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16/07/2008 - Câmara dos Deputados

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CÂMARA DOS DEPUTADOS<br />

DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO<br />

NÚCLEO DE REDAÇÃO FINAL EM COMISSÕES<br />

TEXTO COM REDAÇÃO FINAL<br />

CONJUNTA - AGRICULTURA,PECUARIA / MEIO AMBIENTE<br />

EVENTO: Audiência Pública N°: 1129/08 DATA: <strong>16</strong>/<strong>07</strong>/200 8<br />

INÍCIO: 10h11min TÉRMINO: 14h09min DURAÇÃO: 03h57min<br />

TEMPO DE GRAVAÇÃO: 03h57min PÁGINAS: 84 QUARTOS: 48<br />

DEPOENTE/CONVIDADO - QUALIFICAÇÃO<br />

CARLOS MINC BAUMFELD – Ministro de Estado do Meio Ambiente.<br />

SUMÁRIO: Discussão sobre políticas do Ministério do Meio Ambiente para a Amazônia e<br />

explanação acerca da agenda ambiental do Governo.<br />

OBSERVAÇÕES<br />

Reunião conjunta com a Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável.


CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL<br />

Nome: Conjunta - Agricultura,Pecuaria / Meio Ambiente<br />

Número: 1129/08 Data: <strong>16</strong>/<strong>07</strong>/<strong>2008</strong><br />

O SR. PRESIDENTE (Deputado Onyx Lorenzoni) - Declaro aberta a reunião<br />

da Comissão de Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Rural, em<br />

conjunto com a Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da<br />

<strong>Câmara</strong> <strong>dos</strong> Deputa<strong>dos</strong>, convocada para tratar <strong>dos</strong> seguintes temas: discutir as<br />

políticas do Ministério do Meio Ambiente para a Amazônia e explanar sobre a<br />

Agenda Ambiental do Governo.<br />

Foi convocado para participar desta reunião o Sr. Ministro de Estado e Meio<br />

Ambiente, Dr. Carlos Minc Baumfeld.<br />

O Sr. Ministro já se encontra à Mesa. Informo aos Srs. Parlamentares que o<br />

Sr. Ministro terá o prazo de 30 minutos, prorrogáveis por mais 15, e somente poderá<br />

ser aparteado durante a prorrogação, se houver.<br />

A partir do início da exposição do Sr. Ministro, estará disponibilizada nas<br />

bancadas a lista de inscrição para os questionamentos por parte <strong>dos</strong> Srs.<br />

Parlamentares.<br />

Os Srs. Parlamentares terão o prazo de 3 minutos para fazer seus<br />

questionamentos. Dependendo do número de Parlamentares inscritos, faremos<br />

blocos de 3 ou 5 Parlamentares, para permitirmos maior diversidade de temas e<br />

maior agilidade <strong>dos</strong> trabalhos na nossa reunião.<br />

a e tréplica.<br />

O Sr. Ministro disporá de 3 minutos para responder, sendo permitida a réplica<br />

Quero pedir silêncio a to<strong>dos</strong>. Solicito à Segurança da <strong>Câmara</strong> <strong>dos</strong> Deputa<strong>dos</strong><br />

que feche as portas de acesso ao plenário. Vamos solicitar a participação de to<strong>dos</strong><br />

através da redução do volume de ruído. Precisamos ouvir com atenção o Sr.<br />

Ministro e os Srs. Parlamentares. E devemos lembrar que ruído também afeta o<br />

meio ambiente e é uma poluição extremamente complexa para o cérebro humano. E<br />

ele não funciona bem com altos níveis de ruído.<br />

Com muita honra, passo a palavra, para sua primeira manifestação, ao Exmo.<br />

Sr. Deputado André de Paula, Presidente da Comissão de Meio ambiente, que<br />

realiza de maneira conjunta este encontro, permitindo que os Parlamentares da<br />

Comissão de Agricultura, por convocação, e da comissão de Meio Ambiente, por<br />

convite, possam compartilhar as informações prestadas pelo Sr. Ministro e possam<br />

também, com S.Exa., debater em favor do Brasil.<br />

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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL<br />

Nome: Conjunta - Agricultura,Pecuaria / Meio Ambiente<br />

Número: 1129/08 Data: <strong>16</strong>/<strong>07</strong>/<strong>2008</strong><br />

Com a palavra o Deputado André de Paula.<br />

O SR. DEPUTADO ANDRÉ DE PAULA - Sr. Ministro, muito brevemente<br />

queria trazer aqui um esclarecimento aos companheiros da Comissão de Meio<br />

Ambiente.<br />

Dois requerimentos foram aprova<strong>dos</strong> no âmbito da nossa Comissão, no<br />

sentido de convidar, diferentemente da Comissão de Agricultura, o Sr. Ministro Minc,<br />

para discutir questões que dizem respeito a interesses conjuntos que existem de<br />

uma agenda legislativa do Ministério e da Comissão.<br />

O Sr. Ministro, em seus 2 primeiros meses, fez a gentileza de, na semana<br />

passada, me ligar para esclarecer isso. To<strong>dos</strong> nós temos percebido que está instado<br />

a apagar muitos incêndios e tem cumprido uma agenda absolutamente intensa.<br />

Esteve S.Exa. no Congresso por 3 vezes, mas não teve a oportunidade de estar na<br />

Comissão do Meio Ambiente.<br />

Eu confesso que me ressentia dessa falta e tomei, em um primeiro momento<br />

— e companheiros nossos, sobretudo os autores do requerimento, também<br />

tomaram, de forma equivocada —, como um desapreço do Ministro pela nossa<br />

Comissão.<br />

Na semana passada, S.Exa. me explicou essa questão e me disse que<br />

estaria aqui e que faria muita questão de participar de uma reunião na Comissão de<br />

Meio Ambiente. Como to<strong>dos</strong> sabem, estamos na última semana. Tinha S.Exa. uma<br />

convocação na Comissão de Agricultura. Portanto, em uma conciliação, sugeri ao<br />

Sr. Ministro que nós fizéssemos uma reunião conjunta hoje, o que não nos inibe de,<br />

no início do próximo semestre, com muito prazer, no âmbito da nossa Comissão,<br />

para tratar de questões específicas da nossa Comissão, receber o Sr. Ministro<br />

Carlos Minc. Quero, portanto, em que pese os primeiros ruí<strong>dos</strong>, manifestar a S.Exa.,<br />

o Sr. Ministro, a nossa confiança.<br />

Eu tinha dito, Sr. Ministro, que a minha intenção, a exemplo do que fiz com a<br />

Ministra Marina Silva, era lhe fazer uma visita para, primeiro, colocar a Comissão de<br />

Meio Ambiente ao seu inteiro dispor, a fim de tentarmos trabalhar em parceria e<br />

formular os votos, que sei que são de to<strong>dos</strong> os integrantes daquela Comissão, de<br />

sucesso no exercício das relevantes funções de Ministro de Estado do Meio<br />

Ambiente.<br />

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Nome: Conjunta - Agricultura,Pecuaria / Meio Ambiente<br />

Número: 1129/08 Data: <strong>16</strong>/<strong>07</strong>/<strong>2008</strong><br />

Isso não foi possível, mas quero aproveitar a oportunidade para renovar<br />

esses votos e para dizer a V.Exa. da nossa confiança no seu empenho e no trabalho<br />

que V.Exa. vai desenvolver no Ministério.<br />

Quero agradecer ao Deputado Onyx Lorenzoni, que vai conduzir esta reunião,<br />

pela gentileza de nos receber, a Comissão de Meio Ambiente, como parceiros nesta<br />

reunião. Desejo a to<strong>dos</strong> os presentes êxito no trabalho.<br />

de Paula.<br />

Muito obrigado, Deputado Onyx Lorenzoni.<br />

O SR. PRESIDENTE (Deputado Onyx Lorenzoni) - Obrigado, Deputado André<br />

Imediatamente passo a palavra ao Sr. Ministro Carlos Minc.<br />

O SR. MINISTRO CARLOS MINC BAUMFELD - Bom dia a todas e a to<strong>dos</strong>.<br />

Quero cumprimentar o Presidente da Comissão de Agricultura, Pecuária,<br />

Abastecimento e Desenvolvimento Rural, Deputado Onyx Lorenzoni, e o Presidente<br />

da Comissão de Meio Ambiente, Deputado André de Paula.<br />

Quero lembrar a to<strong>dos</strong> que hoje estou completando 49 dias à frente do<br />

Ministério e é a quarta vez que venho ao Parlamento. Além disso, recebi até agora<br />

54 Deputa<strong>dos</strong> no Ministério, mas não pude receber nem metade <strong>dos</strong> pedi<strong>dos</strong> que<br />

me foram feitos. Inclusive, Deputado Onyx Lorenzoni, um <strong>dos</strong> últimos grupos que eu<br />

recebi foi de Deputa<strong>dos</strong> cuja agenda era a questão da Mata Atlântica. Portanto,<br />

eram Deputa<strong>dos</strong> do Rio Grande do Sul, Paraná e Santa Catarina, basicamente.<br />

A preocupação de S.Exas. era com o decreto de regulamentação da Lei da<br />

Mata Atlântica, garantindo a compatibilização da preservação com uma série de<br />

culturas, inclusive do mate, e de várias outras que dependem do não-sombreamento<br />

para prosperar.<br />

E outros também liga<strong>dos</strong> à agroecologia, que fizeram sugestões. Nós nos<br />

comprometemos com esse grupo de Parlamentares, de agricultores alternativos, de<br />

cooperativas, etc., a introduzir no decreto as sugestões que eles apresentaram.<br />

Vamos ver se esse decreto sai até o fim deste mês, o mais tardar no início de<br />

agosto, porque há mais de um ano e meio V.Exas. aprovaram a Lei da Mata<br />

Atlântica, que dava um período de 6 meses para a sua regulamentação. Portanto, o<br />

prazo já está amplamente esgotado. Vamos correr atrás desse prejuízo.<br />

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Nome: Conjunta - Agricultura,Pecuaria / Meio Ambiente<br />

Número: 1129/08 Data: <strong>16</strong>/<strong>07</strong>/<strong>2008</strong><br />

Aproveito também para pedir desculpas a to<strong>dos</strong> os outros cinqüenta e poucos<br />

Deputa<strong>dos</strong> que não tivemos a oportunidade de receber no primeiro mês e meio de<br />

Governo. Recebemos Deputa<strong>dos</strong> de Mato Grosso, da Amazônia, em suma,<br />

recebemos Deputa<strong>dos</strong> de várias localidades e também Governadores — inclusive 3<br />

da Amazônia: de Mato Grosso, de Rondônia e de Roraima. Separadamente, cada<br />

um deles trouxe as pautas <strong>dos</strong> seus Esta<strong>dos</strong>.<br />

Estou Ministro há 49 dias, mas há mais de 20 anos sou Deputado Estadual.<br />

Portanto, na qualidade de Deputado, sei exatamente o que significa representar o<br />

povo, conseguir o voto, renovar a confiança popular quando se é reeleito — o que é<br />

dificílimo, porque temos de mostrar trabalho num País onde geralmente os poderes<br />

ficam mais com o Executivo do que com o Parlamento.<br />

O meu apreço pelo Parlamento é antigo. Espero ter oportunidade de renovar<br />

essa consideração.<br />

Deputa<strong>dos</strong> Onyx Lorenzoni e André de Paula, aprovei no Rio mais de 126 leis<br />

em 20 anos. Fiz um trabalho, nos últimos 10 anos, chamado Cumpra-se, para que<br />

as leis sejam cumpridas. Chego à conclusão de que muito mais difícil ainda do que<br />

aprovar uma lei é fazer com que ela seja respeitada.<br />

Quero dizer aos Deputa<strong>dos</strong> das Comissões de Agricultura e do Meio<br />

Ambiente, também aos demais aqui presentes, que podem contar com o Ministério<br />

para que as boas leis na agricultura sustentável, no meio ambiente, na tecnologia<br />

limpa — terão V.Exas. um parceiro — sejam respeitadas. Fazer o contrário seria<br />

quase que rasgar a minha história e a minha tradição.<br />

Deputa<strong>dos</strong> Onyx Lorenzoni e André de Paula, sou pouco conhecido do<br />

Parlamento Federal. A minha atuação é maior no Rio de Janeiro, mas faço questão<br />

de dizer que sempre tive uma relação muito ampla com os diversos parti<strong>dos</strong>. Estive<br />

à frente no Executivo, na área do meio ambiente, por 1 ano e 4 meses, no início de<br />

20<strong>07</strong> a maio de 2088, no Governo Sérgio Cabral, quando fui convocado para esse<br />

cargo — quero deixar bem claro que não o pedi, não o queria; coloquei uma série de<br />

condições para aceitá-lo; fui chamado de arrogante e prepotente por ter imposto<br />

condições. Acho que para se exercer com um mínimo de eficiência um cargo, deve-<br />

se ter condições, inclusive, financeiras. Muitas vezes, os recursos já previstos em lei<br />

para o meio ambiente ficam contingencia<strong>dos</strong>.<br />

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Nome: Conjunta - Agricultura,Pecuaria / Meio Ambiente<br />

Número: 1129/08 Data: <strong>16</strong>/<strong>07</strong>/<strong>2008</strong><br />

Uma das tarefas a que me propus realizar — expliquei ao Presidente Lula —<br />

e para a qual conto com o vosso apoio, é transformar recursos ambientais que hoje<br />

são superávit fiscal em superávit ambiental. Não queremos mais recursos do que<br />

aqueles que as leis já garantem, como, por exemplo, recursos liga<strong>dos</strong> a petróleo, a<br />

uso de água pelo setor elétrico. São dotações que já existem e que não chegam ao<br />

final: recuperação das bacias, <strong>dos</strong> recursos hídricos, etc.<br />

Srs. Deputa<strong>dos</strong> Presidentes das Comissões e Srs. Deputa<strong>dos</strong> presentes no<br />

plenário, vou citar apenas um exemplo com que pretendo mostrar meu não-<br />

partidarismo em matéria de interesse público.<br />

O Prefeito do Rio de Janeiro, Cesar Maia, do DEM, portanto seu companheiro<br />

de partido, de quem sou adversário, tinha como um <strong>dos</strong> maiores problemas resolver<br />

a construção do aterro sanitário do Rio de Janeiro, obra que não andava há mais de<br />

6 anos. Existia um aterro vencido, que ameaçava causar um grave problema<br />

ambiental. Ninguém quer um aterro sanitário perto do seu bairro. A reação sempre é<br />

enorme. Todo mundo quer que exista algum, desde que seja longe do seu bairro.<br />

Assumi esse assunto, tive desgaste por isso e consegui o que não tinha sido feito<br />

nos meses anteriores: licenciar. Claro, os opositores ao projeto diziam que era um<br />

lixão. Lixão é um problema; aterro sanitário é uma solução, lá se trata chorume, se<br />

captura metano, gás do efeito estufa que pode virar energia renovável.<br />

Tanto o Prefeito Cesar Maia quanto o Deputado Rodrigo Maia são<br />

testemunhas de como me empenhei nesse projeto, sem nenhum acordo político, só<br />

pela consciência de que uma cidade do tamanho do Rio precisa ter aterro sanitário.<br />

Eu me empenhei, sofri desgaste por isso, mas licenciei algo fundamental para o<br />

exercício da Prefeitura. E não o fiz pelo Prefeito, mas pela população.<br />

Relato isso não por achar extraordinário o que fiz — acho que não fiz mais do<br />

que a minha obrigação. Mas nossa tradição política, os senhores hão de convir, não<br />

é exatamente assumir desgaste político por uma situação que é do povo e que está<br />

no colo da administração de um adversário. Normalmente se diz: “Bom, que<br />

resolva.” Mas eu disse: “É importante. Vamos resolver.” E resolvemos.<br />

Isso tudo foi a prévia. Agora, vamos ao ponto para o qual fui convocado e<br />

sobre o qual ainda não falei. Vou tentar ser objetivo, até porque não pretendo usar<br />

os 15 minutos de prorrogação, para dar mais tempo para ser questionado,<br />

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Número: 1129/08 Data: <strong>16</strong>/<strong>07</strong>/<strong>2008</strong><br />

seguramente com as críticas suaves e construtivas que me vão ser dirigidas. Elas<br />

são parte do Parlamento. Temos de respeitar e tentar aperfeiçoar nosso trabalho<br />

com o Parlamento, que é a voz do povo, integrado por pessoas eleitas que<br />

conhecem suas regiões, os temas que as afligem, no caso, meio ambiente e<br />

agricultura, que também engloba desenvolvimento rural, pecuária e abastecimento.<br />

Quais têm sido nossas linhas mestras nesses primeiros 50 dias, as quais<br />

submeto à apreciação e às críticas de V.Exas.?<br />

Primeira questão: o Ministério do Meio Ambiente tem que trabalhar junto com<br />

outros. Infelizmente, nos últimos tempos, houve certo isolamento dele em relação a<br />

esses outros, nomeadamente, Minas e Energia, Agricultura e sobretudo aqueles<br />

liga<strong>dos</strong> à área econômica.<br />

Temos obtido sucesso em romper esse isolamento. A defesa do meio<br />

ambiente não é do Ministério do Meio Ambiente, é do Governo, do Parlamento, da<br />

sociedade. Não pode ser monopólio de um Ministério defender uma questão que<br />

depende de tecnologia, de agricultura, de uso do solo, de crédito, em suma, de<br />

várias atividades que não podem ser só defensivas, mas propopositivas.<br />

Então, anunciamos uma política para o licenciamento ambiental, Deputa<strong>dos</strong><br />

Onyx Lorenzoni e André de Paula, mostrando que vamos fazer, em âmbito nacional,<br />

o que fizemos no Rio de Janeiro: simplificar o licenciamento ambiental, torná-lo mais<br />

ágil, mas, nem por isso, menos rigoroso. Algumas pessoas, erroneamente, acham<br />

que agilidade significa frouxidão. No Rio de Janeiro, nós licenciamos COMPERJ,<br />

que é o complexo petroquímico da PETROBRAS em Itaboraí, simplesmente o maior<br />

licenciamento ambiental da América Latina: 18 bilhões de reais. A PETROBRAS<br />

achava que iria conseguir a licença em 1 ano e 2 meses; conseguiu em 6 meses. Só<br />

que a exigência foi brutal: tiveram que plantar, Deputa<strong>dos</strong> e Deputadas, 6 milhões<br />

de árvores nas nascentes <strong>dos</strong> Rios Caceribu e Macacu; não poderão lançar<br />

nenhuma gota de efluente industrial na Baía de Guanabara; e só um <strong>dos</strong><br />

equipamentos que nós exigimos, um denitrificador, um abatedor das emissões de<br />

óxido de nitrogênio — só esse, Deputado Onyx Lorenzoni —, custa 200 milhões de<br />

dólares. Mas eles toparam, porque o pior é o investimento de 18 bilhões ficar parado<br />

por 1 ano e deixar de produzir deriva<strong>dos</strong> da petroquímica.<br />

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Número: 1129/08 Data: <strong>16</strong>/<strong>07</strong>/<strong>2008</strong><br />

Então, é isso que nós vamos fazer em nível nacional, com o apoio de V.Exas.,<br />

aqui em Brasília. E anuncio que amanhã, quinta-feira, na sede do IBAMA, vamos<br />

proceder a um ato que se chama “Destrava, IBAMA”. Na ocasião, vamos assinar<br />

uma série de portarias, instruções técnicas e medidas que eliminam etapas inúteis<br />

do licenciamento.<br />

No Rio de Janeiro, Deputado, eu cheguei à conclusão de que, antes de<br />

chegar à mão do primeiro analista ambiental da FEEMA, o processo passava por 18<br />

funcionários. Levava-se meses para verificar a burocracia. Não tem sentido! Então,<br />

agora passou a ser 1 funcionário responsável por ver toda a parte burocrática e,<br />

logo, o que interessa: saber se um determinado empreendimento vai poluir um rio,<br />

vai afetar o pulmão das pessoas. Temos que nos concentrar no que é importante.<br />

Então, vamos fazer isso. Essa medida, junto com os contatos que temos tido<br />

com o Ministro Lobão, com o Ministro da Agricultura e com o Ministro do<br />

Desenvolvimento, tem desbloqueado, porque eles viram que nós vamos licenciar<br />

rapidamente e com critério. E o que for não é não; nós não vamos enrolar 3 anos<br />

para dizer isso, Deputado. Vamos dizer isso em 2 semanas: “Aí não pode. Há bacia<br />

aérea saturada...”.Já falamos assim no Rio de Janeiro: queriam construir uma<br />

térmica a carvão em Itaguaí, onde o porto está saturado, e os técnicos diziam que<br />

aquela bacia aérea estava saturada. Dissemos “não” logo. Não demoramos 2 anos<br />

para fazer isso, para a pessoa não perder tempo, paciência, dinheiro. Vai logo<br />

procurar outra localidade ou outra tecnologia para fazer um licenciamento. Aí, sim,<br />

será licenciado rapidamente e com rigor. Então, isso só já é um ponto importante.<br />

Tivemos reuniões também com o Presidente da ELETROBRAS e o<br />

Presidente da Itaipu Binacional, em razão das quais criamos grupos de trabalho para<br />

o acompanhamento <strong>dos</strong> grandes empreendimentos hidrelétricos — que, aliás, é uma<br />

energia limpa, que emite pouco e que tem de ter cuida<strong>dos</strong> também em relação às<br />

áreas inundadas. Cada nova hidrelétrica licenciada vai adotar pelo menos um<br />

parque nacional ou estadual. E tanto o Presidente da ELETROBRAS quanto o<br />

Presidente da Itaipu Binacional gostaram das novidades e toparam esse tipo de<br />

entendimento: licenciamentos rápi<strong>dos</strong>, eficazes e rigorosos.<br />

Outra linha que nós estamos adotando, Deputa<strong>dos</strong> das Comissões de<br />

Agricultura e Meio Ambiente, é uma linha de entendimento com vários setores<br />

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Número: 1129/08 Data: <strong>16</strong>/<strong>07</strong>/<strong>2008</strong><br />

produtivos. E por que isso? Você não combate o desmatamento e as práticas<br />

predatórias apenas com fiscais do IBAMA, com a Polícia Federal, com a Polícia<br />

Estadual. Combate práticas predatórias com outras práticas sustentadas, que devem<br />

ser incentivas com apoio, crédito, zoneamento ecológico-econômico, regras claras.<br />

Estou convencido, Deputa<strong>dos</strong>, de que a maior parte do nosso empresariado,<br />

tanto do agronegócio quanto do turismo e da indústria, querem práticas<br />

sustentáveis.<br />

E o que nós temos feito nesse curto período de 49 dias? Assinamos um<br />

acordo com os exportadores da soja — ABIOVE, que representa 92% do<br />

processamento de exportação de óleo vegetal de soja —, no qual esses setores se<br />

comprometem a não comprar soja originada de áreas ilegalmente desmatadas do<br />

bioma amazônico.<br />

Além disso, assinamos o segundo acordo na sexta-feira passada, no Rio de<br />

Janeiro, com a Vale do Rio Doce, que não vai mais vender minério de ferro para<br />

guserias e carvoarias que estejam fora da lei. E nós também nos comprometemos a<br />

acelerar o licenciamento ambiental, a regularização ambiental e o cadastramento<br />

das propriedades e o zoneamento econômico-ecológico. Acordo bom é quando<br />

beneficia os 2 la<strong>dos</strong> e não de 1 lado só.<br />

Vamos assinar, Deputa<strong>dos</strong>, agora, no dia 18, em Belém, um acordo com os<br />

exportadores de madeira DAIMEX. Que acordo é esse? O acordo é o seguinte: os<br />

exportadores de madeira não vão comprar madeira de áreas ilegais; vão comprar de<br />

planos de manejos, madeira certificada. Da nossa parte, nós nos comprometemos a<br />

dobrar, no ano que vem, a oferta de madeira certificada, de madeira legalizada.<br />

Isso é fundamental, porque não se consegue combater a madeira ilegal se<br />

você não se aumenta a oferta da madeira legal. É óbvio! Essa é a fronteira:<br />

incentivar a legalidade ambiental. Então, esse terceiro acordo será assinado no dia<br />

18, em Belém.<br />

O quarto acordo será assinado com a Associação Brasileira das Indústrias<br />

Exportadoras de Carne — ABIEC, os grandes frigoríficos.<br />

O quinto acordo será assinado com a Federação das Indústrias do Estado de<br />

São Paulo — FIESP, em São Paulo, em agosto. To<strong>dos</strong> são na mesma linha.<br />

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Para garantir, Deputadas e Deputa<strong>dos</strong>, que esses acor<strong>dos</strong> sejam<br />

sustentáveis, nós procuramos o Presidente do BNDES, Sr. Luciano Coutinho, a fim<br />

de garantir linhas de crédito para a regularização dessas atividades. Para uma delas<br />

nós conseguimos uma linha muito boa, com 7,15% de juros ao ano, 100% de<br />

cobertura e 36 meses de carência. Portanto, é uma boa linha de crédito.<br />

Muitas vezes, para que esses setores econômicos estimulem a legalização<br />

das cadeias <strong>dos</strong> fornecedores — <strong>dos</strong> que fornecem soja, madeira, carne, minério —,<br />

eles têm que ter crédito para que os fornecedores entrem na legalidade fundiária e<br />

ambiental. Entretanto, eles próprios não têm como dar esse crédito. Então, essa<br />

linha se chama Empresa Âncora e funciona da seguinte forma: digamos que um<br />

grande frigorífico tem 100 fornecedores. Desses 100 fornecedores, 60 ou 70 não<br />

cumprem toda a legalidade ambiental. Então, é interesse do frigorífico cabeça dessa<br />

rede produtiva legalizar a situação <strong>dos</strong> demais, porque, senão, ele vai incorrer<br />

também em ilegalidade ambiental. Os senhores sabem que quem recebe produtos<br />

de quem está na ilegalidade, infelizmente, pela lei ambiental, acaba também<br />

passível de punição. É como um receptador de carro roubado. Você pode comprar<br />

na maior boa fé um carro roubado, mas, infelizmente, você é classificado como<br />

receptador.<br />

Então, é interesse <strong>dos</strong> grandes exportadores de carne, de madeira, de soja,<br />

de minério, que precisam ter o carimbo para chegar ao mercado europeu e a outros<br />

merca<strong>dos</strong>, que seus fornecedores e parceiros atuem legalmente. E isso tem que ser<br />

por nós estimulado e facilitado. Por isso, essa linha de crédito vai permitir que a<br />

empresa âncora receba o crédito e repasse aos seus fornecedores, numa condição<br />

que é favorável: 7,15% ao ano, 36 meses de carência e cobertura de 100%. É uma<br />

boa linha, e isso nós fechamos com o BNDES.<br />

Outro acordo que nós fechamos com o Presidente do BNDES é uma linha de<br />

crédito para melhorar o licenciamento ambiental nos Esta<strong>dos</strong>. Muitas vezes, os<br />

produtores, Deputado André de Paula, se queixam, com razão, dizendo que querem<br />

se legalizar, mas o ritmo do licenciamento ambiental <strong>dos</strong> Esta<strong>dos</strong> é lento. Eles não<br />

conseguem cumprir, ainda que queiram, a exigência. Então, o que nós<br />

conseguimos, Deputado André de Paula, Deputa<strong>dos</strong> e Deputadas? Outra linha de<br />

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Número: 1129/08 Data: <strong>16</strong>/<strong>07</strong>/<strong>2008</strong><br />

financiamento muito boa, de 500 milhões, para modernizar, qualificar e reforçar as<br />

Secretarias de Meio Ambiente de to<strong>dos</strong> os Esta<strong>dos</strong>.<br />

Mas há uma dificuldade, Deputado Onyx Lorenzoni: muitos Esta<strong>dos</strong> estão no<br />

limite do endividamento. Por isso, ainda que se aprove uma espetacular linha para<br />

que as Secretarias Estaduais tenham mais gente, computadores, modernos<br />

méto<strong>dos</strong> para acelerar o licenciamento e também a fiscalização, sem o que um<br />

empresário que queira se legalizar não consegue, seja na agricultura, seja na<br />

indústria, há esse problema. O que nós conseguimos para solucionar essa questão?<br />

Com apoio do Ministro Mantega, fizemos um pedido especial ao Conselho Monetário<br />

Nacional no sentido de que excepcionalize, do ponto do vista do teto de<br />

endividamento <strong>dos</strong> Esta<strong>dos</strong>, como já foi feito — já existe uma exceção, que foi para<br />

a área fazendária: foram concedi<strong>dos</strong> recursos para a modernização das áreas de<br />

arrecadação tributária e fazendária <strong>dos</strong> Esta<strong>dos</strong>. Nós pedimos o mesmo tratamento<br />

para esse crédito, de modo que não entre na linha do limite do endividamento, a fim<br />

de que os Esta<strong>dos</strong> possam se modernizar e, com isso, agilizar o licenciamento<br />

ambiental nos Esta<strong>dos</strong> e também nos Municípios.<br />

Uma terceira linha de trabalho, Deputa<strong>dos</strong> e Deputadas, diz respeito à<br />

regulamentação do art. 23 da Constituição Federal, que define claramente as<br />

responsabilidades <strong>dos</strong> Municípios, Esta<strong>dos</strong> e da União. Isso é um nó que dura mais<br />

de 4 anos. Nós trouxemos para nós a responsabilidade de tentar, dentro do<br />

CONAMA, dentro do Governo, chegar a uma solução e enviar para os<br />

Parlamentares, que estão tratando dessa questão há muitos anos, uma forte<br />

colaboração, a fim de que a matéria seja pacificada, atendendo à área industrial, à<br />

municipal e à ambiental. Esperamos que V.Exas. possam dar um salto e, ainda<br />

neste segundo semestre — até setembro, outubro, — resolver essa questão<br />

definitivamente.<br />

Quero dizer, Deputa<strong>dos</strong>, que, ainda como Secretário do Rio de Janeiro, nós<br />

passamos para os Municípios o licenciamento de atividades de pequeno e baixo<br />

impacto ambiental — não para qualquer Município, mas para aqueles que tinham<br />

