A Família em Mutação - MiniWeb Educação
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6. FAMÍLIA NO BRASIL<br />
A família brasileira guardou as marcas de suas origens: da família<br />
romana, a autoridade do chefe de família; da família medieval, o caráter<br />
sacramental do casamento e da família lusa, a solidariedade. Assim, a<br />
submissão - de fato - da esposa e dos filhos ao marido, tornando o<br />
hom<strong>em</strong> o chefe de família (que o novo princípio constitucional da<br />
igualdade não conseguiu sepultar), encontra a sua orig<strong>em</strong> no poder<br />
despótico do pater familias romano. Já o caráter sacramental do<br />
casamento advém do Concílio de Trento, do séc. XVI. E o sentimento de<br />
sensível afeição e de desprendimento é herança da cultura portuguesa.<br />
Ainda desconhecido no mundo o casamento civil, Portugal tornou<br />
obrigatórias, <strong>em</strong> 1564, para o matrimônio, as normas do Concílio de<br />
Trento, incluídas depois, <strong>em</strong> 1603, nas Ordenações Filipinas, editadas<br />
por Felipe II de Espanha e I de Portugal para disciplinar<br />
legislativamente os seus súditos da Península Ibérica e das Colônias.<br />
Decreto de 1823 as impôs no Brasil onde perduraram praticamente até<br />
1º de janeiro de 1917, quando passou a vigir o Código Civil. O Brasil,<br />
como todas as nações que s<strong>em</strong>pre sentiram a força da religião<br />
dominante <strong>em</strong> determinados períodos de sua história, submeteu-se à<br />
católica romana, que monopolizou vários atos, inclusive os da<br />
celebração dos casamentos válidos. Foi assim que só a partir de 1861<br />
começou a deixar de ser absoluta esta influência da Igreja, quando a Lei<br />
nº 1.144 trincou aquele seu monopólio ao ensejar validade a<br />
casamentos celebrados por igrejas de outros credos.<br />
Aquelas Ordenações Filipinas, ao mesmo t<strong>em</strong>po que absorveram e<br />
adotaram as normas do Concílio de Trento para o casamento,<br />
radicalizaram o patriarcalismo romano, com força de lei conferindo ao<br />
marido, por ex<strong>em</strong>plo, o jus corrigendi (do que não se distanciou o<br />
Código de Napoleão que, por sua vez, impôs à mulher o dever de<br />
obediência ao marido). Aliás, estas inovações legislativas apenas<br />
materializavam o injusto conceito vigente desde s<strong>em</strong>pre quanto à<br />
inferioridade intelectiva e laboral da mulher o que, até hoje, teima <strong>em</strong><br />
manter raízes no nosso inconsciente coletivo/social, por mais que o<br />
legislador brasileiro, com ênfase o constituinte de 88, busque impor a<br />
isonomia dela com o hom<strong>em</strong> <strong>em</strong> geral e com o marido <strong>em</strong> particular.<br />
Isonomia justa, tardia, mas que enfrenta a impermeabilidade da nossa<br />
cultura latina machista. A resultante é uma diferença abissal entre o<br />
Brasil real e o Brasil legal. Por isso que o êxito da pretensão isonômica<br />
do legislador é de adoção social tão mais difícil quanto são profundas as