coletes ( )<br />

( ) Cones ( )<br />

( ) Cor<strong>da</strong>s ( )<br />

( ) Mini-tramp ( )<br />

( ) Plintos ( )<br />

( ) Raquetes ( )<br />

( ) Bolas de Borracha ( )<br />

( ) Bolas de Meia ( )<br />

( ) Bolas de Plástico ( )<br />

( ) Bolas de Ping-Pong ( )<br />

( ) Bolas de Tênis de Campo ( )<br />

( ) Bolas de Gin.Rítmica ( )<br />

( ) Bolas de Futsal ( )<br />

( ) Bolas de Handebol ( )<br />

( ) Bolas de Vôlei ( )<br />

( ) Bolas Basquete oficial ( )<br />

( ) Bolas Basquete Mini ( )<br />

(S) OU (N)<br />

Quais?<br />

( ) Outros:<br />

___________________________________________________<br />

Jogos de salão:<br />

( ) Xadrez ( )<br />

( ) Dama ( )<br />

253


INFRA-ESTRUTURA DA ESCOLA (coloque apenas um X)<br />

1. Sua escola t<strong>em</strong> quadra? ( ) sim ( ) não<br />

2. Você a utiliza durante as <strong>aulas</strong> de Educação Física? ( ) sim ( ) não<br />

Em caso de sim, respon<strong>da</strong> os itens abaixo. Essa quadra:<br />

2.1 É coberta ou descoberta: ( ) coberta ( ) descoberta<br />

2.2 Rede de iluminação: ( ) t<strong>em</strong> e funciona ( ) t<strong>em</strong>, mas não funciona ( ) não t<strong>em</strong><br />

2.3 Como é o piso: ( ) áspero ( ) escorregadio ( ) adequado<br />

2.4 Dimensão para as <strong>aulas</strong>: ( ) pequena ( ) apropria<strong>da</strong> ( )muito boa<br />

2.5 Acessórios utilizados nas <strong>aulas</strong>:<br />

( ) poste de vôlei ( ) tabela de basquete ( ) aro de basquete ( ) trave de gol<br />

3. Sua escola t<strong>em</strong> pátio? ( ) sim ( ) não<br />

4. Você t<strong>em</strong> autorização para utilizá-lo nas <strong>aulas</strong> de Educação Física? ( ) sim ( ) não<br />

5. Você o utiliza para as <strong>aulas</strong> de Educação Física?<br />

Em caso de sim, respon<strong>da</strong> os itens abaixo. Esse pátio é:<br />

5.1 É coberto ou descoberto: ( ) coberto ( ) descoberto<br />

5.2 Como é o piso: ( ) áspero ( ) escorregadio ( ) adequado<br />

5.3 Dimensão para as <strong>aulas</strong>: ( ) pequeno ( ) apropriado ( ) muito bom<br />

5.4 Espaço: ( ) é totalmente livre ( ) é passag<strong>em</strong> de alunos<br />

6. Exist<strong>em</strong> espaços alternativos para as <strong>aulas</strong> de Educação Física? ( ) sim ( ) não<br />

( ) piscina ( ) sala de ginástica ( ) sala de judô ( ) sala de vídeo<br />

( ) outros:_________________________________________________<br />

7. Em sua opinião, a estrutura <strong>da</strong> escola e os materiais oferecidos para Educação Física são<br />

adequados para você <strong>da</strong>r <strong>aulas</strong>? Por quê?<br />

254


PARTE II: DADOS DO PROFESSOR<br />

1. I<strong>da</strong>de: ( ) 20-30 anos ( ) 31-40 anos ( ) 41-50 anos ( ) acima de 51 anos<br />

2. Sua Formação/ habilitação: ( ) Licenciatura ( ) Licenciatura e Bacharelado<br />

3. Cursou a graduação <strong>em</strong> qual instituição?<br />

___________________________________________________________________________<br />

4. Ano de conclusão do seu curso: _______<br />

5. Em sua opinião o curso de Educação Física que você fez apresentava um enfoque mais<br />

forte numa:<br />

( ) Dimensão biológica<br />

( ) Dimensão esportiva-técnica<br />

( ) Dimensão humanística<br />

( ) Dimensão pe<strong>da</strong>gógica (visão educacional<br />

6. Em sua opinião o curso de Educação Física que você fez tinha uma vertente:<br />

( ) Essencialmente teórica<br />

( ) Essencialmente prática<br />

( ) Mesclado teórico – prático<br />

7. Você já fez algum curso de especialização? ( ) sim ( ) não<br />

Se sim, <strong>em</strong> qual instituição?<br />

_________________________________________________________________________<br />

Sobre o que foi o curso? _____________________________________________________<br />

Quando concluiu? _______<br />

8. T<strong>em</strong> participado de congressos/simpósios/cursos <strong>da</strong> área de Educação Física? ( ) sim ( )<br />

não.<br />

Se sim, qual foi o último que você esteve?<br />

________________________________________________________________________<br />

Quando foi? _______<br />

9. Qual foi o último livro que você leu?<br />

___________________________________________________________________________<br />

Sobre o que tratava o livro?<br />

________________________________________________________________________<br />

255


Quando foi? _______<br />

10. Você está inscrito no CREF/SP? ( ) sim ( ) não<br />

11. T<strong>em</strong>po de exercício na rede estadual paulista: _____ anos, _____ meses.<br />

12. T<strong>em</strong>po de exercício docente nesta escola:<br />

( ) 0-2 anos ( ) 3-5 anos ( ) 6-10 anos ( ) 11-15 anos ( ) mais de 15 anos<br />

13. Você teve alguma dificul<strong>da</strong>de ao iniciar sua carreira como professor de Educação<br />

Física?<br />

( ) sim ( ) não. Se sim, escreva <strong>sobre</strong> essa dificul<strong>da</strong>de.<br />

14. Você acha que a sua formação acadêmica o preparou de forma adequa<strong>da</strong> para atuar na<br />

escola?<br />

( ) sim ( ) não. Por quê?<br />

15. Você já participou de alguma pesquisa <strong>em</strong> sua escola? O que acha <strong>sobre</strong> isso?<br />

256


PARTE III: PRÁTICAS ADOTADAS<br />

1. Como você classifica sua aula de EDUCAÇÃO FÍSICA nessa escola, de acordo com os<br />

itens abaixo?<br />

( ) Fraco ( ) Regular ( ) Bom ( )Muito Bom ( ) Excelente<br />

2. Como você classifica sua participação na organização <strong>da</strong> escola, de acordo com os itens<br />

abaixo?<br />

( ) Fraco ( ) Regular ( ) Bom ( )Muito Bom ( ) Excelente<br />

3. Como você classifica a participação <strong>da</strong> Educação Física <strong>em</strong> todo o Projeto Pe<strong>da</strong>gógico <strong>da</strong><br />

escola, de acordo com os itens abaixo?<br />

( ) Fraco ( ) Regular ( ) Bom ( )Muito Bom ( ) Excelente<br />

4. Como você elabora o planejamento <strong>da</strong>s suas <strong>aulas</strong>?<br />

( ) Define sozinha<br />

( ) É elaborado <strong>em</strong> conjunto com outros professores de Educação Física<br />

( ) T<strong>em</strong> a participação de alguém <strong>da</strong> direção<br />

5. Você se apóia <strong>em</strong> alguma tendência pe<strong>da</strong>gógica para orientar seu planejamento?<br />

( ) sim ( ) não<br />

Se sim, <strong>em</strong> qual?_____________________________________________________________<br />

6. Como você define os conteúdos trabalhados <strong>em</strong> suas <strong>aulas</strong>?<br />

___________________________________________________________________________<br />

___________________________________________________________________________<br />

7. Você usa os documentos <strong>da</strong> Secretaria de Educação? ( ) sim ( ) não<br />

Por quê? ____________________________________________________________________<br />

Como? _____________________________________________________________________<br />

Quais<br />

conteúdos?__________________________________________________________________<br />

___________________________________________________________________________<br />

257


8. Quais são os conteúdos que você desenvolve <strong>em</strong> suas <strong>aulas</strong> de Educação Física?<br />

9. Qual o método adotado <strong>em</strong> suas <strong>aulas</strong>? Explique “como” desenvolve os conteúdos<br />

escolhidos para ensinar seus alunos.<br />

10. Em sua opinião, quais são os objetivos principais <strong>da</strong>s <strong>aulas</strong> de Educação Física para as<br />

séries com as quais você trabalha?<br />

11. Em sua opinião, quais são as contribuições <strong>da</strong> Educação Física para a formação dos<br />

alunos?<br />

12. Como você identifica que o objetivo de sua aula foi atingido?<br />

___________________________________________________________________________<br />

___________________________________________________________________________<br />

___________________________________________________________________________<br />

__________________________________________________________________________<br />

258


13. Você avalia seus alunos? De que forma o faz? Quando você avalia?<br />

___________________________________________________________________________<br />

___________________________________________________________________________<br />

___________________________________________________________________________<br />

___________________________________________________________________________<br />

Obriga<strong>da</strong> pela sua atenção. Você acaba de colaborar para o avanço científico <strong>da</strong> nossa área de<br />

conhecimento.<br />

GEPEFE (Grupo de Estudos e Pesquisas <strong>em</strong> Educação Física Escolar) / USJT.<br />

259


ANEXO II<br />

QUADRO PERFIL DOS SUJEITOS<br />

260


FAIXA<br />

ETÁRIA<br />

SUJEITOS<br />

DÉCADA DE<br />

FORMAÇÃO<br />

ENFOQUE DA<br />

FORMAÇÃO<br />

ESPECIALI-<br />

ZAÇÃO<br />

ÁREA DA<br />

ESPECIALI-<br />

ZAÇÃO<br />

TEMPO DE<br />

ATUAÇÃO<br />

NA REDE<br />

ESTADUAL<br />

TEMPO DE<br />

ATUAÇÃO<br />

NA ESCOLA<br />

ATUAL<br />

1<br />

2<br />

3<br />

4<br />

5<br />

6<br />

7<br />

8<br />

9<br />

10<br />

11<br />

12<br />

13<br />

14<br />

15<br />

16<br />

17<br />

18<br />

19<br />

20<br />

21<br />

22<br />

23<br />

24<br />

25<br />

26<br />

27<br />

28<br />

29<br />

30<br />

31<br />

32<br />

33<br />

34<br />

35<br />

36<br />

37<br />

38<br />

39<br />

40<br />

41<br />

42<br />

43<br />

44<br />

45<br />

46<br />

47<br />

48<br />

49<br />

50<br />

51<br />

52<br />

53<br />

54<br />

55<br />

56<br />

57<br />

58<br />

59<br />

60<br />

61<br />

62<br />

63<br />

64<br />

20 – 30 anos X X X X X X X X X X X X X X X X X X<br />

31 – 40 anos X X X X X X X X X X X X X X X X X<br />

41 – 50 anos X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X<br />

+ 51 anos X X X X<br />

1970 X X X<br />

1980 X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X<br />

1990 X X X X X X X X X X X X<br />

2000 X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X<br />

BIOLÓGICA X X X X X X X X X X X<br />

TÉCNICO -<br />

ESPORTIVA X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X<br />

HUMANISTA X X X X X X X X X X X X<br />

PEDAGÓGICA X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X<br />

SIM<br />

X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X<br />

NÃO X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X<br />

ED. FÍSICA<br />

ESCOLAR X X X X X X X X X X X X<br />

ESPORTE/<br />

ESPORTE<br />

ESCOLAR X X X X X X X X<br />

OUTROS X X X X X X X X X X X X X X X X X X<br />

0 – 2 anos<br />

X<br />

3 – 5 anos X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X<br />

6 – 10 anos X X X X X X X X X X X X X X X<br />

11 – 15 anos X X X X X<br />

+ 15 anos X X X X X X X X X X X X X<br />

0 – 2 anos X X X X X X X X X X X X X X X<br />

3 – 5 anos X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X<br />

6 – 10 anos X X X X X X X<br />

11 – 15 anos X X<br />

+ 15 anos X X<br />

(RUSSO, 2010, p. 68)<br />

261


ANEXO III<br />

Respostas <strong>sobre</strong> a pergunta 12 : Como os professores identificam que o objetivo <strong>da</strong> aula<br />

foi atingido?<br />

S1 Pela participação deles, seu envolvimento e execução <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des<br />

S2 Pela participação do aluno na escola como um todo<br />

S3 Através de avaliações subjetivas e ao longo <strong>da</strong> <strong>aulas</strong><br />

S4 Quando do fechamento <strong>em</strong> conversa com os alunos, as colocações que eles faz<strong>em</strong><br />

S5 Pelas avaliações e interesses e conhecimentos deles<br />

S6 Quando os alunos se interessam, realizam as ativi<strong>da</strong>des, compreend<strong>em</strong> a importância dos<br />

conhecimentos aprendidos<br />

S7 Através de bons resultados dos alunos<br />

S8 Através de uma avaliação formativa que entende quais são as principais dificul<strong>da</strong>des dos alunos e<br />

nos dá informações dos dois principais agentes do processo educativo: o professor que saberá <strong>sobre</strong> o<br />

seu trabalho pe<strong>da</strong>gógico e poderá regular suas ações e o aluno que terá noção de suas maiores<br />

dificul<strong>da</strong>des e na melhor <strong>da</strong>s hipóteses conseguirá corrigir e solucionar seus erros<br />

S9 Ao final de ca<strong>da</strong> ativi<strong>da</strong>de proposta , por meio de ro<strong>da</strong> de conversa, registros<br />

S10 Quando discutimos com a criança, quando avalia-se alguns conhecimentos<br />

S11 Através <strong>da</strong> observação dos alunos e <strong>da</strong> repercussão dos conteúdos apresentados nas <strong>aulas</strong><br />

S12 Práticas e conhecimentos espontâneos<br />

S13 Na satisfação e motivação dos alunos<br />

S14 Através <strong>da</strong> observação e participação dos alunos, após o conteúdo proposto ser ministrado<br />

S15 Quando há participação e a motivação dos alunos na aula<br />

S16 Quando vejo que todos se interessam pela ativi<strong>da</strong>de e vejo nível de des<strong>em</strong>penho ao desenvolver a<br />

proposta obti<strong>da</strong>.<br />

S17 Em ro<strong>da</strong> de conversa, através <strong>da</strong> participação a partir <strong>da</strong> vivência dos alunos (se procuram pelo<br />

menos tentar...)<br />

S18 De acordo com o feedback do aluno, quando reúne o conhecimento ele d<strong>em</strong>onstra mu<strong>da</strong>nças de<br />

postura e atitude<br />

S19 Identifico através de questionamentos e pedidos dos educandos<br />

S20 Não respondeu<br />

S21 Durante ativi<strong>da</strong>des de avaliação <strong>em</strong> conversas informais, observando as relações interpessoais dos<br />

meus alunos<br />

262


S22 Pelo gosto que a gente percebe que o aluno tomou pela prática, pela expressão dele, e também pelo<br />

processo de avanços dos educandos, <strong>da</strong>ndo a ele s<strong>em</strong>pre o t<strong>em</strong>po necessário para ele aprender,<br />

respeitando esse t<strong>em</strong>po para o equilíbrio<br />

S23 Quando, por ex<strong>em</strong>plo, <strong>em</strong> uma aula de esporte, os alunos consegu<strong>em</strong> jogar adequa<strong>da</strong>mente.<br />

S24 Através <strong>da</strong>s respostas <strong>em</strong> seu comportamento entre os colegas, menos violência, drogas etc.<br />

S25 Quando a maioria dos alunos, <strong>em</strong> uma outra aula, executam o movimento <strong>da</strong> aula anterior de forma<br />

correta e por sua própria vontade<br />

S26 Quando todos os alunos consegu<strong>em</strong> atingi-lo<br />

S27 Observando a sua participação e motivação.<br />

S28 <strong>Avaliação</strong> teórica <strong>da</strong> proposta e nível de desenvolvimento e participação do aluno<br />

S29 Quando todos consegu<strong>em</strong> entender e/ou realizar as ativi<strong>da</strong>des<br />

S30 Quando o aluno t<strong>em</strong> autonomia para resolver probl<strong>em</strong>as, criar situações novas<br />

S31 Vendo a satisfação do aluno ao comentar <strong>da</strong>s <strong>aulas</strong> <strong>em</strong> que participou<br />

S32 Na minha opinião, atinjo os objetivos propostos quando meus alunos sa<strong>em</strong> felizes <strong>da</strong> aula e eu<br />

também<br />

S33 Do carinho que eles t<strong>em</strong> <strong>em</strong> fazer a aula e situações <strong>da</strong>s munições <strong>da</strong> aprendizag<strong>em</strong> <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des<br />

S34 Pelos resultados observados nas <strong>aulas</strong> e na vi<strong>da</strong> dos alunos. N<strong>em</strong> tudo é curto prazo<br />

S35 Quando um aluno chega pra mim e diz que adorou a aula e que vai procurar um clube ou local<br />

específico para praticar mais<br />

S36 Pela manifestação de prazer e manifestação <strong>da</strong> turma<br />

S37 Quando no final <strong>da</strong> aula faz<strong>em</strong>os a ro<strong>da</strong> de conversa e eles próprios consegu<strong>em</strong> identificar os pontos<br />

positivos e principalmente quando eles estão satisfeitos <strong>em</strong> suas manifestações<br />

S38 Quando meu aluno termina as ativi<strong>da</strong>des com um sorriso largo, comentando com os alunos “hoje a<br />

aula foi <strong>da</strong> hora”. Meu objetivo maior é o aluno.<br />

S39 Pelo prazer do aluno <strong>em</strong> realizar determinado movimento, jogo ou ativi<strong>da</strong>de <strong>da</strong><strong>da</strong>. Ex. um jogo <strong>em</strong><br />

que o aluno t<strong>em</strong> de abaixar e defender com a cabeça (quadrupedia). A princípio ele não faz, mas<br />

depois se rende e vê que é prazeroso<br />

S40 Sim, a aula que ele necessita<br />

S41 Observando as ativi<strong>da</strong>des e nas conversas nos finais <strong>da</strong>s <strong>aulas</strong>, quando os alunos pod<strong>em</strong> se<br />

expressar.<br />

S42 Quando encontro os meus alunos o longo <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>.<br />

S43 Através <strong>da</strong> avaliação contínua e observação. Observo muito minhas turmas, principalmente nas<br />

relações interpessoais e s<strong>em</strong>pre com a ro<strong>da</strong> de grupo no final <strong>da</strong> aula.<br />

263


S44 Sinto muita dificul<strong>da</strong>de. Sinto que o objetivo foi atingido quando a aula satisfaz a maioria dos alunos.<br />

S45 A participação do grupo <strong>em</strong> to<strong>da</strong>s as ativi<strong>da</strong>des propostas e a troca de experiência entre eles.<br />

S46 Quando o aluno consegue transmitir ao caderno ou ao colega, por ex<strong>em</strong>plo, o que foi apresentado na<br />

aula.<br />

S47 Através <strong>da</strong> avaliação subjetivas e observação do des<strong>em</strong>penho.<br />

.<br />

S48 Através <strong>da</strong>s avaliações e participação<br />

S49 Não respondeu<br />

S50 Procuro identificar através do diálogo e <strong>da</strong> observação se os alunos entenderam o que foi proposto,<br />

se consegu<strong>em</strong> executar a ativi<strong>da</strong>de, resolver a situação probl<strong>em</strong>a<br />

S51 Quando o aluno t<strong>em</strong> uma satisfação plena e sabe identificar o que foi aprendido<br />

S52 Os alunos começam a mu<strong>da</strong>r, se transformam <strong>em</strong> pessoas melhores. Começam a querer participar<br />

mais, o interesse no aprender aumenta e a indisciplina e valores s<strong>em</strong> éticas diminu<strong>em</strong><br />

consideravelmente.<br />

S53 Através <strong>da</strong>s atitudes dos alunos, <strong>da</strong>r ro<strong>da</strong>s de conversa que propomos, percebo as dificul<strong>da</strong>des e<br />

facili<strong>da</strong>des, intervenções possíveis e necessárias que por ventura deverão ser realiza<strong>da</strong>s.<br />

S54 Quando eles mu<strong>da</strong>m algumas formas de agir e pensar<br />

S55 Através <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des realiza<strong>da</strong>s pelos alunos e as avaliações realiza<strong>da</strong>s no processo de construção<br />

do conhecimento.<br />

S56 Conversas ao final <strong>da</strong> aula e observação<br />

S57 Infelizmente a minoria dos alunos participam o suficiente para que se sinta uma mu<strong>da</strong>nça na postura<br />

com relação as ativi<strong>da</strong>des físicas. Posso dizer que mantendo a minha postura com os alunos de<br />

mostrar a a Educação Física como algo sério consigo observar mu<strong>da</strong>nças no comportamento dos<br />

alunos.<br />

S58 Quando provoca desequilíbrio cognitivo e o aluno cria uma nova maneira de agir. As propostas<br />

dev<strong>em</strong> ser pe<strong>da</strong>gogicamente di<strong>da</strong>ticamente prepara<strong>da</strong>s, planeja<strong>da</strong>s, com tarefas simples para mais<br />

complexas desafiadoras, para que ocorra o desequilíbrio cognitivo.<br />

S59 Através <strong>da</strong>s avaliações que eu proponho.<br />

S60 Bom, como não t<strong>em</strong>os nenhum tipo de avaliação, vejo o progresso durante as <strong>aulas</strong> práticas<br />

S61 Através <strong>da</strong>s observações <strong>da</strong>s <strong>aulas</strong>, conversas, discussões <strong>sobre</strong> t<strong>em</strong>as e registros<br />

S62 Quando <strong>em</strong> outro momento/ outra aula solicito a mesma ativi<strong>da</strong>de e/ou pareci<strong>da</strong>. E eles<br />

d<strong>em</strong>onstram domínio e autonomia conduzindo a ativi<strong>da</strong>de com pouca interferência <strong>da</strong> professora.<br />

S63 Quando os alunos consegu<strong>em</strong> chegar no objetivo proposto<br />

S64 Através <strong>da</strong> observação/ participação; registro.<br />

264


ANEXO IV<br />

Respostas <strong>sobre</strong> a pergunta 13, negritando as uni<strong>da</strong>des de significado que se refer<strong>em</strong> a<br />

primeira parte - Você avalia seus alunos? De que forma o faz? Quando você avalia?<br />

S1 Sim, pela observação constante <strong>da</strong> execução <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des e <strong>da</strong> d<strong>em</strong>onstração do interesse deles<br />

S2 4 vertentes: participação, uniformização, construção individual e construção coletiva<br />

S3 Através <strong>da</strong> observação subjetiva, elaboração de trabalho, cartazes, ao longo <strong>da</strong>s <strong>aulas</strong> e no final de<br />

ca<strong>da</strong> módulo trabalhado<br />

S4 Ao final de ca<strong>da</strong> ciclo de aprendizag<strong>em</strong> faço prova teórica e corrigimos e finalmente trocamos ideias<br />

<strong>sobre</strong> o assunto<br />

S5 Sim, qualitativa e s<strong>em</strong>pre<br />

S6 Sim. Durante o processo, através de provas (teóricas), percebendo a evolução e o interesse dos<br />

alunos.<br />

S7 Avalio através <strong>da</strong> participação. O interesse do aluno é fun<strong>da</strong>mental<br />

S8 A avaliação é contínua<br />

S9 O aluno é avaliado durante todo o processo, por meio de ativi<strong>da</strong>des práticas, seus registros e<br />

discussões, e no final de ca<strong>da</strong> t<strong>em</strong>a (conteúdo) proposto.<br />

S10 Sim, por intermédio de vídeo, desenho, escrita, leitura etc.<br />

S11 Sim, através do envolvimento dos alunos nas <strong>aulas</strong> e com questões <strong>sobre</strong> os t<strong>em</strong>as absorvidos no<br />

bimestre que são incluídos <strong>em</strong> um “simulado” realizado por todos os alunos bimestralmente.<br />

S12 Eu não avalio <strong>em</strong> nota exigi<strong>da</strong> pela S.E., sim pelo fato de o aluno praticar, gostar, entender aquilo que<br />

faz, não importando o nível de habili<strong>da</strong>de e sim a continuação e as escolhas que fará.<br />

S13 Tecnicamente (provas) Fisicamente (testes)<br />

S14 Participação todos os dias o aluno é avaliado através do seu desenvolvimento nas ativi<strong>da</strong>des<br />

propostas.<br />

S15 Sim. Contínua. Durante o s<strong>em</strong>estre.<br />

S16 Em ativi<strong>da</strong>des práticas e <strong>em</strong> provas através <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des escritas<br />

S17 O t<strong>em</strong>po todo. Observação, avaliação prática (s<strong>em</strong> modelo, apenas indicações de técnica) avaliação<br />

escrita (conceitual, opiniões)<br />

S18 Sim, através <strong>da</strong> observação, provas, trabalhos<br />

S19 Todos são avaliados. Observo de acordo com as características, o aproveitamento, compreensão e<br />

prática constante dos conteúdos ensinados. E isso é feito todos os dias durante as <strong>aulas</strong><br />

S20 Não respondeu<br />

265


S21 Avalio meus alunos de forma diferentes, através de trabalhos, cadernos, observação e registro de<br />

situações <strong>em</strong> aula<br />

S22 Sim, de maneira contínua, s<strong>em</strong>pre <strong>da</strong>ndo a ele o t<strong>em</strong>po necessário para ele aprender, respeitando<br />

esse t<strong>em</strong>po para o equilíbrio <strong>da</strong> aprendizag<strong>em</strong>, proporcionando ao educando a proximi<strong>da</strong>de do<br />

conteúdo a ser avaliado com suas vivências e conhecimentos prévios, ampliando-os<br />

S23 Sim, através de prova teórica do assunto do bimestre e a participação e vivência <strong>em</strong> to<strong>da</strong>s as <strong>aulas</strong><br />

práticas, mais trabalhos com apresentações dos t<strong>em</strong>as vivenciados<br />

S24 Avalio no contexto geral (todo) não precisa ser ótimo <strong>em</strong> um esporte, que conheça um pouco de ca<strong>da</strong><br />

um, enten<strong>da</strong> a importância de movimentar –se que é bom para sua saúde<br />

S25 Avalio todos os dias muitas vezes fazendo anotações<br />

S26 Sim, <strong>em</strong> to<strong>da</strong>s as <strong>aulas</strong>, observando sua evolução, dificul<strong>da</strong>des<br />

S27 Avalio através de trabalhos pequenos , se realizou as tarefas propostas <strong>da</strong> apostila e, às vezes,<br />

organizo uma prova circuito, de habili<strong>da</strong>des, tenho o hábito de usa o CPA (Comportamento,<br />

Participação e Atitudes)<br />

S28 Sim, pela frequência, apostila do aluno, avalio durante as <strong>aulas</strong> no decorrer do bimestre.<br />

S29 Avalio no dia-dia por observação<br />

S30 Contínua, durante as <strong>aulas</strong>, nas ações de aprendizado<br />

S31 Sim, ao longo do processo de ativi<strong>da</strong>de. A todo o momento<br />

S32 Pela sua participação autônoma na aula<br />

S33 Prática e teórica<br />

S34<br />

Sim através <strong>da</strong> observação, avaliação, escrita e algumas vezes diálogo.<br />

S35 Sim, as <strong>aulas</strong> são uma constante avaliação do desenvolvimento. É feita passo a a passo, diariamente<br />

