Heidegger e a fenomenologia husserliana: apropriação e ... - UFRJ
Heidegger e a fenomenologia husserliana: apropriação e ... - UFRJ
Heidegger e a fenomenologia husserliana: apropriação e ... - UFRJ
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
É a alteração da estrutura enquanto que, ao possibilitar a<br />
passagem do nível pré-objetivo para o nível objetivo, que permite que<br />
seja viável uma articulação entre a <strong>fenomenologia</strong> hermenêutica de<br />
<strong>Heidegger</strong> e a <strong>fenomenologia</strong> explicitativa de Husserl. Destarte, a relação<br />
que medeia o âmbito das duas <strong>fenomenologia</strong>s é o enquanto que<br />
hermenêutico e o enquanto que apofântico. É justamente nesse espaço de<br />
mediação que para <strong>Heidegger</strong> se dá a possibilidade de um objeto se<br />
constituir como tal, e a questão da objetualidade do objeto parece ser o<br />
fio condutor para a compreensão das possíveis relações entre o<br />
pensamento de Husserl e o de <strong>Heidegger</strong> tal como é afirmado e<br />
confirmado no Seminar in Zähringen. 5<br />
Podemos assim compreender que a <strong>fenomenologia</strong> de <strong>Heidegger</strong>,<br />
enquanto <strong>fenomenologia</strong> hermenêutica, se pretenda e possa se apresentar<br />
de forma legítima, como uma radicalização da <strong>fenomenologia</strong> de<br />
Husserl. Tal radicalização não se constituiria enquanto ruptura mas sim<br />
enquanto um aprofundamento uma radicalização, no sentido de firmar,<br />
fixar, conduzir às suas próprias raízes, erigindo-se como a própria<br />
fundamentação da <strong>fenomenologia</strong> <strong>husserliana</strong>, uma vez que, é a estrutura<br />
enquanto que hermenêutica que é possibilidade de fundamentação da<br />
estrutura enquanto que apofântica. Nesse sentido, poderemos mesmo<br />
afirmar que a <strong>fenomenologia</strong> hermenêutica constitui-se como a<br />
5 As determinações das relações entre Husserl e <strong>Heidegger</strong>, no que se refere ao esclarecimento<br />
dos respectivos conceitos de <strong>fenomenologia</strong> tem sido objeto de diversas investigações que,<br />
contudo, parecem não ter valorizado suficientemente a estrutura enquanto que, tanto no<br />
pensamento de <strong>Heidegger</strong>, como no de Husserl, nos quais a referida estrutura ocupa um lugar<br />
tão preponderante como o de fundamento da significação, quer dos atos singelos quer dos atos<br />
complexos. Assim a propósito da <strong>fenomenologia</strong> de <strong>Heidegger</strong>, Otto Pöggeler afirma<br />
vagamente que “filosofar não é o ancorar-se em certas respostas, não é o salto para a margem<br />
salvadora, mas o salto para o navio que vai à deriva.” in A via do pensamento de Martin <strong>Heidegger</strong>.<br />
Trad. Jorge Telles de Menezes., Instituto Piaget, Lisboa: 2001, p.85. W. Richardson em<br />
<strong>Heidegger</strong> Through Phenomenology to Though quando explica a interpretação hermenêutica remete a<br />
uma nota onde diz que “A consideração dos argumentos é um luxo que não nos podemos<br />
conceder aqui”. Op. cit., p.68, nota 115.<br />
18