Heidegger e a fenomenologia husserliana: apropriação e ... - UFRJ
Heidegger e a fenomenologia husserliana: apropriação e ... - UFRJ
Heidegger e a fenomenologia husserliana: apropriação e ... - UFRJ
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Se é assim, a essência intencional designa a um só tempo o modo<br />
em que o objeto é visado (qualidade do ato) e o como é visado (matéria<br />
do ato), designa a vivência intencional e, na medida em que a essência<br />
intencional pode preencher a função de atos significantes nas expressões,<br />
poderemos falar em essência significativa a propósito da essência<br />
intencional. Por isto, pensar a qualidade e a matéria do ato de modo<br />
independente só pode ser feito de modo abstrato já que, concretamente,<br />
estes momentos dão-se em uma unidade, denominada essência<br />
intencional do ato.<br />
Um ato é o mesmo quando a sua essência intencional é a mesma,<br />
ainda que apresente diferenças no nível da sua descrição. É pela<br />
identidade intencional que podemos dizer que um mesmo indivíduo, em<br />
tempos diferentes, ou que indivíduos diferentes, seja ao mesmo tempo ou<br />
em tempo diferentes, tenham tido a mesma representação, a mesma<br />
recordação, etc. Tais atos são idênticos, embora não sejam iguais. São<br />
idênticos porque possuem a mesma referência intencional com o mesmo<br />
sentido de apreensão. Contudo, a identidade essencial não significa o<br />
mesmo que identidade individual, pois cada ato no qual eu, a cada vez<br />
vivo, é único e singular e, neste sentido, o da identidade individual de um<br />
ato, eu mesma nunca terei, por exemplo, a mesma recordação de uma<br />
mesma coisa. Também neste sentido – o da identidade individual – nunca<br />
teremos que eu e outra pessoa possamos ter a mesma percepção ou a<br />
mesma recordação, etc. Identidade essencial não é o mesmo que uma<br />
relação de perfeita igualdade, como se pudesse haver uma duplicação de<br />
um ato. Sob este ponto de vista, cada ato é uma vivência absolutamente<br />
singular e irrepetível.<br />
Podemos atribuir a uma pluralidade de atos individuais uma<br />
identidade essencial somente quando tais atos apresentem na sua<br />
estrutura a mesma referência intencional e com o mesmo sentido de<br />
55