16/07/2008 - Câmara dos Deputados
16/07/2008 - Câmara dos Deputados
16/07/2008 - Câmara dos Deputados
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
CÂMARA DOS DEPUTADOS<br />
DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO<br />
NÚCLEO DE REDAÇÃO FINAL EM COMISSÕES<br />
TEXTO COM REDAÇÃO FINAL<br />
CONJUNTA - AGRICULTURA,PECUARIA / MEIO AMBIENTE<br />
EVENTO: Audiência Pública N°: 1129/08 DATA: <strong>16</strong>/<strong>07</strong>/200 8<br />
INÍCIO: 10h11min TÉRMINO: 14h09min DURAÇÃO: 03h57min<br />
TEMPO DE GRAVAÇÃO: 03h57min PÁGINAS: 84 QUARTOS: 48<br />
DEPOENTE/CONVIDADO - QUALIFICAÇÃO<br />
CARLOS MINC BAUMFELD – Ministro de Estado do Meio Ambiente.<br />
SUMÁRIO: Discussão sobre políticas do Ministério do Meio Ambiente para a Amazônia e<br />
explanação acerca da agenda ambiental do Governo.<br />
OBSERVAÇÕES<br />
Reunião conjunta com a Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável.
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL<br />
Nome: Conjunta - Agricultura,Pecuaria / Meio Ambiente<br />
Número: 1129/08 Data: <strong>16</strong>/<strong>07</strong>/<strong>2008</strong><br />
O SR. PRESIDENTE (Deputado Onyx Lorenzoni) - Declaro aberta a reunião<br />
da Comissão de Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Rural, em<br />
conjunto com a Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da<br />
<strong>Câmara</strong> <strong>dos</strong> Deputa<strong>dos</strong>, convocada para tratar <strong>dos</strong> seguintes temas: discutir as<br />
políticas do Ministério do Meio Ambiente para a Amazônia e explanar sobre a<br />
Agenda Ambiental do Governo.<br />
Foi convocado para participar desta reunião o Sr. Ministro de Estado e Meio<br />
Ambiente, Dr. Carlos Minc Baumfeld.<br />
O Sr. Ministro já se encontra à Mesa. Informo aos Srs. Parlamentares que o<br />
Sr. Ministro terá o prazo de 30 minutos, prorrogáveis por mais 15, e somente poderá<br />
ser aparteado durante a prorrogação, se houver.<br />
A partir do início da exposição do Sr. Ministro, estará disponibilizada nas<br />
bancadas a lista de inscrição para os questionamentos por parte <strong>dos</strong> Srs.<br />
Parlamentares.<br />
Os Srs. Parlamentares terão o prazo de 3 minutos para fazer seus<br />
questionamentos. Dependendo do número de Parlamentares inscritos, faremos<br />
blocos de 3 ou 5 Parlamentares, para permitirmos maior diversidade de temas e<br />
maior agilidade <strong>dos</strong> trabalhos na nossa reunião.<br />
a e tréplica.<br />
O Sr. Ministro disporá de 3 minutos para responder, sendo permitida a réplica<br />
Quero pedir silêncio a to<strong>dos</strong>. Solicito à Segurança da <strong>Câmara</strong> <strong>dos</strong> Deputa<strong>dos</strong><br />
que feche as portas de acesso ao plenário. Vamos solicitar a participação de to<strong>dos</strong><br />
através da redução do volume de ruído. Precisamos ouvir com atenção o Sr.<br />
Ministro e os Srs. Parlamentares. E devemos lembrar que ruído também afeta o<br />
meio ambiente e é uma poluição extremamente complexa para o cérebro humano. E<br />
ele não funciona bem com altos níveis de ruído.<br />
Com muita honra, passo a palavra, para sua primeira manifestação, ao Exmo.<br />
Sr. Deputado André de Paula, Presidente da Comissão de Meio ambiente, que<br />
realiza de maneira conjunta este encontro, permitindo que os Parlamentares da<br />
Comissão de Agricultura, por convocação, e da comissão de Meio Ambiente, por<br />
convite, possam compartilhar as informações prestadas pelo Sr. Ministro e possam<br />
também, com S.Exa., debater em favor do Brasil.<br />
1
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL<br />
Nome: Conjunta - Agricultura,Pecuaria / Meio Ambiente<br />
Número: 1129/08 Data: <strong>16</strong>/<strong>07</strong>/<strong>2008</strong><br />
Com a palavra o Deputado André de Paula.<br />
O SR. DEPUTADO ANDRÉ DE PAULA - Sr. Ministro, muito brevemente<br />
queria trazer aqui um esclarecimento aos companheiros da Comissão de Meio<br />
Ambiente.<br />
Dois requerimentos foram aprova<strong>dos</strong> no âmbito da nossa Comissão, no<br />
sentido de convidar, diferentemente da Comissão de Agricultura, o Sr. Ministro Minc,<br />
para discutir questões que dizem respeito a interesses conjuntos que existem de<br />
uma agenda legislativa do Ministério e da Comissão.<br />
O Sr. Ministro, em seus 2 primeiros meses, fez a gentileza de, na semana<br />
passada, me ligar para esclarecer isso. To<strong>dos</strong> nós temos percebido que está instado<br />
a apagar muitos incêndios e tem cumprido uma agenda absolutamente intensa.<br />
Esteve S.Exa. no Congresso por 3 vezes, mas não teve a oportunidade de estar na<br />
Comissão do Meio Ambiente.<br />
Eu confesso que me ressentia dessa falta e tomei, em um primeiro momento<br />
— e companheiros nossos, sobretudo os autores do requerimento, também<br />
tomaram, de forma equivocada —, como um desapreço do Ministro pela nossa<br />
Comissão.<br />
Na semana passada, S.Exa. me explicou essa questão e me disse que<br />
estaria aqui e que faria muita questão de participar de uma reunião na Comissão de<br />
Meio Ambiente. Como to<strong>dos</strong> sabem, estamos na última semana. Tinha S.Exa. uma<br />
convocação na Comissão de Agricultura. Portanto, em uma conciliação, sugeri ao<br />
Sr. Ministro que nós fizéssemos uma reunião conjunta hoje, o que não nos inibe de,<br />
no início do próximo semestre, com muito prazer, no âmbito da nossa Comissão,<br />
para tratar de questões específicas da nossa Comissão, receber o Sr. Ministro<br />
Carlos Minc. Quero, portanto, em que pese os primeiros ruí<strong>dos</strong>, manifestar a S.Exa.,<br />
o Sr. Ministro, a nossa confiança.<br />
Eu tinha dito, Sr. Ministro, que a minha intenção, a exemplo do que fiz com a<br />
Ministra Marina Silva, era lhe fazer uma visita para, primeiro, colocar a Comissão de<br />
Meio Ambiente ao seu inteiro dispor, a fim de tentarmos trabalhar em parceria e<br />
formular os votos, que sei que são de to<strong>dos</strong> os integrantes daquela Comissão, de<br />
sucesso no exercício das relevantes funções de Ministro de Estado do Meio<br />
Ambiente.<br />
2
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL<br />
Nome: Conjunta - Agricultura,Pecuaria / Meio Ambiente<br />
Número: 1129/08 Data: <strong>16</strong>/<strong>07</strong>/<strong>2008</strong><br />
Isso não foi possível, mas quero aproveitar a oportunidade para renovar<br />
esses votos e para dizer a V.Exa. da nossa confiança no seu empenho e no trabalho<br />
que V.Exa. vai desenvolver no Ministério.<br />
Quero agradecer ao Deputado Onyx Lorenzoni, que vai conduzir esta reunião,<br />
pela gentileza de nos receber, a Comissão de Meio Ambiente, como parceiros nesta<br />
reunião. Desejo a to<strong>dos</strong> os presentes êxito no trabalho.<br />
de Paula.<br />
Muito obrigado, Deputado Onyx Lorenzoni.<br />
O SR. PRESIDENTE (Deputado Onyx Lorenzoni) - Obrigado, Deputado André<br />
Imediatamente passo a palavra ao Sr. Ministro Carlos Minc.<br />
O SR. MINISTRO CARLOS MINC BAUMFELD - Bom dia a todas e a to<strong>dos</strong>.<br />
Quero cumprimentar o Presidente da Comissão de Agricultura, Pecuária,<br />
Abastecimento e Desenvolvimento Rural, Deputado Onyx Lorenzoni, e o Presidente<br />
da Comissão de Meio Ambiente, Deputado André de Paula.<br />
Quero lembrar a to<strong>dos</strong> que hoje estou completando 49 dias à frente do<br />
Ministério e é a quarta vez que venho ao Parlamento. Além disso, recebi até agora<br />
54 Deputa<strong>dos</strong> no Ministério, mas não pude receber nem metade <strong>dos</strong> pedi<strong>dos</strong> que<br />
me foram feitos. Inclusive, Deputado Onyx Lorenzoni, um <strong>dos</strong> últimos grupos que eu<br />
recebi foi de Deputa<strong>dos</strong> cuja agenda era a questão da Mata Atlântica. Portanto,<br />
eram Deputa<strong>dos</strong> do Rio Grande do Sul, Paraná e Santa Catarina, basicamente.<br />
A preocupação de S.Exas. era com o decreto de regulamentação da Lei da<br />
Mata Atlântica, garantindo a compatibilização da preservação com uma série de<br />
culturas, inclusive do mate, e de várias outras que dependem do não-sombreamento<br />
para prosperar.<br />
E outros também liga<strong>dos</strong> à agroecologia, que fizeram sugestões. Nós nos<br />
comprometemos com esse grupo de Parlamentares, de agricultores alternativos, de<br />
cooperativas, etc., a introduzir no decreto as sugestões que eles apresentaram.<br />
Vamos ver se esse decreto sai até o fim deste mês, o mais tardar no início de<br />
agosto, porque há mais de um ano e meio V.Exas. aprovaram a Lei da Mata<br />
Atlântica, que dava um período de 6 meses para a sua regulamentação. Portanto, o<br />
prazo já está amplamente esgotado. Vamos correr atrás desse prejuízo.<br />
3
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL<br />
Nome: Conjunta - Agricultura,Pecuaria / Meio Ambiente<br />
Número: 1129/08 Data: <strong>16</strong>/<strong>07</strong>/<strong>2008</strong><br />
Aproveito também para pedir desculpas a to<strong>dos</strong> os outros cinqüenta e poucos<br />
Deputa<strong>dos</strong> que não tivemos a oportunidade de receber no primeiro mês e meio de<br />
Governo. Recebemos Deputa<strong>dos</strong> de Mato Grosso, da Amazônia, em suma,<br />
recebemos Deputa<strong>dos</strong> de várias localidades e também Governadores — inclusive 3<br />
da Amazônia: de Mato Grosso, de Rondônia e de Roraima. Separadamente, cada<br />
um deles trouxe as pautas <strong>dos</strong> seus Esta<strong>dos</strong>.<br />
Estou Ministro há 49 dias, mas há mais de 20 anos sou Deputado Estadual.<br />
Portanto, na qualidade de Deputado, sei exatamente o que significa representar o<br />
povo, conseguir o voto, renovar a confiança popular quando se é reeleito — o que é<br />
dificílimo, porque temos de mostrar trabalho num País onde geralmente os poderes<br />
ficam mais com o Executivo do que com o Parlamento.<br />
O meu apreço pelo Parlamento é antigo. Espero ter oportunidade de renovar<br />
essa consideração.<br />
Deputa<strong>dos</strong> Onyx Lorenzoni e André de Paula, aprovei no Rio mais de 126 leis<br />
em 20 anos. Fiz um trabalho, nos últimos 10 anos, chamado Cumpra-se, para que<br />
as leis sejam cumpridas. Chego à conclusão de que muito mais difícil ainda do que<br />
aprovar uma lei é fazer com que ela seja respeitada.<br />
Quero dizer aos Deputa<strong>dos</strong> das Comissões de Agricultura e do Meio<br />
Ambiente, também aos demais aqui presentes, que podem contar com o Ministério<br />
para que as boas leis na agricultura sustentável, no meio ambiente, na tecnologia<br />
limpa — terão V.Exas. um parceiro — sejam respeitadas. Fazer o contrário seria<br />
quase que rasgar a minha história e a minha tradição.<br />
Deputa<strong>dos</strong> Onyx Lorenzoni e André de Paula, sou pouco conhecido do<br />
Parlamento Federal. A minha atuação é maior no Rio de Janeiro, mas faço questão<br />
de dizer que sempre tive uma relação muito ampla com os diversos parti<strong>dos</strong>. Estive<br />
à frente no Executivo, na área do meio ambiente, por 1 ano e 4 meses, no início de<br />
20<strong>07</strong> a maio de 2088, no Governo Sérgio Cabral, quando fui convocado para esse<br />
cargo — quero deixar bem claro que não o pedi, não o queria; coloquei uma série de<br />
condições para aceitá-lo; fui chamado de arrogante e prepotente por ter imposto<br />
condições. Acho que para se exercer com um mínimo de eficiência um cargo, deve-<br />
se ter condições, inclusive, financeiras. Muitas vezes, os recursos já previstos em lei<br />
para o meio ambiente ficam contingencia<strong>dos</strong>.<br />
4
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL<br />
Nome: Conjunta - Agricultura,Pecuaria / Meio Ambiente<br />
Número: 1129/08 Data: <strong>16</strong>/<strong>07</strong>/<strong>2008</strong><br />
Uma das tarefas a que me propus realizar — expliquei ao Presidente Lula —<br />
e para a qual conto com o vosso apoio, é transformar recursos ambientais que hoje<br />
são superávit fiscal em superávit ambiental. Não queremos mais recursos do que<br />
aqueles que as leis já garantem, como, por exemplo, recursos liga<strong>dos</strong> a petróleo, a<br />
uso de água pelo setor elétrico. São dotações que já existem e que não chegam ao<br />
final: recuperação das bacias, <strong>dos</strong> recursos hídricos, etc.<br />
Srs. Deputa<strong>dos</strong> Presidentes das Comissões e Srs. Deputa<strong>dos</strong> presentes no<br />
plenário, vou citar apenas um exemplo com que pretendo mostrar meu não-<br />
partidarismo em matéria de interesse público.<br />
O Prefeito do Rio de Janeiro, Cesar Maia, do DEM, portanto seu companheiro<br />
de partido, de quem sou adversário, tinha como um <strong>dos</strong> maiores problemas resolver<br />
a construção do aterro sanitário do Rio de Janeiro, obra que não andava há mais de<br />
6 anos. Existia um aterro vencido, que ameaçava causar um grave problema<br />
ambiental. Ninguém quer um aterro sanitário perto do seu bairro. A reação sempre é<br />
enorme. Todo mundo quer que exista algum, desde que seja longe do seu bairro.<br />
Assumi esse assunto, tive desgaste por isso e consegui o que não tinha sido feito<br />
nos meses anteriores: licenciar. Claro, os opositores ao projeto diziam que era um<br />
lixão. Lixão é um problema; aterro sanitário é uma solução, lá se trata chorume, se<br />
captura metano, gás do efeito estufa que pode virar energia renovável.<br />
Tanto o Prefeito Cesar Maia quanto o Deputado Rodrigo Maia são<br />
testemunhas de como me empenhei nesse projeto, sem nenhum acordo político, só<br />
pela consciência de que uma cidade do tamanho do Rio precisa ter aterro sanitário.<br />
Eu me empenhei, sofri desgaste por isso, mas licenciei algo fundamental para o<br />
exercício da Prefeitura. E não o fiz pelo Prefeito, mas pela população.<br />
Relato isso não por achar extraordinário o que fiz — acho que não fiz mais do<br />
que a minha obrigação. Mas nossa tradição política, os senhores hão de convir, não<br />
é exatamente assumir desgaste político por uma situação que é do povo e que está<br />
no colo da administração de um adversário. Normalmente se diz: “Bom, que<br />
resolva.” Mas eu disse: “É importante. Vamos resolver.” E resolvemos.<br />
Isso tudo foi a prévia. Agora, vamos ao ponto para o qual fui convocado e<br />
sobre o qual ainda não falei. Vou tentar ser objetivo, até porque não pretendo usar<br />
os 15 minutos de prorrogação, para dar mais tempo para ser questionado,<br />
5
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL<br />
Nome: Conjunta - Agricultura,Pecuaria / Meio Ambiente<br />
Número: 1129/08 Data: <strong>16</strong>/<strong>07</strong>/<strong>2008</strong><br />
seguramente com as críticas suaves e construtivas que me vão ser dirigidas. Elas<br />
são parte do Parlamento. Temos de respeitar e tentar aperfeiçoar nosso trabalho<br />
com o Parlamento, que é a voz do povo, integrado por pessoas eleitas que<br />
conhecem suas regiões, os temas que as afligem, no caso, meio ambiente e<br />
agricultura, que também engloba desenvolvimento rural, pecuária e abastecimento.<br />
Quais têm sido nossas linhas mestras nesses primeiros 50 dias, as quais<br />
submeto à apreciação e às críticas de V.Exas.?<br />
Primeira questão: o Ministério do Meio Ambiente tem que trabalhar junto com<br />
outros. Infelizmente, nos últimos tempos, houve certo isolamento dele em relação a<br />
esses outros, nomeadamente, Minas e Energia, Agricultura e sobretudo aqueles<br />
liga<strong>dos</strong> à área econômica.<br />
Temos obtido sucesso em romper esse isolamento. A defesa do meio<br />
ambiente não é do Ministério do Meio Ambiente, é do Governo, do Parlamento, da<br />
sociedade. Não pode ser monopólio de um Ministério defender uma questão que<br />
depende de tecnologia, de agricultura, de uso do solo, de crédito, em suma, de<br />
várias atividades que não podem ser só defensivas, mas propopositivas.<br />
Então, anunciamos uma política para o licenciamento ambiental, Deputa<strong>dos</strong><br />
Onyx Lorenzoni e André de Paula, mostrando que vamos fazer, em âmbito nacional,<br />
o que fizemos no Rio de Janeiro: simplificar o licenciamento ambiental, torná-lo mais<br />
ágil, mas, nem por isso, menos rigoroso. Algumas pessoas, erroneamente, acham<br />
que agilidade significa frouxidão. No Rio de Janeiro, nós licenciamos COMPERJ,<br />
que é o complexo petroquímico da PETROBRAS em Itaboraí, simplesmente o maior<br />
licenciamento ambiental da América Latina: 18 bilhões de reais. A PETROBRAS<br />
achava que iria conseguir a licença em 1 ano e 2 meses; conseguiu em 6 meses. Só<br />
que a exigência foi brutal: tiveram que plantar, Deputa<strong>dos</strong> e Deputadas, 6 milhões<br />
de árvores nas nascentes <strong>dos</strong> Rios Caceribu e Macacu; não poderão lançar<br />
nenhuma gota de efluente industrial na Baía de Guanabara; e só um <strong>dos</strong><br />
equipamentos que nós exigimos, um denitrificador, um abatedor das emissões de<br />
óxido de nitrogênio — só esse, Deputado Onyx Lorenzoni —, custa 200 milhões de<br />
dólares. Mas eles toparam, porque o pior é o investimento de 18 bilhões ficar parado<br />
por 1 ano e deixar de produzir deriva<strong>dos</strong> da petroquímica.<br />
6
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL<br />
Nome: Conjunta - Agricultura,Pecuaria / Meio Ambiente<br />
Número: 1129/08 Data: <strong>16</strong>/<strong>07</strong>/<strong>2008</strong><br />
Então, é isso que nós vamos fazer em nível nacional, com o apoio de V.Exas.,<br />
aqui em Brasília. E anuncio que amanhã, quinta-feira, na sede do IBAMA, vamos<br />
proceder a um ato que se chama “Destrava, IBAMA”. Na ocasião, vamos assinar<br />
uma série de portarias, instruções técnicas e medidas que eliminam etapas inúteis<br />
do licenciamento.<br />
No Rio de Janeiro, Deputado, eu cheguei à conclusão de que, antes de<br />
chegar à mão do primeiro analista ambiental da FEEMA, o processo passava por 18<br />
funcionários. Levava-se meses para verificar a burocracia. Não tem sentido! Então,<br />
agora passou a ser 1 funcionário responsável por ver toda a parte burocrática e,<br />
logo, o que interessa: saber se um determinado empreendimento vai poluir um rio,<br />
vai afetar o pulmão das pessoas. Temos que nos concentrar no que é importante.<br />
Então, vamos fazer isso. Essa medida, junto com os contatos que temos tido<br />
com o Ministro Lobão, com o Ministro da Agricultura e com o Ministro do<br />
Desenvolvimento, tem desbloqueado, porque eles viram que nós vamos licenciar<br />
rapidamente e com critério. E o que for não é não; nós não vamos enrolar 3 anos<br />
para dizer isso, Deputado. Vamos dizer isso em 2 semanas: “Aí não pode. Há bacia<br />
aérea saturada...”.Já falamos assim no Rio de Janeiro: queriam construir uma<br />
térmica a carvão em Itaguaí, onde o porto está saturado, e os técnicos diziam que<br />
aquela bacia aérea estava saturada. Dissemos “não” logo. Não demoramos 2 anos<br />
para fazer isso, para a pessoa não perder tempo, paciência, dinheiro. Vai logo<br />
procurar outra localidade ou outra tecnologia para fazer um licenciamento. Aí, sim,<br />
será licenciado rapidamente e com rigor. Então, isso só já é um ponto importante.<br />
Tivemos reuniões também com o Presidente da ELETROBRAS e o<br />
Presidente da Itaipu Binacional, em razão das quais criamos grupos de trabalho para<br />
o acompanhamento <strong>dos</strong> grandes empreendimentos hidrelétricos — que, aliás, é uma<br />
energia limpa, que emite pouco e que tem de ter cuida<strong>dos</strong> também em relação às<br />
áreas inundadas. Cada nova hidrelétrica licenciada vai adotar pelo menos um<br />
parque nacional ou estadual. E tanto o Presidente da ELETROBRAS quanto o<br />
Presidente da Itaipu Binacional gostaram das novidades e toparam esse tipo de<br />
entendimento: licenciamentos rápi<strong>dos</strong>, eficazes e rigorosos.<br />
Outra linha que nós estamos adotando, Deputa<strong>dos</strong> das Comissões de<br />
Agricultura e Meio Ambiente, é uma linha de entendimento com vários setores<br />
7
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL<br />
Nome: Conjunta - Agricultura,Pecuaria / Meio Ambiente<br />
Número: 1129/08 Data: <strong>16</strong>/<strong>07</strong>/<strong>2008</strong><br />
produtivos. E por que isso? Você não combate o desmatamento e as práticas<br />
predatórias apenas com fiscais do IBAMA, com a Polícia Federal, com a Polícia<br />
Estadual. Combate práticas predatórias com outras práticas sustentadas, que devem<br />
ser incentivas com apoio, crédito, zoneamento ecológico-econômico, regras claras.<br />
Estou convencido, Deputa<strong>dos</strong>, de que a maior parte do nosso empresariado,<br />
tanto do agronegócio quanto do turismo e da indústria, querem práticas<br />
sustentáveis.<br />
E o que nós temos feito nesse curto período de 49 dias? Assinamos um<br />
acordo com os exportadores da soja — ABIOVE, que representa 92% do<br />
processamento de exportação de óleo vegetal de soja —, no qual esses setores se<br />
comprometem a não comprar soja originada de áreas ilegalmente desmatadas do<br />
bioma amazônico.<br />
Além disso, assinamos o segundo acordo na sexta-feira passada, no Rio de<br />
Janeiro, com a Vale do Rio Doce, que não vai mais vender minério de ferro para<br />
guserias e carvoarias que estejam fora da lei. E nós também nos comprometemos a<br />
acelerar o licenciamento ambiental, a regularização ambiental e o cadastramento<br />
das propriedades e o zoneamento econômico-ecológico. Acordo bom é quando<br />
beneficia os 2 la<strong>dos</strong> e não de 1 lado só.<br />
Vamos assinar, Deputa<strong>dos</strong>, agora, no dia 18, em Belém, um acordo com os<br />
exportadores de madeira DAIMEX. Que acordo é esse? O acordo é o seguinte: os<br />
exportadores de madeira não vão comprar madeira de áreas ilegais; vão comprar de<br />
planos de manejos, madeira certificada. Da nossa parte, nós nos comprometemos a<br />
dobrar, no ano que vem, a oferta de madeira certificada, de madeira legalizada.<br />
Isso é fundamental, porque não se consegue combater a madeira ilegal se<br />
você não se aumenta a oferta da madeira legal. É óbvio! Essa é a fronteira:<br />
incentivar a legalidade ambiental. Então, esse terceiro acordo será assinado no dia<br />
18, em Belém.<br />
O quarto acordo será assinado com a Associação Brasileira das Indústrias<br />
Exportadoras de Carne — ABIEC, os grandes frigoríficos.<br />
O quinto acordo será assinado com a Federação das Indústrias do Estado de<br />
São Paulo — FIESP, em São Paulo, em agosto. To<strong>dos</strong> são na mesma linha.<br />
8
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL<br />
Nome: Conjunta - Agricultura,Pecuaria / Meio Ambiente<br />
Número: 1129/08 Data: <strong>16</strong>/<strong>07</strong>/<strong>2008</strong><br />
Para garantir, Deputadas e Deputa<strong>dos</strong>, que esses acor<strong>dos</strong> sejam<br />
sustentáveis, nós procuramos o Presidente do BNDES, Sr. Luciano Coutinho, a fim<br />
de garantir linhas de crédito para a regularização dessas atividades. Para uma delas<br />
nós conseguimos uma linha muito boa, com 7,15% de juros ao ano, 100% de<br />
cobertura e 36 meses de carência. Portanto, é uma boa linha de crédito.<br />
Muitas vezes, para que esses setores econômicos estimulem a legalização<br />
das cadeias <strong>dos</strong> fornecedores — <strong>dos</strong> que fornecem soja, madeira, carne, minério —,<br />
eles têm que ter crédito para que os fornecedores entrem na legalidade fundiária e<br />
ambiental. Entretanto, eles próprios não têm como dar esse crédito. Então, essa<br />
linha se chama Empresa Âncora e funciona da seguinte forma: digamos que um<br />
grande frigorífico tem 100 fornecedores. Desses 100 fornecedores, 60 ou 70 não<br />
cumprem toda a legalidade ambiental. Então, é interesse do frigorífico cabeça dessa<br />
rede produtiva legalizar a situação <strong>dos</strong> demais, porque, senão, ele vai incorrer<br />
também em ilegalidade ambiental. Os senhores sabem que quem recebe produtos<br />
de quem está na ilegalidade, infelizmente, pela lei ambiental, acaba também<br />
passível de punição. É como um receptador de carro roubado. Você pode comprar<br />
na maior boa fé um carro roubado, mas, infelizmente, você é classificado como<br />
receptador.<br />
Então, é interesse <strong>dos</strong> grandes exportadores de carne, de madeira, de soja,<br />
de minério, que precisam ter o carimbo para chegar ao mercado europeu e a outros<br />
merca<strong>dos</strong>, que seus fornecedores e parceiros atuem legalmente. E isso tem que ser<br />
por nós estimulado e facilitado. Por isso, essa linha de crédito vai permitir que a<br />
empresa âncora receba o crédito e repasse aos seus fornecedores, numa condição<br />
que é favorável: 7,15% ao ano, 36 meses de carência e cobertura de 100%. É uma<br />
boa linha, e isso nós fechamos com o BNDES.<br />
Outro acordo que nós fechamos com o Presidente do BNDES é uma linha de<br />
crédito para melhorar o licenciamento ambiental nos Esta<strong>dos</strong>. Muitas vezes, os<br />
produtores, Deputado André de Paula, se queixam, com razão, dizendo que querem<br />
se legalizar, mas o ritmo do licenciamento ambiental <strong>dos</strong> Esta<strong>dos</strong> é lento. Eles não<br />
conseguem cumprir, ainda que queiram, a exigência. Então, o que nós<br />
conseguimos, Deputado André de Paula, Deputa<strong>dos</strong> e Deputadas? Outra linha de<br />
9
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL<br />
Nome: Conjunta - Agricultura,Pecuaria / Meio Ambiente<br />
Número: 1129/08 Data: <strong>16</strong>/<strong>07</strong>/<strong>2008</strong><br />
financiamento muito boa, de 500 milhões, para modernizar, qualificar e reforçar as<br />
Secretarias de Meio Ambiente de to<strong>dos</strong> os Esta<strong>dos</strong>.<br />
Mas há uma dificuldade, Deputado Onyx Lorenzoni: muitos Esta<strong>dos</strong> estão no<br />
limite do endividamento. Por isso, ainda que se aprove uma espetacular linha para<br />
que as Secretarias Estaduais tenham mais gente, computadores, modernos<br />
méto<strong>dos</strong> para acelerar o licenciamento e também a fiscalização, sem o que um<br />
empresário que queira se legalizar não consegue, seja na agricultura, seja na<br />
indústria, há esse problema. O que nós conseguimos para solucionar essa questão?<br />
Com apoio do Ministro Mantega, fizemos um pedido especial ao Conselho Monetário<br />
Nacional no sentido de que excepcionalize, do ponto do vista do teto de<br />
endividamento <strong>dos</strong> Esta<strong>dos</strong>, como já foi feito — já existe uma exceção, que foi para<br />
a área fazendária: foram concedi<strong>dos</strong> recursos para a modernização das áreas de<br />
arrecadação tributária e fazendária <strong>dos</strong> Esta<strong>dos</strong>. Nós pedimos o mesmo tratamento<br />
para esse crédito, de modo que não entre na linha do limite do endividamento, a fim<br />
de que os Esta<strong>dos</strong> possam se modernizar e, com isso, agilizar o licenciamento<br />
ambiental nos Esta<strong>dos</strong> e também nos Municípios.<br />
Uma terceira linha de trabalho, Deputa<strong>dos</strong> e Deputadas, diz respeito à<br />
regulamentação do art. 23 da Constituição Federal, que define claramente as<br />
responsabilidades <strong>dos</strong> Municípios, Esta<strong>dos</strong> e da União. Isso é um nó que dura mais<br />
de 4 anos. Nós trouxemos para nós a responsabilidade de tentar, dentro do<br />
CONAMA, dentro do Governo, chegar a uma solução e enviar para os<br />
Parlamentares, que estão tratando dessa questão há muitos anos, uma forte<br />
colaboração, a fim de que a matéria seja pacificada, atendendo à área industrial, à<br />
municipal e à ambiental. Esperamos que V.Exas. possam dar um salto e, ainda<br />