Comissão de Meio Ambiente, Fundo Ambiental, Conselho Ambiental e concurso.<br />

Não se pode dar uma atribuição a uma pessoa que não está preparada para<br />

executá-la, pois a pessoa não consegue fazer e você também é co-responsável por<br />

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ter dado esse poder sem garantir que ele seria exercido dentro da lei. Dessa forma,<br />

<strong>dos</strong> 92 municípios do Rio de Janeiro, 31 passaram a ser responsáveis pelo<br />

licenciamento ambiental de pequeno e médio impacto.<br />

E qual foi o ganho que nós tivemos com isso? Enorme. Deputado André de<br />

Paula, Deputado Lorenzoni, na mesma pilha de 15 mil licenças estavam o pólo<br />

petroquímico, o pólo siderúrgico, o posto de gasolina, a oficina mecânica. Isso não<br />

dá certo em nenhum país do mundo! Você não se concentra nas grandes<br />

hidrelétricas, nos grandes pólos, nas grandes estradas, e acaba, na mesma pilha,<br />

havendo posto de gasolina. Isso não tem o menor cabimento! Isso não dá certo em<br />

nenhum país!<br />

A mesma coisa que fizemos no Rio esperamos realizar, com a<br />

regulamentação do art. 23 — que é uma função do Parlamento, mas que temos<br />

obrigação de ajudar, no âmbito do CONAMA e <strong>dos</strong> Ministérios, e é o que vamos<br />

fazer, antes de setembro. Até agosto, V.Exas. terão pelo menos a posição do<br />

Governo, que vai ajudá-los a legislar sobre essa questão, que é uma antiga<br />

demanda <strong>dos</strong> Prefeitos, com os quais assumimos também esse compromisso.<br />

Outra questão é a retomada, pelo Ministério do Meio Ambiente, da questão do<br />

saneamento ambiental, lixo e esgoto, e também da tecnologia limpa.<br />

Por conta de uma série de questões que não me cabe analisar, o Ministério<br />

do Meio Ambiente foi sendo apartado dessas questões. Logo que fui honrado pelo<br />

convite do Presidente Lula, eu ponderei a S.Exa. que não era razoável o Meio<br />

Ambiente ficar fora da questão do saneamento. Se essa é a principal causa da<br />

poluição de rios, lagoas, praias, como o Meio Ambiente poderia não estar nela<br />

envolvida?<br />

Veja bem, não estamos reivindicando sermos nós a fazer as grandes<br />

licitações do saneamento — para isso existe o Ministério da Integração Nacional;<br />

queremos apenas estabelecer metas, princípios, procedimentos e mecanismos. Hoje<br />

o Brasil coleta e trata 35% do esgoto que produz. Isso é inaceitável! É inaceitável! É<br />

razoável termos um Plano Nacional de Saneamento, para que em uma década nós<br />

possamos passar para o dobro disso, 70% de esgoto coletado e tratado. Isso<br />

depende de recursos, e este Parlamento tem um papel fundamental, porque é quem<br />

aprova o Orçamento. Nós vamos correr atrás de recursos nossos que estão<br />

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contigencia<strong>dos</strong>. Como eu disse, queremos transformar o superávit fiscal em<br />

superávit ambiental e empregar grande parte desses recursos na recuperação das<br />

bacias hidrográficas e do saneamento, retomando um programa muito bom<br />

chamado PRODES, conhecido como programa de compra do esgoto tratado.<br />

O que vem a ser isso? Por exemplo, um Prefeito tem 10 milhões e está em<br />

dúvida se melhora as estradas ou se faz o tratamento de esgoto. Com o PRODES,<br />

ele pode fazer o tratamento de esgoto, e, mostrando que está botando tanto litros<br />

por segundo dentro do padrão, ele recebe recursos, com os quais ele pode fazer a<br />

estrada. Ou seja, faz as duas coisas.<br />

Trata-se de um ótimo programa, que hoje tem míseros 30 milhões, e é<br />

razoável que ele tenha no mínimo 200, 300 milhões por ano para beneficiar<br />

municípios de várias bacias hidrográficas. Eu conto com o apoio de V.Exas,<br />

Deputadas e Deputa<strong>dos</strong>, para garantir o descontigenciamento desses recursos. Eu<br />

espero que um programa importante como o PRODES possa avançar.<br />

Outra questão que me parece relevante é a existência de recursos para que<br />

tudo isso seja feito. É muito fácil chegar para os Governadores e Prefeitos da<br />

Amazônia e dizer que não pode haver desmatamento, que desmatamento é crime.<br />

Sim. E as alternativas? Onde está o financiamento das alternativas que permitam,<br />

na Amazônia, 25 milhões de pessoas viverem com dignidade em atividades<br />

sustentáveis? Esse é o nó da questão.<br />

Nós podemos anunciar que agora, no dia 1º de agosto, o Presidente Lula<br />

deve assinar a criação de 2 fun<strong>dos</strong> importantes. Um é o Fundo Amazônia, composto<br />

de recursos doa<strong>dos</strong> por governos de outros países e também da iniciativa privada<br />

brasileira. Nós pretendemos, no primeiro ano, captar 900 milhões de dólares, a partir<br />

da aprovação do fundo. O primeiro cheque de 100 milhões de dólares deve vir da<br />

Noruega em setembro. A Alemanha e a Suíça também já manifestaram interesse.<br />

O Presidente Lula, no primeiro momento, não estava 100% convencido, por<br />

causa da questão da soberania. S.Exa. achava que alguém podia dar 10 milhões e<br />

dizer como é que vai fazer com a Amazônia. Nós explicamos para ele...<br />

O SR. PRESIDENTE (Deputado Onyx Lorenzoni) - Ministro, V.Exa. tem,<br />

regimentalmente, mais 15 minutos. Nós fechamos os 30 iniciais. Estou apenas<br />

informando V.Exa. para que possa se programar.<br />

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O SR. MINISTRO CARLOS MINC BAUMFELD - Eu vou concluir este<br />

assunto, porque já tinha prometido não usar os 15.<br />

O SR. PRESIDENTE (Deputado Onyx Lorenzoni) - Não, não se preocupe<br />

com isso. São 10h50min. S.Exa. usa mais 10 minutos e fala até as 11h. Há 18<br />

inscritos. Se cada um utilizar 3 minutos e V.Exa. gastar mais 5 minutos, em média,<br />

para os blocos de resposta, serão 2 horas. Mais outros que falarão, serão mais 2<br />

horas e meia de trabalho.<br />

O SR. MINISTRO CARLOS MINC BAUMFELD - Está bom.<br />

Só para concluir, no Fundo Amazônia, o doador não participa do Conselho, no<br />

qual estão os representantes <strong>dos</strong> 9 Governos da Amazônia, representantes do<br />

Governo Federal, que são outro bloco, e da sociedade civil, incluindo a CNI, a<br />

indústria, a agricultura, universidades etc.<br />

O outro fundo é o Fundo Clima, que vem de recursos do petróleo. Que<br />

recursos são esse? O Meio Ambiente tem direito a 10% da participação especial <strong>dos</strong><br />

lucros do petróleo. Só que esse dinheiro deveria ser investido exclusivamente em<br />

ações ligadas a derramamento de óleo: prevenção, mitigação, etc. Então, nunca se<br />

conseguia gastar isso tudo, porque, felizmente, não há acidentes com petróleo to<strong>dos</strong><br />

os anos.<br />

Nós ponderamos ao Presidente Lula e ao Ministro Paulo Bernardo que o<br />

petróleo também tem a ver com o clima. Nós não queremos ampliar a quantidade de<br />

recursos arrecadada; está de bom tamanho. Queremos, sim, que uma parte deles<br />

tenham outro uso e sejam destina<strong>dos</strong> à realização de atividades sustentáveis, como,<br />

por exemplo, o pagamento de serviços ambientais, de atividades ligadas ao<br />

extrativismo, de atividades ligadas à indústria limpa e à redução das emissões; à<br />

premiação <strong>dos</strong> governos que mantêm a floresta em pé; e ao auxílio àqueles que<br />

querem recuperar a floresta.<br />

Nós poderemos ter, para esse fundo, Deputa<strong>dos</strong>, até 600 milhões. Trata-se<br />

de recursos que já existiam, mas que não se conseguia usar. Um projeto de lei será<br />

enviado a este Parlamento para tratar do tema, e para ele eu peço apoio de V.Exas.<br />

Não se trata, eu repito, da ampliação do teto, mas da ampliação do uso <strong>dos</strong><br />

recursos, para que não sejam aplica<strong>dos</strong> apenas na prevenção de derramamentos,<br />

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mas também, em até 60% do seu valor, na aplicação de políticas de clima e de<br />

apoio às atividades sustentadas.<br />

Para concluir, quero dizer que entre as medidas que o Presidente Lula incluiu,<br />

a nosso pedido, numa medida provisória ligada à agricultura — havia várias<br />

questões ligadas à agricultura, tais como financiamento, dívida —, está uma que<br />

garante preços mínimos para produtos extrativistas. Essa é uma antiga reivindicação<br />

do setor extrativista da Amazônia. Produtos como algodão, soja e feijão sempre<br />

tiveram preço mínimo. O agricultor pode contrair crédito e, se o preço desabar, até<br />

um limite, ele tem garantia. O babaçu, o açaí, o guaraná, a castanha não tinham<br />

preço mínimo. Esse setor tinha problemas para pegar o crédito. Também por isso,<br />

muitos <strong>dos</strong> trabalhadores do extrativismo viviam na miséria: sem 13º, carteira<br />

assinada, previdência. Essa era uma antiga reivindicação da região que nós<br />

conseguimos incluir.<br />

Outra medida incluída a nosso pedido foi a concessão de recursos de até 1<br />

bilhão de reais, a juros de 4% ao ano, com 12 anos de carência, para quem quiser<br />

reconstituir as suas reservas legais, as suas áreas degradadas, as APPs, e também<br />

para a recuperação, por exemplo, de pastagens degradadas, para permitir a<br />

intensificação da pecuária, aumentando a produção, sem, obrigatoriamente, entrar<br />

em novas áreas.<br />

Não basta dizer o que não se quer; tem-se que apoiar e financiar aquilo que<br />

deve ser sustentado.<br />

Com isso, Srs. Deputa<strong>dos</strong>, encerro a minha primeira apresentação na<br />

<strong>Câmara</strong> <strong>dos</strong> Deputa<strong>dos</strong>. Agradeço-lhes esta oportunidade. Voltarei à Casa, com o<br />

maior prazer, quantas vezes for convidado. Desculpem-me por não ter vindo antes,<br />

mas, como disse, tive muitos problemas nesses 49 dias. Esta já é a minha quarta<br />

vez no Parlamento e já recebi 52 Deputa<strong>dos</strong> — e pretendo receber muitos outros e<br />

vir muito mais vezes a este Parlamento, que precisa ser respeitado, pois é a voz do<br />

povo e tem o dever de criticar, corrigir e aperfeiçoar a prática do Poder Executivo.<br />

Saudações ecológicas e libertárias!<br />

Obrigado pela paciência. (Palmas.)<br />

O SR. PRESIDENTE (Deputado Onyx Lorenzoni) - Obrigado, Ministro Minc.<br />

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Eu peço encarecidamente às pessoas que colaborem conosco. No final da<br />

intervenção do Ministro Minc, a competição da voz de S.Exa. com o ruído foi imensa!<br />

Isso é algo inacreditável. Questões importantes para o País foram abordadas pelo<br />

Ministro e também serão tratadas pelos Srs. Parlamentares. Por isso, peço a to<strong>dos</strong><br />

aqueles que estão aqui trabalhando ou nos acompanhando, bem como aos que<br />

cuidam das assessorias, colaboração. Eu vou brigar muito para garantir a palavra<br />

aos Parlamentares, a fim de que haja plena compreensão do que o Deputado está<br />

dizendo. Este é um direito e uma responsabilidade de quem está aqui.<br />

Portanto, peço, de coração, a colaboração de to<strong>dos</strong>, para que consigamos, de<br />

maneira respeitosa e adequada, ouvir os Parlamentares que vão se expressar a<br />

partir deste momento.<br />

Além disso, o Ministro Minc precisa se concentrar para formular as suas<br />

manifestações e respostas. Mais uma vez eu peço, encarecidamente, a colaboração<br />

de to<strong>dos</strong>.<br />

Passo a palavra ao Deputado Giovanni Queiroz.<br />

O SR. DEPUTADO PAULO TEIXEIRA - Pela ordem, Sr. Presidente.<br />

O SR. PRESIDENTE (Deputado Onyx Lorenzoni) - Muito rapidamente,<br />

Deputado, por favor.<br />

O SR. DEPUTADO PAULO TEIXEIRA - Gostaria de saber se precedem os<br />

autores de requerimentos.<br />

O SR. PRESIDENTE (Deputado Onyx Lorenzoni) - Sim, senhor, precedem.<br />

O SR. DEPUTADO PAULO TEIXEIRA - Então, eu quero me inscrever. Eu<br />

sou um <strong>dos</strong> 3.<br />

O SR. PRESIDENTE (Deputado Onyx Lorenzoni) - V.Exa. já está inscrito,<br />

Deputado. A assessoria da Comissão de Meio Ambiente e a da Comissão de<br />

Agricultura são, reconhecidamente, das melhores da Casa. Elas não se esquecem<br />

de ninguém.<br />

Deputado Giovanni Queiroz, tem a palavra V.Exa., pelo tempo regimental.<br />

O SR. DEPUTADO GIOVANNI QUEIROZ - Sr. Presidente, Sr. Ministro, Srs.<br />

Deputa<strong>dos</strong>, sou produtor rural na Amazônia. Sou médico, me formei no Rio de<br />

Janeiro; sou fazendeiro, desmatei bastante na Amazônia a corte raso, aquilo que a<br />

lei me permitia e até me obrigava a fazer. Para titular a minha terra eu tive que<br />

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desmatar 50%, por imposição da lei da época. Hoje sou reflorestador, até por<br />

entender que o reflorestamento pode competir bem com o produto pecuário. E vou<br />

continuar reflorestando.<br />

Nós, Deputa<strong>dos</strong> Federais da Amazônia, sou Deputado Federal pelo Pará,<br />

estamos preocupa<strong>dos</strong> com a região a ponto de inserir no Orçamento da União, por<br />

exemplo, dinheiro para o zoneamento econômico-ecológico no meu Estado no valor<br />

de 9 milhões e 444 mil reais — refiro-me ao orçamento deste ano, o que foi<br />

aprovado. Garantimos, também, para a recuperação de cobertura vegetal de áreas<br />

degradadas no Distrito Florestal Sustentável de Carajás, que de repente o Ministério<br />

abandonou, mais 9 milhões e 444 mil reais. Isso fez a bancada do Pará, por<br />

iniciativa minha e de outros Deputa<strong>dos</strong> que, da mesma forma, entendem a<br />

necessidade de revermos a forma de ocupação da Amazônia.<br />

Muito bem. De repente, entretanto, fomos surpreendi<strong>dos</strong> com um decreto<br />

presidencial de 21 de dezembro que delegava ao Ministério do Meio Ambiente e ao<br />

INCRA poderes de baixar normas, portarias que viessem a inibir o desmatamento da<br />

Amazônia. Isso nos causou espécie. Por quê? Porque imediatamente foram<br />

nomina<strong>dos</strong> os 36 municípios da Amazônia que mais desmatavam e lhes foi imposta<br />

a condição de se recadastrarem no prazo de 60 dias. Para isso, tinham que fazer o<br />

georreferenciamento, que, se to<strong>dos</strong> os profissionais do Brasil para lá fossem,<br />

demoraria no mínimo 2 anos — inclusive conforme as palavras do Ministro do<br />

Desenvolvimento Agrário. Não sou eu quem está afirmando.<br />

No entanto, o Governo manteve essa posição e deixou à margem da lei, por<br />

não poderem cumprir a exigência legal, esses municípios, que passaram à condição<br />

de marginais. Aí, disse V.Exa., Sr. Ministro — e a comparação, para mim, não foi<br />

feliz —, que às vezes as pessoas compram um carro roubado por não saberem a<br />

sua origem. No caso do frigorífico que comprar o boi de quem não conseguiu se<br />

legalizar, ele não está comprando de um ladrão, mas de um produtor, o que é bem<br />

diferente de ladrão de carro. Bem diferente!<br />

A verdade, Sr. Ministro, é que impuseram, através <strong>dos</strong> decretos presidenciais,<br />

das portarias do Ministério do Meio Ambiente, essa condição de marginais a to<strong>dos</strong><br />

os produtores rurais <strong>dos</strong> 36 municípios. Pior: agora, com a resolução do Banco<br />

Central, do Conselho Monetário Nacional, também por solicitação do Ministério do<br />

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Meio Ambiente, foi imposto que, no setor rural, ninguém mais tem crédito na<br />

Amazônia, se não tiver licença ambiental ou requerimento protocolado buscando<br />

essa condição. E para isso, Sr. Ministro, também é preciso ter o<br />

georreferenciamento do bioma Amazônia, o que nem em 5 anos se consegue fazer.<br />

Ressalto que esse não é o meu caso. Eu estou com toda a documentação em<br />

dia, porque, há muito tempo como reflorestador, procurei buscar esses documentos.<br />

Aliás, demorei 14 meses para conseguir a licença de atividade rural e florestal,<br />

necessária para eu poder vender a madeira do desbaste da minha propriedade.<br />

Isso, no Pará. Demorou 14 meses para sair a licença! Deputado Lorenzoni, repito:<br />

14 meses. Hoje talvez saia com 10 ou 12 meses. Está havendo um esforço do<br />

Estado nesse sentido, mas ainda é muito lento.<br />

Então, agora, to<strong>dos</strong> os que vendem boi não vão poder fazê-lo se não tiverem<br />

o protocolo da licença ambiental, da atividade rural. Se não tiverem esse protocolo,<br />

passarão a ser considera<strong>dos</strong> ladrões de carro, como disse V.Exa. Mas são<br />

produtores, o que é bem diferente. Aquele a que V.Exa. imputa a condição de<br />

criminoso na Amazônia não é o criminoso <strong>dos</strong> morros do Rio de Janeiro com quem<br />

V.Exa. está acostumado a conviver — por omissão e negligência do Estado. Lá na<br />

Amazônia, entretanto, é diferente!<br />

Sr. Ministro, passo a V.Exa. mais um questionamento que fazemos.<br />

Aqui temos uma situação sui generis: Terra do Meio. Foram criadas unidades<br />

de conservação... Logicamente, V.Exa. assumiu há 49 dias e está tomando<br />

conhecimento disso agora. Por isso peço que me responda acerca da possibilidade<br />

de rever tudo isso. Isso não é culpa de V.Exa. só, não. V.Exa., logicamente, está<br />

pegando o bonde andando, mas assumiu esse bonde e está penalizando as<br />

pessoas, e com uma ação policialesca grotesca.<br />

Tenho aqui, por exemplo, um parecer da Procuradora Federal que, quando da<br />

proposta de criação das unidades de conservação da Terra do Meio, disse que “das<br />

atas das consultas públicas, cumprindo exigência da Lei nº 9.985, tanto em Altamira<br />

como em São Félix do Xingu, depreende-se que não há consenso entre a população<br />

local e lideranças sobre a criação do parque. Há informações imprecisas sobre a<br />

presença de mais de 2 mil proprietários rurais” — mais de 2 mil proprietários,<br />

Ministro, já existiam na região naquele tempo, em 2005! — que atestam a fertilidade<br />

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<strong>dos</strong> solos para o plantio, a incidência de terras indígenas e populações tradicionais”.<br />

Mais à frente ela diz que “as assertivas da consulta pública não foram levadas em<br />

conta quando da elaboração final da proposta, uma vez que ficou claro o<br />

descontentamento da população com a criação do parque, onde, conforme<br />

depoimentos, existem ocupações várias, inclusive propriedades particulares. Isso<br />

implica regularização fundiária com criterioso levantamento cartorial e,<br />

evidentemente, com custos eleva<strong>dos</strong> tanto <strong>dos</strong> levantamentos como, e<br />

principalmente, das desapropriações que se farão necessárias”.<br />

Sr. Ministro, os homens já estavam trabalhando. Há aqui um senhor com 72<br />

anos de idade, 10 filhos. Sr. Cândido, levante-se, por favor. Veja se isso é cara de<br />

bandido, Sr. Ministro! Um homem humilde, que nasceu na roça, no mato, adentrou a<br />

Amazônia. E eu o conheço, porque fui o primeiro médico de Redenção, no sul do<br />

Pará, um povoado miserável, com 7 casas de telha. Conheço a vida desses<br />

homens, a coragem desses brasileiros, Sr. Ministro, e fico indignado quando eles<br />

são penaliza<strong>dos</strong>, como está sendo este homem com 10 filhos porque adentrou a<br />

Amazônia para conquistá-la para o Brasil, certo de que estava fazendo o correto;<br />

ciente, consciente de que estava trabalhando para sustentar sua família, para não<br />

deixá-la na cidade para roubar, para assaltar. Ele está sendo penalizado, Sr.<br />

Ministro!<br />

Eu queria que V.Exa. revisse isso, porque é possível criar as unidades de<br />

conservação sem atropelar quem está produzindo, trabalhando. É este o apelo que<br />

fazemos: que o Governo tenha mais critério, mais parcimônia, e não venha, de<br />

qualquer forma, decretar áreas de conservação sem o respeito a quem está<br />

trabalhando. São brasileiros de todas as origens. Esse é goiano. Há, na região,<br />

gaúchos, cariocas, mineiros. Eu sou mineiro, filho de fazendeiro, e migrei para<br />

aquela região.<br />

Há um parecer contrário, e, inclusive já há ação direta de<br />

inconstitucionalidade contra a criação dessas unidades de conservação porque elas<br />

não respeitaram o trâmite legal. Espero que a Justiça, realmente, atenda isso.<br />

Tenho aqui, Sr. Ministro, o editorial de O Globo de ontem, que diz que,<br />

lamentavelmente, paradoxalmente, estamos num Estado democrático, mas vivendo<br />

uma ação policialesca, onde o Estado, através da Polícia Federal, de juízes e<br />

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procuradores, atropela o direito do cidadão. Isso está escrito no editorial de O Globo<br />

de ontem. V.Exa. leu? Eu li na sua inteireza. Há, nele, também, críticas à Casa<br />

Civil...<br />

É este aqui:<br />

“Por um desses paradoxos, é em plena democracia que se<br />

observam graves agressões a direitos constitucionais por parte do<br />

braço armado e jurídico do Estado, a Polícia Federal, juízes e<br />

procuradores.(...)”<br />

Isso é verdade. Juízes federais estão dando a V.Exa. condição de seqüestrar<br />

bois na Amazônia.<br />

Ministro, não faça isso! Sente com o nosso povo para conversar, e eu, como o<br />

Deputado Beto Faro, o Deputado Asdrúbal Bentes e tantos outros, posso intermediar<br />

para que possamos chegar a um acordo. Tenho certeza de que eles saem de lá,<br />

mas precisam ser indeniza<strong>dos</strong>, porque a lei assim garante. Indenize-os que eles<br />

saem. Se não, vamos permutar área — eu tenho aqui um documento da Secretaria<br />

do Meio Ambiente do Pará, do Governo anterior, propondo permuta, para não<br />

prejudicar os trabalhadores que estão lá, aqui, neste plenário, neste momento,<br />

representa<strong>dos</strong> por mais de 6 associações. São associações de produtores rurais, e<br />

não bandi<strong>dos</strong> <strong>dos</strong> morros do Rio de Janeiro. São homens que trabalham e<br />

produzem; pequenos médios e grandes.<br />

Sr. Ministro, fico aqui pensando que precisamos avançar, para dar à<br />

Amazônia alternativas econômicas que possam substituir o desmatamento. É isso<br />

que pretendemos nós to<strong>dos</strong>, desde que a preservação seja do interesse do Brasil, e<br />

não apenas de gringos, de ONGs internacionais, cujos objetivos e interesses às<br />

vezes nos atropelam, porque não são os interesses do Brasil. Que isso seja feito<br />

juntamente com o zoneamento econômico-ecológico, cujo dinheiro está no seu<br />

Ministério e ainda não foi liberado um centavo sequer <strong>dos</strong> 9 milhões e 444 mil, ou<br />

com o distrito florestal sustentável, que também está lá e não teve um centavo<br />

aplicado.<br />

V.Exa. está à frente do Ministério há apenas 49 dias, e obviamente ainda não<br />

teve tempo de ver tudo, mas a Ministra Marina Silva pensava no desenvolvimento da<br />

Amazônia apenas para manter a agricultura de sustentação, ou o sistema do... Por<br />

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exemplo, V.Exa. falou agora do preço mínimo para os produtos do extrativismo na<br />

Amazônia. Ministro, não podemos manter esse povo no extrativismo, não! Fazer isso<br />

é mantê-los escravos da floresta, na miséria! Vão tirar 200, 300, 400 reais por mês,<br />

no máximo, vivendo com a família no mato — e viver no mato é a coisa mais<br />

desgraçada que existe! O homem se sujeita a isso porque não tem alternativa, não<br />

tem educação, não tem condição de ter uma casa na cidade. Para não deixar a<br />

família, às vezes adentra 20, 30 quilômetros na mata a pé.<br />

Eu ouvi isso de um cidadão que hoje tem um pedacinho de terra organizado.<br />

Ele dizia, meu Presidente Onyx Lorenzoni: “Doutor, eu punha minha cachorrinha na<br />

cacunda e adentrava o mato” — cachorrinha é uma sacola dentro de um saco com<br />

farinha, sal e mais alguma coisinha —, “e atrás de mim vinha mulher, 22 quilômetros<br />

atravessando com água no peito.” Isso para ter um pedacinho de terra hoje. Esse<br />

hoje é chamado de bandido ou ladrão de carro.<br />

Não podemos, como brasileiros, deixar de ser solidários com esses tantos<br />

brasileiros que adentraram a Amazônia e lá estão. Por isso, quero sugerir a V.Exa.<br />

que sentemos para conversar antes de V.Exa. vender os bois. Até porque, de<br />

repente, Ministro, V.Exa. pode até vender os bois, mas pode não conseguir entregá-<br />

los. V.Exa. pode vender os bois — eu ouvi isso e estou dizendo agora a V.Exa. —,<br />

mas não vai conseguir entregá-los. A população de lá é como to<strong>dos</strong> nós, brasileiros:<br />

de boa fé, mansa, pacífica, ordeira. Mas diz-se que não se pode cutucar a onça com<br />

vara curta, porque ela avança e morre em cima de sua garganta. Não cutuque o<br />

nosso trabalhador. Não faça isso. Reduza essa intempestividade, essas ações que<br />

podem ser comparadas a ações quixotescas, porque podem ter um resultado ruim.<br />

Aí, se vítima houver, num confronto, logicamente que a responsabilidade será do<br />

seu Ministério e do Governo, de cuja base faço parte aqui no Congresso Nacional.<br />

Quero dizer mais: a boa fé <strong>dos</strong> que lá estão é tão grande que tenho aqui<br />

documentos formaliza<strong>dos</strong> em 2002. São pedi<strong>dos</strong> de compra de terra, com<br />

pagamento para publicação de edital, com tudo junto ao ITERPA — porque aquelas<br />

eram terras do Estado, V.Exa. sabe disso. Está aqui o documento, na minha mão.<br />

Pagamento de 49 mil reais, pagamento de 600 reais, de 800 reais.<br />

Enfim, quero encerrar, Sr. Ministro, passando às mãos de V.Exa. — acho que<br />

pela terceira vez eu o faço — um documento. Quando se fala em desmatamento,<br />

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Nome: Conjunta - Agricultura,Pecuaria / Meio Ambiente<br />

Número: 1129/08 Data: <strong>16</strong>/<strong>07</strong>/<strong>2008</strong><br />

V.Exa. sabe muito bem que dá para ir lá, pontualmente, em cima do trator que está<br />

derrubando, e prender aquele miserável que está contrariando a lei. Portanto, pode-<br />

se combater o desmatando sem autorização legal, sem precisar castigar toda a<br />

Amazônia, vetando o crédito a to<strong>dos</strong> os brasileiros que lá estão. De repente, a partir<br />

do dia 1º para cá, ninguém mais tem crédito, a não ser quem já tem o protocolo, e<br />

V.Exa. sabe que esses não são mais do que 10%. Isso paralisa a produção na<br />

Amazônia.<br />

V.Exa. proíbe a venda de boi para o frigorífico — que passa a ser cúmplice e<br />

também culpado por comprar boi — e, assim, paralisa a produção nacional. Vinte<br />

por cento da produção nacional de bovinos vem da Amazônia. Da mesma forma,<br />

28% da produção de grãos do Brasil vem da Amazônia.<br />

Mas e o desmatamento? Vejam como o Governo é conivente — V.Exa. só<br />

está há 49 dias no Ministério: eu entreguei à Ministra Marina Silva, pessoalmente,<br />

uma denúncia, com as coordenadas geográficas. Vou passar à mão de V.Exa. uma<br />

cópia. Onde estão desmatando? Estão aqui as coordenadas geográficas. A Ministra<br />

Marina Silva as recebeu do proprietário no dia 7 de maio; eu reiterei no dia 13 de<br />

junho e entreguei à Ministra Marina Silva, pessoalmente, no mesmo dia. Nenhuma<br />

providência do IBAMA. Um desmatamento de mais de 5 mil hectares está sendo<br />

feito hoje. Se hoje V.Exa. mandar alguém para lá, vai prender gente. Mas mande, Sr.<br />