S36 Sim, pela participação e interesse cotidianamente<br />

S37 Neste final de aula, um outro momento infelizmente t<strong>em</strong> que constar a presença ou a falta do aluno e<br />

principalmente na participação dele.<br />

S38 Sim, minha avaliação é contínua e paralela<br />

S39 Sim. Pela participação <strong>em</strong> aula <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des propostas. Pela criativi<strong>da</strong>de <strong>em</strong> ativi<strong>da</strong>des pedi<strong>da</strong>s. Por<br />

avaliação prática de determinados movimentos. Pela elaboração e criação de jogos sist<strong>em</strong>áticos com<br />

uso de materiais diversificados.<br />

S40 Sim, autoavaliação . Em to<strong>da</strong>s as ativi<strong>da</strong>des e, principalmente nas suas ativi<strong>da</strong>des e falas iniciais e com<br />

as finais<br />

S41 Através de observações a anotações durante as <strong>aulas</strong>.<br />

S42 S<strong>em</strong>pre, durante todo o período <strong>da</strong> escola. Ó, faço de diversas maneiras, postura pessoal,<br />

conhecimento <strong>da</strong> matéria, responsabili<strong>da</strong>de, e através <strong>da</strong> chama<strong>da</strong> oral e prova escrita. <strong>Avaliação</strong><br />

contínua.<br />

266


S43 <strong>Avaliação</strong> contínua de atitudes e valores. Principalmente.<br />

S44 Não<br />

S45 Eu avalio a participação dos alunos e interação dentro e fora <strong>da</strong> escola eles levam o conhecimento <strong>da</strong><br />

escola para a família com ativi<strong>da</strong>des que vivenciaram nas <strong>aulas</strong>.<br />

S46 Sim, de forma prática e teórica, ao final do bimestre. Se o nosso foi participativo, teve boa conduta,<br />

respeitando aos colegas, se cooperou com as ativi<strong>da</strong>des e se conseguiu registrar de alguma forma o<br />

conteúdo que foi desenvolvido<br />

S47 Observação.<br />

S48 Sim, de forma qualitativa e s<strong>em</strong>pre.<br />

S49 Observação do des<strong>em</strong>penho<br />

S50 Avalio s<strong>em</strong>pre os alunos através <strong>da</strong> observação, do diálogo, dos registros. A avaliação deve ser<br />

contínua e formativa.<br />

S51 Pelo interesse, participação, responsabili<strong>da</strong>de de entregar as ativi<strong>da</strong>des, disciplina e<br />

comprometimento.<br />

S52 No começo do ano, durante as <strong>aulas</strong>, durante todo o ano eu vou auxiliado-os e ca<strong>da</strong> aula sua<br />

dificul<strong>da</strong>des (s<strong>em</strong>pre medindo suas evoluções) através de <strong>da</strong>dos comportamentais, avaliações verbais<br />

e teóricas, <strong>em</strong> forma de s<strong>em</strong>inários e provas escritas e orais (s<strong>em</strong>pre com intenção do aumento <strong>da</strong><br />

aprendizag<strong>em</strong>).<br />

S53 A avaliação é contínua, durante todo o processo de ensino. É feita através <strong>da</strong> observação de<br />

trabalhos <strong>em</strong> grupo e individual, registros feitos pelos alunos e também pelo professor.<br />

S54 Sim, de forma prática e oral e bimestralmente.<br />

S55 Sim, através de ativi<strong>da</strong>des como: textos produzidos por eles, apresentações de trabalhos, <strong>aulas</strong><br />

elabora<strong>da</strong>s por eles, projetos, etc.<br />

S56 Sim, o aluno é avaliado dento do seu limite.<br />

S57 Sim, dependendo <strong>da</strong> forma como o conteúdo é trabalhado. Conteúdos mais práticos são avaliados<br />

pela participação (não pelo des<strong>em</strong>penho). Conteúdos mais teóricos são avaliados com provas<br />

S58 Sim, a observação é sist<strong>em</strong>ática e contínua. O aluno deve participar e progredir dentro do processo<br />

dinâmico d e construção do conhecimento.<br />

Instrumento <strong>da</strong> avaliação – trabalhos, anotações <strong>sobre</strong> o interesse, participação, cooperação. O que<br />

facilita minha observação é que acompanho esses alunos desde a 1ª séries no des<strong>em</strong>penho<br />

individualmente de suas capaci<strong>da</strong>des físicas-motoras. Assim como o desenvolvimento <strong>da</strong> capaci<strong>da</strong>de<br />

sócio-afetiva bimestralmente.<br />

S59 Avalio a participação dos alunos nas <strong>aulas</strong>, além de trabalhos e avaliações teóricas.<br />

S60 Pela participação durante as <strong>aulas</strong> e frequência<br />

S61 Sim, Observações e registros. A avaliação acontece <strong>em</strong> todo processo de ensino-aprendizag<strong>em</strong><br />

S62 Sim, diariamente por observação, participação, comprometimento com a aula e comportamento<br />

S63 Sim, constant<strong>em</strong>ente, a partir dos t<strong>em</strong>as desenvolvidos, com registros realizados por eles e<br />

267


participação <strong>em</strong> trabalhos e ativi<strong>da</strong>des propostas e seu comportamento <strong>em</strong> aula, vendo o caderno<br />

etc.<br />

S64 Sim, avaliação contínua<br />

268


ANEXO V<br />

TRANSCRIÇÃO DOS ENCONTROS COM OS PROFESSORES<br />

1° dia de encontro com os professores (15/9/2010)<br />

A pesquisadora se apresentou para os professores e disse: Eu gostaria que vocês<br />

respondess<strong>em</strong> a duas perguntas desse questionário que eu preparei para vocês, para eu fazer<br />

uma son<strong>da</strong>g<strong>em</strong> inicial dos seus conhecimentos a respeito <strong>da</strong> avaliação, antes <strong>da</strong>r início às<br />

nossas reflexões <strong>sobre</strong> o mesmo t<strong>em</strong>a.<br />

Questão 1: Como você identifica que o objetivo de sua aula foi atingido?<br />

Resposta do Professor 1: Quando a ativi<strong>da</strong>de é realiza<strong>da</strong> tranquilamente por todos os<br />

participantes e que quando questionados a respeito do conteúdo trabalhado<br />

sab<strong>em</strong> dizer o que entenderam e que isso seja próximo do correto.<br />

Resposta do Professor 2: Quando o aluno não só faz a ativi<strong>da</strong>de realiza<strong>da</strong>, mas também<br />

entende o objetivo do que foi proposto.<br />

Resposta do Professor 3: Eu procuro dominar o conteúdo que vou ensinar para saber usar a<br />

forma de avaliação que ajude ver se o objetivo foi cumprido.<br />

Resposta do Professor 4: Quando o aluno modifica o seu comportamento, incorporando no dia<br />

a dia.<br />

Resposta do Professor 5: A partir do momento <strong>em</strong> que o aluno consiga responder, por<br />

ex<strong>em</strong>plo, ou durante a dinâmica <strong>da</strong> aula, as questões ou situações propostas do<br />

dia. Ex.: laterali<strong>da</strong>de – o aluno saber responder como descer do tr<strong>em</strong> do metrô<br />

quando o condutor diz: “Des<strong>em</strong>barque pelo lado esquerdo do tr<strong>em</strong>”. Ele sabendo<br />

já identifico como conhecimento adquirido.<br />

Resposta do Professor 6: Quando consigo fazer com que todos ou a maioria participe<br />

efetivamente <strong>da</strong> aula.<br />

Resposta do Professor 7: Quando vejo que a grande maioria <strong>da</strong> turma realizou o<br />

desenvolvimento, onde meus alunos realizam diversas formas de movimentos<br />

desde o mais simples ao mais complexo e no término <strong>da</strong> aula avalio o olhar de<br />

satisfação e motivação de muitos alunos.<br />

Resposta do Professor 8: Quando consigo alcançar por completo meu objetivo de uma<br />

maneira simples, tranquila e completa.<br />

Questão 2: Você avalia seus alunos? De que forma o faz? Quando você avalia?<br />

Resposta do Professor 1: Sim, as avaliações são periódicas de acordo com an<strong>da</strong>mento do<br />

conteúdo, mas também atrela<strong>da</strong>s ao fechamento do bimestre. As avaliações são<br />

teóricas, por participação nas <strong>aulas</strong>, por “desenvoltura” no fazer e não pelo<br />

movimento técnico.<br />

269


Resposta do Professor 2: Sim avalio meus alunos através de provas, participação nas <strong>aulas</strong><br />

práticas e trabalhos realizados <strong>em</strong> grupos, isso com o Ensino Médio. No ciclo I<br />

avalio somente através <strong>da</strong> observação dos alunos durante as <strong>aulas</strong> e re<strong>da</strong>ções<br />

realiza<strong>da</strong>s pelos mesmos. As provas e as re<strong>da</strong>ções são feitas ao final de ca<strong>da</strong><br />

bimestre.<br />

Resposta do Professor 3: Sim, de maneira contínua, no processo, vendo o ser humano<br />

holisticamente, por meio de diferentes instrumentos.<br />

Resposta do Professor 4: Sim, continuamente (nas <strong>aulas</strong> no dia a dia).<br />

Resposta do Professor 5: Sim, há avaliação escrita, através de perguntas de textos já<br />

apresentados. Criação de exercícios ou jogos utilizando materiais e movimentos<br />

ligados à ativi<strong>da</strong>de física. Também é avaliado o aproveitamento dos alunos,<br />

desde a disciplina <strong>em</strong> quadra, cui<strong>da</strong>do com os materiais <strong>da</strong> escola, e interesse, no<br />

conteúdo e técnicas de ca<strong>da</strong> mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>de ou gesto de movimentos, além de<br />

pesquisas simples <strong>sobre</strong> determinados t<strong>em</strong>as.<br />

Resposta do Professor 6: Sim, avalio a participação e o progresso de ca<strong>da</strong> aluno, às vezes<br />

pedindo trabalho, provas práticas ou teóricas. A avaliação é realiza<strong>da</strong> por<br />

bimestre.<br />

Resposta do Professor 7: Procuro avaliar meus alunos de maneira atitudinal, onde através de<br />

diversos estímulos práticos eu vejo as atitudes de meus alunos durante as <strong>aulas</strong><br />

práticas. Acredito que partindo de uma avaliação atitudinal aos poucos pod<strong>em</strong>os<br />

desenvolver uma avaliação mais geral. Por ex<strong>em</strong>plo, utilizando jogos a<strong>da</strong>ptados<br />

para determina<strong>da</strong>s turmas, procuro avaliar durante to<strong>da</strong>s as minhas <strong>aulas</strong>, não<br />

determinando uma <strong>da</strong>ta precisa, mas através de observações ali vivencia<strong>da</strong>s,<br />

tento compará-las com outras <strong>aulas</strong>, chegando a um resultado diferenciado.<br />

Resposta do Professor 8: Sim, individualmente e respeitando a capaci<strong>da</strong>de e<br />

comprometimento de ca<strong>da</strong> aluno. A avaliação é constante.<br />

Após os professores ter<strong>em</strong> terminado de responder o questionário, a pesquisadora disse:<br />

Considero importante expor para vocês que a decisão de realizar esses momentos de reflexão<br />

foi idealiza<strong>da</strong> após eu ter analisado os <strong>da</strong>dos referentes à prática pe<strong>da</strong>gógica de vocês e de<br />

outros professores de Educação Física <strong>da</strong> Diretoria de Ensino Centro-Sul que não estão<br />

presentes, mas que responderam ao questionário aplicado pelo GEPEFE <strong>em</strong> 2009, durante o<br />

evento com os mentores <strong>da</strong> Proposta Curricular do Estado de SP, realizado na Universi<strong>da</strong>de<br />

São Ju<strong>da</strong>s Tadeu. Entendo como uma ação importante apresentar os resultados que foram<br />

encontrados nas respostas forneci<strong>da</strong>s <strong>sobre</strong> a prática avaliativa que vocês desenvolv<strong>em</strong>, e a<br />

partir desses resultados encontrados trocar saberes e coletivamente refletir <strong>sobre</strong> a avaliação<br />

nas <strong>aulas</strong> de Educação Física escolar. Para isso será muito importante vocês colocar<strong>em</strong> as suas<br />

experiências, conhecimentos <strong>sobre</strong> o assunto, e vamos confrontando com o que apontam as<br />

discussões expostas na literatura <strong>sobre</strong> a avaliação.<br />

Acho válido também explicar que estes momentos de reflexão que proponho integram a<br />

minha tese de doutorado, que está analisando como se dá a avaliação <strong>em</strong> Educação Física<br />

escolar, e que pretende também apresentar a vocês orientações e ações para o uso <strong>da</strong> avaliação<br />

no cotidiano <strong>da</strong>s suas <strong>aulas</strong>, considerando a reali<strong>da</strong>de escolar <strong>em</strong> que estão inseridos.<br />

270


Professor 3: Eu ouvir você falar isso, me deixa muito feliz, porque eu tô cansa<strong>da</strong> de participar<br />

de pesquisas, responder questionários e nunca ter retorno de na<strong>da</strong>, os<br />

pesquisadores só quer<strong>em</strong> falar mal <strong>da</strong> gente e nunca se preocupam <strong>em</strong> aju<strong>da</strong>r a<br />

gente a melhorar, por isso eu acho a sua atitude muito importante, porque é a<br />

única que eu conheço que se preocupou <strong>em</strong> <strong>da</strong>r um retorno e trazer<br />

conhecimentos para a gente pensar <strong>sobre</strong> a nossa prática.<br />

Pesquisadora: Sendo assim, vamos aos resultados <strong>da</strong> análise feita <strong>da</strong>s respostas de vocês <strong>sobre</strong><br />

a prática avaliativa. (A pesquisadora mostra um slide com quadro expondo os assuntos <strong>sobre</strong><br />

avaliação abor<strong>da</strong>dos pelos professores <strong>em</strong> suas respostas.)<br />

Vejam, de maneira geral foi encontra<strong>da</strong> nas respostas a citação dos seguintes aspectos <strong>sobre</strong><br />

avaliação:<br />

QUESTÃO 12- Como você identifica que o objetivo de sua aula<br />

foi atingido?<br />

% RESPOSTAS<br />

Por meio de conversas com os alunos 16% (18)<br />

Pela participação e envolvimento dos alunos 23% (25)<br />

Por observação dos alunos 22% (24)<br />

<strong>Avaliação</strong> dos conhecimentos 14% (15)<br />

Pelo nível de des<strong>em</strong>penho apresentado pelos alunos 4,5% (05)<br />

Por registros de situações de aula 4% (04)<br />

Pelas resoluções <strong>da</strong>s situações probl<strong>em</strong>a 4,5% (05)<br />

Pelas metas alcança<strong>da</strong>s pelos alunos 2% (02)<br />

Por meio de avaliações processuais 8% (09)<br />

Não define 0,9% (01)<br />

Respondeu que não avalia 0,9% (01)<br />

Não respondeu 0,9% (01)<br />

Pesquisadora: Eu também acho importante vocês observar<strong>em</strong> nesse outro quadro a frequência<br />

e a porcentag<strong>em</strong> que essas categorias apareceram nas respostas de ca<strong>da</strong> professor analisado,<br />

<strong>sobre</strong> a pergunta 12 - como identificam que o objetivo de sua aula foi atingido?<br />

271


12- Como você<br />

identifica que o<br />

objetivo de sua<br />

1<br />

2<br />

3<br />

4<br />

5<br />

6<br />

7<br />

8<br />

9<br />

10<br />

11<br />

12<br />

13<br />

14<br />

15<br />

16<br />

17<br />

18<br />

19<br />

20<br />

21<br />

22<br />

23<br />

24<br />

25<br />

26<br />

27<br />

28<br />

29<br />

30<br />

31<br />

32<br />

33<br />

34<br />

35<br />

36<br />

37<br />

38<br />

39<br />

40<br />

41<br />

42<br />

43<br />

44<br />

45<br />

46<br />

47<br />

48<br />

49<br />

50<br />

51<br />

52<br />

53<br />

54<br />

55<br />

56<br />

57<br />

58<br />

59<br />

60<br />

61<br />

62<br />

63<br />

64<br />

Conversas X X X X X X X X X X X X X X X X X X 16%<br />

Participação e<br />

envolvimento<br />

nas ativi<strong>da</strong>des<br />

X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X 23%<br />

Observação X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X 22%<br />

<strong>Avaliação</strong> dos<br />

conhecimentos<br />

Nível de<br />

des<strong>em</strong>penho<br />

Registros de<br />

situações de<br />

Resolv<strong>em</strong><br />

situações-<br />

Quando os<br />

alunos<br />

ating<strong>em</strong> os<br />

De maneira<br />

processual<br />

X X X X X X X X X X X X X X X 14%<br />

X X X X X 5%<br />

X X X X 4%<br />

X X X X X 5%<br />

X X 2%<br />

X X X X X X X X X 8%<br />

Não define X 0.9%<br />

Respondeu<br />

que não avalia<br />

Não<br />

respondeu<br />

X 0.9%<br />

X 0.9%<br />

TOTAL<br />

272


Pesquisadora: Percebam nesses dois quadros os resultados mostram que há avanços na<br />

maneira que vocês compreend<strong>em</strong> a avaliação <strong>da</strong> aprendizag<strong>em</strong> nas <strong>aulas</strong> de educação física<br />

escolar. mas também apresenta que ain<strong>da</strong> t<strong>em</strong> lacunas que d<strong>em</strong>onstram a necessi<strong>da</strong>de de mais<br />

estudos para encontrar caminhos para melhorar a prática avaliativa de forma mais<br />

contextualiza<strong>da</strong> com as turmas e escolas <strong>em</strong> que vocês atuam.<br />

Com relação aos avanços, nota-se que não há mais a priori<strong>da</strong>de para a avaliação ti<strong>da</strong> como<br />

medi<strong>da</strong> de des<strong>em</strong>penho, vejam como são poucos os professores que realizam a avaliação por<br />

meio de testes físicos e motores. Então, isso significa mu<strong>da</strong>nças no foco <strong>da</strong> avaliação, que<br />

parece não ser mais pauta<strong>da</strong> nos aspectos físico-motores, mas sim <strong>em</strong> aspectos do conteúdo<br />

atitudinal, como, por ex<strong>em</strong>plo, as condutas e os comportamentos expressados pelos alunos<br />

durante as <strong>aulas</strong>, como pode ser visto aqui quando os professores apontam avaliar a<br />

participação e o envolvimento dos alunos nas <strong>aulas</strong>.<br />

A respeito dos probl<strong>em</strong>as encontrados, foi possível perceber nas respostas <strong>da</strong><strong>da</strong>s que poucos<br />

professores apontam quais são os critérios que eles consideram para avaliar a aprendizag<strong>em</strong><br />

dos alunos. Outro ponto é que, quando os professores apontam os critérios, consideram<br />

somente a participação e o envolvimento nas <strong>aulas</strong> e não são mencionados se também avaliam<br />

outros conteúdos como os conceituais. Há poucas práticas que d<strong>em</strong>onstram propiciar<br />

momentos <strong>em</strong> que os alunos possam se autoavaliar e expor a sua opinião.<br />

Agora, vamos ver os resultados <strong>da</strong> outra pergunta que se referia à t<strong>em</strong>ática (pergunta 13 -<br />

Você avalia seus alunos? De que forma avalia? Como avalia?):<br />

Você avalia seus alunos?<br />

AVALIAÇÃO<br />

2% SIM NÃO<br />

QUESTÃO13- De que forma 97% o faz? %<br />

Pela participação e envolvimento do aluno 11% (20)<br />

<strong>Avaliação</strong> por meio de prova teórica 8% (14)<br />

<strong>Avaliação</strong> por meio de prova prática 3% (06)<br />

<strong>Avaliação</strong> por meio de prova oral 2% (03)<br />

Outros tipos de avaliações e provas 1% (02)<br />

Por meio de observação dos alunos 16% (27)<br />

Pelo des<strong>em</strong>penho dos alunos 1% (02)<br />

Pelos conteúdos atitudinais e valores 5% (10)<br />

Por meio de registros dos alunos 6% (11)<br />

Pelos registros do professor 3% (05)<br />

Por meio de trabalhos realizados 5% (10)<br />

Avaliações construí<strong>da</strong>s de forma individual e coletiva 0,5% (01)<br />

Pela frequência às <strong>aulas</strong> 2% (03)<br />

Por meio de conversas <strong>em</strong> aula com os alunos 3% (06)<br />

Não define 4% (08)<br />

Respondeu que não avalia 0,5% (01)<br />

273


Não respondeu 0,5% (01)<br />

QUESTÃO13- Quando você avalia seus alunos? %<br />

<strong>Avaliação</strong> durante o processo 54% (35)<br />

<strong>Avaliação</strong> bimestral 3% (02)<br />

<strong>Avaliação</strong> realiza<strong>da</strong> ao final de ca<strong>da</strong> conteúdo 3% (02)<br />

<strong>Avaliação</strong> realiza<strong>da</strong> ao final do ciclo 1,5% (01)<br />

Não define o momento <strong>em</strong> que avalia 35% (23)<br />

Respondeu que não avalia 1,5% (01)<br />

Não respondeu 1,5% (01)<br />

Pesquisadora: Vamos observar um outro quadro que apresenta de forma geral a frequência e a<br />

porcentag<strong>em</strong> que esses instrumentos e critérios aparec<strong>em</strong> nas respostas dos professores e<br />

agrupa<strong>da</strong>s <strong>em</strong> categorias <strong>sobre</strong> a segun<strong>da</strong> parte <strong>da</strong> pergunta 13: De que forma o faz?<br />

274


13- De que<br />

forma o faz?<br />

Participação e<br />

envolvimento<br />

nas ativi<strong>da</strong>des<br />

<strong>Avaliação</strong>/<br />

Prova teórica<br />

<strong>Avaliação</strong>/<br />

Prova prática<br />

1<br />

2<br />

3<br />

4<br />

5<br />

6<br />

7<br />

8<br />

9<br />

10<br />

11<br />

12<br />

13<br />

14<br />

15<br />

16<br />

17<br />

18<br />

19<br />

20<br />

21<br />

22<br />

23<br />

24<br />

25<br />

26<br />

27<br />

28<br />

29<br />

30<br />

31<br />

32<br />

33<br />

34<br />

35<br />

36<br />

37<br />

38<br />

39<br />

40<br />

41<br />

42<br />

43<br />

44<br />

45<br />

46<br />

47<br />

48<br />

49<br />

50<br />

51<br />

52<br />

53<br />

54<br />

55<br />

56<br />

57<br />

58<br />

59<br />

60<br />

61<br />

62<br />

63<br />

64<br />

X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X 11%<br />

X X X X X X X X X X X X X X 8%<br />

X X X X X X 3%<br />

Prova oral X X X 2%<br />

Outras<br />

avaliações e<br />

provas<br />

X X 1%<br />

Observação X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X 16%<br />

Des<strong>em</strong>penho X X 1%<br />

Conteúdos<br />

Atitudinais e<br />

valores<br />

Registros dos<br />

alunos<br />

Registros do<br />

professor<br />

X X X X X X X X X X 5%<br />

X X X X X X X X X X X 3%<br />

X X X X X 3%<br />

Trabalhos<br />

Construção<br />

X X X X X X X X X X 5%<br />

individual e<br />

coletiva<br />

X 0.5%<br />

Frequência X X X 2%<br />

Conversas e<br />

Discussões<br />

X X X X X X 3%<br />

Não define X X X X X X X X 4%<br />

Respondeu<br />

que não avalia<br />

Não<br />

respondeu<br />

X 0.5%<br />

X 0.5%<br />

TOTAL<br />

275


Pesquisadora: Not<strong>em</strong> que muitos professores declaram que avaliam seus alunos. Esse é um<br />

<strong>da</strong>do bastante positivo, porque revela que consideram essa prática importante <strong>em</strong> sua ação<br />

docente. Nesse último quadro também é possível observar que existe uma tendência para o<br />

uso de instrumentos de avaliação informais, como a observação, trabalho, conversas<br />

realiza<strong>da</strong>s <strong>em</strong> aula. Vejam quantos professores apontam utilizá-las. As respostas também<br />

apontaram que vários professores diversificam os instrumentos de avaliação, mas poucos<br />

mencionam os critérios de avaliação, mas quando são referidos focam na avaliação dos<br />

comportamentos e condutas dos alunos. Desse modo, d<strong>em</strong>onstram priorizar a apreciação dos<br />

comportamentos e condutas nas <strong>aulas</strong>. Esses resultados mostram a necessi<strong>da</strong>de de mais<br />

conhecimentos <strong>sobre</strong> a escolha dos instrumentos de avaliação, levando <strong>em</strong> conta os diferentes<br />

tipos de conteúdos, os métodos de ensino que o professor usa <strong>em</strong> suas <strong>aulas</strong>, isso aju<strong>da</strong> na<br />

escolha dos instrumentos de avaliação de forma coerente com o que e como ensino os alunos.<br />

Além do que eu expus, algum de vocês quer comentar mais alguma coisa que percebeu na<br />

apresentação desses <strong>da</strong>dos? Ou seja, alguém quer colocar mais alguma coisa <strong>sobre</strong> a<br />

apresentação dos resultados <strong>da</strong> prática avaliativa dos professores de Educação Física dessa<br />

Diretoria? (Os professores balançam a cabeça, expressando que ninguém t<strong>em</strong> na<strong>da</strong> a dizer.)<br />

Mas, vocês acham que procedi aos resultados apresentados? Concor<strong>da</strong>m ou discor<strong>da</strong>m de<br />

alguma coisa?<br />

Professor 6: Eu concordo com tudo que você colocou, é legal ver que a gente já faz coisas<br />

legais na avaliação, mas acho que a gente ain<strong>da</strong> t<strong>em</strong> alguns probl<strong>em</strong>as na nossa<br />

prática porque a gente avalia do jeito que fomos avaliados.<br />

Pesquisadora: Pensando nessa sua fala, também vejo que as experiências que a gente teve<br />

como alunos na Educação Básica e graduação influenciam <strong>da</strong>s nossas práticas de avaliação.<br />

Exist<strong>em</strong> alguns estudos na área <strong>da</strong> Educação Física que sustentam essa ideia, como, por<br />

ex<strong>em</strong>plo, Borges e Amorim e Ramos, esses autores analisaram a trajetória vivi<strong>da</strong> pelos<br />

profissionais <strong>da</strong> área, percorri<strong>da</strong> do período <strong>da</strong> formação básica, acadêmica e na etapa <strong>da</strong><br />

prática docente e identificaram que a experiência vivi<strong>da</strong> por esses professores aponta<br />

indicadores para entender as ações educativas adota<strong>da</strong>s durante o exercício <strong>da</strong> profissão. Isso<br />

mostra que o exercício <strong>da</strong> nossa profissão docente não é neutro, mas sim repleto de crenças,<br />

saberes que a gente adquire durante as nossas experiências desde a época <strong>da</strong> formação básica,<br />

na facul<strong>da</strong>de, na atuação <strong>em</strong> diferentes escolas etc. Mas, mesmo assim, o que acho importante<br />

frisar é que esses autores falam, e eu concordo com eles, que essas concepções que a gente<br />

carrega <strong>da</strong>s nossas experiências anteriores à atuação profissional pod<strong>em</strong> ser reconstruí<strong>da</strong>s<br />

individualmente ou coletivamente, mas para isso é preciso passar por situações significativas<br />

que mostr<strong>em</strong> outras possibili<strong>da</strong>des de atuar com alunos. Mas, se não tiver oportuni<strong>da</strong>des de<br />

conhecer e vivenciar outras possibili<strong>da</strong>des de intervenção a gente tende a ficar naquilo que<br />

conhec<strong>em</strong>os e experienciamos na nossa formação mesmo.<br />

Sendo assim, acho b<strong>em</strong> interessante a gente fazer um exercício para retomar as experiências<br />

com a avaliação que vocês tiveram, porque é necessário conhecermos el<strong>em</strong>entos <strong>da</strong> nossa<br />

herança formadora, para verificar as práticas considera<strong>da</strong>s boas e as ruins, aquelas que usamos<br />

na nossa prática, as que a gente sabe que jamais ir<strong>em</strong>os usar, para que tenhamos subsídios<br />

para pensar nos conhecimentos que se apresentam necessários para a gente conhecer e<br />

avançar no assunto avaliação. Então, vamos lá, qu<strong>em</strong> vai começar a expor primeiro as suas<br />

m<strong>em</strong>órias de avaliação? Como vocês foram avaliados?<br />

Professor 1: Avaliado como? No geral? No meu processo de formação?<br />

Pesquisadora: Sim, pens<strong>em</strong> durante a formação que vocês tiveram, como é que foram<br />

avaliados?<br />

284


Professor 1: Tinham s<strong>em</strong>pre perguntas e respostas, tinha que decorar respostas. Eu não me<br />

l<strong>em</strong>bro de fazer outro tipo de avaliação, por ex<strong>em</strong>plo, com alternativas, testes,<br />

esses outros instrumentos e outros tipos de questões, era s<strong>em</strong>pre pergunta e<br />

resposta completa, diga-se de passag<strong>em</strong>, por ex<strong>em</strong>plo, “Qu<strong>em</strong> descobriu o<br />