neste segundo semestre — até setembro, outubro, — resolver essa questão<br />
definitivamente.<br />
Quero dizer, Deputa<strong>dos</strong>, que, ainda como Secretário do Rio de Janeiro, nós<br />
passamos para os Municípios o licenciamento de atividades de pequeno e baixo<br />
impacto ambiental — não para qualquer Município, mas para aqueles que tinham<br />
Comissão de Meio Ambiente, Fundo Ambiental, Conselho Ambiental e concurso.<br />
Não se pode dar uma atribuição a uma pessoa que não está preparada para<br />
executá-la, pois a pessoa não consegue fazer e você também é co-responsável por<br />
10
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL<br />
Nome: Conjunta - Agricultura,Pecuaria / Meio Ambiente<br />
Número: 1129/08 Data: <strong>16</strong>/<strong>07</strong>/<strong>2008</strong><br />
ter dado esse poder sem garantir que ele seria exercido dentro da lei. Dessa forma,<br />
<strong>dos</strong> 92 municípios do Rio de Janeiro, 31 passaram a ser responsáveis pelo<br />
licenciamento ambiental de pequeno e médio impacto.<br />
E qual foi o ganho que nós tivemos com isso? Enorme. Deputado André de<br />
Paula, Deputado Lorenzoni, na mesma pilha de 15 mil licenças estavam o pólo<br />
petroquímico, o pólo siderúrgico, o posto de gasolina, a oficina mecânica. Isso não<br />
dá certo em nenhum país do mundo! Você não se concentra nas grandes<br />
hidrelétricas, nos grandes pólos, nas grandes estradas, e acaba, na mesma pilha,<br />
havendo posto de gasolina. Isso não tem o menor cabimento! Isso não dá certo em<br />
nenhum país!<br />
A mesma coisa que fizemos no Rio esperamos realizar, com a<br />
regulamentação do art. 23 — que é uma função do Parlamento, mas que temos<br />
obrigação de ajudar, no âmbito do CONAMA e <strong>dos</strong> Ministérios, e é o que vamos<br />
fazer, antes de setembro. Até agosto, V.Exas. terão pelo menos a posição do<br />
Governo, que vai ajudá-los a legislar sobre essa questão, que é uma antiga<br />
demanda <strong>dos</strong> Prefeitos, com os quais assumimos também esse compromisso.<br />
Outra questão é a retomada, pelo Ministério do Meio Ambiente, da questão do<br />
saneamento ambiental, lixo e esgoto, e também da tecnologia limpa.<br />
Por conta de uma série de questões que não me cabe analisar, o Ministério<br />
do Meio Ambiente foi sendo apartado dessas questões. Logo que fui honrado pelo<br />
convite do Presidente Lula, eu ponderei a S.Exa. que não era razoável o Meio<br />
Ambiente ficar fora da questão do saneamento. Se essa é a principal causa da<br />
poluição de rios, lagoas, praias, como o Meio Ambiente poderia não estar nela<br />
envolvida?<br />
Veja bem, não estamos reivindicando sermos nós a fazer as grandes<br />
licitações do saneamento — para isso existe o Ministério da Integração Nacional;<br />
queremos apenas estabelecer metas, princípios, procedimentos e mecanismos. Hoje<br />
o Brasil coleta e trata 35% do esgoto que produz. Isso é inaceitável! É inaceitável! É<br />
razoável termos um Plano Nacional de Saneamento, para que em uma década nós<br />
possamos passar para o dobro disso, 70% de esgoto coletado e tratado. Isso<br />
depende de recursos, e este Parlamento tem um papel fundamental, porque é quem<br />
aprova o Orçamento. Nós vamos correr atrás de recursos nossos que estão<br />
11
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL<br />
Nome: Conjunta - Agricultura,Pecuaria / Meio Ambiente<br />
Número: 1129/08 Data: <strong>16</strong>/<strong>07</strong>/<strong>2008</strong><br />
contigencia<strong>dos</strong>. Como eu disse, queremos transformar o superávit fiscal em<br />
superávit ambiental e empregar grande parte desses recursos na recuperação das<br />
bacias hidrográficas e do saneamento, retomando um programa muito bom<br />
chamado PRODES, conhecido como programa de compra do esgoto tratado.<br />
O que vem a ser isso? Por exemplo, um Prefeito tem 10 milhões e está em<br />
dúvida se melhora as estradas ou se faz o tratamento de esgoto. Com o PRODES,<br />
ele pode fazer o tratamento de esgoto, e, mostrando que está botando tanto litros<br />
por segundo dentro do padrão, ele recebe recursos, com os quais ele pode fazer a<br />
estrada. Ou seja, faz as duas coisas.<br />
Trata-se de um ótimo programa, que hoje tem míseros 30 milhões, e é<br />
razoável que ele tenha no mínimo 200, 300 milhões por ano para beneficiar<br />
municípios de várias bacias hidrográficas. Eu conto com o apoio de V.Exas,<br />
Deputadas e Deputa<strong>dos</strong>, para garantir o descontigenciamento desses recursos. Eu<br />
espero que um programa importante como o PRODES possa avançar.<br />
Outra questão que me parece relevante é a existência de recursos para que<br />
tudo isso seja feito. É muito fácil chegar para os Governadores e Prefeitos da<br />
Amazônia e dizer que não pode haver desmatamento, que desmatamento é crime.<br />
Sim. E as alternativas? Onde está o financiamento das alternativas que permitam,<br />
na Amazônia, 25 milhões de pessoas viverem com dignidade em atividades<br />
sustentáveis? Esse é o nó da questão.<br />
Nós podemos anunciar que agora, no dia 1º de agosto, o Presidente Lula<br />
deve assinar a criação de 2 fun<strong>dos</strong> importantes. Um é o Fundo Amazônia, composto<br />
de recursos doa<strong>dos</strong> por governos de outros países e também da iniciativa privada<br />
brasileira. Nós pretendemos, no primeiro ano, captar 900 milhões de dólares, a partir<br />
da aprovação do fundo. O primeiro cheque de 100 milhões de dólares deve vir da<br />
Noruega em setembro. A Alemanha e a Suíça também já manifestaram interesse.<br />
O Presidente Lula, no primeiro momento, não estava 100% convencido, por<br />
causa da questão da soberania. S.Exa. achava que alguém podia dar 10 milhões e<br />
dizer como é que vai fazer com a Amazônia. Nós explicamos para ele...<br />
O SR. PRESIDENTE (Deputado Onyx Lorenzoni) - Ministro, V.Exa. tem,<br />
regimentalmente, mais 15 minutos. Nós fechamos os 30 iniciais. Estou apenas<br />
informando V.Exa. para que possa se programar.<br />
12
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL<br />
Nome: Conjunta - Agricultura,Pecuaria / Meio Ambiente<br />
Número: 1129/08 Data: <strong>16</strong>/<strong>07</strong>/<strong>2008</strong><br />
O SR. MINISTRO CARLOS MINC BAUMFELD - Eu vou concluir este<br />
assunto, porque já tinha prometido não usar os 15.<br />
O SR. PRESIDENTE (Deputado Onyx Lorenzoni) - Não, não se preocupe<br />
com isso. São 10h50min. S.Exa. usa mais 10 minutos e fala até as 11h. Há 18<br />
inscritos. Se cada um utilizar 3 minutos e V.Exa. gastar mais 5 minutos, em média,<br />
para os blocos de resposta, serão 2 horas. Mais outros que falarão, serão mais 2<br />
horas e meia de trabalho.<br />
O SR. MINISTRO CARLOS MINC BAUMFELD - Está bom.<br />
Só para concluir, no Fundo Amazônia, o doador não participa do Conselho, no<br />
qual estão os representantes <strong>dos</strong> 9 Governos da Amazônia, representantes do<br />
Governo Federal, que são outro bloco, e da sociedade civil, incluindo a CNI, a<br />
indústria, a agricultura, universidades etc.<br />
O outro fundo é o Fundo Clima, que vem de recursos do petróleo. Que<br />
recursos são esse? O Meio Ambiente tem direito a 10% da participação especial <strong>dos</strong><br />
lucros do petróleo. Só que esse dinheiro deveria ser investido exclusivamente em<br />
ações ligadas a derramamento de óleo: prevenção, mitigação, etc. Então, nunca se<br />
conseguia gastar isso tudo, porque, felizmente, não há acidentes com petróleo to<strong>dos</strong><br />
os anos.<br />
Nós ponderamos ao Presidente Lula e ao Ministro Paulo Bernardo que o<br />
petróleo também tem a ver com o clima. Nós não queremos ampliar a quantidade de<br />
recursos arrecadada; está de bom tamanho. Queremos, sim, que uma parte deles<br />
tenham outro uso e sejam destina<strong>dos</strong> à realização de atividades sustentáveis, como,<br />
por exemplo, o pagamento de serviços ambientais, de atividades ligadas ao<br />
extrativismo, de atividades ligadas à indústria limpa e à redução das emissões; à<br />
premiação <strong>dos</strong> governos que mantêm a floresta em pé; e ao auxílio àqueles que<br />
querem recuperar a floresta.<br />
Nós poderemos ter, para esse fundo, Deputa<strong>dos</strong>, até 600 milhões. Trata-se<br />
de recursos que já existiam, mas que não se conseguia usar. Um projeto de lei será<br />
enviado a este Parlamento para tratar do tema, e para ele eu peço apoio de V.Exas.<br />
Não se trata, eu repito, da ampliação do teto, mas da ampliação do uso <strong>dos</strong><br />
recursos, para que não sejam aplica<strong>dos</strong> apenas na prevenção de derramamentos,<br />
13
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL<br />
Nome: Conjunta - Agricultura,Pecuaria / Meio Ambiente<br />
Número: 1129/08 Data: <strong>16</strong>/<strong>07</strong>/<strong>2008</strong><br />
mas também, em até 60% do seu valor, na aplicação de políticas de clima e de<br />
apoio às atividades sustentadas.<br />
Para concluir, quero dizer que entre as medidas que o Presidente Lula incluiu,<br />
a nosso pedido, numa medida provisória ligada à agricultura — havia várias<br />
questões ligadas à agricultura, tais como financiamento, dívida —, está uma que<br />
garante preços mínimos para produtos extrativistas. Essa é uma antiga reivindicação<br />
do setor extrativista da Amazônia. Produtos como algodão, soja e feijão sempre<br />
tiveram preço mínimo. O agricultor pode contrair crédito e, se o preço desabar, até<br />
um limite, ele tem garantia. O babaçu, o açaí, o guaraná, a castanha não tinham<br />
preço mínimo. Esse setor tinha problemas para pegar o crédito. Também por isso,<br />
muitos <strong>dos</strong> trabalhadores do extrativismo viviam na miséria: sem 13º, carteira<br />
assinada, previdência. Essa era uma antiga reivindicação da região que nós<br />
conseguimos incluir.<br />
Outra medida incluída a nosso pedido foi a concessão de recursos de até 1<br />
bilhão de reais, a juros de 4% ao ano, com 12 anos de carência, para quem quiser<br />
reconstituir as suas reservas legais, as suas áreas degradadas, as APPs, e também<br />
para a recuperação, por exemplo, de pastagens degradadas, para permitir a<br />
intensificação da pecuária, aumentando a produção, sem, obrigatoriamente, entrar<br />
em novas áreas.<br />
Não basta dizer o que não se quer; tem-se que apoiar e financiar aquilo que<br />
deve ser sustentado.<br />
Com isso, Srs. Deputa<strong>dos</strong>, encerro a minha primeira apresentação na<br />
<strong>Câmara</strong> <strong>dos</strong> Deputa<strong>dos</strong>. Agradeço-lhes esta oportunidade. Voltarei à Casa, com o<br />
maior prazer, quantas vezes for convidado. Desculpem-me por não ter vindo antes,<br />
mas, como disse, tive muitos problemas nesses 49 dias. Esta já é a minha quarta<br />
vez no Parlamento e já recebi 52 Deputa<strong>dos</strong> — e pretendo receber muitos outros e<br />
vir muito mais vezes a este Parlamento, que precisa ser respeitado, pois é a voz do<br />
povo e tem o dever de criticar, corrigir e aperfeiçoar a prática do Poder Executivo.<br />
Saudações ecológicas e libertárias!<br />
Obrigado pela paciência. (Palmas.)<br />
O SR. PRESIDENTE (Deputado Onyx Lorenzoni) - Obrigado, Ministro Minc.<br />
14
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL<br />
Nome: Conjunta - Agricultura,Pecuaria / Meio Ambiente<br />
Número: 1129/08 Data: <strong>16</strong>/<strong>07</strong>/<strong>2008</strong><br />
Eu peço encarecidamente às pessoas que colaborem conosco. No final da<br />
intervenção do Ministro Minc, a competição da voz de S.Exa. com o ruído foi imensa!<br />
Isso é algo inacreditável. Questões importantes para o País foram abordadas pelo<br />
Ministro e também serão tratadas pelos Srs. Parlamentares. Por isso, peço a to<strong>dos</strong><br />
aqueles que estão aqui trabalhando ou nos acompanhando, bem como aos que<br />
cuidam das assessorias, colaboração. Eu vou brigar muito para garantir a palavra<br />
aos Parlamentares, a fim de que haja plena compreensão do que o Deputado está<br />
dizendo. Este é um direito e uma responsabilidade de quem está aqui.<br />
Portanto, peço, de coração, a colaboração de to<strong>dos</strong>, para que consigamos, de<br />
maneira respeitosa e adequada, ouvir os Parlamentares que vão se expressar a<br />
partir deste momento.<br />
Além disso, o Ministro Minc precisa se concentrar para formular as suas<br />
manifestações e respostas. Mais uma vez eu peço, encarecidamente, a colaboração<br />
de to<strong>dos</strong>.<br />
Passo a palavra ao Deputado Giovanni Queiroz.<br />
O SR. DEPUTADO PAULO TEIXEIRA - Pela ordem, Sr. Presidente.<br />
O SR. PRESIDENTE (Deputado Onyx Lorenzoni) - Muito rapidamente,<br />
Deputado, por favor.<br />
O SR. DEPUTADO PAULO TEIXEIRA - Gostaria de saber se precedem os<br />
autores de requerimentos.<br />
O SR. PRESIDENTE (Deputado Onyx Lorenzoni) - Sim, senhor, precedem.<br />
O SR. DEPUTADO PAULO TEIXEIRA - Então, eu quero me inscrever. Eu<br />
sou um <strong>dos</strong> 3.<br />
O SR. PRESIDENTE (Deputado Onyx Lorenzoni) - V.Exa. já está inscrito,<br />
Deputado. A assessoria da Comissão de Meio Ambiente e a da Comissão de<br />
Agricultura são, reconhecidamente, das melhores da Casa. Elas não se esquecem<br />
de ninguém.<br />
Deputado Giovanni Queiroz, tem a palavra V.Exa., pelo tempo regimental.<br />
O SR. DEPUTADO GIOVANNI QUEIROZ - Sr. Presidente, Sr. Ministro, Srs.<br />
Deputa<strong>dos</strong>, sou produtor rural na Amazônia. Sou médico, me formei no Rio de<br />
Janeiro; sou fazendeiro, desmatei bastante na Amazônia a corte raso, aquilo que a<br />
lei me permitia e até me obrigava a fazer. Para titular a minha terra eu tive que<br />
15
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL<br />
Nome: Conjunta - Agricultura,Pecuaria / Meio Ambiente<br />
Número: 1129/08 Data: <strong>16</strong>/<strong>07</strong>/<strong>2008</strong><br />
desmatar 50%, por imposição da lei da época. Hoje sou reflorestador, até por<br />
entender que o reflorestamento pode competir bem com o produto pecuário. E vou<br />
continuar reflorestando.<br />
Nós, Deputa<strong>dos</strong> Federais da Amazônia, sou Deputado Federal pelo Pará,<br />
estamos preocupa<strong>dos</strong> com a região a ponto de inserir no Orçamento da União, por<br />
exemplo, dinheiro para o zoneamento econômico-ecológico no meu Estado no valor<br />
de 9 milhões e 444 mil reais — refiro-me ao orçamento deste ano, o que foi<br />
aprovado. Garantimos, também, para a recuperação de cobertura vegetal de áreas<br />
degradadas no Distrito Florestal Sustentável de Carajás, que de repente o Ministério<br />
abandonou, mais 9 milhões e 444 mil reais. Isso fez a bancada do Pará, por<br />
iniciativa minha e de outros Deputa<strong>dos</strong> que, da mesma forma, entendem a<br />
necessidade de revermos a forma de ocupação da Amazônia.<br />
Muito bem. De repente, entretanto, fomos surpreendi<strong>dos</strong> com um decreto<br />
presidencial de 21 de dezembro que delegava ao Ministério do Meio Ambiente e ao<br />
INCRA poderes de baixar normas, portarias que viessem a inibir o desmatamento da<br />
Amazônia. Isso nos causou espécie. Por quê? Porque imediatamente foram<br />
nomina<strong>dos</strong> os 36 municípios da Amazônia que mais desmatavam e lhes foi imposta<br />
a condição de se recadastrarem no prazo de 60 dias. Para isso, tinham que fazer o<br />
georreferenciamento, que, se to<strong>dos</strong> os profissionais do Brasil para lá fossem,<br />
demoraria no mínimo 2 anos — inclusive conforme as palavras do Ministro do<br />
Desenvolvimento Agrário. Não sou eu quem está afirmando.<br />
No entanto, o Governo manteve essa posição e deixou à margem da lei, por<br />
não poderem cumprir a exigência legal, esses municípios, que passaram à condição<br />
de marginais. Aí, disse V.Exa., Sr. Ministro — e a comparação, para mim, não foi<br />
feliz —, que às vezes as pessoas compram um carro roubado por não saberem a<br />
sua origem. No caso do frigorífico que comprar o boi de quem não conseguiu se<br />
legalizar, ele não está comprando de um ladrão, mas de um produtor, o que é bem<br />
diferente de ladrão de carro. Bem diferente!<br />
A verdade, Sr. Ministro, é que impuseram, através <strong>dos</strong> decretos presidenciais,<br />
das portarias do Ministério do Meio Ambiente, essa condição de marginais a to<strong>dos</strong><br />
os produtores rurais <strong>dos</strong> 36 municípios. Pior: agora, com a resolução do Banco<br />
Central, do Conselho Monetário Nacional, também por solicitação do Ministério do<br />
<strong>16</strong>
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL<br />
Nome: Conjunta - Agricultura,Pecuaria / Meio Ambiente<br />
Número: 1129/08 Data: <strong>16</strong>/<strong>07</strong>/<strong>2008</strong><br />
Meio Ambiente, foi imposto que, no setor rural, ninguém mais tem crédito na<br />
Amazônia, se não tiver licença ambiental ou requerimento protocolado buscando<br />
essa condição. E para isso, Sr. Ministro, também é preciso ter o<br />
georreferenciamento do bioma Amazônia, o que nem em 5 anos se consegue fazer.<br />
Ressalto que esse não é o meu caso. Eu estou com toda a documentação em<br />
dia, porque, há muito tempo como reflorestador, procurei buscar esses documentos.<br />
Aliás, demorei 14 meses para conseguir a licença de atividade rural e florestal,<br />
necessária para eu poder vender a madeira do desbaste da minha propriedade.<br />
Isso, no Pará. Demorou 14 meses para sair a licença! Deputado Lorenzoni, repito:<br />
14 meses. Hoje talvez saia com 10 ou 12 meses. Está havendo um esforço do<br />
Estado nesse sentido, mas ainda é muito lento.<br />
Então, agora, to<strong>dos</strong> os que vendem boi não vão poder fazê-lo se não tiverem<br />
o protocolo da licença ambiental, da atividade rural. Se não tiverem esse protocolo,<br />
passarão a ser considera<strong>dos</strong> ladrões de carro, como disse V.Exa. Mas são<br />
produtores, o que é bem diferente. Aquele a que V.Exa. imputa a condição de<br />
criminoso na Amazônia não é o criminoso <strong>dos</strong> morros do Rio de Janeiro com quem<br />
V.Exa. está acostumado a conviver — por omissão e negligência do Estado. Lá na<br />
Amazônia, entretanto, é diferente!<br />
Sr. Ministro, passo a V.Exa. mais um questionamento que fazemos.<br />
Aqui temos uma situação sui generis: Terra do Meio. Foram criadas unidades<br />
de conservação... Logicamente, V.Exa. assumiu há 49 dias e está tomando<br />
conhecimento disso agora. Por isso peço que me responda acerca da possibilidade<br />
de rever tudo isso. Isso não é culpa de V.Exa. só, não. V.Exa., logicamente, está<br />
pegando o bonde andando, mas assumiu esse bonde e está penalizando as<br />
pessoas, e com uma ação policialesca grotesca.<br />
Tenho aqui, por exemplo, um parecer da Procuradora Federal que, quando da<br />
proposta de criação das unidades de conservação da Terra do Meio, disse que “das<br />
atas das consultas públicas, cumprindo exigência da Lei nº 9.985, tanto em Altamira<br />
como em São Félix do Xingu, depreende-se que não há consenso entre a população<br />
local e lideranças sobre a criação do parque. Há informações imprecisas sobre a<br />
presença de mais de 2 mil proprietários rurais” — mais de 2 mil proprietários,<br />
Ministro, já existiam na região naquele tempo, em 2005! — que atestam a fertilidade<br />
17
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL<br />
Nome: Conjunta - Agricultura,Pecuaria / Meio Ambiente<br />
Número: 1129/08 Data: <strong>16</strong>/<strong>07</strong>/<strong>2008</strong><br />
<strong>dos</strong> solos para o plantio, a incidência de terras indígenas e populações tradicionais”.<br />
Mais à frente ela diz que “as assertivas da consulta pública não foram levadas em<br />
conta quando da elaboração final da proposta, uma vez que ficou claro o<br />
descontentamento da população com a criação do parque, onde, conforme<br />
depoimentos, existem ocupações várias, inclusive propriedades particulares. Isso<br />
implica regularização fundiária com criterioso levantamento cartorial e,<br />
evidentemente, com custos eleva<strong>dos</strong> tanto <strong>dos</strong> levantamentos como, e<br />
principalmente, das desapropriações que se farão necessárias”.<br />
Sr. Ministro, os homens já estavam trabalhando. Há aqui um senhor com 72<br />
anos de idade, 10 filhos. Sr. Cândido, levante-se, por favor. Veja se isso é cara de<br />
bandido, Sr. Ministro! Um homem humilde, que nasceu na roça, no mato, adentrou a<br />
Amazônia. E eu o conheço, porque fui o primeiro médico de Redenção, no sul do<br />
Pará, um povoado miserável, com 7 casas de telha. Conheço a vida desses<br />
homens, a coragem desses brasileiros, Sr. Ministro, e fico indignado quando eles<br />
são penaliza<strong>dos</strong>, como está sendo este homem com 10 filhos porque adentrou a<br />
Amazônia para conquistá-la para o Brasil, certo de que estava fazendo o correto;<br />
ciente, consciente de que estava trabalhando para sustentar sua família, para não<br />
deixá-la na cidade para roubar, para assaltar. Ele está sendo penalizado, Sr.<br />
Ministro!<br />
Eu queria que V.Exa. revisse isso, porque é possível criar as unidades de<br />
conservação sem atropelar quem está produzindo, trabalhando. É este o apelo que<br />
fazemos: que o Governo tenha mais critério, mais parcimônia, e não venha, de<br />
qualquer forma, decretar áreas de conservação sem o respeito a quem está<br />
trabalhando. São brasileiros de todas as origens. Esse é goiano. Há, na região,<br />
gaúchos, cariocas, mineiros. Eu sou mineiro, filho de fazendeiro, e migrei para<br />
aquela região.<br />
Há um parecer contrário, e, inclusive já há ação direta de<br />
inconstitucionalidade contra a criação dessas unidades de conservação porque elas<br />
não respeitaram o trâmite legal. Espero que a Justiça, realmente, atenda isso.<br />
Tenho aqui, Sr. Ministro, o editorial de O Globo de ontem, que diz que,<br />
lamentavelmente, paradoxalmente, estamos num Estado democrático, mas vivendo<br />
uma ação policialesca, onde o Estado, através da Polícia Federal, de juízes e<br />
18
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL<br />
Nome: Conjunta - Agricultura,Pecuaria / Meio Ambiente<br />
Número: 1129/08 Data: <strong>16</strong>/<strong>07</strong>/<strong>2008</strong><br />
procuradores, atropela o direito do cidadão. Isso está escrito no editorial de O Globo<br />
de ontem. V.Exa. leu? Eu li na sua inteireza. Há, nele, também, críticas à Casa<br />
Civil...<br />
É este aqui:<br />
“Por um desses paradoxos, é em plena democracia que se<br />
observam graves agressões a direitos constitucionais por parte do<br />
braço armado e jurídico do Estado, a Polícia Federal, juízes e<br />
procuradores.(...)”<br />
Isso é verdade. Juízes federais estão dando a V.Exa. condição de seqüestrar<br />
bois na Amazônia.<br />
Ministro, não faça isso! Sente com o nosso povo para conversar, e eu, como o<br />
Deputado Beto Faro, o Deputado Asdrúbal Bentes e tantos outros, posso intermediar<br />
para que possamos chegar a um acordo. Tenho certeza de que eles saem de lá,<br />
mas precisam ser indeniza<strong>dos</strong>, porque a lei assim garante. Indenize-os que eles<br />
saem. Se não, vamos permutar área — eu tenho aqui um documento da Secretaria<br />
do Meio Ambiente do Pará, do Governo anterior, propondo permuta, para não<br />
prejudicar os trabalhadores que estão lá, aqui, neste plenário, neste momento,<br />
representa<strong>dos</strong> por mais de 6 associações. São associações de produtores rurais, e<br />
não bandi<strong>dos</strong> <strong>dos</strong> morros do Rio de Janeiro. São homens que trabalham e<br />
produzem; pequenos médios e grandes.<br />
Sr. Ministro, fico aqui pensando que precisamos avançar, para dar à<br />
Amazônia alternativas econômicas que possam substituir o desmatamento. É isso<br />
que pretendemos nós to<strong>dos</strong>, desde que a preservação seja do interesse do Brasil, e<br />
não apenas de gringos, de ONGs internacionais, cujos objetivos e interesses às<br />
vezes nos atropelam, porque não são os interesses do Brasil. Que isso seja feito<br />
juntamente com o zoneamento econômico-ecológico, cujo dinheiro está no seu<br />
Ministério e ainda não foi liberado um centavo sequer <strong>dos</strong> 9 milhões e 444 mil, ou<br />
com o distrito florestal sustentável, que também está lá e não teve um centavo<br />
aplicado.<br />
V.Exa. está à frente do Ministério há apenas 49 dias, e obviamente ainda não<br />
teve tempo de ver tudo, mas a Ministra Marina Silva pensava no desenvolvimento da<br />
Amazônia apenas para manter a agricultura de sustentação, ou o sistema do... Por<br />
19
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL<br />
Nome: Conjunta - Agricultura,Pecuaria / Meio Ambiente<br />
Número: 1129/08 Data: <strong>16</strong>/<strong>07</strong>/<strong>2008</strong><br />
exemplo, V.Exa. falou agora do preço mínimo para os produtos do extrativismo na<br />
Amazônia. Ministro, não podemos manter esse povo no extrativismo, não! Fazer isso<br />
é mantê-los escravos da floresta, na miséria! Vão tirar 200, 300, 400 reais por mês,<br />
no máximo, vivendo com a família no mato — e viver no mato é a coisa mais<br />
desgraçada que existe! O homem se sujeita a isso porque não tem alternativa, não<br />
tem educação, não tem condição de ter uma casa na cidade. Para não deixar a<br />
família, às vezes adentra 20, 30 quilômetros na mata a pé.<br />
Eu ouvi isso de um cidadão que hoje tem um pedacinho de terra organizado.<br />
Ele dizia, meu Presidente Onyx Lorenzoni: “Doutor, eu punha minha cachorrinha na<br />
cacunda e adentrava o mato” — cachorrinha é uma sacola dentro de um saco com<br />
farinha, sal e mais alguma coisinha —, “e atrás de mim vinha mulher, 22 quilômetros<br />
atravessando com água no peito.” Isso para ter um pedacinho de terra hoje. Esse<br />
hoje é chamado de bandido ou ladrão de carro.<br />
Não podemos, como brasileiros, deixar de ser solidários com esses tantos<br />
brasileiros que adentraram a Amazônia e lá estão. Por isso, quero sugerir a V.Exa.<br />
que sentemos para conversar antes de V.Exa. vender os bois. Até porque, de<br />
repente, Ministro, V.Exa. pode até vender os bois, mas pode não conseguir entregá-<br />
los. V.Exa. pode vender os bois — eu ouvi isso e estou dizendo agora a V.Exa. —,<br />
mas não vai conseguir entregá-los. A população de lá é como to<strong>dos</strong> nós, brasileiros:<br />
de boa fé, mansa, pacífica, ordeira. Mas diz-se que não se pode cutucar a onça com<br />
vara curta, porque ela avança e morre em cima de sua garganta. Não cutuque o<br />
nosso trabalhador. Não faça isso. Reduza essa intempestividade, essas ações que<br />
podem ser comparadas a ações quixotescas, porque podem ter um resultado ruim.<br />
Aí, se vítima houver, num confronto, logicamente que a responsabilidade será do<br />
seu Ministério e do Governo, de cuja base faço parte aqui no Congresso Nacional.<br />
Quero dizer mais: a boa fé <strong>dos</strong> que lá estão é tão grande que tenho aqui<br />
documentos formaliza<strong>dos</strong> em 2002. São pedi<strong>dos</strong> de compra de terra, com<br />
pagamento para publicação de edital, com tudo junto ao ITERPA — porque aquelas<br />
eram terras do Estado, V.Exa. sabe disso. Está aqui o documento, na minha mão.<br />
Pagamento de 49 mil reais, pagamento de 600 reais, de 800 reais.<br />
Enfim, quero encerrar, Sr. Ministro, passando às mãos de V.Exa. — acho que<br />
pela terceira vez eu o faço — um documento. Quando se fala em desmatamento,<br />
20
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL<br />
Nome: Conjunta - Agricultura,Pecuaria / Meio Ambiente<br />
Número: 1129/08 Data: <strong>16</strong>/<strong>07</strong>/<strong>2008</strong><br />