Ministro, porque, senão, V.Exa. não terá direito de cobrar de mais ninguém. E está<br />

prejudicando to<strong>dos</strong>.<br />

Mas faça V.Exa., porque o IBAMA não manda. Isso foi denunciado ao IBAMA<br />

no Município de Redenção, de Conceição do Araguaia, mas ele não vai lá. Vive<br />

dizendo que se tem de parar de desmatar a Amazônia, mas não cumpre a parte<br />

deles. Só sabe punir com ações policialescas aqueles que querem trabalhar.<br />

Sr. Ministro, ao encerrar, peço a V.Exa. uma resposta. Talvez, no mês que<br />

vem, nós o convidemos — não é preciso convocar —, junto com o Ministério do Meio<br />

Ambiente, para estar aqui conosco dizendo como andam essas coisas todas, porque<br />

precisamos de respostas. Aliás, esses trabalhadores que aqui estão precisam de<br />

respostas.<br />

O SR. PRESIDENTE (Deputado Onyx Lorenzoni) - Obrigado, Deputado<br />

Giovanni Queiroz.<br />

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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL<br />

Nome: Conjunta - Agricultura,Pecuaria / Meio Ambiente<br />

Número: 1129/08 Data: <strong>16</strong>/<strong>07</strong>/<strong>2008</strong><br />

O SR. DEPUTADO DOMINGOS DUTRA - Sr. Presidente, pela ordem.<br />

O SR. PRESIDENTE (Deputado Onyx Lorenzoni) - Pois não, Deputado.<br />

O SR. DEPUTADO DOMINGOS DUTRA - Sr. Presidente, ouvi atentamente o<br />

Deputado Giovanni Queiroz — o plenário está cheio; é uma audiência importante —,<br />

mas S.Exa. utilizou expressões, tais como “onça na garganta”, que soam como<br />

ameaça. Então, é importante que os outros Deputa<strong>dos</strong>...<br />

O SR. PRESIDENTE (Deputado Onyx Lorenzoni) - Deputado, não nos cabe<br />

interpretar o que diz um Parlamentar. Ele tem o direito constitucional de dizer o que<br />

quiser!<br />

O SR. DEPUTADO DOMINGOS DUTRA - Tudo bem, mas “onça na garganta”<br />

pode ser fuzil, “doze”, espingarda.<br />

O SR. PRESIDENTE (Deputado Onyx Lorenzoni) - Não, não, Deputado<br />

Domingos Dutra.<br />

O SR. DEPUTADO DOMINGOS DUTRA - Eu só peço que use expressões<br />

que... Sabemos muito bem como isso funciona.<br />

O SR. DEPUTADO GIOVANNI QUEIROZ - Pela ordem.<br />

O SR. DEPUTADO DOMINGOS DUTRA - Se aqui um Deputado fala em<br />

“onça na garganta”, imaginem lá no mato. Imaginem!<br />

O SR. DEPUTADO GERSON PERES - Aqui não existe censura!<br />

(O Presidente faz soar a campainha.)<br />

O SR. PRESIDENTE (Deputado Onyx Lorenzoni) - A palavra vai ser<br />

concedida ao autor do requerimento, Deputado Wandenkolk Gonçalves.<br />

Nenhum Parlamentar é juiz <strong>dos</strong> demais. Eu tenho respeito pelo Deputado<br />

Domingos Dutra, um Parlamentar combativo, mas vamos dar toda liberdade para<br />

que os Parlamentares se expressem na totalidade, na integralidade do seu mandato.<br />

O Deputado Domingos Dutra terá tempo para se expressar; vai poder se<br />

manifestar com toda a tranqüilidade; vai ter assegurado o tempo necessário para<br />

que as suas idéias sejam expressas, da mesma forma como to<strong>dos</strong> os Parlamentares<br />

que aqui estão.<br />

Passo a palavra ao Deputado Wandenkolk Gonçalves, autor do requerimento,<br />

pelo tempo regimental.<br />

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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL<br />

Nome: Conjunta - Agricultura,Pecuaria / Meio Ambiente<br />

Número: 1129/08 Data: <strong>16</strong>/<strong>07</strong>/<strong>2008</strong><br />

O SR. DEPUTADO PAULO TEIXEIRA - Sr. Presidente, eu quero saber de<br />

quanto tempo dispõe o Parlamentar para falar, porque aqui ocuparam 15 minutos.<br />

O SR. PRESIDENTE (Deputado Onyx Lorenzoni) - O autor do requerimento<br />

dispõe de 10 minutos, conforme o acordo que fizemos.<br />

O SR. DEPUTADO PAULO TEIXEIRA - Então vamos garantir os 10 minutos.<br />

O SR. PRESIDENTE (Deputado Onyx Lorenzoni) - Nós estamos trabalhando<br />

nessa linha, Deputado. V.Exa. tem razão.<br />

minutos.<br />

Peço ao Deputado Wandenkolk Gonçalves que nos ajude, cumprindo os 10<br />

Com a palavra o Deputado Wandenkolk Gonçalves, do PSDB do Pará, co-<br />

autor do requerimento de convocação, pelo prazo regimental.<br />

O SR. DEPUTADO WANDENKOLK GONÇALVES - Srs. Presidentes de<br />

ambas as Comissões, Sras. e Srs. Deputa<strong>dos</strong>, imediatamente após a posse do Sr.<br />

Ministro, logo que S.Exa. assumiu o Ministério do Meio Ambiente, eu fiz uma<br />

solicitação de convite a S.Exa., a qual depois foi transformada em convocação, em<br />

razão de sua ausência naquela oportunidade.<br />

Fiz isso porque eu me preocupava principalmente com as afirmativas de<br />

S.Exa., quando convidado pelo Presidente Luís Inácio Lula da Silva para assumir o<br />

Ministério: S.Exa., claramente, declarou que não conhecia a Amazônia. Agora afirma<br />

a to<strong>dos</strong> que está no Ministério há apenas 49 dias. Então, nós perdemos 49 dias na<br />

busca, de maneira integrada, do tão sonhado e propalado desenvolvimento<br />

sustentável.<br />

Aí eu me preocupo, porque, à frente do Ministério do Meio Ambiente, nesses<br />

49 dias, V.Exa. tem pautado a agenda midiática deste País. Nós deveríamos ter<br />

aproveitado essa possibilidade para enveredar pelos caminho que nós to<strong>dos</strong>,<br />

amazônidas, gostaríamos de caminhar.<br />

Depois, eu tive a curiosidade, preparando-me para o debate com V.Exa., de<br />

verificar o seu currículo. Aliás, parabéns, é um currículo bastante emblemático. Um<br />

fato chamou-me a atenção no seu currículo: V.Exa. foi fundador do Partido Verde,<br />

militante político, enfim, uma série de outros emblemas. Eu pincei essa questão do<br />

Partido Verde, a militância de mais de 20 anos de vida pública, com mandato<br />

inclusive, perguntei a mim mesmo e pergunto a V.Exa.: onde V.Exa. estava quando<br />

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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL<br />

Nome: Conjunta - Agricultura,Pecuaria / Meio Ambiente<br />

Número: 1129/08 Data: <strong>16</strong>/<strong>07</strong>/<strong>2008</strong><br />

desmataram mais de 90% da Mata Atlântica? O que fez o Partido Verde naquela<br />

época, principalmente no Rio de Janeiro?<br />

Vejo agora o documento trazido por V.Exa., aliás uma relação muito grande<br />

de boas intenções, as boas intenções ficando mais para o Sul e Sudeste e as más<br />

intenções ficando para a nossa região, como, por exemplo, a Operação Arco de<br />

Fogo, que V.Exa. comanda hoje e que direcionou principalmente para o Estado do<br />

Pará.<br />

O Estado do Pará não foi o Estado que mais desmatou, o que não justifica,<br />

claro, o desmatamento que houve. Lá o que aconteceu foi o seguinte: priorizaram o<br />

Mato Grosso, mas lá tem Governador. No Pará, infelizmente, a nossa Governadora<br />

foi e está sendo omissa nessa questão emblemática do nosso Estado.<br />

Aí, Sr. Ministro, os sorteios que foram feitos para que essa operação pudesse<br />

direcionar as suas ações soam de maneira estranha, e eu fiz essa denúncia e essa<br />

cobrança à Polícia Federal, mais recentemente em Altamira. Os 3 municípios<br />

“sortea<strong>dos</strong>”, entre aspas, para serem fiscaliza<strong>dos</strong> e receberem a determinação da<br />

famigerada operação foram: Tailândia, que não estava e não está no arco <strong>dos</strong> 36<br />

municípios; Altamira, que, se V.Exa. pegar os da<strong>dos</strong> do DETER, é o município que<br />

menos desmatou, tem mais de 90% preservado, e Paragominas, que tem toda uma<br />

história que precisa ser analisada. Qual foi a coincidência desse sorteio? Tailândia é<br />

administrada por um prefeito do PSDB; Altamira é administrada por um prefeito do<br />

PSDB e Paragominas é administrada por um prefeito do PSDB. Então, foi um<br />

sorteio, assim, muito dirigido.<br />

Sr. Ministro, a Operação Arco de Fogo, que foi mandada para lá através de<br />

uma força de repressão da chamada Força Nacional de Segurança, está custando<br />

para os cofres brasileiros e para to<strong>dos</strong> nós aproximadamente 250 milhões de reais.<br />

Com muito menos disso, Ministro, nós poderíamos fazer a força-tarefa de que<br />

estamos precisando no Estado, que é fortalecer o INCRA, para que ele faça o<br />

ordenamento fundiário. O INCRA, há mais de 20 anos, não concede um título na<br />

Amazônia. Aí o Ministério fica resolvendo o caso mas não resolve a causa, e a<br />

causa é a falta de ordenamento fundiário.<br />

Fazem reservas a cada dia no Estado do Pará e na Amazônia como um todo,<br />

como é o caso da Terra do Meio — companheiros de Altamira e São Félix do Xingu<br />

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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL<br />

Nome: Conjunta - Agricultura,Pecuaria / Meio Ambiente<br />

Número: 1129/08 Data: <strong>16</strong>/<strong>07</strong>/<strong>2008</strong><br />

estão aí presentes, trazi<strong>dos</strong> pelo Deputado Giovanni Queiroz. Fazem várias reservas<br />

ecológicas sem demarcá-las. Ouvi outro dia V.Exa. pautando na mídia essa questão.<br />

Fazer reserva sem demarcar é não fazer reserva nenhuma! Aí querem que o<br />

boi pirata, que V.Exa. tão bem cunhou na mídia, respeite os limites de onde não dá<br />

limite! Ora, se o homem não sabe onde é que começa e termina a reserva, como é<br />

que o boi vai saber? Eu acho que não passa de conversa para boi dormir. E nós<br />

precisamos tomar providências imediatamente, para cunhar a frase de V.Exa.,<br />

senão a vaca vai para o brejo, e nós não queremos realmente que isso aconteça na<br />

Amazônia.<br />

Quando eu e outros Deputa<strong>dos</strong> propusemos e convidamos V.Exa. para vir a<br />

estas Comissões, Ministro, foi para a gente começar, na medida em que V.Exa.<br />

desconhece ou conhece muito pouco a Amazônia, a mostrar a história da região e<br />

perguntar de quem é a culpa e a responsabilidade. Esses são dois pontos que<br />

temos de diferenciar.<br />

Vejo aqui o documento de boas intenções que V.Exa. distribuiu agora e me<br />

lembro daquele treinador da seleção brasileira de futebol que conversou com o<br />

Garrincha e depois o Garrincha perguntou se ele já havia combinado com os<br />

alemães. Falta V.Exa. combinar com os alemães, Ministro. V.Exa. não combinou<br />

com ninguém. Não foi chamada a inteligência da Amazônia, não foi chamada a<br />

EMBRAPA, não foi chamado Emílio Goeldi, não foram chama<strong>dos</strong> aqueles que têm<br />

muita experiência na região. E aqui eu volto à culpa e à responsabilidade.<br />

Como V.Exa., sou agente do Governo. Tenho 35 anos de vida pública como<br />

agente do Governo. Fui para Altamira há 30 anos como agente de crédito rural da<br />

então ACAR-Pará e do Banco do Brasil. É aquilo que o Deputado Giovanni Queiroz<br />

disse ainda agora: nós, os agentes do Governo, para fazermos um financiamento,<br />

tínhamos que obrigar o produtor a desmatar no mínimo 50%, caso contrário não<br />

tinha acesso ao crédito. Esse mesmo Governo — estou falando do Governo<br />

brasileiro, e Governo para mim é impessoal — agora penaliza e criminaliza quem ele<br />

mesmo mandou desmatar. Nós, agentes do Governo...<br />

É preciso que V.Exa. pense há 30, 35 anos, quando da abertura daquelas<br />

rodovias, quando o Governo dizia: “integrar para não entregar”. Eu estou<br />

preocupado agora que estamos entregando porque nós não vamos integrar.<br />

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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL<br />

Nome: Conjunta - Agricultura,Pecuaria / Meio Ambiente<br />

Número: 1129/08 Data: <strong>16</strong>/<strong>07</strong>/<strong>2008</strong><br />

Foi o Governo que mandou milhares e milhares de homens sem-terra para<br />

aquela terra sem-homens. Participei também desse projeto. E aí vem o Presidente<br />

João Figueiredo: “planta que o João garante”.<br />

Todas essas frases eloqüentes, to<strong>dos</strong> esses projetos passavam<br />

necessariamente pela abertura da floresta. Esses produtores foram para lá para<br />

seguir essa determinação, mas, de repente, são criminaliza<strong>dos</strong>. Desconhecem toda<br />

a história, um passado em que o próprio Governo nos obrigou — e a palavra certa é<br />

essa —a fazer a abertura da Transamazônica, da Santarém-Cuiabá e de tantas<br />

outras estradas que estão lá abandonadas pelos próprios governantes.<br />

Agora, no Governo atual, em torno de mil assentamentos foram feitos<br />

somente no Estado do Pará, de Conceição do Araguaia a Itaituba, em to<strong>dos</strong> os<br />

nossos municípios. Mais de 150 mil famílias foram assentadas para produzir. Com a<br />

agricultura familiar? Sim. Mas como se produz com a agricultura familiar se não se<br />

avançar sobre a floresta? Vão fazer o quê, meu Deputado Lira Maia? Plantar o quê?<br />

Em cima das castanheiras, da mata que está lá? Tinham que avançar sobre as<br />

florestas. Aliás, o próprio Governo, se não quisesse que eles avançassem sobre a<br />

floresta, não fazia financiamento para pequeno produtor, através do PRONAF e de<br />

outras linhas de crédito, para comprar boi, esse mesmo que V.Exa. chama hoje de<br />

boi pirata.<br />

Se não era para avançar sobre a floresta... Só se cria boi, Ministro, na<br />

Amazônia com pastagens. Só se faz pastagens se se avançar sobre a floresta. Por<br />

que imediatamente não se cerceou a possibilidade do crédito rural, através do<br />

PRONAF ou de outros projetos, para a agricultura familiar, impedindo-se de fazer e<br />

de ampliar a pecuária?<br />

No caso específico da pirotecnia que foi feita em São Félix do Xingu, na Terra<br />

do Meio, com a apreensão de 3.500 cabeças, o boi está lá, está no pasto, está<br />

morrendo. Fizeram um leilão e nós dissemos que esse leilão não ia acontecer. Não<br />

aconteceu por quê? Porque quem compra os bois são os frigoríficos. O frigorífico<br />

compra boi gordo, e lá os bois estão magros, estão morrendo de fome porque não<br />

tem ninguém os alimentando.<br />

É preciso que se saiba da realidade da Amazônia para que a gente possa<br />

avançar. Aí, ao invés de fortalecer as nossas instituições, vem o Governo e secciona<br />

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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL<br />

Nome: Conjunta - Agricultura,Pecuaria / Meio Ambiente<br />

Número: 1129/08 Data: <strong>16</strong>/<strong>07</strong>/<strong>2008</strong><br />

o IBAMA, transforma o IBAMA em Fundação Chico Mendes. Já eram tão poucos os<br />

fiscais do IBAMA! Agora, além de poucos, ficaram fracos. Eles não têm condição<br />

alguma de fazer a orientação que o Ministério de V.Exa. dá, de comando de<br />

controle. É muito fácil fazer o comando, através de portarias ou resoluções desses<br />

órgãos, mas não há o controle. Por isso é que hoje V.Exa. vem aos jornais e mostra<br />

para to<strong>dos</strong> os brasileiros que o desmatamento na Amazônia avançou.<br />

Então, a política está errada. A política não está correta. Ela não vai para<br />

lugar algum. Primeiro, citando Garrincha novamente, nós precisamos combinar com<br />

aqueles que estão lá. São mais de 20 milhões de pessoas que irão para aonde?<br />

V.Exa. tem a sua vida no Rio de Janeiro. Nós temos a nossa lá, as nossas famílias,<br />

nosso patrimônio, a nossa história. E não vai ser com 126 leis — e V.Exa. tão bem<br />

disse aqui que o Brasil tem excesso de leis — que nós vamos realmente buscar o<br />

tão propalado desenvolvimento sustentável.<br />

A última do IBAMA para cima de nós, que é do Ministério de V.Exa., de to<strong>dos</strong><br />

nós... Estamos brigando, na Comissão do Meio Ambiente, pela flexibilização do<br />

Código Florestal, não para se avançar sobre a floresta, mas para recuperarmos as<br />

áreas degradadas. Apenas no Pará, há quase 20 milhões de áreas alteradas. Não<br />

precisamos derrubar mais nenhuma árvore para continuarmos nosso<br />

desenvolvimento.<br />

Vou concluir, Deputado Onyx Lorenzoni, e depois peço o meu tempo pela<br />

Comissão de Meio Ambiente, porque eu também propus, na semana passada, a<br />

vinda do Sr. Ministro a esta reunião conjunta.<br />

Sr. Ministro, quanto à questão específica, uma sugestão a V.Exa. Há duas<br />

amazônias hoje. Independentemente <strong>dos</strong> biomas e de todo esse tipo de parafernália<br />

com que queiram dividir a Amazônia, temos apenas duas. Ficamos com apenas<br />

duas, sem desconsiderar as outras que dependem do olhar ou da localização<br />

topográfica do observador, que define a Amazônia no seu entendimento. A gente<br />

transita imediatamente do inferno verde para o pulmão do mundo, do responsável<br />

pelo aquecimento global. Virou, realmente, todo mundo entendendo de Amazônia.<br />

Agora vem a última. Não podemos plantar floresta. Por quê? Porque o<br />

eucalipto é exótico, porque a teça do Giovanni é exótica, porque o dendê é exótico.<br />

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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL<br />

Nome: Conjunta - Agricultura,Pecuaria / Meio Ambiente<br />

Número: 1129/08 Data: <strong>16</strong>/<strong>07</strong>/<strong>2008</strong><br />

Sr. Ministro, V.Exa. precisa saber, assim como nossos companheiros do<br />

IBAMA, que o zebu é exótico, ele veio da Índia, e nós somos os maiores<br />

exportadores de gado do mundo. É preciso saber, Sr. Ministro, que o dendê é<br />

exótico, e nós somos o segundo produtor do mundo. O café é exótico; a cana veio<br />

da Índia; a manga veio da Índia; o frango veio da França. Aliás, se for para usar o<br />

argumento exótico, eu queria recomendar ao IBAMA: não tragam o Greenpeace<br />

para a Amazônia, porque o Greenpeace é exótico.<br />

Muito obrigado, Sr. Presidente.<br />

O SR. PRESIDENTE (Deputado Onyx Lorenzoni) - Obrigado, Deputado<br />

Wandenkolk Gonçalves.<br />

Quero informar a V.Exas. que os Parlamentares da Comissão de Meio<br />

Ambiente — estão presentes os Deputa<strong>dos</strong> Gervásio Silva e Paulo Teixeira —, por<br />

ser convite, terão o prazo de 3 minutos. É regimental.<br />

Vamos conceder a palavra ao Deputado Gervásio Silva dizendo que haverá<br />

tolerância, bom senso e equilíbrio para que cada um possa apresentar suas razões.<br />

O SR. DEPUTADO PAULO TEIXEIRA - Sr. Presidente, pela ordem.<br />

Regimentalmente, V.Exa. teria de conceder o prazo de 10 minutos para os<br />

requerentes. O primeiro requerente falou por 24 minutos; o segundo falou por 14<br />

minutos. Portanto, V.Exa. teve uma complacência com os dois requerentes.<br />

Deputado.<br />

10 minutos.<br />

O SR. PRESIDENTE (Deputado Onyx Lorenzoni) - Caso de convocação, Sr.<br />

O SR. DEPUTADO PAULO TEIXEIRA - Mas, regimentalmente, eles teriam<br />

O SR. PRESIDENTE (Deputado Onyx Lorenzoni) - Caso de convocação.<br />

O SR. DEPUTADO PAULO TEIXEIRA - Eles teriam 10 minutos. V.Exa.<br />

dobrou, quase triplicou o tempo do primeiro requerente e deu um tempo a mais para<br />

o segundo requerente. O nosso acordo era no sentido de que seria concedido o<br />

mesmo tempo para os membros das duas Comissões.<br />

Se V.Exa. quiser usar esses dois critérios, acho que isso se afasta do<br />

equilíbrio que exige a Presidência desta Mesa. Vinte e quatro minutos.<br />

O SR. PRESIDENTE (Deputado Onyx Lorenzoni) - Deputado Paulo, quero<br />

resolver o problema e deixar V.Exa. tranqüilo, uma vez que são V.Exa. e o Deputado<br />

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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL<br />

Nome: Conjunta - Agricultura,Pecuaria / Meio Ambiente<br />

Número: 1129/08 Data: <strong>16</strong>/<strong>07</strong>/<strong>2008</strong><br />

Gervásio Silva. Quero que V.Exa. entenda que não há nenhum interesse em criar<br />

prejuízo aos Parlamentares. Portanto, acordamos, por sugestão do Presidente,<br />

Deputado André de Paula, que sempre se pauta com absoluta prudência, equilíbrio<br />

e bom senso, que vamos dividir o tempo entre V.Exa. e o Deputado Gervásio Silva,<br />

concedendo o prazo de 10 minutos para cada um <strong>dos</strong> Srs. Parlamentares.<br />

Com a palavra o Deputado Gervásio Silva, pelo prazo de 10 minutos,<br />

conforme acordo firmado entre as duas Comissões.<br />

O SR. DEPUTADO GERVÁSIO SILVA - Agradeço ao Sr. Presidente,<br />

Deputado Onyx Lorenzoni, e ao Sr. Presidente da nossa Comissão, Deputado André<br />

de Paula.<br />

Sr. Ministro Carlos Minc, o meu Estado é Santa Catarina. Entendo<br />

perfeitamente as ponderações do Deputado Giovanni Queiroz e do Deputado<br />

Wandenkolk Gonçalves.<br />

Confesso, Sr. Ministro, que, desde a sua ascensão ao Ministério do Meio<br />

Ambiente, o Brasil ficou apreensivo e assustado com as suas declarações. Quando<br />

debatemos o requerimento aqui, o Deputado Edson Duarte, que também é autor,<br />

disse que queríamos saber se S.Exa. é Ministro do Meio Ambiente da Amazônia ou<br />

Ministro do Meio Ambiente do Brasil.<br />

Falando da Amazônia, gaúchos, catarinenses, paranaenses estão hoje na<br />

Amazônia a partir de uma política estimulada pelo Governo, e não estou falando do<br />

Governo que aí está. Os que desbravaram, os que foram para lá não podem receber<br />

hoje o tratamento que estão recebendo. Não há como.<br />

É evidente que nós somos a favor da preservação do meio ambiente. O<br />

desmatamento na Amazônia precisa ter um fim. É preciso ter uma política de<br />

governo para esta questão, mas temos de levar em consideração, como V.Exa.<br />

mesmo disse, que lá existem 25 milhões de pessoas.<br />

Quando nós tratamos dessas questões aqui na nossa Comissão, eu fico triste<br />

— estou nesta Comissão há 3 anos, estou na terceira legislatura como Deputado<br />

Federal — em ver o cinismo de determinadas pessoas que às vezes estão aqui na<br />

platéia quando se tratam de questões importantes.<br />

Há algum tempo, eu diria uns 2 anos atrás, quando se tratou <strong>dos</strong> trangênicos<br />

no Brasil, houve um envolvimento generalizado das ONGs. Não tenho nada contra<br />

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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL<br />

Nome: Conjunta - Agricultura,Pecuaria / Meio Ambiente<br />

Número: 1129/08 Data: <strong>16</strong>/<strong>07</strong>/<strong>2008</strong><br />

as ONGs, mas temos de reconhecer que muitas ONGs no nosso País estão aqui a<br />

serviço de interesses internacionais e não <strong>dos</strong> interesses do Brasil. Não venham me<br />

dizer que o pano de fundo era o trangênico; o pano de fundo era a defesa da<br />

indústria de defensivos. É isso que existe.<br />

Eu não quero ser repetitivo porque os Deputa<strong>dos</strong> que me antecederam<br />

disseram e transmitiram o sentimento de to<strong>dos</strong> nós, que somos liga<strong>dos</strong> ao setor<br />

produtivo deste País, principalmente ao agronegócio. Ficou claro aqui que não<br />

existiu razão para a questão de ordem apresentada, porque eu acredito que, quando<br />

o Deputado Giovanni Queiroz disse que o senhor não entregaria os bois, é porque<br />

os bois vão ser mortos ou vão morrer de fome antes de serem entregues. Não é<br />

outra coisa e não é uma ameaça a ninguém.<br />

Agora, Sr. Ministro, quanto à plataforma administrativa que V.Exa. apresentou<br />

hoje nesta Comissão, não é apenas o que nós e cada brasileiro queríamos ouvir; é o<br />

que nós queremos que aconteça.<br />

Eu não vou utilizar nem metade do tempo que me foi destinado, mas eu quero<br />

dizer que, se V.Exa. conseguir implementar 20% ou 30% dessa plataforma, vai ser<br />

imortalizado como Ministro do Meio Ambiente deste País. Sem dúvida nenhuma. O<br />

grande problema é que V.Exa. vai conseguir adversários não no setor produtivo nem<br />

na bancada ruralista; V.Exa. vai conseguir adversários nas ONGs, que estão a<br />

serviço <strong>dos</strong> interesses internacionais, se implementar o que apresentou aqui para<br />

nós. Pode ter certeza disso. V.Exa. precisa se preparar para lidar com isso.<br />

Como eu disse que ia ser breve, Sr. Ministro, quero dizer ainda que, se V.Exa.<br />

diminuir a morosidade <strong>dos</strong> órgãos ambientais; se V.Exa. conseguir desburocratizar;<br />

se V.Exa. conseguir implantar regras claras; se V.Exa. conseguir estabelecer o<br />

diálogo que pretende com o setor produtivo, que está aberto a isso, pode ter certeza<br />

de que vai realmente fazer a maior gestão que o Ministério do Meio Ambiente deste<br />

País já teve.<br />

Agora, quero lhe desejar sucesso e que V.Exa. leve em consideração o que<br />

eu disse aqui. Àquele setor de amantes do meio ambiente que criam diariamente<br />

dificuldades para vender facilidades pelo País afora, V.Exa. tem de dar o mesmo<br />

tratamento que está dando a quem está desmatando a Amazônia. Eles são mais<br />

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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL<br />

Nome: Conjunta - Agricultura,Pecuaria / Meio Ambiente<br />

Número: 1129/08 Data: <strong>16</strong>/<strong>07</strong>/<strong>2008</strong><br />

bandi<strong>dos</strong> do que aquele cidadão que saiu de Santa Catarina, que desbravou, que<br />

viveu no mato e hoje é um agropecuarista.<br />

Era isso o que queria a dizer, até porque eu entendo que os pronunciamentos<br />

aqui serão repetitivos e não pretendo sê-lo também.<br />

O SR. PRESIDENTE (Deputado Onyx Lorenzoni) - Muito obrigado, Deputado<br />

Gervásio Silva, pelas colocações. Tendo em vista a sua objetividade, que é sua<br />

característica, o seu tempo ainda não se esgotou.<br />

Com a palavra o Deputado Paulo Teixeira, pelo prazo acordado.<br />

O SR. DEPUTADO PAULO TEIXEIRA - Obrigado, Sr. Presidente, Deputado<br />

Onyx Lorenzoni.<br />

Sr. Ministro Carlos Minc, ouvi os três oradores que fizeram uso da palavra<br />

para debater com V.Exa., e o forte argumento por eles utilizado é o seguinte: há 30<br />

anos o Governo estimulou a ocupação da Amazônia e também financiou o corte de<br />

árvores. Esse o argumento foi fartamente usado neste debate.<br />

O importante é dizer que a política mudou, e como vamos dialogar a partir de<br />

uma nova política? Antes o bem era ocupação do Brasil, e, portanto, o avanço<br />

migratório na direção da Amazônia; hoje o bem é tecnológico. Vivemos numa<br />

sociedade que depende da ciência e tecnologia, do avanço da biotecnologia, e<br />

naquela região há um patrimônio biotecnológico. Vivemos numa sociedade que<br />

depende daquele patrimônio para o regime das chuvas, para o fornecimento de<br />