Brasil?”, que é uma coisa que sei que, hoje <strong>em</strong> dia, se avalia de forma muito<br />

diferente, se eles precisam saber qu<strong>em</strong> foi não precisa ter a resposta completa.<br />

Pesquisadora: Interessante...<br />

Professor 1: Ah, e assim, a avaliação, quando eu estudei nas <strong>aulas</strong> de Educação Física, eu<br />

acho que era péssimo, porque naquela época não tinha na<strong>da</strong> de teoria. E assim,<br />

minha professora só <strong>da</strong>va praticamente ativi<strong>da</strong>de física de condicionamento<br />

físico, e no dia <strong>da</strong> prova a gente tinha que fazer não sei quantos mil abdominais,<br />

não sei quantas flexões, éramos avaliados pelo número de vezes que conseguia<br />

fazer.<br />

Pesquisadora: Qual era a déca<strong>da</strong> que você passou por esse tipo de avaliação nas <strong>aulas</strong> de EF?<br />

Professor 1: 1970, por aí. Então, era uma coisa totalmente, assim... Eu tive uma única<br />

professora de EF, até a oitava série, e depois no Ensino Médio eu já não fiz EF,<br />

porque eu fui trabalhar e estu<strong>da</strong>r à noite.<br />

Pesquisadora: Então, essas m<strong>em</strong>órias foram nos anos finais do Ensino Fun<strong>da</strong>mental?<br />

Professor 1: É, nos anos iniciais do Ensino Fun<strong>da</strong>mental não tive EF.<br />

Professor 2: Na minha m<strong>em</strong>ória, vejo que tiv<strong>em</strong>os processos de avaliação igual, s<strong>em</strong>pre com<br />

perguntas e respostas, provas orais. Na EF era através <strong>da</strong> execução do<br />

movimento, as provas práticas, a gente fazia bastante ativi<strong>da</strong>de física mesmo. Eu<br />

tive vários professores de EF, do ciclo II até o Ensino Médio todos avaliavam <strong>da</strong><br />

mesma forma, ou seja, fazer abdominais, correr <strong>em</strong> volta do quarteirão ou<br />

jogando mesmo, mas prova assim, manuscrita, na EF eu nunca tive. Aliás, tive,<br />

no Ensino Médio.<br />

Professor 5: Quando eu estava na escola a avaliação era totalmente tradicional, decoreba,<br />

conteudista.<br />

Professor 6: Eu me l<strong>em</strong>bro que tinha a s<strong>em</strong>ana de avaliação. A professora falava “Na s<strong>em</strong>ana<br />

que v<strong>em</strong> t<strong>em</strong> avaliação, o conteúdo vai ser passe”. Então tinha prova prática.<br />

Professor 7: É, eu também tive esse tipo de prova, principalmente na facul<strong>da</strong>de. Tinha<br />

professores que eram muito sist<strong>em</strong>áticos na forma de avaliar. Na natação estava<br />

um frio congelante, a ponto de algum aluno ter hipotermia, mas ele não queria<br />

saber, <strong>da</strong>va prova mesmo assim. Não eram todos os professores assim, mas<br />

posso dizer que a maioria avaliava assim.<br />

Professor 8: Pegando a fala <strong>da</strong> professora, acho que na nossa época como alunos era muito<br />

priorizado as repetições e muitas vezes a gente fazia s<strong>em</strong> saber o que estava<br />

fazendo não tinha nenhuma explicação do porquê tinha que fazer determinado<br />

285


286<br />

movimento, ou ter determinado comportamento. Então, as meninas jogavam<br />

voleibol, handebol que era coisa de menina, e os meninos jogavam futebol,<br />

basquetebol, porque era coisa de menino.<br />

Pesquisadora: Vejo que vocês levantaram aspectos importantes para a gente analisar as<br />

experiências vivi<strong>da</strong>s com a avaliação por vocês. Uns apontaram práticas avaliativas<br />

tradicionais e excludentes na formação básica, e a professora... (Professor 7) até apontou<br />

probl<strong>em</strong>as s<strong>em</strong>elhantes vividos na formação durante a Educação Superior, vejam que a<br />

avaliação nos moldes tradicional, experimental e excludente esteve presente até no processo<br />

de graduação de vocês. Sendo assim, vocês acham que pod<strong>em</strong>os concluir que os probl<strong>em</strong>as <strong>da</strong><br />

prática avaliativa na Educação Física escolar ocorr<strong>em</strong> porque os professores não conhec<strong>em</strong><br />

outra forma de avaliar a não ser a que foi vivi<strong>da</strong> <strong>em</strong> seu processo de formação totalmente<br />

volta<strong>da</strong> para visão tradicional?<br />

Professor 5: Eu acho, sim, mas quando parte para a formação profissional, eu acho que a<br />

avaliação t<strong>em</strong> que ser assim mesmo, porque como é que você vai aprender a<br />

ensinar s<strong>em</strong> saber o gesto correto? Então, exist<strong>em</strong> maneiras de ensinar, mas é<br />

preciso que o professor saia <strong>da</strong> graduação sabendo d<strong>em</strong>onstrar o que vai ensinar.<br />

Professor 8: Eu me l<strong>em</strong>bro no curso de Educação Física, na disciplina de natação, se você não<br />

sabe na<strong>da</strong>r você não consegue se formar. Mas t<strong>em</strong> gente que t<strong>em</strong> medo de água,<br />

então não é porque eu sou formado <strong>em</strong> Educação Física que vou <strong>da</strong>r aula de<br />

natação, eu posso <strong>da</strong>r aula de outras especiali<strong>da</strong>des. Então eu acho que isso<br />

poderia ser repensado, não acho justa essa avaliação.<br />

Professor 5: Eu l<strong>em</strong>bro também que na minha formação na facul<strong>da</strong>de teve esse tipo de<br />

probl<strong>em</strong>a e o professor soube resolver muito b<strong>em</strong> isso. Os alunos que tinham<br />

medo ele deixava usar a pranchinha, a bóia. Mas, mesmo de forma a<strong>da</strong>pta<strong>da</strong>, era<br />

cobrado que ele soubesse o gesto. Desde que ele soubesse a braça<strong>da</strong>, a perna<strong>da</strong>, a<br />

respiração, o gesto, a técnica do gesto ele tinha que saber.<br />

Professor 8: No meu caso eu não me l<strong>em</strong>bro do meu professor ter entrado na água uma única<br />

vez, mas <strong>da</strong>va aula e ensinava. Então é por isso que penso que a gente não<br />

precisa saber fazer tecnicamente correto todos os movimentos, a gente precisa<br />

saber ensinar.<br />

Pesquisadora: Mas vocês não responderam o que eu perguntei – será que os professores de<br />

Educação Física têm dificul<strong>da</strong>des para avaliar seus alunos porque não conhec<strong>em</strong> outra forma<br />

de avaliar a não ser a que foi vivi<strong>da</strong> <strong>em</strong> seu processo de formação?<br />

Professor 1: No Ensino Superior, eu tive uma experiência interessante. L<strong>em</strong>bro que a gente<br />

tinha 90% <strong>da</strong>s <strong>aulas</strong> práticas, e as avaliações eram também mais com<br />

enfoque na prática, na execução correta do movimento, fazer o movimento<br />

corretamente de acordo com o que era pedido. Tinham trabalhos, exposições,<br />

s<strong>em</strong>inários, às vezes, a gente tinha que fazer de conta que estava ministrando<br />

<strong>aulas</strong>. A facul<strong>da</strong>de que eu estu<strong>da</strong>va tinha convênio com a prefeitura, então os<br />

alunos <strong>da</strong> escola próxima vinham à facul<strong>da</strong>de e a gente ministrava as <strong>aulas</strong>.<br />

A gente era avaliado nesse sentido, para verificar como tinha preparado aula,<br />

como tinha conduzido essa aula. Eu me formei <strong>em</strong> 1981. Tinham ativi<strong>da</strong>des,<br />

assim, eu me formei <strong>em</strong> Guarulhos, na FIG, então lá era uma formação que


287<br />

estabelecia vínculo com a comuni<strong>da</strong>de, com a prefeitura. Mas muitas<br />

disciplinas não fugiam <strong>da</strong> tradicional pergunta e resposta. Embora tivesse<br />

uma varie<strong>da</strong>de de ativi<strong>da</strong>des com a prática escolar, to<strong>da</strong>s as disciplinas<br />

tinham avaliações escritas e aplicavam perguntas e respostas. Então, posso<br />

dizer que essas experiências influenciam, sim, meu jeito de avaliar meus<br />

alunos, principalmente porque uso a observação <strong>da</strong> prática, os trabalhos, as<br />

conversas com os alunos como forma de avaliar.<br />

Pesquisadora: Pensando nessas colocações <strong>sobre</strong> o processo de avaliação vivenciado por<br />

vocês durante o período <strong>da</strong> formação superior, o que eu acho passível de críticas é a forma<br />

com que os docentes do Ensino Superior nos cursos de Licenciatura avaliam, s<strong>em</strong> se<br />

preocupar <strong>em</strong> conscientizar os alunos <strong>sobre</strong> quais são os critérios, qual é o objetivo de ensino.<br />

Nesse ponto, observo um probl<strong>em</strong>a porque a avaliação é realiza<strong>da</strong> s<strong>em</strong> a definição do sentido<br />

e do significado no processo de ensino e aprendizag<strong>em</strong> dos alunos. Outro detalhe é o fato dos<br />

professores selecionar<strong>em</strong> instrumentos e critérios totalmente descontextualizados com o que e<br />

o modo que os alunos foram ensinados, ou seja, os alunos vivenciam conteúdos<br />

procedimentais <strong>em</strong> <strong>aulas</strong> práticas e são avaliados somente por meio de uma prova teórica. Isso<br />

é incoerente.<br />

A meu ver são essas experiências que dev<strong>em</strong> ser questiona<strong>da</strong>s e revistas na nossa prática<br />

profissional na escola, pois esse tipo de avaliação é descontextualizado do processo de ensino<br />

seguido, então ela se torna apenas um instrumento burocrático, s<strong>em</strong> sentido, mas que t<strong>em</strong> o<br />

poder de classificar, selecionar e excluir os alunos que não ating<strong>em</strong> os resultados desejados,<br />

porém de maneira injusta.<br />

Numa análise geral, também percebo que algumas pessoas entend<strong>em</strong> a avaliação na<br />

perspectiva mais qualitativa e formativa como uma forma de avaliar s<strong>em</strong> rigor, s<strong>em</strong><br />

sist<strong>em</strong>atização <strong>sobre</strong> o que e como avaliar. Mas essa ideia é equivoca<strong>da</strong>. Quando se busca<br />

conhecer o que é a avaliação com viés qualitativo e formativo, compreende-se, por meio de<br />

autores como Gómez, Perrenoud, Hadji, Luckesi, Fernandez, que ela não deve ser realiza<strong>da</strong><br />

s<strong>em</strong> rigor; ela requer reflexão, organização, planejamento, sist<strong>em</strong>atização de diferentes<br />

técnicas avaliativas relaciona<strong>da</strong>s aos objetivos, conteúdos e métodos ensinados num programa<br />

de ensino, cuja intenção é, como nos diz Hadji (a pesquisadora mostra um slide e<br />

compl<strong>em</strong>enta a fala, dizendo):<br />

Revisão de Literatura:<br />

A avaliação <strong>da</strong> aprendizag<strong>em</strong> no contexto educacional<br />

No paradigma qualitativo, deriva-se a proposta <strong>da</strong><br />

avaliação formativa como a perspectiva mais<br />

promissora para avaliar a aprendizag<strong>em</strong> dos alunos.<br />

o Foco:<br />

o processo de construção de conhecimentos dos<br />

alunos;<br />

fornecer retorno de informações que ajude aclarar<br />

os alunos <strong>sobre</strong> as suas aprendizagens e<br />

dificul<strong>da</strong>des;<br />

e esclarecer o professor/avaliador <strong>sobre</strong> os efeitos<br />

<strong>da</strong> sua prática pe<strong>da</strong>gógica (HAJI, 1994).<br />

A avaliação deve estar volta<strong>da</strong> para o projeto de aju<strong>da</strong>r o aluno a tomar consciência<br />

<strong>da</strong>s dificul<strong>da</strong>des que encontra, reconhecer e corrigir ele próprio seus erros. Ao mesmo t<strong>em</strong>po,


deve esclarecer o professor/avaliador <strong>sobre</strong> os efeitos reais, <strong>em</strong> termos de aprendizag<strong>em</strong>, de<br />

sua ação de ensinar.<br />

Mas, para que essas concepções sejam entendi<strong>da</strong>s e pratica<strong>da</strong>s pelos docentes, é preciso mais<br />

estudos, discussões coletivas entre docentes e outros atores que compõ<strong>em</strong> as instituições de<br />

ensino <strong>em</strong> geral, visando encontrar alternativas de a<strong>da</strong>ptar o ideal exposto na teoria com a<br />

reali<strong>da</strong>de que vivenciam <strong>em</strong> suas <strong>aulas</strong>, de maneira compromissa<strong>da</strong> com a melhora do ensino<br />

e do processo de aprendizag<strong>em</strong> motora, cognitiva, afetiva e social dos alunos.<br />

Professor 7: É, eu acho que a coisa é realmente muito injusta quando o aluno é avaliado<br />

somente no gesto motor e só no final de um processo. Na escola a gente t<strong>em</strong><br />

que levar <strong>em</strong> conta o sentido individualista de ca<strong>da</strong> aluno, ver o todo, o<br />

momento que ele tá na vi<strong>da</strong> dele, tudo isso a gente t<strong>em</strong> que levar <strong>em</strong><br />

consideração.<br />

Professor 6: Ah, mas vejo isso que você falou até quando a gente quando vai realizar uma<br />

prova, por ex<strong>em</strong>plo, quando eu vou fazer uma avaliação e eu sei tudo, mesmo<br />

assim eu sinto uma coisa ruim, às vezes, dá branco.<br />

Professor 7: É, os alunos passam por isso também, né?<br />

Pesquisadora: O que vocês estão falando v<strong>em</strong> ao encontro de dois princípios importantes <strong>da</strong><br />

avaliação formativa, que é garantir a processuali<strong>da</strong>de no ato de avaliar as aprendizagens dos<br />

alunos e avaliar o aluno como um todo. Nessa discussão a visão processual de análise <strong>da</strong>s<br />

aprendizagens e dificul<strong>da</strong>des manifesta<strong>da</strong>s pelos alunos é sustenta<strong>da</strong> por vários autores <strong>da</strong><br />

educação, como, por ex<strong>em</strong>plo, a Maria Thereza Esteban, que entende essa prática como<br />

necessária porque permite coletar indicadores a partir <strong>da</strong>s singulari<strong>da</strong>des <strong>da</strong>s aprendizagens<br />

dos alunos no cotidiano <strong>da</strong>s <strong>aulas</strong>. Na mesma direção, a ideia de avaliar o aluno como um<br />

todo parte do princípio que não se deve desprezar as outras dimensões <strong>da</strong> aprendizag<strong>em</strong><br />

humana no processo de avaliação porque o professor pode suprimir possibili<strong>da</strong>des de<br />

manifestações <strong>da</strong> aprendizag<strong>em</strong> durante o processo de ensino.<br />

Professor 2: O que eu vejo é que eu não sei avaliar, a minha formação não me ensinou a<br />

avaliar, por isso acho que falta conhecimento <strong>sobre</strong> isso para melhorar essa<br />

prática nas minhas <strong>aulas</strong>.<br />

Professor 3: Sabe, mas ao mesmo t<strong>em</strong>po eu fico pensando que a influência dessa visão<br />

tradicional de avaliar é muito grande, até o próprio aluno critica quando não t<strong>em</strong><br />

a prova. Também acho difícil avaliar <strong>da</strong>ndo conta de um processo de avaliação<br />

mais d<strong>em</strong>ocrático, mais humano, vendo o ser humano holisticamente, porque<br />

você não encontra uma valorização por parte do aluno desse tipo de avaliação.<br />

Professor 1: Eu também acho que com essa educação que se t<strong>em</strong>... Assim, antes sabia-se<br />

muito mais do que o que os alunos sab<strong>em</strong> hoje. Acho que eles aprend<strong>em</strong> pouco,<br />

e acho que existe uma questão de cobrança, que antes quando eu era estu<strong>da</strong>nte a<br />

gente era avaliado para obter uma nota para poder passar de ano. Em<br />

compensação, hoje, a avaliação não mantém mais esse sentido de motivação para<br />

os alunos. Hoje ela não acontece assim. Se é o dia <strong>da</strong> avaliação eles faltam, não<br />

estão preocupados <strong>em</strong> estu<strong>da</strong>r para obter um boa nota, n<strong>em</strong> para aprender. Eu<br />

acho que a avaliação acabava, mesmo de uma maneira meio que tortuosa, ela<br />

288


acabava estimulando você a estu<strong>da</strong>r. Porque estu<strong>da</strong>r de boa vontade nunca<br />

ninguém gostou, principalmente se é ain<strong>da</strong> pequeno (criança) ou adolescente.<br />

Pesquisadora: Um ponto que acho interessante nessa reflexão é pensar na possibili<strong>da</strong>de de<br />

investigar o que t<strong>em</strong> levado as pessoas a valorizar a formação educacional tradicional e<br />

tecnicista, quais aspectos do contexto social e cultural <strong>em</strong> que estamos inseridos contribu<strong>em</strong><br />

para essa visão de educação, quais são os probl<strong>em</strong>as que tal perspectiva pode ocasionar no<br />

processo de formação dos alunos. Uma autora chama<strong>da</strong> Tatiana Zylberberg explica que<br />

precisamos exercitar s<strong>em</strong>pre a identificação dos ruídos que levam as pessoas a valorizar<strong>em</strong><br />

certos conceitos ou perspectivas, que muitas se revelam s<strong>em</strong> ninguém se <strong>da</strong>r conta <strong>da</strong>s<br />

consequências que causam. Para a mesma autora é somente por meio do conhecimento e <strong>da</strong><br />

reflexão que as pessoas poderão ampliar o olhar para as potenciali<strong>da</strong>des humanas.<br />

Isso implica pensar que tudo t<strong>em</strong> vários lados, várias perspectivas para ser analisado e não<br />

dev<strong>em</strong>os cair no erro de olhar e se deixar influenciar somente por uma visão <strong>da</strong>s coisas,<br />

esquecendo de olhar para as outras perspectivas que pod<strong>em</strong> nos revelar respostas diferentes no<br />

processo de formação dos alunos no contexto educacional.<br />

Considero essa pr<strong>em</strong>issa importante também para entender o processo de avaliação. Se eu<br />

avalio somente por um ângulo, usando apenas um instrumento, eu não cont<strong>em</strong>plo o todo, eu<br />

não considero as diferentes perspectivas <strong>da</strong>s manifestações de aprendizag<strong>em</strong> e dificul<strong>da</strong>des<br />

revela<strong>da</strong>s no decorrer do processo. Dev<strong>em</strong>os enxergar os sinais que os alunos lançam durante<br />

o processo, que pod<strong>em</strong> se referir a probl<strong>em</strong>as no ensino, na vi<strong>da</strong> particular do aluno, com a<br />

família, ou mesmo falta de compromisso. Aju<strong>da</strong>r a compreender o cerne do probl<strong>em</strong>a <strong>sobre</strong><br />

por que o aluno não aprende. Vejo que isso é um dos pontos que faltam no processo<br />

avaliativo.<br />

A pesquisadora se levanta e coloca um outro slide. Em segui<strong>da</strong> a pesquisadora diz: Trouxe<br />

aqui nesse slide, que cabe como ex<strong>em</strong>plo para a nossa discussão <strong>sobre</strong> a forte influência <strong>da</strong><br />

visão <strong>da</strong> avaliação tradicional na nossa área.<br />

Ex<strong>em</strong>plo na avaliação:<br />

“Agentes = passivos- seguidores organização <strong>da</strong>s normas” de listas de<br />

conhecimentos feito por<br />

“experts”;<br />

JULGA O SER (à luz do<br />

DEVER-SER)<br />

desconsidera-se conhecimento<br />

dos jogadores, mu<strong>da</strong>nças de<br />

contextos e ambientes;<br />

Este é um teste para avaliar a competência de jogadores, que foi bastante usado na escola nas<br />

déca<strong>da</strong>s de 60 e 70. Percebe-se que se priorizava a verificação de técnicas lista<strong>da</strong>s por experts,<br />

pessoas que não faziam parte do contexto escolar, pois não era o professor de EF que<br />

construía esse tipo de planilha avaliativa; elas já vinham prontas para ser<strong>em</strong> aplica<strong>da</strong>s nas<br />

289


<strong>aulas</strong>. O probl<strong>em</strong>a evidenciado nesse tipo de instrumento é que são construções de planilhas<br />

que estabeleciam pouca relação com o que era efetivamente realizado <strong>em</strong> aula.<br />

Vejam como as discussões <strong>sobre</strong> a avaliação nas outras disciplinas se refletiram também na<br />

nossa área. Planilhas como essa eram usa<strong>da</strong>s como único instrumento para avaliar a<br />

aprendizag<strong>em</strong> dos alunos nas <strong>aulas</strong> de EF escolar. O foco era apenas a observação <strong>da</strong> técnica<br />

descrita por experts – pessoas que não faziam parte do contexto escolar, vali<strong>da</strong>ndo um<br />

processo avaliativo que, muitas vezes, na<strong>da</strong> tinha a ver com o que tinha acontecido na<br />

reali<strong>da</strong>de. Com isso é possível se deparar com um julgamento dos alunos à luz de um dever<br />

ser, mas agora ex<strong>em</strong>plificado na nossa própria área, né?<br />

Professor 1: Acho importante falar de um outro probl<strong>em</strong>a que encontro, que ain<strong>da</strong> vejo na<br />

escola. Diretores e coordenadores que acham que a EF deve estar à parte de<br />

to<strong>da</strong>s as discussões pe<strong>da</strong>gógicas <strong>da</strong> escola. O professor é visto como alguém que<br />

não faz parte do grupo que ministra aula para aquele aluno. Às vezes, a gente<br />

n<strong>em</strong> se encontra com os professores de sala, coordenadores, isso dificulta o<br />

diálogo, a troca de informação <strong>sobre</strong> o processo de ensino e aprendizag<strong>em</strong> de<br />

determinado grupo, <strong>sobre</strong> o processo de avaliação. Se b<strong>em</strong> que t<strong>em</strong>os o conselho<br />

e todos os professores dev<strong>em</strong> participar.<br />

Professor 3: É como se a gente não tivesse muito para compor <strong>sobre</strong> as reflexões pe<strong>da</strong>gógicas.<br />

Professor 2: É isso mesmo. Quantas vezes eu entreguei nota de alunos que não existiam, por<br />

falta de contato com a professora de sala? Você acaba sendo algo que parece que<br />

na<strong>da</strong> t<strong>em</strong> a ver com a aquela turma. A gente fica como uma coisa totalmente<br />

isola<strong>da</strong>, mesmo.<br />

Pesquisadora: As colocações de vocês implicam pensar na questão <strong>da</strong> legitimi<strong>da</strong>de que a área<br />

<strong>da</strong> EF t<strong>em</strong> na escola. Esse probl<strong>em</strong>a acaba influenciando a visão <strong>da</strong>s pessoas que compõ<strong>em</strong><br />

esse espaço.<br />

Professor 1: Geralmente, escuto que a gente é o dono <strong>da</strong> confusão na escola, s<strong>em</strong>pre apontado<br />

como aquele que faz barulho a ca<strong>da</strong> 50 minutos na escola. Então, somos o cara<br />

que atrapalha as <strong>aulas</strong> o t<strong>em</strong>po inteiro, que conturba o ambiente <strong>da</strong> escola.<br />

Pesquisadora: Mas eu fico pensando que, talvez, essa visão decorre porque as pessoas não<br />

sab<strong>em</strong> enxergar a EF de outro modo. T<strong>em</strong> uma ideia que considero pertinente aqui na nossa<br />

reflexão: ninguém se esforçará para entender algo que nunca viu e n<strong>em</strong> vivenciou. Sab<strong>em</strong>os<br />

que a história <strong>da</strong> nossa área marcou a formação dessas pessoas com visões diferentes <strong>da</strong>s que<br />

compreend<strong>em</strong>os e trabalhamos hoje. Elas não consegu<strong>em</strong> enxergar a importância dos<br />

conteúdos <strong>da</strong> nossa disciplina para a formação dos alunos, pois elas julgam pautando-se<br />

naquilo que vivenciaram como alunos. Essa falta de compreensão <strong>sobre</strong> a EF escolar leva as<br />

pessoas a classificar<strong>em</strong> nossa função na escola como recreacionistas, que deve deixar os<br />

alunos extravasar<strong>em</strong> suas energias. Mas não t<strong>em</strong> outra saí<strong>da</strong>, se quer<strong>em</strong>os levar práticas<br />

pe<strong>da</strong>gógicas inovadoras, <strong>sobre</strong>tudo de avaliação, para as nossas <strong>aulas</strong>, é preciso informar<br />

essas pessoas para que esses equívocos sejam atenuados. Então, se a gente não buscar<br />

estratégias, criar caminhos para dialogar com essas pessoas, encontrar<strong>em</strong>os obstáculos para<br />

avançar com o nosso trabalho nos contextos escolares.<br />

Professor 3: Também t<strong>em</strong> uma coisa interessante, é que você imagina fazer alguma coisa com<br />

o aluno, <strong>em</strong> cima <strong>da</strong>quilo que você t<strong>em</strong> como conhecimento, é isso que a<br />

290


291<br />

Luciene está tentando dizer, é interessante, eu acho que o professor, para fazer<br />

isso que ela está falando, ele t<strong>em</strong> que ter domínio do conteúdo, se ele não<br />

domina o conteúdo ele não sabe justificar o que faz. É nesse ponto que eu faço<br />

uma crítica à formação que tiv<strong>em</strong>os, porque se esse professor sai <strong>da</strong> formação<br />

acadêmica s<strong>em</strong> saber o conteúdo, <strong>em</strong>bora muita coisa a gente aprende na prática<br />

mesmo, mas t<strong>em</strong> um lado de tentar garantir que o aluno domine o mínimo dos<br />

conteúdos para <strong>da</strong>r aula, que é função <strong>da</strong> graduação.<br />