V.Exa. sabe muito bem que dá para ir lá, pontualmente, em cima do trator que está<br />
derrubando, e prender aquele miserável que está contrariando a lei. Portanto, pode-<br />
se combater o desmatando sem autorização legal, sem precisar castigar toda a<br />
Amazônia, vetando o crédito a to<strong>dos</strong> os brasileiros que lá estão. De repente, a partir<br />
do dia 1º para cá, ninguém mais tem crédito, a não ser quem já tem o protocolo, e<br />
V.Exa. sabe que esses não são mais do que 10%. Isso paralisa a produção na<br />
Amazônia.<br />
V.Exa. proíbe a venda de boi para o frigorífico — que passa a ser cúmplice e<br />
também culpado por comprar boi — e, assim, paralisa a produção nacional. Vinte<br />
por cento da produção nacional de bovinos vem da Amazônia. Da mesma forma,<br />
28% da produção de grãos do Brasil vem da Amazônia.<br />
Mas e o desmatamento? Vejam como o Governo é conivente — V.Exa. só<br />
está há 49 dias no Ministério: eu entreguei à Ministra Marina Silva, pessoalmente,<br />
uma denúncia, com as coordenadas geográficas. Vou passar à mão de V.Exa. uma<br />
cópia. Onde estão desmatando? Estão aqui as coordenadas geográficas. A Ministra<br />
Marina Silva as recebeu do proprietário no dia 7 de maio; eu reiterei no dia 13 de<br />
junho e entreguei à Ministra Marina Silva, pessoalmente, no mesmo dia. Nenhuma<br />
providência do IBAMA. Um desmatamento de mais de 5 mil hectares está sendo<br />
feito hoje. Se hoje V.Exa. mandar alguém para lá, vai prender gente. Mas mande, Sr.<br />
Ministro, porque, senão, V.Exa. não terá direito de cobrar de mais ninguém. E está<br />
prejudicando to<strong>dos</strong>.<br />
Mas faça V.Exa., porque o IBAMA não manda. Isso foi denunciado ao IBAMA<br />
no Município de Redenção, de Conceição do Araguaia, mas ele não vai lá. Vive<br />
dizendo que se tem de parar de desmatar a Amazônia, mas não cumpre a parte<br />
deles. Só sabe punir com ações policialescas aqueles que querem trabalhar.<br />
Sr. Ministro, ao encerrar, peço a V.Exa. uma resposta. Talvez, no mês que<br />
vem, nós o convidemos — não é preciso convocar —, junto com o Ministério do Meio<br />
Ambiente, para estar aqui conosco dizendo como andam essas coisas todas, porque<br />
precisamos de respostas. Aliás, esses trabalhadores que aqui estão precisam de<br />
respostas.<br />
O SR. PRESIDENTE (Deputado Onyx Lorenzoni) - Obrigado, Deputado<br />
Giovanni Queiroz.<br />
21
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL<br />
Nome: Conjunta - Agricultura,Pecuaria / Meio Ambiente<br />
Número: 1129/08 Data: <strong>16</strong>/<strong>07</strong>/<strong>2008</strong><br />
O SR. DEPUTADO DOMINGOS DUTRA - Sr. Presidente, pela ordem.<br />
O SR. PRESIDENTE (Deputado Onyx Lorenzoni) - Pois não, Deputado.<br />
O SR. DEPUTADO DOMINGOS DUTRA - Sr. Presidente, ouvi atentamente o<br />
Deputado Giovanni Queiroz — o plenário está cheio; é uma audiência importante —,<br />
mas S.Exa. utilizou expressões, tais como “onça na garganta”, que soam como<br />
ameaça. Então, é importante que os outros Deputa<strong>dos</strong>...<br />
O SR. PRESIDENTE (Deputado Onyx Lorenzoni) - Deputado, não nos cabe<br />
interpretar o que diz um Parlamentar. Ele tem o direito constitucional de dizer o que<br />
quiser!<br />
O SR. DEPUTADO DOMINGOS DUTRA - Tudo bem, mas “onça na garganta”<br />
pode ser fuzil, “doze”, espingarda.<br />
O SR. PRESIDENTE (Deputado Onyx Lorenzoni) - Não, não, Deputado<br />
Domingos Dutra.<br />
O SR. DEPUTADO DOMINGOS DUTRA - Eu só peço que use expressões<br />
que... Sabemos muito bem como isso funciona.<br />
O SR. DEPUTADO GIOVANNI QUEIROZ - Pela ordem.<br />
O SR. DEPUTADO DOMINGOS DUTRA - Se aqui um Deputado fala em<br />
“onça na garganta”, imaginem lá no mato. Imaginem!<br />
O SR. DEPUTADO GERSON PERES - Aqui não existe censura!<br />
(O Presidente faz soar a campainha.)<br />
O SR. PRESIDENTE (Deputado Onyx Lorenzoni) - A palavra vai ser<br />
concedida ao autor do requerimento, Deputado Wandenkolk Gonçalves.<br />
Nenhum Parlamentar é juiz <strong>dos</strong> demais. Eu tenho respeito pelo Deputado<br />
Domingos Dutra, um Parlamentar combativo, mas vamos dar toda liberdade para<br />
que os Parlamentares se expressem na totalidade, na integralidade do seu mandato.<br />
O Deputado Domingos Dutra terá tempo para se expressar; vai poder se<br />
manifestar com toda a tranqüilidade; vai ter assegurado o tempo necessário para<br />
que as suas idéias sejam expressas, da mesma forma como to<strong>dos</strong> os Parlamentares<br />
que aqui estão.<br />
Passo a palavra ao Deputado Wandenkolk Gonçalves, autor do requerimento,<br />
pelo tempo regimental.<br />
22
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL<br />
Nome: Conjunta - Agricultura,Pecuaria / Meio Ambiente<br />
Número: 1129/08 Data: <strong>16</strong>/<strong>07</strong>/<strong>2008</strong><br />
O SR. DEPUTADO PAULO TEIXEIRA - Sr. Presidente, eu quero saber de<br />
quanto tempo dispõe o Parlamentar para falar, porque aqui ocuparam 15 minutos.<br />
O SR. PRESIDENTE (Deputado Onyx Lorenzoni) - O autor do requerimento<br />
dispõe de 10 minutos, conforme o acordo que fizemos.<br />
O SR. DEPUTADO PAULO TEIXEIRA - Então vamos garantir os 10 minutos.<br />
O SR. PRESIDENTE (Deputado Onyx Lorenzoni) - Nós estamos trabalhando<br />
nessa linha, Deputado. V.Exa. tem razão.<br />
minutos.<br />
Peço ao Deputado Wandenkolk Gonçalves que nos ajude, cumprindo os 10<br />
Com a palavra o Deputado Wandenkolk Gonçalves, do PSDB do Pará, co-<br />
autor do requerimento de convocação, pelo prazo regimental.<br />
O SR. DEPUTADO WANDENKOLK GONÇALVES - Srs. Presidentes de<br />
ambas as Comissões, Sras. e Srs. Deputa<strong>dos</strong>, imediatamente após a posse do Sr.<br />
Ministro, logo que S.Exa. assumiu o Ministério do Meio Ambiente, eu fiz uma<br />
solicitação de convite a S.Exa., a qual depois foi transformada em convocação, em<br />
razão de sua ausência naquela oportunidade.<br />
Fiz isso porque eu me preocupava principalmente com as afirmativas de<br />
S.Exa., quando convidado pelo Presidente Luís Inácio Lula da Silva para assumir o<br />
Ministério: S.Exa., claramente, declarou que não conhecia a Amazônia. Agora afirma<br />
a to<strong>dos</strong> que está no Ministério há apenas 49 dias. Então, nós perdemos 49 dias na<br />
busca, de maneira integrada, do tão sonhado e propalado desenvolvimento<br />
sustentável.<br />
Aí eu me preocupo, porque, à frente do Ministério do Meio Ambiente, nesses<br />
49 dias, V.Exa. tem pautado a agenda midiática deste País. Nós deveríamos ter<br />
aproveitado essa possibilidade para enveredar pelos caminho que nós to<strong>dos</strong>,<br />
amazônidas, gostaríamos de caminhar.<br />
Depois, eu tive a curiosidade, preparando-me para o debate com V.Exa., de<br />
verificar o seu currículo. Aliás, parabéns, é um currículo bastante emblemático. Um<br />
fato chamou-me a atenção no seu currículo: V.Exa. foi fundador do Partido Verde,<br />
militante político, enfim, uma série de outros emblemas. Eu pincei essa questão do<br />
Partido Verde, a militância de mais de 20 anos de vida pública, com mandato<br />
inclusive, perguntei a mim mesmo e pergunto a V.Exa.: onde V.Exa. estava quando<br />
23
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL<br />
Nome: Conjunta - Agricultura,Pecuaria / Meio Ambiente<br />
Número: 1129/08 Data: <strong>16</strong>/<strong>07</strong>/<strong>2008</strong><br />
desmataram mais de 90% da Mata Atlântica? O que fez o Partido Verde naquela<br />
época, principalmente no Rio de Janeiro?<br />
Vejo agora o documento trazido por V.Exa., aliás uma relação muito grande<br />
de boas intenções, as boas intenções ficando mais para o Sul e Sudeste e as más<br />
intenções ficando para a nossa região, como, por exemplo, a Operação Arco de<br />
Fogo, que V.Exa. comanda hoje e que direcionou principalmente para o Estado do<br />
Pará.<br />
O Estado do Pará não foi o Estado que mais desmatou, o que não justifica,<br />
claro, o desmatamento que houve. Lá o que aconteceu foi o seguinte: priorizaram o<br />
Mato Grosso, mas lá tem Governador. No Pará, infelizmente, a nossa Governadora<br />
foi e está sendo omissa nessa questão emblemática do nosso Estado.<br />
Aí, Sr. Ministro, os sorteios que foram feitos para que essa operação pudesse<br />
direcionar as suas ações soam de maneira estranha, e eu fiz essa denúncia e essa<br />
cobrança à Polícia Federal, mais recentemente em Altamira. Os 3 municípios<br />
“sortea<strong>dos</strong>”, entre aspas, para serem fiscaliza<strong>dos</strong> e receberem a determinação da<br />
famigerada operação foram: Tailândia, que não estava e não está no arco <strong>dos</strong> 36<br />
municípios; Altamira, que, se V.Exa. pegar os da<strong>dos</strong> do DETER, é o município que<br />
menos desmatou, tem mais de 90% preservado, e Paragominas, que tem toda uma<br />
história que precisa ser analisada. Qual foi a coincidência desse sorteio? Tailândia é<br />
administrada por um prefeito do PSDB; Altamira é administrada por um prefeito do<br />
PSDB e Paragominas é administrada por um prefeito do PSDB. Então, foi um<br />
sorteio, assim, muito dirigido.<br />
Sr. Ministro, a Operação Arco de Fogo, que foi mandada para lá através de<br />
uma força de repressão da chamada Força Nacional de Segurança, está custando<br />
para os cofres brasileiros e para to<strong>dos</strong> nós aproximadamente 250 milhões de reais.<br />
Com muito menos disso, Ministro, nós poderíamos fazer a força-tarefa de que<br />
estamos precisando no Estado, que é fortalecer o INCRA, para que ele faça o<br />
ordenamento fundiário. O INCRA, há mais de 20 anos, não concede um título na<br />
Amazônia. Aí o Ministério fica resolvendo o caso mas não resolve a causa, e a<br />
causa é a falta de ordenamento fundiário.<br />
Fazem reservas a cada dia no Estado do Pará e na Amazônia como um todo,<br />
como é o caso da Terra do Meio — companheiros de Altamira e São Félix do Xingu<br />
24
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL<br />
Nome: Conjunta - Agricultura,Pecuaria / Meio Ambiente<br />
Número: 1129/08 Data: <strong>16</strong>/<strong>07</strong>/<strong>2008</strong><br />
estão aí presentes, trazi<strong>dos</strong> pelo Deputado Giovanni Queiroz. Fazem várias reservas<br />
ecológicas sem demarcá-las. Ouvi outro dia V.Exa. pautando na mídia essa questão.<br />
Fazer reserva sem demarcar é não fazer reserva nenhuma! Aí querem que o<br />
boi pirata, que V.Exa. tão bem cunhou na mídia, respeite os limites de onde não dá<br />
limite! Ora, se o homem não sabe onde é que começa e termina a reserva, como é<br />
que o boi vai saber? Eu acho que não passa de conversa para boi dormir. E nós<br />
precisamos tomar providências imediatamente, para cunhar a frase de V.Exa.,<br />
senão a vaca vai para o brejo, e nós não queremos realmente que isso aconteça na<br />
Amazônia.<br />
Quando eu e outros Deputa<strong>dos</strong> propusemos e convidamos V.Exa. para vir a<br />
estas Comissões, Ministro, foi para a gente começar, na medida em que V.Exa.<br />
desconhece ou conhece muito pouco a Amazônia, a mostrar a história da região e<br />
perguntar de quem é a culpa e a responsabilidade. Esses são dois pontos que<br />
temos de diferenciar.<br />
Vejo aqui o documento de boas intenções que V.Exa. distribuiu agora e me<br />
lembro daquele treinador da seleção brasileira de futebol que conversou com o<br />
Garrincha e depois o Garrincha perguntou se ele já havia combinado com os<br />
alemães. Falta V.Exa. combinar com os alemães, Ministro. V.Exa. não combinou<br />
com ninguém. Não foi chamada a inteligência da Amazônia, não foi chamada a<br />
EMBRAPA, não foi chamado Emílio Goeldi, não foram chama<strong>dos</strong> aqueles que têm<br />
muita experiência na região. E aqui eu volto à culpa e à responsabilidade.<br />
Como V.Exa., sou agente do Governo. Tenho 35 anos de vida pública como<br />
agente do Governo. Fui para Altamira há 30 anos como agente de crédito rural da<br />
então ACAR-Pará e do Banco do Brasil. É aquilo que o Deputado Giovanni Queiroz<br />
disse ainda agora: nós, os agentes do Governo, para fazermos um financiamento,<br />
tínhamos que obrigar o produtor a desmatar no mínimo 50%, caso contrário não<br />
tinha acesso ao crédito. Esse mesmo Governo — estou falando do Governo<br />
brasileiro, e Governo para mim é impessoal — agora penaliza e criminaliza quem ele<br />
mesmo mandou desmatar. Nós, agentes do Governo...<br />
É preciso que V.Exa. pense há 30, 35 anos, quando da abertura daquelas<br />
rodovias, quando o Governo dizia: “integrar para não entregar”. Eu estou<br />
preocupado agora que estamos entregando porque nós não vamos integrar.<br />
25
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL<br />
Nome: Conjunta - Agricultura,Pecuaria / Meio Ambiente<br />
Número: 1129/08 Data: <strong>16</strong>/<strong>07</strong>/<strong>2008</strong><br />
Foi o Governo que mandou milhares e milhares de homens sem-terra para<br />
aquela terra sem-homens. Participei também desse projeto. E aí vem o Presidente<br />
João Figueiredo: “planta que o João garante”.<br />
Todas essas frases eloqüentes, to<strong>dos</strong> esses projetos passavam<br />
necessariamente pela abertura da floresta. Esses produtores foram para lá para<br />
seguir essa determinação, mas, de repente, são criminaliza<strong>dos</strong>. Desconhecem toda<br />
a história, um passado em que o próprio Governo nos obrigou — e a palavra certa é<br />
essa —a fazer a abertura da Transamazônica, da Santarém-Cuiabá e de tantas<br />
outras estradas que estão lá abandonadas pelos próprios governantes.<br />
Agora, no Governo atual, em torno de mil assentamentos foram feitos<br />
somente no Estado do Pará, de Conceição do Araguaia a Itaituba, em to<strong>dos</strong> os<br />
nossos municípios. Mais de 150 mil famílias foram assentadas para produzir. Com a<br />
agricultura familiar? Sim. Mas como se produz com a agricultura familiar se não se<br />
avançar sobre a floresta? Vão fazer o quê, meu Deputado Lira Maia? Plantar o quê?<br />
Em cima das castanheiras, da mata que está lá? Tinham que avançar sobre as<br />
florestas. Aliás, o próprio Governo, se não quisesse que eles avançassem sobre a<br />
floresta, não fazia financiamento para pequeno produtor, através do PRONAF e de<br />
outras linhas de crédito, para comprar boi, esse mesmo que V.Exa. chama hoje de<br />
boi pirata.<br />
Se não era para avançar sobre a floresta... Só se cria boi, Ministro, na<br />
Amazônia com pastagens. Só se faz pastagens se se avançar sobre a floresta. Por<br />
que imediatamente não se cerceou a possibilidade do crédito rural, através do<br />
PRONAF ou de outros projetos, para a agricultura familiar, impedindo-se de fazer e<br />
de ampliar a pecuária?<br />
No caso específico da pirotecnia que foi feita em São Félix do Xingu, na Terra<br />
do Meio, com a apreensão de 3.500 cabeças, o boi está lá, está no pasto, está<br />
morrendo. Fizeram um leilão e nós dissemos que esse leilão não ia acontecer. Não<br />
aconteceu por quê? Porque quem compra os bois são os frigoríficos. O frigorífico<br />
compra boi gordo, e lá os bois estão magros, estão morrendo de fome porque não<br />
tem ninguém os alimentando.<br />
É preciso que se saiba da realidade da Amazônia para que a gente possa<br />
avançar. Aí, ao invés de fortalecer as nossas instituições, vem o Governo e secciona<br />
26
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL<br />
Nome: Conjunta - Agricultura,Pecuaria / Meio Ambiente<br />
Número: 1129/08 Data: <strong>16</strong>/<strong>07</strong>/<strong>2008</strong><br />
o IBAMA, transforma o IBAMA em Fundação Chico Mendes. Já eram tão poucos os<br />
fiscais do IBAMA! Agora, além de poucos, ficaram fracos. Eles não têm condição<br />
alguma de fazer a orientação que o Ministério de V.Exa. dá, de comando de<br />
controle. É muito fácil fazer o comando, através de portarias ou resoluções desses<br />
órgãos, mas não há o controle. Por isso é que hoje V.Exa. vem aos jornais e mostra<br />
para to<strong>dos</strong> os brasileiros que o desmatamento na Amazônia avançou.<br />
Então, a política está errada. A política não está correta. Ela não vai para<br />
lugar algum. Primeiro, citando Garrincha novamente, nós precisamos combinar com<br />
aqueles que estão lá. São mais de 20 milhões de pessoas que irão para aonde?<br />
V.Exa. tem a sua vida no Rio de Janeiro. Nós temos a nossa lá, as nossas famílias,<br />
nosso patrimônio, a nossa história. E não vai ser com 126 leis — e V.Exa. tão bem<br />
disse aqui que o Brasil tem excesso de leis — que nós vamos realmente buscar o<br />
tão propalado desenvolvimento sustentável.<br />
A última do IBAMA para cima de nós, que é do Ministério de V.Exa., de to<strong>dos</strong><br />
nós... Estamos brigando, na Comissão do Meio Ambiente, pela flexibilização do<br />
Código Florestal, não para se avançar sobre a floresta, mas para recuperarmos as<br />
áreas degradadas. Apenas no Pará, há quase 20 milhões de áreas alteradas. Não<br />
precisamos derrubar mais nenhuma árvore para continuarmos nosso<br />
desenvolvimento.<br />
Vou concluir, Deputado Onyx Lorenzoni, e depois peço o meu tempo pela<br />
Comissão de Meio Ambiente, porque eu também propus, na semana passada, a<br />
vinda do Sr. Ministro a esta reunião conjunta.<br />
Sr. Ministro, quanto à questão específica, uma sugestão a V.Exa. Há duas<br />
amazônias hoje. Independentemente <strong>dos</strong> biomas e de todo esse tipo de parafernália<br />
com que queiram dividir a Amazônia, temos apenas duas. Ficamos com apenas<br />
duas, sem desconsiderar as outras que dependem do olhar ou da localização<br />
topográfica do observador, que define a Amazônia no seu entendimento. A gente<br />
transita imediatamente do inferno verde para o pulmão do mundo, do responsável<br />
pelo aquecimento global. Virou, realmente, todo mundo entendendo de Amazônia.<br />
Agora vem a última. Não podemos plantar floresta. Por quê? Porque o<br />
eucalipto é exótico, porque a teça do Giovanni é exótica, porque o dendê é exótico.<br />
27
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL<br />
Nome: Conjunta - Agricultura,Pecuaria / Meio Ambiente<br />
Número: 1129/08 Data: <strong>16</strong>/<strong>07</strong>/<strong>2008</strong><br />
Sr. Ministro, V.Exa. precisa saber, assim como nossos companheiros do<br />
IBAMA, que o zebu é exótico, ele veio da Índia, e nós somos os maiores<br />
exportadores de gado do mundo. É preciso saber, Sr. Ministro, que o dendê é<br />
exótico, e nós somos o segundo produtor do mundo. O café é exótico; a cana veio<br />
da Índia; a manga veio da Índia; o frango veio da França. Aliás, se for para usar o<br />
argumento exótico, eu queria recomendar ao IBAMA: não tragam o Greenpeace<br />
para a Amazônia, porque o Greenpeace é exótico.<br />
Muito obrigado, Sr. Presidente.<br />
O SR. PRESIDENTE (Deputado Onyx Lorenzoni) - Obrigado, Deputado<br />
Wandenkolk Gonçalves.<br />
Quero informar a V.Exas. que os Parlamentares da Comissão de Meio<br />
Ambiente — estão presentes os Deputa<strong>dos</strong> Gervásio Silva e Paulo Teixeira —, por<br />
ser convite, terão o prazo de 3 minutos. É regimental.<br />
Vamos conceder a palavra ao Deputado Gervásio Silva dizendo que haverá<br />
tolerância, bom senso e equilíbrio para que cada um possa apresentar suas razões.<br />
O SR. DEPUTADO PAULO TEIXEIRA - Sr. Presidente, pela ordem.<br />
Regimentalmente, V.Exa. teria de conceder o prazo de 10 minutos para os<br />
requerentes. O primeiro requerente falou por 24 minutos; o segundo falou por 14<br />
minutos. Portanto, V.Exa. teve uma complacência com os dois requerentes.<br />
Deputado.<br />
10 minutos.<br />
O SR. PRESIDENTE (Deputado Onyx Lorenzoni) - Caso de convocação, Sr.<br />
O SR. DEPUTADO PAULO TEIXEIRA - Mas, regimentalmente, eles teriam<br />
O SR. PRESIDENTE (Deputado Onyx Lorenzoni) - Caso de convocação.<br />
O SR. DEPUTADO PAULO TEIXEIRA - Eles teriam 10 minutos. V.Exa.<br />
dobrou, quase triplicou o tempo do primeiro requerente e deu um tempo a mais para<br />
o segundo requerente. O nosso acordo era no sentido de que seria concedido o<br />
mesmo tempo para os membros das duas Comissões.<br />
Se V.Exa. quiser usar esses dois critérios, acho que isso se afasta do<br />
equilíbrio que exige a Presidência desta Mesa. Vinte e quatro minutos.<br />
O SR. PRESIDENTE (Deputado Onyx Lorenzoni) - Deputado Paulo, quero<br />
resolver o problema e deixar V.Exa. tranqüilo, uma vez que são V.Exa. e o Deputado<br />
28
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL<br />
Nome: Conjunta - Agricultura,Pecuaria / Meio Ambiente<br />
Número: 1129/08 Data: <strong>16</strong>/<strong>07</strong>/<strong>2008</strong><br />
Gervásio Silva. Quero que V.Exa. entenda que não há nenhum interesse em criar<br />
prejuízo aos Parlamentares. Portanto, acordamos, por sugestão do Presidente,<br />
Deputado André de Paula, que sempre se pauta com absoluta prudência, equilíbrio<br />
e bom senso, que vamos dividir o tempo entre V.Exa. e o Deputado Gervásio Silva,<br />
concedendo o prazo de 10 minutos para cada um <strong>dos</strong> Srs. Parlamentares.<br />
Com a palavra o Deputado Gervásio Silva, pelo prazo de 10 minutos,<br />
conforme acordo firmado entre as duas Comissões.<br />
O SR. DEPUTADO GERVÁSIO SILVA - Agradeço ao Sr. Presidente,<br />
Deputado Onyx Lorenzoni, e ao Sr. Presidente da nossa Comissão, Deputado André<br />
de Paula.<br />
Sr. Ministro Carlos Minc, o meu Estado é Santa Catarina. Entendo<br />
perfeitamente as ponderações do Deputado Giovanni Queiroz e do Deputado<br />
Wandenkolk Gonçalves.<br />
Confesso, Sr. Ministro, que, desde a sua ascensão ao Ministério do Meio<br />
Ambiente, o Brasil ficou apreensivo e assustado com as suas declarações. Quando<br />
debatemos o requerimento aqui, o Deputado Edson Duarte, que também é autor,<br />
disse que queríamos saber se S.Exa. é Ministro do Meio Ambiente da Amazônia ou<br />
Ministro do Meio Ambiente do Brasil.<br />
Falando da Amazônia, gaúchos, catarinenses, paranaenses estão hoje na<br />
Amazônia a partir de uma política estimulada pelo Governo, e não estou falando do<br />
Governo que aí está. Os que desbravaram, os que foram para lá não podem receber<br />
hoje o tratamento que estão recebendo. Não há como.<br />
É evidente que nós somos a favor da preservação do meio ambiente. O<br />
desmatamento na Amazônia precisa ter um fim. É preciso ter uma política de<br />
governo para esta questão, mas temos de levar em consideração, como V.Exa.<br />
mesmo disse, que lá existem 25 milhões de pessoas.<br />
Quando nós tratamos dessas questões aqui na nossa Comissão, eu fico triste<br />
— estou nesta Comissão há 3 anos, estou na terceira legislatura como Deputado<br />
Federal — em ver o cinismo de determinadas pessoas que às vezes estão aqui na<br />
platéia quando se tratam de questões importantes.<br />
Há algum tempo, eu diria uns 2 anos atrás, quando se tratou <strong>dos</strong> trangênicos<br />
no Brasil, houve um envolvimento generalizado das ONGs. Não tenho nada contra<br />
29
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL<br />
Nome: Conjunta - Agricultura,Pecuaria / Meio Ambiente<br />
Número: 1129/08 Data: <strong>16</strong>/<strong>07</strong>/<strong>2008</strong><br />
as ONGs, mas temos de reconhecer que muitas ONGs no nosso País estão aqui a<br />
serviço de interesses internacionais e não <strong>dos</strong> interesses do Brasil. Não venham me<br />
dizer que o pano de fundo era o trangênico; o pano de fundo era a defesa da<br />
indústria de defensivos. É isso que existe.<br />
Eu não quero ser repetitivo porque os Deputa<strong>dos</strong> que me antecederam<br />
disseram e transmitiram o sentimento de to<strong>dos</strong> nós, que somos liga<strong>dos</strong> ao setor<br />
produtivo deste País, principalmente ao agronegócio. Ficou claro aqui que não<br />
existiu razão para a questão de ordem apresentada, porque eu acredito que, quando<br />
o Deputado Giovanni Queiroz disse que o senhor não entregaria os bois, é porque<br />
os bois vão ser mortos ou vão morrer de fome antes de serem entregues. Não é<br />
outra coisa e não é uma ameaça a ninguém.<br />
Agora, Sr. Ministro, quanto à plataforma administrativa que V.Exa. apresentou<br />
hoje nesta Comissão, não é apenas o que nós e cada brasileiro queríamos ouvir; é o<br />
que nós queremos que aconteça.<br />
Eu não vou utilizar nem metade do tempo que me foi destinado, mas eu quero<br />
dizer que, se V.Exa. conseguir implementar 20% ou 30% dessa plataforma, vai ser<br />
imortalizado como Ministro do Meio Ambiente deste País. Sem dúvida nenhuma. O<br />
grande problema é que V.Exa. vai conseguir adversários não no setor produtivo nem<br />
na bancada ruralista; V.Exa. vai conseguir adversários nas ONGs, que estão a<br />
serviço <strong>dos</strong> interesses internacionais, se implementar o que apresentou aqui para<br />
nós. Pode ter certeza disso. V.Exa. precisa se preparar para lidar com isso.<br />
Como eu disse que ia ser breve, Sr. Ministro, quero dizer ainda que, se V.Exa.<br />
diminuir a morosidade <strong>dos</strong> órgãos ambientais; se V.Exa. conseguir desburocratizar;<br />
se V.Exa. conseguir implantar regras claras; se V.Exa. conseguir estabelecer o<br />
diálogo que pretende com o setor produtivo, que está aberto a isso, pode ter certeza<br />
de que vai realmente fazer a maior gestão que o Ministério do Meio Ambiente deste<br />
País já teve.<br />
Agora, quero lhe desejar sucesso e que V.Exa. leve em consideração o que<br />
eu disse aqui. Àquele setor de amantes do meio ambiente que criam diariamente<br />
dificuldades para vender facilidades pelo País afora, V.Exa. tem de dar o mesmo<br />
tratamento que está dando a quem está desmatando a Amazônia. Eles são mais<br />
30
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL<br />
Nome: Conjunta - Agricultura,Pecuaria / Meio Ambiente<br />
Número: 1129/08 Data: <strong>16</strong>/<strong>07</strong>/<strong>2008</strong><br />
bandi<strong>dos</strong> do que aquele cidadão que saiu de Santa Catarina, que desbravou, que<br />
viveu no mato e hoje é um agropecuarista.<br />
Era isso o que queria a dizer, até porque eu entendo que os pronunciamentos<br />
aqui serão repetitivos e não pretendo sê-lo também.<br />
O SR. PRESIDENTE (Deputado Onyx Lorenzoni) - Muito obrigado, Deputado<br />
Gervásio Silva, pelas colocações. Tendo em vista a sua objetividade, que é sua<br />
característica, o seu tempo ainda não se esgotou.<br />
Com a palavra o Deputado Paulo Teixeira, pelo prazo acordado.<br />
O SR. DEPUTADO PAULO TEIXEIRA - Obrigado, Sr. Presidente, Deputado<br />
Onyx Lorenzoni.<br />
Sr. Ministro Carlos Minc, ouvi os três oradores que fizeram uso da palavra<br />
para debater com V.Exa., e o forte argumento por eles utilizado é o seguinte: há 30<br />
anos o Governo estimulou a ocupação da Amazônia e também financiou o corte de<br />
árvores. Esse o argumento foi fartamente usado neste debate.<br />
O importante é dizer que a política mudou, e como vamos dialogar a partir de<br />
uma nova política? Antes o bem era ocupação do Brasil, e, portanto, o avanço<br />
migratório na direção da Amazônia; hoje o bem é tecnológico. Vivemos numa<br />
sociedade que depende da ciência e tecnologia, do avanço da biotecnologia, e<br />
naquela região há um patrimônio biotecnológico. Vivemos numa sociedade que<br />
depende daquele patrimônio para o regime das chuvas, para o fornecimento de<br />
água, enfim, para uma série de questões. Então, mudou-se a política. Trata-se,<br />
portanto, de reverter essa política e, evidentemente, ter uma política completa para o<br />
tratamento da Amazônia. Essa mudança não é de hoje, mas já de algum tempo.<br />
Por exemplo, o financiamento é de uma legislação da Política Nacional do<br />
Meio Ambiente, do art. 12 da Lei n.º 6.938, de 1981, e ele só está sendo aplicado<br />
hoje, portanto com quase 30 anos de atraso. Mas essa política, repito, já mudou lá<br />