água, enfim, para uma série de questões. Então, mudou-se a política. Trata-se,<br />

portanto, de reverter essa política e, evidentemente, ter uma política completa para o<br />

tratamento da Amazônia. Essa mudança não é de hoje, mas já de algum tempo.<br />

Por exemplo, o financiamento é de uma legislação da Política Nacional do<br />

Meio Ambiente, do art. 12 da Lei n.º 6.938, de 1981, e ele só está sendo aplicado<br />

hoje, portanto com quase 30 anos de atraso. Mas essa política, repito, já mudou lá<br />

atrás. Ela vem mudando, agora há resistência à mudança dessa política, e é nessa<br />

medida é que temos de fazer o diálogo de hoje. Segundo o DETER, há um<br />

desmatamento de 1.000 quilômetros quadra<strong>dos</strong> ao mês. Isso não decorre da política<br />

de desmatamento de 30 anos atrás, mas da atual, que ainda não foi devidamente<br />

brecada. Outro importante aspecto: a Estação Ecológica da Reserva Terra do Meio<br />

é de 2006, ou seja, já faz 2 anos.<br />

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Número: 1129/08 Data: <strong>16</strong>/<strong>07</strong>/<strong>2008</strong><br />

Portanto, as políticas implementadas na região amazônica — e trago à<br />

reflexão <strong>dos</strong> nobres pares — fazem parte das leis aprovadas por nós,<br />

Parlamentares. São políticas aprovadas por nós mesmos e, portanto, é como o<br />

Parlamento e a sociedade brasileira concebem a Amazônia com os Parlamentares<br />

daquela região.<br />

A questão, portanto, do financiamento está discutida. Sobre a extração da<br />

madeira, esta Casa decidiu somente pelo seu manejo sustentável. Portanto, é um<br />

tema por nós decidido, assim como pela sociedade brasileira. Sobre a recuperação<br />

das florestas, a legislação foi fartamente modificada, mas ainda não foi cumprida.<br />

Nós temos algo a fazer, como, por exemplo, o debate sobre o pagamento <strong>dos</strong><br />

serviços ambientais, valorizar essas reservas, valorizar quem tem a mata, por meio<br />

da fixação de H2O no subsolo, controle de erosão, fixação de seqüestro de carbono.<br />

Precisamos debater sobre isso, Ministro. Essa é legislação interessa ao<br />

produtor, ao proprietário, ao concessionário daquelas áreas, assim como o tema das<br />

licenças ambientais.<br />

Eu quero discutir isso, a velha economia vai ser reprimida conforme a lei. A<br />

mesma pessoa que no Rio de Janeiro ataca o cidadão, ou ataca qualquer tipo de<br />

patrimônio, é punida, vai para as cadeias que o Deputado Domingos Dutra relatou à<br />

sociedade brasileira, as fétidas cadeias brasileiras. A mesma lei vai servir para quem<br />

estiver fora dela em qualquer região do Brasil. Portanto, eu acho que cabe aqui<br />

discutir o acerto dessa política e como se forma o Estado naquela região.<br />

Por exemplo, o Estado brasileiro é lento no licenciamento, seja Estado<br />

Federal, sejam esferas estaduais, e a política de promover o manejo sustentável<br />

poderia evitar o corte. Então, é preciso licenciar com mais rapidez, modernizar as<br />

áreas de licenciamento, aplicar a mesma legislação. Cada licenciador não poder ser<br />

um legislador. Portanto, está correta a política de modernização do licenciamento.<br />

O INCRA está com uma política de georreferenciamento naquela região para<br />

permitir uma regularização fundiária mais rápida, mais de acordo com as<br />

necessidades postas por aqui. Esse é o segundo aspecto que eu queria mencionar,<br />

o Estado ali está avançando.<br />

Um terceiro aspecto que quero aqui discutir é o seguinte: eu creio Ministro, e<br />

quero aqui trazer a nossa avaliação, na correção da sua política, que não está<br />

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Número: 1129/08 Data: <strong>16</strong>/<strong>07</strong>/<strong>2008</strong><br />

calcada apenas na punição. Quando V.Exa. discute com as cadeias produtivas;<br />

quando V.Exa. discute com os bancos, o BNDES, para conceder financiamento;<br />

quando V.Exa. discute preço mínimo para a economia de extrativismo; quando o<br />

Governo discute um plano de desenvolvimento para a Amazônia, essa política não<br />

está calcada apenas na punição; ela está calcada na conversão daquela velha<br />

economia numa nova economia.<br />

Eu acho que os Parlamentares da região amazônica deveriam reivindicar do<br />

Governo uma universidade tecnológica para biotecnologia, para a área de fármacos,<br />

para mecatrônica, para fazer uma exploração menos invasiva da floresta. Tem de<br />

fazer economia de alta tecnologia naquela região. Agora, não podemos desqualificar<br />

o que é papel do Estado diante de uma política de evitar que a predação continue.<br />

Esse é um bem da sociedade brasileira, que tem interesse nisso; a sociedade<br />

amazônica tem interesse, assim como os Parlamentares daquela região.<br />

Eu sei que, às vezes, é da lida parlamentar, é do diálogo parlamentar puxar a<br />

corda para ver se ela quebra no meio. Porém, precisamos, e aí eu acho que o<br />

Ministro tem toda a disposição, reunir o Governo para discutir com essa pessoas o<br />

que os Deputa<strong>dos</strong> aqui disseram; para discutir com os produtores, com os cientistas,<br />

com os agentes públicos, para calibrar essa política.<br />

Eu não estou dizendo que nenhuma política não exija calibragem; exige, e<br />

deve ser decisão do Ministro aprofundar o diálogo. Agora, não pode ser abrindo mão<br />

de colocar to<strong>dos</strong> dentro da legalidade. No Rio de Janeiro e na região amazônica<br />

to<strong>dos</strong> deverão agir conforme a lei, dentro de um mercado formal, de uma economia<br />

formal. Vamos trazer aquele senhor que está ali e dar-lhe todas as condições para<br />

que ele sobreviva e viva adequadamente, inclusive sua família, mas não podemos<br />

chegar a ele e iludi-lo no sentido de que, se ele continuar com uma atividade ilegal,<br />

terá sucesso. Não. A lei vai pegá-lo, essa força de segurança vai pegá-lo, o IBAMA<br />

vai pegá-lo, e ele vai responder porque é o mais fraco elo dessa corda.<br />

Termino dizendo: Ministro, acho que nesta sessão os nobres Pares que já<br />

falaram apontam a necessidade de uma aprofundamento do diálogo, diálogo esse<br />

que eu não vejo que seja abrindo mão de medidas como aquelas que V.Exa.<br />

anunciou. Mesmo o último que falou aqui, que me antecedeu, disse que, se o senhor<br />

cumprir sua pauta, essa é uma pauta que interessa à sociedade brasileira. Eu creio<br />

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que a direção é o avanço dela, sua calibragem; fazer com que a Amazônia possa<br />

dar futuro aos seus 20 milhões de habitantes e cumprir o papel que tem para com<br />

toda a humanidade, o País, o futuro das gerações que vivem aqui e em outros<br />

lugares, que precisam daquela biodiversidade transformada em resultado, em<br />

produtos que possam enriquecer to<strong>dos</strong>, principalmente aquela população.<br />

O SR. PRESIDENTE (Deputado Onyx Lorenzoni) - Obrigado, Deputado Paulo<br />

Teixeira. V.Exa. cumpriu rigorosamente o tempo acordado. Cumprimento-o pela<br />

capacidade de síntese que exerceu.<br />

Bentes.<br />

O SR. DEPUTADO ASDRUBAL BENTES - Sr. Presidente, pela ordem.<br />

O SR. PRESIDENTE (Deputado Onyx Lorenzoni) - Deputado Asdrubal<br />

O SR. DEPUTADO ASDRUBAL BENTES - Sr. Presidente, eu não integro<br />

nenhuma das duas Comissões...<br />

O SR. PRESIDENTE (Deputado Onyx Lorenzoni) - V.Exa. está inscrito,<br />

Deputado? (Pausa.)<br />

É uma honra recebê-lo. A palavra está garantida a V.Exa.<br />

O SR. DEPUTADO ASDRUBAL BENTES - Era exatamente a indagação que<br />

eu gostaria de fazer a V.Exa...<br />

ordem...<br />

O SR. PRESIDENTE (Deputado Onyx Lorenzoni) - V.Exa. é o terceiro.<br />

O SR. DEPUTADO ASDRUBAL BENTES - ... se vai ser obedecida essa<br />

O SR. PRESIDENTE (Deputado Onyx Lorenzoni) - Vai ser.<br />

O SR. DEPUTADO ASDRUBAL BENTES - ... ou se vão ter preferência os<br />

membros da Comissão.<br />

O SR. PRESIDENTE (Deputado Onyx Lorenzoni) - V.Exa. é um Parlamentar<br />

da Amazônia, por quem eu tenho profundo respeito e admiração, sentimentos de<br />

que compartilha o Deputado André de Paula. Está garantida a palavra à V.Exa.<br />

Eu concedo a palavra agora ao Ministro...<br />

O SR. DEPUTADO GERSON PERES - Sr. Presidente, pela ordem.<br />

O SR. PRESIDENTE (Deputado Onyx Lorenzoni) - Pois não, Deputado.<br />

O SR. DEPUTADO GERSON PERES - Sr. Presidente, eu estou nas mesmas<br />

condições do Deputado Asdrubal Bentes.<br />

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Número: 1129/08 Data: <strong>16</strong>/<strong>07</strong>/<strong>2008</strong><br />

O SR. PRESIDENTE (Deputado Onyx Lorenzoni) - V.Exa. é sempre bem-<br />

vindo a esta Comissão. V.Exa. sabe disso.<br />

O SR. DEPUTADO GERSON PERES - Obrigado.<br />

O SR. PRESIDENTE (Deputado Onyx Lorenzoni) - Sr. Ministro, a palavra está<br />

concedida a V.Exa., por 5 minutos, com a tolerância necessária, para que responda<br />

aos questionamentos feitos.<br />

O SR. MINISTRO CARLOS MINC BAUMFELD - Bem, eu quero, inicialmente,<br />

agradecer as questões levantadas aos Srs. Deputa<strong>dos</strong>. Realmente elas têm muita<br />

substância e profundidade. Dificilmente vou conseguir responder a todas, no espaço<br />

de tempo que tenho nesta etapa, segundo o Regimento Interno, mas vou tentar pelo<br />

menos me ater às mais importantes, porque não é cabível que eu as ouça e não dê<br />

uma satisfação aos Deputa<strong>dos</strong>, que estão aqui cumprindo seu dever me<br />

questionando, como deve ocorrer no Parlamento.<br />

Mesmo com relação aos mais duros questionamentos, fiquem tranqüilos.<br />

Como Parlamentar, fiz isso a minha vida inteira. V.Exas. sabem que sei<br />

perfeitamente que não estão fazendo mais do que cumprir seu dever com seus<br />

eleitores, com seus Esta<strong>dos</strong>, com sua visão de país. Nenhuma dessas questões,<br />

mesmo as mais duras, de forma alguma, me sensibiliza, porque, como Parlamentar,<br />

não fiz outra coisa senão exatamente o que estão fazendo. Sintam-se à vontade,<br />

que também me sinto à vontade.<br />

Deputado Giovanni Queiroz, primeiro quero saudar V.Exa. pelo fato de ter<br />

declarado que desmatou muito, mas que agora está reflorestando muito. Espero que<br />

outros se mirem nesse bom exemplo. É disso que o País precisa, de pessoas que,<br />

tendo desmatado no passado, quando as idéias e as leis eram outras e os Governos<br />

estimulavam certas atitudes — V.Exa. falou isso, e é verdade —, em outros tempos<br />

reconhecem o valor econômico e ambiental, até para os recursos hídricos da floresta<br />

plantada.<br />

Em relação ao recadastramento e ao georreferenciamento, quero dizer a<br />

V.Exa. que nós, do Ministério do Meio Ambiente, temos acordo feito com o Governo<br />

do Pará, e vamos fazer o mesmo com Mato Grosso e outros Esta<strong>dos</strong>, para<br />

simplificar o georreferenciamento, da seguinte maneira: em vez de cada produtor<br />

fazer o seu, com GPS, que pode ser para alguns realmente caro, nós vamos<br />

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estimular o georreferenciamento coletivo — um município inteiro, 200 produtores —,<br />

o que já barateia muito. Nós do Ministério nos comprometemos a entrar com 30%<br />

desse valor. Em vez de pagar 100, fazendo 200 de uma vez já cai para a metade o<br />

preço, e dessa metade, o Ministério está com um fundo no sentido de ajudar quem<br />

quer entrar na legalidade. Portanto, concordamos com a sua crítica. Estamos<br />

atentos. Temos a proposta de fazer em conjunto e arcando com alguma parte desse<br />

custo.<br />

Quanto ao exemplo que eu dei <strong>dos</strong> carros e <strong>dos</strong> produtores, eu quero dizer<br />

que V.Exa. tem razão. Não fui feliz no meu exemplo. O que eu estava querendo<br />

dizer é que às vezes um cidadão de bem compra um carro e não sabe. Realmente,<br />

a comparação não é perfeita. É verdade que, nesse caso, ele pode ser enquadrado<br />

como receptador. V.Exa. tem razão de ter se indignado. A minha intenção não foi<br />

ofender. Apenas quis dizer que uma pessoa às vezes faz uma coisa sem saber que<br />

para trás tem algo errado e ela acaba se responsabilizando. Mas, no caso <strong>dos</strong><br />

cabeças e cadeias, eles têm essa concepção, querem fazer isso, por isso estão<br />

assinando acordo e nós correndo atrás de crédito para garantir que isso possa<br />

acontecer.<br />

Quanto ao crédito, essa portaria do dia 29 de fevereiro do Conselho<br />

Monetário Nacional, do Banco Central, em primeiro lugar, se aplica aos produtores<br />

acima de 4 módulos rurais; os abaixo vão ter mais de 2 anos para mostrar<br />

regularidade. Só aí cerca de 60% <strong>dos</strong> produtores, que têm abaixo de 4 módulos<br />

rurais, não estão sujeitos a esse prazo do dia 1º de julho.<br />

Segunda questão: quem se regularizar após o dia 1º de julho passa a ter os<br />

mesmos direitos. Ou seja, essa data de 1º de julho não é fatídica no sentido de<br />

quem resolveu o assunto, por exemplo, 20 dias depois, não tem acesso ao crédito.<br />

Em terceiro lugar, quero lembrar a V.Exa., Deputado Giovanni Queiroz, que<br />

as medidas que o Conselho Monetário adotou, por sugestão do Ministro Mantega, se<br />

referem a leis que já deveriam ser cumpridas antes, ou seja, as pessoas têm que<br />

demarcar a sua reserva legal e têm que ter a regularização fundiária. Apenas essa<br />

medida de crédito era um certo “cumpra-se” de outras leis, ou seja, aquelas<br />

exigências que já constam em outras leis agora vão ser precondição.<br />

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Na verdade, eu estou convencido de que a maior parte do agronegócio, <strong>dos</strong><br />

produtores, <strong>dos</strong> criadores, quer se legalizar. Eu acho errado, e tenho dito isso, que<br />

demonizar o agronegócio por causa de maus exemplos não é boa política, e facilita<br />

o infrator. Por essa razão e não por outra nós temos procurado representantes do<br />

agronegócio, como a ABIEC, a ABIOVE, o setor madeireiro e devemos procurar<br />

outros setores ainda.<br />

Talvez V.Exa. venha a ter uma surpresa agradável comigo, ver que sou uma<br />

pessoa do diálogo. Por quê? Com 49 dias já são 5 acor<strong>dos</strong>, 2 assina<strong>dos</strong>, um na<br />

sexta, e os outros 2 no início de agosto. Eu acho que não é pouco essa<br />

demonstração de diálogo com o setor produtivo de, em 49 dias, ter assinado 2<br />

acor<strong>dos</strong> com setores importantes e ter 3 em vias de serem assina<strong>dos</strong>.<br />

Quero dizer para V.Exa. que o nosso interesse não é criminalizar; é<br />

regularizar, traçar uma linha da legalidade ambiental. Aquele que tiver do lado de cá<br />

da linha tem que ter apoio, respeito e crédito, e quem insistir em descumprir tudo<br />

tem que ser tratado com o peso da lei.<br />

Não acho certo considerar truculenta a aplicação da lei. Se uma pessoa não<br />

aplica a lei, ela pode incorrer em prevaricação, ou seja, deixar de cumprir dever de<br />

ofício e não aplicar o que diz a lei. Nesse ponto, apenas discordo porque não acho<br />

isso, mas acho que isso deve ser dirigido, como V.Exa. mencionou na sua fala,<br />

àqueles que comprovadamente estão e não atingindo outros.<br />

Eu tive uma reunião com o IBAMA e a Polícia Federal no sentido de ter foco<br />

essa operação em realmente quem está descrumprindo a lei, e apoiar, através das<br />

operações do chamado Arco Verde, junto com outros Ministérios; garantir atividades<br />

alternativas, seguro desemprego, Bolsa Família etc., para não criar nenhum tipo de<br />

problema social nas áreas que estão sendo investigadas.<br />

Em relação ao extrativismo, eu concordo numa parte e discordo em outra de<br />

V.Exa. Concordo quando V.Exa. diz que uma boa parte está na miséria. Isso é<br />

verdade. Quanto a essa política de preços mínimos e outras atividades, nós<br />

garantimos para este ano 136 milhões para apoiar a comercialização e a formatação<br />

das atividades do extrativismo. Nós queremos exatamente superar essa situação<br />

que atinge, no Brasil, cerca de 7,5 milhões de pessoas, das quais 4 milhões na<br />

Amazônia. Concordo com V.Exa. quanto ao diagnóstico. Só que as medidas que<br />

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estamos adotando é para fazer com que essas pessoas possam sobreviver com<br />

dignidade sem destruir a floresta. Para isso, é preciso medidas de crédito.<br />

Sabemos que no Acre e em vários outros Esta<strong>dos</strong> diminuiu muito, por<br />

exemplo, a produção da borracha. E uma das coisas que nós queremos é<br />

tecnologias, como uma chamada TECBOR, tecnologia da borracha desenvolvida<br />

aqui pela Universidade de Brasília. Em vez de fazer aquela bola borracha com<br />

equipamento que custa de 10 a 11 mil reais, que já se faça uma lâmina e se possa<br />

vender diretamente a uma fábrica de calçado, por exemplo, para fazer uma sola, que<br />

é uma coisa que agrega valor ao produtor.<br />

Vou passar rapidamente aos outros, pois fui informado pelo Presidente que o<br />

meu tempo está se aproximando do fim. Tenho pena de não poder responder com<br />

mais profundidade às questões. Vou passar rapidamente ao Deputado Wandenkolk<br />

Gonçalves, do Pará, que falou da importância do conhecimento da Amazônia.<br />

Eu quero dizer, Deputado, que quando tomei posse disse que não conhecia a<br />

Amazônia como o Rio de Janeiro, o que foi um ato de sinceridade. Mas eu quero<br />

dizer a V.Exa. que a minha tese de doutorado foi sobre a Amazônia, foi um estudo<br />

comparativo da colonização e da ocupação do Pará e de Rondônia, modelos<br />

completamente diferentes como, aliás, alguns Deputa<strong>dos</strong> mencionaram aqui. Acho<br />

que o meu conhecimento ainda é insuficiente. Conto com V.Exas. e com outros para<br />

aumentar o meu conhecimento. Não acho que seja um crime reconhecer que eu<br />

conheço mais o Rio de Janeiro do que a Amazônia, mas não desconheço. Quero<br />

conhecê-la muito mais. Por isso já estive em Belém na reunião <strong>dos</strong> Governadores e<br />

estarei lá outra vez nesta sexta-feira.<br />

Quero acrescentar, Deputado Wandenkolk, quanto aos municípios que V.Exa.<br />

mencionou, que aqui há os 10 parâmetros que o IBAMA usa para escolher esses<br />

municípios: desmatamento absoluto, tamanho médio, evolução, unidades, terras<br />

indígenas, adensamento de estradas, pólo madeireiro, foco de calor, florestas<br />

remanescentes. São 25 municípios de vários Esta<strong>dos</strong>, administra<strong>dos</strong> por prefeitos<br />

de diversos parti<strong>dos</strong>. Alguns argúem que, quando a gente intensifica num Estado, é<br />

por contradição com o Governador do Estado. Por acaso, o Estado do Pará é até<br />

administrado — V.Exa. é um adversário — por um Governador do PT, e poderia<br />

estar reclamando de estarmos fazendo muitas atividades no Pará, Estado<br />

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administrado por uma pessoa do PT. Não vejo que isso proceda, até porque há<br />

critérios claros em relação a esse assunto.<br />

Por fim, quero dizer tanto a V.Exa. quanto ao Deputado Giovanni Queiroz,<br />

que fizeram referência à questão do boi pirata, que, na verdade, nesse caso<br />

concreto da Terra do Meio, já havia duas ordens judiciais, há mais de um ano, de<br />

juizes federais, para desocupação dessa atividade, e que o leilão organizado pela<br />

CONAB — Companhia Nacional de Abastecimento —, que faz parte do Ministério da<br />

Agricultura, foi autorizado por um juiz federal. Expressamente autorizado.<br />

O Ministério do Meio Ambiente não tomará nenhuma decisão ao arrepio da<br />

lei, do Poder Judiciário, do direito ao contraditório e à ampla defesa, em to<strong>dos</strong> os<br />

casos. E, nesse caso específico, única experiência desse jeito, havia 2 ordens<br />

judiciais para desocupação da terra, há mais de 1 ano, e não foram respeitadas.<br />

Tenho certeza de que to<strong>dos</strong> os Deputa<strong>dos</strong> aqui presentes, independente do partido,<br />

são favoráveis a que se cumpram as ordens do Poder Judiciário, garantindo a<br />

harmonia e a independência <strong>dos</strong> Poderes.<br />

O Ministério do Meio Ambiente cumprirá todas as ordens do Poder Judiciário,<br />

sem exceção, as que gostemos e as que a não gostemos, e ajudará a cumprir<br />

aquelas emanadas do Poder Judiciário, como essas, que foram ordens judiciais.<br />

Sou outra vez lembrado que meu tempo se aproxima do fim. Peço apenas<br />

para fazer rapidíssimas referências aos outros 2 Deputa<strong>dos</strong>, para não parecer que<br />

estou discriminando os Deputa<strong>dos</strong> da Comissão de Meio Ambiente, que foram<br />

exatamente os últimos dois que falaram e que têm que ter pelo menos alguns pontos<br />

referi<strong>dos</strong>. Primeiro, ao Deputado Gervásio Silva, do PSDB de Santa Catarina,<br />

membro da Comissão de Meio Ambiente.<br />

Agradeço a V.Exa. as considerações finais. Tenho certeza de que mais de<br />

30% do prometido vai ser cumprido rapidamente, porque V.Exa. é consciencioso.<br />

Corro atrás e, muito brevemente, V.Exa. vai ver. O “Destrava IBAMA” é amanhã, às<br />

10h. Alguns licenciamentos estavam trava<strong>dos</strong>, como o Gastal, de São Paulo, pessoa<br />

de terceiro escalão do Ministério — uma pessoa de terceiro escalão é contra, faz um<br />

parecer contrário e manda para o Ministério Público. Não pode uma pessoa resolver<br />

que em São Paulo isso não vai pegar. Não vai ser assim. Algumas coisas vão<br />

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mudar, V.Exa. vai ter oportunidade de ver, como vai mudar a nossa relação com o<br />

setor de ciência e tecnologia e a universidade.<br />

Estive, segunda-feira, na SBPC, na UNICAMP, em São Paulo, e vi muitos<br />

pesquisadores, presidentes da SBPC, revolta<strong>dos</strong> com o setor ambiental, por causa<br />

da dificuldade em ter acesso às unidades e à pesquisa da biodiversidade. Vi que<br />

eles tinham razão, e vai mudar o procedimento. Coisas que demoravam 1 ano, como<br />

dar licença a um pesquisador, doutor da USP, da UFRJ, da Universidade Federal do<br />

Amazonas ou do Pará, posso dizer, terão o prazo reduzido para 1 mês. Afinal, uma<br />

coisa é a biopirataria, que tem de ser combatida, outra coisa é investigação,<br />

pesquisa e ciência, sem as quais não conseguiremos alternativas sustentáveis para<br />

a Amazônia e outros lugares. É preciso diferenciar biopirata e comunidade científica.<br />

Havia erros, e espero brevemente corrigi-los.<br />

Deputado Gervásio Silva, em relação à resistência das ONGs, à<br />

desburocratização, à indústria <strong>dos</strong> defensivos, concordo com o que V.Exa.<br />

mencionou. Acho também que não se pode endemoninhar as ONGs, porque<br />

algumas são sérias. Existe “ecopicaretagem”, como em todo lado, seja no Executivo,<br />

seja indústria ou no Parlamento, há seriedade e não-seriedade.<br />

Quero dizer que apoiei enfaticamente a posição do Governo Federal de exigir<br />

o recadastramento, em 60 dias, de todas as ONGs estrangeiras, para ver o que é<br />

seriedade e o que é safadeza.<br />

Por fim, agradeço ao Deputado Paulo Teixeira a compreensão. Estamos<br />

buscando o diálogo e vamos mudar muitas coisas. Nossa política terá continuidade<br />

no que se refere a respeitar as populações tradicionais e a Mata Atlântica.<br />

Quero aproveitar para dizer — não sei se foi o Deputado Wandenkolk<br />

Gonçalves quem falou sobre a Mata Atlântica do Rio de Janeiro — que, nos últimos<br />

5 anos, caiu em 70% o desmatamento da Mata Atlântica. No Rio de Janeiro, nos<br />

últimos 2 anos, conseguimos um desmatamento próximo de zero. Quando fui<br />

Secretário do Meio Ambiente, criamos 2 reservas e as estamos ampliando e<br />

plantando, com apoio do setor privado, 20 milhões de árvores ao longo <strong>dos</strong> rios, com<br />

doações da Vale do Rio Doce, da CSN, da CSA, da PETROBRAS, que estão<br />

participando do programa de parques fluviais, que visa recuperar as bacias<br />

hidrográficas plantando e com serviços florestais, pagando a pequenos agricultores<br />

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e proprietários que plantem a mata ciliar — nós os chamamos de produtores de<br />

água. Se damos valor ao meio ambiente, temos de valorizar aquele produtor e<br />

aquele proprietário que mantêm a mata ciliar em pé. No Rio de Janeiro, estamos<br />

pagando a produtores e proprietários que mantenham a mata ciliar em pé.<br />

Antes de ter esgotado meu tempo, quero dizer ao Deputado Giovanni Queiroz<br />

e outros, que, no que diz respeito às indenizações, à compensação e à participação<br />

do setor privado — isso é importante —, quando Secretário do Rio de Janeiro,<br />

percebi que a compensação ambiental era decidida pelo Secretário do Meio<br />

Ambiente (quanto cobrava, para onde ia, como fiscalizava) e criei a <strong>Câmara</strong> de<br />

Compensação Ambiental, aberta à participação das prefeituras, da universidade e<br />

da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro — FIRJAN, que ali tem assento e<br />

voto. Vocês estão surpresos? Uma pessoa ecoxiita como eu, pela primeira vez, deu<br />

assento e voto aos empresários. O primeiro ponto da compensação ambiental foi a<br />

regularização, ou seja, o pagamento aos antigos proprietários daquelas áreas, sem<br />

o quê, de fato, não seriam instala<strong>dos</strong> os parques.<br />

Deputado Giovanni Queiroz, garanto a V.Exa. que isso que fiz no Rio de<br />

Janeiro será realizado esta semana, e não daqui 1 ano, dentro da minha linha de<br />

“ecoansiedade”. Esta semana, no Rio de Janeiro, a <strong>Câmara</strong> de Compensação<br />

Ambiental será aberta à iniciativa privada, que ali terá assento e voto, e serão<br />

garanti<strong>dos</strong> recursos para regularização e indenização das unidades criadas.<br />

Com isso, encerro. Peço desculpas por não ter respondido a várias questões<br />

relevantes. V.Exas. levantaram questões pertinentes, as quais me comprometo a<br />

esclarecer em outra oportunidade, concordando ou discordando, como faz parte da<br />

boa prática democrática do Parlamento.<br />

O SR. DEPUTADO PAULO TEIXEIRA - Sr. Presidente, pela ordem. Na<br />

verdade, eu tenho direito a réplica, mas gostaria de, respeitando os outros<br />

companheiros que estão inscritos, deixá-la para o final.<br />

O SR. PRESIDENTE (Deputado Onyx Lorenzoni) - Sem problema, Deputado.<br />

Quero fazer um apelo para to<strong>dos</strong> os Parlamentares. Temos 24 ou 25<br />

inscrições. Vamos trabalhar com 3 minutos.<br />

ordem.<br />

O SR. DEPUTADO WANDENKOLK GONÇALVES - Sr. Presidente, pela<br />

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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL<br />

Nome: Conjunta - Agricultura,Pecuaria / Meio Ambiente<br />

Número: 1129/08 Data: <strong>16</strong>/<strong>07</strong>/<strong>2008</strong><br />

O SR. PRESIDENTE (Deputado Onyx Lorenzoni) - Sim.<br />

O SR. DEPUTADO WANDENKOLK GONÇALVES - Eu tenho de me preparar<br />

para o tema da securitização da dívida, que será motivo de embate durante a<br />

apreciação da medida provisória que deverá ser aprovada ou rejeitada agora à<br />

tarde. Então, vou ter de me retirar. Precisarei de 1 minuto para minha réplica. Se<br />

ultrapassar, V.Exa. cassa minha palavra.<br />

O SR. PRESIDENTE (Deputado Onyx Lorenzoni) - Como autor do<br />

requerimento de convocação, V.Exa. tem direito. Está concedida a palavra.<br />

O SR. DEPUTADO WANDENKOLK GONÇALVES - Eu quero dizer 3 coisas<br />

ao Sr. Ministro. A primeira, pegando o gancho da sua última fala: que, com a mesma<br />

presteza e determinação que teve para cumprir os manda<strong>dos</strong> judiciais, V.Exa. nos<br />

ajude a cumprir os mesmos manda<strong>dos</strong> judiciais relativos à reintegração de posse,<br />

principalmente do meu Estado.<br />

Quando mencionei a questão da Mata Atlântica, afirmei que não sabia onde<br />

V.Exa. estava quando desmataram. Nós queremos o mesmo tratamento para a<br />

Amazônia, onde fizeram o Arco do Fogo, numa truculência generalizada. Gostaria<br />

que fosse feito o Arco das Águas. Não vi derrubarem uma casa de socialite na beira<br />

do Atlântico, como fizeram com trabalhadores e empresários do Estado do Pará.<br />