Professor 3: Acho que se fosse garanti<strong>da</strong> na graduação a aprendizag<strong>em</strong> dos conteúdos<br />

mínimos para ensinar, o professor com uma proposta curricular nas mãos saberia<br />

discenir quais são os melhores caminhos para usá-la e garantir a aprendizag<strong>em</strong><br />

dos alunos. Acho que, se o professor não domina o conteúdo que irá ensinar, ele<br />

não vai conseguir fazer a<strong>da</strong>ptações.<br />

Professor 2: Às vezes acontece isso mesmo, principalmente quando a gente se esbarra com as<br />

lutas, com uma coisa que é mais complica<strong>da</strong> para você trabalhar. Acaba que o<br />

professor vai seguindo o caderno do professor e do aluno, porque está tateando<br />

nesse conteúdo, não domina o conteúdo por inteiro. Porém, agora que estou há<br />

alguns anos trabalhando com essa proposta eu consigo arrumar outras<br />

estratégias, outras ativi<strong>da</strong>des que levam aos mesmos objetivos <strong>da</strong> proposta e que<br />

são mais contextualiza<strong>da</strong>s com as características dos alunos. Mas no começo, eu<br />

confesso, aplicava do jeito que estava lá.<br />

Pesquisadora: O que me preocupa no relato de vocês é que todos esses probl<strong>em</strong>as que vocês<br />

sinalizam ain<strong>da</strong> estão acontecendo nos contextos de formação. Os professores recémformados<br />

se sent<strong>em</strong> mal preparados com o ensino que receb<strong>em</strong> na graduação, especialmente<br />

quando o assunto é avaliação. Por isso, ca<strong>da</strong> vez mais se faz necessário que os professores<br />

busqu<strong>em</strong> continuar seus estudos, e para isso dev<strong>em</strong> motivar-se para se atualizar s<strong>em</strong>pre. Por<br />

isso eu valorizo a iniciativa dessa Diretoria de Ensino que fez o fórum de Educação Física, do<br />

qual eu participei. Nesse evento achei superinteressante a valorização <strong>da</strong> presença do<br />

professor, que teve o direito à dispensa naquele dia para participar do Fórum. Além disso, não<br />

deixar de agradecer que foi a dirigente e coordenadora <strong>da</strong> área que permitiram e me apoiaram<br />

a fazer esse momento de reflexão como vocês. Isso mostra que se preocupam <strong>em</strong> garantir a<br />

continui<strong>da</strong>de dos estudos dos seus professores.<br />

Professor 3: Uma coisa é certa, viu, ver<strong>da</strong>de seja dita, eu percebo nos professores de EF<br />

recém-formados que eles estão melhor preparados que os antigos. Eu vejo a<br />

contribuição que eles traz<strong>em</strong>, <strong>da</strong>ndo sugestões criativas <strong>em</strong> termos de trato com<br />

o conteúdo e também parece que eles têm vontade de continuar aprendendo.<br />

Professor 2: O probl<strong>em</strong>a que vejo é que, mesmo tendo vontade mu<strong>da</strong>r, de fazer as coisas<br />

direitinho, tendo a carga horária cheia, o número de alunos que eu tenho é muito<br />

grande, fica muito difícil. Então o probl<strong>em</strong>a é pensar <strong>em</strong> avaliar esse mundo de<br />

alunos que a gente t<strong>em</strong>, é complicado avaliar, é tudo mega. Se eu pensar <strong>em</strong><br />

fazer uma ficha de avaliação eu iria enlouquecer com tantas fichas para<br />

preencher, pois tenho muitos alunos.<br />

Pesquisadora: Voltando à questão <strong>da</strong> falta de valorização <strong>da</strong> nossa disciplina na escola, eu<br />

também acho importante expor algo que veio a minha cabeça agora, que foi o que percebi na<br />

minha experiência durante o mestrado, que busquei aprender a avaliar a aprendizag<strong>em</strong> dos


meus alunos. Essa experiência me mostrou que, mesmo difícil e trabalhosa, a avaliação<br />

ajudou bastante a minha disciplina de EF ser compreendi<strong>da</strong> pela comuni<strong>da</strong>de escolar como<br />

uma área de conhecimentos que também contribuía para a formação dos alunos e que tinha,<br />

sim, o que ensinar na escola. Isso foi facilitado por causa <strong>da</strong> prática dos registros. Eles<br />

permitiam mostrar o que foi ensinado e o que os alunos estavam aprendendo nas <strong>aulas</strong> de EF.<br />

Foi aos poucos, conforme os alunos iam levando os registros para casa, realizando registros,<br />

pesquisas, como tarefas que eram solicita<strong>da</strong>s para fazer como lição de casa, foi se criando<br />

uma cultura na escola <strong>em</strong> que eu atuei, as pessoas passaram a enxergar a EF com outros olhos<br />

e valorizando mais o que era desenvolvido pelo professor <strong>da</strong> área.<br />

Professor 4: Mas como usar esses registros como possibili<strong>da</strong>de de mostrar que os alunos<br />

aprenderam?<br />

Eu s<strong>em</strong>pre fui muito discrimina<strong>da</strong> nos conselhos escolares porque os alunos vão<br />

b<strong>em</strong> comigo e os outros professores acham um absurdo. Daí os professores não<br />

deixam eu levar os alunos saír<strong>em</strong> para competir, porque eles não vão b<strong>em</strong> nas<br />

outras disciplinas. Eu acho que são os professores <strong>da</strong>s outras disciplinas que<br />

deveriam rever, porque eles vão b<strong>em</strong> comigo e na matéria deles eles não vão<br />

b<strong>em</strong>.<br />

Outra coisa que eu queria falar é que eu tenho 13 diários, isso acaba dificultando,<br />

pensar <strong>em</strong> inserir um instrumento a mais para eu corrigir. Outra coisa é <strong>sobre</strong> o<br />

processo de formação continua<strong>da</strong>. A gente <strong>da</strong> escola pública não pode mais sair<br />

para fazer um curso, é uma ou outra convocação que a gente consegue ir, mas<br />

hoje é raro o professor ter autorização para sair <strong>da</strong> escolar para fazer um curso. E<br />

aí começa a acontecer isso, a gente perde o que está sendo atualizado <strong>em</strong> termos<br />

de conhecimentos <strong>da</strong> área. Mas ain<strong>da</strong> acho que a gente t<strong>em</strong> condições para<br />

trabalhar, olhar desse jeito que você colocou, buscando construir outras formas<br />

de avaliar a aprendizag<strong>em</strong> dos alunos, e é aí que eu me in<strong>da</strong>go que não é só a<br />

Educação Física que t<strong>em</strong> que mu<strong>da</strong>r, mas Português, História, Mat<strong>em</strong>ática, que<br />

vêm s<strong>em</strong>pre com a mesma coisa, eles também precisam mu<strong>da</strong>r.<br />

Pesquisadora diz: Olha, gente, o caminho para entender essas questões levanta<strong>da</strong>s por vocês,<br />

principalmente a última que você expôs (pesquisadora se reporta ao Professor 4), a meu ver,<br />

primeiramente, é a gente levar <strong>em</strong> conta que as pessoas se manifestam desse jeito porque não<br />

conhec<strong>em</strong> a nossa área, por isso se manifestam assim. Também acho interessante a ideia do<br />

professor de EF mostrar mais o seu trabalho. Vejo que a criação de instrumentos de avaliação<br />

é um meio para isso, pois tanto os alunos passarão a ficar mais conscientes <strong>sobre</strong> o que<br />

aprend<strong>em</strong>, como também os pais, a coordenação, a direção poderão ser informados <strong>sobre</strong> o<br />

que se está aprendendo nas <strong>aulas</strong> de EF. Desse modo, considero que a prática dos registros<br />

avaliativos pode, de certo modo, mostrar o que faz<strong>em</strong>os, o que ensinamos e o que os alunos<br />

aprend<strong>em</strong>, colaborando assim para melhorar a valorização <strong>da</strong> nossa área na escola. Eu vejo<br />

que é preciso deixar público e claro o que faz<strong>em</strong>os nas nossas <strong>aulas</strong>, tendo como intenção<br />

informar as pessoas <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de escolar e conquistar a legitimi<strong>da</strong>de e o respeito <strong>da</strong> nossa<br />

área. O professor, para adotar essa postura na escola, precisa se preocupar <strong>em</strong> apresentar os<br />

objetivos, planejamento, para a coordenação, alunos e pais, deve discutir com os alunos as<br />

intenções <strong>da</strong>s propostas e até permitir que eles de<strong>em</strong> sua opinião, assim eles pod<strong>em</strong> se sentir<br />

mais responsáveis pelo processo de ensino e aprendizag<strong>em</strong>. Ao considerar a participação e a<br />

opinião do coletivo é possível que o trabalho se torne um pouco mais fácil.<br />

Professor 3: Pegando o gancho no que a... (Professor 4) falou <strong>da</strong> falta <strong>da</strong>s pessoas entender<strong>em</strong><br />

a importância <strong>da</strong> nossa área na escola, é interessante pensar o quanto essas<br />

292


293<br />

discussões <strong>sobre</strong> avaliação pod<strong>em</strong> aju<strong>da</strong>r as pessoas a respeitar<strong>em</strong> mais o nosso<br />

trabalho. Agora, é imprescindível que na hora do conselho de classe a gente<br />

tenha argumentos para falar por que a gente acha que determinado aluno merece<br />

aquela nota, o que é que ele faz e o que é feito nas nossas <strong>aulas</strong> que justificam<br />

aquela nota do aluno, e não prevalecer somente o que o professor de Português<br />

ou Mat<strong>em</strong>ática avalia. Precisamos ter subsídios para argumentar, senão fica<br />

aquela coisa, também só brinca na sua aula de EF... Por isso eu vejo como<br />

importante essa reflexão, essa discussão <strong>sobre</strong> avaliação, porque você vai<br />

conseguir chegar e falar assim “Ele teve essa nota porque isso, isso, isso”... E os<br />

outros professores vão calar a boca, porque eles n<strong>em</strong> esperam que a gente tenha<br />

esse conhecimento.<br />

Pesquisadora: Eu também acho que é preciso sist<strong>em</strong>atizar esse conhecimento, estu<strong>da</strong>r mais<br />

para saber se posicionar de maneira adequa<strong>da</strong>. Vejo que para isso é importante não só ter<br />

registros dos alunos, mas também registros feitos pelos professores. Mas essa prática não é<br />

valoriza<strong>da</strong> na nossa prática pe<strong>da</strong>gógica, assim a gente acaba perdendo indícios importantes<br />

para ser<strong>em</strong> retomados nesses momentos de diálogo e que a gente t<strong>em</strong> que argumentar, se<br />

posicionar.<br />

Professor 3: Tudo isso implica a gente ter que mu<strong>da</strong>r o jeito de avaliar, pois a gente deve<br />

mu<strong>da</strong>r com essas novas concepções, a gente vai chegar junto com essas outras<br />

disciplinas.<br />

Professor 2: Quando eu fazia a avaliação prática e não avaliava a parte teórica, eu acabava<br />

avaliando o aluno pela participação, mas eu s<strong>em</strong>pre achei injusto avaliar o cara<br />

somente pela participação <strong>em</strong> aula.<br />

Professor 4: Eu tenho uma dúvi<strong>da</strong> que surgiu a partir de um momento de avaliação com os<br />

meus alunos. Eu apliquei uma prova teórica e percebi que os alunos que não<br />

eram os melhores na aula foram melhor do que os que jogavam. Então, só os que<br />

só observavam e não jogavam foram b<strong>em</strong> melhor na prova. Por que isso<br />

aconteceu?<br />

Pesquisadora: É preciso pensar no tipo de conteúdo que você ensinou e no instrumento de<br />

avaliação que você aplicou para avaliar esse conteúdo. Uma prova, geralmente, segundo<br />

César Coll, a prova é um bom instrumento para avaliar conteúdos conceituais ou factuais.<br />

Assim, um aluno ouvindo, refletindo <strong>sobre</strong> o que foi ensinado, consegue responder às<br />

perguntas de uma prova. Mas se a sua intenção é avaliar a prática do jogo, esse conteúdo é<br />

procedimental, o instrumento de avaliação prova pouco pode mostrar <strong>sobre</strong> qu<strong>em</strong> aprendeu<br />

esse tipo de conteúdo, desse modo, a avaliação observacional <strong>em</strong> situação de jogo seria mais<br />

adequa<strong>da</strong>. Então é preciso refletir <strong>sobre</strong> qual o conteúdo que você ensina, qual é o objetivo,<br />

isso é o que vai aju<strong>da</strong>r na escolha de um instrumento de avaliação adequado para avaliar a<br />

aprendizag<strong>em</strong> dos alunos que se envolveram na aula e d<strong>em</strong>onstraram que aprenderam os<br />

conteúdos trabalhados.<br />

Dessa maneira, um ponto que acho importante destacar é a necessi<strong>da</strong>de de pensar que o<br />

conhecimento se expressa de diferentes maneiras. Eles estão agrupados <strong>em</strong> vários tipos de<br />

conteúdos, por ex<strong>em</strong>plo, os conceitos, procedimentos e atitudes, como sustenta César Coll.<br />

Então, é preciso estar atento a isso na construção dos critérios e na escolha dos instrumentos,<br />

que dev<strong>em</strong> estar relacionados com a natureza do conteúdo, com o objetivo traçado para ser<br />

atingido na aula. É só assim que ter<strong>em</strong>os condições de verificar os reais avanços e


dificul<strong>da</strong>des dos alunos. Essa discussão também é importante porque aju<strong>da</strong> a gente a<br />

identificar probl<strong>em</strong>as na prática pe<strong>da</strong>gógica, o que precisa ser melhorado. S<strong>em</strong> essa clareza é<br />

difícil escolher um bom instrumento de avaliação e, portanto, não se consegue enxergar os<br />

sinais de aprendizag<strong>em</strong> que os alunos revelam durante o processo de ensino.<br />

Professor 2: Sabe, essa conversa é algo que me deixa angustia<strong>da</strong>. Eu sei que preciso e já tentei<br />

me organizar para registrar minha prática, eu até começo a anotar, mas depois eu<br />

não sei mais o que estou fazendo, falta t<strong>em</strong>po, eu dou aula para muitas salas.<br />

Pesquisadora: Mas calma, a ideia desse momento de reflexão <strong>sobre</strong> a avaliação é justamente<br />

ajudá-los a pensar na prática avaliativa e identificar possibili<strong>da</strong>des para ser<strong>em</strong> aplica<strong>da</strong>s na<br />

reali<strong>da</strong>de escolar que vocês viv<strong>em</strong> e atuam. Com o seu relato é possível perceber que a<br />

dificul<strong>da</strong>de que encontra é o fato de <strong>da</strong>r aula para muitas turmas e isso atrapalha quando<br />

aplica um registro, pois é difícil corrigir e <strong>da</strong>r a devolutiva para os alunos. E quando t<strong>em</strong><br />

t<strong>em</strong>po para corrigir já não sabe qu<strong>em</strong> é o aluno. Então é preciso buscar novas estratégias, criar<br />

possibili<strong>da</strong>des para avaliar os alunos considerando essas dificul<strong>da</strong>des. Talvez, uma ideia que<br />

seria interessante usar como recurso para realizar a avaliação é a filmadora ou criar um<br />

instrumento junto com os alunos para que um colega possa avaliar o outro, colocar nomes nas<br />

camisetas dos alunos para que nas filmagens você possa identificá-los qu<strong>em</strong> é qu<strong>em</strong>.<br />

Professor 1: É, mas, mesmo assim, o que eu sinto é que na hora é tudo legal, começo a me<br />

organizar, mas depois você já se perde...<br />

Professor 4: Mas, sabe, fiquei pensando aqui <strong>em</strong> outro probl<strong>em</strong>a que eu tenho, eu vejo isso na<br />

prática, que é quando o aluno se acha o bom. Por isso eu falo que eu quero levar<br />

para jogar, que eu quero que eles assistam alguém muito melhor, para que ele<br />

pense: “Puxa, eu preciso chegar lá e para isso eu tenho que treinar”. E não ele<br />

pensar: “Eu estou me achando o bom, pronto, parou, eu sou o bom e fim de<br />

papo”. Daí me surge outra pergunta: “Como registrar tudo isso?<br />

Pesquisadora: Como já disse, é preciso criar caminhos, <strong>em</strong>bora seja complicado para o<br />

professor fazer isso, porque, como a professora... (Professor 3) expôs, ela dá <strong>aulas</strong> para to<strong>da</strong>s<br />

as salas, são muitos alunos Mas, ao mesmo t<strong>em</strong>po, dev<strong>em</strong>os viabilizar essa prática. Uma<br />

forma interessante é usar a tecnologia a nosso favor, que pode aju<strong>da</strong>r na construção dos<br />

registros do professor. Uma sugestão é colocar a filmadora num tripé e deixar filmando para<br />

depois avaliar os alunos. O uso de gravadores para registro dos diálogos nas ro<strong>da</strong>s de<br />

conversa é outra alternativa que acho viável.<br />

Professor 3: Mas duas coisas que eu acho interessante, essa coisa do aluno que avalia o colega<br />

e o aluno realizar a autoavaliação, que ela é importante também, porque é feita<br />

no decorrer do processo. O aluno vai aprendendo a ver de onde partiu e o que<br />

está aprendendo, percebe as coisas dele próprio, as limitações, os avanços. Então<br />

acho que assim o t<strong>em</strong>a é interessante.<br />

Pesquisadora: Esse foi um instrumento que, na minha pesquisa de mestrado, se d<strong>em</strong>onstrou<br />

muito interessante. L<strong>em</strong>bro-me que como tinha muitos alunos, optei pela a criação de uma<br />

forma que me aju<strong>da</strong>sse a l<strong>em</strong>brar dos alunos. Então montei saquinhos com o nome e a foto<br />

dos alunos cola<strong>da</strong> e inseria a autoavaliação deles e os outros registros para não me esquecer<br />

qu<strong>em</strong> era. As perguntas <strong>da</strong> autoavaliação eu construí de acordo com o conteúdo e os objetivos<br />

294


traçados com as turmas <strong>em</strong> ca<strong>da</strong> projeto. Na dissertação observamos que a compilação e<br />

organização desses diferentes registros colaborou para fazer com que os alunos refletiss<strong>em</strong><br />

<strong>sobre</strong> de onde haviam partido, o que haviam aprendido, o que estava faltando para aprender.<br />

Foi percebido que esse instrumento aju<strong>da</strong>va os alunos a se conscientizar<strong>em</strong> <strong>sobre</strong> o caminho<br />

percorrido, o que foi ensinado e o que realmente aprenderam ou não durante o processo de<br />

ensino.<br />

Professor 7: Eu também acho que para fazer isso a gente t<strong>em</strong> que procurar meios, registros,<br />

ativi<strong>da</strong>des que são possíveis de ser<strong>em</strong> aplicados nas nossas <strong>aulas</strong>, por isso acho<br />

a observação um bom instrumento.<br />

Pesquisadora: É, eu concordo com você, mas também vejo como necessário que o professor<br />

procure se organizar para manter os registros <strong>sobre</strong> o que observou, senão, com tantos alunos<br />

e <strong>aulas</strong> <strong>da</strong><strong>da</strong>s, pode esquecer aspectos importantes <strong>sobre</strong> o processo de aprendizag<strong>em</strong> dos<br />

alunos.<br />

Vejo também que o registro do aluno é uma técnica de avaliação bastante interessante, pois<br />

aju<strong>da</strong> os alunos a organizar<strong>em</strong> seus conhecimentos, apresentar os conteúdos que ficaram mais<br />

significativos, além de oportunizar a construção de sínteses de conhecimento <strong>sobre</strong> aquilo que<br />

aprendeu conforme o olhar.<br />

Professor 4: Eu concordo muito com o que você fala, mas eu acho que a visão <strong>da</strong> gente que é<br />

mais antiga não era tanto assim como você está colocando de procedimental, de<br />

atitudes e conceitual, porque para a gente é mais pela participação, pelo todo.<br />

Assim, alguns a gente consegue individualizar, mas t<strong>em</strong> classes que vai mesmo é<br />

faltar t<strong>em</strong>po para a gente pensar <strong>em</strong> tudo isso que você está colocando, porque é<br />

difícil. Eu sinto isso, agora parece que está tudo redondinho, está diferente, ca<strong>da</strong><br />

um é ca<strong>da</strong> um, mas dentro do todo a gente t<strong>em</strong> que diferenciar. Então, isso é<br />

muito difícil, não sei se eu tô cometendo uma heresia dizendo que antes a gente<br />

fazia diferente, quando hoje está <strong>da</strong>ndo para perceber que a gente precisa tomar<br />

uma atitude e chegar e fazer algo diferente com o aluno para ele tomar<br />

consciência. A gente está levando uma chacoalha<strong>da</strong>, então começa pela gente, se<br />

eu conseguir mu<strong>da</strong>r eu acho que é mais fácil passar para alguém.<br />

Pesquisadora: Eu concordo com você quando diz que precisamos procurar as nossas<br />

concepções primeiro para depois mu<strong>da</strong>r o outro.<br />

Professor 7: Outra colocação que eu queria fazer é <strong>sobre</strong> o resultado de aprendizag<strong>em</strong><br />

esperado. Eu entendo que se t<strong>em</strong> algum tipo de limitação, se ele t<strong>em</strong> um ganho,<br />

ou seja, mesmo que seja pequeno, na aprendizag<strong>em</strong> do conteúdo, ou seja, para<br />

mim isso é importante ser considerado.<br />

Professor 5: Eu acho que deve fazer parte <strong>da</strong> avaliação até a disciplina e o comportamento dos<br />

alunos.<br />

Professor 3: Eu vejo assim, se esse processo de avaliação for aplicado na escola, eu vejo que o<br />

aluno vai ter mais mecanismos para compreender o que está acontecendo, as<br />

competências e habili<strong>da</strong>des para tomar decisões a respeito dos probl<strong>em</strong>as que irá<br />

enfrentar lá na frente.<br />

295


296<br />

Professor 1: Mas acontece que como a socie<strong>da</strong>de está se formando, desse jeito,<br />

você não consegue esse processo com os alunos. Eles não estão n<strong>em</strong> aí. De um<br />

universo de 10 salas de aula você t<strong>em</strong> meia dúzia que está a fim. Eles não estão a<br />

fim de na<strong>da</strong>. É muito triste. Até a quarta série t<strong>em</strong>-se alunos um pouco<br />

interessados, <strong>da</strong> quinta <strong>em</strong> diante aí o negócio dá um declínio.<br />

Professor 5: Eu também vejo uma série de probl<strong>em</strong>as para usar essas estratégias de avaliação<br />

na minha aula. Os alunos são acostumados a dizer que não vão fazer as<br />

ativi<strong>da</strong>des, e eu não vou bater de frente.<br />

Professor 3: Mas, pense um pouco, quando a gente era adolescente, será que a gente estava<br />

interessa<strong>da</strong>? Eu acho que havia alunos que ficavam quietos porque tinha a<br />

autori<strong>da</strong>de ameaçadora do professor, dos pais que cobravam mais.<br />

Professor 1: Mas de alguma forma você aprendeu. Agora você vê que eles não respeitam, não<br />

estão interessados, e você tenta ensinar e avaliar o básico do básico e eles não<br />

sab<strong>em</strong>, eles d<strong>em</strong>onstram não ter competência nenhuma, não se desenvolv<strong>em</strong>, não<br />

consegu<strong>em</strong> pensar, eles não estão raciocinando.<br />

Professor 4: Eu também percebo isso.<br />

Professor 1: Eu não sei se é a atitude dele mesmo <strong>em</strong> relação ao estudo e a aprendizag<strong>em</strong> que<br />

é muito nula.<br />

Professor 3: Mas não se esqueça que essa população que está hoje na escola não é a mesma<br />

que estava lá atrás, é outro perfil de aluno.<br />

Professor 1: Mas a preocupação é: eu não tenho que fazer esses caras an<strong>da</strong>r? Eu fico<br />

angustia<strong>da</strong>, eu me pergunto “O que eu faço?”.<br />

Professor 3: Eu acho que gente deve se preocupar com o trabalho para esse aluno real e não<br />

com aquele aluno que a gente foi e viu se comportando há 20 anos atrás, que a<br />

gente idealizou como ideal.<br />

Professor 8: No meu caso, que eu trabalho com os pequenos, eu penso que se eu consigo<br />

desenvolver um trabalho de base, um trabalho bom, quando eles chegam para o<br />

professor <strong>da</strong> próxima série eles chegam melhores.<br />

Professor 5: Com certeza.<br />

Professor 4: Mas o governo do estado nessa hora não quer saber. Olha, nessa provinha foi que<br />

eu fui ver, t<strong>em</strong> um menino de sétima série, no caderno tinha as questões, então<br />

ele tinha que identificar o estádio, sabe como ele escreveu? Morubi. Tadinho, eu<br />

considerei.<br />

Professor 1: Para mim, isso ok, a intenção está lá.<br />

Professor 4: A intenção está lá, mas você concor<strong>da</strong> que a gente avalia um aluno que não está<br />

n<strong>em</strong> aí e a gente prega, fala, fala, e quando pega a avaliação, Paca<strong>em</strong>bu ele<br />

escreve Paqu<strong>em</strong>bu.