atrás. Ela vem mudando, agora há resistência à mudança dessa política, e é nessa<br />
medida é que temos de fazer o diálogo de hoje. Segundo o DETER, há um<br />
desmatamento de 1.000 quilômetros quadra<strong>dos</strong> ao mês. Isso não decorre da política<br />
de desmatamento de 30 anos atrás, mas da atual, que ainda não foi devidamente<br />
brecada. Outro importante aspecto: a Estação Ecológica da Reserva Terra do Meio<br />
é de 2006, ou seja, já faz 2 anos.<br />
31
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL<br />
Nome: Conjunta - Agricultura,Pecuaria / Meio Ambiente<br />
Número: 1129/08 Data: <strong>16</strong>/<strong>07</strong>/<strong>2008</strong><br />
Portanto, as políticas implementadas na região amazônica — e trago à<br />
reflexão <strong>dos</strong> nobres pares — fazem parte das leis aprovadas por nós,<br />
Parlamentares. São políticas aprovadas por nós mesmos e, portanto, é como o<br />
Parlamento e a sociedade brasileira concebem a Amazônia com os Parlamentares<br />
daquela região.<br />
A questão, portanto, do financiamento está discutida. Sobre a extração da<br />
madeira, esta Casa decidiu somente pelo seu manejo sustentável. Portanto, é um<br />
tema por nós decidido, assim como pela sociedade brasileira. Sobre a recuperação<br />
das florestas, a legislação foi fartamente modificada, mas ainda não foi cumprida.<br />
Nós temos algo a fazer, como, por exemplo, o debate sobre o pagamento <strong>dos</strong><br />
serviços ambientais, valorizar essas reservas, valorizar quem tem a mata, por meio<br />
da fixação de H2O no subsolo, controle de erosão, fixação de seqüestro de carbono.<br />
Precisamos debater sobre isso, Ministro. Essa é legislação interessa ao<br />
produtor, ao proprietário, ao concessionário daquelas áreas, assim como o tema das<br />
licenças ambientais.<br />
Eu quero discutir isso, a velha economia vai ser reprimida conforme a lei. A<br />
mesma pessoa que no Rio de Janeiro ataca o cidadão, ou ataca qualquer tipo de<br />
patrimônio, é punida, vai para as cadeias que o Deputado Domingos Dutra relatou à<br />
sociedade brasileira, as fétidas cadeias brasileiras. A mesma lei vai servir para quem<br />
estiver fora dela em qualquer região do Brasil. Portanto, eu acho que cabe aqui<br />
discutir o acerto dessa política e como se forma o Estado naquela região.<br />
Por exemplo, o Estado brasileiro é lento no licenciamento, seja Estado<br />
Federal, sejam esferas estaduais, e a política de promover o manejo sustentável<br />
poderia evitar o corte. Então, é preciso licenciar com mais rapidez, modernizar as<br />
áreas de licenciamento, aplicar a mesma legislação. Cada licenciador não poder ser<br />
um legislador. Portanto, está correta a política de modernização do licenciamento.<br />
O INCRA está com uma política de georreferenciamento naquela região para<br />
permitir uma regularização fundiária mais rápida, mais de acordo com as<br />
necessidades postas por aqui. Esse é o segundo aspecto que eu queria mencionar,<br />
o Estado ali está avançando.<br />
Um terceiro aspecto que quero aqui discutir é o seguinte: eu creio Ministro, e<br />
quero aqui trazer a nossa avaliação, na correção da sua política, que não está<br />
32
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL<br />
Nome: Conjunta - Agricultura,Pecuaria / Meio Ambiente<br />
Número: 1129/08 Data: <strong>16</strong>/<strong>07</strong>/<strong>2008</strong><br />
calcada apenas na punição. Quando V.Exa. discute com as cadeias produtivas;<br />
quando V.Exa. discute com os bancos, o BNDES, para conceder financiamento;<br />
quando V.Exa. discute preço mínimo para a economia de extrativismo; quando o<br />
Governo discute um plano de desenvolvimento para a Amazônia, essa política não<br />
está calcada apenas na punição; ela está calcada na conversão daquela velha<br />
economia numa nova economia.<br />
Eu acho que os Parlamentares da região amazônica deveriam reivindicar do<br />
Governo uma universidade tecnológica para biotecnologia, para a área de fármacos,<br />
para mecatrônica, para fazer uma exploração menos invasiva da floresta. Tem de<br />
fazer economia de alta tecnologia naquela região. Agora, não podemos desqualificar<br />
o que é papel do Estado diante de uma política de evitar que a predação continue.<br />
Esse é um bem da sociedade brasileira, que tem interesse nisso; a sociedade<br />
amazônica tem interesse, assim como os Parlamentares daquela região.<br />
Eu sei que, às vezes, é da lida parlamentar, é do diálogo parlamentar puxar a<br />
corda para ver se ela quebra no meio. Porém, precisamos, e aí eu acho que o<br />
Ministro tem toda a disposição, reunir o Governo para discutir com essa pessoas o<br />
que os Deputa<strong>dos</strong> aqui disseram; para discutir com os produtores, com os cientistas,<br />
com os agentes públicos, para calibrar essa política.<br />
Eu não estou dizendo que nenhuma política não exija calibragem; exige, e<br />
deve ser decisão do Ministro aprofundar o diálogo. Agora, não pode ser abrindo mão<br />
de colocar to<strong>dos</strong> dentro da legalidade. No Rio de Janeiro e na região amazônica<br />
to<strong>dos</strong> deverão agir conforme a lei, dentro de um mercado formal, de uma economia<br />
formal. Vamos trazer aquele senhor que está ali e dar-lhe todas as condições para<br />
que ele sobreviva e viva adequadamente, inclusive sua família, mas não podemos<br />
chegar a ele e iludi-lo no sentido de que, se ele continuar com uma atividade ilegal,<br />
terá sucesso. Não. A lei vai pegá-lo, essa força de segurança vai pegá-lo, o IBAMA<br />
vai pegá-lo, e ele vai responder porque é o mais fraco elo dessa corda.<br />
Termino dizendo: Ministro, acho que nesta sessão os nobres Pares que já<br />
falaram apontam a necessidade de uma aprofundamento do diálogo, diálogo esse<br />
que eu não vejo que seja abrindo mão de medidas como aquelas que V.Exa.<br />
anunciou. Mesmo o último que falou aqui, que me antecedeu, disse que, se o senhor<br />
cumprir sua pauta, essa é uma pauta que interessa à sociedade brasileira. Eu creio<br />
33
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL<br />
Nome: Conjunta - Agricultura,Pecuaria / Meio Ambiente<br />
Número: 1129/08 Data: <strong>16</strong>/<strong>07</strong>/<strong>2008</strong><br />
que a direção é o avanço dela, sua calibragem; fazer com que a Amazônia possa<br />
dar futuro aos seus 20 milhões de habitantes e cumprir o papel que tem para com<br />
toda a humanidade, o País, o futuro das gerações que vivem aqui e em outros<br />
lugares, que precisam daquela biodiversidade transformada em resultado, em<br />
produtos que possam enriquecer to<strong>dos</strong>, principalmente aquela população.<br />
O SR. PRESIDENTE (Deputado Onyx Lorenzoni) - Obrigado, Deputado Paulo<br />
Teixeira. V.Exa. cumpriu rigorosamente o tempo acordado. Cumprimento-o pela<br />
capacidade de síntese que exerceu.<br />
Bentes.<br />
O SR. DEPUTADO ASDRUBAL BENTES - Sr. Presidente, pela ordem.<br />
O SR. PRESIDENTE (Deputado Onyx Lorenzoni) - Deputado Asdrubal<br />
O SR. DEPUTADO ASDRUBAL BENTES - Sr. Presidente, eu não integro<br />
nenhuma das duas Comissões...<br />
O SR. PRESIDENTE (Deputado Onyx Lorenzoni) - V.Exa. está inscrito,<br />
Deputado? (Pausa.)<br />
É uma honra recebê-lo. A palavra está garantida a V.Exa.<br />
O SR. DEPUTADO ASDRUBAL BENTES - Era exatamente a indagação que<br />
eu gostaria de fazer a V.Exa...<br />
ordem...<br />
O SR. PRESIDENTE (Deputado Onyx Lorenzoni) - V.Exa. é o terceiro.<br />
O SR. DEPUTADO ASDRUBAL BENTES - ... se vai ser obedecida essa<br />
O SR. PRESIDENTE (Deputado Onyx Lorenzoni) - Vai ser.<br />
O SR. DEPUTADO ASDRUBAL BENTES - ... ou se vão ter preferência os<br />
membros da Comissão.<br />
O SR. PRESIDENTE (Deputado Onyx Lorenzoni) - V.Exa. é um Parlamentar<br />
da Amazônia, por quem eu tenho profundo respeito e admiração, sentimentos de<br />
que compartilha o Deputado André de Paula. Está garantida a palavra à V.Exa.<br />
Eu concedo a palavra agora ao Ministro...<br />
O SR. DEPUTADO GERSON PERES - Sr. Presidente, pela ordem.<br />
O SR. PRESIDENTE (Deputado Onyx Lorenzoni) - Pois não, Deputado.<br />
O SR. DEPUTADO GERSON PERES - Sr. Presidente, eu estou nas mesmas<br />
condições do Deputado Asdrubal Bentes.<br />
34
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL<br />
Nome: Conjunta - Agricultura,Pecuaria / Meio Ambiente<br />
Número: 1129/08 Data: <strong>16</strong>/<strong>07</strong>/<strong>2008</strong><br />
O SR. PRESIDENTE (Deputado Onyx Lorenzoni) - V.Exa. é sempre bem-<br />
vindo a esta Comissão. V.Exa. sabe disso.<br />
O SR. DEPUTADO GERSON PERES - Obrigado.<br />
O SR. PRESIDENTE (Deputado Onyx Lorenzoni) - Sr. Ministro, a palavra está<br />
concedida a V.Exa., por 5 minutos, com a tolerância necessária, para que responda<br />
aos questionamentos feitos.<br />
O SR. MINISTRO CARLOS MINC BAUMFELD - Bem, eu quero, inicialmente,<br />
agradecer as questões levantadas aos Srs. Deputa<strong>dos</strong>. Realmente elas têm muita<br />
substância e profundidade. Dificilmente vou conseguir responder a todas, no espaço<br />
de tempo que tenho nesta etapa, segundo o Regimento Interno, mas vou tentar pelo<br />
menos me ater às mais importantes, porque não é cabível que eu as ouça e não dê<br />
uma satisfação aos Deputa<strong>dos</strong>, que estão aqui cumprindo seu dever me<br />
questionando, como deve ocorrer no Parlamento.<br />
Mesmo com relação aos mais duros questionamentos, fiquem tranqüilos.<br />
Como Parlamentar, fiz isso a minha vida inteira. V.Exas. sabem que sei<br />
perfeitamente que não estão fazendo mais do que cumprir seu dever com seus<br />
eleitores, com seus Esta<strong>dos</strong>, com sua visão de país. Nenhuma dessas questões,<br />
mesmo as mais duras, de forma alguma, me sensibiliza, porque, como Parlamentar,<br />
não fiz outra coisa senão exatamente o que estão fazendo. Sintam-se à vontade,<br />
que também me sinto à vontade.<br />
Deputado Giovanni Queiroz, primeiro quero saudar V.Exa. pelo fato de ter<br />
declarado que desmatou muito, mas que agora está reflorestando muito. Espero que<br />
outros se mirem nesse bom exemplo. É disso que o País precisa, de pessoas que,<br />
tendo desmatado no passado, quando as idéias e as leis eram outras e os Governos<br />
estimulavam certas atitudes — V.Exa. falou isso, e é verdade —, em outros tempos<br />
reconhecem o valor econômico e ambiental, até para os recursos hídricos da floresta<br />
plantada.<br />
Em relação ao recadastramento e ao georreferenciamento, quero dizer a<br />
V.Exa. que nós, do Ministério do Meio Ambiente, temos acordo feito com o Governo<br />
do Pará, e vamos fazer o mesmo com Mato Grosso e outros Esta<strong>dos</strong>, para<br />
simplificar o georreferenciamento, da seguinte maneira: em vez de cada produtor<br />
fazer o seu, com GPS, que pode ser para alguns realmente caro, nós vamos<br />
35
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL<br />
Nome: Conjunta - Agricultura,Pecuaria / Meio Ambiente<br />
Número: 1129/08 Data: <strong>16</strong>/<strong>07</strong>/<strong>2008</strong><br />
estimular o georreferenciamento coletivo — um município inteiro, 200 produtores —,<br />
o que já barateia muito. Nós do Ministério nos comprometemos a entrar com 30%<br />
desse valor. Em vez de pagar 100, fazendo 200 de uma vez já cai para a metade o<br />
preço, e dessa metade, o Ministério está com um fundo no sentido de ajudar quem<br />
quer entrar na legalidade. Portanto, concordamos com a sua crítica. Estamos<br />
atentos. Temos a proposta de fazer em conjunto e arcando com alguma parte desse<br />
custo.<br />
Quanto ao exemplo que eu dei <strong>dos</strong> carros e <strong>dos</strong> produtores, eu quero dizer<br />
que V.Exa. tem razão. Não fui feliz no meu exemplo. O que eu estava querendo<br />
dizer é que às vezes um cidadão de bem compra um carro e não sabe. Realmente,<br />
a comparação não é perfeita. É verdade que, nesse caso, ele pode ser enquadrado<br />
como receptador. V.Exa. tem razão de ter se indignado. A minha intenção não foi<br />
ofender. Apenas quis dizer que uma pessoa às vezes faz uma coisa sem saber que<br />
para trás tem algo errado e ela acaba se responsabilizando. Mas, no caso <strong>dos</strong><br />
cabeças e cadeias, eles têm essa concepção, querem fazer isso, por isso estão<br />
assinando acordo e nós correndo atrás de crédito para garantir que isso possa<br />
acontecer.<br />
Quanto ao crédito, essa portaria do dia 29 de fevereiro do Conselho<br />
Monetário Nacional, do Banco Central, em primeiro lugar, se aplica aos produtores<br />
acima de 4 módulos rurais; os abaixo vão ter mais de 2 anos para mostrar<br />
regularidade. Só aí cerca de 60% <strong>dos</strong> produtores, que têm abaixo de 4 módulos<br />
rurais, não estão sujeitos a esse prazo do dia 1º de julho.<br />
Segunda questão: quem se regularizar após o dia 1º de julho passa a ter os<br />
mesmos direitos. Ou seja, essa data de 1º de julho não é fatídica no sentido de<br />
quem resolveu o assunto, por exemplo, 20 dias depois, não tem acesso ao crédito.<br />
Em terceiro lugar, quero lembrar a V.Exa., Deputado Giovanni Queiroz, que<br />
as medidas que o Conselho Monetário adotou, por sugestão do Ministro Mantega, se<br />
referem a leis que já deveriam ser cumpridas antes, ou seja, as pessoas têm que<br />
demarcar a sua reserva legal e têm que ter a regularização fundiária. Apenas essa<br />
medida de crédito era um certo “cumpra-se” de outras leis, ou seja, aquelas<br />
exigências que já constam em outras leis agora vão ser precondição.<br />
36
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL<br />
Nome: Conjunta - Agricultura,Pecuaria / Meio Ambiente<br />
Número: 1129/08 Data: <strong>16</strong>/<strong>07</strong>/<strong>2008</strong><br />
Na verdade, eu estou convencido de que a maior parte do agronegócio, <strong>dos</strong><br />
produtores, <strong>dos</strong> criadores, quer se legalizar. Eu acho errado, e tenho dito isso, que<br />
demonizar o agronegócio por causa de maus exemplos não é boa política, e facilita<br />
o infrator. Por essa razão e não por outra nós temos procurado representantes do<br />
agronegócio, como a ABIEC, a ABIOVE, o setor madeireiro e devemos procurar<br />
outros setores ainda.<br />
Talvez V.Exa. venha a ter uma surpresa agradável comigo, ver que sou uma<br />
pessoa do diálogo. Por quê? Com 49 dias já são 5 acor<strong>dos</strong>, 2 assina<strong>dos</strong>, um na<br />
sexta, e os outros 2 no início de agosto. Eu acho que não é pouco essa<br />
demonstração de diálogo com o setor produtivo de, em 49 dias, ter assinado 2<br />
acor<strong>dos</strong> com setores importantes e ter 3 em vias de serem assina<strong>dos</strong>.<br />
Quero dizer para V.Exa. que o nosso interesse não é criminalizar; é<br />
regularizar, traçar uma linha da legalidade ambiental. Aquele que tiver do lado de cá<br />
da linha tem que ter apoio, respeito e crédito, e quem insistir em descumprir tudo<br />
tem que ser tratado com o peso da lei.<br />
Não acho certo considerar truculenta a aplicação da lei. Se uma pessoa não<br />
aplica a lei, ela pode incorrer em prevaricação, ou seja, deixar de cumprir dever de<br />
ofício e não aplicar o que diz a lei. Nesse ponto, apenas discordo porque não acho<br />
isso, mas acho que isso deve ser dirigido, como V.Exa. mencionou na sua fala,<br />
àqueles que comprovadamente estão e não atingindo outros.<br />
Eu tive uma reunião com o IBAMA e a Polícia Federal no sentido de ter foco<br />
essa operação em realmente quem está descrumprindo a lei, e apoiar, através das<br />
operações do chamado Arco Verde, junto com outros Ministérios; garantir atividades<br />
alternativas, seguro desemprego, Bolsa Família etc., para não criar nenhum tipo de<br />
problema social nas áreas que estão sendo investigadas.<br />
Em relação ao extrativismo, eu concordo numa parte e discordo em outra de<br />
V.Exa. Concordo quando V.Exa. diz que uma boa parte está na miséria. Isso é<br />
verdade. Quanto a essa política de preços mínimos e outras atividades, nós<br />
garantimos para este ano 136 milhões para apoiar a comercialização e a formatação<br />
das atividades do extrativismo. Nós queremos exatamente superar essa situação<br />
que atinge, no Brasil, cerca de 7,5 milhões de pessoas, das quais 4 milhões na<br />
Amazônia. Concordo com V.Exa. quanto ao diagnóstico. Só que as medidas que<br />
37
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL<br />
Nome: Conjunta - Agricultura,Pecuaria / Meio Ambiente<br />
Número: 1129/08 Data: <strong>16</strong>/<strong>07</strong>/<strong>2008</strong><br />
estamos adotando é para fazer com que essas pessoas possam sobreviver com<br />
dignidade sem destruir a floresta. Para isso, é preciso medidas de crédito.<br />
Sabemos que no Acre e em vários outros Esta<strong>dos</strong> diminuiu muito, por<br />
exemplo, a produção da borracha. E uma das coisas que nós queremos é<br />
tecnologias, como uma chamada TECBOR, tecnologia da borracha desenvolvida<br />
aqui pela Universidade de Brasília. Em vez de fazer aquela bola borracha com<br />
equipamento que custa de 10 a 11 mil reais, que já se faça uma lâmina e se possa<br />
vender diretamente a uma fábrica de calçado, por exemplo, para fazer uma sola, que<br />
é uma coisa que agrega valor ao produtor.<br />
Vou passar rapidamente aos outros, pois fui informado pelo Presidente que o<br />
meu tempo está se aproximando do fim. Tenho pena de não poder responder com<br />
mais profundidade às questões. Vou passar rapidamente ao Deputado Wandenkolk<br />
Gonçalves, do Pará, que falou da importância do conhecimento da Amazônia.<br />
Eu quero dizer, Deputado, que quando tomei posse disse que não conhecia a<br />
Amazônia como o Rio de Janeiro, o que foi um ato de sinceridade. Mas eu quero<br />
dizer a V.Exa. que a minha tese de doutorado foi sobre a Amazônia, foi um estudo<br />
comparativo da colonização e da ocupação do Pará e de Rondônia, modelos<br />
completamente diferentes como, aliás, alguns Deputa<strong>dos</strong> mencionaram aqui. Acho<br />
que o meu conhecimento ainda é insuficiente. Conto com V.Exas. e com outros para<br />
aumentar o meu conhecimento. Não acho que seja um crime reconhecer que eu<br />
conheço mais o Rio de Janeiro do que a Amazônia, mas não desconheço. Quero<br />
conhecê-la muito mais. Por isso já estive em Belém na reunião <strong>dos</strong> Governadores e<br />
estarei lá outra vez nesta sexta-feira.<br />
Quero acrescentar, Deputado Wandenkolk, quanto aos municípios que V.Exa.<br />
mencionou, que aqui há os 10 parâmetros que o IBAMA usa para escolher esses<br />
municípios: desmatamento absoluto, tamanho médio, evolução, unidades, terras<br />
indígenas, adensamento de estradas, pólo madeireiro, foco de calor, florestas<br />
remanescentes. São 25 municípios de vários Esta<strong>dos</strong>, administra<strong>dos</strong> por prefeitos<br />
de diversos parti<strong>dos</strong>. Alguns argúem que, quando a gente intensifica num Estado, é<br />
por contradição com o Governador do Estado. Por acaso, o Estado do Pará é até<br />
administrado — V.Exa. é um adversário — por um Governador do PT, e poderia<br />
estar reclamando de estarmos fazendo muitas atividades no Pará, Estado<br />
38
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL<br />
Nome: Conjunta - Agricultura,Pecuaria / Meio Ambiente<br />
Número: 1129/08 Data: <strong>16</strong>/<strong>07</strong>/<strong>2008</strong><br />
administrado por uma pessoa do PT. Não vejo que isso proceda, até porque há<br />
critérios claros em relação a esse assunto.<br />
Por fim, quero dizer tanto a V.Exa. quanto ao Deputado Giovanni Queiroz,<br />
que fizeram referência à questão do boi pirata, que, na verdade, nesse caso<br />
concreto da Terra do Meio, já havia duas ordens judiciais, há mais de um ano, de<br />
juizes federais, para desocupação dessa atividade, e que o leilão organizado pela<br />
CONAB — Companhia Nacional de Abastecimento —, que faz parte do Ministério da<br />
Agricultura, foi autorizado por um juiz federal. Expressamente autorizado.<br />
O Ministério do Meio Ambiente não tomará nenhuma decisão ao arrepio da<br />
lei, do Poder Judiciário, do direito ao contraditório e à ampla defesa, em to<strong>dos</strong> os<br />
casos. E, nesse caso específico, única experiência desse jeito, havia 2 ordens<br />
judiciais para desocupação da terra, há mais de 1 ano, e não foram respeitadas.<br />
Tenho certeza de que to<strong>dos</strong> os Deputa<strong>dos</strong> aqui presentes, independente do partido,<br />
são favoráveis a que se cumpram as ordens do Poder Judiciário, garantindo a<br />
harmonia e a independência <strong>dos</strong> Poderes.<br />
O Ministério do Meio Ambiente cumprirá todas as ordens do Poder Judiciário,<br />
sem exceção, as que gostemos e as que a não gostemos, e ajudará a cumprir<br />
aquelas emanadas do Poder Judiciário, como essas, que foram ordens judiciais.<br />
Sou outra vez lembrado que meu tempo se aproxima do fim. Peço apenas<br />
para fazer rapidíssimas referências aos outros 2 Deputa<strong>dos</strong>, para não parecer que<br />
estou discriminando os Deputa<strong>dos</strong> da Comissão de Meio Ambiente, que foram<br />
exatamente os últimos dois que falaram e que têm que ter pelo menos alguns pontos<br />
referi<strong>dos</strong>. Primeiro, ao Deputado Gervásio Silva, do PSDB de Santa Catarina,<br />
membro da Comissão de Meio Ambiente.<br />
Agradeço a V.Exa. as considerações finais. Tenho certeza de que mais de<br />
30% do prometido vai ser cumprido rapidamente, porque V.Exa. é consciencioso.<br />
Corro atrás e, muito brevemente, V.Exa. vai ver. O “Destrava IBAMA” é amanhã, às<br />
10h. Alguns licenciamentos estavam trava<strong>dos</strong>, como o Gastal, de São Paulo, pessoa<br />
de terceiro escalão do Ministério — uma pessoa de terceiro escalão é contra, faz um<br />
parecer contrário e manda para o Ministério Público. Não pode uma pessoa resolver<br />
que em São Paulo isso não vai pegar. Não vai ser assim. Algumas coisas vão<br />
39
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL<br />
Nome: Conjunta - Agricultura,Pecuaria / Meio Ambiente<br />
Número: 1129/08 Data: <strong>16</strong>/<strong>07</strong>/<strong>2008</strong><br />
mudar, V.Exa. vai ter oportunidade de ver, como vai mudar a nossa relação com o<br />
setor de ciência e tecnologia e a universidade.<br />
Estive, segunda-feira, na SBPC, na UNICAMP, em São Paulo, e vi muitos<br />
pesquisadores, presidentes da SBPC, revolta<strong>dos</strong> com o setor ambiental, por causa<br />
da dificuldade em ter acesso às unidades e à pesquisa da biodiversidade. Vi que<br />
eles tinham razão, e vai mudar o procedimento. Coisas que demoravam 1 ano, como<br />
dar licença a um pesquisador, doutor da USP, da UFRJ, da Universidade Federal do<br />
Amazonas ou do Pará, posso dizer, terão o prazo reduzido para 1 mês. Afinal, uma<br />
coisa é a biopirataria, que tem de ser combatida, outra coisa é investigação,<br />
pesquisa e ciência, sem as quais não conseguiremos alternativas sustentáveis para<br />
a Amazônia e outros lugares. É preciso diferenciar biopirata e comunidade científica.<br />
Havia erros, e espero brevemente corrigi-los.<br />
Deputado Gervásio Silva, em relação à resistência das ONGs, à<br />
desburocratização, à indústria <strong>dos</strong> defensivos, concordo com o que V.Exa.<br />
mencionou. Acho também que não se pode endemoninhar as ONGs, porque<br />
algumas são sérias. Existe “ecopicaretagem”, como em todo lado, seja no Executivo,<br />
seja indústria ou no Parlamento, há seriedade e não-seriedade.<br />
Quero dizer que apoiei enfaticamente a posição do Governo Federal de exigir<br />
o recadastramento, em 60 dias, de todas as ONGs estrangeiras, para ver o que é<br />
seriedade e o que é safadeza.<br />
Por fim, agradeço ao Deputado Paulo Teixeira a compreensão. Estamos<br />
buscando o diálogo e vamos mudar muitas coisas. Nossa política terá continuidade<br />
no que se refere a respeitar as populações tradicionais e a Mata Atlântica.<br />
Quero aproveitar para dizer — não sei se foi o Deputado Wandenkolk<br />
Gonçalves quem falou sobre a Mata Atlântica do Rio de Janeiro — que, nos últimos<br />
5 anos, caiu em 70% o desmatamento da Mata Atlântica. No Rio de Janeiro, nos<br />
últimos 2 anos, conseguimos um desmatamento próximo de zero. Quando fui<br />
Secretário do Meio Ambiente, criamos 2 reservas e as estamos ampliando e<br />
plantando, com apoio do setor privado, 20 milhões de árvores ao longo <strong>dos</strong> rios, com<br />
doações da Vale do Rio Doce, da CSN, da CSA, da PETROBRAS, que estão<br />
participando do programa de parques fluviais, que visa recuperar as bacias<br />
hidrográficas plantando e com serviços florestais, pagando a pequenos agricultores<br />
40
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL<br />
Nome: Conjunta - Agricultura,Pecuaria / Meio Ambiente<br />
Número: 1129/08 Data: <strong>16</strong>/<strong>07</strong>/<strong>2008</strong><br />
e proprietários que plantem a mata ciliar — nós os chamamos de produtores de<br />
água. Se damos valor ao meio ambiente, temos de valorizar aquele produtor e<br />
aquele proprietário que mantêm a mata ciliar em pé. No Rio de Janeiro, estamos<br />
pagando a produtores e proprietários que mantenham a mata ciliar em pé.<br />
Antes de ter esgotado meu tempo, quero dizer ao Deputado Giovanni Queiroz<br />
e outros, que, no que diz respeito às indenizações, à compensação e à participação<br />
do setor privado — isso é importante —, quando Secretário do Rio de Janeiro,<br />
percebi que a compensação ambiental era decidida pelo Secretário do Meio<br />
Ambiente (quanto cobrava, para onde ia, como fiscalizava) e criei a <strong>Câmara</strong> de<br />
Compensação Ambiental, aberta à participação das prefeituras, da universidade e<br />
da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro — FIRJAN, que ali tem assento e<br />
voto. Vocês estão surpresos? Uma pessoa ecoxiita como eu, pela primeira vez, deu<br />
assento e voto aos empresários. O primeiro ponto da compensação ambiental foi a<br />
regularização, ou seja, o pagamento aos antigos proprietários daquelas áreas, sem<br />
o quê, de fato, não seriam instala<strong>dos</strong> os parques.<br />
Deputado Giovanni Queiroz, garanto a V.Exa. que isso que fiz no Rio de<br />
Janeiro será realizado esta semana, e não daqui 1 ano, dentro da minha linha de<br />
“ecoansiedade”. Esta semana, no Rio de Janeiro, a <strong>Câmara</strong> de Compensação<br />
Ambiental será aberta à iniciativa privada, que ali terá assento e voto, e serão<br />
garanti<strong>dos</strong> recursos para regularização e indenização das unidades criadas.<br />
Com isso, encerro. Peço desculpas por não ter respondido a várias questões<br />
relevantes. V.Exas. levantaram questões pertinentes, as quais me comprometo a<br />
esclarecer em outra oportunidade, concordando ou discordando, como faz parte da<br />
boa prática democrática do Parlamento.<br />
O SR. DEPUTADO PAULO TEIXEIRA - Sr. Presidente, pela ordem. Na<br />
verdade, eu tenho direito a réplica, mas gostaria de, respeitando os outros<br />
companheiros que estão inscritos, deixá-la para o final.<br />
O SR. PRESIDENTE (Deputado Onyx Lorenzoni) - Sem problema, Deputado.<br />
Quero fazer um apelo para to<strong>dos</strong> os Parlamentares. Temos 24 ou 25<br />
inscrições. Vamos trabalhar com 3 minutos.<br />
ordem.<br />
O SR. DEPUTADO WANDENKOLK GONÇALVES - Sr. Presidente, pela<br />
41
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL<br />
Nome: Conjunta - Agricultura,Pecuaria / Meio Ambiente<br />
Número: 1129/08 Data: <strong>16</strong>/<strong>07</strong>/<strong>2008</strong><br />
O SR. PRESIDENTE (Deputado Onyx Lorenzoni) - Sim.<br />
O SR. DEPUTADO WANDENKOLK GONÇALVES - Eu tenho de me preparar<br />
