Heidegger e a fenomenologia husserliana: apropriação e ... - UFRJ
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permite constituir o sujeito da proposição; mas, eu posso ainda formular<br />
o desejo de que o cinzeiro esteja sobre a mesa, também aqui o objeto do<br />
meu ato não é mais o cinzeiro mas um determinado estado de coisas que<br />
é desejado.<br />
Assim, se num primeiro momento o cinzeiro é o objeto primordial<br />
e originário, nos momentos em que julgo, desejo, etc., ele passa a ser<br />
como que o objeto secundário e parcial já que o objeto intencional em<br />
sentido pleno passou a ser um determinado estado de coisas. Vemos<br />
assim que, ao contrário de todas as filosofias da representação, o objeto<br />
intencional nunca está ele mesmo presente de uma vez por todas à<br />
consciência 32 , mas constitui-se apenas como um pólo unificador de uma<br />
multiplicidade de atos que o visam como identicamente o mesmo. Por<br />
um lado, o objeto intencional pressupõe uma multiplicidade de atos de<br />
visar, o que o reenvia para a estrutura intencional da consciência e, por<br />
outro lado, o objeto da experiência surge necessariamente num horizonte<br />
infinito de perspectivas nunca totalmente explicitadas e que exigem uma<br />
contínua exploração, levada a cabo efetivamente pela intencionalidade. O<br />
objeto intencional, mesmo quando dado originariamente na percepção, só<br />
é acessível segundo um modo determinado de ser visado. De acordo com<br />
a perspectiva <strong>husserliana</strong>, intencional nunca é pura e simplesmente o que<br />
vem à presença, mas sim o modo como o objeto vem à presença,<br />
correlativo do modo como é visado.<br />
Na <strong>fenomenologia</strong> de Husserl a noção de objeto é, portanto,<br />
profundamente solidária da noção de intencionalidade. O objeto<br />
intencional é de tal modo independente do objeto real que podemos falar<br />
de objeto intencional mesmo quando o objeto visado não exista. Sendo<br />
assim, no caso de o objeto visado existir, a situação não muda do ponto<br />
32 Exceptuando os atos reflexos em que a certeza e a evidência são absolutas. Cf. Cartesianische<br />
Meditationen und Pariser Vorträge §15.<br />
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