Professor 1: Não, escrever errado acho que não é o maior probl<strong>em</strong>a <strong>da</strong> avaliação na Educação<br />

Física.<br />

Professor 4: Eu estou colocando isso porque a gente quer que esse menino saia com<br />

conhecimentos normais <strong>da</strong> nossa aula. Não sei até que ponto é esse normal, às<br />

vezes eu questiono. Talvez seja o fato dele ter um entendimento, saiba escrever o<br />

nome.<br />

Professor 1: Outra coisa que percebo é o desligamento deles. Eu percebi que cometi um<br />

engano e eu fiquei inconforma<strong>da</strong> com o erro <strong>da</strong>s alunas. Eu fui distribuir as<br />

provas e elas tinham a mesma formatação <strong>da</strong> prova <strong>da</strong> quinta e <strong>da</strong> sexta série. A<br />

quinta série estava aprendendo o futsal e a sexta série o basquete. Na hora que eu<br />

entreguei as provas, os meninos ain<strong>da</strong> fizeram perguntas, respondi e eu entreguei<br />

as provas, mas faltaram duas provas e eu acabei e entregando a <strong>da</strong> sexta série que<br />

era <strong>sobre</strong> basquete, totalmente diferente prova <strong>da</strong> quinta série. Uma <strong>da</strong>s meninas<br />

eu acho que ela era meio ler<strong>da</strong> mesmo. Agora a outra é uma menina que sabe as<br />

coisas, ela me respondeu a pergunta to<strong>da</strong> <strong>sobre</strong> um conteúdo que não tinha sido<br />

trabalhado – o basquete – e não se tocou. Eu no momento <strong>da</strong> prova falava para<br />

os alunos que n<strong>em</strong> perguntavam que não podia falar, eu desaprendi. A aluna não<br />

se tocou que estava fazendo uma prova de basquete, fora que estava escrito “EF<br />

6ª série”, ela está na 5ª. Eu não peguei a bola de basquete uma única vez com<br />

eles, não é n<strong>em</strong> que a aluna achou que tivesse sido de alguma coisa que foi<br />

trabalha<strong>da</strong> <strong>em</strong> aula. Eu fiquei inconforma<strong>da</strong>.<br />

Pesquisadora: Durante o seu relato eu fiquei pensando que sinal está sendo revelado com a<br />

situação que você nos apresentou. Como se deve interpretar isso? Nas suas colocações você<br />

expôs que uma <strong>da</strong>s meninas era uma aluna boa, ela não deveria ter cometido esse erro. Então,<br />

perceb<strong>em</strong>-se alguns indicadores que são importantes ser<strong>em</strong> considerados para a gente se<br />

aproximar de uma compreensão <strong>sobre</strong> o que aconteceu. Existe um certo condicionamento do<br />

aluno, quando faz a prova, que o leva a pensar que se a professora me deu essa prova eu devo<br />

fazê-la s<strong>em</strong> questionar na<strong>da</strong>. A aluna d<strong>em</strong>onstra que atua como agente passivo, recebe ordens<br />

s<strong>em</strong> questionar, e isso fica muito claro quando ela tenta responder uma pergunta que não t<strong>em</strong><br />

relação com o que a aluna aprendeu durante as <strong>aulas</strong>. A atitude <strong>da</strong> aluna d<strong>em</strong>onstra também<br />

que ela se vê assim na escola, como um sujeito passivo cumpridor de normas. Ela pode até ter<br />

percebido e achado que a prova era uma pegadinha <strong>da</strong> professora para prejudicar os alunos.<br />

Observ<strong>em</strong> quanta coisa nos revela ao tentarmos interpretar uma situação como essa. Dentre<br />

essas várias possibili<strong>da</strong>des, vejo que a cultura <strong>da</strong> avaliação incuti<strong>da</strong> na concepção dos atores<br />

escolares é a grande responsável por essa atitude <strong>da</strong> aluna. Isso mostra a necessi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> gente<br />

abrir o horizonte <strong>da</strong> nossa interpretação para identificar os probl<strong>em</strong>as com diferentes<br />

perspectivas, para se chegar à compreensão do sentido, do significado do que está sendo<br />

ensinado e, também, de como a aluna se sente mediante as imposições <strong>da</strong>s regras e normas<br />

coloca<strong>da</strong>s para ser<strong>em</strong> cumpri<strong>da</strong>s, que pouco estimulam o senso crítico e a exposição de ideias.<br />

Professor 3: Tudo isso mostra para a gente até que ponto uma prova pode provar que o aluno<br />

aprendeu, né?<br />

Professor 6: Eu quero fazer outra pergunta para você (se refere à pesquisadora). O que vira<br />

essa formação continua<strong>da</strong>? Isso é o ponto, gente! Eles não dão credibili<strong>da</strong>de <strong>em</strong><br />

avaliação porque não reprova! Isso vai mu<strong>da</strong>r quando? Que jeito isso vai mu<strong>da</strong>r?<br />

297


Professor 5: É mesmo, eles não dão muito valor para a avaliação.<br />

Professor 6: Para mim, esse fato modifica to<strong>da</strong> uma estrutura.<br />

Pesquisadora: Considero importante que a ideia <strong>da</strong> progressão continua<strong>da</strong> seja compreendi<strong>da</strong><br />

junto à proposta dos ciclos de formação na Educação Básica. No Brasil, a impl<strong>em</strong>entação dos<br />

ciclos se deu, principalmente, no Ensino Básico, com a intenção de pôr fim aos altos índices<br />

de repetência anual nesse nível de ensino. Essa proposta não deve ser compreendi<strong>da</strong> como<br />

forma de facilitar a aprovação, mas sim de dificultar reprovações de alunos equivoca<strong>da</strong>s. É<br />

fato que na escola brasileira a seriação não contribuiu para o processo de ensino e<br />

aprendizag<strong>em</strong> dos alunos. A repetência e a evasão escolar são aspectos considerados<br />

consequencias dessa organização do ensino. Autores como Ghiraldelli Junior. e Hoffman<br />

apontam que quando havia estrutura seria<strong>da</strong> <strong>em</strong> to<strong>da</strong>s as redes de Ensino Básico, não se<br />

percebiam as falhas na efetivi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> alfabetização simplesmente porque as crianças não<br />

chegavam até a oitava série – o sist<strong>em</strong>a praticamente expelia o aluno. Segundo os autores,<br />

com a proposta do ensino por ciclos e a progressão continua<strong>da</strong>, o aluno com defasag<strong>em</strong> ao<br />

menos é visto, deixando explícita a necessi<strong>da</strong>de de mu<strong>da</strong>r o olhar pe<strong>da</strong>gógico para promover,<br />

efetivamente, a melhora <strong>da</strong> aprendizag<strong>em</strong> escolar. O probl<strong>em</strong>a foi que essa proposta passou a<br />

requerer mu<strong>da</strong>nças urgentes nas ações docentes, colocou desafios para a escola e para o<br />

professor considerados complexos e difíceis de ocorrer nos contextos escolares, <strong>da</strong><strong>da</strong> a rigidez<br />

funcional e organizacional dos sist<strong>em</strong>as de ensino e <strong>da</strong>s concepções docentes. Desse modo,<br />

teve como resultado desse período de reorganização do ensino para se a<strong>da</strong>ptar o sist<strong>em</strong>a<br />

seriado <strong>em</strong> ciclos, foi constituído por um vasto campo de equívocos e discórdias entre os<br />

educadores que atuam no contexto escolar, muitos dos quais passaram a entender a proposta<br />

de progressão continua<strong>da</strong> como aprovação automática, vista simplesmente como a eliminação<br />

<strong>da</strong> prática avaliativa nas escolas. No entanto, acho importante desmistificar esses equívocos e<br />

não desconsiderar que a proposta do ensino por ciclos apresenta apontamentos interessantes<br />

para <strong>em</strong>preender mu<strong>da</strong>nças significativas no contexto <strong>da</strong> Educação, especialmente na<br />

Educação Física escolar, quando se refere à necessi<strong>da</strong>de de uma teoria <strong>da</strong> avaliação formativa<br />

consoli<strong>da</strong><strong>da</strong> que fun<strong>da</strong>mente a prática avaliativa do professor no contexto educacional, com<br />

base no princípio de que é “o aprendiz que determina o próprio t<strong>em</strong>po de aprendizag<strong>em</strong>”,<br />

como defende Jussara Hoffman.<br />

Professor 6: É, mediante o que você explicou, acho que é importante a gente procurar se<br />

informar mais para entender essas propostas, mas não deixo de ver que o<br />

reflexo dessa proposta na escola é passar o aluno mesmo ele não sabendo na<strong>da</strong>.<br />

Pesquisadora: Eu concordo com você. Como eu já expus, esse entendimento é um equívoco.<br />

A progressão continua<strong>da</strong> não evoca práticas de ensino e avaliação s<strong>em</strong> rigor, s<strong>em</strong><br />

compromisso para melhorar a aprendizag<strong>em</strong> dos alunos, não deve ser deixado de lado. Não é<br />

essa a intenção. Mas também entendo que a mu<strong>da</strong>nça do olhar para incorporar essa<br />

perspectiva de ensino, aprendizag<strong>em</strong> e avaliação não é algo fácil para os atores que compõ<strong>em</strong><br />

a escola, já que a visão tradicional se faz presente <strong>em</strong> sua prática e é vista como única<br />

possibili<strong>da</strong>de, porque não tiveram oportuni<strong>da</strong>de de conhecer outra forma de entender o<br />

processo educacional dos alunos na Educação Básica.<br />

Mas acredito que a mu<strong>da</strong>nça é possível. Para isso é preciso querer, se engajar <strong>em</strong> estudos,<br />

grupos de discussão para melhorar os conhecimentos e construir propostas que estabeleçam a<br />

relação <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de escolar com as teorias estu<strong>da</strong><strong>da</strong>s.<br />

298


Bom, o t<strong>em</strong>po que combinamos permite que par<strong>em</strong>os por aqui, mas se vocês quiser<strong>em</strong> e<br />

tiver<strong>em</strong> disponibili<strong>da</strong>de pod<strong>em</strong>os continuar essa conversa <strong>sobre</strong> avaliação na Educação Física<br />

escolar na próxima s<strong>em</strong>ana.<br />

Professor 5: Eu aceito o convite. Posso vir na s<strong>em</strong>ana que v<strong>em</strong> no mesmo horário.<br />

Pesquisadora: E vocês?<br />

Professor 1: Eu venho.<br />

Professor 7: Eu tentar vir também.<br />

Professor 8: Eu venho.<br />

Professor 3: Eu venho.<br />

Professor 6: Eu venho.<br />

Professor 2: Eu venho.<br />

Professor 4: Tentarei vir, mas eu acho que poderia ser menos t<strong>em</strong>po. Não dá para ser só 2<br />

horas?<br />

Pesquisadora: Para mim, tudo b<strong>em</strong>. Então, fica combinado. Até a s<strong>em</strong>ana que v<strong>em</strong> e a gente<br />

faz duas horas de encontro, ok?<br />

299


2º dia de encontro com os professores (22/9/2011)<br />

Pesquisadora: Hoje eu trouxe aqui para a nossa discussão alguns itens que caracterizam o<br />

paradigma qualitativo de avaliação.<br />

Obs.: A pesquisadora forneceu a folha com um quadro-síntese <strong>sobre</strong> o paradigma qualitativo<br />

<strong>da</strong> avaliação, que foi lido junto com os professores.<br />

Qualitativo Qualitativo<br />

• Objetivi<strong>da</strong>de é s<strong>em</strong>pre<br />

relativa, pois o a ato de avaliar<br />

fixa-se nos resultados obtidos<br />

no decorrer do processo de<br />

ensino.<br />

• Busca a compreensão <strong>da</strong><br />

situação <strong>em</strong> que as pessoas<br />

interag<strong>em</strong>, tendo <strong>em</strong> vista a<br />

análise <strong>da</strong>s intencionali<strong>da</strong>des,<br />

dos significados subjetivos<br />

expressados nas diferentes<br />

opiniões e ideologias;<br />

• a avaliação não pode ser<br />

compreendi<strong>da</strong> como um<br />

processo tecnológico<br />

desligados <strong>da</strong> esfera de valores<br />

humanos, n<strong>em</strong>, somente, focar<br />

na busca de resultados<br />

observáveis alcançados a<br />

partir de objetivos préestabelecidos;<br />

• Deve valorizar os efeitos<br />

secundários observados no<br />

longo prazo.<br />

• Requer um olhar ampliado e<br />

sensível para identificar as<br />

possibili<strong>da</strong>des de<br />

aprendizag<strong>em</strong> e compreender<br />

o cerne <strong>da</strong>s dificul<strong>da</strong>des dos<br />

alunos, para isso faz-se<br />

necessária a diversificação dos<br />

instrumentos de avaliação,<br />

• A missão <strong>da</strong> avaliação deve<br />

ser a de facilitar o processo<br />

plural e d<strong>em</strong>ocrático mediante<br />

o esclarecimento e<br />

conscientização de seus<br />

participantes<br />

• Requer uma metodologia<br />

sensível às diferenças, aos<br />

acontecimentos previstos e<br />

imprevistos, às manifestações<br />

observáveis e latentes <strong>sobre</strong> os<br />

progressos e dificul<strong>da</strong>des.<br />

• Se apropria de um conjunto de<br />

técnicas, orientações e<br />

propostas de investigação que<br />

colaboram com a coletar de<br />

indicadores internos e externos<br />

que influenciam o processo de<br />

ensino do professor e a<br />

aprendizag<strong>em</strong> dos alunos.<br />

• É descritiva, porque analisa o<br />

que é literário, metafórico nas<br />

situações investiga<strong>da</strong>s;<br />

interpretativa, busca os<br />

significados que confrontam<br />

as teorias com a prática e<br />

infere <strong>sobre</strong> os juízos de<br />

valores nos critérios definidos<br />

nas situações educativas<br />

particulares<br />

• defende-se que o processo de<br />

ensino é uma ação dinâmica<br />

que mu<strong>da</strong> continuamente, seus<br />

efeitos são idiossincráticos e<br />

dificilmente previsíveis, por<br />

isso a avaliação deve ser<br />

compreendi<strong>da</strong> como um meio<br />

para oferecer informações a<br />

todos que estão envolvidos <strong>em</strong><br />

negociações ao longo do<br />

desenvolvimento do processo<br />

educativo.<br />

• propõe a toma<strong>da</strong> de<br />

300


consciência dos atores<br />

escolares utilizando-se de uma<br />

composição de instrumentos<br />

de avaliação para a coleta de<br />

indicadores que possam aju<strong>da</strong>r<br />

na compreensão dos resultados<br />

do ensino e <strong>da</strong> aprendizag<strong>em</strong><br />

escolar. (GÓMEZ, 1985).<br />

Pesquisadora: Vejam que o paradigma qualitativo contrapõe o modo de avaliação tradicional<br />

e excludente que conhec<strong>em</strong>os, por isso é considerado o mais interessante para a escola,<br />

porque apresenta características que pod<strong>em</strong> aju<strong>da</strong>r no processo de ensino e aprendizag<strong>em</strong> dos<br />

alunos, b<strong>em</strong> como a formação de um ci<strong>da</strong>dão mais crítico, ativo e autônomo.<br />

Professor 1: Nessa ideia do paradigma qualitativo, eu acho que um ponto que vale a gente<br />

pensar aqui na nossa discussão é que os alunos também precisam aprender que a<br />

avaliação não é só do aluno, é também do professor. A gente se avalia quando vê<br />

o resultado do aluno na prova.<br />

Professor 3: Acho que a gente está tirando isso do aluno, a gente está desobrigando os alunos<br />

de participar do processo <strong>da</strong> avaliação de sua aprendizag<strong>em</strong>. Ele t<strong>em</strong> que sentir<br />

que t<strong>em</strong> sangue, suor e lágrimas dele lá naquele processo. Então a avaliação se<br />

torna um via de mão de dupla. O aluno hoje está muito coitadinho, está se<br />

passando muito a mão na cabeça do aluno e nessas reflexões que a gente está<br />

fazendo <strong>sobre</strong> avaliação dá para identificar isso. Muitas teorias <strong>sobre</strong> o processo<br />

domesticador <strong>da</strong> escola acabou desobrigando o aluno de também se preocupar<br />

com o seu processo. Então, o processo que deve ser de mão dupla feito pelo<br />

professor e pelo aluno só t<strong>em</strong> acontecido por meio do professor. O aluno não<br />

aprendia porque não queria; hoje o aluno não aprende porque o professor não<br />

sabe ensinar. Só o professor é responsabilizado pelo seu fracasso, isso está<br />

errado. O aluno deve se sentir coautor do processo de aprendizag<strong>em</strong>.<br />

Pesquisadora: Por isso eu acho bastante válido usar o registro para avaliar os alunos. Esse<br />

processo evidencia a responsabili<strong>da</strong>de do aluno com a sua aprendizag<strong>em</strong>. Tanto o professor<br />

como os alunos pod<strong>em</strong> observar resultados de avaliação nos registros. Mas é preciso saber ver<br />

esses sinais de aprendizagens, entender o seu processo de aprendizag<strong>em</strong>. Isso pode ser<br />

conseguido com a análise dos registros <strong>da</strong> professora e os feitos pelos alunos. Essa ação<br />

precisa ser ensina<strong>da</strong>, é uma prática que tira o foco <strong>da</strong> nota, os ganhos obtidos no processo se<br />

tornam mais importante e a nota passa a ser vista apenas como um símbolo.<br />

Bom, pessoal, eu achei bastante pertinente trazer aqui para o nosso momento de reflexão você<br />

assistir<strong>em</strong> um vídeo <strong>sobre</strong> os Paradigmas, de Joel A. Barker e Ray J. Christensen, produzido<br />

pela Charthouse Learning Corporation. Eu proponho que após vocês assistir<strong>em</strong> esse vídeo<br />

vocês façam a seguinte tarefa: registrar individualmente os apontamentos identificados que<br />

pod<strong>em</strong> contribuir com a mu<strong>da</strong>nça de paradigmas na prática avaliativa na EF escolar.<br />

(Após assistir ao vídeo, a pesquisadora foi para a lousa e registrou os apontamentos que mais<br />

chamaram a atenção dos participantes.)<br />

301


Pesquisadora: Vamos fazer uma lista para a gente situar e socializar o que mais chamou a<br />

atenção de vocês assistindo esse vídeo.<br />

Professor 2: Me chamou a atenção quando foi falado que é mais fácil manter os nossos<br />

paradigmas do que construir paradigmas novos, no sentido de considerar novas<br />

ideias, ideias novas que pod<strong>em</strong> auxiliar.<br />

Pesquisadora: Eu queria que vocês me aju<strong>da</strong>ss<strong>em</strong> a organizar essa ideia para eu registrar na<br />

lousa. Então, pautando na sua (Professor 2), paradigmas são nossas regras.<br />

Pesquisadora: Me ajud<strong>em</strong> a completar a ideia do Professor 2.<br />

Professor 2: É mais fácil eu manter os meus paradigmas.<br />

Pesquisadora: Que são fáceis de ser<strong>em</strong> mantidos, legal.<br />

Professor 2: Ao mesmo t<strong>em</strong>po é mais perigoso.<br />

Pesquisadora: É uma atitude perigosa. Muito bom, que interessante. O que mais chamou a<br />

atenção de vocês?<br />

Professor 3: Dentro um pouco do que ele falou, entendi que a mu<strong>da</strong>nça do paradigma gera<br />

uma incerteza, então um pouco do que ele falou é que é cômodo a gente<br />

permanecer com o nosso paradigma, porque quando a gente mu<strong>da</strong> isso dá uma<br />

sensação de angústia, porque você está saindo <strong>da</strong> sua zona de conforto e está<br />

entrando numa zona de incerteza e turbulência, você pode estar apostando <strong>em</strong><br />

alguma que você não sabe se vai <strong>da</strong>r certo.<br />

Pesquisadora: Então, posso registrar mais um it<strong>em</strong>: mu<strong>da</strong>nça de paradigma gera incerteza,<br />

angústia, sai <strong>da</strong> zona de conforto.<br />

Professor 1: Ele fala logo no começo do filme que o que a gente espera <strong>da</strong>s regras são aquelas<br />

que a gente aprendeu dos antigos [dos mais velhos] e isso acaba se traduzindo<br />

<strong>em</strong> padrões para ser<strong>em</strong> seguidos.<br />

Pesquisadora: Para registrar o que você disse acho que pod<strong>em</strong>os começar assim: Paradigma –<br />

filhos – se ajustam aos padrões, regras, que t<strong>em</strong>os internaliza<strong>da</strong>s, que já t<strong>em</strong>os.<br />

Professor 3: Uma coisa que eu consegui identificar é que os novos paradigmas não são<br />

necessariamente melhores, porque se você pensar na informática, ao mesmo<br />

t<strong>em</strong>po ela gera uma necessi<strong>da</strong>de que antes não tinha. Por ex<strong>em</strong>plo, a tecnologia<br />

gerou o sedentarismo, que coloca para indivíduo a necessi<strong>da</strong>de de se mexer<br />

obrigatoriamente. Daí eu me pergunto: para que inventaram aquilo, então?<br />

Então, do mesmo jeito que algumas mu<strong>da</strong>nças se impõ<strong>em</strong>, elas não pod<strong>em</strong> ser<br />

encara<strong>da</strong>s como a panaceia do mundo, você precisa ter uma visão crítica perante<br />

o novo e colocar junto com o paradigma antigo.<br />

Pesquisadora: Eu achei ótima a sua última colocação, que ressalta a importância <strong>da</strong> gente<br />

buscar um novo paradigma, mantendo a visão crítica. Isso pode ser registrado como? Novos<br />

302


paradigmas não são necessariamente melhores (Professor 3) que os paradigmas de ont<strong>em</strong>,<br />

geram novas d<strong>em</strong>an<strong>da</strong>s.<br />

Eu fico pensando nessa sua colocação e cheguei à reflexão de que é preciso tomar um certo<br />

cui<strong>da</strong>do porque, como exposto no vídeo, há uma tendência <strong>da</strong>s pessoas para a cegueira com<br />

relação a novos paradigmas, a novas descobertas criativas. Nesse ponto acho que o vídeo dá<br />

um chacoalhão na gente, no nosso olhar viciado, que s<strong>em</strong>pre procura enxergar o que a gente<br />

está acostumado a ver. Porém, concordo com a sua preocupação de ter que tomar uma certa<br />

precaução, usando b<strong>em</strong> os filtros que ajust<strong>em</strong> os aspectos do novo paradigma com o que a<br />

gente já sabe, para que seja possível a observação do que realmente dá certo e é coerente com<br />

o contexto <strong>em</strong> que atuamos. Também acho possível fazer correlação dessa reflexão com os<br />

novos estudos <strong>sobre</strong> a Educação, que apontam para a preocupação <strong>da</strong> visão crítica <strong>sobre</strong> os<br />

novos paradigmas, que não dev<strong>em</strong> ser pensados de maneira acrítica, como ocorreu <strong>em</strong> outras<br />

déca<strong>da</strong>s, <strong>em</strong> que a ideia, por ex<strong>em</strong>plo, do laisse faire foi utiliza<strong>da</strong> no contexto <strong>da</strong> EF s<strong>em</strong><br />

pensar qual é o cerne de sua concepção, função e consequência na escola. Outro ex<strong>em</strong>plo são<br />

as proposições educacionais que apontam uma reflexão mais aprofun<strong>da</strong><strong>da</strong>, que retomam<br />

princípios <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> de 70 <strong>sobre</strong> a sist<strong>em</strong>atização e tecnici<strong>da</strong>de do processo educacional, que<br />

defend<strong>em</strong> que o professor deve ensinar de forma coerente com o planejamento b<strong>em</strong><br />

estruturado. Mas hoje perceb<strong>em</strong>os essas concepções propostas com outra roupag<strong>em</strong>, como a<br />

sugestão <strong>da</strong> construção de objetivos claros para os alunos, que deixe transparente o caminho<br />

didático-pe<strong>da</strong>gógico que será percorrido para que tanto alunos quanto professor tenham<br />

consciência <strong>sobre</strong> o que está sendo ensinado e aprendido no cotidiano <strong>da</strong>s <strong>aulas</strong>. Se o<br />

professor não t<strong>em</strong> seus objetivos claros, não consegue estruturar de maneira coerente o<br />

conteúdo, o método de ensino e, muito menos, a escolha dos instrumentos de avaliação.<br />

Partindo do que vocês perceberam do vídeo, relacionando à avaliação na EF, conhecer o que é<br />

paradigma aju<strong>da</strong> a refletir <strong>sobre</strong> qual é o meu paradigma de avaliação? De onde v<strong>em</strong> esse<br />

paradigma? Isso é importante porque a gente só mu<strong>da</strong> de paradigma a partir do momento <strong>em</strong><br />

que enxergamos o que está errado, os probl<strong>em</strong>as, e o que precisa ser modificado. L<strong>em</strong>bro que<br />

isso já foi citado ont<strong>em</strong> quando a professora (Professor 4) falou <strong>sobre</strong> a importância <strong>da</strong> gente<br />

se conhecer e buscar dentro <strong>da</strong> gente o que estamos errando, e a partir disso dev<strong>em</strong>os buscar<br />

mu<strong>da</strong>nças adequa<strong>da</strong>s.<br />

Professor 3: Uma coisa que eu achei interessante e que parece que a gente sabe, mas é uma<br />

coisa meio <strong>em</strong>pírica, é saber que você enxerga as coisas melhor quando você sai<br />

<strong>da</strong> situação, né? Então eu posso pensar na situação do professor, isolado e<br />

solitário na escola, né? E que essa prática do dia a dia passou a dizer isso, a<br />

rotina faz a gente não enxergar o que está ocorrendo. Quando você se afasta<br />

disso e olha de fora, você enxerga coisas que qu<strong>em</strong> está dentro não enxerga.<br />

Professor 1: É o que ele fala no vídeo, que a mu<strong>da</strong>nça do paradigma v<strong>em</strong> muitas vezes de<br />

qu<strong>em</strong> está de fora.<br />

Professor 3: Exatamente, porque qu<strong>em</strong> está de fora vê mais coisas.<br />

Professor 1: Você fica num circulo vicioso, todo mundo fazendo as mesmas coisas <strong>da</strong> mesma<br />

forma, com as mesmas informações. Na reali<strong>da</strong>de, não consegue enxergar outras<br />

alternativas.<br />

Professor 3: Por isso que eu acho, quando eu ouço o discurso que diz que o local ideal para a<br />

formação do professor é a escola, eu não concordo muito com isso. Eu acho que<br />

ela é interessante na medi<strong>da</strong> <strong>em</strong> que você vai pegar a teoria e vai colocar na<br />

303


304<br />

prática no meio. Você vai experimentando aquilo que você está pretendendo<br />

fazer com o aluno que está lá, você já t<strong>em</strong> o feedback, só que, por outro lado, se<br />

você não se afastar <strong>da</strong>quela situação e não enxergar de fora...<br />

Pesquisador: E não ter essa troca que estamos tendo aqui nesse momento de formação, como<br />

outras pessoas para refletir, né?<br />

Professor 3: É, você não vai conseguir enxergar outras coisas que você poderia enxergar se<br />

você não estivesse de longe.<br />

Pesquisadora: Isso v<strong>em</strong> ao encontro do que conversei com a dirigente de ensino. Acho<br />

importante ter um equilíbrio entre momentos de formação nos interiores escolares e fora desse<br />

ambiente por meio <strong>da</strong> participação de eventos que debatam as questões educacionais.<br />

O que está acontecendo hoje é que, o que exatamente estamos vivenciando nesse nosso<br />

encontro, poucos professores procuram se atualizar por meio <strong>da</strong> formação continua<strong>da</strong> fora do<br />

horário e do ambiente escolar. Vejo que são várias as razões para isso – a falta de t<strong>em</strong>po, de<br />

condições financeiras e até de interesse.<br />

Professor 1: Agora, eu acho que o governo deveria aju<strong>da</strong>r um pouco mais <strong>sobre</strong> esse aspecto.<br />

Na reali<strong>da</strong>de, o que acontece é que está todo mundo muito, muito,<br />

<strong>sobre</strong>carregado. Todos os professores acumulam dois, três <strong>em</strong>pregos e o t<strong>em</strong>po<br />

que sobra é realmente usado para descansar e respirar. É claro que isso é de<br />

acordo com a pessoa, mas o sist<strong>em</strong>a está obrigando você a manter o status quo<br />

do jeito que está.<br />

Pesquisadora: Eu percebo a sua colocação como um sinal de que os programas de formação<br />

propostos somente realizados fora <strong>da</strong> escola não estão <strong>da</strong>ndo conta <strong>da</strong> d<strong>em</strong>an<strong>da</strong> de<br />

conhecimentos que o professor precisa, especialmente quando o assunto é avaliação. Não é<br />

somente com essa possibili<strong>da</strong>de que consegu<strong>em</strong> colaborar com a formação continua<strong>da</strong> dos<br />

professores que atuam nas escolas públicas, porque devido aos probl<strong>em</strong>as enfrentados com o<br />

sist<strong>em</strong>a, faz-se necessário que existam também iniciativas de formação no interior <strong>da</strong>s<br />

escolas, senão fica limitado o número de docentes que consegu<strong>em</strong> se atualizar para melhorar a<br />

prática pe<strong>da</strong>gógica.<br />

É nesse sentido que considero importante aguçar a nossa percepção, identificando os sinais<br />

que as situações vivi<strong>da</strong>s nos revelam, para buscar soluções contextualiza<strong>da</strong>s. Como é possível<br />

observar neste nosso encontro, <strong>em</strong> que a formação ofereci<strong>da</strong> fora do contexto escolar não<br />

consegue abarcar todos os profissionais de EF que atuam nas escolas dessa Diretoria de<br />

Ensino.<br />

Isso nos faz repensar os probl<strong>em</strong>as que geralmente reca<strong>em</strong> nas costas dos professores e que,<br />

na reali<strong>da</strong>de, suas razões part<strong>em</strong> de instâncias mais amplas, ou seja, <strong>da</strong>s d<strong>em</strong>an<strong>da</strong>s gera<strong>da</strong>s<br />

pelo próprio sist<strong>em</strong>a educacional.<br />

Acho oportuno também questionar como é que esses pontos que foram destacados por vocês<br />

<strong>sobre</strong> a visão paradigmática, exposta no vídeo, pod<strong>em</strong> ajudá-los a pensar <strong>em</strong> possibili<strong>da</strong>des de<br />

melhorar a prática avaliativa nas suas <strong>aulas</strong> de EF escolar?<br />

Pens<strong>em</strong> nas <strong>aulas</strong> de vocês, coloqu<strong>em</strong> no contexto de vocês. Quais desses aspectos ressaltados<br />

aqui no nosso registro coletivo vocês pod<strong>em</strong> transportar para a prática avaliativa?<br />

Professor 1: Pra ser sincera, eu não vejo tanta possibili<strong>da</strong>de de mu<strong>da</strong>nça, não. Eu não sei<br />

como fazer, e não consigo enxergar como fazer. Porque ou eu caio numa coisa<br />

assim, eu não acho justo, eu não acho certo, entendeu, assim na forma de avaliar.