para o tema da securitização da dívida, que será motivo de embate durante a<br />
apreciação da medida provisória que deverá ser aprovada ou rejeitada agora à<br />
tarde. Então, vou ter de me retirar. Precisarei de 1 minuto para minha réplica. Se<br />
ultrapassar, V.Exa. cassa minha palavra.<br />
O SR. PRESIDENTE (Deputado Onyx Lorenzoni) - Como autor do<br />
requerimento de convocação, V.Exa. tem direito. Está concedida a palavra.<br />
O SR. DEPUTADO WANDENKOLK GONÇALVES - Eu quero dizer 3 coisas<br />
ao Sr. Ministro. A primeira, pegando o gancho da sua última fala: que, com a mesma<br />
presteza e determinação que teve para cumprir os manda<strong>dos</strong> judiciais, V.Exa. nos<br />
ajude a cumprir os mesmos manda<strong>dos</strong> judiciais relativos à reintegração de posse,<br />
principalmente do meu Estado.<br />
Quando mencionei a questão da Mata Atlântica, afirmei que não sabia onde<br />
V.Exa. estava quando desmataram. Nós queremos o mesmo tratamento para a<br />
Amazônia, onde fizeram o Arco do Fogo, numa truculência generalizada. Gostaria<br />
que fosse feito o Arco das Águas. Não vi derrubarem uma casa de socialite na beira<br />
do Atlântico, como fizeram com trabalhadores e empresários do Estado do Pará.<br />
Por fim, quero dizer a V.Exa. que prender boi pirata é fácil. Gostaria que<br />
V.Exa. nos ajudasse a prender quem também faz a depredação da dignidade, da<br />
ética e da auto-estima do povo brasileiro. Quero ver prenderem Daniel Dantas e sua<br />
manada.<br />
O SR. PRESIDENTE (Deputado Onyx Lorenzoni) - V.Exa., Sr. Ministro, é<br />
evidente, tem direito à tréplica.<br />
O SR. MINISTRO CARLOS MINC BAUMFELD - Vou tentar responder no<br />
mesmo tempo de V.Exa., que, desta vez, foi rapidíssimo.<br />
Quero dizer que, no Rio de Janeiro, no curto tempo em que fui Secretário,<br />
criamos Divisão de Demolições Ecológicas da Serra e demolimos várias mansões de<br />
ricos em Búzios, Ilha Grande e outras localidades. Mansões de mais de 600 metros<br />
que estavam sendo construídas em Costão Rochoso, ao desabrigo da lei, assim<br />
como em áreas de favela — não o conjunto da favela, aqueles crescimentos<br />
recentes e remanescentes da Mata Atlântica — foram abaixo. E o nosso lema era o<br />
42
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL<br />
Nome: Conjunta - Agricultura,Pecuaria / Meio Ambiente<br />
Número: 1129/08 Data: <strong>16</strong>/<strong>07</strong>/<strong>2008</strong><br />
seguinte: Acabou a pobreza. Nem pobre nem rico podem desmatar a Mata Atlântica.<br />
Enfim, colocamos abaixo mansões de milionários, interditamos o Jockey Club do Rio<br />
de Janeiro, que estava jogando cocô de cavalo na Lagoa Rodrigo de Freitas, e<br />
derrubamos várias casas de favelas que estavam se expandindo em cima de<br />
determinadas áreas, acabando inclusive com o turismo. Se a paisagem do Rio é<br />
desmontada, geram-se danosas conseqüências.<br />
E quanto à questão levantada por V.Exa. sobre o Daniel Dantas e outras,<br />
também torço para que os criminosos de colarinho branco sejam julga<strong>dos</strong> de forma<br />
mais célere. E sei que na <strong>Câmara</strong> e no Senado tramitam importantíssimas leis para<br />
encurtar os perío<strong>dos</strong> de julgamento e tornar até mais duras as punições para<br />
aqueles que roubam milhões e, muitas vezes, ficam impunes, conforme o<br />
sentimento de indignação externado por V.Exa., do qual eu partilho.<br />
O SR. PRESIDENTE (Deputado Eduardo Cunha) - Com a palavra o Deputado<br />
Lira Maia pelo tempo regimental de 3 minutos.<br />
O SR. DEPUTADO LIRA MAIA - Sr. Ministro, também sou Deputado do Pará.<br />
Infelizmente, tenho pouco tempo, e, por isso, dispensarei meus cumprimentos.<br />
Quero, inicialmente, reconhecer que a Pasta do Meio Ambiente é hoje<br />
bastante complexa, precisamos de fato ter conhecimento de causa para tratar <strong>dos</strong><br />
problemas.<br />
Ministro, a palavra mais pronunciada aqui na <strong>Câmara</strong> <strong>dos</strong> Deputa<strong>dos</strong> e neste<br />
Parlamento, depois de Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputa<strong>dos</strong>, é indiscutivelmente a<br />
Amazônia.<br />
A Amazônia tem hoje uma população, conforme foi dito por S.Exa., de 25<br />
milhões de habitantes, pouco mais de <strong>16</strong>% dela já está desmatada. Particularmente,<br />
discordo <strong>dos</strong> números divulga<strong>dos</strong>, e aproveito inclusive para sugerir que o Ministério<br />
mande checar esses da<strong>dos</strong>, porque o que existe de fato são manejos de pastagens<br />
feitos de forma empírica, ainda há queimadas, cujas imagens são captadas pelo<br />
satélite como novas derrubadas. Eu acho que na Amazônia não está havendo<br />
derrubada como tem sido veiculado.<br />
Devemos reconhecer que as pessoas estão fixadas há muitos anos naquela<br />
região, onde existem muitas áreas antropizadas. Então, não seria preciso derrubar<br />
mais árvore alguma para promover na Amazônia o desenvolvimento sustentável.<br />
43
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL<br />
Nome: Conjunta - Agricultura,Pecuaria / Meio Ambiente<br />
Número: 1129/08 Data: <strong>16</strong>/<strong>07</strong>/<strong>2008</strong><br />
Lógico que os dois setores que mais sentem qualquer ação são o agropecuário e<br />
madeireiro. Para ambos existem tecnologia e conhecimento científico que poderão<br />
balizar o desenvolvimento sustentável por nós tão reclamado.<br />
Desejo ainda sugerir, Sr. Ministro, e até implorar, que seja feito de fato o<br />
Zoneamento Econômico-Ecológico. As ações na Amazônia estão sendo realizadas<br />
todas na base do sentimento, ou seja, quem grita mais alto tem prioridade. A<br />
imprensa está dando mais importância a quem grita pela ecologia, mas nós também<br />
queremos preservar aquela região. To<strong>dos</strong> os Deputa<strong>dos</strong> da Amazônia querem<br />
preservá-la, somos parceiros para tanto, mas não podemos fazer isso em detrimento<br />
da população que ali vive. Nós temos o exemplo das associações de pequenos e<br />
microprodutores da Terra do Meio, que aqui estão. Inclusive quero sugerir, Sr.<br />
Ministro, se possível, que V.Exa. tivesse um tempo na sua agenda, hoje ou amanhã,<br />
para receber essas lideranças de Altamira e São Félix do Xingu, que tiveram muita<br />
dificuldade para vir a Brasília. Inclusive, há Parlamentares que podem acompanhá-<br />
los nessa visita. Eu acho importante que haja essa conversa com S.Exa. para que<br />
tome conhecimento <strong>dos</strong> problemas por eles enfrenta<strong>dos</strong>.<br />
Mais um adendo: em 1987, famílias começaram a chegar à Terra do Meio, e<br />
houve maior fluxo até o ano de 2002. Todas as famílias, Deputado André de Paula,<br />
já estavam lá quando, em 17 de fevereiro de 2005, foram criadas as áreas<br />
ecológicas. Então, de fato, desde aquele dia eles querem sair de lá, só não têm<br />
alternativa, não foi ninguém conversar e levar opção para eles. Quem tem problema<br />
lá dentro quer sair.<br />
Agora, fazemos um apelo para que haja o diálogo. E outra coisa, sabemos<br />
que essas desapropriações, esses confiscos estão vindo de processos anteriores.<br />
Mas que o Ministério que V.Exa. dirige possa interferir para que se dê um tempo<br />
enquanto se conversa e para que se dê opção àqueles produtores que estão loucos<br />
para sair de lá, mas não podem — e os bois que saem de lá estão morrendo no<br />
meio do caminho porque os produtores não têm onde colocá-los. Na Amazônia é<br />
verão e não vai chover até dezembro. Nós temos prazo suficiente para conversar.<br />
Talvez V.Exa. possa sugerir até ao Judiciário abrir esse espaço.<br />
Obrigado.<br />
44
Maia.<br />
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL<br />
Nome: Conjunta - Agricultura,Pecuaria / Meio Ambiente<br />
Número: 1129/08 Data: <strong>16</strong>/<strong>07</strong>/<strong>2008</strong><br />
O SR. PRESIDENTE (Deputado Onyx Lorenzoni) - Obrigado, Deputado Lira<br />
Concedo a palavra ao Deputado Valdir Colatto, Presidente da Frente<br />
Parlamentar da Agropecuária.<br />
O SR. DEPUTADO VALDIR COLATTO - Sr. Presidente, Sras. e Srs.<br />
Deputa<strong>dos</strong>, Sr. Ministro, eu tinha uns pãezinhos aqui, mas o pessoal levou to<strong>dos</strong>. A<br />
história é da Frente Parlamentar Ambientalista, que se alimenta na Frente<br />
Parlamentar da Agropecuária.<br />
Sr. Ministro, nós dizemos a nossos agricultores o seguinte: “Se o agricultor<br />
não planta, ninguém almoça, nem janta”. Estamos trabalhando para que haja comida<br />
na mesa, alimentação para o Brasil e para o mundo.<br />
Essa é uma luta dura <strong>dos</strong> nossos agricultores, de Sul a Norte, de Leste a<br />
Oeste, que precisamos respeitar. Eles são os heróis nacionais, e hoje estão sendo<br />
trata<strong>dos</strong> como bandi<strong>dos</strong>, pior do que os traficantes <strong>dos</strong> morros do Rio de Janeiro,<br />
cidade de V.Exa., onde a Polícia Federal e outras forças de segurança não são tão<br />
eficientes para combater o crime quanto o são para combater nosso agricultor, um<br />
trabalhador que produz.<br />
Essa sina de perseguição não se estende à área urbana. Por exemplo, às<br />
margens do Rio Tietê, que passa por dentro de São Paulo carregando aquela<br />
poluição toda, existem casas, prédios, a Lagoa Rodrigo de Freitas, no Rio de<br />
Janeiro, sua terra, o Corcovado, o Pão de Açúcar, o Morro da Urca, que V.Exa.<br />
conhece muito bem — eu não vejo ninguém brigar por isso —, e as favelas do Rio<br />
de Janeiro, to<strong>dos</strong> estão em áreas de preservação permanente.<br />
Sr. Ministro, ouvimos V.Exa. falar que existem leis que pegam e que não<br />
pegam e leis que podem e que não podem. Temos lei para o trânsito, e morrem 35<br />
mil brasileiros por ano — pega e não pega; temos 250 mil manda<strong>dos</strong> de prisão, e as<br />
pessoas não são presas. E o nosso agricultor, que quer plantar, produzir, é<br />
castigado.<br />
Aqui, não vou entrar nos detalhes sobre os quais to<strong>dos</strong> os Deputa<strong>dos</strong> falaram,<br />
mas temos princípios ambientais erra<strong>dos</strong>. V.Exa. conhece melhor do que eu a<br />
questão ambiental e deve saber como o mundo a trata. Tenho aqui — depois quero<br />
passar para V.Exa.— registros que mostram como são ocupadas as terras na<br />
45
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL<br />
Nome: Conjunta - Agricultura,Pecuaria / Meio Ambiente<br />
Número: 1129/08 Data: <strong>16</strong>/<strong>07</strong>/<strong>2008</strong><br />
França, nos Esta<strong>dos</strong> Uni<strong>dos</strong> e em outros países, e registros que mostram como são<br />
ocupadas as terras aqui no Brasil, em Londrina, Ribeirão Preto, Rio Verde e em<br />
cidades de outros Esta<strong>dos</strong> que têm lavoura de café, laranja em áreas, sim, pela lei,<br />
de preservação permanente — APP. Estão dentro delas.<br />
Se levarmos em conta a legislação como está, é aqui que quero chamar a<br />
atenção de V.Exa.... V.Exa. tem os números da agricultura brasileira? Sabe o que é<br />
o agronegócio brasileiro? Vou lhe dar um exemplo: se repusermos a área de reserva<br />
legal, que é de apenas 20%... No Sul, só no Paraná, um estudo revela que a<br />
reposição da reserva legal, que seriam 3,2 milhões de hectares, custariam 50,6<br />
bilhões de reais. V.Exa. tem idéia do que representam esses números, Sr. Ministro?<br />
Estive lá, no Estado do Deputado Sarney Filho. Foi estendida a área da<br />
SUDAM, para o pessoal pegar financiamento. Então, a Amazônia Legal atingiu o<br />
Maranhão. Deram um tiro no pé! Agora, áreas com 80% que abriu, têm que voltar<br />
para 20%. E daí?<br />
O nosso querido colega, Zequinha Sarney, tem que se explicar para os seus<br />
conterrâneos, que querem o couro dele. Fui lá e ouvi <strong>dos</strong> agricultores: “Como você<br />
fez isso? E agora, Zequinha Sarney, como nós vamos resolver isso?” O sujeito com<br />
75 anos diz que o obrigaram a desmatar 80% e agora dizem que tenho que deixar<br />
80% de reserva. Onde ele vai buscar isso? Vai desistir do negócio? Vai vender<br />
vacas, tratores? Como ele vai viabilizar isso? E isso, Sr. Ministro, não ocorre apenas<br />
nas grandes áreas.<br />
Está aqui o Deputado Zonta, de Santa Catarina. Oitenta e nove por cento das<br />
propriedades abaixo 50 hectares; 80% das propriedades abaixo de 15 hectares. E<br />
aqui precisa ter o zoneamento econômico. Lógico, cada Estado tem autonomia para<br />
fazer isso de acordo com a sua realidade, com a sua topografia e cultura. Se<br />
aplicarmos hoje a lei, Santa Catarina terá de fechar 80% das propriedades; apenas<br />
na mata ciliar, 35 mil propriedades terão de ser fechadas, Sr. Ministro, porque são<br />
áreas de preservação permanente por causa da declividade, mata ciliar, topo de<br />
morro. E aí eu queria pedir a V.Exa.: cuidado com a regularização da Mata Atlântica.<br />
V.Exa. vai inviabilizar Santa Catarina, se não discutir com a sociedade. Em to<strong>dos</strong> os<br />
Esta<strong>dos</strong> é assim.<br />
46
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL<br />
Nome: Conjunta - Agricultura,Pecuaria / Meio Ambiente<br />
Número: 1129/08 Data: <strong>16</strong>/<strong>07</strong>/<strong>2008</strong><br />
Sr. Ministro, temos de mudar essa questão. Não é possível que o Brasil — e<br />
estão os exemplos — faça reserva legal em cada propriedade. Como vai fazer isso?<br />
Qual o engenheiro que vai ganhar 20% de área?<br />
Temos que fazer reserva de unidade de conservação, sim, porque são 115<br />
milhões de hectares de área, mas essas unidades de conservação é que têm de<br />
manter os biomas, Sr. Ministro, e não cada propriedade. Nem Jesus Cristo fez isso.<br />
Como é que vai fazer a reserva de 20%, 80% em cada propriedade? Não é possível;<br />
temos que fazer essa compensação acontecer para valer.<br />
Por último, quero entregar ao Sr. Ministro um processo contra o Sr. Valdir<br />
Colatto e outros, em Rondônia. Lá, tenho uma área de terra de aproximadamente mil<br />
hectares, com escritura desde 1978. Eu preservei a mata, Sr. Ministro, porque eu<br />
queria fazer agricultura, pecuária, engenheiro agrônomo que sou, para levar o<br />
progresso para lá. O IBAMA não me deixou. Mas preservei. Dali a pouco, entraram<br />
os madeireiros, roubaram a minha madeira, mas ainda há mata superior. Agora, os<br />
sem-terra invadiram a minha área e derrubaram tudo. Já denunciei isso 10 vezes ao<br />
IBAMA e ninguém tomou providência.<br />
O INCRA está me processando, está querendo tomar a minha propriedade<br />
porque não desmatei, Sr. Ministro. Aqui estão os autos do processo que eu queria<br />
que V.Exa. levasse para ver o que acontece neste País. Quem é brasileiro, de um<br />
jeito ou de outro, se tem direito ou não tem. Não queria citar esse caso aqui, mas<br />
sou obrigado para mostrar a incoerência que existe em 2 órgãos públicos federais.<br />
Vou entregar uma cópia, para que V.Exa. possa verificar a veracidade em Vilhena,<br />
Rondônia. O Deputado Moreira Mendes já falou sobre esse assunto.<br />
Muito obrigado.<br />
O SR. PRESIDENTE (Deputado Onyx Lorenzoni) - Obrigado, Deputado Valdir<br />
Colatto pela compreensão.<br />
Com a palavra o Deputado Moreira Mendes.<br />
O SR. DEPUTADO MOREIRA MENDES - Srs. Presidentes, Sr. Ministro, Srs.<br />
Deputa<strong>dos</strong>, quero começar dizendo que sou de Rondônia, um Estado que foi<br />
colonizado oficialmente pelo INCRA em 1970, um Estado que tem hoje cerca de 108<br />
mil propriedades rurais, das quais 100 mil são pequenas propriedades. Vou repetir:<br />
feito pelo INCRA e, naquela época, para receber o título definitivo, o cidadão era<br />
47
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL<br />
Nome: Conjunta - Agricultura,Pecuaria / Meio Ambiente<br />
Número: 1129/08 Data: <strong>16</strong>/<strong>07</strong>/<strong>2008</strong><br />
obrigado a desmatar. Hoje, Sr. Ministro, existem em Rondônia milhares — não<br />
apenas um — de Manoel Cândido, como esse que vimos do Pará; pessoas que<br />
estão abandonadas, que vieram para o Estado a chamado do Governo. O que se<br />
cometeu contra esse povo do Pará, do Mato Grosso, de Rondônia é um estelionato<br />
oficial praticado pelo Governo. Não é possível em um determinado momento fazer<br />
de uma forma e depois fazer de outra.<br />
Mas V.Exa. disse — eu também concordo — que o mundo mudou, as regras<br />
mudaram, a legislação mudou, mas é preciso separar o joio do trigo. É isso que<br />
Governo Federal não tem compreendido, não tem feito essa diferenciação,<br />
separando aqueles que desmatam, aqueles que estão descumprindo a lei. E aqui<br />
foram da<strong>dos</strong> vários exemplos, mas essas pessoas não são punidas. E aqueles que<br />
verdadeiramente estão lá produzindo, que foram para lá porque o governo chamou,<br />
estão sendo puni<strong>dos</strong>.<br />
Quero falar da Operação Arco de Fogo. Ela foi um desastre, passou por mais<br />
de 4 municípios do meu Estado deixando um verdadeiro rastro de destruição: acaba<br />
com empregos, fecha serrarias, apreende maquinário, prende pessoas e incentiva a<br />
prostituição. Eu, pessoalmente, constatei isso no Município de Cujubim, no meu<br />
Estado. Os policiais que estão lá, dessa tal de Força Nacional e da Polícia Federal.<br />
Agora eu pergunto, Sr. Ministro, foram milhares de empregos, com carteira assinada,<br />
perdi<strong>dos</strong>, joga<strong>dos</strong> fora: Qual a proposta concreta que o Governo deixou para<br />
substituir aqueles empregos? O que de verdadeiramente o Governo que foi lá, que<br />
fechou serrarias, que prendeu, que tomou caminhão, tomou tratores, o que ele<br />
deixou de projetos concretos para substituir isso? Nada, absolutamente nada. Estão<br />
lá milhares de pessoas desempregadas. Então, o Governo brasileiro — e eu diria até<br />
que boa parte do Brasil — estão equivoca<strong>dos</strong>; o Governo e parte do povo brasileiro,<br />
com relação à Amazônia. As coisas não podem ser feitas na Amazônia como estão<br />
fazendo. Nós, da região, já temos consciência da nossa responsabilidade com o<br />
meio ambiente. Pode acreditar V.Exa. A maioria das pessoas que vivem lá são de<br />
bem e têm hoje consciência, mas não é dessa forma, não é na chibata que vai<br />
resolver esse problema. O Governo precisa realmente estender a mão a essas<br />
pessoas e sentar com elas à mesa para resolver. Eu vi o Presidente da República<br />
anunciando o Plano Safra, falando de financiamento para reflorestamento. Que<br />
48
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL<br />
Nome: Conjunta - Agricultura,Pecuaria / Meio Ambiente<br />
Número: 1129/08 Data: <strong>16</strong>/<strong>07</strong>/<strong>2008</strong><br />
financiamento coisa nenhuma! Tem é que dar a fundo perdido. Quem quiser manter<br />
a Amazônia em pé, esse mundo todo que fala, tem é que botar dinheiro, Sr. Ministro;<br />
tem que ir lá pagar esses chama<strong>dos</strong> serviços de compensação ambiental, tem que<br />
pagar o produtor para ele ser parceiro do meio ambiente; agora, eles não podem<br />
imaginar que vão resolver o problema apenas botando Polícia, Exército, Marinha,<br />
Aeronáutica, Força Nacional, Polícia Federal. Não, isso não resolve o problema; não<br />
há como resolver. As pessoas precisam viver.<br />
Disse o Ministro Mangabeira Unger, com muita propriedade aqui, nesta<br />
Comissão, que enquanto não se valorizar, não se der um sentido econômico aos<br />
milhões de brasileiros que vivem naquela região... e são mais de 25 milhões, dito por<br />
V.Exa; disse o Sr. Ministro que, se os mais de 25 milhões de brasileiros que vivem<br />
na Amazônia não tiverem oportunidades econômicas, eles serão impeli<strong>dos</strong> a uma<br />
atividade econômica desordenada que levará ao desmatamento. É verdade. Mas<br />
não podemos imaginar que essa atividade econômica seja o cidadão indo ao meio<br />
do mato tirar leite da seringueira. Isso é conversa; isso não existe. Quem está no<br />
mato quer vir para a cidade e quem está na cidade não volta para o mato.<br />
Então, Sr. Presidente, Sr. Ministro, o Governo tem que realmente botar a mão<br />
no bolso. E não é só com conversa, Sr. Ministro, lamento. Esse é o sentimento que<br />
eu tenho, e é o mesmo da maioria da população da Amazônia. Eu não tenho<br />
nenhuma pergunta a fazer; só queria registrar isso.<br />
O SR. PRESIDENTE (Deputado Onyx Lorenzoni) - Concedo a palavra ao Sr.<br />
Deputado Mendes Thame.<br />
O SR. DEPUTADO ANTONIO CARLOS MENDES THAME - Sr. Presidente,<br />
Sras. e Srs. Deputa<strong>dos</strong>, Sr. Ministro, nós hoje recebemos nesta Comissão mais um<br />
rol de boas idéias e de pretensas ações governamentais para a Amazônia. Somando<br />
tudo o que já ouvimos aqui, colocações que V.Exa. fez, que fez o Sr. Ministro<br />
Mangabeira, vemos que há um conjunto, um rol de idéias para enfrentar o problema.<br />
No entanto, o que sentimos é que algumas dessas idéias são conexas; outras são<br />
soltas, ainda falta conectá-las, mas dificilmente o resultado de tudo isso será o<br />
esperado se nós não tivermos um plano de ação para enfrentar o mercado. O<br />
mercado. Não é só porque, no passado, o próprio Governo estimulou que fizessem o<br />
49
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL<br />
Nome: Conjunta - Agricultura,Pecuaria / Meio Ambiente<br />
Número: 1129/08 Data: <strong>16</strong>/<strong>07</strong>/<strong>2008</strong><br />
desflorestamento, a derrubada de 50%. Hoje, o mercado para os produtos tira<strong>dos</strong> da<br />
floresta, a madeira tirada, manda no Governo.<br />
Só há uma forma de enfrentar o mercado: com ações de Governo. Não existe<br />
outra forma; se não, vai ser um bom negócio derrubar florestas. Ou se concentra<br />
nisso ou todas essas ações dificilmente vão chegar aos 30%, conforme disse o<br />
Deputado Gervásio Silva, se não houver uma linha de ação. E o Governo, para<br />
enfrentar, para transformar atitudes ecologicamente convenientes e corretas em um<br />
bom negócio para superar o mercado, as forças de mercado, só vai ter êxito se<br />
trabalhar concomitantemente em 3 frentes: legislação, investimentos públicos e<br />
conscientização.<br />
Se fizer essas coisas de forma solta, daqui a pouco vai ter gente muito criativa<br />
que vai lhe dar mais umas 10 ou 20 idéias, todas positivas. Mas o resultado não será<br />
factível, mensurável, palpável.<br />
Vamos ao primeiro ponto: legislação. O Governo não tem uma legislação de<br />
incentivo para criar uma economia da floresta, para que uma árvore em pé valha<br />
mais do que uma árvore deitada.<br />
O Governo não apóia e já existem projetos aqui tramitando, aprova<strong>dos</strong> nas<br />
Comissões. Inúmeros. Se essa legislação fosse aprovada, o seu trabalho, o trabalho<br />
do Mangabeira e do Governo diminuiria muito, porque seria uma forma de<br />
neutralizar o mercado, às vezes sem gastar nada, só diminuindo a ganância do<br />
Governo de arrecadar, dando isenções, tributos.<br />
Segundo, fala-se tanto em aproveitar o patrimônio genético. Mas não se pode<br />
patentear. Por que o Captopril foi patenteado no exterior, e não aqui, e deu origem<br />
ao Capoten? Porque a nossa legislação não permite que a gente patenteie aquilo<br />
que é advindo de descobertas cuja origem são seres vivos.<br />
Nós temos de mudar a legislação. Portanto, há um imenso trabalho a ser<br />
feito. Não tenho mais tempo para falar. Em uma nova oportunidade, voltarei a dar as<br />
minhas idéias a respeito.<br />
Muito obrigado.<br />
O SR. PRESIDENTE (Deputado Onyx Lorenzoni) - Com a palavra o Deputado<br />
Rogério Silva.<br />
O SR. DEPUTADO ROGÉRIO SILVA - Obrigado, Sr. Presidente.<br />
50
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL<br />
Nome: Conjunta - Agricultura,Pecuaria / Meio Ambiente<br />
Número: 1129/08 Data: <strong>16</strong>/<strong>07</strong>/<strong>2008</strong><br />
Sr. Ministro Minc, na semana retrasada tivemos uma audiência com V.Exa.,<br />
junto com a bancada do Mato Grosso. Naquele momento, vi V.Exa. abrir algumas<br />
luzes. Eu lhe fiz uma pergunta sobre a questão da listagem que pediu V.Exa. ao<br />
IBAMA sobre os frigoríficos da Amazônia.<br />
Antes de comentar sobre esse assunto, quero fazer minhas as palavras do<br />
Deputado Giovanni Queiroz. Sou do Norte do Mato Grosso. Quero dizer ao Sr.<br />
Ministro, aos membros desta Comissão e do Congresso Nacional que os acor<strong>dos</strong><br />
que V.Exa. tem assinado com Governadores ou com alguns segmentos não<br />
traduzem o sentimento da população que está sofrendo com as forças nacionais,<br />
com a Polícia Federal e com o IBAMA. Não traduzem o sentimento.<br />
O que está acontecendo? Vou falar da listagem que V.Exa. fez <strong>dos</strong><br />
frigoríficos. Vamos ter a vacinação contra a aftosa, a brucelose. Quero dizer a<br />
V.Exa. que há aquele cidadão que não tem acesso à compra de vacinas para um<br />
<strong>dos</strong> nossos maiores rebanhos. Onde vai parar o mercado de carnes do Brasil? Onde<br />
vamos chegar?<br />
Criaram os parques nacionais sem fazer discriminatória, sem ver se lá dentro<br />
existiam pessoas. E a nossa Constituição institui o direito de propriedade, o direito<br />
de posse. Porém, através de decreto, criou-se a Terra do Meio, o Parque Nacional<br />
do Juruena, a Reserva Indígena de Apiacás, com as famílias lá dentro, com suas<br />
propriedades construídas.<br />
população.<br />
Esses acor<strong>dos</strong> têm que ser feito em debates, em audiências públicas com a<br />
Afora a Força Nacional, to<strong>dos</strong> estão com vontade de assinar o acordo de<br />
preservação da Amazônia, de conversar com V.Exa., cara a cara, conforme está<br />
conversando conosco, de assinar compromissos de preservação da Amazônia e<br />
também de preservação do ser humano.<br />
Alta Floresta, minha cidade, tinha 15 delinqüentes de pequenos delitos. Hoje<br />
tem 130 delinqüentes na cadeia pública. Só não tem mais porque não cabe. A<br />
cadeia tem capacidade para 44 presos. E não só em Alta Floresta, em toda a região,<br />
porque o Ministério do Meio Ambiente, com a Polícia Federal, o IBAMA e a Força<br />
Nacional, está em ação.<br />
51
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL<br />
Nome: Conjunta - Agricultura,Pecuaria / Meio Ambiente<br />
Número: 1129/08 Data: <strong>16</strong>/<strong>07</strong>/<strong>2008</strong><br />
Eu gostaria que houvesse bom senso. Estamos de braços abertos, queremos<br />
conversar com o Governo e com V.Exa. A população está de braços abertos.<br />
Sr. Presidente, o alerta feito pelo Deputado Giovanni Queiroz é muito mais do<br />
que as pessoas estão pensando. A população da Amazônia é de 25 milhões de<br />
habitantes, porém há mais do que isso, amigos e parentes, fora da Amazônia.<br />
Muito obrigado.<br />
O SR. PRESIDENTE (Deputado Onyx Lorenzoni) - Obrigado, Deputado<br />
Rogério Silva.<br />
Com a palavra o Deputado Cezar Silvestri, para encerrar o bloco.<br />
O SR. DEPUTADO CEZAR SILVESTRI - Sr. Presidente, como disse o<br />
Ministro, existem leis que pegam e outras que não. V.Exa. foi Deputado Estadual por<br />
20 anos e sabe muito bem que as leis que não são fruto do diálogo, do debate e do<br />
bom senso acabam não pegando. São as chamadas “leis burras”.<br />
Eu tenho algumas preocupações. Levantei vários tópicos, mas, com certeza,<br />
não será em 3 minutos que poderei discutir e levantar to<strong>dos</strong> os problemas.<br />
Entretanto, gostaria de dar algumas sugestões ao Sr. Ministro, principalmente com<br />
relação à Lei da Mata Atlântica, que envolve diretamente o meu Estado, o Paraná.<br />
Fui um <strong>dos</strong> membros da Comissão Especial criada para debater e votar a Lei<br />
da Mata Atlântica, que estava parada no Congresso há mais de 14 anos. Houve veto<br />