Por fim, quero dizer a V.Exa. que prender boi pirata é fácil. Gostaria que<br />

V.Exa. nos ajudasse a prender quem também faz a depredação da dignidade, da<br />

ética e da auto-estima do povo brasileiro. Quero ver prenderem Daniel Dantas e sua<br />

manada.<br />

O SR. PRESIDENTE (Deputado Onyx Lorenzoni) - V.Exa., Sr. Ministro, é<br />

evidente, tem direito à tréplica.<br />

O SR. MINISTRO CARLOS MINC BAUMFELD - Vou tentar responder no<br />

mesmo tempo de V.Exa., que, desta vez, foi rapidíssimo.<br />

Quero dizer que, no Rio de Janeiro, no curto tempo em que fui Secretário,<br />

criamos Divisão de Demolições Ecológicas da Serra e demolimos várias mansões de<br />

ricos em Búzios, Ilha Grande e outras localidades. Mansões de mais de 600 metros<br />

que estavam sendo construídas em Costão Rochoso, ao desabrigo da lei, assim<br />

como em áreas de favela — não o conjunto da favela, aqueles crescimentos<br />

recentes e remanescentes da Mata Atlântica — foram abaixo. E o nosso lema era o<br />

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Nome: Conjunta - Agricultura,Pecuaria / Meio Ambiente<br />

Número: 1129/08 Data: <strong>16</strong>/<strong>07</strong>/<strong>2008</strong><br />

seguinte: Acabou a pobreza. Nem pobre nem rico podem desmatar a Mata Atlântica.<br />

Enfim, colocamos abaixo mansões de milionários, interditamos o Jockey Club do Rio<br />

de Janeiro, que estava jogando cocô de cavalo na Lagoa Rodrigo de Freitas, e<br />

derrubamos várias casas de favelas que estavam se expandindo em cima de<br />

determinadas áreas, acabando inclusive com o turismo. Se a paisagem do Rio é<br />

desmontada, geram-se danosas conseqüências.<br />

E quanto à questão levantada por V.Exa. sobre o Daniel Dantas e outras,<br />

também torço para que os criminosos de colarinho branco sejam julga<strong>dos</strong> de forma<br />

mais célere. E sei que na <strong>Câmara</strong> e no Senado tramitam importantíssimas leis para<br />

encurtar os perío<strong>dos</strong> de julgamento e tornar até mais duras as punições para<br />

aqueles que roubam milhões e, muitas vezes, ficam impunes, conforme o<br />

sentimento de indignação externado por V.Exa., do qual eu partilho.<br />

O SR. PRESIDENTE (Deputado Eduardo Cunha) - Com a palavra o Deputado<br />

Lira Maia pelo tempo regimental de 3 minutos.<br />

O SR. DEPUTADO LIRA MAIA - Sr. Ministro, também sou Deputado do Pará.<br />

Infelizmente, tenho pouco tempo, e, por isso, dispensarei meus cumprimentos.<br />

Quero, inicialmente, reconhecer que a Pasta do Meio Ambiente é hoje<br />

bastante complexa, precisamos de fato ter conhecimento de causa para tratar <strong>dos</strong><br />

problemas.<br />

Ministro, a palavra mais pronunciada aqui na <strong>Câmara</strong> <strong>dos</strong> Deputa<strong>dos</strong> e neste<br />

Parlamento, depois de Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputa<strong>dos</strong>, é indiscutivelmente a<br />

Amazônia.<br />

A Amazônia tem hoje uma população, conforme foi dito por S.Exa., de 25<br />

milhões de habitantes, pouco mais de <strong>16</strong>% dela já está desmatada. Particularmente,<br />

discordo <strong>dos</strong> números divulga<strong>dos</strong>, e aproveito inclusive para sugerir que o Ministério<br />

mande checar esses da<strong>dos</strong>, porque o que existe de fato são manejos de pastagens<br />

feitos de forma empírica, ainda há queimadas, cujas imagens são captadas pelo<br />

satélite como novas derrubadas. Eu acho que na Amazônia não está havendo<br />

derrubada como tem sido veiculado.<br />

Devemos reconhecer que as pessoas estão fixadas há muitos anos naquela<br />

região, onde existem muitas áreas antropizadas. Então, não seria preciso derrubar<br />

mais árvore alguma para promover na Amazônia o desenvolvimento sustentável.<br />

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Nome: Conjunta - Agricultura,Pecuaria / Meio Ambiente<br />

Número: 1129/08 Data: <strong>16</strong>/<strong>07</strong>/<strong>2008</strong><br />

Lógico que os dois setores que mais sentem qualquer ação são o agropecuário e<br />

madeireiro. Para ambos existem tecnologia e conhecimento científico que poderão<br />

balizar o desenvolvimento sustentável por nós tão reclamado.<br />

Desejo ainda sugerir, Sr. Ministro, e até implorar, que seja feito de fato o<br />

Zoneamento Econômico-Ecológico. As ações na Amazônia estão sendo realizadas<br />

todas na base do sentimento, ou seja, quem grita mais alto tem prioridade. A<br />

imprensa está dando mais importância a quem grita pela ecologia, mas nós também<br />

queremos preservar aquela região. To<strong>dos</strong> os Deputa<strong>dos</strong> da Amazônia querem<br />

preservá-la, somos parceiros para tanto, mas não podemos fazer isso em detrimento<br />

da população que ali vive. Nós temos o exemplo das associações de pequenos e<br />

microprodutores da Terra do Meio, que aqui estão. Inclusive quero sugerir, Sr.<br />

Ministro, se possível, que V.Exa. tivesse um tempo na sua agenda, hoje ou amanhã,<br />

para receber essas lideranças de Altamira e São Félix do Xingu, que tiveram muita<br />

dificuldade para vir a Brasília. Inclusive, há Parlamentares que podem acompanhá-<br />

los nessa visita. Eu acho importante que haja essa conversa com S.Exa. para que<br />

tome conhecimento <strong>dos</strong> problemas por eles enfrenta<strong>dos</strong>.<br />

Mais um adendo: em 1987, famílias começaram a chegar à Terra do Meio, e<br />

houve maior fluxo até o ano de 2002. Todas as famílias, Deputado André de Paula,<br />

já estavam lá quando, em 17 de fevereiro de 2005, foram criadas as áreas<br />

ecológicas. Então, de fato, desde aquele dia eles querem sair de lá, só não têm<br />

alternativa, não foi ninguém conversar e levar opção para eles. Quem tem problema<br />

lá dentro quer sair.<br />

Agora, fazemos um apelo para que haja o diálogo. E outra coisa, sabemos<br />

que essas desapropriações, esses confiscos estão vindo de processos anteriores.<br />

Mas que o Ministério que V.Exa. dirige possa interferir para que se dê um tempo<br />

enquanto se conversa e para que se dê opção àqueles produtores que estão loucos<br />

para sair de lá, mas não podem — e os bois que saem de lá estão morrendo no<br />

meio do caminho porque os produtores não têm onde colocá-los. Na Amazônia é<br />

verão e não vai chover até dezembro. Nós temos prazo suficiente para conversar.<br />

Talvez V.Exa. possa sugerir até ao Judiciário abrir esse espaço.<br />

Obrigado.<br />

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Maia.<br />

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Número: 1129/08 Data: <strong>16</strong>/<strong>07</strong>/<strong>2008</strong><br />

O SR. PRESIDENTE (Deputado Onyx Lorenzoni) - Obrigado, Deputado Lira<br />

Concedo a palavra ao Deputado Valdir Colatto, Presidente da Frente<br />

Parlamentar da Agropecuária.<br />

O SR. DEPUTADO VALDIR COLATTO - Sr. Presidente, Sras. e Srs.<br />

Deputa<strong>dos</strong>, Sr. Ministro, eu tinha uns pãezinhos aqui, mas o pessoal levou to<strong>dos</strong>. A<br />

história é da Frente Parlamentar Ambientalista, que se alimenta na Frente<br />

Parlamentar da Agropecuária.<br />

Sr. Ministro, nós dizemos a nossos agricultores o seguinte: “Se o agricultor<br />

não planta, ninguém almoça, nem janta”. Estamos trabalhando para que haja comida<br />

na mesa, alimentação para o Brasil e para o mundo.<br />

Essa é uma luta dura <strong>dos</strong> nossos agricultores, de Sul a Norte, de Leste a<br />

Oeste, que precisamos respeitar. Eles são os heróis nacionais, e hoje estão sendo<br />

trata<strong>dos</strong> como bandi<strong>dos</strong>, pior do que os traficantes <strong>dos</strong> morros do Rio de Janeiro,<br />

cidade de V.Exa., onde a Polícia Federal e outras forças de segurança não são tão<br />

eficientes para combater o crime quanto o são para combater nosso agricultor, um<br />

trabalhador que produz.<br />

Essa sina de perseguição não se estende à área urbana. Por exemplo, às<br />

margens do Rio Tietê, que passa por dentro de São Paulo carregando aquela<br />

poluição toda, existem casas, prédios, a Lagoa Rodrigo de Freitas, no Rio de<br />

Janeiro, sua terra, o Corcovado, o Pão de Açúcar, o Morro da Urca, que V.Exa.<br />

conhece muito bem — eu não vejo ninguém brigar por isso —, e as favelas do Rio<br />

de Janeiro, to<strong>dos</strong> estão em áreas de preservação permanente.<br />

Sr. Ministro, ouvimos V.Exa. falar que existem leis que pegam e que não<br />

pegam e leis que podem e que não podem. Temos lei para o trânsito, e morrem 35<br />

mil brasileiros por ano — pega e não pega; temos 250 mil manda<strong>dos</strong> de prisão, e as<br />

pessoas não são presas. E o nosso agricultor, que quer plantar, produzir, é<br />

castigado.<br />

Aqui, não vou entrar nos detalhes sobre os quais to<strong>dos</strong> os Deputa<strong>dos</strong> falaram,<br />

mas temos princípios ambientais erra<strong>dos</strong>. V.Exa. conhece melhor do que eu a<br />

questão ambiental e deve saber como o mundo a trata. Tenho aqui — depois quero<br />

passar para V.Exa.— registros que mostram como são ocupadas as terras na<br />

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Número: 1129/08 Data: <strong>16</strong>/<strong>07</strong>/<strong>2008</strong><br />

França, nos Esta<strong>dos</strong> Uni<strong>dos</strong> e em outros países, e registros que mostram como são<br />

ocupadas as terras aqui no Brasil, em Londrina, Ribeirão Preto, Rio Verde e em<br />

cidades de outros Esta<strong>dos</strong> que têm lavoura de café, laranja em áreas, sim, pela lei,<br />

de preservação permanente — APP. Estão dentro delas.<br />

Se levarmos em conta a legislação como está, é aqui que quero chamar a<br />

atenção de V.Exa.... V.Exa. tem os números da agricultura brasileira? Sabe o que é<br />

o agronegócio brasileiro? Vou lhe dar um exemplo: se repusermos a área de reserva<br />

legal, que é de apenas 20%... No Sul, só no Paraná, um estudo revela que a<br />

reposição da reserva legal, que seriam 3,2 milhões de hectares, custariam 50,6<br />

bilhões de reais. V.Exa. tem idéia do que representam esses números, Sr. Ministro?<br />

Estive lá, no Estado do Deputado Sarney Filho. Foi estendida a área da<br />

SUDAM, para o pessoal pegar financiamento. Então, a Amazônia Legal atingiu o<br />

Maranhão. Deram um tiro no pé! Agora, áreas com 80% que abriu, têm que voltar<br />

para 20%. E daí?<br />

O nosso querido colega, Zequinha Sarney, tem que se explicar para os seus<br />

conterrâneos, que querem o couro dele. Fui lá e ouvi <strong>dos</strong> agricultores: “Como você<br />

fez isso? E agora, Zequinha Sarney, como nós vamos resolver isso?” O sujeito com<br />

75 anos diz que o obrigaram a desmatar 80% e agora dizem que tenho que deixar<br />

80% de reserva. Onde ele vai buscar isso? Vai desistir do negócio? Vai vender<br />

vacas, tratores? Como ele vai viabilizar isso? E isso, Sr. Ministro, não ocorre apenas<br />

nas grandes áreas.<br />

Está aqui o Deputado Zonta, de Santa Catarina. Oitenta e nove por cento das<br />

propriedades abaixo 50 hectares; 80% das propriedades abaixo de 15 hectares. E<br />

aqui precisa ter o zoneamento econômico. Lógico, cada Estado tem autonomia para<br />

fazer isso de acordo com a sua realidade, com a sua topografia e cultura. Se<br />

aplicarmos hoje a lei, Santa Catarina terá de fechar 80% das propriedades; apenas<br />

na mata ciliar, 35 mil propriedades terão de ser fechadas, Sr. Ministro, porque são<br />

áreas de preservação permanente por causa da declividade, mata ciliar, topo de<br />

morro. E aí eu queria pedir a V.Exa.: cuidado com a regularização da Mata Atlântica.<br />

V.Exa. vai inviabilizar Santa Catarina, se não discutir com a sociedade. Em to<strong>dos</strong> os<br />

Esta<strong>dos</strong> é assim.<br />

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Número: 1129/08 Data: <strong>16</strong>/<strong>07</strong>/<strong>2008</strong><br />

Sr. Ministro, temos de mudar essa questão. Não é possível que o Brasil — e<br />

estão os exemplos — faça reserva legal em cada propriedade. Como vai fazer isso?<br />

Qual o engenheiro que vai ganhar 20% de área?<br />

Temos que fazer reserva de unidade de conservação, sim, porque são 115<br />

milhões de hectares de área, mas essas unidades de conservação é que têm de<br />

manter os biomas, Sr. Ministro, e não cada propriedade. Nem Jesus Cristo fez isso.<br />

Como é que vai fazer a reserva de 20%, 80% em cada propriedade? Não é possível;<br />

temos que fazer essa compensação acontecer para valer.<br />

Por último, quero entregar ao Sr. Ministro um processo contra o Sr. Valdir<br />

Colatto e outros, em Rondônia. Lá, tenho uma área de terra de aproximadamente mil<br />

hectares, com escritura desde 1978. Eu preservei a mata, Sr. Ministro, porque eu<br />

queria fazer agricultura, pecuária, engenheiro agrônomo que sou, para levar o<br />

progresso para lá. O IBAMA não me deixou. Mas preservei. Dali a pouco, entraram<br />

os madeireiros, roubaram a minha madeira, mas ainda há mata superior. Agora, os<br />

sem-terra invadiram a minha área e derrubaram tudo. Já denunciei isso 10 vezes ao<br />

IBAMA e ninguém tomou providência.<br />

O INCRA está me processando, está querendo tomar a minha propriedade<br />

porque não desmatei, Sr. Ministro. Aqui estão os autos do processo que eu queria<br />

que V.Exa. levasse para ver o que acontece neste País. Quem é brasileiro, de um<br />

jeito ou de outro, se tem direito ou não tem. Não queria citar esse caso aqui, mas<br />

sou obrigado para mostrar a incoerência que existe em 2 órgãos públicos federais.<br />

Vou entregar uma cópia, para que V.Exa. possa verificar a veracidade em Vilhena,<br />

Rondônia. O Deputado Moreira Mendes já falou sobre esse assunto.<br />

Muito obrigado.<br />

O SR. PRESIDENTE (Deputado Onyx Lorenzoni) - Obrigado, Deputado Valdir<br />

Colatto pela compreensão.<br />

Com a palavra o Deputado Moreira Mendes.<br />

O SR. DEPUTADO MOREIRA MENDES - Srs. Presidentes, Sr. Ministro, Srs.<br />

Deputa<strong>dos</strong>, quero começar dizendo que sou de Rondônia, um Estado que foi<br />

colonizado oficialmente pelo INCRA em 1970, um Estado que tem hoje cerca de 108<br />

mil propriedades rurais, das quais 100 mil são pequenas propriedades. Vou repetir:<br />

feito pelo INCRA e, naquela época, para receber o título definitivo, o cidadão era<br />

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Número: 1129/08 Data: <strong>16</strong>/<strong>07</strong>/<strong>2008</strong><br />

obrigado a desmatar. Hoje, Sr. Ministro, existem em Rondônia milhares — não<br />

apenas um — de Manoel Cândido, como esse que vimos do Pará; pessoas que<br />

estão abandonadas, que vieram para o Estado a chamado do Governo. O que se<br />

cometeu contra esse povo do Pará, do Mato Grosso, de Rondônia é um estelionato<br />

oficial praticado pelo Governo. Não é possível em um determinado momento fazer<br />

de uma forma e depois fazer de outra.<br />

Mas V.Exa. disse — eu também concordo — que o mundo mudou, as regras<br />

mudaram, a legislação mudou, mas é preciso separar o joio do trigo. É isso que<br />

Governo Federal não tem compreendido, não tem feito essa diferenciação,<br />

separando aqueles que desmatam, aqueles que estão descumprindo a lei. E aqui<br />

foram da<strong>dos</strong> vários exemplos, mas essas pessoas não são punidas. E aqueles que<br />

verdadeiramente estão lá produzindo, que foram para lá porque o governo chamou,<br />

estão sendo puni<strong>dos</strong>.<br />

Quero falar da Operação Arco de Fogo. Ela foi um desastre, passou por mais<br />

de 4 municípios do meu Estado deixando um verdadeiro rastro de destruição: acaba<br />

com empregos, fecha serrarias, apreende maquinário, prende pessoas e incentiva a<br />

prostituição. Eu, pessoalmente, constatei isso no Município de Cujubim, no meu<br />

Estado. Os policiais que estão lá, dessa tal de Força Nacional e da Polícia Federal.<br />

Agora eu pergunto, Sr. Ministro, foram milhares de empregos, com carteira assinada,<br />

perdi<strong>dos</strong>, joga<strong>dos</strong> fora: Qual a proposta concreta que o Governo deixou para<br />

substituir aqueles empregos? O que de verdadeiramente o Governo que foi lá, que<br />

fechou serrarias, que prendeu, que tomou caminhão, tomou tratores, o que ele<br />

deixou de projetos concretos para substituir isso? Nada, absolutamente nada. Estão<br />

lá milhares de pessoas desempregadas. Então, o Governo brasileiro — e eu diria até<br />

que boa parte do Brasil — estão equivoca<strong>dos</strong>; o Governo e parte do povo brasileiro,<br />

com relação à Amazônia. As coisas não podem ser feitas na Amazônia como estão<br />

fazendo. Nós, da região, já temos consciência da nossa responsabilidade com o<br />

meio ambiente. Pode acreditar V.Exa. A maioria das pessoas que vivem lá são de<br />

bem e têm hoje consciência, mas não é dessa forma, não é na chibata que vai<br />

resolver esse problema. O Governo precisa realmente estender a mão a essas<br />

pessoas e sentar com elas à mesa para resolver. Eu vi o Presidente da República<br />

anunciando o Plano Safra, falando de financiamento para reflorestamento. Que<br />

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Número: 1129/08 Data: <strong>16</strong>/<strong>07</strong>/<strong>2008</strong><br />

financiamento coisa nenhuma! Tem é que dar a fundo perdido. Quem quiser manter<br />

a Amazônia em pé, esse mundo todo que fala, tem é que botar dinheiro, Sr. Ministro;<br />

tem que ir lá pagar esses chama<strong>dos</strong> serviços de compensação ambiental, tem que<br />

pagar o produtor para ele ser parceiro do meio ambiente; agora, eles não podem<br />

imaginar que vão resolver o problema apenas botando Polícia, Exército, Marinha,<br />

Aeronáutica, Força Nacional, Polícia Federal. Não, isso não resolve o problema; não<br />

há como resolver. As pessoas precisam viver.<br />

Disse o Ministro Mangabeira Unger, com muita propriedade aqui, nesta<br />

Comissão, que enquanto não se valorizar, não se der um sentido econômico aos<br />

milhões de brasileiros que vivem naquela região... e são mais de 25 milhões, dito por<br />

V.Exa; disse o Sr. Ministro que, se os mais de 25 milhões de brasileiros que vivem<br />

na Amazônia não tiverem oportunidades econômicas, eles serão impeli<strong>dos</strong> a uma<br />

atividade econômica desordenada que levará ao desmatamento. É verdade. Mas<br />

não podemos imaginar que essa atividade econômica seja o cidadão indo ao meio<br />

do mato tirar leite da seringueira. Isso é conversa; isso não existe. Quem está no<br />

mato quer vir para a cidade e quem está na cidade não volta para o mato.<br />

Então, Sr. Presidente, Sr. Ministro, o Governo tem que realmente botar a mão<br />

no bolso. E não é só com conversa, Sr. Ministro, lamento. Esse é o sentimento que<br />

eu tenho, e é o mesmo da maioria da população da Amazônia. Eu não tenho<br />

nenhuma pergunta a fazer; só queria registrar isso.<br />

O SR. PRESIDENTE (Deputado Onyx Lorenzoni) - Concedo a palavra ao Sr.<br />

Deputado Mendes Thame.<br />

O SR. DEPUTADO ANTONIO CARLOS MENDES THAME - Sr. Presidente,<br />

Sras. e Srs. Deputa<strong>dos</strong>, Sr. Ministro, nós hoje recebemos nesta Comissão mais um<br />

rol de boas idéias e de pretensas ações governamentais para a Amazônia. Somando<br />

tudo o que já ouvimos aqui, colocações que V.Exa. fez, que fez o Sr. Ministro<br />

Mangabeira, vemos que há um conjunto, um rol de idéias para enfrentar o problema.<br />

No entanto, o que sentimos é que algumas dessas idéias são conexas; outras são<br />

soltas, ainda falta conectá-las, mas dificilmente o resultado de tudo isso será o<br />

esperado se nós não tivermos um plano de ação para enfrentar o mercado. O<br />

mercado. Não é só porque, no passado, o próprio Governo estimulou que fizessem o<br />

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Número: 1129/08 Data: <strong>16</strong>/<strong>07</strong>/<strong>2008</strong><br />

desflorestamento, a derrubada de 50%. Hoje, o mercado para os produtos tira<strong>dos</strong> da<br />

floresta, a madeira tirada, manda no Governo.<br />

Só há uma forma de enfrentar o mercado: com ações de Governo. Não existe<br />

outra forma; se não, vai ser um bom negócio derrubar florestas. Ou se concentra<br />

nisso ou todas essas ações dificilmente vão chegar aos 30%, conforme disse o<br />

Deputado Gervásio Silva, se não houver uma linha de ação. E o Governo, para<br />

enfrentar, para transformar atitudes ecologicamente convenientes e corretas em um<br />

bom negócio para superar o mercado, as forças de mercado, só vai ter êxito se<br />

trabalhar concomitantemente em 3 frentes: legislação, investimentos públicos e<br />

conscientização.<br />

Se fizer essas coisas de forma solta, daqui a pouco vai ter gente muito criativa<br />

que vai lhe dar mais umas 10 ou 20 idéias, todas positivas. Mas o resultado não será<br />

factível, mensurável, palpável.<br />

Vamos ao primeiro ponto: legislação. O Governo não tem uma legislação de<br />

incentivo para criar uma economia da floresta, para que uma árvore em pé valha<br />

mais do que uma árvore deitada.<br />

O Governo não apóia e já existem projetos aqui tramitando, aprova<strong>dos</strong> nas<br />

Comissões. Inúmeros. Se essa legislação fosse aprovada, o seu trabalho, o trabalho<br />

do Mangabeira e do Governo diminuiria muito, porque seria uma forma de<br />

neutralizar o mercado, às vezes sem gastar nada, só diminuindo a ganância do<br />

Governo de arrecadar, dando isenções, tributos.<br />

Segundo, fala-se tanto em aproveitar o patrimônio genético. Mas não se pode<br />

patentear. Por que o Captopril foi patenteado no exterior, e não aqui, e deu origem<br />

ao Capoten? Porque a nossa legislação não permite que a gente patenteie aquilo<br />

que é advindo de descobertas cuja origem são seres vivos.<br />

Nós temos de mudar a legislação. Portanto, há um imenso trabalho a ser<br />

feito. Não tenho mais tempo para falar. Em uma nova oportunidade, voltarei a dar as<br />

minhas idéias a respeito.<br />

Muito obrigado.<br />

O SR. PRESIDENTE (Deputado Onyx Lorenzoni) - Com a palavra o Deputado<br />

Rogério Silva.<br />

O SR. DEPUTADO ROGÉRIO SILVA - Obrigado, Sr. Presidente.<br />

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Número: 1129/08 Data: <strong>16</strong>/<strong>07</strong>/<strong>2008</strong><br />

Sr. Ministro Minc, na semana retrasada tivemos uma audiência com V.Exa.,<br />

junto com a bancada do Mato Grosso. Naquele momento, vi V.Exa. abrir algumas<br />

luzes. Eu lhe fiz uma pergunta sobre a questão da listagem que pediu V.Exa. ao<br />

IBAMA sobre os frigoríficos da Amazônia.<br />

Antes de comentar sobre esse assunto, quero fazer minhas as palavras do<br />

Deputado Giovanni Queiroz. Sou do Norte do Mato Grosso. Quero dizer ao Sr.<br />

Ministro, aos membros desta Comissão e do Congresso Nacional que os acor<strong>dos</strong><br />

que V.Exa. tem assinado com Governadores ou com alguns segmentos não<br />

traduzem o sentimento da população que está sofrendo com as forças nacionais,<br />

com a Polícia Federal e com o IBAMA. Não traduzem o sentimento.<br />

O que está acontecendo? Vou falar da listagem que V.Exa. fez <strong>dos</strong><br />

frigoríficos. Vamos ter a vacinação contra a aftosa, a brucelose. Quero dizer a<br />

V.Exa. que há aquele cidadão que não tem acesso à compra de vacinas para um<br />

<strong>dos</strong> nossos maiores rebanhos. Onde vai parar o mercado de carnes do Brasil? Onde<br />

vamos chegar?<br />

Criaram os parques nacionais sem fazer discriminatória, sem ver se lá dentro<br />

existiam pessoas. E a nossa Constituição institui o direito de propriedade, o direito<br />

de posse. Porém, através de decreto, criou-se a Terra do Meio, o Parque Nacional<br />

do Juruena, a Reserva Indígena de Apiacás, com as famílias lá dentro, com suas<br />

propriedades construídas.<br />

população.<br />

Esses acor<strong>dos</strong> têm que ser feito em debates, em audiências públicas com a<br />

Afora a Força Nacional, to<strong>dos</strong> estão com vontade de assinar o acordo de<br />

preservação da Amazônia, de conversar com V.Exa., cara a cara, conforme está<br />

conversando conosco, de assinar compromissos de preservação da Amazônia e<br />

também de preservação do ser humano.<br />

Alta Floresta, minha cidade, tinha 15 delinqüentes de pequenos delitos. Hoje<br />

tem 130 delinqüentes na cadeia pública. Só não tem mais porque não cabe. A<br />

cadeia tem capacidade para 44 presos. E não só em Alta Floresta, em toda a região,<br />

porque o Ministério do Meio Ambiente, com a Polícia Federal, o IBAMA e a Força<br />

Nacional, está em ação.<br />

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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL<br />

Nome: Conjunta - Agricultura,Pecuaria / Meio Ambiente<br />

Número: 1129/08 Data: <strong>16</strong>/<strong>07</strong>/<strong>2008</strong><br />

Eu gostaria que houvesse bom senso. Estamos de braços abertos, queremos<br />

conversar com o Governo e com V.Exa. A população está de braços abertos.<br />

Sr. Presidente, o alerta feito pelo Deputado Giovanni Queiroz é muito mais do<br />

que as pessoas estão pensando. A população da Amazônia é de 25 milhões de<br />

habitantes, porém há mais do que isso, amigos e parentes, fora da Amazônia.<br />

Muito obrigado.<br />

O SR. PRESIDENTE (Deputado Onyx Lorenzoni) - Obrigado, Deputado<br />

Rogério Silva.<br />

Com a palavra o Deputado Cezar Silvestri, para encerrar o bloco.<br />

O SR. DEPUTADO CEZAR SILVESTRI - Sr. Presidente, como disse o<br />

Ministro, existem leis que pegam e outras que não. V.Exa. foi Deputado Estadual por<br />

20 anos e sabe muito bem que as leis que não são fruto do diálogo, do debate e do<br />

bom senso acabam não pegando. São as chamadas “leis burras”.<br />

Eu tenho algumas preocupações. Levantei vários tópicos, mas, com certeza,<br />

não será em 3 minutos que poderei discutir e levantar to<strong>dos</strong> os problemas.<br />

Entretanto, gostaria de dar algumas sugestões ao Sr. Ministro, principalmente com<br />

relação à Lei da Mata Atlântica, que envolve diretamente o meu Estado, o Paraná.<br />