305<br />

Eu vejo quando você vai avaliar a prática, então aí eu penso “o que eu vou<br />

avaliar?”. A performance, a técnica, o movimento, correto? Ou o que t<strong>em</strong> sido<br />

discutido no jogo, o que é o jogo? Ou eu vou para a avaliação dos<br />

conhecimentos teóricos que eles têm <strong>da</strong>quele conceito que eu trabalhei? Eu me<br />

pergunto: “Qual seria a forma mais justa de avaliar?”. Acho que é uma<br />

preocupação que as outras áreas não têm. As outras áreas avaliam o cognitivo e<br />

ponto final. Aprendeu ou não aprendeu, um mais um é dois, enfim, ou está certo<br />

ou está errado, não t<strong>em</strong> alternativa. E aí, na nossa área, como fica?<br />

Professor 3: Acho que na ver<strong>da</strong>de o que pede nessa nova visão <strong>da</strong> avaliação é que os<br />

professores, mesmo os de outras disciplinas, dev<strong>em</strong> ter uma gama de<br />

possibili<strong>da</strong>de de avaliar e não fique só num modelo.<br />

Professor 1: Mas o que vejo é que nas outras disciplinas a avaliação é uma coisa mais<br />

palpável, né? Porque, assim, muita coisa na nossa área é só pela observação que<br />

pode ser feita de formas diferentes. Eu posso ser uma pessoa extr<strong>em</strong>ante<br />

exigente ou posso ser por uma pessoa mais maleável. De uma forma ou de outra<br />

eu não estou avaliando corretamente.<br />

Professor 6: Na reali<strong>da</strong>de, assim, eu acho que o que a gente vive hoje é... O<br />

nosso dia a dia, esse grupo que a gente trabalha não é muito fácil, a moleca<strong>da</strong> é<br />

difícil, a gente n<strong>em</strong> pensa <strong>em</strong> primeiro lugar <strong>em</strong> avaliar. Não é a nossa maior<br />

preocupação na nossa cabeça, não é o mais importante. O que a gente pensa <strong>em</strong><br />

primeiro lugar é conseguir passar um conteúdo, eles assimilar<strong>em</strong> alguma coisa<br />

disso, porque na reali<strong>da</strong>de eles não quer<strong>em</strong> na<strong>da</strong> teórico, eles só quer<strong>em</strong> chegar e<br />

sair jogando futebol. E a gente fica a ver navios. A gente faz um planejamento<br />

no início do ano, porque a gente t<strong>em</strong> objetivos a ser<strong>em</strong> alcançados nas <strong>aulas</strong> no<br />

nosso planejamento, mas é assim, a gente morre na praia. Porque, assim, se a<br />

gente faz um planejamento mas não consegue seguir. Aula teórica só dá para <strong>da</strong>r<br />

quando chove. Eu até falo para eles que eles têm que saber como as coisas<br />

funcionam, não só ir lá e jogar uma bola e pronto, acabou. Só que eles não<br />

quer<strong>em</strong> saber disso, eles não têm essa consciência. Então isso não é importante...<br />

Professor 5: Eu tenho uma sala que eles estão de castigo comigo, então dou aula teórica,<br />

comecei a <strong>da</strong>r história do handebol. Eu disse para eles que a minha condição é:<br />

só vai descer para a quadra quando o castigo acabar qu<strong>em</strong> estiver com a matéria<br />

<strong>em</strong> dia. Aí eu perguntei para um aluno: “Você não vai fazer?”. Ele disse: “Não”,<br />

porque não tinha o caderno de Educação Física. Eu perguntei onde estava o<br />

caderno dele, ele respondeu: “Professora, Educação Física não se escreve”. Eu<br />

disse: “Qu<strong>em</strong> falou isso para você?”.<br />

Pesquisadora: Eu percebo sinais de uma intenção de avaliação qualitativa na sua fala, porque<br />

você d<strong>em</strong>onstra se preocupar com o processo de formação dos seus alunos. O que considero<br />

interessante, fazendo relação com a t<strong>em</strong>ática de hoje, que trata <strong>da</strong> mu<strong>da</strong>nça de paradigma, é<br />

pensar nas possibili<strong>da</strong>des que uma prática avaliativa mais sist<strong>em</strong>atiza<strong>da</strong> pode aju<strong>da</strong>r a<br />

melhorar o processo de ensino e aprendizag<strong>em</strong> dos alunos. Mas para isso considero<br />

importante uma organização <strong>sobre</strong> o que você ensina, como ensina, para escolher critérios de<br />

avaliação e formas de avaliar adequa<strong>da</strong>s com as características <strong>da</strong> prática pe<strong>da</strong>gógica<br />

desenvolvi<strong>da</strong> com os alunos. Isso pode auxiliar você e os alunos a perceber<strong>em</strong> os avanços,


dificul<strong>da</strong>des, tonando-se mais conscientes do processo de ensino e aprendizag<strong>em</strong> escolar.<br />

Também aju<strong>da</strong> a legitimar e fazer com que as outras pessoas valoriz<strong>em</strong> o que você ensina <strong>em</strong><br />

suas <strong>aulas</strong>, especialmente os alunos, pais, coordenadores e diretor escolar. Isso requer uma<br />

mu<strong>da</strong>nça de postura para sist<strong>em</strong>atizar o olhar para a avaliação numa perspectiva mais<br />

qualitativa.<br />

Outro ponto que vale ser ressaltado na sua fala é a preocupação com a subjetivi<strong>da</strong>de no<br />

processo de avaliação, que me pareceu que você a entende como algo ruim para a avaliação<br />

na EF escolar. Acho importante a gente pensar que a subjetivi<strong>da</strong>de está presente <strong>em</strong> to<strong>da</strong>s as<br />

disciplinas, mas há, no contexto escolar, a tendências <strong>da</strong>s pessoas utilizar<strong>em</strong> o paradigma<br />

experimental <strong>da</strong> avaliação, que desconsidera a subjetivi<strong>da</strong>de e enaltece a objetivi<strong>da</strong>de, porque,<br />

como vimos no texto lido <strong>sobre</strong> os paradigmas de avaliação, é mais fácil avaliar<br />

comportamentos e conhecimento escolares que possam ser mensurados e quantificados de<br />

forma objetiva para ter resultados confiáveis do que pensar que as avaliações são carrega<strong>da</strong>s<br />

de experiências e conhecimentos prévios dos pesquisadores. Elas não dev<strong>em</strong> ser<br />

compreendi<strong>da</strong>s como ateóricas, isola<strong>da</strong>s e s<strong>em</strong> subjetivi<strong>da</strong>de. Assim, um indício de<br />

aprendizag<strong>em</strong> apresenta uma complexi<strong>da</strong>de de conhecimentos que dev<strong>em</strong> ser analisados sob<br />

os mais diferentes ângulos. Um sinal de aprendizag<strong>em</strong>, segundo a perspectiva do professor,<br />

deve ser visto de forma provisória, e nunca como ver<strong>da</strong>de absoluta e s<strong>em</strong> subjetivi<strong>da</strong>de. Ou<br />

seja, apreciar as aprendizagens escolares não é uma ação neutra e por isso não pode ser<br />

compreendi<strong>da</strong> com processos técnicos desligados dos valores existentes no contexto <strong>em</strong> que<br />

se expressam.<br />

Um último ponto que vale ressaltar é o fato de outras disciplinas, como Mat<strong>em</strong>ática, Língua<br />

Portuguesa, dentre outras, ter<strong>em</strong> tudo mais sist<strong>em</strong>atizado do que a Educação Física. Assim<br />

acabam d<strong>em</strong>onstrando mais clareza <strong>sobre</strong> quais são seus conteúdos, objetivos e métodos de<br />

ensino e isso leva a uma prática avaliativa mais sist<strong>em</strong>atiza<strong>da</strong>. Tal detalhe é o que falta ser<br />

construído na nossa área.<br />

Já com relação à exposição de vocês – a pesquisadora se reporta aos Professores 5 e 6:<br />

considero importante pontuar que a avaliação realmente não deve ser o mais importante numa<br />

disciplina, pois ela está associa<strong>da</strong> ao processo de ensino e aprendizag<strong>em</strong>. Então ela é, como<br />

Perrenoud nos coloca, um dos dispositivos didáticos do contexto educativo. Isso significa<br />

pensar que o ensino, a aprendizag<strong>em</strong> e a avaliação se compl<strong>em</strong>entam, pois um depende do<br />

outro. Assim, precisam ser desenvolvidos de maneira interliga<strong>da</strong>. No que se refere à função <strong>da</strong><br />

avaliação na área <strong>da</strong> Educação Física, acho válido ressaltar a colocação de uma autora<br />

chama<strong>da</strong> Linhales, que entende que um bom processo de avaliação pode aju<strong>da</strong>r nessa<br />

dificul<strong>da</strong>de relata<strong>da</strong> por vocês, de fazer com que os alunos valoriz<strong>em</strong> o que está sendo<br />

ensinado. Na concepção <strong>da</strong> autora, a avaliação na EF escolar deve ser realiza<strong>da</strong> com a<br />

intenção de estabelecer um diálogo permanente com os diferentes campos de conhecimento<br />

escolar, valorizando a reflexão crítica <strong>sobre</strong> os saberes e práticas que desenvolve. Significa,<br />

também, valorizar as práticas cotidianas de professores e alunos como t<strong>em</strong>po/espaços<br />

legítimos de construção e reconstrução <strong>da</strong> cultura corporal de movimento. Mediante a citação<br />

<strong>da</strong> autora, fica claro que a avaliação associa<strong>da</strong> ao processo de ensino e aprendizag<strong>em</strong> pode<br />

colaborar para legitimar o papel <strong>da</strong> Educação Física para o aluno e para to<strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de<br />

escolar. Considero esse ponto de extr<strong>em</strong>a relevância para a nossa área.<br />

Professor 1: É, agora com o currículo do estado, eu me preocupo para entender o que eu vou<br />

<strong>da</strong>r nas séries. Não sou eu que escolho, mas é o que eles precisam aprender que<br />

precisa ser ensinado. Eu acho que ficou mais fácil, porque, b<strong>em</strong> ou mal, todo<br />

mundo reclama, mas hoje eu já sei, como a proposta está desde 2008, eu já sei o<br />

que vou trabalhar na 5ª até a 7ª série, eu já sei que usei tal material, quando vejo<br />

306


307<br />

outro que pode usado eu já seleciono, você eu sei que começa assim, é aquilo é<br />

aquilo. Assim, não t<strong>em</strong> que ficar...<br />

Professor 3: Por causa de t<strong>em</strong>po também.<br />

Professor 1: É, a gente precisa de t<strong>em</strong>po e, assim, quando você fica muito solta na ver<strong>da</strong>de o<br />

que acontecia, também, se eu não gosto de voleibol e não vou <strong>da</strong>r vôlei, né?<br />

Agora não t<strong>em</strong> essa, eu não gosto mas está lá, eu vou ter que me virar para<br />

ensinar para os alunos, que não é o que eu quero é o que eles precisam aprender.<br />

Acho que essa coisa já melhorou bastante, é o que acho que está faltando para a<br />

1ª a 4ª série.<br />

Professor 3: É, a gente tinha um norte, mas agora está meio solto. O que eu acho também que<br />

acontece muito é que nós <strong>da</strong> EF t<strong>em</strong>os conteúdos atitudinais muito fortes, a<br />

gente não t<strong>em</strong> só os conteúdos procedimentais e conceituais, a gente t<strong>em</strong> vários<br />

atitudinais. Nas outras disciplinas a gente vê que os atitudunais ficam meio<br />

diluídos na questão <strong>da</strong> indisciplina. E aí, no nosso caso não.<br />

Professor 3: Outra coisa que achei legal no que o Professor 1 fala é que é claro que você vai<br />

s<strong>em</strong>pre avaliar subjetivamente, porque a gente vai s<strong>em</strong>pre partir <strong>da</strong> observação<br />

<strong>da</strong> aprendizag<strong>em</strong>, partindo dos seus paradigmas, sua leitura de mundo. Isso<br />

acontece muito numa menina reivindicadora que fala “Não vou fazer isso porque<br />

isso aqui está errado”, e aí o professor avalia que essa menina é chata, e a gente<br />

não consegue enxergar que ela está trazendo um ponto de vista que t<strong>em</strong> que ser<br />

respeitado.<br />

Pesquisadora: Na ver<strong>da</strong>de, é um indicador que precisa ser investigado <strong>sobre</strong> porque ela está se<br />

manifestando assim.<br />

Professor 3: Será que isso é mesmo ver<strong>da</strong>de, será que a proposta está erra<strong>da</strong>, está sacrificando<br />

mesmo o aluno?<br />

Pesquisadora: Nesse ponto, acho importante a gente repensar até as colocações feitas também<br />

pelos pais. Eles traz<strong>em</strong> à tona probl<strong>em</strong>as que ocorr<strong>em</strong> na aula e que a gente não está<br />

enxergando. Mas a atitude dos professores, geralmente, para as reclamações dos pais, é<br />

criticar, ficar com raiva porque encara as reclamações como algo negativo e não como uma<br />

possibili<strong>da</strong>de de crescimento profissional.<br />

Professor 1: Mas na escola isso quase não acontece, os pais são como objetos estranhos que<br />

nunca aparec<strong>em</strong> na escola, eles não têm essa participação.<br />

Professor 3: Às vezes eles ficam na porta <strong>da</strong> escola fazendo fofocas.<br />

Professor 1: Pelo menos na experiência que eu tenho eu nunca tive nenhum pai reclamando e<br />

n<strong>em</strong> elogiando, n<strong>em</strong> de um lado n<strong>em</strong> do outro.<br />

Professor 3: Mas a gente t<strong>em</strong> visto isso acontecer menos na escola hoje <strong>em</strong> dia, inclusive acho<br />

que é até uma coisa <strong>da</strong> teoria <strong>da</strong> conspiração até, porque tudo agora é ouvidoria,<br />

é reclamação.


Professor 1: Mas eu nunca vejo os pais questionar<strong>em</strong> o que e como está acontecendo o<br />

processo de ensino e aprendizag<strong>em</strong> dos alunos. O filho caiu e machucou, pronto,<br />

<strong>da</strong>í eles vêm à escola. Ou porque levou suspensão, a escola não deixou entrar,<br />

mas coisas assim pe<strong>da</strong>gógicas isso não existe, é pouquíssimo. Você não vê o pai<br />

reclamando que o professor não está ensinando ou que o filho não está<br />

aprendendo porque não t<strong>em</strong> lição de casa.<br />

Professor 3: Mas eu acho que a gente não pode generalizar, as reclamações dos pais desse tipo<br />

têm acontecido mais e têm sido ca<strong>da</strong> vez mais frequentes nas escolas públicas.<br />

Pesquisadora: Eu falei dos pais porque não dev<strong>em</strong>os deixar de considerar que os pais são mais<br />

atores escolares que pod<strong>em</strong> aju<strong>da</strong>r na nossa prática pe<strong>da</strong>gógica, sinalizando aquilo que não<br />

conseguimos enxergar, que está nas entrelinhas e que eles conseguiram identificar. Eu me<br />

l<strong>em</strong>bro do trabalho que desenvolvi com os alunos com portfólio nas <strong>aulas</strong> de EF, eu tive<br />

muitos retornos dos pais sinalizando aspectos positivos <strong>da</strong> atitude dos filhos <strong>sobre</strong> as <strong>aulas</strong> <strong>da</strong><br />

EF que eu não tinha percebido, além de sinais de probl<strong>em</strong>as. Acho que dev<strong>em</strong>os usar to<strong>da</strong>s<br />

essas possibili<strong>da</strong>des para ampliar nosso olhar. Isso também leva a pensar que precisamos<br />

aguçar nossos canais de percepção, para isso é preciso ter calma, saber ouvir, ser um bom<br />

observador, saber filtrar para depois refletir <strong>sobre</strong> a crítica e as possibili<strong>da</strong>des de solução mais<br />

adequa<strong>da</strong>s para os probl<strong>em</strong>as identificados.<br />

Professor 2: Então, voltando à pergunta que você tinha feito, acho que os apontamentos que<br />

estão registrados na lousa pod<strong>em</strong>, sim, melhorar a avaliação. Mas tenho que<br />

admitir, faço minhas palavras iguais às <strong>da</strong> Professora 1, é complicado, a gente<br />

fica meio solto quando trabalha com o ciclo 2 e o Ensino Médio. É complicado<br />

porque que são turmas mais difíceis.<br />

Professor 1: O ciclo 1 na reali<strong>da</strong>de para a gente trabalhar é o máximo, até para desenvolver a<br />

avaliação, porque é mais fácil de trabalhar, as crianças têm uma predisposição<br />

maior para fazer a aula. Mas, assim, no 1º e no 2º ano do Ensino Médio o pessoal<br />

já fala, se dá uma nota tá ok, aí você fica lá dentro de determinados padrões e<br />

pronto, e não t<strong>em</strong>... Vejo que os alunos do ciclo 1 e do Ensino Médio são dois<br />

mundos diferentes.<br />

Professor 3: Mas o que acho importante é a gente pensar na avaliação descola<strong>da</strong> <strong>da</strong> questão <strong>da</strong><br />

nota, quando a gente avalia por um processo. O que eu acho legal dessa visão é<br />

você ver a avaliação como um processo amoroso, é você construir junto com eles<br />

um futuro para essas pessoas. Porque a nota é... é só um símbolo.<br />

Professor 1: Nessa ideia do símbolo eu tenho a tarjeta. S<strong>em</strong> brincadeira nenhuma, a nota eu<br />

coloco 7 no início <strong>da</strong> tarjeta arrasto até o fim e ok, acabou a história. Mas no<br />

ciclo 1 eu acho melhor de trabalhar, a gente consegue ver se ele melhorou, se ele<br />

não melhorou, a gente entende mais as questões de família, se ele se comporta.<br />

Mas é mais uma avaliação para mim, mas t<strong>em</strong> hora que a cabeça enlouquece e<br />

penso que eu não vou ficar fazendo trabalho voluntário para a escola, ficando<br />

corrigindo coisas fora do horário de aula.<br />

Pesquisadora: Mediante as colocações de vocês, o que entendo é que precisamos, na EF<br />

escolar, buscar uma outra atitude, ou seja, precisamos quebrar os paradigmas que nos levam a<br />

fazer somente o que estamos acostumados, s<strong>em</strong> pensar nas suas consequências no contexto do<br />

308


processo de ensino. Para isso, a gente precisa, como já foi dito, sair <strong>da</strong> zona de conforto para<br />

identificar possibili<strong>da</strong>des de mu<strong>da</strong>nças na avaliação. É preciso entender que a avaliação t<strong>em</strong><br />

uma função. Eu não posso pegar a nota 7 e <strong>da</strong>r para todos os alunos, <strong>em</strong>bora eu concorde com<br />

você que o foco <strong>da</strong> avaliação não deve ser a nota. Já que a gente t<strong>em</strong> que atribuir a nota no<br />

final do processo de ensino, acho importante que essa ação tenha um significado e que faça<br />

parte do processo. Uma ideia interessante seria construir os critérios de uma nota 5, 7 etc.,<br />

junto com os alunos. Assim estar<strong>em</strong>os utilizando o ato de atribuir a nota conforme é sugerido<br />

no paradigma qualitativo <strong>da</strong> avaliação: a nota será a representação do processo, o qual todos<br />

têm consciência de onde é (quais os critérios) que ela foi gera<strong>da</strong>, ela irá qualificar o processo<br />

porque terá o sentido de conscientizar os atores <strong>da</strong> escola <strong>sobre</strong> o processo seguido.<br />

Sendo assim, <strong>em</strong>bora seja perceptível nas falas de vocês a intencionali<strong>da</strong>de de uma avaliação<br />

com viés mais qualitativo, que se preocupa <strong>em</strong> aju<strong>da</strong>r os alunos a aprender<strong>em</strong>, aponta-se<br />

como necessário, também, acreditar mais no paradigma qualitativo e se desafiar para<br />

desenvolver a avaliação <strong>da</strong> aprendizag<strong>em</strong> dos alunos de maneira efetiva.<br />

Isso tudo pode ser trabalhado no dia a dia <strong>da</strong>s <strong>aulas</strong>, assim não será um trabalho a mais para o<br />

professor fazer. Sugiro que as tarefas cotidianas sejam usa<strong>da</strong>s como meios para colher<br />

indicadores para avaliar os alunos e o professor. Deve-se sist<strong>em</strong>atizar essas observações e<br />

registrá-las, que servirão não só para o professor e o aluno, mas também para a comuni<strong>da</strong>de<br />

escolar enxergar o quanto se aprende na EF escolar. Nesse sentido, faço uma sugestão de<br />

leitura para vocês, que é o autor Charles Hadji, que traz um conceito de avaliação formativa<br />

que vai ao encontro do que estamos discutindo aqui no curso. Vejam o que ele diz: a<br />

avaliação formativa é a perspectiva mais promissora para avaliar a aprendizag<strong>em</strong> dos alunos,<br />

t<strong>em</strong> como foco (pesquisadora mostra slide):<br />

o processo de construção de conhecimentos dos alunos;<br />

fornecer retorno de informações que ajude aclarar os alunos <strong>sobre</strong> as<br />

suas aprendizagens e dificul<strong>da</strong>des;<br />

e esclarecer o professor/avaliador <strong>sobre</strong> os efeitos <strong>da</strong> sua prática<br />

pe<strong>da</strong>gógica (HAJI, 1994).<br />

A partir <strong>da</strong>qui o nosso t<strong>em</strong>po se esgota, mas se vocês quiser<strong>em</strong> e tiver<strong>em</strong> disponibili<strong>da</strong>de,<br />

pod<strong>em</strong>os continuar nossa discussão <strong>sobre</strong> avaliação na Educação Física escolar na s<strong>em</strong>ana<br />

que v<strong>em</strong>. Vocês topam?<br />

Todos aceitam a proposta de um novo encontro na próxima s<strong>em</strong>ana. Então, sugiro mais uma<br />

tarefa, que é a leitura de alguns textos retirados do livro Os Conteúdos na Reforma (COLL, C.<br />

et al. Porto Alegre: Artmed, 2000), que serão usados como base para entender a natureza dos<br />

conteúdos, possibili<strong>da</strong>des de critérios e sugestões de instrumentos adequados para avaliar os<br />

conteúdos.<br />

309


3º dia de encontro com os professores (29/9/2011)<br />

Pesquisadora: Bom, pessoal, acho importante explicar por que escolhi mais esse filme para<br />

passar para vocês, que é o filme “Escritores <strong>da</strong> Liber<strong>da</strong>de”. Ele foi escolhido porque oferece a<br />

possibili<strong>da</strong>de <strong>da</strong> gente relacionar a prática pe<strong>da</strong>gógica <strong>da</strong> professora do filme com a proposta<br />

<strong>da</strong> avaliação formativa. Então, um detalhe que sugiro para vocês, s<strong>em</strong>pre que for propor<br />

assistir um vídeo é importante ter s<strong>em</strong>pre uma intencionali<strong>da</strong>de exposta de forma clara para os<br />

alunos. Nunca dev<strong>em</strong>os propor um vídeo e os alunos achar<strong>em</strong> que só dev<strong>em</strong> assistir por<br />

assistir. Isso perde o valor desse recurso didático. Aqui no nosso caso, eu quero que vocês<br />

assistam ao vídeo tentando identificar aspectos que chamaram a atenção de vocês <strong>sobre</strong> a<br />

avaliação na perspectiva qualitativa e formativa.<br />

Professor 1: Eu acho que você ter a imag<strong>em</strong> é uma coisa muito legal, né?<br />

Pesquisadora: A imag<strong>em</strong> concretiza e nos aju<strong>da</strong> a fazer relações que ficam mais fáceis de<br />

entender determinados conceitos.<br />

Professor 1: Eu trabalhei com a parte do atletismo com vídeos, foi muito gostoso, gerou mais<br />

perguntas e respostas. A TV Escola t<strong>em</strong> vídeos ótimos.<br />

Pesquisadora faz a leitura do resumo do filme para contextualizar os trechos escolhidos para<br />

ser<strong>em</strong> passados para os professores participantes do curso.<br />

Após assistir às partes do filme escolhi<strong>da</strong>s pela pesquisadora, ela fala: Eu gostaria que agora<br />

vocês levantass<strong>em</strong> detalhes do filme que pod<strong>em</strong> ser retomados para gente pensar a avaliação<br />

formativa.<br />

Professor 2: Achei que o mais importante é pensar que a avaliação t<strong>em</strong> a função do aluno<br />

saber o porquê <strong>da</strong>quilo que a gente está passando para ele. Construir os<br />

objetivos, as ativi<strong>da</strong>des que eu posso usar para fazer com que isso aconteça.<br />

Professor 3: Na reali<strong>da</strong>de, é assim, eu acho que eu tenho que quebrar esses paradigmas que eu<br />

tenho de pensar a avaliação no modo antigo. Eu tenho essa dificul<strong>da</strong>de dessa<br />

coisa de sist<strong>em</strong>atizar a avaliação porque eu não tenho horário para fazer isso, eu<br />

não consigo, eu acumulo dois cargos e dou aula o dia todo. Então, quando eu<br />

começo a pensar <strong>em</strong> como eu vou passar isso para os meus alunos, isso para<br />

mim é visto como um trabalho, uma coisa a mais, <strong>em</strong>bora eu enten<strong>da</strong> e é claro<br />

para mim a importância de avaliar dessa maneira.<br />

Pesquisadora: Eu percebo no seu discurso uma vontade de querer mu<strong>da</strong>r, e isso já é um sinal<br />

importante. O próximo passo é preciso fazer relações com o que a literatura apresenta e sua<br />

experiência, para que sejam construí<strong>da</strong>s possibili<strong>da</strong>des de avaliar mais contextualiza<strong>da</strong>s com<br />

as suas turmas.<br />

Professor 1: Eu acho interessante relatar um trabalho que faço com a parte de jogos e<br />

brincadeiras, <strong>em</strong> que eles deveriam apresentar o trabalho. Mas, assim, é tudo<br />

com muita dificul<strong>da</strong>de. Na reali<strong>da</strong>de, t<strong>em</strong> uma coisa que é <strong>da</strong> escola pública,<br />

para você ir para a sala com eles, <strong>da</strong>r explicação <strong>sobre</strong> o que usar, lápis, papel, é<br />

tudo meio confuso. E aí eu tinha uma professora que era amiga, então deu certo.<br />

Mas, na reali<strong>da</strong>de, para eles fazer<strong>em</strong> a pesquisa eu levei todos os meus livros<br />

para eles usar<strong>em</strong>, aí eles escolheram algumas brincadeiras e eles faziam na<br />

310


311<br />

quadra, e conforme o que eles faziam eles tinham que escrever, <strong>da</strong>í <strong>da</strong>va as<br />

loucuras. Isso levou muito t<strong>em</strong>po e ficou cansativo para eles porque eles iam<br />

enjoando do mesmo conteúdo. Isso que a parte escrita foi to<strong>da</strong> feita na aula <strong>da</strong><br />

professora de sala e na aula era só a parte prática.<br />

Professor 3: Foi o trabalho que você apresentou no Fórum de EF do ano passado, né?<br />

Professor 1: Sim.<br />

Professor 3: A gente aqui dessa Diretoria já t<strong>em</strong> um trabalho com registro na EF, que é<br />

incentivado pela coordenadora de Educação Física, onde dev<strong>em</strong>os contextualizar<br />

o conteúdo com os alunos, praticar, refletir e registrar o que aprendeu. Me<br />

l<strong>em</strong>bro que, num dos cursos <strong>da</strong>dos aqui na Diretoria de Ensino, todo princípio<br />

norteador do trabalho <strong>da</strong> EF s<strong>em</strong>pre vai nessa direção. É que hoje a gente<br />

percebe que é difícil ter cursos aqui, os professores <strong>da</strong>s escolas estaduais<br />

perderam essa possibili<strong>da</strong>de de ter o direito de sair, ser dispensado para fazer<br />

cursos, participar de discussões nas diretorias de ensino.<br />

Professor 1: Mas, continuando o meu relato, eu tenho que admitir que ficou muito difícil de<br />

administrar essa coisa de fazer o registro, porque aí você fica, você faz com uma<br />

sala e não faz com a outra.<br />

Professor 3: Mas esse trabalho que você fez foi muito legal.<br />

Pesquisadora: O que você relatou <strong>sobre</strong> os alunos d<strong>em</strong>onstrar<strong>em</strong> no decorrer do projeto a<br />

desmotivação para aprender o t<strong>em</strong>a, isso é um indicador que você pode usar para melhorar a<br />

sua prática pe<strong>da</strong>gógica, que é construir intervenções que dur<strong>em</strong> menos <strong>aulas</strong>, sintetizar mais<br />

os conteúdos que irá desenvolver.<br />

Professor 1: Mas também tenho que admitir que t<strong>em</strong> hora que eu canso de trabalhar com<br />

projeto desse tipo, porque tenho 7 turmas de 5º ano, então não aguento mais ver<br />

aquele conteúdo.<br />

Pesquisadora: Veja, você traz mais um indicador que vale refletir. Talvez, você deva rever a<br />

concepção de que são os alunos que se desmotivam, mas sim é você, e pensar: “Qual é a<br />

importância dessa prática? Preciso reestrutura a prática. Se os alunos estão realmente<br />

aprendendo, então por que mu<strong>da</strong>r?”.<br />

Outra possibili<strong>da</strong>de é pensar <strong>em</strong> promover mais a participação dos alunos nas escolhas de<br />

ativi<strong>da</strong>des do projeto, dos critérios de avaliação, assim a gente divide a responsabili<strong>da</strong>de de<br />

ter que pensar <strong>em</strong> tudo sozinhos.<br />

Outro detalhe que vale destacar é que tudo que você está relatando que percebeu, e as razões<br />

encontra<strong>da</strong>s para explicar o que aconteceu no seu projeto dev<strong>em</strong> ser registra<strong>da</strong>s para que no<br />

próximo ano que você aplicar o projeto você possa retomar esses apontamentos e criar novas<br />

possibili<strong>da</strong>des de intervenção. É, essa é mais uma função <strong>da</strong> avaliação, estar a serviço do<br />

professor.<br />

Professor 3: O probl<strong>em</strong>a que eu vejo na questão do registro do aluno é o t<strong>em</strong>po mesmo.<br />

Pesquisadora: Eu me deparei com esses probl<strong>em</strong>as na minha prática pe<strong>da</strong>gógica e o meio que<br />

eu encontrei foi pedi-lo como lição de casa.


