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A História Secreta dos Jesuítas - Edmond Paris - Entre Irmãos

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início do século XVII, o Paraguai foi elevado a Província pelo prior da Ordem que tinha sido<br />

empossado pela Corte Espanhola, e o "Estado Jesuíta" se desenvolveu e expandiu.<br />

Esses "bons selvagens" foram devidamente catequiza<strong>dos</strong> e treina<strong>dos</strong> para viverem<br />

sedentariamente, sob uma disciplina tão gentil quanto forte: 'Assim como uma mão-de-ferro em<br />

uma luva de veludo". Essas sociedades patriarcais deliberadamente ignoravam as liberdades de<br />

qualquer espécie. "Tudo o que o cristão possui e usa, a cabana em que vive; os campos que<br />

cultiva; o gado que lhe dá comida e roupas; as armas que carrega; as ferramentas com as quais<br />

trabalha; até mesmo a única faca de mesa dada a um jovem casal, quando se casa, é<br />

"Tupambac", propriedade de Deus. A partir dessa mesma concepção, o "cristão" não pode dispor<br />

de sua vida livremente. O bebê recém-nascido está sob a proteção de sua mãe. Assim que<br />

começa a andar, ele pertence a Deus ou a seus "agentes". Quando cresce (se for uma garota),<br />

aprende a desfiar e tecer, ou a ler e escrever (se for um rapaz), mas apenas em guarani, porque<br />

o espanhol é severamente proibido, de forma a evitar qualquer contato com os "criolos<br />

corruptos."<br />

Assim que a garota atingir 14 anos e o rapaz 16, eles se casam, pois os padres anseiam que<br />

não cheguem a cair em pecado carnal. Nenhum deles pode se tornar padre, monge, e muito<br />

menos jesuíta. Eles praticamente não têm nenhuma liberdade. São, obviamente, muito felizes,<br />

materialmente falando... Pela manhã, após a missa, cada grupo de trabalhadores vai para o<br />

campo, um após o outro, cantando e precedido de uma imagem "santa". À noite, voltam para a<br />

vila da mesma maneira, para ouvir o catecismo ou recitar o rosário. Os padres também<br />

imaginaram alguma diversão honesta para os "cristãos".<br />

"Os jesuítas vigiam como se fossem pais; como tais, também punem o menor <strong>dos</strong> erros. O<br />

chicote, o jejum, a prisão, a exposição ao ridículo no pelourinho e a penitência pública na igreja<br />

eram os castigos que usavam. Assim, os filhos "vermelhos" do Paraguai não conheciam<br />

nenhuma outra forma de autoridade, além <strong>dos</strong> bons padres. Nem vagamente suspeitavam que o<br />

rei da Espanha era o seu soberano." (8)<br />

Não é este o retrato caricaturado de um modelo ideal de sociedade teocrática? Analisaremos<br />

como é que afetou o avanço intelectual e moral <strong>dos</strong> beneficiários desse sistema, esses "pobres<br />

inocentes", como eram chama<strong>dos</strong> pelo marquês de Loreto: 'A alta cultura das missões não passa<br />

de um produto artificial de uma estufa, carregando em si a semente da morte. Porque, apesar de<br />

toda essa quebra e treinamento, o guarani continuou sendo o que era: um selvagem preguiçoso,<br />

bitolado, sensual, ambicioso e sórdido. Conforme os próprios padres dizem: ele apenas trabalha<br />

quando sente que o aguilhoar do capataz está atrás dele.<br />

Assim que são deixa<strong>dos</strong> por sua própria conta, ficam indiferentes ao fato da colheita estar<br />

apodrecendo no campo, os implementos se deteriorando e o rebanho se perdendo. Se ele não é<br />

vigiado quando trabalha no campo, pode até mesmo abater uma vaca, acender uma fogueira<br />

com a madeira do arado e, ali mesmo, com seus companheiros, começar a comer a carne mal<br />

passada, até não sobrar nada. Sabe que levará 25 chicotadas por isso, mas também sabe que os<br />

bons padres não o deixarão morrer de fome." (9)<br />

Em um livro recentemente publicado, podemos ler o seguinte quanto às punições <strong>dos</strong><br />

jesuítas: "O acusado, vestindo roupas de penitente, era acompanhado à igreja para confessar<br />

sua falta. Então era chicoteado na praça pública, de acordo com o código penal. Os culpa<strong>dos</strong><br />

recebiam esse castigo com murmúrios, além de ações de graças. O culpado, tendo sido punido e<br />

reconciliado, beijava a mão daquele que lhe batia, dizendo: "Que Deus o recompense por estar<br />

me libertando, por esta leve punição, das penas eternas que me ameaçavam.(10)<br />

Após essa leitura, podemos entender a conclusão de H. Boehmer: 'Ávida moral <strong>dos</strong> guaranis<br />

se enriqueceu muito pouco sob a disciplina <strong>dos</strong> padres. Tornaram-se os católicos devotos e<br />

supersticiosos, que vêem milagres em to<strong>dos</strong> os lugares e parecem gostar da autoflagelação até

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