Fui um <strong>dos</strong> membros da Comissão Especial criada para debater e votar a Lei<br />

da Mata Atlântica, que estava parada no Congresso há mais de 14 anos. Houve veto<br />

a um artigo (art. 46), pelo qual lutamos muito e que foi fruto de consenso, o qual<br />

dizia que as pessoas que fossem proibidas de utilizar as áreas que preservaram<br />

seriam indenizadas. Entretanto, hoje, no Paraná, em Santa Catarina, no Rio Grande<br />

do Sul e em diversos outros Esta<strong>dos</strong> da Federação, as pessoas que preservaram<br />

estão sendo punidas, exatamente na contramão do que os países desenvolvi<strong>dos</strong><br />

pregam, ou seja, incentivar as pessoas que preservam, inclusive retribuindo-as<br />

financeiramente.<br />

O meu município tem 46% de área preservada. Acho que é um <strong>dos</strong><br />

municípios que têm maior área preservada em todo o Paraná. Mas os proprietários<br />

estão apavora<strong>dos</strong>. Eles não podem fazer absolutamente nada. Não há mercado<br />

para suas áreas. Não as podem vender, porque ninguém quer comprar, já que não<br />

podem ser utilizadas. Então, qual é a nossa idéia? No Paraná, a compensação<br />

ambiental tem de ser feita dentro da mesma microbacia. Acredito que deveríamos<br />

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Nome: Conjunta - Agricultura,Pecuaria / Meio Ambiente<br />

Número: 1129/08 Data: <strong>16</strong>/<strong>07</strong>/<strong>2008</strong><br />

estender para dentro do Estado, fazendo com que essas áreas sejam valorizadas, a<br />

fim de que o proprietário que as preservou possa vendê-las. Isso ajudaria o<br />

Governo, que deixaria de ter de indenizar essas propriedades. A única coisa que se<br />

poderia colocar na Lei da Mata Atlântica é que, no caso de essa propriedade ser<br />

fruto dessa compensação, o proprietário teria de doá-la ao Estado, que a<br />

transformaria em área de preservação. E, logicamente, o Estado teria a<br />

responsabilidade de preservá-la.<br />

Com relação ao georreferenciamento, tema extremamente importante, o<br />

Ministro disse que o Ministério está propenso a dele participar contribuindo com<br />

30%. Nós estamos encontrando um problema seriíssimo hoje. Para conseguir fazer<br />

o georreferenciamento, no Paraná, tem-se de ficar em torno de 1 ano e meio no<br />

INCRA. Mais do que isso, o INCRA exige que haja a anuência <strong>dos</strong> confrontantes e,<br />

muitas vezes, não se consegue encontrar o confrontante. Imaginem na Amazônia,<br />

onde um determinado proprietário vive em São Paulo e outro no Rio de Janeiro,<br />

como se vai pegar a assinatura do confrontante? Acho que isso tinha de sair da<br />

regulamentação.<br />

E mais: os cartórios não estão aceitando registar as áreas georreferenciadas<br />

aprovadas pelo INCRA. Tem de existir um acordo entre o INCRA e os cartórios, no<br />

sentido de que, no momento em que a área georreferenciada for reconhecida pelo<br />

INCRA, os cartórios a registram.<br />

Ainda, temos ouvido falar muito na venda ilegal de madeira de árvores que<br />

inclusive já estão em extinção. Eu lembro que há muitos anos, no Paraná,<br />

queríamos reduzir o ICMS da carne bovina e o Secretário da Fazenda disse que não<br />

poderíamos fazer isso, porque os frigoríficos são os maiores sonegadores. Eu<br />

perguntei ao Secretário quantos frigoríficos havia no Paraná. Eram 15. Então,<br />

bastava colocar um carro da fiscalização em frente a cada frigorífico que se<br />

resolveria o problema.<br />

Da mesma forma, acho que, se colocarmos funcionários do IBAMA de plantão<br />

nas rodovias, para ver se as cargas de madeira estão certificadas, vamos resolver o<br />

problema. Nem vai ser preciso usar satélite, ficar dizendo que não há condições, não<br />

há recursos.<br />

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Número: 1129/08 Data: <strong>16</strong>/<strong>07</strong>/<strong>2008</strong><br />

Sr. Presidente, diz-se que faltam recursos para o Ministério do Meio<br />

Ambiente. Concordo plenamente, mas acredito que há um erro de estratégia<br />

fundamental do Governo. A CPI das ONGs demonstra que o Governo liberou 3,8<br />

bilhões para as ONGs no País, muitas delas sérias, como o Ministro disse, e outras<br />

nem tanto. Esses recursos deveriam ir para o Ministério do Meio Ambiente e para o<br />

Ministério da Agricultura, para acabar com essa folia de repassar recursos para as<br />

ONGs.<br />

O SR. PRESIDENTE (Deputado Onyx Lorenzoni) - Agradeço ao Deputado<br />

Cezar Silvestri a contribuição.<br />

O Deputado Ivan Valente não está aqui. Vamos ter agora um bloco de<br />

respostas do Sr. Ministro e depois retomamos com a mesma metodologia. Os<br />

próximos serão: Deputa<strong>dos</strong> Lázaro Botelho, Givaldo Carimbão, Pedro Wilson,<br />

Gerson Peres, Anselmo de Jesus, Beto Faro, Osvaldo Reis, Vanessa Grazziotin,<br />

Alfredo Kaefer.<br />

O SR. MINISTRO CARLOS MINC BAUMFELD - Vou tentar ser sintético na<br />

resposta aos 6 Parlamentares que usaram a palavra neste bloco.<br />

O Deputado Lira Maia, do Pará, discorda <strong>dos</strong> números divulga<strong>dos</strong> pelo INPE.<br />

Diz que se pode produzir sem desmatar, pois existe tecnologia para isso.<br />

Bem, os da<strong>dos</strong> divulga<strong>dos</strong> ontem pelo INPE foram muito mais precisos.<br />

Atendendo a uma reivindicação de Governadores da Amazônia, pela primeira vez, o<br />

DETER separou corte raso de degradação progressiva, que antes vinham soma<strong>dos</strong><br />

num único dado. Essa era uma reivindicação do Governador Blairo Maggi, <strong>dos</strong><br />

Governadores de Rondônia e de outros Esta<strong>dos</strong>. Então, estão muito mais precisos<br />

— houve trabalho de campo —, e houve um desacerto de 11% em relação ao que<br />

foi divulgado.<br />

Em relação a podermos produzir sem desmatar, porque existe tecnologia,<br />

concordo 100% com essa afirmação. Aliás, temos que trabalhar nessa linha. Não é<br />

admissível cortar a floresta para pôr nela um boi por hectare. É uma coisa extensiva.<br />

Quero inclusive dizer a V.Exas. que entrei em contato com o coordenador da<br />

FAO para a América Latina, para tratar de um programa conjunto no qual o<br />

Ministério do Meio Ambiente quer colocar recursos, destinado à recuperação de<br />

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pastagens e intensificação da produção. A melhor forma de evitar a degradação é<br />

intensificar a produção, dando condições para isso.<br />

O Deputado também implora pelo zoneamento econômico-ecológico. Outra<br />

vez, concordo 100%. No Rio de Janeiro, quando Secretário, a primeira medida que<br />

adotei foi contratar IBGE, EMBRAPA e UFRJ para proceder ao zoneamento<br />

econômico-ecológico, que vai ser concluído em outubro ou novembro deste ano.<br />

Acho, aliás, que o zoneamento econômico-ecológico é ótimo para o setor produtivo,<br />

porque estabelece claramente o que pode, como pode, onde pode. Acho que a<br />

maioria absoluta do agronegócio quer uma regra clara, e nós estamos investindo<br />

nisso. Estamos ajudando nisso. Dois Esta<strong>dos</strong> da Amazônia já concluíram (Acre e<br />

Rondônia), 3 estão concluindo agora (Maranhão, Pará e Mato Grosso) e os outros 4<br />

vão concluir até o início do próximo ano. Até mea<strong>dos</strong> do ano que vem vamos ter o<br />

zoneamento econômico-ecológico da Amazônia.<br />

O Deputado Valdir Colatto, do PMDB de Santa Catarina, menciona áreas de<br />

preservação, turismo, Corcovado etc. Eu tanto concordo com o Deputado Colatto<br />

que, dias atrás, firmei um pacto com o Ministro do Turismo para fazermos turismo e<br />

ecoturismo nos parques nacionais. V.Exas. sabem que nós temos 63 parques<br />

nacionais e que recebemos neles 3,5 milhões de turistas por ano. Só que, desses<br />

parques, apenas 2 respondem por 90% disso, Iguaçu e a Floresta da Tijuca, por<br />

causa do Cristo. Ou seja, há uma área de subaproveitamento enorme.<br />

A minha tese é a seguinte: o parque mais bem cuidado não é o que não tem<br />

uso nenhum, mas o que tem bom uso. Conheço parques de outros países que são<br />

mais bem cuida<strong>dos</strong> do que os nossos, mais freqüenta<strong>dos</strong> e dão lucro. Os nossos<br />

são menos cuida<strong>dos</strong>, pouco freqüenta<strong>dos</strong> e dão prejuízo. Tem alguma coisa errada.<br />

Vamos consertar isso, garantindo acessibilidade, centro de pesquisador, centro de<br />

visitante, guia bilíngüe, trilha demarcada. A cada 10 reais investi<strong>dos</strong>, vamos<br />

arrecadar 20, sob a forma de serviços de ecoturismo. Dessa forma, vamos ter<br />

reservas muito mais bem cuidadas do que estão hoje.<br />

Outro ponto importante é a questão da reserva legal. Já há regulamentação,<br />

no caso de Santa Catarina, para uso de APP — Área de Preservação Permanente<br />

para regularizar a reserva legal. Da mesma forma, adquirindo-se áreas em parques<br />

e em unidades de conservação que estejam pendentes de regularização fundiária,<br />

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até para poder pagar o verdadeiro proprietário, cumpre-se a determinação da<br />

reserva legal. Esse exemplo deve valer para outros Esta<strong>dos</strong>. É um bom exemplo.<br />

Não deve ser obrigatório somente lá, mas também em outras áreas. E um conjunto<br />

de vários proprietários para uma única área contínua é até mais efetivo do que isso.<br />

Passo agora a responder o Deputado Moreira Mendes, de Rondônia, que<br />

criticou a colonização do INCRA, o Arco de Fogo e a idéia de créditos para<br />

reflorestar, inclusive a fundo perdido. Eu quero dizer...<br />

O SR. DEPUTADO MOREIRA MENDES - Sr. Ministro, eu não critiquei a<br />

colonização do INCRA, não.<br />

O SR. MINISTRO CARLOS MINC BAUMFELD - Não, mostrou como foi<br />

abandonada depois.<br />

O SR. DEPUTADO MOREIRA MENDES - Ela foi muito bem feita.<br />

O SR. MINISTRO CARLOS MINC BAUMFELD - Criticou a seqüência, que<br />

gerou abandono, êxodo etc. Eu quero dizer que conheço bem o assunto. Como eu<br />

lhe disse, uma parte da minha tese de doutorado é sobre a colonização do INCRA<br />

em Rondônia. Conheci bastante. Corri a BR-364 de cima a baixo. Cacoal e Ji-<br />

Paraná eu conheço bem — se bem que há bastante tempo; a realidade deve ter<br />

mudado.<br />

importante.<br />

O crédito para reflorestar barato é importante, e a fundo perdido também é<br />

O Fundo Amazônia, que será anunciado no dia 1º de agosto, é a fundo<br />

perdido. O crédito que nós já conseguimos para reflorestar é a 4% ao ano, com 12<br />

de carência. Há V.Exa. de convir que não é um dinheiro caro. Eu queria também<br />

esse recurso para poder comprar alguma coisa. Com 12 de carência a 4% ao ano é<br />

bom. Para alguns casos, V.Exa. tem razão: deve ser a fundo perdido. No Fundo<br />

Amazônia, quem vai ter assento e voto são os representantes <strong>dos</strong> 9 Governos da<br />

Amazônia, mais comunidade científica, indústria e Governo Federal.<br />

Eu já disse ao Ministro do Desenvolvimento Agrário, Guilherme Cassel, que<br />

sou crítico de alguns aspectos da reforma agrária na Amazônia. E vou ser claro: a<br />

política de Governo deve ser mudada em alguns pontos. Vou dizer quais.<br />

Se analisarmos as pequenas propriedades e dizermos que 80 preservam e 20<br />

produzem, desconecta<strong>dos</strong>, veremos que essas pequenas manchas de 20% não<br />

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garantem um contínuo para se intensificar a produtividade. E as outras manchas<br />

descontínuas de preservação não garantem um contínuo para preservar. Então, não<br />

se garante um contínuo para produzir com intensidade nem um contínuo para<br />

preservar. E para uma população muito dispersa é difícil levar escola, esgoto.<br />

Portanto, acho que esse modelo pode e deve ser aperfeiçoado, garantindo a justiça<br />

e o acesso à terra, que são os princípios da reforma agrária corretos, e dando mais<br />

sustentabilidade produtiva e ambiental.<br />

Deputado Antonio Carlos Mendes Thame, V.Exa. se referiu a boas idéias,<br />

mas também nos chamou a atenção para o fato de que hoje é um bom negócio<br />

derrubar. Enquanto isso não for invertido, as boas idéias continuarão sendo apenas<br />

boas idéias. Eu não só concordo com V.Exa., como também afirmei isso ontem<br />

durante coletiva com a imprensa, quando comentava os últimos da<strong>dos</strong> do INPE.<br />

Enquanto ao se ao derrubar a floresta não se pagar multa, terra, imposto, e<br />

para preservar e recuperar custar 5 vezes mais caro, não resolveremos esse<br />

problema do mercado, nem com a polícia. Resolve-se um problema do mercado com<br />

incentivos e desincentivos que tornem mais caro derrubar ilegalmente e mais barato<br />

recuperar e intensificar a produção nas áreas aptas para produzir. V.Exa. está<br />

coberto de razão, Deputado.<br />

O que fazer para se chegar a isso? Em primeiro lugar, acho que quem quer<br />

fazer do jeito certo também acha que não pode ficar impune quem faz do jeito<br />

errado, porque, nesse caso, é um incentivo à impunidade. Então, vamos agilizar o<br />

decreto que regulamenta a lei de crimes ambientais. Hoje, 95% das multas não são<br />

pagas. Então, aquele que faz direito é penalizado, porque não acontece nada com<br />

quem faz errado. Isso também vai mudar.<br />

Eu tive uma discussão no Governo quando surgiu, na última reunião<br />

interministerial, a idéia de combater a inflação <strong>dos</strong> alimentos. Infelizmente, segundo<br />

o Ministro Mantega, ela veio para ficar por algum tempo. Não vai cair. Mas o que é<br />

um problema pode virar uma oportunidade: os <strong>16</strong> bilhões de reais a juros de 2%<br />

para a agricultura familiar. Eu disse: vamos incentivar com intensidade, em<br />

máquinas, até para fazer com que não se avance muito mais em terras protegidas.<br />

Isso foi acordado. Ou seja, a maior parte do investimento de <strong>16</strong> bilhões de reais a<br />

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Número: 1129/08 Data: <strong>16</strong>/<strong>07</strong>/<strong>2008</strong><br />

2% para a agricultura familiar, que é quem mais produz alimentos, será em<br />

maquinário, adubo etc., para intensificar a produção nas áreas já existentes.<br />

Responderei agora aos Deputa<strong>dos</strong> Rogério Silva e Cezar Silvestri.<br />

O Deputado Rogério Silva, de Mato Grosso, já foi recebido por nós, junto com<br />

toda a bancada de Mato Grosso. Falou S.Exa. sobre os problemas do mercado da<br />

carne; das doenças, que, às vezes, são problemas seriíssimos; de famílias que já<br />

estavam no parque; e de acor<strong>dos</strong> que estamos fazendo e que devem ser mais<br />

amplos, garantindo alternativas para a população.<br />

Deputado Rogério Silva, temos feito vários acor<strong>dos</strong> em pouco tempo. Isso<br />

não significa que são apenas esses que nós queremos fazer. Queremos ampliar.<br />

Acho que estamos mostrando, em pouco tempo, disposição para o diálogo. Espero<br />

que isso seja reconhecido. É um grande esforço. Não quero dizer com isso que<br />

achamos que os acor<strong>dos</strong> já feitos contemplam to<strong>dos</strong> e, com isso, está tudo<br />

resolvido. Sabemos que não.<br />

Nesse sentido, tem razão V.Exa. Estamos dispostos a traçar outros acor<strong>dos</strong>,<br />

outros entendimentos, abrindo um diálogo permanente com os Governadores e com<br />

esta Casa, que representa o povo <strong>dos</strong> Esta<strong>dos</strong> do Brasil. E V.Exas. terão a acolhida<br />

que merecem, a acolhida de representantes do povo que têm idéias que devem ser<br />

consideradas pelo Poder Executivo, independentemente de parti<strong>dos</strong>, de ideologias,<br />

de setores da produção. Idéias boas têm de ser acatadas.<br />

Há parques onde existem famílias, e isso é uma coisa seriíssima. A lei define<br />

que tem de haver audiência. Elas têm de ser previamente relocalizadas, indenizadas<br />

etc. Concordo com o fato de que isso não era feito. Vamos passar a proceder dessa<br />

forma.<br />

Sr. Deputado, tive a transparência de chamar a imprensa e mostrar o estado<br />

<strong>dos</strong> nossos parques. Há 86 sem gestores, cento e vinte e tal sem fiscais. Das 55<br />

reservas extrativistas, 53 estão sem planos de manejo. Eu fiz isso. Normalmente,<br />

quem faz isso é a Oposição.<br />

Eu fiz isso porque acho que a transparência é boa. E anunciei medidas,<br />

relocalizei pessoas, e, até o fim deste mês, to<strong>dos</strong> os parques vão ter gestores.<br />

Vamos recomendar, a partir de agosto, que até o final do ano todas as unidades<br />

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extrativistas tenham planos de manejo, sem o que as pessoas não terão acesso a<br />

crédito, e assim sucessivamente.<br />

O último <strong>dos</strong> 6, mas não menos importante, Deputado Cezar Silvestri, do<br />

Paraná: leis que não pegam; a importância da Lei da Mata Atlântica; compensação<br />

não só na microbacia, mas também no Estado — concordo; isso pode ser ampliado<br />

—; georreferenciamento com confronto com outras e acordo com os cartórios.<br />

A proposta de fazer coletivamente ajuda exatamente nisso. Quando se faz o<br />

georreferenciamento de 100, 200 ou 300, automaticamente está-se marcando qual é<br />

o limite do seu vizinho e proporcionando que os cartórios levem isso em conta.<br />

No caso da venda ilegal de madeira, a única alternativa é a oferta de madeira<br />

legal. Tomamos uma decisão. Informo a V.Exas. que, ontem, assinei procedimento<br />

para passar do Instituto Chico Mendes para o Serviço Florestal Brasileiro, que tem<br />

muito mais agilidade, os planos de manejo, para colocar, nos termos da lei das<br />

florestas públicas, oferta de madeira legal, licenciada, em planos de manejo, para<br />

combater a madeira ilegal.<br />

Peço licença, um minuto, para fazer algo que ninguém pode substituir-me.<br />

O SR. PRESIDENTE (Deputado Onyx Lorenzoni) - Vou repassar a ordem. O<br />

primeiro seria o Deputado Ivan Valente, que não está presente. Depois vêm os<br />

Deputa<strong>dos</strong> Lázaro Botelho, Givaldo Carimbão — foi embora —, Pedro Wilson e<br />

Gerson Peres. O Deputado Anselmo de Jesus não está. Seguiremos com os<br />

Deputa<strong>dos</strong> Beto Faro — Osvaldo Reis, Vanessa Grazziotin, Alfredo Kaefer, Homero<br />

Pereira, Eduardo Sciarra, Domingos Dutra e Leonardo Vilela não estão —, Cida<br />

Diogo, Jusmari Oliveira e Fernando Ferro, o 25º inscrito.<br />

O SR. DEPUTADO ROGÉRIO SILVA - Sr. Presidente, na hora em que o<br />

Ministro Minc voltar, gostaria de pedir um esclarecimento sobre um ponto da sua fala<br />

que achei muito interessante. Se V.Exa. puder me conceder...<br />

O SR. PRESIDENTE (Deputado Onyx Lorenzoni) - Deputado Rogério, vou<br />

passar a palavra aos que estão inscritos e depois V.Exa. fica como o primeiro da<br />

tréplica. Tudo bem? Porque nós queremos liberar o Ministro às 13h30min.<br />

O SR. DEPUTADO ROGÉRIO SILVA - Em que lugar eu vou ficar?<br />

O SR. PRESIDENTE (Deputado Onyx Lorenzoni) - Vamos ver agora.<br />

Segundo o Deputado André de Paula, 28º. (Risos.)<br />

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O SR. DEPUTADO ROGÉRIO SILVA - Vigésimo oitavo?<br />

O SR. PRESIDENTE (Deputado Onyx Lorenzoni) - Não. Estou brincando. É<br />

menos dramático do que isso, Deputado Rogério Silva. (Pausa.)<br />

Com a palavra o nobre Deputado Lázaro Botelho.<br />

O SR. DEPUTADO LÁZARO BOTELHO - Sr. Ministro Carlos Minc, Sr.<br />

Presidente, Sras. e Srs. Deputa<strong>dos</strong>, eu sou do Estado do Tocantins, antiga região<br />

norte de Goiás, descoberta por JK, quando criou Brasília e construiu a Belém—<br />

Brasília. A população do Tocantins, então norte de Goiás, surgiu nessa época.<br />

Ali existe uma faixa de terras férteis, que despertou o interesse de várias<br />

pessoas do sul de Goiás, de Minas Gerais, de São Paulo e de todas as regiões do<br />

Brasil, as quais foram para lá há quase 50 anos desenvolver a região.<br />

Essas pessoas abriram aquelas terras, o que era incentivado pelo Governo<br />

Federal e financiado pelo Banco do Brasil — na época havia o PROTERRA, que<br />

emprestava dinheiro para derrubar árvores, para cercar terrenos, enfim, para<br />

desenvolver a região, até então desabitada.<br />

Assim surgiram, ali, aquelas fazendas. Hoje existe, em média, 30% de<br />

reserva naquela região. O resto do Tocantins era cerrado, que, até então, não era<br />

valorizado; não servia para nada, porque era terra seca, sem nenhum índice de<br />

produtividade. Por isso as pessoas habitaram aquela região de terras férteis.<br />

Hoje, Sr. Ministro, a grande preocupação desse povo é com essas medidas<br />

do Governo Federal — e sequer foram decretadas por V.Exa., pois são de dezembro<br />

— e com a resolução do Banco Central que proíbe a concessão de créditos àqueles<br />

fazendeiros.<br />

Existem naquela região de terras férteis 8 milhões de reses, e o povo está<br />

preocupado, sem saber o que fazer, porque não há como tirar esse gado da região.<br />

Além disso, as terras são tituladas. E o INCRA exigia a derrubada da mata para<br />

titulá-las, e o banco financiava tudo isso.<br />

Hoje, a grande preocupação desses fazendeiros é com o fato de não existir<br />

mais crédito para eles nos bancos, porque eles ultrapassaram os 20% de<br />

desmatamento — na época era permitido muito mais.<br />

Então, Sr. Ministro, gostaríamos que V.Exa. fizesse algo pela região. Hoje,<br />

não existe mais ninguém fazendo novas derrubadas lá. Solicitamos, então, que se<br />

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considere o que já foi feito e se dê a àquelas pessoas condições de sobreviverem,<br />

uma vez que a renda do Tocantins vem praticamente da pecuária — a agricultura<br />

está apenas iniciando no Estado, com a soja.<br />

O Tocantins fazia parte da Região Centro-Oeste e, com a divisão do Estado<br />

de Goiás, passou a fazer parte da Região Amazônica. E na realidade fica no Brasil<br />

Central.<br />

Então, a preocupação daquele povo é poder permanecer na sua terra.<br />

Ninguém está fazendo novas derrubadas. Além disso, para terem condições de<br />

sustentação econômica, eles não podem reduzir a sua derrubada a 20%. Senão,<br />

vão viver de quê? Onde vão colocar o gado? A nossa grande preocupação é essa.<br />

Muito obrigado, Sr. Presidente.<br />

O SR. PRESIDENTE (Deputado Onyx Lorenzoni) - Obrigado, Deputado<br />

Lázaro Botelho.<br />

Concedo a palavra ao Deputado Pedro Wilson.<br />

O SR. DEPUTADO PEDRO WILSON - Sr. Presidente da Comissão de<br />

Agricultura, Sr. Presidente da Comissão de Meio Ambiente, Sr. Ministro Carlos Minc,<br />

colegas presentes, a primeira questão que gostaria de levantar diz respeito ao<br />

cerrado, o grande produtor de águas para a Bacia Amazônica, para ele próprio, para<br />

o Pantanal e para a Caatinga, e que enfrenta essa luta toda.<br />

O cerrado é a ante-sala da Amazônia. Ele tem 30 milhões de anos, e a<br />

Amazônia, 5 milhões. O que acontecer com o cerrado pode acontecer com a<br />

Amazônia. E os 2 estão sofrendo com a voracidade do desmatamento, sem que isso<br />

represente melhoria na produção brasileira.<br />

Portanto, quanto ao cerrado, ressalto a sua importância. Sabemos da<br />

relevância da Amazônia, mas o cerrado também é importante.<br />

A segunda questão que eu apresento a V.Exa. é relativa à rastreabilidade. A<br />

rastreabilidade é importante não só para assegurar a vigilância sanitária sobre o<br />

rebanho bovino brasileiro, mas também para ser utilizada no controle do<br />

desmatamento, junto com o georreferenciamento e as fotografias de satélite.<br />

Muita gente acha que a rastreabilidade não é cabível. Eu acho que ela é um<br />

instrumento científico e poderoso para controlar os rebanhos, no que diz respeito à<br />

vigilância sanitária, o que é importante para o consumo no Brasil e para a<br />

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exportação, e também pode servir de instrumento para o controle do avanço do<br />

desmatamento ilegal.<br />

O terceiro ponto que eu gostaria de apresentar a V.Exa. diz respeito aos<br />

planos para avançar na Agenda 21, uma grande descoberta do mundo feita na<br />

Conferência do Rio, a Eco-92. Ela é um grande pacto de Governo e sociedade para<br />

o desenvolvimento sustentável.<br />

Outro comentário que desejo fazer: em 1996 foi feita uma moratória das<br />

reservas legais. Passa<strong>dos</strong> 10 anos, as reservas permanecem praticamente do<br />

mesmo jeito, sem que tenham sido recompostas, havendo inclusive a tentativa de se<br />

alocar reservas do cerrado na Amazônia. E hoje se estabelece que elas podem ser<br />

no máximo na mesma bacia. Considero importante haver uma política não punitiva,<br />

mas de educação e apoio. Por outro lado, não podemos esperar mais 10 anos por<br />

essas reservas.<br />

Outro ponto que o Ministério e a ANA abordaram — e eu gostaria de saudar<br />

ambos por isso — diz respeito aos Comitês de Bacias. Goiás é um Estado que tem<br />

muitos rios, mas apenas um Comitê de Bacia, o do Rio Meia Ponte — agora foi<br />

instalado o Comitê de Bacia do Rio Paranaíba, que é muito importante como<br />

elemento de avaliação do Parlamento das Águas.<br />

Por último, tenho uma pergunta a fazer a V.Exa. sobre o uso da água de<br />

aqüíferos, principalmente o Guarani. Estamos vendo que já tem sido usada água<br />

<strong>dos</strong> aqüíferos, sendo que, muitas vezes, os Esta<strong>dos</strong> fazem isso sem ter uma<br />

perspectiva. E eles são muito importantes, não só para o País como um todo, mas<br />

também para o continente.<br />

Agradeço a V.Exa. e ao nobre Presidente.<br />

O SR. PRESIDENTE (Deputado Onyx Lorenzoni) - Obrigado, Deputado Pedro<br />

Wilson, pela sua colaboração.<br />

Com a palavra o Deputado Gerson Peres.<br />

O SR. DEPUTADO GERSON PERES - Sr. Presidente, Sr. Ministro, eu sou<br />

um modesto advogado, professor e jornalista. Não tenho fazenda nem crio boi.<br />

Conheço V.Exa. a distância — sua luta, sua vida, seus debates — e acho V.Exa. um<br />

homem de muito boa vontade. Mas é muito apaixonado quando debate esses<br />

temas. E pela preservação da floresta, pelo meio ambiente, existe uma paixão.<br />

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Nome: Conjunta - Agricultura,Pecuaria / Meio Ambiente<br />

Número: 1129/08 Data: <strong>16</strong>/<strong>07</strong>/<strong>2008</strong><br />

Eu não estou aqui para dar conselhos a V.Exa., mas para alertá-lo a respeito<br />

de alguns pontos importantes. Lamartine dizia que Deus colocou a cabeça acima do<br />

coração para que ela controlasse a paixão.<br />

Nós estamos travando, em relação ao meio ambiente e à floresta, uma luta<br />

muito apaixonada para tratar de um complexo problema.<br />

V.Exa. apresentou hoje, aqui, uma base de política pública bem sustentável,<br />

muito boa. Deus queira e ajude V.Exa. a conseguir tudo o que está sonhando,<br />

porque V.Exa., como muitos de nós, é um idealista, e, como tal, sonha, às vezes,<br />

acordado.<br />

A parte que mais me preocupa nisso tudo é a criatura humana. Quando o<br />

Governo demarca uma parte da floresta na Amazônia, ele se esquece de que lá<br />

dentro há pessoas. Não há apenas bois, há gente também. E a ordem judicial<br />

expedida, data venia, para mim é inconstitucional. Ela não poderia ter sido dada<br />

assim, porque a Constituição Federal só permite o confisco de glebas de terras nas<br />

quais se plantem plantas psicotrópicas, como a coca e a maconha. Não fala em boi.<br />