Professor 3: Mas <strong>em</strong> casa é diferente. Quando eles vão para casa é diferente, n<strong>em</strong> todos<br />

faz<strong>em</strong>.<br />

Pesquisadora: Eu vejo como ação importante para minimizar essa questão exposta por você<br />

(se reporta ao Professor 3) é fazer com que o aluno perceba a necessi<strong>da</strong>de do registro como<br />

possibili<strong>da</strong>de de melhorar a sua aprendizag<strong>em</strong>. Então, por ex<strong>em</strong>plo, nesse registro dos alunos<br />

(a pesquisadora mostra um registro) o conteúdo foi conhecer as regras de um determinado<br />

jogo. Foi solicitado um registro como lição de casa <strong>em</strong> que o critério combinado com os<br />

alunos foi deixar claro o que tinham entendido <strong>sobre</strong> as regras dos jogos.<br />

Professor 3: É, talvez dá para fazer, por ex<strong>em</strong>plo, acabou de fazer, já registrar, fazer eles<br />

trocar<strong>em</strong> os registros...<br />

Professor 2: Eu estou vendo nesses encontros possibili<strong>da</strong>des que eu nunca tinha visto na EF.<br />

Produzir registros com os alunos traz muitas possibili<strong>da</strong>des de ver as<br />

aprendizagens dos alunos.<br />

Pesquisadora: Acho interessante relatar para você que um erro que eu vi no meu mestrado é<br />

pedir para os alunos fazer<strong>em</strong> registros <strong>em</strong> to<strong>da</strong>s as <strong>aulas</strong>. Percebi no mestrado, isso se tornou<br />

uma prática inviável, aí eu comecei a trabalhar com a prática do registro após 3 ou 4 <strong>aulas</strong>,<br />

quando acaba uma sequência didática de determinado t<strong>em</strong>a. Às vezes eu fazia um registro no<br />

meio do conteúdo e um no final. E assim eu ia tomando decisões conforme as turmas e os<br />

conteúdos, porque se não fosse assim eu perdia muito do que os alunos estavam aprendendo,<br />

os registros só no final às vezes, não cont<strong>em</strong>plavam tudo o que haviam aprendido porque já<br />

tinham esquecido. Mas aí eu usava também outras estratégias – a filmadora para<strong>da</strong> na quadra<br />

para filmar a turma, o gravador, que são outros meios que nos aju<strong>da</strong>m e pod<strong>em</strong> ser usados<br />

para auxiliar os alunos a também se avaliar<strong>em</strong>. Mas defendo a ideia de que não dev<strong>em</strong>os<br />

deixar passar muito para registrar a aprendizag<strong>em</strong> dos alunos porque a gente perde detalhes<br />

imprescindíveis.<br />

Professor 3: Mas, sinceramente eu acho muito difícil registrar durante as <strong>aulas</strong>. Eu acho que é<br />

melhor você fazer uma vez por mês e você garante uma boa produção do registro<br />

do que fazer <strong>em</strong> aula e usar, talvez, outros recursos como você citou.<br />

Pesquisadora: Eu concordo com você, se não a gente não consegue fazer a aula prática.<br />

Professor 1: É ver<strong>da</strong>de, porque a aula de é de 50 minutos, já perd<strong>em</strong>os t<strong>em</strong>po para pegar os<br />

alunos na sala, fazer a chama<strong>da</strong>, depois para explicar o que vai acontecer na aula,<br />

a aula acaba ficando menos que 50 minutos. Na reali<strong>da</strong>de, o que vejo na prática é<br />

que eles acabam jogando somente 15 a 20 minutos.<br />

Pesquisadora: Como já disse, eu concordo com vocês, acho que não há necessi<strong>da</strong>de de<br />

solicitar registros <strong>em</strong> to<strong>da</strong>s as <strong>aulas</strong>.<br />

Professor 3: O legal <strong>da</strong> nossa disciplina é isso, é você saber selecionar aquilo que é mais<br />

importante, ou seja, o momento mais importante para avaliar. Então, não é tudo<br />

que precisa ser registrado no processo de avaliação.<br />

312


Pesquisadora: Dá para a gente estabelecer relações com o que estamos discutindo com o<br />

vídeo <strong>sobre</strong> os paradigmas, que disse que a gente t<strong>em</strong> que criar meios, muitos registros de<br />

alunos dá para ser feito por meio <strong>da</strong> filmadora, gravar as conversas dos alunos. Isso é<br />

importante porque evoca a necessi<strong>da</strong>de de criar estratégias que deixe mais efetiva a prática<br />

pe<strong>da</strong>gógica do professor e o processo de avaliação dos alunos, pois só assim conseguir<strong>em</strong>os<br />

oportunizar um processo de ensino e aprendizag<strong>em</strong> mais consciente <strong>sobre</strong> os seus efeitos para<br />

o professor e alunos e uma prática mais organiza<strong>da</strong>, clara e defini<strong>da</strong> na escola. E o que pode<br />

acontecer como consequência é a gente ganhar ca<strong>da</strong> vez mais o respeito por parte dos alunos e<br />

dos outros atores <strong>da</strong> escola.<br />

Então, vamos tentar abor<strong>da</strong>r aspectos <strong>da</strong> leitura dos textos retirados do livro [COLL, C. et al.<br />

Os conteúdos na reforma. Porto Alegre: Artmed. 2000], pensando na necessi<strong>da</strong>de de<br />

aprofun<strong>da</strong>r a compreensão <strong>sobre</strong> a natureza de conhecimentos que compõ<strong>em</strong> os conteúdos,<br />

possibili<strong>da</strong>des de critérios e sugestões de instrumentos adequados para avaliar os conteúdos.<br />

A ideia é a seguinte: vamos ver o que o texto fala e aí a gente vai tirando ideias <strong>sobre</strong> como<br />

avaliar os diferentes tipos de conteúdos. Eu marquei umas partes que considerei mais<br />

importantes pra gente não ter que ler tudo. Também proponho que vocês marqu<strong>em</strong> as<br />

palavras, frases, que mais chamaram a atenção de vocês e se colocar quando tiver alguma<br />

coisa para dizer, ok?<br />

Professor 3: Mesmo porque não t<strong>em</strong> muita bibliografia <strong>sobre</strong> avaliação na Educação Física,<br />

né? Especificamente, para não dizer que não t<strong>em</strong> pouca, estão usando de uma<br />

benevolência total, não t<strong>em</strong> na<strong>da</strong>.<br />

Professor 1: Quando os vendedores de livros vão na escola a gente vai conversar com eles,<br />

eles diz<strong>em</strong> assim: “Ai, não t<strong>em</strong> na<strong>da</strong> de Educação Física”.<br />

Pesquisadora: Gente, existe, sim, muita coisa publica<strong>da</strong> na nossa área, mas no âmbito de<br />

produções <strong>em</strong> artigos, dissertações e teses de doutorado. É preciso pesquisar essas referências<br />

que pod<strong>em</strong> ser acessa<strong>da</strong>s na Internet. T<strong>em</strong> também muitos livros interessantes sendo<br />

publicados na nossa área, vale <strong>da</strong>r uma procura<strong>da</strong>. Mas tenho que admitir que <strong>sobre</strong> o assunto<br />

avaliação t<strong>em</strong> pouca coisa mesmo. Eu me comprometo a organizar uma lista de sites e livros<br />

para vocês, tá?<br />

Professor 3: A Phorte pode ser um meio de obter livros <strong>da</strong> área. Eu s<strong>em</strong>pre vejo o catálogo<br />

deles, mas eu acho muito voltado para procedimental. Não que não seja bom, eu<br />

já comprei vários livros pelo catálogo, não digo que não seja bom. A gente t<strong>em</strong><br />

s<strong>em</strong>pre que ir pensando, s<strong>em</strong>pre t<strong>em</strong> que ir para psicologia, tecnologia, filosofia<br />

para conseguir alguma coisa porque é difícil bibliografia na nossa área que fale<br />

de avaliação.<br />

Pesquisadora: Nesse caso, o campo pe<strong>da</strong>gógico é o que mais t<strong>em</strong> publicações <strong>sobre</strong> o assunto<br />

avaliação. Eu vou preparar uma lista com várias referências para vocês pesquisar<strong>em</strong>. Mas<br />

vamos à discussão dos textos. O mais chamou a atenção de vocês nessa parte que fala <strong>da</strong><br />

avaliação de fatos e conceitos?<br />

Professor 2: Me chamou a atenção essa característica dos fatos (o professor se reporta ao<br />

texto, fala lendo algumas partes), deles ser<strong>em</strong> um conhecimento literal, concreto,<br />

imutável. Então ele faz alguns apontamentos, um dos apontamentos é a<br />

importância <strong>da</strong> recuperação de uma informação previamente aprendi<strong>da</strong> que será<br />

313


314<br />

mais fácil quanto mais similar for a situação que se está recuperando. Achei isso<br />

muito interessante.<br />

Pesquisadora: B<strong>em</strong> importante essa parte que você destacou na sua fala, pois a ideia quando<br />

se t<strong>em</strong> a intenção avaliar um fato histórico, a forma como eu ensinei e apresentei o conteúdo,<br />

t<strong>em</strong> que ser similar à forma como eu vou avaliar. Isso implica pensar na escolha ou<br />

construção de um instrumento de avaliação que leve <strong>em</strong> conta essas pr<strong>em</strong>issas, entenderam?<br />

Tentei colocar essa reflexão na prática de vocês.<br />

Professor 1: Então é assim, vamos supor que eu fui e conversei com os alunos <strong>sobre</strong> a história<br />

<strong>da</strong> ginástica, pegamos e fiz<strong>em</strong>os algumas pesquisas e dessas pesquisas foram<br />

apresentados os aspectos que mais chamaram a atenção por meio <strong>da</strong> conversa<br />

mesmo. Aí eu avalio com uma prova teórica com perguntas e respostas, então<br />

não é tão adequado como a forma que foi ensinado, aí o aluno não consegue<br />

fazer relação e recuperar a m<strong>em</strong>ória porque o jeito que eu estou tentando<br />

recuperar essa m<strong>em</strong>ória dele não consegue fazer essa relação com o jeito que foi<br />

ensinado. É isso?<br />

Pesquisadora: É. A ideia nessa parte do texto mostra exatamente isso. Uma sugestão<br />

interessante é a gente pensar que, para construir o conteúdo factual <strong>sobre</strong> a história <strong>da</strong><br />

ginástica, o que será priorizado? São os <strong>da</strong>dos históricos <strong>da</strong> ginástica? A introdução <strong>da</strong><br />

ginástica na escola? Como foi que esse conteúdo foi trabalhado com os alunos? Por meio de<br />

imagens e pesquisas? Os alunos fizeram a exposição <strong>da</strong>quilo que encontraram nas pesquisas?<br />

Todo esse processo precisa estar claro para o professor, para que a escolha dos critérios que<br />

serão avaliados e os instrumentos estejam coerentes com esses aspectos do desenvolvimento<br />

do ensino desse conteúdo trabalhado nas <strong>aulas</strong>. Segundo o autor, é assim que (a pesquisadora<br />

volta ao texto e explica, lendo um trecho) a recuperação de uma informação previamente<br />

aprendi<strong>da</strong> será mais fácil quanto mais similar for a situação <strong>em</strong> que está se recuperando a<br />

situação <strong>em</strong> que se aprendeu. Ou seja, será mais fácil para você recuperar a informação se<br />

estiver similar a como foi ensinado.<br />

Nesse ponto é que acho válido ressaltar o ex<strong>em</strong>plo exposto pela Professora 1, com todo o<br />

processo bacana que ela descreveu <strong>sobre</strong> a escolha de conteúdo e a forma de ensiná-lo. Vejo<br />

que é só se pautar nas características <strong>da</strong>s suas escolhas de ensino e pensar qual será a melhor a<br />

maneira de avaliar esses conhecimentos ensinados. Pautando-se no que você relatou, se você<br />

conversou com os alunos e pediu a pesquisa, essas duas ações pod<strong>em</strong> ser vistas como<br />

instrumentos de avaliação, pois traz<strong>em</strong> informações e permit<strong>em</strong> verificar se os alunos estão<br />

aprendendo o conteúdo proposto. Veja, as estratégias usa<strong>da</strong>s para ensinar também pod<strong>em</strong> ser<br />

usa<strong>da</strong>s para avaliar o que está ensinando. Você já consegue identificar a coerência do que ele<br />

encontrou com o que foi falado <strong>em</strong> aula, você já consegue ver as lacunas <strong>da</strong> sua forma de<br />

explicar o conteúdo, ver o que faltou no processo de explanação dos conhecimentos <strong>sobre</strong> a<br />

introdução <strong>da</strong> ginástica na escola, e assim o processo de ensino é desenvolvido<br />

concomitant<strong>em</strong>ente com o processo de avaliação, ok?<br />

Professor 3: Então, pensando nos critérios, os critérios que eu vou construir é segundo o<br />

conteúdo que eu organizei, o objetivo que eu tenho para ser atingido e<br />

conforme o jeito que eu ensinei eu pedi numa pesquisa, por ex<strong>em</strong>plo?<br />

Pesquisadora: Sim, é isso mesmo. Uma sugestão interessante é, após a exposição <strong>da</strong> pesquisa<br />

que eles vão trazer, os alunos pod<strong>em</strong> junto com o professor construir quais serão os critérios<br />

considerados para avaliar os fatos, os <strong>da</strong>dos que foram aprendidos com aquele trabalho.


Durante a sugestão dos alunos, o professor pode observar se nas sugestões feitas pelos alunos<br />

há relação com o que foi falado na aula, se há relação com os conteúdos trabalhados e com o<br />

objetivo planejado para ser atingido na aula.<br />

Professor 3: É importante isso, a gente até pode selecionar esses critérios e fornecer para os<br />

alunos para dizer: “Olha, a gente vai estu<strong>da</strong>r <strong>sobre</strong> esses assuntos”, e dizer: “O<br />

que vai ser avaliado são esses conteúdos”. Pode dizer que no trabalho a gente<br />

vai avaliar se houve ou não coerência com os critérios de avaliação.<br />

Pesquisadora: É isso mesmo, penso que os critérios pod<strong>em</strong> ser fornecidos pelo professor, mas<br />

também pod<strong>em</strong> ser construídos junto com os alunos (a pesquisadora se reporta à Professora<br />

3), desse modo pode-se verificar os sinais de aprendizag<strong>em</strong> de maneira contextualiza<strong>da</strong> e<br />

fazendo um recorte com o que foi realmente foi ensinado. Vejam como tudo está relacionado!<br />

Não t<strong>em</strong> como fugir do planejamento, <strong>da</strong> estruturação do conteúdo, mas é importante que a<br />

escolha do critério de avaliação e do instrumento de avaliação seja de fato o jeito que eu<br />

ensinei, que eu escolhi para ensinar.<br />

Professor 1: Assim, o que vejo é que a construção de um conhecimento não vai ficar tudo no<br />

subjetivo ou tudo vale. Se a gente pensar assim, t<strong>em</strong> mais coerência.<br />

Pesquisadora: E nessa parte do texto que fala <strong>da</strong> avaliação conceitual? O que vocês<br />

consideram mais interessante e que pode ser levado para as <strong>aulas</strong> de vocês?<br />

Professor 3: É, o que me chamou a atenção foi essa parte que diz (professor se reporta ao<br />

texto e fala lendo alguns trechos) a gente não esperar que os alunos reproduzam<br />

um conceito, um significado, é preciso saber que aprender um conceito precisa<br />

ser formulado com as palavras dos alunos, eu tenho que deixar ele escrever ou<br />

falar com as palavras dele, colocar a opinião dele.<br />

Pesquisadora: É isso mesmo. Essa parte que você levantou aqui na nossa reflexão é muito<br />

importante porque desconstrói a ideia de avaliar conceitos visando à reprodução, à cópia exata<br />

do significado de algo que foi ensinado, mas sim é preciso como o próprio Pozo diz aqui na<br />

página 65 (a pesquisadora se reporta ao texto, apontando) que dev<strong>em</strong>os pedir ao aluno que<br />

defina o que entende de um conceito. Nesse tipo de avaliação os critérios de correção dev<strong>em</strong><br />

estar b<strong>em</strong> claros, tomando cui<strong>da</strong>do com respostas que não reflitam nenhuma compreensão,<br />

mas apenas uma aprendizag<strong>em</strong> literal e m<strong>em</strong>orística de uma acepção copia<strong>da</strong>. Segundo o<br />

autor (a pesquisadora lê parte do texto), “é muito importante valorizar mais o uso que o aluno<br />

faz de suas próprias palavras do que a mera reprodução literal”.<br />

Nesse caso, quais seriam os instrumentos adequados para avaliar esse tipo de aprendizag<strong>em</strong>?<br />

Professor 2: Ele mostra que as provas de múltipla escolha é uma possibili<strong>da</strong>de para avaliar<br />

esse tipo de conteúdo. Eu também acho que os registros pod<strong>em</strong> ser legais também.<br />

Pesquisadora: Ótima observação. Com relação ao registro, entendo que ele t<strong>em</strong> que ser<br />

encarado pelo professor e pelo aluno como uma ativi<strong>da</strong>de de estudo e de avaliação, porque ele<br />

retoma conteúdo e aju<strong>da</strong> no processo de significação, conceitualização <strong>da</strong>quilo que o aluno<br />

aprende. Mas acho extr<strong>em</strong>amente importante que o aluno conheça procedimentos para<br />

produzi-lo. Me l<strong>em</strong>bro no mestrado que trabalhei bastante com esse instrumento de avaliação,<br />

percebi no começo que eles não sabiam fazer o registro <strong>sobre</strong> o que aprendeu ou sentiu<br />

dificul<strong>da</strong>de nas <strong>aulas</strong> de Educação Física. Embora eles já estavam acostumados a fazer<br />

315


egistros nas <strong>aulas</strong> de Português, via que na Educação Física era diferente, porque não<br />

estavam acostumados a transportar o que aprendiam nas <strong>aulas</strong> para o registro. Desse modo, eu<br />

precisei sentar com eles e combinar os critérios, e pensar juntos <strong>em</strong> formas de construir os<br />

registros.<br />

Outra saí<strong>da</strong> foi, quando os alunos entregavam registros incompletos, com poucas<br />

informações, eu colocava bilhetinhos no próprio registro do aluno, sinalizando pra eles:<br />

“Olha, faltou alguma coisa que a gente combinou na aula e precisa ser registrado”; “Faltou<br />

outro detalhe que a gente combinou e você não colocou no seu registro”. Também fazia<br />

anotação numa folha e eu apresentava pra eles: “Olha, os registros foram apresentados <strong>da</strong><br />

seguinte forma, faltou isso aquilo, como é que a gente pode fazer para cont<strong>em</strong>plar todos os<br />

procedimentos?”. E aí a troca de experiência era ótima porque esse diálogo trazia uma série<br />

de sugestões que colaboravam com todos para melhoraram os registros dos conceitos e os<br />

significados trabalhados <strong>em</strong> aula.<br />

Professor 1: Eu sou totalmente a favor do registro. O que a minha coordenadora fala é o<br />

seguinte: que ler e escrever é para todo mundo, mas ca<strong>da</strong> um vai ensinar, ler e<br />

escrever na sua matéria de acordo com a visão que t<strong>em</strong>, mas todo mundo t<strong>em</strong><br />

que estimular isso no aluno.<br />

Pesquisadora: Eu concordo com a sua colocação, que entende a escrita e a competência leitora<br />

como parte <strong>da</strong> nossa disciplina, mas eu vejo que a gente está numa área que permite também a<br />

avaliação conceitual d<strong>em</strong>onstra<strong>da</strong> durante uma determina<strong>da</strong> ativi<strong>da</strong>de, s<strong>em</strong> necessi<strong>da</strong>de de<br />

escrever. Acho que esse tipo conteúdo permite isso.<br />

Professor 3: Eu acho que o registro faz parte <strong>da</strong> nossa disciplina também, do mesmo jeito que<br />

eu vejo que as outras disciplinas também dev<strong>em</strong> trabalhar com movimento,<br />

man<strong>da</strong>r o aluno se mover. Eu também queria te fazer uma pergunta: no seu<br />

trabalho de mestrado você trabalhou com quantos alunos, quais você considerou<br />

para o seu trabalho?<br />

Pesquisadora: Eu usei para a pesquisa do mestrado uma sala com 32 alunos, <strong>em</strong>bora eu tenha<br />

que admitir que foi difícil trabalhar com quarenta <strong>aulas</strong>, cinqüenta <strong>aulas</strong> e, ao mesmo t<strong>em</strong>po,<br />

organizar a prática avaliativa com registros para a construção do portfólio. Eu percebi no<br />

mestrado que foi possível avaliar de maneira coerente, mesmo com os probl<strong>em</strong>as que eu<br />

enfrentava no próprio contexto escolar, que, às vezes, sentia que eles me amarravam, mais foi<br />

possível desenvolver uma prática de avaliação diferente.<br />

Acho válido destacar que nesse estudo eu busquei estu<strong>da</strong>r a avaliação porque queria aprender<br />

a avaliar e me deparei com a resistência dos alunos e dos pais para aceitar<strong>em</strong> as práticas de<br />

avaliação que eu estava tentando implantar nas <strong>aulas</strong> de Educação Física. Mediante os<br />

questionamentos que enfrentei <strong>sobre</strong> por que fazer registros, para que refletir <strong>sobre</strong> o que<br />

aprendeu e as dificul<strong>da</strong>des encontra<strong>da</strong>s, já que na visão deles a disciplina de Educação Física<br />

deveria só oportunizar <strong>aulas</strong> práticas, ponto e acabou, eu passei a refletir <strong>sobre</strong> a necessi<strong>da</strong>de<br />

de informar os alunos e os pais, a coordenação, ou seja, as pessoas que faz<strong>em</strong> parte <strong>da</strong><br />

comuni<strong>da</strong>de escolar <strong>em</strong> relação ao que estava acontecendo nas <strong>aulas</strong> de EF, pois os<br />

questionamentos ocorriam por falta de informação dessas pessoas. Assim, eu convidei os pais,<br />

coordenadora e diretora para reuniões <strong>em</strong> que explicava tudo o que iria fazer no próximo<br />

bimestre, enviava textos informativos para essas pessoas e, com relação aos alunos, investi<br />

mais nas conversas no início e no final <strong>da</strong>s <strong>aulas</strong>, considerava as suas colocações e realizava<br />

explicações para mostrar como aquele processo de avaliação estava sendo importante para o<br />

316


seu processo de aprendizag<strong>em</strong>. Portanto, eu defendo que todo trabalho diferenciado, ao ser<br />

aplicado nas <strong>aulas</strong> de EF, deve ter <strong>em</strong> vista a formação do aluno e dos outros atores que<br />

influenciam nesse processo. Isso implica pensar na necessi<strong>da</strong>de do professor de EF criar<br />

formas de levar informação a esses atores escolares, que, muitas vezes, criticam por falta de<br />

conhecimentos <strong>sobre</strong> a nossa área e o que estamos desenvolvendo com os alunos. Mas sei que<br />

fazer isso não é fácil, até porque exige uma mu<strong>da</strong>nça paradigmática, de modo que ajude as<br />

pessoas que compõ<strong>em</strong> a escola a enxergar<strong>em</strong> a avaliação s<strong>em</strong> a perspectiva <strong>da</strong> medi<strong>da</strong> que<br />

gera nota final, que classifica e exclui os alunos no sist<strong>em</strong>a de ensino. Ou seja, é complicado<br />

mu<strong>da</strong>r a concepção de algo que é tratado como uma coisa normal na escola, mas é preciso<br />

investir nisso, e o caminho é o conhecimento, são os diálogos permanentes, para que se<br />

consiga atingir a compreensão <strong>sobre</strong> a necessi<strong>da</strong>de de mu<strong>da</strong>nças de concepção a respeito <strong>da</strong><br />

prática avaliativa na Educação Física escolar.<br />

Professor 1: É, mas, por ex<strong>em</strong>plo, o que acontece no 2º ano do Ensino Médio, eu deixo só o<br />

fazer mesmo. Eu acabei largando de mão, porque, assim, é muito mais difícil de<br />

conseguir e aí, assim, como agora eu tenho menos salas, um pouco menos que eu<br />

tinha antes, eu tenho tentado to<strong>da</strong>s as formas de registro, aí eu consigo lá com<br />

uma turma, na outra eu nunca mais via.<br />

Professor 3: É, aí você passa a achar que tudo aquilo não vai valer.<br />

Pesquisadora: Como já comentei nos outros encontros, o que precisa ser feito é trabalhar para<br />

que o aluno compreen<strong>da</strong> o sentido e o significado do que está aprendendo e por que a tarefa<br />

avaliativa deve ser vista como algo importante para o seu processo de aprendizag<strong>em</strong>. Para<br />

isso, segundo Zanon e Althaus, a solicitação de um registro como tarefa avaliativa deve<br />

também deixar claro os el<strong>em</strong>entos que serão considerados para apreciar o conteúdo que foi<br />

ensinado. Além disso, pode-se usar estratégias que valorizam ain<strong>da</strong> mais essa prática, como a<br />

apresentação e a discussão dos mesmos nas <strong>aulas</strong>, b<strong>em</strong> como é preciso definir os objetivos<br />

que se quer com essa proposta. Tudo implica conscientizar o aluno.<br />

Eu defendo que tais intenções estejam claras para o professor e principalmente para os alunos,<br />

pois assim garante o sentido e o significado dessa técnica de avaliação no processo de ensino<br />

e aprendizag<strong>em</strong>.<br />

Vamos agora <strong>da</strong>r uma olha<strong>da</strong> aqui (aponta para o texto), no que é falado <strong>sobre</strong> a avaliação do<br />

conteúdo procedimental.<br />

Vejam aqui no segundo parágrafo <strong>da</strong> página 113. Para a avaliação <strong>da</strong> aprendizag<strong>em</strong> de<br />

procedimentos, é importante ter <strong>em</strong> vista que se trata principalmente de comprovar a sua<br />

funcionali<strong>da</strong>de, ver até que ponto o aluno é capaz de usar o procedimento <strong>em</strong> outra situação<br />

segundo as exigências ou condições <strong>da</strong>s tarefas propostas. Na página 114, olha que<br />

interessante, para avaliar os procedimentos é importante verificar se o aluno d<strong>em</strong>onstra as<br />

ações ou decisões que compõ<strong>em</strong> o procedimento, <strong>em</strong> que ord<strong>em</strong> ele está sendo apresentado, e<br />

também pode ser apreciado verificando-se a aplicação desse conhecimento <strong>em</strong> situações<br />

específicas, como, por ex<strong>em</strong>plo, situações-probl<strong>em</strong>a. Considero esses pontos importantes para<br />

nortear a construção de critérios para avaliar os procedimentos.<br />

Professor 2: Pegando o gancho do critério para avaliar procedimentos, eu vejo que a<br />

observação tá adequa<strong>da</strong> pra avaliar procedimentos, não é?<br />

Pesquisadora: Sim, e isso se confirma no texto, na página 116, quando o autor fala que está<br />

adequado usar a observação porque é um instrumento fácil de ser usado, possibilita ver o todo<br />

e é fácil para aplicar com grande número de alunos.<br />

317


Professor 3: Eu queria só falar uma coisinha que vi na página 115. T<strong>em</strong> uma definição<br />

favorável quando t<strong>em</strong> um aluno que domina o conteúdo procedimental, mas<br />

assim a gente propõe que a partir desse domínio que ele t<strong>em</strong> do procedimental<br />

ele faça uma exposição oral <strong>da</strong>quilo que ele fez. Então ele a gente pede que ele<br />

explique oralmente, como diz o texto (mostra o texto e lê), numa sequência<br />

ordena<strong>da</strong> de ideia <strong>da</strong>quilo que ele fez corporalmente. E aí terceiro momento<br />

pediu pra ele escrever esse procedimento que foi oral <strong>em</strong> forma de um texto<br />

verbal. Aí a gente está fazendo com a nossa disciplina a contextualização para o<br />

aluno, pedindo pra ele que também use a orali<strong>da</strong>de, que é uma forma importante<br />

que a gente esquece dela nas <strong>aulas</strong>, a orali<strong>da</strong>de, que eu acho importante, e<br />

também que ele faça uma construção verbal a partir <strong>da</strong>quilo que ele fez no<br />

procedimento.<br />

Pesquisadora: Conforme o autor traz aqui no texto, o conteúdo procedimental é a<br />

d<strong>em</strong>onstração do saber fazer algo de forma ordena<strong>da</strong> do que foi trabalhado na aula. Então,<br />

além de ter que observar esse saber-fazer, pedir que verbalize ou escreva como fez é também<br />

uma possibili<strong>da</strong>de de avaliar o conteúdo procedimental. Mas é importante levar <strong>em</strong> conta que<br />

não se pode usar só instrumentos que estimulam a verbalização ou o registro desse conteúdo<br />

como possibili<strong>da</strong>de de avaliação. Essas técnicas dev<strong>em</strong> ser associa<strong>da</strong>s à observação do<br />

conteúdo procedimental, que é o saber-fazer.<br />

Professor 3: Mas se você pensar assim, as outras disciplinas não trabalham o procedimento.<br />