a um artigo (art. 46), pelo qual lutamos muito e que foi fruto de consenso, o qual<br />
dizia que as pessoas que fossem proibidas de utilizar as áreas que preservaram<br />
seriam indenizadas. Entretanto, hoje, no Paraná, em Santa Catarina, no Rio Grande<br />
do Sul e em diversos outros Esta<strong>dos</strong> da Federação, as pessoas que preservaram<br />
estão sendo punidas, exatamente na contramão do que os países desenvolvi<strong>dos</strong><br />
pregam, ou seja, incentivar as pessoas que preservam, inclusive retribuindo-as<br />
financeiramente.<br />
O meu município tem 46% de área preservada. Acho que é um <strong>dos</strong><br />
municípios que têm maior área preservada em todo o Paraná. Mas os proprietários<br />
estão apavora<strong>dos</strong>. Eles não podem fazer absolutamente nada. Não há mercado<br />
para suas áreas. Não as podem vender, porque ninguém quer comprar, já que não<br />
podem ser utilizadas. Então, qual é a nossa idéia? No Paraná, a compensação<br />
ambiental tem de ser feita dentro da mesma microbacia. Acredito que deveríamos<br />
52
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL<br />
Nome: Conjunta - Agricultura,Pecuaria / Meio Ambiente<br />
Número: 1129/08 Data: <strong>16</strong>/<strong>07</strong>/<strong>2008</strong><br />
estender para dentro do Estado, fazendo com que essas áreas sejam valorizadas, a<br />
fim de que o proprietário que as preservou possa vendê-las. Isso ajudaria o<br />
Governo, que deixaria de ter de indenizar essas propriedades. A única coisa que se<br />
poderia colocar na Lei da Mata Atlântica é que, no caso de essa propriedade ser<br />
fruto dessa compensação, o proprietário teria de doá-la ao Estado, que a<br />
transformaria em área de preservação. E, logicamente, o Estado teria a<br />
responsabilidade de preservá-la.<br />
Com relação ao georreferenciamento, tema extremamente importante, o<br />
Ministro disse que o Ministério está propenso a dele participar contribuindo com<br />
30%. Nós estamos encontrando um problema seriíssimo hoje. Para conseguir fazer<br />
o georreferenciamento, no Paraná, tem-se de ficar em torno de 1 ano e meio no<br />
INCRA. Mais do que isso, o INCRA exige que haja a anuência <strong>dos</strong> confrontantes e,<br />
muitas vezes, não se consegue encontrar o confrontante. Imaginem na Amazônia,<br />
onde um determinado proprietário vive em São Paulo e outro no Rio de Janeiro,<br />
como se vai pegar a assinatura do confrontante? Acho que isso tinha de sair da<br />
regulamentação.<br />
E mais: os cartórios não estão aceitando registar as áreas georreferenciadas<br />
aprovadas pelo INCRA. Tem de existir um acordo entre o INCRA e os cartórios, no<br />
sentido de que, no momento em que a área georreferenciada for reconhecida pelo<br />
INCRA, os cartórios a registram.<br />
Ainda, temos ouvido falar muito na venda ilegal de madeira de árvores que<br />
inclusive já estão em extinção. Eu lembro que há muitos anos, no Paraná,<br />
queríamos reduzir o ICMS da carne bovina e o Secretário da Fazenda disse que não<br />
poderíamos fazer isso, porque os frigoríficos são os maiores sonegadores. Eu<br />
perguntei ao Secretário quantos frigoríficos havia no Paraná. Eram 15. Então,<br />
bastava colocar um carro da fiscalização em frente a cada frigorífico que se<br />
resolveria o problema.<br />
Da mesma forma, acho que, se colocarmos funcionários do IBAMA de plantão<br />
nas rodovias, para ver se as cargas de madeira estão certificadas, vamos resolver o<br />
problema. Nem vai ser preciso usar satélite, ficar dizendo que não há condições, não<br />
há recursos.<br />
53
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL<br />
Nome: Conjunta - Agricultura,Pecuaria / Meio Ambiente<br />
Número: 1129/08 Data: <strong>16</strong>/<strong>07</strong>/<strong>2008</strong><br />
Sr. Presidente, diz-se que faltam recursos para o Ministério do Meio<br />
Ambiente. Concordo plenamente, mas acredito que há um erro de estratégia<br />
fundamental do Governo. A CPI das ONGs demonstra que o Governo liberou 3,8<br />
bilhões para as ONGs no País, muitas delas sérias, como o Ministro disse, e outras<br />
nem tanto. Esses recursos deveriam ir para o Ministério do Meio Ambiente e para o<br />
Ministério da Agricultura, para acabar com essa folia de repassar recursos para as<br />
ONGs.<br />
O SR. PRESIDENTE (Deputado Onyx Lorenzoni) - Agradeço ao Deputado<br />
Cezar Silvestri a contribuição.<br />
O Deputado Ivan Valente não está aqui. Vamos ter agora um bloco de<br />
respostas do Sr. Ministro e depois retomamos com a mesma metodologia. Os<br />
próximos serão: Deputa<strong>dos</strong> Lázaro Botelho, Givaldo Carimbão, Pedro Wilson,<br />
Gerson Peres, Anselmo de Jesus, Beto Faro, Osvaldo Reis, Vanessa Grazziotin,<br />
Alfredo Kaefer.<br />
O SR. MINISTRO CARLOS MINC BAUMFELD - Vou tentar ser sintético na<br />
resposta aos 6 Parlamentares que usaram a palavra neste bloco.<br />
O Deputado Lira Maia, do Pará, discorda <strong>dos</strong> números divulga<strong>dos</strong> pelo INPE.<br />
Diz que se pode produzir sem desmatar, pois existe tecnologia para isso.<br />
Bem, os da<strong>dos</strong> divulga<strong>dos</strong> ontem pelo INPE foram muito mais precisos.<br />
Atendendo a uma reivindicação de Governadores da Amazônia, pela primeira vez, o<br />
DETER separou corte raso de degradação progressiva, que antes vinham soma<strong>dos</strong><br />
num único dado. Essa era uma reivindicação do Governador Blairo Maggi, <strong>dos</strong><br />
Governadores de Rondônia e de outros Esta<strong>dos</strong>. Então, estão muito mais precisos<br />
— houve trabalho de campo —, e houve um desacerto de 11% em relação ao que<br />
foi divulgado.<br />
Em relação a podermos produzir sem desmatar, porque existe tecnologia,<br />
concordo 100% com essa afirmação. Aliás, temos que trabalhar nessa linha. Não é<br />
admissível cortar a floresta para pôr nela um boi por hectare. É uma coisa extensiva.<br />
Quero inclusive dizer a V.Exas. que entrei em contato com o coordenador da<br />
FAO para a América Latina, para tratar de um programa conjunto no qual o<br />
Ministério do Meio Ambiente quer colocar recursos, destinado à recuperação de<br />
54
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL<br />
Nome: Conjunta - Agricultura,Pecuaria / Meio Ambiente<br />
Número: 1129/08 Data: <strong>16</strong>/<strong>07</strong>/<strong>2008</strong><br />
pastagens e intensificação da produção. A melhor forma de evitar a degradação é<br />
intensificar a produção, dando condições para isso.<br />
O Deputado também implora pelo zoneamento econômico-ecológico. Outra<br />
vez, concordo 100%. No Rio de Janeiro, quando Secretário, a primeira medida que<br />
adotei foi contratar IBGE, EMBRAPA e UFRJ para proceder ao zoneamento<br />
econômico-ecológico, que vai ser concluído em outubro ou novembro deste ano.<br />
Acho, aliás, que o zoneamento econômico-ecológico é ótimo para o setor produtivo,<br />
porque estabelece claramente o que pode, como pode, onde pode. Acho que a<br />
maioria absoluta do agronegócio quer uma regra clara, e nós estamos investindo<br />
nisso. Estamos ajudando nisso. Dois Esta<strong>dos</strong> da Amazônia já concluíram (Acre e<br />
Rondônia), 3 estão concluindo agora (Maranhão, Pará e Mato Grosso) e os outros 4<br />
vão concluir até o início do próximo ano. Até mea<strong>dos</strong> do ano que vem vamos ter o<br />
zoneamento econômico-ecológico da Amazônia.<br />
O Deputado Valdir Colatto, do PMDB de Santa Catarina, menciona áreas de<br />
preservação, turismo, Corcovado etc. Eu tanto concordo com o Deputado Colatto<br />
que, dias atrás, firmei um pacto com o Ministro do Turismo para fazermos turismo e<br />
ecoturismo nos parques nacionais. V.Exas. sabem que nós temos 63 parques<br />
nacionais e que recebemos neles 3,5 milhões de turistas por ano. Só que, desses<br />
parques, apenas 2 respondem por 90% disso, Iguaçu e a Floresta da Tijuca, por<br />
causa do Cristo. Ou seja, há uma área de subaproveitamento enorme.<br />
A minha tese é a seguinte: o parque mais bem cuidado não é o que não tem<br />
uso nenhum, mas o que tem bom uso. Conheço parques de outros países que são<br />
mais bem cuida<strong>dos</strong> do que os nossos, mais freqüenta<strong>dos</strong> e dão lucro. Os nossos<br />
são menos cuida<strong>dos</strong>, pouco freqüenta<strong>dos</strong> e dão prejuízo. Tem alguma coisa errada.<br />
Vamos consertar isso, garantindo acessibilidade, centro de pesquisador, centro de<br />
visitante, guia bilíngüe, trilha demarcada. A cada 10 reais investi<strong>dos</strong>, vamos<br />
arrecadar 20, sob a forma de serviços de ecoturismo. Dessa forma, vamos ter<br />
reservas muito mais bem cuidadas do que estão hoje.<br />
Outro ponto importante é a questão da reserva legal. Já há regulamentação,<br />
no caso de Santa Catarina, para uso de APP — Área de Preservação Permanente<br />
para regularizar a reserva legal. Da mesma forma, adquirindo-se áreas em parques<br />
e em unidades de conservação que estejam pendentes de regularização fundiária,<br />
55
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL<br />
Nome: Conjunta - Agricultura,Pecuaria / Meio Ambiente<br />
Número: 1129/08 Data: <strong>16</strong>/<strong>07</strong>/<strong>2008</strong><br />
até para poder pagar o verdadeiro proprietário, cumpre-se a determinação da<br />
reserva legal. Esse exemplo deve valer para outros Esta<strong>dos</strong>. É um bom exemplo.<br />
Não deve ser obrigatório somente lá, mas também em outras áreas. E um conjunto<br />
de vários proprietários para uma única área contínua é até mais efetivo do que isso.<br />
Passo agora a responder o Deputado Moreira Mendes, de Rondônia, que<br />
criticou a colonização do INCRA, o Arco de Fogo e a idéia de créditos para<br />
reflorestar, inclusive a fundo perdido. Eu quero dizer...<br />
O SR. DEPUTADO MOREIRA MENDES - Sr. Ministro, eu não critiquei a<br />
colonização do INCRA, não.<br />
O SR. MINISTRO CARLOS MINC BAUMFELD - Não, mostrou como foi<br />
abandonada depois.<br />
O SR. DEPUTADO MOREIRA MENDES - Ela foi muito bem feita.<br />
O SR. MINISTRO CARLOS MINC BAUMFELD - Criticou a seqüência, que<br />
gerou abandono, êxodo etc. Eu quero dizer que conheço bem o assunto. Como eu<br />
lhe disse, uma parte da minha tese de doutorado é sobre a colonização do INCRA<br />
em Rondônia. Conheci bastante. Corri a BR-364 de cima a baixo. Cacoal e Ji-<br />
Paraná eu conheço bem — se bem que há bastante tempo; a realidade deve ter<br />
mudado.<br />
importante.<br />
O crédito para reflorestar barato é importante, e a fundo perdido também é<br />
O Fundo Amazônia, que será anunciado no dia 1º de agosto, é a fundo<br />
perdido. O crédito que nós já conseguimos para reflorestar é a 4% ao ano, com 12<br />
de carência. Há V.Exa. de convir que não é um dinheiro caro. Eu queria também<br />
esse recurso para poder comprar alguma coisa. Com 12 de carência a 4% ao ano é<br />
bom. Para alguns casos, V.Exa. tem razão: deve ser a fundo perdido. No Fundo<br />
Amazônia, quem vai ter assento e voto são os representantes <strong>dos</strong> 9 Governos da<br />
Amazônia, mais comunidade científica, indústria e Governo Federal.<br />
Eu já disse ao Ministro do Desenvolvimento Agrário, Guilherme Cassel, que<br />
sou crítico de alguns aspectos da reforma agrária na Amazônia. E vou ser claro: a<br />
política de Governo deve ser mudada em alguns pontos. Vou dizer quais.<br />
Se analisarmos as pequenas propriedades e dizermos que 80 preservam e 20<br />
produzem, desconecta<strong>dos</strong>, veremos que essas pequenas manchas de 20% não<br />
56
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL<br />
Nome: Conjunta - Agricultura,Pecuaria / Meio Ambiente<br />
Número: 1129/08 Data: <strong>16</strong>/<strong>07</strong>/<strong>2008</strong><br />
garantem um contínuo para se intensificar a produtividade. E as outras manchas<br />
descontínuas de preservação não garantem um contínuo para preservar. Então, não<br />
se garante um contínuo para produzir com intensidade nem um contínuo para<br />
preservar. E para uma população muito dispersa é difícil levar escola, esgoto.<br />
Portanto, acho que esse modelo pode e deve ser aperfeiçoado, garantindo a justiça<br />
e o acesso à terra, que são os princípios da reforma agrária corretos, e dando mais<br />
sustentabilidade produtiva e ambiental.<br />
Deputado Antonio Carlos Mendes Thame, V.Exa. se referiu a boas idéias,<br />
mas também nos chamou a atenção para o fato de que hoje é um bom negócio<br />
derrubar. Enquanto isso não for invertido, as boas idéias continuarão sendo apenas<br />
boas idéias. Eu não só concordo com V.Exa., como também afirmei isso ontem<br />
durante coletiva com a imprensa, quando comentava os últimos da<strong>dos</strong> do INPE.<br />
Enquanto ao se ao derrubar a floresta não se pagar multa, terra, imposto, e<br />
para preservar e recuperar custar 5 vezes mais caro, não resolveremos esse<br />
problema do mercado, nem com a polícia. Resolve-se um problema do mercado com<br />
incentivos e desincentivos que tornem mais caro derrubar ilegalmente e mais barato<br />
recuperar e intensificar a produção nas áreas aptas para produzir. V.Exa. está<br />
coberto de razão, Deputado.<br />
O que fazer para se chegar a isso? Em primeiro lugar, acho que quem quer<br />
fazer do jeito certo também acha que não pode ficar impune quem faz do jeito<br />
errado, porque, nesse caso, é um incentivo à impunidade. Então, vamos agilizar o<br />
decreto que regulamenta a lei de crimes ambientais. Hoje, 95% das multas não são<br />
pagas. Então, aquele que faz direito é penalizado, porque não acontece nada com<br />
quem faz errado. Isso também vai mudar.<br />
Eu tive uma discussão no Governo quando surgiu, na última reunião<br />
interministerial, a idéia de combater a inflação <strong>dos</strong> alimentos. Infelizmente, segundo<br />
o Ministro Mantega, ela veio para ficar por algum tempo. Não vai cair. Mas o que é<br />
um problema pode virar uma oportunidade: os <strong>16</strong> bilhões de reais a juros de 2%<br />
para a agricultura familiar. Eu disse: vamos incentivar com intensidade, em<br />
máquinas, até para fazer com que não se avance muito mais em terras protegidas.<br />
Isso foi acordado. Ou seja, a maior parte do investimento de <strong>16</strong> bilhões de reais a<br />
57
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL<br />
Nome: Conjunta - Agricultura,Pecuaria / Meio Ambiente<br />
Número: 1129/08 Data: <strong>16</strong>/<strong>07</strong>/<strong>2008</strong><br />
2% para a agricultura familiar, que é quem mais produz alimentos, será em<br />
maquinário, adubo etc., para intensificar a produção nas áreas já existentes.<br />
Responderei agora aos Deputa<strong>dos</strong> Rogério Silva e Cezar Silvestri.<br />
O Deputado Rogério Silva, de Mato Grosso, já foi recebido por nós, junto com<br />
toda a bancada de Mato Grosso. Falou S.Exa. sobre os problemas do mercado da<br />
carne; das doenças, que, às vezes, são problemas seriíssimos; de famílias que já<br />
estavam no parque; e de acor<strong>dos</strong> que estamos fazendo e que devem ser mais<br />
amplos, garantindo alternativas para a população.<br />
Deputado Rogério Silva, temos feito vários acor<strong>dos</strong> em pouco tempo. Isso<br />
não significa que são apenas esses que nós queremos fazer. Queremos ampliar.<br />
Acho que estamos mostrando, em pouco tempo, disposição para o diálogo. Espero<br />
que isso seja reconhecido. É um grande esforço. Não quero dizer com isso que<br />
achamos que os acor<strong>dos</strong> já feitos contemplam to<strong>dos</strong> e, com isso, está tudo<br />
resolvido. Sabemos que não.<br />
Nesse sentido, tem razão V.Exa. Estamos dispostos a traçar outros acor<strong>dos</strong>,<br />
outros entendimentos, abrindo um diálogo permanente com os Governadores e com<br />
esta Casa, que representa o povo <strong>dos</strong> Esta<strong>dos</strong> do Brasil. E V.Exas. terão a acolhida<br />
que merecem, a acolhida de representantes do povo que têm idéias que devem ser<br />
consideradas pelo Poder Executivo, independentemente de parti<strong>dos</strong>, de ideologias,<br />
de setores da produção. Idéias boas têm de ser acatadas.<br />
Há parques onde existem famílias, e isso é uma coisa seriíssima. A lei define<br />
que tem de haver audiência. Elas têm de ser previamente relocalizadas, indenizadas<br />
etc. Concordo com o fato de que isso não era feito. Vamos passar a proceder dessa<br />
forma.<br />
Sr. Deputado, tive a transparência de chamar a imprensa e mostrar o estado<br />
<strong>dos</strong> nossos parques. Há 86 sem gestores, cento e vinte e tal sem fiscais. Das 55<br />
reservas extrativistas, 53 estão sem planos de manejo. Eu fiz isso. Normalmente,<br />
quem faz isso é a Oposição.<br />
Eu fiz isso porque acho que a transparência é boa. E anunciei medidas,<br />
relocalizei pessoas, e, até o fim deste mês, to<strong>dos</strong> os parques vão ter gestores.<br />
Vamos recomendar, a partir de agosto, que até o final do ano todas as unidades<br />
58
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL<br />
Nome: Conjunta - Agricultura,Pecuaria / Meio Ambiente<br />
Número: 1129/08 Data: <strong>16</strong>/<strong>07</strong>/<strong>2008</strong><br />
extrativistas tenham planos de manejo, sem o que as pessoas não terão acesso a<br />
crédito, e assim sucessivamente.<br />
O último <strong>dos</strong> 6, mas não menos importante, Deputado Cezar Silvestri, do<br />
Paraná: leis que não pegam; a importância da Lei da Mata Atlântica; compensação<br />
não só na microbacia, mas também no Estado — concordo; isso pode ser ampliado<br />
—; georreferenciamento com confronto com outras e acordo com os cartórios.<br />
A proposta de fazer coletivamente ajuda exatamente nisso. Quando se faz o<br />
georreferenciamento de 100, 200 ou 300, automaticamente está-se marcando qual é<br />
o limite do seu vizinho e proporcionando que os cartórios levem isso em conta.<br />
No caso da venda ilegal de madeira, a única alternativa é a oferta de madeira<br />
legal. Tomamos uma decisão. Informo a V.Exas. que, ontem, assinei procedimento<br />
para passar do Instituto Chico Mendes para o Serviço Florestal Brasileiro, que tem<br />
muito mais agilidade, os planos de manejo, para colocar, nos termos da lei das<br />
florestas públicas, oferta de madeira legal, licenciada, em planos de manejo, para<br />
combater a madeira ilegal.<br />
Peço licença, um minuto, para fazer algo que ninguém pode substituir-me.<br />
O SR. PRESIDENTE (Deputado Onyx Lorenzoni) - Vou repassar a ordem. O<br />
primeiro seria o Deputado Ivan Valente, que não está presente. Depois vêm os<br />
Deputa<strong>dos</strong> Lázaro Botelho, Givaldo Carimbão — foi embora —, Pedro Wilson e<br />
Gerson Peres. O Deputado Anselmo de Jesus não está. Seguiremos com os<br />
Deputa<strong>dos</strong> Beto Faro — Osvaldo Reis, Vanessa Grazziotin, Alfredo Kaefer, Homero<br />
Pereira, Eduardo Sciarra, Domingos Dutra e Leonardo Vilela não estão —, Cida<br />
Diogo, Jusmari Oliveira e Fernando Ferro, o 25º inscrito.<br />
O SR. DEPUTADO ROGÉRIO SILVA - Sr. Presidente, na hora em que o<br />
Ministro Minc voltar, gostaria de pedir um esclarecimento sobre um ponto da sua fala<br />
que achei muito interessante. Se V.Exa. puder me conceder...<br />
O SR. PRESIDENTE (Deputado Onyx Lorenzoni) - Deputado Rogério, vou<br />
passar a palavra aos que estão inscritos e depois V.Exa. fica como o primeiro da<br />
tréplica. Tudo bem? Porque nós queremos liberar o Ministro às 13h30min.<br />
O SR. DEPUTADO ROGÉRIO SILVA - Em que lugar eu vou ficar?<br />
O SR. PRESIDENTE (Deputado Onyx Lorenzoni) - Vamos ver agora.<br />
Segundo o Deputado André de Paula, 28º. (Risos.)<br />
59
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL<br />
Nome: Conjunta - Agricultura,Pecuaria / Meio Ambiente<br />
Número: 1129/08 Data: <strong>16</strong>/<strong>07</strong>/<strong>2008</strong><br />
O SR. DEPUTADO ROGÉRIO SILVA - Vigésimo oitavo?<br />
O SR. PRESIDENTE (Deputado Onyx Lorenzoni) - Não. Estou brincando. É<br />
menos dramático do que isso, Deputado Rogério Silva. (Pausa.)<br />
Com a palavra o nobre Deputado Lázaro Botelho.<br />
O SR. DEPUTADO LÁZARO BOTELHO - Sr. Ministro Carlos Minc, Sr.<br />
Presidente, Sras. e Srs. Deputa<strong>dos</strong>, eu sou do Estado do Tocantins, antiga região<br />
norte de Goiás, descoberta por JK, quando criou Brasília e construiu a Belém—<br />
Brasília. A população do Tocantins, então norte de Goiás, surgiu nessa época.<br />
Ali existe uma faixa de terras férteis, que despertou o interesse de várias<br />
pessoas do sul de Goiás, de Minas Gerais, de São Paulo e de todas as regiões do<br />
Brasil, as quais foram para lá há quase 50 anos desenvolver a região.<br />
Essas pessoas abriram aquelas terras, o que era incentivado pelo Governo<br />
Federal e financiado pelo Banco do Brasil — na época havia o PROTERRA, que<br />
emprestava dinheiro para derrubar árvores, para cercar terrenos, enfim, para<br />
desenvolver a região, até então desabitada.<br />
Assim surgiram, ali, aquelas fazendas. Hoje existe, em média, 30% de<br />
reserva naquela região. O resto do Tocantins era cerrado, que, até então, não era<br />
valorizado; não servia para nada, porque era terra seca, sem nenhum índice de<br />
produtividade. Por isso as pessoas habitaram aquela região de terras férteis.<br />
Hoje, Sr. Ministro, a grande preocupação desse povo é com essas medidas<br />
do Governo Federal — e sequer foram decretadas por V.Exa., pois são de dezembro<br />
— e com a resolução do Banco Central que proíbe a concessão de créditos àqueles<br />
fazendeiros.<br />
Existem naquela região de terras férteis 8 milhões de reses, e o povo está<br />
preocupado, sem saber o que fazer, porque não há como tirar esse gado da região.<br />
Além disso, as terras são tituladas. E o INCRA exigia a derrubada da mata para<br />
titulá-las, e o banco financiava tudo isso.<br />
Hoje, a grande preocupação desses fazendeiros é com o fato de não existir<br />
mais crédito para eles nos bancos, porque eles ultrapassaram os 20% de<br />
desmatamento — na época era permitido muito mais.<br />
Então, Sr. Ministro, gostaríamos que V.Exa. fizesse algo pela região. Hoje,<br />
não existe mais ninguém fazendo novas derrubadas lá. Solicitamos, então, que se<br />
60
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL<br />
Nome: Conjunta - Agricultura,Pecuaria / Meio Ambiente<br />
Número: 1129/08 Data: <strong>16</strong>/<strong>07</strong>/<strong>2008</strong><br />
considere o que já foi feito e se dê a àquelas pessoas condições de sobreviverem,<br />
uma vez que a renda do Tocantins vem praticamente da pecuária — a agricultura<br />
está apenas iniciando no Estado, com a soja.<br />
O Tocantins fazia parte da Região Centro-Oeste e, com a divisão do Estado<br />
de Goiás, passou a fazer parte da Região Amazônica. E na realidade fica no Brasil<br />
Central.<br />
Então, a preocupação daquele povo é poder permanecer na sua terra.<br />
Ninguém está fazendo novas derrubadas. Além disso, para terem condições de<br />
sustentação econômica, eles não podem reduzir a sua derrubada a 20%. Senão,<br />
vão viver de quê? Onde vão colocar o gado? A nossa grande preocupação é essa.<br />
Muito obrigado, Sr. Presidente.<br />
O SR. PRESIDENTE (Deputado Onyx Lorenzoni) - Obrigado, Deputado<br />
Lázaro Botelho.<br />
Concedo a palavra ao Deputado Pedro Wilson.<br />
O SR. DEPUTADO PEDRO WILSON - Sr. Presidente da Comissão de<br />
Agricultura, Sr. Presidente da Comissão de Meio Ambiente, Sr. Ministro Carlos Minc,<br />
colegas presentes, a primeira questão que gostaria de levantar diz respeito ao<br />
cerrado, o grande produtor de águas para a Bacia Amazônica, para ele próprio, para<br />
o Pantanal e para a Caatinga, e que enfrenta essa luta toda.<br />
O cerrado é a ante-sala da Amazônia. Ele tem 30 milhões de anos, e a<br />
Amazônia, 5 milhões. O que acontecer com o cerrado pode acontecer com a<br />
Amazônia. E os 2 estão sofrendo com a voracidade do desmatamento, sem que isso<br />
represente melhoria na produção brasileira.<br />
Portanto, quanto ao cerrado, ressalto a sua importância. Sabemos da<br />
relevância da Amazônia, mas o cerrado também é importante.<br />
A segunda questão que eu apresento a V.Exa. é relativa à rastreabilidade. A<br />
rastreabilidade é importante não só para assegurar a vigilância sanitária sobre o<br />
rebanho bovino brasileiro, mas também para ser utilizada no controle do<br />
desmatamento, junto com o georreferenciamento e as fotografias de satélite.<br />
Muita gente acha que a rastreabilidade não é cabível. Eu acho que ela é um<br />
instrumento científico e poderoso para controlar os rebanhos, no que diz respeito à<br />
vigilância sanitária, o que é importante para o consumo no Brasil e para a<br />
61
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL<br />
Nome: Conjunta - Agricultura,Pecuaria / Meio Ambiente<br />
Número: 1129/08 Data: <strong>16</strong>/<strong>07</strong>/<strong>2008</strong><br />
exportação, e também pode servir de instrumento para o controle do avanço do<br />
desmatamento ilegal.<br />
O terceiro ponto que eu gostaria de apresentar a V.Exa. diz respeito aos<br />
planos para avançar na Agenda 21, uma grande descoberta do mundo feita na<br />
Conferência do Rio, a Eco-92. Ela é um grande pacto de Governo e sociedade para<br />
o desenvolvimento sustentável.<br />
Outro comentário que desejo fazer: em 1996 foi feita uma moratória das<br />
reservas legais. Passa<strong>dos</strong> 10 anos, as reservas permanecem praticamente do<br />
mesmo jeito, sem que tenham sido recompostas, havendo inclusive a tentativa de se<br />
alocar reservas do cerrado na Amazônia. E hoje se estabelece que elas podem ser<br />
no máximo na mesma bacia. Considero importante haver uma política não punitiva,<br />
mas de educação e apoio. Por outro lado, não podemos esperar mais 10 anos por<br />
essas reservas.<br />
Outro ponto que o Ministério e a ANA abordaram — e eu gostaria de saudar<br />
ambos por isso — diz respeito aos Comitês de Bacias. Goiás é um Estado que tem<br />
muitos rios, mas apenas um Comitê de Bacia, o do Rio Meia Ponte — agora foi<br />
instalado o Comitê de Bacia do Rio Paranaíba, que é muito importante como<br />
elemento de avaliação do Parlamento das Águas.<br />
Por último, tenho uma pergunta a fazer a V.Exa. sobre o uso da água de<br />
aqüíferos, principalmente o Guarani. Estamos vendo que já tem sido usada água<br />
<strong>dos</strong> aqüíferos, sendo que, muitas vezes, os Esta<strong>dos</strong> fazem isso sem ter uma<br />
perspectiva. E eles são muito importantes, não só para o País como um todo, mas<br />
também para o continente.<br />
Agradeço a V.Exa. e ao nobre Presidente.<br />
O SR. PRESIDENTE (Deputado Onyx Lorenzoni) - Obrigado, Deputado Pedro<br />
Wilson, pela sua colaboração.<br />
Com a palavra o Deputado Gerson Peres.<br />
O SR. DEPUTADO GERSON PERES - Sr. Presidente, Sr. Ministro, eu sou<br />
um modesto advogado, professor e jornalista. Não tenho fazenda nem crio boi.<br />
Conheço V.Exa. a distância — sua luta, sua vida, seus debates — e acho V.Exa. um<br />
homem de muito boa vontade. Mas é muito apaixonado quando debate esses<br />
temas. E pela preservação da floresta, pelo meio ambiente, existe uma paixão.<br />
62
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL<br />
Nome: Conjunta - Agricultura,Pecuaria / Meio Ambiente<br />
Número: 1129/08 Data: <strong>16</strong>/<strong>07</strong>/<strong>2008</strong><br />
Eu não estou aqui para dar conselhos a V.Exa., mas para alertá-lo a respeito<br />
de alguns pontos importantes. Lamartine dizia que Deus colocou a cabeça acima do<br />
coração para que ela controlasse a paixão.<br />
Nós estamos travando, em relação ao meio ambiente e à floresta, uma luta<br />
muito apaixonada para tratar de um complexo problema.<br />