O Congresso Nacional está apreciando uma proposição que trata da expropriação<br />

de terras em que há trabalho escravo. Ainda não se aprovou isso. São 2 casos.<br />

Não se pode expropriar bens. Se a pessoa tem gado ou outro bem em terras<br />

públicas, o melhor caminho — e V.Exa. é o homem talhado para isso — não é<br />

procurar o juiz, mas o produtor, ter um diálogo com ele; estabelecer, talvez, com a<br />

inteligência que V.Exa. tem, contratos com cláusulas de obrigações entre o produtor<br />

e o Governo, para que ele crie mais bois na terra pública. Afinal, o boi é um bem de<br />

fim reprodutivo invejável, que se traduz em imposto, tributo, e contribui com a<br />

balança comercial e com o superávit primário. Dele obtemos a carne, que nós<br />

comemos. Ele come capim. Ele não fala; ele muge. Ele engorda para nos engordar.<br />

Ele tem o couro para nos calçar e para nos vestir e a carne, que nos faz criar os<br />

frigoríficos, que geram empregos para as pessoas. E vai mais além: ele é exportado<br />

e traz divisas para o País.<br />

Somos a região que tem, hoje, o maior volume de bois no Brasil. E devemos<br />

pensar assim. V.Exa. jamais terá êxito na sua honrosa e grandiosa missão, se não<br />

utilizar esse procedimento antes de mandar as forças, mandar para a prisão; se não<br />

compatibilizar a sua ação com os interesses econômicos do setor produtivo.<br />

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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL<br />

Nome: Conjunta - Agricultura,Pecuaria / Meio Ambiente<br />

Número: 1129/08 Data: <strong>16</strong>/<strong>07</strong>/<strong>2008</strong><br />

Felicito V.Exa. quando energicamente luta para preservar a floresta. Há muita<br />

floresta degradada, é verdade; há muita irresponsabilidade, é verdade. Alguns casos<br />

exigem, realmente, certa rigidez. Mas com o setor produtivo V.Exa. tenha muita<br />

prudência, muita calma. Converse com to<strong>dos</strong> eles. Aqui mesmo há alguns, lá do<br />

Pará, que querem conversar com V.Exa. Se sobrar um tempinho, dê 5 minutos a<br />

eles, e V.Exa. poderá colher bons frutos de tudo isso. Nós estamos aqui para ajudar<br />

V.Exa.<br />

Na realidade, o art. 243 da Constituição Federal não permite confisco de<br />

bens, a não ser no caso que acabei de citar. O art. 225 dispõe, realmente, sobre a<br />

indisponibilidade da terra para determina<strong>dos</strong> recursos de sustentabilidade do<br />

ecossistema natural. É verdade. Mas o recurso será realmente um processo jurídico<br />

normal da desapropriação. E a propriedade é uma cláusula pétrea que deve ser<br />

respeitada.<br />

Eu escrevi, no domingo, um artigo intitulado O Boi e o Ministro, no qual fiz<br />

uma crítica construtiva e bem-intencionada, mais ou menos com as palavras que<br />

disse agora a V.Exa. Vou esperá-lo em Belém para ouvi-lo novamente na nossa<br />

Federação das Indústrias.<br />

O SR. PRESIDENTE (Deputado Onyx Lorenzoni) - Obrigado, Deputado<br />

Gerson Peres, pela contribuição.<br />

Concedo a palavra ao Deputado Beto Faro.<br />

O SR. DEPUTADO BETO FARO - Sr. Presidente da Comissão de<br />

Agricultura, Sr. Presidente da Comissão de Meio Ambiente, Sr. Ministro, entendo<br />

que há 3 situações — e nós já temos debatido bastante isso — que nos ajudariam<br />

muito a resolver as questões da Amazônia.<br />

Uma é o zoneamento econômico-ecológico, já comentado aqui e já<br />

trabalhado pelo Ministro, por isso não vou nem comentar.<br />

Outra é a regularização fundiária efetiva da Amazônia. Há alguns anos não se<br />

tem regularização efetiva na região. Mesmo aqueles que foram para lá há 20, 30<br />

anos, não têm nenhum procedimento para trabalhar a regularização fundiária. Não<br />

estou dizendo para regularizar a situação de to<strong>dos</strong>, mas daqueles que efetivamente<br />

têm o direito a essa regularização.<br />

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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL<br />

Nome: Conjunta - Agricultura,Pecuaria / Meio Ambiente<br />

Número: 1129/08 Data: <strong>16</strong>/<strong>07</strong>/<strong>2008</strong><br />

Uma outra questão — eu, inclusive, trabalhei esse tema numa PEC agora —<br />

é a indenização daqueles que de boa-fé estão dentro das áreas, sejam as áreas<br />

pretendidas para os indígenas, sejam as pretendidas para preservação.<br />

São pontos que ajudariam muito na resolução dessas questões.<br />

Parabenizo V.Exa. Pelo pouco tempo que está à frente do Ministério, já fez<br />

várias ações, tratou aqui de vários pontos e já fez acor<strong>dos</strong> com o setor produtivo.<br />

Eu estive há 15 dias numa reunião na FIEPA — Federação das Indústrias do<br />

Estado do Pará. A entidade convidou os Deputa<strong>dos</strong> Federais e Estaduais do PT do<br />

Pará para um diálogo. Eles estavam muito felizes por sua ida lá na sexta-feira, pelo<br />

acordo que está sendo feito e por essa nova agenda que está sendo estabelecida,<br />

inclusive, com o Ministério e com a Secretaria de Meio Ambiente local. Então, é<br />

importante essa estratégia.<br />

V.Exa. já mencionou aqui 5 acor<strong>dos</strong>, como a questão do preço mínimo para<br />

produtos que não estavam na agenda nacional.<br />

Deputado Giovanni Queiroz, eu sou defensor desse setor e sei a importância<br />

de se ter preço mínimo para produtos como o açaí. O Deputado Gerson Peres é de<br />

um Município com cerca de 20 mil pessoas que vivem dessa produção. V.Exa. não<br />

sabe a importância de termos uma política estabelecida para esse produto. Portanto,<br />

não é desprezível a política para o extrativismo. É muito importante para um Estado<br />

como o nosso, que possui milhares de famílias nessas áreas.<br />

Cito também a ação para de destravar o IBAMA, sem deixar de fazer as<br />

exigências, mas trabalhando a aceleração do licenciamento com outros Ministérios.<br />

importantes.<br />

Portanto, parabenizo V.Exa. por essas ações, que são extremamente<br />

Há outras questões para debatermos do ponto de vista político. Quanto ao<br />

Arco de Fogo, como disse o Deputado Wandenkolk Gonçalves que é perseguição ao<br />

PSDB, eu estou com medo de ir para outro Município, porque o PSDB vai acabar<br />

ganhando em to<strong>dos</strong>. A dificuldade que o Governo está enfrentando nesses<br />

Municípios é muito maior que é a da Oposição, que tem feito lá um discurso fácil.<br />

Quem esteve 12 anos governando o nosso Estado, 10 <strong>dos</strong> quais com a Presidência,<br />

e não resolveu a questão fundiária nem a questão ambiental tem muito pouco a falar<br />

do que estamos fazendo e resolvendo agora.<br />

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Faro.<br />

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Nome: Conjunta - Agricultura,Pecuaria / Meio Ambiente<br />

Número: 1129/08 Data: <strong>16</strong>/<strong>07</strong>/<strong>2008</strong><br />

O SR. PRESIDENTE (Deputado Onyx Lorenzoni) - Obrigado, Deputado Beto<br />

Com a palavra a Deputada Cida Diogo.<br />

A SRA. DEPUTADA CIDA DIOGO - Eu só queria registrar que comecei a<br />

acompanhar o debate, mas não pude ficar o tempo todo, porque temos outras<br />

atividades na <strong>Câmara</strong> e realmente é complicado estar presente em tudo. Mas fiz<br />

questão de retornar a esta reunião para registrar que exerci 2 mandatos como<br />

Deputada Estadual e conheço a história do Deputado Estadual Carlos Minc, hoje<br />

Ministro. Toda a história do nosso Ministro sempre foi de muita luta. S.Exa. sempre<br />

desenvolveu esse papel que estamos desenvolvendo aqui.<br />

Historicamente, o Deputado Estadual Carlos Minc sempre foi um batalhador<br />

pelo Parlamento, sempre defendeu o Parlamento como instrumento de defesa <strong>dos</strong><br />

interesses púbicos. E quando se tornou Secretário Estadual do Ambiente em nosso<br />

Estado, no ano passado, teve a primeira experiência executiva.<br />

Eu fiz questão de vir aqui dar o meu testemunho, porque S.Exa. é do meu<br />

Estado e me surpreendeu. O Ministro Carlos Minc sempre foi um excelente<br />

Parlamentar, sempre atuou na lógica legislativa de luta em defesa do meio<br />

ambiente. Ao assumir a Secretaria Estadual do Ambiente, no Estado do Rio de<br />

Janeiro, conseguiu dar expressiva dinâmica àquela Secretaria. Nunca houve, no<br />

Estado do Rio de Janeiro, ação tão contundente e, ao mesmo tempo, de viabilização<br />

efetiva de resolução <strong>dos</strong> problemas ambientais do Estado, buscando o<br />

entendimento, a interlocução, sempre muito firme não só na defesa do meio<br />

ambiente, mas também na busca de soluções concretas, como representante do<br />

Executivo Estadual. Foi isso, inclusive, que deu ao nosso companheiro a condição<br />

de hoje ocupar o Ministério do Meio Ambiente.<br />

Eu tenho absoluta certeza de que, por mais apreensão, por mais preocupação<br />

que alguns setores liga<strong>dos</strong> à área da agricultura tenham, agora, conduzindo o<br />

Ministério, o Ministro Carlos Minc vai ter o mesmo perfil com que conduziu a<br />

Secretaria no Rio de Janeiro, defendendo com muita firmeza o meio ambiente, mas<br />

buscando sempre a interlocução, a viabilização de soluções efetivas, para que o<br />

setor produtivo do País continue garantindo o desenvolvimento da agricultura e da<br />

economia brasileira. Mas, repito, resguardando e preservando o meio ambiente.<br />

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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL<br />

Nome: Conjunta - Agricultura,Pecuaria / Meio Ambiente<br />

Número: 1129/08 Data: <strong>16</strong>/<strong>07</strong>/<strong>2008</strong><br />

Estamos inaugurando uma nova fase, com o Ministério do Meio Ambiente<br />

sendo conduzido por uma pessoa com o perfil do Ministro Carlos Minc.<br />

Fiz questão de vir registrar estas palavras. Reconheço ser justa a<br />

preocupação levantada pelo setor da agricultura, uma preocupação de quem está na<br />

produção. Mas tenho absoluta certeza de que nosso Ministro vai conduzir de forma<br />

bastante exemplar a sua Pasta, e vamos poder demonstrar para outros países como<br />

buscamos a defesa do meio ambiente e, ao mesmo tempo, a garantia do<br />

desenvolvimento econômico e, principalmente, da agricultura do País.<br />

Diogo.<br />

O SR. PRESIDENTE (Deputado Onyx Lorenzoni) - Obrigado, Deputada Cida<br />

Com a palavra a Deputada Jusmari Oliveira.<br />

A SRA. DEPUTADA JUSMARI OLIVEIRA - Srs. Presidentes, Srs.<br />

Deputa<strong>dos</strong>, Sr. Ministro, os Deputa<strong>dos</strong> Pedro Wilson e Lázaro Botelho já nos<br />

levaram a um deslocamento geográfico. Como disse o Deputado Lira Maia, a<br />

palavra mais falada aqui, depois de Srs. Deputa<strong>dos</strong> e Sras. Deputadas, é<br />

Amazônia. Gostaria de um pronunciamento de vosso Ministério sobre o bioma<br />

cerrado. O Deputado Pedro Wilson já se referiu a isso aqui, mas eu gostaria de<br />

detalhar um pouco mais a questão.<br />

A ocupação do cerrado, principalmente no Nordeste do Brasil, no meu<br />

Estado, a Bahia, no sul do Piauí e no sul do Maranhão, proporcionou, não só para o<br />

Brasil, mas também para o mundo, o nascimento de um novo celeiro produtor de<br />

alimentos, principalmente de grãos. É assim que o nosso cerrado é visto pelo<br />

mundo. Mas urge que tenhamos o tão sonhado, como está acontecendo na<br />

Amazônia, zoneamento econômico-ecológico — ou ecológico-econômico, como<br />

queiram.<br />

Por quê, Sr. Ministro? Qual é a nossa realidade? A ocupação ocorrida nas<br />

últimas 3 décadas concentrou população em algumas áreas do cerrado. Na época,<br />

por exemplo, na minha região, o oeste da Bahia, as primeiras propriedades<br />

exploradas ficaram com 10% de reserva legal, porque a lei estadual mandava que<br />

se fizesse isso; as outras, com 20% de reserva legal. O Deputado Pedro Wilson, eu<br />

e um grupo da Frente Ambientalista criamos o Grupo do Cerrado e defendemos a<br />

aprovação da PEC nº 115/95, que determina o tratamento de patrimônio nacional ao<br />

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Número: 1129/08 Data: <strong>16</strong>/<strong>07</strong>/<strong>2008</strong><br />

cerrado, preservando 50% da área. Ocorre que outras áreas ainda não foram<br />

ocupadas.<br />

Na minha região, existem ainda 5 milhões de hectares de cerrado. Há uma<br />

busca <strong>dos</strong> entes políticos para que se desenvolva economicamente a região. E nós<br />

vamos desenvolvê-la como? Vai-se ocupar que área do total ainda não ocupado? O<br />

que se vai fazer com o que nós consideramos passivo ecológico daqueles que<br />

ocuparam, inclusive a minha família, que já ocupou a área e deixou apenas 10% de<br />

reserva?<br />

É preciso que o Ministério e o Governo tenham ação urgente sobre o cerrado,<br />

para discutirmos o que consideramos passivo. Porque já há uma briga, no<br />

Congresso Nacional e em todo lugar, de quem se considera ambientalista contra o<br />

agricultor, que é tão importante para o desenvolvimento econômico daquela região.<br />

Nós acreditamos, Sr. Ministro, como disse a Deputada Cida Diogo, que, por<br />

sua capacidade e desenvoltura, V.Exa. conseguirá acabar com esse discurso de que<br />

o agricultor está de um lado e o meio ambiente do outro. Ora, a quem mais interessa<br />

preservar o meio ambiente? Ao agricultor. Isso tem que ser entendido. Não há 2<br />

la<strong>dos</strong> nesse negócio. Estamos de um lado só. Nós precisamos <strong>dos</strong> recursos naturais<br />

para produzir, precisamos da produção para sustentar os ambientalistas e todo o<br />

mundo.<br />

Portanto, eu gostaria de destacar esse aspecto aqui e de ouvir o seu<br />

pronunciamento sobre o cerrado.<br />

Deve estar nesta reunião o Prefeito do Município de Luís Eduardo Magalhães,<br />

que eu conheço muito bem. S.Exa. está vivendo um dilema. Trata-se do Município<br />

que mais cresce no País, portanto, é o mais desmatado. Acho que 90% de Luís<br />

Eduardo Magalhães é ocupado. Existe uma área ainda de 40 mil hectares sem<br />

ocupação. É a única área remanescente no Município que conserva o cerrado na<br />

sua originalidade. E era desejo do Prefeito, <strong>dos</strong> Vereadores e de toda a sociedade<br />

que os produtores pudessem pagar seu passivo ambiental adquirindo essa área<br />

para o Município, criando um parque municipal. Mas já sabemos que essa área, que<br />

é propriedade de um grupo poderoso de um ex-Governador do Estado, já está<br />

sendo vendida para outro grupo poderoso de outro Pais, inclusive, com a idéia de se<br />

plantar cana.<br />

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Número: 1129/08 Data: <strong>16</strong>/<strong>07</strong>/<strong>2008</strong><br />

O Prefeito veio aqui buscar a ajuda do Ministério para uma solução. O<br />

Município não tem condição de desapropriar essa área com recursos municipais. E<br />

exemplos como esse existem em to<strong>dos</strong> os outros Municípios.<br />

Deixo hoje o pedido para que V.Exa. determine um assessor de vosso<br />

Ministério para atender o Prefeito e tentar buscar uma solução. Desculpe colocar<br />

uma situação muito localizada, mas entendo que é importante, pode servir de<br />

exemplo para as demais áreas de cerrado e pode ser encontrada uma solução, com<br />

o Ministério atuando junto ao Estado da Bahia, aos Municípios e aos Deputa<strong>dos</strong><br />

representantes da região.<br />

O SR. PRESIDENTE (Deputado Onyx Lorenzoni) - Obrigado, Deputada<br />

Jusmari Oliveira.<br />

Com a palavra o último inscrito, Deputado Fernando Ferro.<br />

O SR. DEPUTADO FERNANDO FERRO - Sr. Presidente, Sr. Ministro, Sras.<br />

e Srs. Deputa<strong>dos</strong>, minha primeira preocupação — e já a manifestei em plenário<br />

nesta Casa — diz respeito a uma ação do IBAMA sobre a Mata Atlântica em<br />

Pernambuco, uma ação contra o setor canavieiro.<br />

Em Pernambuco restam apenas 2,7% de Mata Atlântica. Talvez seja o menor<br />

remanescente de Mata Atlântica no Brasil. As pessoas que falam do cerrado e da<br />

Amazônia poderiam pegar a mata costeira como exemplo da invasão do meio<br />

ambiente. Temos ali uma tragédia ambiental e social. É lógico que temos de<br />

trabalhar com toda a importância do etanol, com essa realidade, mas temos que<br />

levar em conta que a pressão sobre o resto da Mata Atlântica naquela área é muito<br />

forte. Se não houver uma ação dura para tratar desse caso, teremos um<br />

agravamento lastimável do quadro.<br />

Eu queria chamar a atenção sobre uma outra questão. Sob o nome de<br />

agronegócio se escondem muitos delinqüentes. É preciso fazer essa diferença. Fala-<br />

se em agronegócio como se fosse uma coisa única, e o mesmo ocorre com a<br />

agricultura familiar. Há delinqüência nos 2 pólos. Temos que ter a tranqüilidade de<br />

fazer a interlocução com esses setores de maneira qualificada. Não dá para chamar<br />

de agronegócio os mantenedores de trabalho escravo e os que produzem essa<br />

devastação, como também não podemos chamar de agricultura familiar aqueles que<br />

queimam a mata para produzir carvão. É claro que, muitas vezes, isso é provocado<br />

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Número: 1129/08 Data: <strong>16</strong>/<strong>07</strong>/<strong>2008</strong><br />

pela desinformação e pela falta de alternativa. Mas o fato concreto é que, sob o<br />

nome de agricultura familiar, estão se promovendo também crimes ambientais.<br />

Eu diria que esse processo não é simples, mas nós temos que ter cuidado<br />

para fazer esse tipo de aproximação. Então, com todo o respeito ao chamado<br />

agronegócio, é preciso diferenciar aqueles de boa-fé, aqueles que produzem e<br />

aqueles que têm respeitam a legislação trabalhista e ambiental daqueles que<br />

promovem a devastação e a delinqüência socioambiental, que não é aceitável.<br />

Então, eu acho que a primeira coisa a fazer é evitar esse tipo de postura.<br />

Por último, Ministro, eu tenho duas questões a fazer. Uma delas é sobre a<br />

evolução da questão do Zoneamento Agroecológico de que o País precisa; como<br />

temos de fazer esse levantamento para conseguirmos responder a essas pressões<br />

sobre o nosso modelo de desenvolvimento?<br />

A outra questão é sobre a área energética. Estamos incumbi<strong>dos</strong> da Relatoria<br />

de um projeto que discute a inserção de fontes renováveis na matriz energética<br />

brasileira e gostaríamos, depois, de dialogar com o Ministério sobre isso.<br />

E a questão das hidrelétricas. As hidrelétricas no Brasil fazem parte de um<br />

segmento muito criminalizado. E nós temos de saber diferenciar projetos como o de<br />

Balbina e outros, que foram desastres sociais e ambientais, das hidrelétricas que<br />

podem ser incorporadas, necessariamente, à produção de energia elétrica, para<br />

responder à necessidade de crescimento que queremos. Queremos energia! E não<br />

vamos fazer isso de forma residual.<br />

Para tanto, é preciso, de fato, ter a compreensão do que são os grandes<br />

projetos hidrelétricos do Brasil, sob pena de termos de apelar até para a introdução<br />

de energia nuclear em nossa matriz para responder às necessidade de crescimento<br />

do País. Esse é o risco, se o debate correto não for feito, sobre as fontes alternativas<br />

e as fontes hidrelétricas que o Brasil possui, com grande quantidade e com<br />

possibilidade de uso sustentável, inclusive.<br />

O SR. PRESIDENTE (Deputado Onyx Lorenzoni) - Eu quero informar que já<br />

teve início a Ordem do Dia. Então, nós temos de dar uma acelerada nos trabalhos<br />

aqui.<br />

assegurada.<br />

O Deputado Asdrubal Bentes estava inscrito e, portanto, tem a palavra<br />

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Número: 1129/08 Data: <strong>16</strong>/<strong>07</strong>/<strong>2008</strong><br />

O SR. DEPUTADO ASDRUBAL BENTES - Inicialmente, quero pedir<br />

desculpas, pois tive de me afastar porque ainda não consegui o dom da<br />

onipresença. Compareci a uma audiência na Casa Civil, para tratar de interesses do<br />

Estado, e peço desculpas ao Sr. Ministro por não ter participado do restante desta<br />

reunião.<br />

Sr. Ministro, quando o ouvi e assisti pela televisão à sua primeira entrevista,<br />

em Paris, V.Exa. foi muito sincero em dizer que não conhecia a Amazônia. E eu<br />

fiquei com um pé na frente e outro atrás. Mas, amazônida que sou de nascimento,<br />

ouvi alguns depoimentos, <strong>dos</strong> que me antecederam, particularmente daqueles que<br />

são amazônidas por adoção, a exemplo do Deputado Giovanni Queiroz. Eu costumo<br />

dizer que nascemos em qualquer lugar, por acaso. Mas a adoção é um ato de amor.<br />

Então, to<strong>dos</strong> aqueles que nos antecederam, que falaram sobre a Amazônia, os seus<br />

problemas, e querem uma solução, estão demonstrando realmente aquele amor<br />

profundo que têm por uma região que, ao longo de décadas e de séculos, vem<br />

sendo objeto de cobiça internacional, mas ainda não conseguiu motivar os<br />

brasileiros para que a cobicem efetivamente, e a protejam, e a preservem.<br />

Sr. Ministro, nós queremos preservar a Amazônia, mas a política ambiental<br />

deste País para a Amazônia apresenta distorções gravíssimas que precisam ser<br />

corrigidas.<br />

Temos de levar em consideração que o objetivo precípuo, primordial, da<br />

Ecologia é o ser humano. E lá nós temos 25 milhões de habitantes. E é preciso que<br />

se leve em consideração a evolução histórica da colonização em nossa região, que<br />

não fugiu à regra geral do País: primeiro chega o homem; depois vem o Estado. Isso<br />

vem desde o Brasil Colônia; a Amazônia não fugiu à regra geral.<br />

Na década de 60, a região era um imenso vazio demográfico. Juscelino construiu a<br />

Belém—Brasília, integrando a Amazônia ao Centro-Oeste e ao restante do Brasil.<br />

Em conseqüência disso, começaram os fluxos migratórios.<br />

Já na década de 70, o Governo Federal lançou slogans belíssimos: “Vamos<br />

integrar para não entregar”; “vamos levar homens sem terra para a terra sem<br />

homens”. E lá chegou o homem, acreditando no convite e no apelo.<br />

Lamentavelmente, ficou jogado ao léu.<br />

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Número: 1129/08 Data: <strong>16</strong>/<strong>07</strong>/<strong>2008</strong><br />

O projeto de colonização do INCRA para a Transamazônica não digo que foi<br />

um fracasso porque, em decorrência da atividade do homem que acreditou e que<br />

particularmente, sem a presença do Governo, criou vilas, produziu na agricultura, na<br />

pecuária, nós temos hoje uma região se desenvolvendo, apesar da ausência quase<br />

total do Estado.<br />

E são graves os problemas. O primeiro deles está intimamente vinculado ao<br />

meio ambiente: a questão fundiária, Sr. Ministro. Questiona-se muito o Ministério do<br />

Meio Ambiente, mas muita coisa ele não pode fazer, inclusive com relação às<br />

licenças ambientais, porque falta o documento da terra.<br />

Então, é preciso que o Governo fale uma só língua. Lamentavelmente, isso<br />

não ocorre — e não é de hoje: a área ambiental vai para um lado; a área fundiária,<br />

para outro; e a área do desenvolvimento econômico, para outro.<br />

(O Sr. Presidente faz soarem as campainhas.)<br />

O SR. DEPUTADO ASDRUBAL BENTES - Sr. Presidente, peço um pouco<br />

de consideração para um amazônida de 69 anos...<br />

O SR. PRESIDENTE (Deputado Onyx Lorenzoni) - V.Exa. já está com 1 a<br />

mais e vai ganhar mais 1 minuto.<br />

O SR. DEPUTADO ASDRUBAL BENTES - ... que quer ver a Amazônia<br />

desenvolvida.<br />

E nós amazônidas queremos, sim, preservar a Amazônia, mas queremos ter<br />

as mesmas condições que têm o paulista, o gaúcho. Ora, nós não queremos que<br />

sejam devastadas as nossas florestas, mas queremos que elas tenham um<br />

aproveitamento, para benefício <strong>dos</strong> amazônidas.<br />

Então, Sr. Ministro, o tempo é curto e eu gostaria de explanar mais algumas<br />

coisas Mas é importante sabermos, por exemplo, que todas essas unidades de<br />

conservação foram criadas ao arrepio da lei. E é necessária uma urgente revisão<br />

dessa matéria porque, na realidade, não houve discriminatória, não houve<br />

levantamento fundiário. Foram cria<strong>dos</strong> circos por ONGs, que diziam o que devia ser<br />

feito, sem consulta ao verdadeiro nativo, àquele que lá vive, os ribeirinhos, por<br />

exemplo, e tantos outros.<br />

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Número: 1129/08 Data: <strong>16</strong>/<strong>07</strong>/<strong>2008</strong><br />

A Amazônia não tem só um bioma, não é só floresta ombrófila. Nós<br />

precisamos que isso tudo seja levado em consideração. Nós precisamos que haja<br />

essa regularização fundiária.<br />

Eu apresentei um projeto de lei que acho que foi tão bom, Ministro, que o<br />

Governo plagiou: transformou-o em medida provisória. E eu fiquei feliz por isso,<br />

porque já está em vigor, e o INCRA já começa a fazer a regularização fundiária.<br />

Mas é preciso que haja realmente um trabalho conjunto de to<strong>dos</strong> os órgãos<br />

do Governo, para que nós possamos, por exemplo, rever as situações que hoje são<br />

consideradas ilegais. Nós precisamos analisar, Sr. Ministro, que muitas dessas<br />

situações do campo, de fato, foram constituídas quando a lei vigente exigia um<br />

desmatamento de 50%. E, nessa época, se isso era crime, eu o cometi, porque fui<br />

Presidente do Grupo Executivo das Terras do Araguaia-Tocantins, Superintendente<br />

do INCRA e tinha de cumprir a lei. Eu não podia dar o título se o cidadão não tivesse<br />

feito a benfeitoria.<br />

O SR. PRESIDENTE (Deputado Onyx Lorenzoni) - Obrigado, Deputado.<br />

O SR. DEPUTADO ASDRUBAL BENTES - Eu lamento muito. É triste.<br />

Parece-me que a barriga vazia se sobrepõe ao interesse maior...<br />

O SR. PRESIDENTE (Deputado Onyx Lorenzoni) - Deputado, tem Ordem do<br />

Dia! Deputado Asdrubal Bentes, eu tenho carinho e respeito por V.Exa., mas V.Exa.<br />

usou 6 minutos, enquanto os outros Deputa<strong>dos</strong> usaram 3 minutos.<br />

mas...<br />

É simples assim.<br />

O SR. DEPUTADO ASDRUBAL BENTES - Eu lhe agradeço a consideração,<br />

Eu quero dizer, então, que apresentei requerimento à Comissão da Amazônia<br />

convidando V.Exa. para uma audiência pública. E lá, com certeza, nós vamos ter um<br />

tempo não do tamanho da Amazônia, mas suficiente para discutirmos os graves<br />

problemas da nossa região.<br />

O SR. PRESIDENTE (Deputado Onyx Lorenzoni) - Obrigado, Deputado<br />

Asdrubal Bentes, pela contribuição e pela colaboração.<br />

Há 2 Deputa<strong>dos</strong> inscritos para a tréplica. Encarecidamente, vou pedir que<br />

seja feita em 1 minuto.<br />

Concedo a palavra ao Deputado Rogério Silva.<br />

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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL<br />

Nome: Conjunta - Agricultura,Pecuaria / Meio Ambiente<br />

Número: 1129/08 Data: <strong>16</strong>/<strong>07</strong>/<strong>2008</strong><br />

O SR. DEPUTADO ROGÉRIO SILVA - Sr. Ministro, eu só quero falar sobre<br />

uma observação feita por V.Exa.: de que não se pode trocar uma árvore por um boi.<br />

O nosso pensamento é de regularização do passivo ambiental e de regularização<br />

fundiária. Nós não estamos falando nem apoiando novos desmatamentos na<br />

Amazônia.<br />

Quanto ao Plano de Manejo 100% Sustentável, eu tive a honra de ser um <strong>dos</strong><br />

