Versão eletrônica - Furb
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original é possível se não houver um espaço puro, virgem, pronto para<br />
recebê-la (BROOK, 1999, p.04).<br />
Podemos pensar no que ele diz, não apenas para o espaço, mas também para a<br />
criação do ator. Se o ator conseguir estar vazio, aberto para estímulos diversos, ele<br />
poderá criar, deixando surgir um novo acontecimento. Com o ator vazio pronto para<br />
receber algo e transformar seu corpo com essa recepção, é que vislumbramos a<br />
possibilidade da transformação do nosso corpo através de estímulos, através de<br />
imagens.<br />
Quanto mais o ator conseguir trabalhar a sua imaginação, quanto mais<br />
atentamente e especificamente o ator olhar para o seu íntimo, mais cedo ele<br />
perceberá os sentimentos, emoções e impulsos necessários para a criação e<br />
interpretação da personagem.<br />
Este olhar é a certeza que o ator está conseguindo trabalhar a sua imaginação<br />
de um modo flexível e desenvolvido, de que o mesmo não precisa pressionar seus<br />
sentimentos para tirá-los do seu eu, mas que essas emoções surgirão sem esforço<br />
desnecessário, aparecerão facilmente, pois o ator estará conseguindo ver o interior<br />
de suas imagens.<br />
Um ator aberto aos exercícios propostos pelo diretor(a) ou professor(a)<br />
conseguirá, através de exercícios sistemáticos sobre o uso da sua imaginação,<br />
desenvolve-la e torná-la mais ágil e flexível, transformando imagens mentais em<br />
ações, físicas e vocais, sendo convincente na execução das mesmas.<br />
Um exemplo disso é o trabalho de Helene Weigel na peça Mãe Coragem, de<br />
Brecht. Ao final do terceiro ato os soldados carregam o corpo do filho da Mãe<br />
Coragem para a cena, querendo que a mesma o identifique, porém a mãe nega que<br />
o filho seja seu. Quando Weigel fez esta cena ela permaneceu imóvel, movendo<br />
apenas a cabeça negativamente quando os soldados perguntaram se o corpo era de<br />
seu filho. Após os soldados saírem, ela virou o rosto para o lado oposto e soltou o<br />
que Barba e Savarase chamaram de “grito mudo” (ver ANEXO II).<br />
Weigel descobriu que tinha de representar rodeada de símbolos no palco,<br />
com uma carroça que era metade tanque de guerra, metade um bazar,<br />
sobre uma roda que significava o mundo da Mãe Coragem, e que a cada<br />
situação a colocava em uma diferente posição no espaço. Ela conseguiu<br />
evitar de ser oprimida por tudo isso porque [...] sabia que podia combater o<br />
abstrato explorando a fisicalidade de sua personagem e a criatividade do<br />
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