Por Exemplo, Com O Recente Caso - Visão Judaica
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ministro de Justiça da<br />
França, Pascal Clément,<br />
confirmou que a juíza de<br />
instrução que investiga o<br />
seqüestro, a tortura e o<br />
assassinato de Ilan Halimi, um jovem<br />
judeu, comerciante de móveis<br />
por um bando armado, considerou “o<br />
anti-semitismo” como “causa agravante”<br />
do crime.<br />
A mãe de Ilan, o judeu de 23 anos<br />
assassinado em Paris, declarou dia 20/<br />
2 ao jornal israelense Haaretz: “Se o<br />
meu filho não fosse judeu, não teria<br />
sido assassinado”. Um dos assassinos<br />
de Ilan reconheceu diante da Justiça<br />
que “decidiram atacar Ilan porque ele<br />
era judeu, e os judeus são ricos”, declarou<br />
Clément num encontro com o<br />
Conselho de Representantes das Instituições<br />
<strong>Judaica</strong>s da França (CRIF). O<br />
grupo se fazia chamar “os bárbaros”,<br />
e era integrado por jovens de um subúrbio<br />
ao norte de Paris, a maioria de<br />
confissão muçulmana.<br />
Youssef Fofana, originário da Costa<br />
do Marfim, 25 anos e chefe do grupo<br />
criminoso, foi detido na Costa do Marfim,<br />
na África, para onde fugiu após a<br />
repercussão do crime. Ele está sendo<br />
extraditado para a França. Interrogado,<br />
Fofana negou ter agido por antisemitismo,<br />
ainda que seu grupo tenha<br />
tentado seqüestrar desde dezembro pelo<br />
menos outras seis pessoas, das quais<br />
quatro eram judeus. Policiais viajaram<br />
a Abidjan para prendê-lo, pois tratavase<br />
de pegar o homem mais procurado<br />
da França, em meio ao impacto que<br />
provocou o caso na opinião pública.<br />
Vários jornais franceses noticiaram o<br />
assassinato em suas capas e prosseguiram<br />
com as últimas revelações do<br />
caso. O Libération deu a manchete: “A<br />
pista anti-semita”, enquanto Le Parisien<br />
destaca “a grande inquietude da comunidade<br />
judaica”.<br />
O primeiro-ministro, Dominique de<br />
Villepin, assegurou aos dirigentes do<br />
CRIF que se saberá de “toda a verdade”<br />
sobre o assassinato de Ilan. Villepin<br />
recordou que a luta contra o<br />
anti-semitismo é “um dever moral” e<br />
uma “prioridade absoluta”. O chefe<br />
do Governo acrescentou que as agressões<br />
anti-semitas caíram na França<br />
47% em 2005, após a onda de ataques<br />
contra interesses e pessoas judias<br />
em 2003 e 2004.<br />
O corpo de Ilan foi descoberto na<br />
periferia de Paris em 13 de fevereiro,<br />
amarrado e com uma venda nos olhos,<br />
com sinais de violência e queimaduras<br />
em 80 por cento de seu corpo. O jovem<br />
faleceu a caminho do hospital.<br />
A mãe da vítima, Ruth Halimi, disse<br />
VISÃO JUDAICA março 2006 Adar/Nissan 5766<br />
Assassinato de jovem francês<br />
teve motivação anti-semita<br />
que a Polícia escondeu uma possível<br />
motivação anti-semita do crime “porque<br />
temia reavivar a confrontação com<br />
os muçulmanos”. “Dissemos aos policiais<br />
que houve outras três tentativas<br />
de seqüestro de jovens judeus, mas<br />
eles insistiam em considerar que o<br />
móvel era puramente criminoso”, queixou-se<br />
Ruth Halimi.<br />
Os familiares não pagaram nenhum<br />
valor a pedido da polícia francesa: “Cinco<br />
dias antes de encontrar Ilan, a polícia<br />
nos disse para que não respondêssemos<br />
às mensagens. Ilan talvez não<br />
tivesse sido assassinado se tivéssemos<br />
respondido”, declarou Ruth Halimi ao<br />
jornal Haaretz.<br />
A quadrilha atraiu Ilan por meio de<br />
uma garota atraente que o fez crer que<br />
estava interessada nele, numa visita à<br />
loja de móveis onde trabalhava, no centro<br />
de Paris. Ao aceder ao encontro<br />
marcado com ela, aconteceu o seqüestro.<br />
O seqüestro, a tortura e o assassinato<br />
de Ilan Halimi, levou a Polícia Judiciária<br />
de Paris a pedir, na semana<br />
seguinte, aos comerciantes que “desconfiem”<br />
de “garotos e garotas jovens<br />
e bonitos” que tentassem elogiá-los.<br />
Cerimônia<br />
O presidente francês, Jacques Chirac,<br />
e o primeiro-ministro, Dominique<br />
de Villepin, assistiram à cerimônia religiosa<br />
numa sinagoga de Paris em homenagem<br />
ao jovem judeu torturado e<br />
assassinado. Cerca de 1.500 pessoas<br />
lotaram as dependências da Sinagoga<br />
da Vitória, e centenas delas se amontoaram<br />
na entrada diante da impossibilidade<br />
de ter acesso ao interior do<br />
centro religioso.<br />
Vários membros do Governo, assim<br />
como o líder do Partido Socialista, François<br />
Hollande, confortaram a comunidade<br />
judaica francesa, abalada pelo<br />
crime. Chirac consolou a mãe de Halimi<br />
logo após entrar na Sinagoga, na<br />
qual o rabino leu uma mensagem antes<br />
que o ato religioso acabasse com<br />