Parlamentares que lutaram para que diminuísse o avanço na Amazônia e para que<br />

houvesse a renovação da Floresta Amazônica.<br />

V.Exa. falou sobre as áreas de parques nacionais que podem ser vendidas<br />

para a compensação em áreas que precisam de regularização, quando deu resposta<br />

a Santa Catarina. Eu quero saber se essa resposta é para o Brasil inteiro, com<br />

propriedades regulamentadas. Se for, é uma resposta positiva para os parques já<br />

em andamento.<br />

E, por fim, Sr. Presidente, quero dizer que o custo de produção na Amazônia<br />

é 15% mais caro, e se vende o produto 15% mais barato. E os impostos chegam<br />

perto de 50% do que nós produzimos.<br />

Muito obrigado.<br />

O SR. PRESIDENTE (Deputado Onyx Lorenzoni) - Obrigado.<br />

Concedo a palavra ao Deputado Cezar Silvestri.<br />

O SR. DEPUTADO CEZAR SILVESTRI - Sr. Presidente, eu vou tentar ser<br />

bastante breve.<br />

Primeiro, Ministro, eu acho que é um grande avanço essa informação que nos<br />

dá, de que no Sul do País as áreas de preservação permanente poderão ser<br />

incluídas na área de reserva legal. Acho isso fundamental para que preservemos o<br />

mais importante, ou seja, as áreas de preservação permanente.<br />

Com relação àquela idéia que apresentei, da compensação, a Deputada<br />

Jusmari Oliveira falava aqui sobre o caso do Município de Luís Eduardo Magalhães.<br />

Eu acho que ficou clara a idéia que eu transmiti. Seria no sentido de poder usar<br />

essas áreas, de essas áreas poderem ser vendidas àqueles que não têm reserva<br />

legal. E que elas fossem obrigatoriamente doadas ao Poder Público e transformadas<br />

em unidades de conservação.<br />

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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL<br />

Nome: Conjunta - Agricultura,Pecuaria / Meio Ambiente<br />

Número: 1129/08 Data: <strong>16</strong>/<strong>07</strong>/<strong>2008</strong><br />

Por último, quero também fazer uma sugestão. No Sul do País, em especial<br />

no Paraná, precisaríamos de mais de 50 bilhões para fazer a reserva legal. Então,<br />

que sejam permiti<strong>dos</strong> na reserva legal os reflorestamentos com variedades exóticas,<br />

dando oportunidade ao produtor de usar comercialmente essas áreas e, a nós, de<br />

garantirmos a preservação delas.<br />

E seguir o exemplo do Chile, do Canadá e da Alemanha, onde as áreas com<br />

declividade, já degradadas, podem ser utilizadas para reflorestamento. Nos países<br />

desenvolvi<strong>dos</strong> isso feito. Eu tive a oportunidade de presenciar.<br />

Por último mesmo, agora, com relação ao georreferenciamento, Sr. Ministro,<br />

V.Exa. falava sobre a idéia de fazê-lo coletivamente. Mas eu sou talvez um <strong>dos</strong><br />

únicos proprietários no Paraná que conseguiram fazer o georreferenciamento da<br />

área ser aprovado pelo INCRA. Até agora somente 3 proprietários conseguiram.<br />

Nós temos de acabar com a exigência da anuência <strong>dos</strong> confrontantes.<br />

Quando se compra uma propriedade, há um memorial descritivo. Então, na verdade,<br />

quando o georreferenciamento é feito por um profissional e bate exatamente com o<br />

memorial descritivo, eu acho que se deve retirar essa exigência, até porque, quando<br />

pedimos a anuência do confrontante, o que ele diz? “Eu não vou assinar porque não<br />

entendo disso”. Então, nós estamos inviabilizando o georreferenciamento.<br />

O SR. PRESIDENTE (Deputado Onyx Lorenzoni) - Muito boa. Excelente a<br />

proposta, Deputado Cezar Silvestri.<br />

Para a última tréplica, concedo a palavra ao proponente desta audiência<br />

pública, Deputado Giovanni Queiroz, a quem peço encarecidamente que seja breve.<br />

O SR. DEPUTADO GIOVANNI QUEIROZ - Sr. Presidente, serei breve.<br />

Primeiro, quero passar às mãos do Ministro as denúncias de desmatamento,<br />

que continua até hoje, mesmo depois de transcorrido 1 ano que foram feitas.<br />

Segundo: o Ministro afirmou que no Pará o Zoneamento Ecológico-<br />

Econômico está para ser concluído. Não está. Só na área da BR-<strong>16</strong>3. No restante<br />

do Estado ainda não. Então, é necessário que haja empenho do Ministério para que<br />

o Estado possa fazê-lo.<br />

Terceiro, Ministro: eu vi V.Exa. aplaudir a posição do Governo Federal, de não<br />

reduzir para 50% o desmatamento na Amazônia. Ninguém está pedindo favor ao<br />

Governo nem pedindo perdão de nada. Nós queremos que o direito de quem<br />

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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL<br />

Nome: Conjunta - Agricultura,Pecuaria / Meio Ambiente<br />

Número: 1129/08 Data: <strong>16</strong>/<strong>07</strong>/<strong>2008</strong><br />

desmatou até o momento da edição da medida provisória e antes da medida<br />

provisória seja reconhecido. Eu, por exemplo, desmatei 50% da minha área;<br />

preservei 50%, enquanto a lei me permitia fazer dessa forma.<br />

V.Exa. poderia rever essa questão já na medida provisória que está sendo<br />

reeditada há mais de 6 anos, para que se corrija esse grotesco erro que está<br />

penalizando e deixando como marginal aqueles que desmataram à época em que<br />

era por lei obrigatório fazê-lo.<br />

Quarto, Sr. Ministro: V.Exa. reconhece que o georreferenciamento coletivo<br />

pode ser uma solução, até com financiamento do Ministério. Ao fazer isso, V.Exa.<br />

está reconhecendo a dificuldade. Mas a dificuldade não é pelo custo. A dificuldade é<br />

porque não há profissionais para fazer isso em tempo hábil. Peço, então, que haja<br />

dilatação de tempo para que os proprietários rurais da região possam fazer esse<br />

georreferenciamento e, aí sim, buscar a sua licença ambiental, sob pena de<br />

continuarem como marginais, como estes que aqui estão.<br />

Para concluir, Sr. Presidente, eu quero saber o que vou dizer para o Seu<br />

Manoel, que está aqui. Ele tem 72 anos de idade, que tem 10 filhos e está na Terra<br />

do Meio. A União foi lá e se sobrepôs em relação à sua propriedade, transformando-<br />

o num marginal. Eu quero saber o que dizer a ele e se é possível rever essa<br />

situação, pelo menos indenizá-los. Esse é o mínimo que eles têm direito, de posse<br />

mansa e pacífica e de boa-fé.<br />

O SR. PRESIDENTE (Deputado Onyx Lorenzoni) - Obrigado, Deputado<br />

Giovanni Queiroz.<br />

O SR. DEPUTADO GERSON PERES - Sr. Presidente, pela ordem.<br />

Estão nos chamando para votar.<br />

O SR. PRESIDENTE (Deputado Onyx Lorenzoni) - Sim.<br />

O SR. DEPUTADO GERSON PERES - Eu peço desculpas ao Ministro, mas<br />

terei de me ausentar porque sou obrigado a registrar o meu voto no plenário.<br />

O SR. PRESIDENTE (Deputado Onyx Lorenzoni) - Eu agradeço a to<strong>dos</strong> os<br />

Parlamentares a contribuição, a colaboração, a compreensão. Às vezes, o ato de<br />

presidir e de mediar o debate é complexo. Hoje, exatamente, porque estamos<br />

premi<strong>dos</strong> pela sessão plenária que ocorre agora.<br />

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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL<br />

Nome: Conjunta - Agricultura,Pecuaria / Meio Ambiente<br />

Número: 1129/08 Data: <strong>16</strong>/<strong>07</strong>/<strong>2008</strong><br />

Com a palavra o Ministro, para fazer as suas colocações em relação a este<br />

bloco de questionamentos e, logo em seguida, para as suas considerações finais.<br />

O SR. MINISTRO CARLOS MINC BAUMFELD - Sr. Presidente, Sras. e Srs.<br />

Deputa<strong>dos</strong>, quero mais uma vez reconhecer a forma respeitosa com que fui tratado<br />

aqui, a pertinência das questões levantadas. Quando há divergência, significa que<br />

há democracia.<br />

E quero dizer que me sensibilizei em relação a várias das questões aqui<br />

levantadas. Não vim apenas professar verdades já adquiridas. Aliás, a questão<br />

levantada por V.Exa. me parece bastante pertinente.<br />

Vou então proceder à resposta, no que o tempo curto me permite, às últimas<br />

8 perguntas e às 3 tréplicas, rapidamente.<br />

O Deputado Lázaro Botelho, do Tocantins, disse que houve incentivo para<br />

derrubar; falou sobre a questão das terras férteis. Sugestão: “legalizar de alguma<br />

maneira” — entre aspas — “o que já foi feito”. Isso, de certa forma, combina com<br />

algumas questões também levantadas pelo Deputado Giovanni Queiroz.<br />

O Código Florestal, mesmo para a Amazônia, quando fala <strong>dos</strong> 20%, abre uma<br />

exceção: para onde já existe produção consolidada e Zoneamento Ecológico-<br />

Econômico pode chegar a 50%. Essa é uma realidade.<br />

Essa medida foi da lavra de V.Exa.<br />

O SR. DEPUTADO LÁZARO BOTELHO - Eu fui o primeiro Presidente da<br />

Comissão que analisou a Medida Provisória nº 2.<strong>16</strong>6.<br />

O SR. MINISTRO CARLOS MINC BAUMFELD - Nós vamos respeitar essa<br />

posição, e estamos incentivando, com recursos do Ministério do Meio Ambiente,<br />

parcerias para concluir o Zoneamento Ecológico-Econômico, que inclusive vai<br />

permitir à produção consolidada e intensificada chegar a esse ponto.<br />

No caso do Pará, da área da BR-<strong>16</strong>3 já está feito o Zoneamento Ecológico-<br />

Econômico. E vai para a Assembléia Legislativa, para ter força de lei. E, no restante<br />

do Estado, esse processo também está no início, com o nosso apoio.<br />

O Deputado Pedro Wilson, de Goiás, falou do Cerrado, da rastreabilidade.<br />

Quero dizer que a rastreabilidade é a base do acordo que nós vamos firmar com a<br />

ABIEC, <strong>dos</strong> exportadores de carne. Hoje em dia isso já é uma exigência, do ponto<br />

de vista do controle sanitário. Pode ser que eu esteja enganado — V.Exa. é da<br />

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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL<br />

Nome: Conjunta - Agricultura,Pecuaria / Meio Ambiente<br />

Número: 1129/08 Data: <strong>16</strong>/<strong>07</strong>/<strong>2008</strong><br />

Comissão de Agricultura e Pecuária e está muito mais a par do assunto do que eu<br />

—, mas acho que hoje em dia, mais do que a questão ambiental, o que prejudica a<br />

exportação de carne ser mais intensa para outros assuntos é a questão sanitária, à<br />

qual sou completamente solidário. E digo mais: a mesma rastreabilidade para a<br />

questão sanitária deve ser usada para a questão ambiental. Resolvem-se 2<br />

assuntos num só, incentivando aquele a entrar na linha sanitária e ambiental,<br />

simultaneamente, com apoio para isso.<br />

O Deputado Pedro Wilson levantou várias outras questões, com as quais eu<br />

concordo, a exemplo da Agenda 21 — vamos incrementá-la —, do monitoramento<br />

das reservas legais e do incremento para os Comitês de Bacia.<br />

Nós vamos prestigiar muito a ANA — Agência Nacional de Águas. Vamos<br />

querer que ela tenha mais recursos e que realmente sirva, juntamente com<br />

Prefeituras e Governos Estaduais, para recuperar as bacias hidrográficas. Aliás, no<br />

Rio de Janeiro, nós estamos fazendo um programa de recuperação de microbacias,<br />

com recursos nacionais e da FAO, para que pequenos produtores possam recuperar<br />

a microbacia com atividades produtivas de combate à erosão, de recuperação de<br />

solo, recomposição de mata ciliar.<br />

O Deputado Rogério Silva fez uma réplica. Eu anotei aqui.<br />

O Deputado Gerson Peres, do Pará, que teve de sair mas justificou, disse que<br />

a culpa não é do boi; falou da ordem judicial, do diálogo e de vários outros assuntos.<br />

Eu quero dizer que a posição do Ministério é a do diálogo. Não se pode<br />

confundir diálogo com frouxidão. Qualquer um aqui é a favor de que se cumpra a lei.<br />

E o diálogo é necessário seja para aperfeiçoar a lei, seja para encontrar o bom<br />

caminho das boas práticas produtivas e como o Estado pode e deve ter interlocução<br />

com o setor produtivo.<br />

Quero dizer às Sras. e aos Srs. Deputa<strong>dos</strong> que uma das primeiras medidas<br />

que tomei na condição de Secretário do Meio Ambiente foi a de abrir a CECA, a<br />

Comissão Estadual de Controle Ambiental, a mais importante do Governo do Rio de<br />

Janeiro. Quem pode, por exemplo, licenciar ou interditar uma empresa é só chapa-<br />

branca, é só o governo. Eu dei assento na CECA para os representantes do<br />

Prefeito, da universidade e da FIRJAN, que ficaram espantadíssimos com o fato de<br />

uma pessoa com o meu perfil dar assento, com direito a voto, ao empresário nesse<br />

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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL<br />

Nome: Conjunta - Agricultura,Pecuaria / Meio Ambiente<br />

Número: 1129/08 Data: <strong>16</strong>/<strong>07</strong>/<strong>2008</strong><br />

órgão mais importante. E disseram: “Olha, se já era difícil uma licença, com todo<br />

mundo dando palpite, agora é que vai ser impossível”. Demos. Em 1 ano e 4 meses,<br />

2.230 licenças ambientais foram concedidas no Rio. Nenhuma foi contestada, nem<br />

pelos ambientalistas nem pelo Ministério Público, porque os próprios empresários<br />

participaram.<br />

Eu acho que o diálogo e a participação são sinônimos de eficiência.<br />

Quero complementar dizendo que aprovei uma lei no Rio de Janeiro — e fiz<br />

cumpri-la muitas vezes: a Lei do ICMS Verde. O que é a Lei do ICMS Verde? Eu não<br />

aumento imposto; sou contra aumento de imposto. Ela garante, no caso para os<br />

municípios que cumprem algumas questões, percentual maior de recebimento do<br />

ICMS. Que questões são essas, no caso da lei do Rio? Outros Esta<strong>dos</strong> têm; Paraná<br />

foi pioneiro, mas a lei do Rio incorporou outras questões à lei do Paraná, que é de<br />

1992. Criar unidades de conservação; melhorar o lixo, a questão de resíduos, coleta<br />

seletiva, disposição final, e qualidade da água.<br />

Com base nisso, alguns Prefeitos que eram contrários a criar unidades de<br />

conservação em áreas adequadas, consultando e indenizando as pessoas,<br />

passaram a ser favoráveis, porque, com isso, preservam mananciais, por exemplo, e<br />

vão ter algum recurso para pagar melhor ao professor, ao agrônomo, ao engenheiro<br />

florestal etc.<br />

A minha linha é a seguinte: sempre controlar o que está errado e incentivar<br />

para funcionar, descentralizando e dialogando com o setor produtivo. Não há outro<br />

caminho para a preservação. Com base apenas no controle, não há possibilidade; é<br />

enxugar gelo. Digo isso com a tradição de 20 anos de tentar fazer cumprir as leis.<br />

Alguém já disse que as leis que não são cumpridas geralmente são burras e não<br />

foram feitas com o devido diálogo e com a devida preocupação, na “factibilidade”<br />

delas, ou seja, na efetividade do seu cumprimento.<br />

O Deputado Beto Faro, do Pará, falou também da importância do<br />

Zoneamento Ecológico-Econômico e da regularização fundiária. Eu vou mais além,<br />

Deputa<strong>dos</strong>, Presidentes das Comissões: sem regularização fundiária não há política<br />

pública.<br />

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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL<br />

Nome: Conjunta - Agricultura,Pecuaria / Meio Ambiente<br />

Número: 1129/08 Data: <strong>16</strong>/<strong>07</strong>/<strong>2008</strong><br />

Se V.Exas. não sabem, no Pará, por exemplo, os prédios <strong>dos</strong> cartórios têm 5<br />

andares; cada terra tem 5 donos. Como eu vou apoiar alguém ou multar alguém, se<br />

para cada terra há 5 donos?<br />

Então, nós combinamos com o Ministério do Desenvolvimento Agrário, com o<br />

Exército e com os Governos Estaduais de fazer convênios de cooperação, num<br />

esforço brutal de regularização fundiária.<br />

Embora não tenha votado porque não sou Senador, apoiei a ampliação a<br />

ampliação da área para regularização fundiária. Fui até criticado por isso. Não votei,<br />

não fui eu que propus, mas eu apoiei da seguinte maneira: se existem 30 ou 40 mil<br />

explorações entre 500 e 1.500 hectares e se hoje elas estão fora da legalidade,<br />

quem vai cobrar a reserva legal delas? Então, eu prefiro agilizar a legalização para<br />

poder cobrar delas a reserva legal a simplesmente taxá-las de latifúndio e não poder<br />

cobrar 1% de reserva legal, porque ninguém sabe quem é o dono.<br />

Então, quero dizer que sou um defensor da legalidade fundiária e reconheço<br />

que, sem isso, todo o resto é superficial, inócuo e não gera efeito.<br />

A Deputada Cida Diogo, a minha companheira do Rio, fez elogios, alguns<br />

exagera<strong>dos</strong>, mas S.Exa. realmente ressaltou o meu pragmatismo. Eu sou um<br />

pragmático, o que significa que, sem diálogo, sem negociação, inclusive com outros<br />

Ministérios... Para eu conseguir o Fundo Amazônia, tive de mostrar ao Presidente<br />

Lula que ele seria completamente autônomo e soberano. Para conseguir recursos<br />

para o Fundo Clima, eu tive de negociar com o Ministro Paulo Bernardo um<br />

percentual diferente, com condições diferentes.<br />

Eu sou um negociador, eu sou um pragmático. Eu quero bons resulta<strong>dos</strong> para<br />

a área produtiva e para a área ambiental. Tenho certeza absoluta de que, com<br />

pouco desenvolvimento e miséria, o meio ambiente não vai ser preservado, vai ser<br />

dizimado. Em muitas áreas, o próprio assentado do INCRA ou aquele que está na<br />

reserva extrativista, quando está na miséria, corta a madeira e dá para o madeireiro<br />

ilegal ou permite a entrada do boi, que não é dele, na própria reserva extrativista, o<br />

que acaba com o corte raso e até prejudica a castanheira, o seringal, etc.<br />

Tenho perfeita consciência disso. Por isso, a partir de 1º de agosto, vamos<br />

fazer planos de manejo para todas as reservas extrativistas para que, com crédito,<br />

possam sair da miséria.<br />

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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL<br />

Nome: Conjunta - Agricultura,Pecuaria / Meio Ambiente<br />

Número: 1129/08 Data: <strong>16</strong>/<strong>07</strong>/<strong>2008</strong><br />

A Deputada Jusmari Oliveira, da boa terra da Bahia, defensora do Cerrado,<br />

mostrou que ele pode ser um celeiro e tem de ser preservado. Essa contradição,<br />

que existe, não pode se transformar num antagonismo. Concordo. E como eu vejo<br />

isso? Eu vejo da seguinte maneira: no Rio de Janeiro, como em outros Esta<strong>dos</strong>,<br />

meio ambiente e agricultura eram geralmente adversários, não se entendiam. O<br />

Governador Sérgio Cabral — e quero dizer que o considero um grande governador;<br />

tenho amizade por ele; é de outro partido, é do PMDB; eu acho que é um jovem<br />

líder; V.Exas. ainda vão ouvir falar muito dele; foi Senador, V.Exas. o conhecem<br />

também do Senado — queria multiplicar por 4 a produção do etanol no Estado do<br />

Rio de Janeiro, dobrando a produtividade e dobrando a área. S.Exa. teve o bom<br />

senso de chegar para o Secretário de Agricultura, Cristino Áureo, grande figura,<br />

competente, e dizer o seguinte: “Deputado, converse com o Minc, do meio ambiente,<br />

e vejam se vocês encontram uma solução”. Nós descobrimos terras que já tinham<br />

sido usadas para a produção de cana-de-açúcar e se degradaram, canais do DNOS<br />

entupi<strong>dos</strong>, assorea<strong>dos</strong>, acaba<strong>dos</strong>.<br />

Então, o que nós conseguimos? Dinheiro do Ministério da Integração Nacional<br />

para recuperar aquela área; dinheiro da SERLA, que era estadual — na época eu<br />

era Secretário Estadual; e dinheiro nacional. Estamos recuperando aquela área. E a<br />

área para produção de cana pode ser dobrada, sem entrar em 1 hectare de Mata<br />

Atlântica, sem entrar em 1 hectare de produção de alimentos, ocupando uma área<br />

que já havia sido usada para a produção de cana-de-açúcar e já estava degradada.<br />

Então, nós conseguimos aprovar uma lei que permitia o reflorestamento<br />

econômico, a silvicultura econômica. Fui criticado por isso também, por alguns<br />

ambientalistas que achavam que, em algumas áreas, o cedro, o eucalipto ou o<br />

pinhão-manso eram obrigatoriamente ruins para o meio ambiente. Então, o que nós<br />

fizemos? Vimos o Estado por áreas. Em área de muita Mata Atlântica e produção de<br />

alimentos, não. Em outras áreas, incentivamos a silvicultura econômica, com uma<br />

compensação de 15% para reflorestar, com espécies nativas, as margens <strong>dos</strong> rios.<br />

No campo se usa madeira para tudo e qualquer coisa: para fazer o curral, a casa, a<br />

lenha, o carvão, a cerca. Se não tem madeira plantada, você vai fazer o quê? Vai<br />

com a machadinha em cima da mata nativa. Então, nós aprovamos uma lei para<br />

que, em algumas áreas, com compensação, seja feita a silvicultura econômica.<br />

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Nome: Conjunta - Agricultura,Pecuaria / Meio Ambiente<br />

Número: 1129/08 Data: <strong>16</strong>/<strong>07</strong>/<strong>2008</strong><br />

Trouxemos a agricultura para o comando do Zoneamento Ecológico-<br />

Econômico. Então, com a agricultura no comando do Zoneamento Ecológico-<br />

Econômico, com a lei da silvicultura econômica e com a ampliação do etanol e da<br />

cana-de-açúcar, sem destruir Mata Atlântica, fez-se a paz entre agricultura e meio<br />

ambiente no Rio de Janeiro.<br />

Nós chegamos para o nosso Ministro da Agricultura, do MAPA, e dissemos:<br />

“Ministro, nós vamos fazer com V.Exa. a mesma coisa que fizemos com o Secretário<br />

Cristino Áureo, do Rio de Janeiro: fazer as pazes entre agricultura e meio ambiente,<br />

que é o melhor para os 2 la<strong>dos</strong>”.<br />

Não se protege a Mata Atlântica se não tiver madeira plantada para ser usada<br />

como lenha. É impossível! E eu acho que é esse o caminho que nós vamos tentar<br />

seguir aqui.<br />

Então, eu acho que no Cerrado é possível adotar essa linha, é possível<br />

intensificar a agricultura nas áreas já existentes; é possível aprovar a PEC nº 115,<br />

que apóio completamente, para preservar mais e dignificar mais o Cerrado; e é<br />

possível conseguir apoios, como fizemos em relação à Lei do ICMS Verde, para<br />

salvar áreas remanescentes, como a que V.Exa. mencionou, no Município de Luís<br />

Eduardo Magalhães.<br />

Por fim, o Deputado Fernando Ferro mencionou a nossa ação recente, que foi<br />

criticada, em relação aos usineiros de Pernambuco. Quero dizer, Deputado<br />

Fernando Ferro, que já entramos em contato com o Governador e com o Ministério<br />

Público. Em agosto nós assinaremos um novo TAC, com os 24 usineiros, que vão<br />

começar a cumprir várias leis que infelizmente não estavam cumprindo. Por<br />

exemplo: 50 metros de cada lado <strong>dos</strong> rios — não era cumprido; aceiros entre a área<br />

queimada e os remanescentes — o fogo, como todo mundo aqui sabe, passa para o<br />

remanescente; e demarcação das reservas legais. Isso não vinha sendo feito. E<br />

V.Exa. disse bem: no Brasil, sobraram 8% da Mata Atlântica, que é um nada; em<br />

Pernambuco, 2,7%, que é um terço desse nada.<br />

Quando me pronunciei sobre esse assunto, cometi alguns equívocos, que<br />

corrigi e me desculpei por eles, mas no mérito estava certo. Tanto está certo que<br />

vamos fazer um novo acordo com o setor produtivo, junto com o Governador e o<br />

Ministério Público, para que progressivamente essas leis sejam cumpridas.<br />

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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL<br />

Nome: Conjunta - Agricultura,Pecuaria / Meio Ambiente<br />

Número: 1129/08 Data: <strong>16</strong>/<strong>07</strong>/<strong>2008</strong><br />

E o Deputado Asdrubal Bentes, do Pará, quer preservar, corrigir distorções.<br />

Lembra que JK integrou; fala da ausência do Estado e da questão fundiária.<br />

Nós já nos referimos a isso. A questão da regularização fundiária deve ser<br />

incentivada. Aliás, esses recursos no valor de 1 bilhão, com 4% ao ano e 12 meses<br />

de carência, servirão também para incrementar a regularização fundiária e a<br />

recomposição das reservas.<br />

O Deputado Rogério Silva falou outra vez da regularização e <strong>dos</strong> parques.<br />

Quero dizer, Deputado, que nós seguiremos à risca o que diz a Lei do SNUC, a lei<br />

federal que instituiu o Sistema Nacional de Unidades de Conservação, que prevê 5<br />

usos possíveis para a compensação ambiental. O primeiro deles: regularização<br />

fundiária.<br />

Nós criamos no Rio de Janeiro um grupo de trabalho da Secretaria, junto com<br />

a Procuradoria-Geral do Estado. E essa regularização já tem um problema: o<br />

proprietário sempre joga o preço lá em cima; o Governo sempre joga o preço lá em<br />

baixo; aí fica difícil. Então, nós vamos usar como base o preço de mercado e<br />

contaremos com o apoio de Procuradores do Estado, para que essa regularização<br />

seja feita com base no preço justo. Isso é muito importante, para não haver<br />

desapropriação disfarçada de regularização. Isso foi o que fizemos lá e pretendemos<br />

fazer aqui. E, para isso, abrimos a <strong>Câmara</strong> de Compensação Ambiental para a<br />

iniciativa privada e para as universidades.<br />

E o Deputado Cezar Silvestri falou mais uma vez das espécies exóticas, da<br />

ação do Poder Público, da recomposição de reservas.<br />

Eu vejo isso da seguinte maneira: nós devemos 3 coisas. Por que plantar é<br />

muito bom? Por causa do clima — porque se absorve carbono; por causa do rio —<br />

porque se produz água e se diminui o assoreamento; por causa da biodiversidade —<br />

e isso é importante, ou seja, refazer a biodiversidade, porque muitas espécies<br />

vegetais estão ameaças; e criar áreas onde essa plantação ajude a produção e o<br />

emprego.<br />

Eu acho que isso pode e deve ser equilibrado. Não vejo que isso seja<br />

incompatível. Tanto é que no Rio de Janeiro dissemos: “Olha, pode ter a floresta<br />

comercial contínua, mas tem de refazer com espécie nativa uma área de 15% em<br />

torno <strong>dos</strong> rios”.<br />

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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL<br />

Nome: Conjunta - Agricultura,Pecuaria / Meio Ambiente<br />

Número: 1129/08 Data: <strong>16</strong>/<strong>07</strong>/<strong>2008</strong><br />

Eu acho que o equilíbrio é um bom caminho, é o caminho do meio, não é o<br />

caminho da verdade absoluta. É o caminho do entendimento e do equilíbrio<br />

necessário, porque a nossa guerra não é com o índice de desmatamento do ano<br />

anterior. É com o modelo injusto que pode empobrecer o povo e colocar em risco um<br />

bioma do qual as oportunidades, inclusive econômicas, nós sequer conhecemos.<br />

Não é justo destruir algo de cuja potencialidade sequer sabemos. Mas, para isso, é<br />

fundamental, sem o que não funciona, garantir condições de sobrevivência digna,<br />

legal, e incentivada para aqueles que querem, com o seu suor, alimentar as suas<br />

famílias e engrandecer o Brasil.<br />

Muito obrigado. Boa tarde a to<strong>dos</strong>.<br />

O SR. PRESIDENTE (Deputado Onyx Lorenzoni) - Vou encerrar esta reunião.<br />

Antes, porém, convido os Srs. Deputa<strong>dos</strong> para a reunião de audiência pública a ser<br />

realizada no próximo dia 5 de agosto, às 14h30min, no Plenário 6 do Anexo II desta<br />

Casa, para discutir a situação do setor vitivinícola brasileiro.<br />

O SR. DEPUTADO GIOVANNI QUEIROZ - Sr. Presidente, o Ministro não<br />

respondeu à minha réplica.<br />

O SR. PRESIDENTE (Deputado Onyx Lorenzoni) - Deputado, nós podemos<br />

fazer outra audiência. Esta nós temos de encerrar.<br />

O SR. DEPUTADO GIOVANNI QUEIROZ - Eu já vou encaminhar o<br />

requerimento.<br />

reunião.<br />

O SR. PRESIDENTE (Deputado Onyx Lorenzoni) - Está encerrada a presente<br />

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