V.Exa. apresentou hoje, aqui, uma base de política pública bem sustentável,<br />
muito boa. Deus queira e ajude V.Exa. a conseguir tudo o que está sonhando,<br />
porque V.Exa., como muitos de nós, é um idealista, e, como tal, sonha, às vezes,<br />
acordado.<br />
A parte que mais me preocupa nisso tudo é a criatura humana. Quando o<br />
Governo demarca uma parte da floresta na Amazônia, ele se esquece de que lá<br />
dentro há pessoas. Não há apenas bois, há gente também. E a ordem judicial<br />
expedida, data venia, para mim é inconstitucional. Ela não poderia ter sido dada<br />
assim, porque a Constituição Federal só permite o confisco de glebas de terras nas<br />
quais se plantem plantas psicotrópicas, como a coca e a maconha. Não fala em boi.<br />
O Congresso Nacional está apreciando uma proposição que trata da expropriação<br />
de terras em que há trabalho escravo. Ainda não se aprovou isso. São 2 casos.<br />
Não se pode expropriar bens. Se a pessoa tem gado ou outro bem em terras<br />
públicas, o melhor caminho — e V.Exa. é o homem talhado para isso — não é<br />
procurar o juiz, mas o produtor, ter um diálogo com ele; estabelecer, talvez, com a<br />
inteligência que V.Exa. tem, contratos com cláusulas de obrigações entre o produtor<br />
e o Governo, para que ele crie mais bois na terra pública. Afinal, o boi é um bem de<br />
fim reprodutivo invejável, que se traduz em imposto, tributo, e contribui com a<br />
balança comercial e com o superávit primário. Dele obtemos a carne, que nós<br />
comemos. Ele come capim. Ele não fala; ele muge. Ele engorda para nos engordar.<br />
Ele tem o couro para nos calçar e para nos vestir e a carne, que nos faz criar os<br />
frigoríficos, que geram empregos para as pessoas. E vai mais além: ele é exportado<br />
e traz divisas para o País.<br />
Somos a região que tem, hoje, o maior volume de bois no Brasil. E devemos<br />
pensar assim. V.Exa. jamais terá êxito na sua honrosa e grandiosa missão, se não<br />
utilizar esse procedimento antes de mandar as forças, mandar para a prisão; se não<br />
compatibilizar a sua ação com os interesses econômicos do setor produtivo.<br />
63
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL<br />
Nome: Conjunta - Agricultura,Pecuaria / Meio Ambiente<br />
Número: 1129/08 Data: <strong>16</strong>/<strong>07</strong>/<strong>2008</strong><br />
Felicito V.Exa. quando energicamente luta para preservar a floresta. Há muita<br />
floresta degradada, é verdade; há muita irresponsabilidade, é verdade. Alguns casos<br />
exigem, realmente, certa rigidez. Mas com o setor produtivo V.Exa. tenha muita<br />
prudência, muita calma. Converse com to<strong>dos</strong> eles. Aqui mesmo há alguns, lá do<br />
Pará, que querem conversar com V.Exa. Se sobrar um tempinho, dê 5 minutos a<br />
eles, e V.Exa. poderá colher bons frutos de tudo isso. Nós estamos aqui para ajudar<br />
V.Exa.<br />
Na realidade, o art. 243 da Constituição Federal não permite confisco de<br />
bens, a não ser no caso que acabei de citar. O art. 225 dispõe, realmente, sobre a<br />
indisponibilidade da terra para determina<strong>dos</strong> recursos de sustentabilidade do<br />
ecossistema natural. É verdade. Mas o recurso será realmente um processo jurídico<br />
normal da desapropriação. E a propriedade é uma cláusula pétrea que deve ser<br />
respeitada.<br />
Eu escrevi, no domingo, um artigo intitulado O Boi e o Ministro, no qual fiz<br />
uma crítica construtiva e bem-intencionada, mais ou menos com as palavras que<br />
disse agora a V.Exa. Vou esperá-lo em Belém para ouvi-lo novamente na nossa<br />
Federação das Indústrias.<br />
O SR. PRESIDENTE (Deputado Onyx Lorenzoni) - Obrigado, Deputado<br />
Gerson Peres, pela contribuição.<br />
Concedo a palavra ao Deputado Beto Faro.<br />
O SR. DEPUTADO BETO FARO - Sr. Presidente da Comissão de<br />
Agricultura, Sr. Presidente da Comissão de Meio Ambiente, Sr. Ministro, entendo<br />
que há 3 situações — e nós já temos debatido bastante isso — que nos ajudariam<br />
muito a resolver as questões da Amazônia.<br />
Uma é o zoneamento econômico-ecológico, já comentado aqui e já<br />
trabalhado pelo Ministro, por isso não vou nem comentar.<br />
Outra é a regularização fundiária efetiva da Amazônia. Há alguns anos não se<br />
tem regularização efetiva na região. Mesmo aqueles que foram para lá há 20, 30<br />
anos, não têm nenhum procedimento para trabalhar a regularização fundiária. Não<br />
estou dizendo para regularizar a situação de to<strong>dos</strong>, mas daqueles que efetivamente<br />
têm o direito a essa regularização.<br />
64
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL<br />
Nome: Conjunta - Agricultura,Pecuaria / Meio Ambiente<br />
Número: 1129/08 Data: <strong>16</strong>/<strong>07</strong>/<strong>2008</strong><br />
Uma outra questão — eu, inclusive, trabalhei esse tema numa PEC agora —<br />
é a indenização daqueles que de boa-fé estão dentro das áreas, sejam as áreas<br />
pretendidas para os indígenas, sejam as pretendidas para preservação.<br />
São pontos que ajudariam muito na resolução dessas questões.<br />
Parabenizo V.Exa. Pelo pouco tempo que está à frente do Ministério, já fez<br />
várias ações, tratou aqui de vários pontos e já fez acor<strong>dos</strong> com o setor produtivo.<br />
Eu estive há 15 dias numa reunião na FIEPA — Federação das Indústrias do<br />
Estado do Pará. A entidade convidou os Deputa<strong>dos</strong> Federais e Estaduais do PT do<br />
Pará para um diálogo. Eles estavam muito felizes por sua ida lá na sexta-feira, pelo<br />
acordo que está sendo feito e por essa nova agenda que está sendo estabelecida,<br />
inclusive, com o Ministério e com a Secretaria de Meio Ambiente local. Então, é<br />
importante essa estratégia.<br />
V.Exa. já mencionou aqui 5 acor<strong>dos</strong>, como a questão do preço mínimo para<br />
produtos que não estavam na agenda nacional.<br />
Deputado Giovanni Queiroz, eu sou defensor desse setor e sei a importância<br />
de se ter preço mínimo para produtos como o açaí. O Deputado Gerson Peres é de<br />
um Município com cerca de 20 mil pessoas que vivem dessa produção. V.Exa. não<br />
sabe a importância de termos uma política estabelecida para esse produto. Portanto,<br />
não é desprezível a política para o extrativismo. É muito importante para um Estado<br />
como o nosso, que possui milhares de famílias nessas áreas.<br />
Cito também a ação para de destravar o IBAMA, sem deixar de fazer as<br />
exigências, mas trabalhando a aceleração do licenciamento com outros Ministérios.<br />
importantes.<br />
Portanto, parabenizo V.Exa. por essas ações, que são extremamente<br />
Há outras questões para debatermos do ponto de vista político. Quanto ao<br />
Arco de Fogo, como disse o Deputado Wandenkolk Gonçalves que é perseguição ao<br />
PSDB, eu estou com medo de ir para outro Município, porque o PSDB vai acabar<br />
ganhando em to<strong>dos</strong>. A dificuldade que o Governo está enfrentando nesses<br />
Municípios é muito maior que é a da Oposição, que tem feito lá um discurso fácil.<br />
Quem esteve 12 anos governando o nosso Estado, 10 <strong>dos</strong> quais com a Presidência,<br />
e não resolveu a questão fundiária nem a questão ambiental tem muito pouco a falar<br />
do que estamos fazendo e resolvendo agora.<br />
65
Faro.<br />
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL<br />
Nome: Conjunta - Agricultura,Pecuaria / Meio Ambiente<br />
Número: 1129/08 Data: <strong>16</strong>/<strong>07</strong>/<strong>2008</strong><br />
O SR. PRESIDENTE (Deputado Onyx Lorenzoni) - Obrigado, Deputado Beto<br />
Com a palavra a Deputada Cida Diogo.<br />
A SRA. DEPUTADA CIDA DIOGO - Eu só queria registrar que comecei a<br />
acompanhar o debate, mas não pude ficar o tempo todo, porque temos outras<br />
atividades na <strong>Câmara</strong> e realmente é complicado estar presente em tudo. Mas fiz<br />
questão de retornar a esta reunião para registrar que exerci 2 mandatos como<br />
Deputada Estadual e conheço a história do Deputado Estadual Carlos Minc, hoje<br />
Ministro. Toda a história do nosso Ministro sempre foi de muita luta. S.Exa. sempre<br />
desenvolveu esse papel que estamos desenvolvendo aqui.<br />
Historicamente, o Deputado Estadual Carlos Minc sempre foi um batalhador<br />
pelo Parlamento, sempre defendeu o Parlamento como instrumento de defesa <strong>dos</strong><br />
interesses púbicos. E quando se tornou Secretário Estadual do Ambiente em nosso<br />
Estado, no ano passado, teve a primeira experiência executiva.<br />
Eu fiz questão de vir aqui dar o meu testemunho, porque S.Exa. é do meu<br />
Estado e me surpreendeu. O Ministro Carlos Minc sempre foi um excelente<br />
Parlamentar, sempre atuou na lógica legislativa de luta em defesa do meio<br />
ambiente. Ao assumir a Secretaria Estadual do Ambiente, no Estado do Rio de<br />
Janeiro, conseguiu dar expressiva dinâmica àquela Secretaria. Nunca houve, no<br />
Estado do Rio de Janeiro, ação tão contundente e, ao mesmo tempo, de viabilização<br />
efetiva de resolução <strong>dos</strong> problemas ambientais do Estado, buscando o<br />
entendimento, a interlocução, sempre muito firme não só na defesa do meio<br />
ambiente, mas também na busca de soluções concretas, como representante do<br />
Executivo Estadual. Foi isso, inclusive, que deu ao nosso companheiro a condição<br />
de hoje ocupar o Ministério do Meio Ambiente.<br />
Eu tenho absoluta certeza de que, por mais apreensão, por mais preocupação<br />
que alguns setores liga<strong>dos</strong> à área da agricultura tenham, agora, conduzindo o<br />
Ministério, o Ministro Carlos Minc vai ter o mesmo perfil com que conduziu a<br />
Secretaria no Rio de Janeiro, defendendo com muita firmeza o meio ambiente, mas<br />
buscando sempre a interlocução, a viabilização de soluções efetivas, para que o<br />
setor produtivo do País continue garantindo o desenvolvimento da agricultura e da<br />
economia brasileira. Mas, repito, resguardando e preservando o meio ambiente.<br />
66
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL<br />
Nome: Conjunta - Agricultura,Pecuaria / Meio Ambiente<br />
Número: 1129/08 Data: <strong>16</strong>/<strong>07</strong>/<strong>2008</strong><br />
Estamos inaugurando uma nova fase, com o Ministério do Meio Ambiente<br />
sendo conduzido por uma pessoa com o perfil do Ministro Carlos Minc.<br />
Fiz questão de vir registrar estas palavras. Reconheço ser justa a<br />
preocupação levantada pelo setor da agricultura, uma preocupação de quem está na<br />
produção. Mas tenho absoluta certeza de que nosso Ministro vai conduzir de forma<br />
bastante exemplar a sua Pasta, e vamos poder demonstrar para outros países como<br />
buscamos a defesa do meio ambiente e, ao mesmo tempo, a garantia do<br />
desenvolvimento econômico e, principalmente, da agricultura do País.<br />
Diogo.<br />
O SR. PRESIDENTE (Deputado Onyx Lorenzoni) - Obrigado, Deputada Cida<br />
Com a palavra a Deputada Jusmari Oliveira.<br />
A SRA. DEPUTADA JUSMARI OLIVEIRA - Srs. Presidentes, Srs.<br />
Deputa<strong>dos</strong>, Sr. Ministro, os Deputa<strong>dos</strong> Pedro Wilson e Lázaro Botelho já nos<br />
levaram a um deslocamento geográfico. Como disse o Deputado Lira Maia, a<br />
palavra mais falada aqui, depois de Srs. Deputa<strong>dos</strong> e Sras. Deputadas, é<br />
Amazônia. Gostaria de um pronunciamento de vosso Ministério sobre o bioma<br />
cerrado. O Deputado Pedro Wilson já se referiu a isso aqui, mas eu gostaria de<br />
detalhar um pouco mais a questão.<br />
A ocupação do cerrado, principalmente no Nordeste do Brasil, no meu<br />
Estado, a Bahia, no sul do Piauí e no sul do Maranhão, proporcionou, não só para o<br />
Brasil, mas também para o mundo, o nascimento de um novo celeiro produtor de<br />
alimentos, principalmente de grãos. É assim que o nosso cerrado é visto pelo<br />
mundo. Mas urge que tenhamos o tão sonhado, como está acontecendo na<br />
Amazônia, zoneamento econômico-ecológico — ou ecológico-econômico, como<br />
queiram.<br />
Por quê, Sr. Ministro? Qual é a nossa realidade? A ocupação ocorrida nas<br />
últimas 3 décadas concentrou população em algumas áreas do cerrado. Na época,<br />
por exemplo, na minha região, o oeste da Bahia, as primeiras propriedades<br />
exploradas ficaram com 10% de reserva legal, porque a lei estadual mandava que<br />
se fizesse isso; as outras, com 20% de reserva legal. O Deputado Pedro Wilson, eu<br />
e um grupo da Frente Ambientalista criamos o Grupo do Cerrado e defendemos a<br />
aprovação da PEC nº 115/95, que determina o tratamento de patrimônio nacional ao<br />
67
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL<br />
Nome: Conjunta - Agricultura,Pecuaria / Meio Ambiente<br />
Número: 1129/08 Data: <strong>16</strong>/<strong>07</strong>/<strong>2008</strong><br />
cerrado, preservando 50% da área. Ocorre que outras áreas ainda não foram<br />
ocupadas.<br />
Na minha região, existem ainda 5 milhões de hectares de cerrado. Há uma<br />
busca <strong>dos</strong> entes políticos para que se desenvolva economicamente a região. E nós<br />
vamos desenvolvê-la como? Vai-se ocupar que área do total ainda não ocupado? O<br />
que se vai fazer com o que nós consideramos passivo ecológico daqueles que<br />
ocuparam, inclusive a minha família, que já ocupou a área e deixou apenas 10% de<br />
reserva?<br />
É preciso que o Ministério e o Governo tenham ação urgente sobre o cerrado,<br />
para discutirmos o que consideramos passivo. Porque já há uma briga, no<br />
Congresso Nacional e em todo lugar, de quem se considera ambientalista contra o<br />
agricultor, que é tão importante para o desenvolvimento econômico daquela região.<br />
Nós acreditamos, Sr. Ministro, como disse a Deputada Cida Diogo, que, por<br />
sua capacidade e desenvoltura, V.Exa. conseguirá acabar com esse discurso de que<br />
o agricultor está de um lado e o meio ambiente do outro. Ora, a quem mais interessa<br />
preservar o meio ambiente? Ao agricultor. Isso tem que ser entendido. Não há 2<br />
la<strong>dos</strong> nesse negócio. Estamos de um lado só. Nós precisamos <strong>dos</strong> recursos naturais<br />
para produzir, precisamos da produção para sustentar os ambientalistas e todo o<br />
mundo.<br />
Portanto, eu gostaria de destacar esse aspecto aqui e de ouvir o seu<br />
pronunciamento sobre o cerrado.<br />
Deve estar nesta reunião o Prefeito do Município de Luís Eduardo Magalhães,<br />
que eu conheço muito bem. S.Exa. está vivendo um dilema. Trata-se do Município<br />
que mais cresce no País, portanto, é o mais desmatado. Acho que 90% de Luís<br />
Eduardo Magalhães é ocupado. Existe uma área ainda de 40 mil hectares sem<br />
ocupação. É a única área remanescente no Município que conserva o cerrado na<br />
sua originalidade. E era desejo do Prefeito, <strong>dos</strong> Vereadores e de toda a sociedade<br />
que os produtores pudessem pagar seu passivo ambiental adquirindo essa área<br />
para o Município, criando um parque municipal. Mas já sabemos que essa área, que<br />
é propriedade de um grupo poderoso de um ex-Governador do Estado, já está<br />
sendo vendida para outro grupo poderoso de outro Pais, inclusive, com a idéia de se<br />
plantar cana.<br />
68
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL<br />
Nome: Conjunta - Agricultura,Pecuaria / Meio Ambiente<br />
Número: 1129/08 Data: <strong>16</strong>/<strong>07</strong>/<strong>2008</strong><br />
O Prefeito veio aqui buscar a ajuda do Ministério para uma solução. O<br />
Município não tem condição de desapropriar essa área com recursos municipais. E<br />
exemplos como esse existem em to<strong>dos</strong> os outros Municípios.<br />
Deixo hoje o pedido para que V.Exa. determine um assessor de vosso<br />
Ministério para atender o Prefeito e tentar buscar uma solução. Desculpe colocar<br />
uma situação muito localizada, mas entendo que é importante, pode servir de<br />
exemplo para as demais áreas de cerrado e pode ser encontrada uma solução, com<br />
o Ministério atuando junto ao Estado da Bahia, aos Municípios e aos Deputa<strong>dos</strong><br />
representantes da região.<br />
O SR. PRESIDENTE (Deputado Onyx Lorenzoni) - Obrigado, Deputada<br />
Jusmari Oliveira.<br />
Com a palavra o último inscrito, Deputado Fernando Ferro.<br />
O SR. DEPUTADO FERNANDO FERRO - Sr. Presidente, Sr. Ministro, Sras.<br />
e Srs. Deputa<strong>dos</strong>, minha primeira preocupação — e já a manifestei em plenário<br />
nesta Casa — diz respeito a uma ação do IBAMA sobre a Mata Atlântica em<br />
Pernambuco, uma ação contra o setor canavieiro.<br />
Em Pernambuco restam apenas 2,7% de Mata Atlântica. Talvez seja o menor<br />
remanescente de Mata Atlântica no Brasil. As pessoas que falam do cerrado e da<br />
Amazônia poderiam pegar a mata costeira como exemplo da invasão do meio<br />
ambiente. Temos ali uma tragédia ambiental e social. É lógico que temos de<br />
trabalhar com toda a importância do etanol, com essa realidade, mas temos que<br />
levar em conta que a pressão sobre o resto da Mata Atlântica naquela área é muito<br />
forte. Se não houver uma ação dura para tratar desse caso, teremos um<br />
agravamento lastimável do quadro.<br />
Eu queria chamar a atenção sobre uma outra questão. Sob o nome de<br />
agronegócio se escondem muitos delinqüentes. É preciso fazer essa diferença. Fala-<br />
se em agronegócio como se fosse uma coisa única, e o mesmo ocorre com a<br />
agricultura familiar. Há delinqüência nos 2 pólos. Temos que ter a tranqüilidade de<br />
fazer a interlocução com esses setores de maneira qualificada. Não dá para chamar<br />
de agronegócio os mantenedores de trabalho escravo e os que produzem essa<br />
devastação, como também não podemos chamar de agricultura familiar aqueles que<br />
queimam a mata para produzir carvão. É claro que, muitas vezes, isso é provocado<br />
69
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL<br />
Nome: Conjunta - Agricultura,Pecuaria / Meio Ambiente<br />
Número: 1129/08 Data: <strong>16</strong>/<strong>07</strong>/<strong>2008</strong><br />
pela desinformação e pela falta de alternativa. Mas o fato concreto é que, sob o<br />
nome de agricultura familiar, estão se promovendo também crimes ambientais.<br />
Eu diria que esse processo não é simples, mas nós temos que ter cuidado<br />
para fazer esse tipo de aproximação. Então, com todo o respeito ao chamado<br />
agronegócio, é preciso diferenciar aqueles de boa-fé, aqueles que produzem e<br />
aqueles que têm respeitam a legislação trabalhista e ambiental daqueles que<br />
promovem a devastação e a delinqüência socioambiental, que não é aceitável.<br />
Então, eu acho que a primeira coisa a fazer é evitar esse tipo de postura.<br />
Por último, Ministro, eu tenho duas questões a fazer. Uma delas é sobre a<br />
evolução da questão do Zoneamento Agroecológico de que o País precisa; como<br />
temos de fazer esse levantamento para conseguirmos responder a essas pressões<br />
sobre o nosso modelo de desenvolvimento?<br />
A outra questão é sobre a área energética. Estamos incumbi<strong>dos</strong> da Relatoria<br />
de um projeto que discute a inserção de fontes renováveis na matriz energética<br />
brasileira e gostaríamos, depois, de dialogar com o Ministério sobre isso.<br />
E a questão das hidrelétricas. As hidrelétricas no Brasil fazem parte de um<br />
segmento muito criminalizado. E nós temos de saber diferenciar projetos como o de<br />
Balbina e outros, que foram desastres sociais e ambientais, das hidrelétricas que<br />
podem ser incorporadas, necessariamente, à produção de energia elétrica, para<br />
responder à necessidade de crescimento que queremos. Queremos energia! E não<br />
vamos fazer isso de forma residual.<br />
Para tanto, é preciso, de fato, ter a compreensão do que são os grandes<br />
projetos hidrelétricos do Brasil, sob pena de termos de apelar até para a introdução<br />
de energia nuclear em nossa matriz para responder às necessidade de crescimento<br />
do País. Esse é o risco, se o debate correto não for feito, sobre as fontes alternativas<br />
e as fontes hidrelétricas que o Brasil possui, com grande quantidade e com<br />
possibilidade de uso sustentável, inclusive.<br />
O SR. PRESIDENTE (Deputado Onyx Lorenzoni) - Eu quero informar que já<br />
teve início a Ordem do Dia. Então, nós temos de dar uma acelerada nos trabalhos<br />
aqui.<br />
assegurada.<br />
O Deputado Asdrubal Bentes estava inscrito e, portanto, tem a palavra<br />
70
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL<br />
Nome: Conjunta - Agricultura,Pecuaria / Meio Ambiente<br />
Número: 1129/08 Data: <strong>16</strong>/<strong>07</strong>/<strong>2008</strong><br />
O SR. DEPUTADO ASDRUBAL BENTES - Inicialmente, quero pedir<br />
desculpas, pois tive de me afastar porque ainda não consegui o dom da<br />
onipresença. Compareci a uma audiência na Casa Civil, para tratar de interesses do<br />
Estado, e peço desculpas ao Sr. Ministro por não ter participado do restante desta<br />
reunião.<br />
Sr. Ministro, quando o ouvi e assisti pela televisão à sua primeira entrevista,<br />
em Paris, V.Exa. foi muito sincero em dizer que não conhecia a Amazônia. E eu<br />
fiquei com um pé na frente e outro atrás. Mas, amazônida que sou de nascimento,<br />
ouvi alguns depoimentos, <strong>dos</strong> que me antecederam, particularmente daqueles que<br />
são amazônidas por adoção, a exemplo do Deputado Giovanni Queiroz. Eu costumo<br />
dizer que nascemos em qualquer lugar, por acaso. Mas a adoção é um ato de amor.<br />
Então, to<strong>dos</strong> aqueles que nos antecederam, que falaram sobre a Amazônia, os seus<br />
problemas, e querem uma solução, estão demonstrando realmente aquele amor<br />
profundo que têm por uma região que, ao longo de décadas e de séculos, vem<br />
sendo objeto de cobiça internacional, mas ainda não conseguiu motivar os<br />
brasileiros para que a cobicem efetivamente, e a protejam, e a preservem.<br />
Sr. Ministro, nós queremos preservar a Amazônia, mas a política ambiental<br />
deste País para a Amazônia apresenta distorções gravíssimas que precisam ser<br />
corrigidas.<br />
Temos de levar em consideração que o objetivo precípuo, primordial, da<br />
Ecologia é o ser humano. E lá nós temos 25 milhões de habitantes. E é preciso que<br />
se leve em consideração a evolução histórica da colonização em nossa região, que<br />
não fugiu à regra geral do País: primeiro chega o homem; depois vem o Estado. Isso<br />
vem desde o Brasil Colônia; a Amazônia não fugiu à regra geral.<br />
Na década de 60, a região era um imenso vazio demográfico. Juscelino construiu a<br />
Belém—Brasília, integrando a Amazônia ao Centro-Oeste e ao restante do Brasil.<br />
Em conseqüência disso, começaram os fluxos migratórios.<br />
Já na década de 70, o Governo Federal lançou slogans belíssimos: “Vamos<br />
integrar para não entregar”; “vamos levar homens sem terra para a terra sem<br />
homens”. E lá chegou o homem, acreditando no convite e no apelo.<br />
Lamentavelmente, ficou jogado ao léu.<br />
71
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL<br />
Nome: Conjunta - Agricultura,Pecuaria / Meio Ambiente<br />
Número: 1129/08 Data: <strong>16</strong>/<strong>07</strong>/<strong>2008</strong><br />
O projeto de colonização do INCRA para a Transamazônica não digo que foi<br />
um fracasso porque, em decorrência da atividade do homem que acreditou e que<br />
particularmente, sem a presença do Governo, criou vilas, produziu na agricultura, na<br />
pecuária, nós temos hoje uma região se desenvolvendo, apesar da ausência quase<br />
total do Estado.<br />
E são graves os problemas. O primeiro deles está intimamente vinculado ao<br />
meio ambiente: a questão fundiária, Sr. Ministro. Questiona-se muito o Ministério do<br />
Meio Ambiente, mas muita coisa ele não pode fazer, inclusive com relação às<br />
licenças ambientais, porque falta o documento da terra.<br />
Então, é preciso que o Governo fale uma só língua. Lamentavelmente, isso<br />
não ocorre — e não é de hoje: a área ambiental vai para um lado; a área fundiária,<br />
para outro; e a área do desenvolvimento econômico, para outro.<br />
(O Sr. Presidente faz soarem as campainhas.)<br />
O SR. DEPUTADO ASDRUBAL BENTES - Sr. Presidente, peço um pouco<br />
de consideração para um amazônida de 69 anos...<br />
O SR. PRESIDENTE (Deputado Onyx Lorenzoni) - V.Exa. já está com 1 a<br />
mais e vai ganhar mais 1 minuto.<br />
O SR. DEPUTADO ASDRUBAL BENTES - ... que quer ver a Amazônia<br />
desenvolvida.<br />
E nós amazônidas queremos, sim, preservar a Amazônia, mas queremos ter<br />
as mesmas condições que têm o paulista, o gaúcho. Ora, nós não queremos que<br />
sejam devastadas as nossas florestas, mas queremos que elas tenham um<br />
aproveitamento, para benefício <strong>dos</strong> amazônidas.<br />
Então, Sr. Ministro, o tempo é curto e eu gostaria de explanar mais algumas<br />
coisas Mas é importante sabermos, por exemplo, que todas essas unidades de<br />
conservação foram criadas ao arrepio da lei. E é necessária uma urgente revisão<br />
dessa matéria porque, na realidade, não houve discriminatória, não houve<br />
levantamento fundiário. Foram cria<strong>dos</strong> circos por ONGs, que diziam o que devia ser<br />
feito, sem consulta ao verdadeiro nativo, àquele que lá vive, os ribeirinhos, por<br />
exemplo, e tantos outros.<br />
72
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL<br />
Nome: Conjunta - Agricultura,Pecuaria / Meio Ambiente<br />
Número: 1129/08 Data: <strong>16</strong>/<strong>07</strong>/<strong>2008</strong><br />
A Amazônia não tem só um bioma, não é só floresta ombrófila. Nós<br />
precisamos que isso tudo seja levado em consideração. Nós precisamos que haja<br />
essa regularização fundiária.<br />
Eu apresentei um projeto de lei que acho que foi tão bom, Ministro, que o<br />
Governo plagiou: transformou-o em medida provisória. E eu fiquei feliz por isso,<br />
porque já está em vigor, e o INCRA já começa a fazer a regularização fundiária.<br />
Mas é preciso que haja realmente um trabalho conjunto de to<strong>dos</strong> os órgãos<br />
do Governo, para que nós possamos, por exemplo, rever as situações que hoje são<br />
consideradas ilegais. Nós precisamos analisar, Sr. Ministro, que muitas dessas<br />
situações do campo, de fato, foram constituídas quando a lei vigente exigia um<br />
desmatamento de 50%. E, nessa época, se isso era crime, eu o cometi, porque fui<br />
Presidente do Grupo Executivo das Terras do Araguaia-Tocantins, Superintendente<br />
do INCRA e tinha de cumprir a lei. Eu não podia dar o título se o cidadão não tivesse<br />
feito a benfeitoria.<br />
O SR. PRESIDENTE (Deputado Onyx Lorenzoni) - Obrigado, Deputado.<br />
O SR. DEPUTADO ASDRUBAL BENTES - Eu lamento muito. É triste.<br />
Parece-me que a barriga vazia se sobrepõe ao interesse maior...<br />
O SR. PRESIDENTE (Deputado Onyx Lorenzoni) - Deputado, tem Ordem do<br />
Dia! Deputado Asdrubal Bentes, eu tenho carinho e respeito por V.Exa., mas V.Exa.<br />
usou 6 minutos, enquanto os outros Deputa<strong>dos</strong> usaram 3 minutos.<br />
mas...<br />
É simples assim.<br />
O SR. DEPUTADO ASDRUBAL BENTES - Eu lhe agradeço a consideração,<br />
Eu quero dizer, então, que apresentei requerimento à Comissão da Amazônia<br />
convidando V.Exa. para uma audiência pública. E lá, com certeza, nós vamos ter um<br />
tempo não do tamanho da Amazônia, mas suficiente para discutirmos os graves<br />
problemas da nossa região.<br />
O SR. PRESIDENTE (Deputado Onyx Lorenzoni) - Obrigado, Deputado<br />
Asdrubal Bentes, pela contribuição e pela colaboração.<br />
Há 2 Deputa<strong>dos</strong> inscritos para a tréplica. Encarecidamente, vou pedir que<br />
seja feita em 1 minuto.<br />
Concedo a palavra ao Deputado Rogério Silva.<br />
73
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL<br />