To<strong>da</strong>s as disciplinas trabalham o procedimento, só que o cara não vai... Enfim,<br />

por ex<strong>em</strong>plo, o minério de ferro, ele não constrói o minério de ferro, mas o aluno<br />

aprende o procedimento para construí-lo. Então eu fiquei <strong>em</strong> dúvi<strong>da</strong>: o<br />

procedimento é só quando você faz o movimento? E quando você fala <strong>sobre</strong> ele<br />

ou pensa <strong>sobre</strong> ele, você está diante de um critério procedimental?<br />

Pesquisadora: A avaliação de um procedimento pode, sim, ser por meio <strong>da</strong> orali<strong>da</strong>de ou do<br />

registro, mas não é completa para avaliar esse tipo de conhecimento. É preciso observa a<br />

prática. Aqui no texto o autor trata exatamente disso, vejam na página 117, vejam (a<br />

pesquisadora aponta para o texto), o processo de avaliação <strong>da</strong> aprendizag<strong>em</strong> de conteúdos<br />

procedimentais deve ser cont<strong>em</strong>plado e seguido de perto pelo professor tanto <strong>em</strong> se tratando<br />

de situação de prática orienta<strong>da</strong>. A discussão ou registro faz parte do processo de avaliação,<br />

mas não dev<strong>em</strong> ser as únicas formas.<br />

Professor 3: Eu não tô dizendo que não tenha que ter a prática. Para a execução de estrela, por<br />

ex<strong>em</strong>plo, você faz a estrela e mostra a prática <strong>da</strong> concretização do movimento,<br />

mas quando você fala <strong>sobre</strong> ou escreve <strong>sobre</strong>, você está internalizando o<br />

movimento, outras dimensões do seu entendimento que não é só corporalmente.<br />

Não estou só minimizando, mas isso não tá só acontecendo corporalmente, mas<br />

está acontecendo noutro sentido que o movimento t<strong>em</strong>.<br />

Pesquisadora: Isso mesmo, o aluno forma um conceito de executar a estrela, por isso, como já<br />

disse, escrever ou falar como é o procedimento <strong>da</strong> estrela é um dos meios de avaliar esse tipo<br />

de conhecimento, mas é preciso que eles estejam associados a outra forma de avaliar esse<br />

processo completo, no qual a observação dá conta dessa intenção.<br />

318


Professor 3: A gente não quer ensiná-lo a fazer, quer ensiná-lo a pensar <strong>sobre</strong>, então quando<br />

você avalia isso é importante ele saber escrever. Ele t<strong>em</strong> essa possibili<strong>da</strong>de de<br />

entender que o movimento é intelectual desse movimento.<br />

Pesquisadora: É, acho que se o professor escolhe como critério verificar a construção <strong>da</strong><br />

ord<strong>em</strong> <strong>da</strong> execução de uma ação motora, por ex<strong>em</strong>plo, eu acho que o registro contribui muito<br />

para organizar o pensamento para expressar as etapas do procedimento. Mas agora aqui no<br />

texto fala que somente estando muito perto do aluno e observando as suas atuações é que se<br />

pode comprovar que realmente a aprendizag<strong>em</strong> desse tipo de conteúdo foi alcança<strong>da</strong>.<br />

Professor 4: Achei muito interessante pensar nesses critérios de avaliar se o aluno organiza<br />

esse pensamento <strong>sobre</strong> a ord<strong>em</strong>.<br />

Professor 3: É uma coisa que ele não t<strong>em</strong>, que ele não sabia, não tinha essa prática de fazer o<br />

aluno pensar <strong>sobre</strong> aquilo que ele tá fazendo e por que ele tá fazendo, por que<br />

fazer assim e não assado.<br />

Professor 1: Bom, o que dá para perceber é que vai ter vários tipos de avaliações, vários<br />

instrumentos. Eu vou ter uma avaliação prática, então posso, por ex<strong>em</strong>plo,<br />

utilizar o exercício, aquele movimento que eu vou usar a resistência muscular<br />

concentra<strong>da</strong>. E também posso pedir que escrevam o que entenderam, mas é<br />

importante aquela coisa que eu gostei <strong>da</strong> continui<strong>da</strong>de do que a gente tá<br />

passando.<br />

Professor 3: Mas o que ela tá falando, desde a 3ª série, eu acho, é isso que t<strong>em</strong>os que ter,<br />

muitos mecanismos de avaliação, para a avaliação não ser como ela era muito<br />

anos atrás. Você tinha um instrumento de avaliação que era a prova, quando<br />

você tinha uma nota que somava e dividia por dois, não era isso? E aí <strong>da</strong>va a<br />

média. E hoje você já t<strong>em</strong> vários mecanismos de avaliação. Um pode ser esse<br />

que a professora (Professor 1) falou, outro é ver se ele conseguiu aju<strong>da</strong>r o colega<br />

a chegar à conclusão do que é resistência muscular concentra<strong>da</strong> e se ele soube<br />

escrever também.<br />

Pesquisadora: Eu sou favorável a essa multiplici<strong>da</strong>de de instrumentos. Acho que dessa forma<br />

que a gente consegue angariar os diferentes sinais e indícios de aprendizag<strong>em</strong> dos alunos,<br />

revelando o que ele entendeu, como defend<strong>em</strong> vários autores que estu<strong>da</strong>m avaliação.<br />

Construir diferentes instrumentos também requer que a gente pense na avaliação diluí<strong>da</strong> no<br />

processo de ensino. Vejo que as ativi<strong>da</strong>des sugeri<strong>da</strong>s no caderno pod<strong>em</strong> ser aplica<strong>da</strong>s no<br />

decorrer do processo. A correção delas deve ser retoma<strong>da</strong> no processo, não só no final do<br />

programa de ensino, porque acontece exatamente... Vocês estavam com ela ont<strong>em</strong>, o que<br />

respondeu “a” ele pode já ter estruturado esse conceito, ele já teve outras <strong>aulas</strong>, outras<br />

conversas, já sentiu o movimento de uma outra forma e aquilo que você respondeu na<br />

primeira e na segun<strong>da</strong> aula já pode estar estruturado, ele não voltou e retomou, então.<br />

Professor 1: Mas na escola se você fica falando muito, to<strong>da</strong> aula, to<strong>da</strong> hora, a gente acaba<br />

ficando só com os exercícios do caderno. Então eu já combino com eles: quando<br />

chove acabamos ficando na sala de aula e aí a gente já vai corrigindo, porque o<br />

dia que eu pedir eu quero tudo direito, não quero saber, não v<strong>em</strong> com história,<br />

falando que depois faz ou então a gente vai ter que corrigir, parar e corrigir,<br />

porque eu tenho mais o que fazer.<br />

319


Pesquisadora: Eu acho que você está correta <strong>em</strong> se preocupar com o t<strong>em</strong>po de prática nas suas<br />

<strong>aulas</strong>, mas as tarefas propostas no caderno do aluno não pod<strong>em</strong> ser aplica<strong>da</strong>s durante as <strong>aulas</strong><br />

e deixa<strong>da</strong>s para ser corrigi<strong>da</strong>s somente quando chove, pois a correção pode ficar<br />

descontextualiza<strong>da</strong>, os alunos pod<strong>em</strong> ter dificul<strong>da</strong>de de recuperar a m<strong>em</strong>ória a respeito de<br />

detalhes do conteúdo que foram aprendidos durante as <strong>aulas</strong> e que pode ser usado no<br />

momento <strong>da</strong> correção e discussão dessas tarefas. Portanto, julgo que é importante se organizar<br />

para manter um equilíbrio de <strong>aulas</strong> práticas e momentos de reflexão, correção e discussão <strong>da</strong>s<br />

tarefas propostas no caderno do aluno durante o processo de ensino e aprendizag<strong>em</strong>, e não<br />

ficar esperando um dia de chuva para corrigi-los.<br />

Vamos agora para a parte <strong>da</strong> avaliação <strong>da</strong>s atitudes, normas e valores.<br />

Professor 5: Ah, com relação à avaliação de atitudes, eu quero falar que quando li essa parte<br />

do texto eu fiquei pensando, no caso de um aluno que eu tenho que desenha<br />

muito b<strong>em</strong>. É um garoto que me mostra seus desenhos e eu incentivo ele a<br />

continuar desenhando, mas é um garoto que <strong>em</strong> quadra t<strong>em</strong> muita dificul<strong>da</strong>de<br />

social, é muito violento, bate <strong>em</strong> todos, não aceita as regras dos jogos. Então, é<br />

um aluno difícil, e a gente ouve falar que dev<strong>em</strong>os ver outras quali<strong>da</strong>des desse<br />

aluno no momento <strong>da</strong> avaliação, eu acho muito bonito, mas é difícil alcançar<br />

isso, porque, ao mesmo t<strong>em</strong>po que eu estou vendo aquele aluno, eu tenho mais<br />

trinta que estão se pegando. Então, como alcançar esse olhar na avaliação, eu<br />

não sei. Eu não sei li<strong>da</strong>r com esse aluno na quadra, com essa agressivi<strong>da</strong>de<br />

dele, falta de cumprimento de regras e compromisso, não sei avaliar isso<br />

também.<br />

Pesquisadora: Com relação às suas in<strong>da</strong>gações, penso que é preciso tentar encontrar uma<br />

forma para resolver os probl<strong>em</strong>as. No caso desse aluno que você relatou, acho interessante<br />

expor um detalhe defendido na proposta <strong>da</strong> avaliação formativa abor<strong>da</strong><strong>da</strong> por uma autora,<br />

Esteban, que assinala a importância do professor estar atento para os indícios e os sinais<br />

revelados pelos alunos durante o processo de ensino e aprendizag<strong>em</strong>. (Pesquisadora coloca<br />

um slide para fun<strong>da</strong>mentar a sua fala.)<br />

320


Revisão de Literatura:<br />

A avaliação <strong>da</strong> aprendizag<strong>em</strong> na Educação Física escolar<br />

A avaliação formativa<br />

salienta a importância do<br />

professor procurar pistas que<br />

ajude conhecer os saberes, as<br />

atitudes, as capaci<strong>da</strong>des dos<br />

alunos considerando os<br />

aspectos <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de<br />

escolar. Esses pressupostos<br />

contribu<strong>em</strong> para identificação<br />

<strong>da</strong>s aprendizagens,<br />

dificul<strong>da</strong>des e de como fazer<br />

para melhorá-las.<br />

Pesquisadora: Conforme a autora, o professor deve interpretar os sinais para mediar o<br />

processo <strong>em</strong> tessitura. Deve interrogar as respostas forneci<strong>da</strong>s pelos alunos, in<strong>da</strong>gar sua<br />

configuração, procurar as relações que as constitu<strong>em</strong>. Transpor a constatação do erro e do<br />

acerto e, <strong>sobre</strong>tudo, como prática de investigação, não negar o erro, tampouco lhe atribuir um<br />

valor negativo.<br />

O que é possível interpretar a partir <strong>da</strong> proposição <strong>da</strong> autora é que é preciso identificar o<br />

probl<strong>em</strong>a, os indícios que revelam quais são os pólos <strong>em</strong> que as dificul<strong>da</strong>des manifesta<strong>da</strong>s<br />

pelo aluno estão situa<strong>da</strong>s. No caso desse aluno, parecer ser nas questões interpessoais e<br />

intrapessoais, as quais dificultam a aprendizag<strong>em</strong> dos conteúdos ensinados. A partir disso, é<br />

preciso atuar no projeto de aju<strong>da</strong>r o aluno, conforme foi visto nas explicações de Hadji <strong>sobre</strong> a<br />

avaliação formativa. Desse modo, os sinais identificados dev<strong>em</strong> nortear as decisões <strong>sobre</strong> o<br />

que fazer, quais as ativi<strong>da</strong>des que serão propostas que vão fazer com esse aluno melhore essas<br />

dificul<strong>da</strong>des. É uma ideia que pode também ser compl<strong>em</strong>enta<strong>da</strong> com o que nos diz Shon <strong>sobre</strong><br />

a prática permanente <strong>da</strong> ação-reflexão-ação, pois dev<strong>em</strong>os criar possibili<strong>da</strong>des de ensino<br />

basea<strong>da</strong>s nos sinais de aprendizag<strong>em</strong> e dificul<strong>da</strong>des expressados pelos alunos. Por isso que<br />

vários autores defend<strong>em</strong> que uma <strong>da</strong>s funções <strong>da</strong> avaliação é informar como está o ensino, o<br />

que deve ser feito para ser melhorado, e colaborar efetivamente para o processo de<br />

aprendizag<strong>em</strong> dos alunos.<br />

Professor 7: Eu acho que para fazer isso a gente pode usar a observação.<br />

Pesquisadora: É, eu concordo com você, mas também vejo como necessário que o professor<br />

procure se organizar para sist<strong>em</strong>atizar o que vai avaliar e manter os registros <strong>sobre</strong> o que<br />

observou, senão, com tantos alunos e <strong>aulas</strong> para <strong>da</strong>r, pode esquecer de aspectos importantes<br />

<strong>sobre</strong> o processo de aprendizag<strong>em</strong> dos alunos.<br />

Então, mais uma vez, ressalto a relevância de ter b<strong>em</strong> sist<strong>em</strong>atizado – o que é que vou<br />

ensinar, por que vou ensinar esse conteúdo, como vou ensinar e avaliar. Esses aspectos dev<strong>em</strong><br />

estar claros para o professor e para os alunos, eles dev<strong>em</strong> ser retomados o t<strong>em</strong>po todo.<br />

Professor 6: Me l<strong>em</strong>brei de uma experiência que eu tive com um aluno extr<strong>em</strong>amente<br />

competitivo, só ele era o bom, por isso se achava no direito de só ele poder jogar. Os<br />

321


322<br />

outros alunos passaram a não tolerar mais as suas atitudes e começaram a recusar jogar<br />

com ele. Daí eu tive a ideia de colocar esse aluno para ser juiz dos jogos realizados<br />

pelos colegas, foi assim que ele passou a sentir na pele o que ele fazia, porque os<br />

alunos reclamavam quando ele apitava as faltas, iam questionar ele o t<strong>em</strong>po todo. Ou<br />

seja, ele passou a sentir na pele o que ele fazia com os outros e quando ele passou a<br />

ver de fora tudo isso, atuando como juiz, ele começou a ter um pouco mais de<br />

responsabili<strong>da</strong>de. Aí eu pensei assim: “Eu tirei esse aluno <strong>da</strong> posição que ele estava<br />

acostumado e fiz ele olhar por outro ângulo, como juiz”. Foi só assim que ele percebeu<br />

o que precisava melhorar na aula.<br />

Pesquisadora: O seu relato é bastante interessante porque mostra um ex<strong>em</strong>plo real <strong>sobre</strong><br />

quanto é importante a gente estar atento aos sinais, entendê-los e buscar alternativas, criando<br />

estratégias para fazer com que o aluno apren<strong>da</strong> o que está sendo ensinado. Dev<strong>em</strong>os aguçar<br />

nosso olhar para essa função <strong>da</strong> avaliação, que sugere diagnosticar os probl<strong>em</strong>as e procurar<br />

soluções, estratégias viáveis e contextualiza<strong>da</strong>s com o que está sendo revelado no processo de<br />

aprendizag<strong>em</strong> do aluno. É o estudo permanente, as interações entre professores, que aju<strong>da</strong>rá o<br />

professor a encontrar essas soluções. Além disso, também se faz importante, como já<br />

mencionei, informar o aluno <strong>sobre</strong> o que está sendo ensinado, avaliado, e oportunizar<br />

momentos <strong>em</strong> que ele possa participar do processo de avaliação <strong>da</strong> sua aprendizag<strong>em</strong>.<br />

Considero importante que o professor, para ensinar e avaliar conteúdos atitudinais, precisa,<br />

primeiramente, conhecer qual o componente desse conteúdo que irá ensinar e avaliar, e criar<br />

estratégias. Por ex<strong>em</strong>plo, no caso de indisciplina, não cumprimento <strong>da</strong>s regras, uma sugestão<br />

é construir cartazes com os combinados que foram acor<strong>da</strong>dos junto com os alunos durante a<br />

aula. Esse material deve ser retomado s<strong>em</strong>pre que for necessário. A avaliação de condutas e<br />

comportamentos <strong>em</strong> aula deve ser feita de acordo com os conteúdos que foram enfocados<br />

durante as <strong>aulas</strong> e deve ser feita de maneira s<strong>em</strong>elhante com o contexto <strong>em</strong> que ela foi<br />

ensina<strong>da</strong>, e todo esse processo pode ser feito junto com os alunos. O diálogo e a observação<br />

são expostos por vários autores como Perrenoud, Esteban, Hadji, Hoffman etc., como meios<br />

interessantes para avaliar esse tipo de conteúdo, mas é preciso definir quais critérios estão<br />

sendo considerados, os quais dev<strong>em</strong> ser informados aos alunos, ou mesmo construídos junto<br />

com eles. Assim, ensino e avaliação se desenvolv<strong>em</strong> de maneira conecta<strong>da</strong>, com todos os<br />

atores conscientes <strong>sobre</strong> o que foi aprendido e o que será avaliado.<br />

É importante expor outro detalhe <strong>sobre</strong> a avaliação de conteúdos atitudinais. Segundo Sarabia,<br />

eles não são conteúdos fáceis de ser<strong>em</strong> notados; são subjetivos e são d<strong>em</strong>onstrados de<br />

maneira processual. Então, para apreciar a aprendizag<strong>em</strong> desse tipo de conhecimento, é<br />

preciso levar <strong>em</strong> consideração que não dá para avaliá-los num momento estanque; é preciso<br />

t<strong>em</strong>po para que ele seja aprendido pelo aluno. Além disso, ele será d<strong>em</strong>onstrado durante as<br />

ativi<strong>da</strong>des de ensino realiza<strong>da</strong>s durante o processo. Para isso, é preciso que o professor aguce<br />

o olhar para conseguir enxergá-lo. Isso significa que precisa ter claro o que e como irá abor<strong>da</strong>r<br />

o ensino de determinados comportamentos, b<strong>em</strong> como deve escolher meios adequados para<br />

apreciá-los com critérios b<strong>em</strong> definidos. Além disso, deve levar <strong>em</strong> conta que é uma<br />

aprendizag<strong>em</strong> que se revela de maneiras e <strong>em</strong> t<strong>em</strong>pos diferentes <strong>em</strong> ca<strong>da</strong> aluno.<br />

Professor 5: Por ex<strong>em</strong>plo, eu estou ensinando o assunto equilíbrio. Foi um caos, eles não<br />

param para te ouvir. Eu não consigo, por ex<strong>em</strong>plo, ver se o objetivo <strong>da</strong> aula foi<br />

alcançado. Por ex<strong>em</strong>plo, se eu dou um jogo <strong>em</strong> que quero que eles identifiqu<strong>em</strong> onde<br />

é o ataque e a defesa, acaba a aula e eles não d<strong>em</strong>onstram que entenderam.<br />

Pesquisadora: Mas vamos tentar entender a situação relata<strong>da</strong> por você. Se os alunos não<br />

entenderam, é exercitar a proposição do Shon, que recomen<strong>da</strong> que façamos o t<strong>em</strong>po <strong>em</strong> nossa


prática a ação-reflexão-ação. Desse modo, penso que nesse momento que vocês estão é<br />

preciso exercitar a reflexão e se questionar <strong>sobre</strong>: será que dei informação e t<strong>em</strong>po suficiente<br />

para que os alunos pudess<strong>em</strong> d<strong>em</strong>onstrar aprendizag<strong>em</strong> <strong>sobre</strong> o conteúdo que eu propus na<br />

aula?<br />

Professor 5: É, aí acho que dá para analisar o seguinte: eu tenho que voltar as explicações e<br />

propor o jogo novamente.<br />

Professor 6: Desenhar na lousa, colocar como pode ser o jogo.<br />

Professor 5: Sabe o que vou tentar pedir para a diretora? Aqueles quadros móveis para<br />

escrever na quadra.<br />

Pesquisadora: Eu até sugiro, enquanto você não t<strong>em</strong> esse recurso, desenhe no chão <strong>da</strong> quadra<br />

com giz de lousa, ou leve papel grande para fazer isso, ter uma lousinha simples.<br />

Professor 6: Acho válido também perder uns minutinhos na sala antes de descer e explicar <strong>em</strong><br />

sala de aula, usando a lousa, o que eles vão aprender, qual é a regra do jogo.<br />

Pesquisadora: Acho to<strong>da</strong>s essas possibili<strong>da</strong>des váli<strong>da</strong>s para fazer com que os alunos fiqu<strong>em</strong><br />

conscientes <strong>sobre</strong> o que e como vão aprender determinado conteúdo, assim como nesses<br />

momentos é possível explicar a estratégia de avaliação e os critérios. Então, pensando no<br />

relato do Professor 5, pode-se perceber que, antes de dizer que o aluno não aprendeu na<strong>da</strong>, é<br />

preciso investigar e compreender como foi ensinado o conteúdo. Isso significa estar atento aos<br />

sinais para identificar onde está o probl<strong>em</strong>a, que pode não ser só culpa do aluno, mas do<br />

processo de ensino. Nesse ponto, encontramos mais um ex<strong>em</strong>plo que evidencia o quanto a<br />

avaliação é necessária e está vincula<strong>da</strong> ao processo de ensino e aprendizag<strong>em</strong>.<br />

Bom pessoal, nosso t<strong>em</strong>po acabou. Espero ter colaborado com vocês, eu fico à disposição<br />

para sanar as dúvi<strong>da</strong>s de vocês, aqui está o meu e-mail. Agradeço muito a contribuição de<br />

vocês para essa parte <strong>da</strong> minha pesquisa, muito obriga<strong>da</strong> mesmo.<br />

Professor 5: Eu quero dizer que adorei participar desse tipo de formação porque eu adoro<br />

ouvir qu<strong>em</strong> t<strong>em</strong> coisa para passar, acrescentar para gente, que t<strong>em</strong> conhecimento e traz<br />

informações importantes.<br />

Professor 6: É uma coisa que a gente sente falta, entendeu? A gente fica tão perdido, sabe?<br />

Professor 5: Eu sinto falta de cursos preparatórios, de capacitação, reciclag<strong>em</strong>... Eu sinto falta<br />

de grupos de estudos, que te apoie, estude, discuta troca de experiências entre colegas<br />

<strong>da</strong> mesma área.<br />

Professor 6: Acho importante a gente lutar para que as trocas de experiências sejam feitas com<br />

professores <strong>da</strong> área. É diferente de conversar nas reuniões de HTPC com professores<br />

de outras áreas. Por isso achei os encontros b<strong>em</strong> válidos para a gente.<br />

Pesquisadora: Eu concordo com vocês, estamos vivendo um momento de transição, <strong>em</strong> que<br />

precisamos buscar conhecer mais, de maneira individual e coletiva. Acho que a formação<br />

continua<strong>da</strong> é um bom meio para isso. Por isso tenho defendido a ideia de que as escolas<br />

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oportuniz<strong>em</strong> espaço para que os professores possam estu<strong>da</strong>r, refletir e discutir dentro do<br />

próprio contexto de ensino. Mas, além disso, é preciso participar de cursos, eventos <strong>da</strong> área,<br />

para conhecer outros estudos e perspectivas diferentes de entender os probl<strong>em</strong>as e as soluções<br />

para melhorar a prática pe<strong>da</strong>gógica na área.<br />

Professor 1: Eu agradeço esses encontros, e acho que ele acaba com gostinho de quero mais.<br />

Professor 2: Eu concordo.<br />

Professor 3: Eu também. Até me atrevo a colocar uma ideia que tive, <strong>da</strong> gente montar um<br />

grupo de estudos para estu<strong>da</strong>r mais <strong>sobre</strong> avaliação, contando com a sua presença é<br />

claro.<br />

Pesquisadora: Eu acho a ideia ótima, porque a reflexão <strong>sobre</strong> a própria prática pode melhorar<br />

com a interação, o diálogo e observação de outras pessoas. Acho de extr<strong>em</strong>a importância criar<br />

um grupo de estudos, porque ter o ponto de vista de outra pessoa fornece para a gente uma<br />

perspectiva diferente de como se está ensinando e avaliando os alunos. Além disso,<br />

oportuniza explicar o que nos acontece e escutar a todos <strong>da</strong> mesma forma, praticar e<br />

compartilhar a reflexão individual e coletiva, conversar de forma reflexiva, descrever, discutir<br />

e debater os trabalhos dos alunos e o papel docente.<br />

Professor 8: Eu topo participar também, e vocês?<br />

Professor 7: Eu venho.<br />

Professor 2: Eu também.<br />

Professor 1: Também.<br />

Professor 5: Eu também.<br />

Professor 6: Eu venho também.<br />

Então, ótimo, a gente continua se comunicando por e-mail e assim a gente marca nossos<br />

encontros a ca<strong>da</strong> 15 dias.<br />

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