A História Secreta dos Jesuítas - Edmond Paris - Entre Irmãos
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sucesso na Europa: apelou às classes mais altas. Para os "intocáveis", ele só concedia a hóstia<br />
consagrada na ponta de um bastão. Nobile adotou as roupas, os hábitos e a forma de vida <strong>dos</strong><br />
brâmanes e misturou seus ritos com os cristãos, tudo isso com a aprovação do papa Gregório<br />
XV. Graças a essa ambigüidade, converteu, segundo ele mesmo afirmava, 250 mil hindus. "Cerca<br />
de um século após sua morte, quando o intransigente papa Benedito XIV proibiu a observância<br />
desses rituais hindus, tudo faliu e os 250 mil pseudo- católicos desapareceram."(1)<br />
Nos territórios do Norte da índia, do grande mongol Akbar, um homem tolerante que tinha fé,<br />
mesmo tentando introduzir no seu Estado o sincretismo religioso, os jesuítas foram aceitos para<br />
construir uma sede em Lahore, em 1575. Os sucessores de Akbar concederam-lhes os mesmos<br />
favores. Aureng-Zeb (1666-1707), um muçulmano ortodoxo, pôs, no entanto, um fim a essa<br />
empreitada. Em 1549, Xavier embarcou para o Japão com dois acompanhantes e um japonês<br />
que ele havia convertido em Mallaca, chamado Yoshiro. Os primeiros tempos não foram muito<br />
prósperos. "Os japoneses têm sua própria mortalidade e são muito reserva<strong>dos</strong>; seu passado os<br />
mergulhou no paganismo. Os adultos olhavam para aqueles estranhos com graça e as crianças<br />
os seguiam, zombando." (2)<br />
Yoshiro, nativo, conseguiu começar uma pequena comunidade com cem seguidores.<br />
Francisco Xavier, que não falava japonês muito bem, não conseguia nem mesmo obter uma<br />
audiência com o Mikado, a suprema autoridade religiosa japonesa. Quando deixou o país, dois<br />
padres permaneceram e, posteriormente, conseguiram a conversão <strong>dos</strong> daimos de Arima e<br />
Bungo. Este último se decidiu finalmente pela conversão após analisar o assunto por 27 anos.<br />
No ano seguinte, os padres se estabeleceram em Nagasaki. Pensavam ter convertido cem mil<br />
japoneses. Em 1587, a situação interna do país, dividido pela guerra <strong>dos</strong> clãs, modificou-se<br />
inteiramente. "Os jesuítas tiraram vantagem dessa anarquia e de sua relação íntima com os<br />
mercadores portugueses."(3) Hideyoshi, um homem de origem simples, usurpou o poder e tomou<br />
para si o título de Taikosama.<br />
Não confiava na influência política <strong>dos</strong> jesuítas, suas associações com os portugueses e<br />
conexões com os grandes e rebeldes vassalos, os Samurais. Conseqüentemente, a jovem Igreja<br />
japonesa foi violentamente perseguida. Seis franciscanos e três jesuítas foram crucifica<strong>dos</strong>;<br />
muitos converti<strong>dos</strong> foram assassina<strong>dos</strong> e a Ordem foi banida. O decreto, entretanto, não foi<br />
levado avante; os jesuítas continuaram seu apostolado em segredo.<br />
Em 1614, o primeiro Shogun, Tokugawa Yagasu, irritou-se com suas ações ocultas e a<br />
perseguição recomeçou. Além disso, os holandeses haviam tomado o lugar <strong>dos</strong> portugueses nos<br />
balcões de negócios e eram vigia<strong>dos</strong> de perto pelo governo. Uma desconfiança profunda de<br />
to<strong>dos</strong> os estrangeiros, eclesiásticos ou leigos, passou a inspirar a conduta <strong>dos</strong> líderes a partir de<br />
então e, em 1638, uma rebelião <strong>dos</strong> cristãos de Nagasaki foi afogada em sangue. Para os<br />
jesuítas, a aventura japonesa chegava ao fim e assim permaneceu durante um longo tempo.<br />
Podemos ler no notável livro de Lord Bertrand Russell, Science and Religion, a seguinte<br />
passagem insinuante sobre Francisco Xavier, "o realizador de milagres": "Ele e seus<br />
acompanhantes escreveram muitas cartas longas que foram guardadas até hoje; nelas,<br />
prestavam contas de seus trabalhos, mas nenhuma mencionava seus poderes miraculosos."<br />
José Acosta negava expressamente que esses missionários tivessem sido ajuda<strong>dos</strong> por<br />
milagres nos seus esforços para converter os pagãos. Logo após a morte de Xavier, histórias<br />
sobre milagres começaram a surgir. Diziam que ele tinha o dom de línguas, apesar de suas<br />
cartas estarem cheias de alusões às suas dificuldades quando quis dominar o idioma japonês ou<br />
encontrar bons intérpretes.<br />
<strong>História</strong>s foram contadas afirmando que, quando seus amigos sentiram sede no mar,<br />
transformara a água salgada em doce. De acordo com uma versão posterior, ele teria atirado o<br />
crucifixo no mar para acalmar uma tempestade. Ao ser canonizado em 1622, foi "provado", para a