Heidegger e a fenomenologia husserliana: apropriação e ... - UFRJ
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de atitude natural (natürliche Einstellung) 7 . Mas será que este modo de<br />
assim interpretar o mundo é o modo mais originário? Não se tratará aqui<br />
de um modo derivado de um modo mais originário em que as coisas se<br />
dão como elas são em si mesmas? De fato, na visão a que me referi estão<br />
contidas toda uma série de influências: a educação que tive, a<br />
<strong>apropriação</strong> mais ou menos correta de todo um manancial científico<br />
apreendido nos anos da minha formação escolar, enfim, as mais variadas<br />
influências acerca das quais nunca me interroguei. Qual foi a sua<br />
origem? De que evidência partiram? Não seriam somente interpretações<br />
feitas no “ar” que supostamente explicam tudo, sem nada permitirem<br />
compreender? De fato, a atitude natural parte de pressupostos que têm<br />
por evidentes sem que lhe tenham sido esclarecidas suas origens. Tal<br />
atitude não é de modo algum a que devemos seguir neste trabalho, pois<br />
não é esta a atitude filosófica, fenomenológica. Esta, por sua vez,<br />
constitui-se a partir do primeiro passo do método fenomenológico que<br />
Husserl nomeou de epoché 8 (έποχή).<br />
7 Husserl chama de natürliche Einstellung o mundo natural, sendo que, o adjetivo natural não<br />
se refere à natureza entendida no sentido das ciências naturais. Natural significa neste contexto<br />
o que se dá comumente no modo cotidiano de o homem se colocar em relação com o mundo,<br />
como o vive, sente, julga, representa. Cf. E. Husserl, Ideen zu einer reinen Phänomenologie und<br />
phänomenologischen Philosophie - I, II, II (Husserliana – III, IV e V), Martinus Nijhoff, Haia, 1950 e<br />
1952, p. 48-50 e Die Idee der Phänomenologie. Funf Vorlesungen, (Husserliana - II) A Idéia da<br />
Fenomenologi. Lisboa: Edições 70, 1990, p.39.<br />
8 Epoché, termo introduzido no léxico filosófico pelos cépticos gregos (Pirron e Sexto Empírico)<br />
e habitualmente utilizado por Husserl para definir o colocar entre parêntesis da sua<br />
<strong>fenomenologia</strong>. Epoché significa suspensão do juízo, ou, em geral, a recusa de reconhecer<br />
qualquer validade lógica ou empírica que não seja absolutamente fundada, privada de qualquer<br />
dúvida e por isso auto-evidente. Por ela, todo o transcendente é colocado entre parêntesis;<br />
procede-se a uma suspensão do juízo acerca do mundo, mas também do eu como coisa do<br />
mundo, das vivências enquanto vivências de determinada pessoa, de tudo que é transcendente:<br />
,, (…) das alles sind Transzendenzen. Das Ich als Person, als Ding der Welt, und das Erleibnis<br />
als Erleibnis dieser Person, eingeordnet – sei es auch ganz unbestinemt – in die objektive Zeit:<br />
das alles sind Transzendenzen und sind als das erkenntnisthoretisch Erst duch eine Reduktion,<br />
die wir auch sechon phänomenologische Reduktion nennen wollen, gewinne ich eine absolute<br />
Gegebenheit, die nichts von Transzendenz mehr bietet.” III-Vorlesung, S.44 in Die Idee der<br />
Phänomenologie. Funf Vorlesungen (Husserliana-II), M. Nijhoff, Haia, 1958. Em português temos:<br />
“(...) tudo isso são transcendências e, enquanto tais, gnoseologicamente zero. Somente<br />
mediante uma redução, que também já queremos chamar redução fenomenológica, obtenho eu<br />
um dado (Gegebenheit) absoluto, que já nada oferece de transcendência.” Husserl, E. A Idéia da<br />
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