Nome: Conjunta - Agricultura,Pecuaria / Meio Ambiente<br />
Número: 1129/08 Data: <strong>16</strong>/<strong>07</strong>/<strong>2008</strong><br />
O SR. DEPUTADO ROGÉRIO SILVA - Sr. Ministro, eu só quero falar sobre<br />
uma observação feita por V.Exa.: de que não se pode trocar uma árvore por um boi.<br />
O nosso pensamento é de regularização do passivo ambiental e de regularização<br />
fundiária. Nós não estamos falando nem apoiando novos desmatamentos na<br />
Amazônia.<br />
Quanto ao Plano de Manejo 100% Sustentável, eu tive a honra de ser um <strong>dos</strong><br />
Parlamentares que lutaram para que diminuísse o avanço na Amazônia e para que<br />
houvesse a renovação da Floresta Amazônica.<br />
V.Exa. falou sobre as áreas de parques nacionais que podem ser vendidas<br />
para a compensação em áreas que precisam de regularização, quando deu resposta<br />
a Santa Catarina. Eu quero saber se essa resposta é para o Brasil inteiro, com<br />
propriedades regulamentadas. Se for, é uma resposta positiva para os parques já<br />
em andamento.<br />
E, por fim, Sr. Presidente, quero dizer que o custo de produção na Amazônia<br />
é 15% mais caro, e se vende o produto 15% mais barato. E os impostos chegam<br />
perto de 50% do que nós produzimos.<br />
Muito obrigado.<br />
O SR. PRESIDENTE (Deputado Onyx Lorenzoni) - Obrigado.<br />
Concedo a palavra ao Deputado Cezar Silvestri.<br />
O SR. DEPUTADO CEZAR SILVESTRI - Sr. Presidente, eu vou tentar ser<br />
bastante breve.<br />
Primeiro, Ministro, eu acho que é um grande avanço essa informação que nos<br />
dá, de que no Sul do País as áreas de preservação permanente poderão ser<br />
incluídas na área de reserva legal. Acho isso fundamental para que preservemos o<br />
mais importante, ou seja, as áreas de preservação permanente.<br />
Com relação àquela idéia que apresentei, da compensação, a Deputada<br />
Jusmari Oliveira falava aqui sobre o caso do Município de Luís Eduardo Magalhães.<br />
Eu acho que ficou clara a idéia que eu transmiti. Seria no sentido de poder usar<br />
essas áreas, de essas áreas poderem ser vendidas àqueles que não têm reserva<br />
legal. E que elas fossem obrigatoriamente doadas ao Poder Público e transformadas<br />
em unidades de conservação.<br />
74
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL<br />
Nome: Conjunta - Agricultura,Pecuaria / Meio Ambiente<br />
Número: 1129/08 Data: <strong>16</strong>/<strong>07</strong>/<strong>2008</strong><br />
Por último, quero também fazer uma sugestão. No Sul do País, em especial<br />
no Paraná, precisaríamos de mais de 50 bilhões para fazer a reserva legal. Então,<br />
que sejam permiti<strong>dos</strong> na reserva legal os reflorestamentos com variedades exóticas,<br />
dando oportunidade ao produtor de usar comercialmente essas áreas e, a nós, de<br />
garantirmos a preservação delas.<br />
E seguir o exemplo do Chile, do Canadá e da Alemanha, onde as áreas com<br />
declividade, já degradadas, podem ser utilizadas para reflorestamento. Nos países<br />
desenvolvi<strong>dos</strong> isso feito. Eu tive a oportunidade de presenciar.<br />
Por último mesmo, agora, com relação ao georreferenciamento, Sr. Ministro,<br />
V.Exa. falava sobre a idéia de fazê-lo coletivamente. Mas eu sou talvez um <strong>dos</strong><br />
únicos proprietários no Paraná que conseguiram fazer o georreferenciamento da<br />
área ser aprovado pelo INCRA. Até agora somente 3 proprietários conseguiram.<br />
Nós temos de acabar com a exigência da anuência <strong>dos</strong> confrontantes.<br />
Quando se compra uma propriedade, há um memorial descritivo. Então, na verdade,<br />
quando o georreferenciamento é feito por um profissional e bate exatamente com o<br />
memorial descritivo, eu acho que se deve retirar essa exigência, até porque, quando<br />
pedimos a anuência do confrontante, o que ele diz? “Eu não vou assinar porque não<br />
entendo disso”. Então, nós estamos inviabilizando o georreferenciamento.<br />
O SR. PRESIDENTE (Deputado Onyx Lorenzoni) - Muito boa. Excelente a<br />
proposta, Deputado Cezar Silvestri.<br />
Para a última tréplica, concedo a palavra ao proponente desta audiência<br />
pública, Deputado Giovanni Queiroz, a quem peço encarecidamente que seja breve.<br />
O SR. DEPUTADO GIOVANNI QUEIROZ - Sr. Presidente, serei breve.<br />
Primeiro, quero passar às mãos do Ministro as denúncias de desmatamento,<br />
que continua até hoje, mesmo depois de transcorrido 1 ano que foram feitas.<br />
Segundo: o Ministro afirmou que no Pará o Zoneamento Ecológico-<br />
Econômico está para ser concluído. Não está. Só na área da BR-<strong>16</strong>3. No restante<br />
do Estado ainda não. Então, é necessário que haja empenho do Ministério para que<br />
o Estado possa fazê-lo.<br />
Terceiro, Ministro: eu vi V.Exa. aplaudir a posição do Governo Federal, de não<br />
reduzir para 50% o desmatamento na Amazônia. Ninguém está pedindo favor ao<br />
Governo nem pedindo perdão de nada. Nós queremos que o direito de quem<br />
75
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL<br />
Nome: Conjunta - Agricultura,Pecuaria / Meio Ambiente<br />
Número: 1129/08 Data: <strong>16</strong>/<strong>07</strong>/<strong>2008</strong><br />
desmatou até o momento da edição da medida provisória e antes da medida<br />
provisória seja reconhecido. Eu, por exemplo, desmatei 50% da minha área;<br />
preservei 50%, enquanto a lei me permitia fazer dessa forma.<br />
V.Exa. poderia rever essa questão já na medida provisória que está sendo<br />
reeditada há mais de 6 anos, para que se corrija esse grotesco erro que está<br />
penalizando e deixando como marginal aqueles que desmataram à época em que<br />
era por lei obrigatório fazê-lo.<br />
Quarto, Sr. Ministro: V.Exa. reconhece que o georreferenciamento coletivo<br />
pode ser uma solução, até com financiamento do Ministério. Ao fazer isso, V.Exa.<br />
está reconhecendo a dificuldade. Mas a dificuldade não é pelo custo. A dificuldade é<br />
porque não há profissionais para fazer isso em tempo hábil. Peço, então, que haja<br />
dilatação de tempo para que os proprietários rurais da região possam fazer esse<br />
georreferenciamento e, aí sim, buscar a sua licença ambiental, sob pena de<br />
continuarem como marginais, como estes que aqui estão.<br />
Para concluir, Sr. Presidente, eu quero saber o que vou dizer para o Seu<br />
Manoel, que está aqui. Ele tem 72 anos de idade, que tem 10 filhos e está na Terra<br />
do Meio. A União foi lá e se sobrepôs em relação à sua propriedade, transformando-<br />
o num marginal. Eu quero saber o que dizer a ele e se é possível rever essa<br />
situação, pelo menos indenizá-los. Esse é o mínimo que eles têm direito, de posse<br />
mansa e pacífica e de boa-fé.<br />
O SR. PRESIDENTE (Deputado Onyx Lorenzoni) - Obrigado, Deputado<br />
Giovanni Queiroz.<br />
O SR. DEPUTADO GERSON PERES - Sr. Presidente, pela ordem.<br />
Estão nos chamando para votar.<br />
O SR. PRESIDENTE (Deputado Onyx Lorenzoni) - Sim.<br />
O SR. DEPUTADO GERSON PERES - Eu peço desculpas ao Ministro, mas<br />
terei de me ausentar porque sou obrigado a registrar o meu voto no plenário.<br />
O SR. PRESIDENTE (Deputado Onyx Lorenzoni) - Eu agradeço a to<strong>dos</strong> os<br />
Parlamentares a contribuição, a colaboração, a compreensão. Às vezes, o ato de<br />
presidir e de mediar o debate é complexo. Hoje, exatamente, porque estamos<br />
premi<strong>dos</strong> pela sessão plenária que ocorre agora.<br />
76
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL<br />
Nome: Conjunta - Agricultura,Pecuaria / Meio Ambiente<br />
Número: 1129/08 Data: <strong>16</strong>/<strong>07</strong>/<strong>2008</strong><br />
Com a palavra o Ministro, para fazer as suas colocações em relação a este<br />
bloco de questionamentos e, logo em seguida, para as suas considerações finais.<br />
O SR. MINISTRO CARLOS MINC BAUMFELD - Sr. Presidente, Sras. e Srs.<br />
Deputa<strong>dos</strong>, quero mais uma vez reconhecer a forma respeitosa com que fui tratado<br />
aqui, a pertinência das questões levantadas. Quando há divergência, significa que<br />
há democracia.<br />
E quero dizer que me sensibilizei em relação a várias das questões aqui<br />
levantadas. Não vim apenas professar verdades já adquiridas. Aliás, a questão<br />
levantada por V.Exa. me parece bastante pertinente.<br />
Vou então proceder à resposta, no que o tempo curto me permite, às últimas<br />
8 perguntas e às 3 tréplicas, rapidamente.<br />
O Deputado Lázaro Botelho, do Tocantins, disse que houve incentivo para<br />
derrubar; falou sobre a questão das terras férteis. Sugestão: “legalizar de alguma<br />
maneira” — entre aspas — “o que já foi feito”. Isso, de certa forma, combina com<br />
algumas questões também levantadas pelo Deputado Giovanni Queiroz.<br />
O Código Florestal, mesmo para a Amazônia, quando fala <strong>dos</strong> 20%, abre uma<br />
exceção: para onde já existe produção consolidada e Zoneamento Ecológico-<br />
Econômico pode chegar a 50%. Essa é uma realidade.<br />
Essa medida foi da lavra de V.Exa.<br />
O SR. DEPUTADO LÁZARO BOTELHO - Eu fui o primeiro Presidente da<br />
Comissão que analisou a Medida Provisória nº 2.<strong>16</strong>6.<br />
O SR. MINISTRO CARLOS MINC BAUMFELD - Nós vamos respeitar essa<br />
posição, e estamos incentivando, com recursos do Ministério do Meio Ambiente,<br />
parcerias para concluir o Zoneamento Ecológico-Econômico, que inclusive vai<br />
permitir à produção consolidada e intensificada chegar a esse ponto.<br />
No caso do Pará, da área da BR-<strong>16</strong>3 já está feito o Zoneamento Ecológico-<br />
Econômico. E vai para a Assembléia Legislativa, para ter força de lei. E, no restante<br />
do Estado, esse processo também está no início, com o nosso apoio.<br />
O Deputado Pedro Wilson, de Goiás, falou do Cerrado, da rastreabilidade.<br />
Quero dizer que a rastreabilidade é a base do acordo que nós vamos firmar com a<br />
ABIEC, <strong>dos</strong> exportadores de carne. Hoje em dia isso já é uma exigência, do ponto<br />
de vista do controle sanitário. Pode ser que eu esteja enganado — V.Exa. é da<br />
77
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL<br />
Nome: Conjunta - Agricultura,Pecuaria / Meio Ambiente<br />
Número: 1129/08 Data: <strong>16</strong>/<strong>07</strong>/<strong>2008</strong><br />
Comissão de Agricultura e Pecuária e está muito mais a par do assunto do que eu<br />
—, mas acho que hoje em dia, mais do que a questão ambiental, o que prejudica a<br />
exportação de carne ser mais intensa para outros assuntos é a questão sanitária, à<br />
qual sou completamente solidário. E digo mais: a mesma rastreabilidade para a<br />
questão sanitária deve ser usada para a questão ambiental. Resolvem-se 2<br />
assuntos num só, incentivando aquele a entrar na linha sanitária e ambiental,<br />
simultaneamente, com apoio para isso.<br />
O Deputado Pedro Wilson levantou várias outras questões, com as quais eu<br />
concordo, a exemplo da Agenda 21 — vamos incrementá-la —, do monitoramento<br />
das reservas legais e do incremento para os Comitês de Bacia.<br />
Nós vamos prestigiar muito a ANA — Agência Nacional de Águas. Vamos<br />
querer que ela tenha mais recursos e que realmente sirva, juntamente com<br />
Prefeituras e Governos Estaduais, para recuperar as bacias hidrográficas. Aliás, no<br />
Rio de Janeiro, nós estamos fazendo um programa de recuperação de microbacias,<br />
com recursos nacionais e da FAO, para que pequenos produtores possam recuperar<br />
a microbacia com atividades produtivas de combate à erosão, de recuperação de<br />
solo, recomposição de mata ciliar.<br />
O Deputado Rogério Silva fez uma réplica. Eu anotei aqui.<br />
O Deputado Gerson Peres, do Pará, que teve de sair mas justificou, disse que<br />
a culpa não é do boi; falou da ordem judicial, do diálogo e de vários outros assuntos.<br />
Eu quero dizer que a posição do Ministério é a do diálogo. Não se pode<br />
confundir diálogo com frouxidão. Qualquer um aqui é a favor de que se cumpra a lei.<br />
E o diálogo é necessário seja para aperfeiçoar a lei, seja para encontrar o bom<br />
caminho das boas práticas produtivas e como o Estado pode e deve ter interlocução<br />
com o setor produtivo.<br />
Quero dizer às Sras. e aos Srs. Deputa<strong>dos</strong> que uma das primeiras medidas<br />
que tomei na condição de Secretário do Meio Ambiente foi a de abrir a CECA, a<br />
Comissão Estadual de Controle Ambiental, a mais importante do Governo do Rio de<br />
Janeiro. Quem pode, por exemplo, licenciar ou interditar uma empresa é só chapa-<br />
branca, é só o governo. Eu dei assento na CECA para os representantes do<br />
Prefeito, da universidade e da FIRJAN, que ficaram espantadíssimos com o fato de<br />
uma pessoa com o meu perfil dar assento, com direito a voto, ao empresário nesse<br />
78
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL<br />
Nome: Conjunta - Agricultura,Pecuaria / Meio Ambiente<br />
Número: 1129/08 Data: <strong>16</strong>/<strong>07</strong>/<strong>2008</strong><br />
órgão mais importante. E disseram: “Olha, se já era difícil uma licença, com todo<br />
mundo dando palpite, agora é que vai ser impossível”. Demos. Em 1 ano e 4 meses,<br />
2.230 licenças ambientais foram concedidas no Rio. Nenhuma foi contestada, nem<br />
pelos ambientalistas nem pelo Ministério Público, porque os próprios empresários<br />
participaram.<br />
Eu acho que o diálogo e a participação são sinônimos de eficiência.<br />
Quero complementar dizendo que aprovei uma lei no Rio de Janeiro — e fiz<br />
cumpri-la muitas vezes: a Lei do ICMS Verde. O que é a Lei do ICMS Verde? Eu não<br />
aumento imposto; sou contra aumento de imposto. Ela garante, no caso para os<br />
municípios que cumprem algumas questões, percentual maior de recebimento do<br />
ICMS. Que questões são essas, no caso da lei do Rio? Outros Esta<strong>dos</strong> têm; Paraná<br />
foi pioneiro, mas a lei do Rio incorporou outras questões à lei do Paraná, que é de<br />
1992. Criar unidades de conservação; melhorar o lixo, a questão de resíduos, coleta<br />
seletiva, disposição final, e qualidade da água.<br />
Com base nisso, alguns Prefeitos que eram contrários a criar unidades de<br />
conservação em áreas adequadas, consultando e indenizando as pessoas,<br />
passaram a ser favoráveis, porque, com isso, preservam mananciais, por exemplo, e<br />
vão ter algum recurso para pagar melhor ao professor, ao agrônomo, ao engenheiro<br />
florestal etc.<br />
A minha linha é a seguinte: sempre controlar o que está errado e incentivar<br />
para funcionar, descentralizando e dialogando com o setor produtivo. Não há outro<br />
caminho para a preservação. Com base apenas no controle, não há possibilidade; é<br />
enxugar gelo. Digo isso com a tradição de 20 anos de tentar fazer cumprir as leis.<br />
Alguém já disse que as leis que não são cumpridas geralmente são burras e não<br />
foram feitas com o devido diálogo e com a devida preocupação, na “factibilidade”<br />
delas, ou seja, na efetividade do seu cumprimento.<br />
O Deputado Beto Faro, do Pará, falou também da importância do<br />
Zoneamento Ecológico-Econômico e da regularização fundiária. Eu vou mais além,<br />
Deputa<strong>dos</strong>, Presidentes das Comissões: sem regularização fundiária não há política<br />
pública.<br />
79
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL<br />
Nome: Conjunta - Agricultura,Pecuaria / Meio Ambiente<br />
Número: 1129/08 Data: <strong>16</strong>/<strong>07</strong>/<strong>2008</strong><br />
Se V.Exas. não sabem, no Pará, por exemplo, os prédios <strong>dos</strong> cartórios têm 5<br />
andares; cada terra tem 5 donos. Como eu vou apoiar alguém ou multar alguém, se<br />
para cada terra há 5 donos?<br />
Então, nós combinamos com o Ministério do Desenvolvimento Agrário, com o<br />
Exército e com os Governos Estaduais de fazer convênios de cooperação, num<br />
esforço brutal de regularização fundiária.<br />
Embora não tenha votado porque não sou Senador, apoiei a ampliação a<br />
ampliação da área para regularização fundiária. Fui até criticado por isso. Não votei,<br />
não fui eu que propus, mas eu apoiei da seguinte maneira: se existem 30 ou 40 mil<br />
explorações entre 500 e 1.500 hectares e se hoje elas estão fora da legalidade,<br />
quem vai cobrar a reserva legal delas? Então, eu prefiro agilizar a legalização para<br />
poder cobrar delas a reserva legal a simplesmente taxá-las de latifúndio e não poder<br />
cobrar 1% de reserva legal, porque ninguém sabe quem é o dono.<br />
Então, quero dizer que sou um defensor da legalidade fundiária e reconheço<br />
que, sem isso, todo o resto é superficial, inócuo e não gera efeito.<br />
A Deputada Cida Diogo, a minha companheira do Rio, fez elogios, alguns<br />
exagera<strong>dos</strong>, mas S.Exa. realmente ressaltou o meu pragmatismo. Eu sou um<br />
pragmático, o que significa que, sem diálogo, sem negociação, inclusive com outros<br />
Ministérios... Para eu conseguir o Fundo Amazônia, tive de mostrar ao Presidente<br />
Lula que ele seria completamente autônomo e soberano. Para conseguir recursos<br />
para o Fundo Clima, eu tive de negociar com o Ministro Paulo Bernardo um<br />
percentual diferente, com condições diferentes.<br />
Eu sou um negociador, eu sou um pragmático. Eu quero bons resulta<strong>dos</strong> para<br />
a área produtiva e para a área ambiental. Tenho certeza absoluta de que, com<br />
pouco desenvolvimento e miséria, o meio ambiente não vai ser preservado, vai ser<br />
dizimado. Em muitas áreas, o próprio assentado do INCRA ou aquele que está na<br />
reserva extrativista, quando está na miséria, corta a madeira e dá para o madeireiro<br />
ilegal ou permite a entrada do boi, que não é dele, na própria reserva extrativista, o<br />
que acaba com o corte raso e até prejudica a castanheira, o seringal, etc.<br />
Tenho perfeita consciência disso. Por isso, a partir de 1º de agosto, vamos<br />
fazer planos de manejo para todas as reservas extrativistas para que, com crédito,<br />
possam sair da miséria.<br />
80
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL<br />
Nome: Conjunta - Agricultura,Pecuaria / Meio Ambiente<br />
Número: 1129/08 Data: <strong>16</strong>/<strong>07</strong>/<strong>2008</strong><br />
A Deputada Jusmari Oliveira, da boa terra da Bahia, defensora do Cerrado,<br />
mostrou que ele pode ser um celeiro e tem de ser preservado. Essa contradição,<br />
que existe, não pode se transformar num antagonismo. Concordo. E como eu vejo<br />
isso? Eu vejo da seguinte maneira: no Rio de Janeiro, como em outros Esta<strong>dos</strong>,<br />
meio ambiente e agricultura eram geralmente adversários, não se entendiam. O<br />
Governador Sérgio Cabral — e quero dizer que o considero um grande governador;<br />
tenho amizade por ele; é de outro partido, é do PMDB; eu acho que é um jovem<br />
líder; V.Exas. ainda vão ouvir falar muito dele; foi Senador, V.Exas. o conhecem<br />
também do Senado — queria multiplicar por 4 a produção do etanol no Estado do<br />
Rio de Janeiro, dobrando a produtividade e dobrando a área. S.Exa. teve o bom<br />
senso de chegar para o Secretário de Agricultura, Cristino Áureo, grande figura,<br />
competente, e dizer o seguinte: “Deputado, converse com o Minc, do meio ambiente,<br />
e vejam se vocês encontram uma solução”. Nós descobrimos terras que já tinham<br />
sido usadas para a produção de cana-de-açúcar e se degradaram, canais do DNOS<br />
entupi<strong>dos</strong>, assorea<strong>dos</strong>, acaba<strong>dos</strong>.<br />
Então, o que nós conseguimos? Dinheiro do Ministério da Integração Nacional<br />
para recuperar aquela área; dinheiro da SERLA, que era estadual — na época eu<br />
era Secretário Estadual; e dinheiro nacional. Estamos recuperando aquela área. E a<br />
área para produção de cana pode ser dobrada, sem entrar em 1 hectare de Mata<br />
Atlântica, sem entrar em 1 hectare de produção de alimentos, ocupando uma área<br />
que já havia sido usada para a produção de cana-de-açúcar e já estava degradada.<br />
Então, nós conseguimos aprovar uma lei que permitia o reflorestamento<br />
econômico, a silvicultura econômica. Fui criticado por isso também, por alguns<br />
ambientalistas que achavam que, em algumas áreas, o cedro, o eucalipto ou o<br />
pinhão-manso eram obrigatoriamente ruins para o meio ambiente. Então, o que nós<br />
fizemos? Vimos o Estado por áreas. Em área de muita Mata Atlântica e produção de<br />
alimentos, não. Em outras áreas, incentivamos a silvicultura econômica, com uma<br />
compensação de 15% para reflorestar, com espécies nativas, as margens <strong>dos</strong> rios.<br />
No campo se usa madeira para tudo e qualquer coisa: para fazer o curral, a casa, a<br />
lenha, o carvão, a cerca. Se não tem madeira plantada, você vai fazer o quê? Vai<br />
com a machadinha em cima da mata nativa. Então, nós aprovamos uma lei para<br />
que, em algumas áreas, com compensação, seja feita a silvicultura econômica.<br />
81
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL<br />
Nome: Conjunta - Agricultura,Pecuaria / Meio Ambiente<br />
Número: 1129/08 Data: <strong>16</strong>/<strong>07</strong>/<strong>2008</strong><br />
Trouxemos a agricultura para o comando do Zoneamento Ecológico-<br />
Econômico. Então, com a agricultura no comando do Zoneamento Ecológico-<br />
Econômico, com a lei da silvicultura econômica e com a ampliação do etanol e da<br />
cana-de-açúcar, sem destruir Mata Atlântica, fez-se a paz entre agricultura e meio<br />
ambiente no Rio de Janeiro.<br />
Nós chegamos para o nosso Ministro da Agricultura, do MAPA, e dissemos:<br />
“Ministro, nós vamos fazer com V.Exa. a mesma coisa que fizemos com o Secretário<br />
Cristino Áureo, do Rio de Janeiro: fazer as pazes entre agricultura e meio ambiente,<br />
que é o melhor para os 2 la<strong>dos</strong>”.<br />
Não se protege a Mata Atlântica se não tiver madeira plantada para ser usada<br />
como lenha. É impossível! E eu acho que é esse o caminho que nós vamos tentar<br />
seguir aqui.<br />
Então, eu acho que no Cerrado é possível adotar essa linha, é possível<br />
intensificar a agricultura nas áreas já existentes; é possível aprovar a PEC nº 115,<br />
que apóio completamente, para preservar mais e dignificar mais o Cerrado; e é<br />
possível conseguir apoios, como fizemos em relação à Lei do ICMS Verde, para<br />
salvar áreas remanescentes, como a que V.Exa. mencionou, no Município de Luís<br />
Eduardo Magalhães.<br />
Por fim, o Deputado Fernando Ferro mencionou a nossa ação recente, que foi<br />
criticada, em relação aos usineiros de Pernambuco. Quero dizer, Deputado<br />
Fernando Ferro, que já entramos em contato com o Governador e com o Ministério<br />
Público. Em agosto nós assinaremos um novo TAC, com os 24 usineiros, que vão<br />
começar a cumprir várias leis que infelizmente não estavam cumprindo. Por<br />
exemplo: 50 metros de cada lado <strong>dos</strong> rios — não era cumprido; aceiros entre a área<br />
queimada e os remanescentes — o fogo, como todo mundo aqui sabe, passa para o<br />
remanescente; e demarcação das reservas legais. Isso não vinha sendo feito. E<br />
V.Exa. disse bem: no Brasil, sobraram 8% da Mata Atlântica, que é um nada; em<br />
Pernambuco, 2,7%, que é um terço desse nada.<br />
Quando me pronunciei sobre esse assunto, cometi alguns equívocos, que<br />
corrigi e me desculpei por eles, mas no mérito estava certo. Tanto está certo que<br />
vamos fazer um novo acordo com o setor produtivo, junto com o Governador e o<br />
Ministério Público, para que progressivamente essas leis sejam cumpridas.<br />
82
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL<br />
Nome: Conjunta - Agricultura,Pecuaria / Meio Ambiente<br />
Número: 1129/08 Data: <strong>16</strong>/<strong>07</strong>/<strong>2008</strong><br />
E o Deputado Asdrubal Bentes, do Pará, quer preservar, corrigir distorções.<br />
Lembra que JK integrou; fala da ausência do Estado e da questão fundiária.<br />
Nós já nos referimos a isso. A questão da regularização fundiária deve ser<br />
incentivada. Aliás, esses recursos no valor de 1 bilhão, com 4% ao ano e 12 meses<br />
de carência, servirão também para incrementar a regularização fundiária e a<br />
recomposição das reservas.<br />
O Deputado Rogério Silva falou outra vez da regularização e <strong>dos</strong> parques.<br />
Quero dizer, Deputado, que nós seguiremos à risca o que diz a Lei do SNUC, a lei<br />
federal que instituiu o Sistema Nacional de Unidades de Conservação, que prevê 5<br />
usos possíveis para a compensação ambiental. O primeiro deles: regularização<br />
fundiária.<br />
Nós criamos no Rio de Janeiro um grupo de trabalho da Secretaria, junto com<br />
a Procuradoria-Geral do Estado. E essa regularização já tem um problema: o<br />
proprietário sempre joga o preço lá em cima; o Governo sempre joga o preço lá em<br />
baixo; aí fica difícil. Então, nós vamos usar como base o preço de mercado e<br />
contaremos com o apoio de Procuradores do Estado, para que essa regularização<br />
seja feita com base no preço justo. Isso é muito importante, para não haver<br />
desapropriação disfarçada de regularização. Isso foi o que fizemos lá e pretendemos<br />
fazer aqui. E, para isso, abrimos a <strong>Câmara</strong> de Compensação Ambiental para a<br />
iniciativa privada e para as universidades.<br />
E o Deputado Cezar Silvestri falou mais uma vez das espécies exóticas, da<br />
ação do Poder Público, da recomposição de reservas.<br />
Eu vejo isso da seguinte maneira: nós devemos 3 coisas. Por que plantar é<br />
muito bom? Por causa do clima — porque se absorve carbono; por causa do rio —<br />
porque se produz água e se diminui o assoreamento; por causa da biodiversidade —<br />
e isso é importante, ou seja, refazer a biodiversidade, porque muitas espécies<br />
vegetais estão ameaças; e criar áreas onde essa plantação ajude a produção e o<br />
emprego.<br />
Eu acho que isso pode e deve ser equilibrado. Não vejo que isso seja<br />
incompatível. Tanto é que no Rio de Janeiro dissemos: “Olha, pode ter a floresta<br />
comercial contínua, mas tem de refazer com espécie nativa uma área de 15% em<br />
torno <strong>dos</strong> rios”.<br />
83
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL<br />
Nome: Conjunta - Agricultura,Pecuaria / Meio Ambiente<br />
Número: 1129/08 Data: <strong>16</strong>/<strong>07</strong>/<strong>2008</strong><br />
Eu acho que o equilíbrio é um bom caminho, é o caminho do meio, não é o<br />
caminho da verdade absoluta. É o caminho do entendimento e do equilíbrio<br />
necessário, porque a nossa guerra não é com o índice de desmatamento do ano<br />
anterior. É com o modelo injusto que pode empobrecer o povo e colocar em risco um<br />
bioma do qual as oportunidades, inclusive econômicas, nós sequer conhecemos.<br />
Não é justo destruir algo de cuja potencialidade sequer sabemos. Mas, para isso, é<br />
fundamental, sem o que não funciona, garantir condições de sobrevivência digna,<br />
legal, e incentivada para aqueles que querem, com o seu suor, alimentar as suas<br />
famílias e engrandecer o Brasil.<br />
Muito obrigado. Boa tarde a to<strong>dos</strong>.<br />
O SR. PRESIDENTE (Deputado Onyx Lorenzoni) - Vou encerrar esta reunião.<br />
Antes, porém, convido os Srs. Deputa<strong>dos</strong> para a reunião de audiência pública a ser<br />
realizada no próximo dia 5 de agosto, às 14h30min, no Plenário 6 do Anexo II desta<br />
Casa, para discutir a situação do setor vitivinícola brasileiro.<br />
O SR. DEPUTADO GIOVANNI QUEIROZ - Sr. Presidente, o Ministro não<br />
respondeu à minha réplica.<br />
O SR. PRESIDENTE (Deputado Onyx Lorenzoni) - Deputado, nós podemos<br />
fazer outra audiência. Esta nós temos de encerrar.<br />
O SR. DEPUTADO GIOVANNI QUEIROZ - Eu já vou encaminhar o<br />
requerimento.<br />
reunião.<br />
O SR. PRESIDENTE (Deputado Onyx Lorenzoni) - Está encerrada a presente<br />
84