um canto de paz.<br />
O crime brutal revelou a conexão<br />
existente entre a criminalidade comum<br />
e a ideologia anti-semita estimulada por<br />
setores islâmicos, nos explosivos subúrbios<br />
parisienses, onde a violência procura<br />
justificar a delinqüência dos imigrantes<br />
excluídos da sociedade. Seqüestrado,<br />
Halimi foi levado para Bagneux,<br />
subúrbio do sul de Paris. Entre seus captores,<br />
incluíam-se muçulmanos “politizados”<br />
(um deles, filho de um jornalista<br />
egípcio, correspondente estrangeiro na<br />
França). Lá o rapaz ficou três semanas<br />
trancado no porão de um imóvel.<br />
A gangue telefonou várias vezes para<br />
a família de Halimi pedindo um resgate<br />
de 500 mil euros (cerca de R$ 1,2<br />
milhão), depois abaixado para 200 mil<br />
euros (R$ 500 mil); fazia-a ouvir versos<br />
do Corão enquanto, ao fundo, Ilan gritava<br />
submetido às mutilações. Enviaram<br />
fotos do seqüestrado, sempre com<br />
os olhos vendados. Em suas mensagens,<br />
diziam: “Os euros ou preparem as pompas<br />
fúnebres”.<br />
Culminando o horror, parentes e<br />
vizinhos dos seqüestradores, ao saberem<br />
da existência de um refém judeu<br />
nas redondezas, ofereceram colaboração,<br />
tomando parte nas torturas.<br />
Quando a gangue percebeu que<br />
a família, de classe média baixa não<br />
poderia pagar o resgate exigido, incendiou<br />
o corpo da vítima e abandonou-a<br />
agonizante no dia 13 de fevereiro. Halimi<br />
foi encontrado perto dos trilhos do<br />
trem da estação Sainte-Genevieve-des-<br />
Bois, fora de Paris, amarrado a uma<br />
árvore. Estava nu, amordaçado, manietado,<br />
faminto, com queimaduras e cortes<br />
em 80% de seu corpo. A caminho<br />
do hospital, Ilan morreu por causa dos<br />
ferimentos.<br />
Segundo a polícia, a gangue “manteve-o<br />
nu e amarrado por semanas. Cortaram<br />
pedaços de sua carne, dedos e<br />
orelhas, e no final jogaram um líquido<br />
inflamável em seu corpo e o incendiaram.<br />
Foi um dos assassinatos mais cruéis<br />
que já vimos”, disseram os policiais. Um<br />
dos jovens torturadores detido confessou<br />
que seus cúmplices revezavam-se<br />
para apagar cigarros na testa da vítima<br />
dizendo que odiavam judeus.<br />
A polícia encontrou com um dos suspeitos<br />
folhetos do <strong>Com</strong>itê de Caridade<br />
Palestino (associado ao Hamas), e descobriu<br />
que a gangue já havia tentado<br />
VJ INDICA<br />
Paisagens da memória<br />
Ruth Klüger<br />
Editora 34<br />
raptar outro judeu antes,<br />
ferido um judeu de 50<br />
anos que teve de ser hospitalizado,<br />
e jogado uma<br />
granada de mão contra<br />
um médico judeu.<br />
O ministro do Interior<br />
Nicolas Sarkozy, declarou<br />
à Assembléia Nacional<br />
que a gangue visava judeus,<br />
convencida de que<br />
“judeus têm dinheiro”. O<br />
primeiro-ministro Dominique<br />
de Villepin chamou a<br />
polícia à responsabilidade<br />
por ter recusado inicialmente<br />
as motivações antisemitas<br />
do seqüestro.<br />
A Justiça já implicou Ilan Halimi<br />
17 pessoas na morte de<br />
Halimi, das quais 14 foram<br />
presas e acusadas pela circunstância<br />
agravante de crime cometido devido<br />
à religião da vítima. Entre os presos<br />
estão os seqüestradores, o porteiro do<br />
imóvel onde a vítima foi torturada, membros<br />
do bando, e três mulheres utilizadas<br />
como iscas nesta e outras tentativas<br />
de seqüestro, além de um suposto<br />
“braço direito” do grupo, suspeito de<br />
crimes de extorsão.<br />
No dia 26 de fevereiro, em protesto<br />
a esse crime hediondo, o CRIF, a Associação<br />
SOS-Racismo e a Liga Contra o<br />
Racismo e o Anti-semitismo (Licra) organizaram<br />
uma passeata: entre 200 mil<br />
(cálculos dos organizadores) e 33 mil<br />
pessoas (cálculos da polícia), incluindo<br />
políticos como o ministro Sarkozy e o<br />
ex-premiê Lionel Jospin, artistas e intelectuais,<br />
participaram do protesto<br />
contra o racismo e o anti-semitismo na<br />
capital parisiense.<br />
LIVRO<br />
Viena 1938. Uma menina de sete anos ouve gritos daqueles que celebram a<br />
anexação da Áustria pela Alemanha nazista. Vivendo no interior da comunidade<br />
judaica, Ruth Klüger viu sua cidade natal ser convertida gradualmente<br />
em uma espécie de prisão. Deportada em 1942 junto com sua mãe para o<br />
campo de Terezin, foi transportada num trem de carga em 1944, aos doze<br />
anos de idade, para Auschwitz-Birkenau. De lá escapa no último minuto, ao ser<br />
escolhida para compor um grupo de trabalhos forçados em Christianstadt. É um relato autobiográfico<br />
inesquecível e um acerto de contas exemplar com o acontecimento histórico mais terrível<br />
do século XX.<br />
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